Juvenal Galeno Cronologia
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CRONOLOGIA COMENTADADE
JUVENAL GALENO
Governo do Estado do Ceará
GovernadorCid Ferreira Gomes
Vice-GovernadorFrancisco José Pinheiro
Secretário da CulturaFrancisco Auto Filho
Secretária Executiva da CulturaAlda de Oliveira
Coordenadoria de Políticas do Livro e de AcervosKarine DavidRaymundo Netto (Coordenação Editorial)
Coordenadoria de Patrimônio Artístico e CulturalOtávio Menezes
Diretoria da Casa de Juvenal GalenoAntônio Santiago Galeno Júnior
Coleção Nossa Cultura
Conselho EditorialÂngela Maria R. Mota de GutiérrezCristina Rodrigues HolandaEduardo Diatahy Bezerra de MenezesJorge PieiroMaria Eleuda de CarvalhoRafael Sânzio de AzevedoSarah Diva da Silva Ipiranga
Juvenal Galeno
— OBRA COMPLETA —
CRONOLOGIA COMENTADADE
JUVENAL GALENO
Organização e NotasRaymundo Netto
Fortaleza - Ceará2010
Juvenal Galeno: obra completaCronologia Comentada de Juvenal GalenoCopyright © 2010 Secretaria da Cultura do Estado do Ceará
Todos os direitos desta edição reservados e protegidos pela Lei nº 9.610 de 19.02.1988 à Secretaria da Cul-tura do Estado do Ceará. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc., nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da SECULT/CE.
Secretaria da Cultura do Estado do CearáAv. Gal. Afonso Albuquerque Lima, s/n, 3º andar, Fortaleza, CearáCEP: 60.839-900www.secult.ce.gov.br
Casa de Juvenal GalenoRua General Sampaio, 1128, Centro, Fortaleza, Ceará
Coordenação editorialRaymundo Netto
Texto e NotasRaymundo Netto
CapaMariano Souza e Raymundo Netto
Programação visual e diagramaçãoElias Sabóia
IlustraçõesNa capa: “Juvenal Galeno”, óleo sobre tela da poetisa e artista plástica Jane BlumbergNa orelha biográfica: “Juvenal Galeno”, óleo sobre tela de Otacílio de AzevedoFoto de orelha: Placa rua Juvenal Galeno, Benfica, Fortaleza, Ceará.(foto: Raymundo Netto)
Impresso no Brasil/Printed in Brazil
Catalogação na Fonte
G 153 c Galeno, Juvenal Cronologia comentada de Juvenal Galeno / Juvenal Galeno;
organização e notas Raymundo Netto._ Fortaleza: Comercial, 2010. 98 p. :il. (Coleção Nossa Cultura, Série Memoria)
ISBN: 978-85-98766-69-0
Co-edição com a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará - Secult.
1. Galeno, Juvenal. I. Raymundo Netto. II. Título. III. Série.
CDD 928
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
“Ali, a criança crescendo... crescendo sem aprender a
ler! que não podiam seus pais, os quais também ignoravam
as primeiras letras, levá-la à escola: esta não existia no
lugar, ou se existia era-lhe vedada pela indigência; não
tinham meios de vestir o filho, de comprar-lhe o livro, pois
que as sobras de seus rendimentos entregavam, na paga dos
impostos, à Câmara Municipal, para ela esperdiçá-las como
bem lhe aprouvesse, sem realizar jamais a lei que lhe ordena
o socorro à indigência na aquisição da instrução; pois que
com as sobras de seus rendimentos pagavam ao padre por
alto preço o batismo, o casamento, a missa ao domingo...
ao padre, que assim negociava, que assim enricava, e que
jamais lhe explicara a doutrina, dando-lhe o exemplo
da avareza, do egoísmo e dos vícios! Pois que a sobra de
seus rendimentos mal chegavam para a farda da Guarda
Nacional e para outras sanguessugas, que sem trégua, que
impiedosamente chupam até a última gota o sangue do
pobre, o sangue do povo!”
Juvenal Galeno,em Lendas e Canções Populares
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
RETORNO às ORIGENs
A publicação, pela Secretaria da Cultura do Estado, de Juvenal Galeno: obra completa pretende iniciar uma nova fase na vida da famosa Casa que leva seu nome. Criada para preservar a memória do poeta, a Casa de Juvenal Galeno terminou por assumir, ao longo do tempo, outras funções que a levaram a pôr em plano secundário a política literária nacio-nal-popular do autor de Lendas e Canções Populares.
Se essa política literária cumpriu, na origem, um papel decisivo na formulação de uma autêntica literatura nacional, como, na segunda metade do século XIX, buscou demonstrar o crítico Araripe Júnior em duas famosas cartas (a primeira, sobre a “literatura brasílica”, de 1869, e a segunda, sobre “A poesia sertaneja”, de 1875), agora, sob o impacto da “globaliza-ção” imperialista, ela readquire flagrante atualidade diante do avassalador “jugo de estrangeiras emoções”.
E foi o próprio Juvenal Galeno um dos primeiros a for-mular os fundamentos dessa então nova política literária. Na nota de introdução que escreveu para o livro Lendas e Canções Populares (1865), assim os exprimiu:
Reproduzindo, ampliando e publicando as lendas e canções do povo brasileiro, tive por fim repre-sentá-lo tal qual ele é na sua vida íntima e polí-tica, ao mesmo tempo doutrinando-o e guiando--o por entre as facções que retalham o Império – pugnando pela liberdade e reabilitação moral da pátria, encarada por diversos lados, – em tudo servindo-me da toada de suas cantigas, de sua linguagem, imagens e algumas vezes de seus pró-prios versos.
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Coleção Juvenal Galeno
Se consegui, não sei; mas para consegui-lo pro-curei primeiro que tudo conhecer o povo e com ele identificar-me. Acompanhei-o passo a passo no seu viver, e então, nos campos e povoados, no sertão, na praia e na montanha, ouvi e decorei seus cantos, suas queixas, suas lendas e profecias – aprendi seus costumes e superstições, falei-lhe em nome da Pátria e guardei dentro em mim os sentimentos de sua alma, – com ele sorri e chorei, – e depois escrevi o que ele sentia, o que cantava,
o que me dizia, o que me inspirava.
Não se limitou, porém, o nosso poeta a tratar a questão no terreno puramente antropológico. Sua concepção de política literária contempla a dimensão do engajamento sociopolítico, numa atitude que o singulariza entre os que, à época, propug-navam pela construção de uma literatura “brasílica”:
Chorei a sorte do povo, que nas ruas, no cárcere, e por toda a parte sofria a escravidão. E vendo en-tão que ele ignorava seus direitos, lhe expliquei; vendo-o no sono fatal da indiferença, despertei-o com maldições ao despotismo e hinos à liberdade, — e estimulei-o comemorando os feitos dos már-tires da Independência e de seus grandes defen-sores, — preparando-o assim para a reivindicação de seus foros, para a grande luta que um dia liber-tará o Brasil do jugo da prepotência, e arrancará o povo das trevas da ignorância, e dos grilhões do arbítrio.
É a esses valores que se pretende fazer a Casa de Juve-nal Galeno retornar agora, após a reforma e ampliação que o Governo do Estado promove. O novo programa da SECULT
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
de apoio à cultura popular cearense, cumprindo as diretrizes de governo do então candidato Cid Gomes, concretiza tais valores com a criação de uma rede de instituições que inclui, além da Casa de Juvenal Galeno, o Memorial Patativa do Assaré, restaurado e ampliado; o Memorial do Poeta Agricultor Patativa do Assaré, instalado na Serra de San-tana; o Memorial Cego Aderaldo, em Quixadá; a Lira Nor-destina, em Juazeiro do Norte, em parceria com a Prefeitura do Município e a Universidade Regional do Cariri; o Centro Histórico-Cultural do Caldeirão, em parceria com a Pre-feitura do Crato; os Memoriais das Culturas Indígenas, o primeiro dos quais a ser instalado na Casa de José de Alen-car, em parceria com a Universidade Federal do Ceará e a Fe-deração das Indústrias do Estado do Ceará; o Memorial dos Quilombolas; os Museus de Arte e Cultura Populares, no Centro de Turismo de Fortaleza; Arte sacra Popular, no Cariri, e do Ex-Voto, em Canindé; e, finalmente, a Universi-dade Popular dos Mestres da Cultura Tradicional. Ou-tras instituições igualmente necessárias para a preservação e difusão das culturas populares do Ceará estão em estudo pelo corpo técnico da SECULT e entidades da sociedade civil local.
A necessidade da intervenção do poder público como su-porte institucional dessa esfera de nossa cultura é não só obri-gação constitucional do Estado, mas encontra respaldo na opi-nião de renomados estudiosos, como Tristão de Athayde, que, já em 1928, destacava: “Se o povo, mas que as gerações cultas, participa da natureza e das condições ambientes, nenhuma ter-ra mais propícia à poesia popular que o Ceará”.
Auto FilhoSecretário da Cultura
do Estado do Ceará
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Nota Editorial de Organização de
Juvenal Galeno: Obra Completa
A Coleção Juvenal Galeno: Obra Completa faz parte
da série Memória da Coleção Nossa Cultura da Secretaria
da Cultura do Estado do Ceará, planejada por ocasião das
comemorações dos 90 anos de fundação e de ação cultural da
Casa de Juvenal Galeno (1919-2009), residência construída
pelo Poeta, em 1888, e que ele assistiu ser transformada em
centro cultural, por atenção de suas filhas, Henriqueta e Julinha
Galeno, no ano de 1919 (Juvenal faleceu em 1931, aos 95 anos
incompletos).
A Casa sempre teve seus saraus e eventos frequentados
por artistas e intelectuais, locais e nacionais — com ênfase
nas décadas de 30 e 40 do século XX —, como: Leonardo
Mota, Mário da Silveira, Jáder de Carvalho, Quintino Cunha,
Justiniano de Serpa, Otacílio de Azevedo, Rachel de Queiroz,
Fernandes Távora, Raimundo Girão, Érico Veríssimo, Manuel
Bandeira, Moreira Campos, Patativa do Assaré, Filgueiras
Lima, Mozart Soriano Aderaldo, Demócrito Rocha, Eleazar de
Carvalho entre tantos outros. Também na Casa, surgiram e se
reuniram diversas associações e entidades de cunho literário,
popular e folclórico como o Clube dos Poetas Cearenses (nos
anos de 1970), Academias de Letras (Academia de Letras do
Ceará, Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará,
etc.), a Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno (fundada em
1936 pela própria Henriqueta), o Centro de Cordelistas do Ceará
e outros mais. Firmou cada vez mais o seu papel, evidenciada
sua natureza popular, de difusão e incentivo à cultura local,
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Coleção Juvenal Galeno
ao acolher escritores, jornalistas, pesquisadores, estudantes,
interessados em geral, e ao promover as tradicionais Noites de
Viola e preservar e disponibilizar o rico acervo da biblioteca de
Juvenal Galeno e de Mozart Soriano Albuquerque.
Embora adotemos o termo “obra completa” à coleção
de títulos de Juvenal Galeno, ora trazida à luz, não temos a
pretensão de afirmar que nela reunimos toda a sua produção
literária. Ao contrário, fazemos questão de confirmar a
existência de um vasto material esparso em periódicos
cearenses, e de outros estados, a ser pesquisado, compilado e
publicado com o objetivo de resgatar e conservar a obra deste,
que sem dúvida, é um de nossos maiores poetas, senão o mais
original e/ou representativo.
Pesou-nos o grande desafio e a responsabilidade do
acolhimento editorial da obra de um autor singular como
Juvenal Galeno. E, para tanto, alguns critérios foram adotados
na revisão e fixação de texto das edições, além, obviamente,
da modernização e uniformização de sua ortografia. Talvez,
dentre todos, os mais significativos: respeito e fidelidade ao
texto do autor, mesmo quando em muitos momentos, e com
a avaliação conjunta de outros pesquisadores e profissionais,
desconfiássemos da real intenção do emprego de determinada
palavra, acentuação ou pontuação. Em alguns casos especiais,
foi imprescindível a discussão em grupo, sobre situações em
que não se sabia tratar-se de lapso tipográfico, de concordância
e regência, uso da época ou de estilo etc.
Assim, embora consultássemos outras edições, quando
possível, a última edição assistida ainda em vida pelo autor,
passava a orientar o trabalho de pesquisa e cotejamento. Dessa
forma, estabelecemos:
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Prelúdios Poéticos – cotejamento à primeira edição
(1856), acervo de Obras Raras da Biblioteca Pública Governador
Menezes Pimentel;
Quem Com Ferro Fere, Com Ferro Será Ferido –
cotejamento ao manuscrito original da peça, escrita em 1859 e
encenada em 1861, a partir da transcrição de Ricardo Guilherme
e digitação de Marcelo Costa, ambos pesquisadores do teatro
cearense.
A Machadada – cotejamento à 2ª edição (1969).
Lamentavelmente, não tivemos acesso à primeira.
A Porangaba – cotejamento à edição que integra a Lira
Cearense (1871) — Echos Silvestres —, periódico coordenado
pelo Autor e impresso em sua própria tipografia, provavelmente
com correções em relação à primeira edição (1861). Nesta
Coleção, decidimos manter o título e subtítulo conferidos à
1ª edição, A Porangaba:lenda americana, mesmo quando
na edição do Lira..., Juvenal a apresenta como Porangaba:
lagoa de Arronches (acervo da Casa de Juvenal Galeno). A
denominação atribuída por Alberto Galeno em segunda edição
(1991), Porangaba: poema indianista, foi descartada.
Lendas e Canções Populares – cotejamento à 3ª (1965) e
4ª (1978) edições.
Canções da Escola – cotejamento à 1ª e única edição
(1871), acervo Casa de Juvenal Galeno.
Lira Cearense – Fac-símile
Cenas Populares – cotejamento à 2ª edição (1902),
acervo de Sânzio de Azevedo.
Folhetins de Silvanus – cotejamento à 1ª edição (1891),
acervo da Casa de Juvenal Galeno.
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Coleção Juvenal Galeno
Medicina Caseira – cotejamento à 1ª edição (1969).
Cantigas Populares – cotejamento à 1ª edição (1969).
Importante enfatizar aos futuros pesquisadores da obra
de Juvenal Galeno, que nos títulos publicados pela editora
Henriqueta Galeno, em 1969, como o Cenas Populares e
Folhetins de Silvanus, e na edição de Porangaba: poema
indianista, nós detectamos ausência de parágrafos e estrofes
inteiros, além de alteração de vocábulos originais, ou de
correção inapropriada dos versos originais. Não queremos
discutir as razões destes acontecimentos, mas salientar a
importância da pesquisa de originais para garantir a fidelidade
da obra, para quem estuda, ou estudará a literatura cearense
a partir de Galeno, ou para aqueles que seguirem na produção
editorial de nossos autores.
