LEITURA E PERCEPÇÃO DO (E)LEITOR: O TEXTO DE CAMPANHA...
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LEITURA E PERCEPÇÃO DO (E)LEITOR: O TEXTO DE CAMPANHA DE MARCELO CRIVELLA À PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO (2008) ALINE MENDES AMANTES (UFRJ). Resumo Este trabalho analisa o potencial de leitura dos textos de campanha no site de Marcelo Crivella, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em 2008, utilizando os estudos em metacognição como instrumento e aporte teórico. Tratamos, aqui, de como a escolha e a utilização do léxico podem evidenciar o planejamento metacognitivo por parte do autor dos textos – publicitários que coordenaram a campanha política. Demonstramos também como essas estratégias estão envolvidas na formulação, nas hipóteses e nos objetivos desses textos. Adicionalmente, verificamos como os textos articulam–se ao público–alvo, no que se refere ao planejamento de leitura (hipóteses e objetivos de leitura do eleitorado). Dessa forma, explicamos, em termos metacognitivos, como o candidato administra seu duplo objetivo – manter e agregar votos – a partir do movimento cognitivo do eleitor. Para tanto, analisamos em que medida o discurso do candidato busca ir ao encontro das expectativas e do perfil de seu eleitorado, bem como pretende retomar o conhecimento prévio ou os “insights“ dos eleitores ao longo da campanha. Esse fenômeno denominamos “apropriação metacognitiva”, isto é, a fala antecipatória que explicita o que um autor diz em seu discurso a partir do reconhecimento daqueles saberes prévios e “insights“ de seus eleitores. Com essa finalidade, aplicamos questionários ao eleitorado de Crivella, dos quais colhemos as pistas linguísticas que comprovam a ocorrência de nosso fenômeno. Assim, com nossa pesquisa, podemos proporcionar a formação de usuários de língua mais competentes e autônomos, além de cidadãos mais críticos. Palavras-chave: Leitura, Metacognição, Campanha política.
1. Introdução
O presente trabalho, intitulado "Leitura e percepção do (e)leitor: o texto de campanha de Marcelo Crivella à prefeitura do RJ (2008)", analisa o potencial de leitura dos textos de campanha desse candidato ao cargo de prefeito do Município do Rio de Janeiro nas eleições de 2008. Para tanto, utilizamos os conceitos da metacognição como instrumento e aporte teórico.
Com esse fim, aplicamos questionários para levantar o perfil do eleitorado de Crivella. Para isso, seguindo alguns modelos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), traçamos os dados pessoais (nome, idade, sexo, estado civil, etnia, residência, escolaridade, profissão, renda, religião etc.) de 20 eleitores.
Aferimos também os motivos e as justificativas pelos quais os informantes votaram nesse candidato, bem como questões a respeito de filiação e participação político-partidária, além de outras referentes a demais candidatos, partidos e coligações.
Com as respostas dos questionários, colhemos as pistas lexicais que comprovam a ocorrência da apropriação metacognitiva, o que foi analisado juntamente com o léxico extraído dos textos veiculados nos sites de Marcelo Crivella.
A partir desse corpus, tratamos de como a escolha e a utilização desse léxico podem demonstrar o planejamento metacognitivo por parte dos autores dos textos - no caso, os publicitários que coordenaram a campanha política. Demonstramos, inclusive, como essas estratégias estão envolvidas na formulação, nas hipóteses e nos objetivos do texto de campanha de Crivella.
Adicionalmente, verificamos como os textos se articulam ao público-alvo, no que tange ao planejamento de leitura (hipóteses e objetivos de leitura por parte do eleitorado). Dessa forma, explicamos, em termos metacognitivos, como o candidato administra seu duplo objetivo - manter e agregar votos - a partir do movimento cognitivo do eleitor.
Dessa forma, analisamos em que medida o discurso do candidato busca ir ao encontro das expectativas e do perfil de seu eleitorado, bem como pretende retomar o conhecimento prévio ou os insights dos eleitores ao longo da campanha. A esse fenômeno, denominamos "apropriação metacognitiva", isto é, a fala antecipatória que explicita o que um autor diz em seu discurso a partir do reconhecimento daqueles saberes prévios e insights de seus eleitores.
Portanto, com nossa pesquisa, podemos auxiliar a formação de usuários de língua mais competentes e autônomos, além de cidadãos mais críticos, conforme
2. Sobre a metacognição e os processos metacognitivos
A metacognição, lato senso, é um conhecimento cujo objeto de análise é a própria cognição. Em suma, é a faculdade de conhecer o próprio conhecer, o "pensar sobre o pensar", conhecer a própria mente e os processos mentais. "Pode-se, assim, dizer que metacognição é a atividade mental por meio da qual outros processos mentais se tornam alvo de reflexão" (DAVIS, NUNES & NUNES, 2005, p. 6).
Stricto senso, buscamos definir metacognição nos termos dos processos analisados em nosso corpus. Objetivamos estabelecer a função dos processos cognitivos (monitoramento e controle) empregados no texto de campanha de Marcelo Crivella. Além disso, procuramos analisar como as hipóteses e os objetivos de leitura, por parte dos eleitores, determinam-se mutuamente e como os textos dos sites articulam-se ao público-alvo. Enfocamos a metacognição sob um viés processual, interativo e negociado.
Segundo Michael Tomasello (2003), os processos metacognitivos são baseados em crenças, isto é, em produtos e atividades culturais criados por grupos de indivíduos. Logo, são coletivos e não dependem exclusivamente de componentes biológicos, de acordo com as teorias do inatismo na aquisição da linguagem.
