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LEITURA, PODER DE TRANSFORMAÇÃO NA FORMAÇÃO DO LEITOR

Maria das Dores Campos Gomes1

Margarida da Silveira Corsi2

RESUMO

O presente artigo relata a experiência desenvolvida por meio de uma proposta de intervenção pedagógica na escola e trata-se do objeto de estudos do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional/PR em 2010. Devido à dificuldade que os alunos apresentam na compreensão da leitura o foco dessa proposta foi levar o aprendiz a tornar-se um leitor ativo, ou seja, que ao ler, o indivíduo realize uma leitura compreensiva produzindo significado e produção de sentido ao texto, observando os elementos essenciais do gênero textual contos de suspense, aspectos discursivos bem como sua estrutura composicional. Para o desenvolvimento desta proposta ancoramos nas linhas sociointeracionistas que considera que o texto literário em prosa serve como objeto para a concretização da leitura, a partir da enunciação, do dialogismo e da interação verbal. E também para fundamentar nossas reflexões nos apoiamos em Bakhtin (1895-1975) que aprofunda suas pesquisas sobre os gêneros textuais. O público a que estiveram direcionadas as atividades foram os alunos do 2º ano do Ensino Médio, período matutino, do Colégio Estadual Reynaldo Massi, na cidade de Diamante do Norte-PR, durante o segundo semestre de 2011. Para alcançar os objetivos optou-se por um trabalho com o gênero textual contos como articulador da leitura. Obteve-se excelentes resultados na implementação dessa produção didático-pedagógica, uma vez que ficou evidente a participação ativa dos alunos em cada atividade sugerida. Com isso pudemos concluir que toda prática pedagógica relacionando teoria e prática com atividades diversas envolvendo a mesma temática traz bons resultados e contribui para um ensino de melhor qualidade. Palavras-chave: PDE; gêneros textuais; leitor; contos.

ABSTRACT

The present article reports the experience developed through a proposal of pedagogical intervention in the school and it is the object of studies of PED - Program of Educacional Development/PR in 2010. Due to the difficulty that the students have in reading comprehension the focus of this proposal was to bring the

1 Graduada em Letras pela Universidade do Oeste Paulista - Faculdade Estadual de Ciências, Letras e

Educação de Presidente Prudente - São Paulo. Especialista em Didática e Metodologia do Ensino pela Universidade Norte do Paraná. Professora da Rede Pública Estadual.

2 Doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista. Professora da Universidade Estadual de Maringá e

integrante do Grupo de Pesquisa Interação e Escrita no Ensino Aprendizagem (UEM/CNPq).

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learner to become an active reader, in other words, that when reading, the individual accomplishes an comprehensive reading producing meaning and production meaning to the text, observing the essential elements of the textual gender of suspense short stories, discursive aspects as well as their compositional structure. For the development of this proposal we anchored in the sociointeractionist lines which consider that the literary text in prose serves as object for the materialization of reading, starting from the enunciation, of dialogism and verbal interaction. It is also to base our reflections we rely on Bakhtin (1895-1975) that deepens his researches on the textual genres. The public to whom the activities were addressed, were the students of the 2nd year of high school, morning period, of the „Colégio Estadual Reynaldo Massi‟, in the city of Diamante do Norte-PR, during the second semester of 2011. To achieve the objectives we chose a paper with the textual gender of short stories as articulator of reading. It was obtained excellent results in the implementation of that didactic-pedagogical production, once it was evident the active participation of the students in each suggested activity. With that we could conclude that all practical pedagogical relating theory and practice several with several activities involving the same thematic which brings good results and contributes to a better quality of teaching.

Keywords: PED; textual genres; reader; short stories.

1 INTRODUÇÃO

Propor um trabalho utilizando como recurso o gênero textual conto é

importante porque estimula a imaginação e a criatividade dos alunos e também os

sensibiliza para o interesse da leitura e escrita fornecendo subsídios para o

desenvolvimento da capacidade de analisar, refletir e interpretar o que se lê.

Assim, o presente trabalho se justifica pela dificuldade que os alunos do 2º

ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Reynaldo Massi do município de

Diamante do Norte, estado do Paraná apresentam quando são propostas atividades

que envolvam leitura e interpretação de textos nas aulas de Língua Portuguesa. A

dificuldade apresentada pelos alunos na compreensão da leitura se caracterizou

pelo fato de não terem realizado um trabalho envolvendo uma leitura de extração e

produção de significados do texto. Diante das dificuldades encontradas na sala de

aula no que se refere à leitura, uma vez que o aluno se mostra desinteressado em

ler, torna-se um desafio para o professor buscar e aplicar novas metodologias a fim

de levar o aluno a ter gosto e criar o hábito da leitura.

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Nessa perspectiva, é necessário que se trabalhe com uma proposta que

priorize a formação do leitor com senso crítico desenvolvido; que entenda a

realidade que o cerca e saiba fazer uso do conhecimento adquirido não apenas no

ambiente escolar bem como em outras esferas sociais. Então, cabe ao professor ser

um mediador e estabelecer uma relação dialógica com seus alunos, conduzindo-os

para uma leitura crítica do texto, buscando nas experiências de vida seus

conhecimentos prévios e fazendo correlações com o texto.

No dia-a-dia de nossa prática em sala de aula, evidenciamos que os alunos

do 2º ano do Ensino Médio apresentam dificuldades de leitura e compreensão de

textos nas aulas de Língua Portuguesa. Nesse sentido, fomos orientados a elaborar

uma pergunta para se efetivar a necessidade dessa pesquisa: Quais estratégias de

ação podem ser desenvolvidas em sala de aula, a fim de possibilitar ao aluno uma

prática de leitura com produção de sentidos?

Este trabalho faz parte do programa PDE, um programa de Formação

Continuada em Rede que integra as Escolas Públicas Estaduais às Instituições de

Ensino Superior IES. Essa integração se dá por meio da inserção do Professor da

Educação Básica nas atividades de formação desenvolvidas nas IES bem como

pelos professores das IES que intervêm nas Escolas por meio deste professor. O

objetivo fundamental desse programa é proporcionar aos professores da rede

pública estadual subsídios teórico-práticos para o desenvolvimento de ações

educacionais sistematizadas, que possam ser avaliadas em seu processo e seu

produto e que resultem em redimensionamento de sua prática educativa. (Programa

de Desenvolvimento Educacional PDE. Curitiba, Gráfica Oficial, 2006).

Essa proposta de trabalho guiada por uma revisão bibliográfica que se

encontra neste artigo tem como objetivo maior utilizar-se de práticas diferenciadas

de leitura, a fim de levar o aluno a encontrar no ato de ler algo significativo para ele.

Para isso, pretende-se desenvolver atividades de leitura que levem em conta o

conhecimento prévio do aluno, os contextos de uso e de circulação da língua, uma

vez que, na medida em que se define um gênero e formas diferenciadas de

trabalhar, a leitura se torna mais significativa para o aluno, pois está relacionada ao

seu cotidiano e suas experiências de vida.

