LOGÍSTICA REVERSA APLICADA À SAÚDE: UM ESTUDO DE...
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LOGÍSTICA REVERSA APLICADA À SAÚDE: UM
ESTUDO DE CASO EM UM HOSPITAL DE
MINAS GERAIS
Andreza de Aguiar Hugo (UFOP )
Karine Araujo Ferreira (UFOP )
O propósito deste trabalho é investigar a aplicação da gestão reversa dos
resíduos de serviços de saúde em um hospital de Minas Gerais. Esta pesquisa
caracteriza-se como qualitativa, e o método científico adotado é o estudo de
caso. Para tanto, foram realizadas entrevistas semi- estruturadas com a
responsável pelo setor de segurança e meio ambiente do hospital e com
funcionários do mesmo. Dentre os resultados obtidos, verificou-se que a
implantação da logística reversa de resíduos do serviço de saúde no hospital
investigado tem como principal motivação a adaptação às imposições legais,
sem haver necessariamente preocupação com meio ambiente ou redução de
custos. Como comprovação disso, verificou-se que não há um sistema
estruturado para mensurar a prática da logística reversa no hospital.
Adicionalmente, foram apresentados os principais tipos de resíduos gerados
pelo hospital e método de tratamento aplicado a cada um deles. Baseado
nessa investigação, foi possível perceber a necessidade de melhor
planejamento e maior controle da logística reversa no hospital,
principalmente quando parte da sua gestão é delegada a terceiros. Algumas
sugestões foram realizadas, no sentido de indicar ao hospital maiores
benefícios da aplicação de uma adequada gestão reversa, não somente
legais, mas também, econômicos, ambientais e sociais.
Palavras-chaves: Logística Reversa, Resíduos do Serviço de Saúde, Logística
Hospitalar
XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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1. Introdução
Em um processo de produção tradicional, as matérias-primas são transformadas em produtos,
sendo, então, estruturados canais de distribuição a fim de fazer chegar os produtos finais aos
consumidores (CHAVES, 2009). Além da importância do gerenciamento da distribuição
direta dos produtos aos clientes finais, diversos autores destacam que, nas últimas décadas,
tem crescido muito em relevância o fato de que os materiais, serviços e informações, em redes
de suprimentos não fluem em um só sentido (no sentindo da extração dos insumos mais
básicos da natureza para o lado do consumo), mas fluem também no sentido reverso (do
consumo para a produção) (XAVIER e CORRÊA, 2013; LEITE, 2003; LACERDA, 2002).
Esse fluxo no sentido reverso, também faz parte do campo de estudo da logística, e é
denominado de logística reversa.
A logística reversa adquiriu grande importância nas atividades das cadeias de suprimento, e
atualmente, é parte integrante de empresas que visam um maior crescimento competitivo e
econômico e que procuram ser mais sustentáveis em seus processos. É devido a esse
crescimento da logística reversa, que vários autores têm descrito a sua aplicação dentro das
organizações (XAVIER e CORRÊA, 2013; LEITE, 2002; LACERDA, 2002; CHAVES,
2009; e outros).
Com relação ao setor de saúde, a logística reversa atua no sentido de recolher e tratar
corretamente os resíduos hospitalares que são diariamente gerados. Tais resíduos são
denominados Resíduos de Serviços de Saúde (RSS) e podem produzir poluição e doenças se
não forem manejados adequadamente. Segundo a Resolução nº 283 do CONAMA, de 2001,
caberá ao responsável legal pelo estabelecimento gerador, a responsabilidade pelo
gerenciamento de seus resíduos desde a geração até a disposição final. Sendo assim, a
logística reversa, ao estabelecer a necessidade da gestão reversa, permite ao estado gerir os
resíduos de serviços de saúde de forma mais eficiente e segura, tanto para a saúde da
população, quanto para o meio ambiente (PEREIRA e PEREIRA, 2011). Este trabalho aborda
a logística reversa do setor hospitalar/saúde, que por trabalhar com diversos materiais
perigosos que se transformam em resíduos, e por gerar um volume muito grande dos mesmos
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faz com que este assunto seja de total relevância para a comunidade em geral.