Dentre alguns dos critérios adotados para a Coleção,
podemos sublinhar: (1) grifamos os estrangeirismos (mesmo
quando no texto original não se tinha a preocupação); (2)
mantivemos as palavras mesmo quando em desuso, porém
dicionarizada, para manter o perfume da época e por crermos
ser a forma como autor optou usar, assim como, na maioria dos
textos, os apóstrofos como indicativo de elisões (mesmo quando
na grafia atual este seja desprezado) para registro de pronúncia
popular de certas palavras ou para atender as exigências
de metrificação; (3) mantivemos o que entendemos como
neologismos ou expressão do recurso estilístico; (4) corrigimos
a ortografia diante de erros evidentes e de palavras grafadas
erroneamente; (5) alteramos as iniciais dos meses do ano e
de acidentes geográficos para minúsculas; (6) mantivemos a
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
maioria dos grifos e realces tipográficos dos originais (evidentes
em A Machadada, por exemplo); (7) atualizamos o uso da crase,
assim como das acentuações, conforme a norma atual; (8)
mantivemos a pontuação original conforme o texto cotejado,
alterando apenas em casos especiais, ao suspeitarmos de lapso
tipográfico, quando incorrendo em erro grave ou quando para
garantir a clareza do texto; (9) principalmente nos textos de
prosa de Cenas Populares, tivemos muita dificuldade em
manter, na íntegra, a pontuação adotada, repleta de travessões
desnecessários, algumas vezes substituídos por vírgulas, ou em
casos de “diálogos” em que os travessões vinham com vírgulas
e aspas (influências francesa e inglesa, respectivamente),
mantivemos apenas os travessões, enquanto que em situações
de “pensamento” mantivemos as aspas, interferindo o mínimo
possível para assegurar a clareza dos textos e dos diálogos;
(10) aplicamos automaticamente no texto publicado as erratas
apresentadas pelo próprio autor em suas edições, o que justifica
a ausência das mesmas nas edições; porém, (11) quando, entre
os títulos apresentados, existiam duas versões diferentes do
mesmo texto, mantivemos as duas em seus respectivos locais de
origem, por crer que a alteração partiu da iniciativa e vontade
do autor; e (12) utilizamos colchetes para incluir palavras
que favorecem a leitura quando diante de ambiguidades ou
supressão de termos importantes no intuito de garantir uma
melhor apreensão do sentido do texto.
Ao optar por essas ações, aspirávamos produzir um
trabalho que fizesse jus à memória do Poeta, principalmente
em respeito às comemorações dos noventa anos de fundação
da Casa de Juvenal Galeno, equipamento cultural de maior
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Coleção Juvenal Galeno
destaque no Ceará, um fenômeno de sobrevivência, heroico
como seu antigo morador, e que servisse de referência aos
futuros pesquisadores, pois cremos que esta Coleção provocará
o surgimento de investigações e análises mais aprofundadas,
elaboradas e relevantes sobre Galeno. Na Casa de Juvenal
Galeno, por certo, muito se há por fazer, descobrir e revelar.
Não se enganem, é mesmo um convite.
Faz-se necessário dizer, entretanto, que não tivemos,
infelizmente, acesso a nenhum original manuscrito, com
exceção do Quem Com Ferro Fere..., dos textos apresentados
o que, acredito, enriqueceria ainda mais uma análise do fazer
poético de Galeno, pelo confronto entre as versões.
José Freitas Nobre, autor da biografia de Juvenal
Galeno intitulada O Criador da Poesia Popular (1939),
descreve uma encadernação, datada de 1860, em capa de
papelão, onde se via escrito, pelo próprio punho do autor,
Ensaios Literários (entender que o termo “ensaio” não tinha a
conotação atualmente e comumente por nós utilizadas) repleta
de textos inéditos, dentre os quais: “Conveniências”, “Uma
Noite do Clube”, “A Casinha do Vale”, “Dois Amores” etc. Cita
também Últimos Cantos, material poético produzido durante
o seu período da cegueira que, acreditava Nobre, poderiam
“preencher um ou dois volumes”. Procuramos saber a respeito
do paradeiro do material citado, mas nada conseguimos. Outra
provocação nossa.
Nosso intento era o de compilar, anexos à Coleção, os
textos de Juvenal distribuídos entre inéditos, colaborações
jornalísticas, apêndices, artigos de cunho literário ou não, e
mais ainda um inédito epistolário, cientes da existência, na
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Casa de Juvenal Galeno, de originais de missivas do autor, mas
não será ainda dessa vez que conseguiremos executar tal tarefa,
convidando o leitor da Coleção a dividir o sonho conosco.
Modestamente, dirigimos nossos esforços em abrigar em
Juvenal Galeno: Obra Completa todos os títulos publicados, a
maioria, em forma de livro durante a sua vida, ou em caráter
póstumo: (1) Prelúdios Poéticos/1856, (2) Quem com Ferro
Fere, com Ferro será Ferido/1859 e Canções da Escola/1871, (3)
A Machadada:poema fantástico/1860 e A Porangaba:lenda
americana/1861, (4) Lendas e Canções Populares/1865, (5)
Cenas Populares/1871, (6) Lira Cearense/1872 e (7) Folhetins
de Silvanus/1891, (8) Cantigas Populares/1969 e (9) Medicina
Caseira/1969.
Alguns dos títulos são tão raros que nunca tiveram uma
segunda edição, missão assumida pela nossa Coleção que traz
Prelúdios Poéticos, marco do Romantismo no Ceará, Canções
da Escola e o fac-símile da Lira Cearense.
Quem Com ferro Fere, Com Ferro Será Ferido, única
participação de Galeno na dramaturgia, cuja encenação
aconteceu pela primeira vez, em Fortaleza, aos 3 dias de
novembro de 18611, e que segundo o Dicionário Biobibliográfico
do Barão de Studart “não foi impressa”, chegou-nos às mãos,
quase por um acaso, por Fernanda Quinderé que, por sua vez,
conseguiu o texto digitado por Marcelo Costa, pesquisador
do teatro cearense, sobre o original manuscrito de Juvenal
Galeno, parte do acervo pessoal do, também ator e pesquisador,
1 No manuscrito de Galeno que apresenta à capa o ano de 1859, no verso, em posterior notação do Autor, encontramos o registro: “Representada pela primeira vez no Theatro da Capital do Ceará [O Taliense] em 3 de abril de 1861”, contrariando a informação do Barão de Studart.
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Coleção Juvenal Galeno
Ricardo Guilherme. Não perdemos tempo e incluímos, na
íntegra, a PRIMEIRA EDIÇÃO de Quem Com ferro Fere, Com
Ferro Será Ferido, após 151 anos de sua produção. Um resgate
documental de grande importância não só para a literatura,
mas também para o teatro cearense.
Outra surpresa durante a nossa busca por Juvenal Galeno
foi descobrir, como parte do acervo pessoal do bibliófilo
José Augusto Bezerra, um exemplar de A Parangaba: lenda
americana, de 1861. Até então, tínhamos como únicas
referências a edição publicada por Alberto Galeno em 1991,
sob o título e subtítulo, respectivamente, Parangaba: poema
indianista e a versão de A Porangaba, publicada no Lira
Cearense, em 1872.
Impacientes, no desejo de oferecer mais de Galeno para
o leitor, introduzimos entre os títulos apresentados, estudos
críticos, discursos, pesquisas, cartas, originais, ilustrações,
enfim, “pistas” para a maior aproximação do leitor com o
Poeta, este tão profundamente humano que marcou de forma
pioneira muito da história de nossa literatura.
Nesse afã, elaboramos, com fins de edição crítica, uma
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno, devidamente
ilustrada, com ênfase na sua história, na sua obra e na sua Casa,
configurando o aspecto crítico da Coleção apresentada.
Acreditamos que Juvenal Galeno: obra completa trata-
se do melhor que já foi publicado de Juvenal Galeno, uma nova
fronteira de resgate e preservação realizada com dignidade,
dedicação e rigoroso compromisso, acolhendo o Poeta e à
sua obra com o respeito e reverência necessários a quem faz
cultura, e, ao mesmo tempo, um estímulo para que o mercado
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
editorial, em especial o cearense, escolha outros tantos autores
injustamente esquecidos e os tragam de volta para que brilhem
nesse novo tempo.
Enfim, se não atingimos nosso objetivo, com certeza nos
aproximamos bastante dele, mais do que poderíamos, não
fosse o empenho e entusiasmo do Secretário da Cultura, Prof.
Auto Filho, e de uma pequena equipe — em especial de Sânzio
de Azevedo, de Antônio Galeno e, num primeiro momento,
de Jorge Pieiro — à obra daquele que, nas palavras de Freitas
Nobre, “foi um sopro de vida para o seu século”.
Raymundo NettoOrganizador e Coordenador Editorial
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
CRONOLOGIA COMENTADA
de
Juvenal Galeno— Casa de Juvenal Galeno —
27 de setembro de 1836 – Juvenal Galeno da Costa e Silva nasce
em Fortaleza, à rua Formosa, atual Barão do Rio Branco, nº. 66, filho
de José Antônio da Costa e Silva e Maria do Carmo Teófilo e Silva.
Diante da casa descaracterizada em que nasceu o Poeta:
Nenzinha, Henriqueta e Mozart Monteiro
Albano da Costa dos Anjos, sargento mor, antigo morador em
Arronches (hoje, Parangaba, Fortaleza), pai de José da Costa — como
o chamavam —, após arrematar à Tesouraria Real as terras do sítio
Aratanha Velha do Capitão-mor Antônio de Castro Viana (falecido
em 1802), passa a trabalhar com a família, e quarenta escravos, na
cultura algodoeira. Em 1803, o próspero Albano manda abrir uma
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Coleção Juvenal Galeno
estrada para Fortaleza, o que o deixa ainda mais rico, falecendo em
1822 e sendo sepultado na Igreja Matriz Bom Jesus dos Aflitos da
Parangaba, Fortaleza, Ceará.
A viúva de Albano, a aracatiense Josefa Rodrigues da Silva (1764-1837)
e os filhos continuaram a trabalhar no roçado de algodão. Os filhos de
Albano e Josefa: Francisca da Costa e Silva (1786), Manoel da Costa e
Silva (1788), João da Costa e Silva (co-partícipe da Confederação do
Equador), Vidal da Penha da Costa e Silva (1791-1846), José Antônio
da Costa e Silva (1792-1866), Domingos da Costa e Silva (conhecido
como “Domingão”, proprietário do engenho Rio Formoso, em
Guaiuba), Ana Joaquina da Costa e Silva e Antônio da Costa e Silva.
Entretanto, a baixa do preço do algodão na Europa, a presença de
pragas, o resultado desastroso da Confederação do Equador e a seca
de 1825 prejudicam os negócios da família.
José Antônio da Costa e Silva, pai de Juvenal
O pai de Galeno, José Antônio, nascido em 26 de junho de 1792, casado em Fortaleza, em 8 de novembro de 1835, com Maria do Carmo Teófilo, a “Marica” Teófilo, natural de Fortaleza e nascida em 16 de julho de 1817, funda o sítio Boa Vista, na Serra da Aratanha, e passa a dedicar-se, sendo bem sucedido, na cultura do café, produto que chegara ao Cariri em 1822 e que se propagou entre as regiões
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
serranas cearenses, como Maranguape, Aratanha, Ibiapaba, Baturité e outras. Devido aos fatores favoráveis ao cultivo, como o solo, a temperatura e a pluviosidade, em 1841 o café já consta na lista de exportações cearenses, alcançando o seu auge entre 1881 e 1886, e,
posterior declínio entre 1896 e 1903.
José Antônio da Costa e Silva1 é considerado o precursor da
comercialização do café na província do Ceará.
João Brígido conta que José da Costa, como muitos contemporâneos,
era maçom, e que nos anos de 1840 frequentava uma loja em Fortaleza.
Durante a sua iniciação, “o interrogatório caiu sobre a religião que ele
professava, ao que ele respondeu que era ateu, provocando gargalhada
geral, diante dos clérigos presentes”2.
Marica Teófilo, esposa de José, era uma mulher simpática e
hospitaleira. Todos que visitavam a sua casa, de lá não saíam sem
receber de presente uma toalha. Tinha ela também o hábito de enviar
saquinhos com o café colhido no sítio3 ao Imperador D. Pedro II.
O casal José e Marica teve filhos: Juvenal Galeno da Costa e Silva, único homem herdeiro (casaria com Maria do Carmo Cabral, filha do Comendador Antônio Cabral de Melo), Liberalina Angélica Teófilo da Costa e Silva (casaria com José Francisco da Silva Albano, o Barão de Aratanha), Florentina da Costa e Silva (esposa de Antônio Gonçalves da Justa) e Joana da Costa e Silva (esposa do agrônomo José Antônio
da Justa, mãe do médico José Lino da Justa).4
1 História do Ceará, Nelson Campos, Smile Editorial, Fortaleza, Ceará, 2008.2 Os Ziguezagues do Dr. Capanema, notas de Maria Sylvia Porto Alegre, Museu do Ceará, Secult, 2006.3 Pacatuba: geografia sentimental, Manoel Albano Amora, Ed. Henriqueta Galeno, Fortaleza, Ceará, 1972.4 Francisco Augusto, em Antigas Famílias, 2006, não cita a filha “Joana”. Optamos colocá-la, pois no livro Ao Redor de Juvenal Galeno, Wilson Boia a destaca com os demais.
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Coleção Juvenal Galeno
Juvenal é primo de Capistrano de Abreu, pelo lado paterno, e de
Clóvis Beviláqua e Rodolfo Teófilo, pelo lado materno.
1839 - Nascido em Fortaleza, ainda pequeno passa a residir no sítio
de seus pais e cursa seus estudos primários em Pacatuba.
Nas palavras de Eduardo Campos em “Pacatuba: breve memória”,
Revista do Instituto do Ceará: “Em 1839, o sítio Boa Vista, que se
media logo aos primeiros metros de subida da montanha chegando
até o Boaçu [o açude], já produzia café de qualidade, circunstância
que pedia a presença dos donos no local da lavoura em casa ainda
hoje conhecida como o ‘Sobrado dos Galenos’, residência da família
Costa, local onde, anos depois, Gonçalves Dias ia ter oportunidade de
conhecer o jovem e promissor poeta Juvenal Galeno.”
Imagens do sobrado dos Galeno
26 de novembro de 1849 – redigido por Juvenal Galeno, com
apenas 13 anos, e Gustavo Gurgulino de Souza, é impresso o primeiro
número de Sempreviva, pioneiro do jornalismo puramente
literário no Ceará5 [segundo Geraldo Nobre, em A Introdução à
História do Jornalismo Cearense, até a segunda metade do século
XIX não houve no Ceará mais que jornais políticos.]
5 F. Silva Nobre in Cronologia da Cultura Cearense, Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro, 1988.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
1850 – Com o falecimento do Dr. Ayres, médico do Aracati, José
Teixeira Castro, proprietário de uma farmácia local, sogro do Dr.