Para a efetivação dessa proposta de trabalho escolhemos o gênero textual

“contos de suspense” objetivando poder explorá-lo de maneira mais profunda e com

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isso estimular nos alunos o hábito de ler, já que esse gênero provoca medo, uma

reação ao desconhecido e deixa o leitor em estado de alerta. E a partir daí, pode

surgir o interesse dos alunos pela leitura de outros gêneros textuais, possibilitando o

desenvolvimento da capacidade de interpretar, ouvir, falar e escrever de forma

profícua.

Dessa forma, apoiados no quadro teórico-metodológico do

sociointeracionismo, propomos a realização de uma Unidade Didática com a

finalidade de os alunos desenvolverem uma leitura como produção e extração de

significados e assim, formar leitores competentes, capazes de valer-se

significativamente dessa habilidade em seu cotidiano.

Na produção da Unidade Didática que elaboramos sob o título “Leitura,

Poder de Transformação na Formação do Leitor”; sugerimos um trabalho

primeiramente com o conhecimento prévio do aluno por meio de diversos

questionamentos dentro do plano de ação e, também, as características que

envolvem o gênero textual conto. No plano discursivo abordamos a composição e a

estrutura do conto.

As atividades elaboradas na Unidade Didática destinaram-se a alunos da 2º

ano do Ensino Médio, aplicado em 32 aulas com o objetivo de desenvolver

habilidades de leitura e escrita por meio de contos de suspense.

Diante do que expomos, cumpre-nos apresentar a estrutura deste trabalho

que está estruturado em dois momentos. Primeiramente, apresentamos os

encaminhamentos teórico-metodológicos, cujo objetivo é estudar as contribuições

teóricas do sociointeracionismo e a questão do uso de gêneros discursivos em aulas

de Língua Portuguesa que fundamenta toda a discussão do trabalho. No segundo

momento, procuramos traçar o modo como se configurou a aplicação da Unidade

Didática por nós elaborada, aos alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual

Reynaldo Massi, do município de Diamante do Norte.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Todo esse trabalho está pautado numa fundamentação teórica na qual a

linguagem é analisada a partir da interação entre os indivíduos envolvidos numa

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prática social, uma vez que todo e qualquer discurso, escrito ou falado, representa

uma cultura, uma ideia a ser transmitida. Dessa forma, a comunicação seria

praticamente impossível se os indivíduos não dominassem o que Bakhtin, filósofo

russo define como gêneros do discurso.

Para Bakhtin (1895-1975), o emprego da língua se efetua na forma de

enunciados, estes podem ser orais ou escritos, concretos e únicos, proferidos pelos

integrantes desse ou daquele campo de atividade humana. Estes enunciados se

organizam com determinadas finalidades de ordem temática, composicional e

estilística, que os enquadram pelas suas características como pertencentes a este

ou aquele gênero. Assim, a escolha de um gênero é determinada por uma esfera da

comunicação, pela necessidade de uma temática e pelo conjunto dos parceiros da

comunicação,

Entendemos por gênero do discurso ou gêneros textuais os diversos textos

materializados que encontramos em vários ambientes da sociedade. Existe uma

grande diversidade de gêneros textuais. Exemplos: piada, telefonema, romance,

bilhete, reportagem, notícias, bula de remédio, aula expositiva, lista de compras,

cardápio de restaurante, resenha, e-mail e muitos outros. Assim afirma Bakhtin:

A riqueza e diversidade dos gêneros discursivos é imensa, porque as possibilidades da atividade humana são inesgotáveis e porque em cada esfera da práxis existe todo um repertório de gêneros discursivos que se diferencia e cresce à medida que se desenvolve e se complexifica a própria esfera (BAKHTIN,1982, apud MACHADO, 2005, p.155)

Dessa forma, os gêneros discursivos são infinitos e na aprendizagem são

desenvolvidos e aperfeiçoados por meio de atividades humanas dentro de um

contexto de entendimento e experiências que cada indivíduo traz na sua bagagem

cultural ao longo de sua vida. Para Bakhtin (1997, p.283):

Aprender a falar significa aprender a construir enunciados, isto porque falamos por meio de enunciados e não por orações isoladas. Quando escolhemos as palavras, partimos do conjunto projetado do enunciado, e esse conjunto que projetamos e criamos é sempre expressivo. A palavra não pode ser analisada isoladamente, ela assume um significado dentro de um contexto.

Dito de outra maneira fica evidente que a comunicação verbal só é possível

por meio de algum gênero textual. Essa é uma concepção defendida por Bakhtin

(1997), ao tratar a língua em seus aspectos discursivos e enunciativos, e não em

suas peculiaridades formais e estruturais.

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Assim, é por meio da linguagem que o indivíduo se expressa utilizando

textos orais ou escritos, e também escolhe a forma e o que significa dentro de um

contexto sociocultural e espera uma atitude responsiva de seu interlocutor. A estes

textos orais ou escritos chamamos de gêneros do discurso, sendo que cada um

deles possui suas características e peculiaridades. Ainda de acordo com Bakhtin

(1997), os gêneros do discurso podem ser classificados em primários ou

secundários e por serem mais elaborados e complexos os gêneros literários

enquadram-se dentro dos gêneros secundários.

O texto literário seja oral ou escrito, é uma forma de produção e apreensão

do conhecimento e a escola pode contribuir para a formação de leitores proficientes

no processo ensino aprendizagem, uma vez que as Diretrizes Curriculares de

Língua Portuguesa do Estado do Paraná (2008) expõem que a leitura se processa

num ato dialógico, interlocutivo, envolvendo demandas sociais, históricas, políticas,

econômicas, pedagógicas e ideológicas de um determinado momento. Conforme as

DCEs:

Compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem. (DCE/SEED/Língua Portuguesa, 2008, p.56).

Neste sentido, entende-se que cada leitor faz sua leitura dependendo do

contexto em que está inserido, ou seja, sua posição na sociedade, sua bagagem

cultural, sua história de vida, suas relações afetivas com o texto, com o tema e,

também sua posição ideológica é que dará sentido ao texto.

Portanto, a leitura abre horizontes, conduz o leitor a participar da elaboração

de significados, confrontando-o com o próprio saber, com sua experiência de vida. É

a leitura que faz a diferença, desata nós e traz um novo olhar a respeito do texto. Ela

é uma condição imprescindível para formar um cidadão instrumentalizado para

exercer com consciência e liberdade a cidadania; cidadão este, preparado para

interferir com autonomia, intencionalidade e decisão na transformação da sociedade

em que vive.

Nesse contexto podemos entender a leitura como um processo de produção

de sentidos que acontece a partir das interações sociais e dialógicas entre o leitor e

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o texto. O leitor tem um papel ativo no processo da leitura, isto é, torna-se um co-

autor do texto, pois dialoga com o autor ou com outros textos lidos.