Portanto, no sentido de alcançar o objetivo deste estudo, qual seja, investigar a aplicação da
gestão reversa dos resíduos de serviços de saúde em um hospital de Minas Gerais, a pesquisa
realizada é de natureza qualitativa, seguido por estudo de caso exploratório no hospital
investigado. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semi-estruturadas realizadas
com a responsável pelo setor de meio ambiente e funcionários do hospital investigado . Na
seção 2, apresenta-se revisão bibliográfica sobre conceitos relacionados ao tema logística
reversa e logística hospitalar. O estudo de caso relatando a aplicação da logística reversa no
hospital investigado é apresentado na seção 3, destacando: fatores que motivaram sua
aplicação neste estabelecimento, as principais barreiras e os fatores de sucesso à implantação,
os tipos de logística reversa que são encontrados, e os procedimentos para classificação dos
resíduos no hospital. Por fim, são apresentadas as considerações finais do trabalho (seção 4),
seguido pelas referências bibliográficas.
2. Revisão bibliográfica
2.1 Logística reversa
A logística reversa existe desde os anos 80. Todavia o seu conceito ainda estava limitado a um
movimento contrário ao fluxo direto de produtos na cadeia de suprimentos. Foi na década de
90 que novas abordagens foram introduzidas e o conceito evoluiu impulsionado pelo aumento
da preocupação com questões de preservação do meio ambiente, através da pressão exercida
pela legislação e órgãos fiscalizadores (CHAVES et al., 2005).
Segundo Leite (2002, p. 2) logística reversa pode ser definida como:
Logística reversa é a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o
fluxo, e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda
e de pós - consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, através dos canais de
distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico,
ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.
A partir da análise de diferentes conceitos sobre logística reversa de distintos autores como:
Kroon e Vrijens (1994), RLEC (2012), Rogers e Tibben-Lembke (1999) e o próprio Leite
(2002), percebe-se que as definições se assemelham ao abordar a gestão reversa dos fluxos de
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materiais. Porém, há definições que acrescentam além do fluxo reverso de matérias, o fluxo
reverso de informações e serviços. Adicionalmente, há definições que destacam os diferentes
benefícios ou motivos da logística reversa, como: econômico, ecológico, legal, logístico, de
imagem corporativa, entre outros.
Adicionalmente, para vários autores, a logística reversa pode ser dividida em duas
classificações ou áreas de atuação: logística reversa de pós-venda e logística reversa de pós-
consumo (LEITE, 2003; CHAVES et al., 2005; LAGARINHOS e TENÓRIO, 2013).
Como definem Chaves et al.(2005), a logística reversa dos bens de pós-venda se caracteriza
pelo retorno de produtos com pouco ou nenhum uso, que apresentaram problemas de
responsabilidade do fabricante ou distribuidor e, ainda, por insatisfação do consumidor.
Já a logística reversa de pós-consumo pode ser vista como a área da logística reversa que trata
dos bens no final de sua vida útil, dos bens usados com possibilidade de reutilização
(embalagens) e os resíduos industriais.
Para Lagarinhos e Tenório (2013), o pós-venda e o pós-consumo ganham importância nas
estratégias de sustentabilidade e no crescimento dos negócios das empresas. A partir da
aprovação de legislações restritivas com relação à disposição final dos produtos no final da
vida útil nos países do primeiro mundo e emergentes, algumas empresas aceitam previamente
o retorno dos seus produtos dos consumidores finais, para uma possível reutilização,
reciclagem no seu ciclo produtivo ou em outros ciclos, ou mesmo para a disposição final.
Algumas empresas, podem ter dificuldade em implantar a logística reversa, devido à barreiras,
como: falta de planejamento; conflitos entre varejistas e consumidores; pouca importância da
logística reversa frente às demais atividades da empresa.
