juliana miyuki do prado aplicação da auriculoterapia verdadeira e ...
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JULIANA MIYUKI DO PRADO
APLICAO DA AURICULOTERAPIA VERDADEIRA
E SHAM NO TRATAMENTO DE ESTRESSE
EM ENFERMEIROS
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem na Sade do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestra em Cincias rea de concentrao: Enfermagem na Sade do Adulto Orientadora: Prof Dr Maria Julia Paes da Silva
SO PAULO
2014
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL
DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU
ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE
CITADA A FONTE.
Assinatura: _________________________________
Data:___/____/___
Catalogao na Publicao (CIP)
Biblioteca Wanda de Aguiar Horta
Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo
Prado, Juliana Miyuki do
Aplicao da auriculoterapia verdadeira e sham no tratamento de
estresse em enfermeiros. -- So Paulo, 2014.
98 p.
Dissertao (Mestrado) Escola de Enfermagem da Universidade
de So Paulo.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Jlia Paes da Silva
rea de concentrao: Enfermagem na Sade do Adulto
1. Terapias complementares. 2. Acupuntura. 3. Estresse reduo.
4. Estresse profissional. 5. Enfermagem. I. Ttulo.
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Nome: Juliana Miyuki do Prado
Ttulo: Aplicao da Auriculoterapia Verdadeira e Sham para
tratamento de estresse em enfermeiros.
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em
Enfermagem na Sade do Adulto da Escola de Enfermagem da
Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestra em
Cincias.
Aprovado em: ____/____/______
Banca Examinadora
Prof. Dr. __________________________ Instituio: ____________
Julgamento: ______________________ Assinatura: ____________
Prof. Dr. __________________________ Instituio: ____________
Julgamento: ______________________ Assinatura: ____________
Prof. Dr. __________________________ Instituio: ____________
Julgamento: ______________________ Assinatura: ____________
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DEDICATRIA
minha me, por estar sempre presente em minha vida, pelo
incentivo, por ser o exemplo de fora e dedicao. Minha gratido
eterna por continuar cuidando de nossa famlia com tanto zelo e
amor.
s minhas sobrinhas, Clarinha e Gabi, que desde o incio me
ensinaram o amor incondicional e o quanto maravilhoso ser tia e
madrinha. minha irm Camila e ao meu cunhado Fernando pelo
carinho e pela confiana depositada.
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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
minha querida orientadora Prof Dr Maria Julia Paes da Silva pela
oportunidade de crescimento profissional e pessoal e de
aprendizado como pesquisadora. Obrigada pela pacincia e
incentivo. Obrigada por despertar ainda mais meu interesse em
prticas integrativas desde a graduao.
minha professora de acupuntura Dr Leonice Fumiko Sato
Kurebayashi pelos ensinamentos sobre acupuntura e demais
prticas integrativas. Muito obrigada por despertar em mim o
interesse em outras formas de cuidar. Obrigada pela orientao,
acolhimento, ajuda e fora. Serei eternamente grata por tudo.
querida professora Dr Ana Lucia Siqueira Costa e querida Dr
Lia Fortes Salles pela participao no Exame de Qualificao e
pelas valiosas contribuies que possibilitaram a realizao desse
estudo.
Ao Ricky, companheiro de vida, por todos esses anos de
convivncia e amizade. Por me ajudar no apenas durante todo o
perodo desse estudo, mas durante todos esses anos de parceria.
Por estar presente sempre quando eu precisei. Obrigada pela
pacincia, pelo carinho, pelo respeito e por todos os momentos que
passamos juntos.
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AGRADECIMENTOS
A todos meus amigos, pela torcida, carinho e presena em todos os
momentos da minha vida. Obrigada por caminharem ao meu lado ao
longo de todos esses anos.
Aos queridos amigos: Ray, Katia e Yuka pela amizade, incentivo,
fora durante toda essa trajetria. E por tornarem os momentos mais
leves e divertidos com suas presenas.
s amigas da faculdade, gatas garotas, obrigada pela torcida e por
continuar somando boas histrias de convivncia desde o primeiro
ano de graduao.
s colegas da Escola de Enfermagem So Joaquim pelo apoio e
convivncia. Em especial diretora Cleide Maria Ferreira da Silva
Zorze, pela compreenso e por possibilitar meu desenvolvimento
como docente em Enfermagem. amiga Gilmara pelas conversas e
cafezinhos extremamente necessrios para aguentar a jornada
triplicada durante todo esse perodo.
enfermeira Denise Alves Saltini por autorizar e possibilitar a
realizao da pesquisa com os enfermeiros do Hospital Beneficncia
Portuguesa de So Paulo.
s colegas da Educao Continuada do Hospital Beneficncia
Portuguesa de So Paulo (Unidade So Joaquim), pelo acolhimento,
incentivo, carinho e parceria nessa nova jornada de trabalho e fora
nessa etapa final.
A todos os enfermeiros do Hospital Beneficncia Portuguesa de So
Paulo (Unidade So Joaquim) que participaram e viabilizaram a
realizao do estudo. Muito obrigada pela contribuio e pacincia!
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EPGRAFE
Todo conhecimento comea com o sonho. O conhecimento nada
mais que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra
sonhada. Mas sonhar coisa que no se ensina. Brota das
profundezas do corpo, como gua brota das profundezas da terra.
Como mestre s posso ento lhe dizer uma coisa: Conte-me os
seus sonhos, para que sonhemos juntos!
(Rubem Alves, 2012)
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Prado JM. Aplicao da Auriculoterapia Verdadeira e Sham para
tratamento de estresse em enfermeiros [dissertao]. So Paulo:
Escola de Enfermagem, Universidade de So Paulo; 2014.
