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1
CIRANDA DE RODA, CORPO IMAGÉTICO.
E LEITURA DE IMAGENS
Janaina Barreto1
RESUMO
O presente artigo objetiva analisar duas fotografias que capturam momentos da Ciranda
de Roda de Caiana dos Crioulos, comunidade de Alagoa Grande, Paraíba. Tal
empreendimento se fará a partir do referencial bibliográfico, que discorre sobre os
métodos de leitura de imagens, em uma abordagem semiótica. Este artigo procura
refletir, sobre o uso da leitura de imagens na interpretação e compreensão dos signos
contidos no corpo imagético desta manifestação artística e cultural da Paraíba.
Palavras-chaves: Fotografia, leitura de imagens, metodologia, Ciranda de roda.
RESUMEEl presente artículo objetiva el analisis de dos imágenes fotográficas, que captam
momentos de la Ciranda de roda de la comunidad de Alagoa Grande, Paraíba. La
inesvestigacíon utilizará el referencial bibliográfico que comunica sobre los métodos de
lectura de imágenes semiótica. Se pretende una reflexión sobre la utilización de la
lectura de imágenes para la interpretacíon y compreencíon de los signos contenidos en
el cuerpo imagético de esta manifestacíon artística e cultural de la Paraíba.
Palavras Claves: Fotografia, lectura de imágenes, metodologia, Ciranda de Roda.
Introdução
1 Mestranda em Artes Visuais (UFPB) e graduada em Cinema e Video (FTC). Pesquisadora no grupo Documentário e ficção nas culturas visuais do departamento de Artes visuais- UFPB|BA. E-mail: [email protected]
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O presente artigo objetiva analisar duas fotografias que capturam momentos, da
Ciranda de Roda de Caiana dos Crioulos, comunidade de Alagoa Grande, Paraíba.
Tal empreendimento se fará, a partir do referencial bibliográfico que discorre,
sobre os métodos de leitura de imagens em uma abordagem semiótica. Este artigo
procura refletir sobre a leitura de imagens com recurso possível na interpretação e a
compreensão dos signos contidos, no corpo imagético desta manifestação artística e
cultural da Paraíba. O presente artigo se encontra estruturado em três partes: na
primeira parte apresentamos uma breve descrição da Ciranda de Roda de Caiana dos
Crioulos, sua importância artística, histórica, cultural, e a necessidade de uma
constância reflexiva a respeito da sua visualidade. Na segunda parte apresentamos uma
reflexão sobre a importância das imagens na interpretação e construção do mundo
contemporâneo, além de introduzir o conceito de leitura de imagens propondo, uma
leitura de imagens de abordagem semiótica. A terceira parte contempla a leitura, a
interpretação e a reflexão dos signos identificados no corpo imagético das fotografias
sobre a Ciranda.
1 A Ciranda de roda de Caiana dos Crioulos
Através dos estudos de Altimar Pimentel (2005) e Padre Jaime de Diniz (1960),
a Ciranda de roda de Caiana dos Crioulos2 se configura como uma dança coletiva,
composta por pessoas, que de mãos dadas formam uma roda, e se movimentam dando
passos para fora e para dentro do círculo, ao som de uma música puxada pelas mestras-
cirandeiras e respondida pelo canto coletivo dos participantes. Esta manifestação
artística3, que encerra elementos visuais, sonoros, corporais, performáticos, entre outros,
recobra uma importância cultural e histórica, situada na Paraíba, cuja diversidade na
produção artística cultural ainda que difundida e reconhecida a nível nacional, necessita
de uma constância reflexiva.2 Segundo os estudos dos antropólogos paraibanos Marcos Ayala e Maria Ignez Ayala, Caiana dos Crioulos, é uma comunidade remanescente de quilombo e encontra-se localizada no município de Alagoa Grande, na micro região do brejo paraibano, aproximadamente a 122km da capital João Pessoa.