Tabela 1 - Barreiras à logística reversa
Autor Barreiras à Logística Reversa
Lacerda (2002) Falta de planejamento; conflitos entre varejistas e consumidores.
Rogers e Tibben-Lembke
(1998)
Pouca importância da logística reversa frente às demais atividades da
empresa; política da empresa; falta de sistemas de informação;
atividade competitiva; descaso da administração; recursos
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financeiros; recursos humanos; normas legais.
Vasconcelos et al. (2012) Desconsideração dos gestores do papel da comunicação entre
membros da rede de suprimentos.
Fonte: Elaborada pela autora
Assim, um detalhado planejamento deve ser realizado, destacando qual (is) motivo (s) ou
objetivos estratégicos a empresa pretende alcançar ao adotar a logística reversa. Dentre eles,
pode-se destacar: questões ambientais, concorrência, pressões legais, ciclo de vida dos
produtos, imagem diferenciada ou questões econômicas (CAMPOS, 2006; RODRIGUES et
al., 2002; CHAVES e BATALHA, 2006; GONÇALVES E MARINS, 2006).
2.2 Resíduos do Serviço de Saúde e Tipos de Tratamento
Atualmente, existe uma crescente preocupação com os geradores de resíduos de maior risco
para o meio ambiente, havendo intensificação da fiscalização e exigência no cumprimento de
normas e leis existentes, onde o principal enfoque é a responsabilização dos geradores por
todo o processo de gestão dos resíduos de serviço de saúde, desde geração até a destinação
final (BUBOLTZ, 2011).
Segundo o Ministério da Saúde (2006), o Brasil ainda não conta com uma lei que disciplina
de forma abrangente a gestão de resíduos sólidos no território nacional. No entanto, a questão
de resíduos sólidos vem sendo exercida pela atuação dos órgãos regulatórios, por meios de
resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA e da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária - ANVISA, no caso de resíduos do serviço de saúde.
Sendo assim, para melhor atender à essas exigências, os Resíduos Sólidos de Saúde (RSS)
foram classificados pela ANVISA– Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2004) - de
acordo com as suas características, afim de facilitar a coleta e o tratamento. A Tabela 2
resume os principais tipos de RSS gerados e as suas características.
Tabela 2 - Classificação dos resíduos sólidos do serviço de saúde
Grupo Definição
Grupo A (potencialmente infectantes) Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que
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podem apresentar riscos de infecção.
Grupo B (químicos) Resíduo contendo substâncias químicas que apresentam risco
à saúde pública ou ao meio ambiente.
Grupo C (rejeitos radioativos) Materiais radioativos contendo radionuclídeos, que podem
ser encontrados em radioterapia, medicina nuclear e
laboratório de analises clinicas.
Grupo D (resíduos comuns) São aqueles que não necessitam de processos diferentes
referente a acondicionamento, tratamento sendo considerados
resíduos sólidos urbanos. Pode-se considerar parte desse
grupo papel, algodão, gazes, compressas, luvas, equipo de
soro entre outros, mesmo que tenha tido contato com sangue
ou fluido orgânico e outros.
Grupo E (perfuro cortantes) São aqueles provenientes de serviço à saúde como: agulhas,
bisturis, escalpes, ampolas de vidro, lâmina, objetos que
contenha cantos, pontas, capazes de cortar ou perfurar.
Fonte: Elaborada pela autora baseado em ANVISA (2004)
Assim como existem classificações diferentes para cada tipo de resíduo, também existem
tratamentos distintos de acordo com cada grupo. Para Buboltz (2011), as estratégias de
tratamento dos Resíduos do Serviço de Saúde devem considerar: a redução na fonte de
resíduos gerados; a redução do desperdício de matérias-primas e a modificação de processos
existentes de forma a minimizar os riscos. O mesmo autor destaca que para efeito de
tratamento, merecem maior atenção os resíduos do Grupo A (risco biológico), do Grupo B
(risco químico) e do Grupo C (rejeitos radioativos), sendo que cada um desses grupos de
resíduos tem características próprias, o que implica em tratamentos distintos e específicos. A
Tabela 3 apresenta o resumo dos métodos de tratamento para os grupos A, B e C.