Thomaz Pompeu Filho e do Desembargador Gomes Tavares, convida
o médico Marcos José Teófilo, tio de Juvenal e pai de Rodolfo
Teófilo, para assumir-lhe o lugar. Juvenal, aos 14 anos, deixa os
estudos de latim com o Padre Nogueira Braveza, e passa a viver no
Aracati, trabalhando como prático na farmácia de Teixeira Castro,
continuando seus estudos de latim em escola pública dirigida pelo
professor Porfírio Saboia.
Marcos José Teófilo
Foi nesse período que Juvenal passou a se interessar e conhecer as
coisas da Medicina, o que o levaria mais tarde a escrever os textos que
dariam origem ao póstumo Medicina Caseira.
1851 – Volta do Aracati e matricula-se no Liceu Cearense. O Pe. Luís
Vieira da Costa Delgado Perdição, professor da escola, aponta sobre o
aluno: “É assíduo e aplicado”6.
1853 – É publicado o jornalzinho recreativo Mocidade Cearense,
fundado por Juvenal Galeno e Joaquim Catunda, seu colega de
6 Ao Redor de Juvenal Galeno, Wilson Boia, Edições IOCE, Fortaleza, Ceará, 1986.
28
Coleção Juvenal Galeno
aula de Filosofia, com participação de outros alunos do Liceu que,
posteriormente, se afirmariam como poetas, contistas e historiadores.
O Mocidade... é apresentado por Geraldo Nobre7 como o pioneiro
da imprensa estudantil no Ceará.
Também em 1853, Galeno envia colaborações para O Comercial, de
propriedade de Francisco Luís de Vasconcelos.
18 de abril de 1854 - Juvenal Galeno escreve uma carta ao seu
cunhado José Antônio da Justa, que morava no Rio de Janeiro, para
saber informações de como ingressar na Academia de Belas-Artes do
Rio de Janeiro. A carta foi doada por José Lino da Justa ao Centro
Estudantal Cearense, órgão fundado em 1932, integrando o seu
acervo.
Na carta8 (mantida a grafia original, segundo o autor):
“Ceará, 18 de abril de 1854
Prezmº Primo e Amigo,
Faço-lhe esta somente para saber da sua saúde, e dar-lhe parte
da minha, a qual vai sem novidade.
Eu vou bem nos meos estudos, aplicando-me para fazer
progressos; no fim do ano p.p. prestei exame de Geografia, e sahi
plenamente aprovado; tão bem fui abilitado pelo mesmo lente para
prestar exame de Philosofia, mas como eu me não achava abilitado,
por isso não quiz prestar exame, então, nesse ano matriculei-me na
Geometria e na Philosofia para recordar. No fim do anno pretendo
prestar exame de Philosofia e Francez [ilegível].
7 Geraldo Nobre em A Introdução à História do Jornalismo Cearense, Coleção Estudos Cearenses, nº5, Gráfica Editorial Cearense, 1975.8 Ao Redor de Juvenal Galeno, Wilson Boia, Edições IOCE, Fortaleza, Ceará, 1986.
29
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Em dezembro do corr.e anno, vou para essa Corte estudar; meo
Pai queria que eu fosse no princípio do corr.e anno, mas como eu não
estava prompto de roupa, isto é, camisas etc, por isso elle resolveo que
eu estudasse mais esse anno aqui, e no fim partir para hai.
Como pretendo seguir a Agricultura, por isso vou estudar os
estudos que pertencerem à Agricultura e mais outros para me instruir,
e depois viajar pl.º interior do Rio de Janeiro para vizitar as grandes
fazendas de café, etc.
Eu queria me formar em uma academia onde houvesse estudos
que pertencessem à agricultura, porque o homem formado reprezenta
mais na sociedade, do que o que não hé, mas no Brasil ainda não há
uma academia de agricultores, por isso tinha vontade de ir para a
academia das bellas artes e como não sei os preparatórios que exige,
peço-lhe que me escreva dizendo alguma cousa sobre essa academia,
isto é, do que se aprende nella, dos preparatórios que exige, etc.
Meu pai sugeitou-se ao meo querer, de eu seguir a profissão
para que tivesse vocação; então, eu disse-lhe que seguia a agricultura
por certas razões: 1º porque tenho vocação; 2 º porque tendo elle
um grande sítio, e um só filho, acho que esse filho devia ser o seo
substituto para tomar conta do sítio e para ajudalo na sua velhice etc.
e 3 º porque a agricultura hé a profissão mais independente e feliz que
há, porque o agricultor não precisa ser homem político para ganhar, e
as outras profissões sempre estão sugeitas à política9.
O plano de meo Pai é eu ir estudar e quando acabar os estudos
[ilegível] (...) em agricultura para descançar; ora, se eu seguisse outra
profissão tinha elle de entregar a um extranho, e um extranho não faz
o que um filho faz, e demais, que maior felicidade para mim, que viver
descançado numa profissão honrosa ganhando bom dinr.º ao lado de
meo bom Pai, servindo-o na sua velhice!
Adeos, tenho sido extenso, e assim posso enfada-lo.
9 Já nota-se em Juvenal a aversão pela política praticada à época.
30
Coleção Juvenal Galeno
Dê muitas lç.as ao Antônio e ao Antero.
Seo primo e fiel amigo
Juvenal Galeno da Costa Silva”
1855 – Aos 19 anos, conclui o curso do Liceu. Por ser único filho
homem, naturalmente é visto pelo pai como seu sucessor nas
atividades administrativas de seu sítio.
Embora o pai percebesse a forte vocação poética do filho e não se
opusesse a ela, mas como última tentativa de vê-lo interessar-se
pela prática agrícola e assumir a condição de substituto natural nos
negócios do Sítio, decide enviá-l0 à Corte para que tenha contato e
aprenda mais sobre as técnicas modernas da cultura cafeeira. Solicita
de Rufino José de Almeida, um velho conhecido, residente no Recife,
carta de recomendação para um amigo do Rio de Janeiro. Esse amigo
era nada menos que Paula Brito, curiosamente, proprietário da
tipografia na qual era impressa, à época, o Marmota Fluminense.
Paula Brito
A casa de Paula Brito era famosa por abrigar frequentes e calorosas
reuniões de homens das letras. Assim, Juvenal passou a se relacionar
com alguns deles, como Machado de Assis (na época tipógrafo,
31
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
empregado de Paula Brito e colaborador do Marmota), Quintino
Bocaiúva (trabalhava no Diário do Rio de Janeiro), Teixeira e Sousa,
Joaquim Manuel de Macedo (autor de A Moreninha) e outros.
Machado de Assis aos 25 anos
1856 – Não tarda e os pais de Galeno solicitam seu regresso. Juvenal
já estava seduzido pelo mundo das letras e publicava poemas no
Marmota Fluminense. Decidiu atender aos pais, mas, antes, reuniu
sua produção poética, inclusive a que já trazia da Aratanha, e suas
economias, dinheiro recebido para estudo da cultura cafeeira,
e publicou a primeira edição — intrigantemente a única até o
lançamento desta Coleção — de Prelúdios Poéticos, impresso na
Tipografia Americana de José Soares de Pinho.
Detalhe da folha de rosto de Prelúdios Poéticos
32
Coleção Juvenal Galeno
Na mesma mesa em que tirava as provas de Prelúdios, Alexandre
José de Melo Morais (1816-1882), historiador alagoano, tirava as de
sua Fisiologia das Paixões.
Retorna ao Ceará, trazendo dois exemplares encadernados de
Prelúdios Poéticos, marco do romantismo cearense, dedicado “A
Meus Pais”. No livro, uma foto de Juvenal colhida pelo, ainda não
reconhecido, Joaquim Insley Pacheco (1830-1912).
Sânzio de Azevedo, em apresentação à 2ª edição de Prelúdios
Poéticos, afirma: “Juvenal Galeno, já em seu livro de estreia, fazia
palpitar, ainda que timidamente em seus versos de principiante,
a alma do povo cearense, da qual ele seria, nove anos mais tarde, o
legítimo intérprete, nas Lendas e Canções Populares.
O jovem Juvenal Galeno
Seu pai, desde então, rendeu-se, compreensivo, ao destino traçado de
seu filho.
1858/1859 – Juvenal tem assento como suplente de Deputado em
Icó. Na qualidade de Deputado defendeu o projeto de criação de uma
escola prática de agricultura10. Daí, em Pacatuba, em homenagem
futura, foi criado o Ginásio Agrícola Juvenal Galeno.
10 Hugo Vítor em Deputados Provinciais e Estaduais do Ceará, p.400.
33
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
1859 - A Revista Popular, editada por Baptiste Louis Garnier, livreiro
e editor do Rio de Janeiro, teve 16 números que circularam entre 1859
e 1862, considerada na época como centro dinâmico na renovação das
ideias literárias.
A redação da Revista Popular contava com diversos colaboradores,
tais como: Joaquim Norberto de Sousa e Silva, Luís de Castro, Teixeira
de Melo, Domingos José Gonçalves de Magalhães, Juvenal Galeno,
Augusto Emílio Zaluar, Joaquim Manuel de Macedo, Joaquim
Caetano Fernandes Pinheiro e outros.
A Revista seria substituída, em 1863, pelo Jornal das Famílias.
Detalhe da capa do manuscrito original de Quem com Ferro Fere, com
Ferro será Ferido, peça de Galeno.
1859 – Juvenal Galeno escreve a sua única experiência teatral: Quem
Com Ferro Fere, Com Ferro Será Ferido. Na peça, Juvenal denuncia
34
Coleção Juvenal Galeno
e critica o abuso da autoridade dos delegados nas pequenas cidades
do interior, a utilização do recrutamento e da cadeia pública como
instrumentos de vingança, a omissão e a parceria dos latifundiários,
dos ricos e dos padres aos desmandos do poder, a hipocrisia e
discriminação social, a deficiência e corrupção da justiça, o estado de
pobreza e penúria da maior parte da população indefesa. É Galeno
que, mesmo em condições financeiras favoráveis, criado na serra da
Aratanha, interior de Província, por família religiosa e de prestígio,
com 23 anos já manifestava a sua posição de defensor de um povo
oprimido.
4 de fevereiro de 1859 – Desembarca do vapor Tocantins, no porto
de Fortaleza, a Comissão Científica de Exploração, criada por iniciativa
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com a aprovação (1856)
e patrocínio do Imperador D. Pedro II, composta por naturalistas
e pesquisadores brasileiros com o objetivo de conhecer a geografia,
os recursos naturais e as populações do território brasileiro, sob a
direção do naturalista fluminense, Francisco Freire Alemão (1797-
1874), o mais velho do grupo (62 anos), apontado como o maior
botânico brasileiro do século XIX, que registraria por escrito uma
série de impressões, observações, comentários e narrativas referentes
a diversos aspectos cearenses, alguns físicos e geográficos (relevo,
clima, arquitetura, traços urbanos, riquezas e recursos naturais etc),
mas também costumes, tradições, hábitos, topônimos e episódios
acontecidos durante a sua passagem. Na expedição, além de Freire
Alemão, Giacomo Raja Gabaglia, José dos Reis Carvalho (o pintor)
e Manuel Ferreira Lagos, veio Antônio Gonçalves Dias, responsável
pela sessão de Etnografia, e outros ajudantes. Deixaram a bagagem
no Liceu e rumaram para o sobrado (rua da Palma [Major Facundo]
com Travessa Municipal [Guilherme Rocha]) à esquina da praça do
Ferreira.
35
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
O poeta Gonçalves Dias
O poeta maranhense tinha, naquela época, 36 anos. Possuía, apesar
da pouca idade, um histórico invejável. Guardava outras passagens
pelo Ceará, desde 1851, quando inspecionava a educação pública no
Norte brasileiro e o estado dos arquivos e das bibliotecas provinciais.
Desta vez encontrara no interior da Província o jovem poeta Juvenal
Galeno, autor de livro publicado no Rio de Janeiro. A importância
desse encontro no destino literário de Galeno ainda hoje é motivo
de polêmica [ler apresentação de Sânzio de Azevedo ao Prelúdios
Poéticos].
Guilherme Capanema chegaria ao Ceará apenas em 3 de junho do
mesmo ano.
A Fortaleza encontrada pela Comissão tinha uma população estimada
em 16 mil habitantes residentes em 960 casas de tijolo, uns 80
sobrados e cerca de 7.200 casas de palha11.
24 de julho de 1859 – Chegada em Fortaleza do carregamento de
14 dromedários da Argélia (chamados de “camelos” pela população
11 Brasil, 1864, t.2, p.21-23.
36
Coleção Juvenal Galeno
assombrada pelos “assustadores” animais) e de quatro tratadores
para uso da Comissão.
17 de agosto de 1859 – A Comissão, dividida em três grupos, parte
de Fortaleza ao interior da província. Como rota: Pacatuba, Acarape,
Baturité, Canindé, Quixadá, Quixeramobim, Icó, Iguatu (na época,
Telha), Lavras da Mangabeira, Missão Velha e Crato.
Capanema e Gonçalves Dias chegam a separar-se dos demais e ir à
Paraíba.
1859 - Sobre o sítio Boa Vista, o sobrado da família Galeno em
Pacatuba, conta Eduardo Campos em A Fortaleza Provincial: rural
e urbana (Edições IOCE, Secretaria da Cultura, Turismo e Desporto,
1988): “Esse tipo de domicílio, isto é, a casa assobradada em Fortaleza,
só raro ultrapassava mais de um piso. Seu risco de planta baixa é
quase padronizado, igual por exemplo ao do sobrado de Pacatuba,
residência dos pais de Juvenal Galeno, e, posteriormente, dos Justas.
A fachada , descontada a deficiência do acabamento, é idêntica à
do sobradão da família de Gustavo Barroso [com três portas que
correspondem às janelas superiores, de número igual, sendo uma,
a do centro, com direito a uma sacada e varanda conformadas às
suas dimensões.] (...) A escada que ascende ao andar superior, fica
imediatamente depois da porta de entrada, e defronta o corredor que
dá trânsito aos quartos e dependências da parte inferior, permitindo
comunicação com o quintal, saída para a rua dos fundos por onde
chegava o suprimento de frutas e café do sítio Boa Vista, localizado na
serra da Aratanha, próxima. No andar de cima, a escada praticamente
alcança a sala de visitas, viabilizando também a ligação com a sala de
jantar. São espaçosos e assoalhados os quartos, cozinha, dispensa e
área de serviço. Da cozinha desce-se ao andar térreo por outra escada
de madeira, também situada internamente.