3 As manifestações artísticas são expressões das emoções, dos pensamentos, dos desejos, e se revelam através do uso de meios, suportes e linguagens acessíveis ao homem em um determinado tempo e contexto social. Entende-se por manifestcao cultural toda forma de expressão humana, seja seja através de celebrações e rituais ou através de outros suportes
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Sobre a manifestação artística conhecida por Ciranda de roda de Caiana dos
Crioulos, as pesquisadoras Lorena Travassos e Nadja Travassos nos explicam que “a
comunidade de caiana dos Crioulos criou um grupo de ciranda que canta e toca para
animar o povo em dias festivos, principalmente em dias santos e para receber visitantes
e amigos (TRAVASSOS & CARVALHO, 2006, p.35)”. Ainda, nos dizem que as
mulheres, protagonistas dessa historia, “não tinham lembrança quanto a data de inicio
das danças em suas vidas” e “o que se sabe é que elas aprendem a ciranda com seus
antepassados e que são estimuladas a participarem das rodas para que aprendam as
cantigas e os passos (idem, p.36)”.
Esta pratica artística de grande beleza plástica, ocupa posição privilegiada na
memoria social, ao traduzir-se como eficiente recurso de mobilização e significação
dos valores cultivados socialmente. Justifica-se a pertinência da leitura das fotografias
por considerar, que o estudo da visualidade da Ciranda nos tempo atuais é incipiente,
faz-se necessária a pesquisa e atualização da discussão a respeito do repertorio visual
presente na manifestação artística proveniente da região de Caiana dos Crioulos.
2. A Leitura de imagens
Esse interesse pelos códigos visuais, tem aberto um campo para a reflexão e
compreensão da imagem, no que diz respeito à decodificação das suas especificidades
técnicas, semióticas, formais, simbólicas, expressivas, pedagógicas, etnográficas,
documentais, assim como, no entendimento das mensagens como parte do processo de
percepção e apropriação.
Segundo Joly (2001), Rose (1998) e Sardelich (2006), o termo leitura de
imagens começou a ser discutido na área da comunicação e da arte nos anos 1970, do
século XX, devido à introdução e disseminação dos sistemas audiovisuais,
influenciados de teorias sobre a percepção e psicologia da forma – Gestalt – e da
semiótica. Na medida em que essa discussão foi se desenvolvendo, foi sendo necessário
um entendimento da leitura visual, ou seja, compreensão dos códigos incorporados e
presentes nas imagens, o que, de fato, implicou no surgimento, já nos anos 1980, de
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termos como alfabetização visual4 e gramática visual, ressaltados por autores como
Dondis (2003) e Barbosa (1988; 1991).
Para iniciar a leitura de imagens, faz-se necessário uma classificação das
imagens quanto a sua natureza, como sendo: imagens naturais e imagens artificiais ou
fabricadas5. A primeira, é entendida como as que são produzidas pela natureza, sem
intervenção humana (reflexos e sombras), a segunda é entendida, como sendo as que
sofrem interferência humana para que possam surgir (imagens fixas ou imagens
móveis). A respeito das imagens fabricadas, Villafone (2006) as classifica e identifica
cinco grandes categorias:
1. Quanto a materialidade – imagens materiais (quadro, fotografia, escultura) e
não-materiais ( imagem mental, projeção holográfica) ;
2. Quanto a espacialidade - imagens bi-dimensionais e imagens tri-dimensionais;
3. Quanto a temporalidade - imagens estáticas e imagens móveis;
4. Quanto a relação com a realidade - entre imagens representativas (realistas) e
não-representativas (abstratas, figurativas);
5. Quanto as condições de produção - imagens produzidas por meios mecânicos
(fotografia, cinema) e imagens produzidas por meios humanos (pintura, gravura).
