Livro Proprietario - Fundamentos de Economia
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PAULO GONZAGA MIBIELLI DE CARVALHOJORGE BRITTOCARMEM FEIJÓFERNANDO CARLOS G. DE CERQUEIRA LIMAMARCOS TOSTES LAMONICA
ORGANIZAÇÃO DURVAL CORRÊA MEIRELLES
1ª ediçãorio de janeiro 2014
Economia: o que você precisa saber
Comitê editorial externo carmem aparecida do valle costa feijó, fernando carlos greenhalgh
de cerqueira lima e jorge nogueira de paiva britto
Comitê editorial interno durval corrêa meirelles, paulo gonzaga mibielli de carvalho e ronald
castro paschoal
Organizador do livro durval corrêa meirelles
Autores dos originais paulo gonzaga mibielli de carvalho (capítulos 1 e 2), jorge britto
(capítulo 3), carmem feijó (capítulo 4), fernando carlos de cerqueira lima (capítulo 5) e marcos
tostes lamonica (capítulo 6)
Projeto editorial roberto paes
Coordenação de produção rodrigo azevedo de oliveira
Projeto gráfico paulo vitor fernandes bastos
Diagramação paulo vitor fernandes bastos e andré renato fernandes lage
Supervisão de revisão aderbal torres bezerra
Redação final e desenho didático roberto paes
Revisão linguística pricilla basilio e katia souza
Capa thiago lopes amaral
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quais-
quer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou
banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2014.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
E17 Economia: o que você precisa saber
Durval Corrêa Meirelles [organizador].
— Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2014.
160 p
isbn: 978-85-60923-08-3
1. Economia. 2. Macroeconomia. 3. Microeconomia. 4. Desenvolvimento. I. Título.
cdd 330
Diretoria de Ensino – Fábrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido – Rio de Janeiro – rj – cep 20261-063
Sumário
Apresentação 7
1. Conceituação Básica 9
A importância de se estudar Economia 10Mas por que os economistas divergem? 12O objeto de estudo da Economia 13Questões econômicas fundamentais: escassez e necessidades 14Quanto produzir? 15Como produzir? 15Para quem produzir? 16Isso nos leva a outra questão: como definir as necessidades? 16A curva de possibilidades de produção e custo de oportunidade 18Bens e serviços 21Recursos naturais 22Fatores de produção, agentes econômicos e o fluxo circular 24Fluxo circular 25Economia, sociedade e meio ambiente 26A relação entre economia, sociedade e meio ambiente 26Próximos capítulos 26
2. Contextualização da Ciência Econômica 29
Uma introdução à História do Pensamento Econômico 30Os Economistas Clássicos 30Mão invisível 30Divisão do trabalho 31A reação alemã 35A Economia Neoclássica 37A Escola Austríaca 38A economia keynesiana 39Monetarismo 41Estruturalismo 42Economia Capitalista (de mercado) versus Economia Planificada 43Economia: divisões e relação com as diferentes profissões 45Economia e sua relação com Administração e Contabilidade 46Economia e sua relação com Comunicação 46Economia e sua relação com Direito 46
Economia e sua relação com Geografia 47Economia e sua relação com História 47
3. A Abordagem microeconômica 49
Método de análise 51A Teoria do consumidor e da demanda 53A Teoria da Produção 56Equilíbrio de mercado e bem-estar 58Análise de estruturas de mercado 58Falhas de mercado 63Da microeconomia tradicional para a organização industrial 65
4. Abordagem macroeconômica 69
O sistema de contas nacionais e os agregados macroeconômicos — Parte 1 70Fluxo e estoque 71Produto Interno Bruto (PIB) 72Fluxo, Estoque, Produto Interno Bruto e Produto Interno Líquido 73As diferentes óticas de mensuração do produto da economia 74
Ótica do produto 74Ótica da renda 75Ótica da despesa 75
PIB e PIB per capita 76Renda Nacional Bruta e demais agregados 78Medindo as transações com o resto do mundo: Balanço de Pagamentos 81Os determinantes do nível de produto e emprego na economia: conceitos de teoria macroeconômica — Parte 2 84Crescimento no curto prazo: flutuações do PIB 84Emprego e desemprego 89O que determina os preços, sua variação,e sua relação com a moeda 91O que é moeda, as funções da moeda, moeda e inflação 92Inflação ou desemprego: o dilema de economias modernas 94Como medir a inflação 95
5. Políticas Macroeconômicas 97
Política macroeconômica: definição e objetivos 98Política monetária: definição e objetivos 99
Metas intermediárias 100Meta intermediária (I): moeda 100Meta intermediária (II): taxa de juros 104Meta de inflação 106
Instrumentos de política monetária: introdução 107Depósito compulsório 107Taxa de redesconto 108Operações de mercado aberto (ou open market) 109
Instrumentos diretos de política monetária 109Política cambial 110Regimes cambiais: vantagens e desvantagens 111Taxa de câmbio fixa 111Taxas de câmbio flutuantes 113Taxa de câmbio administrada 114Acumulação de reservas internacionais:vantagens e desvantagens 115Política de comércio exterior 116Política Fiscal 116Definição e objetivos 117Déficit primário e déficit nominal 117Dívida bruta e dívida líquida 118
6. Noções sobre Crescimento e Desenvolvimento Econômico 121
Crescimento econômico versus desenvolvimento econômico 122Crescimento econômico de longo prazo 123Acumulação de Capital (K) 124Crescimento da força de trabalho (L) 125Nível de desenvolvimento tecnológico (T) 125Desenvolvimento econômico 126Os principais indicadores sociais: índice de Gini e índice de desenvolvimento humano (IDH) 127Índice de Gini 127
Explicando o índice de Gini 128Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 129Desenvolvimento sustentável 130Políticas públicas para a promoção do desenvolvimento 131Política de incentivo à acumulação de capital 132Política de incentivo à Educação 134Política de garantia ao Direito de Propriedade 135Política de incentivo ao livre comércio 136Política de incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento 137Globalização 138
Origem 139Características da globalização 140Globalização produtiva 141Globalização financeira 142
Apêndice — Como fazer e interpretar gráficos e tabelas 145
Como fazer 1461) Gráficos 146
Cuidados com o gráfico 1462) Tabelas 147
Cuidados com uma boa tabela 147Como interpretar 148O que nos diz esse gráfico? Várias coisas: 150
capítulo 1 • 7
Apresentação
Amaiorpartedoqueumapessoanecessitanasuavidanãoéproduzidaporelaprópria,de
modoindividual.Algumasdasnecessidadeshumanassãosatisfeitasnoentornoimediato
dafamília–comoaeducaçãonãoformaleatrocadeafeto–,outras,tantomateriaisquanto
espirituais,oudequalquernatureza,sãosatisfeitaspeloconjuntodeindivíduosorganiza-
dosemumasociedade.
Umaquestãoimportantequedaídecorreécomocadasociedadesupreasnecessidades
deseusmembros,ouseja,comoelaorganizaaproduçãoeadistribuiçãodosbenseserviços
produzidos.Emsociedadesmenoscomplexascomo,porexemplo,nastribais,essaorgani-
zaçãoocorredemodotradicionalpelaproduçãocoletivaepeladistribuiçãomaisoumenos
igualitáriadosbens.Nessassociedades,emborapossamosidentificarumlocalondeeventu-
almentetrocassejamfeitas,oquechamaríamosdemercado,estenãoocupaumlugarfun-
damentalnaorganizaçãoeconômica.Mesmoemsociedadesondeocomércioassumepapel
relevantenageraçãoderiquezas,comoocorreucomacivilizaçãofenícia,naAntiguidade,a
distribuiçãodosrecursosmateriaisnãoerainteiramentereguladapelomercado.
Apenasnasociedadedotipocapitalista,quesedesenvolveu apartir doséculoXVIII,
encontraremosumaeconomiaconstruídaemtornodomercado.Umaeconomiademer-
cadopodeserdefinidacomoumsistemaautorreguláveldemercados,istoé,umaecono-
miaondebens,serviçosefatoresdeprodução(recursosnaturais,trabalhoecapital)são
distribuídosealocados,exclusivamente,pelatroca.Naverdade,issonãoseaplicademodo
absolutoanenhumasociedade,poisexistemimperfeiçõesemtalsistemaqueexigemin-
tervençõesexternasaele,como,porexemplo,atravésdaaçãogovernamental.
Quandopagamosimpostos,esperamosqueoEstadoosutilizebem,gerandoumacon-
trapartidaemtermosdeproteçãoedeprestaçãodeserviçospúblicos.Contamoscomisso
porqueoEstado,pormeiodessasatividades,desempenhaopapelnecessáriodeorganizar
ofuncionamentodeumasociedade.Assim,osmercadossupremasnecessidadeseconô-
micasdosindivíduosedasempresas,cabendoaoEstadoasmúltiplasfunçõesquegaran-
tamomelhordesempenhodasociedadecomoumtodo,atravésdaspolíticasquepropi-
ciemascondiçõesdevidaaoindivíduoededesenvolvimentosocialeeconômicoaopaís.
Acompreensãodessesaspectos,fundamentaisparaonossodiaadia,sãooobjetodas
CiênciasEconômicas,umconjuntodedisciplinasqueprocuramentendercomoassocie-
dadesorganizamaproduçãoeadistribuiçãodariqueza.Asrespostasàsquestõesquedaí
decorrem–Oqueequantoproduzir?Comoproduzir?Paraquemproduzir?–constituemo
principalobjetivodoestudodaEconomia.
Afinalidadedestelivroépropiciaraosalunosdediversoscursosumavisãointrodutó-
ria,porémabrangente,dosprincipaisproblemaseconômicosquenosafetamnosdiasde
hoje.Paratal,procuramosabordardeformasimples-masnãoexcessivamentesimplifica-
da,poisaíperderiaefetividade-osinstrumentosdequeaEconomiadispõeparaentender
eatuarsobrenossarealidade.
Esperamosquealeituradestelivrosejaagradáveleútilaoleitor,contribuindocomo
baseefetivaparaasuaatuaçãoprofissionaledecidadão.
ronald castro paschoal
10 • capítulo 1
A importância de se estudar Economia
ÉimportanteestudarEconomiaparamelhorentenderomundoque
noscerca.Conheceraquestãododesempregoéimportante,porexem-
plo,paraseentenderoqueédiscutidonosjornais,natelevisãoenas
redes, mas também porque isso ajuda o indivíduo em questões tais
comodecidirqualamelhorhoradetrocardeempregoepediraumen-
todesalário...
OutrasquestõesqueaEconomiaestuda,presentesnamídiaeque
afetamoconsumidor,otrabalhadoreoempresário,entreoutros,são:
Porqueainflaçãoestáalta?PorqueaEconomiacrescepouco?Acrise
econômicamundialjáacabou?Aimportaçãodeprodutoschinesesvai
acabar com a indústria nacional? Paga-se muito imposto no Brasil? É
necessáriaumareformanaPrevidência?ArendanoBrasilémuitocon-
centrada?Oqueédesenvolvimentosustentável?OestudodaEconomia
nosajudaaresponderatodasessasperguntas.
Apesar dessa relevância, é muito comum ouvir dos estudantes co-
mentáriosrelacionadosàdificuldadedeseestudarecompreenderEco-
nomia.Sendoassim,vamoslevantarosquestionamentosmaiscomuns
eprocurarrespondê-losdeformaprática.
REFLEXÃO
Economia é uma matéria muito complicada, pois exige muito conhecimento
de matemática...
UmeconomistaprecisaterumaboabaseemMatemática,masnão
énecessáriograndeconhecimentodelaparaseentenderosprincípios
básicosdeEconomia.Estelivropretendedemonstrarisso.
Os economistas só trabalham com modelos, por isso o que eles dizem
é incompreensível.
Nemtodososeconomistastrabalhamcommodelosmatemáticos,mas
seuusomuitasvezeséimprescindível.Modelosnadamaissãodoqueuma
simplificaçãodarealidade,oqueénecessário,jáquearealidadeémuito
complexa.Porexemplo,umeconomistapodeafirmarqueonívelderenda
daspessoaséconsequênciadasuaescolaridadeeidade(experiência).Issoé
1 Conceituação Básica
COMENTÁRIO
Outras questões
Neste livro não vamos abordar todas
essas questões, mas esperamos des-
pertar em você o interesse pela Econo-
mia, possibilitando que continue seus
estudos da forma que lhe for mais con-
veniente, em um curso formal ou não.
Uma forma simples de fazer isso é lendo
a editoria de economia de um jornal de
grande circulação, pois esses têm a pre-
ocupação de explicar os fatos econômi-
cos em uma linguagem mais simples.
COMENTÁRIO
Economista
Deve-se desconfiar dos economistas
que só conseguem se expressar por
meio de fórmulas matemáticas e não
conseguem apresentar suas ideias sem
economês (aquelas palavras difíceis
que só os economistas conhecem).
capítulo 1 • 11
umasimplificaçãodarealidade,poisoutrasvariáveistêmimpactosobreo
nívelderenda.Masparaquecomplicardemais?Seopoderexplicativodes-
sasduasvariáveis(escolaridadeeidade)forelevado,podemosficarporaqui.
Claroquehámodelosdedifícilcompreensão,algunsnãopodemser
testados por falta de dados. Diferentes escolas de pensamento econô-
micoirãoutilizardiferentesmodelosparaexplicaromesmofenômeno,
masousodemodeloséinevitável.
EXEMPLO
Um bom exemplo de como a simplificação é necessária para a compreensão da
realidade são os mapas. No google maps de uma cidade, todas as ruas transversais
às grandes avenidas só surgem quando se aplica um bom zoom. Com pouco zoom,
apenas as grandes avenidas são visíveis, mas isso é exatamente o mais relevante.
Se nessa escala aparecessem também as ruas transversais, ficaria difícil visualizar o
mais importante, que são as avenidas. Detalhe demais atrapalha.
REFLEXÃO
O conhecimento de Economia de pouco adianta no dia a dia.
ConhecimentodeEconomiaémuitoútilnodiaadia.Étãoútil,que
váriosdessesconhecimentosvocêjátemenãosedeucontadisso.Veja-
mosumexemplo:
EXEMPLO
Seu time de futebol, que tem uma grande torcida, vai ter um jogo decisivo no sába-
do. Você vai deixar para comprar o ingresso no próprio sábado um pouco antes da
partida? Claro que não. Pois nesse caso você iria comprar de cambista e pagar muito
caro. O cambista vende caro, porque a essa altura não há mais ingresso disponível
nas bilheterias, mas ainda existem pessoas querendo comprar. Dito de outra forma,
há pouca oferta de ingressos – o que tem está com os cambistas – mas há procura
por ingressos. Os cambistas sabem disso e por isso vendem caro. Se você entende
a lógica de situações desse tipo, você conhece os princípios básicos da chamada
lei da oferta e da demanda. Foi a escola da vida que te ensinou, não foi um curso de
Economia. Ensinou e você aprendeu, porque é algo útil no dia a dia.
Masaescoladavidanãoensinatudo,casocontrário,ninguémestu-
darianemfariafaculdade.Vejamosagoraumtipodesituaçãoemqueo
conhecimentodeEconomiaéimportante.
COMENTÁRIO
Simplificação da realidade
Em uma segunda etapa, podemos sofis-
ticar um pouco mais e agregar outras va-
riáveis. Portanto, um economista iria criar
uma relação matemática entre essas
variáveis, formulando assim um mode-
lo econômico, para em seguida testá-lo
com os dados existentes (supondo que
não seja um modelo apenas teórico). No
capítulo 3 veremos mais sobre a constru-
ção de modelos teóricos na microecono-
mia e o uso do método lógico-dedutivo e
de hipóteses simplificadoras.
12 • capítulo 1
EXEMPLO
Suponha que você queira comprar uma televisão nova e existam duas opções: à vista ou
em 24 vezes com juros de 2% ao mês, mas com uma prestação baixa. Suponha também
que a inflação seja de 0,5% ao mês e a caderneta de poupança renda 0,6% ao mês. A
maioria das pessoas optaria por pagar a prazo, afinal a prestação é baixa e cabe bem
no salário. Essa solução é a mais cômoda, mas não é a melhor. Você estará pagando
de juros o equivalente a quatro vezes o valor da inflação, e durante 24 meses! Não é
necessário fazer cálculos para confirmar, é evidente que nesse caso o barato sai caro.
Para chegar a essa conclusão você comparou a taxa de juros com a taxa de inflação
e rendimento da caderneta de poupança e (implicitamente) confrontou o preço à vista
com o preço a prazo. Com noções de economia é mais fácil fazer esse tipo de raciocínio.
REFLEXÃO
Os economistas não se entendem, cada um diz uma coisa diferente. É tudo muito confuso.
Oseconomistastêmdiscordânciasentresi,masdivergênciasexis-
tememváriasciênciaseprofissõesesãopartedavida.Aindamaisna
Economia,queéumaciênciasocialenãoumaciênciaexata.Vocêcon-
cordacomtodasasideiasdeseuspais,deseufilhos,irmãosouamigos?
Comcertezanão,eisso,namaioriadasvezesnãoimpedeaconvivência.
Mas por que os economistas divergem?
Emprimeirolugarexistemdiferentesescolasdepensamentodentroda
CiênciaEconômica.FazendoumaanalogiacomaMedicina,ummédico
comformaçãotradicionaleoutrocomformaçãoemMedicinaChinesa
vãoolharopacientedeformamuitodiferentee,portanto,odiagnóstico
e,principalmenteaterapia,serãodivergentes.
Comparandoumeconomistaneoliberaleumeconomistakeynesia-
no(maisadiantefalaremosmaisdetidamentedessascorrentesdepen-
samento),veremosqueoprimeiroacreditaqueaintervençãodoEstado
sóatrapalhaofuncionamentodaeconomia.Jáosegundo,acreditaquea
economiasóvaifuncionaradequadamentecomintervençãodoEstado.
REFLEXÃO
Os economistas vinculados a essas correntes nunca vão se entender, caso se ati-
verem rigidamente a seus princípios, pois partem de premissas e teorias diferentes.
A situação se complica ainda mais se esses economistas estiverem vinculados a
partidos políticos ou associações de classe divergentes.
COMENTÁRIO
Divergências
Veja o caso dos médicos que, no dia a
dia, para todos nós, são mais importan-
tes que os economistas. Em muitas si-
tuações, não é incomum consultar três
médicos sobre uma operação e ter três
diagnósticos diferentes: a) não precisa
operar; b) não precisa operar agora, mas
talvez precise operar no futuro; c) tem
de operar e tem de ser agora. Se algum
deles for homeopata ou praticante da
medicina chinesa, as divergências se-
riam ainda maiores.
capítulo 1 • 13
Podehaverdivergênciastambémporqueumdosladosusoudeformainadequadauma
teoriaouummodelo,porexemplo,deixandodeladovariáveisimportantes.Podehavertam-
bémdivergênciasdeordemempírica.
EXEMPLO
Por exemplo, se há falta de dados e informações, qualquer avaliação fica muito subjetiva e, portanto, as
divergências são grandes. Se há dados suficientes, pode haver divergência quanto à escolha da base
de dados – por exemplo, a do IBGE ou do Ministério da Agricultura para estimativas de safra – e no
tratamento/uso desses dados.
Dequeladoficaremumapolêmica?Háduasalternativas.Pode-seassumirumapostu-
rasectária(eequivocada)esempreconsiderarqueestãocorretasasposiçõesdefendidas
peloseconomistascomosquaisvocêsimpatizaequeasdemaisestãoerradas.Ouadotar
umaposturaabertaedemocráticaouvindooquetodostêmadizeredepoisseposicionar.
Essaéaposturacorreta.
REFLEXÃO
É só assim, com o livre debate de ideias, que o conhecimento avança, não só na Economia como em todas
as áreas do saber. É mais trabalhoso, sem dúvida, mas ser guiado por preconceitos é muito pior.
O objeto de estudo da Economia
Masafinal,doquetrataaEconomia?Qualéoseuobjetodeestudo?Adefiniçãomaistra-
dicional,formuladaem1932porLionelRobbins,afirmaque“aeconomiaéumaciência
queestudaocomportamentohumano,comoumarelaçãoentremeiosefins.Sendoos
meiosescassosecomusosalternativos”.Ditodeoutraforma,aeconomiaestudacomo
se usa a racionalidade (do comportamento humano) para solucionar problemas como
orçamentoapertado.
EXEMPLO
Por exemplo, temos um fim — pagar as contas, ter algum lazer e, se possível, poupar —, mas o salário é
curto (meio escasso). O dinheiro pode ser utilizado de diferentes formas, pois há várias contas a pagar –─
algumas podem ser adiadas com pouco custo e outras não –, há diferentes tipos de lazer e de aplicações
financeiras. Qual seria a escolha racional a se fazer nessa situação? Essa escolha seria a que daria maior
satisfação (maximizaria o bem-estar).
Tendo as informações necessárias, a teoria econômica indica o caminho a tomar. Situações desse tipo
não ocorrem apenas com consumidores e famílias, mas também com empresas, governos, instituições etc.
Notequeessadefiniçãopressupõequeoagenteeconômico(basicamentefamíliase
empresas)ajacomracionalidade.Masapropagandanoslevaaagircomracionalidade?
14 • capítulo 1
Nointuitodeobtermaioresganhos,asfamíliaseempresasagemsem-
precomracionalidadeoumuitasvezessãootimistasemexcessoein-
fluenciadasporboatos?
AdefiniçãodeRobbinstambémrestringeaEconomiaaoestudoda
PsicologiaHumana,quando,naverdade,elaémuitomaisdoqueisso.
Nãoháreferênciaàhistóriaouàsociedade,portanto,ateoriaeconômi-
cadariacontadequalquersituaçãodemeiosescassosefinsalternativos
queenvolvamsereshumanos.Masumatriboindígenaeohomemmo-
dernotêmamesmaracionalidade?
Umadefiniçãoalternativaseria:AEconomiaéaciênciasocialquees-
tudaaprodução,distribuiçãoeconsumodebenseserviços.Asprincipais
diferençasfrenteàdefiniçãoanteriorsãoamençãodaEconomiacomo
ciênciasocial,enãosefazerreferênciaaocomportamentohumano.
REFLEXÃO
Cabe destacar dois pontos. Em nenhuma das duas definições há valores éticos ou
morais envolvidos. Portanto, a Economia pode ser utilizada para o bem (exemplo: para
a paz) ou para o mal (exemplo: para a guerra). Os agentes econômicos, porém, no dia
a dia, têm valores éticos e morais e fazem suas escolhas também com base nisso.
Nãosefalounadaatéagorasobrequaisseriamosfins.Essesseriam,
pelo enfoque tradicional, tornar máximo (maximizar) o lucro das em-
presaseasatisfaçãodosindivíduos.Entretanto,osagenteseconômicos
(famílias,empresas)procuramfazeroqueémelhorparaelesindividu-
almente,oquenãonecessariamenteéomelhorparaacoletividadeou
paraopaís,comovocêveránocapítulo2.
Questões econômicas fundamentais: es-cassez e necessidades
Asquestõeseconômicasfundamentais,dopontodevistadoagentein-
dividual,são:
ATENÇÃO
O que e quanto produzir — quais os produtos a serem produzidos e em
que quantidades;
Como produzir — que tecnologia utilizar;
Para quem produzir — que mercado consumidor se pretende atingir.
Essasquestõessóexistemporqueháescassezenecessidadesase-
rem atendidas. Estamos tratando aqui apenas dos bens econômicos,
COMENTÁRIO
Otimistas
Uma das causas da crise financeira
internacional de 2008 foi uma combi-
nação de endividamento elevado com
otimismo desmesurado sobre ganhos
financeiros.
capítulo 1 • 15
quesãoaquelesrelativamenteescassosequeprecisamserproduzidos,
e,portanto,nãosãoabundanteseoferecidosgratuitamentepelanature-
za,comoéocasodosbenslivres.Asnecessidadesvãodefinirotamanho
domercadoconsumidordeumproduto.
Quanto produzir?
Oquantoproduzirvaidependerdotamanhodomercadoedacapaci-
dade da empresaematendê-lo.Suponhaqueemumpaíscom10mi-
lhõesdehabitantes,metadedelestenhaalgumtipodedeficiênciavisual
(miopia,astigmatismoetc.)enecessitemdeóculos.Suponhaquetodos
tenhamrecursosparacompraróculos.Nessecaso,omercadoconsumi-
dordeóculosseriade5milhõesdepessoas.Atéaquijáestãodefinidos
para quem produzir (pessoas com deficiência visual), o que produzir
(óculos)equantoproduzir(5milhõesdeóculos).
Como produzir?
Noexemplodosóculos,váriasempresasvãodisputaressemercado.Ven-
derámaisquemutilizarumatecnologiaquepossibiliteproduziróculos
deboaqualidade,comumpreçoatrativoparaoconsumidor(bomeba-
rato).Estamosfalando,portanto,docomoproduzir,ouseja,refere-seà
tecnologiautilizadanoprocessoprodutivo.Aquestãodaescassezentra
naescolhadatecnologia.Asmatérias-primasmaisescassassãoasmais
carasedeterminamaescolhadatecnologia.Osempresáriosvãofugir
datecnologiaquetemaltoscustosdeprodução,poisissosignificapreço
elevadoepoucosconsumidores.
REFLEXÃO
Não se pode produzir sem que haja alguém ou alguma máquina trabalhando em
algum lugar. Portanto, precisamos para produzir, pelo menos, de trabalho, capital
e recursos naturais. Esses são os fatores de produção, que são os recursos indis-
pensáveis para viabilizar um processo produtivo. Alguns avaliam que capacidade
empresarial e capacidade tecnológica também devem ser consideradas fatores
de produção. Para simplificar, trabalharemos nesse capítulo apenas com os dois
fatores produtivos mais utilizados pelos economistas nos seus estudos, que são
capital e trabalho.
Hásemprediferentesformasdeseproduzirummesmoproduto,
apartirdediferentescombinaçõesdosfatoresprodutivos.Porexem-
plo, no passado as agências bancárias faziam seu serviço de atendi-
mentoaopúblicoutilizandomuitofatortrabalho(muitoscaixashu-
COMENTÁRIO
Bens livres
Exemplos de bens livres são o ar, água,
luz solar etc. Como você já deve ter pen-
sado, alguns bens livres, devido ao mau
uso feito pelo homem, já estão se tornan-
do escassos, como é o caso da água.
16 • capítulo 1
manos) epoucofator capital.Hoje éo inverso,poispredominamos
caixaseletrônicos.
Para quem produzir?
Asquestõeseconômicasfundamentaisnãosãofáceisdeseremrespondi-
das.Opontodepartidadetudoéoparaquemproduzir.Sófazsentidopro-
duziralgoquevenhaasercompradopelosconsumidores.Seforumprodu-
toouserviçojáestabelecidonomercado,nãohámuitocomoerrar,masse
forumprodutonovoousubstancialmentemodificado,comoosconsumi-
doresvãoreagir?Bastaapropagandaparasolucionaresseproblema?Com
propagandasecriamercadoparaqualquerproduto?Comcertezanão.
EXEMPLO
Por exemplo, no início dos anos 1990, no Brasil, houve muito propaganda dos carros
da marca Lada, que eram importados da antiga União Soviética. Essa marca era des-
conhecida aqui, mas com a propaganda muitos carros foram vendidos, até porque
o preço era convidativo. O problema é que em pouco tempo ficou claro que o carro
não era adaptado às ruas, estradas e ao clima brasileiro. As vendas despencaram e
o Lada deixou de ser importado. Moral da história: propaganda não faz milagre; se o
produto é ruim, não vende.
Vejamos o caso do telefone celular. Qualquer pesquisa junto aos
consumidoresnosanos1980diriaqueelesnãonecessitavamdessepro-
duto.Oquetodosqueriameraumtelefonefixoemcasa,oquenãoera
fácildeconseguir.Comtelefonenotrabalho,emcasaecabinestelefô-
nicas(orelhões)narua,qualanecessidadedeumtelefoneportátil?Mas
o produto foi introduzido no mercado e aos poucos foi conquistando
espaço,aindasemosrecursosqueexistemhoje.Atualmente,paramui-
tos,jáéumprodutodeprimeiranecessidade.Moraldahistória:asne-
cessidadespodemsercriadas.Todoprodutoquetornaavidamaisfácil,
porsermaisprático,porexemplo,levavantagem.
Isso nos leva a outra questão: como defi-nir as necessidades?
Asnecessidadesindividuaispodemserdivididasemcorporais,espiritu-
aisedeconsumosuntuário(deluxo).Asnecessidadescorporaispodem
serbiológicas,quesãoasrelativasaovestuário,alimentação,reprodu-
çãoehabitação,esociais,quesãodadaspelavidaemsociedade.
COMENTÁRIO
Comprado pelos consumidores
Estamos nos referindo aqui apenas ao
que é produzido com fins de lucro, pois
o governo, por exemplo, pode oferecer
serviços gratuitos para a população.
capítulo 1 • 17
EXEMPLO
Por exemplo, certas empresas exigem que seus funcionários trabalhem de terno,
pois isso é uma norma social; logo, é forçoso adquirir esse tipo de roupa.
Asnecessidadesespirituaissãoasreferentesaoconhecimento,cria-
çãoartísticaeareligião.Oconsumodeluxotemservidohistoricamente
paradiferenciarclassessociais,poisopreçodeseusprodutoscostuma
sermuitoelevado.
Vivemosemsociedadee,portanto,temostambémnecessidadescole-
tivas,quesãoaquelasderivadasdavidaemcomunidadeequesópodem,
namaioriadasvezes,seratendidas,deformacoletiva.Esseéocasodos
serviçosdetransporte,habitação,saúde,educação(CANO,2007).
ATENÇÃO
O atendimento das necessidades básicas depende, em boa parte, dos indivíduos.
Tendo um bom emprego podemos pagar por uma boa alimentação, comprar roupas
etc. Já as necessidades sociais dependem, em boa medida, do governo e suas polí-
ticas públicas, pois é ele que constrói grande parte das estradas, hospitais, escolas e
grandes espaços de lazer (estádios, por exemplo).
As necessidades das pessoas são diferentes (região, classe social,
sexoetc.)emudamaolongodetempo.Esseéumgrandedesafio,seo
objetivoforalcançarodesenvolvimentosustentável,quepodeserde-
finido como o desenvolvimento que visa atender às necessidades da
geraçãopresente,semcomprometeroatendimentodasnecessidades
dasfuturasgerações.
ATENÇÃO
Esse já é um problema do presente, nosso planeta não suporta o atendimento de nos-
sas necessidades atuais. Um bom exemplo disso é o problema das mudanças climá-
ticas. A temperatura do nosso planeta tem aumentado, em boa medida, por causa do
aumento do consumo de combustíveis fósseis (exemplos: carvão e derivados do petró-
leo). Em virtude disso, o clima está ficando cada vez mais instável e a altura dos mares
aumentando. Para enfrentarmos esse problema não basta trocarmos combustíveis
fósseis por fontes de energia renováveis (energia hidrelétrica, solar, eólica — ventos
etc.), precisamos mudar nosso padrão de consumo e, portanto, nossas necessidades.
Nãoénadafácil,dadooconsumismodasociedadeemquevivemos.So-
mosconsumistasquandocompramosmaisdoquenecessitamos.Todasas
necessidadesatuaispodemseratendidas?Comcertezanão,poisnãoha-
veriarecursosnaturaissuficientes,nemcapacidadedeabsorverosdejetos
geradospelapoluiçãodoar,daágua,deresíduossólidos(lixo).Setodosos
COMENTÁRIO
Consumismo
Com certeza você já comprou produtos
que nunca utilizou ou utilizou muito pou-
co, o que não justificaria a compra. Se
isso acontece com frequência você é um
consumista. Responda com sinceridade:
você consegue viver sem consumir pro-
dutos supérfluos (não essenciais)? Para
você é fácil definir o que é um produto
supérfluo? O telefone celular é um pro-
duto supérfluo? Sua resposta se refere
a todos os celulares ou só para alguns
tipos de celulares? Essas não são ques-
tões fáceis de serem respondidas.
18 • capítulo 1
habitantesdoplanetativessemomesmopadrãodevidadeumnorte-americanodeclassemé-
dia,seriaocaos.Sótendooutrosplanetasparaimportarmatérias-primaseexportarpoluição.
Nasociedadeemquevivemos,édifícilnãoserconsumistadealgumaforma.Oconsu-
mismoéalgosobreoqualsedeverefletirenãoapenasaceitarpassivamente.
A curva de possibilidades de produção e custo de oportunidade
Odilemaentrerecursoslimitadosversusfinsalternativosémuitobemapresentadonacur-
vadepossibilidadedeprodução(tambémchamadadecurvadefronteiraprodutivaoude
transformação da produção). Essa curva, que é uma representação simplificada de uma
economia,ésemprecôncavaeemcadaeixoháumproduto.Vejamos:
4
2
3
1
00 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
8
9
10
Quan
tidad
e pr
oduz
ida
de C
anhõ
es
Quantidade produzida de Manteiga
7
6
5
ATENÇÃO
A área delimitada pela curva é a de possibilidades de produção para aquela Economia em relação aos
dois produtos, que são os únicos produzidos, no caso, manteiga (em toneladas) e canhões (quantidade).
Isso significa que qualquer ponto além da curva é impossível de ser alcançado. A produção máxima é
alcançada quando a economia está em algum ponto da borda da curva. Esse é o seu limite, o limite das
possibilidades de produção.
capítulo 1 • 19
AáreadelimitadapelacurvaédadapelacapacidadeprodutivadaEconomia,quepor
suavez,dependedadisponibilidadedefatoresprodutivos(capitaletrabalho).Portanto,
quantomaiorapopulação,onúmerodemáquinasefábricasnopaís,ouquantomaiora
produtividadedosoperáriosoudasmáquinas,maiorasuacapacidadeprodutiva.Haven-
domaiorprodutividadeoudisponibilidadedefatores,acurvasedeslocaparaadireita
(parafora).Havendomenorprodutividadeoudisponibilidade,odeslocamentoéparaa
esquerda—paradentro.
0 0,5 1 1,5
Produto A
Prod
uto
B
2 2,5 3 3,50
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
ATENÇÃO
Por exemplo, a curva irá se deslocar para a direita se a população crescer ou se, com o progresso téc-
nico, as máquinas velhas forem substituídas por novas, que são mais produtivas. Se a população do país
diminuir em razão da emigração, queda da taxa de natalidade ou por guerras ou terremotos, a curva irá
se deslocar para a esquerda.
AcurvaexpressaodilemaclássicodaEconomia.Nãohárecursosparaseproduzirtudo
oquesedesejaeénecessáriofazerescolhas.Paraseproduzirmaisdeumprodutoéneces-
sário,sempre,seproduzirmenosdeoutro,atéasituaçãolimite,emquetodaacapacidade
produtivadaEconomiaestávoltadaparaaproduçãodeapenasumproduto.
20 • capítulo 1
0 0,5 1 1,5
Quantidade produzida de Manteiga
Quan
tidad
e pr
oduz
ida
de C
anhõ
es
2 2,5 3 3,50
1
2
3
4
5C
A
B
D
6
7
8
9
10
Noexemplodado,9éaquantidademáximaquesepodeproduzirde
canhões;e3toneladas,omáximodemanteiga.Suponhaqueseestejano
pontoA(8canhõese1toneladademanteiga)esepasseparaopontoB(5
canhõese2toneladasdemanteiga).Nessecaso,aproduçãodemantei-
gaaumentoude1toneladapara2toneladas,mas,emcompensação,a
produçãodecanhõescaiude8para5.Paraseproduzir1toneladaamais
demanteigafoinecessárioabrirmãode3canhões.Esses3canhõesque
deixaramdeserproduzidosrepresentamocustodeoportunidade.
NotequeopontoDéimpossíveldeseratingido.Essenãoéocaso
dopontoC.Esseúltimopontorepresentaumasituaçãoemqueseestá
produzindomenosdoquepoderia,poisestamosdentrodacurvaenão
nasuaborda.NopontoCestamosproduzindo1toneladademanteiga,
masapenas5canhões,quandopoderíamosproduzir8.Issoocorrepor-
que,poralgummotivo,nãoestamosutilizandotodososrecursosque
temose,portanto,estamoscomrecursosociosos.
Em nosso exemplo, os dois produtos selecionados foram canhões e
manteigaparadestacarumdilemaeconômicoclássico.Aosedesviarmui-
tosrecursosparaaguerra(canhões),asnecessidadesdapopulação(man-
teiga)ficamemsegundoplano.Esseéumdosmuitoscustosdeumaguerra.
EXEMPLO
Durante a Segunda Guerra Mundial, a venda de manteiga nos Estados Unidos foi ra-
cionada, havendo um limite máximo de manteiga que as famílias podiam comprar por
mês. A venda de automóveis para civis chegou a ser proibida, exceto em situações
especiais — exemplo: médicos podiam comprar automóveis por ser considerado ne-
cessário para o exercício de sua profissão. As fábricas de automóveis passaram a
fabricar tanques e diversos tipos de armamentos.
COMENTÁRIO
Custo de oportunidade
É o de que se abre mão ao se fazer uma
escolha. É o custo de uma escolha. À
medida que se avança na produção de
manteiga, o custo de oportunidade au-
menta. Para mais uma tonelada de man-
teiga, abre-se mão de 5 canhões.
O conceito de custo de oportunidade se
aplica a várias situações. Em um filme
do cineasta Domingos de Oliveira, o per-
sonagem principal — um conquistador
inveterado — afirma que o difícil não é
escolher uma mulher, o difícil é deixar de
lado todas as outras mulheres do mundo.
Nesse caso, o custo de oportunidade são
todas as outras mulheres do mundo. O
filme se chama Todas as mulheres do
mundo e foi estrelado por Paulo José e
Leila Diniz, em 1966. É considerado um
clássico do cinema brasileiro.
COMENTÁRIO
Recursos ociosos
Um exemplo seria a situação de desem-
prego. Parte da mão de obra não está
trabalhando, e, por isso, a produção é
menor do que poderia ser.
capítulo 1 • 21
Bens e serviços
NumaEconomiasãoproduzidosbenseserviços.Benssãoprodutosque
têmformafísica—comoferro,automóvelesapato,porexemplo—e
existemparasatisfazeralgumanecessidade.Osserviçosnãotêmforma
física — como uma consulta médica, o serviço de um eletricista, uma
auladeprofessor.
AproduçãoprovémdostrêssetoresquecompõemumaEconomia:
primário(agriculturaepecuária),secundário(indústria)eterciário(co-
mércioeserviços).
EXEMPLO
Quando um país é pobre, é o setor primário o mais importante, quase não existe in-
dústria, e o terciário tem pouco peso. O Brasil era assim até o século XIX. Com o de-
senvolvimento, a indústria ganha peso e, em seguida, o setor terciário. A economia,
portanto, se diversifica. Em 2013, no Brasil, a agropecuária representava apenas
5,7% da produção do país, a indústria 24,9% e o terciário 69,4% (Fonte: indicadores
do IBGE - Contas Nacionais trimestrais, outubro/dezembro 2013).
Os bens podem ser de dois tipos: bens finais ou bens intermediá-
rios.Osbensintermediáriossãomatérias-primas(insumos)queserão
transformadasemumproduto,pormeiodeumprocessoprodutivo.Por
exemplo:oferroecarvãotransformadosemaço;madeirasetornaum
móvel;couroviraumcalçado.
Osbensfinaissãoosquenãosofremtransformaçõesesãoutilizadosna
formacomoseapresentam.Porexemplo,vocêpodesairdasapatariajácom
seusapatonovonopé.Omóvel,logoquechegaràsuacasa,vocêiráutilizar.
Jáoferro,temapenasumuso,queésertransformadoemoutroproduto.
Os bens de produção ou bens de capital são aqueles utilizados na
produçãodeoutrosbens,comomáquinas,equipamentosouconstru-
ções.Máquinaspodem,commaioroumenorintervençãohumana,pro-
duzir sapatos, refrigerantes, automóveis etc. Também se incluem nos
bensdecapitaltodasasconstruçõeseinfraestruturadeumpaís,pois
contribuemparaaproduçãodebens.
Nemsempreéfácilclassificarumbemouserviçonessasdiferentes
categorias, pois isso depende do uso que se dá. Por exemplo, para a
maioriadaspessoasoautomóveléumbemdeconsumodurável.Mas
paraumtaxistaéumbemdecapital,poisproduzumserviço,otrans-
portedepassageiros.Damesmaforma,umalaranjaéumbemdecon-
sumonãodurávelquandocompradanafeiracomoobjetivodefazer
sucodelaranjaparatomarnocafédamanhã.Maséuminsumo,seé
uma empresa que compra a laranja com o objetivo produzir suco de
laranjaparaexportação.
COMENTÁRIO
Bens finais
Os bens finais podem ser de dois tipos:
bens de consumo e bens de capital. Os
bens de consumo, como o próprio nome
diz, são os utilizados no consumo das fa-
mílias. Por exemplo, o móvel e o sapato.
São subdivididos em bens duráveis, bens
não duráveis e bens semiduráveis. Su-
pondo que sejam utilizados com frequên-
cia, os bens duráveis duram muitos anos
(exemplos: geladeiras e televisores), os
semiduráveis, poucos anos (exemplos:
roupas) e os não duráveis, menos de um
ano (exemplos: alimentos e bebidas).
COMENTÁRIO
Bens de capital
Por exemplo, para produzir automóveis
não bastam máquinas, é necessário ter
uma fábrica, que é uma construção. Da
mesma forma, para produzir transporte
marítimo, não basta ter navios, é necessá-
rio ter portos e também estradas, sem as
quais a produção não chega até o porto.
22 • capítulo 1
Ossetoressãointerdependentes,poiscompramevendementresi.
PorissoémuitocomumquandoestudamosaEconomiapormeiodeca-
deiasprodutivaseseincorporamosadimensãoambiental,chegamos
aociclodevidadoproduto.
O conceito de cadeia produtiva, incorporando a preocupação am-
biental,evoluiuparaodeciclodevidadoproduto.Nessecaso,seinclui
umapenúltimaetapa,queéadodescarte(mortedoproduto),eaetapa
finaléareciclagem,quandooprodutoretornaaumaetapaanterior.
EXEMPLO
Por exemplo, sucata de automóvel pode ser utilizada na fabricação de aço. Latas
de cervejas usadas podem ser utilizadas na fabricação de novas latas de cerveja.
Outra diferença com relação ao ciclo de produto é que agora há uma preocu-
pação com a mensuração dos impactos ambientais e sociais em cada uma das
etapas. Por exemplo, um automóvel não gera poluição apenas quando é utilizado.
Gera também quando é produzido e quando é descartado de forma inadequada.
De forma indireta, é responsável pela poluição produzida na produção de aço
e ferro e no transporte entre essas etapas. No caso da extração do minério de
ferro, ainda há a questão de se estar diminuindo o estoque de um recurso natural
não renovável.
Recursos naturais
Recursosnaturaispodemserdefinidoscomooconjuntoderiquezasna-
turaisemestadobrutodeumpaís.Éportanto,tudoqueanaturezafor-
neceedádesuporteàvidahumananaterra.Inclui,portanto,recursos
taiscomoterra,água,ar,minerais,florestas,peixesedemaisrecursos
marinhos, flora, fauna e clima. Os recursos naturais são tradicional-
mentedivididosemrenováveisenãorenováveis.
COMENTÁRIO
Recursos naturais renováveis são aqueles repostos pela natureza em um curto espa-
ço de tempo, tais como ar e água. Recursos naturais não renováveis são aqueles que
não são repostos pela natureza em um curto espaço de tempo, tais como petróleo e
minério de ferro. O petróleo é produzido pela natureza, mas são necessários milhões
de anos para isso.
A partir das definições anteriores, poderíamos pensar que deverí-
amosnospreocuparapenascomosrecursosnaturaisnãorenováveis.
Ledoengano.Devemosnospreocuparcomambos.Hárecursosnaturais
COMENTÁRIO
Cadeias produtivas
Cadeia produtiva é um conjunto de eta-
pas consecutivas pelas quais passam e
vão sendo transformados e transferi-
dos os diversos insumos (PROCHNIK,
2002). Por exemplo, o minério de ferro é
extraído da natureza (primeira etapa), em
seguida se transforma em aço (segunda
etapa), o qual é utilizado na fabricação do
automóvel (terceira etapa). Nesse caso,
foram três etapas consecutivas. Entre
elas houve transporte e, em cada uma
delas, pagamento de impostos.
capítulo 1 • 23
nãorenováveisquedificilmenteirãoseesgotar,poissãopoucoutilizados,comoourânio.
Masomesmonãosepodedizerdopetróleo.
Aáguaéumrecursorenovável,mas,nahistóriarecentedoBrasil,emváriosmomentos,
oabastecimentodeáguaeofornecimentodeenergiaelétricaforammotivodesériaspre-
ocupações,devidoàfaltadechuvas.Situaçãoquetendeaseagravarcomasmudançascli-
máticas.Temosaindaoproblemadaqualidadedaágua.NoBrasil,amaiorpartedoesgoto
residencialnãoétratada,antesdeserdespejadanosrios,lagos,lagoasoumar.Porsinal,
poucossabemqueoquepagamosdecontadeáguaébasicamenteparacobriroscustos
comtransporteelimpezadaágua.Ocustodaáguaemsi,épróximoazero.
Ford versus General Motors e o início da sociedade de consumo(ou não se fazem bens de consumo duráveis como antigamente)
Muitos pesquisadores consideram a disputa entre a Ford e a General Motors (GM), nos anos 20
do século passado, como o marco inicial da chamada sociedade de consumo, por ter populariza-
do a prática de obsolescência planejada.
Até o início dos anos 1920, a Ford dominava amplamente o mercado de automóveis nos Estados
Unidos, devido ao sucesso do Ford Modelo T. Esse carro era barato e durável. A ideia da Ford era
que fosse um carro para a vida inteira. Mas tinha um inconveniente, era considerado feio pelos
consumidores, devido ao design e, principalmente, por ser preto. A GM, para concorrer, lançou
um carro que tinha muitas das características do Ford Modelo T, mas com duas importantes
diferenças: havia modelos em diferentes cores e, a cada ano, seria lançado um modelo novo — o
carro do ano —, com mudanças em relação ao modelo do ano anterior. Com essa política, no final
dos anos 1920, a GM já vendia mais carros que a Ford. Não houve jeito, a Ford teve que ceder
e passou a lançar novos modelos de carros.
Com essa prática, em apenas um ano, um carro fica velho, pois já é fabricado um modelo novo.
Isso induz o consumidor a trocar de carro todo ano e, portanto, a comprar vários carros ao longo
de sua vida, e não um só, como queria Ford. Isso impulsionou o mercado de carros usados e
gerou um enorme desperdício de recursos naturais e muito lixo, pois são produzidos muito mais
carros do que o necessário. Um produto com obsolescência planejada é elaborado para ter uma
vida curta, levando o consumidor a comprá-lo várias vezes.
Um produto pode ter uma vida curta por vários motivos: saiu um novo modelo com pequenas mudan-
ças; saiu um novo modelo com grandes mudanças, pois houve um salto tecnológico (por exemplo,
TVs com telas LED e LCD); saiu de moda; ou simplesmente não funciona direito e os consertos são
frequentes. Em outras palavras, os bens de consumo duráveis são cada vez menos duráveis.
ATENÇÃO
Algumas perguntas para reflexão. Qual a geladeira mais durável, a sua ou a da sua avó? Qual o critério
que você usa para definir que um conserto vai sair caro e é hora de comprar um produto novo? Há quanto
tempo você tem seu atual telefone celular e o que te levou a fazer a última compra?
24 • capítulo 1
Fatores de produção, agentes econômi-cos e o fluxo circular
Acontrapartidadautilizaçãodosfatoresdeproduçãonoprocessopro-
dutivo é a sua remuneração. No caso do trabalho, a contrapartida são
ossaláriose,nocasodocapital,sãooslucros(considerandoapenaso
trabalhoassalariadoeocapitalprodutivo).