37
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
A casa assobradada do sítio Boa Vista, que também acolheu o casal
Agassiz [em 1866] na mesma época, é descrita por Freire Alemão12,
como informa o historiador Manuel Albano Amora em Pacatuba,
Geografia Sentimental, publicado pela editora Henriqueta Galeno,
1972:
Cozinha da Casa dos Galenos entre as pedras de Pacatuba
“O caminho que a ele conduz é íngreme, porém ensombrado de
árvores e sonorizado por suaves murmúrios d’água e trinados de
passarinhos. A casa é construída sobre rochedos, com uma entrada
pouco confortável. Como primeiro compartimento, encontra-se
uma antessala aberta de dois lados, com parapeitos que podem ser
fechados, à noite ou em razão de chuva, ‘levantando-se grande abas
que atingem o frechal’. Do lado oposto, imediato à cozinha, fica a sala
de jantar, uma espécie de grande varanda que deve ser cerrada de
modo idêntico ao daquele pavimento. Entre as partes descritas, há
duas salas de teto forrado e janelas envidraçadas, uma delas tendo
pendente do forro uma grande bola de vidro, por isso chamada
quarto da bola. Sobre elas existe um mirante. Ao fundo do prédio,
instalaram-se engenhos, cozinhas e outras dependências. Em lugar
mais baixo do terreno, veem-se quartos para armazéns, residências
de agregados, aviamentos. E, em cima desses vãos, corre um tabuleiro
com peitoris. À frente dos dois blocos de alvenaria estende-se amplo
12 Freire Alemão – Manuscritos, p.258.
38
Coleção Juvenal Galeno
terraço. Em redor da morada abrem-se despenhadeiros e atrás
alteiam-se pedras enormes.
(...) A mansão serrana era, então, decorada com requinte. Havia em sua
sala de visitas piano, sofá, cadeiras de palhinha, cadeiras de balanço,
armários com mangas e jarros. Em uma alcova viam-se castiçais de
cristal, cama armada de cortinados, rodapés rendados. Engenho
de moer cana, despoldador de café, pequeno açude constituíam
instrumentos de progresso e de conforto com que contava o senhor
daquelas terras. Uma casa de banho oferecia-lhe refrigério após as
fainas agrícolas.”
Sopeira que pertenceu à família Galeno. Em todas as peças que a
compõem, as iniciais da mãe de Juvenal.
Guilherme de Capanema descreve a casa grande do sítio Boa Vista e
a sua gente, assim:
“(...) uma casa grudada sobre pedras, com um portão de entrada,
sempre fechado, e uma latada de parreira, cujo tronco sai da fenda
de um rochedo; algumas roseiras e mimos de Vênus em flor dão a
essa morada, que bem se assemelha a um castelo da Idade Média, um
aspecto pouco sertanejo. Um lajeiro se estende pela frente da casa,
formando uma esplanada em que se seca o café; tudo em roda do
sobrado corre um estendal de tábuas para o mesmo fim. A medida de
39
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
enxugar o café em recinto fechado, tão perto de casa, foi ditada pela
necessidade, como preventiva contra ladrões, que não se contentam
em levar quanto lhes chegue para o gasto da casa; excedem sempre à
conta.
Nesse lugar onde a temperatura é agradável, onde há abundância
de boa fruta, e a límpida água despejando por cima dos granitos,
a murmurar todo ano, aí mora Juvenal Galeno, o vate dessas
translúcidas florestas primevas, que procura virar em Parnaso a uma
linda Aratanha, a qual, plantada no meio da grande planície, quase
sertão, parece um brilhante reluzindo no peito de caprichosa moça.
Juvenal passa hoje vida idílica, já largou a carreira política, pois há
dois anos era Deputado Provincial, e agora, procul negotiis, vigia as
colheitas de café e faz verso ao voar da pena. As folhas de Pernambuco,
O Cearense e a Revista de Mr. Garnier13 são provas de que o amável
cantor dos bosques não pendura a lira ao jenipapeiro.
O Sr. José da Costa é pessoa que aplica todo seu cuidado à cultura de
suas terras, que compensam seu trabalho com belas colheitas; o tempo
que lhe sobra, consome-o em leitura, e quando aparecem pessoas de
fora, encontram conversação agradável e variada. É entusiasta do
excelente Dr. Macedo da Moreninha, ao qual já prognosticou que virá
a ser no futuro o nosso Alexandre Herculano. Além disso, é o químico
do lugar: o caju, o jenipapo, a laranja, e até mesmo a cana, foram
transformados com numerosas variantes em vinhos, e cada qual com
suas propriedades medicinais (...)”
13 Interessante constatar que o Dr. Guilherme de Capanema (1824-1908), engenheiro politécnico e físico de formação, chefe da seção de geologia, intelectual e amigo inseparável de Gonçalves Dias, se mostra bastante simpático à condição de poeta de Juvenal Galeno, à época, com apenas um livro publicado, o Prelúdios. E citar, já naquele período, a atuação de Galeno em periódicos de Pernambuco, do Ceará e na Revista Popular de Garnier, editor de Machado de Assis, o que demonstra certa notoriedade.
40
Coleção Juvenal Galeno
1860 – Domingos Olímpio, em Luzia-Homem, descreve a Comissão
Científica: “Era por volta da era de sessenta (...) Andava por estes
sertões uma comissão de doutores, observando o céu com óculos de
alcance, muito complicados (...). Os maiorais dessas comissões eram
homens de saber, Capanema, Gonçalves Dias, Gabaglia, um tal de
Freire Alemão, e um douto médico chamado Lagos e outros. Andavam
encoirados como nós vaqueiros; davam muita esmola e tiravam, de
graça, o retrato da gente, com uma geringonça que parecia arte do
demônio. Apontavam para a gente o óculo de uma caixinha parecida
gaita de foles e a cara da gente, o corpo e a vestimenta saíam pintados,
escarrados e cuspidos, num vidro esbranquiçado como coalhada.”
Imagem de Juvenal Galeno captada, na serra da Aratanha, por
daguerreótipo da Comissão Científica Exploradora, em 1860.
Março de 1860 – Capanema e Gonçalves Dias retornam a Fortaleza.
23 de abril de 1860 – Freire Alemão, em retorno ao Rio de Janeiro,
chega à Pacatuba e se hospeda na casa do capitão Henrique Gonçalves
da Justa. Gonçalves Dias chega alguns dias depois e fixa-se no sítio
Boa Vista, da família de Galeno.
41
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Maio de 1860 - Sobre o dia em que todos subiram e se reuniram na
serra, narra Freire Alemão:
“Não precisa dizer que fomos tratados à fidalga: mesa lauta e variada,
numerosa companhia de damas e cavalheiros. Estão aí o Sr. Justa e
sua mulher, filha do Sr. Costa. Dª. Maria Teófilo se pode dizer que se
faz impertinente de obsequiosa e amável; suas filhas estavam também
muito amáveis, fora do que tínhamos visto quando lá íamos o ano
passado; as duas moças filhas do Sr. Dr. Teófilo são também amáveis
e simpáticas. Fomos almoçar às 11 horas e o jantar acaba a noite e
com chuva que prometia ser abundante, pela braveza do caminho e
instância dos donos da casa.
Passou-se a noite na sala, fazendo-se jogos de prenda, de que eu já me
lembrava apenas, e um dos moços, sobrinho de Dª. Sabina, cantou
algumas modinhas.
É preciso dizer que nos jogos de prenda só não entrou o Sr. Costa
[o pai de Galeno]; tudo o mais, velhos e moços, foi da súcia: houve
abraços em profusão. Armaram-se, só para os homens de fora da
família, sete redes; a mim, coube-me uma magnífica e solitária em
uma alcova. O subdelegado também estava na festa (...)”
Ainda em maio de 1860 – Continua Freire Alemão:
“A nossa conversa em Pacatuba versou sobre Jardim, Crato, etc. etc.,
sobre as revoluções do Ceará de 17 e 24 [Confederação do Equador],
nas quais o Franklin [de Lima] figurou e a mulher contou os horrores
do Jardim, a morte de seu pai e vários seus parentes; diz ela que foram
mortos durante essas lutas sanguinolentas vinte e quatro de seus
parentes, e roubados outros. Esses horrores e barbaridades hão de
provavelmente ser escritas pelas pessoas que atualmente se ocupam
42
Coleção Juvenal Galeno
dessa matéria, como são o [Tomás] Pompeu14, o Juvenal [Galeno], o
[João] Brígido, o [Pedro Franklin] Théberge15 etc. etc.”
Maio de 1860 – Carta de Gonçalves Dias a Galeno16:
“Amigo Juvenal
Vim de Pacatuba na intenção de voltar logo por aqueles dias,
mas infelizmente as cousas atrapalharam-se por tal forma que ainda
agora é que passo a respirar mais livremente.
Sabe que Capanema17 caiu doente há mais de vinte dias de
umas febres complicadas com dor de estômago, por tal forma que o
14 Tomás Pompeu de Sousa Brasil (1818-1877), o futuro Senador Pompeu. Cursou o Seminário de Olinda, sendo ordenado em 1841. Formou-se na Academia de Direito, em Recife, em 1843. Em 1845 assumiu a direção do Liceu do Ceará. Em 1846 foi redator d’ O Cearense, tornando-se chefe do Partido Liberal do Ceará após a morte do Pe. José Martiniano de Alencar (1860). Foi Deputado Provincial (1846-1847), Deputado Geral no Rio de Janeiro (1845-1847 e 1848) e Senador (1864-1877).15 Pedro F. Théberge (1811-1864), médico e historiador francês, chegou a Pernambuco em 1837 e radicou-se em Icó, no Ceará, em 1845.16 É importante destacar que as cartas de Gonçalves Dias a Galeno, aqui apresentadas em sequência, foram encontradas (durante a última reforma da Casa de Juvenal Galeno, realizada em 2010) DATILOGRAFADAS, não sabemos por quem. Dos originais manuscritos destas, nada sabemos. Assim como não sabíamos do paradeiro dos originais da peça “Quem com Ferro Fere...” e de outros itens importantes do acervo da Casa que vinha sendo decomposto durante vários anos e que agora, aos poucos, retornam ao local de origem. Lendo-as, percebemos, pela comparação concomitante dos manuscritos dos membros da Comissão Científica, que elas confirmam os fatos acontecidos durante a passagem da Comissão, conforme pode-se observar nas notas equivalentes. Fizemos questão de colocá-las nesta edição como provocação, e como registro, crendo em uma solução futura. As datas, entretanto, com ligeiras variações, não batem precisamente com as dos relatos. 17 Capanema foi acometido de uma febre intermitente acompanhada de uma complicação estomacal que demorou para se resolver, obrigando a presença constante de Freire Alemão à Lagoa Funda, a fim de prestar-lhe atenção médica. Não melhorando, foi levado à casa do Dr. Ratisbona onde demorou-se mais de um mês. Em junho de 1860, Gonçalves Dias adoeceu, vítima de febres também intermitentes, durante uma viagem a Pacatuba. Com a chegada das chuvas, o prédio da Lagoa Funda ficou muito úmido, agravando seu quadro e resultando em sua transferência à casa de Ratisbona, na cidade. Ao final de agosto, após o seu restabelecimento, partiria para o Maranhão.
43
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Ratisbona18 o carregou para casa, onde continua doente.
O Coutinho19 ainda continua com os incômodos que trouxe do
sertão.
Como porém o que me dava mais cuidado era o Capanema, e
ele está entregue em boas mãos, creio que me poderei por ao fresco
apenas passe o vapor que se espera do Norte e então, daqui a alguns
dias, rebento por lá.
Mandei-lhe pelo Justa, isto é, dirigido a ele para lhe entregar, o
meu folheto à Presidência.
Abraços e lembranças ao Sr. Costa, à Sra. Maria, à sua gente
em suma.
Do A.G.
12 de maio de 1860.”
Junho de 1860 – A Comissão está em Fortaleza, em etapa
preparatória de retorno ao Rio de Janeiro. Gonçalves Dias e Capanema,
principalmente, decidem hospedar-se em uma casa em Jacarecanga,
18 Leandro Chaves de Melo Ratisbona (1824-1900), formado em Direito pela Academia de Olinda (1853), era figura de destaque no Crato. Em Fortaleza, era professor de língua portuguesa no Liceu do Ceará. Foi Deputado Provincial de 1858 a 1859 e, por diversas vezes, Deputado no Rio de Janeiro.19 João Martins Silva Coutinho (1831-1889) era adjunto da seção geológica da Comissão, formado em Matemática pela Escola Militar e foi professor de Geologia e diretor da seção de Geologia do Museu Nacional de 1857 a 1876. Participou também da Expedição Thayer, liderada por Agassiz. Em março de 1866, Coutinho levou Agassiz para a Serra da Aratanha. Na excursão a Pacatuba, iniciada em 7 de agosto de 1860, Coutinho adoeceu, ficando de cama por cerca de um mês. A seção geológica fica em Fortaleza até novembro e, em dezembro, ainda não restabelecido, Coutinho volta para o Rio de Janeiro para tratamento de saúde.
44
Coleção Juvenal Galeno
separados do velho e conservador Freire Alemão que hospeda-se,
com Manoel Ferreira Lagos, no sobrado da família Machado [local
onde hoje se encontra o prédio do Excelsior Hotel].
A casa da Lagoa Funda [“(...) a qual serviria mais tarde de Lazareto,
seria depois fábrica de curtumes e acabaria o que hoje é Escola
de Aprendizes Marinheiros20”], onde ficaram Gonçalves Dias e
Capanema, era um prédio quadrado, diante de uma lagoa, coberto
com telhas comuns e de vidro, caiado, composto por dois salões
com duas portas e janelas cada, separados por um corredor, quatro
quartinhos, duas salas longas e estreitas e outro salão que funcionava
como cozinha. No quintal, um pátio de areia, uma cacimba e outro
quartinho com banheiro. Do edifício, cercado por uma varanda,
repleta de armadores de rede, sustentada por caibraria de troncos de
carnaubeira e pilastras quadradas de cal e adobe, assentadas sobre
um parapeito, vê-se cajueiros, mangabeiras e juazeiros. A casa era
sempre animada por almoços ou jantares, com presença de mulheres
e de amigos, dentre os quais, Juvenal Galeno, Ratisbona, Tomás
Pompeu e o próprio Freire Alemão.
Nessa época, Juvenal era alferes da Guarda Nacional do Terceiro
Batalhão de Fortaleza e seu comandante era o Coronel João Antônio
Machado (1824 – 1882), irmão do senador do Império, José Antônio
Machado (1782 – 1868), que foi eleito Presidente da Província
por quatro vezes, personalidade ilustre e respeitada na cidade,
proprietário do famoso sobrado21, um dos primeiros (se não for o
primeiro) da cidade, onde ficou hospedado Freire Alemão.
20 Gustavo Barroso em À Margem da História do Ceará, PMF, FUNCET, 2ª edição.21 Construído em 1825, “o sobrado era uma sólida construção, em estilo português, de dois andares, cheio de janelas, mas de aposentos pequenos, próprio para famílias numerosas. Foi posteriormente transformado em Hotel Central e depois, em 1927, demolido”, conforme conta Paulino Nogueira.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
A Guarda Nacional foi criada no Império com objetivo de substituir as
antigas milícias coloniais, sendo extinta com o advento da República.