2.1. Os elementos da leitura de imagens
Arnheim, Dondis (1997), Villafane (2006), Aumont (1995), Santaella (2003),
distinguem as imagem em duas abordagens: a textual e a semiótica. A abordagem
textual, entende a imagem como um texto possuidor das mesmas características da
produção lingüística. Os equivalentes pictóricos dos componentes gramaticais, da fase
típica desta abordagem postúlam, que qualquer imagem pode ser analisada através de
um conjunto de treze elementos fundamentais, distribuídos por três categorias
gramaticais. São os elementos morfológicos, os dinâmicos e os escalares. O primeiro se
4 Donis (1997)em seu livro Sintaxe Visual, pontua que alfabetizar-se visualmente é aprender a visualizar uma imagem, analisá-la, contextualizá-la, classificá-la e produzir novas imagem.5 Justo Villafane, em seus escritos sobre teoria da imagem, considera proveitosa a categorização das imagens quanto a sua natureza como naturais e artificiais.
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caracteriza pelo ponto, linha, plano, textura, cor e forma; o segundo pelo movimento,
tensão e ritmo, o terceiro se caracterizam pela dimensão, formato, escala e proporção.
Para Martine Joly (2001), o método semiótico considera a imagem enquanto
signo:O conceito de signo é muito antigo, designa algo que é percebido – cores, calor, formas, sons – e que atribuímos uma interpretação. Efetivamente, um signo é um signo, apenas quando exprime ideais, e suscita no espírito daquele ou daqueles que o recebem, uma atitude interpretativa (JOLI, 2001, p.36).
Esta definição possui o mérito de mostrar, que um signo mantem uma relação
solidária entre pelo menos três polos: a face perceptível do signo: significante; aquilo
que representa: referente; e aquilo que significa: significante. Esta triangulação, é
também, representativa da dinâmica de todo signo, enquanto processo semiótico, cuja
significação depende, tanto do contexto da sua aparição, como da expectativa do seu
receptor. O método semiótico, estabelece um paralelo entre dois tipos de planos – o da
expressão da imagem (o que ela mostra) e o conteúdo (o que ela significa), - por outro
entre o plano do significante (a realidade exterior a que ela faz referência) e o plano do
significado (o conteúdo material da imagem). A leitura de uma imagem deverá ter em
vista, diversos pontos que não seguem uma hierarquia ao serem citados. Conforme
Aumont (1995) e Dondis (1997), existem três tipos básicos de relação, das chamadas
funções icônicas, que nascem da relação entre a imagem e o seu objeto de
representação:
• representativa - quando a imagem se pretende uma cópia, o mais fiel
possível, da realidade que representa;
• simbólica - quando existe uma transferência de uma imagem para um
significado abstrato (a pomba da paz, por exemplo);
• convencional - quando a relação entre a imagem e aquilo que representa
se radica apenas numa convenção social.
Em uma determinada imagem, podem estar presentes, duas ou mais das funções
mencionadas ao mesmo tempo. Por mais que tenhamos que falar do tipo ou função da
imagem, é preferível nos referirmos, à sua função icônica dominante, que seria o nível
da realidade da imagem, onde se analisa a semelhança ou a diferença entre a imagem, e
aquilo que representa. Contudo, a análise semiótica de uma imagem, deverá ser da
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mesma forma que a análise textual, um diálogo com o leitor, que resulta de uma
interpretação, de um reconhecimento, de como são construído nos sujeitos, nos
percursos, nos valores e na significação.
3 Leitura das imagens da Ciranda
Na análise e compreensão das fotografias, que capturam dois momentos da
Ciranda de roda, optamos pela leitura de imagens semiótica por consideramos mais
pertinentes, na identificação das dimensões artísticas, estéticas e culturais das imagens.
Compreendemos através de Villafane (2006), que uma análise de imagem
começa com uma exaustiva operação de leitura dos códigos e signos contidos nas
imagens. A leitura de imagem é um passo prévio, à qualquer reflexão posterior sobre a
mesma. Quanto maior for o número de detalhes que o leitor consiga extrair, maiores
serão as possibilidades de interpretação e análise. Villafane (2006) recomenda ”ler a
imagem como faria uma criança, ao pedirmos que nos conte o que esta vendo nesta
imagem (VILLAFANE, 2006, p.98)”.