REFLEXÃO
Supondo-se uma economia onde existam apenas famílias e empresas (retiramos
propositadamente o governo e relações com o exterior), os proprietários dos fatores
de produção são as famílias, que emprestam esses fatores produtivos às empresas,
para que essas viabilizem a produção de bens. Os agentes econômicos são, portanto,
as famílias e as empresas, que são as entidades que viabilizam o processo produtivo.
Asfamíliaseempresasinteragememdoismercados,odefatorese
odeprodutos.Nomercadodefatores,asfamíliasemprestamcapitale
trabalhoparaasempresasutilizaremaproduçãoemtrocadeumare-
muneração,nocaso,salárioselucros/dividendos.
Ovalordaremuneraçãoénegociadoentreaspartes.Atenção!Trata-
seapenasdeempréstimo,comregrasdefinidas,dosfatoresprodutivos,
enãovendadessesfatores.Sefossevenda,nocasodotrabalho,estaría-
mosnoregimedeescravidãoenãodetrabalhoassalariado.Otrabalha-
dorpodepedirdemissãonahoraquequiser,eoacionistapodevender
suasaçõesquandodesejar.
Nomercadodeprodutos,asempresasvendemseusprodutosàsfamí-
liasque,paracomprá-los,utilizamarendaobtidanomercadodefatores.
Portanto,osdoismercadosestãointerligados,emumfluxocircular.
Essavinculaçãodosmercadosmostraquepagarbaixossalários,se
porumladodiminuiocustodeproduçãodasempresas,poroutrolado
diminui seu mercado consumidor, pois as famílias ficam com menos
dinheiroparagastar.Essasrelaçõesestãosintetizadasnofluxocircular,
quemostracomo,paracadafluxoreal,háumacontrapartidamonetá-
ria.Afinal,aEconomiatratadeacompanhartransaçõesqueocorremem
valores,emmoeda.
COMENTÁRIO
Lucros/dividendos
Quando se compram ações de uma em-
presa que está na Bolsa de Valores (em-
presa de capital aberto), se tem direito a
receber dividendos caso essa empresa
tenha lucro. Dividendos é parcela do lu-
cro que é distribuída aos acionistas.
capítulo 1 • 25
Fluxo circular
Empresas
Mercado deprodutos
Mercado de fatores de produção
Famílias
Renda
FLUXO MONETÁRIO
(DINHEIRO)
FLUXO REAL
(BENS, SERVIÇOS E FATORES)
Gastos
Salários e lucros
Empréstimo de capital e trabalho
Receitas
Capital e trabalho
Bens e serviços comprados Bens e serviços vendidos
Ford e o salário de 5 dólaresNo início de 1914, a Ford, empresa produtora de automóveis, estava enfrentando um sério pro-
blema. Tinha acabado de introduzir uma técnica produtiva revolucionária, a linha de montagem,
mas a produção não crescia como o desejado. O ritmo mais acelerado do processo produtivo
tinha aumentado a insatisfação entre os trabalhadores. Com isso, a dedicação ao trabalho e a
produtividade eram baixas e, portanto, frequentes as demissões e contratações de substitutos
com consequentes gastos em seleção e treinamento.
Para enfrentar esse problema, a empresa tomou uma decisão inteiramente inusitada para a épo-
ca. Resolveu dobrar o salário dos operários para US$5 ao dia e diminuir a jornada de trabalho
para 8 horas por dia, cinco dias por semana. Parecia uma decisão suicida de um empresário ex-
cessivamente paternalista, e foi um choque na opinião pública e no meio empresarial. Mas fazia
todo sentido, do ponto de vista econômico.
Pagando salários acima da média do mercado, a Ford podia cobrar dedicação dos operários, e
conseguiu isso. Todos queriam trabalhar na Ford e quem estava dentro não queria sair. A rotati-
vidade diminuiu drasticamente. Com maior dedicação, aumentou a produtividade (produção por
operário). Com a jornada de 8 horas, a fábrica podia trabalhar 24 horas com três turnos de 8
horas e sempre com operários descansados. Se fossem dois turnos de 12 horas, isso não seria
possível. A produção por fábrica aumentou. Gastou mais com os operários, mas em compen-
sação, o rendimento por operário e por fábrica aumentou muito e mais do que compensou. Em
outras palavras, o custo por operário aumentou, mas o custo de produção caiu, com isso pode-se
reduzir o preço dos carros e vender mais.
Havia também outro motivo para o aumento dos salários. Ford queria que os operários ganhas-
sem o suficiente para comprar seus automóveis, e conseguiu isso. Ford não via os salários só
como custo de produção, via também como demanda para seus produtos. Portanto, percebia que
o mercado de fatores e o de produtos estavam interligados.
26 • capítulo 1
Economia, sociedade e meio ambiente
Comovimos,aEconomiaéumaciênciasocial,portanto,umpré-requisitoparasuaexis-
tência é uma sociedade minimamente organizada, ou pelos menos com algumas regras
sociaisestabelecidas.Talvezarelaçãoeconômicamaisantigasejaatroca,eelapressupõe
queosdoisladosconfiemnaqualidadedoproduto.Mesmonosprimórdiosdaraçahuma-
na,quandosepraticavaoescambo,valiaoprincípiodatrocadeprodutosdefeituosos,ou
seja,seacarnequerecebiestiverestragada,tenhodireitodereceberaminhalançadevolta.
ATENÇÃO
Os economistas não podem fazer o que querem — embora esse seja o desejo de muitos —, pois tem que
se submeter à sociedade. A economia é limitada pela sociedade, pois está contida nela. Não existiria socie-
dade se não existisse vida na terra, e, para isso, certas condições ambientais foram necessárias. Também
não se pode produzir sem recursos naturais. A sociedade é limitada pelo meio ambiente, do qual faz parte.
Comovimosanteriormente,ofluxocirculardeveserentendidocomoumarepresenta-
çãosimplificadaelimitadadaeconomia,masnãodarealidade.Afiguraaseguirétambém
utilizadapararepresentarodesenvolvimentosustentáveleaeconomiaecológica.
A relação entre economia, sociedade e meio ambiente
ECONOMIA
SOCIEDADE
MEIO AMBIENTE
Próximos capítulos
EstelivroestáestruturadoparacobrirosprincipaisconceitosintrodutóriosdaEconomia.
Nestecapítulo,abordamosoobjetodeestudodaEconomiaeasnoçõesbásicasdecustode
oportunidadeefluxocircular.Ospróximoscapítulostratarão,emlargamedida,deapro-
fundaressasnoções.
Ocapítulo2édedicadoaosprincipaisteóricosemEconomia,ouseja,procurou-sesitu-
araquelescujascontribuiçõespermitirammudançasqualitativasimportantesnamaneira
capítulo 1 • 27
comoaanáliseeconômicapassouaserrealizada.Nessesentido,áreasdeconhecimento
dentrodaEconomia,comoaMicroeconomiaeaMacroeconomia,guardamrelaçãocoma
evoluçãodopensamentoeconômico.Nocapítulo2tambémtratamosdeapresentarbreve-
menteosprincípiosdeorganizaçãodedoissistemaseconômicos—aEconomiadeMerca-
doeaEconomiaPlanificada.
Ocapítulo3introduzosconceitosdeanáliseemMicroeconomia,cujoobjetivoémos-
trar,atravésdoequilíbrioparcialdosmercados,atendênciadaEconomiadeatingiroes-
tadodebem-estar.Nessecapítuloéfeitaumaintroduçãosobreométododeanáliseem
Economiaquesupõeagentesracionaismaximizadores(famíliasefirmas)desuasfunções
eobjetivo.Apartirdacaracterizaçãodosagenteseconômicossãoapresentadasasanálises
sobreoequilíbrionosdiferentestiposdemercado.Noçõesdeorganizaçãoindustrialsão
apresentadasaofinaldocapítulo.
Ocapítulo4apresentaoutraperspectivadeanáliseemEconomia,queéamacroeconô-
mica.Inicia-seocapítulocomadescriçãodasmedidasutilizadasemanálisesagregadas
—osagregadosmacroeconômicos—para,emseguida,mostrarcomoaanálisedocom-
portamentodestesagregadosajudaaexplicarodesenvolvimentodaEconomiaemcurto
prazo.Temascomodesempregoeinflaçãoconcluemocapítulo.
Ocapítulo5apresentaosinstrumentosdepolíticaeconômicaàdisposiçãodosgover-
nosparaintervirnaEconomia.Comoeconomiasdemercadosãopropensasaflutuações,
osgovernosdispõemdemecanismosdeintervençãoparacontrabalançarosmovimentos
desubidasedescidasdoproduto,doempregoedospreços,quesãopercebidosreduzindo
oníveldebem-estarsocial.
Ocapítulo6édedicadoàanálisedelongoprazo,contrapondoasnoçãodedesenvol-
vimentoeconômicoedecrescimentoeconômico.Políticaspúblicasparaapromoçãodo
desenvolvimento econômico são apresentadas, bem como medidas de desenvolvimento
social.Umtópicosobreglobalizaçãoconcluiocapítulo.
Porfim,olivroapresentaumapêndicesobrecomoelaborargráficosetabelaseconômi-
cas.Entende-sequeousodegráficosetabelasérecursobastantedifundido,sendoútilo
treinamentodoalunonaleituradestasferramentasestatísticas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRESSER-PEREIRA, L. Os dois métodos e o núcleo duro da teoria econômica. Revista de Economia Política, 2009,
vol. 29, nº 2 (114). Disponível em: <http://www.bresserpereira.org.br/papers/2008/08.06.DoisMetodos-REP.pdf>.
Acesso em: 5 abr. 2014.
CANO, W. Introdução à Economia — uma abordagem crítica. 2. ed. São Paulo: UNESP, 2007.
PROCHNIK. V. Cadeias produtivas e Complexos Industriais - seção do capítulo Firma, Indústria e Mercados, In:
Hasenclever, L. e Kupfer, D. Organização Industrial, São Paulo: Campus, 2002. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/
cadeiasprodutivas/pdfs/cadeias_produtivas_e_complexos_industriais.pdf>. Acesso em: 1 mar. 2014.
Leituras Sugeridas:
MAY, PETER (Org.) Economia do Meio Ambiente – Teoria e Prática. São Paulo: Campus, 2010.
30 • capítulo 2
Uma introdução à História do Pensamen-to Econômico
AEconomia,comotodaciência,temumahistóriaeescolasdepensamen-
to.Destacaremosaquiapenasosprincipaiseconomistaseescolas,com
ênfasenoqueémaispertinenteparaoentendimentododebateatual.
Os Economistas Clássicos
AEconomiacomoumaciênciaespecíficanascecomoseconomistasde-
nominadosclássicos.Oprimeiroeomaisimportantedoseconomistas
clássicos,eporissoconsideradoopaidaEconomia,foiAdamSmith.
Smitheraadeptodopensamentoiluminista,quesetornariaabase
intelectualdaRevoluçãoFrancesa(1789).Portanto,acreditavaquepara
oconhecimentodarealidadeetransformaçãodasociedade,erafunda-
mentalousodarazão,enãodatradiçãooudareligião.Duasideiasde
RiquezadasNaçõesestãopresentesatéhojenodebateeconômico,asa-
ber:amãoinvisíveledivisãodetrabalho.
Mão invisível
SegundoSmith,somostodosegoístaseprocuramos,nomundoeconô-
mico,sempreoqueémelhorparanós.Masfazendoisso,mesmoquede
formaintencional,comoqueguiadosporuma“mãoinvisível”,estamos
realizandooqueéomelhorparaasociedade.
EXEMPLO
Se o padeiro procura produzir o melhor pão pelo melhor preço, o açougueiro, a me-
lhor carne pelo melhor preço, e assim por diante, a sociedade ganha, pois o que
todos nós queremos são produtos bons e baratos. O padeiro e o açougueiro agem
dessa forma devido à pressão da concorrência e porque querem ser bem sucedidos
ter lucro. Esses agentes econômicos estão se relacionando e cooperando entre si
no mercado de produtos e fatores, sem nenhum plano prévio ou orientação externa.
OquevimosnoexemploéoqueSmithchamou,metaforicamente,
demãoinvisível.Portanto,cadaumprocurandoomelhorparasi,chega-
AUTOR
Adam Smith
Adam Smith (Escócia, 1723-1790) é
considerado o fundador da Ciência Eco-
nômica, pois, até então, a Economia era
parte da Filosofia ou da Política, e não
uma disciplina autônoma. Começou sua
carreira acadêmica como filósofo moral
e seu primeiro livro, de 1759, se intitula-
va Teoria dos sentimentos morais. Seu
segundo livro é o clássico Riqueza das
Nações, de 1776.
2 Contextualização da Ciência Econômica
capítulo 2 • 31
seaumasituaçãoqueéamelhorparaasociedade.SegundoSmith,se
todosagissempormotivosaltruístas,visandoobemcomum,oresulta-
doseriamuitopior.Issosóépossível,segundoSmith,quandohálivre
concorrência,seminterferênciadogoverno.
COMENTÁRIO
Interferência do governo
Ainda hoje, todos os economistas que defendem pouca intervenção do governo na
Economia usam como justificativa a mão invisível de Smith. Costumam dizer: deixe
o mercado em paz, não intervenha governo, pois a mão invisível vai solucionar os
problemas econômicos.
Smith,noentanto,nãoeraafavordequeaatuaçãodogovernona
Economiafosseamenorpossível.Ogovernotinhaumpapelimportan-
te,porexemplo,nasáreasdeinfraestruturaeeducação.Portanto,impli-
citamente,aceitavaqueamãoinvisívelnãosolucionavatodososproble-
masdasociedadee,paraobemcomum,eranecessáriaaintervençãodo
Estadoemalgumasáreas.
Divisão do trabalho
A segunda ideia é a divisão do trabalho, tanto dentro da sociedade —
hojechamadadedivisãosocialdotrabalho—,comodentrodafábrica
—quehojeseriaadivisãotécnicadotrabalho.Adivisãodotrabalhotraz
aespecialização,comelamaiorprodutividade(maiorproduçãoportra-
balhador) e, portanto, barateamento do produto, pois se produz mais
comomesmonúmerodetrabalhadores.Ocrescimentodomercadoéo
queimpulsionaaespecialização.
Outro economista clássico evocado aqui é David Ricardo. A maior
contribuiçãodeRicardoàTeoriaEconômicafoi,provavelmente,ateoria
das vantagens comparativas, apresentada no livro Princípios de Econo-
mia Política e Tributação,que,atéhoje,estánaordemdodia.
Noqueserefereaocomérciointernacional,opõe-seàteoriadevan-
tagens absolutas, de Adam Smith. Segundo essa última teoria, o im-
portante no comércio internacional é ter menores custos e, portanto,
vendermaisbarato.Ouseja,paísescomcustoselevadosoumuitoinefi-
cientesestãofadadosaofracassonastrocasinternacionais.
Para Ricardo, isso não seria verdade, pois no comércio internacio-
naloimportantesãoasvantagenscomparativas,enãoasabsolutas.Um
paístemvantagemcomparativaemumproduto,quandoooutro,com
quem compete, tem alto custo de oportunidade ao fabricar produto,
mesmosendomaiseficientenaprodução.Opaísdeveriaseespecializar
noprodutoquetemmaioresvantagenscomparativas.
COMENTÁRIO
Produtividade
Como vimos no capítulo anterior, Ford
sabia disso, pois para poder aumentar
sua produção, deu um aumento de salá-
rio aos trabalhadores. O objetivo, que foi
plenamente conseguido, era aumentar a
dedicação dos trabalhadores e, conse-
quentemente, sua produtividade.
AUTOR
David Ricardo
David Ricardo (Londres, 1772-1823),
juntamente com Adam Smith e Thomas
Malthus, é considerado um dos funda-
dores da escola clássica inglesa de Eco-
nomia Política. Sua obra mais consagra-
da é Princípios da economia política e
tributação (1817).
32 • capítulo 2
EXEMPLO
Com um exemplo fica mais fácil de entender a ideia de Ricardo. Vamos supor que em
uma cidade do interior de Minas Gerais existam apenas duas confeiteiras, a Eloisa e a
Mariana, que fazem apenas dois bolos, de laranja e de chocolate. Eloisa faz os dois bolos
mais baratos, pois seu pai tem uma fazenda de onde vêm a laranja, os ovos e o leite. Além
disso, foi muito bem treinada no ofício por Ethel, sua mãe. Mariana deve então desistir e
mudar de ramo? Claro que não, pois a diferença de preços é grande no bolo de laranja,
mas pequena no bolo de chocolate. O motivo é que o chocolate não é produzido em
fazenda, mas importado do Rio de Janeiro. Eloy, o pai de Eloisa, experiente empresário,
percebeu isso. Ele orientou a filha a deixar de lado o bolo de chocolate e ficar só com o
de laranja. Pois como esse bolo era bom e barato, podia atender à demanda da cidade e
também das localidades próximas. Não valia a pena perder tempo produzindo o bolo de
chocolate, que não era tão barato e, portanto, não conseguiria vender muito.
REFLEXÃO
Ou seja, o custo de oportunidade para se produzir o bolo de chocolate era grande,
pois quanto mais bolo de chocolate Eloisa fazia, menos tempo e matérias-primas
tinha disponível para produzir o de laranja. Mariana, portanto, pode continuar a pro-
duzir seus bolos de chocolate, que eram comprados inclusive por Eloisa. Segundo
a teoria de Ricardo, Eloisa tinha vantagens comparativas na produção do bolo de
laranja e, portanto, Mariana no bolo de chocolate.
Adiscussãosobrevantagenscomparativasestánaordemdodiano
Brasildesdeopós-guerra,quandoa industrializaçãodopaíspassoua
serumprojetodeváriosgovernos,comodeGetúlioVargaseJuscelino
Kubitschek.Muitosquestionaram(eaindaquestionam)aopçãodoBra-
sil.OseconomistasliberaisàépocadeVargas,DutraeJuscelinodiziam
maisoumenososeguinte:paraqueoBrasildeveperdertempoprodu-
zindoautomóveis,senuncavamosconseguircompetircomosEUAnes-
saárea?Émelhornosconcentrarmosnaproduçãodecafé,ondesomos
muitomelhoresqueosamericanos.
Nessedebate,deumladoficaramoseconomistasliberaisedeoutro
osdesenvolvimentistas,ligadosaopensamentodaComissãoEconômi-
ca para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas — Cepal, que
defendiamaindustrialização.
ATENÇÃO
Se dependesse da teoria de Ricardo, o Brasil nunca iria se industrializar. Hoje não ven-
demos carros para os EUA, mas vendemos para a Argentina. Para os EUA, vendemos
aviões da Embraer — inclusive para as Forças Armadas —, dentre outros produtos.
COMENTÁRIO
Economistas liberais à época
Para eles, o Brasil tinha uma vocação
agrícola, e, portanto, vantagens compa-
rativas nessa área, e não na indústria.
Mesmo porque a agricultura precisa de
terra e mão-de-obra não qualificada, e
tínhamos ambas em abundância, e a in-
dústria precisa de capital e mão-de-obra
qualificada, que tínhamos pouco (lembre-
se, falamos da realidade daquela época).
capítulo 2 • 33
OproblemaéqueateoriadeRicardoéestática,éumafotografiadeum
determinadomomento.Masarealidadeédinâmica,podemudar.Pen-
sando-searealidadedoBrasildosanosde1940comoalgoimutável,não
fariasentidoumaindustrialização.Masconsiderandoaindústriacomoo
motordeumprocessodedesenvolvimento,eque,porcontadisso,oBra-
silseriadiferente,décadasàfrente,faziasentidoaindustrialização.Ou
seja,opensamentotemdesedescolarnopresenteeselançarnofuturo.
O custo Brasil
O custo Brasil é uma expressão muito utilizada nas discussões econô-
micas do Brasil e que tem como base a teoria das vantagens absolutas.
Segundo essa tese, nosso país seria pouco competitivo no comércio in-
ternacional porque teríamos um custo de produção elevado. O custo de
produção é entendido aqui no sentido amplo, abarcando, além do custo do
salário, matérias-primas e juros, também custos legais (exemplo: encargos
trabalhistas), institucionais (exemplos: burocracia em excesso, deficiências
na educação), tributários (impostos elevados), de infraestrutura (estradas
precárias) e corporativos —sindicatos de trabalhadores resistindo à mo-
dernização (SANDRONI, 2005).
Um exemplo do custo Brasil foi um estudo feito pelo Banco Mundial. Essa
pesquisa ordenou os países segundo a facilidade de se fazer negócios.
Nesse ranking o Brasil ficou na posição 116ª, bem abaixo do Chile (34ª),
o melhor da América Latina nesse quesito.
Para os defensores dessa tese no Brasil, como a Confederação Nacional
da Indústria (CNI), o país para se tornar competitivo e entrar numa trajetó-
ria sustentável de crescimento, deveria promover profundas reformas nas
áreas que afetam o custo Brasil.
Continuando nosso passeio histórico, evocamos Thomas Robert
Malthus. A tese que ele apresentou, no Ensaio sobre o Princípio da
População, é que a produção de alimentos cresceria em progressão
aritmética (PA), e a população, em progressão geométrica (PG). Em
decorrênciadisso,senãofossemtomadasmedidascabíveis,afome
e,nolimite,ocolapsodasociedadeseriaminevitáveis.Malthuserao
quehojesechamadecatastrofista.
Acatástrofenãoaconteceu,poistantoaproduçãoagrícolaaumen-
tou—devidoà incorporaçãodemaisterrasedenovastecnologias—
comoapopulaçãopassouacrescermenos,emrazãodemaiseducação,
urbanizaçãoenovosmétodoscontraceptivos.
A preocupação de Malthus então não faz mais sentido no mundo de
hoje?FazmuitosentidoparaaChina,opaísmaispopulosodoplaneta,e
AUTOR
Thomas Robert Malthus
Malthus (1766-1834), um pastor pro-
testante, foi o primeiro economista a dar
destaque ao tema crescimento popula-
cional. Sua fama vem até os dias de hoje,
onde vez por outra, no debate econômico,
é usada a expressão ideias malthusianas.
É considerado o pai da demografia.
34 • capítulo 2
tambémasegundamaioreconomiadomundo,queadotapolíticas(agora
umpoucomenosrígidas)decontrolepopulacional.Fazsentidoparavários
paísesafricanos—exatamenteosmaispobres—ondeapopulaçãocresce
exponencialmente.Talvezfaçasentidoparaorestantedomundotambém.
REFLEXÃO
A população do planeta está crescendo menos, mas, segundo alguns analistas, a produ-
ção de alimentos não está aumentando no ritmo desejado (as mudanças climáticas con-
tribuem para isso), e há o risco de termos um descompasso no futuro. A FAO, por exem-
plo, tem essa preocupação (agência das Nações Unidas para alimentação e agricultura).
FalaremosagorasobreKarlMarx.OnomedeMarxésemprelembra-
doquandoascoisasvãomal,oumelhor,quandovãomuitomal,comofoi
ocasodacrisede1929e,emmenormedida,dacrisefinanceirade2008.
Marx,detodososeconomistasclássicos,foiquemestudoucommaispro-
fundidade o funcionamento de uma economia capitalista, como atesta
suaprincipalobra,OCapital.Issosedeve,sobretudo,adoismotivos.
Primeiramente,MarxescreveunoséculoXIX,quandoocapitalismo
industrial, jáconsolidado,caminhavaparaumanovafase,commaior
concentraçãodocapitalemaior interligaçãoentrecapitalprodutivoe
financeiro.Smith,queviveuumséculoantes,aindanoiníciodarevolu-
çãoindustrial,nãotinhacomoanalisaressecapitalismo—queémais
próximodanossarealidadeatual.Marxpôdesebeneficiardomuitoque
foiescritosobreofuncionamentodocapitalismo,inclusiveoqueosde-
maiseconomistasclássicosescreveram.
O segundo motivo é a necessidade de se conhecer o adversário se
vocêquervencê-lo,eesseeraoobjetivodeMarx.Comrelaçãoaocapita-
lismo,Marxtinha,aomesmotempo,admiraçãoeódio.
ParaMarx,aburguesia—e,portanto,ocapitalismo—eraprofunda-
menteinjusta,poisexploravaapopulação,emespecialosoperários,e
porissodeveriaserderrubada.Nessesistemaosricosficariamcadavez
maisricoseospobrescadavezmaispobres.
Derrotado o capitalismo, seria implantada uma economia cujos
meiosdeproduçãoseriampropriedadedogoverno(socialismo).Sendo
bemsucedidaaimplantaçãodosocialismo,sealcançariaocomunismo,
queseriaumasociedadeigualitária,semclassesesemgoverno.
ParaMarx,ocolapsodocapitalismoerainevitávelpordoismotivos:
pressãodosoperáriosexplorados(lutadeclasses)eascontradiçõesin-
ternas do funcionamento próprio do capitalismo. Essa é a razão pela
qualMarxésemprelembradoemépocasdegrandescrisesdocapitalis-
mo,comoem1929e2008.
AUTOR
Karl Marx
Karl Heinrich
Marx (1818 -
1883) foi fun-
dador da doutri-
na comunista
moderna, e de-
nomina-se mar-
xismo o conjun-
to de ideias e teorias dele, as quais você
verá de forma mais extensa durante
este capítulo.
COMENTÁRIO
Admiração
No Manifesto do Partido Comunista, che-
ga a afirmar que a burguesia, durante seu
domínio de classe, apenas secular, criou
forças produtivas mais numerosas e mais
colossais que todas as gerações passa-
das em conjunto (Marx e Engels, 1848).
COMENTÁRIO
Socialismo
Na época de Marx, o socialismo era ne-
cessariamente revolucionário e incom-
patível com o capitalismo. Posterior-
mente o movimento socialista se dividiu
entre socialistas revolucionários e não
revolucionários (reformistas), que luta-
vam por um regime capitalista com mais
justiça social, incorporando algumas
ideias socialistas. Essa última corrente,
também chamada de Social Democrata,
acabou predominando na Europa.
capítulo 2 • 35
REFLEXÃO
Esses eventos de crise sempre nos recordam de que as economias de mercado (ca-
pitalismo) não funcionam bem e isso pode acarretar consequências sociais sérias, tal
como índices elevados de desemprego.
Se as economias de mercado não funcionam adequadamente, os
marxistasdiriam:nãoseriaocasodemudardesistemaeimplantaroso-
cialismo?Aseconomiasdemercadotêmsobrevividoàssuascrisescom
baseemreformaseintervençãodogoverno.Poroutrolado,asecono-
miasditascomunistaseseguidorasdasideiasdeMarx,fracassaramem
maioroumenorgrau.AChinaéumsucessoeconômico,maspode-sedi-
zerqueaChinaéumpaíscomunista?Comcertezanão.Apesardevários
paísesteremseintituladocomunistas—comoaantigaUniãoSoviética
—,nuncasealcançouocomunismoconformeconcebidoporMarx.
OmaiorlegadodeMarxépoucoassociadoaoseunome.Suaspre-
visõesfracassaram,masseusideaiscontribuíramparamudarocapita-
lismoaofortalecerossindicatoseaolevaràcriaçãodepartidosdees-
querda.Comoconsequência,estasinstituiçõeslevaramosgovernosde
diferentesmatizespolíticasaadotarempolíticassociais.
OchamadoEstadodeBem-Estar,noqualaspolíticassociais tor-
nam-semaisabrangentesearticuladas,surgenaInglaterradepoisda
Segunda Guerra Mundial, por iniciativa do Partido Trabalhista, um
partido de esquerda moderado. Esse modelo é atualmente adotado,
emmaioroumenorgrau,pormuitaseconomias,noBrasilinclusive.
Umaprovadequeocapitalismomudouéoapoioàexistênciadepo-
líticassociais,queéhojeumconsensonoespectropolítico.Pode-sedis-
cutirquetipodepolíticaequalsuaextensão,masnãosuanecessidadee
importânciaemdistintasáreas.
REFLEXÃO
Por exemplo, hoje é consenso que a Educação Básica deve ser gratuita, e que o
trabalho de crianças em fábricas deve ser proibido. Essas são duas das propostas de
Marx e Engels no Manifesto Comunista. O tempo mostrou que políticas educacionais
e de proteção às crianças eram necessárias, e que não é preciso um governo revolu-
cionário que queira implantar o comunismo para colocá-las em prática.
A reação alemã
Friedrich List, jornalista e político, foi um dos críticos das ideias de
Adam Smith na Alemanha. Muitas vezes quando se aborda a história
dopensamentoeconômico,seunomenãoélembrado.Noentanto,List
COMENTÁRIO
Políticas sociais
As políticas sociais são as voltadas
para a melhoria das condições de vida
da população. Otto Bismarck, primeiro-
ministro do império alemão no final do
século XIX, um político conservador e
visionário, adotou uma gama de pro-
gramas sociais — pensões, aposenta-
dorias, auxílio-desemprego, seguro de
acidentes de trabalho, dentre outros
— por conta do crescimento dos parti-
dos de esquerda, notadamente o Social
Democrata.
COMENTÁRIO
Friedrich List
Friedrich List (1789-1846) defendia a
tese de que as empresas nacionais não
conseguiriam se desenvolver se o mer-
cado já estivesse ocupado por empresas
de países estrangeiros economicamente
mais avançados. Nessas circunstâncias,
para ele, justificava-se um protecionismo
educador, com a finalidade de proteger,
por um período de tempo, o mercado
nacional para assegurar a consolida-
ção das indústrias nacionais, ou seja,
para que tivessem condições análogas
para disputar mercados num ambiente
de livre concorrência. List morou mui-
to tempo nos EUA, e até se naturalizou
americano, onde políticas protecionistas
eram defendidas desde o século XVII por
Alexander Hamilton (Secretário do Te-
souro de George Washington, o primeiro
presidente dos EUA), e começaram a ser
adotadas em 1789.
36 • capítulo 2
temespecialimportânciaparanós,quevivemosnaAméricaLatina,pois
suaprincipalobra—OSistema Nacional de Economia Política,de1841
—tevegrandeinfluêncianopensamentodaCepal—ComissãoEconô-
micaparaaAméricaLatinaeoCaribe.AsideiasdeListserviramdebase
paraconcepçãodasZollvereins—uniõesaduaneirasquecriaramzonas
delivrecomércioentreosváriosreinosindependentesdaAlemanha.
ATENÇÃO
Adam Smith seria inteiramente contra medidas protecionistas, pois representavam
uma intervenção indevida do governo no livre mercado, onde não devia haver favo-
recimento. Que na disputa entre empresas, valha a livre concorrência, e que vença
o melhor, sem privilégios para ninguém, diria Smith (e muitos pensam assim hoje).
Aquestãoéquesenãohouveralgumtipodeproteção,adisputaserá
sempreDavideGolias,ouseja,muitodesequilibrada.Issosignificaque
aInglaterra,quefoioprimeiropaísapassarporumarevoluçãoindus-
trial, tinhaumaenormevantagemsobreseusconcorrentes.Ospaíses
deveriamabrirmãodeseindustrializareaceitarqueprodutosmanufa-
turadosdeveriamsercompradosdaInglaterra?
OsEUAresponderamnegativamenteaessaperguntaeadotarampo-
líticasprotecionistas,sendoesseumdosmotivospelosquaisessepaís
setornouumagrandepotência.Porsinal,seDavidRicardofosseanali-
saraeconomiadosEUAnoiníciodoséculoXIX,diriaqueopaísdeveria
se especializar na produção de algodão e outros produtos agrícolas, e
importarmanufaturadosdaInglaterra.
RESUMO
Políticas protecionistas visam proteger um setor econômico, normalmente a indús-
tria, no caso da América Latina, e, para esse fim, fazem uso de medidas que deses-
timulam ou impedem a importação de produtos concorrentes. Isso pode ser feito,
por exemplo, por meio da criação de cotas de importação, impostos elevados sobre
importados, câmbio desfavorável para a importação.
Casoapolíticadogovernovisenãosóproteger,mastambémdesen-
volver um setor, serão adotadas medidas de política industrial. Essas
medidasobjetivamestimularaproduçãolocal,pormeio,porexemplo,
de:créditoemcondiçõesfavoráveis;isençãodeimpostos;câmbiofavo-
rável paraimportaçãodeinsumosemáquinasnecessáriasparaode-
senvolvimentodosetor.
No início do século XIX, o que hoje chamamos de Alemanha não
existiae,emseulugar,haviaumconjuntodepequenospaíses(reinos).
Foicriada,em1833,umauniãoaduaneira(Zollverein)entreessespaí-
ses,queconsistianaaboliçãodastarifasaduaneirasnocomércioentre
COMENTÁRIO
Grande potência
Segundo Ha-Joon Chang (2013), a
grande maioria dos países hoje desen-
volvidos adotaram políticas protecionis-
tas; e políticas de livre mercado raramen-
te fazem os países pobres ficarem ricos.
COMENTÁRIO
Câmbio favorável
A política cambial, que trata do valor
das moedas estrangeiras, será tratada
mais adiante neste livro. Neste momen-
to basta o entendimento de que câmbio
— no nosso caso, dólar — desfavorável
à importação significa dólar caro. Inver-
samente, o dólar caro é favorável para
quem exporta, pois a receita do exporta-
dor é em dólar.
COMENTÁRIO
Zollverein
O Zollverein era claramente protecio-
nista e inspirado nas ideias de List, e
seu sucesso levou à criação de outras
uniões aduaneiras. O Mercado Comum
Europeu, que depois se transformou em
União Europeia, teve como ponto de
partida a união aduaneira. O Mercosul
tem o objetivo de se tornar uma união
aduaneira entre seus países membros.
capítulo 2 • 37
elesecriaçãodetarifasúnicasparaocomérciocomosdemaispaíses.
Osucessodessamedidacontribuiudeformadecisivaparaaunificação
políticadaAlemanhaem1871.
A Economia Neoclássica
Comooobjetivodestecapítuloéapresentarapenasosprincipaiseco-
nomistas, optamos por nos restringir a um economista da corrente
neoclássica,tambémchamadademarginalista—queabarca,agros-
somodo,operíodo1870-1910—,eescolhemosAlfredMarshall,um
professordeCambridge(Inglaterra),quecostumaserchamadoopai
daMicroeconomia.
ATENÇÃO
A Microeconomia é o ramo da Economia que estuda a interação, no mercado, entre
empresas e consumidores. Vários economistas pesquisaram nessa área (como Je-
vons, Menger, Walras), mas Marshall não só incorporou muito do que seus anteces-
sores e contemporâneos escreveram, como deu importantes contribuições próprias.
No século XX o âmbito da Microeconomia se expandiu passando a abarcar também,
por exemplo, a relação entre empresas que concorrem em um mesmo mercado e do
governo com empresas e consumidores. Para maiores informações, veja o capítulo
3, que tratará da Microeconomia.
A partir de Marshall, a ciência econômica, até então conhecida
comoEconomiaPolítica,se tornouEconomia,queéadenominação
usada até hoje. Seu livro — Princípios de Economia — teve (e ainda
tem,masdeformaindireta)enormeinfluênciaeéconsideradoopri-
meirolivro-textodeEconomia.
RESUMO
A principal diferença entre os economistas clássicos e os neoclássicos é que os
primeiros utilizavam a teoria do valor trabalho e, os segundos, a do valor utilidade.
Para os clássicos, o preço de um produto tinha como base a quantidade de horas
de trabalho necessária para sua fabricação, e para os neoclássicos, a base do preço
é a sua utilidade. Para os neoclássicos não importa quanto trabalho se despendeu
para a fabricação de um produto, se não conseguir vendê-lo — portanto não sendo
útil para ninguém — seu preço é zero. O preço da mercadoria, portanto, não é deter-
minado quando a mesma é produzida (valor trabalho), e sim no mercado, quando é
vendida/consumida (valor utilidade).
AUTOR
Alfred Marshall
Alfred Marshall (Londres, 1842-1924)
exerceu forte influência na Economia,
em especial pelo livro Princípios de Eco-
nomia (1890), uma compilação em dois
volumes de todo o pensamento econô-
mico à época.
COMENTÁRIO
Princípios de Economia
Vários conceitos que são fundamen-
tais na Microeconomia têm como refe-
rência o livro Princípios de Economia,
bem como sua formulação matemática
e apresentação gráfica — por exemplo,
utilidade marginal (originalmente for-
mulado por Jevons), oferta, demanda,
elasticidade, custos fixos e variáveis. As
duas curvas mais conhecidas da ciência
econômica — as de oferta e demanda
— foram formuladas por Marshall. Não
vamos aqui nos deter em explicar esses
conceitos, pois os mesmos serão abor-
dados no capítulo seguinte deste livro.
38 • capítulo 2
A Escola Austríaca
AmaioriadoseconomistasdachamadaEscolaAustríaca,comoMenger
e Böhm-Bawerk, poderia ser classificado como neoclássicos, mas um
delesfugiuàregrae,paramuitos,éumestudiosodedifícilenquadra-
mentoemqualquercategoria,chegouatéadarorigemaumaescolade
pensamento. Esse economista foi Joseph Schumpeter. Seus principais
livrosforamA Teoria do Desenvolvimento EconômicoeCiclos Econômicos.
Schumpeter criou uma expressão muito presente nas discussões
econômicasdessaárea,queéadestruiçãocriativa,tendocomoponto
departidaosestudosdeMarx.ParaSchumpeter(eparaMarx),ocapi-
talismo é extremamente dinâmico e, para abrir espaço para o novo, é
necessáriodestruirovelho.Aoselançarumnovoproduto(oumeiode
produção,detransporteetc.)estásesubstituindo(destruindo)produtos
antigos.ParaSchumpeter,oscicloseconômicossãoinerentesaofuncio-
namentodeumaeconomiacapitalista.
Osciclosdelongaduração,chamadosciclosKondratieff(emhome-
nagem ao economista russo Nikolai Kondratieff, que foi o primeiro a
estudar o tema dos ciclos longos), estariam sempre associados a uma
ondadeprogressotécnico.Segundooseconomistasneo-schumpeteria-
nos,FreemaneSoete(1997),teriamocorridocincociclosdeKondratie-
ff.Estamosatualmentenociclodamicroeletrônica.
Ondas sucessivas de progresso técnico Adaptado de Freeman e Soete (1997) p.19
Período Ondas de Krondratieff
1780-1840 Revolução industrial
1840-1890 Era da máquina a vapor e das ferrovias
1890-1940 Era da eletricidade e do aço
1940-1990 Era da produção em massa
1990 - ? Era da microeletrônica
Schumpeterdámuitodestaqueaopapeldosempresáriosnoproces-
sodeinovaçãotecnológica.Porcontadisso,crioumaistardeaexpressão
“empresárioschumpeteriano”,paradesignarosquesãoespecialmente
inovadores.Hojeéconsensoentreoseconomistasqueoprogressotéc-
nicoéoprincipalmotordocrescimentoeconômiconolongoprazo.
Emcontrapartida,oprogressotécnico,aodestruirsetoreseconô-
micoseprocessosprodutivos,tambémdestróiseusrespectivospos-
tos de trabalho, gerando o que depois foi chamado de desemprego
estrutural, ou seja, a perda de emprego porque a ocupação corres-
pondentenãoexistemais.
AUTOR
Joseph Schumpeter
Schumpeter (Morávia, atual República
Tcheca, 1883 -1950) notabilizou-se pelo
estudo dos ciclos econômicos e, princi-
palmente, do progresso técnico. Foi o
primeiro economista a dar destaque ao
tema tecnologia e, ainda hoje, é uma re-
ferência na área. Vários economistas se
consideram seus seguidores, dando ori-
gem à escola Neo-schumpeteriana.
CONCEITO
Ciclos econômicos
São flutuações da atividade econômica em
que a uma fase de expansão da produção
se segue uma de contração, ou uma fase
de grande expansão é seguida por uma de
baixo crescimento. Os ciclos poderiam ser
de curta, média ou longa duração.
COMENTÁRIO
Desemprego estrutural
Quem trabalhava na indústria de
máquinas de escrever perdeu seu
emprego para sempre, pois esse
produtonãoémaisfabricado.Foi
substituído pelo computador. Em
longo prazo, os empregos perdi-
dossãomaisdoquecompensados
pelos empregos criados. Mas, no
curtoemédioprazo,serádifícilen-
contrarocupaçõesparaaspessoas
desempregadas, e políticas públi-
cas são importantes para minimi-
zaresseinevitávelcustosocial.
capítulo 2 • 39
Produtos que morrem e renascem
É interessante notar que alguns produtos dados como mortos acabam por
renascer algum tempo depois. Schumpeter nunca deve ter pensado nisso.
Um caso conhecido são os discos de vinil, que sofreram um golpe mortal
com o aparecimento dos CDs e teriam sido definitivamente enterrados
com o surgimento do MP3, downloads e, por fim, da música alugada por
streaming. Mas o vinil está de volta, não como produto de massa e, sim,
para um nicho de mercado composto pelos DJs e aficionados. Virou um
produto cult. Muitos fãs de rock consideram a qualidade de som do vinil
insuperável — mas há controvérsias se isso é mesmo verdade. Com a volta
do vinil, voltou também o toca-disco.
Um produto que pode voltar é a máquina fotográfica Polaroid, cujas fotos
são reveladas, em papel, na mesma hora. Alguns empresários já percebe-
ram que há demanda por fotos em papel e não apenas digitais.
E você, o que acha? Na sua opinião, este livro vai ser substituído pelo tablet
ou pelo e-reader?
OutroeconomistadaescolaaustríacaquesenotabilizoufoiFriedri-
chHayek,queéconsideradoopaidoquehojeéchamadoneoliberalis-
mo.ParaHayek,osistemadelivremercadoéumaordemespontânea,
tão importante para a humanidade quanto o desenvolvimento da lin-
guagem.Defendequeasociedadesejaorganizadaemtornodomercado
equeaatuaçãodogovernosejaamenorpossível.Aregulamentaçãoda
vidaeconômica,consequentemente,deveriasermínima.
Hayektambémseopunhaapolíticasquetivessemcomoobjetivoa
justiça social, por ser uma interferência indevida nas liberdades indi-
viduais.Masaceitavaalgumasexceçõesàregradenãointervençãodo
Estado,poiserafavorávelaqueogovernoajudasseaquemfosseextre-
mamentepobre,pormeiodagarantiadeumarendamínima,apoiava
ainstituiçãodesegurosocialparaatenderaindivíduosdoentesouaci-
dentados,bemcomoregulamentaçõesnaáreaambiental.
A economia keynesiana
SeMarshalléopaidaMicroeconomia,nãohádúvidasdequeKeynesé
ocriadordaMacroeconomia,queéoestudodocomportamento,prin-
cipalmente no curto prazo, do desempenho da Economia de um país
noqueserefereàprodução,renda,emprego,preçosetc.Curiosamente,
KeynesseconsideravaumseguidordeMarshall,dequemfoidiscípulo.
AUTOR
Friedrich Hayek
Friedrich Hayek (Viena, Áustria, 1899-
1992) foi reverenciado, com medalhas,
pelos dois mais importantes políticos
neoliberais, o Presidente Reagan, dos
EUA, e a Primeira-Ministra Margaret
Thatcher, da Inglaterra. Por conta disso,
sua principal obra — O caminho da ser-
vidão —, considerada um libelo contra
o socialismo, tem tido sucessivas edi-
ções. Hayek ganhou o prêmio Nobel de
Economia, em 1974, em conjunto com
Gunnar Myrdal. O curioso é que ambos
têm posições diametralmente opostas.
Hayek é um crítico da intervenção do
governo na Economia e Myrdal um de-
fensor. Alguns interpretaram essa pre-
miação como uma demonstração da fal-
ta de critérios na premiação. No entanto,
a maioria dos analistas entendeu que a
premiação expressava o reconhecimen-
to da diversidade de pensamento dentro
da Economia.
AUTOR
Keynes
John Maynard Keynes (Inglaterra, 1883-
1946) opôs-se ao pensamento econô-
mico neoclássico. Especialmente após a
40 • capítulo 2
Suaprincipalobra—Teoria geral do emprego, juro e moeda—éuma
críticaradicalaopensamentoeconômicodominantedaépoca,sinteti-
zadonachamadaLeideSay.
Keynes pensava de forma diametralmente oposta. Para Keynes, o
capitalismoéinerentementeinstávele,portanto,oplenoempregoéa
exceçãoenãoaregra.Paraalcançá-losócomintervençãodogoverno,a
mãoinvisívelnãodarácontadessatarefa.Aquedadesaláriosnuncairá
levaraoplenoemprego,poisoníveldeempregonãoédeterminadono
mercadodetrabalho,esimpelademanda.
REFLEXÃO
Os empresários não contratam mais operários que não precisam simplesmente porque
agora os salários estão mais baixos. Eles vão contratar os operários que necessitam
para atender a sua expectativa de demanda (de venda) para seus produtos. Além dis-
so, seria difícil rebaixar valor dos salários, pois os sindicatos não aceitariam isso.
Se excluirmos importação e exportação, a demanda da economia é
compostapeloconsumodasfamílias,oinvestimentoeosgastosdogo-
verno.Oconsumovariacomarenda.Oinvestimentodependedataxade
juros—quantomenor,maioroestímuloparainvestiremmáquinas,equi-
pamentosenovasfábricas—edaexpectativadelucrodosempresários.
Essesegundocomponente,porsersubjetivo,émuitoinstável.Emépocas
derecessão(dequedadaproduçãodaeconomia),arendacaie,comela,
oconsumo.Osempresáriosnãoinvestem,poisaeconomiavaimal.Cabe,
portanto,aogoverno,gerarademandaatravésdegastospúblicos.
ParaKeynes,aconcorrênciaeofuncionamentodosmercadossãofun-
damentaisemumaeconomiacapitalista,masnamãoinvisívelnãofariam
sentido.Aocontrário,entendiaque,emmuitoscasos,quandoaspessoas
buscamomelhorparasimesmos,essecomportamentolevaaumasitu-
açãoqueéapiorparatodos.Issoéchamadodefaláciadacomposição.
EXEMPLO
Por exemplo, se há um boato de que um banco está em má situação financeira e vai
quebrar — algo que ninguém deseja —, todos os correntistas irão rapidamente ao
banco para sacar seu dinheiro. Se todos fizerem isso, o banco quebra. Se todos, du-
rante uma crise econômica, resolverem poupar dinheiro para fazer frente a um futuro
incerto, isso vai diminuir ainda mais o consumo e agravar a crise.
Essaterapiaparaenfrentararecessão,umagrandenovidadenaépoca,
jávinhasendopostaemprática,nosanos1930,poralgunsgovernos—na
SuéciaenosEUA,comoNew DealdopresidenteRoosevelt—,paraenfren-
taradepressãocausadapelacrisede1929,massemumafundamentação
nateoriaeconômica.OlivrodeKeynes,portanto,surgiunahoracerta.
Segunda Guerra, suas ideias foram ado-
tadas por praticamente todos os países
ocidentais de maior poder econômico.
Sua influência sofreu declínio a partir de
1970; entretanto, por conta da crise fi-
nanceira de 2007, renovou-se o interes-
se pelas ideias de Keynes e as críticas
aos defensores do livre mercado.
CONCEITO
Lei de Say
Formulada pelo economista francês Jean
-Baptiste Say, segunda a qual toda oferta,
ao produzir renda, gera sua demanda. Por-
tanto, desequilíbrios na economia seriam
apenas momentâneos e solucionados
pelo sistema de preços, e o pleno empre-
go da mão de obra não seria uma situa-
ção de exceção e, sim, a regra. O pleno
emprego seria alcançado, pois se a oferta
de trabalhadores for superior à demanda,
haverá queda de salários e se chegará a
uma situação de equilíbrio, com todos em-
pregados, porém com salários menores.
capítulo 2 • 41
ATENÇÃO
As ideias de Keynes provocaram o que ficou conhecido como revolução keynesiana,
pois mudaram a forma de se pensar o funcionamento da Economia e seu pensamen-
to foi hegemônico entre os economistas até os anos 1970. Nessa época, a inespe-
rada combinação de baixo crescimento da economia com a inflação — chamada de
estagflação (estagnação da economia com inflação) — colocou em xeque o pen-
samento keynesiano. Até então se achava que a inflação estaria necessariamente
associada a mais emprego e produção.