RESUMO
Introduo: O estresse ocupacional na rea da Enfermagem est
relacionado a fatores multidimensionais, como condies de
trabalho, relacionamento interpessoal, gerenciamento do trabalho e
vida pessoal, entre outros. O estresse excessivo afeta o
desempenho e produtividade no trabalho e provoca disfunes e
doenas. A auriculoterapia tem se mostrado como uma das prticas
integrativas eficazes para o tratamento do estresse, alm de
apresentar custo financeiro reduzido e no necessitar de tempo
prolongado para sua realizao; portanto, pode ser uma tcnica
indicada para realizao dentro do ambiente dinmico como o
ambiente hospitalar. Objetivos: Comparar a eficcia teraputica da
auriculoterapia verdadeira e sham no tratamento de estresse
identificado nos enfermeiros do Hospital Beneficncia Portuguesa de
So Paulo Mtodo: Responderam a ficha de dados scio-
demogrficos e foram avaliados quanto ao nvel de estresse pela
Lista de Sintomas de Stress (LSS) e pela Escala Visual Analgica
257 enfermeiros de diferentes turnos de trabalho e setores. 168
apresentaram nveis mdio e alto de estresse e foram randomizados
em trs grupos: Controle, Placebo e Auriculoterapia. 133 finalizaram
o estudo. Os grupos Placebo e Auriculoterapia receberam 12
sesses de auriculoterapia, 2 vezes por semana. Os pontos
utilizados para o Grupo Placebo foram Ouvido Externo e rea da
Bochecha. Para o Grupo Auriculoterapia foram escolhidos os pontos
Shen Men e Tronco Cerebral. A LSS foi aplicada no incio, aps 8
sesses, aps 12 sesses e no follow-up de 15 dias, inclusive para o
Grupo Controle. A coleta foi realizada no perodo de outubro de 2013
a fevereiro de 2014, aps aprovao pelos Comits de tica em
Pesquisa da EEUSP e do Hospital. Resultados: O nvel de estresse
prevalente em todos os turnos de trabalho foi o nvel alto, com
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43,58% dos participantes. Os enfermeiros com cargos
administrativos apresentaram mdia de 59,43 de nvel de estresse,
enquanto os assistenciais 54,59. Quanto evoluo dos nveis de
estresse, no houve diferena entre os momentos de avaliao no
Grupo Controle. O Grupo Auriculoterapia apresentou diferena entre
a primeira avaliao e as demais (p
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Prado JM. Application of true and sham auriculotherapy for nurses
stress treatment. [dissertation]. So Paulo: School of Nursing, So
Paulo University; 2014.
ABSTRACT
Introduction: Occupational stress in Nursing is related to
multidimensional factors, like work conditions, interpersonal
relationship, work management and personal life. Excessive stress
affects work productivity and performance and provokes dysfunctions
and diseases. Auriculotherapy has been shown like one of effective
integrative practices for stress treatment, beyond to present reduced
financial cost and not to need a long time to be applicated. Therefore
it can be a suggested practice to be achieved in a dynamic
environment like a hospital. Obectives: To compare the therapeutic
efficacy of true and sham auriculotherapy in the treatment of
identified stress in nurses of Beneficncia Portuguesa Hospital of
So Paulo. Method: 257 nurses of different shifts and departments
answered the social data demographic form and were evaluated in
the stress level by List of Stress Symptoms (LSS) and Analogic
Visual Scale. 168 nurses reported high and middle stress levels and
were randomized in 3 groups: Control, Placebo and Auriculotherapy.
133 ended the study. The groups Placebo and Auriculotherapy
received 12 sessions of auriculotherapy, twice a week. The points
used for Placebo group were External Ear and Cheek area. For
Auriculotherapy group were chosen the points Shen Men and
Brainstem. LSS was applied in the beginning, after 8 sessions, after
12 sessions and in 15 day follow up, including for Control group. The
data collection was done from October 2013 to February 2014, after
approval by the Ethic Committees in Research of EEUSP and of
Beneficncia Portuguesa Hospital. Results: The level of stress
prevalent in all the work shifts was high level with 43,58% of the
participants. The nurses with administrative positions presented
average of 59,43 of stress level, while assistencial position 54,59.
About the evolution of stress level, there wasnt any difference
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among the moments of evaluation in the Control group.
Auriculotherapy group performed difference among the first
evaluation and the following ones (p
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Ilustrao esquemtica das respostas
fisiolgicas do estresse. So Paulo, 2014........
Figura 2 Ilustrao do pavilho auricular e imagem fetal.
So Paulo, 2014...............................................
Figura 3 reas no pavilho auricular segundo origem
embriolgica. So Paulo, 2014.........................
Figura 4 Principais inervaes do pavilho auricular.
So Paulo, 2014...............................................
Figura 5 Fluxograma de participao dos enfermeiros.
So Paulo, 2014...............................................
Figura 6 reas inervadas e pontos da pesquisa. So
Paulo, 2014.......................................................
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Distribuio dos participantes segundo sexo.
So Paulo, 2014..................................................................
Grfico 2 Distribuio dos participantes segundo estado
civil. So Paulo, 2014..........................................................
Grfico 3 Distribuio dos participantes segundo ps-
graduao. So Paulo, 2014...............................................
Grfico 4 Evoluo do escore de estresse entre os
grupos ao longo das avaliaes. So Paulo, 2014..............
52
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Mdia e Desvio Padro das variveis: Idade,
Tempo de formado (anos), Tempo de trabalho no setor
(anos). So Paulo, 2014......................................................
Tabela 2 Mdia e Desvio Padro da pontuao de LSS
dos tipos de cargos. So Paulo, 2014.................................
Tabela 3 Frequncia e percentual dos participantes
segundo nveis de estresse. So Paulo, 2014.....................
Tabela 4 Frequncia e percentual de participantes
segundo nveis de estresse pela Escala Visual Analgica
(EVA). So Paulo, 2014.......................................................
Tabela 5 Distribuio dos participantes nos turnos de
trabalho segundo os nveis de estresse. So Paulo, 2014..
Tabela 6 Frequncia dos participantes, mdia e desvio
padro da pontuao de estresse segundo tipos de
setores. So Paulo, 2014.....................................................
Tabela 7 Distribuio dos participantes que trabalham
ou no em outra instituio, segundo carga horria
semanal. So Paulo, 2014...................................................
Tabela 8 Mdia e desvio padro dos escores da LSS
dos grupos experimentais em cada avaliao. So Paulo,
2014.....................................................................................