Tabela 3 - Métodos de tratamento para os Grupos A, B e C
Métodos de Tratamento Grupos
A
(Biológico)
B
(Químico)
C
(Radioativo)
Incineração X X
Autoclave X
Tratamento Químico X
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Fonte: Adaptado de CONAMA (2001)
3. Estudo de Caso
A seguir, será apresentado o estudo de caso desenvolvido no hospital investigado, bem como
a análise dos resultados obtidos.
3.1 Caracterização do Hospital Investigado
O hospital investigado está localizado no interior de Minas Gerais, e é responsável por atender
três municípios da região e seus respectivos distritos. Por questão de sigilo, o hospital
estudado será denominado Hospital X. Este foi fundado em 1735 e atende em média 300
pacientes por dia, incluindo internações. A instituição possui uma equipe de aproximadamente
230 funcionários com vínculos empregatícios registrados e cinquenta e quatro membros do
corpo clínico. Atualmente, trabalham quatro funcionários no setor de logística, e três
funcionários no setor de segurança e meio ambiente.
3.2 A Gestão de Resíduos do Hospital X
Os tipos de resíduos do serviço de saúde gerados pelo Hospital são: A, B, D e E. Como
exemplos dos resíduos do Grupo A podem-se citar: luvas descartáveis, seringas, filtros de ar,
sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções, bolsas
transfusionais, dentre outros. Os resíduos do Grupo B, químicos, podem ser classificados
como resíduos de pós-venda, ou de pós-consumo. Para os dois tipos, têm-se como exemplo os
medicamentos. Porém, os medicamentos classificados como pós-venda são aqueles que estão
fora do prazo de validade e precisam ser descartados. Os medicamentos de pós-consumo são
aqueles que foram utilizados, mas houve sobra. Além dos remédios, os resíduos de pós-
consumo do Grupo B, também podem ser exemplificados como os desinfetantes, os resíduos
contendo metais pesados, os reagentes para laboratório, etc. Os radioativos, Grupo C, são os
únicos que não são produzidos pelo hospital. Sobras de alimento, papéis, fraldas, absorventes
Microondas X
Decaimento X
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higiênicos, resíduos de gesso, peças descartáveis de vestuário, são alguns exemplos de
resíduos do Grupo D produzidos no hospital. Por fim, os resíduos do grupo Grupo E, também
podem ser divididos em resíduos de pós-venda e de pós-consumo. O primeiro pode ser
identificado como todos os utensílios de vidro quebrados, como as ampolas, por exemplo. Já o
segundo é exemplificado como as agulhas, lâminas de bisturi, espátulas, lâminas de barbear,
dentre outros.
Todos esses resíduos passam por um processo de coleta interna e externa. A coleta interna é
realizada por funcionários do próprio hospital, que recolhem os resíduos deixados pelos
funcionários do mesmo nos expurgos destinados a cada grupo de RSS. A partir daí, estes
resíduos são levados para o abrigo externo do Hospital X, para a movimentação externa. Esta
movimentação é feita por uma empresa terceirizada, que diariamente coleta os resíduos
comuns, e a cada três dias, recolhe os demais resíduos. Os papéis são os únicos que fazem
parte da coleta seletiva para a reciclagem. Estes são recolhidos quando apresentam um
volume considerado suficiente para coleta e são encaminhados aos locais devidos. Já os
medicamentos fora da validade, são recolhidos pelo caminhão da prefeitura nos pontos de
coleta das farmácias e almoxarifados do hospital.
Com relação ao tratamento e a destinação final dos RSS do hospital, verifica-se que os
resíduos químicos (Grupo B) de pós-venda, ou seja, os medicamentos vencidos são separados
e segregados dos resíduos infectantes. Posteriormente, são recolhidos pelo caminhão da
prefeitura para serem incinerados. Os resíduos comuns (Grupo D), com exceção dos papéis
que passam pelo processo de reciclagem, vão para o aterro da cidade. Os demais resíduos,
infectantes (Grupo A), químicos (Grupo B) de pós-consumo e perfuro cortantes (Grupo E),
são recolhidos pela empresa terceirizada e também passam por incineração.