Segundo Kleiman (2004, p.13), “o processo de compreensão de um texto se

dá pela utilização do conhecimento prévio”, ou seja, o leitor utiliza-se de sua

experiência de mundo, do que ele sabe ou conhece para interagir com o texto.

É preciso que o leitor tenha um conhecimento linguístico para que a

compreensão do texto não fique comprometida. Esse conhecimento faz parte do

conhecimento prévio, assim como o conjunto de noções e conceitos sobre o texto e

ambos devem ser utilizados na leitura. Corroborando com essa concepção, Solé

(1998) “entende o ler como um processo entre leitor e texto, em que se busca

satisfazer os objetivos que guiam à leitura”.

Geraldi (1997, p.166-167) afirma “que um único texto pode ter diferentes

leituras, uma vez que são resultantes do diálogo do texto com as experiências de

cada leitor. Por isso a história é outra, sem deixar de ser a mesma”.

Em outras palavras, ler não é adivinhar ou decifrar significados, e sim atribuir

significados àquilo que se lê. Ler é formular uma hipótese inicial para a significação

de um texto e reformular esse significado tantas vezes quanto forem necessárias a

partir de nossos conhecimentos prévios, do contexto em que lemos, do tipo de texto

e dos elementos que o formam.

Entendemos dessa forma que a leitura e produção de textos tornam-se

muito mais significativas quando apresentamos ao aluno um gênero textual e este

passa a percebê-lo como relativamente estável, dentro de um contexto e ainda nos

textos deste gênero percebe o propósito e a intenção de seus autores e torna-se

apto à produção do mesmo gênero, já que possui uma referência e seu texto terá

finalidade, contexto, suportes e públicos definidos e reais.

Nessa perspectiva colocamos que o texto literário em prosa será a nossa

proposta de trabalho com objetivos traçados, ações planejadas e avaliadas quanto

ao processo e produto final, no intuito de auxiliar a formação dos alunos no processo

ensino-aprendizagem, tornando-os leitores ativos e eficientes. Cabe ao professor de

Língua Portuguesa exercer o papel de mediador do conhecimento e promover

momentos de leitura do gênero textual (contos de suspense) com estratégias de

leitura diferenciadas a fim de propiciar o crescimento intelectual do aluno.

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Segundo Aragão (1985), o conto é definido como uma narrativa em prosa,

de pequena extensão. Por ser uma narrativa voltada para objetivos bem

determinados, a sua forma acompanhará o conjunto dos elementos específicos a

esse tipo de narrativa. A chave para o entendimento do conto está na concentração

de sua trama. O conto geralmente trata de uma determinada situação e não de

várias, e acompanha seu desenrolar sem pausas, nem digressões, pois o seu

objetivo é levar o leitor ao desfecho, que coincide com o clímax da história, com o

máximo de tensão e o mínimo de descrições. Essa forma narrativa possui as suas

próprias leis internas que a singularizam diante de outras formas narrativas.

Conforme Aragão (1985) o tempo e o espaço do conto geralmente são

reduzidos ao mínimo indispensável para a elaboração da trama, assim como são

poucos os protagonistas e para se estabelecer os princípios gerais que regem o

conto, é necessário considerá-lo em relação com o seu meio, com a situação na

qual é criado e na qual ele vive.

Moisés (1983) também define o conto como:

Uma narrativa unívoca, univalente. Constitui uma unidade dramática, uma célula dramática. Portanto, gravita em torno de um só conflito, um só drama, uma só ação: unidade de ação. Para entender nitidamente essa unidade dramática, temos que considerar ainda outro aspecto da questão: todos os ingredientes do conto levam a um mesmo objetivo, convergem para o mesmo ponto. Assim, a existência dum único conflito, de uma única “história” está intimamente relacionada com essa concentração de efeitos e de pormenores: o conto aborrece as digressões, as divagações, os excessos. “Ao contrário, exige que todos os seus componentes estejam galvanizados numa única direção e ao redor dum só drama” (1983, p.20).

Utilizando os contos na sala de aula, os alunos poderão aprender como se

constitui um conto e a partir disso apreciar a leitura desses e até mesmo produzir

outros contos, buscando no ato da leitura o sentido do texto de maneira reflexiva e

crítica, compreendendo os aspectos discursivos e deles se apropriando. Além disso,

o trabalho com gêneros textuais na sala de aula favorece a aprendizagem da escuta,

leitura e escrita de textos diversos, com funções específicas, visto que a orientação

do professor não será mais a de considerar apenas o aspecto formal do texto

escrito, mas a de proporcionar o uso efetivo do texto por parte dos alunos, abrindo-

lhes oportunidade de se desenvolverem como cidadãos de uma sociedade letrada.

Assim, a leitura e a escrita não serão apenas práticas escolarizadas.

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Portanto, nossa proposta de trabalho com o gênero textual contos de

suspense visa criar condições ao educando por meio da leitura de tornar-se um leitor

ativo e com capacidade de transformar o meio que o cerca.

3 METODOLOGIA

Quanto ao aspecto metodológico, este trabalho se caracteriza por ser uma

pesquisa social aplicada de natureza qualitativa que se enquadra como pesquisa-

ação.

Levantadas as dificuldades enfrentadas pelos alunos por meio de

questionários e também pelo trabalho do dia-a-dia, no que diz respeito à leitura e

produção de textos, elaboramos um projeto de intervenção fundamentado por

teorias consultadas sobre a prática em sala de aula e criamos situações por meio de

algumas atividades em que se priorizassem momentos de leitura e produção de

textos, com o objetivo de que os alunos se apropriassem dessa leitura com

produção e sentido, tornando as aulas de Língua Portuguesa mais atraente e

envolventes, conduzindo o aluno a ser mais autônomo e participativo na sociedade.

A escolha do gênero textual contos de suspense se deu pelo fato de serem

narrativas curtas envolventes favorecendo a inferência, a percepção das entrelinhas

e entendimento do texto com mais facilidade e também por apresentar todos os

elementos importantes que compõem uma narrativa, uma vez que se trata de um

gênero breve com estrutura passível de ser analisada no curto tempo de aula e por

ser um trabalho com adolescentes, o mistério, o oculto, é mais atraente para esse

público alvo.

As atividades foram elaboradas de forma criteriosa e de acordo com o

cronograma foram implementadas em etapas que consistiram em leitura,

compreensão, interpretação, estudo dos elementos que compõem o conto,

pesquisas de outros contos e autores que não constavam na proposta de

implementação, atividades recreativas, produção de outros gêneros e como

encerramento uma dramatização de um dos contos pesquisados e lidos pelos

alunos na sala de aula.