Por um lado, os leitores podem ter resultados eficientes no decorrer da leitura, isto é, podem ler de modo eficiente, já que, em termos metacognitivos, suas crenças se confirmam. Por outro lado, pode haver resultados ineficientes, nos quais as crenças não se confirmam. Afinal, a leitura é uma atividade que implica, necessariamente, compreensão na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita" e "envolve uma série de outras estratégias" (PCN, 1997, p. 41).
Tendo em vista essa participação ativa do leitor, a utilização de estratégias metacognitivas, principalmente no que diz respeito ao monitoramento (capacidade de estipular e administrar as hipóteses) e ao controle (capacidade de checar, avaliar e planejar os objetivos), auxilia a construção do significado. Construção essa, inclusive, muitas vezes negociada.
Convém-nos destacar, portanto, que o significado é construído na interação leitor-texto por via (ou não) da linguagem, uma vez que o significado não é acabado. Ressaltamos, por conseguinte, os processos de validação e a construção do significado dos textos dos candidatos pelos eleitores.
Consequentemente, levamos em consideração o "nível meta" ou "meta-nível", no qual desenvolvemos a validação dos objetos em um nível (sócio-)cognitivo. Nessa tentativa de depreender o nível deôntico, ou seja, a ontologia da organização referencial, podemos demonstrar as condições de validação do eleitor. Além disso, podemos verificar se o candidato vai ao encontro ou não das hipóteses e dos objetivos dos eleitores. Afinal, "Flavell (1971) afirma que os pensamentos metacognitivos são deliberados, planejados, intencionais, direcionados a um objetivo" (SAMUELS, 2005, p. 41).
Para tanto, utilizamos como base teórica o sistema metacognitivo desenvolvido por Alfred Tarski (1956), sobre o qual falam T. Nelson (1996) e T. Nelson e L. Narens (1994). Na memória procedural, os processamentos cognitivos foram divididos em dois níveis: nível meta (validação) e nível do objeto (referencial). Embora haja essa divisão, os níveis são interrelacionados e retroalimentam-se por meio do fluxo de informações, o qual pode ocorrer de duas formas. Dependendo da direção do fluxo das informações (relação de dominância), podemos distinguir esses níveis intermediários como botton-up (monitoramento) e top-down (controle ou autorregulação).
A imagem vinculada não pode ser exibida. Talvez o arquivo tenha sido movido, renomeado ou excluído. Verifique se o v ínculo aponta para o arquivo e o local corretos.
A imagem vinculada não pode ser exibida. Talvez o arquivo tenha sido movido, renomeado ou excluído. Verifique se o v ínculo aponta para o arquivo e o local corretos.
O cerne da metacognição é constituído por esses níveis e pelo fluxo de informações entre eles. O nível meta trata-se de um modelo do nível dos objetos, em que estes são validados. Em relação ao fluxo de informações, temos que o monitoramento são as hipóteses criadas pelos leitores. Dessa forma, podemos dizer que o metanível é "alimentado" com o processo botton-up. Isto é, o metanível recebe e utiliza as informações veiculadas pelo nível do objeto.
Entretanto, o monitoramento, por si só, não é suficiente para completarmos os processos metacognitivos, sendo necessário, para tanto, o controle. Neste processo, o movimento top-down modifica o nível do objeto, uma vez que as hipóteses preliminares são transformadas, agora, em objetivos. Ou seja, o nível meta não só retroalimenta como também modifica o nível do objeto.
O discurso político do candidato veiculado em seus textos é o plano referencial, o qual é validado igual ou diferentemente pelos eleitores a partir da criação de hipóteses do candidato. Partindo do que está escrito nos textos (input) e dos objetivos do candidato, podemos perceber se os eleitores validam ou não as proposições da mesma forma que seu candidato. Nesse movimento inverso, os eleitores criam hipóteses (output) de leitura da "imagem" de seu candidato, o que pode ser demonstrado por meio do léxico colhido dos questionários.
Em suma, os eleitores estabelecem uma correspondência entre o que eles acreditam e o que, de fato, seu candidato divulga no texto. No monitoramento, as hipóteses validadas ou não pelos eleitores são as informações "enviadas" ao nível meta sobre o que "é divulgado" na campanha do candidato - nível do objeto, ao passo que, no controle, os objetivos são a "resposta" emitida pelo nível meta, informando ao nível do objeto como o candidato deve proceder - se as hipóteses foram validadas ou não.
Com o monitoramento, o candidato ativa sua memória por meio de um processo inferencial que acessa determinada porta que informa a probabilidade de que o target (conteúdo) será lembrado ou reconhecido - feeling of knowing. Dessa forma, com os julgamentos e as hipóteses levantadas pelos eleitores, bem como com o nível de confiança nas informações dadas no texto, checamos a existência de matches e mismatches na apropriação das idéias e dos insights de seus eleitores no discurso da campanha política.
Todo esse fluxo de informações entre os planos meta e referencial, desde a atenção por meio da codificação da informação, da recuperação da memória rasa e de longo prazo até a tomada de decisão em quem votar, tem como objetivos a construção do significado e a compreensão dos textos do candidato, segundo já mencionamos. Neste trabalho, cabe a nós verificar esse fluxo de informações a partir das respostas dos questionários e do perfil dos eleitores, o que nos leva a outra questão: Por que levantar o perfil dos eleitores?