Para fazer parte da Guarda era preciso ter certo recurso e condição
para fardar-se por conta própria (os uniformes eram inspirados no
modelo francês) e ter disponibilidade de tempo para apresentar-se22.
Farda da Guarda Nacional, acervo Museu do Ceará
O que se deu foi que, uma dessas paradas para revista do Batalhão
da Guarda Nacional, na praça da Matriz, aconteceria justamente
no dia e horário marcados para um almoço, na casa da Lagoa
Funda, Jacarecanga, à convite do Dr. Coutinho. Gonçalves Dias,
22 Os Ziguezagues do Dr. Capanema, Maria Sylvia Porto Alegre, Museu do Ceará, SECULT, 2006.
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Coleção Juvenal Galeno
que estava doente à época, e hospedado na casa do Dr. Ratisbona,
chegou ao almoço com Freire Alemão, Tomás Pompeu, Bandeira
de Melo, Ratisbona e Numa Pompílio, onde se encontrava também
o Dr. Capanema. Galeno faltou à parada, participou do almoço,
degustando um peru e desgostando seu comandante, um dos homens
mais importantes da cidade23, que, como pena disciplinar, mandou
recolhê-lo durante seis dias na prisão do Estado-Maior da tropa.
Juvenal tinha apenas 24 anos. Revolta-se e, como resposta, escreve
e publica, na Tipografia Americana de Teotônio Esteves de Almeida,
mesmo diante de apelos para não fazê-lo, A Machadada: poema
fantástico, onde, além de outras coisas, compara o “miserando João”
com um camelo. Os amigos de Galeno, em pirraça, distribuem a obra
a quem podem. Esta, possivelmente, a primeira obra literária
impressa no Ceará.
Capa de A Machadada
23 Gustavo Barroso em À Margem da História do Ceará, PMF, FUNCET, 2ª edição.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Anuncia o Autor em sua apresentação:
“Eis o parto de uma noite de insônia. Aleijada, torta ou coxa, vai a
criança como foi parida.
Falta-me o tempo para educá-la, ou para melhor dizer, não tenho a
coragem bastante para aturá-la por mais dias na minha pasta, onde,
endiabrada, como ela é, certamente rusgaria com seus irmãozinhos
mais ou menos iguais em gênio.”
Sobre o caso, diz mais Gustavo Barroso em sua À Margem da História:
“(...) Essas rimas arrasavam o velho comandante superior e, antes
que viessem a público, delas transpirou circunstanciada notícia. Isto
levou os amigos do poderoso coronel a intervirem, procurando evitar
a publicação, uns junto ao impressor, oferecendo-lhe até suborno, o
que ele repeliu; outros junto ao Poeta, que não cedeu uma linha. A
Machadada saiu mesmo e não houve como a vítima escapar aos seus
terríveis golpes.”
Capanema, em seus manuscritos, atribui ao coronel João Antônio
Machado as intrigas e boatos que manchavam a reputação dos
membros da Comissão.
Julho de 1860 – Carta de Gonçalves Dias a Galeno:
“Amº Juvenal
Procuro nos cadernos de poesias que v. me deixou aquela Bilu,
Biluzinha! [ “À Isabel”, do Lendas e Canções Populares, 1865]... e não
acho nada. Parece que estava no que v. levou.
Caí na asneira de dizer a Sra. Bilu que v. tinha uma poesia a
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Coleção Juvenal Galeno
seu nome e ei-la como bicho carpinteiro, que não me deixa descansar.
Por fim já não posso passar por aquela rua, porque a endiabrada
parece que não sai mais da janela à espera de seus versos.
Veja pois v. por quem é, se me manda uma cópia dela quanto
antes.
Estou melhor, mas ainda não completamente bom24.
Os seus como estão? Lembranças a seu pai, mãe e mana e aceite
muitas saudades
de seu
A.G. Dias.
Ceará, 31 de julho de 1860.”
Outubro de 1860 – Carta de Gonçalves Dias a Galeno:
“Diz-me v. não ter recebido as Cantigas do sertão25. ‘Stá-me
parecendo que lhe mandei tudo quanto tinha seu em meu poder.
Todavia como pode ser que eu esteja laborando em erro, vou passar
revista aos meus papéis a ver se as encontro.
Não lhe mandei a Revista [Guanabara?] porque estava fechado,
24 Gonçalves Dias realizou diversas viagens a Pacatuba. O Poeta tinha saúde frágil e, diante das condições encontradas durante tais viagens, ficou doente. Em agosto de 1860 embarcou para o Maranhão, lá ficando até fevereiro de 1861, quando partiu para Belém e Manaus, aliviado por ter se afastado da Comissão (Biblioteca Nacional, 1964, 8.4.1861, p.287-289)25 Seria o tal Cantigas do Sertão, um esboço do que seria o futuro Lendas e Canções Populares? Isso já em 1860 quando o Lendas só viria a ser publicado em 1865? Isso provaria o quanto Galeno já optava pela poética popular mesmo sem receber nenhuma indicação de Gonçalves Dias que, em outra cart,a ainda o afirmaria: “Como ainda nos teremos de ver, eu lhe direi o que me parece do merecimento das suas poesias; mas creia que v. é o melhor juiz do seu valor relativo”? Mais provocações.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
e ignorava onde paravam as chaves. Como a Comissão se tem de
reunir na Capital do Ceará em dezembro, é bem possível que eu possa
satisfazer o seu pedido.
Não o pude preveni-lo de meu embarque porque como v. muito
bem conjecturou, foi cousa de momento. É certo que eu tencionava
partir, mas o quando era duvidoso. Ainda na manhã do dia da minha
partida me achava irritado.
Como ainda nos teremos de ver, eu lhe direi o que me parece
do merecimento das suas poesias; mas creia que v. é o melhor juiz do
seu valor relativo.
Muitas recomendações a seu bom pai, a todos os nossos amigos
de Pacatuba e Aratanha e creia-me como sou
S. verdadeiro amigo
Maranhão, 1º de outubro de 1860.”
1861 – A Porangaba: lenda americana, poemeto indianista de
Galeno, é publicado pela Tipografia Cearense de Joaquim José de
Oliveira. Distribuído em quinze cantos, A Porangaba é uma lenda
contada por um caboclo a Galeno, conforme o próprio Autor explica.
Nela, discorre a história trágica de Porangaba, bela índia tabajara,
oferecida, aos quinze anos, ao português visitante (o personagem não
tem nome, sendo chamado pelo narrador de Luso, Lusitano, Emboaba
ou Branco), tradição da tribo. O aventureiro, entretanto, parte, na
manhã seguinte, deixando triste a índia que o esperaria durante três
anos. Pirahuá, valoroso guerreiro tabajara, entretanto, nesse ínterim,
recebe Porangaba em casamento, como presente da tribo, pela sua
atuação heroica nas guerras travadas. Porangaba aceita-o com apatia,
afinal, a sua alma já havia sido oferecida ao branco ingrato. Passados
os três anos, o Emboaba regressa à procura daquela por quem
se apaixonara — não o percebera de imediato — e, ao encontrá-la,
50
Coleção Juvenal Galeno
suplicar seu perdão e jurar seu amor, amam-se, às margens da lagoa
de Arronches, sendo logo surpreendidos pelo caçador Pirauhá que
mata, em batalha feroz, o seu opositor, e condena à morte, crivada
por flechadas, a amada esposa que o traía.
Folha de rosto de A Porangaba: Lenda Americana
Março de 1861 – Com exceção de Gonçalves Dias, que partira em
junho para o Maranhão e Amazonas, todos os demais membros da
Comissão estavam em Fortaleza, de onde, em julho, retornariam ao
Rio de Janeiro.
3 de abril de 186126 – Quem com Ferro Fere, Com Ferro será
Ferido, única peça de Galeno, nunca impressa até compor esta
Coleção, é encenada no Teatro Taliense (na rua Formosa, 72) pela
companhia portuguesa do ator Coimbra.
Juvenal apresenta a sua peça de único ato com um “título-provérbio”,
sendo o “provérbio” um gênero menor no teatro, porém, pela sua
26 O Barão de Studart, em seu Dicionário Biobliográfico, afirma que a data de encenação foi 3 de novembro de 1861. Ficamos, entretanto, com a data registrada por Galeno nos manuscritos originais, até se prove o contrário.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
leveza era muito bem recebido pelas plateias, segundo Edigar de
Alencar em “O teatro Amadorístico em Fortaleza” (1980)27.
Marcelo Costa, estudioso e pesquisador do teatro cearense, em sua
coletânea de artigos, acusa: “seria oportuno pesquisar se não teria
sido esse trabalho [Quem com Ferro Fere...] de Juvenal Galeno o
primeiro trabalho teatral cearense. Assim, o grande poeta
criador da poesia popular no Brasil seria também o iniciador do
teatro escrito e encenado no Ceará.”
9 de fevereiro de 1862 – Juvenal Galeno é proprietário e redator
de O Peregrino28.
Fevereiro de 1865 – Juvenal Galeno é designado membro da
Comissão para Alistamento de Voluntários da Pátria (Guerra do
Paraguai) na Vila de Maranguape.
Abril de 1865 – É nomeado para o cargo de Inspetor Literário na
Comarca de Fortaleza.
1865 – Publica a primeira edição de Lendas e Canções Populares,
considerada, por muitos, sua obra-prima, e maior, pela Tipografia de
João Evangelista. A poesia simples, nativista, aparentemente ingênua
e profundamente social seria logo utilizada como instrumento
de agitação. Em meio a campanhas abolicionistas na Fortaleza,
recitavam-se lado a lado a poesia de Castro Alves e de Galeno, visto
então, como poeta abolicionista. José Aurélio Saraiva Câmara enfatiza
ser o Lendas e Canções “livro de alta expressão humana e folclórica,
onde reluz um protesto contra a escravidão e a justiça social”.29
27 Teatro na Terra da Luz, Marcelo Costa (org.), Edições UFC, Fortaleza, Ceará, 198528 F. Silva Nobre in Cronologia da Cultura Cearense, Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes do Rio de Janeiro, 1988.29 in Fatos e Documentos do Ceará
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Coleção Juvenal Galeno
Antônio Sales, em Retratos e Lembranças: reminiscências literárias
afirma que “Juvenal foi também talvez, o primeiro poeta
abolicionista do Brasil”.
Nas palavras de Galeno, em junho de 1864, na apresentação de
Lendas e Canções..., o lamento por saber sua obra incompreendida
entre a intelectualidade e a classe dominante, entretanto, valorizada
pelo povo: “Sei que mal recebido serei nos salões aristocratas e
entre os críticos que, estudando no livro do estrangeiro o nosso
povo, desconhecem-no a tal ponto de escreverem que o Brasil não
tem poesia popular! (...) Desprezado nos salões, encontrarei bom
gasalhado na oficina, na choça, no seio do povo; o operário entoará no
trabalho estas canções, as crianças repeti-las-ão no lar, e o veterano
recrutado, o escravo, o oprimido... derramarão muitas lágrimas ao
escutá-las. E, assim, cumprirei a minha missão.”
Agosto de 1865 – Fundação, pelo Bispo D. Luís, do Colégio da
Imaculada Conceição. Maria do Carmo Cabral, futura esposa do
Poeta, é uma de suas primeiras alunas.
1866 – Falece José Antônio da Costa e Silva.
1866 – O Barão Homem de Melo, Presidente do Ceará, em companhia
de João Brígido, visita o Sítio Boa Vista30.
9 de abril de 1866 - O zoólogo e geólogo suíço, naturalizado norte-
americano, Louis Agassiz e esposa, a escritora Elizabeth Cary Agassiz,
autores de Viagem ao Brasil (1865-1866), hospedam-se no Sítio Boa
Vista.
Agassiz era chefe da expedição Tayer que, saindo de Nova York,
30 João Brígido – “Os Costas (Albanos)”, Unitário de 9 a 11 de janeiro de 1917.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
passaria pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais, nordeste do Brasil e
terminaria na Amazônia.
8 de outubro de 1869 – O povoado de Pacatuba é elevado à
categoria de Vila.
1870 - Juvenal Galeno figura na lista de colaboradores do Jornal das
Famílias (1863-1878) — assim como na lista a ser publicada em 1877
—, periódico “dedicado às senhoras de bom gosto”, publicação da
Garnier, da rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, impresso em Paris.
No jornal escrevem também Joaquim Manuel de Macedo, Machado
de Assis (o mais assíduo colaborador, algumas vezes utilizando-se de
pseudônimos), Fernandes Pinheiro Júnior, Bittencourt Sampaio e
Lúcio de Mendonça (embora seu nome não figure em tais listas).
Alexandra Santos Pinheiro em Para Além da Amenidade: o
Jornal das Famílias e sua rede de produção, doutora em Teoria
e História Literária pelo Instituto de Estudos da Linguagem da
UNICAMP (2007), cita: “[Augusto Emílio] Zaluar e [Juvenal] Galeno
representam, no mesmo período em que Machado de Assis ensaia
seus contos com personagens urbanas, o projeto de uma literatura de
tendência regionalista”.
1871 – Galeno publica, pela Tipografia do Comércio, com venda na
livraria de Joaquim J. d’Oliveira, Canções da Escola, obra adaptada
pelo Conselho de Instrução Pública do Ceará para uso nas aulas do
Curso Primário, com o objetivo de “desenfadar o menino, alegrando-
lhe o espírito e de predispô-lo, portanto, para continuar o trabalho, —
ensina-lhes úteis preceitos e serve-lhes de estímulo, prêmio e castigo,
acabando por uma vez com a palmatória, esse brutal recurso da
inépcia no Magistério. É, sem dúvida, condição essencial do progresso
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Coleção Juvenal Galeno
no ensino, que a criança ame o mestre e a escola, e deleite encontre na
lida que lhe cabe na idade dos brinquedos e sorrisos; que veja no seu
mestre um amigo carinhoso, e não o desapiedado algoz; n’aula a casa
do contentamento, e não a do martírio; e na convivência dos livros
sinta entusiasmo e gosto, e não o tédio e o sono. Conseguindo isto,
nada mais falta conseguir. E qual o meio mais eficaz do que a canção,
a harmonia, esse doce poder que tudo vence na terra?”
Capa de Canções da Escola
1871 – Publica, pela Tipografia do Comércio, a primeira edição
de Cenas Populares, o primeiro livro de contos do Ceará,
composto por oito textos narrativos, alguns em caráter documental,
ambientados no sertão e praias cearenses. Segundo Sânzio de
Azevedo, em sua apresentação ao livro, “a simpatia do autor pelo
povo simples, trabalhador e religioso povoa todas as narrativas desse
livro, passadas ora na praia (‘Os Pescadores’ e ‘Amor do Céu’), ora no
sertão (‘O Senhor das Caças’ e ‘O Serão’). Contando casos de amor, de
lutas políticas, de assombração ou de enlevo diante da beleza da terra,
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
são as Cenas Populares o marco inicial do conto no Ceará, em pleno
Romantismo”.