Na Leitura de imagem semiótica, os teóricos da imagem se debruçam em
analisar os signos contidos nas imagens, pois os mesmos se cobrem em fator sensitivo
que se refere à realidade, e que por meio deles despertem uma interpretação individual.
A metodologia foi desenvolvida em diálogo, com as estruturas de leitura e
análise de imagens desenvolvida por Joly (2001), Arnheim (1993) e Villafane (2006), e
seguem a ordem abaixo descrita:
1. Descrição da imagem;
2. Classificação da imagem;
3. Mensagem plástica e síntese;
4. Mensagem icônica e síntese
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IMAGEM 01
Foto: Gabriela Dowling
1. Descrição da imagem
No primeiro plano da imagem 01, identificamos um grupo de pessoas composto por
homens, mulheres, crianças que com as mãos dadas formam uma grande roda na rua.
No segundo plano, vemos algumas barraquinhas, casas coloridas e carros que transitam
em uma rua comprida e enladeirada, que termina no terceiro plano, com uma igreja, o
céu azul, algumas nuvens e um pequeno monte verde.
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IMAGEM 02
Foto: Gabriela Dowling
Na imagem 02, podemos identificar no primeiro plano, silhuetas de pessoas
vestindo saias coloridas dançando ao redor de uma garrafa posicionada no chão de
areia. No segundo plano, um homem vestido de azul, juntamente com outras pessoas,
as observam.
2. Classificação da imagem
Ambas as imagens, contêm as mesmas características que podem ser definidas como
imagens de origem artificiais, produzidas por meios mecânicos, material, cujo suporte,
é fotográfico, bi-dimensional, estática e representativa.
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3. Mensagem plástica
Entre os signos visuais que compõem uma mensagem visual, figuram os signos
plásticos. A distinção teórica entre signos plásticos e signos icônicos, demonstram que
os elementos plásticos das imagens (cores, formas, composição, textura), são signos
plenos e integrais, e não a simples matéria de expressão dos signos icônicos
(figurativos). Os signos plásticos escolhidos, como sendo os mais relevantes, para o
entendimento e leitura das fotografias sobre a Ciranda de roda são:
• Suporte
Ambas as fotografias, tem o suporte fotográfico digital, que naturalizam a
representação, na medida em que se apresentam, como recortes da própria
realidade;
• Enquadramento
Enquadrar é determinar o modo como o espectador perceberá o mundo que está
representado. O enquadramento pode ser entendido, como o limite da
representação visual que corresponde a dimensão da imagem, resultado do
recorte da realidade escolhida, e da distância do tema fotografado em relação a
objetiva.
Na imagem 01, temos um plano aberto, fotografado horizontalmente, cujo o
recorte da realidade opta por captar, através do afastamento da objetiva (lente da
camera) em relação ao objeto fotografado, criando um cenário amplo,
denominado como plano geral.
Na imagem 02 temos um primeiro plano mais fechado, fotografado
horizontalmente, que opta por fotografar mais próximo do objeto, criando um
recorte da realidade, que aproxima o espectador dos detalhes contidos na
imagem.
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Nas duas imagens os enquadramentos estão opostos, mas coincidem quanto a
horizontalidade da imagem. E ao mesmo tempo, sugerem uma inversão
comparativa de proporções. Na imagem 01 ao optar por um enquadramento
distanciado do seu objeto, registra as pessoas da roda em uma propoção menor
quando comparado com imagem 02, que opta por um enquadramento mais
aproximado em relacao ao seu objeto.
• O ângulo do ponto de vista
A escolha do ângulo é determinante, uma vez que reforça ou contradiz a
impressão de realidade que está ligada ao suporte fotográfico.