De acordo com Chris Sinha (1999), o sujeito cognoscente não é um ser isolado, e, consequentemente, sua cognição é situada e, podemos acrescentar, interativa e perspectival - habilidades sócio-cognitivas apenas do homo sapiens (Tomasello, 2003). Portanto, devemos fazer o levantamento do perfil dos eleitores haja vista que o contexto (leia-se, intencionalidade partilhada e práticas coletivas que levam à formação das bases de conhecimento) no qual se inserem é capaz de influenciar a construção do significado, além de fomentar a ampliação do escopo da compreensão e a padronização (normatização) dos significados e dos valores nos domínios coletivo-institucionais.
Em outras palavras, não existe universalismo, embora algumas correntes teóricas (como o naturalismo, por exemplo) ainda defendam essa perspectiva. Logo, os eleitores são diferentes um dos outros, pensam diferente, compreendem diferente, raciocinam diferente, avaliam a si mesmo e aos outros diferente, agem diferente, têm MCIs diferentes, a sua interação com os outros homens e com o mundo é diferente.
Assim, a forma de interação dos eleitores com os textos vai depender do contexto, seja ele micro como, por exemplo, o contexto social e cultural, seja ele macro como, por exemplo, as experiências cognitivas e as situações discursivas ou não discursivas.
O contexto constrói e pode modificar a subjetividade dos eleitores (inclusive a do próprio candidato). Por isso, ainda que o contexto macro - as eleições para prefeito do Município do Rio de Janeiro - seja o mesmo para todos os eleitores, os contexto micros podem ser completamente diferente.
Assim, falamos, novamente, do nível meta, pois as condições de validação de cada eleitor são diversas, já que pode haver significados adicionais a partir das diferentes perspectivas dos eleitores e dos diversos momentos de interação.
Podemos ressaltar, além disso, que essa abordagem contextual amplia nossa teoria, não nos limitando ao mero cientificismo, de modo a enriquecer os estudos acerca da metacognição e a complementar outras teorias. Não nos esquecendo, porém, de nosso objetivo primeiro: caracterizar, na análise de nosso corpus, os processos, os mecanismos e as capacidades empregadas pelo candidato - os processos metacognitivos.
3. Análise dos dados
A partir do léxico-chave, temos como objetivos verificar a equivalência das condições de validação entre (e)leitor e candidato, bem como verificar se o candidato vai ao encontro ou não das hipóteses e dos objetivos de leitura dos (e)leitores.
Como resultados, destacamos a existência de matches e mismatches na apropriação das idéias e dos insights de seus eleitores no discurso da campanha política.
3.1. Matches
Nos casos dos matches, o candidato e o eleitor validam igualmente as hipóteses, havendo, por conseguinte, uma compatibilidade entre suas falas. É uma evidência da apropriação metacognitiva. Isto é, o candidato monitora o seu discurso a partir da fala de seu eleitorado, que é retomada no intuito de manter seus eleitores de costume.
A) Preferência sexual, homossexualismo, homossexual, gays, homem-com-homem
Todos os eleitores de Crivella intitularam-se heterossexuais, e houve algumas menções à homossexualidade nas respostas do questionário, tais como: "O homossexual não é natural, é contra as leis de Deus." Ainda: "não votei no Gabeira porque ele podia apoiar o homem-com-homem e liberar o casamento dos gays".
Não obstante, podemos perceber que Crivella se mantém na posição de tolerante ao se referir à Parada Gay: "Cada um tem sua preferência." Nesse momento, o autor retoma o discurso de seu eleitorado, que não vê o homossexualismo como algo "natural", embora não faça qualquer tipo de "patrulhamento sobre as preferências culturais e sexuais do povo."
B) Família tradicional
As respostas fornecidas pelos eleitores de Crivella demonstram a valorização de "uma família bem-estruturada", que possui uma "organização dentro de sua própria casa".
Tendo isso em vista, podemos perceber os matches entre a visão de família do eleitor e a visão de família tradicional e patriarcal veiculada no texto do candidato. Vejamos:
• "casado há 28 anos com (...) sua primeira e única namorada." • "O casal têm três filhos: (...) a primogênita é casada (...) e mãe do primeiro
neto (...)." • "sempre foi a grande companheira. Dedicada à família e à Igreja". • "(...) é um pai atencioso, um marido apaixonado e muito feliz com a família
que construiu e está crescendo."
C) Bairros e comunidades carentes, empregos, moradia, obras de infraestrutura
As justificativas encontradas para os votos em Crivella também diziam respeito a obras em comunidades carentes: "o candidato tem projetos coerentes com a minha realidade, como os projetos no Nordeste". Percebemos que o eleitorado e o candidato validam igualmente suas hipóteses quando Crivella utiliza em seu texto de campanha o seguinte:
•· "(...) ajudar a população carente (...)"
•· "(...) assistência básica nas áreas de saúde e educação para os mais pobres (...)."
•· "O projeto criou vários empregos e investiu no atendimento às comunidades carentes."
•· "(...) também foram construídos (...) igreja, biblioteca, área de lazer e esportes (...) creche (...) e uma escola técnica."
•· "Atualmente, dezenas de famílias moram (...) em confortáveis residências."
•· "(...) contribuindo para projetos de distribuição de renda (...)"
•· "(...) criou uma linha direta com todas as associações de moradores de bairros e comunidades carentes."
•· "Projetou ainda um banco de empregos que colocou no mercado de trabalho mais de mil moradores da região."