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3.1 Descrição da Pesquisa

A implementação do projeto teve como participantes alunos do 2º ano do

Ensino Médio do período matutino do Colégio Estadual Reynaldo Massi –“EFMP” O

período de duração desta implementação foi de trinta e duas aulas.

Ao iniciar a implementação, conversei com os alunos sobre o projeto,

expliquei quais eram meus objetivos e como um levantamento de dados elaborei

algumas questões orais e escritas sobre a importância da leitura, uma vez que o

foco do trabalho é desenvolver o gosto e hábito da leitura. Também apresentei a

definição de Gêneros Textuais e logo após expus aos alunos que faríamos um

trabalho com o gênero textual contos de suspense.

A cada atividade proposta e desenvolvida com os alunos, ficava evidente o

quanto eles iam se envolvendo mais com a leitura. No decorrer das aulas, os alunos

traziam livros dos autores dos contos apresentados no Material Didático. Foi

interessante observar que ao trabalhar o conto ”Passeio Noturno” parte 1, de Rubem

Fonseca, da forma como foi proposto no material didático, a curiosidade dos alunos

aguçava, pois o conto foi dividido em quatro partes e perguntas iam surgindo

conforme feita a leitura de cada parte: o carro é do modelo... Que família! Quem era

realmente o personagem masculino do texto? O que será que ele vai fazer? Vários

desfechos relatados pelos alunos foram elaborados. Na outra aula uma aluna trouxe

a parte 2 do texto e a classe quis que fizéssemos à leitura e assim, uma leitura ia

levando a outras, conforme o objetivo do projeto. Vale lembrar que antes de

trabalhar como o texto mencionado acima; trabalhamos algumas questões orais

partindo do título do texto, para ativar os conhecimentos prévios e estimular a

curiosidade deles pela história, pois o título “Passeio Noturno” sugere algo

introspectivo, suave e delicado. Quando questionei o que sugeria o título, os alunos

responderam que “Passeio Noturno” nos remetia a ideia de uma caminhada pelo

parque que se encontrava na cidade, uma caminhada na praça, uma volta de carro

pelas ruas da cidade, enfim todas as contribuições dos alunos sugeriam um

acontecimento que envolvia tranquilidade e serenidade, porém assim que iniciamos

a leitura da primeira parte do texto vimos que o autor quebra a expectativa criada

pelo leitor. Ao invés de encontrar um ambiente aberto, tranquilo, que o leve a um

passeio, o leitor se depara com um ambiente fechado – um apartamento. O

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personagem narrador surge como alguém injustiçado tanto por sua mulher como por

seus filhos, pois acredita que não lhe dão o devido valor.

Conforme a leitura das partes do texto vai se desenvolvendo, os alunos vão

aguçando sua curiosidade e fazendo alguns questionamentos, por exemplo, quando

o personagem masculino convida a sua esposa para dar uma volta de carro, eles se

questionam: “será que ela vai aceitar? Se saírem juntos, aonde vão e o que vão

fazer? E se ele sair sozinho, que vai fazer? Paquerar alguém, viver uma aventura?

Encontrar-se com uma amante?” Nesse momento da leitura, a expectativa por parte

dos alunos de como será o desfecho da narrativa já é muito grande e eles também

começam a perceber que não há mais espaço para um passeio como o imaginado

por eles a partir da leitura do título e quando fazem a leitura da parte final do texto

ficam chocados com o desfecho. Ao término da leitura do texto, abordamos

acontecimentos do cotidiano fazendo uma analogia ao enredo do texto trabalhado

em sala de aula.

O conto “Venha Ver o Pôr- do- Sol” de Lygia Fagundes Telles, apresentado

após a apresentação de uma imagem do pôr-do-sol e feito alguns questionamentos

para ativar os conhecimentos prévios dos alunos, aguçou mais ainda a curiosidade

dos alunos, pois no momento da leitura, eles demonstravam um grande interesse

em saber o desfecho do conto e ao término da leitura, muita conversa a respeito do

conto foi abordada. Os alunos se prontificavam a fazer as atividades com

entusiasmo e na aula seguinte, os mesmos trouxeram vários vídeos retirados do

Youtube relacionados ao conto “Venha Ver o Pôr-do-Sol” complementando e

enriquecendo a aula.

Conforme desenvolvia o trabalho com contos, explicava aos alunos o que é

um conto, como se estrutura, quais elementos compõem um conto e que, nos contos

de suspense, terror, o ambiente, a fala do narrador e também as ações e fala das

personagens possuem um poder de atração, ou seja, são estes elementos que vão

prender a atenção do leitor, por isso são muito importantes.

Dando sequência às atividades, entreguei aos alunos algumas imagens, as

quais eles tinham que observar e produzir a partir das imagens vistas um gênero

textual (notícia, crônica, carta pessoal, etc.) Para isso, tivemos que estudar a

estrutura e composição de outros gêneros a fim de que o aluno não tivesse

dificuldade de escolher e produzir seu texto, lembrando que para a realização desta

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atividade, os alunos poderiam formar grupos. Foi surpreendente esta atividade, uma

vez que imaginei que o grupo fosse produzir uma notícia, o que me parecia mais

próximo deles, todavia, para minha surpresa, apareceram contos, cartas pessoais e

notícias. Um grupo, além de produzir um conto, também escreveu uma carta

pessoal, três equipes, além de escreverem o conto produziram um vídeo com

narração deles e imagens coletadas na Internet, o que ficou um trabalho mais

abrangente. Também ficou evidente nesta atividade o quanto os alunos sabem

utilizar os recursos tecnológicos atuais. Nesta fase de implementação já surgia na

sala livros de outros autores de contos como, por exemplo, Edgar Allan Poe.

Como os alunos já estavam bastante envolvidos com atividades

relacionadas à temática do meu trabalho, propusemos uma brincadeira a qual era

formada por um círculo feito pelos alunos e dentre os participantes havia um ladrão

e um detetive. Ao ladrão cabia a função de matar os integrantes do grupo por meio

de uma piscada e ao detetive de descobrir quem era o assassino. A atividade

envolvia segredo, mistério até o término, onde só se encerrava a brincadeira quando

o detetive descobria quem era o ladrão que matava os integrantes. Foi interessante

a atividade porque os alunos além de não conhecerem a brincadeira participaram e

puderam trabalhar com expressões faciais, uma vez que tinham que ficar um

olhando para o outro e demonstrar curiosidade pelos acontecimentos e também ter

todo o cuidado de não serem descobertos facilmente caso fossem o ladrão ou

detetive.

Foi interessante perceber que os alunos, mesmo quando se tratava de uma

brincadeira, faziam relações com situações vivenciadas no seu cotidiano. Em outros

momentos parecia que queriam viver determinados personagens conhecidos na

televisão ou em livros que envolviam detetives ou policiais que buscavam provas

para incriminar os bandidos e fazer com que a justiça esteja presente na sociedade.