1872 – “Na Província, Juvenal Galeno se tornara a figura dominante
no meio literário, chegando a montar uma tipografia, denominada ‘do
Comércio’, para publicar suas obras, o que, depois dele, também faria
o Barão de Studart. Na referida oficina foi editado, pelo proprietário,
o periódico Lira Cearense, que saía aos domingos, sempre com novas
produções poéticas” (Nobre, Geraldo em A Introdução à História do
Jornalismo Cearense)
De fato, de janeiro a fevereiro, o Lira era distribuído, semanalmente,
num total de oito números. Nelas, encontravam-se poesias datadas
de 1866 e 1872, sob o título de Canções Populares (Lira Popular). Em
março, entretanto, o folheto passou a ser distribuído mensalmente, e
apresentava poesias sob o título de Ecos Silvestres (Lira Americana).
Então intitulado Porangaba: lagoa de Arronches, a saga da índia
tabajara, editada em 1861, seria impressa no nº. 9, de março de 1872.
Em abril, Juvenal publica as Folhas do Coração (Lira Íntima). Ao
final do ano, reúne todas as suas publicações e imprime a edição Lira
Cearense, com o subtítulo Poesias Populares — Americanas — e
Íntimas.
1872 – O Clube Democrático Cearense compra a tipografia de Juvenal
Galeno a um conto de réis, soma considerável na época, pagando-a
em dez prestações mensais.
26 de agosto de 1874 – D. Marica Teófilo escolhe o local onde será
construída a igreja matriz de Pacatuba31.
31Pacatuba: geografia sentimental, Manoel Albano Amora, Ed. Henriqueta Galeno, 1972.
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Coleção Juvenal Galeno
19 de maio de 1876 – Juvenal é nomeado terceiro suplente do Juiz
Municipal e de Órfãos de Pacatuba.
19 de novembro de 1876 – Casa-se, aos 40 anos, em cerimônia
celebrada pelo Bispo Dom Luís Antônio dos Santos, na sua fazenda
na serra da Aratanha, com a jovem Maria do Carmo Cabral e Silva, a
Mariquinhas, filha do Comendador Cabral de Mello.
Apaixonado desde a mocidade pela prima Maria da Justa, tardou a
assumir matrimônio. Maria da Justa que, em versos de Galeno, sob o
pseudônimo do “terrível” Silvanus, publicado em 1891, virou Sancha,
a fútil e deslumbrada esposa de D. Paio, o Dom Ratinho, ou melhor,
Luís Seixas Correa.
Maria do Carmo Cabral e Silva, esposa de Galeno.
21 de fevereiro de 1882 - O Comendador João Antônio Machado,
protagonista do caso A Machadada, educado em Lisboa, comandante
da Guarda Nacional de Fortaleza, adido à Tesouraria da Fazenda até
1871, ocupante de diversos cargos de eleição popular e de nomeação
do governo, inclusive a Vice-Presidência da Província, morre solteiro,
aos 58 anos, vitimado por hepatite.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Sobre o celibato de Machado, em A Machadada, 22 anos antes do
falecimento do criticado protagonista, já cantava o vate:
(...) Ele, o solteirão, que não depara
Uma moça, sequer, que ao ver-lhe a cara,
O queira para esposo! Uma conheço
Que o traz pelo cabresto ou pelo beiço,
Sem por ele sentir um só desejo,
Pois té sente-lhe o fedor de percevejo!...(...)
2 de fevereiro de 1883 – Sessão solene de emancipação dos
escravos em Pacatuba, cinco anos antes da abolição brasileira, com
a presença e liderança de Rodolfo Teófilo, primo de Juvenal, além de
Maria Tomásia, João Cordeiro, Frederico Borges, Barão de Studart,
General Tibúrcio, Liberato Barroso e outros membros de diversas
organizações como a Sociedade Cearense Libertadora, a Libertadora
Pacatubana, a Libertadora Artística Acarapense, a Libertadora
Mossoroense, Clube dos Libertos, Perseverança e Porvir, Clube
Abolicionista de Soure, Clube Abolicionista Militar e outras.
A D. Marica Teófilo, mãe de Juvenal, não apenas liberta os escravos
do Sítio Boa Vista, como também contribui financeiramente para a
causa e a emancipação de outros32.
1886 - Fundação do Clube Literário, com a participação de João
Lopes, Antônio Martins, Antônio Bezerra, Francisca Clotilde, Oliveira
Paiva, Farias Brito, Juvenal Galeno, Rodolfo Teófilo e outros, que
tinha, como órgão de divulgação, a revista A Quinzena (1887-1888).
1887 – Juvenal e a esposa deixam Pacatuba com quatro filhos
(Antônio, Maria do Carmo, José e João) e fixam residência em
32 Libertador, em 3 de fevereiro de 1883.
58
Coleção Juvenal Galeno
Fortaleza na rua General Sampaio, onde nasceriam Henriqueta e
Julieta.
Conforme Albano Amora, “até 1886, o seu domicílio seria a Vila de
Pacatuba, em cujas ruas também manteve um estabelecimento de
lojista. Exerceu, então, o cargo de 3º suplente do juiz municipal e de
órfãos e teve patente de Alferes Agregado ao Batalhão nº 1 da reserva
da Guarda Nacional”.
4 de março de 1887 – É eleito e toma posse de cadeira no Instituto
do Ceará.
1889 – É nomeado pelo Presidente da Província, Sr. Caio Prado,
bibliotecário da Biblioteca Pública [na época, instalada na rua Sena
Madureira], em substituição a Antônio Augusto de Vasconcelos.
Seguiria com o cargo durante os próximos 19 anos.
1892 – é publicada a 2ª edição de Lendas e Canções Populares
pela Tipografia da Casa Editora Antônio Maria Pereira, em Lisboa,
Portugal, cujo editor era Gualter R. da Silva.
Capa de Lendas e Canções Populares, 2ª edição
59
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
À edição, cuja tiragem era de 3.000 exemplares, coisa rara na época,
foram acrescidas Novas Lendas e Canções, além de juízos críticos
de Pinheiro Chagas, Araripe Júnior, Franklin Távora, José Feliciano
de Castilho, Fernandes Pinheiro, Marques Rodrigues e Machado de
Assis.
1891 – Pela Tipografia Universal de Cunha Ferro e Cia, lança
uma coletânea de folhetins publicados no A Constituição, sob o
pseudônimo “Silvanus”.
Segundo Marco Aurélio Ferreira da Silva33, “Galeno nos deixou uma
espécie de ‘documentário verídico’ da vida cearense, em especial de
Fortaleza, do período que se estende dos anos 50 a 90 do século XIX”.
Capa de Folhetins de Silvanus
Outro fato importante percebido na escrita de tais folhetins, além do
revelado inconformismo de Galeno com a questão social (“A Barriga”,
33 Humor, vergonha e decoro na cidade de Fortaleza (1850-1890), coleção Outras Histórias do Museu do Ceará.
60
Coleção Juvenal Galeno
“Os Relógios”, “Os Barões”, “O Bandoleiro”, “A Civilização”, “Passeio”,
“Dom Paio”, etc.) e os rumos da modernidade — na verdade há, ao
mesmo, tempo o receio e deslumbramento diante dos novos tempos
que chegam —, muitas vezes declarado de forma pilhérica e anárquica,
é a sua defesa ao sexo feminino. Mesmo quando se apresenta com o
pensamento muito conservador, próprio de sua época, não podemos
esquecer, Galeno inova ao tomar partido da mulher, atribuindo ao
homem e ao seu comportamento (“Os Homens da Rua”) em relação à
esposa, a verdadeira “vítima do malvado”, a real causa dos malogros
no casamento e da dissolução da família.
27 de setembro de 1894 – Criação do Centro Literário, que teve em
seu seio nomes como Antônio Papi Júnior, Juvenal Galeno da Costa
e Silva, Raimundo de Farias Brito, Pedro Moniz, Quintino Cunha,
Temístocles Machado, Álvaro Martins, o Barão Guilherme Studart,
José da Silva Bonfim Sobrinho, Frota Pessoa, Ulisses Sarmento,
Francisco Alves Lima, José Pedro Soares Bulcão, José Albano, entre
muitos outros. O Centro publicou, de 1895 a 1896, a revista Iracema.
4 de agosto de 1895 – Estreia de Medroso de Amor, opus 17 nº.1, e
de Tu És o Sol, ambas de Galeno e Alberto Nepomuceno, no Instituto
Nacional de Música do Rio de Janeiro, tendo como intérpretes
Leopoldo Noronha (canto em Medroso...) e Camila da Conceição
(canto em Tu És...) e Alberto Nepomunceno (piano).
1º de outubro de 1895 - Na edição nº. 25 de O Pão, Antônio Sales
(Moacir Jurema) conta em sua coluna Os Quinze Dias como se deu
a homenagem que a Padaria Espiritual fez ao poeta Galeno, em sua
casa, no dia de seu aniversário (27 de setembro de 1895) de 59 anos,
quando foi-lhe entregue o Diploma de Padeiro-mor Honorário.
Sales afirma:
(...) a obra de Juvenal Galeno pertence ao número das que a ferrugem
das eras não corroi nem deforma.”
61
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Conta também: “Juvenal Galeno é hoje um velhote gordo, baixo,
ainda muito forte, de suissas brancas, usando óculos verdes quase na
ponta do nariz. Gozando de regular abastança, vive exclusivamente
para os seus, dos quais só se aparta para ir à repartição ou para
tratar de negócios indispensáveis. É um palestrador incansável,
muito espirituoso e finamente satírico. A propósito de qualquer
acontecimento tem sempre uma anedota engatilhada com que fazer
paralelo e tirar conclusões divertidas e causticantes. Muitas vezes faz
de sua pessoa e das suas obras o assunto das suas troças.”
O Padeiro-mor honorário, Juvenal Galeno
1902 – Cenas Populares ganha uma segunda edição, com publicação
de carta de José de Alencar ao autor, pela Tipografia Moderna à Vapor,
tendo como editor, Louis Cholowiecki, pela Tipografia Moderna a
Vapor, Ateliers Louis, na rua Formosa, 71.
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Coleção Juvenal Galeno
Capa de Cenas Populares, 2ª edição
1906 - Surgem os primeiros sinais de glaucoma.
6 de outubro de 1906 - Joaquim Pimenta, Raul Uchoa, Mário
Linhares, Genuíno de Castro, Eurico Matos e Jaime de Alencar
lançam a primeira edição de Fortaleza: revista literária, filosófica,
científica e comercial, impressa na Tipografia Minerva.
Colabora com a revista Juvenal Galeno, Rodolfo Teófilo, Soriano
Albuquerque e outros.
6 de outubro de 1907 - A edição nº. 12 de Fortaleza publica em sua
página 19 a fotografia de Juvenal Galeno, “o esquecido”, gordo e com
grandes costeletas brancas, e anuncia as sua absoluta cegueira.
1908 – Atacado de glaucoma, aposenta-se do serviço público,
irremediavelmente cego. Passa a viver de sua aposentadoria, da
produção de seu sítio e do aluguel de imóveis.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Juvenal, “o esquecido” e cego.
27 de setembro de 1916 - Comemoração do 80º aniversário de
Galeno com conferência de Pedro Queiroz.
6 de dezembro de 1916 - Elogio de Quintino Cunha à Ulisses
Bezerra na Casa de Juvenal Galeno.
27 de setembro de 1918 - Comemoração do Jubileu Literário,
curiosamente 53 e não 50 anos depois, de Lendas e Canções
Populares por meio de uma festa litero-musical com recitais, canções,
apresentações de crianças e senhoritas coordenadas por Adelaide
Amaral, de uma orquestra feminina e da banda de música do 46º
Batalhão e Caçadores.
O Poeta recebe um Diploma de sócio honorário do Grêmio Literário
Cearense pelas mãos de Clodoaldo Pinto.
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Coleção Juvenal Galeno
Presentes no evento: o Presidente do Estado, João Tomé, Torres
Câmara, Aurélio de Lavor, José Lino da Justa, Rodolfo Teófilo, Alf
Castro, Luís Sombra, Antônio Sales, Quintino Cunha, Sales Campos
e Gilberto Câmara.
Sobre o evento, Juvenal publicaria no Correio do Ceará, em fevereiro
de 1919:
“ ‘Eu estava descansado
Não bulia com ninguém;
Como buliram comigo,
Agora me queiram bem’
Canta o povo na viola,
E aqui eu canto também.
(...)
Eis que entrando em minha casa
Um bando de corações,
Vejo ledo anunciar-me
O jubileu das ‘Canções’,
Que festejar pretendiam
As sinceras afeições.
(...)
E o tristonho bardo cego,
Que só pensava em morrer
Por causa de tanto estímulo
Sentiu-se então renascer,
E logo ditou mil versos
Que não podia escrever.
E por isso, meus leitores,
Apesar da minha idade,
Apareço com frequência
65
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Em jornal desta cidade,
Cantando como cantava
Nos tempos da mocidade.”
1919 - Galeno contribui frequentemente com o Correio do Ceará.
18 de junho de 1919 - Homenagem na Casa de Juvenal Galeno a
Leonardo Mota.
30 de julho - Palestra de Alf. Castro.
6 de agosto de 1919 - Homenagem a José Albano, na Casa de
Juvenal Galeno, por José Sombra.
27 de agosto de 1919 - Homenagem a Cruz Filho na Casa de Juvenal
Galeno.
Aniversário de Juvenal Galeno
66
Coleção Juvenal Galeno
27 de setembro de 1919 - Fundação do Salão Juvenal Galeno, em
comemoração aos 83 anos do poeta — depois seria Casa de Juvenal
Galeno — um dos principais redutos da intelectualidade cearense,
em sua casa na rua General Sampaio nº. 1128, Centro, Fortaleza. Na
ocasião, Mário da Silveira proferiu conferência A Eterna Emotividade
Helênica.
18 de agosto de 1920 - Homenagem a Justiniano de Serpa, no
Salão Juvenal Galeno, com discurso de Leonardo Mota e leitura de
poema de Galeno, por Henriqueta.
27 de setembro de 1920 – Inauguração, às 9 horas da manhã,
da rua Juvenal Galeno, antiga estrada do Soure, atual trecho da av.
Bezerra de Menezes, situado entre a praça do Mercado São Sebastião
e o trilho de ferro (Otávio Bonfim), pelo prefeito Godofredo Maciel e
com discurso de João Viana, representando a família do homenageado
e de Claro de Andrade, em nome dos moradores.
Momento da colocação da placa da rua Juvenal Galeno, hoje, início da
avenida Bezerra de Menezes.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Nessa rua, existiam vinte casas de propriedade de Juvenal Galeno.
Hoje, a rua Juvenal Galeno situa-se no Benfica.
16 de outubro de 1920 - Funda-se, em Fortaleza, o Centro de
Estudos Juvenal Galeno, posteriormente denominado Academia dos
Novos.