•· "(...) intensificou o projeto de adoção de praças que proporcionou a melhoria de dezenas de logradouros públicos (...)."
3.2. Mismatches
Os mismatches são as incompatibilidades entre o candidato e seu eleitorado de costume, que validam diferentemente as hipóteses. Temos, aqui, a apropriação metacognitiva da fala dos não eleitores, que é retomada no intuito de agregar os votos destes.
A) Religião, igreja, evangelho, bíblia, evangélico
Os eleitores de Crivella se dizem evangélicos, em sua maioria. Existem mismatches em que o candidato Marcelo Crivella retoma essas críticas a respeito da religião, principalmente quando menciona não misturar religião com política, acrescentando que, além de evangélico, "(...) é compositor, cantor e escritor" e que seus projetos sociais dentro da igreja são desempenhados por "ideologia de vida". Inclusive, tentou ampliar seu eleitorado ao participar da "Caminhada em defesa da liberdade religiosa", no dia 21 de setembro de 2008, conforme divulgado em seu site.
Os eleitores acreditam que fé, religião e igreja são "o caráter, o reflexo da pessoa". O evangelho e a bíblia fazem parte da "disseminação da igualdade". Além disso, os eleitores de Crivella justificaram seu voto desta forma: "porque ele é da minha denominação", "sou a favor de ideologias religiosas na política" ou "(...) nossa salvação está nas pessoas que acreditam na salvação em Jesus Cristo".
Percebemos que o candidato e o eleitor não validam as mesmas hipóteses. O Candidato, nesse momento, busca agregar os não eleitores, que o "discriminam" por ser evangélico. Isto é, em sua estratégia, Crivella busca independência política
e de sua imagem em relação à igreja, para atingir eleitores que não os fiéis, ao passo que a "imagem" de um bom candidato para os eleitores de costume é o "candidato fiel ao preceitos religiosos" ou "o bispo da denominação neopentecostal Igreja Universal do Reino de Deus (IURD)".
B) Preconceito
Conforme Crivela divulga em seu site, o preconceito contra o qual luta é a intolerância religiosa: "(...) a idéia da caminhada, além de defender a liberdade de culto no país, tinha objetivo de pôr em discussão a superação do preconceito". Mostra-se, por isso, "favorável ao ato ecumênico" e ao "fim da discriminação e da violência (...) contra religiões". Explicando: "minha rejeição como político vem da intolerância de pessoas que não aceitam que eu seja evangélico".
Em relação ao vocábulo "preconceito", o eleitor valida diferentemente. "Sou contra o racismo, por isso busquei um candidato que se posicionasse contra o preconceito".
4. Considerações finais
O texto de campanha de Marcelo Crivella possui um duplo objetivo que torna seu discurso ambíguo, uma vez que utiliza o monitoramento como estratégias para, ao mesmo tempo, manter seu eleitorado e a agregar novos eleitores. Em outras palavras, o candidato monitora e apropria-se da fala (saberes prévios e insights) de seu eleitor e de seu não eleitor. Dessa forma, o candidato não consegue controlar as suas hipóteses, pois tem a árdua tarefa de construir e desconstruir sua imagem perante os eleitores, o que foi demonstrado pelos diferentes elementos lexicais encontrados nos questionários e no texto de campanha.
Podemos dizer que as estratégias de Crivella, no que tange à apropriação metacognitiva, enfatizam o movimento ascendente, não o descendente , de processamento cognitivo, uma vez que o candidato baseia o seu discurso em como o eleitor e o não eleitor o veem.
Portanto, esse duplo objetivo, isto é, o convencimento do eleitor e do não-eleitor, ocorre através da reprodução, haja vista a estratégia de manutenção (matching do léxico e dos campos semânticos) e a estratégia de agregação (mismatching do léxico e dos campos semânticos).
5. Anexo
QUESTIONÁRIO I
•1. Qual é a sua idade?
•2. Qual é o seu sexo?
•3. Qual é a sua orientação sexual?
•4. Qual é o seu estado civil?
•5. Qual é o bairro onde você mora?
•6. Mora nesse lugar há quantos anos? Em que outro(s) lugar(es) morou?
•7. Qual é a sua seção eleitoral?
•8. Qual é a sua escolaridade?
•9. Qual foi a última série que você concluiu com aprovação? Em qual ano?
•10. Você tem domínio (fala, leitura e escrita) de outras línguas. Quais? Em que nível (básico, intermediário ou fluente)?
•11. Qual é(são) sua(s) profissão(ões)?
•12. Qual é(são) o(s) lugar(es) em que você trabalha (empresa e bairro)?
•13. Qual é o seu rendimento bruto mensal aproximado?
•14. Você é o único provedor da família? Quem mais contribui para a renda familiar?
•15. Qual é a sua etnia (branca, preta, amarela, parda ou indígena)?
•16. Qual é a sua religião? É praticante? Por quê?
•17. Qual é o candidato em que votou no primeiro turno? Por quê?
•18. Você consultou o site do seu candidato? Por quê?
•19. Qual é o candidato em que votou no segundo turno? Por quê?
•20. Considerando que concorreram para a candidatura a prefeito do Município do Rio de Janeiro os seguintes políticos: Paes (PMDB), Gabeira (PV), Crivella (PRB), Jandira Feghali (PC do B), Molon (PT) e Solange Amaral (DEM), em qual(is) desse(s) candidato(s) você não votaria? Por quê?
•21. O que você acha das COLIGAÇÕES (políticos que apoiam outros candidatos)?