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SUMRIO
1 INTRODUO .............................................................................. 17
2 OBJETIVO .................................................................................... 23
2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................. 24
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS .................................................. 24
3 REFERENCIAIS TERICOS ........................................................ 25
3.1 ESTRESSE ............................................................................ 26
3.1.2 Estresse Ocupacional ....................................................... 30
3.1.3 Estresse e Enfermagem ................................................... 31
3.2 AURICULOTERAPIA .............................................................. 34
4 HIPTESE .................................................................................... 39
4.0 HIPTESE NULA (H0) ............................................................ 40
4.1 HIPTESE ALTERNATIVA (H1) ............................................. 40
5 MTODO ...................................................................................... 41
5.1 LOCAL DE ESTUDO .............................................................. 42
5.2 AMOSTRA .............................................................................. 42
5.3 ASPECTOS TICOS .............................................................. 45
5.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .......................... 45
5.5 COLETA DE DADOS .............................................................. 46
5.6 ANLISE ESTATSTICA ........................................................ 50
6 RESULTADOS .............................................................................. 51
6.1 DESCRITIVA DOS DADOS SCIO-DEMOGRFICOS ......... 52
6.2 ANLISE INTERGRUPOS E EVOLUO DOS
NVEIS DE ESTRESSE SEGUNDO A LSS E EVA ...................... 59
6.3 TESTE DE CORRELAO ENTRE LSS E EVA .................... 61
6.4 REGRESSO LINEAR ENTRE OS NVEIS DE
ESTRESSE E CARGO, SETOR E TURNO DE
TRABALHO .................................................................................. 62
7 DISCUSSO ................................................................................. 63
7.1 LIMITAES DO ESTUDO .................................................... 70
8 CONCLUSO ............................................................................... 73
9 REFERNCIAS ............................................................................ 75
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10 APNDICE .................................................................................. 83
APNDICE A ................................................................................... 84
APNDICE B ................................................................................... 86
APNDICE C ................................................................................... 87
11 ANEXO ....................................................................................... 89
ANEXO 1 ......................................................................................... 90
ANEXO 2 ......................................................................................... 94
ANEXO 3 ......................................................................................... 96
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1 INTRODUO
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Estresse um tema muito discutido na atualidade,
popularmente e cientificamente, por meio de estudos realizados por
diferentes profissionais. Est presente no mbito pessoal e
profissional. H um consenso de que a Enfermagem uma profisso
estressante. O enfermeiro um profissional que presta assistncia
ao paciente e famlia, convivendo com situaes conflitantes, como
sofrimento e morte, nascimento e recuperao, principalmente
dentro do ambiente hospitalar (Bianchi, 2009).
O estresse influencia no bem-estar biopsicossocial do
indivduo e, alm de ter consequncias negativas no desempenho
profissional, pode afetar a instituio e o processo de trabalho, por
meio do absentesmo, alta rotatividade de profissionais e baixa
qualidade da assistncia (Guido et al., 2011).
O controle de fatores estressores depende da forma como
cada um aprende a lidar com os desafios e dificuldades que o
cercam, pois o estresse uma reao biolgica natural de
enfrentamento de situaes. S se torna patolgico quando h um
rompimento do equilbrio do organismo, fazendo com que alguns
rgos trabalhem mais e outros menos para poder lidar com o
problema (Lipp, 1996).
O conjunto de estratgias utilizadas pelo indivduo para se
adaptar a situaes adversas denominado coping. Os principais
estudiosos desse tema foram Folkman e Lazarus, que em uma
perspectiva cognitivista, propem um modelo dividido em coping
focalizado no problema e coping focalizado na emoo. Portanto,
nessa perspectiva, coping definido como um conjunto de esforos,
cognitivos e comportamentais, que os indivduos utilizam para lidar
com demandas internas ou externas originadas de situaes de
estresse e avaliadas como prejudiciais (Antoniazzi, DellAglio,
Bandeira, 1998).
Apesar do interesse pelo estudo sobre estresse relacionado
profisso de Enfermagem ter comeado a partir da dcada de 90 no
Brasil, pouco se discute sobre estratgias para minimizar o estresse
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ocupacional entre enfermeiros. Acredita-se que as prticas
complementares em sade podem ser utilizadas como estratgias
de enfrentamento de situaes de estresse. Essas prticas tm se
mostrado eficazes no controle e tratamento de doenas, alm de
proporcionar melhor qualidade de vida (Giaponesi, Leo, 2009;
Kurebayashi et al, 2012; Nakai, 2007; Prado, Kurebayashi, Silva,
2012; Rocha, Silva, 2011).
Segundo a Lei Municipal de So Paulo n 13.717 de 2004, as
prticas integrativas e complementares so definidas como prticas
que utilizem recursos naturais para promoo de sade e preveno
de doenas (So Paulo, 2004). Entre essas prticas, encontram-se a
acupuntura, fitoterapia, homeopatia, entre outras.
A auriculoterapia, ou acupuntura auricular, faz parte de um
conjunto de tcnicas teraputicas, baseada nos preceitos da
Medicina Tradicional Chinesa (MTC). Acredita-se que tenha sido
desenvolvida juntamente com a acupuntura sistmica que,
atualmente, uma das prticas orientais mais populares em
diversos pases e tem sido amplamente utilizada na assistncia
sade, nos aspectos preventivos e curativos (Souza, 2001). A
auriculoterapia uma prtica que apresenta importantes vantagens
por sua simplicidade na aplicao. Primeiro, exige pouco
equipamento e no necessita de grande espao fsico para sua
realizao. uma tcnica rpida, o tempo gasto para sua aplicao
no se estende mais do que 10 a 15 minutos, com custo mnimo.
Pode ser vantajosa, portanto, se comprovada sua eficcia como
estratgia de enfrentamento do estresse ocupacional em
enfermeiros hospitalares.
A partir da Portaria 971, as prticas integrativas e
complementares foram aprovadas no Sistema nico de Sade
(SUS), dentre as quais se destaca a acupuntura, realizvel por todos
os profissionais de sade como especialistas (Brasil, 2006). O
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) reconheceu as terapias
alternativas, entre elas a acupuntura, como especialidade e/ou
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qualificao do profissional enfermeiro pela Resoluo COFEN
n197/97 (Conselho Federal de Enfermagem, 1997), fixando a
especialidade de Enfermagem pela Resoluo COFEN n290/2004
(Conselho Federal de Enfermagem, 2004).