Como se tratam de resíduos hospitalares, os mesmos não são envolvidos em nenhum tipo de
processo, como reparo, renovação, remanufatura e recuperação, pois a maioria sofre
incineração como tratamento final e, portanto, não podem ser retornados para a cadeia
produtiva.
Pôde-se verificar que a gestão de retornos não é uma prática recente do Hospital X, sendo que
parte desta atividade é realizada por uma empresa terceirizada. Porém, segundo a entrevistada,
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a logística reversa é considerada para o hospital como uma atividade de segundo plano, pois o
mesmo busca fazer o mínimo exigido pela legislação. Sendo assim, por não ser uma
prioridade para o hospital, as atividades relacionadas à logística reversa necessitam ser
melhoradas.
Segundo a entrevistada, o desempenho do nível de serviço logístico reverso do hospital nos
últimos dois anos (2012 e 2013) é avaliado, pela própria, como bom. A importância dada à
gestão da logística reversa é considerada igual ao desempenho da logística direta, sendo que o
custo da logística reversa para o Hospital X não passa de 1%. Por fim, quando perguntada se
a instituição está ciente se a empresa contratada para realizar a coleta externa dos resíduos
está agindo dentro das normas exigidas pela legislação ambiental, a coordenadora respondeu
que dentro do que eles sabem, a empresa contratada age de maneira correta.
3.3 Análise dos Resultados e Sugestões
Baseado nos dados coletados nas entrevistas e na observação in loco realizada no hospital foi
possível verificar que a atividade de logística reversa não é considerada tão relevante, ou vista
como uma atividade estratégica. Todavia, a logística reversa dos hospitais, se não for
realizada dentro dos procedimentos regulamentados pela legislação ambiental, pode gerar
riscos para a saúde humana, uma vez que compreendem, dentre outros, resíduos radioativos,
químicos perigosos, infectantes e perfuro cortantes que podem gerar vírus, bactérias,
protozoários e fungos. Seria conveniente que o hospital maximizasse as suas atividades
logísticas reversas, procurando fazer o melhor possível para que a legislação ambiental, não
seja apenas minimamente garantida. Acredita-se que a instituição tem potencial para
conseguir aperfeiçoar os processos envolvidos na gestão reversa.
Com relação aos tratamentos dos resíduos, alguns pontos devem ser melhor avaliados. O
Grupo B é o único que recebe um tratamento ideal como destacado na literatura. Conforme
determinado pela legislação ambiental, todos os resíduos do Grupo B devem ser incinerados,
o que de fato ocorre com os resíduos químicos do hospital.
Os resíduos infectantes (Grupo A), de acordo com a revisão bibliográfica, podem ter os
seguintes tratamentos: incineração, autoclave, tratamento químico e microondas. Porém,
observa-se que o único tratamento que os resíduos infectantes deste hospital recebe é a
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incineração. Seria interessante que outros métodos, como os citados acima, fossem utilizados,
pois sabe-se que o Grupo A é divido em subgrupos, que por apresentarem algumas
características diferentes, também apresentam destinações finais distintas. Adicionalmente,
Buboltz (2011) destaca que do ponto de vista ambiental, a incineração consiste num processo
complexo, de custo elevado e altamente poluidor. Esse processo gera mais resíduos tóxicos e
torna-se uma ameaça para a saúde pública e o ambiente.
Os resíduos do Grupo D não precisam de um tratamento específico e podem ser
encaminhados para aterros sanitários, assim como ocorre com esse tipo de resíduo do Hospital
X. Todavia, alguns destes resíduos poderiam ser reciclados. Porém, no hospital, isso só
acontece com os papéis. Provavelmente, são gerados resíduos além dos papéis que poderiam
ser reciclados, como por exemplo, copos descartáveis. Uma solução seria fazer uma nova
reavaliação sobre o que se pode e o que não se pode reciclar, para que haja coleta seletiva e
segregação adequadas para outros tipos de produtos recicláveis, que não só os papéis.