Monetarismo
Keynesfoioeconomistamaisinfluentedaprimeirametadedoséculo
XX,eMiltonFriedmanficacomessepostonametadeseguinte.Elere-
presentouareaçãodopensamentoneoclássicoàrevoluçãokeynesiana.
FriedmanadvogaqueopapeldamoedanaEconomiaéneutro,ou
seja,nãopodeafetaroladoreal.Issoquerdizerquegovernantespodem,
pormotivoseleitoreiros,tentarmanipularataxadedesempregonaEco-
nomia emitindo mais moeda e induzindo a população a gastar mais.
Mesmoqueataxadedesempregopossadiminuirnocurtoprazo,para
osmonetaristasoefeitoemlongoprazoseráodegerarmais inflação
(vercapítulos4e5,referênciaàcurvadePhillips).
RESUMO
Friedman defendia ideias próximas às de Hayek, de não intervenção do governo na Eco-
nomia e de defesa do livre mercado. Os gastos públicos deveriam se ater ao mínimo.
ParaFriedman,existeumlimiteinferiorparaoníveldataxadede-
semprego,chamadodetaxanaturaldedesemprego.Seodesemprego
ficarabaixodessenível,iráprovocarinflaçãoviaelevaçãodossalários.A
hipótesedataxanaturaldedesempregoseriaequivalenteàtaxadeple-
noempregodaEconomia,que,comoKeynesjáhaviaobservado,uma
vezatingida,provocariainflação.
ATENÇÃO
A divergência entre Keynes e Friedman estaria no fato de que, para o primeiro, a ten-
dência da economia de mercado era funcionar abaixo do pleno emprego, com ociosi-
dade de fatores de produção (ver capítulo 4); e, para o segundo, economias de merca-
do funcionariam próximas ao pleno emprego, ou seja, à taxa natural de desemprego.
AUTOR
Milton Friedman
Milton Friedman (Nova Iorque, 1912-
2006) foi ganhador do prêmio Nobel em
1976, e seu nome é associado à corren-
te de pensamento chamada monetarista.
As principais obras de Friedman foram
Capitalismo e Liberdade e Uma história
Monetária dos Estados Unidos.
CONCEITO
Taxa natural de desemprego
A taxa natural de desemprego é um con-
ceito normativo, ou seja, serve como uma
referência para a discussão de política
econômica, pois não há como saber, de
fato, qual é a taxa natural para uma Eco-
nomia em um determinado momento.
Economistas monetaristas trabalham com
a hipótese de que existe uma taxa natural.
42 • capítulo 2
Apersistênciadodesempregoinvoluntário,ouseja,aexistênciade
trabalhadores dispostos a trabalhar por qualquer salário e mesmo as-
sim não encontrando emprego, diagnosticado por Keynes como uma
possibilidade real em economias descentralizadas (não planificadas,
verpróximotópico),desaparecenaliteraturamonetarista.
REFLEXÃO
Economistas da corrente monetarista sofrem muitas críticas, assim como keynesia-
nos, nos anos 1970, por não terem previsto a estagflação, ou seja, o movimento de
alta de preços e queda do produto, verificado após o primeiro choque do petróleo, em
1973, em praticamente todas as economias.
Apartirdaísurgeumanovaescoladepensamento,aNovoClás-
sica, que tem Robert Lucas, ganhador do prêmio Nobel em 1995,
um de seus maiores nomes. A partir da revolução Novo Clássica, o
grau de sofisticação técnica em Economia aumenta bastante, com
aincorporaçãocadavezmaisintensadetécnicaseconométricasna
construçãodemodelos.
REFLEXÃO
A escola Novo Clássica atualmente encontra-se com menos prestígio, porém o lega-
do técnico foi incorporado pela corrente mais atual, a chamada escola Novo Keyne-
siana, que busca uma nova síntese do pensamento macroeconômico, como a que
prevaleceu após a revolução keynesiana.
Estruturalismo
A contribuição mais expressiva da América Latina (portanto também
doBrasil)àhistóriadopensamentoeconômicodeu-sepormeiodacor-
renteestruturalistadaCepal,daqualCelsoFurtadofoiumadasfiguras
maisproeminentes.
Essa escola de pensamento surgiu na Cepal inspirada pelos traba-
lhosdeRaulPrebisch,seuprimeiropresidente.Segundoessaescola,o
desenvolvimentoeconômicodaAméricaLatinadependiadaindustria-
lização.Omodelodecrescimento,atéentãovigentenaregião—base-
adonaexportaçãodeprodutosprimários(café,cobre,carneetc.)echa-
mado de primário-exportador — estava fadado ao fracasso devido aos
preços desfavoráveis desses produtos no mercado internacional, em
relaçãoaospreçosdosprodutosimportados.Empoucotemponossas
exportaçõesnãoteriamcomogerarasdivisas(dólares)necessáriaspara
cobrirnossasimportações,eaEconomiaentrariaemcolapso.
AUTOR
Celso Furtado
Celso Furtado (1920-2004) escreveu
obras fundamentais, como Formação
Econômica do Brasil (1959) e De-
senvolvimento e Subdesenvolvimento
(1961), e seu nome integra a lista dos
grandes economistas mundiais que, nos
anos 1940 e 1950, criaram a nova te-
oria do desenvolvimento. Esta teoria é
conhecida como a teoria estruturalista
do desenvolvimento, e tem os trabalhos
e relatórios desenvolvidos pela CEPAL
— Comissão Econômica para América
Latina e Caribe — a sua principal refe-
rência. Ver também capítulo 6.
capítulo 2 • 43
REFLEXÃO
A saída seria a industrialização e para isso seria necessária a adoção de políticas
protecionistas e industriais, o que ficou conhecido como modelo de substituição de
importações. O objetivo seria o de mudar a estrutura da Economia, alterando o eixo
dinâmico, da agricultura para a indústria.
EssemodelopredominounaAméricaLatinaatéosanos1980,quan-
do a crise econômica e o pensamento neoliberal levaram à mudança
para um modelo de economia aberta tanto para importações quanto
paraexportações.
Economia Capitalista (de mercado) ver-sus Economia Planificada
UmaEconomiacapitalistaseestruturaapartirdomercado,queéores-
ponsávelpelaalocaçãodosrecursosedistribuiçãodarenda,viamerca-
dodeprodutose fatores.EmumaEconomiaplanificada(comunista),
essepapelcabeaogoverno,queéquemdetémosmeiosdeprodução.
Eleéquemdefineoque,quanto,comoeparaquemvaiserproduzido.
EXEMPLO
Em uma Economia capitalista, por exemplo, se há muita procura por determinado
tipo de telefone celular, seu preço vai aumentar e, com isso, vai sinalizar ao produtor
que a produção precisa aumentar. Na Economia planificada, por meio de um estudo,
o governo define quais e quantas pessoas devem ter telefone celular e produz o
necessário para atender a essa meta fixada. Em uma Economia capitalista, o con-
sumidor vai a uma loja para comprar um produto. Em uma Economia planificada, vai
para receber o produto a que tem direito, mostrando sua caderneta. Esta relaciona
que produtos tem direito a receber, e o que já foi retirado da loja.
EmumaEconomiaplanificadacontinuamexistindopreçosepagamen-
todesalários.Masospreçostêmvaloresarbitrárioseservem,basicamente,
paraviabilizaracontabilidade.Ossaláriossãomuitobaixos,poisosprodutos
nãosãocompradosesimdistribuídospelogoverno.Ossaláriosservempara
gastarnorestritomercadolivre,muitasvezesilegal,ondetudoémuitocaro.
Dopontodevistasocial,supondoqueoplanejamentosejafeitocorre-
tamente,osistemadeplanejamentocentralizadoéomaisjusto,poistodos
vãoteracessoaosprodutosquenecessitam—segundoaavaliaçãodogo-
verno.EmumaEconomiademercado(capitalista),sótemacessoamerca-
dorias,dofeijãoaocelular,quempodepagarporelas.Portanto,quemtem
rendabaixa,podeconsumirmuitopoucoepassarnecessidades.
COMENTÁRIO
Contabilidade
Sem preços seria impossível calcular o
valor da produção, pois esse pressupõe
a existência de preço e quantidade para
cada produto.
COMENTÁRIO
Acesso aos produtos
No primeiro momento, no início da im-
plantação do socialismo, o critério da
distribuição de produtos seria para cada
um, segundo sua contribuição à produ-
ção da sociedade. No segundo momen-
to, com o socialismo já implantado, o cri-
tério seria para cada um, segundo suas
necessidades.
44 • capítulo 2
O grande problema da economia planificada é que ela fracassou
nos diferentes países que a adotaram. Milhões de pessoas morreram
defomenaUniãoSoviéticaeChina,porexemplo,emrazãodepolíticas
equivocadasqueadotaramoplanejamentocentralizado.
Vários são os motivos para esse fracasso, destacamos alguns:
1) Sempre foi posto em prática por regimes autoritários, portanto eram ar-
bitrárias, em maior ou menor grau, as escolhas sobre o que, quanto, como
e para quem produzir;
2) É muito difícil para o governo ter todas as detalhadas informações necessá-
rias para viabilizar adequadamente o planejamento. O processo dessas informa-
ções é extremamente trabalhoso e complexo;
3) Não há concorrência entre empresas, portanto não há estímulo para se
aperfeiçoar ou baratear os produtos, bem como gerar novos produtos e
processos. O progresso técnico — principal motor do crescimento a longo
prazo — fica, portanto, comprometido;
4) A maioria da população não aceita receber apenas o que o governo
considera que é o justo e quer ter acesso a mais produtos, alguns tidos
como supérfluos.
Porcontadisso,quandoospaísesdolesteeuropeusedemocratiza-
ram,namesmahora,abandonaramoregimevigenteparaabraçaroca-
pitalismo.ARússia,quetinhaumparqueindustrialmuitodiversificado
naépocadaantigaUniãoSoviética,agoraseconcentranaproduçãoe
exportaçãodepetróleoegás.Boapartedesuaindústrianãosuportoua
concorrênciacomasmercadoriasimportadas.Aseconomiasdemerca-
dopodemsersocialmenteinjustas,masissopodeserminimizadopor
meiodepolíticassociais.
EXEMPLO
Hoje o planejamento central puro é adotado apenas pela Coréia do Norte. Cuba, Laos
e a China, em especial, combinam planejamento central com economia de mercado.
Osgovernosdaseconomiascapitalistaspodemterplanosdedesen-
volvimentoefazerplanejamento.Maséoplanejamentoindicativo.No
Brasil, por exemplo, tivemos o II Plano Nacional de Desenvolvimento
Econômico(IIPND),duranteoGovernoGeisel.AEuropateveumambi-
ciosoplanodereconstruçãodepoisdaSegundaGuerraMundial(Plano
Marshall).OgovernodosEUApraticouplanejamentoduranteaSegun-
daGuerraMundial,poiseranecessárioadministrarbemosrecursosdo
paísparadarcontadasnecessidadesadvindasdeumconflitomundial,
e,aomesmotempo,atenderaomercadointerno.
CONCEITO
Planejamento indicativo
Por meio de uma série de instrumentos
fiscais, creditícios, compras públicas
etc., bem como negociações com o em-
presariado, o governo procura que suas
metas de produção sejam cumpridas
pelo setor privado.
capítulo 2 • 45
Capitalismo x Comunismo – a corrida espacial
Durante o período da Guerra Fria (1947-1989), quando em vários momentos pareceu iminente
uma guerra nuclear entre EUA e União Soviética (URSS), houve uma disputa que foi apenas
tecnológica — a corrida espacial (1955-1972). Era disputa (não declarada oficialmente) de
quem levaria o primeiro homem à Lua. A URSS saiu na frente com o primeiro satélite a orbitar
a Terra (Sputnik), seguido do primeiro astronauta (Yuri Gagarin) e da primeira nave espacial,
não tripulada, a pousar na Lua (Lunik 9). Mas os EUA recuperaram o atraso ao colocarem o
primeiro homem na Lua com a missão Apollo 11, e, com isso, venceram a corrida. Em 1972, os
dois países resolveram não mais concorrer e iniciaram a cooperação na área espacial. A corrida
espacial mostrou de forma inconteste a superioridade tecnológica dos EUA em relação à URSS.
Esse evento deixou um legado que vem até hoje, como o desenvolvimento da tecnologia da
comunicação por satélites, da robótica e da energia solar. O país que mais se beneficiou desse
progresso tecnológico foi os EUA.
Economia: divisões e relação com as diferentes profissões
Emlinhasgerais,aEconomiasedivideemMicroeconomia,Macroeconomia,HistóriaEco-
nômicaeEconometria—quetratadotestedemodeloseconômicospormeiodoinstru-
mentalestatístico.Comovimosanteriormente,aMicroeconomiatratadofuncionamento
dosmercadoseaMacroeconomia,daEconomiacomoumtodo.TantoaMacroeconomia
quantoaMicroeconomiapodemsesubdividiremváriassubáreas.
RESUMO
Principais subáreas da Economia
- Economia internacional, que trata das relações econômicas com o exterior;
- Economia do setor público, que estuda o papel do Estado na Economia, a evolução e composição das
receitas e despesas do governo, bem como as principais políticas públicas;
- Economia monetária e financeira, que estuda a oferta de moeda na Economia e o funcionamento do
setor financeiro;
- Economia do trabalho, que trata do mercado de trabalho e suas instituições;
- Economia regional e urbana, que investiga como as atividades produtivas se distribuem e se relacionam
no espaço;
- Desenvolvimento econômico, que estuda os modelos de crescimento e como as economias se desenvolvem;
- Economia do meio ambiente, que estuda as relações entre Economia e o meio ambiente e o desenvolvi-
mento sustentável;
- Economia do bem-estar, que trata das políticas públicas voltadas para o bem-estar da população, tais
como política de saúde, educacional, previdenciária.
46 • capítulo 2
Economia e sua relação com Administração e Contabilidade
AdministraçãoeContabilidadesãoprofissõesmuitopróximasdaEco-
nomia, pois há muitas cadeiras em comum entre os cursos, em espe-
cialcomodeAdministração.Nãosepodeanalisarumbalançodeuma
empresasemlevaremcontaasituaçãoeconômicadomercadoemque
atua,bemcomodopaís(edomundo).Omesmovaleparaagestãode
umaempresa,nassuasdiferentesáreas.Maisainda,aanálisefinancei-
radasempresasapresentamuitasinterfacescomaEconomia.
REFLEXÃO
Deve-se mencionar ainda que uma das áreas que mais tem ganhado espaço nas últi-
mas décadas, com o avanço da globalização econômica e financeira, é a de finanças,
que reúne economistas e administradores especializados em mercado financeiro.
Economia e sua relação com Comunicação
OjornalistanecessitadeconhecimentosdeEconomia,nãosóojornalista
econômico.Pode-seentenderapolítica,sementenderdeEconomia?Com
certezanão.MuitosanalistasconsideramqueodesempenhodaEconomiaé
umavariáveldecisivanaseleiçõesmajoritárias(parapresidente,governador
esenador).AEconomiaéimportante,inclusive,paraentenderosesportes.
ArelaçãocomEconomiaétambémmuitoestreitanasáreasdepu-
blicidade, propaganda e marketing, e produção cultural, de modo ge-
ral,poisenvolvemestudosdemercado,preferênciasdosconsumidores,
captaçãoderecursosetc.
EXE MPLO
Na elaboração de um estudo de comunicação para um empreendimento imobiliário,
por exemplo, é inevitável fazer uso de variáveis econômicas, tais como referenciais
para financiamento (como índice da inflação, taxa de juros, taxa de câmbio), analisar
o valor do salário mínimo frente ao público-alvo, entre outros.
Economia e sua relação com Direito
OconhecimentodeEconomiaéútilparaosadvogadosporqueaativida-
deeconômicaéregidaporcontratosmonetárioscomamparoemleis.
CONCEITO
Esportes
Muitas vezes um clube de futebol tem
um mau desempenho no campeonato,
porque teve que vender seus melhores
jogadores para pagar dívidas.
capítulo 2 • 47
Muitasleistêmimplicaçõeseconômicas,comoadefesadoconsumidoredaconcorrência,
direitodepropriedade,dentreoutras.
EXEMPLO
A relação entre Direito e Economia é estreita em várias áreas tais como o Direito do Trabalho (indenizações
trabalhistas, por exemplo), Direito Tributário (valor e cobrança de impostos), Direito Comercial (fusões e
aquisições de empresas).
Economia e sua relação com Geografia
HáumarelaçãodiretacomaGeografiaEconômicaecomváriosramosdaEconomia:Plane-
jamentoUrbanoeRegional,EconomiadosTransportes,EconomiadoMeioAmbienteetc.
EXEMPLO
A Geografia foi muito importante, por exemplo, para o desenvolvimento das cidades de Salvador e Rio
de Janeiro. Se esses locais não oferecessem boas condições naturais favoráveis para a instalação de
um porto, nunca teriam sido capitais do Brasil. Brasília foi escolhida para a nova capital em razão da sua
localização, no centro do país.
ValemencionaraquionomedePaulKrugman,ganhadordoprêmioNobelem2008,por
suacontribuiçãoemestudossobrepadrõesdecomércioealocalizaçãodaatividadeeconômica.
Economia e sua relação com História
AHistóriaEconômicaéumadasbasesdocursodeEconomia.NãosepodeentenderaHis-
tóriasementenderaEconomia,damesmaformaquenãosepodeentenderaEconomia
sementenderaHistória,poisaHistóriaéolaboratóriodaEconomia.
Nãoépossívelentendermomentosdecisivosdahumanidade,comoaRevoluçãoFran-
cesa,RevoluçãoRussaeaSegundaGuerraMundial,semlevaremcontaascondiçõeseco-
nômicasvigentesnaépoca.
EXEMPLO
O Plano Real, de 1994, não teria sido bem-sucedido se seus formuladores não tivessem estudado tanto
as experiências fracassadas dos planos de controle da inflação adotados no Brasil nos anos 1980, quanto
as experiências exitosas de combate à hiperinflação, como a da Alemanha nos anos 1920. O economista
Gustavo Franco, um dos formuladores do Plano Real, havia estudado profundamente a hiperinflação alemã
dos anos 1920, por exemplo.
48 • capítulo 2
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHANG, H. 23 coisas que não nos contam sobre o capitalismo. São Paulo: Cultrix, 2013.
DANA. S. Entenda o que compõe o chamado custo Brasil. Folha de S. Paulo, São Paulo, 4 nov. 2013.
FREEMAN, C. e SOETE, L. The economics of industrial innovation. Londres: Third Edition Pinter, 1997.
SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. São Paulo: Record, 2005.
Leituras Sugeridas:
HEILBRONER, R. A História do pensamento econômico. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
HUNT, E. e SHERMAN, H. História do pensamento econômico. Petrópolis: Vozes, 1977.
HUBERMAN, L. História da riqueza do homem. São Paulo: LTC, 2011.
50 • capítulo 3
3 A Abordagem Microeconômica
O objetivo deste capítulo é apresentar os conceitos básicos de análise a nível microeco-
nômico. O surgimento da Microeconomia como ramo autônomo da Ciência Econômica
remontaaoúltimoquartodoséculoXIX,refletindoumamudançanadefiniçãodospro-
blemas econômicos fundamentais, que se desloca da determinação geral das causas do
desenvolvimentodariqueza,comoemAdamSmith(vercapítulo2),nosentidodeumen-
foqueutilitaristaqueprivilegiaadiscussãodoprocessodealocaçãodosrecursosescassos
entreusosalternativos,comofimdemaximizardeterminadosobjetivosdosagentesenvol-
vidosnoprocesso,basicamenteconsumidoreseprodutores.
NaMicroeconomiaasanálisessãoelaboradasapartirdoestudodasescolhasedecisões
realizadasporfamílias,firmasegovernos,edecomoessasescolhasafetamosdiferentes
mercados de produtos e serviços. Assim, a Microeconomia estrutura-se como um corpo
teóricointegrado,queprocuradescreverquatrofenômenosfundamentais:
1) a forma como os indivíduos ou as famílias determinam sua procura de bens e serviços, que
resulta na elaboração de uma Teoria da Demanda ou Teoria da Procura;
2) a forma como as empresas decidem o que e quantos bens e serviços produzirão, e qual a
combinação de fatores de produção a ser utilizada, que resulta na elaboração de uma Teoria
da Oferta, e abrange a Teoria da Produção, que estuda o processo de produção em uma
perspectiva econômica, a Teoria dos Custos de Produção, que classifica e analisa os custos e
tomada de decisões de produzir baseada em princípios de maximização de lucro;
3) a forma como os mercados determinam o preço e quantidade de equilíbrio, a partir da
articulação entre a oferta e a procura, discutida com base na caracterização de estruturas de
mercado e da análise dos impactos da sua operação sobre os níveis de eficiência econômica
e bem-estar;
4) a forma como as articulações existentes entre diferentes mercados influenciam o processo
de alocação de recursos, que resulta na elaboração de uma Teoria do Equilíbrio Geral e do
Bem-Estar, que estuda a interação de todos os mercados, simultaneamente, e seu impacto em
todos os agentes.
AconsolidaçãodaMicroeconomiacomocampoautônomodaCiênciaEconômicare-
fleteacontribuiçãodediversosautoresfundamentais.DestacamosKarlMenger,que,em
1871,formulouumateoriadovalordetrocabaseadanoprincípiodautilidadedecrescente,
simultaneamentecomoinglêsStanleyJevons(1871)eofrancêsLéonWalras(1874).
Como vimos, a contribuição de Alfred Marshall avança no sentido da explicação de
comoospreçosdebensefatoressãodeterminadosemmercadosconsideradosisolada-
mente,possibilitandoautilizaçãodoreferencialnoesclarecimentodeproblemaspráticos,
atravésdeumaanáliseelaboradadeformasimples,pormeiodareduçãodonúmerode
capítulo 3 • 51
variáveisedacriaçãodeummétododedutivodeanálisedocomporta-
mentodosagentes,baseadoemmotivaçõesobjetivasemensuráveis.
Poroutrolado,acontribuiçãodeLeonWalrasvaiaumadireçãodis-
tinta,desenvolvendoumaanálisedoequilíbriogeralparaoproblemade
determinaçãodospreços,elaborandoumsistemamatemáticosofistica-
doqueindicaainterdependênciadasunidadesdeproduçãoeconsumo
nointeriordosistemaeconômico.
ATENÇÃO
A Microeconomia desenvolve uma visão microscópica dos fenômenos econômicos,
direcionando-se ao estudo do comportamento das unidades individuais responsáveis
por decisões no plano do consumo e produção, distinguindo-se da Macroeconomia
na medida em que esta se interessa pelo estudo de agregados, como a produção, o
consumo e a renda da população como um todo. A Microeconomia preocupa-se em
explicar como se determina o preço dos diferentes bens e serviços, bem como dos
fatores de produção.
O problema básico analisado pela Microeconomia refere-se ao fe-
nômeno da escassez, associado à dotação de recursos disponíveis em
cadasociedade,equeacabaporgerarumproblemadedisponibilidade
limitadadebens,quesetornambens econômicosjustamenteemfunção
dessacaracterística.
Método de análise
O desenvolvimento da Microeconomia implicou no desenvolvimento
deummétodoparticularparatratardoproblemadaalocaçãoderecur-
sosemumcontextodeescassez.Essemétodoédesenvolvidoapartirde
umaconcepçãoutilitaristadaciênciaeconômica,quedeveriafornecer
um instrumental prático para a alocação daqueles recursos da forma
maiseficientepossível.
Demodoaatingiresseobjetivo,aMicroeconomiadesenvolvesuas
análisesapartirdeummétodológico-dedutivo,noqualprocuratratara
complexidadeeentrelaçamentodeinfluênciassubjacentesàssituações
reaisquesãoobjetodeseuestudo.
Aformadedesenvolvimentodeanálisesapartirdeumaperspectiva
lógico-dedutivanocampodaMicroeconomiasedáatravésdaconstru-
ção de modelos,concebidoscomoconstruçõescompostasporumasérie
dehipóteses,apartirdasquaisasconclusõessãoextrapoladas.
Nessesmodelos,sãoselecionadasvariáveismaissignificativaspara
a compreensão de fenômenos associados ao mundo real, permitindo
que a complexidade desse mundo real seja manipulada. A ênfase na
construçãodemodelosmatemáticoséparticularmentecomumnaMi-
COMENTÁRIO
Escassez
Por causa da escassez, os indivíduos e
a sociedade devem fazer escolhas difí-
ceis, que implicam privilegiar uma ne-
cessidade e a alocação de recursos a
ela vinculada, em detrimento de outras.
Como visto no capítulo 1, o conceito
de custo de oportunidade é designado
para representar a melhor alternativa na
escolha da alocação ótima de recursos.
CONCEITO
Método lógico-dedutivo
O caráter dedutivo é realçado pelo fato
de que muitas das variáveis considera-
das pela Microeconomia não podem ser
observadas ou mensuradas, como, por
exemplo, o grau de utilidade que os con-
sumidores auferem ao dispor de certos
bens ou serviços. Nessa perspectiva
metodológica, a partir de uma situação
do mundo real, são selecionadas as va-
riáveis mais relevantes para compreen-
der o fenômeno analisado, o que permi-
te reduzir e manusear as complexidades
do mundo real. Desenvolve-se, assim,
um modelo lógico, a partir do qual são
inferidas conclusões de natureza abs-
trata, as quais, convenientemente inter-
pretadas, tornam possível o retorno ao
mundo real.
52 • capítulo 3
croeconomia,resultandonaidentificaçãodefunçõesqueestabelecem
relaçõesentrevariáveisdependenteseindependentes,equerecorrem,
deformasistemática,arepresentaçõesalgébricasegráficas.
ATENÇÃO
Na construção de modelos de análise, a Microeconomia se vale de forma recorrente
à hipótese de que tudo o mais permanece constante (em latim, coeteris paribus).
O foco de estudo é dirigido apenas à determinada variável cujo efeito se pretende
investigar, supondo-se que outras variáveis interfiram muito pouco no fenômeno, ou
que não interfiram de maneira absoluta no período considerado.
Adotando-seessahipótese,torna-sepossíveloestudodeumdeter-
minado fenômeno, selecionando-se apenas as variáveis que influen-
ciammaisdiretamenteocomportamentodomercado,oqueenvolve,
em algum grau, uma hierarquização da importância das variáveis uti-
lizadasnomodelo.Comoexemplo,épossívelmencionarsituaçõesnas
quais a procura de uma mercadoria é normalmente mais afetada por
seupreçoepelarendadosconsumidores.
Outro princípio metodológico geral importante no campo da Mi-
croeconomia refere-se a pressupostos comportamentais baseados em
uma racionalidade estritamente maximizadora por parte dos agentes.
Esse homem econômico maximizador não éreal, masnecessário paraa
construção lógica de um modelo de análise. A concepção do homem
econômicocomoagenteracionalmaximizadoréelaboradademodoa
oferecerumasoluçãoparaoproblemadealocaçãoderecursosemuma
perspectivaessencialmenteestática.
Poroutrolado,essetipodeprocedimentotambémenvolveumasim-
plificaçãodaracionalidadeedospadrõesdecondutadosagentes.No
caso das firmas, por exemplo, assume-se que a firma sempre busca a
maximizaçãodolucrototal,otimizandoautilizaçãodosrecursosdeque
dispõe.Emcontraste,épossívelconsiderarcorrentesalternativas,ela-
boradascomocríticaàMicroeconomiatradicional,queassumemque
aracionalidadedosagentespodeseressencialmentecomplexa,envol-
vendomúltiplosobjetivoserestriçõesdediversostipos.
OutracaracterísticaimportantedaMicroeconomiaésuanaturezaestá-
tico-comparativa,atravésdaqualelatendeaconfrontarduasoumaissitua-
çõesdeequilíbrio,semsepreocuparcomoperíodointermediárioentreas
situaçõesinicialefinal.Dessemodo,nãosãoconsideradososajustamen-
tosentreambassituaçõesnemaextensãodoperíododetempoemsi.
EXEMPLO
Como exemplo, é possível considerar o impacto do lançamento de um tributo,
comparando-se a situação de equilíbrio presente antes da decisão governamen-
COMENTÁRIO
Pressupostos comportamentais
Define-se, assim, um homem econômi-
co essencialmente utilitarista, dotado
de desejos e vontades, cujo compor-
tamento poderia ser explicado por au-
tointeresses sujeitos às leis empíricas.
O indivíduo maximizador é caracteri-
zado como unidade básica do sistema
econômico, de tal forma que os pressu-
postos relativos aos comportamentos
individuais seriam capazes de explicar
os fenômenos econômicos e sociais
gerais, evidenciando uma perspectiva
assentada na noção de individualismo
metodológico.
capítulo 3 • 53
tal de lançar o tributo e aquela situação de equilíbrio após o tributo haver surtido
todos os seus efeitos.
Dopontodevistadarepresentaçãográficadosmodelos,essaênfase
em análises de natureza estático-comparativa reflete-se, por exemplo,
nacomparaçãoentreduassituaçõesdeequilíbriodefinidasemfunção
doposicionamentodascurvasquerepresentamasforçasqueinfluen-
ciamofenômenoinvestigado(ofertaedemanda,porexemplo).
Porfim,umacaracterísticaimportantedasformulaçõesnocampo
daMicroeconomiarefere-seàênfaseem análisesdeequilíbrioparcial.
Apesar do caráter simplificador desse tipo de procedimento, ele apre-
senta uma série de vantagens, pois exige uma menor disponibilidade
deinformaçõesdoqueumaanálisedeequilíbriogeral,possibilitando
o desenvolvimento de uma análise que, apesar de menos complexa, é
maisdidáticaemaisfácildesercompreendida.
Alémdisso,essetipodeabordageméoperacionalmentemaisexe-
quíveldoqueaanálisedeequilíbriogeral,cujodesenvolvimentoquase
semprerequerautilizaçãodeuminstrumentalmatemáticocomplexo,
dadaaquasetotalimpossibilidadedeconduzi-lagraficamente.
A Teoria do consumidor e da demanda
Osagentesdademanda—osconsumidores—sãoaquelesquesediri-
gemaomercadocomointuitodeadquirirumconjuntodebenseser-
viços.Aoexplicarocomportamentodoconsumidor,aMicroeconomia
baseia-senapremissafundamentaldequeaspessoasescolhembense
serviçoselhesatribuemmaisvaloremfunçãodautilidadeproporciona-
dapelosbens.
REFLEXÃO
A noção de utilidade articula-se ao conhecimento dos consumidores acerca da sa-
tisfação subjetiva proporcionada pelo consumo, que lhes permite hierarquizar bens
e conjuntos de bens (cestas de consumo). Apesar dessa utilidade não necessaria-
mente poder ser medida de forma absoluta, ao comparar e hierarquizar alternativas
de consumo, visando maximizar a sua utilidade, o consumidor estaria escolhendo o
conjunto de bens de consumo que mais lhe agrada.
Definindo-se aprioristicamente um intervalo qualquer para o perí-
ododeconsumo,épossívelperceberque,aoaumentar-seprogressiva-
menteoconsumodobemnaqueleintervalo,oaumentodasatisfação
proporcionadapeloconsumotendeaserprogressivamentemenor.Isso
significa que a utilidade total derivada do consumo do bem cresce na
medidaemqueseelevaaquantidadeconsumida,masqueovaloracres-
COMENTÁRIO
Análises de equilíbrio parcial
Uma análise de equilíbrio parcial, con-
trariamente a uma de equilíbrio geral,
pressupõe a abordagem de fenôme-
nos econômicos de forma isolada ou
individual; considerando que os ajusta-
mentos que ocorrem no interior de um
mercado específico podem ser com-
preendidos isolando esse mercado em
relação aos demais.
54 • capítulo 3
cidoàutilidadetotalpelaúltimaunidadedebemconsumidaétãome-
norquantomaiorforototalconsumidodebens.
Autilidadequeaúltimaunidadeconsumidaacrescentaàutilidade
totalédenominadadeutilidademarginal.Estabelece-seassim,aLei da
utilidade marginal decrescente.NaTeoriadoConsumidor,opreçomáxi-
moqueumconsumidorestádispostoapagarporumaunidadeadicio-
naldeumbemcorrespondeaopreço marginal de reserva.
Comoopreçomarginaldereservaémaiorquantomaiorforautilidade
acrescentadaporumaunidadeadicionaldobem,ouseja,quantomaiorfor
autilidademarginal,conclui-sequeopreçomarginaldereservacorrespon-
deaumamedidadautilidademarginal.Ofatodeopreçomarginaldereser-
vaserdecrescentedecorredalei da utilidade marginal decrescente.
Umaabordagemcomplementaràdescritaenvolveatentativadere-
presentarascaracterísticasdautilidadedoconsumidoratravésdeum
modelopassívelderepresentaçãomatemáticaougráfica.
Dopontodevistamatemático,esseesforçodemodelizaçãoimplica
nadefiniçãodeumafunção utilidadequerelacionaumamedidaqual-
querdeutilidadecomaquantidadeconsumidadosdiferentesbens.As
propriedadesdessafunçãorefletemascaracterísticasdocomportamen-
todoconsumidoranteriormentedescritas,comautilidade marginal de
cadabemestandoassociadaàvariaçãodautilidadetotalgeradaporva-
riaçõesnasquantidadesconsumidasdobemrespectivo.
Dopontodevistadasescolhasdoconsumidor,estassebaseiamem
umesforçoparamaximizarafunção utilidadesujeitaarestriçõesdefini-
daspelarendadisponívelepelospreçosdosbensaseremadquiridos.
EXEMPLO
Um exemplo simples é o de uma família decidindo sobre seus gastos em um perío-
do de tempo. Definem-se, assim, escolhas de equilíbrio, referentes à composição da
cesta de consumo com os diversos bens, baseadas na hipótese de que esse equilíbrio
requer que o acréscimo de utilidade por unidade monetária direcionada à aquisição
de cada bem seja equivalente para todos os bens.
Noprocessodeescolha,oconsumidorconfrontaecompatibilizaa
taxapelaqualdesejasubstituirbens,deformaaobtermaiorsatisfação
doconsumo,comataxapelaqualeleefetivamentepodesubstituiresses
bensnoprocessodeaquisiçãodosbens,dadososrespectivospreçose
asualimitaçãoderenda.Osfatoresdescritospermitemidentificaros
elementosqueinterferemnaconstruçãodademandaindividual.
Dessemodo,afunçãodemandacorrespondeaumarelaçãoentrequan-
tidades desejadas e diferentes níveis de preço de um determinado bem,
considerandooutroselementosquepoderiamafetaraquelasdecisões.
COMENTÁRIO
Utilidade marginal
Do ponto de vista formal, a utilidade mar-
ginal do consumo de um bem corres-
ponde ao crescimento da utilidade total
decorrente do consumo de uma unida-
de adicional desse bem. De uma forma
geral, a utilidade marginal de um bem di-
minui na medida em que aumenta o seu
consumo. Estabelece-se assim, a lei da
utilidade marginal decrescente.
COMENTÁRIO
Demanda individual
Basicamente, corresponde a um con-
junto de escolhas do consumidor no
intuito de maximizar a sua utilidade, ou
satisfação, quando ocorrem variações
autônomas do preço de um bem parti-
cular. Assim, a demanda individual cor-
responde a um desejo, ou a um plano,
representando o máximo a que o consu-
midor pode aspirar em termos da aqui-
sição de um bem, quando confrontado
com um nível particular do preço daque-
le bem, dada sua renda e os preços dos
demais bens.
capítulo 3 • 55
REFLEXÃO
Em particular, a demanda pode ser associada a um conjunto mais amplo de fatores
ou variáveis que influenciam a decisão de consumo de um bem particular, tais como:
o nível de riqueza do consumidor (relativamente independente de sua renda nomi-
nal), a sua renda nominal, o preço dos outros bens, fatores climáticos e sazonais, a
intensidade da propaganda e disponibilidade de informações sobre o bem, os hábi-
tos, gostos, preferências dos consumidores, expectativas sobre o futuro que afetam
as decisões de consumo e facilidades de crédito.
Aanálisedademandaindividualbaseia-senahipótesedequeocor-
rem variações no preço do bem em questão e que os demais fatores
permanecem constantes. A função (ou curva) de demanda individual
éconstruídaapartirdaidentificaçãodasescolhasrealizadaspelocon-
sumidorparacadaníveldepreçosdobem,considerandoahipótesede
queesseconsumidorbuscamaximizarasatisfaçãoouutilidadepropor-
cionadapeloconsumo.
Dessemodo,osimpactosdevariaçõesdopreçodobemsãocapta-
dospordeslocamentosaolongodacurvadedemanda.Poroutrolado,
osimpactosdevariaçõesdosoutrosfatoresconsideradosconstantesna
análise(preçosdosdemaisbens,rendadoconsumidoregostoseprefe-
rências)sãocaptadosatravésdedeslocamentosdacurvadedemanda.
ATENÇÃO
Cada consumidor tem uma curva de demanda ao longo da qual a quantidade deman-
dada pode ser relacionada com o preço, que apresenta uma inclinação para baixo e
para a direita. A curva da demanda de um bem para a totalidade do mercado, por sua
vez, é obtida pela soma das quantidades demandadas por todos os consumidores.
Paraobterumamedidaquantitativadosefeitosdevariaçõesdepre-
ços e rendimento sobre as decisões de consumo, é usual avaliar-se a
elasticidadedademandadeumbem.
Aelasticidade-preçodademandamedeavariaçãoproporcionalda
quantidadedemandadadeumbemquandooseupreçovaria.Umade-
finição precisa dessa elasticidade é dada pela variação percentual da
quantidadedemandadadivididapelavariaçãopercentualdopreço.As
elasticidades-preçodosbens,querefletemasuasensibilidadeemrela-
çãoàsvariaçõesdopreço,sãomuitodiversificadas.
ATENÇÃO
Quando a elasticidade-preço de um bem é elevada, dizemos que o bem tem uma
procura elástica, o que significa que a quantidade da sua procura responde for-
temente às variações do preço. Quando a elasticidade de um bem é fraca, diz-se
CONCEITO
Elasticidade
O estudo da elasticidade é amplamen-
te utilizado na Microeconomia, pro-
curando quantificar as relações entre
duas variáveis. Especificamente, esse
estudo envolve a relação entre as va-
riações proporcionais (ou percentuais)
das variáveis investigadas. Dentre es-
sas aplicações destaca-se a noção de
elasticidade-preço da demanda, que
tem um papel importante na análise da
demanda do consumidor e das deci-
sões empresariais.
56 • capítulo 3
que a demanda é inelástica, pois a quantidade demandada responde fracamente
às variações do preço.
Naanálisedocomportamentodoconsumidoréimportanteconside-
rarosfatoresqueinfluenciamaelasticidade-preçodaprocura.Umprimei-
rofatorrefere-seàessencialidadedoconsumodobem.Nestesentido,ob-
serva-sequeaprocuradebensdeprimeiranecessidadecomoalimentos
básicos,energiaemedicamentos,tendeaserrígida,e,portanto,inelás-
tica,poisnãosepodefacilmenteprescindirdelesquandoosseuspreços
aumentam.Poroutrolado,outrosbenspodemsubstituirartigosdeluxo
nãoessenciais,quandoestessobemdepreço,oquetornaasuademanda
maiselástica.Alémdisso,osbensquetêmsubstitutosimediatostendem
aterdemandasmaiselásticasdoqueosquenãotêmsubstitutos.
EXEMPLO
Por exemplo, a gasolina é um bem com demanda inelástica, pois é difícil ser substi-
tuída, principalmente no curto prazo.
A Teoria da Produção
OdesenvolvimentodaTeoriadaProduçãorequer,deinício,aespecifi-
caçãodealgunsconceitosfundamentaisquelhedãosustentação.Um
primeiroconceitobásicorefere-seàconcepçãode empresaoufirma.
NaTeoriadaProdução,asformascomoosinsumossãocombinados
constituem os métodos ou técnicas de produção, que podem ser inten-
sivosemmãodeobra(utilizammaismãodeobraemrelaçãoaoutros
insumos),intensivosemcapitalouintensivoemrecursosnaturais,de-
pendendodofatordeproduçãoutilizadoemmaiorquantidade,relati-
vamenteaosdemais.
ATENÇÃO
No âmbito da teoria da produção, é possível distinguir também os conceitos de tecnolo-
gia e de método de produção. A tecnologia corresponde a um inventário dos métodos de
produção conhecidos, representando o estado das artes em termos de conhecimentos
na esfera da produção. Em geral, supõe-se tecnologia dada e possível de ser acessada
pelos diversos produtores. Já os Métodos ou Técnicas de Produção envolvem diferentes
combinações dos fatores de produção, a um dado nível de tecnologia.
Aescolhadométodoouprocessodeproduçãodependedesuaefici-
ência,quepodeseranalisadatantodopontodevistatécnicooutecno-
lógico,comodopontodevistaeconômico.Ummétodoétecnicamente
CONCEITO
Empresa ou firma
Basicamente, a concepção de firma da
Microeconomia tradicional é elaborada
a partir de uma perspectiva funcional do
processo de alocação de recursos. A fir-
ma é vista como uma instância interme-
diária que compra insumos (inputs, fato-
res de produção), combina-os segundo
um processo de produção escolhido, e
vende produtos (outputs) no mercado,
procurando maximizar seus resultados
em termos de produção e lucro.
capítulo 3 • 57
eficientequando,comparadocomoutrosmétodos,utilizamenorquanti-
dadedeinsumosparaproduzirumaquantidadeequivalentedoproduto.
REFLEXÃO
Na análise microeconômica padrão, assume-se que é sempre possível, ao produtor,
utilizar a maneira mais eficiente de combinar os fatores e, consequentemente, obter
a maior quantidade produzida do produto.
Naórbitadaprodução,oprodutortemcomoobjetivoaminimizaçãodo
custodacontrataçãodefatores,dadaarestriçãotécnicadafunçãodepro-
dução,ouamaximizaçãodaprodução,dadaarestriçãodospreçosdosfato-
res.Aocontratarfatores,oprodutordeveconfrontarasalternativastécnicas
deproduçãocomospreçosefetivamentepraticadosnessacontratação.
Umavezdefinidasasquantidadescontratadasdefatores,definem-seos
custosdeproduçãoqueirãoorientarasdecisõesempresariais.Arelevância
daanálisedoscustosdecorredainfluênciaqueosmesmosexercemnasde-
cisõesempresariaisrelativasapreços,níveisdeproduçãoelucro.
REFLEXÃO
Nesse sentido, é importante considerar que os economistas e contadores têm for-
mas diferentes de considerar os custos. No plano contábil, os custos referem-se às
despesas correntes somadas às despesas ocasionadas pela depreciação dos equi-
pamentos de capital. Já os custos econômicos têm como referência o contexto de
escassez, que faz com que, ao alocar recursos de uma determinada maneira, se es-
teja abrindo mão de alocações alternativas que poderiam, eventualmente, apresentar
um rendimento superior. Desse modo, os custos econômicos devem levar em conta
os custos de oportunidade que estão associados às oportunidades que são deixadas
de lado, caso a empresa não empregue seus recursos da maneira mais rentável.
A empresa retratada pela Microeconomia é uma organização que
combinaeorganizaosrecursoscomafinalidadedeproduçãodebensou
serviços.Ateoriadafirmabaseia-senasuposiçãodequeasdecisõespro-
dutivasdafirmaestãobaseadasemprincípiosdemaximizaçãodelucro.
Osganhosdoprodutorseoriginamporqueovalormínimoqueeles
exigiriamparaofertaresseprodutopodesermenordoqueovalorefetiva-
menteobtidonomercado(istoé,opreçodoproduto).Define-se,assim,a
noçãodeexcedentedoprodutor,dadopeladiferençaentreopreçomíni-
moqueoprodutorrequerparaproduzirumadeterminadaquantidadede
produtoeoqueeleefetivamenterecebepelovendadomesmo.
Oexcedenteverifica-sequandooprodutorrecebemaisdoquegasta
comfatoresvariáveis,representandoocomprometimentodiretodere-
cursoscomaprodução.
CONCEITO
Excedente do produtor
Do ponto de vista formal, o excedente
do produtor equivale à diferença entre
a receita total obtida com a produção e
os custos variáveis totais em que a firma
incorre para viabilizar a produção.
58 • capítulo 3
Equilíbrio de mercado e bem-estar
Asinteraçõesentredemandaeofertademercadodefinemo equilíbrio de mercadoparaumbem
ouserviçoparticular,demonstrandoqueaquantidadequeosconsumidoresdesejamcomprar
éexatamenteigualàquantidadequeosprodutoresdesejamvender.Dessemodo,anoçãode
equilíbriodemercadocorrespondeàcoincidênciadedesejosentreconsumidoreseproduto-
res,evidenciandoumasituaçãoondenãoháexcessoouescassezdeofertaoudedemanda.
Esseequilíbriopodesercaracterizadocomoestável,pois,supondoumaeconomiade
mercado,omecanismodepreçoslevaautomaticamenteaoequilíbrio.Noentanto,quando
ocorreexcessodeoferta,osvendedorescomestoquesnãoplanejadosterãoquediminuir
seuspreços,concorrendopelosescassosconsumidores.Jáquandoocorreumexcessode
demanda,osconsumidoresestarãodispostosapagarmaispelosprodutosescassos.Essas
açõesresultamemajustesdepreços.
ATENÇÃO
A igualação entre demanda e oferta de mercado, de modo a definir o equilíbrio de mercado para um
bem ou serviço particular, representa um retrato estático do mercado em um determinado intervalo, su-
postamente abstrato, de tempo. Na realidade, os mercados são dinâmicos e sofrem tanto a influência de
mudanças de parâmetros e fatores supostamente constantes, que afetam as funções (curvas) demanda e
oferta, como uma série de influências do ambiente externo, decorrentes de ações do governo, mudanças
em outros mercados, e, também, de eventos fortuitos e imprevisíveis, como uma geada, uma guerra etc.
Algumaspossíveisperturbaçõespodemserconsideradasparaentenderessesimpac-
tosnoequilíbrio.Umaelevação da renda real(aumentodopoderaquisitivo)dosconsumi-
dores,porexemplo.Emfunçãodoaumentodepreços,gera-seumexcessodedemanda
que vai progressivamente se reduzir em função do aumento de preços, até acabar, no
novoequilíbrio.
Tambémservedeexemploadiminuição dos preços das matérias-primasusadasnapro-
duçãodobem.Deformaanálogaàsituaçãoanterior,égeradoumexcessodeofertaaopre-
çoanterioreumatendênciaàreduçãodopreço,atéqueseatinjaumnovopontodeequilí-
brioapreçoinferioreemumaquantidademaior.
Análise de estruturas de mercado
Aanálisemicroeconômicapadrãodoequilíbriodemercadoéelaboradaemumcontexto
deforteatomizaçãodonúmerodeprodutoreseconsumidores,quecaracterizaadenomi-
nadasituaçãodeconcorrência perfeitaoudemercados competitivos.
Aestruturademercadocaracterizadaporconcorrênciaperfeitaéumaconcepçãoideal
(ou abstração), pois os mercados altamente concorrenciais existentes, na realidade, são
apenasaproximaçõesdessemodelo.
capítulo 3 • 59
ATENÇÃO
Hipóteses básicas de um mercado que opere em regime de concor-rência perfeita:
1) existência de um grande número de compradores e vendedores, refletindo uma
situação de mercado atomizado;
2) produtos homogêneos, ou seja, substitutos perfeitos entre si, fazendo com que
não possa haver preços diferentes no mercado;
3) completa informação e conhecimento sobre o preço do produto, refletindo uma
situação de transparência do mercado;
4) livre entrada e saída de firmas no mercado, refletindo uma situação de ausên-
cia de barreiras possibilitando uma livre mobilidade, que permite às firmas menos
eficientes saírem do mercado, e que as firmas mais eficientes se desloquem para
o mesmo;
5) racionalidade forte (ou substantiva) por parte dos agentes, que faz com que as
empresas sempre maximizem o seu lucro e os consumidores maximizem a satisfa-
ção ou utilidade derivada do consumo de um bem.