13 de junho de 1921 – Estreia de Medroso de Amor (moreninha),
opus 17 nº.1, de Galeno e Alberto Nepomuceno, no Teatro São Pedro
de Alcântara no Rio de Janeiro, tendo como intérpretes Maria Ema
Freire (canto) e Orquestra regida por Villa Lobos.
10 de agosto de 1921 - Homenagem a Antônio Sales, no Salão
Juvenal Galeno, com leitura de poema de Galeno, por Julinha, e A
Classicomania, conferência de Sales.
Agosto de 1921 - Antônio Sales escreve para O Norte, em suas
Cartas do Ceará:
“(...) reina o desânimo nas hostes das letras, que, parece, estão à
procura de um chefe, um meneur d’hommes que os leve à peleja de
idéias.
A única manifestação de vida mental, afora alguns escritos que
aparecem uma vez por outra na imprensa diária, são os serões
literários do Salão Juvenal Galeno. As filhas do grande poeta popular
(hoje cego e quase nonagenário), a senhora Galeno de Santana e da
dra. Henriqueta Galeno, possuidoras de uma fina educação social e
literária abrem seu salão, uma vez por outra, às quartas-feiras, para
uma festa literária e artística, a que concorre a fina flor de nossa
sociedade.”
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Coleção Juvenal Galeno
26 de agosto de 1921 – Concerto de Violões com a participação de
João Pernambuco e José Luís Calazans (Jararaca).
15 de setembro de 1921 – Estreia de A Jangada, composição
de Alberto Nepomuceno com a letra de Galeno, no Salão do Jornal
do Comércio d0 Rio de Janeiro, tendo como intérpretes Francelina
Oliveira Santos (canto) e J. Otaviano (piano).
27 de setembro de 1921 – Leitura da saudação de Sales Campos e
a carta de Justiniano de Serpa a Juvenal Galeno. Leitura, por Julinha
Galeno, de Palestra Íntima, de Juvenal, para seu 85º aniversário:
(...)
No dia vinte e sete de setembro,
De mil oitocentos e trinta e seis,
Na rua que chamava-se formosa,
Nasci na Fortaleza, onde me vês.
Privado da visão, mas conformado,
O dia passo triste e não passeio,
A noite sou feliz, pois durmo e sonho,
E sonhando eu versejo, enxergo e leio.
(...)
Muito amei os meus pais, nunca os deixando,
Casei-me tendo a sorte desejada,
Encontrando uma esposa carinhosa,
Companheira fiel e dedicada.
Os filhos eduquei, conforme pude,
Por sua terna mãe auxiliado,
E graças ao bom Deus, agora os vejo,
Em boa posição, ditoso estado.
69
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Exerci do país, honroso cargo,
Investido também fui de poderes,
Na justiça, polícia e nas escolas,
Cumprindo em toda parte os meus deveres.
Em prol da remissão da raça escrava,
Eu também combati, muito escrevendo,
Contando das senzalas os horrores,
E sobre o cativeiro discorrendo.
Poeta descantei a vida inteira,
Em minha mocidade, os meus amores,
Dos índios o viver em suas tabas,
E das belas cunhãs, meigos langores.
E da guerra, nos campos paraguaios,
Os feitos, exaltei dos combatentes,
De Sampaio, Tibúrcio e muitos outros
Brasileiros, soldados excelentes!
E cantei a labuta dos roceiros,
Dos homens do sertão as vaquejadas
E dos homens do mar as pescarias,
Sobre as ondas bravias nas jangadas.
(...)
Agora, poderia, meus amigos,
Acerbas provações, rememorar,
Mas hoje não é dia de tristezas,
E ninguém veio aqui para chorar.
5 de fevereiro de 1922 - Personalidade Literária de Juvenal
Galeno, conferência de Quintino Cunha, no Salão Juvenal Galeno.
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Coleção Juvenal Galeno
25 de outubro de 1924 - Recepção a Viriato Correia que também
proferiu palestra Festas Sertanejas, e leitura de poema de Galeno,
por Henriqueta.
18 de novembro de 1925 - Recepção a Guilherme de Almeida, com
saudação de José Sombra, no Salão Juvenal Galeno. 69º natalício de
Maria do Carmo.
Cédula de votação para eleição do Princípe dos Poetas Cearenses Vivos
(1925), ideia de Demócrito Rocha para a Revista Ceará Illustrado. Padre
Antônio Tomás foi o escolhido.
30 de junho de 1926 – “Sertão Alegre”, conferência de Leota.
19 de novembro de 1926 – Bodas de Ouro do casal Galeno, com
saudação de Faustino Nascimento.
8 de fevereiro de 1927 - Recepção a Manuel Bandeira, com
saudação de Gilberto Câmara, no Salão Juvenal Galeno.
7 de março de 1927 - Recepção ao maestro Souto Menor, com
saudação de Demócrito Rocha, no Salão Juvenal Galeno.
71
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
3 de agosto de 1927 - Recepção ao poeta amazonense Argemiro de
Araújo Jorge, com saudação de Caio Lemos e despedidas de Gilberto
Câmara, no Salão Juvenal Galeno.
16 de setembro de 1927 – Audição dos violonistas Santa Cruz e
Cirilo Lopes.
14 de setembro de 1928 - Recepção a Renato Viana, com saudação
de Beni de Carvalho, no Salão Juvenal Galeno.
1º de abril de 1929 - Recepção a Pascoal Carlos Magno, com
saudação de Perboyre e Silva, no Salão Juvenal Galeno.
5 de maio de 1929 - Recepção a Gustavo Barroso, com saudação de
Álvaro Bomílcar e Henriqueta Galeno, no Salão Juvenal Galeno.
6 de agosto de 1929 - Recepção a Herman Lima, com saudação de
Henriqueta Galeno e Giberto Câmara, no Salão Juvenal Galeno.
Capa da partitura de Alda
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Coleção Juvenal Galeno
27 de setembro de 1929 - Recepção à soprano Julieta Teles de
Menezes, com saudação de Carvalho Júnior e palestra de Demócrito
Rocha sobre o Poeta aniversariante, no Salão Juvenal Galeno.
2 de outubro de 1929 - O Nordeste publica Alda, balada de Juvenal
Galeno com música de Luigi Maria Smido.
6 de agosto de 1930 - Homenagem à Rachel de Queiroz pelo
lançamento de O Quinze, com saudação de Henriqueta Galeno e
Renato Viana, no Salão Juvenal Galeno.
Rachel de Queiroz, na Casa de Juvenal Galeno, ao lado de Alberto Galeno.
7 de março de 1931 - Morre, às 23 h e 40min, com a idade de 95
anos incompletos, o poeta popular e folclorista Juvenal Galeno da
Costa e Silva, um dos fundadores do Instituto do Ceará (Histórico,
Geográfico e Antropológico) e da Academia Cearense de Letras - ACL,
onde é Patrono da Cadeira nº. 23.
73
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
O Poeta em seus últimos dias, ao lado da esposa, ditando poesias para a
filha, Henriqueta.
Juvenal Galeno há muito não saía mais de sua casa. Em torno de
sua rede, recebia visitas de amigos, curiosos, neófitos da literatura.
Recebia-os com amabilidade e interesse.
Entretanto, desde os primeiros dias de março, fora acometido de um
quadro infeccioso.
Wilson Boia, autor de Ao Redor de Juvenal Galeno, assim descreve:
“O corpo do velho poeta, estendido no caixão mortuário, todo vestido
de negro, contrastando com suas longas barbas brancas, crucifixo
preso às mãos, o rosto coberto por um dos lenços que, ironia da vida,
sua filha Julinha lhe mandara, como presente de festas, da Alemanha
e que, infelizmente, chegara ao destinatário no dia de seu trespasse.
No vasto salão olhavam-no, pela última vez, das paredes, suas geniais
criações, a Chiquinha, o violeiro, o retirante, o vaqueiro, imortalizadas
pelo pincel de Otacílio de Azevedo.
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Coleção Juvenal Galeno
No dia seguinte, domingo, às dezesseis horas e quarenta minutos,
numa tarde chuvosa, sai o féretro da rua General Sampaio, 272 (hoje,
1128), seguido por sessenta automóveis, vários ônibus e pelo povo
que o compreendia e o amava.
Fernandes Távora, interventor federal e todo o seu secretariado
participa do cortejo até o Campo Santo, lá sendo feita a encomendação
do corpo pelo padre João Dantas. E sobre a sua sepultura, uma lira,
formada de flores de cor de neve, símbolo da pureza de um homem.”
Retrato de Galeno que, após seu funeral,
seus amigos tentaram levar da Casa.
7 de abril de 1931 - Sessão fúnebre, no Teatro José de Alencar, em
homenagem ao poeta Juvenal Galeno. O orador oficial foi o Dr. João
Otávio Lobo.
10 de maio de 1931 - Os pescadores e jangadeiros cearenses, além
de marinheiros e de alunos das escolas das colônias próximas, numa
manhã de domingo, no Porto das Jangadas da Praia de Iracema, em
frente ao antigo restaurante Ramón, prestam tocante homenagem
à memória do poeta Juvenal Galeno, que tanto os decantou.
Discursaram Audifax Mendes e Eduardo Mota, e recitaram versos
Napoleão Menezes e Mário Sobreira de Andrade. Presentes também
José Carvalho e Filgueiras Lima.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Grande movimento entre os pescadores e jangadeiros cearenses em
despedida ao seu Poeta.
Conta Wilson Boia que duzentas crianças, em coro, entoaram o Hino
a Juvenal Galeno, com versos de Napoleão de Menezes e música do
maestro Silva Novo.
25 de dezembro de 1932 - Natal dos Poetas: Homenagem à Martins
D’Alvarez e Filgueiras Lima, orações de Henriqueta Galeno, Aderbal
Paula Sales e dos homenageados.
18 de janeiro de 1933 - Homenagem à memória de Rodolfo Teófilo,
no Salão Juvenal Galeno.
19 de setembro de 1933 - Recepção a José Américo, com saudação
de Henriqueta Galeno, no Salão Juvenal Galeno.
27 de dezembro de 1933 - Natal dos Poetas: Palestra humorística
de Leonardo Mota sobre as festas natalinas, no Salão Juvenal Galeno.
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Coleção Juvenal Galeno
12 de janeiro de 1934 - Homenagem ao Centro Estudantal
Cearense, no Salão Juvenal Galeno.
23 de agosto de 1935 – Festa dos Livros, com saudação de Fran
Martins.
4 de setembro de 1935 – Festa das Crianças.
12 de setembro de 1935 – Audição Lítero-Musical do Recreio
Musical Cearense.
25 de novembro de 1935 – “A Vida harmoniosa de Ronald de
Carvalho”, conferência de Filgueiras Lima.
15 de janeiro de 1936 – Recepção ao casal Clóvis Beviláqua, com
saudação de Henriqueta Galeno, no salão Juvenal Galeno.
15 de fevereiro de 1936 - O Salão Juvenal Galeno é considerado de
utilidade pública por força do Decreto nº. 68 do, então, governador
Francisco de Menezes Pimentel. A Casa servira e servia de sede para
diversas entidades e eventos, dentre as quais: Sociedade Cearense
de Geografia e História, Comissão Cearense de Folclore, Academia
de Letras do Ceará, Centro de Cultura Estudantil, Associação de
Jornalistas e Escritores do Brasil, Centro de Estudos Juvenal Galeno,
Seção dos Novos (1937), Academia Cearense da Língua Portuguesa,
Seção dos Novos (1942), Academia dos Novos (1945), União Brasileira
de Trovadores, Clube dos Poetas, Escola Noturna Monsenhor Tabosa
para Alfabetização de adultos (junho de 1937), Editora Henriqueta
Galeno, Noite das Violas, Academia Cearense de Retórica, Ceia
Literária, Falange Feminina (futura Ala) e o Grupo Pitagórico.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
27 de maio de 1936 – Henriqueta Galeno realiza, na Associação
Brasileira de Imprensa do Rio de Janeiro, a conferência “Juvenal
Galeno, o legítimo criador do popularismo literário no Brasil”.
27 de setembro de 1936 - Henriqueta Galeno, filha de Juvenal
Galeno, cria a Falange Feminina do Salão Juvenal Galeno,
posteriormente, em 1942, chamada de Ala feminina da Casa de
Juvenal Galeno. Julinha Galeno inaugura a Academia Juvenal
Galeno no Rio de Janeiro.
30 de setembro de 1936 - Inauguração, com grande solenidade e
presença de autoridades e estudantes, da herma de Juvenal Galeno,
autoria da escultora Celita Vaccani, na praça Visconde de Pelotas,
atual Clóvis Beviláqua.
Berenice Morais, à época miss Fortaleza, filha de Tancredo Morais e
Adília de Albuquerque Morais, é uma das envolvidas na campanha,
junto à Câmara Municipal de Fortaleza, da ereção de um busto de
Juvenal Galeno. Em correspondência à redação de O Nordeste,
datada de 12 de dezembro de 1929, solicita apoio para colocação do
busto “em mármore” à sombra do baobá do Passeio Público.
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Coleção Juvenal Galeno
Herma de Juvenal Galeno
Programa de Inauguração da Casa de Juvenal Galeno
6 de dezembro de 1936 - Inauguração da Casa de Juvenal Galeno.
Descreve Wilson Boia: “Na noite de domingo de 6 de dezembro, na
fachada uma lira simbólica toda iluminada por lâmpadas mandadas
colocar pelo prefeito municipal [Raimundo Alencar Araripe],
inauguraram-se as novas instalações da família de Juvenal Galeno,
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
cujo salão principal, passando agora por uma completa reforma sob
a supervisão do arquiteto Emílio Hinton [Hinko?] se encontra em
melhores condições para acolher, com mais conforto, a numerosa
assistência que lá participa dos serões litero-artísticos. Entra assim, o
velho Salão de dezessete anos de existência em sua nova fase, a Casa
de Juvenal Galeno, ainda dentro das comemorações do centenário de
nascimento do poeta de Lendas e Canções Populares.”
5 de junho de 1937 – Criação da Escola Monsenhor Tabosa, de
alfabetização de adultos, solenidade presidida pelo Governador
Menezes Pimentel e com discursos de Henriqueta Galeno e Perboyre
e Silva, na época, Diretor da Instrução.
Inauguração da Escola Monsenhor Tabosa
26 de setembro de 1937 - Criação do Centro de Cultura Estudantil
da Casa de Juvenal Galeno.
20 de dezembro de 1937 - Instalação da Seção dos Novos da Casa
de Juvenal Galeno.
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Coleção Juvenal Galeno
8 de junho de 1938 - Instala-se, às 20h, no Salão de Honra da Casa
Juvenal Galeno, o Centro de Estudos Juvenal Galeno, com diretoria
provisória formada por Francisco da Silva Nobre, presidente; Lima
Leite, vice-presidente; Amauri Saraiva, secretário; Mário Pinto,
tesoureiro; Hélio Melo, orador; e Majela Nobre (o jornalista Geraldo
Nobre), bibliotecário. No dia 27 de setembro toma posse a diretoria
efetiva, tendo na presidência Joaquim Figueiredo Correia.