Para comprovao da eficcia de uma determinada tcnica
recomendada a utilizao de um grupo placebo-controle. Na
acupuntura e auriculoterapia tem se estudado formas de placebo
que no apresente tantos vieses (Lundeberg et al., 2009).
Em 2010 foi realizado um ensaio clnico randomizado com
estudantes de nvel mdio de uma escola tcnica de massoterapia e
acupuntura, cuja proposta foi observar se a auriculoterapia
verdadeira com os pontos Shen Men e Tronco Cerebral e a
auriculoterapia sham com os pontos Punho e Ouvido Externo,
apresentavam efeitos similares sobre os nveis de ansiedade e
estresse. Os resultados obtidos no indicaram eficcia dos pontos
de auriculoterapia verdadeira, com melhores resultados para os
pontos sham (Rocha, Silva, 2011). Como os estudantes recebiam
outros estmulos energticos durante o curso, como massagem,
reflexologia, acupuntura sistmica, entre outros, foi realizado outro
estudo, com o mesmo delineamento, em 2011, porm com
estudantes de nvel mdio de Enfermagem que no apresentavam
essa varivel.
Neste novo ensaio clnico concluiu-se que a auriculoterapia
verdadeira diminuiu os nveis de estresse e ansiedade em
estudantes de Enfermagem. A auriculoterapia sham tambm
apresentou melhora nos nveis de estresse e ansiedade, menor em
termos percentuais, porm no estatisticamente significativa em
comparao com a auriculoterapia verdadeira. Como limitaes
deste estudo, foram considerados a amostragem pequena e a
escolha inadequada dos pontos sham, pois foram encontradas
referncias que o ponto Punho pode ser utilizado para o tratamento
de distrbio do sono, ansiedade, abstinncia, dficit de concentrao
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e euforia, justificando assim os resultados positivos obtidos neste
estudo (Prado, Kurebayashi, Silva, 2012).
Os estudos anteriores sobre a eficcia da tcnica no tm se
mostrado conclusivos devido ao nmero inadequado de sujeitos e
dificuldade no estabelecimento de protocolo para ser utilizado como
placebo, portanto, necessria a replicao em populaes diversas
com maior nmero de sujeitos.
Diante dessas reflexes, o presente estudo tem como
proposta comparar a eficcia da tcnica de auriculoterapia
verdadeira e sham em situaes de estresse em enfermeiros.
Algumas indagaes so levantadas, como: Quais pontos podem
ser utilizados como pontos sham no tratamento do estresse? Quais
os efeitos da auriculoterapia verdadeira e auriculoterapia com pontos
sham para reduo de estresse em enfermeiros? A auriculoterapia
pode ser utilizada como estratgia de enfrentamento em situaes
de estresse no trabalho?
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2 OBJETIVO
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2.1 OBJETIVO GERAL
Comparar a eficcia teraputica da auriculoterapia verdadeira
e sham no tratamento de estresse identificado nos enfermeiros do
Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo Unidade So
Joaquim.
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Identificar os nveis de estresse dos enfermeiros em
diferentes cargos (administrativo ou assistencial) e em diferentes
setores hospitalares;
Analisar a aplicabilidade dos pontos Shen Men e Tronco
Cerebral para diminuio de estresse, e ponto Ouvido Externo e
regio da Face como pontos sham.
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3 REFERENCIAIS TERICOS
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3.1 ESTRESSE
A relao do estresse com eventos emocionais e doenas
comeou a ser explorada no sculo XIX. No incio do sculo XX, Sir
William Osler, mdico ingls, relacionou os eventos estressantes
com trabalho excessivo e a reao do organismo ao estresse com
preocupao, a partir da observao de um grupo de mdicos com
angina pectoris que apresentavam uma rotina de trabalho e
preocupaes com o desempenho (Lipp, 2010).
Hans Selye, enquanto estudante de medicina na Universidade
de Praga, j apresentava interesse no estudo do estresse a partir de
observaes de respostas no especficas semelhantes em pessoas
que passavam por situaes angustiantes. Em 1926, denominou
esse conjunto de reaes como Sndrome geral de adaptao ou
Sndrome do estresse biolgico. Em 1936, j endocrinologista,
Selye sugeriu o uso da palavra estresse para definir esta sndrome.
Dessa forma, deu-se a primeira definio de estresse na rea da
sade (Lipp, 2010).
Por meio das pesquisas realizadas por Selye, o estresse foi
definido como um conjunto de reaes fisiolgicas que o organismo
desenvolve frente a uma situao de esforo, desencadeado por
estmulo ameaador homeostase. O termo homeostase, sugerido
em 1939 por Cannon, est relacionado ao esforo dos processos
fisiolgicos para manter um estado de equilbrio corporal interno. As
alteraes descobertas em suas pesquisas envolvem reduo do
timo, dilatao do crtex das suprarrenais e surgimento de lceras
gastrintestinais.
O estresse, de acordo com Selye, consiste em trs fases
sucessivas: Fase de alerta ou alarme, Fase de adaptao ou
resistncia e Fase de Exausto (Costa, 2003).
A Fase de alerta ocorre quando a pessoa percebe o agente
estressor e se prepara para lutar ou fugir. Sob estmulo do sistema
nervoso simptico h alteraes hormonais e adrenalina e
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noradrenalina so secretadas pela glndula suprarrenal. Se a reao
de alarme for bem sucedida, ocorre a cessao dos estmulos e o
retorno homeostasia interna do organismo, quando o estressor tem
uma curta durao. Os sintomas presentes so: cefaleia, aumento
da presso arterial, mos e ps frios, taquicardia, hiperventilao,
aumento da sudorese, alteraes gastrintestinais, tenso muscular,
zumbido nos ouvidos, presso no peito, irritabilidade, pesadelos.
J a Fase de resistncia consiste em um perodo de
adaptao ao estresse. A pessoa tenta resistir fazendo uso de
reservas de energia adaptativa em busca do reequilbrio aps a
quebra da homeostase. caracterizada por uma srie de alteraes
neuroendcrinas. Os sintomas mais frequentes so a sensao de
desgaste fsico generalizado sem causa aparente, dificuldades com
a memria, sensaes de medo e nervosismo, oscilao de apetite,
queda de cabelo, isolamento social. Ocorrem alteraes nas
suprarrenais e a medula diminui a produo de adrenalina, porm o
crtex das suprarrenais produz mais corticides. Se o estressor se
mantiver por mais tempo, a pessoa entrar na fase de exausto,
tornando o organismo vulnervel a doenas e disfunes (Costa,
1997; Lipp, 2000).