Em condições de concorrência perfeita, os agentes operam, funda-
mentalmente,comotomadoresdepreço(price-takers).Emoutrostermos,
o preço de mercado é um dado fixado para empresas e consumidores.
Umaempresaperfeitamenteconcorrencialvendeumprodutohomogê-
neo,eétãopequenaemrelaçãoaoseumercado,quenãopodeinfluenciar
opreçodemercado;apenaspodeaceitarestepreçocomoumdado.
ATENÇÃO
Essas hipóteses ideais refletem um mercado sem barreiras, sem interferências e
sem poder de mercado, sendo, de certo modo, pouco realistas. Quando algumas
dessas condições não são verificadas, observamos outras estruturas de mercado
(monopólio, oligopólio, entre outras), e as decisões de empresas e consumidores
tornam-se mais complexas.
Outroaspectoimportanterefere-seaosníveisdeeficiênciaebem-es-
tarproporcionadosporumsetorqueopereemcondiçõesdeconcorrên-
cia perfeita. Nesse sentido, uma das principais conclusões de análise
microeconômicatradicionaléqueaalocaçãoderecursosemmercados
perfeitamenteconcorrenciaiséeficiente.
REFLEXÃO
Assume-se que qualquer sociedade ou organização alcançará uma melhor alocação (ou
o máximo de eficiência) de seus recursos, na medida em que o preço se iguale ao custo
marginal, operando, nesse caso, na fronteira das possibilidades de produção.
COMENTÁRIO
Concepção ideal
Do ponto de vista metodológico é
mais útil construir inicialmente mode-
los simples, e depois incorporar novos
detalhes, do que construir diretamente
modelos com todos os detalhes da rea-
lidade, que é muito complexa, que pode
encobrir algumas relações básicas.
60 • capítulo 3
Aanálisedeoutrostiposdeestruturasdemercado,naMicroecono-
miatradicional,érealizada,inicialmente,contrapondo-seàsituaçãode
concorrênciaperfeitaaoseuoposto,asituaçãodemonopólio.
Umahipóteseimplícitanocomportamentodomonopolistaéque
ele não acredita que os lucros elevados que obtém no curto prazo
possamatrairconcorrentes,ouqueospreçoselevadospossamafu-
gentarosconsumidores(namedidaemqueofertaumprodutosem
substitutospróximos).
Contudo, isto não significa que o monopolista possa cobrar o pre-
çoquedesejarpeloseuproduto,poisessepreçoencontra-se limitado
pela sua demanda (que corresponde à própria demanda do mercado)
ou,maisespecificamente,pelaelasticidade-preçodessademanda.As-
sim,seomonopolistaresolveroferecermais,opreçocairá,eseproduzir
menos,opreçosubirá.
Algunsfatorespodemserdestacadoscomorazõesparaosurgimen-
toeamanutençãodemonopólios.Essencialmente,trabalharemosno
quadroaseguircomtrêsdeles,enacontinuaçãocomoquartofator:
Causa Descrição
PATENTE
Pode conferir a uma determinada firma uma
posição monopolista, dependendo do tempo de
duração da patente no mercado em que opera.
ACESSO EXCLUSIVO
À MATÉRIA-PRIMA
O acesso exclusivo a determinada matéria-prima
essencial confere à firma uma posição de monopó-
lio no processo de fabricação.
EXPERIÊNCIA DA EMPRESA
Pode levar à consolidação de posições de mono-
pólio, devido à dificuldade que novos produtores
teriam para convencer os consumidores a adquirir
os seus produtos
Porfim,acausamaiscomumdemonopóliorefere-seàssituaçõesca-
racterizadascomomonopólionatural.Elesurgeondeaseconomiasdees-
calasãoimportantes,como,porexemplo,nocasodasempresasdetrans-
missãodeenergiaelétricae,principalmente,quandoessaseconomiasse
combinamcomummercadodedimensõeslimitadas.
Os resultados do monopólio são preços maiores e menores quanti-
dadesparaosconsumidores,oquesignificaqueomonopólioéumaes-
truturademercadoineficienteparaasociedade.Nestesentido,ateoria
microeconômicatradicionalargumentaqueapresençadeumaestrutura
CONCEITO
Monopólio
O monopólio, por si só, corresponde à
situação na qual uma empresa detém
100% das vendas de um determinado
mercado. Na condição de único produtor,
o monopolista encontra-se em posição
privilegiada, pois não concorre com ou-
tras firmas e absorve todo o mercado. O
monopólio puro também é uma situação
de mercado dificilmente encontrada no
mundo real, particularmente no caso de
mercados rentáveis operados pela ini-
ciativa privada. Situações de monopólio
puro tendem a ser mais comuns no setor
público, principalmente em setores de
serviços básicos de infraestrutura.
CONCEITO
Monopólio natural
Corresponde à situação na qual uma
única empresa pode produzir e ofertar
para todo o mercado, com um custo
médio inferior ao que existiria em uma
situação em que houvesse duas ou mais
empresas. Nessas condições, é mais
eficiente e melhor para a sociedade dei-
xar que a empresa atenda ao mercado
sozinha do que deixar outras empresas
entrarem no mercado para competir.
capítulo 3 • 61
monopolistaimpõecustossociais.Dessemodo,supondoqueumsetor
operandoemregimedeconcorrênciaperfeitafossemonopolizado,oefei-
todiretoseriaaelevaçãodopreçoeareduçãodaprodução.
REFLEXÃO
A eficiência econômica sob monopólio não é máxima, porque o monopolista não
utiliza necessariamente uma planta de produção ótima ou não produz a quantidade
ótima, dada a escala de planta existente. Por outro lado, em termos do nível de bem
-estar, é possível demonstrar que o efeito líquido do aumento do preço e da redução
da quantidade produzida, na passagem de uma situação competitiva para uma situ-
ação de monopólio, é a redução do nível geral de excedente econômico, repartido
entre excedente do consumidor e excedente do produtor.
Asduassituaçõesdistintasdeestruturasdemercadodiscutidasaté
omomento—concorrênciaperfeitaemonopólio—apresentam-seex-
cessivamente estilizadas, constituindo um quadro de referência geral
quepodeserutilizadoparaauxiliaroestudodeestruturasdemercado
maispróximasdarealidade.
Ooligopólioéumaestruturademercadointermediáriaentreacon-
corrênciapuraeomonopóliopuro,caracterizadopelaexistênciadeum
reduzido número de produtores e vendedores, produzindo produtos
quesãosubstitutospróximosentresi.
OssetoresoligopolistassãobastantecomunsnaEconomia,abran-
gendodesdebensdeconsumoduráveis,comooseletrodomésticosem
geraleosautomóveis,atébensdeconsumonãoduráveis,estandoparti-
cularmentevinculadosàmarcadoproduto.
Ainterdependênciaestratégicaentreasdecisõesdasfirmasatuan-
tesemoligopóliofazcomqueaaçãodeumaempresapossaproduzir
efeitos diretos, e muitas vezes deletérios, sobre as empresas concor-
rentes, resultando em uma possibilidade de concorrência, em algum
grau,predatóriaentreelas.Poroutrolado,hámomentosnosquaisduas
empresaspodemoptarpornãocompetire,sim,cooperar,visando,por
exemplo,evitarumaguerradepreçosentreelas.
Emparticular,quandooperampoucasempresasemummercado,
as mesmas tendem a reconhecer a interdependência estratégica e a
buscaralgumtipodecoordenaçãodassuasdecisões,visandominimi-
zaracompetição.
ATENÇÃO
A noção de conluio em oligopólio corresponde a uma situação em que duas ou mais
empresas estabelecem em conjunto os seus preços ou as quantidades produzidas,
repartindo entre si o mercado ou tomando em conjunto outras decisões produtivas.
Quando as empresas estabelecem algum tipo de conluio, em geral, elas tendem a fixar
CONCEITO
Oligopólio
O termo oligopólio significa poucos pro-
dutores, mas esse número pode ser va-
riável. O reduzido número de produtores
faz com que as ações de uma empresa
afetem diretamente as demais, carac-
terizando uma situação de interdepen-
dência estratégica entre os produtores.
Como todos os produtores são impor-
tantes, ou possuem uma parcela de
mercado (market share) significativa, as
decisões sobre o preço e a produção de
equilíbrio são interdependentes.
COMENTÁRIO
Interdependência estratégica
A interação estratégica característica
do oligopólio inspirou o desenvolvimen-
to da teoria dos jogos, uma forma de
representação das decisões das firmas
na qual a estratégia de cada empresa,
e o retorno proporcionado, depende do
comportamento dos concorrentes.
62 • capítulo 3
preços idênticos elevados, aumentando os lucros e diminuindo o risco da atividade.
Em geral, as empresas de um oligopólio tendem a estabelecer conluios no intuito de
estabelecer um preço que maximize o conjunto dos seus lucros. Na literatura microe-
conômica costuma-se atribuir a denominação de cartel a esse tipo de conluio.
Outrostiposdeestruturasdemercadoestãomaisdiretamenteasso-
ciadosàorganizaçãodosmercadosdefatores.Nocasodomonopsônio,
a estrutura de mercado é caracterizada pela existência de muitos ven-
dedoreseumúnicocomprador.Nocasodaorganizaçãodomercadode
trabalho,porexemplo,ouostrabalhadoresempregam-senomonopsô-
nio,ouprecisamtrabalharemoutraatividade.
É possível também caracterizar uma situação de oligopsônio, na
qualseobservaumpequenonúmerodefirmascompradorasdeumde-
terminadoproduto,como,porexemplo,nocasodacompradeautope-
çaspelosetorautomobilístico.
Jáasituaçãodemonopóliobilateralcorrespondeàquelanaqualse
defrontam no mercado um único produtor (monopolista) e um único
comprador (monopsonista). Nessas condições, o monopolista deseja
vender uma dada quantidade de produto por um preço relativamente
alto,eomonopsonistapretendecompraramesmaquantidadeporum
preçoomaisbaixopossível.Comoambasasposiçõessãoconflitantes,
somente a negociação recíproca permite a definição do preço. Desse
modo,opreçofinaldependerádopoderdebarganhaenegociaçãode
cadaumdosoponentes.
Seumaempresapodeinfluenciaropreçodemercadodosbensque
produz,entãoaempresaéclassificadacomoumconcorrente imperfeito.
Umacaracterísticabásicadaconcorrênciaimperfeitaéapresençadeal-
gumpoderdemercadoporpartedosprodutores,relacionadoaograude
controlequeumaúnicaempresaouumpequenonúmerodeempresas
têmsobreumpreçoeasdecisõesdeproduçãodeumramodeatividade.
No entanto, deve-se considerar, também, que o poder de mercado
poderepresentarumestímuloparaqueasgrandesempresasvenhama
explorareconomiasdeescalaeaintensificaraintroduçãodeinovações
nomercado,podendogerarganhosdeprodutividadequeimpulsionam
ocrescimentoeconômiconolongoprazo.
REFLEXÃO
Nesse sentido, uma das principais justificativas para se aceitar algum grau de con-
corrência imperfeita refere-se à constatação de que as grandes empresas são
responsáveis por grande parte dos esforços em pesquisa, desenvolvimento e inova-
ção em uma Economia moderna. Por outro lado, a concorrência imperfeita, em geral,
conduz a preços que estão acima dos custos marginais.
CONCEITO
Poder de mercado
Pode ser definido como o poder de uma
empresa de fixar preços, significativa e
persistentemente, acima do nível com-
petitivo, com efeito lucrativo. Os consu-
midores compram menos produtos do
que fariam em concorrência, pelo que a
satisfação do consumidor é diminuída.
capítulo 3 • 63
Alémdisso,àsvezes,semoincentivodaconcorrência,aqualidadedo
produtoeserviçotendeasedeteriorare,tantoopreçoelevadocomoafra-
caqualidade,sãoresultadosindesejados.Cabedestacar,também,queo
exercíciodopoderdemercadonãoselimitaàelevaçãodepreços,poden-
doenvolver,dopontodevistajurídico,oabusodaposição dominanteda
firmanomercado(contraconsumidores,empresasmenoresetc.),através
decondutasconsideradasanticompetitivasdediversostipos.
ATENÇÃO
Essas características estimulam o monitoramento dessas estruturas pela política go-
vernamental, de modo a evitar possíveis efeitos danosos sobre os níveis de eficiência
e bem-estar, através da denominada política de defesa da concorrência.
Falhas de mercado
AsanálisesdaMicroeconomiatradicionalsãoelaboradas,inicialmente,
emumcontextoondenãoháimperfeiçãonosmercados,caracterizados
deformabastanteestilizada.Noentanto,essasanálisestambémavan-
çamnosentidodaidentificaçãodealgumasfalhasdemercadoquere-
queremqualificaçõesdaquelasanálises.
Além da concorrência imperfeita, caracterizada ela própria como
falha de mercado,épossíveldestacartrêstipostradicionaisdefalhas:
externalidades,benspúblicoseassimetriasdeinformações.
Asexternalidades(oueconomiasexternas)representaminfluênciasde
fatoresexternosnoscustosdasfirmasenasatisfaçãodosconsumidores.
EXEMPLO
Por exemplo, uma empresa industrial pode emitir poluentes, causando prejuízo em
moradias da vizinhança e prejudicando a saúde das pessoas. Se a empresa não
paga por esses impactos prejudiciais, a poluição será ineficientemente elevada e o
bem-estar dos consumidores prejudicado.
Observa-se também que nem todas as externalidades são prejudi-
ciais.Algumassãobenéficas,comoasquederivamdeprogramasedu-
cacionais,daatividadededesenvolvimentocientíficooudeprogramas
desaúdepública.Aeducaçãosedestacacomocasodegeraçãodeexter-
nalidadespositivas,poisnãotrazbenefíciossomenteparaaquelesindi-
víduosquearecebemdiretamente,masparatodaacoletividade,pois
indivíduosmaiseducadoscuidammelhordasaúde,dirigemcommais
cuidado,sãomaisprodutivosetc.
CONCEITO
Falhas de mercado
Essas falhas ocorrem quando o merca-
do, por si mesmo, fracassa em alocar
recursos de forma eficiente e os preços
podem não estar refletindo os reais inte-
resses da sociedade. Quando o merca-
do falha, o governo pode intervir a fim de
promover eficiência e o bem-estar geral.
64 • capítulo 3
ATENÇÃO
De uma forma geral, na presença de externalidades negativas, o governo deverá agir
de modo a provocar desestímulos às atividades causadoras de perda de bem-estar.
Já no caso de externalidades positivas, o governo deverá agir no sentido de estimu-
lar a atividade produtora de melhorias de bem-estar.
Um segundo tipo de falha de mercado refere-se à provisão de bens
públicos.Essaprovisãoéconsideradaumafalhademercadoporenvol-
verumaclassedebensquenãopodesergarantidapelomercado,em
função de determinadas características, tornando sua oferta possível
somentepeloEstado.Nessesentido,duascaracterísticasdosbenspú-
blicospodemserdestacadas:
1) o seu caráter não exclusivoIdentificado quando seu consumo não pode ser impedido, mesmo para
aqueles indivíduos que eventualmente não pagaram por ele, como no
caso da segurança, justiça e iluminação pública.
2) o seu caráter não disputável (ou não rival)Identificado quando o seu consumo não repercute na indisponibilidade
do mesmo bem para outras pessoas, possibilitando que o mesmo seja
consumido por vários indivíduos simultaneamente, como também ocorre
nos casos da iluminação pública e da segurança.
Nessascondições,torna-seimpraticávelqualquertentativadeimpe-
dirquedeterminadaspessoasnãousufruamobemouserviçoemques-
tão,poisocustodeexclusãodonãopaganteseriaextremamenteeleva-
do.Poroutrolado,aprincipaldificuldadeencontradapelomercadona
provisãodebenspúblicosrefere-seaoproblemadofree rider(carona),
identificadocomoumindivíduoqueusufruiumbemdeformadescon-
trolada, mesmo não tendo pago por ele, cuja exclusão do mercado se
mostraextremamentedifícileonerosa,oquedesestimulaoprovimento
dessesbenspelosetorprivadoejustificaseufornecimentopeloEstado.
Umterceirotipodefalhademercadorefere-seaumcontextodeinfor-
maçãoimperfeita,quesecontrapõeàvisãotradicionaldequeoscompra-
doresevendedorestêminformaçãocompletaacercadosbenseserviços
quecompramevendem.Emparticular,aassimetriadeinformaçõescons-
tituiemumaviolaçãodahipótesedequetodososagenteseconômicos
possuemplenoconhecimentodomercado(ouinformaçõessimétricas).
Nessescasos,umadasfunçõesdogovernoéidentificaraquelasáreasem
queasdeficiênciasdeinformaçãosãoeconomicamentesignificativas-como
nocasodemedicamentoseseguro-saúde-eencontrarsoluçõesapropriadas.
CONCEITO
Assimetria de informações
A assimetria de informações reflete os
diferentes graus de conhecimento entre
compradores e vendedores, que pode
resultar em um maior benefício para
uma das partes envolvidas em uma tran-
sação ou um contrato, em detrimento da
outra. Quando isso ocorre, identifica-se
a possibilidade de perdas de eficiência.
capítulo 3 • 65
Da Microeconomia tradicional para a organização industrial
AOrganizaçãoIndustrialestrutura-secomodesdobramentodaMicroeconomiatradicio-
nal,tendocomofocoaanálisedasestruturasdemercadosapartirdeumforteembasa-
mentoempíricoedatentativadecaptardeformamaisfidedignaacomplexidadedasdeci-
sõesempresariaiseascondiçõesconcretasdaconcorrênciaquevigoramemcadacontexto.
Nessesentido,elapodeserdefinidacomoaaplicaçãodaMicroeconomiaàanálisedasfir-
mas,mercadoseindústrias.
ATENÇÃO
Envolve, portanto, o estudo dos fatores determinantes da formação de diferentes estruturas industriais e
de suas transformações ao longo do tempo, bem como o estudo das decisões e estratégias empresariais,
em um ambiente caracterizado por incerteza e informação imperfeita (limitada).
Umaspectocentraldessetipodeabordagemrefere-seàbaseempíricadateoria,discu-
tindo-secomoocomportamentoeaperformancedasfirmasemercadospodemserexpli-
cadoseprevistoscombaseemdadosobservados.Emparticular,asanálisesnessecampo
buscamaplicarateoriamicroeconômicaeoinstrumentaleconométricoparaanalisarfir-
masemercados,assumindoqueasformulaçõesteóricaseotrabalhoempíricosãoigual-
menteimportantesparagerarresultadosrelevantes.Observa-setambémumapreocupação
particularcomaformacomoaintervençãogovernamentalinfluenciaocomportamentoda
firmaeaperformancedomercado.
REFLEXÃO
Em termos do objeto e escopo da Organização Industrial, verifica-se uma ampliação do foco em
relação à Microeconomia tradicional, abandonando-se a ênfase em mercados de competição pura
e voltando-se para o estudo de situações onde os mercados apresentam falhas relativamente gene-
ralizadas, em um contexto no qual os mercados oligopolizados constituem a regra e não a exceção.
Além disso, como os oligopólios variam substancialmente, seria importante considerar e descrever as
características estruturais dessas indústrias.
Nessasanálises,asfirmasapresentam-seheterogêneasentresi,nãoapenasemtermos
detamanhoerentabilidade,comotambémemtermosdediversasoutrasdimensões,como
tiposdeprodutos,processosprodutivos,formasorganizacionais,marcas,localização,redes
dedistribuiçãoetc.Alémdisso,observa-sequedeterminadasfirmassãocapazesdesustentar
lucrosacimadamédiadaindústria,apresentandoumavantagem competitivaemrelaçãoaos
concorrentes,cujafonteétipicamentealgumrecursooucompetênciadifícildeimitar(tec-
nologiasparticulares,segredosdemercados,marcasetc.).
AelaboraçãodeanálisesqueutilizamcomoreferênciageralodenominadomodeloEs-
trutura-Conduta-DesempenhoébastantecomumnocampodaOrganizaçãoIndustrial.
Aestruturademercadodepende,incialmente,dascondiçõesessenciaisdademanda
66 • capítulo 3
edaoferta.Nocasodascondiçõesdademanda,destacam-seaelasti-
cidade-preço,aselasticidadescruzadaseatendênciadecrescimento
domercado,entreoutros.Nocasodaoferta,épossíveldestacaralo-
calização e posse de fontes de matérias-primas, as características da
tecnologia,aaçãodossindicatos,easpectoslegais,políticoseéticos
vinculadosàprodução.
ATENÇÃO
Na análise estrutural de um mercado, particular ênfase é atribuída ao grau de
concentração da oferta, ao grau de diferenciação do produto e à natureza das
barreiras à entrada.
Notocanteàcondutadosagentes,procura-sediscutircomoospreçossão
fixados,aestratégiadedesenvolvimentodoprodutoemarketing,ocompor-
tamentolegaldasempresasesuasestratégiasdecrescimento,inclusiveno
queserefereàexpansãoparanovosmercados,viadiversificação.
Emtermosdodesempenho,apreocupaçãorecainaanálisedaefici-
ência,equidade,criaçãodeempregosequalidadedoproduto.
Emespecial,asanálisesdesenvolvidasnocampodaOrganizaçãoIndus-
trialatribuemparticularimportânciaaoimpactodapresençadebarreiras
àentrada sobreascondiçõesefetivasdaconcorrênciaemcadamercado.
ATENÇÃO
As principais fontes de barreiras à entrada, de natureza estrutural, mencionadas pela
literatura são as seguintes:
1) economias de escala de natureza técnica ou pecuniária;
2) vantagens absolutas de custos;
3) vantagens de diferenciação de produtos;
4) requisitos mínimos de capital;
5) economias de escopo.
Poroutrolado,alémdasbarreirasestruturais,relacionadasàscondi-
çõesobjetivasdaproduçãoemdeterminadaindústria,comparativamen-
teàsfirmasentrantes,épossívelmencionartambémbarreirasàentrada
de natureza estratégica, baseadas principalmente em sinalizações das
firmasestabelecidasnotocanteaoseupadrãoderesposta,oureação,à
possibilidadedeentradadenovasfirmasnomercadoemqueoperam.
No âmbito da Organização Industrial, a análise do processo de to-
mada de decisões da firma, em mercados oligopolistas, recai, neces-
sariamente,nadiscussãodoambienteemqueelaseinsere,poisasua
interpretaçãodesseambiente,edeseusconcorrentes,condicionaoseu
processodetomadadedecisões.
COMENTÁRIO
Barreiras à entrada
Essas barreiras são relacionadas a fa-
tores que dificultam a entrada de novas
empresas em uma determinada indús-
tria. Quando essas barreiras são eleva-
das, uma indústria tende a ter um núme-
ro pequeno de empresas e uma pressão
reduzida para competirem. A presença
de barreiras à entrada de concorrentes
potenciais em um mercado oligopolista
permite às empresas mais bem situadas
praticarem preços acima do nível com-
petitivo, embora, em geral, abaixo do ní-
vel de maximização de monopólio.
capítulo 3 • 67
ATENÇÃO
Dependendo do modelo de análise, o ambiente econômico em que ocorre o processo de tomada de
decisões pode ser considerado como uma variável endógena, na medida em que uma decisão da firma
poderá resultar em mudanças nesse ambiente em que atua.
Aspectos políticos, institucionais, legais e sociais se somam às características específi-
casdomercadodeformaadelimitaroambienteconcorrencialnoqualafirmaopera.Desse
modo,oambienteconcorrencialéconstituídohistoricamenteapartirdasinteraçõesentre
agentesedamediaçãodeinstituições,validandoasdecisõestomadasnopresenteepropor-
cionandoumabaseparaaformaçãodeexpectativaquantoaofuturo.
Nessecontexto,asdecisõesdasempresas,aocontráriodopropostopelaMicroecono-
mia tradicional, não são uniformes, baseando-se em uma racionalidade essencialmente
complexa,quelhespermitaidentificar,hierarquizareinterpretaroambientecompetitivo
emqueoperam,combasenassuasexpectativaseconsiderandoasincertezasinerentesao
processoconcorrencial.
REFLEXÃO
A empresa traduz esse processo na sua estratégia, procurando, a partir da mesma, se posicionar no ambiente
em que opera, visando explorar oportunidades que surgem em função de mutações econômicas. Desse
modo, a estratégia competitiva da firma pode ser definida como a sua capacidade de estabelecer formas de
ações planejadas e deliberadas a partir da compreensão do seu objetivo e de suas características, aliada à
flexibilidade para compreender o ambiente e a sua estrutura de mercado.
Nessaperspectiva,aestratégiacompetitivanãoéumconceitoestanque,alterando-see
adaptando-seaoambienteevariandodeempresaparaempresa,emfunçãodesuascapa-
citaçõesecompetências.Acapacitaçãodafirmaéentendidacomoumconceitoabsoluto,
estandoassociadaàshabilidadesparaproduzirumproduto.Jáanoçãodecompetência
consideraashabilidadescomoalgorelativo,sendodeterminadaapartirdeumpadrãopar-
ticulardeproduçãodemercado.
70 • capítulo 4
4 Abordagem macroeconômica
Por que precisamos de uma teoria macroeconômica? A ideia intuitiva é
simples:resultadosagregados,ouseja,paratodaaEconomia,nemsempre
correspondemàquiloqueagenteseconômicosindividuaisplanejaram.
Justamenteporquedesapontamentosemrelaçãoaoqueseriaespe-
rado ocorrem, a teoria econômica identifica a Macroeconomia como
umcampodeestudopróprio,cujoobjetoéexplicarcomoosdesdobra-
mentosdedecisõesindividuaisnoagregadoresultamemflutuaçõesdo
níveldeproduto,preçoseempregonocurtoprazo.
ATENÇÃO
Entende-se que flutuações reduzem o bem-estar da população; portanto, devem ser
evitadas ou, no mínimo, suavizadas.
Neste capítulo, vamos apresentar os principais conceitos e relações
paraentenderofuncionamentodeumaEconomiademercadonocurto
prazo.Comoomecanismodefuncionamentodessaseconomiasapresen-
taimperfeições,háespaçoparagovernosatuaremnosentidodepromo-
verocrescimentocomestabilidadedepreçosecomgeraçãodeempregoe
renda.Nocapítulo5serãodiscutidaspolíticasmacroeconômicas.
Estecapítuloestáorganizadoemduaspartes.Iniciamoscomaapre-
sentação das principais estatísticas das contas nacionais, ou seja, os
agregados macroeconômicos, incluindo os registros da Economia na-
cionalcomorestodomundo.Nasegundapartetratamosteoricamente
dosprincipaistemasdateoriamacroeconômica:oquedeterminaoní-
veldeproduto,empregoeinflação.
O sistema de contas nacionais e os agregados macroeconômicos — Parte 1
ParaoestudodaMacroeconomiaénecessárioconstruirestatísticas
que agreguem informações sobre variáveis de interesse. Essas esta-
tísticassãoobtidas,emgrandeparte,atravésdosistemadecontabi-
lidadenacional(SCN).
Comoumafotografia,oSCNpermitequeseanaliseoobjetoretrata-
dosobváriosânguloseemváriosgrausdedetalhamento.Umângulode
análisebastanteusualéacomparaçãodedesempenhodegrandesseto-
resdeatividade,comoagropecuária,indústriaeserviços,porexemplo.
CONCEITO
Sistema de contabilidade nacional
O SCN é, como o próprio nome sugere,
um sistema contábil que apresenta uma
espécie de fotografia bem detalhada da
Economia em um determinado período
de tempo. Esse sistema é elaborado, em
geral, pelo órgão central de estatística
dos países, no caso do Brasil, o IBGE.
capítulo 4 • 71
ATENÇÃO
Em termos de detalhe, neste ângulo é possível comparar, dentro de cada setor de
atividade, ramos produtivos específicos, como a produção de algodão, o refino de
petróleo etc.
Outroângulodeanálise importanteéacomparaçãododesempenho
degruposdeagenteseconômicosdenominadossetoresinstitucionais(em
contraposição a setores de atividade), para identificar qual é o que mais
contribuiparaocrescimentoemdeterminadoperíododetempo.Emter-
mosdedetalhe,nessecaso,épossívelsaberquantoasfamíliasrecebemde
salário,quantotransferemnaformadeimpostosparaogovernoetc.
Fluxo e estoque
Osregistroscontábeisdascontasnacionaisacompanhamvariáveis(por
exemplo: salários pagos, receitas auferidas, riqueza, dentre inúmeras
outras)quepodemserdefluxooudeestoque.
Para entender a distinção entre ambas basta considerar que vari-
áveisdeestoquesãoaquelasreferenciadasaumpontonotempo,por
exemplo,em31dedezembro.Alteraçõesemvariáveisdeestoqueentre
umperíodoeoutroocorremporvariáveisdefluxo.
EXEMPLO
Por exemplo, a renda que uma pessoa (economistas referem-se a agentes econô-
micos) recebe, como a remuneração por seu trabalho, corresponde a um fluxo. Se
o fluxo de renda ao longo do período é maior do que os seus gastos, então é de se
esperar que o seu estoque de riqueza (patrimônio) em uma data ao final do período,
quando comparado com a data de final do período anterior, aumente.
Outro exemplo é a variação no fluxo de investimento produtivo em
umperíodo,porumaempresa,pelacompradenovasmáquinaseequipa-
mentos.Ofluxodeinvestimentoprodutivoaolongodotempodeveimpli-
car,aofinaldeumperíodo,umavariaçãonoseuestoquedecapital.
ATENÇÃO
A importância da distinção entre variável de fluxo e de estoque ficará clara quando
entendermos que o Produto Interno Bruto, o principal agregado macroeconômico, é
uma medida de fluxo.
COMENTÁRIO
Setores institucionais
Por exemplo, famílias, governo, empre-
sas e setor externo.
72 • capítulo 4
Produto Interno Bruto (PIB)
AprincipalmedidaestatísticaderivadadoSCNéoProdutoInternoBruto
(PIB).Estadefinição,mesmoresultandonaformamaiscompletaeabran-
gentedesemediroportedeumaEconomia,excluidocálculodoproduto
agregado,pelomenos,osseguintesaspectosdaatividadeeconômica:
ATENÇÃO
Aspectos da atividade econômica excluídos do cálculo
a) produção de bens e serviços para consumo próprio, pois não se atribui valor de
mercado a ela (por exemplo, se um agente faz suas refeições em casa, não entra no
cálculo do PIB; porém, se faz em um restaurante, entra);
b) transações de compra e venda envolvendo a transferência de bens produzidos em
períodos anteriores, como, por exemplo, a venda de bens de segunda mão, pois não
agregam valor no período;
c) esgotamento de recursos naturais não renováveis, que são utilizados na produção
de bens, ou seja, não se considera a produção de recursos naturais dentro da fron-
teira de produção (ver Capítulo 1).
Ascontasnacionaistambémapresentaminformaçõessobreestatísticas
econômicasapreços constantes.Issoénecessárioporque,deumperíodo
aoutro,nãosóasquantidadesproduzidasvariam,mastambémospreços.
REFLEXÃO
Quando se faz comparação entre períodos de tempo, por exemplo, o aumento do
PIB em 2013 em relação a 2012, o interesse maior é pelo aumento em termos de
quantidades (na expressão das contas nacionais, em volume). Ou seja, o efeito da
variação dos preços deve ser descontado.
DadaadefiniçãodePIB,devemoscompararestamedidacomoconceito
deriqueza.SeráqueumaumentonoPIB(desconsiderandoainflação)sem-
prerepresentaumavançodaEconomianosentidodetorná-lamaisrica?
Observeque,pelaformacomooPIBémedido,nemsempreumau-
mentonessamedidaimplicaqueaEconomiatenhadefatoprogredido
noperíodo.ParaqueumaumentonoPIB,umavariáveldefluxo,repre-
senteumaumentoderiquezadopaís,sendoariquezaumavariávelde
estoque,énecessárioqueoestoquetambémaumenteemrelaçãoaope-
ríodoanterior.Nemsempreissoocorre.
EXEMPLO
Suponha que ocorra uma catástrofe natural na Economia, como um terremoto de
grandes proporções. O PIB no período deverá aumentar pelo aumento das obras de
CONCEITO
Produto Interno Bruto
O PIB de um país ou região representa
a produção de todas as unidades pro-
dutoras da economia (empresas públi-
cas e privadas produtoras de bens e
prestadoras de serviços, trabalhadores
autônomos, governo etc.), em um dado
período (ano ou trimestre, em geral), a
preços de mercado.
capítulo 4 • 73
reconstrução, dos serviços gerados pelo apoio e reconstrução etc. Esses registros correspondem a um
aumento no fluxo de produção de bens e serviços para atender a uma demanda atípica, gerada em conse-
quência do terremoto. No entanto, no caso do terremoto, o estoque de riqueza terá diminuído em relação
ao período anterior, pela destruição causada em construções já existentes, por exemplo.
Outroexemplopodeserdadoemrelaçãoaoestoquedasriquezasnaturais.Nestecaso,
comooPIBnãoconsideraaexaustãoderecursosnãorenováveis(porexemplo,exaustão
dasminasdeumrecursomineralouaextraçãonãomanejadademadeiraemflorestasna-
tivas),aEconomiadeumpaíspodecrescerporqueaumentaaexploraçãodessesrecursos.
Porém,comooestoquedessariquezaestádiminuindo,ocrescimentofuturodaEconomia
estáameaçado(verCapítulo6paraoconceitodedesenvolvimentosustentável).
RESUMO
Em resumo, as transações econômicas, objeto de acompanhamento sistemático para a construção da con-
tabilidade de um país ou região (as contas nacionais), são as que têm origem na atividade de produção de
bens e serviços em um período de observação aos quais se possa atribuir um valor monetário (um preço).
Fluxo, Estoque, Produto Interno Bruto e Produto Interno Líquido
Na mensuração do Produto Interno Bruto não se considera o desgaste do estoque de
riquezadaEconomia.QuandodefinimosamedidadoPIB,incluímostodososbense
serviçosproduzidosemumperíodo.Noentanto,hábens,comoasmáquinas,osequi-
pamentos,emresumo,oschamadosbensdecapital,quetêmumadurabilidademaior
doqueoperíododeobservação.
RESUMO
Ou seja, são utilizados no processo de produção hoje, mas foram produzidos em períodos anteriores e
continuarão sendo usados em períodos futuros.
Nessescasos,apenasumapartedessesbensépassadaaoprodutofinal,querepresenta
oseudesgastepelouso.Essedesgastereduzovalordobemdecapitale,portanto,oesto-
quederiquezadoseuproprietário.
Assim,omelhorconceitoparaseavaliarodesempenhodaEconomiaemumperíodo
éoproduto agregadolíquido,quelevaemcontaodesgastefísicodoestoquedecapitale,
também,aobsolescênciadasmáquinaseequipamentos.
ATENÇÃO
Assim, os estoques de bens acumulados ao final de um determinado período só podem ser conside-
rados como adição de riqueza à Economia como um todo, quando tratados em termos de variações
líquidas em relação ao período anterior. Se ocorre uma variação negativa nos estoques, ou seja, o
74 • capítulo 4
que houve de desgaste foi superior à adição de novos bens de capital, é porque houve uma perda de
riqueza, diminuindo a renda da Economia no período.
As diferentes óticas de mensuração do produto da Economia
PelaenormedificuldadeemsecalcularodesgastedoestoquedecapitaldaEconomia,a
medidapadrãoparaseacompanharaevoluçãodaEconomia(eparacomparaçõesinterna-
cionais)éoPIB.OPIB,porserderivadodeumsistemacontábil,podesermedidoportrês
óticasdiferentes:óticadoproduto,óticadarendaeóticadadespesa.
Ótica do produto
OPIB,pelaóticadoproduto,medeovaloragregado,ouvalor adicionado,emcadaetapado
processodeproduçãodebenseserviços.Pelanaturezadamedida,asinformaçõesextraí-
dasparaaconstruçãodesseagregadovêmdasunidadesprodutoras(firmas).Entretanto,
ovaloradicionadonãoéumamedidaobservadadiretamentedacontabilidadedasfirmas.
Paraentenderamedidadovaloragregado,ouadicionado,vamosdarumexemplo.
Cenário
Considere a produção de massas alimentícias por uma firma industrial. A quantidade de massa
produzida em um ano, multiplicada pelo preço de venda de mercado, fornece a medida do valor da
produção da firma no ano.
Situação
Suponha que a firma produziu 500 quilos de massas no ano, ao preço médio de R$2,00 o quilo.
Logo, o valor da produção da firma no ano será de (500*R$2,00) R$1.000,00.
Problema
Como medir a contribuição da firma para o PIB do país? Se considerarmos a medida de valor da
produção (R$1.000,00), ao somarmos os resultados do valor de produção de todas as firmas,
estaremos incorrendo em dupla contagem. A razão é simples: na produção de bens são utilizados
insumos, ou seja, bens que são produzidos por outras firmas para serem processados na fabrica-
ção de outros bens.
Explicação do problema
Por exemplo, para produzir massas alimentícias, utiliza-se farinha de trigo, dentre outros insumos
que devem ser adquiridos de outra firma. Assim, se simplesmente somarmos o valor de produção de
todas as firmas na economia (no exemplo, produtora de massas e produtora de farinha de trigo) para
se estimar o quanto foi produzido em um período, a produção total do país estará superestimada.
ParachegarmosàrealcontribuiçãodecadafirmanoPIBdaEconomia,devemosdes-
contardovalordaproduçãodecadafirmaoquefoiadquiridodeoutrasfirmas,ouseja,o
consumointermediário.Dessaforma,estaremosconsiderandoaquiloquecadafirmaagre-
gadevalorduranteoseuprocessodeprodução.
capítulo 4 • 75
EXEMPLO
Prosseguindo no exemplo, suponha que a firma compre o equivalente a R$300,00 de farinha de trigo
para produzir os 500 quilos de massa. Logo, o valor adicionado (ou agregado) da firma produtora de
massas alimentícias no ano terá sido de R$700,00 (R$1000,00 menos R$300,00). Essa é a sua
contribuição ao PIB, e não R$1.000,00.
Chegamosentãoaumaconclusãoimportante:amedidarelevanteparaavaliaroesforço
produtivodeumpaísemumperíodoéasomadovaloradicionadoouvaloragregadodas
firmas,ouseja,asomadoquecadafirmaagregadevalornoseuprocessodeprodução.As-
sim,paraaEconomiacomoumtodo,asomadosvaloresadicionadosdecadafirmatotaliza
oagregadoPIBpelaóticadoproduto.
RESUMO
ÓTICA DO PRODUTO VALOR DA PRODUÇÃO VALOR DOS CONSUMOSINTERMEDIÁRIOS
Ótica da renda
Comotodaproduçãoempregarecursosprodutivos(simplificadamente,podemoscitarcapi-
taletrabalho),essesrecursosdevemserremunerados.Sesomarmostodosospagamentos
efetuadosatítuloderemuneraçãodosfatoresdeproduçãonaEconomia,chegamostambém
aumamedidadoesforçodeproduçãodaEconomiaemumperíodopelaóticadarenda.
RESUMO
Ou seja, a medida do PIB, pela ótica da renda, consiste em somar todos os pagamentos efetuados, como
lucro (remuneração ao capital de risco), juros (remuneração ao capital de empréstimo), aluguéis (remune-
ração pela propriedade) e salários (remuneração pelo trabalho).
Ditodeoutraforma,porestaóticaépossívelvercomosedáarepartiçãodoprodutoem
umperíodo,entreosparticipantesdoprocessodeprodução.Porexemplo,qualaparcela
apropriadapelostrabalhadorescomsalários,pelosempresárioscomlucrosetc.
RESUMO
ÓTICA DA RENDA SOMA DAS REMUNERAÇÕES DOS FATORES DE PRODUÇÃO
Ótica da despesa
Porfim,amensuraçãodoPIBpelaóticadadespesaconsideraque,emcontasnacionais,
76 • capítulo 4
todaproduçãodebenseserviçosédestinadaparagastocorrente(con-
sumo)ougastoemformaçãodecapital(investimento).
AmedidadePIBpodeserobtida,então,pelasomatotaldosgastosdos
agentes econômicos em consumo de bens e serviços e em investimento
paraampliaçãodecapacidadeprodutivaoumanutençãodoequipamento.
RESUMO
ÓTICA DA DESPESA SOMA DOS GASTOS COM BENS DE
CONSUMO FINAL E BENS DE INVESTIMENTO EM CAPITAL
Combasenestaprimeiraapresentação,podemosconcluirque,em
contasnacionais:
RESUMO
PRODUTO RENDA DESPESA
Arigor,paraqueissosejaobservadonaprática,énecessárioqueamen-
suraçãopelas3óticassejafeitaaosmesmospreços.Considereaóticada
renda,queéasomadasremunerações.Sobreestasincidemimpostosdife-
rentesdosqueincidemsobreosbenseserviçostransacionadosnomerca-
do.Assim,énecessárioqueajustesemtermosdosimpostossejamconside-
radosparaseobteromesmovalordoPIBporcadaumadas3óticas.
PIB e PIB per capita
Umadasformasdeseinferirsobreopadrãodevidadapopulaçãode
umpaísépormeiodo PIBpercapita,obtidoquandodivididooPIB
do ano pela população residente no mesmo período (considera-se a
populaçãoem1dejulho).
Apesardebastantedivulgada,essamedidapodenãoserconsidera-
daumarepresentaçãosatis-
fatória do nível de qualida-
de de vida, pois o conceito
de PIB, sendo uma medida
devaloragregadoqueresul-
ta da atividade produtiva,
desconsidera,porexemplo,
otempogastocomolazer.Assim,seashorasdelazersereduzem,o
PIBpodeaumentar,masaqualidadedevidanão.
CONCEITO
PIB per capita
É uma medida de renda média da po-
pulação, bastante utilizada em compa-
rações entre países e regiões para se
classificar as economias segundo o
grau de desenvolvimento. Também é
muito utilizada para avaliar o progresso
dos países ao longo do tempo.
Será que um aumento no PIB (desconsiderando a inflação) implica que os habitantes da Economia estão mais ricos?
capítulo 4 • 77
EXEMPLO
Outra razão está ligada à medida estatística que o PIB per capita representa. O PIB per capita mede a ren-
da média da população. Por exemplo, suponha a população de um país composta por uma pessoa ganhan-
do R$2000,00 por ano, e nove ganhando R$100,00 por ano, que corresponde ao salário mínimo do país.
Observe que a renda média neste caso é de R$290,00 (R$2000,00+9*R$900,00)/10) e está bem acima
do salário mínimo, portanto, pode ser considerada elevada. Porém, claramente, a renda média está longe
de revelar alguma coisa sobre as condições de vida da maioria da população dessa Economia hipotética.
AEconomiabrasileiraapresentaumadistribuiçãoderendamuitoconcentrada,e,por-
tanto,oPIBper capitaestálongederepresentarumpadrãodevidatípicodobrasileiro.Isto
querdizer,porexemplo,quepaísescomrendasper capitapioresdoqueadoBrasilpodem
oferecerumpadrãodevidamelhorparasuapopulação,seasuadistribuiçãoderendafor
menosdesigual.Essetemaseráretomadonocapítulo6,comaapresentaçãodoíndicede
Ginieoíndicededesenvolvimentohumano(IDH).
REFLEXÃO
Mesmo com as limitações conceituais apontadas anteriormente, a taxa de crescimento do PIB per capita
é uma medida importante para qualificar o crescimento do PIB ao longo do tempo.
ObservenaTabelaaseguirqueataxadecrescimentodoPIBpodeserpositiva,masa
taxadecrescimentodoPIBper capita,negativa,seocrescimentodoprodutodaEconomia
forinferioraocrescimentodapopulaçãonoano.
Brasil: Taxa de crescimento real do PIB, população residente e PIB per capita %
PIB Pop. Residente PIB per capita
2001 1,3 1,5 -0,2
2002 2,7 1,5 1,2
2003 1,1 1,5 -0,3
2004 5,7 1,5 4,2
2005 2,9 1,4 1,5
2006 4,0 1,2 2,7
2007 6,1 1,1 4,9
2008 5,2 1,1 4,1
2009 (-)0,3 1,0 -1,3
Fonte: IBGE, Contas Nacionais, 2011.
Essasituaçãoindica,possivelmente,queataxadedesempregoaumentouaolongo
doperíodo.Assim,sucessivosperíodosdebaixocrescimentodoPIBpodemsignificar
umempobrecimentodapopulaçãodeumpaísouregião.ObservetambémqueoPIBde
umpaíspodecaireoPIBper capitaaumentar,seapopulaçãoestiverdecrescendomais
rápidodoqueaquedanoPIB.
78 • capítulo 4
Renda Nacional Bruta e demais agregados
OPIB,comovimos,medeoesforçodeproduçãoemumpaísemdeter-
minado período de tempo. No entanto, a remuneração aos fatores de
produçãocorrespondenteaoesforçodeprodução(medidadoPIBpela
ótica da renda) pode não ficar no país, se a propriedade dos recursos
produtivosfordenãoresidentes.
AlémdoPIBedoPIBper capita,outroagregadodegrandeinteresseé
aRenda Nacional Bruta(RNB).Assim,oPIBdeumpaísconsideratoda
aproduçãoemumterritório, independentedaorigemdorecurso,ea
RNBconsideraaremuneraçãoàproduçãoapenasaosresidentes.Dessa
forma,paradistinguiroconceitodePIBdodeRNB,énecessáriointro-
duziranoçãoderesidência.
EXEMPLO
Por exemplo, suponha uma firma de engenharia brasileira que realize uma obra em
país estrangeiro. Os pagamentos de rendas a brasileiros (salários, lucros) dessa firma
no exterior são contabilizados na conta da RNB do Brasil, porém não no PIB do Brasil.
AregraparadoPIBsechegaràRNBdeumpaísé,primeiro,calcular
adiferença,ouseja,osaldoentreospagamentosderendas recebidas do
exterior e o pagamento das rendas enviadas ao exterior.Emseguida,pro-
cederaoajustedaseguinteforma:seosaldoforpositivo,ouseja,seo
paísrecebemaisrecursoscomorendadoquepaga,entãosesomaao
PIBparaseobteraRNB;seosaldofornegativo,ouseja,opaísenviaao
exteriormaisrecursoscomorendadoquerecebe,entãosubtrai-sedo
PIB,e,nestecaso,aRNBserámenordoqueoPIB.
REFLEXÃO
Esse é o caso do Brasil em quase toda sua história, assim como da larga maioria dos
países em desenvolvimento. Economias desenvolvidas, como a americana, ao con-
trário, apresentam RNB maior do que o PIB, pois o saldo das rendas líquidas (rendas
recebidas menos rendas enviadas) é positivo.
Oagregadodarendanacionaldevesofrermaisumajusteparasede-
duzira RendaDisponívelBruta (RDB).Assim,depoisdefeitooajuste
noPIBparaseobteraRNB,énecessárioaindaconsiderarrecebimentos
epagamentosrealizadosatítulodetransferências unilaterais correntes,
entreresidentesenãoresidentes,parasechegaràRDB.
São consideradas transferências correntes toda movimentação de
recursosentrepessoas(agenteseconômicos)epaíses,semcontraparti-
dacomoprocessodeprodução(porexemplo,remessaerecebimentode
recursosentregovernoseresidentes,remessadeimigrantesparasuas
CONCEITO
Residência
Em linhas muito gerais, são conside-
rados residentes aqueles que têm seu
foco de interesse econômico em um
país ou região. Na prática, isto impli-
ca que a produção de estrangeiros no
Brasil conta no PIB, mas não na RNB.