18 de dezembro de 1938 - Lançado o primeiro número da revista
Jangada, do Centro de Estudos Juvenal Galeno, sob a direção de
Francisco da Silva Nobre, com capa ilustrada por Rubens de Azevedo
e trecho do poema "Jangada", de Juvenal Galeno. Como redatores:
Hélio Melo, Antônio B. de Menezes, Gabei Gomes, Evangelista
Campos e Ferreira Ângelo.
1939 – “Cantiga Triste”, de Juvenal Galeno, musicada por Camargo
Guarnieri, figura no livro A Canção Brasileira, de Vasco Mariz, em
Paris.
1939 – “Quebra o Coco, Menina”, de Galeno, musicada por Camargo
Guarnieri, na interpretação de Olga Praguer Coelho, faz sucesso nos
Estados Unidos.
25 de março de 1939 - falecimento de Antônio Galeno da Costa e
Silva, filho do Poeta.
29 de novembro de 1940 – Julinha Galeno realiza a conferência
“Juvenal Galeno, o poeta nacionalista”, na Sociedade dos Amigos de
Alberto Torres no Rio de Janeiro.
16 de abril de 1942 - Falece, em Fortaleza, às 8h, Dª. Maria do
Carmo Cabral Galeno, viúva do poeta Juvenal Galeno, aos 84 anos,
de colapso cardíaco.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Bilhete de Juvenal para a sua Mariquinhas.
29 de agosto de 1943 – A Ala Feminina tem disponível a seção
“Jornal do Lar” de O Estado para divulgação dos trabalhos literários.
9 de julho de 1944 - Na Casa de Juvenal Galeno e na Sociedade 24
de Junho são instalados dois centros de serviços da Campanha do
Agasalho, em favor dos expedicionários cearenses.
18 de agosto de 1944 - Inauguração da Exposição de Pintura de
Raimundo Cela, na Casa de Juvenal Galeno, discursando durante a
solenidade o Dr. José Valdo Ribeiro Ramos e o acadêmico Osmundo
Pontes.
31 de maio de 1945 - O historiador Hugo Vítor publica artigo em
O Povo, mostrando que o poeta Juvenal Galeno foi Alferes da Guarda
Nacional.
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Coleção Juvenal Galeno
12 de agosto de 1945 - O Centro de Estudos Juvenal Galeno passa
a denominar-se Academia dos Novos, tendo na presidência Barros
Fontenele; na vice-presidência, Alberto Santiago Galeno; na 1ª
secretaria, Abelardo Golignac Lima; na 2ª secretaria, Antônio Alves
Queirós; na biblioteca, Orlando Catunda Fontenele; e como orador,
Flávio Passos Quintela.
26 de dezembro de 1946 - Promoção de animado serão literário na
Casa de Juvenal Galeno, denominado Natal dos Poetas.
25 de dezembro de 1949 - A Ala Feminina da Casa lança o primeiro
número de Jangada.
22 de janeiro de 1952 – Publicação no Diário Oficial do Estado dos
Estatutos da Ala Feminina da casa de Juvenal Galeno.
Otacílio de Azevedo, autor da “Galeria”, em retrato à aquarela sobre
madeira, de Rubens de Azevedo.
27 de setembro de 1952 - A Casa de Juvenal Galeno comemora o
43.° aniversário de sua fundação, com várias solenidades, inclusive
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
a inauguração da galeria de 31 retratos, a óleo, de poetas cearenses,
pintados por Otacílio de Azevedo, tendo o escritor Gustavo Barroso,
especialmente convidado, pronunciado uma conferência sobre a
poesia do patrono da Casa. Presentes o governador Raul Barbosa,
prefeito Paulo Cabral, secretário de Educação Waldemar Alcântara,
Monsenhor Quinderé, Florival Seraine e Filgueiras Lima. Com o
tempo outros retratos seriam adicionados à galeria. Os últimos, de
Clóvis Monteiro e José Maria Mendes, ambos em 1962. Os cupins,
infelizmente, derrotaram a galeria.
1953 - publicação do livreto O Que é a Casa de Juvenal Galeno.
Capa do livreto O Que é a Casa de Juvenal Galeno
setembro de 1954 - Fim de circulação da revista Jangada.
29 de junho de 1956 – Festa de São João. Recitativos de Otacílio
de Azevedo que apresentou, com seu filho Sânzio, sua autobiografia
em versos.
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Coleção Juvenal Galeno
29 de setembro de 1957 - Juvenal Galeno é proclamado “Patrono
dos Operários Cearenses”, durante mobilização de trabalhadores
filiados à Federação Operária, na praça da Bandeira, em frente da
herma do Poeta.
1958 – Criação da Biblioteca da Casa de Juvenal Galeno.
8 de maio de 1958 – Estreia de Tu És o Sol, de Juvenal Galeno e
Nepomuceno, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo como
intérpretes: Terezinha Navarro Serpa (canto) e Orquestra Sinfônica
Brasileira regida por Eduardo Guarnieiri.
10 de setembro de 1964 - Morre, aos 77 anos de idade, Henriqueta
Galeno, fundadora e mantenedora da Casa de Juvenal Galeno,
sua residência, onde faleceu. Era membro da Academia Cearense
de Letras/ACL, ocupando a Cadeira nº 23, cujo Patrono é seu pai,
Juvenal Galeno. Nascera em Fortaleza em 23 de janeiro de 1887.
Fortaleza concedeu-lhe uma rua no Dionísio Torres.
Henriqueta Galeno, por Jane Blumberg
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
10 de junho de 1965 - Posse, na cadeira nº. 23 da Academia
Cearense de Letras, cujo patrono é Juvenal Galeno, e último ocupante
Henriqueta Galeno, de Florival Seraine, que, depois de saudado por
José Valdivino de Carvalho, pronuncia seu discurso.
1965 – É publicada a 3ª edição de Lendas e Canções Populares pela
Imprensa Universitária do Ceará, tendo como introdução, o estudo
crítico de Francisco Alves de Andrade, membro do Instituto do Ceará,
como edição comemorativa do 10º aniversário de instalação da
Universidade Federal do Ceará, com capa de Nearco Araújo.
Capa de Lendas e Canções Populares, 3ª edição.
1965 - Fundação da Editora Henriqueta Galeno, sob a direção de
Nenzinha Galeno. A editora, de 1966 a 1985, lançou cerca de 69
títulos.
19 de março de 1966 - Fundação da Associação Cearense de
Folclore, na Casa de Juvenal Galeno, tendo à frente o professor
Romão Nogueira Filgueira Sampaio.
86
Coleção Juvenal Galeno
Casa de Juvenal Galeno
1966 – Gravação de Medroso de Amor, opus 17 nº.1, de Galeno e
Alberto Nepomuceno, pela Phillips, tendo como intérprete Nara Leão
e Orquestra regida por Rogério Duprat.
27 de junho de 1966 - Lançamento, na Casa de Juvenal Galeno, de
Cantos da Longa Ausência do poeta Sânzio de Azevedo (na época,
residindo em São Paulo).
31 de janeiro de 1967 - Fundação da Sociedade Amigos de Rodolfo
Teófilo. A solenidade de instalação, na Casa Juvenal Galeno, ocorreu
em 6 de maio e o primeiro presidente foi Lauro Ruiz de Andrade.
4 de abril de 1967 - Chega em Fortaleza o escritor Mozart Monteiro,
com a finalidade de, pessoalmente, oficializar a doação que fez de
sua biblioteca de 4 mil volumes à Casa de Juvenal Galeno e lançar
87
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
seus livros Nossa Senhora da Saudade e O Livro das Profecias, com
apresentação feita pelo jornalista José Caminha de Alencar Araripe
(J. C. Alencar Araripe).
31 de julho de 1967 - Acontece, na Casa de Juvenal Galeno, a
primeira Noite das Violas, tradicional encontro semanal. A Noite
reuniu doze das figuras mais expressivas do mundo dos violeiros,
dentre os quais os cantadores João Firmino, Benôni Conrado, Alberto
Porfírio, Antônio Ferreira, Vicente Granjeiro, Raimundo Cassiano,
José de Lima, Pedro Cesário, Moisés de Brito, Raimundo Adriano,
César Nildo, João Driano Monteiro, e teve dois momentos, sendo o
primeiro dedicado à memória do cego Aderaldo, falecido no dia 29 de
junho e considerado o maior violeiro do Nordeste de todos os tempos.
Umas das tradicionais Noites das Violas
13 de maio de 1969 - Posse da diretoria do Clube dos Poetas
Cearenses, em sessão solene na Casa de Juvenal Galeno.
11 de novembro de 1969 - Criação, em seção solene na Casa de
Juvenal Galeno, da União Brasileira de Trovadores/UBT, Seção do
Ceará, sob a presidência do escritor Vasques Filho.
88
Coleção Juvenal Galeno
1969 - Lançamento, pela Casa de Juvenal Galeno, da 3ª edição
de Cenas Populares, 2 ª edição de A Machadada e Folhetins de
Silvanus (em uma única edição) e da 1 ª edição dos inéditos Medicina
Caseira e Cantigas Populares. Todas, edições comemorativas de
Cinquentenário da Casa de Juvenal Galeno.
Capa de Medicina Caseira, publicação póstuma.
14 de novembro de 1974 - Fundação, na Casa de Juvenal Galeno,
da Sociedade dos Cantores, Violeiros e Poetas Populares do Brasil,
sob a presidência de Raimundo de Oliveira Arruda.
8 de abril de 1978 - Morre, no Hospital Silvestre, Rio de Janeiro,
a poetisa Julinha Galeno Voos, a única filha de Juvenal Galeno que
ainda estava viva.
1978 - É publicada a 4ª edição de Lendas e Canções Populares pelo
Banco do Nordeste. Edição sem créditos nem nome de ilustrador da
capa. De novo, apenas a apresentação de Cândida Maria Santiago
Galeno, à época, diretora da Casa de Juvenal Galeno.
89
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Capa de Lendas e Canções Populares, 4ª edição.
25 de janeiro de 1979 - Abertura, na Galeria Gardem de artes
plásticas, de exposição de Júlio Azevedo, artista plástico cearense
radicado em Recife/PE, já falecido, com promoção da Academia
Cearense de Letras/ACL e Casa de Juvenal Galeno, com trabalhos em
óleo e aquarela. Júlio era irmão do também artista plástico Otacílio
de Azevedo.
Júlio Azevedo
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Coleção Juvenal Galeno
25 de setembro de 1984 - A Prefeitura Municipal de Fortaleza
faz entrega à Casa de Juvenal Galeno, do busto do poeta, de autoria
de Celita Vaccani, que fora retirado da Praça Clóvis Beviláqua e
recolhido ao depósito da Prefeitura. Seu paradeiro era desconhecido
e denunciado pelos integrantes da Casa de Juvenal Galeno, como a
jornalista Orildes Sales Freitas, em sua Janela da Saudade.
Herma de Juvenal Galeno
Hoje, encontra-se no Salão Principal desta casa de cultura. No mesmo
dia é lançado o jornalzinho ALA, da Ala Feminina.
22 de julho de 1989 - Morre, aos 71 anos de idade, a escritora
Cândida Maria Santiago Galeno, a Nenzinha, cearense de Russas,
nascida em 18 de março de 1918. Pertencia à Academia Cearense de
Letras/ACL, à Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno e à Associação
Profissional dos Escritores do Ceará.
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Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Cândida Maria Santiago Galeno, a Nenzinha.
1991 – Alberto Galeno, neto de Juvenal, publica pela Casa de Juvenal
Galeno e Stylus Comunicação, a 2ª edição de A Porangaba com o
título e subtítulo, respectivamente, Porangaba: poema indianista
[na ficha catalográfica, o título e subtítulo apresentados são:
Porangaba: a lagoa e a índia Porangaba (um poema indianista)].
Na capa, ilustração de Rubens de Azevedo, a índia às margens da
lagoa homônima. Nessa edição, Alberto acrescenta à obra o poema
O Cearense.
Capa de Porangaba, 2ª edição (em livro)
92
Coleção Juvenal Galeno
11 de dezembro de 1996 - Fundação, na Casa de Juvenal Galeno,
do Movimento de Proteção ao Silêncio Urbano - Psiu, com sua
diretoria formada pelo jornalista Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez),
presidente; arquiteto Delberg Ponce de Leon, vice-presidente;
advogado José Estélio de Lima Melo, secretário; e professor Moacir
Marinho, tesoureiro.
29 de março de 2005 - Toma posse, em solenidade realizada na
Casa de Juvenal Galeno, a primeira diretoria da Sociedade dos Amigos
da Casa de Juvenal Galeno - SAJUGA. A presidente, Matusahila de
Sousa Santiago, é nomeada para o cargo pelo presidente de honra da
entidade, o escritor Alberto Santiago Galeno. A instalação da SAJUGA
dá-se no dia seguinte, às 19h30min, no Salão Nobre da Casa.
Patativa do Assaré, em visita à Casa de Galeno, ao lado de Alberto.
4 de maio de 2005 - Morre, aos 88 anos de idade, o historiador
e escritor Alberto Santiago Galeno, nascido aos 27 dias de março
de 1917 em São Bernardo de Russas, que esteve à frente da Casa de
Juvenal Galeno por muitos anos. Autor, entre outros, de A Praça e o
Povo e A Memória dos Cabeças-Chatas, publicados em 1991 e 1994,
respectivamente. Como cordelista, usava o pseudônimo Zé da Mata.
93
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
O jovem Alberto Galeno
27 de setembro de 2010 - Restaurada a Casa de Juvenal Galeno,
hoje, sob a direção de Antônio Galeno Santiago Júnior, é lançada
Juvenal Galeno: obra completa, parte da série Memória da Coleção
Nossa Cultura da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
Casa de Juvenal Galeno
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Coleção Juvenal Galeno
"Música", escultura na entrada da Casa de Juvenal Galeno.
Vida longa ao Poeta!
Juvenal Galeno é o próprio coração de uma pátria que somente
agora começa a pensar com o cérebro e que o imortalizará à face
da História.
Renato Viana, em carta à Henriqueta Galeno, 1931
95
Cronologia Comentada de Juvenal Galeno
Referência Bibliográfica
ALEGRE, M.A. Porto. Os Ziguezagues do Dr. Capanema. Museu
do Ceará, SECUL, Fortaleza, Ceará, 2006.
ALEMÃO, Francisco Freire. Diário de Viagem (Crato - Rio de
Janeiro 1859/1860). Museu do Ceará, SECUL, Fortaleza, Ceará,
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Este livro foi composto na fonte Georgia, corpo 11,
títulos no corpo 16. O miolo foi impresso no papel AP 75g/m²
e a capa em papel cartão supremo 250g/m².