•22. Você é politicamente ativo ou não (isto é, se você acompanha as eleições, se vai a comícios, se busca informações sobre os candidatos, se está engajado em alguma campanha política ou de caráter social etc.)? Por quê?
•23. Você é(foi) filiado a algum(ns) partido(s)? Qual(is)? Por que você é(foi) filiado a ou se desfiliou desse(s) partido(s)?
•24. Você é contra à ou a favor da ideologia de algum partido? Qual? Por quê?
6. Referências
Dunlosky, J., & Metcalfe, J. (2009). Metacognition. Thousand Oaks, CA: Sage Publications, Inc.
Gerhardt, A. F. L. M. Repensando o certo e o errado: as bases epistêmicas da sócio-cognição na escola. A sair em Leitura (revista da UFAL), 42.
Nelson, T.O., & Narens, L. Why investigate metacognition? In: Metcalfe, J.; Shimamura, A.P. Metacognition: knowing about knowing. Cambridge: MIT Press, 1994.
1. Introdução
O presente trabalho, intitulado “Leitura e percepção do (e)leitor: o texto de
campanha de Marcelo Crivella à prefeitura do RJ (2008)”, analisa o potencial de leitura
dos textos de campanha desse candidato ao cargo de prefeito do Município do Rio de
Janeiro nas eleições de 2008. Para tanto, utilizamos os conceitos da metacognição como
instrumento e aporte teórico.
Com esse fim, aplicamos questionários para levantar o perfil do eleitorado de
Crivella. Para isso, seguindo alguns modelos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), traçamos os dados pessoais (nome, idade, sexo, estado civil, etnia,
residência, escolaridade, profissão, renda, religião etc.) de 20 eleitores.
Aferimos também os motivos e as justificativas pelos quais os informantes votaram
nesse candidato, bem como questões a respeito de filiação e participação político-
partidária, além de outras referentes a demais candidatos, partidos e coligações.
Com as respostas dos questionários, colhemos as pistas lexicais que comprovam a
ocorrência da apropriação metacognitiva, o que foi analisado juntamente com o léxico
extraído dos textos veiculados nos sites de Marcelo Crivella.
A partir desse corpus, tratamos de como a escolha e a utilização desse léxico podem
demonstrar o planejamento metacognitivo por parte dos autores dos textos – no caso, os
publicitários que coordenaram a campanha política. Demonstramos, inclusive, como essas
estratégias estão envolvidas na formulação, nas hipóteses e nos objetivos do texto de
campanha de Crivella.
Adicionalmente, verificamos como os textos se articulam ao público-alvo, no que
tange ao planejamento de leitura (hipóteses e objetivos de leitura por parte do eleitorado).
Dessa forma, explicamos, em termos metacognitivos, como o candidato administra seu
duplo objetivo – manter e agregar votos – a partir do movimento cognitivo do eleitor.
Dessa forma, analisamos em que medida o discurso do candidato busca ir ao
encontro das expectativas e do perfil de seu eleitorado, bem como pretende retomar o
conhecimento prévio ou os insights dos eleitores ao longo da campanha. A esse fenômeno,
denominamos “apropriação metacognitiva”, isto é, a fala antecipatória que explicita o que
um autor diz em seu discurso a partir do reconhecimento daqueles saberes prévios e
insights de seus eleitores.
Portanto, com nossa pesquisa, podemos auxiliar a formação de usuários de língua
mais competentes e autônomos, além de cidadãos mais críticos, conforme
2. Sobre a metacognição e os processos metacognitivos
A metacognição, lato senso, é um conhecimento cujo objeto de análise é a própria
cognição. Em suma, é a faculdade de conhecer o próprio conhecer, o “pensar sobre o
pensar”, conhecer a própria mente e os processos mentais. “Pode-se, assim, dizer que
metacognição é a atividade mental por meio da qual outros processos mentais se tornam
alvo de reflexão” (DAVIS, NUNES & NUNES, 2005, p. 6).
Stricto senso, buscamos definir metacognição nos termos dos processos analisados
em nosso corpus. Objetivamos estabelecer a função dos processos cognitivos
(monitoramento e controle) empregados no texto de campanha de Marcelo Crivella. Além
disso, procuramos analisar como as hipóteses e os objetivos de leitura, por parte dos
eleitores, determinam-se mutuamente e como os textos dos sites articulam-se ao público-
alvo. Enfocamos a metacognição sob um viés processual, interativo e negociado.
Segundo Michael Tomasello (2003), os processos metacognitivos são baseados em
crenças, isto é, em produtos e atividades culturais criados por grupos de indivíduos. Logo,
são coletivos e não dependem exclusivamente de componentes biológicos, de acordo com
as teorias do inatismo na aquisição da linguagem.
Por um lado, os leitores podem ter resultados eficientes no decorrer da leitura, isto
é, podem ler de modo eficiente, já que, em termos metacognitivos, suas crenças se
confirmam. Por outro lado, pode haver resultados ineficientes, nos quais as crenças não se
confirmam. Afinal, a leitura é uma atividade que implica, necessariamente, compreensão
na qual os sentidos começam a ser construídos antes da leitura propriamente dita” e
“envolve uma série de outras estratégias” (PCN, 1997, p. 41).
Tendo em vista essa participação ativa do leitor, a utilização de estratégias
metacognitivas, principalmente no que diz respeito ao monitoramento (capacidade de
estipular e administrar as hipóteses) e ao controle (capacidade de checar, avaliar e planejar
os objetivos), auxilia a construção do significado. Construção essa, inclusive, muitas vezes
negociada.