A produção de brasileiros no exterior
conta como PIB do país estrangeiro e
na Renda Nacional do Brasil.
CONCEITO
Renda Disponível Bruta
É a RDB que informa quanto os residen-
tes do país ou região, de fato, dispõem
para gastar em consumo final (conceito
importante para o modelo teórico ma-
croeconômico, a ser visto mais adiante),
no final de um período.
capítulo 4 • 79
famíliasnopaís,doações,herançasetc.).Paísesouregiõesmuitopobres
recebemmuitastransferências,sendo,muitasvezes,essefluxomonetá-
rioquemovimentaaEconomialocal.
EXEMPLO
Para dar um exemplo em relação ao efeito de transferências de renda em uma
região, considere um município brasileiro muito pobre cuja maioria da população
receba transferência de renda do governo pelo programa Bolsa Família. Muito pro-
vavelmente, os gastos de consumo das famílias nesse município, ou seja, o que mo-
vimenta a atividade de comércio, serão realizados em maior escala com os recursos
do Bolsa Família, e não com recursos gerados pela atividade produtiva da região.
Paradaroutroexemplo,considereumaEconomiaouregiãomuitopo-
bre,ondeosjovensseachemsemperspectivasedecidambuscarmelho-
resoportunidadesemoutrolugar,ouseja,queemigrem.Suponhaainda
que,umavezestabelecidosemregiõesmaisricas,comecemaajudarsuas
famíliasqueficaramnaregiãodeorigem(transferênciasentrepessoas).Da
mesmaformaquenoexemploanterior,asajudasfinanceirasenviadascor-
respondematransferênciasderenda,queirãoinfluirnoníveldeconsumo
dasfamíliasrecebedorasenasdespesasdeconsumoefetuadasnaregião.
Conhecidososprincipaisagregadosdeprodutoerenda,oSCNper-
mitecalcularaPoupançaBrutadaEconomianoperíodo.APoupança
BrutaéobtidapeladiferençaentreaRDBeoConsumoFinal.Oresulta-
dodessasequênciadeagregados,considerandoaEconomiadeumpaís,
échegarnamedidadapoupançacomoumresíduo,queéoquesobra
darendadisponíveldepoisdedescontadososgastoscomoconsumo.
RESUMO
Para fixar os conceitos vistos até agora, podemos escrever considerando a Econo-
mia de um país:
PIB Valor da produçãoValor dos consumos
intermediários
RNBSoma das remunerações dos
fatores de produção pagas a residentes
RDB menos Consumo (Famílias e Administrações Públicas)
RDB RNBTransferências
correntes
Recursos disponíveis para consumo final
(Famílias e Administrações Públicas)
POUPANÇABRUTA
CONCEITO
Poupança Bruta
O conceito de Poupança Bruta revela
o quanto da renda gerada pelo esfor-
ço produtivo da economia em um dado
período não foi consumido imedia-
tamente, ou seja, não foi destinado a
gastos correntes.
80 • capítulo 4
APoupançaBrutadeve,porfim,sercomparadacomoquefoigasto
paraampliaracapacidadedeproduçãonofuturopróximo,ouseja,com
aFormaçãoBrutadeCapital(FBC).
CasoaPoupançaBrutasejamaiordoqueaFBC,diz-sequeaEco-
nomiaécredoralíquidaemrelaçãoaorestodomundo,poisgerouum
excedentequepodeemprestaraoutraseconomias.Nessecaso,aEco-
nomiaapresentaumaCapacidade Líquida de Financiamento.Casocon-
trário, Poupança Bruta menor que a FBC, a Economia deve absorver
poupançadorestodomundo,istoé,poupançaexterna,ediz-sequetem
umaNecessidade Líquida de Financiamento,estando,portanto,emuma
posiçãodedevedoralíquidaemrelaçãoaorestodomundo.
RESUMO
Assim, podemos escrever:
FBCCAPACIDADE DE
FINANCIAMENTO LÍQUIDO
FBCNECESSIDADE DE
FINANCIAMENTO LÍQUIDO
POUPANÇABRUTA
POUPANÇABRUTA
A igualdade contábil entre poupança (interna + externa) e investi-
mento(FBC),considerandoaorigemdapoupança,éespecialmenteim-
portanteparaaanálisemacroeconômica,poisrevelaaposiçãodaEco-
nomiaemrelaçãoàsdemaisdorestodomundo.
Economias que sistematicamente apresentam necessidade de ab-
sorver poupança externa (Necessidade de Financiamento Líquido), em
algum momento terão de empreender esforços adicionais no sentido
de gerar recursos na moeda do credor internacional para saldar seus
compromissos.Emmomentosdeestabilidadenocenáriofinanceiroin-
ternacional,Economiascombompotencialdecrescimentonãodevem
enfrentardificuldadesparahonrarseuscompromissosexternos.
Emgeral,durantecrisesouturbulências,opaísdeverecorreraorganis-
mosfinanceirosinternacionais.OmaisimportantedeleséoFundoMone-
tárioInternacional(FMI),queestabeleceumprogramadeprovimentode
recursos financeiros para a restauração do equilíbrio da Economia, mas
medianteasubmissãodopaísaajustesmacroeconômicosrigorosos.
REFLEXÃO
Vale lembrar que países da América Latina, o Brasil inclusive, viveram, na década de
1980, experiências de elevado constrangimento externo que limitaram o seu cresci-
mento, e geraram profundos desequilíbrios manifestados em descontrole inflacionário.
COMENTÁRIO
Formação Bruta de Capital (FBC)
A FBC é uma medida que expressa o
montante de investimento em capital
físico na economia. O montante da pou-
pança pode se situar acima ou abaixo
do montante da FBC.
COMENTÁRIO
Momentos de estabilidade
No entanto, em momentos de turbulên-
cia nos mercados financeiros interna-
cionais (como na crise financeira inter-
nacional de 2008), ou em momentos
de instabilidade interna, a obtenção de
financiamento externo pode vir condi-
cionada a exigências que implicam de-
saceleração no crescimento e aumento
do desemprego.
capítulo 4 • 81
Medindo as transações com o resto do mundo: Balanço de Pagamentos
DamesmaformaqueascontasnacionaisdescrevemaEconomiaemdeterminadoperíodo,
osregistrosdoBalançodePagamentos(BP)tambémpermitemqueseanaliseadinâmica
daEconomia.Istoporque,comojádissemos,aformacomoaEconomiaserelacionacom
asdemaisEconomiasrevelacomoseinserenaEconomiamundial.
Economiasmuitodependentesdepoucosprodutosdeexportaçãoedeprodutospri-
mários,porexemplo,sãosujeitasaapresentarmaiorvariaçãonocrescimentodoseuPIB,
poisodesempenhodesuaEconomiairádependerdademandaexternaporseusprodu-
tos,variávelquefogeaoseucontrole.
Economias mais diversificadas e especializadas na exportação de bens de alto valor
agregado,exportadorasdetecnologia,sãoEconomiasqueapresentamgraudedesenvol-
vimentomaiselevado,comumapopulaçãocommelhorgraudeescolaridadee,provavel-
mente,tendemaapresentartrajetóriadecrescimentomaisestável,poisosganhosgerados
pelosetorexportadortendemasermaioresemenosinstáveis.
RESUMO
Em poucas palavras, Economias ditas em desenvolvimento apresentam tendência a absorver poupança
externa, ou seja, uma contribuição do resto do mundo ao seu crescimento.
AscontasdoBalançodePagamentossãodivididasemduaspartesprincipais:Ba-
lanço de Transações CorrenteseConta Capital e Financeira,quesãosubdivididasemvá-
riascontas.CadapartedoBalançodePagamentos,assimcomocadaconta,podeapre-
sentarresultadopositivoounegativo.Oimportanteéque,acadaperíodo,nocômputo
geraldosregistrosdoBalançodePagamentos,opaístenhageradorecursossuficien-
tesemmoedaestrangeiraparapagarseuspróprioscompromissos,esegerourecursos
alémdonecessárioparasuasnecessidades,podeemprestaradevedoresinternacionais
e/ouaumentarsuasreservasinternacionais.
ATENÇÃO
A primeira parte do BP é o Balanço em Transações Correntes, que apresenta todos os registros (fluxos)
que afetam diretamente a geração do produto (PIB) e da renda nacional (RNB) no período. Associado
como um fenômeno macroeconômico, o Balanço em Transações Correntes guarda uma relação estreita
com os grandes agregados das contas nacionais.
NoBalançodeTransaçõesCorrentesdestacamostrêscontasprincipais.Asprimei-
rasduassão:Balanço Comercial–oregistrodeexportações(vendasexternas)eimpor-
tações (compras externas) de bens e serviços; o Balanço de Rendas – corresponde ao
fluxodepagamentoderendasdepropriedadeentreresidentes(entradasderecursos,
ouseja,asrendasrecebidasdoexterior)enãoresidentes(saídaderecursos,ouseja,as
rendasenviadasaoexterior).
82 • capítulo 4
EXEMPLO
Lembrando o exemplo citado previamente, se uma firma de engenharia brasileira
presta serviço em outro país, o lucro auferido no empreendimento ao ser repa-
triado é lançado como uma entrada no Balanço de Rendas. Da mesma forma,
se uma empresa estrangeira envia para sua matriz o lucro auferido em território
nacional, é registrado como uma saída de recursos. Tradicionalmente, esta conta
é negativa no BP do Brasil.
Porfim,háacontadeTransferências Unilaterais Correntes,ondesão
registradastodasasentradasesaídasderecursossemcontrapartidaem
termosdeproduçãonopaís.
EXEMPLO
Exemplo: remessa de imigrantes para suas famílias no país, ajudas governamentais
ou privadas na forma de doações a países que enfrentam uma catástrofe natural,
doações de instituições privadas e governos para causas humanitárias etc.
AContaCapitaleFinanceiraésubdivididaemduaspartes:a Con-
ta Capital, ondesãoregistradasTransferências Unilaterais de Capital
(observequeseseparamtransferênciascorrentes,registradasnoBa-
lançodeTransaçõesCorrentes,detransferênciasdecapital,ouseja,
de ativos de capital) e a Conta Financeira, que registra todo o fluxo
financeiroentreospaíses.
Na Conta Financeira estão os registros de Investimento Direto
(capitalderisco),comoaaberturadefiliaisdeempresasestrangei-
ras,porexemplo,ouaquisiçãodefirmasjáexistentes,tantoporre-
sidentes(saídaderecursos)comopornãoresidentes(entradadere-
cursos).Destacam-senestarubricaosinvestimentosemcarteira,que
sãoinvestimentosemaçõeseoutrostítulosderendafixaouvariável,
porexemplo.
Doconjuntoderecursosfinanceirosregistradosemumperíodo
noBP,devem-sedistinguiraquelesquesãocaracterizadoscomoca-
pitaisautônomos,ouvoluntários,istoé,entramnopaís,poisacham
oinvestimentoatrativofinanceiramente;oscapitais compensatórios,
ou de regularização, sendo estes últimos constituídos pelas transa-
çõesconduzidaspelosgovernosnacionais,comafinalidadedefazer
oacertofinaldoBP.
NaTabelaaseguirestãocasoshipotéticosesimplificadosparafixar
osconceitos.Oobjetivoéretratarsituaçõesdiferentesdascontasexter-
nasquedevemlevaramedidasdepolíticaeconômicadiferentes.
COMENTÁRIO
Investimento direto
Essa modalidade de investimento im-
plica uma demonstração de interesse
por parte do investidor em permanecer
no país por um período considerado
longo. As demais rubricas de investi-
mento registram o movimento financei-
ro de capitais de curto prazo, ou seja,
que não caracterizam um interesse de
longo prazo entre o investidor e o tipo
de investimento realizado (ativo).
COMENTÁRIO
Capitais autônomos
Os capitais autônomos são também
identificados com investimento de por-
tfólio, ou seja, o investimento em títulos
e ações negociados no país. O fluxo
desses capitais no curto prazo, quando
muito acentuado, pode fazer variar a
taxa de câmbio dos países (ver capítulo
5 sobre a taxa de câmbio).
capítulo 4 • 83
Principais contas do Balanço de Pagamentos (em US$ bilhões, em um período)
Caso I Caso II Caso III
Balanço Comercial (BC= X-M) 30 5 -10
• Exportações de Bens e Serviços (X) 150 60 50
• Importações de Bens e Serviços (M) (-)120 (-)55 (-)60
Transferências Unilaterais Correntes (TUR) (-)10 1 2
A. Balanço de Transações Correntes (BC + TUR) 20 6 -8
B. Conta Capital e Conta Financeira (TUC+ID+IC) 10 50 6
• Transferências Unilaterais de Capitais (TUC) 0 1 0
• Investimento Direto (ID) (-)25 25 2
• Investimentos em carteira e demais (IC) 35 24 4
Saldo do Balanço de Pagamentos (A+B) 30 56 (-)2
OcasohipotéticoIapresentaumaEconomianaqualoBalançodeTransaçõesCorrentesé
positivoemU$$20bilhões.EsseresultadoéobtidopelosaldopositivodoBalançoComercial
(US$30bilhões)eosaldodasTransferênciasUnilateraisCorrentesnegativo(US$10bilhões).
Nessecaso,opaístransferemaisrecursosparaoexterior(realizoumuitasdoaçõesno
período,porexemplo)doquerecebeu.AsegundapartedoBPmostraqueopaísatraicapi-
taldecurtoprazo(US$35bilhões)eéuminvestidorlíquidonoexterior(saldonegativode
US$25bilhões).OresultadodoBP,últimalinha,épositivoemUS$30bilhões,sinalizando
queopaísacumuloureservasinternacionaisnestemontantenoperíodo.
REFLEXÃO
Os registros do caso I apontam para uma Economia com uma posição folgada em termos das contas
externas, pois é capaz de gerar um saldo comercial expressivo e ainda atrair capital internacional. O saldo
positivo em transações correntes implica que esta Economia hipotética é uma credora internacional, ou
seja, é emprestadora de recursos a outras Economias.
OcasohipotéticoIIapresentaumaEconomiacomsaldo,emtransaçõescorrentes,relativa-
mentebaixo,comparadoaocasoI(US$6bilhões),porémacontaCapitaleFinanceiraapresen-
taexpressivosaldopositivo(US$50bilhões),poisaEconomiaatraitantocapitalderisco(Inves-
timentoDiretonomontantedeUS$25bilhões)comocapitaldecurtoprazo(US$24bilhões).
REFLEXÃO
Essa Economia exibe um resultado positivo de US$56 bilhões, aumentando o volume de reservas inter-
nacionais. Esta Economia é um caso intermediário em relação ao primeiro, pois acumula reservas interna-
cionais, mas às custas do capital de portfólio, isto é, de curto prazo, que pode deixar o país rapidamente,
podendo reverter a posição relativamente confortável do país.
84 • capítulo 4
OcasohipotéticoIIIéodeumaEconomiaquenoperíodoregistrasaldocomercialne-
gativo(-US$10bilhões)e,mesmocomomaiorsaldoemtermosdeTransferênciasUnila-
teraisCorrentesemrelaçãoaosoutrosdoiscasos,temumsaldonegativoemtransações
correntes(-US$8bilhões).
REFLEXÃO
Nesse caso, a Economia deve financiar esse saldo com os movimentos financeiros da Conta Capital e Fi-
nanceira. Em comparação com o caso II, esta Economia atrai menos capital, relativamente, e assim, o saldo
do BP é negativo. Nesta situação, em que a saída de recursos externos no período foi superior à entrada,
a Economia deve desacumular reservas internacionais.
Tendovistoosdoisprincipaissistemascontábeisderegistrodeestatísticaseconômi-
cas,nossopróximopassoéintroduzirconceitosteóricosdeMacroeconomiaquepermitam
interpretarasinformaçõesestatísticasdisponíveis.
Os determinantes do nível de produto e emprego na Economia: conceitos de teoria macroeconômica — Parte 2
Acontabilidadenacional,assimcomoasdemaisestatísticaseconômicas,ofereceoinsumo
principalparaosespecialistasanalisaremumaEconomia.Porémasestatísticasagregadas
nãoexplicamcomoaEconomiasemovenocurtoprazo,apenasinformamsobreodesem-
penhodosagregados.Énecessáriorecorreràteoriamacroeconômicaparaentendermos
comovariamosagregadosmacroeconômicos.
Aprimeiraperguntaquefazemosé:oquedeterminaoníveldeproduto(PIB)esuavaria-
çãonocurtoprazo(ataxadecrescimentodoPIB,ouseja,flutuaçõesdecurtoprazo)?Ouseja,
porqueaEconomiaapresentaperíodosemquecrescemaiseoutrosemquecrescemenos?
Oqueocrescimentodoprodutotemavercomocrescimentodoemprego?Edainflação?
Crescimento no curto prazo: flutuações do PIB
AMacroeconomiasurge,nosanos1930,comoumramodaEconomiaapósaobraseminal
doeconomistainglêsJohnMaynardKeynes,Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda,
comovistonocapítulo2.Nessaobra,KeynesapresentaoargumentodequeEconomiasde
mercadonãooperamnecessariamentenoseunívelmáximotodootempo,ouseja,podem
funcionardurantelargosperíodosdetempoemumaposiçãonaqualrecursosprodutivos
sãodeixadosociosos,dentreeles,amãodeobra.
capítulo 4 • 85
REFLEXÃO
A partir desta constatação, Keynes observou que o comportamento da Economia, para ser bem entendido,
necessitava de um instrumental analítico distinto da teoria microeconômica, o que ele se propôs a desenvolver.
QuandoKeynesescreveusuaobramaior,odesempregonasEconomiasdesenvolvidas
eraelevadoepersistente,oquecolocavaumproblemasocialgrave,poisrecursosproduti-
vosociosossinalizamperdadebem-estarparaapopulação.Porqueumtrabalhador,dis-
postoatrabalharporqualquerremuneração,nãoencontraocupação?
REFLEXÃO
A explicação oferecida por Keynes para a persistência do desemprego, e que responde a pergunta inicial, é
que o produto gerado em uma Economia de mercado em um período de tempo é determinado pelos gastos
que os agentes econômicos estão dispostos a fazer.
Quandoempresascontratam,compraminsumos,contraemempréstimosjuntoaoban-
coparacapitalgiro,emsuma,iniciamoprocessodeprodução,ofazemcomumaexpectativa
deatenderaumademandaedeauferirumlucromonetário.Emgeral,asempresasacertam
emsuasexpectativas,maspodemtambémsedesapontar,poisoresultadoesperadodepende
demuitasvariáveis,quefogemaocontroledeumaempresaouagenteindividual.
ATENÇÃO
São os desencontros entre o que é esperado por agentes individuais e o que é realizado no agregado que
levam a flutuações no curto prazo na Economia.
Assim,KeynescolocouofocodaexplicaçãodadeterminaçãodomontantedoPIBede
suavariaçãonocurtoprazonademandaagregada.AdemandaagregadadaEconomiacor-
respondeaoPIBmedidopelaóticadadespesa.Comovimos,pelaóticadedespesaemcon-
tasnacionais,podemosescrever:
PIB
GASTOS CORRENTES (DAS FAMÍLIAS E DAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS COM CUSTEIO)
INVESTIMENTO (FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL PELAS EMPRESAS PÚBLICAS E PRIVADAS E ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS)
VENDAS PARA O EXTERIOR DE BENS E SERVIÇOS (EXPORTAÇÃO) MENOS AS COMPRAS DO EXTERIOR DE BENS E SERVIÇOS (IMPORTAÇÃO).
Aceitando-seessaexplicaçãosobreadeterminaçãodoPIBdeumaEconomia,apróxima
questãodeinteresseéconhecercomosecomportamoscomponentesdademandaagregada.
86 • capítulo 4
REFLEXÃO
Lembre que este é o objeto de estudo da Macroeconomia — explicar flutuações de
curto prazo — e, ao se observar que nem sempre a Economia é capaz de ocupar seus
recursos produtivos permanentemente, cabe aos gestores de política econômica in-
tervir para promover ajustes que levem a um crescimento forte e sustentável, com
vistas a aumentar o bem-estar da população.
Vamosobservaroquadroaseguir,queapresentaadistribuiçãoem
percentualdosdadosdademandaagregada,segundoascontasnacio-
nais do Brasil para três anos. As informações exibem o quanto cada
componentedademandaagregadacontribuiuparaoPIB.
Brasil: Participação percentual dos componentes da demanda agregada no PIB (2010-2012)
Anos 2010 2011 2013
Consumo das Famílias 59.6 60.3 62.6
Consumo das Administrações
Públicas21.1 20.7 21.3
Formação Bruta de Capital 20.2 19.7 17.5
Exportações Líquidas (Exportações
menos Importações-1.0 -0.7 -1.4
PIB 100.0 100.0 100.0
Fonte: IBGE, Contas Trimestrais.
O Consumo das Famílias é sempre a parcela de maior peso da de-
mandaagregadadospaíses.NocasodoBrasil,noperíodoobservado,
esteveemtornode60%.Asexportaçõeslíquidasnoperíodo(penúltima
linha) tiveram uma contribuição negativa na formação da demanda
agregada,poisasimportaçõesforammaioresdoqueasexportações.
O peso desta parcela no PIB brasileiro não é muito alto (importa-
ções).OBrasil,comsuaextensãocontinental,temnomercadointerno,
emcontraposiçãoaomercadoexterno,suaprincipalfontededemanda
agregada.Istonãoquerdizerqueademandaexternanãosejaimportan-
te,poiscomovimosnaseçãosobreBalançodePagamentos,édosetor
externoqueopaísobtémrecursosemmoedaestrangeiraparahonrar
compromissosemmoedaexterna.Porém,nocasodoBrasil,nãoéade-
mandaexternaquepuxaocrescimentonamaiorpartedotempo.
OpercentualdasAdministraçõesPúblicaspermaneceurelativamen-
teestável,emtornode20%noperíodo.Porfim,aFormaçãoBrutade
Capital, que representa o investimento em acumulação de capital na
Economia,namédia,ficouabaixode20%.
Mesmo o Consumo das Famílias sendo o componente de maior
peso,nãoéelequemmaisexplicaasflutuaçõesdoPIBnocurtoprazo.
COMENTÁRIO
Consumo das Famílias
Em teoria, o consumo das famílias de-
pende, dentre outros fatores, da renda
disponível. Lembre-se que já vimos que,
pelas contas nacionais, a Poupança Bru-
ta é obtida subtraindo-se do agregado
RDB os gastos com consumo corrente
(Famílias e Administrações Públicas).
COMENTÁRIO
Administrações Públicas
O Consumo das Administrações Públi-
cas corresponde à produção de bens e
serviços que são disponibilizados para
a população pelo governo, como ser-
viços de educação, saúde, segurança
pública, defesa, justiça etc. Para dar
conta destas despesas, o governo ar-
recada impostos. Os impostos reduzem
a renda disponível das famílias e em-
presas para gasto.
capítulo 4 • 87
AvariávelchavenestecasoéaFormação Bruta de Capital,associadaaoinvestimentoem
estoquedecapital.
ATENÇÃO
Esse componente da demanda agregada corresponde a um tipo de gasto que é mais sensível às expecta-
tivas dos agentes (firmas, bancos e instituições financeiras em geral, e o público), pois pode ser adiado ou
antecipado, de acordo com as perspectivas percebidas sobre o futuro desempenho da Economia. Esta ca-
racterística o difere dos gastos de consumo, por exemplo, que podem flutuar, mas tendem a ser mais rígidos.
O gráfi co a seguir mostra como as variações do PIB de um ano para outro acompa-
nhamdepertoasvariaçõesnaFormaçãoBrutadeCapital.Maisdoqueisso,observeque
quandoaevoluçãodaFormaçãoBrutadeCapitalépositiva(acimadalinhadozero),a
variação do PIB é sempre positiva. O inverso nem sempre é verdadeiro, pois os outros
componentes podem segurar a variação positiva do PIB, quando a Formação Bruta de
Capitalfi caabaixodalinhadozero.
Brasil: Taxa de variação do PIB e da Formação Bruta de Capital (FBC) – 1971-2012
PIB FBC
Fonte: IBGE, Contas Nacionais, Apud, Ipeadata.
REFLEXÃO
Na década de 1970, o PIB brasileiro cresceu muito, impulsionado pelo investimento. Compare com os
anos 2000, quando a variação da Formação Bruta de Capital apresenta resultados negativos (abaixo
de zero) em muitos anos, e a variação do PIB registra percentuais de crescimento mais baixos, com-
parativamente aos anos 1970.
Assim,asinformaçõesanterioresoferecemumapistaparaentenderocomportamento
dos componentes da demanda agregada: os gastos em consumo, apesar de serem os de
maiorpeso,nãosãoosquetendemaapresentarmaiorvariação.Oinvestimento,medido
pelaFormaçãoBrutadeCapital,porsuavez,conferedinamismoaoPIBnocurtoprazo.
RESUMO
Conclusão: como o investimento é sensível em relação às expectativas sobre oportunidades de lucro dos
investidores, se as perspectivas de crescimento da Economia são percebidas como boas, então as empre-
sas investem mais, os bancos disponibilizam mais crédito, o país atrai mais capital externo para investimen-
to, e mais emprego é criado, gerando o pagamento de mais salários, o que impacta, consequentemente
88 • capítulo 4
em mais gastos de consumo. Enquanto a Economia mantiver o clima de otimismo, a
expansão do PIB se sucede a cada período. É o investimento que dá o impulso para
o crescimento, e o consumo propaga o impulso inicial pela Economia como um todo.
É possível que, em determinado momento, uma Economia com um
baixocrescimentoeociosidadederecursosprodutivosvenhaaterumim-
pulsoinicialparacrescer,provocadopeloaumentodoconsumo(porexem-
plo,umapolíticadecréditoaoconsumoataxasdejurosmaisbaixas,e/ou
umaumentodosaláriomínimomaisgeneroso)acimadoinvestimento.
Contudo,paraadinâmicadocrescimentosersustentávelaolongo
dotempo,emalgummomentonofuturopróximo,aformaçãodecapital
temdeseexpandirmaisparaatenderàdemandamaiorporconsumo.
EXEMPLO
Veja o exemplo da Economia brasileira depois da crise financeira internacional de
2008, quando em 2009, o PIB registrou queda de (-) 0,3% e em 2010, por força de
fortes incentivos do governo para a população gastar e o próprio governo expandir
seus gastos, a Economia cresceu 7,5%. No entanto, nos anos seguintes, como o
investimento não respondeu positivamente, as taxas de crescimento do PIB foram
pífias (2,7% em 2011; 0,9% em 2012%; 2,3% em 2013).
Observequeasexportaçõestambémtêmafunçãodeindutorado
crescimento.Issoporqueademandadorestodomundoporbense
serviçosproduzidosporumpaístambémcriaoportunidadesnovas
de expansão dos negócios, o que abre a perspectiva de criação de
novosempregos,geraçãodemaisrenda,econsequentementemais
consumo,eassimpordiante.
Resta comentar sobre os gastos de consumo das administrações
públicas.Osbenseserviçosofertadospelogoverno,pordefinição,não
sãoproduzidoscomoobjetivodeauferirlucro.Assim,benseserviços
públicosnãosãovendidosnomercado.Paracobrirasdespesascoma
produçãodosbenseserviçospúblicos,ogovernoarrecadaimpostosda
população.Dentrodalógicadademandaagregada,aatuaçãodogover-
noimplicadoismovimentosemsentidoscontrários.
REFLEXÃO
Quanto mais o governo gastar, ou seja, empregar trabalhadores, comprar insumos,
contratar serviços de terceiros, mais recursos estará injetando na Economia, e, as-
sim, produzindo um impulso para o PIB crescer. Quanto mais o governo arrecadar
de impostos, mais estará retirando do setor privado, e, se não destinar os recursos
arrecadados para gastos na mesma proporção, sua atuação estará sendo no sentido
de reduzir a demanda agregada.
COMENTÁRIO
Exportações
As exportações têm também a impor-
tante função de gerar divisas externas,
necessárias para cobrir os gastos com
importações e para saldar compromissos
em moeda externa, como já mencionado.
capítulo 4 • 89
ArecomendaçãodaMacroeconomiakeynesianaédequeogoverno
administreseusgastosacompanhandooqueacontecenosetorprivado
daEconomia.SeaEconomiaestámuitoaquecida,crescendomuitorá-
pido,arecomendaçãoéqueogovernosejamaiscomedidoemsuasdes-
pesasparanãosuperaqueceraEconomia,que,comoveremosnoúltimo
itemdestecapítulo,temconsequênciassériassobreoníveldepreços.
Ovolumedearrecadaçãodeimpostosdeveaumentaremumacon-
junturadecrescimentorápido.SeaEconomiaestácomexcessodere-
cursosociosos,combaixocrescimento,ogovernodeveaumentarseus
gastosereduzirosimpostosparadarumimpulsoaocrescimento.
RESUMO
Em suma, a atuação do governo deve ser para contrabalançar, compensar tendências
de mercado no curto prazo. Acredita-se que suavizando as flutuações econômicas, o
governo estará contribuindo para aumentar o bem-estar da população (ver capítulo 5).
Ao introduzirmos a atuação do governo, devemos chamar a atenção
paraofatodequeagestãodascontaspúblicas,assimcomodamoedaeda
inflação,mexemcomasexpectativasdosinvestidores,e,portanto,éuma
áreasensíveldaadministraçãodapolíticaeconômica.Comojádissemos,o
investimento,parcelamaisimportanteaexplicaraflutuaçãodoPIB,émui-
tosensívelàsexpectativassobreofuturodesempenhodaEconomia.
Emprego e desemprego
A análise da Macroeconomia pela ótica da demanda agregada, como
explanadoacima,estabeleceumarelaçãoclaraentreageraçãodepro-
dutoerendaeacriaçãodeemprego.Oprodutoparacrescer,emalgum
momento,iráaumentarademandapormãodeobra.Ressaltamosoem
algum momento,poisoajustedoempregopassatambémpeloajustedas
horastrabalhadas.
Contudo,éclaroperceberqueháumlimitesuperiorparaoaumento
dashorastrabalhadas.
RESUMO
Assim, dado esse ajuste, o aumento do produto deve se manifestar em aumento de
emprego. Por sua vez, a queda no produto, dado um ajuste das horas trabalhadas,
deve se refletir em queda no emprego.
Feitaestaressalva,identificamosqueoproblemadodesempregona
Economiapodeserentendidocomoumproblemamacroeconômico,ou
seja,umproblemadeinsuficiênciadedemandaagregada.
COMENTÁRIO
Desemprego
Há uma vasta literatura que estuda o de-
semprego do ponto de vista microeconô-
mico, ou seja, no âmbito do mercado de
trabalho. Em Keynes, o mercado de tra-
balho não se equilibra como o mercado
de produto. Para uma discussão sobre o
equilíbrio em mercado de concorrência,
ver capítulo 3.
90 • capítulo 4
Comosemedeodesemprego?Parasechegaraumamedidadede-
sempregoénecessáriocalcularprimeiroapopulaçãoemidadedetra-
balhar,ouseja,dototaldapopulaçãoexclui-sequemnãoestáemidade
deformaçãoescolarbásica (abaixode14anos,pelanovapesquisado
IBGE),osidosos,incapacitadosaotrabalhoetc.Desseconjuntoretira-se
aforçadetrabalho(FT).
Amedidadataxadedesemprego,outaxadedesocupação,éapro-
porçãodaspessoasquenãoestavamocupadas(masqueprocuraram
empregonosúltimos30diasemrelaçãoàdatadaentrevista)sobreo
totaldaFT.Agrossomodo,podemosafirmarqueapopulaçãoocupa-
dadáumamedidadademandaportrabalhoeaFT,umamedidada
ofertadetrabalho.
RESUMO
TAXA DE DESOCUPAÇÃO (%)(PESSOAS DESOCUPADAS/PESSOAS
NA FORÇA DE TRABALHO)*100
Aspesquisasempíricassobreocomportamentodomercadodetra-
balhoclassificamváriostiposdedesemprego,sendoataxadedesocu-
pação a de maior interesse, pois revela quantos estavam procurando
emprego em um determinado período e não encontraram colocação,
mesmoaceitandoumaremuneraçãomenor.
Observeque,aofalarmosemtaxadedesempregooudedesocupação,
nadadissemossobreaqualidadedoemprego,ouseja,secomousemcar-
teiraassinada,porexemplo,ouquantoaonúmerodehorastrabalhadas.
REFLEXÃO
Assim, um trabalhador que não seja formalizado, mas se declare trabalhando,
mesmo que poucas horas por semana, não é considerado desempregado, apesar
de estar em uma posição precária de trabalho e, possivelmente, com uma remu-
neração mais baixa do que um trabalhador formal (com carteira assinada), com
os direitos trabalhistas assegurados.
Aanálisedaevoluçãodataxadeocupaçãoedesocupaçãodevelevar
emcontatambémaevoluçãodaremuneraçãomédiadapopulaçãoem-
pregada.Considerequeataxadedesocupaçãoestejacaindoeaevolu-
çãodorendimentomédiodapopulaçãoempregadanãoestejasubindo
muito.Épossívelqueotipodeempregoqueestejaaumentandosejao
depiorqualidadeemtermosdeproteçãosocial.Outrasituaçãopodeser
adequeoaumentonoempregoestejaocorrendomaisentrejovens,que
porteremmenorexperiência,entramnomercadodetrabalhoreceben-
doumaremuneraçãomaisbaixa.
CONCEITO
Força de trabalho
Define-se como força de trabalho de
uma economia o contingente de pes-
soas em idade de trabalhar e disponível
para o trabalho. Da FT, então, calcula-se
quantos estão efetivamente trabalhando
em uma data (pessoas com ocupação —
PO) e quantos desejam trabalhar, mas
não encontram ocupação (pessoas de-
socupadas — PD). Até a reformulação
recente das pesquisas de emprego iden-
tificava-se força de trabalho como popu-
lação economicamente ativa (PEA).
capítulo 4 • 91
NavisãodaMacroeconomia,osmovimentosnomercadodetraba-
lhoafetamosagregadosmacroeconômicosdeváriasmaneiras.Porum
lado,oníveldeempregoestáassociadoaumnívelderenda,queéim-
portanteparaexplicarocomportamentodoconsumodasfamílias,um
doscomponentesdademandaagregada.Logo,podemosdizerqueem-
pregogerarenda,quegerademandaagregada.Poroutrolado,onível
deempregotambémexplicaoquantodaforçadetrabalhoestásendo
ocupada,equantomaispertodaocupaçãoplena,maiordeveserapres-
sãoporaumentodesalários.
Umaconsequênciadoníveldeocupaçãoestarpertodolimitedople-
no emprego é que gera pressão de custo de produção. Desta forma, o
esgotamento da oferta de trabalho, se por um lado aquece a demanda
agregada,tambémcolocaumapressãosobreocrescimentodaEconomia,
que é a escassez de recursos no curto prazo. Em geral esta pressão se
transformaemaumentononíveldepreços,ouseja,inflação,nossoúlti-
motópiconestecapítulo.
O que determina os preços, sua variação, e sua relação com a moeda
Ainflaçãoédefinidacomosendoumaumentocontínuo,generalizado
edesigualdonívelgeraldepreços,ouseja,umaperdaprogressivado
poderdecompradamoeda(éesteosentidodeimposto inflacionário).
EmumaEconomiacominflaçãoénecessáriocadavezmaismoedapara
secompraramesmaquantidadedebenseserviços.
Comoditonoiníciodaseção,nainflaçãooprocessodesubidade
preços não se verifica em todos os bens e serviços ao mesmo tempo
nemnamesmaproporção.Emdeterminadomomento,algunspreços
podemtersubido,masoutrosaindanão.Comisso,arelaçãoentreos
preços,queéafontedeinformaçãomaisrelevanteparaocálculoeco-
nômicoemumaEconomiademercado,ficacompletamentedistorcida.
Como saber que uma cadeira deve custar menos que uma mesa
feitadomesmomaterial,nomesmoperíodo,seopreçodacadeirati-
versubidoantesdopreçodamesa?Essadistorçãoatrapalhaocálculo
econômicodosagentes,interferindoemsuasdecisõessobreoquanto
produzir,oquantocobrarporumproduto,oquantoexigirderemune-
ração,oquantogastaretc.
ATENÇÃO
Mais problemáticas ainda são as decisões de investimento, que por envolver maior
planejamento, com um horizonte de tempo mais longo, podem ter o cálculo de viabi-
lidade econômica muito prejudicado.
COMENTÁRIO
Crescimento da Economia
Há muitas outras fontes de restrições
de crescimento no curto prazo. Uma
bastante importante, que não será trata-
da aqui, refere-se à restrição de Balanço
de Pagamentos.
COMENTÁRIO
Inflação
Ela se torna um problema não só prá-
tico, sentido por toda a população, que
vê, no dia a dia seu poder de compra
diminuir, mas também um problema te-
órico, na medida em que a teoria eco-
nômica entende que preços traduzem o
valor de troca entre os bens e serviços,
ou seja, os valores relativos das merca-
dorias e serviços.
92 • capítulo 4
Enfim, a inflação persistente é um problema grave em Economias
demercado,enamedidaemquecorróiopoderdecompradaspessoas,
impõecustos sociaiselevados,principalmenteàpopulaçãomaiscaren-
te.Nãoraro,quandoainflaçãoatingepatamaresmuitoelevadosenão
retrocede,umperíododeconvulsãosocialpodeeclodir.Ahistóriaeco-
nômicaregistravárioscasos.
O que é moeda, as funções da moeda, moeda e inflação
Comoainflaçãoéumfenômenomonetário,éimportanteesclarecero
queéamoedaequaisassuasfunções.Define-semoedacomoqualquer
coisaaceitageneralizadamenteparaintermediarastrocas.
A moeda cumpre, basicamente, três funções: unidade de medi-
da(oudeconta),meiodetroca(oudepagamento)ereservadevalor.
Como unidade de medida, a moeda, sendo um referencial comum
paraoestabelecimentodovalordosbenseserviços,permiteaavalia-
ção do valor relativo de uns em relação aos outros (preços relativos).
Comomeioouintermediáriodetrocas,amoedaéumfacilitadorpara
astrocas.Porfim,comoreservadevalor,amoeda,aosepararaope-
raçãodevendadaoperaçãodecompra,dáaoseudetentorumdireito
sobreapossefuturadebenseserviços.
REFLEXÃO
Em processos inflacionários crônicos, os agentes procuram se livrar rapidamente da
posse da moeda, exatamente porque ela deixa de cumprir, inicialmente, as funções
de reserva de valor e de unidade de conta; em casos mais graves, de meio de troca.
Emhiperinflação,quandoháfugadamoeda,oregistrohistóricoéo
dequeosagenteseconômicospassamausaroutramoeda,sejaparade-
nominarovalordosbenseserviçosouparafazertransações;outrocam,
imediatamente,moedapormercadoriaouporoutramoeda(estrangei-
raouindexada),comoformaderetervalor.
A teoria mais antiga sobre a causa da inflação atribui a alta con-
tínuadepreçosaumexcessodemoedaemcirculaçãonaEconomia.
Esta teoria é conhecida como teoria quantitativa da moeda — TQM
(vertambémcapítulo5),etemsuaorigemmaisformalizadadesenvol-
vidanoséculoXVIII.
Oqueateoriaestabeleceéque,paraaexpansãodamoedadepaga-
mentosseracausadainflação,supõe-sequeaEconomiaestáproduzin-
donoseulimitemáximo,ouseja,ageraçãodoPIBimpõeousodeto-
dososrecursosprodutivosdisponíveis(oualgopróximoaisso).Seisso
éverdade,entãoumaumentodemoedaemcirculação,queéatribuição
dogoverno,deveserdestinadoàcompradebenseserviços(aumentoda
COMENTÁRIO
Moeda
Define-se moeda como qualquer coisa
aceita generalizadamente para interme-
diar as trocas. A moeda é uma conven-
ção social, ou seja, aceita-se moeda em
troca do que se produz porque se acre-
dita que os demais membros da socie-
dade a aceitarão também em troca dos
seus bens e serviços.
CONCEITO
Teoria quantitativa da moeda
A TQM estabelece uma relação entre o
lado monetário da Economia (poder de
compra) e o lado real da Economia (dis-
ponibilidade de bens e serviços). Trata-
se de uma equivalência entre o fluxo de
bens e serviços produzidos em um de-
terminado período de tempo (PIB a pre-
ços de mercado) e o montante de recur-
sos monetários disponível (quantidade
de moeda em circulação na Economia).
capítulo 4 • 93
demandaagregada),que,naimpossibilidadedeserexpandidanocurto
prazo,provocaaltanospreços.
Uma decorrência lógica do raciocínio anterior é que a expansão
monetárianãotemnenhumainfluênciasobreoníveldeprodutoem
volumedaEconomia(PIBapreçosconstantes).Seoaumentonaoferta
demoedalevasseaumaumentoproporcionaldoPIBemvolume,não
haveriainflação,supondoqueospreçospodemseajustarlivremente.
Sóhaveráinflaçãoseoaumentodademandaagregada,oriundodeum
aumentonaquantidadedemoedaemcirculação,prevalecersobreo
aumentodoproduto.
Ocontroledaquantidadedemoedaemcirculaçãoéresponsabilidade
dogoverno,atravésdesuasinstituições,sendoamaisimportanteoBanco
Central.OBancoCentraldispõedediversosinstrumentosdepolíticamo-
netáriaparainjetareretirarmoedadecirculação(vercapítulo5).
REFLEXÃO
Aqui vale uma menção ao que já foi dito no item de equilíbrio fiscal: como o governo
pode se endividar junto ao público e é também emissor de moeda, é importante
que seu endividamento não provoque pressão inflacionária (emitir moeda para cobrir
despesas públicas). Neste sentido, o endividamento deve ser financiado através da
emissão de títulos da dívida pública.
Seaúnicaconsequênciadoaumentodaofertademoedaforaeleva-
çãodospreços,nãohavendonenhumefeitosobreoladorealdaEcono-
mia(produçãodebenseserviços),diz-sequeamoedaéneutra.
Entretanto,sesupusermosqueaEconomiapodefuncionarcom
recursosociosos,comoéahipótesedeKeynes,osefeitosdeumaex-
pansãodamoedanaEconomiapodemterimpactonoladoproduti-
vo,poispodedinamizarademandaagregada,que,comovimos,pro-
moveacontrataçãodemãodeobrae,consequentemente,aumentaa
ofertadebenseserviços.
Indo mais além, Keynes viu também que os agentes econômicos,
para se defenderem em relação ao futuro desconhecido, podem reter
moeda(enãogastá-la),oquereduzademandaagregadadaEconomia.
EstapossibilidadeampliamuitoosefeitosdamoedasobreaEconomia,
enestecasoelaéconsideradanãoneutra.
RESUMO
Em resumo, deve ficar claro que a inflação é um fenômeno monetário. Aumentos
na oferta de moeda acabam por elevar os preços. Porém, a oferta de moeda é
causa ou consequência da inflação? Não há consenso sobre este ponto entre os
economistas. Entretanto, em relação aos efeitos da inflação, o entendimento hoje
entre analistas econômicos é que há também sobre o lado real da Economia, ou
COMENTÁRIO
Moeda é neutra
Nesse caso, a moeda teria apenas a fun-
ção de facilitar as trocas e de servir para
se fixarem os preços em uma unidade
comum de valor. Esta hipótese é asso-
ciada à escola de pensamento macroe-
conômico conhecida como monetarista,
e tem em Milton Friedman seu maior ex-
poente, como visto no capítulo 2.
94 • capítulo 4
seja, o aumento da oferta de moeda pode estimular a atividade econômica, podendo provocar ao mesmo
tempo, crescimento e inflação.
Inflação ou desemprego: o dilema de Economias modernas
Asrelaçõesentreataxadecrescimentodospreçoseataxadeocupaçãodemãodeobra
(queserelacionacomoníveldeatividadedaEconomia,ouseja,comoníveldeproduto,
conformemencionadonoiníciodoitemsobreempregoedesemprego)sempreforamob-
jetodemuitadiscussão,issoporquenemsempresãoconciliáveisosobjetivosdecontrole
inflacionárioemanutençãodeelevadoníveldeemprego.
Nadécadade1950,emumtrabalhoempíricodesenvolvidoparaverificarasrelações
historicamenteobserváveisentretaxadedesempregoetaxadeinflação,naInglaterra,ob-
servou-seoqueficouposteriormentedenominadodeCurva de Phillips,ouseja,umarela-
çãoinversaentretaxadeinflaçãoetaxadedesemprego.
Issosignificaquetaxasmaisaltasdeinflaçãoestavamassociadasataxasmenoresde
desemprego,etaxasmaisbaixasdeinflação,amaiorvolumededesemprego.Muitasinter-
pretaçõesforamapresentadasparaexplicaressefenômeno.
Umainterpretação,ligadaaosmonetaristas,colocaênfasenapressãodedemandaque
aumentos salariais impõem no curto prazo. Na inflação de demanda, os preços sobem
quandoopoderdecompra(demanda)émaiordoqueadisponibilidadedebenseserviços.
REFLEXÃO
Fatores que podem fazer aumentar a demanda agregada incluem excesso de moeda em circulação, re-
dução de impostos, aumento de gastos públicos e aumento de empréstimos aos consumidores. A proba-
bilidade de inflação de demanda aumenta quanto mais próxima do pleno emprego a Economia estiver,
porque não se pode aumentar substancialmente a oferta de bens e serviços a curto prazo.
Umainterpretaçãomaisligadaàescolakeynesianacolocaênfasenaspressõesdosdi-
versostiposdecustosdeprodução,dentreeles,ocustodosalário.Assim,nocasodainfla-
çãodecusto,ospreçossobempelosseguintesmotivos:aumentossalariaisacimadaprodu-
tividade,resultantesdeescassezdemãodeobraoupressãodesindicatosfortes,aumento
decustodasmatérias-primas(encarecimentodasimportaçõesemrazãodadesvalorização
damoedaouumaumentonospreçosdascommodities)etc.
REFLEXÃO
A inflação de custos tem como causas as condições de oferta de bens e serviços na Economia, ou seja,
o nível de demanda permanece o mesmo, mas os custos de certos insumos importantes aumentam e eles
são repassados aos preços dos produtos.
Vemosassimqueoprocessoinflacionário,independentedesuaorigem,resultaem
umconflito distributivo,ouseja,resultadepressõesdosváriosgruposdeagenteseco-
capítulo 4 • 95
nômicosatuandonaEconomiaparagarantirseupoderdecompra.Aquelesgruposque,
porsuainserçãonaestruturaprodutiva,têmmaiorpoderdebarganha,conseguemga-
rantir um poder de compra em termos de bens e serviços maior do que aqueles com
menorpoderdebarganha.
EXEMPLO
Veja, por exemplo, o caso de uma empresa que seja a única fornecedora de um produto essencial. O seu
poder de mercado lhe permite reajustar o preço de seu produto acima dos seus custos de produção, por
exemplo, e com isso ela consegue auferir uma margem de lucro maior. O mesmo ocorre com categorias de
trabalhadores mais bem organizadas do que outras, só para citar poucos exemplos.
Napráticasereconhecequemúltiplascausasatuamaomesmotempoparageraropro-
cessoinflacionáriodaEconomiaacadamomento.
Como medir a inflação
Comomencionadonaparteumdestecapítulo,seexisteinflação,precisa-sefazeruma
distinção fundamental entre valores nominais (ou a preços correntes) e valores reais
(ouapreçosconstantes).Issoporque,paraseacompanharestatísticaseconômicasao
longodotempo,éimportantedistinguirosefeitosdainflaçãoeasmudançasnonível
realdaatividadeeconômica.