Por meio de uma imagem retirada da Internet e apresentada aos alunos

suscitei alguns questionamentos provocando a curiosidade para lermos o conto “A

mais bela noite de Margarida” de Edson Gabriel Garcia, porém antes de pedir que os

alunos fizessem à leitura do texto, falei sobre o autor e suas obras no intuito de levar

o aluno a buscar outros textos desse autor. Esse trabalho de levar o aluno a

conhecer a obra e o autor foi surpreendente, porque os próprios alunos conseguiam

identificar peculiaridades do autor com sua obra, por exemplo, ao estudarmos o

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conto de Rubem Fonseca e sua biografia, percebíamos o quanto de suas

experiências vividas na sua função antes de ser escritor estavam impregnadas em

suas obras. Também os alunos conseguiram perceber que ninguém escreve alguma

coisa do nada, é preciso juntar experiências observadas ou vividas com criatividade

e emoção para que se possa escrever um texto ou uma obra.

Os alunos ao verem a imagem e ouvirem alguns comentários tecidos pela

professora sobre o conto “A mais bela noite de Margarida” ficaram entusiasmados

pelo início da leitura, pois nesse momento já estava claro que histórias de suspense,

terror e medo povoam e estimulam a imaginação dos adolescentes. Ao término da

leitura, os alunos contaram outras histórias que tinham ouvido e apareceram muitas

versões de contos parecidos com o conto trabalhado na sala de aula.

Dando continuidade às atividades a professora falou aos alunos sobre o

mestre do suspense, o inglês Alfred Hitchcok e destacou alguns de seus trabalhos.

Conforme trabalhávamos as atividades concluíamos que o suspense e o mistério

são fundamentais em qualquer narrativa, uma vez que é isso que vai prender o leitor

no desenrolar do enredo, movido pela curiosidade de saber o que aconteceu e como

será o desfecho, ou seja, o importante é criar um contexto que, aguçando a

percepção do leitor, permita que ele descubra no texto mais do que ele já sabia.

E como falamos sobre o mestre do suspense, surgiu então a ideia por parte

dos alunos de fazermos o dia do cinema na sala de aula e assistirmos a um dos

filmes comentados na sala de aula. Foi um momento de grande aprendizado, pois

eles puderam sugerir qual filme deveria ser passado, relatando uma sinopse do

mesmo e qual a importância de ver e analisar um filme como esse na sala de aula.

Um dos filmes sugeridos foi escolhido e assistimos na outra aula do dia seguinte, “A

Ilha do medo, de Martin Scorsese”.

Outra atividade proposta pela professora para que os alunos usassem toda a

sua imaginação e criatividade foi sugerir uma situação inicial a eles e a partir dessa

os mesmos dariam continuidade ao texto. Para o desenvolvimento dessa proposta

foi pedido que os educandos se dividissem em grupos e formassem um círculo.

Cada aluno escrevia um parágrafo dando continuidade ao texto sem pedir opiniões

aos colegas; quando o último aluno do grupo fosse escrever, tinha que dar um

desfecho para o texto; e no momento em que todas as equipes concluíram as

atividades, um aluno de cada grupo foi escolhido para fazer a leitura do texto para a

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classe e ao término da leitura foi interessante observar que nem sempre os alunos

concordavam com o que foi escrito depois deles.

No encerramento de nosso trabalho, elaboramos uma coletânea de contos

pesquisados e trazidos pelos alunos e fizemos o baú dos contos. O baú foi colocado

em cima de uma mesa e cada um dos alunos da sala ia até ele e escolhia um conto

para ser lido. Foi surpreendente o quanto de autores e contos novos surgiram na

sala de aula e o curioso, os alunos - sem a exigência da professora - escolheram

contos que envolviam o mistério, terror, medo. Outra curiosidade foi que na maioria

das vezes os contos foram pesquisados por meio da Internet e não por livros pegos

na biblioteca. Talvez esteja aí a explicação para tantos autores e obras

desconhecidas. Realizada a leitura dos contos, foi escolhido um conto para ser

dramatizado e apresentado aos outros alunos do colégio. A classe optou por

fazermos a dramatização de dois contos, uma vez que os contos escolhidos eram

bastante interessantes.

4 RESULTADOS

A partir da aplicação desse projeto de intervenção no Colégio Estadual

Reynaldo Massi-EFMP para os alunos do 2º ano do Ensino Médio do período

matutino percebemos que um trabalho por meio da ficção encanta e fascina as

pessoas. Que proporciona também a possibilidade de relacionar o fictício com a

realidade do dia-a-dia levando o aluno a contextualizá-la e a partir daí fazer suas

reflexões sobre o meio que o cerca.

Por meio das atividades sugeridas a partir da leitura dos contos, oportunizou

aos alunos conhecerem o gênero textual contos de suspense, identificarem os

principais elementos que compõem este tipo de narrativa e também possibilitou

curtirem mais por meio de diferentes estratégias de leitura as narrativas ficcionais.

Um ponto a destacar das atividades sugeridas foi quando trabalhamos o

conto “Venha Ver o Pôr- do- Sol”, de Lygia Fagundes Telles, pois a partir da leitura

do conto fizemos a contextualização, ou seja, trouxemos os fatos do texto para o

contexto do aluno. Dessa forma eles perceberam que os acontecimentos na vida

dos personagens são possíveis de acontecer na vida de qualquer ser humano. A

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verdade é tanta que houve relatos de alguns casos conhecidos pelos alunos que

tinham como causa o término de um namoro ou casamento e que levaram a

conseqüência maior como vingança. Entenderam também que a ficção está bem

próxima da realidade, pois a todo o momento ouvimos e vemos por meio da mídia

relatos de assassinatos que envolvem crimes causados pela paixão passional ou

outros motivos. Foi possível constatar que por meio desta atividade o aluno sente

gosto e prazer pela leitura quando esta possibilita a ele interagir, construir

significados, compreender, fazer inferências. Além disso, perceber o papel relevante

que a literatura possibilita quando associamos a ficção com a realidade e

concluímos que esta na maioria das vezes pode estar presente nos acontecimentos

do cotidiano.

A partir da leitura do conto “Venha Ver o Pôr-do-Sol”, abordamos os

aspectos discursivos e a estrutura composicional do gênero textual conto, uma vez

que todo gênero textual apresenta suas características próprias e há a necessidade

de ser conhecida e identificada pelo leitor a fim de realizar uma leitura compreensiva

do texto.

É relevante lembrar que antes da leitura dos contos sempre trabalhávamos

atividades como questionamentos, apresentação de imagens, esclarecimentos de

algumas palavras com o intuito de acionar os conhecimentos prévios dos alunos e

aguçar a curiosidade para a leitura do texto proposto pela professora.

Um dado interessante foi à procura dos alunos por livros sobre contos na

biblioteca, ficava evidente a relação dialógica dos alunos com outros textos e nas

aulas estes faziam questionamentos à professora sobre alguns autores e contos.