Convém-nos destacar, portanto, que o significado é construído na interação leitor-
texto por via (ou não) da linguagem, uma vez que o significado não é acabado.
Ressaltamos, por conseguinte, os processos de validação e a construção do significado dos
textos dos candidatos pelos eleitores.
Consequentemente, levamos em consideração o “nível meta” ou “meta-nível”, no
qual desenvolvemos a validação dos objetos em um nível (sócio-)cognitivo. Nessa
tentativa de depreender o nível deôntico, ou seja, a ontologia da organização referencial,
podemos demonstrar as condições de validação do eleitor. Além disso, podemos verificar
se o candidato vai ao encontro ou não das hipóteses e dos objetivos dos eleitores. Afinal,
“Flavell (1971) afirma que os pensamentos metacognitivos são deliberados, planejados,
intencionais, direcionados a um objetivo” (SAMUELS, 2005, p. 41).
Para tanto, utilizamos como base teórica o sistema metacognitivo desenvolvido por
Alfred Tarski (1956), sobre o qual falam T. Nelson (1996) e T. Nelson e L. Narens (1994).
Na memória procedural, os processamentos cognitivos foram divididos em dois níveis:
nível meta (validação) e nível do objeto (referencial). Embora haja essa divisão, os níveis
são interrelacionados e retroalimentam-se por meio do fluxo de informações, o qual pode
ocorrer de duas formas. Dependendo da direção do fluxo das informações (relação de
dominância), podemos distinguir esses níveis intermediários como botton-up
(monitoramento) e top-down (controle ou autorregulação).
O cerne da metacognição é constituído por esses níveis e pelo fluxo de informações
entre eles. O nível meta trata-se de um modelo do nível dos objetos, em que estes são
validados. Em relação ao fluxo de informações, temos que o monitoramento são as
hipóteses criadas pelos leitores. Dessa forma, podemos dizer que o metanível é
Plano de Validação
Controle Monitoramento
Nível Meta
Fluxo de informação
Nível do objeto
Plano Ontológico
“alimentado” com o processo botton-up. Isto é, o metanível recebe e utiliza as informações
veiculadas pelo nível do objeto.
Entretanto, o monitoramento, por si só, não é suficiente para completarmos os
processos metacognitivos, sendo necessário, para tanto, o controle. Neste processo, o
movimento top-down modifica o nível do objeto, uma vez que as hipóteses preliminares
são transformadas, agora, em objetivos. Ou seja, o nível meta não só retroalimenta como
também modifica o nível do objeto.
O discurso político do candidato veiculado em seus textos é o plano referencial, o
qual é validado igual ou diferentemente pelos eleitores a partir da criação de hipóteses do
candidato. Partindo do que está escrito nos textos (input) e dos objetivos do candidato,
podemos perceber se os eleitores validam ou não as proposições da mesma forma que seu
candidato. Nesse movimento inverso, os eleitores criam hipóteses (output) de leitura da
“imagem” de seu candidato, o que pode ser demonstrado por meio do léxico colhido dos
questionários.
Em suma, os eleitores estabelecem uma correspondência entre o que eles acreditam
e o que, de fato, seu candidato divulga no texto. No monitoramento, as hipóteses validadas
ou não pelos eleitores são as informações “enviadas” ao nível meta sobre o que “é
divulgado” na campanha do candidato – nível do objeto, ao passo que, no controle, os
objetivos são a “resposta” emitida pelo nível meta, informando ao nível do objeto como o
candidato deve proceder – se as hipóteses foram validadas ou não.
Com o monitoramento, o candidato ativa sua memória por meio de um processo
inferencial que acessa determinada porta que informa a probabilidade de que o target
(conteúdo) será lembrado ou reconhecido – feeling of knowing. Dessa forma, com os
julgamentos e as hipóteses levantadas pelos eleitores, bem como com o nível de confiança
nas informações dadas no texto, checamos a existência de matches e mismatches na
apropriação das idéias e dos insights de seus eleitores no discurso da campanha política.
Todo esse fluxo de informações entre os planos meta e referencial, desde a atenção
por meio da codificação da informação, da recuperação da memória rasa e de longo prazo
até a tomada de decisão em quem votar, tem como objetivos a construção do significado e
a compreensão dos textos do candidato, segundo já mencionamos. Neste trabalho, cabe a
nós verificar esse fluxo de informações a partir das respostas dos questionários e do perfil
dos eleitores, o que nos leva a outra questão: Por que levantar o perfil dos eleitores?
De acordo com Chris Sinha (1999), o sujeito cognoscente não é um ser isolado, e,
consequentemente, sua cognição é situada e, podemos acrescentar, interativa e perspectival
– habilidades sócio-cognitivas apenas do homo sapiens (Tomasello, 2003). Portanto,
devemos fazer o levantamento do perfil dos eleitores haja vista que o contexto (leia-se,
intencionalidade partilhada e práticas coletivas que levam à formação das bases de
conhecimento) no qual se inserem é capaz de influenciar a construção do significado, além
de fomentar a ampliação do escopo da compreensão e a padronização (normatização) dos
significados e dos valores nos domínios coletivo-institucionais.
Em outras palavras, não existe universalismo, embora algumas correntes teóricas
(como o naturalismo, por exemplo) ainda defendam essa perspectiva. Logo, os eleitores
são diferentes um dos outros, pensam diferente, compreendem diferente, raciocinam
diferente, avaliam a si mesmo e aos outros diferente, agem diferente, têm MCIs diferentes,
a sua interação com os outros homens e com o mundo é diferente.