Valores a preços de mercado, ou preços correntes, ou ainda na denominação preços
nominais,incluemoefeitodainflação.Estatísticasemvolume,preçosconstantesouainda
nadenominaçãodepreçosreais,excluemasinfluênciasinflacionárias.Comoissoéfeito?
ATENÇÃO
A prática de deflacionamento, ou seja, excluir a variação de preços, implica se dispor de um índice de
preços que permita se descontar a variação dos preços da estatística em valores correntes. Os índices de
preço mais utilizados pelos países são os índices de preço ao consumidor. No Brasil, a inflação oficial é
medida pelo IPCA — Índice de Preço ao Consumidor Ampliado, divulgado mensalmente pelo IBGE.
Muitosucintamente,pode-sedescreverumíndicedepreçoaoconsumidorcomosendo
umíndicequerevelaaevoluçãomédiadepreçosdeumconjuntodebenstípicosdecon-
sumodeumafamíliarepresentativadeumalocalidade.Parasechegaràconstruçãodesse
índice,muitasetapasdevemserpercorridas.
Inicialmente,énecessárioumlevantamentoperiódicojuntoàsfamíliasparasecoletar
informaçãosobresuacestadeconsumo;emseguida,investigam-seoslocaisdecomprae,
porfim,procede-seaolevantamentomensaldospreçosdosbensdacestadeconsumonos
locaisdeconsumoselecionados.
Parafinalizarestecapítulo,selecionamosumaleituraeumaprovocaçãoaofinal,para
vocêaplicaralgunsdosconhecimentosobtidosaqui.
96 • capítulo 4
ATIVIDADE
Como calcular a sua inflação
Cada pessoa pode calcular sua própria inflação comparando o quanto os preços de sua cesta de consumo
variam, em média, ao longo do tempo. O primeiro passo é listar os gastos com todos os bens e serviços
consumidos (especificando as quantidades) em um período de tempo de referência. Some o que foi gasto
neste período e calcule a participação percentual de cada item no total de gastos. Assim, obtém-se o peso
de cada item de consumo que representa a sua importância relativa em relação aos demais. A cada mês,
acompanhe como tem variado o gasto (supondo a mesma quantidade consumida) de cada item. Por exem-
plo, suponha que seus gastos se dividam em aluguel (50% das despesas), alimentação (30%) e despesas
diversas (20%). Suponha agora que o aluguel aumente 10% e os itens de alimentação também aumentem
10%. O que pesa mais no seu bolso? Claro que é o item de aluguel, pois é o de maior peso. De quanto
aumentou sua inflação, supondo que o item de despesas diversas não sofreu aumento? Basta multiplicar a
variação de preço de cada item pelo peso correspondente e somar: 0.5*0.1+0.1*0.1+0.1*0=0.06, ou 6%.
Compare esse resultado com o aumento da sua renda e avalie se você está tendo ganho ou perda
de poder de compra em relação ao período de referência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEIJO; RAMOS (org). Contabilidade social: a nova referência das contas nacionais do Brasil, 4ª ed. São Paulo:
Campus-Elsevier, s/d.
98 • capítulo 5
5 Políticas Macroeconômicas
Política macroeconômica: definição e objetivos
Políticas macroeconômicas são medidas adotadas pelo governo com
oobjetivodeatingirdeterminadasmetasconjunturais,relacionadasa
agregadosmacroeconômicoscomoarendanacional,taxadeinflação,
níveldedesemprego,balançodepagamentos,entreoutros.
Osmeiosutilizadosparaatingirtaisobjetivossão,principalmente,
alteraçõesemvariáveismacroeconômicas,comotaxadejuros(política
monetária),taxadecâmbio(políticacambial)egastospúblicos(política
fiscal).Atravésdessasalterações,asautoridadesesperamreduzirasflu-
tuaçõescíclicasquesãotípicasdaseconomiascapitalistas.
REFLEXÃO
Nesse sentido, as políticas macroeconômicas analisadas neste capítulo são distintas
das políticas econômicas de caráter setorial (política industrial, política agrícola, po-
lítica salarial etc.) e daquelas de caráter regional, cujos horizontes temporais são de
prazo mais longo, como você verá no Capítulo 6.
Oseconomistasacreditamque,quandoaEconomiaestácrescendo
ataxasconsideradasexcessivamenteelevadas,crescemaspressõesin-
flacionárias,entreoutrasrazões,porqueaumentaoníveldeemprego,
como explica a curva de Philips (Cap.4); nesses momentos, o governo
adotapolíticasmacroeconômicascontracionistas.
Por outro lado, quando a Economia encontra-se em recessão, ou
mesmocomritmodecrescimentoabaixodaqueleconsideradoadequa-
do — e, portanto, quando o nível de emprego cai —, o governo adota
políticasmacroeconômicasexpansionistas.
Destacaremostrêstiposdepolíticamacroeconômicaadotadosem
economiascomoabrasileira:políticamonetária,políticacambialepo-
líticafiscal.Emcadaumadelasdoisaspectosserãorealçados:
ATENÇÃO
Aspecto 1 – A impossibilidade de atingir todos os objetivos finais ao mesmo tempo
De fato, os objetivos podem ser contraditórios. Talvez o exemplo mais discutido no
Brasil seja o da determinação da taxa de juros: a autoridade monetária eleva a taxa
COMENTÁRIO
Objetivo
Os objetivos finais das políticas ma-
croeconômicas incluem a obtenção de
taxas de crescimento econômico ele-
vadas, baixas taxas de inflação, baixo
nível de desemprego, balanço de pa-
gamento equilibrado, contas públicas
equilibradas etc.
capítulo 5 • 99
de juros quando entende que deve conter pressões inflacionárias; por outro lado, quando reduz a taxa de
juros, alguns analistas econômicos apontam para o impacto positivo da medida em termos de crescimento
da Economia e melhoria do nível de emprego, enquanto outros economistas mostram preocupação com o
futuro comportamento da inflação.
Portanto,emlinhasgerais,oseconomistasconcordamcomaideiadequeumaelevação
dataxadejurosajudanocombateàinflação,masrepresentaumentraveaocrescimento
econômicoevice-versa.Comoveremosnestecapítulo,omesmotipodediscussãoseaplica
amudançasnataxadecâmbioenosgastosdogoverno.
ATENÇÃO
Aspecto 2 – Interdependência entre as políticas macroeconômicas em razão dos efeitos de um tipo de política sobre mais de uma variável
Um caso clássico é o da escolha de regime cambial e a política monetária adotada pelo Banco Central
(BC). Por exemplo, a opção por um regime de taxa de câmbio fixo semelhante ao adotado no Brasil, duran-
te a primeira fase do Plano Real (1994-1998), significa atrelar a política monetária — isto é, as decisões
quanto à determinação da taxa de juros básica — ao comportamento do mercado de câmbio, como será
explicado mais adiante neste capítulo.
Política monetária: definição e objetivos
Políticamonetáriaéoconjuntodemedidasquepodemseradotadaspelasautoridades
monetárias (geralmente, o Banco Central) com objetivo imediato de controlar a oferta
demoeda,dealterarataxadejurospraticadanomercadofinanceiroederestringirou
expandirocréditobancário.
ATENÇÃO
O aumento da oferta de moeda, a redução da taxa de juros e a expansão do crédito, que geralmente
ocorrem concomitantemente, representam um aumento da liquidez, ou seja, uma política monetária expan-
sionista. Por outro lado, o aperto de liquidez ocorre quando o Banco Central atua no sentido de reduzir a
oferta de moeda, elevar a taxa de juros e restringir o acesso ao crédito bancário, significando uma política
monetária contracionista.
Essasmedidasvisamatingiremparticulardoisobjetivosúltimos:crescimentoeconô-
micomaisaceleradoetaxadeinflaçãomaisbaixa.Entretanto,comomencionadoanterior-
mente,considera-sequetaisobjetivossejamconflitantes,ouseja,queapolíticamonetária
devaserorientadanosentidodeobtermaiorcrescimentooumenortaxadeinflação,de
acordocomasoscilaçõesdaconjunturaeconômica.
100 • capítulo 5
Metas intermediárias
Diferentescorrentesdeeconomistastêmdiscutidoamaneiracomoo
comportamentodaofertademoeda,dataxadejurosedaofertadecré-
ditobancário,ouseja,oschamadosmecanismosdetransmissãodapo-
líticamonetária,afetaaatividadeeconômica.
Caso considere que o mecanismo de transmissão seja a oferta de
moeda,oBancoCentraldeveestabelecermetasdecontroledaquanti-
dadedemoedaofertada.Casoconsiderequesejaocréditobancário,o
BancoCentralpodetentarinfluenciaraatividadedosbancosatravésda
administraçãodopreçodamoeda,istoé,dataxadejuros.
Meta intermediária (I): moeda
A importância do conceito de oferta de moeda está associada à capa-
cidade de consumo que representa: quanto mais dinheiro possuímos,
maiorénossacapacidadedeadquirirbenseserviços.
Vimos no capítulo anterior que a Teoria Quantitativa da Moeda
(TQM)prevêqueumaumentodaofertademoedaacarretaumaumento
donívelgeraldepreços,ouseja,dainflação.Aformulaçãomaistradi-
cionaldaTQMé:
FÓRMULA
MV = PQ
M é quantidade de moeda
V é a velocidade de circulação da moeda (o número de vezes que a moeda
troca de mãos)
P é o nível geral de preços
Q a quantidade de bens e serviços transacionados
SegundoaTQM,adotadapeloseconomistasmonetaristas,seosal-
dodemeiosdepagamentoaumentaeaquantidadedebenseserviços
disponíveis na Economia permanece constante, os preços dos bens e
serviçostendemaaumentar,gerando,portanto,inflação.Ainda,quanto
maiorocrescimentodaofertadamoeda,maiorainflação,jáque,segun-
doosmonetaristas,aofertadebenseserviçosnãopodecrescernocurto
prazo.Segue-sequeaúnicaformadedebelarainflaçãoseriarestringir
oaumentodaofertademoeda,sendoesteopapelmaisimportanteque
devedesempenharoBancoCentral.
REFLEXÃO
Outra maneira de interpretar o mecanismo pelo qual um aumento da oferta de mo-
eda é transmitido aos preços é a seguinte: mais moeda em circulação implica maior
COMENTÁRIO
Mecanismos de transmissão
Os dois mecanismos de transmissão
tradicionalmente mais mencionados
na literatura são o da moeda e o do
crédito bancário.
COMENTÁRIO
Teoria Quantitativa da Moeda
A TQM considera que V e Q sejam
estáveis e que as variações em M de-
terminam as variações, na mesma pro-
porção, de P.
capítulo 5 • 101
liquidez, ou seja, a moeda é mais facilmente negociada. Com isso, o preço da mo-
eda, que é a taxa de juros, se reduz. A menor taxa de juros induz os empresários
a aumentarem os investimentos produtivos e a contratarem mais mão de obra; os
consumidores aumentarão suas compras, porque haverá menor incentivo a manter o
dinheiro em aplicações financeiras etc.
Tudoissofaráaumentarademandaagregadae,supondoqueaoferta
debenseserviçosnãoaumentedeimediato,ospreçostenderãoasubir.
Oesquemaaseguirmostraoefeitodeumapolíticamonetáriaexpansiva.
Assim, se considera que o
mecanismo de transmissão é
a moeda, a autoridade mone-
táriatemcomometainterme-
diária o controle da oferta de
moeda. Em outras palavras,
se a inflação é causada pelo
aumento da oferta de moeda,
a política monetária deve ser
exercidaatravésdocontroleda
ofertademoeda.
Um dos problemas apontados pelos economistas críticos da visão
monetaristaécomosedevemensurarofertademoeda,queéavariável
asercontrolada.Entretanto,oferta de moedaéumconceitocontroverso.
Comoépossívelmensurarmoeda?
ATENÇÃO
Tradicionalmente, a oferta de moeda está associada ao conceito mais restrito de
meios de pagamento (M1), que é composto pelo saldo de papel-moeda em poder do
público, emitido pelo Banco Central, mais o saldo dos depósitos à vista (ou depósitos
em conta-corrente) emitidos pelos bancos comerciais. Estes seriam os dois ativos
financeiros que possuem maior liquidez e são aceitos, legalmente, em pagamentos.
ParaentendercomooBancoCentralexercecontrolesobreaoferta
demoeda—definidacomoM1—éprecisodistinguir,inicialmente,ou-
traformademoeda.AmoedaemitidadiretamentepeloBancoCentral
é chamada de base monetária (M0), que é constituída pelo somatório
dopapel-moedaemitido—quefazpartedoconceitodeM1—edasre-
servasbancárias,quesãoumaespéciedeconta-correntequeosbancos
mantêm,atémesmoporobrigaçãolegal,noBancoCentral.
FÓRMULA
M0 = papel-moeda em poder do público + reservas bancárias
M1 = papel-moeda emitido + depósitos à vista
COMENTÁRIO
Controle de oferta da moeda
Milton Friedman propunha que um
determinado percentual de aumento
anual da oferta de moeda deveria ser
matéria constitucional.
COMENTÁRIO
Papel-moeda emitido
A diferença, portanto, entre M1 e base
monetária é que M1 inclui o saldo dos
depósitos à vista, enquanto a base
monetária inclui o saldo das reservas
bancárias. O Banco Central só é capaz
de controlar diretamente as reservas
bancárias, já que é ele quem as emite;
mas só controla indiretamente os de-
pósitos à vista. Como veremos a seguir,
este controle de M1 é feito através das
variações nas reservas bancárias.
AUMENTO DA OFERTA DE MOEDA
REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS
AUMENTO DO INVESTIMENTO E DO CONSUMO
MAIOR DEMANDA AGREGADA
AUMENTO DO NÍVEL GERAL DE PREÇOS
102 • capítulo 5
Antes,porém,valerealçarofatodequeopapel-moeda(asnotasde
real e as moedinhas que usamos no dia a dia) é emitido apenas para
atender nossas necessidades de pagamentos, geralmente, de pequeno
valor,eessaemissãonãotemqualquerimportânciaparaapolíticamo-
netária, já que depende inteiramente da demanda por papel-moeda:
nãoseconcebequeaspessoastenhamestedireitonegadonocaixados
bancos,poissetalfatoocorressehaveriaumacrisefinanceira.
Atabelaaseguirmostraqueosaldodopapel-moedaemitidotemse
expandidotodososanos,oquesejustificapelacrescentedemandado
públicoporpapel-moedaemtermosabsolutos.
Brasil: Base Monetária. Saldos em final do período (R$ bilhões)
PeríodoPapel-moeda
emitidoReservas bancárias
Total
2009 131,9 34,2 166,1
2010 151,1 55,7 206,8
2011 162,8 51,5 214,3
2012 187,4 45,9 233,4
Fonte: Banco Central do Brasil
AformacomooBancoCentraltentacontrolaraofertademoedaé
através do controle das reservas bancárias, cujo saldo varia ano a ano
(comovocêobservanatabela).OBancoCentralaumentaaofertadere-
servasbancáriascreditandonacontadosbancosovalorcorresponden-
tedoativoqueadquiriudosbancos.
EXEMPLO
Por exemplo, quando compra dólares que estejam em poder de um banco, o Banco
Central deposita o equivalente em reais na conta reserva bancária deste banco. Nes-
se sentido, é um mecanismo semelhante ao utilizado pelos bancos ao concederem
empréstimos a seus clientes: o banco deposita o dinheiro emprestado na conta-cor-
rente do cliente. Por outro lado, quando quer reduzir o montante de reservas bancá-
rias disponível para os bancos, o BC vende um ativo (dólares, títulos do governo etc.)
para os bancos, que pagam ao BC sacando sobre sua conta de reservas bancárias.
Aoprovocarumaumentoouumareduçãodasreservasbancárias,o
BancoCentralesperaaumentaroureduziromontantededepósitosà
vistanosbancos. Istoporqueosbancospodem multiplicar,naforma
dedepósitosàvista,amoedacriadapeloBancoCentral—ouseja,as
reservasbancárias.
SuponhamosqueoBancoCentralaumenteaofertadereservasban-
cáriasdosbancos,porexemplo,aocomprartítulospúblicosqueeste-
jamempoderdessesbancos.Osbancospodememprestarpartedessas
COMENTÁRIO
Necessidades de pagamentos
A tendência é que, com o uso cres-
cente de cartões de crédito e de débi-
to em operações de pequeno valor, o
uso de papel-moeda seja gradualmen-
te reduzido.
COMENTÁRIO
Multiplicar
Esse mecanismo é chamado de multipli-
cador de moeda bancária, que parte do
princípio de que apenas parte dos depó-
sitos à vista é sacada na forma de papel-
moeda pelos correntistas dos bancos.
capítulo 5 • 103
reservas a seus clientes. Ao fazê-lo, os bancos criam depósitos à vista.
Qualaproporçãodasreservasbancáriasqueosbancosirãoemprestar?
EXEMPLO
Vamos novamente supor que os bancos, por conta própria ou por decisão do Ban-
co Central, decidam manter 20% do saldo em conta-corrente de seus clientes (ou
seja, dos depósitos à vista) em seu caixa (ou seja, como reserva bancária). Se agora
eles têm mais 100 unidades monetárias nas suas reservas (o que pode ocorrer,
por exemplo, quando o Banco Central compra dólares que estejam em poder dos
bancos), eles podem emprestar um total de 500 unidades monetárias a mais, o que
fazem depositando esta quantia na conta-corrente dos tomadores de empréstimo.
RESUMO
Dessa forma, os bancos estarão emitindo 500 em depósitos à vista, mas mantendo
100 em reservas (20% dos depósitos à vista são mantidos em suas reservas), ou
seja, os bancos terão multiplicado as reservas bancárias por 5 ao criarem 500 uni-
dades monetárias na forma de depósito à vista.
Esse mecanismo do multiplicador bancário ajuda a entender um
dosinstrumentosdepolíticamonetáriaàdisposiçãodoBancoCentral,
queéodepósitocompulsório.
Umdosprincipaisproblemasdeusarocontroledaofertademoe-
dacomometa intermediáriadepolíticamonetáriaéque,nasúltimas
décadas,osbancos criaramdiversas formasdecaptação derecursos
alternativas ao depósito à vista, como os fundos de investimento de
curtoprazo,depósitosdepoupança,depósitosaprazoetc.,depósitos
estesquepossuíamliquidezsemelhanteàdosdepósitosemconta-cor-
rente.Comisso,emtodosospaísesquepossuemumsistemafinancei-
rodesenvolvido,comoéocasodoBrasil,aparticipaçãodeM1nototal
dosmeiosdepagamentodiminuiu.
REFLEXÃO
Essa talvez seja uma das principais razões que expliquem o fato de os bancos cen-
trais não mais estabelecerem metas de expansão monetária como faziam nas déca-
das de 1970 e 1980. Desde então, estudos elaborados por diversos bancos centrais
e economistas acadêmicos mostravam que não havia relação entre o aumento da
oferta de moeda (M1) e o comportamento da inflação.
Defato,noBrasil,acadernetadepoupançaéumexemplodeativo
financeirocomgraudeliquidezquaseigualàdosdepósitosemconta-
corrente.Omesmosepodedizerdosrecursosaplicadosemfundosde
COMENTÁRIO
Depósito compulsório
Ainda no mesmo exemplo, se o Banco
Central determina, por exemplo, que
os bancos devam manter em reserva
bancária o equivalente a 50% dos de-
pósitos à vista de seus clientes, eles
só poderão emprestar 200 unidades
monetárias e, portanto, só poderão
emitir 200 unidades monetárias adi-
cionais de depósitos à vista para seus
clientes a partir da um aumento de
100 unidades monetárias de suas re-
servas bancárias. Neste caso o multi-
plicador bancário é igual a 2.
104 • capítulo 5
investimento:aqualquermomento,essesrecursospodemsersacadose
transferidosparaosdepósitosàvista.
Assim,seoBancoCentraldesejassecontrolaraoferta de moeda,ele
teriadesercapazdecontrolartambémosdepósitosdepoupança,osal-
dodasaplicaçõesemfundosdeinvestimentoetc.Eissonenhumbanco
central é capaz de fazer, direta ou indiretamente, assim como não há
evidências de que o comportamento desses outros componentes dos
meiosdepagamentotenharelaçãocomasvariaçõesdeM1.
AtabelaaseguirregistradiferentesmaneirascomooBancoCentral
doBrasilcontabilizaosaldodosmeiosdepagamento,ouseja,aoferta
demoeda.AtabelarevelaqueosaldodeM1,sobreoqualoBancoCen-
tral temalgumcontrole,émenosdeumdécimodototaldemeiosde
pagamentoemumsentidomaisamplo(M4),equeasoutrasformasde
moedatêmaumentadomaisrapidamentequeotradicionalM1.
Brasil: Haveres Financeiros. Saldos em final do período (R$ bilhões)
Período M1 M2 M3 M4
2009 248,1 1164,9 2203,8 2602,3
2010 280,1 1347,3 2535,9 3055,3
2011 285,4 1617,5 3030,3 3550,2
2012 324,5 1763,9 3518,2 4103,2
M2 = M1 + Depósitos de poupança e depósitos a prazo
M3 = M2 + Quotas de fundos de investimento
M4 = M3 + Títulos públicos
Fonte: Banco Central do Brasil
Emresumo,aofertademoedaéumavariávelextremamentedi-
fícildecontrolar(quandonãoimpossível).Portanto,desdeadécada
de1990,osbancoscentraisabandonaramocontroledaquantidade
demoedaemcirculaçãoepassaramacontrolaropreçodamoeda,ou
seja,ataxadejuros.Aindanessecaso,comoveremosaseguir,ataxa
dejurossobreaqualoBancoCentralteminfluênciadiretaéapenas
ataxadejurosdomercadodamoedaqueele,BancoCentral,emite,
quesãoasreservasbancárias.
Meta intermediária (II): taxa de juros
Desdemeadosdosanos1980,osbancoscentraisdeixaramdeestabele-
cermetasdeofertademoeda,epassaramausarasvariaçõesdataxade
jurosdecurtoprazocomoprincipalmeiodeexercerinfluênciasobreo
ritmodaatividadeeconômicae,consequentemente,sobreocomporta-
mentodataxadeinflação.
COMENTÁRIO
Taxa de juros de curto prazo
A taxa de juros que pode ser adminis-
trada diretamente pelo Banco Central
é a taxa de juros praticada no mercado
de reservas bancárias — a taxa de juros
básica. Como vimos anteriormente, as
reservas bancárias são depósitos que
os bancos mantêm no Banco Central.
capítulo 5 • 105
RESUMO
As reservas bancárias são, na prática, a moeda utilizada pelos bancos quando fazem
negócios entre eles. Suponhamos dois bancos, Banco A e Banco B. Quando o clien-
te do Banco A deposita no seu banco o cheque de um cliente do Banco B, o Banco
B transfere ao Banco A o equivalente em reservas bancárias. Reservas bancárias
são também a moeda usada pelos bancos comerciais nas suas transações com o
Banco Central. Por exemplo, quando compra dólares que estão em poder de um ban-
co comercial, o Banco Central faz o pagamento depositando os reais equivalentes
na conta reservas bancárias do banco comercial. Se o Banco Central quer diminuir
o saldo de reservas bancárias dos bancos, ele geralmente o faz vendendo títulos do
Tesouro Nacional para os bancos, que pagam ao Banco Central com reservas ban-
cárias, ou seja, reduzindo seu saldo naquela conta.
Portanto,osbancosestãoatodoomomentodemandandoouofertan-
doreservasbancárias.Nessemercado,conhecidocomointerbancário,as
reservasbancáriastêmumpreço,queéataxadejuros—noBrasiléataxa
Selic.Acada45dias,oComitêdePolíticaMonetária(COPOM)sereúne
paradecidirqualseráametadesejada.
OBancoCentralutilizaseusinstrumentos de política monetáriapara
fazercomqueataxadejurosefetivamentepraticadanomercadointer-
bancáriosejaamaispróximapossíveldametaporeleestabelecida.A
determinação,peloBancoCentral,deumametaparaataxaSelicé,por-
tanto,opontocentraldapolíticamonetária.Vejaoquadroaseguirno
qualháumcomparativodevariaçãodataxa:
Taxa Selic (1996 - 2013)
0
26
/06
/96
26
/06
/97
26
/06
/98
26
/06
/99
26
/06
/00
26
/06
/01
26
/06
/02
26
/06
/03
26
/06
/04
26
/06
/05
26
/06
/06
26
/06
/07
26
/06
/08
26
/06
/09
26
/06
/10
26
/06
/11
26
/06
/12
26
/06
/13
510
% a.a.
1520253035404550
Fonte: Banco Central do Brasil
AtaxaSelicéataxamínimadecaptaçãodosbancos.Quandoaumen-
taametaparaataxaSelic,oBancoCentralestáexecutandoumapolítica
monetáriacontracionista,poisastaxasdeoutrostítulosfinanceiros(por
exemplo,CertificadosdeDepósitoBancário,quesãodepósitosaprazo)
tambémdevemsubir,ouseja,odinheiroficamaiscaroparaosbancos.
COMENTÁRIO
Taxa Selic
Selic é sigla de Sistema Especial de
Liquidação e Custódia, um sistema
administrado pelo Banco Central, que
registra as negociações com títulos do
Tesouro Nacional.
106 • capítulo 5
ATENÇÃO
A expectativa da autoridade monetária é de que os bancos, para poderem manter
seus ganhos com a intermediação financeira, elevem os juros cobrados nos emprés-
timos a seus clientes.
Esseaumentodataxadejurosreduzademandaporempréstimos,
tantoparainvestimentosprodutivoscomoparaoconsumo,levandoa
umaretraçãodaatividadeeconômica(oudoritmodecrescimentoda
demandaagregada).Oobjetivoúltimodetalmedidaéreduzirpressões
inflacionáriasquesejamentendidascomoprovenientesdeumexcesso
dedemandaagregada.
Oesquemaaseguirretrata,resumidamente,umexemplodepolí-
ticamonetáriaexpansionista.Oobjetivoúltimoéestimularocresci-
mentoeconômico.
REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS DO MERCADO INTERBANCÁRIO
AUMENTO DOS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS
AUMENTO DA DEMANDA AGREGADA
AUMENTO DA ATIVIDADE ECONÔMICA
Meta de inflação
NoBrasil,apartirde1999,foiadotadooregimedemetasdeinflação,
quesubstituiuametacambialestabelecidaduranteaprimeirafasedo
PlanoReal.Em2013,ocentrodametadeinflaçãoerade4,5%,comin-
tervalodetolerânciade2,0(vertabelaaseguir).
Histórico de Metas para a Inflação no Brasil
Ano Meta(%) Banda (p.p.)Limites Inferior e Superior (%)
Inflação Efetiva (IPCA % a.a.)
1999 8 2 6-10 8,94
2000 6 2 4-8 5,97
2001 4 2 2-6 7,67
2002 3,5 2 1,5-5,5 12,52
2003 4 2,5 1,5-6,5 9,30
2004 5,5 2,5 3-8 9,60
2005 4,5 2,5 2-7 5,69
COMENTÁRIO
Demanda agregada
Como veremos mais adiante, a eleva-
ção da taxa de juros também é uma
forma de influenciar o comportamento
da taxa de câmbio, porque pode atrair
dólares do exterior para serem aplica-
dos no mercado financeiro brasileiro.
COMENTÁRIO
Metas de inflação
A meta de inflação é definida pelo
Conselho Monetário Nacional, com-
posto pelos ministros da Fazenda e do
Planejamento, além do presidente do
Banco Central.
capítulo 5 • 107
Ano Meta(%) Banda (p.p.)Limites Inferior e Superior (%)
Inflação Efetiva (IPCA % a.a.)
2006 4,5 3,5 2-7 3,14
2007 4,5 2 2,5-6,5 4,46
2008 4,5 2 2,5-6,5 5,90
2009 4,5 2 2,5-6,5 4,31
2010 4,5 2 2,5-6,5 5,91
2011 4,5 2 2,5-6,5 6,50
2012 4,5 2 2,5-6,5 5,84
2013 4,5 2 2,5-6,5 5,91
Fonte: Banco Central do Brasil
RESUMO
Ao predeterminar limites toleráveis para a inflação, o governo procura mostrar para
a sociedade que prioriza o combate à inflação, e sinaliza como o Banco Central deve
executar a política monetária. Se a taxa de inflação se aproxima do limite superior, o
Banco Central deve executar uma política monetária contracionista, elevando a taxa
de juros. Caso a taxa de inflação esteja próxima ao limite inferior, isto significaria
maior espaço para executar uma política monetária expansionista.
Instrumentos de política monetária: introdução
Osinstrumentosdepolíticamonetáriapodemseracionadostantopara
estimular a concessão de crédito (política monetária expansionista),
como para reduzir o ritmo da atividade bancária (política monetária
contracionista). Os instrumentos clássicos de política são o depósito
compulsório,ataxaderedescontoeasoperaçõesdemercadoaberto.
Depósito compulsório
Comovimos,todososbancosmantêmumacontadereservas bancárias
noBancoCentral,atravésdaqualosistemabancário(inclusiveoBanco
Central) faz suas movimentações financeiras. Todos os bancos comer-
ciais(quesãoaquelesautorizadosaemitirdepósitoàvista)sãoobriga-
dosamanterumsaldomínimonestaconta,queéumaproporçãodo
saldodedepósitosàvistadosseusclientes.
Estaproporçãomínimaéchamadadedepósito compulsório,tendo
duas funções. A primeira é garantir que os bancos tenham recursos
parasatisfazeràsdemandasdeseusclientesquequeiramsacarpapel-
moedanoscaixasoutransferirrecursosdesuacontaparaoutrobanco.
COMENTÁRIO
Bancos comerciais
Bancos autorizados a emitir depósito
à vista.
108 • capítulo 5
Asegundafunçãoéregularacapacidadedosbancosdeconcederempréstimos:quanto
maioraproporçãodereservasbancáriasemrelaçãoaosdepósitosàvista,ouseja,quanto
maiorodepósitocompulsório,menoracapacidadedosbancosdeemprestarparaseus
clientesatravésdomultiplicador bancário.
RESUMO
Portanto, quando eleva o percentual de depósito compulsório, o Banco Central está adotando uma política
monetária contracionista; e vice-versa, se reduz a obrigatoriedade de manter reservas dos bancos, está
praticando uma política monetária expansionista.
AUMENTO DA ALÍQUOTA DO DEPÓSITO COMPULSÓRIO
DIMINUIÇÃO DO MULTIPLICADOR BANCÁRIO
REDUÇÃO DO CRESCIMENTO DOS EMPRÉSTIMOS E DOS DEPÓSITOS À VISTA
MENOR LIQUIDEZ
AUMENTO DA TAXA DE JUROS
Taxa de redesconto
Umadasfunçõesmaisimportantesdequalquerbancocentraléadeserumempresta-
dor de última instância para os bancos. Ao longo da história, esse tem sido um papel
fundamental desempenhado pelos bancos centrais, que tradicionalmente emprestam
recursosparabancoscomproblemasdeliquidez,e fazemissocreditandonacontare-
servas bancárias(mencionadaanteriormente).Essetipodeempréstimoéoredescontoou
assistência financeira de liquidez.
ATENÇÃO
O Banco Central cobra juros nesses empréstimos. Alterar a taxa de juros das operações de redesconto é
uma forma de influenciar a atuação dos bancos, ou seja, é um instrumento de política monetária.
Se o Banco Central aumenta a taxa de redes-
conto, os bancos devem atuar mais comedida-
mente na concessão de crédito, porque pagarão
maiscaroparaobterreservasbancárias,casone-
cessitem.Poroutrolado,quandoreduzataxade
redesconto,oBancoCentralestásinalizandoque
osbancospodemaumentarosempréstimoscon-
cedidosaseusclientes.
REDUÇÃO DA TAXA DE REDESCONTO
EXPANSÃO DO CRÉDITO BANCÁRIO
REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS
AUMENTO DA LIQUIDEZ
capítulo 5 • 109
Operações de mercado aberto (ou open market)
O instrumento de política monetária mais utilizado são as operações
demercadoaberto,atravésdasquaisoBancoCentralcompraouvende
títulosdadívidapúblicaparaosbancoscomoobjetivode,respectiva-
mente,aumentaroureduziraliquidezdomercadointerbancário.
RESUMO
O interbancário, como mencionado antes, é o mercado onde os bancos negociam
reservas bancárias entre eles, e em que o Banco Central atua comprando (venden-
do) títulos do TN para aumentar (diminuir) o saldo de reservas bancárias e, com isso,
influindo na taxa de juros desse mercado (basicamente, a taxa Selic).
Quandoademandaporreservasbancáriasémaiorqueaoferta,ataxa
Selictendeaseelevaracimadameta.Nessemomento,oBancoCentral
podecomprartítulosqueestejamempoderdosbancos,oqueprovoca
umaimediataelevaçãodosaldodereservasbancáriase,portanto,uma
tendênciaàquedadataxaSelicemdireçãoàmeta.Poroutrolado,seé
identificadoumexcessodeliquideznomercadodereservasbancárias—
oquepodefazercomqueataxaSelicpraticadafiqueabaixodameta—,o
BancoCentralvendetítulosdadívidapúblicaparaosbancos,reduzindo,
dessamaneira,asreservasbancáriasdisponíveisparaosbancos.
BANCO CENTRAL COMPRA TÍTULOS DO TN EM PODER DOS BANCOS
AUMENTAM AS RESERVAS BANCÁRIAS
AUMENTO DA LIQUIDEZ
DIMINUI A TAXA DE JUROS DO MERCADO DE RESERVAS BANCÁRIAS (TAXA SELIC)
Instrumentos diretos de política monetária
Aeficáciadapolíticamonetáriatemsemostradoreduzidadesdeaeclosão
dacrisefinanceiraem2008.NosEUA,porexemplo,ataxadejurosdomer-
cado de reservas bancárias — a chamada FED funds — foi reduzida para
0,25% ao ano, mas não se verificou uma elevação dos empréstimos ban-
cários.Obancocentralamericanopassouentãoautilizarumnovoinstru-
mento, não tradicional, chamado afrouxamento monetário (quantitative
easing).OBancodaInglaterrae,emmenormedida,oBancoEuropeu,têm
adotadomecanismosemelhante.Emtodosessespaíses,nemmesmoes-
sesinstrumentosdeintervençãodiretasurtiramosefeitosdesejados.
Também no Brasil o governo adotou políticas monetárias não
convencionais como forma de enfrentar a crise. Em particular, foram
CONCEITO
Afrouxamento monetário
É um programa de compras de ativos
que, entre setembro de 2008 e feverei-
ro de 2013, elevou o saldo de reservas
bancárias (cerca de US$40 bilhões),
que vinha sendo mantido nesse ní-
vel durante muitos anos, para mais de
US$2 trilhões. O Banco da Inglaterra
e, em menor medida, o Banco Europeu,
têm adotado mecanismo semelhante.
Em todos esses países, nem mesmo es-
ses instrumentos de intervenção direta
surtiram os efeitos desejados.
110 • capítulo 5
usadososbancospúblicos—BancodoBrasil,CaixaEconômicaeBancoNacionaldeDe-
senvolvimentoEconômicoeSocial—paraincrementarosempréstimosbancários,oque
forçouosbancosprivadosaseguiremoexemplo,paranãoperderemmercado.Consequen-
temente,contrastandocomaexperiênciadeoutrospaíses,foiregistradofortecrescimento
docrédito—entre2008e2012,osaldodosempréstimosbancárioscomoproporçãodoPIB
elevou-sede40,5%para53,8%.
Política monetária e preço de ativos
Desde a crise financeira de 2007-2008, tem aumentado a preocupação dos economistas com as
oscilações dos preços dos ativos em geral. Quando o Banco Central mantém por muito tempo uma
política monetária expansionista, por exemplo, para incentivar o crescimento econômico, a taxa de ju-
ros dos ativos financeiros de renda fixa torna-os pouco atraentes para os investidores, que passam a
preferir assumir riscos adquirindo ativos de renda variável (tipicamente ações de empresas) e também
imóveis residenciais e comerciais. Tem lugar, portanto, uma inflação de ativos, isto é, uma elevação do
valor das ações (mercado de capitais) e dos imóveis (mercado imobiliário). O aumento excessivo dos
valores praticados nesses dois mercados pode configurar a formação de uma bolha especulativa, que
pode ser definida como uma elevação anormal (ou, como preferem alguns economistas, irracional) do
preço de um ativo. A capacidade do Banco Central de atuar nessa situação tem sido muito discutida:
se o Banco Central não intervém furando a bolha (isto é, aumentando a taxa de juros), pode levar a
uma contaminação da inflação de ativos para o resto da Economia; por outro lado, se fura a bolha, pode
ocasionar uma súbita reversão dos preços e, portanto, precipitar uma crise financeira.
Política cambial
Políticacambialpodeserdefinidacomooconjuntodemedidasgovernamentaisvisan-
doinfluenciarocomportamentodataxadecâmbio,istoé,opreçodamoedanacional
em relação às moedas estrangeiras mais utilizadas no comércio internacional — no
casodoBrasil,odólaramericano.
ATENÇÃO
A política cambial inclui a escolha, pelo governo, da forma como é determinada a taxa de câmbio oficial
— se a taxa de câmbio é fixada pelo governo ou livremente pelo mercado, ou uma solução intermediária.
Ataxadecâmbionominaléovalordamoedanacionalmedidoemoutramoeda.No
Brasil,ataxadecâmbionominaldivulgadadiariamentepeloBancoCentraléarelaçãodo
realcomodólaramericano.
EXEMPLO
Por exemplo, em 17 de março de 2014, a cotação do dólar no mercado doméstico de câmbio no fecha-
mento do dia era de R$2,3513 (compra) e de R$2,3528 (venda). Quando a moeda nacional se desvaloriza,
ou seja, quando se verifica uma subida no câmbio, o valor da moeda de referência medido em moeda na-
capítulo 5 • 111
cional aumenta. Assim, se o valor do dólar passa de R$2,00 para R$2,20, diz-se que
o real se desvalorizou (neste caso, em 10%). Por outro lado, se a cotação do dólar
diminui, diz-se que há uma valorização do real.
Empaísesquenãoemitemmoedadeamplaaceitaçãointernacional,a
taxadecâmbioéumavariávelfundamental.Essespaísestêmumarestri-
ção externa:paraadquirirbenseserviçosnoexterior,necessitamdemoe-
daforte(dólares,euros,ienesetc.).UmpaíscomooBrasilnãopodegastar
maismoedaestrangeiradoquerecebecomsuasexportações,ouseja,não
podemanterumbalançocomercialdeficitárioporperíodosprolongados.
Regimes cambiais: vantagens e desvantagens
Porregime(oupadrão)cambialentende-seaformacomoédeterminada
ataxadecâmbio:taxasdecâmbioflutuantes,taxadecâmbiofixaoutaxa
decâmbioadministrada.Cadaumdessesregimestemsuasvantagens
edesvantagens,eoseconomistassedividemquantoàmelhoropção.
Taxa de câmbio fixa
Emumextremo,temososistemadetaxadecâmbiofixa,emqueogo-
vernosecomprometeacomprarevenderdólaraumvalorporelepré
-estabelecido,oqualdevepermanecerconstanteporlongosperíodos.
Aolongodahistória,foioregimecambialmaisutilizado.
O Sistema de Bretton-Woods (taxa fixa) foi dissolvido em 1971,
quandoosEUAabandonaramaconversibilidadedoourocomdólar.
Desde então, os países centrais adotam, oficialmente, o regime de
taxasdecâmbioflutuantes.
REFLEXÃO
Nos anos 1980 e 1990, muitos países emergentes seguiram um regime de taxas de
câmbio fixas, ou quase fixas. A Argentina foi um exemplo clássico, tendo adotado,
entre 1989 e 2002, a conversibilidade do peso em relação ao dólar, mantendo fixa a
paridade de um dólar igual a um peso. O Brasil, na primeira fase do Plano Real, esta-
beleceu um regime cambial que mantinha o dólar dentro de uma variação estreita (a
chamada banda cambial) e, nesse sentido, seu regime cambial possuía as vantagens
e desvantagens atribuídas a um regime de taxa de câmbio fixa.
Parapaísescomhistóricodetaxasdeinflaçãoelevadas,afixaçãoda
taxadecâmbiocontribuiparaocombateàinflaçãoe,poressarazão,
éconsideradaumaâncora cambial.Defato,aestabilidadedataxade
câmbiopoderealmenteajudaradebelarainflação.
COMENTÁRIO
Balanço comercial
No capítulo anterior, através do caso
hipotético III sobre o Balanço de Pa-
gamentos, vimos que, se déficits co-
merciais não forem financiados pela
Conta de Capital e Financeira, haverá
perda de reservas internacionais.
COMENTÁRIO
Ao longo da história
Até o início da década de 1930, quan-
do se iniciou a Grande Depressão, a
maioria dos países (inclusive o Brasil)
adotava o padrão-ouro: a emissão de
moeda estava lastreada em ouro e
a taxa de câmbio era fixa. Os países
desenvolvidos voltaram a adotar um
regime de taxa de câmbio fixa a partir
do fim da Segunda Guerra Mundial (o
chamado Sistema de Bretton-Woods),
que admitia que a taxa de câmbio, em
determinadas situações, pudesse ser
alterada pontualmente.
112 • capítulo 5
EXEMPLO
Suponhamos que o governo fixe o valor do dólar em R$2,00 (desconsiderando impostos e tarifas). Se um
produto custa US$1,00, ele poderá ser importado por R$2,00. Como a inflação nos EUA é muito baixa,
daqui a um ano esse produto poderá estar custando o mesmo em dólar. Se a taxa de câmbio permanecer
US$1,00 = R$2,00, o produto continuará sendo importado pelos mesmos R$2,00, e ninguém conseguirá
vender tal produto acima desse valor no país. Note-se que, para que esse raciocínio faça sentido, é preciso
que haja plena liberdade de importação (abertura comercial).
Entretanto,aescolhadoregimecambialinfluenciaasdecisõessobrepolíticamonetá-
ria.Aadoçãodeumregimedetaxadecâmbiofixatendearestringiracapacidadedogover-
nodegerirataxadejuroseseusgastoscomoobjetivodeestimularaatividadeeconômica.
Suponhamos que o valor da moeda americana seja fixado em R$2,00. Neste caso, o
BancoCentralassumeocompromissodecomprarqualquerquantidadededólarporesse
valor.Seocorreumacrisefinanceirainternacional,ascondiçõesdomercadocambialse
deterioram,porquenessesmomentososinvestidoresestrangeirosprocuramretirarseus
recursosdopaís;paraisso,compramdólaresnomercadodecâmbio,levandoaumaten-
dênciaàvalorizaçãodamoedaamericana.
REFLEXÃO
Para impedir que o valor do dólar suba, o Banco Central seria então forçado a vender dólares, sempre a
R$2,00. A capacidade do banco central brasileiro de vender dólares está limitada à quantidade de divisas
acumuladas (ou seja, das reservas internacionais).
Namedidaemquevendedólares,asreservasinternacionaisdiminuem,oqueprovavel-
mentelevaráosinvestidoresademandaremaindamaisdólares.Nessasituação,oBanco
Centralsevêobrigadoapraticarumapolíticamonetáriacontracionista,elevandoataxa
dejuros,comoobjetivodeatrairdólaresdoexterioredetentarconvencerosinvestidores
estrangeirosamanteremseusdólaresnopaís.
Nesseexemplo,aelevaçãodataxadejurosnãoestariaexplicadaporumapercepçãode
quehaveriaalgumtipodepressãoinflacionária,massimcomoobjetivodemanterapari-
dadecambialpré-estabelecida.Pelomesmoraciocínio,oBCnãopoderiareduzirataxade
jurosparaestimularaatividadeeconômica,seentendessequeessareduçãolevariaauma
pressãosobreataxadecâmbio.
RESUMO
A elevação da taxa de juros visando manter o equilíbrio do mercado cambial acaba refletindo também
na política fiscal. O aumento dos juros, como vimos, provoca uma elevação do déficit nominal. Para
mostrar aos investidores sua capacidade de honrar o pagamento dos juros da dívida pública, o governo
se veria forçado a praticar uma política fiscal contracionista, independentemente da situação em que
se encontrasse a Economia.
capítulo 5 • 113
Portanto, uma grande desvantagem do regime de taxa de câmbio
fixaéquandoocorreumacriseinternacional,comoasqueocorreram
noMéxico(1994-1995),naÁsia(1997)enaRússia(1998),quandoseveri-
ficouumafugadecapitais,ouseja,osinvestidoresestrangeirosretiram
seusdólaresdepaísescomooBrasil.
Afixaçãodataxadecâmbiopodetambémserconsideradaprejudi-
cialporoutromotivo.Noexemplocitadoanteriormente,umdetermina-
doprodutonãopodecustarmaisdeR$2,00noBrasil.Masesenenhum
produtor nacional puder produzir tal produto por esse valor? Nesse
caso,oconcorrenteexternopoderáeliminaroprodutorbrasileiro,oque
gerariadesempregoentrenós.
Taxas de câmbio flutuantes
Muitoseconomistasacreditamque,emumregimedetaxadecâmbio
flutuante,ataxadecâmbiopraticadapelomercadoseráaquelaquepro-
moverá o equilíbrio das contas externas. Se houver déficit nas transa-
çõescorrentes,amoedanacionalirásedesvalorizar(ovalordodólarvai
aumentar)porquehaverámenosdólaresdisponíveisnomercadocam-
bial(vercapítulo4).Consequentemente,asexportaçõesaumentarãoe
as importaçõescairão,restabelecendo-seassimoequilíbrio.Agrande
desvantagem é que a desvalorização poderá ter efeitos inflacionários,
porqueencareceráospreçosdosprodutosimportados.
EXEMPLO
A desvalorização da moeda aumenta a competitividade dos produtores nacionais.
Suponhamos que uma empresa brasileira possa produzir um determinado produto
por R$10,00, e que o preço internacional deste produto seja US$5,00. Se a taxa de
câmbio for US$1,00 = R$2,00, este produtor não terá lucro ao exportar. Entretanto,
se o real se desvalorizar para US$1,00 = R$4,00, o produtor receberá R$20,00 pelo
produto exportado. Alternativamente, poderá se tornar mais competitivo ao oferecer
o produto por US$4,00, e ainda assim obter lucro.
Nocasocontrário,ouseja,dequeumsuperávitdascontasexternas
promovaumavalorizaçãocambial(opreçododólarcai),avantagemserá
umareduçãonapressãosobreainflação;entretanto,avalorizaçãosigni-
ficaráumareduçãodasexportações,menorníveldaatividadeeconômica.
Umavantagemadicionaldoregimedetaxadecâmbioflutuanteéque
eleofereceaoBancoCentralaoportunidadedeexecutarpolíticasmonetá-
riasvisando,exclusivamente,reduzirasflutuaçõeseconômicas,semseim-
portarcomnenhumametacambial;assim,quandoocorreumacrisefinan-
ceirainternacionalqueprovocasaídadedivisase,portanto,desvalorização
damoedanacional,oBancoCentralnãoéobrigadoaelevarataxadejuros.
COMENTÁRIO
Países como o Brasil
Por ocasião das crises acima mencio-
nadas, a taxa de juros do mercado de
reservas bancárias no Brasil chegou a
alcançar 50% ao ano, em uma época
em que a inflação era muito baixa, o
que contribuiu para reduzir o ritmo da
atividade econômica.
114 • capítulo 5
EXEMPLO
Por exemplo, por ocasião da crise financeira de 2008, diferentemente do que ocorreu nas crises verifica-
das na década de 1990, o Banco Central pôde atuar de maneira a reduzir os impactos negativos da crise
internacional sobre o nível da atividade econômica no Brasil, o que não teria sido possível caso tivesse
como missão a manutenção de uma taxa de câmbio predeterminada.
Nosperíodosdecriseinternacionaladesvalorizaçãonãonecessariamenterepresenta
umaameaçaàsmetasdeinflação,porqueaatividadeeconômicatendeasecontrair.