Na imagem 01 o ângulo do ponto de vista se encontra ligeiramente contra
picado (fotografado de cima para baixo), situando o olhar mais próximo à altura
de um homem. Essa escolha de angulação, que gera no espectador a impressão
de dominar a paisagem.
Na imagem 02 consideramos o ângulo do ponto de vista, como sendo normal
(fotografado ao nível do sujeito).
• Escolha da objetiva
Ambas as fotografias possuem uma objetiva com distância focal próxima ou
igual a 50 mm, com lentes fixas, encontradas em câmeras digitais que formam
imagens com grande profundidade de campo, muito próxima daquela que o olho
humano enxerga. Na imagem 02 a velocidade do movimento e a proximidade
com objeto fotografado, criou uma imagem menos nítida, desfocada, enquanto
que na primeira imagem, temos uma imagem nítida e bem focada;
• Composição
A composição ou geografia interior da mensagem visual é um dos seus
utensílios plásticos fundamentais. Tem um papel essencial na hierarquização da
visão, e portanto, na orientação da leitura da imagem. Em qualquer imagem
(pintura, plano cinematográfico, desenho, imagem de síntese, etc.), “a
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construção é essencial — respeita ou rejeita certo número de convenções
elaboradas ao longo das épocas e varia de acordo com os períodos e os estilos
(Joly, 2001, p.112)”.
Tanto na composição da imagem 01, quanto da imagem 02, todos os elementos
da foto apresentam uma hierarquia, sendo o objeto principal facilmente
identificado. A leitura tem uma construção sequencial dinâmica, que conduz o
olhar de baixo para cima, em uma a orientação oblíqua ascendente na direção da
direita. Segundo Joly (2001) essa orientação na nossa cultura, se encontra
frequentemente associada às ideias de dinamismo, energia, progresso, esperança.
• Formas
A interpretação das formas, assim como, das cores em menor grau, é
essencialmente antropológica e cultural. A reprodução das imagens, sobretudo
as de caráter fotográfico, apresenta um obstáculo à interpretação das formas.
Assim, “para ver as formas organizadas numa mensagem visual (e compreender
a interpretação que elas induzem) é necessário que nos esforcemos por esquecer
aquilo que representam e olhá-las só por si, com atenção (Joly, 2001, p.115)”.
Ambas as imagens apresentam uma predominância de linhas finas e curvas, com
formas arredondadas macias e suaves, remetem à feminilidade e suavidade. A
imagem 02, além das formas arredondadas e linhas finas e curvas, observa-se
formas pontiagudas, linhas retas que remetem a virilidade e dinamismo.
• Cores e Iluminação
A interpretação das cores e da luz, tal como a das formas, é antropológica e a
sua percepção é cultural. A naturalidade ou artificialidade gerada ajuda na
leitura das imagens. A cor e a iluminação funcionam de forma decisiva na
obtenção do clima desejado, seja de sonho, devaneio, ou de impacto, surpresa,
dramaticidade. As diferentes luzes – zenital, oblíqua, da manhã, da tarde, assim
como, as estações do ano, pode ser relacionada aos estados de humor. As cores
possuem influência muito forte sobre as emoções humanas, sendo responsáveis
por estimular sensações, sentimentos e quando combinadas geram boas
sensações ou conflitos dentro da composição fotográfica. Por mais subjetiva que
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sua interpretação seja algumas cores podem ter tem um senso comum quando
combinada com outros elementos.
Na imagem 01, temos quase todas as cores presentes, o verde, o azul, o marrom,
o branco, porém, as cores predominantes nesta imagem são: o amarelo e o
laranja. Estas cores, denominadas cores quentes, estão relacionadas ao sol,
verão, vivacidade, espontaneidade, festa, energia, e quanto associada a outros
elementos da fotografia, gera outro tipos de associação icônica, que remete a
união de pessoas em uma a celebração festiva ou rito popular.