Assim, a forma de interação dos eleitores com os textos vai depender do contexto,
seja ele micro como, por exemplo, o contexto social e cultural, seja ele macro como, por
exemplo, as experiências cognitivas e as situações discursivas ou não discursivas.
O contexto constrói e pode modificar a subjetividade dos eleitores (inclusive a do
próprio candidato). Por isso, ainda que o contexto macro – as eleições para prefeito do
Município do Rio de Janeiro – seja o mesmo para todos os eleitores, os contexto micros
podem ser completamente diferente.
Assim, falamos, novamente, do nível meta, pois as condições de validação de cada
eleitor são diversas, já que pode haver significados adicionais a partir das diferentes
perspectivas dos eleitores e dos diversos momentos de interação.
Podemos ressaltar, além disso, que essa abordagem contextual amplia nossa teoria,
não nos limitando ao mero cientificismo, de modo a enriquecer os estudos acerca da
metacognição e a complementar outras teorias. Não nos esquecendo, porém, de nosso
objetivo primeiro: caracterizar, na análise de nosso corpus, os processos, os mecanismos e
as capacidades empregadas pelo candidato – os processos metacognitivos.
4. Análise dos dados
A partir do léxico-chave, temos como objetivos verificar a equivalência das
condições de validação entre (e)leitor e candidato, bem como verificar se o candidato vai
ao encontro ou não das hipóteses e dos objetivos de leitura dos (e)leitores.
Como resultados, destacamos a existência de matches e mismatches na apropriação
das idéias e dos insights de seus eleitores no discurso da campanha política.
4.1. Matches
Nos casos dos matches, o candidato e o eleitor validam igualmente as hipóteses,
havendo, por conseguinte, uma compatibilidade entre suas falas. É uma evidência da
apropriação metacognitiva. Isto é, o candidato monitora o seu discurso a partir da fala de
seu eleitorado, que é retomada no intuito de manter seus eleitores de costume.
A) Preferência sexual, homossexualismo, homossexual, gays, homem-com-homem
Todos os eleitores de Crivella intitularam-se heterossexuais, e houve algumas
menções à homossexualidade nas respostas do questionário, tais como: “O homossexual
não é natural, é contra as leis de Deus.” Ainda: “não votei no Gabeira porque ele podia
apoiar o homem-com-homem e liberar o casamento dos gays”.
Não obstante, podemos perceber que Crivella se mantém na posição de tolerante ao
se referir à Parada Gay: “Cada um tem sua preferência.” Nesse momento, o autor retoma o
discurso de seu eleitorado, que não vê o homossexualismo como algo “natural”, embora
não faça qualquer tipo de “patrulhamento sobre as preferências culturais e sexuais do
povo.”
B) Família tradicional
As respostas fornecidas pelos eleitores de Crivella demonstram a valorização de
“uma família bem-estruturada”, que possui uma “organização dentro de sua própria casa”.
Tendo isso em vista, podemos perceber os matches entre a visão de família do
eleitor e a visão de família tradicional e patriarcal veiculada no texto do candidato.
Vejamos:
• “casado há 28 anos com (...) sua primeira e única namorada.”
• “O casal têm três filhos: (...) a primogênita é casada (...) e mãe do primeiro neto
(...).”
• “sempre foi a grande companheira. Dedicada à família e à Igreja”.
• “(...) é um pai atencioso, um marido apaixonado e muito feliz com a família que
construiu e está crescendo.”
C) Bairros e comunidades carentes, empregos, moradia, obras de infraestrutura
As justificativas encontradas para os votos em Crivella também diziam respeito a
obras em comunidades carentes: “o candidato tem projetos coerentes com a minha
realidade, como os projetos no Nordeste”. Percebemos que o eleitorado e o candidato
validam igualmente suas hipóteses quando Crivella utiliza em seu texto de campanha o
seguinte:
• “(...) ajudar a população carente (...)”
• “(...) assistência básica nas áreas de saúde e educação para os mais pobres
(...).”
• “O projeto criou vários empregos e investiu no atendimento às comunidades
carentes.”
• “(...) também foram construídos (...) igreja, biblioteca, área de lazer e
esportes (...) creche (...) e uma escola técnica.”
• “Atualmente, dezenas de famílias moram (...) em confortáveis residências.”
• “(...) contribuindo para projetos de distribuição de renda (...)”
• “(...) criou uma linha direta com todas as associações de moradores de
bairros e comunidades carentes.”
• “Projetou ainda um banco de empregos que colocou no mercado de trabalho
mais de mil moradores da região.”
• “(...) intensificou o projeto de adoção de praças que proporcionou a
melhoria de dezenas de logradouros públicos (...).”
4.2. Mismatches
Os mismatches são as incompatibilidades entre o candidato e seu eleitorado de
costume, que validam diferentemente as hipóteses. Temos, aqui, a apropriação
metacognitiva da fala dos não eleitores, que é retomada no intuito de agregar os votos
destes.
A) Religião, igreja, evangelho, bíblia, evangélico
Os eleitores de Crivella se dizem evangélicos, em sua maioria. Existem mismatches
em que o candidato Marcelo Crivella retoma essas críticas a respeito da religião,
principalmente quando menciona não misturar religião com política, acrescentando que,
além de evangélico, “(...) é compositor, cantor e escritor” e que seus projetos sociais dentro
da igreja são desempenhados por “ideologia de vida”. Inclusive, tentou ampliar seu
eleitorado ao participar da “Caminhada em defesa da liberdade religiosa”, no dia 21 de
setembro de 2008, conforme divulgado em seu site.