Uma das alunas desta turma perguntou: “a professora conhece os contos de Edgar

Allan Poe?”, outros queriam sugestões de outros contos que envolviam mistério e

terror.

A proposta desse projeto de intervenção desde o início foi muito apreciada

pelos alunos, que se mostraram entusiasmados e curiosos para a realização de

todas as atividades que faziam parte da proposta de trabalho. Eles cooperavam,

participavam e se dispunham a realizar todas as atividades propostas tornando

assim, as aulas agradáveis. Outra aluna comentou que as aulas de Língua

Portuguesa passavam mais rápido do que as outras.

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Na atividade cuja proposta era a produção de outros gêneros textuais como:

contos, carta pessoal, crônica, os alunos empregaram todos os conhecimentos

adquiridos por meio do projeto e usaram de muita imaginação e criatividade para

produzirem seus textos. Esta atividade foi além das expectativas da professora uma

vez que os alunos além da produção dos textos utilizaram também os recursos

tecnológicos possuídos atualmente e elaboraram seus trabalhos de forma

surpreendente. Houve um grupo que não ficou somente numa única proposta e, sim

realizou outras atividades. Era interessante observar o quanto os alunos tinham se

apropriado de narrativas que envolviam o suspense, pois todas as produções

realizadas por eles prendiam a nossa atenção pela curiosidade de querer saber qual

seria o desfecho da narrativa.

Durante a leitura dos contos produzidos pelos alunos para a turma, notava-

se que todos estavam envolvidos, uma vez que prestavam atenção, faziam

perguntas davam sugestões e relacionavam um texto lido com outros já conhecidos.

Ficava bem evidente em todas as atividades que os alunos estavam

comprometidos com o projeto e procuravam desenvolver suas produções da melhor

forma possível, com muita criatividade e imaginação. Apresentamos um exemplo de

produção de texto de alguns alunos inseridos no projeto. A proposta para esta

atividade era escrever um texto a partir da escolha de um gênero textual (conto,

crônica, diário, carta pessoal, notícia) por meio de algumas figuras que foram

entregues pela professora.

O Preço da Cicatriz

Saiu de casa rapidamente, deixando a chave cair sobre a calçada mal acabada e

cheia de folhas. Delicadamente apanhou a chave e guardou a na bolsa. Seus olhos eram

próximos à cor do mel, que aos raios solares brilhavam intensamente e a noite pareciam

dois vaga-lumes a iluminar as noites escuras.

Caminhou com passos largos e com um olhar preocupado até o ponto de ônibus.

Por alguns segundos permaneceu imóvel e discreta. Entrou no ônibus, juntamente com

poucas pessoas, já meio sonolentas, voltando do trabalho. De repente o ônibus para e um

homem de estatura mediana, loiro que possuía uma grande e visível cicatriz, que se

alastrava do olho direito até as proximidades do queixo entra. Possuía um olhar sombrio que

contagiava a todos. Com sua maleta grande e preta, segurava bem firme, observou o ônibus

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quase vazio. Passou por dois assentos vazios e sentou-se ao lado da bela moça, de cabelos

curtos, pretos, de pele clara, muito delicada de olhos cor de mel.

- Oi, tudo bem? Pergunta o homem retirando um cigarro do bolso do paletó.

Ela olhou discretamente, com certa timidez, e foi logo dizendo educadamente:

- Tudo, que horas são?

- Pra você é dez e meia, diz o homem, olhando para o relógio de ouro.

Ela deu um sorriso discreto e agradeceu.

Chegaram ao destino. Os passageiros saem sem demora. A mulher desce e

caminha rapidamente pela rua mal iluminada e deserta, na qual o barulho do vento retratava

as vozes sinistras do além!

De longe já avistou seu destino: uma placa de metal enferrujada, com alguns cabos

de aço carcomidos, prendiam-na. A fachada estava mal acabada, precisava de uma urgente

reforma. Abriu à porta, a fechadura já rangia, ainda era cedo para a chegada do pessoal.

Caminhou até ao fundo do estabelecimento, todo organizado, com mesas de par em par,

forradas por toalhas vermelhas, da cor do sangue.

Retirou o suéter elegante, ficando já com o seu uniforme de trabalho. Sentou-se em

umas das mesas, da qual avistava todo o local, como quem estava a procura de alguém. As

pessoas começavam a chegar, mas ainda era cedo, o lugar enchia as altas horas da

madrugada.

O homem do ônibus chega ao local, ainda com a maleta preta e todo misterioso,

aproximou-se do bar e pediu um uísque para acompanhar, enquanto tragava o cigarro,

exalando fumaça a todos que estavam por perto. Não parava sequer um minuto, era um

cigarro atrás do outro.

O barman conhecia a maioria das pessoas, pois trabalhava ali há muito tempo.

Para ele o homem não era estranho, logo perguntou:

- Você freqüenta muito este local?

- Não, já faz muito tempo que não venho aqui, percebi que as coisas não mudaram

quase nada, os funcionários são os mesmos. Parece que deu uma pequena reformada aqui

dentro e você substituiu o meu velho amigo, que Deus o tenha. Vim hoje aqui, mais pra

relembrar o passado-respondeu o homem, bebendo o uísque em uma golada.

- Passado bom este? , querendo ir mais além à conversa, o barman.

O homem desvia o olhar para o chão, passando a mão em sua cicatriz, ficando

mudo com um olhar mórbido.

O barman não insistiu e mudou de assunto. O tempo passou. Agora a casa estava

cheia, o DJ soltou o som e as brilhantes luzes acompanhavam a música iluminando todo o

local.

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O show estava para começar.As belas e vulgares moças, subiam ao palco. Cada

uma ocupava seu lugar, os homens se posicionavam perto do palco, para não perder

nenhum movimento, começava o show, todas elas dançando iguais e sensuais, numa

coreografia que levava os homens à loucura.

Procuravam atingir com seus olhares sedutores, os homens mais belos, nem tanto

os belos, mais sim os que aparentava serem os mais ricos.

Agora cada uma por si, fazia o seu espetáculo. Olga usava uma meia quadriculada,

com um pequeno shorts jeans,um top minúsculo e batom vermelho vivo, que se destacava

em meio a sua pele clara.

Avistou o homem que estava no ônibus com ela. Em um primeiro momento, sentiu

vergonha, pois havia mudado da água pro vinho. De uma mulher elegante a uma vulgar.

Mas o que interessava no momento, era levar uma boa quantia de dinheiro para sustentar a

filha, vinda de uma noitada mal prevenida e inesquecível. Não se lembrava sequer do rosto

do pai de sua filha.

Seus olhos passaram a ficar fixamente no homem de maleta, deduziu que ele seria

um bom executivo. Os olhares intensos passaram a se encontrar e com seu jeito sedutor

começou a se aproximar mais e mais.