Aps a definio biolgica de estresse por Selye, o conceito
de estresse foi se modificando ao longo da histria. No conceito
atual, o estresse definido como uma ameaa real ou interpretada
integridade fsica e psicolgica de uma pessoa, que resulta em
respostas biolgicas e comportamentais. Situaes consideradas
novas, imprevisveis, ameaadoras ao ego e/ou incontrolveis
contribuem para as respostas fisiolgicas do estresse. Estas so
ativadas pelos sistema nervoso autnomo (SNA) e neuroendcrino
para mobilizar energia necessria adaptao das demandas da
situao, conforme ilustrado na Figura 1 a seguir (Juster et. al.,
2011).
Primeiramente, ameaas percebidas e interpretadas
acionam o eixo simptico-adrenal-medular (SAM) para liberao de
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catecolaminas, como por exemplo, adrenalina e noradrenalina
(Juster et. al., 2011). O sistema simptico, por meio de sua ao
direta sobre os rgos, faz com que a adrenalina secretada pela
adrenal em maior quantidade, seja levada pela corrente sangunea a
todos os tecidos do corpo, intensificando o metabolismo corporal e
aumentando a excitabilidade e atividade do organismo em diversas
situaes. Dentre os efeitos produzidos, encontram-se: aumento da
sudorese, dilatao ou contrao das pupilas, aumento da secreo
gstrica, da frequncia e fora de contrao cardaca, bronco
dilatao, reduo ou aumento do peristaltismo, aumento da
contrao da vasculatura perifrica (Costa, 1997).
Aps alguns minutos, o eixo hipotlamo-pituitria-adrenal
(HPA) ativado para produo de glicocorticides. O hipotlamo,
uma vez estimulado, libera o fator liberador de corticotrofina (CRF).
A liberao desse fator promove a secreo do hormnio
adrenocorticotrfico (ACTH) pela pituitria anterior ou adeno-
hipfise, levando liberao do cortisol pelas adrenais. Os picos de
catecolaminas e glicocorticides alteram a homeostase, ativando
funes fisiolgicas que permitem a reao de luta ou fuga. A
funo do crebro durante a resposta do estresse detectar a
ameaa e se adaptar (Juster et. al., 2011).
O cortisol, principal glicocorticoide, tem importante efeito na
gliconeognese pelo fgado, elevando a concentrao de glicose
sangunea. Em situaes de estresse, secretado em nvel elevado
para ajudar nas reaes orgnicas exigidas, mobilizando
aminocidos e lquidos das reservas celulares como fonte de
energia para os tecidos do organismo (Costa, 1997).
Alm das atividades da pituitria e hipotlamo, h trs
estruturas cerebrais importantes envolvidas na regulao da
resposta de estresse: hipocampo, ligado memria e cognio,
alm de atuar na retroalimentao (feedback) negativa da regulao
do eixo HPA; a amgdala, responsvel pelo medo e emoes; e o
crtex pr-frontal, envolvido na cognio e estratgias de
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enfrentamento, exercendo controle sobre as estruturas subcorticais.
Em conjunto com o SNA, adaptaes do organismo durante a
resposta de estresse, em curto prazo, so processos biolgicos
dinmicos que asseguram sobrevivncia (Juster et. al., 2011).
Figura 1 Ilustrao esquemtica das respostas fisiolgicas do
estresse. So Paulo, 2014.
Fonte: Adaptado de Costa, ALS. Anlise do stress nas situaes de vida diria e do pr-operatrio imediato de pacientes cirrgicos urolgicos. [Dissertao]. So Paulo(SP): Escola de Enfermagem, Universidade de So Paulo; 1997.
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O estresse excessivo provoca cansao mental, dificuldade
de concentrao, perda de memria, apatia e indiferena emocional.
Afeta a produtividade e a criatividade. A percepo do desempenho
insatisfatrio cria dvidas sobre si, o que gera crises de ansiedade e
humor depressivo. A qualidade de vida afetada e frequentemente
as pessoas com estresse excessivo sentem vontade de abandonar
tudo (Lipp, 2010).
Quando o estresse se torna crnico, somam-se outros
sintomas tais como aumento da glndula suprarrenal, que pode
levar ao infarto, diminuio do timo e gnglios linfticos,
ocasionando depresso do sistema imune (Cardoso, 2001).
3.1.2 Estresse Ocupacional
Os maiores estressores so relacionados famlia e ao
trabalho, que se configuram como ambientes permanentes
geradores de situaes de estresse crnico. O estresse ocupacional
frequente quando h muitas responsabilidades, mas poucas
possibilidades de tomada de deciso e de controle. Estressores
ocupacionais esto frequentemente relacionados organizao do
trabalho, como carga de trabalho excessiva, insalubridade, falta de
treinamento e orientao, relacionamento interpessoal entre lderes
e subordinados, falta de controle sobre a tarefa e ciclos trabalho-
descanso incoerentes com os limites biolgicos (Camelo, Angerami,
2008). Alm de fatores como condies e natureza do trabalho,
estrutura e clima organizacional e desenvolvimento da carreira
profissional (Engel, 2004).
Alm dos riscos fsicos, qumicos e biolgicos existentes no
ambiente ocupacional, h os riscos psicossociais, oriundos da
relao do trabalho com seu ambiente, com as condies de sua
organizao, satisfao no trabalho, e tambm da interao entre as
capacidades do profissional, suas necessidades, cultura e sua vida
pessoal. Esses riscos podem influenciar na sade e rendimento do
-
31
profissional (Camelo, Angerami, 2008). Estressores de longa
durao trazem consequncias mais intensas aos profissionais.
Fatores de estresse no trabalho podem desencadear a
Sndrome de Burnout, que uma reao de estresse crnico, que
causa no indivduo indisposio, mal-estar em decorrncia do
trabalho. Acomete, principalmente, profissionais em contato direto
com pessoas e expostos a sobrecarga de trabalho. um fenmeno
psicossocial que abrange trs dimenses que justificam a
insatisfao pessoal com o desempenho no trabalho: exausto
emocional (esgotamento), despersonalizao (com relao aos
clientes) e baixa realizao profissional (auto-avaliao negativa)
(Borges, Carlotto, 2004).