Os eleitores acreditam que fé, religião e igreja são “o caráter, o reflexo da pessoa”. O
evangelho e a bíblia fazem parte da “disseminação da igualdade”. Além disso, os eleitores
de Crivella justificaram seu voto desta forma: “porque ele é da minha denominação”, “sou
a favor de ideologias religiosas na política” ou “(...) nossa salvação está nas pessoas que
acreditam na salvação em Jesus Cristo”.
Percebemos que o candidato e o eleitor não validam as mesmas hipóteses. O
Candidato, nesse momento, busca agregar os não eleitores, que o “discriminam” por ser
evangélico. Isto é, em sua estratégia, Crivella busca independência política e de sua
imagem em relação à igreja, para atingir eleitores que não os fiéis, ao passo que a
“imagem” de um bom candidato para os eleitores de costume é o “candidato fiel ao
preceitos religiosos” ou “o bispo da denominação neopentecostal Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD)”.
B) Preconceito
P/ crivela – tolerância religiosa.
“favorável ao ato ecomênico”
“fim da discriminação e da violência (...) contra religiões”
“minha rejeição como político vem da intolerância de pessoas que não aceitam que
eu seja evangélico”
“(...) a idéia da caminhada, além de defender a liberdade de culto no país, tinha
objetivo de pôr em discussão a superação do preconceito”.
P/ o eleitor – racismo.
5. Considerações finais
O texto de campanha de Marcelo Crivella possui um duplo objetivo que torna seu
discurso ambíguo, uma vez que utiliza o monitoramento como estratégias para, ao mesmo
tempo, manter seu eleitorado e a agregar novos eleitores. Em outras palavras, o candidato
monitora e apropria-se da fala (saberes prévios e insights) de seu eleitor e de seu não
eleitor. Dessa forma, o candidato não consegue controlar as suas hipóteses, pois tem a
árdua tarefa de construir e desconstruir sua imagem perante os eleitores, o que foi
demonstrado pelos diferentes elementos lexicais encontrados nos questionários e no texto
de campanha.
Podemos dizer que as estratégias de Crivella, no que tange à apropriação
metacognitiva, enfatizam o movimento ascendente, não o descendente , de processamento
cognitivo, uma vez que o candicato baseia o seu discurso em como o eleitor e o não eleitor o
veem.
Portanto, esse duplo objetivo, isto é, o convencimento do eleitor e do não-eleitor,
ocorre através da reprodução, haja vista a estratégia de manutenção (matching do léxico e
dos campos semânticos) e a estratégia de agregação (mismatching do léxico e dos campos
semânticos).
6. Anexo
QUESTIONÁRIO I
1. Qual é a sua idade?
2. Qual é o seu sexo?
3. Qual é a sua orientação sexual?
4. Qual é o seu estado civil?
5. Qual é o bairro onde você mora?
6. Mora nesse lugar há quantos anos? Em que outro(s) lugar(es) morou?
7. Qual é a sua seção eleitoral?
8. Qual é a sua escolaridade?
9. Qual foi a última série que você concluiu com aprovação? Em qual ano?
10. Você tem domínio (fala, leitura e escrita) de outras línguas. Quais? Em que nível
(básico, intermediário ou fluente)?
11. Qual é(são) sua(s) profissão(ões)?
12. Qual é(são) o(s) lugar(es) em que você trabalha (empresa e bairro)?
13. Qual é o seu rendimento bruto mensal aproximado?
14. Você é o único provedor da família? Quem mais contribui para a renda familiar?
15. Qual é a sua etnia (branca, preta, amarela, parda ou indígena)?
16. Qual é a sua religião? É praticante? Por quê?
17. Qual é o candidato em que votou no primeiro turno? Por quê?
18. Você consultou o site do seu candidato? Por quê?
19. Qual é o candidato em que votou no segundo turno? Por quê?
20. Considerando que concorreram para a candidatura a prefeito do Município do Rio
de Janeiro os seguintes políticos: Paes (PMDB), Gabeira (PV), Crivella (PRB), Jandira
Feghali (PC do B), Molon (PT) e Solange Amaral (DEM), em qual(is) desse(s)
candidato(s) você não votaria? Por quê?
21. O que você acha das COLIGAÇÕES (políticos que apoiam outros candidatos)?
22. Você é politicamente ativo ou não (isto é, se você acompanha as eleições, se vai
a comícios, se busca informações sobre os candidatos, se está engajado em alguma
campanha política ou de caráter social etc.)? Por quê?
23. Você é(foi) filiado a algum(ns) partido(s)? Qual(is)? Por que você é(foi) filiado a ou
se desfiliou desse(s) partido(s)?
24. Você é contra à ou a favor da ideologia de algum partido? Qual? Por quê?
7. Referências Dunlosky, J., & Metcalfe, J. (2009). Metacognition. Thousand Oaks, CA: Sage
Publications, Inc.
Gerhardt, A. F. L. M. Repensando o certo e o errado: as bases epistêmicas da sócio-
cognição na escola. A sair em Leitura (revista da UFAL), 42.
Nelson, T.O., & Narens, L. Why investigate metacognition? In: Metcalfe, J.; Shimamura,
A.P. Metacognition: knowing about knowing. Cambridge: MIT Press, 1994.