As cores que predominam na imagem 02 são o rosa, o azul, o castanho e o
negro. O rosa e o azul são consideradas cores vivas e transmitem uma
mensagem de energia, entusiasmo, diversão. As cores castanhas e
negras,consideradas escuras, são percebidas como mais autoritárias, fortes,
dramáticas. Estas duas cores quanto combinadas aos outros elementos, nos
remetam a uma celebração mais intimista e dramática.
A iluminação na imagem 01 indica uma luz natural, de fonte solar, direta, que
proporciona uma imagem bem iluminada, e que devido à intensidade da luz
desfavorece a leitura de alguns detalhes, como o rosto das pessoas. A
luminosidade presente nesta imagem nos remete a alegria e vivacidade contida
em um dia de sol.
A imagem 02 possui uma iluminação difusa, que imita a luminosidade
acariciadora do entardecer, sem sombras, nem relevo. A luz difusa, diferente da
luz direta, cria uma atmosfera onírica, quebra as barreiras espaciais, atenua a
impressão de relevo, suaviza as cores, bloqueia as referências temporais,
acentuando desta maneira, o caráter impreciso da localização e da situação
temporal que acrescenta um caráter mágico à imagem.
Síntese da mensagem plástica
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A dificuldade em separar significação plástica e significação icônica,
caracterizou esta primeira abordagem, e mostrou como o dispositivo plástico da
mensagem visual é portador de significações bastante perceptíveis. No quadro abaixo
visualizamos de forma sistemática os significantes plásticos e seus significados das duas
imagens fotográficas.
Tabela. 01 – Sínteses da mensagem plástica
Significantes plásticos SignificadosImagem 01
SignificadosImagem 02
1. suporte Foto digital: remete a realidade representada
Foto digital: remete a realidade representada
2. enquadramento Aberto: distancia Fechado: proximidade
3. ângulo do ponto de vista
Ligeiramente picado: domínio do espectador
Normal: aproximação com a realidade apresentada
4. escolha da objetiva Focal próxima: nítida, profundidade de campo: generalizada
Focal próxima: nítido e desfocadoProfundidade de campo: pouca
5. composição Oblíqua ascendente para esquerda: dinamismo
Vertical ascendente: equilíbrio
6. formas massa: suavidadelinhas curvas e finas: feminilidade
massa: suavidadelinhas curvas e finas: feminilidadelinhas retas e pontiagudas: virilidade
7. cores dominante quente: energia dominante vivas e escuras: leveza e dramaticidade
8. iluminação Natura, solar, direta: alegria Natural , difusa: atmosfera onírica
Percebemos, que se estabelece na grande maioria dos elementos analisados, um
sistema de oposições que se distingue e reconcilia uma vez terminada a leitura.
Distância, nitidez, dinamismo, grandeza, feminilidade, alegria, presentes na imagem 01
se opõe, à proximidade, difusão, equilíbrio, dramaticidade, leveza e virilidade, presentes
na imagem 02. Deste modo, a leitura dupla das imagens instaura mais que uma antítese
visual, uma aproximação de termos oposto, na produção de uma significação global da
realidade representada.
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4. Signos icônicos
Os signos icônicos ou figurativos foram, parcialmente repertoriados, aquando da
descrição verbal. É claro, que para além do reconhecimento dos motivos obtidos graças
ao respeito pelas regras de transformação representativa, cada um deles existe para outra
coisa diferente de si próprio, ou seja, servem para as conotações interpretativas que
despertam no leitor de imagem.
Na imagem 01 podemos identificar de maneira nítida, pessoas de mãos dadas
formando uma grande roda em uma rua rodeada de casa, barracas, carros e igreja. Na
imagem 02 identificamos de forma difusa, mulheres em um terreno de terra que dançam
e são observadas. Na representação encontrada na imagem 02, vemos apenas um recorte
da realidade através da escolha do enquadramento, o que induz o espectador a construir
imaginariamente aquilo que não vê no campo visual da representação, no denominado
fora de campo. Seguem abaixo sistematizados, os significantes considerados relevantes
para esta leitura:
Tabela 02. Significantes icônicos da Imagem 01
Significantes
icônicos
Significado de primeiro nível Conotações de segundo nível
Pessoas Pessoas formando uma roda. Festividade, rito religioso.