3.1.3 Estresse e Enfermagem
O estudo do estresse entre enfermeiros comeou na dcada
de 60, porm, no Brasil, somente na dcada de 90 que comearam
as publicaes na rea, devido sua relevncia no cenrio da
profisso (Bianchi, 2000; Elias, Navarro 2006; Ferreira, Martino,
2006; Murofuse, Abranches, Napoleo, 2005; Silva, Melo, 2006).
A prtica de Enfermagem ocorre em diversas condies e
est sujeita a constantes mudanas e experincias, que expem o
profissional a uma variedade de sentimentos e emoes. Na rea da
sade, enfermeiros lidam com o sofrimento e a morte, conflitos, falta
de preparo e de suporte em seu trabalho. Tambm com questes
ticas e morais, rpidos avanos tecnolgicos e questes legais.
Essas mudanas na rea da sade tm afetado o cuidado em
Enfermagem por meio do aumento da carga de trabalho,
desempenho de mltiplos papis dentro da instituio, complexidade
do cuidado ao paciente, corte de equipe e insegurana no trabalho
(Engel, 2004).
O estresse no ambiente de trabalho est relacionado a
diversos fatores, como as condies de trabalho, o relacionamento
-
32
interpessoal, gerenciamento de conflitos, estrutura e clima
organizacional, natureza do trabalho, desenvolvimento da carreira e
interface do trabalho com a vida pessoal. A Enfermagem, alm de
estar sujeita a esses fatores multidimensionais, ainda apresenta
fatores como plantes de trabalho, relacionamento multidisciplinar,
mltiplos papis e expectativas, polticas institucionais, limitaes de
tempo e resistncia fsica e emocional necessrias para o trabalho.
A luta constante para manter o equilbrio entre os fatores
organizacionais e o cuidar no trabalho de Enfermagem, pode levar
ao desgaste fsico e emocional (Camelo, Angerami, 2008).
O profissional de Enfermagem geralmente possui mais de um
vnculo empregatcio em turnos diferentes, incompatveis com o ciclo
circadiano fisiolgico, com pouco tempo destinado ao lazer e, como
a maioria pertence ao gnero feminino, a jornada de trabalho
domstico tambm deve ser considerada. Esse estilo de vida
agitado decorre, geralmente, de necessidades financeiras e
manuteno de um padro social, o que pode levar ao estresse. As
relaes interpessoais na equipe de sade tambm so referidas
como fator contribuinte para o estresse relacionado ao trabalho,
assim como o ritmo e exigncia das instituies (Silva, Melo, 2006).
A busca constante para equilibrar os fatores organizacionais e
a assistncia mobiliza os profissionais tanto emocionalmente, quanto
fsica e espiritualmente. Na dimenso fsica, por exemplo,
exposies repetidas e prolongadas s condies de estresse
podem ocasionar tenso e fadiga. Psicologicamente, pode
frequentemente provocar emoes como ansiedade, depresso,
medo e raiva. Em resposta a esses sentimentos, comportamentos
como compulso alimentar, alcoolismo e tabagismo so utilizados
como enfrentamento ao estresse. Espiritualmente, o estresse pode
causar uma desconexo com a crena pessoal (Engel, 2004).
Quando os profissionais esto esgotados, emoes como
medo e raiva podem desencadear reaes de luta ou fuga. Para
abordar a questo do estresse dos enfermeiros, so necessrias
-
33
tcnicas de gerenciamento e promoo de sade no ambiente de
trabalho (Engel, 2004).
No Brasil encontra-se uma representao grande de
profissionais de Enfermagem nos hospitais. Os fatores relacionados
ao ambiente, ergonomia e risco biolgico geram tenso e ansiedade,
principalmente quando a equipe de enfermagem est voltada ao
cuidado de pacientes com doenas crnicas, traumas agudos,
cuidados crticos e paliativos (Silva, Melo, 2006).
Por meio de um estudo quantitativo, transversal e descritivo,
realizado em 2000 com 116 enfermeiros de dois hospitais no
municpio de So Paulo, sendo um governamental e um beneficente,
que trabalhavam em setores fechados (UTI, centro cirrgico, centro
obsttrico, centro de materiais, hemodilise, hemodinmica, berrio
e endoscopia) e unidades abertas (unidade de internao, pronto
atendimento, maternidade, controle de infeco hospitalar), verificou-
se os estressores presentes e os nveis de estresse desses
profissionais nos diferentes tipos de unidade. Os enfermeiros que
apresentaram maior nvel de estresse foram os que trabalhavam em
unidades abertas, principalmente em relao a atividades
relacionadas administrao de pessoal, como controlar a equipe
de enfermagem, realizar a distribuio de funcionrios, supervisionar
as atividades da equipe, entre outras (Bianchi, 2000).
Em contrapartida, em um estudo descritivo e exploratrio com
profissionais de Enfermagem de unidades de Internao e unidades
especiais como UTI, Centro Cirrgico (CC) e Pronto Socorro (PS) de
um hospital privado na cidade de So Paulo, as autoras
identificaram que os profissionais dos dois ltimos setores citados
apresentaram maiores ndices de estado de ansiedade em relao
s unidades de Internao e UTI. Fatores como estrutura de trabalho
institucional, relaes de poder e relacionamento, foram citados
como influenciadores e facilitadores para a ocorrncia de estresse
(Gatti et. al., 2004).
-
34
Outros estudos so necessrios em diferentes instituies de
sade em mbito nacional, portanto, a fim de avaliar o nvel de
estresse em enfermeiros e propor estratgias para sua reduo e
preveno.
3.2 AURICULOTERAPIA
A acupuntura foi introduzida a partir do sculo VI nos pases
vizinhos China e no sculo XVI/XVII, na Europa. Nas ltimas
dcadas vem se difundindo por todo o mundo em funo da
crescente aceitabilidade, pelas comunidades cientficas, aps
estudos realizados sob uma perspectiva moderna ocidental, com
mtodos cientficos de investigao (Kurebayashi, Prado, 2011).