Taxa de câmbio administrada
Emnenhumpaísasautoridadesmonetáriasdeixamdeatuarparaevitarflutuaçõesconsidera-
dasexcessivasnataxadecâmbio.Nessesentido,emboraoregimecambialseja,emtese,ode
taxadecâmbioflutuante,naprática,oregimecambialédetaxadecâmbioadministrada(tam-
bémchamadodeflutuação suja).Quandoconsideranecessário,oBancoCentraladotamedi-
dasvisandoinfluenciarocomportamentodomercadodecâmbio,queéondesãorealizadasas
operaçõesdecompraevendademoedaestrangeira(dólares,euros,ienes,librasesterlinasetc.).
REFLEXÃO
Se as autoridades consideram que o câmbio está desvalorizado, ou seja, que o valor do dólar está acima do
que seria ideal — o que poderia estar dificultando o combate à inflação —, o Banco Central pode atuar no
sentido de induzir uma redução da cotação do dólar no mercado de câmbio.
OBancoCentralpodeintervirdiretamente,vendendodólaresdesuasreservasinterna-
cionais,aumentandoassimaofertadedólaresnomercado,oquetendearesultaremque-
dadovalordodólar.OimpactosobreasreservasbancáriasdavendadedólarespeloBanco
Centralseráidênticoaodavendadetítulospúblicosemumaoperaçãodemercadoaberto,
istoé,reduziráosaldodereservasbancárias.
A política monetária também influencia o comportamento do mercado de câmbio. Por
exemplo,quandooBancoCentralpraticaumapolíticamonetáriacontracionista,elevandoa
taxadejuros,aumentaonúmerodeinvestidoresestrangeirosinteressadosemaplicardinheiro
emtítulospúblicosnoBrasil,ediminuiointeressedosinvestidoresbrasileirosemaplicarseus
recursosnoexterior.Poroutrolado,aumentaointeressedebancoseempresassediadosno
Brasilemtomardinheiroemprestadonoexterioreaplicá-losnoBrasil(éochamadoganhode
arbitragem).Comisso,aumentaaentradademoedaestrangeiranoBrasile,portanto,aliqui-
deznomercadodecâmbio,provocandopressãopelavalorizaçãodamoedanacional.
ATENÇÃO
Se o Banco Central não intervém no mercado de câmbio comprando o excesso de dólares, o preço da
moeda americana, de fato, se reduz. Como vimos, essa redução (que significa a valorização do real) con-
tribui para reduzir o preço dos produtos importados e, portanto, a taxa de inflação. Mas, por outro lado,
capítulo 5 • 115
incentiva o aumento das importações e diminui a capacidade de exportação das
empresas brasileiras, o que tende a levar a uma deterioração da balança comercial.
Portanto, outra forma de tentar evitar desvalorizações cambiais é
elevarataxadejuros,atraindorecursos(dólares)parasereminvestidos
nopaísemtítulosdadívidapública.PorocasiãodascrisesdoMéxico
(1995)edaÁsia(1997),oBancoCentralelevouataxaSelicparacercade
45%aoano,paraevitaradesvalorizaçãodoreal(vejanovamenteográfi-
cocontidonaseção“taxaSelic”).
POLÍTICA MONETÁRIARESTRITIVA
AUMENTO DA TAXA DE JUROS QUEDA DO VALOR DO DÓLAR
VALORIZAÇÃO DO REALQUEDA NO PREÇO
DOS PRODUTOS IMPORTADOSMENOR PRESSÃOINFLACIONÁRIA
VALORIZAÇÃO DO REALAUMENTO DAS IMPORTAÇÕES
E DIMINUIÇÃO DAS EXPORTAÇÕESDETERIORAÇÃO DA
BALANÇA COMERCIAL
Acumulação de reservas internacionais: vantagens e desvantagens
Desdequeabandonouoregimedeâncoracambial,noiníciode1999,o
BancoCentraldeixoudeteraobrigaçãodeacumularreservasinterna-
cionais,jáque,comaadoçãodoregimedelivreflutuaçãocambial,não
teriamaisrazão,emtese,paraintervirnomercadodecâmbio.
REFLEXÃO
Nos últimos anos, o Brasil, assim como diversos países emergentes, acumulou reser-
vas internacionais em ritmo acelerado. Parte desse acúmulo foi proposital: manter
um elevado saldo de moeda estrangeira representa uma proteção na eventualidade
de uma crise financeira internacional.
Brasil: Reservas Internacionais e Dívida ExternaSaldos em fim de período (em US$ bilhões)
Ano Reservas Internacionais Dívida Externa Bruta
2002 37,8 227,7
2004 52,9 220,2
2006 85,8 199,4
2008 193,8 262,9
2010 288,6 351,9
Fonte: Banco Central do Brasil
COMENTÁRIO
Atraindo recursos
Exemplificando, um investidor pode
tomar um empréstimo no exterior pa-
gando 5% de juros e aplicá-los no país
recebendo 10% — são os chamados
ganhos de arbitragem. Se não houver
desvalorização superior a 5%, o inves-
tidor obterá lucro.
116 • capítulo 5
Acrisede2008-2009,emboraconsideradaamaisgravedesdeade
1929,nãoafetoutãoprofundamenteospaísesemergentesporessara-
zão,emcontrastecomoqueocorreraporocasiãodascrisesdemenor
intensidadedosanos1990(México,ÁsiaeRússia).
Entretanto,partedoacúmulodereservassedeveàpolíticacambial
dosgovernos(porexemplo,doBrasiledaChina),queadquiriramreser-
vasparaimpedirumavalorizaçãoexcessivadesuasmoedas.
ATENÇÃO
A manutenção de elevados níveis de reservas internacionais representa um custo fi-
nanceiro para o governo. Ao adquirir dólares, o BC emite reservas bancárias, aumen-
tando a liquidez do mercado monetário. Para impedir que esse aumento de liquidez
acarrete uma diminuição da taxa Selic, o BC vende títulos do TN, aumentando assim
a dívida pública. O governo paga juros da dívida em volume superior ao que recebe,
aplicando os dólares que compra. O custo de manutenção das reservas internacionais
é, portanto, maior quanto mais elevada for a taxa de juros dos títulos da dívida pública.
Política de comércio exterior
Comovimos,asalteraçõesnataxadecâmbio,emboravisemprimordial-
menteequilibrarascontasexternas,tendematrazerrepercussõessobre
outras variáveis. Assim, para obter resultados desejados em relação à
balançacomercial,osgovernostradicionalmenteadotampolíticaspara
incentivarasexportaçõesereduzirasimportações,independentemente
dasvariaçõesquevenhamaocorrernataxadecâmbio.
No Brasil, tais medidas incluem a concessão de financiamentos
subsidiados através dos bancos oficiais e de incentivos fiscais. Tais
medidasdevemserentendidascomopartedapolíticaindustrial,isto
é,nocontextodadiscussãomaisgeralsobredesenvolvimentoeconô-
mico,comodestacadonocapítulo6.
Política Fiscal
Nocapítulo4,vimoscomoosgastosdogovernoeaarrecadaçãode
impostos influenciam a demanda agregada e a renda. Esta seção
apresentaumabrevediscussãosobrepolítica fiscalesuarelaçãocom
aspolíticasmonetáriaecambial.
COMENTÁRIO
Importações
Do lado das importações, o governo
pode impor barreiras protecionistas
através da elevação das alíquotas e do
estabelecimento de quotas para limitar
a importação de determinados produtos.
capítulo 5 • 117
Definição e objetivos
Apolíticafiscalérealizadapelogovernoaoadministrarseusgastoseao
decidircomovaifinanciartaisgastos.Idealmente,nosperíodosemque
aEconomiaestáseexpandindodemaneirasustentável,ogovernodeve
cobrirseusgastosatravésdacobrançadeimpostosetarifas.
ATENÇÃO
Quando o total de gastos é igual ao da receita com impostos, temos um orçamento
equilibrado. Entretanto, quando a receita supera os gastos, temos superávit orçamen-
tário. Quando as despesas do governo superam suas receitas (quando há déficit públi-
co ou orçamentário), a diferença pode ser financiada através do lançamento de títulos
de dívida. Pode ainda financiar seus gastos emitindo títulos de dívida. Por fim, pode sim-
plesmente emitir dinheiro, prática muito comum ao longo da história. Desde a Constitui-
ção de 1988, o Banco Central do Brasil está proibido de financiar diretamente o governo.
Oaumentodosgastosdogovernocontribuiparaelevarademanda
agregadadaEconomiae,portanto,representaumestímuloàatividade
econômica.Ocorte(acontenção)dosgastos,porsuavez,acarretaefeito
oposto,reduzindoademandaagregada.
O uso da política fiscal como instrumento de administração do
níveldaatividadeeconômicaéaconselhadoprincipalmenteporeco-
nomistaskeynesianos,queadvogamaideiadeque,emmomentosde
crise econômica e aumento do desemprego, o governo deve lançar
mãodosgastospúblicoscomomaneiradecompensarareduçãodos
investimentosprivados.
Déficit primário e déficit nominal
Comomencionadonocapítuloanterior,aexpressãodéficit públicocom-
preendedoisconceitos.Oprimeiroéodedéficit primário,queseverifi-
caquandoaarrecadaçãodogovernoatravésdacobrançadeimpostos
e contribuições não é suficiente para cobrir seus gastos correntes (no
pagamento dos salários dos seus funcionários, nos gastos com obras
públicas,manutençãodeescolasehospitaisetc.).
ATENÇÃO
Como o governo não deve mais emitir dinheiro, ele só pode gastar mais do que ar-
recada, se endividando.
Paraisso,ogovernoemitetítulosdedívida,quesãocompradosporin-
vestidoresinstitucionais,bancosetc.,equegeraadívidapública.Ogoverno
COMENTÁRIO
Investidores
No Brasil, a aquisição de títulos públi-
cos está disponível também para pes-
soas físicas, através do Tesouro Direto.
118 • capítulo 5
pagajurosporessadívida(osfamososjuros da dívida pública),sendoqueo
totalpagodejuroséfortementeinfluenciadopelataxa de jurosdostítulosda
dívidapública.Esta,porsuavez,estáemgrandepartevinculadaàtaxaSelic.
Osomatóriododéficitprimáriocomototalpagodosjurosdadívi-
dapúblicaéodéficit nominal.Nasestatísticasdogoverno,estedéficité
chamadodenecessidade de financiamento do setor público(NFSP).Parte
docrescimentodadívidamobiliáriadaUniãotemsidocausadapelane-
cessidade de rolagem da dívida pública, ou seja, o governo precisa de
recursosparapagarosjurosdadívida.
Exemplificando,atabelaaseguirmostraque,em2011e2012,ogover-
noobtevesuperávitsprimáriosequivalentesa3,1%e2,4%doPIB,respec-
tivamente.Entretanto,ocustoderolagemdadívida—osjurosdadívida
—foramsuperioresaessessuperávits,levandoaumdéficitnominal.
Brasil: Necessidades de Financiamento do Setor Público
Discriminação2011 2012
R$ bilhões % PIB R$ bilhões % PIB
Primário -128,7 -3,1 -105,0 -2,4
Juros 236,7 5,7 213,9 4,8
Nominal 108,0 2,6 108,9 2,4
Fonte: Banco Central do Brasil
Dívida bruta e dívida líquida
Ofinanciamentododéficitnominalsedá,portanto,atravésdacoloca-
çãodemaistítulospúblicosnomercado,elevando,dessamaneira,adí-
vidapública.Adívidapúblicapodesermensuradadediversasmaneiras.
Atabelaaseguirapresentatrêstiposdedados:adívidapúblicabruta,
queincluiadívidainternaeexterna;adívidapúblicalíquida,queéigual
àdívidabrutamenososcréditosdogoverno,oqueincluiasreservasin-
ternacionaisdoBancoCentral;eosaldototaldostítulosdogovernoem
poderdomercado,queéadívidamobiliária.
Brasil: Dívida pública (em % do PIB)
2010 2011 2012
Dívida líquida do Setor Público -128,7 -3,1 -105,0
Dívida pública mobiliária do Governo Federal
236,7 5,7 213,9
Dívida bruta do Governo Geral 108,0 2,6 108,9
Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório Anual
COMENTÁRIO
Superávits primários
O montante de recursos obtidos com o
superávit primário reduz a necessidade
de financiamento do governo; por isso,
aparece com sinal negativo na tabela.
capítulo 5 • 119
Éimportantenotarqueocomportamentodataxadecâmbiopodeafetarasituaçãodas
contaspúblicas.Umadesvalorizaçãodocâmbio,porexemplo,impactanegativamentenas
contasdogovernoaoelevarovalordostítulosdadívidapúblicaindexadosaodólar,ouà
outramoedaestrangeira.Todavia,adesvalorizaçãoaumentaovalordasreservasinterna-
cionaismedidoemreais,reduzindo,assim,osaldodadívidalíquidadosetorpúblico.
OfatodeoBrasilterregistradoexpressivocrescimentodesuasreservasinternacionais
nosúltimosanose,desde2011,amoedanacionaltersedesvalorizado,temcontribuído
paraareduçãodadívidalíquida,emboraadívidamobiliária,istoé,osaldototaldetítulos
dogovernoempoderdopúblico,tenhaseelevado.
Determinação da taxa de juros, déficits e dívida pública
Haveria uma relação entre a dívida pública e a taxa de juros dos títulos do governo? Este é um
tema que tem sido muito debatido no Brasil desde os anos 1980, e mais recentemente a partir da
chamada crise do Euro. Alguns economistas afirmam que quando a dívida pública é considerada
elevada, os agentes econômicos desconfiam da capacidade do governo de honrar seus compro-
missos financeiros, e por isso exigem um prêmio de risco, ou seja, juros mais altos para compen-
sá-los pelo risco de calote do governo. A solução seria o governo cortar seus gastos para produzir
um superávit nominal, para, aos poucos, ir reduzindo o saldo da dívida pública.
Outros economistas argumentam não haver uma relação direta entre a dívida e os juros. No caso do
Brasil, por exemplo, nossa situação fiscal não seria pior que a de outros países onde a taxa de juros
é consideravelmente mais baixa. No Brasil, a política adequada seria reduzir a taxa de juros, o que
naturalmente reduziria a NFSP e permitiria maior crescimento econômico. O aumento da atividade
econômica eleva a capacidade de arrecadação de impostos e reduz a relação dívida/PIB. Nos países
da periferia europeia mais afetados pela crise, como Grécia, Espanha e Portugal, a solução incluiria
um aumento dos gastos públicos para permitir o crescimento econômico no curto prazo.
ATIVIDADE
Quer explorar o assunto visto neste capítulo? Recomendamos uma visita ao site do Banco Central do
Brasil, em especial nas seções:
• Glossário
• O que é o COPOM
• Perguntas frequentes
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FEIJÓ, Carmem (et al.). Para entender a conjuntura econômica. Capítulos 7 e 8. Barueri, São Paulo: Manole, 2008.
122 • capítulo 6
6 Noções sobre Crescimento e Desenvolvimento Econômico
Comovimosnocapítulo4,sobreMacroeconomia,oestudodocresci-
mentoedodesenvolvimentoeconômicoéfeitoemtermosagregados.
Enquantooscapítulos4e5sãodedicadosàinterpretaçãomacroeconô-
micadecurtoprazo,estecapítuloseocupadolongoprazo.
Nestecapítuloaprenderemosnoçõessobreocrescimentoeode-
senvolvimento, que envolvem estratégias de longo prazo para que o
desempenhodeambossejaconsistenteeduradouro.Aopossuirtais
noções, seremoscapazesde intuirsobreascausasdasdiferençasde
rendaedeníveldedesenvolvimentoentreasnaçõesesobreaexistên-
ciadedisparidadesnadistribuiçãoderendaeriqueza.
NaEconomia,crescimentoedesenvolvimentonãotêmomesmosig-
nificado,emboraumpossaestarsempreassociadoaooutro.
ATENÇÃO
Crescimento econômico é o aumento contínuo da renda ou PIB, em termos ab-
solutos, descontada a inflação, e per capita, ao longo do tempo. Já o conceito de
desenvolvimento econômico, é mais amplo: é o aumento contínuo do bem-estar.
Odesenvolvimentolevaemcontaasalteraçõesdacomposiçãodo
produtoedaalocaçãodosrecursospelosdiferentessetoresdaeco-
nomia,deformaamelhorarobem-estareconômicoesocial.Ouseja,
alémdosindicadoreseconômicosdecurtoprazo,eleincluitambém
indicadores sociais, tais como os níveis de pobreza, desigualdade e
indicadoresdequalidadedevida,comoacessoaserviçosdesaúdee
educação,moradiadecenteetc.
Agoravamosnosaprofundarumpoucomaissobreessadistinção
entre crescimento, desenvolvimento e as variáveis que contribuem
para o aumento da riqueza e da melhoria da qualidade de vida dos
habitantesdeumanação.
Crescimento econômico versus desenvol-vimento econômico
No campo da Economia, o crescimento e o desenvolvimento econô-
mico podem aparecer frequentemente associados, mas ambos têm
significadoseimplicaçõesdiferentes.Porexemplo,podehavercresci-
mentoeconômicosem,necessariamente,ocorrerodesenvolvimento.
COMENTÁRIO
Disparidades
Uma pequena parcela da população vi-
vendo realmente muito bem, e a maio-
ria com níveis de renda bem abaixo do
nível de renda média.
capítulo 6 • 123
Nessecaso,ocrescimentoestariaocorrendo,massempromovermudançasnosproces-
sosdeproduçãoenadistribuiçãodarendaquelevassemaumamaiorinclusãosociale
reduçãodasdesigualdadesderendaeriqueza.
REFLEXÃO
O inverso é menos comum, mas também pode ocorrer, ou seja, uma Economia que promova melhoria no
bem-estar da população sem, contudo, apresentar evolução positiva nos indicadores de crescimento. Neste
caso, a riqueza acumulada estaria sendo mais bem distribuída, sem que a riqueza futura esteja aumentando.
Éclaroqueoidealseriaqueosdoismovimentosocorressemnamesmadireção:cresci-
mentodecurtoprazoassociadoàmelhorianaalocaçãoderecursos,queleveaumamelho-
rianadistribuiçãoderendaeriqueza,e,maisainda,queesteprocessosejacumulativo,ou
seja,maiscrescimentogerandomaisdesenvolvimento.
Assim, podemos entender que o crescimento econômico ocorre através do aumento
contínuodoProdutoInternoBruto(PIB)emtermosabsolutos,descontadaainflação,ou
porhabitante(per capita),aolongodotempo.Jáodesenvolvimentoeconômicorefere-sea
umestágioeconômico,socialepolíticodasociedade,representado,dentreoutrosindica-
dores,peloníveldeprodutividade(produtoportrabalhador),pelaevoluçãodadistribuição
derenda,peloníveldeescolaridadeetc.Vejamosaseguircomooseconomistasinterpre-
tamdistintamenteocrescimentoeodesenvolvimentoeconômico.
Crescimento econômico de longo prazo
Diferentementedosdoiscapítulosanteriores,ainterpretaçãododesempenhoeconômico
aolongodemuitosanos,porexemplo,10,20,50anos,nosmostraqueasflutuaçõesdapro-
duçãoedoempregoqueocorremnocurtoprazoperdemsuaimportânciarelativa.
ATENÇÃO
É o crescimento econômico que se sobressai, isto é, o aumento contínuo da produção real nacional, em
termos absolutos e per capita, ao longo do tempo.
Agora,podemosnosperguntar:oqueexplicaocrescimentodaproduçãonolongoprazo?
Ateoriaeconômicainiciaessaexplicaçãoapresentandoumafunçãodeproduçãoagregada,
quepodeserrepresentadadaseguinteforma:
FÓRMULA
Y = f(K, L, T)
K – estoque de capital
L – quantidade de mão de obra
T – conhecimento tecnológico disponível
124 • capítulo 6
O estoque de capital representa a capacidade produtiva de uma
Economia,istoé,aquantidadedebenseserviçosqueelapodepro-
duzir a cada período de tempo. A variação do estoque de capital é
determinada pelo fluxo de investimento, ou seja, para se acumular
capital(paraoestoquedecapitaldeumaEconomiaaumentar)épre-
cisoinvestir.
Paralelamente,aforçadetrabalhoédeterminadapelocrescimento
dapopulação.Quantomaiorapopulação,maioraforçadetrabalho.O
níveldeconhecimentotecnológicodisponíveldependedetodoprogres-
sotécnicodisponívelatéosdiasdehoje.Noentanto,quantomaisnos
dedicarmos à pesquisa científica, mais rápido surgirão novas tecnolo-
giasque,empregadasnaprodução,irãoaumentaraquantidadedepro-
dutofinalporfatoradicionado.
ATENÇÃO
Assim, quanto maior for o volume de capital e trabalho que uma Economia possuir, e
quanto mais rápido se der o desenvolvimento do progresso tecnológico que a mes-
ma possa empregar na produção ao longo do tempo, tanto maior será o crescimento
da produção e, consequentemente, da renda e da renda per capita.
Contudo,éfundamentalquetantoasfirmasquantoogovernosai-
bam planejar os acréscimos de capital e trabalho na Economia, bem
comoestimularoprogressotécnico,paraqueocrescimentosejacon-
tínuo. O planejamento do crescimento em longo prazo evita desequi-
líbrios no emprego dos fatores de produção, bem como a redução do
crescimento(oudecrescimento,ouestagnação).
REFLEXÃO
Já sabemos que o crescimento econômico a longo prazo ocorre devido ao aumento
contínuo dos fatores de produção: capital, trabalho e tecnologia. Agora, vamos en-
tender um pouco mais sobre esses fatores de produção.
Acumulação de Capital (K)
Aacumulaçãodecapitalfísico,assimcomoamãodeobra,éessencial
paraocrescimento.Aacumulaçãodecapitalrepresentaadiçõesdeca-
pitalfísicoaoestoquedecapital,fazendocomqueesteaumente.Assim,
a acumulação de plantas industriais, de obras de infraestrutura (tais
comoemestradaseenergiaelétrica),doinvestimentoemrecursoshu-
manos,eamelhorpreparaçãodemãodeobra,entreoutros,irãocontri-
buirparaumcrescimentoeconômicoconsistenteeduradouro.
COMENTÁRIO
Fluxo de investimento
Como visto no capítulo 4, o investimen-
to a cada período é um dos componen-
tes da demanda agregada da Econo-
mia. Como componente da demanda,
explica em grande parte a flutuação
na produção no curto prazo. Mas, em
longo prazo, ou seja, quando o fluxo
de investimento novo é incorporado ao
estoque de capital já existente, o inves-
timento torna-se acréscimo de capaci-
dade de produção. Ou seja, em longo
prazo, o investimento vai influenciar a
produção pelo lado da oferta.
COMENTÁRIO
Novas tecnologias
Repare que o principal atributo da nova
tecnologia é o aumento da produtivida-
de agregada (produto por trabalhador
mais produto por capital).
COMENTÁRIO
Estoque de capital
O estoque de capital físico é formado
pela existência de máquinas, equipa-
mentos, instrumentos e edificações.
capítulo 6 • 125
Aqualificaçãodamãodeobrapodeseratribuídaàacumulaçãode
capitalhumano,queconjuntamentecomaacumulaçãodecapitalfísi-
co,éindispensávelaocrescimentoeconômico.
Crescimento da força de trabalho (L)
Ocrescimentodaforçadetrabalhoédadopelocrescimentopopulacio-
nal.Se,porumlado,aforçadetrabalhocresceàmedidaqueapopula-
çãoaumenta,poroutro,oconsumoagregadotambém,implicandouma
maiordemandaporbenseserviços.
REFLEXÃO
Uma medida para saber o quanto a população contribui para a geração de riqueza é
o produto por habitante (per capita), que é a relação entre o Produto Interno Bruto
(PIB) e o total de habitantes a cada período de tempo.
Se, em um determinado período, a taxa de crescimento do PIB
for maior que a taxa de crescimento da população, o PIB per capita
crescerá. Isso significa que neste período a população ou, mais es-
pecificamente, seus trabalhadores conseguiram produzir de forma
eficientemaisbenseserviços.
Portanto,nessestermos,paraquearendaper capitasuba,épreciso
queocorraumamelhorianaqualidadedamãodeobra(obtidaatravés
damelhorianosníveiseducacionais,detreinamentoeespecialização),
melhoriatecnológica(atravésdoaumentodaeficiêncianautilizaçãodo
estoquedecapital)eeficiênciaorganizacional(maximizaçãonautiliza-
çãodosrecursosdisponíveis).(PASSOSeNOGAMI,2003,p.544).
Nível de desenvolvimento tecnológico (T)
Oníveldedesenvolvimentotecnológicoéumconceitointerpretado
peloseconomistascomoumestágiodeprogressotecnológico,oqual
seexpressanamodernidadedoestoquedecapitalenaqualificação
damãodeobra.
Oprogressotecnológicopoderáserconsideradocomoneutroquando
nãoalteraarelaçãoentretrabalhadoresemáquinas.Poderáserpoupador
decapital,quandooconhecimentotécnicoforempregadodeformaauti-
lizarmaistrabalhoquecapitalnaprodução,casoocapitalsejaofatores-
casso.Eserápoupadordetrabalhoquandoocapitalforofatorabundante.
Ospaísesdesenvolvidostêmumataxadecrescimentodapopula-
çãorelativamentemaisbaixa,seustrabalhadoressãomaisinstruídos
eossaláriossãomaisaltos.Issofazcomqueospaísesdesenvolvidos
COMENTÁRIO
Capital humano
O capital humano é o conjunto de co-
nhecimentos e habilidades que os tra-
balhadores adquirem por meio da edu-
cação, treinamento e experiência.
COMENTÁRIO
Taxa de crescimento do PIB
Inversamente, se a taxa de cresci-
mento do PIB for menor que a taxa de
crescimento da população, o produto
per capita reduzirá, representando uma
perda de eficiência na produção, ou
seja, mais habitantes produziram me-
nos bens e serviços.
COMENTÁRIO
Progresso tecnológico
É a tecnologia disponível, incorporada
aos fatores de produção, que permite
significativas mudanças de processos
e técnicas que resultam em uma pro-
dução mais eficiente.
COMENTÁRIO
Poupador de capital
Segundo Gremaud (et al. 2006), os
países em desenvolvimento, como têm
o fator trabalho em abundância, devem
enfatizar um processo produtivo pou-
pador de capital, que é o fator escasso.
O contrário acontece nos países de-
senvolvidos (op.cit., pág. 484).
126 • capítulo 6
sepreocupememinvestirmaisrecursosnodesenvolvimentodemáquinaseequipamen-
tos,doqueempouparmãodeobra.
Crescimento de curto prazo e o equilíbrio macroeconômico
As escolhas que governantes enfrentam ao estabelecer estratégias de crescimento e desenvolvi-
mento para suas economias, obviamente, não são simples. Se o crescimento econômico alcançado
por determinada Economia é compatível com sua capacidade produtiva, ou seja, se o padrão de
consumo de sua população pode ser adequadamente satisfeito pela sua estrutura produtiva, o país
em questão pode crescer sem incorrer em desequilíbrios, tanto externos quanto internos, como por
exemplo, excesso de endividamento público. No entanto, se um país apresenta baixa taxa de investi-
mento e decide acelerar seu crescimento, apoiado no crescimento do consumo privado ou no gasto
público, por exemplo, incorrerá, no médio prazo, em desequilíbrios orçamentários e, possivelmente, no
setor externo (como visto no capítulo 4), os quais acabarão interrompendo tal modo de crescimento.
Logo, o crescimento é macroeconomicamente sustentável quando não se incorre em desequilíbrios
progressivos (inflação, déficit público ou déficit externo).
Desenvolvimento econômico
Oprincipalobjetivododesenvolvimentoeconômicoéatenderaumademandafundamen-
taldassociedadesmodernas,istoé,obem-estar.Paratal,osistemaeconômicoeogoverno
devemperseguirbasicamentequatroobjetivosparasatisfazerademandaporbem-estarde
umasociedade,asaber:segurança,justiçasocial,liberdadeepreservaçãodomeioambiente.
Odesenvolvimentoeconômicovaialémdeumaumentonaquantidadedebenseser-
viçosproduzidos,emtemosabsolutosouper capita,emumdeterminadoperíodo.Por-
tanto, na análise do desenvolvimento econômico, incluem-se as mudanças de caráter
quantitativoequalitativo.
ATENÇÃO
De acordo com Gremaud (op.cit., 2006), para ocorrer o desenvolvimento econômico devemos observar se
o crescimento econômico que acontece ao longo do tempo está provendo:
a) crescimento do produto por habitante;
b) redução dos níveis de pobreza, desemprego e desigualdade social;
c) melhoria nas condições de vida, tais como: saúde, nutrição, educação, moradia e transporte.
Poressarazão,ressaltamPassoseNogami(2003),odesenvolvimentoeconômiconão
deve ser analisado ao tomar-se por base só os indicadores de crescimento econômico,
como a taxa de crescimento do PIB e do PIB per capita, mas por outros indicadores que
reflitammudançasnaqualidadedevidadapopulaçãodeumaEconomia(op. cit.,p.545).
EmmeadosdoséculoXX,muitosgovernos,inclusivelatino-americanos,viamnode-
senvolvimentoeconômicoumprocessodetransformaçãodaestruturaprodutiva,como
ummeiodesuperaroatrasohistóricoemqueseencontravamospaísessubdesenvolvi-
dosealcançarrapidamenteoníveldebem-estardospaísesconsideradosdesenvolvidos.
capítulo 6 • 127
Nesseprocesso,muitospaísesadotarampolíticasqueincentivavamo
avanço da industrialização como política de aumento de emprego e
renda,trazendoareboqueamelhoriadaqualidadedevida.
Oprocessodedesenvolvimentodasnaçõesnãoérecente,e,mesmo
assim,nemtodosospaísespossuemnosdiasdehojeumpadrãodevida
comparadoaodoeuropeu,norte-americanooujaponês.Assim,oestu-
dosobredesenvolvimentoeconômico,noâmbitoeconômicoesocial,é
importante,hajavistaasdiferençasexistentesentreaseconomiasde-
senvolvidaseasemdesenvolvimento.
Os principais indicadores sociais: índice de Gini e índice de desenvolvimento humano (IDH)
OsíndicesdeGinieIDHsãocomumenteutilizadosparamedireava-
liaraevoluçãodaqualidadedevidadapopulaçãoemfunçãodocres-
cimentoeconômico.Avaliaentão,seocrescimentodaprodução,dari-
quezaedapopulaçãoestásendoacompanhadopelodesenvolvimento
econômico—istoé,damelhorianaqualidadedevida,melhordistri-
buiçãoderenda,entreoutros,quesãoosindicadoresmaisutilizados
comoinstrumentosparaessaavaliação.
RESUMO
O aumento da renda per capita não é, como já mencionado no capítulo 4, a melhor
tradução da melhoria do bem-estar da população. O índice de Gini mede o nível de
concentração de renda, e o IDH mede o nível de desenvolvimento.
Índice de Gini
O índice de Gini é o instrumento comumente utilizado para medir o
grau de concentração de renda de um país. Por meio dele, podemos
compararosdiferentesgrausdeconcentraçãoderendaentrepaísesjá
reconhecidamente ricos (Estados Unidos, Japão, Alemanha etc.), em
desenvolvimento(Brasil,Rússia,Chinaetc.)eosreconhecidamentepo-
bres(Etiópia,Nigéria,ElSalvadoretc.).
OíndicedeGinimostraadiferençaentrearendadosmaispobres
edosmaisricosdeummesmopaísevariaemumaescaladezeroa
um. O valor zero representa a situação de igualdade, ou seja, todos
têmamesmarenda.Ovalorumestánoextremooposto,istoé,uma
sópessoadetémtodariqueza.
COMENTÁRIO
Avanço da industrialização
No pós-guerra, os vários países que
promoveram um processo de indus-
trialização acelerada como forma de
superar o atraso econômico e social
perseguiram estratégias diferentes.
Por exemplo, no Brasil, a industrializa-
ção teve como foco maior atender o
mercado interno. Em países asiáticos,
como a Coreia do Sul, o processo de
industrialização teve como foco aten-
der à demanda externa.
COMENTÁRIO
Em desenvolvimento
São atualmente classificadas como
economias de renda baixa (que con-
tinuam muito atrasadas em relação
às desenvolvidas) e as de renda mé-
dia (chamadas também de economias
emergentes, pois estão em vias de
convergir com as desenvolvidas).
COMENTÁRIO
Índice de Gini
Leva o nome de seu criador, o estatísti-
co italiano Corrado Gini (1884-1965),
e foi desenvolvido com o objetivo de
medir a desigualdade de renda em uma
sociedade. Gini também realizou impor-
tantes trabalhos no campo da Demo-
grafia e da Sociologia.
128 • capítulo 6
Dessaforma,quantomaispróximodezeromenorseráaconcentraçãoderendaedesi-
gualdade.Equantomaispróximodaunidade,maiorseráaconcentraçãoderenda,mos-
trandoquetalpaístemumadesigualdadederendamuitoelevada.Quandoumpaísseen-
contranestaúltimasituação,amaiorpartedapopulaçãorecebeamenorpartedarenda.
REFLEXÃO
Países com uma alta concentração de renda têm uma classe média reduzida e salários médios muito bai-
xos. É amplamente reconhecido que países com uma desigualdade de renda muito alta são considerados
países pobres, menos desenvolvidos.
OíndicedeGiniéumamedidautilizadaparaorientaraelaboraçãodepolíticaspúblicas,
mostrandoemquaisextratosderendaestáafraçãodapopulaçãoqueprecisarecebersubsí-
dios,políticasderedistribuiçãoderendaeumamaiorofertadeserviçospúblicos,comoin-
tuitodeaumentaraparticipaçãodessapartedapopulaçãonaapropriaçãodarendanacional.
Explicando o índice de Gini
OíndicedeGinisebaseiana curva de Lorenz(veremosumexemploaseguir),quemos-
traaproporçãoderendanacionalrecebidaporumadadaporcentagemdapopulação.
Essasproporçõessãocumulativas,dasfamíliasmaispobresparaasmaisricas.Aárea
resultantedadiferençaentreasduascurvas,divididaportodaaáreaàdireitadalinha
diagonal,éoíndicedeGini.
A linha diagonal (com ângulo de 45º) denota a linha de igualdade perfeita. Quando
a curva de Lorenz, que retrata a distribuição de renda real, é igual à linha diagonal, não
háconcentraçãoderenda.Poroutrolado,quantomaisacurvadeLorenzestiverafastada
(paradireita)dalinhadiagonal,maisdesigualeconcentradaéadistribuiçãoderendado
país.Vejamosumexemplo:
PERFEITA DISTRIBUIÇÃO
DE RENDA
CURVA DELORENZ
PRIMEIRO 25%TEM 5% DA RENDA
NACIONAL
RENDA
POPULAÇÃO
100%
0% 100%
SEGUNDO 25%TEM 10% DA RENDA
NACIONAL
TERCEIRO 25%TEM 15% DA RENDA
NACIONAL
QUARTO 25%TEM 70% DA RENDA
NACIONAL
capítulo 6 • 129
EXEMPLO
A figura apresenta um cenário de elevada concentração de renda. Os 25% mais
pobres ficam com apenas 5% da renda, enquanto os 25% mais ricos apropriam-se
de 70% da renda. A partir desse panorama, um governo preocupado em diminuir
a desigualdade, pode elaborar políticas públicas apropriadas para essa faixa da
população. Por exemplo, pode implantar um programa de transferência de renda à
população mais carente, para elevar seu padrão de vida, oferecendo maiores opor-
tunidades para o desenvolvimento humano (como o Bolsa Família, por exemplo);
pode aumentar a oferta e o acesso à educação e serviços de saúde de qualidade;
pode reduzir a carga de impostos de produtos de primeira necessidade (de maior
consumo das populações mais carentes); pode subsidiar moradia etc.
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
Diferentementedaperspectivadocrescimentopuramenteeconômico,
a abordagem do desenvolvimento humano procura olhar direta-
mente para o potencial de desenvolvimento das pessoas, aumen-
tandooacessoaosrecursosnecessáriosparaseobterumpadrãode
vidamelhor,considerandoumavidalongaesaudável,comacesso
a educação de qualidade e com a preocupação de preservação das
geraçõesfuturas.
OIDHéumindicadorsocioeconômicocomoobjetivodemediro
graudedesenvolvimentoeconômicoeaqualidadedevidaoferecidaà
populaçãodequasetodosospaísesdomundo.Assimédiretamente
empregadoparacompararoníveldedesenvolvimentoentreospaíses.
Esseprogramapartiudopressupostodeque,paraconhecereaferir
oavançonaqualidadedevidadeumapopulação,serianecessárioum
indicador que avaliasse progressos sociais, ou seja, um indicador que
avaliasse o desenvolvimento das capacidades humanas de progresso.
AssimoIDHconsidera,alémdarendaper capita,outrascaracterísticas
queinfluenciamaqualidadedevida.
REFLEXÃO
Segundo o PNUD, a renda é uma variável importante, mas como um meio para
alcançar o desenvolvimento, e não o seu fim. Ao introduzir a ideia de desenvolvi-
mento humano na perspectiva do desenvolvimento econômico, o foco é transferido
da renda para o ser humano.
OconceitodedesenvolvimentohumanodifundidopeloPNUDpres-
supõeumprocessodeampliaçãodasescolhasdaspessoas,paraquete-
nhamcapacidadeeoportunidadeparaseroquedesejarem.
COMENTÁRIO
Crescimento puramente econômico
Avalia a evolução do bem-estar de uma
população somente através dos recursos
que ela possui, pela renda ou riqueza que
ela pode gerar.
COMENTÁRIO
IDH
Elaborado pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
em 1990. Seu desenvolvimento do IDH
está associado ao nome do economista
Amartya Sen, ganhador do prêmio Nobel
de Economia em 1998.
COMENTÁRIO
Desenvolvimento humano
De acordo com Passos e Nogami
(2003), o desenvolvimento humano pro-
cura aumentar as opções das pessoas,
não apenas aumentando a capacidade
de consumir bens e serviços, mas as op-
ções criadas para aumentar a capacida-
de ou condição humana.
130 • capítulo 6
OIDHécalculadopeloPNUD,queavalia3dimensõesdodesenvolvimentohumano:
renda,longevidadeeeducação.Assim,éobtidocombaseemdadoseconômicosesociais,
asaber:PIBper capita,expectativadevida,anosdeestudoeanosesperadosdeestudo.
OIDHvariaemumaescaladezero(nenhumdesenvolvimentohumano)aum(desen-
volvimentohumanototal).Assim,inversamenteaoíndicedeGini,opaísémaisdesenvol-
vidoquandoseuIDHémaispróximode1(ametodologiadesteíndicetambéméutilizada
paraaferirodesenvolvimentodecidades,estadoseregiões).Vejamosumatabela:
IDH 2012 (países selecionados)
Ranking País IDH Ranking País IDH
1º Noruega 0,955 20º França 0,893
2º Austrália 0,938 26º Reino Unido 0,875
3º Estados Unidos 0,937 40º Chile 0,819
4º Holanda 0,921 45º Argentina 0,811
5º Alemanha 0,920 51º Uruguai 0,792
6º Nova Zelândia 0,919 61º México 0,775
7º Irlanda 0,916 85º Brasil 0,730
8º Suécia 0,916 91º Colômbia 0,719
9º Suíça 0,913 173º Etiópia 0,388
10º Japão 0,912 185º Moçambique 0,327
Fonte: PNUD
Apesar dos avanços recentes, podemos ver na tabela que o Brasil se encontra em
uma posição intermediária em relação aos países do globo. Segundo o PNUD (2013),
o Brasil saltou de um IDH de 0,522 em 1982, para 0,730 em 2012. No índice de Gini,
passoude0,6356,em1989,para0,5299em2012.Istopodeserinterpretadocomoum
processodeconvergência,aindaquelento,aosníveisderendaequalidadedevidados
paísesdesenvolvidos.
REFLEXÃO
Contudo, vale ressaltar que outros países latino-americanos, como Chile, Argentina, Uruguai e México,
embora tenham uma geração de riqueza absoluta inferior à brasileira, possuem, segundo o PNUD de 2012,
um desenvolvimento humano melhor que o do Brasil.
Desenvolvimento sustentável
Aquestãodasustentabilidadedodesenvolvimentoeconômicofoiotemadedebatenafamo-
saConferênciadasNaçõesUnidasde1972,emEstocolmo.Oconceitodedesenvolvimento
sustentávelpassouaserdisseminadoapósorelatóriodaBrundtland Commission,de1987.
capítulo 6 • 131
ATENÇÃO
Esse conceito define como sustentável o desenvolvimento econômico que atenda
às necessidades da geração corrente sem comprometer a capacidade das gera-
ções seguintes atenderem suas próprias necessidades. Dessa forma, o cresci-
mento e o desenvolvimento econômico deveriam ser perseguidos levando-se em
conta o equilíbrio entre o que é socialmente desejável, economicamente viável e
sem danos irreversíveis ou não ao meio ambiente.
Dessa forma, para o desenvolvimento ser sustentável é necessário
queocrescimentoeconômicoeamelhoriadaqualidadedevidaocor-
ramrespeitandoaconservaçãodomeioambiente.
Aacumulaçãodelixonãoorgânico,poluiçãodosrecursoshídricosedo
ar,bemcomoautilizaçãoeficientederecursosnaturaisfinitos,expõemo
desafio,paraasgeraçõesatuaiseseguintes,quantoàmanutençãodoatual
ritmodecrescimentodaproduçãoeconsumo,àmedidaqueamelhoriade
vidaemmuitassociedadespermiteumaumentonopadrãodeconsumo.
Odesenvolvimentosustentável,dopontodevistaambiental,requer
oequilíbrioentreproteçãodomeioambienteeseusrecursos,eouso
destesrecursosdeformaagarantirumaqualidadedevidaaceitável(de-
senvolvimentohumano)paraoshabitantesnãosódealgumasnações,
mas para todo planeta. Portanto, o crescimento e o desenvolvimento
econômicodevemocorrerdentrodoslimitesdoqueéecologicamente
possível,epromoveroacessoarecursoseoportunidadesparaoaumen-
todaprosperidadeatodos.
Políticas públicas para a promoção do desenvolvimento
Vimosqueopadrãodevidadasociedadedependedesuacapacidade
deproduzirbenseserviços,equesuaprodutividadedependedocapi-
talfísico,docapitalhumano,dosrecursosnaturaisedoconhecimento
tecnológico. Mas o que os formuladores de política podem fazer para
estimularoaumentodoprodutoportrabalho,quetrazefeitospositivos
sobrearendaeacontínuamelhoriadopadrãodevidadasociedade?
REFLEXÃO
Nesta seção destacaremos algumas políticas públicas que os governos têm implementado
para promover o desenvolvimento econômico nos países. Primeiramente, trataremos do
incentivo à Acumulação de Capital; em seguida, da Educação e do Direito de Propriedade;
depois do Livre Comércio, e, finalmente, dos estímulos à Pesquisa e Desenvolvimento.
COMENTÁRIO
Conservação do meio ambiente
Recursos naturais e ambientais são
empregados ao longo do processo de
crescimento econômico, mas devem ser
usados com consciência para evitar a
exaustão acelerada de recursos não re-
nováveis, a degradação do meio ambien-
te e a poluição. Caso contrário, o cresci-
mento e o próprio desenvolvimento não
serão sustentáveis.
COMENTÁRIO
Ecologicamente possível
Novas tecnologias devem ser persegui-
das para que o uso dos recursos ambien-
tais pelo progresso econômico não de-
gradem o meio ambiente, prejudicando
o desenvolvimento e a qualidade de vida
das gerações futuras.
132 • capítulo 6
Política de incentivo à acumulação de capital
Oincentivoàacumulaçãodecapitalprodutivoconsisteemestimularoin-
vestimentonaformaçãodecapitalfixo.Issopodeserfeitopormeiodees-
tímulosàexpansãodeumaindústriadebensdecapital,aqualvenhapro-
duzirbensdecapitalmaisavançados,contribuindoparaoaumentodo
produtodaeconomiaedarendaportrabalhador.Investirmaisrecursos
naproduçãodebensdecapitalproporcionaráumaumentonoestoque
decapitaldopaís,permitindoaomesmoproduzirmaisbenseserviços.
EXEMPLO
Suponha que o Congresso Nacional aprove uma mudança tributária que tenha por
objetivo tornar o investimento mais atraente, através da criação de uma espécie de
crédito tributário para o investimento. Essa política concederia uma vantagem tribu-
tária — uma dedução do imposto devido — a qualquer empresa que construa uma
nova fábrica ou compre um novo equipamento, com impacto positivo na geração de
novos postos de trabalho. Isso, na prática, representaria uma recompensa às empre-
sas que tomam empréstimos e investem em novo capital, alterando o investimento
para qualquer nível da taxa de juros.
Arelaçãoentrecrescimentoeinvestimentoéforte,emboranãoseja
perfeita.Ospaísesquededicamsistematicamenteumagrandeparcela
doseuPIBaoinvestimento,tendemateraltastaxasdecrescimentodo
PIBnolongoprazo.OsquededicamparcelaspequenasdoPIBaoinves-
timento,ouapresentamumcomportamentodoinvestimentoevoluin-
dodeformamuitovolátil(oraoinvestimentoseexpandemuitorápido,
oramuitodevagar),tendematerbaixastaxasdecrescimentonolongo
prazo,quandocomparadoaoprimeirocaso.
Noentanto,àmedidaquearendaagregadaaumenta,oinvestimento
tambémaumenta,conotandoumafortecorrelaçãoentreestasduasva-
riáveis.Comovimosnocapítulo4,oinvestimentoexpandeademanda,
queporsuavez,expandeaprodução,oempregoearenda.
O financiamento do investimento em capital fixo e a poupança
Para a expansão da acumulação de capital, é essencial o desenvolvimento
de um sistema de financiamento (concessão de empréstimos bancários em
prazos e condições razoáveis ou o desenvolvimento de um mercado de títu-
los) que viabilize projetos de imobilização de capital, envolvendo longo perío-
do de tempo para gerar fluxos de renda que permitam saldar dívidas contra-
ídas. Na ausência de um sistema financeiro que atenda a esta necessidade,
o governo pode adotar, por exemplo, políticas que aumentem a taxa de pou-
pança da nação, reduzindo o consumo privado. Esta política, no entanto,
COMENTÁRIO
Forte correlação
Como o consumo das famílias e a arre-
cadação tributária aumentam, podendo
induzir a um aumento nos gastos do
governo, as firmas, em um clima de ex-
pectativas otimistas, podem elevar seus
investimentos para ampliar a capacidade
produtiva e, com isso, satisfazer a de-
manda crescente devida ao crescimento
da renda nacional.
capítulo 6 • 133
só será bem sucedida se a poupança aumentada significar que haverá mais recursos disponíveis
para produzir bens de capital. Caso a poupança aumentada seja dirigida à especulação financeira,
diz-se que ocorre um vazamento de recursos que não ampliam a demanda agregada.
O governo também poderá estimular o investimento em capital produtivo através das operações
dos bancos públicos de desenvolvimento, que visam financiar o investimento de longo prazo. Os
bancos públicos têm um papel distinto dos bancos privados. O papel dos bancos públicos é basi-
camente atender à demanda de crédito não suprida pelo setor financeiro privado. Eles concedem
crédito para grandes, médios e pequenos produtores e empreendedores, projetos de infraestrutura
e investimentos que têm por objetivo o desenvolvimento regional, por exemplo, que é relevante no
desenvolvimento econômico.
Devido à natureza do investimento que envolve sempre um horizonte de longo prazo — no qual o
risco, a incerteza, o volume de recursos solicitados e os prazos de financiamento são maiores —,
em muitos casos, o banco privado pode não ter interesse em financiá-lo. Além disso, em países
em desenvolvimento, o mercado de títulos é geralmente insuficiente para atender ao volume de
demanda de recursos das empresas para financiamento de longo prazo. Portanto, a escassez de
financiamento desse investimento produtivo pode ser abreviada pela atuação dos bancos públicos
de desenvolvimento.