Etnia e gênero
das pessoas
Mulheres, homens e crianças de
etnia negra e mestiça.
Festividade democrática de
marcada origem africanas e
indígenas.
Indumentária Roupas simples. Poder aquisitivo baixo.
Construções Barracas de estrutura simples,
casas pequenas, igreja.
Feira popular de uma pequena
cidade do interior.
Postura Pessoas em pé próximas uma das
outras de mãos dadas.
União, Relações sociais
próximas em ambiente
públicas.
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A síntese da Mensagem Icônica
A análise da mensagem icônica torna bem evidente, que a interpretação faz-se
por intermédio do processo da conotação, do caráter sócio-cultural subjetivo, dos
cenários e das posturas.
Na imagem 01 identificamos, que esta celebração acontece em uma cidade do
interior, ao ar livre e a luz do dia, próximo a uma pequena feira popular. Os elementos
quando associados trazem conotações de origens simbólicas como circularidade, rito,
celebração democrática, festividade popular, união, alegria e liberdade.
Tabela 04. Significantes icônicos da Imagem 02
Significantes
icônicos
Significado de primeiro nível Conotações de segundo nível
pessoas Pés dançando , mulher. Dança – expressividade
humana.
Etnia Pés negros. Dança de marcada origem
africanas - rito ancestral.
indumentária Roupas elaboradas. Dia de festividade -
homenagem a santo ou
divindade.
Cenário Chão de terra. Casa na zona rural – mais
próxima as energias da
natureza.
Objeto cênico Saias e pés que rodam ao redor
de uma garrafa.
Dança que simboliza a união
do feminino ao masculino.
Postura Pessoas em movimento. Relações sociais em ambiente
festivo.
Na imagem 01 identificamos uma festividade dançada por mulheres em uma
localidade rural. Os elementos quanto associados trazem conotações relativas à dança
![Page 16: leitura de imagens](https://reader036.fdocument.pub/reader036/viewer/2022062501/563dbac8550346aa9aa80002/html5/thumbnails/16.jpg)
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como um rito de celebração ancestral. Nesta imagem, conota uma marcada origem
africana, que une o feminino ao masculino através da dança. A zona rural nos aproxima
às energias telúricas, contidas na natureza, e o chão de barro, nos distancia da
modernidade das grandes cidades asfaltadas. Temos também elementos que remetem a
uma atmosfera onírica, pontuada pelo ritmo e pelo transe contidos nas imagens
desfocadas e na iluminação difusa. Estas fotografias suscitam no leitor alguns enigmas,
dificilmente decifrados apenas com esta primeira leitura de imagens.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As imagens sejam fixas ou móveis, quando analisadas através de uma
abordagem semiótica de leitura de imagens, tornam-se fontes de informação de grande
importância para a compreensão dos significados visuais, icônicos e simbólicos,
contidos em seu corpo imagético.
Ao identificarmos os códigos visuais pertencentes as imagens, desenvolvemos a
aptidão de descrever, analisar e interpretar os significados escondidos e revelados, sob a
luz mágica do prisma da leitura de imagens. Essa construção da imagem através do
olhar que investiga, interpreta, que faz uso dos sentidos, das percepções, dos repertórios
culturais, ao ser exercitada de maneira constante, poderá encontrar a cada leitura,
significados mais profundos e comuns ao ser humano enquanto coletividade. “[...]
aquilo que lembramos, é aquilo que aprendemos, entre o vocabulário adquirido de um
mundo social, e um vocabulário mais profundo, de símbolos ancestrais e secretos
(MANGUEL, 2000, p. 88)”.
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