A orelha mencionada no mais antigo livro de medicina
chins, o Clssico de Medicina Interna do Imperador Amarelo,
publicado h 2000 anos atrs. O pavilho auricular est relacionado
com todas as partes do corpo humano e todos os meridianos
convergem para a orelha. Em 1957, Paul Nogier, neurocirurgio
francs, fez um estudo cuidadoso da orelha e das inervaes
auriculares, desenhando a figura de um feto invertido,
correspondente ao formato da orelha (Figura 2), encontrando
diferentes pontos para a estimulao neural e tratamento de
diferentes doenas. A terapia atravs da orelha pode ser utilizada
para o tratamento de enfermidades agudas e crnicas, doenas
dolorosas inflamatrias, dependncia qumica, doenas
endocrinometablicas, perturbaes psquicas como ansiedade,
depresso, angstia e falta de concentrao (Souza, 2001).
-
35
Figura 2 Ilustrao do pavilho auricular e imagem fetal.
So Paulo, 2014.
Fonte: Nogier, PMF. Noes Prticas de Auriculterapia. So Paulo: Andrei; 1998. p. 21.
Por meio do mapa do feto invertido e das prvias pesquisas
de Nogier, cuja proposta era investigar as conexes
neurofisiolgicas entre pontos reflexos auriculares e o sistema
nervoso central, os estudos sobre a ao da auriculoterapia
comearam a tomar forma. Ele definiu a existncia de 3 diferentes
reas no pavilho que corresponderiam, na orelha externa, a
diferentes tipos de inervao neuronal e categorias de tecido
embrionrio: a endodrmica, mesodrmica e a ectodrmica (Figura
3) (Kurebayashi, Prado, 2011).
Figura 3 reas no pavilho auricular segundo origem
embriolgica. So Paulo, 2014.
Endoderme Mesoderme Ectoderme
Fonte: Landgren K. Ear Acupuncture: a pratical guide. Philadelphia: Churchill Livingstone; 2008. p.51-52.
-
36
As trs principais inervaes da orelha ocorrem atravs dos
nervos: trigmeo, vago e plexo cervical, que so responsveis pelas
reas mesodrmica, endodrmica e ectodrmica, respectivamente
(Figura 4).
Figura 4 Principais inervaes do pavilho auricular. So Paulo,
2014.
1: Nervo trigmeo 2: Nervo vago
3: Plexo cervical
Fonte: Landgren K. Ear Acupuncture: a pratical guide. Philadelphia: Churchill Livingstone; 2008. p.57.
H, atualmente, duas linhas de auriculoterapia. Uma derivada
da escola francesa, que determina o microssistema auricular como
reflexologia de uma ao neurolgica conduzida pelo sistema
parassimptico. Quando determinada rea da cartilagem auricular
perfurada, estimula-se, a partir desse ponto, determinada rea do
crebro, descarregando endorfinas que agiro no sistema corporal,
acionando a liberao de um neurotransmissor. J para escolha de
pontos, a linha chinesa da auriculoterapia baseada na concepo
holstica, nos princpios da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) de
que o corpo e ambiente so indissociveis (Souza, 2001). O
presente estudo seguiu o mapa chins de auriculoterapia.
Devido aos desacertos em relao a nomenclaturas e
posies de pontos auriculares, desde 1982 a Organizao Mundial
de Sade (OMS) tem organizado, juntamente com outras
-
37
instituies, a padronizao de pontos de auriculoterapia. E em
1993, a Chinese Standard Ear-Acupoints estabeleceu 91 pontos
principais adotados na China (Suen, Wong, Leung, 2001).
A tcnica de estimulao dos pontos pode ser realizada por
meio de diversos materiais como agulhas semipermanentes,
sementes de mostarda, esferas de ao, esferas magnticas,
massagem, presso, estimulao eltrica, entre outros. Antes da
aplicao necessrio realizar a deteco do ponto, atravs da
presso, utilizando uma pina ou instrumento de ponta romba.
Espera-se que a estimulao gere dor presso ou crie uma
depresso leve no local. Os pontos que se apresentam mais
sensveis dor so considerados pontos reativos estimulao e,
portanto, pontos que podem apresentar melhores resultados
teraputicos (Souza, 2001).
Em seguida, realiza-se a antissepsia local com lcool 70% e
algodo. Com a pina ou aplicador de agulhas auriculares, o ponto
escolhido puncionado perpendicularmente de forma rpida. Aps
aplicao, as agulhas so cobertas com fita adesiva hipoalergnica,
permanecendo por, no mximo, sete dias (Souza, 2001).
Em relao aos ensaios clnicos em acupuntura, um grupo
internacional de pesquisadores acupunturistas experientes
desenvolveram recomendaes para realizao dos ensaios nessa
rea, STRICTA (Standards for Reporting Interventions in Controlled
Trials of Acupunture), adaptado a partir da lista de verificao do
CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials). Essas
recomendaes procuram incorporar diferentes tipos e
particularidades da acupuntura, desde pesquisas mais recentes aos
estilos mais tradicionais, incluindo outras prticas comumente
utilizadas em conjunto com a acupuntura. recomendado que
nestes ensaios clnicos exista um grupo controle, ou seja, um grupo
de comparao. Este pode envolver um comparador ativo, tais como
fisioterapia, ou procedimentos minimamente invasivos, como o
caso da acupuntura sham, utilizando pontos que no so indicados
-
38
para o tratamento. Pode tambm ser grupo controle sem interveno
ou como lista de espera (MacPherson et. al., 2002).
Entretanto, a acupuntura sham invasiva ou no invasiva pode
apresentar respostas circulatrias, imunolgicas e neurofisiolgicas,
pois o mecanismo da acupuntura e da auriculoterapia no
totalmente conhecido. Particularmente em relao auriculoterapia,
outro vis dificulta a escolha por um delineamento de pesquisa: a
existncia de mais de um mapa desenvolvido e utilizado
mundialmente. As duas principais linhas de pesquisa so derivadas
da escola chinesa e francesa, conforme j referido, que embora
apresentem algumas similaridades, apresentam estilos, conceitos e
mapas divergentes. Isso dificulta a escolha de pontos verdadeiros e
pontos sham (Hammerschlag, 1998).