No caso do Brasil, entre os bancos públicos, destacamos o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), o qual financia investimentos que contribuem para o crescimento
econômico do país, concedendo empréstimo de longo prazo com taxa de juros abaixo das taxas de
mercado. Entre os projetos que requerem um grande volume de recursos, o BNDES tem financiado
investimentos nas áreas de petróleo e gás, energia elétrica, logística, agronegócio etc. Entre os princi-
pais objetivos do BNDES, está a promoção das potencialidades produtiva e inovadora, com impactos
na exportação de bens e serviços, na geração de emprego e renda, e qualidade de vida (através dos
financiamentos a investimentos em infraestrutura, transporte, saúde, educação, cultura e lazer).
Oaumentodacapacidadeprodutivapodeocorrerpeloinvestimentodosresidentese
dosnãoresidentes,ouseja,oinvestimentoestrangeiro.Oinvestimentoestrangeiropode
assumirváriasformas.Porexemplo,amontadoraHyundaipoderiaconstruirumafábrica
decarrosnoBrasil.Comoesseinvestimentoseriadiretamentenaprodução,eleéchamado
deinvestimentoestrangeirodireto.
Alternativamente,seumnãoresidenteadquiriraçõesdeumaempresabrasileira(com-
prarumaparticipaçãonapropriedadedaempresa),elepoderiausarosrecursosobtidos
comavendadeaçõesparaconstruirumanovafábrica.Noentanto,oinvestimentoestran-
geiroindiretosóocorrecomaprimeiravendadaação.
ATENÇÃO
Um investimento financiado com dinheiro de não residentes, mas operado por residentes, é chamado de
investimento estrangeiro indireto. Dessa forma, o resto do mundo poderá proporcionar os recursos neces-
sários (poupança) para aumentar o estoque de capital da Economia nacional.
Oseconomistasacreditamqueoinvestimentoestrangeiropodetrazerumagrandecon-
tribuiçãoparaocrescimentoeodesenvolvimentoeconômicodospaíses.Mesmoqueparte
134 • capítulo 6
dosbenefíciosdesseinvestimentoretorneaoproprietárioestrangeiro,
o investimento aumenta o estoque de capital da Economia, gerando
maior produtividade e maiores salários. Além disso, o investimento
estrangeiroéumamaneirapelaqualospaísespobrespodemabsorver
partedastecnologiasavançadasusadaspelospaísesricos.
Banco de desenvolvimento internacional e
o desenvolvimento econômico
O Banco Mundial é uma organização que procura incentivar o fluxo de capital
para os países pobres ou em desenvolvimento, como Brasil, Chile, Panamá, Áfri-
ca do Sul etc. Essa organização internacional capta recursos dos países avan-
çados, como os Estados Unidos, Alemanha e Suíça, e os utiliza para conceder
empréstimos a países menos desenvolvidos, de forma que eles possam investir
em estradas, saneamento básico, escolas e outros tipos de capital que possam
promover o desenvolvimento econômico e a melhoria do padrão de vida, princi-
palmente das camadas mais carentes da população. O Banco Mundial também
oferece a esses países assessoria para auxiliar os países que estão em vias de
desenvolvimento a empregar melhor os recursos disponíveis na nação.
Política de incentivo à Educação
Outromeiofundamentalparaodesenvolvimentodeumpaíssãoaspo-
líticaspúblicasqueelevamoníveldeeducaçãodapopulação.Ogasto
públicoemeducaçãorepresentainvestimentoemcapitalhumano.Para
umpaíscresceresedesenvolveraolongodotemponãobastaacumular
capitalfísico,mastambémcapitalhumano.
Assim,apolíticadegovernopodeaumentaropadrãodevidadesua
populaçãooferecendoboasescolaseincentivandoasuaplenautiliza-
ção.Ogovernopodeoferecerbolsasdeestudosaalunos(ouàsuafamí-
lia),paramantê-lonaescola,eassimevitaraevasãoescolar,queaindaé
altanospaísesmenosdesenvolvidos.
Oinvestimentoemcapitalhumanoimplicadeixardetrabalhar(para
auferirumarenda)esededicaraumestudo:profissionalizante,espe-
cialização ou de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias ou
conhecimento.Portanto,assimcomooinvestimentoemcapitalfísico,
oinvestimentoemcapitalhumanotemumcustodeoportunidade.
Investimento em capital humano
Para os economistas estudiosos do crescimento de longo prazo, o investi-
mento em capital humano é particularmente importante, pois propaga exter-
nalidades positivas. Uma externalidade é o efeito das ações de uma pessoa
COMENTÁRIO
Capital humano
Em países em vias de desenvolvimento,
especialmente onde o capital humano é
mais escasso, a diferença entre os salá-
rios dos trabalhadores instruídos e não
instruídos é muito elevada. O baixo nível
de instrução e qualificação é uma das
fontes da concentração de renda.
COMENTÁRIO
Investimento em capital humano
Quando os estudantes estão na escola,
abrem mão dos salários que podem ga-
nhar. Em países menos desenvolvidos,
as crianças frequentemente abando-
nam as escolas muito jovens, ainda que
o benefício da educação seja muito alto,
simplesmente porque seu trabalho é ne-
cessário para ajudar a manter a sua fa-
mília. É nessa situação que as bolsas de
estudos governamentais têm um papel
essencial e fundamental no desenvolvi-
mento socioeconômico da nação.
capítulo 6 • 135
sobre o bem-estar de outra pessoa. A externalidade pode também ser cau-
sada pelas empresas e pode afetar quem está perto ou longe dela. Uma pes-
soa instruída, por exemplo, poderia gerar novas ideias sobre a melhor forma
de produzir bens e serviços. Se estas ideias entrarem para o conjunto de
conhecimento de uma sociedade, de modo que todos possam usá-las, então
essas ideias serão uma externalidade da educação. Nesse caso, o retorno
da instrução para a sociedade é maior do que o retorno para o individuo.
Esse argumento justificaria grandes subsídios ao investimento em capital
humano que observamos sob a forma de educação pública.
Mankiw (2005) chama a atenção para a fuga de cérebros. Muitos países en-
frentam a emigração de muitos trabalhadores mais instruídos para países ricos
e desenvolvidos, onde eles podem desfrutar de um padrão de vida mais eleva-
do. Como o capital humano gera externalidade positiva, essa fuga de cérebros
deixaria as pessoas que permanecem, no país, ainda mais pobres do que antes.
Esse problema cria um dilema para os formuladores de política. Os países ricos
têm os melhores sistemas de educação superior, sendo natural que os países
pobres enviassem seus melhores alunos para o exterior a fim de melhorar sua
instrução. No entanto, esses alunos que passaram algum tempo fora podem
decidir não voltar para seus países de origem, e essa fuga de cérebros reduziria
ainda mais o estoque de capital humano. (MANKIW, 2005, p. 374).
Política de garantia ao Direito de Propriedade
Umprodutodeconsumodasfamílias,assimcomomuitosinsumosem-
pregadosnoprocessodeprodução,passaporváriasetapasdeprodução
atéquefiquemprontosparaseremconsumidos.Essadivisãodeprodu-
çãoentremuitasempresaspermitequefatoresdeproduçãodaEcono-
miasejamusadosdamaneiramaiseficazpossível.
RESUMO
Como vimos no capítulo 3, as economias de mercado se auto ajustam por meio dos
preços de mercado, o que equilibra a oferta e a demanda.
Mas para o sistema de preços funcionar, é necessário um respeito
amplonaEconomiapelodireitodepropriedade.Umaempresadoramo
doagronegócionãoiráinvestirnaproduçãodegrãosseodireitoasua
propriedadenãoforgarantido,ouseja,nãoiráinvestirseelaacreditar
quesuapropriedadepodeserconfiscadapeloprópriogovernoouapro-
priadaindevidamenteporoutrosindivíduos.
Elasóiráoperarsetivercertezadequesebeneficiarádavendasubse-
quentedesuaprodução.Porisso,ostribunaisdejustiçadesempenham
umpapelimportantenaseconomiasdemercado.
CONCEITO
Direito de propriedade
O direito de propriedade refere-se à
capacidade das pessoas de exerce-
rem autoridade sobre os recursos que
possuem.
COMENTÁRIO
Tribunais de justiça
O Estado deve garantir o direito de pro-
priedade. Os tribunais fazem com que os
direitos de propriedade sejam cumpri-
dos. Por meio da justiça penal, os tribu-
nais desencorajam o roubo. Além disso,
por meio da justiça civil, os tribunais ga-
rantem que compradores e vendedores
respeitem os contratos.
136 • capítulo 6
Apolíticadegovernodevepromoveraeliminaçãodosobstáculosao
bomfuncionamentodomercado,comogarantirosdireitosdeproprie-
dadedetodososresidentesenãoresidentesnopaís.Aineficiênciado
sistemadejustiça,porexemplo,poderiadesestimularageraçãodein-
vestimentodomésticoeestrangeiro.
REFLEXÃO
Sem os direitos de propriedade, o país não cresce nem se desenvolve, principalmen-
te, porque isso desestimularia o investimento privado.
Política de incentivo ao livre comércio
As políticas econômicas que permitem o livre comércio da Economia
com as demais nações são vistas como um meio de desenvolvimento
econômico.Segundoseusdefensores,permitemqueopaísempregue
seusrecursosdisponíveisnaproduçãodaquiloemqueémaiseficiente,
e troque-os, por meio das exportações, pelos bens sobre os quais não
temosconhecimentooutecnologiaparafazê-los.
Entreofinaldosanos1940einíciodosanos1980,muitospaísesem
desenvolvimento,inclusiveoBrasil,adotaramumapolíticaqueinibiao
livrecomérciocomomedidadeestímuloàindustrializaçãonacional.
REFLEXÃO
Como os países pobres tinham poucas indústrias, o livre comércio naquele momento
poderia impedir que muitos setores industriais nascessem e progredissem. Nesse ce-
nário, os países ricos e industrializados exportariam bens mais sofisticados para os pa-
íses mais pobres e estes exportariam produtos básicos e primários para os primeiros.
Essapolíticadeindustrializaçãoaceleradacombaseemproteçãota-
rifáriaenãotarifária,quepropiciouumrápidocrescimentoemmuitas
economiasmenosdesenvolvidasnopós-guerra,atéosanos1980,éco-
nhecidacomopolíticavoltadaparadentro.
Essaabordagemobtémoapoiodealgumasempresaslocaisquerei-
vindicam proteção contra concorrentes estrangeiros para competir e
crescer.OBrasilfoiumpaísqueperseguiuapolíticadeindustrialização
aceleradacomoformadereduzirsuadistânciaemrelaçãoàseconomias
desenvolvidas.Muitoseconomistasderenomecontribuíramparaesta
estratégia,devendo-semencionaronomedeCelsoFurtado.
A partir dos anos 1990, a corrente que propõe o livre comércio
comomeiodedesenvolvimentopassouapredominar.Essapolíticain-
centivouasempresasinstaladasemterritórionacionalaseremmais
COMENTÁRIO
Políticas econômicas de livre comércio
Os governos podem retirar obstáculos
ao livre comércio, tais como tarifas so-
bre os produtos importados ou exigên-
cia de cotas de importação.
COMENTÁRIO
Política voltada para dentro
Tem por objetivo aumentar a produtivida-
de e os padrões de vida dentro do país,
evitando que os bens produzidos inter-
namente entrem em competição com
os estrangeiros no mercado doméstico.
Opõe-se à política voltada para fora.
AUTOR
Celso Furtado
Celso Furtado (1920-2004) é uma re-
ferência no pensamento econômico
brasileiro, além de ter sido um renoma-
do intelectual, imortalizado pela Acade-
mia Brasileira de Letras em 1997.
capítulo 6 • 137
eficientes e competitivas em relação àquelas instaladas no resto do
mundo;issoporqueasempresasdomésticas—sejamelasderesiden-
tesounãoresidentes—concorremcomasestrangeirastantonomer-
cadointernoquantoexterno.
REFLEXÃO
Para o livre comércio cooperar com o desenvolvimento econômico de um país ou re-
gião em desenvolvimento, é preciso que a tecnologia (ou know-how) disponível seja
igualmente acessível a todos os países. Caso contrário, os países mais avançados
tecnologicamente sempre estarão em vantagem sobre os países menos avançados
no comércio internacional.
Dessemodo,olivrecomércioestariacontribuindoparaamelhoria
daqualidadeeaumentandoaquantidadedeprodutonacional,gerando
maisempregoerendaparaseushabitantes,bemcomoocomércioin-
ternacionalpodemelhorarobem-estardoscidadãosdeumpaís.
Política de incentivo à Pesquisa e Desenvolvimento
OutrapolíticapúblicaéoapoioàPesquisaeDesenvolvimento(P&D).O
avançodoconhecimentotécnicoaolongodotempopodeserconsidera-
doaprincipalrazãoparaaevoluçãodaqualidadedevidaemrelaçãoaos
padrõesde20,50ou100anosatrás.
EXEMPLO
O telefone, a penicilina, o motor elétrico, os computadores e o laser estão entre as
inovações que no último século contribuíram para melhorar a capacidade de produzir
bens e serviços, e também o padrão de vida.
Assim,ogovernopoderáadotarpolíticasqueestimulemodesen-
volvimentotecnológico,nãosócriandoincentivosparaqueainicia-
tivaprivada(empresaseuniversidadesprivadas)incrementeaspes-
quisas, como também estimulando o desenvolvimento tecnológico
pormeiodasinstituiçõespúblicas(comoosinstitutosdepesquisae
asuniversidadespúblicas).
Todapesquisatemoobjetivodedesenvolverconhecimentoaplica-
dooucientífico.E,demodogeral,oconhecimentoéumbempúblico,
istoé,todavezquealguémtemoudesenvolveumaideia,elaentrapara
oconjuntodeconhecimentodasociedadee,assim,outraspessoaspo-
demfazerlivreusodela.
Umgrandeestímuloàpesquisaeaodesenvolvimentodenovastec-
nologiaséosistemadepatentespropiciadopelogoverno.Porexemplo,
COMENTÁRIO
Bem público
A disseminação desse conhecimento
livre é que vai tornar possível a criação
de novas tecnologias que serão aplica-
das tanto no crescimento da produção
quanto na melhoria da qualidade de vida.
A evolução da internet é um exemplo.
138 • capítulo 6
quandouminventorouempresadesenvolveumnovoproduto,comoumcircuitoeletrô-
nico(chip),porexemplo,seuinventorsolicitaumapatente.Seoprodutoforconsiderado
realmente original, o governo concede a patente, dando ao inventor direito exclusivo de
fabricaçãodoprodutoporumdeterminadoperíododeanos,quepodechegaraomáximo
de20ou25anos,dependendodaespecificidadedoproduto.
RESUMO
Na prática, a patente dá ao seu inventor o direito de propriedade sobre sua invenção. A patente concede
um direito de monopólio sobre o qual, durante o seu período de vigência, o proprietário poderá explorá-lo lu-
crativamente, inclusive como meio de ressarcimento dos custos envolvidos na pesquisa que gerou o invento.
Aopermitirqueosinvestidoreslucremcomseusinventos,mesmoquesejaporumpu-
nhadodeanos,osistemadepatentesaumentaoincentivoparaqueindivíduoseempresas
sedediquemàpesquisa.Assim,apesquisaeodesenvolvimentodenovosconhecimentose
tecnologiasvãoaumentandoacapacidadedasfirmasedasfamíliasdeelevaremsuarique-
zaequalidadedevida,utilizandomaiseficientementeosrecursosescassosedegradando
cadavezmenosomeioambiente.
Gastos do governo em Pesquisa e Desenvolvimento
O governo dos Estados Unidos, há algum tempo, desempenha um papel importante na criação e
disseminação do conhecimento tecnológico. Há mais de um século, o governo americano vem pa-
trocinando pesquisas de métodos de produção agrícola, bem como aconselhando os agricultores
sobre como usar a terra de forma mais produtiva. Mais recentemente, por meio do seu departa-
mento de defesa e da NASA (Administração Nacional de Aeronáutica e do Espaço), tem financia-
do a pesquisa aeroespacial; como resultado, os Estados Unidos tornaram-se líderes na produção
de foguetes e aviões. O governo continua a incentivar o avanço do conhecimento com bolsas de
pesquisa através da Fundação Nacional de Ciência e do Instituto Nacional da Saúde, além das de-
duções de impostos para as empresas que se dedicam à pesquisa e ao desenvolvimento científico
(cf. MANKIW, 2005, p. 376).
As guerras também influenciam a Pesquisa e Desenvolvimento. O departamento de defesa nacio-
nal americano, assim como aqueles de outros países, estimula o desenvolvimento tecnológico e
científico com objetivos de defesa. Mas essa tecnologia acaba transbordando para a sociedade na
forma de bens e serviços de uso civil, em tempo de paz. A difusão do transporte aéreo comercial
intercontinental, o desenvolvimento de radares sofisticados e das telecomunicações, são alguns
exemplos de subprodutos das políticas voltadas para o desenvolvimento tecnológico e científico
em prol da defesa nacional.
Globalização
Dopontodevistaeconômico,aglobalizaçãopodeserentendidacomoumaintegraçãoglo-
baldasrelaçõeseconômicasefinanceiras.Istoé,aseconomiastornamseusmercadosde
bens,serviçosefinanceirosintegradosàsdemaiseconomias,criandoumúnicomercado
capítulo 6 • 139
global.Nesseprocesso,asempresasperdemsuacaracterísticanacional
ou multinacional para assumir uma postura global. Por exemplo, um
mesmoprodutopodeserproduzidoemescalamundial.
REFLEXÃO
Segundo a teoria econômica, ao longo da globalização, o sistema capitalista de pro-
dução desenvolveu-se em escala mundial, isto é, o mercado, as forças produtivas, a
nova divisão internacional do trabalho e a reprodução ampliada do capital expandi-
ram suas fronteiras globalmente.
Origem
Muitoseconomistas,aoexplicarasorigensdoprocessodeglobalização
(queteveinícionofimdosanos1980),reportamqueesseprocessoéde-
correntedeumfenômenoeconômicodoséculoXV,devidoàexpansão
marítimaeuropeia.
A acumulação de riqueza com as trocas ultramarinas criou con-
diçõesparaoutrofenômenoeconômico:aRevoluçãoIndustrial,em
meados do século XVIII, que trouxe desenvolvimento econômico e
principalmentetecnológico.
REFLEXÃO
A produção aumentou e, com isso, as exportações. Agora, os países poderiam
comprar produtos que não fabricavam de outros países e se especializar na pro-
dução daqueles em que são mais eficientes, ou seja, aqueles que fabricam a um
custo mais baixo.
No século XX, o mundo sofreu outra mudança com a criação das
corporaçõesmultinacionais(umaempresacomsedesefábricasespa-
lhadaspelomundo),criandoumanovafasedocapitalismoepromo-
vendo uma expansão da produção em escala mundial ainda não vis-
ta.Nessemesmoséculo,oprogressotecnológicocriaedesenvolveos
meiosdecomunicação.
Através da ascensão das ideias neoliberais dos anos 1980, houve
umaondadedesregulamentaçãodasatividadesfinanceiras,quejáse
observavanospaísesdesenvolvidosdesde1970.Assim,ocapitalfinan-
ceiropoderialivrementefluirparaoutrosmercadosembuscadeuma
rentabilidademaior.Issocorroboradopeloprogressotecnológicoas-
sociadoàevoluçãodainformáticaedastelecomunicações.Oresulta-
dofoiaextraordináriareduçãodoscustosoperacionaisedoscustosde
transaçãoemescalaglobal.
COMENTÁRIO
Expansão marítima europeia
O início das grandes navegações e a
descoberta da América, em 1492, pro-
piciou um intercâmbio cultural e mer-
cantil entre os mercados então conhe-
cidos: Europa, Ásia e América. Com a
organização mercantilista dessa época,
surgiram novas rotas comerciais que
expandiram as trocas entre os países,
gerando um maior crescimento e de-
senvolvimento de suas economias.
COMENTÁRIO
Meios de comunicação
Sua rápida expansão, a partir dos anos
de 1950, com a popularização do telefo-
ne, do rádio e do telégrafo, foi o alicerce
para a nova fase da globalização que se
inicia ainda nos anos 1980.
140 • capítulo 6
REFLEXÃO
Assim, as operações financeiras tornaram-se significativamente mais baratas, ao mesmo tempo em
que se reduziram os custos de coleta de informações e de monitoramento dos mercados financeiros
espalhados pelo mundo.
Umaconsequênciadissofoioaumentodofluxodecapital,tantoprodutivoquan-
tofinanceiro,parapaísesemdesenvolvimento(principalmenteofinanceiro).Ospaí-
sesdaAméricaLatinaedaÁsiaforamosquemaisreceberamessesfluxosdecapital,
emboranãotenhamaindaatingidoonívelderendaper capitaebem-estarsocialdos
paísesdesenvolvidos.
Sealiberalizaçãoeconômicatrouxebenefíciospelaexpansãodocomércio,também
tornou as economias mais sujeitas a crises. Nos anos 1990, as economias asiáticas e
latino-americanassofreramgrandevolatilidadenascontasexternas,levandooregime
decâmbiofixoaoabandonoemquasetodoomundo.Acrisenospaísesdesenvolvidos,
entre2005e2010,élargamenteatribuídaàdesregulamentaçãodosmercadosfinancei-
rospromovidapelaliberalizaçãoeconômica.
Liberalismo e globalização
Segundo Gonçalves (2002), a ascensão das ideias neoliberais foi um determinante da globa-
lização. A liberalização representou a redução das barreiras comerciais de acesso aos mer-
cados nacionais. A desregulamentação envolveu a eliminação ou afrouxamento das normas
reguladoras da atividade econômica. Em outras palavras, o Estado, através do seu governo,
passou a ser orientado pela política neoliberal, a qual objetiva diminuir a intervenção e a influ-
ência do Estado na Economia. Assim, a intervenção estatal nos mercados, como planejador e
regulador, dá lugar às decisões da iniciativa privada, pois as decisões de mercado seriam as
melhores para alocar os recursos na Economia; no lugar das barreiras comerciais para pro-
teger a produção nacional está a liberalização da importação de bens e serviços, mesmo que
isso signifique perda de postos de trabalho e diminuição da renda como contrapartida de pre-
ços mais baratos; e o controle do fluxo de capital externo dando lugar à abertura do mercado
doméstico, visto como meio de atingir um crescimento econômico maior do que poderíamos
ter, caso não pudéssemos contar com o investimento financeiro externo. A crise financeira
internacional de 2007 tem colocado em cheque estas ideias.
Características da globalização
Oprocessodeglobalizaçãoeconômicaatualrepresentaumamudançanasestratégias
dos investidores institucionais (bancos, fundos de investimentos, fundos de pensão
etc.) e das empresas transnacionais que operam em escala global. Dessa forma, uma
dascaracterísticasdaglobalizaçãoéumamaiordispersãogeográficadosrecursosfi-
nanceiroseprodutivos,aomesmotempoemqueosmercados,ondeseoperamesses
recursos,tornaram-semaisintegrados.
capítulo 6 • 141
RESUMO
Seguindo essa lógica, a globalização econômica aconteceu porque ocorreu simul-
taneamente: um crescimento extraordinário dos fluxos internacionais de produtos
e capital entre países; um aumento da concorrência internacional; um avanço na
internacionalização da produção e maior integração entre as estruturas produtivas.
Essas são as principais características da globalização.
Para um melhor entendimento, separamos a globalização em pro-
dutiva(queabordaosaspectosenvolvendoaproduçãoeofluxodebens
eserviços)efinanceira(queenvolveofluxodemoedaeobrigaçõesfinan-
ceirasentreospaíses).
Globalização produtiva
Ainternacionalizaçãodaproduçãoocorresemprequeresidentesdeum
paíspodemadquirirbenseserviços(incluindooperaçõesfinanceiras)
comorigemestrangeira:issosignificaaexistênciadefluxosinternacio-
naisdebens,serviçosecapitalfinanceiro.Hátrêsformasbásicasdein-
ternacionalizaçãodaprodução:comércio,investimentoexternodireto
erelaçõescontratuais.
Osserviços,demodogeral,sãoprodutosintangíveisenãoarmaze-
náveise,portanto,ocomérciointernacionaldeserviçosexigeodeslo-
camentodoconsumidor(turismo,porexemplo)oudoprodutorcoma
presençadepessoafísica(consultoria,porexemplo).
No entanto, a principal forma de internacionalização da produção
deserviçoséapresençacomercialestrangeiranopaís(naformadepes-
soasjurídicas).Nessecaso,ocorreoestabelecimentodesubsidiáriase
filiaispormeiodoinvestimentoexternodireto(IED).Esteúltimoéoin-
vestimentoqueasempresasestrangeirasfazemsomentenosetorpro-
dutivodaeconomiadoméstica.
Ainternacionalizaçãodaproduçãotambémpodeocorrerpormeio
derelaçõescontratuais,pelasquaisosresidentesdeumpaís(A)transfe-
rem,pararesidentesdeumpaís(B),umconjuntodeativosespecíficos
desuapropriedade(tecnologia,capacidadegerencial,organizacionale
mercadológica),queviabilizamaproduçãodebensouserviçosnopaís
(B),porumaempresadeorigemdopaís(A).
RESUMO
Trata-se, então, da transferência de know-how (tecnologias de processo, tecnolo-
gias de produto, assistência técnica etc.) ou de direitos de propriedade (marcas,
patentes, copyrights, franquias etc.), por meio de relações contratuais.
CONCEITO
Investimento externo direto
O IED é todo fluxo de capital com o intui-
to de controlar a empresa receptora do
investimento. O principal agente de reali-
zação do IED é a empresa transnacional
empresa de grande porte que controla
ativos em pelo menos dois países. Essas
empresas têm, geralmente, a sua matriz
localizada nos países desenvolvidos e,
por meio do investimento externo direto,
elas controlam subsidiárias e filiais em
outros países.
142 • capítulo 6
A rede de fast food McDonald’s é, entre muitos, considerada uma
marcasímbolodaglobalização.Suaproduçãodesanduíchesemsérie,
por meio de processos rigidamente padronizados, está instalada nos
quatrocantosdoplaneta,rompendobarreirasculturais.Oprocessode
multiplicação da rede McDonald’s nos países se dá basicamente pela
compradefranquiaspeloresidente.
Nesseprocessodeglobalização,omercadolocalpassouafazerparte
deummercadoglobal,contribuindoparaumaumentodaconcorrência
entreempresasnomercadomundial.Nessenovocenário,umaumento
dasexportaçõesdependeriadaestratégiadevendasnoexterior,alémde
umataxadecâmbiofavoráveledeumarendamundialcrescente.
Outrofatoéqueosgovernosnacionaisconferemestímuloseincen-
tivosfiscaisàsempresasdomésticasparaqueestasaumentemcadavez
maisassuasexportações.
REFLEXÃO
Do ponto de vista da nação, a política de estímulo e incentivo pode contribuir, inicialmen-
te, para o aumento do emprego, da produção e da renda; posteriormente, para a melhoria
do bem-estar social, se este crescimento, derivado do aumento do comércio exterior, for
acompanhado do desenvolvimento econômico, conforme discutido anteriormente.
Valenotaraindaqueodesenvolvimentodoe-commerceedalogística
globaltemtornadopossívelaimportaçãodebensdeconsumopelopró-
prioconsumidor,atravésdesitesinternacionaiscomoEbayeAmazon,
paramencionaralguns.
Globalização financeira
A dimensão financeira abrange os fluxos internacionais de capital de
empréstimo, financiamento e investimento externo indireto, também
conhecidocomoinvestimentodecarteira.Comessatransação,oagen-
tepodecomprarativosfinanceiros,taiscomoações,quotasdeempre-
sasoudefundosdeinvestimento,títulosdedívidadogoverno,títulos
dedívidaprivados,entreasprincipaisformas,quedispensamocontro-
lesobreoagenteeconômicoqueestárecebendoesseinvestimento.
Agorapodemosimaginaroquantoumaentradaabundantedecapital
emumaEconomiaemdesenvolvimentopodesetraduziremcrescimento
e,principalmente,desenvolvimentoeconômico.Épormeiodoaumento
doinvestimento,doempregoedoPIBquesentimososefeitosiniciais.
Masaentradadecapitaisfinanceirosexternos,incluindooinvestimen-
toexternodiretamentenaprodução,representaumpassivoparaopaísna
formadepagamentodejuros,lucroseamortizaçõesaosinvestidoresinter-
nacionais.Seascondiçõesnomercadofinanceirointernacionalforemfavo-
IMAGEM
McDonald's
Loja McDonalds em Setagaya-ku,
Tokyo, Japão.
COMENTÁRIO
Desenvolvimento
O governo, com uma maior arrecada-
ção devido ao aumento da renda, po-
derá aumentar o investimento público
(escolas, hospitais, segurança, justiça,
defesa etc.) e a quantidade e quali-
dade dos serviços públicos, trazendo
efeito positivo sobre a qualidade de
vida da população.
capítulo 6 • 143
ráveis,opaíspoderácontinuartomandoempréstimoserecebendocapitalfinanceiro,através
doinvestimentoexternodiretoeindireto,parafinanciarseucrescimentoedesenvolvimento.
REFLEXÃO
Mas se as condições deteriorarem, como ocorreu na crise financeira internacional de 2008, o país sofrerá
uma saída de recursos financeiros em massa de forma muito rápida. Os agentes financeiros, em um mer-
cado globalizado, começam a vender rapidamente seus ativos mais arriscados, por exemplo, os títulos de
dívida e ações nominados em moedas de países em desenvolvimento, para adquirirem os mesmos ativos
em moedas fortes como o Euro e o Dólar.
Caso as reservas internacionais domésticas não sejam suficientes para fazer frente a
essaelevadademandapormoedaexterna,ogovernodeverápromoverajustesmacroeconô-
micosparareduzirogastoagregadoeaumentarapoupança,gerandorecursosparapagar
oscompromissosinternacionais.Issotraráreduçãodoritmodegeraçãodeempregoeuma
reduçãonoritmocomqueaqualidadedevidamelhorava.
Portanto,seaentradadecapitalfinanceiropermiteumamaiordisponibilidadede
recurso,oqueequivaleaumapoupançamaior(quepermiteuminvestimentoagregado
maior),geraaquiloqueoseconomistaschamamdevulnerabilidadeexterna,querepre-
sentaabaixacapacidadedaEconomiaderesistiramudançasnascondiçõesdefinan-
ciamentodevidoàcriseoufatoresdesestabilizadoresprovenientestantodaEconomia
domésticaquantoexterna.
EXEMPLO
No setor produtivo, podemos dar o exemplo da cidade de Macaé, no estado do Rio de Janeiro. Essa cidade
é uma espécie de base das operações de petróleo da Bacia de Campos. Além da Petrobras e de algumas
empresas nacionais, a extração de petróleo atraiu também empresas estrangeiras, que investiram seu ca-
pital na cidade. Isso permitiu que o investimento no setor fosse maior, trazendo, tanto para a cidade quanto
para o estado, mais emprego, geração de renda e tributação. Mas os lucros das empresas estrangeiras,
não investidos, poderão ser enviados para suas matrizes no exterior, já que seus proprietários são não re-
sidentes (vide capítulo 4). Em algum momento, as mesmas empresas poderão remeter o capital investido,
produzindo uma saída desse capital.
Portanto,adespeitodosbenefíciosdaentradadecapitalfinanceiro,sejaparainvestir
no mercado financeiro ou no setor produtivo, gerando crescimento e até mesmo desen-
volvimentoeconômico,énecessáriooconhecimentodaspolíticasmacroeconômicaspara
administrarasentradaseassaídasdecapital.Essapolíticateriacomoobjetivoevitardese-
quilíbriosmacroeconômicosqueviessemareduzir,oumesmointerromper,oprocessode
crescimentoedesenvolvimentopeloqualopaísestivessepassando(videcapítulo5).
144 • capítulo 6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMANN, R. CANUTO, O. GONÇALVES, R. Economia Internacional: teoria e experiência brasileira. São Paulo:
Elsevier, 2004.
GREMAUD, A.P. et all. Manual de Economia. Org: Pinho, D.B., Vanconcelos, M.A.S. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
GONÇALVES, R. Globalização Econômica, In: O Nó Econômico, primeiro capítulo. São Paulo: Record, 2002.
MANKIW, N.G. Introdução à Economia: edição compacta. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
PASSOS, C.R.M. e NOGAMI, O. Princípios de Economia, 4ª ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003.
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Relatório de Desenvolvimento Humano. 2013. Disponível em:
<www.pnud.org.br>. Data de acesso: 03/06/2014
IMAGENS DO CAPÍTULO
p. 74 McDonald's Paul Vlaar · Wikimedia . gnu
146
Como fazer
1) Gráficos
Osgráficossãorepresentaçõesvisuaisderelaçõesentrevariáveis.Uma
variáveléumamedidadealgoqueassumediferentesvaloresoucate-
gorias.Portanto,asvariáveispodemsernuméricasoucategóricas.Por
exemplo,rendaéumavariávelnuméricaesexoécategórica,poissóexis-
tesexomasculinoefeminino.
Podem-sefazergráficoscomváriospropósitos;trataremosaquiape-
nasdosquevisamapresentarresultados.Osgráficosmaisutilizadossão
delinhas,colunasepizzas.
Osgráficos de linhasãousadosprincipalmenteparamostraraevo-
luçãodeumavariávelaolongodotempo.Osgráficos de barratambém
sãousadosparamostraraevoluçãodeumavariávelaolongodotem-
po, mas, nesse caso, o período tem que ser curto. Por exemplo, para
representaraevoluçãodoempregoaolongodeumano,deve-seusaro
gráficodelinha.Pararepresentaraevoluçãodoempregoaolongode
seismeses,deve-seusarográficodebarras.
Osgráficosdebarrassãomuitousadostambémparacompararcatego-
rias.Porexemplo,onívelsalarialdoshomensversusodasmulheresouvo-
tosrecebidospeloscandidatosemumaeleiçãopresidencial.Nãodevemser
usadasmuitascategorias,casocontrário,avisualizaçãoficaprejudicada.
Osgráficosdebarraspodemserjustapostosounãojustapostos.
No último caso, o mais comum, haveria, por exemplo, uma coluna
parahomenseoutraparamulheres.Nojustapostohaveriaumaco-
lunasó,divididaemduaspartes,umapararepresentaronúmerode
homenseoutraonúmerodemulheres.
Os gráficos de pizza são partições de uma variável. Por exemplo,
comooseuorçamentodomésticosedivideemdiferentestiposdegas-
tos:alimentação,transporte,habitaçãoetc.
Cuidados com o gráfico
1) Todográficotemqueterumtítulo.Otítulovaidizerdoquetrata
o gráfico, deixando clara a variável, como a mesma é mensurada, o
período de tempo, as categorias e o recorte geográfico — exemplo:
evolução da renda (R$) de homens e mulheres, de 1990 a 2012, na
RegiãoMetropolitanadoRiodeJaneiro;
Como fazer e interpretar gráficos e tabelas
CURIOSIDADE
Gráficos de pizza
Na língua inglesa o gráfico de pizza é
chamado de gráfico de torta (pie chart).
147
2) Todográficotemqueterumafonte,queédeondeforamobtidososdados—exemplo:
Fonte:IBGE—PesquisaMensaldeEmprego;
3) Seográficotrabalhacomcategorias,devehaverumalegendaparacadaumadelas,
identificandoqualacurvaoucolunaque,porexemplo,éarelativaahomensequaléa
relativaamulheres;
4) Seográficotratardaevoluçãodevariáveisaolongodotempo,aescalatemporal(anos,
meses,trimestresetc.)deveestarnoeixovertical;
5) Gráficos com muitas curvas devem ser evitados. Quanto maior o número de curvas,
maiorachancedeográficoficarincompreensível.Émuitocomumissoacontecerquando
setrabalhacommaisdetrêscurvas;
6) Gráficosemtrêsdimensõesdevemserevitados.Podemsermuitobonitos,massãopou-
copráticos,poisdificultamacompreensão;
7) Seasériefordedadoscomintervalotemporaldemenosdeumano—sériemensal,
trimestraletc.—,éimportanteficaratentoparaaquestãodasazonalidade.Essepontoserá
detalhadomaisadiante;
8) Regrabásica:umbomgráficoécomoumaboapiada;entende-senamesmahora.Gráfico
queexigemuitasexplicaçõesperdeemcomunicação.
2) Tabelas
Atabelaéumaformadeapresentardadosemlinhasecolunas.Ainterseçãodeumalinha
comumacolunaéchamadadecélula.Porexemplo,umatabelacom2linhase2colunas
terá4células.
Cuidados com uma boa tabela
1) Todatabelatemqueterumtítulo.Otítulovaidizerdoquetrataatabela,deixandoclara(s)
a(s)variável(eis)apresentada(s),comoé(são)mensurada(s),operíododetempo,ascatego-
riaseorecortegeográfico—exemplo:evoluçãodarendaedoníveldeemprego(R$)deho-
mensemulheres,de1990a2012,naRegiãoMetropolitanadoRiodeJaneiro;
2) Todatabeladeveterumafonte,queédeondeforamobtidososdados—exemplo:Fon-
te:IBGE—PesquisaMensaldeEmprego;
3) Ascolunaselinhasdatabeladevemestaridentificadas;
4) Quanto maior o número de linhas e colunas, mais difícil será o entendimento do
conteúdodatabela;
148
5) Seosdadosforemnuméricos:
a.nãousemaisdeumacasadecimal;
b.utilizeponto(.)parasepararosmilhares—exemplo:1.230,5;
c. mude a escala se o número tiver mais de 5 dígitos — exemplo: 1.230.523 se torna
1.230,5mil;
d.aescaladeveestarindicadanotítulodatabelae,seforocaso,tambémnotítulo
dalinhaoucoluna;
6) Sehouvertotais,osmesmosdevemestaremnegritoparadestacar;
7) Ostítulosdascolunaselinhasdevemestar,depreferência,emnegritoparadestacar;
8) Nãoconfundirtabelascomquadros.Nesseúltimo,oconteúdodascélulaséconstituído
apenasdetexto,semnúmeros.Porexemplo,nomesdealunosdeacordocomasturmas.
Como interpretar
Todográficoetabelapermiteduasleituras.Aprimeiraéadotodoeasegundaéadaspartes¹.
Portanto,acorretaanáliseexigeatenção.Vejamosoexemploaseguir.
Gráfico 1 - Produção Industrial - Índice de base fixa com ajuste sazonal (base: média de 2002=100) - Brasil 1994-2014
80
90
100
110
120
130
140
jan/
94
jan/
95
jan/
96
jan/
97
jan/
98
jan/
99
jan/
00
jan/
01
jan/
02
jan/
03
jan/
04
jan/
05
jan/
06
jan/
07
jan/
08
jan/
09
jan/
10
jan/
11
jan/
12
jan/
13
Fonte: IBGE – Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (PIM-PF)
Oqueprimeirochamaaatençãonográfico1éatrajetóriaascendentedaproduçãoindus-
trialnoperíodo.Seolharmoscommaisatençãoveremosquepodemosdividiressatrajetó-
riaemquatrofases:
1) De1994a1999,ocrescimentodaindústriafoipequeno;
2) De1999ameadosde2008oaumentodaproduçãoindustrialfoigrande,quaseexponencial;
3) Demeadosde2008a2009háumabruscaquedadaproduçãoeumarecuperação.Se
olharmoscomatenção,veremosqueaquedafoimaisrápidaquearecuperação;
4) De2009a2013,aproduçãoindustrialestáemumatrajetóriadequeda.Oúltimoperí-
odoémuitoirregular.Hádeinícioestagnação,depoisdecréscimodaprodução,segue-se
umarecuperaçãoparciale,porfim,novacontração.
Comasfasesdelimitadasficamaisfácilencontrarumaexplicaçãoparaoquehouve.
¹ Essa é uma
regra que vale
também para
analisar obras de
arte.
149
Nãoénecessáriopesquisarmuitoparadescobrirque,emlinhasgerais,afase1correspon-
deaoperíododoPlanoReal,afase2aogovernoLula,eafase3éoperíododeaugedacrise
financeirainternacional,queteveimpactonoBrasileemtodosospaísesdomundo,ainda
duranteogovernoLula.AúltimafasecorrespondeaogovernoDilma.
O passo seguinte será analisar o contexto econômico nacional e internacional, bem
comoapolíticaeconômicadecadagoverno,paraentenderasdiferenças.Isso,noentanto,
extrapolaospropósitosdesseapêndice,mesmoporqueessetipodeanáliserequerumco-
nhecimentomaiordeEconomia.Oimportanteaquiédestacarcomoumaanáliseatentade
umgráficonostrazmuitainformaçãosobreaEconomia.
Valor de referência
Toda vez que se qualifica uma comparação — exemplo: cresceu muito, percentual elevado —, é
importante ter um valor de referência. Por exemplo, ao se afirmar que o crescimento da Economia
foi elevado, pois foi acima da média dos últimos cinco anos, o uso da qualificação elevado está
correto, pois há uma justificativa: foi acima da média dos últimos cinco anos, que é o valor de refe-
rência, nesse caso, dado pelas taxas de crescimento alcançadas no passado.
Muitas vezes a valor de referência é dado pela literatura internacional sobre o tema ou por uma
meta de política pública. No caso da taxa de mortalidade infantil (a cada 1.000 nascimentos, quan-
tas crianças morrem antes de completar um ano de idade), a Organização Mundial de Saúde (OMS)
tem parâmetros que são amplamente utilizados. Segundo a OMS, a mortalidade infantil é considera
alta se morrem 50 crianças ou mais por cada 1.000 nascidas vivas; média, se for de 20 a 49 por
mil; e baixa se for menor que 20 por mil. Com base nesses parâmetros, pode-se afirmar que, em
2010, a mortalidade infantil em nosso país era baixa, pois nosso índice era de 15,6 por mil.
Digamos que o governo fixe como meta reduzir a mortalidade infantil ao nível da do Canadá (5
por mil) ². Com base nesse novo parâmetro, nossa mortalidade infantil está elevada, pois estamos
muito acima da meta fixada pelo governo.
No caso da inflação, no Brasil, utiliza-se como parâmetro a meta de inflação fixada pelo governo.
Se o governo estabelece que a inflação não possa ultrapassar a 6,0%, e o índice alcançado foi de
7,0%, pode-se afirmar que inflação está elevada.
Vejamosagoraumexemplodegráficosdebarra.Essecasoéumasituaçãohipotética,
trata-sedonúmerodedownloadsdemúsicasdequatroduplassertanejas.
Gráfico 2 - Número de downloads de músicas, segundo dupla sertaneja - Janeiro-Junho - 2013
Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Mário e Mariano
Alberto e Roberto
Pedro e Paulo
Júlio e Juliano
0
500
1000
1500
2000
2500
Fonte: Associação de cantores de duplas sertanejas com nomes parecidos
² Os parâmetros
da OMS e as
estatísticas sobre
mortalidade
infantil foram
obtidas da
publicação
do IBGE
Indicadores de
Desenvolvimento
Sustentável
2012.
150
O que nos diz esse gráfico? Várias coisas:
1) MarioeMarianoeAlbertoeRobertoestãopresentesemtodososmeses.Asdemaisdu-
plassóapartirdefevereiro;
2) MarioeMarianoéaduplaquemaisvende.Superaasdemaisduplasemtodososmeses,
excetoemmaio,quantoempatacomPedroePaulo;
3) JúlioeJulianoePedroePauloestãoemtrajetóriaascendente.Acadamêsquepassa,
vendemmais;
4) AduplaAlbertoeRobertoestáquasenasituaçãoinversa.Crescemosdownloadsdeja-
neiroparafevereiro,masdepoisésóladeira abaixo.Emjunhojáestãoemúltimolugar;
5) AdisputapeloprimeirolugarpareceserentreMárioeMarianoePedroePaulo,com
vantagemparaosúltimos,poisestãoemascensão,enquantoMarioeMarianoestãopara-
dosnafaixade1700a2100downloads.
Nográfico2,diferentementedosseguintes,optou-sepornãoseinserirrótuloscomos
valoresdasvariáveis,poisosnúmerosiriamficarmuitopróximos,oquedificultariaaleitura.
Ográficodebarrasnessecaso,dadoocurtoperíododetempoeonúmerorestritode
categorias,foiomaisindicado.Paraanalisaraevoluçãodedownloads por dupla sertaneja,
ográfico2éoideal;parasevisualizaramudançadacomposição do mercado,ográfico3,
decolunasempilhadas,éomaisadequado,comovemosabaixo.
Gráfico 3 - Distribuição de downloads de músicas, segundo dupla sertaneja - Janeiro-junho - 2013
Mário e Mariano
Alberto e Roberto
Pedro e Paulo
Júlio e Juliano
55,3
48,2
39,2
35,0
34,3
37,6
44,7
43,5
30,4
24,3
20,2
12,8
5,9
25,5
31,1
34,3
33,0
2,4
4,9
9,7
11,1
16,5
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Fonte: Associação de cantores de duplas sertanejas com nomes parecidos
Vejamosaapresentaçãodosmesmosdadosnaformadeumatabela(tabela1).Avanta-
geméqueagorasabemos,comprecisão,onúmerodedownloads,eadesvantagem,queé
considerável,équeperdemosemtermosdorápidoentendimento.Émuitomaisfácilperce-
beroqueestáacontecendonomercadodedownloadsdemúsicasertanejapormeiodeum
gráfico(adequado)doquepormeiodeumatabela.Poisumbomgráficovale por mil palavras.
151
Tabela 1 - Número de downloads de músicas, segundo dupla sertaneja - Janeiro-Junho - 2013
Meses Mário e Mariano Alberto e Roberto Pedro e Paulo Júlio e Juliano
jan 2100 1700
Fev 2050 1850 250 100
Mar 2000 1550 1300 250
Abr 1800 1250 1600 500
Mai 1700 1000 1700 550
Jun 2050 700 1800 900
Fonte: Associação de cantores de duplas sertanejas com nomes parecidos
O uso de gráficos de barras sobrepostas é indicado para comparar grandezas que
têmomesmototal,comoéocasodepercentuais,cujasomaésempre100%.Porexem-
plo,nográfico4comparamoscomosedistribuiapopulaçãobrasileiraentreáreasur-
banaseruraisem2010.
Como toda comparação deve ter um parâmetro, utilizaremos, para isso, a média
brasileira. Comparando os estados de Piauí e do Rio de Janeiro em relação à média
nacional,ficaevidentequeoPiauítemumabaixaproporçãodapopulaçãovivendoem
áreasurbanas,próximode65%,contra85%damédiabrasileira.JánoestadodoRiode
Janeiro,aocontrário,équasetotalmenteurbanizado.Temumaelevadaproporçãoda
populaçãovivendoemáreasurbanas.
Gráfico 4 - Percentual de população que vive em áreas urbanas e rurais - Piauí, Rio de Janeiro e Brasil - 2010
84,4
65,8
96,7
15,6
34,2
3,3
Brasil Piauí Rio de Janeiro0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
população urbana população rural
Fonte: IBGE – Sinopse do Censo Demográfico de 2010
152
Ográfico5mostraacolunaBrasilapresentadacomográficodepizza.Emtermosvisuais,
aapresentaçãoficamelhor,masacomparaçãoémaisdiretacomascolunassobrepostas.
84,4
15,6
população urbana
população rural
população urbana
população rural
população urbana
população rural
65,8
34,2
96,7
3,3
Gráfico 5 - Percentual de população que vive em áreas urbanas e rurais - Piauí, Rio de Janeiro e Brasil - 2010
Piauí Rio de JaneiroBrasil
Fonte: IBGE – Sinopse do Censo Demográfico de 2010