Para os resíduos do Grupo E, perfuro cortantes, o tratamento deve ser específico de acordo
com a contaminação química, biológica, com radiofármacos perigosos ou radionuclídeos
(PEREIRA, 2011). Entretanto, não é o que acontece com os resíduos perfuro cortantes do
hospital, que recebem como tratamento a incineração. O ideal seria que a contaminação, seja
química ou biológica, fosse avaliada, a fim de se determinar o melhor tratamento para este
grupo.
Por fim, vale ressaltar alguns tópicos que necessitam de maiores reflexões por parte do
Hospital X.
Questões ambientais e legais: é importante que o hospital perceba e tenha consciência que
melhorando a sua gestão reversa de resíduos, estará contribuindo mais ainda com a
preservação do meio ambiente. Adicionalmente, verifica-se que há uma tendência da
legislação ambiental em caminhar no sentido de tornar as empresas cada vez mais
responsáveis por todo ciclo de vida de seus produtos (BUBOLTZ, 2011). Isto é,
aperfeiçoando a logística reversa, além de diminuir o impacto ambiental, o hospital estará
antecipando futuros aborrecimentos com o aumento das pressões legais.
Questões econômicas: o hospital não tem conhecimento sobre a redução de custos que uma
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boa gestão de logística reversa pode trazer. A reciclagem de outros resíduos e o próprio
reaproveitamento dos materiais podem trazer retornos economicamente positivos.
Imagem diferenciada: foi possível notar, que o Hospital X se preocupa com a sua imagem.
Logo, caso procure melhorar os seus processos de logística reversa, a instituição ganhará mais
respeito para continuar sendo a referência no setor de saúde da região.
Mudança de cultura organizacional: um dos problemas observados no hospital foi a falta de
conscientização dos funcionários do hospital, no que se refere a ter maior sensibilidade com a
separação dos resíduos. Buboltz (2011, p.73) afirma que “a consciência ambiental precisa ser
enraizada nas pessoas através da informação e treinamento para que a nível de organização,
questões como sustentabilidade e correto uso de recursos, reflitam em melhorias contínuas”.
Assim sendo, cabe ao Hospital X contribuir ao máximo no sentido de diminuir a geração de
resíduos e de fiscalizar ou contratar uma empresa confiável que realize as atividades reversas
da maneira mais adequada possível.
4. Considerações Finais
A logística reversa no manejo adequado dos resíduos de serviços de saúde é fundamental para
a manutenção da qualidade ambiental e da saúde dos profissionais que trabalham em locais
geradores desses resíduos. Assim, esta pesquisa teve como objetivo investigar a aplicação da
gestão reversa dos resíduos de serviços de saúde em um hospital de Minas Gerais.
Baseado na análise do estudo de caso pôde-se observar que os métodos utilizados pela
empresa contratada para tratar os resíduos do hospital em questão, nem sempre foram os mais
adequados.
Logo, apesar de serem identificados vários trabalhos relacionados à implantação da logística
reversa nos diversos tipos de empresa, sabe-se que na prática esta atividade necessita ser
melhorada, inclusive nos centros de saúde, em que tal atividade é obrigatória. Logo, a partir
da análise do que foi exposto nesta pesquisa, e a fim de se explorar mais o tema, sugere-se
como proposta de estudos futuros, uma pesquisa em setores da área de saúde que não
terceirizem suas práticas reversas, para que possa se verificar se há um interesse maior no
manuseio, descarte, coleta e tratamento dos resíduos do serviço de saúde.
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Finalmente, espera-se que pesquisas, como a realizada neste trabalho, contribuam para o
desenvolvimento e a consolidação da logística reversa como prática essencial para o
crescimento competitivo e econômico das empresas e organizações.
Referências
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http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/10d6dd00474597439fb6df3fbc4c6735/RDC+N%C2%BA+306,+D
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