Quando visto, os dois já estavam entrelaçados, o homem tímido, arrastou a mulher

para o banheiro. Já pensando no dinheiro, perguntou Olga:

- Quanto vai me oferecer?

-Muito mais do que você pode imaginar, abraçando-a e a beijando-a fortemente.

Em meio aos abraços e beijos calhentes, o homem começa a falar:

-Você não se lembra de mim?

-Nunca te vi na minha vida!

-Tem certeza, neste mesmo banheiro, há mais ou menos uns dez anos atrás, não

se lembra?

-Não, nem sabia que você existia!

- E essas cicatrizes, não te lembram nada? Vira o rosto e passa delicadamente as

mãos nas cicatrizes.

-Já foram tantos que passaram na sua vida, será que ficou alguma memória sobre

mim?

- Não acredito, é você?

- Pode acreditar, sou eu mesmo, com meu rosto todo deformado. Deformado por

cacos de um copo, que você por estar estressada me atingiu o rosto, estava te pagando,

como hoje, bastava fazer o seu trabalho. Ainda fugiu sem sequer me ajudar. Você acabou

com o que eu tinha de mais belo! Por que você fez isso?

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- Me perdoe, nem me lembro do ocorrido, acho que estava bêbada.

- Pedir perdão é fácil, não foi você que ficou com o rosto nesta situação.

Retirando a faca pontiaguda da maleta, exclamou:

-Você estragou o que eu tinha de mais belo, meu lindo rosto, liso, sem sequer um

cravo. Como você é toda perfeita, acabarei com sua vida!

Estacou a faca no centro do peito, matando-a rapidamente, sem qualquer reação.

O dono da boate percebe um movimento estranho no banheiro, e resolve verificar.

Andava armado, para qualquer emergência.

O homem vivido e experiente arruma Olga no chão e se esconde atrás da porta. Ao

entrar no banheiro, o dono da boate se depara com aquela cena de terror. Olga, toda

ensangüentada, estendida no chão com a faca em seu peito. Ele se apavora deixando a

arma cair no chão e corre para ver se Olga tem chance de vida.

O dono da boate morria de amores por Olga, a menina dos olhos de mel, como a

chamava.

Aproveitando a situação e para não deixar suspeitos, o homem agarra a arma

rapidamente, dizendo:

- Já que gostava tanto desta vagabunda, morre junto com ela.

E disparou um tiro certeiro, matando o inocente.

Friamente, pegou a arma e limpou as digitais, colocando a na mão do homem

caído. Arrumou o casal no chão dando a entender que um havia matado o outro.

Lavou-se e trocou de roupa. Retira da maleta uma base, na qual passava pra

amenizar as cicatrizes. Arrumou-se, pegou a maleta e saiu do banheiro como que se nada

estivesse ocorrido.

Olhando pra um lado e outro, para ver se ninguém havia escutado nada. O som

estava altíssimo. Agora, sorridente passa no bar e pede um uísque, de pé, em um só gole,

toma-o.

Acendeu o seu velho e companheiro cigarro, olhando para o barman.

- Até nunca mais, e saiu sem olhar para trás.

A música dominava o local, cobrindo as vozes de todos. Tudo caminhava

normalmente, como se nada estivesse acontecido!

O mesmo grupo da produção de texto apresentado acima transformou o

conto “O Preço da Cicatriz” no gênero textual carta pessoal.

Diamante do Norte, 26 de setembro de 2011.

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Querida Irmã,

Oi amorzinho, como vai minha bagunceira? Espero que esteja bem. Aqui estamos

todos bem, vendendo saúde. Nossos pais esse final de semana foram visitar o Luís, no novo

rancho que ele comprou. Estou lhe enviando as fotos, para matar um pouco da saudade, do

papai, da mamãe e do nosso irmão. Não deu para eu ir, talvez semana que vem eu vou lá,

para conhecer, se não o Luís me deixa doida.

Lembra da sua amiga de infância, a Olga, ela mudou de cidade, foi para São Paulo,

fiquei sabendo por sua mãe.

O pessoal da rua estava comentando, que ela começou a andar com pessoas de

má índole e foi influenciada por elas. Que pena, uma garota tão boa! A sede de ganhar

dinheiro fácil e rápido, a levou a trabalhar em uma boate, servindo de garota de programa.

Não consigo imaginar aquela meiga e delicada menina, de olhos cor de mel, nessa

vida! Você não vai acreditar! Ela não concluiu os estudos e em uma de suas noitadas, mal

prevenidas, engravidou e não lembra nem se quer do rosto do pai.

Olga mudou da água pro vinho, dizem que ela está irreconhecível. Cortou os

cabelos, deixando os bem curtos, mas sua beleza continua inigualável.

Eu tinha recebido essas notícias alguns dias atrás, mas as que têm recentemente

são piores que estas.

Ontem passando em frente à antiga casa de Olga, encontrei o irmão dela, de

cabeça baixa, com um olhar triste e perguntei sobre Olga. Com lágrimas nos olhos, disse

que Olga tinha vindo a óbito.

Fiquei indignada, uma moça tão linda, jovem ter falecido. Arrepio-me até agora,

com a notícia de que ela foi assassinada. Ela foi encontrada morta dentro da boate na qual

trabalhava. O dono da boate também foi assassinado, foram encontrados os dois juntos,

todos ensanguentados com as armas do crime. Olga estava com uma faca cravada no peito,

que horror!

Muitos dizem que os dois eram amantes, mas testemunhas afirmam que ele era

apaixonado por ela, mas ela nunca quis nada com ele. Investigadores dizem que os dois

foram mortos pelo mesmo assassino, o qual foi muito esperto e sagaz, eliminado quaisquer

pistas. Até agora não encontraram o culpado.

Ao mesmo tempo em que estou triste, estou chocada, pelo tal fato. A filha de Olga,

Maria Clara, está morando com os avôs, que ela nunca sequer havia visto na vida. Tiveram

que trazer a menina pra cá, pois ela não tinha com quem ficar.

Olhar para a menina é a mesma coisa que ver Olga. De cabelos pretos e olhos cor

de mel, iguais ao da mãe. A pele parece de porcelana, com bochechas rosadas e lábios

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avermelhados, é perfeita a menina! Lembro quando Olga vinha em casa, e vocês dançavam

e dançavam a tarde inteira, tempos bons aqueles! Está dando pena, dos familiares de Olga.

Muitas pessoas em vez de dar apoio nesta hora difícil, só sabem criticar.

Ela podia ter um futuro brilhante pela frente, foi se envolver com pessoas erradas

olha só o que deu!

Maninha, bem sei que esta notícia vai te abalar, mas que sirva de exemplo para

você. Olhe bem as suas companhias e pense em tudo o que vai fazer. Estude e molde um

futuro brilhante! Preocupo-me com você morando aí sozinha. Te amo querida e só quero o

seu bem.

Triste e inconformada termino esta carta. O pessoal manda beijos e abraços.

Estamos morrendo de saudade de você e quando virá nos visitar? Fique com Deus e se

cuide menina!

Com Carinho,

Helena Maria

P.S: Ah! E a prova difícil que disse que tinha para fazer. Você a realizou? E sua

nota foi boa? Espero que sim, orgulho da Tata.

Os textos apresentados acima podem comprovar a criatividade e capacidade

que os alunos, quando envolvidos podem apresentar na aplicação de um projeto.

Descobriu-se o talento de alguns alunos para escrever, dramatizar, habilidades para

utilizar os recursos tecnológicos e enriquecer seus textos com estes recursos,

tornando-os mais atrativos, além disso, aprenderam que quando tinham que realizar

um trabalho em equipe exigia a participação e colaboração de todos para que o

objetivo final do trabalho a ser desenvolvido tivesse resultados positivos. Em todas

as atividades propostas em grupo, cada aluno tinha que contribuir com alguma

produção e assim, todos aprendiam juntos trocando experiências. Com isso

percebemos que a classe se manteve mais unida, pois aquele aluno que

apresentava dificuldade em realizar uma atividade obtinha ajuda dos colegas para

que realizasse a sua parte na atividade e não ficasse desmotivado a participar das

outras atividades propostas em sala de aula pela professora.

Quando os alunos foram fazer a apresentação de suas produções textuais

convidamos à diretora do colégio e também a equipe pedagógica para assistirem e

darem seus pareceres. Percebemos claramente o quanto diretora e equipe

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pedagógica ficaram satisfeitos com a apresentação. Foi surpreendente notar o

quanto o aluno é capaz quando é motivado a realizar uma tarefa e neste momento

fica claro que o aluno ao produzir seus textos quer que estes sejam expostos para

alguém que não seja ele e professora, enfim, quando você diz ao aluno e prepara-o

para escrever para um outro nota-se uma responsabilidade maior por parte deste

aluno, uma vez que ele sabe que a sua produção será lida e apresentada para

outras pessoas além dele e do professor. Foi compensador observar a capacidade

de organização bem como a habilidade que os alunos demonstraram por meio de

suas produções, sem contar que a autoestima dos alunos para todas as atividades

aumentava a cada vez que eles percebiam o sucesso de seus trabalhos.

Várias vezes, durante a implementação desta proposta, ouvia-se dos alunos

que estudar por meio de projetos é mais envolvente e interessante, uma vez que se

envolvem mais e segundo eles, também aprendem muito mais, que as aulas de

Língua Portuguesa tinham ficado bem mais interessantes e que não percebiam a

hora passar. Dessa forma, conclui-se que encaminhamentos metodológicos e

práticas pedagógicas adequadas e diversificadas envolvendo uma mesma temática

são fatores imprescindíveis para que o aluno possa adquirir o gosto pela leitura e

fazer do ato de ler um hábito e assim, por meio da leitura compreender melhor o

mundo que o cerca e ter uma participação ativa com o poder de se possível,

transformá-lo para melhor.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como remate é importante frisar que a leitura é um fator imprescindível para

formar um cidadão preparado para exercer com consciência e liberdade a cidadania.

Ler não pode ser compreendido apenas como uma simples decodificação de

símbolos, é muito mais que isto, é atribuir sentido, interagir, construir significados,

aprimorar a capacidade de reflexão, instrumentalizar o sujeito para que tenha uma

capacidade crítica sobre os textos verbais e não-verbais, ser capaz de entender as

entrelinhas, preencher os vazios do texto e posicionar-se argumentativamente,

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estabelecer uma relação dialógica entre o texto e o contexto e assim, ter uma visão

crítica do mundo que o cerca.

Com a finalidade de despertar o educando pelo gosto da leitura e contribuir

para a formação de um sujeito leitor e ativo na sociedade, esta Produção Didático-

Pedagógica sugeriu uma série de atividades diferenciadas de leitura em sala de

aula. Atividades estas que permitem a expansão do conhecimento, a criatividade, a

imaginação e também a ele fazer inferências e estabelecer relações dialógicas entre

os diferentes textos lidos e levando-o a ampliar seus conhecimentos e assim, atribuir

sentido ao saber.

Nesta linha de análise com o desenvolvimento das atividades propostas no

projeto de intervenção, pode-se afirmar que os alunos passaram a ver a leitura como

agente transformador do pensamento e capaz de fazer a diferença na vida do

cidadão na prática do seu dia-a-dia. Então, diante dos excelentes resultados obtidos

por meio desta implementação, é possível afirmar a que a Unidade Didática “Leitura,

Poder de Transformação na formação do Leitor” apresenta encaminhamentos

metodológicos adequados com estratégias diversificadas de leitura que podem ser

aplicadas em sala de aula e também por meio dessa implementação verificamos que

muitas vezes, nós docentes nos preocupamos em conscientizar o aluno para o

mundo da leitura ao invés de sensibilizá-lo, pois o ser humano sempre será subjetivo

e a emoção sobrepuja a razão.

Acima de tudo é fundamental ressaltar que em tempos de cultura eletrônica,

formar leitores é um caminho pedregoso que requer sensibilidade, pois o aluno,

geralmente foge do mundo da leitura que é um instrumento essencial para que o

indivíduo construa seu conhecimento e exerça sua cidadania, por ignorar o conteúdo

do texto. Os contos, por serem narrativas curtas atendem às expectativas dos

adolescentes e até mesmo das crianças, uma vez que estes não conseguem ficar

presos à leitura por muito tempo. Cabe ao professor buscar estratégias de leitura e

se inspirar em Sherazade, personagem das ”Mil e uma noites” que possuía a incrível

habilidade de contar histórias como ninguém. Com isso, ela sobreviveu e salvou sua

irmã e seu povo. Sherazade encantava e seduzia seu rei contando histórias e o

mesmo deve ser feito pelo professor: encantar, seduzir e aguçar a curiosidade dos

alunos para buscar por meio da leitura o saber.

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6 REFERÊNCIAS

ARAGÃO, M. L. Gêneros Literários. In: SAMUEL, R. Manual de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 1985.

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKTHIN, M. A estética da criação.

Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BAKHTIN, M. Problemas da Poética de Dostoiévski. São Paulo: Forense

Universitária, 1997.

GERALDI, J. W. O Texto na Sala de Aula. Cascavel: Assoeste, 1984.

GERALDI, J.W. Portos de Passagem. São Paulo: Martins Fontes,1997.

KLEIMAN. Â. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes,

2004. MACHADO, I. Gêneros discursivos. In: BRAIT, B. (org). Bakhtin: conceitos-chaves.

São Paulo: Contexto, 2005. MOISÉS, M. O conto. In: MOISÉS, M. A criação literária: prosa. São Paulo: Cultrix,

1983.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de Educação Básica: Língua Portuguesa. Curitiba: SEED/DEB, 2008.

SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.