-
39
4 HIPTESE
-
40
4.0 HIPTESE NULA (H0)
Auriculoterapia verdadeira apresentar igual reduo dos
nveis de estresse nos enfermeiros em relao auriculoterapia
sham.
4.1 HIPTESE ALTERNATIVA (H1)
Auriculoterapia verdadeira apresentar maior reduo dos
nveis de estresse nos enfermeiros em comparao com
auriculoterapia sham.
-
41
5 MTODO
-
42
Ensaio Clnico Controlado Randomizado, simples-cego, com 3
grupos: Controle (sem nenhum tratamento), Auriculoterapia (com
pontos indicados para estresse), Placebo (com pontos sham).
Para definio da amostra de participantes, foi realizado
levantamento epidemiolgico, com caracterizao dos enfermeiros
do Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo, Unidade So
Joaquim, por meio da aplicao do questionrio de avaliao de
nvel de estresse e ficha de dados scio-demogrficos. A coleta de
dados foi realizada no perodo de Outubro de 2013 a Fevereiro de
2014.
Foi realizado cegamento para anlise estatstica. Os
resultados foram entregues ao estatstico em forma de banco de
dados sem denominar os grupos, identificados por meio de siglas.
5.1 LOCAL DE ESTUDO
A pesquisa foi realizada no Hospital Beneficncia Portuguesa
de So Paulo, maior complexo hospitalar privado da Amrica Latina,
fundado em 1859. composto por trs unidades, Hospital So
Joaquim, Hospital So Jos e Hospital Santo Antnio. Atende mais
de 1,5 milho de pessoas por ano, tornando-se referncia no
atendimento mdico hospitalar em diversas especialidades, como
cardiologia, oncologia, neurologia, gastroenterologia, entre outras.
O estudo foi realizado na maior unidade do complexo,
Hospital So Joaquim. Possui o selo de Acreditao Excelncia
(Nvel 3) pela Organizao Nacional de Acreditao (ONA). A
instituio possui cerca de 6000 colaboradores, dentre os quais,
2700 compem a equipe de Enfermagem.
5.2 AMOSTRA
Foram convidados a participar do estudo aproximadamente
290 enfermeiros dos 3 turnos e diversos setores. Dentre esses, 257
-
43
aceitaram responder os questionrios de estresse e scio
demogrficos. Conforme ilustrado no fluxograma (Figura 5), 89
pessoas foram excludas, 82 por apresentarem nvel de estresse
abaixo do critrio de incluso, 5 pessoas com nvel acima e 2
pessoas comunicaram que estariam de frias no perodo.
A amostra foi constituda de 168 enfermeiros que
apresentaram escore de estresse entre 40 a 110 pontos na Lista de
Sintomas de Estresse (LSS) e, portanto, atenderam os critrios de
incluso. Optou-se por limitar a pontuao, correspondente ao nvel
mdio e alto de estresse, pois poucas pessoas apresentaram nvel
altssimo e, portanto, para obteno de amostras homogneas.
Outros critrios de incluso foram participao voluntria e
disponibilidade para realizao das sesses de auriculoterapia.
A partir dos critrios de incluso, a randomizao ou diviso
aleatria dos participantes nos 3 grupos foi realizada em blocos,
atravs do programa Random Allocation Software. O grupo Controle
foi composto por 54 participantes, grupo Auriculoterapia por 58 e o
Placebo por 56 participantes. Trinta e cinco pessoas descontinuaram
o estudo, conforme o fluxograma, pelos seguintes motivos: 17
saram de frias, 8 saram de licena mdica, 5 indisponveis para
realizao das sesses ou avaliao, 3 desligaram-se da instituio,
1 ficou gestante e 1 comeou a fazer uso de medicamento
psicotrpico.
-
44
Figura 5 Fluxograma de participao dos enfermeiros. So Paulo,
2014.
Fonte: Dados coletados pela autora.
Foram excludas as gestantes, pois alguns pontos atuam
sobre o tero e poderiam ser abortivos, portanto, a principal
contraindicao para as gestantes at o 3 ms de gravidez
(Souza, 2001); e aqueles que participavam de outra terapia
energtica ou qualquer outro tratamento para estresse no perodo do
estudo.
A partir dos ensaios clnicos realizados com o mesmo
delineamento em 2010 e 2011, que demonstraram que participantes
com caractersticas similares apresentaram escore LSS com desvio
padro em torno de 25 unidades, e, considerando, portanto, como
uma diferena clinicamente importante, 15 unidades do escore (60%
do desvio ou efeito de 0,6) entre os grupos Controle/Placebo contra
Interveno ao final do tratamento, estimou-se uma amostra mnima
de 44 sujeitos por grupo, sob hiptese bicaudal, poder de 80% e
nvel de significncia de 5% (Chow, Shao, Wan, 2008). Ainda
levando em considerao uma perda de acompanhamento de 20%.
257
Grupo Auriculoterapia
58
43
15 Perdas
Grupo Placebo
56
47
9 Perdas
Grupo Controle
54
43
11 Perdas
89 excludos
-
45
Sugeriu-se uma amostra mnima inicial de 53 sujeitos por grupo, 159
no total.
5.3 ASPECTOS TICOS
Por envolver seres humanos, o estudo atendeu Resoluo
466/2012 do Conselho Nacional de Sade. Os dados somente
comearam a ser coletados aps aprovao pelo Comits de tica
em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de So
Paulo sob o Processo n252.931 (Anexo 1) e do Hospital
Beneficncia Portuguesa de So Paulo Parecer n408.748 (Anexo
2), CAAE 12449413.9.0000.5392, explanao e consentimento dos
sujeitos, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido TCLE (Apndice A). O TCLE foi assinado em duas
vias, sendo uma do participante e outra da pesquisadora. Somente a
pesquisadora teve acesso identidade e resultados de cada
participante, como previsto no TCLE.
5.4 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS
Foi utilizado a Lista de Sintomas de Stress (LSS) (Anexo 3).
O LSS um instrumento de avaliao que consiste em uma lista de
59 sintomas psico-fisiolgicos e psicossociais de stress, no qual o
sujeito deve associar para cada sintoma uma das quatro respostas:
nunca (0), poucas vezes (1), frequentemente (2) ou sempre (3). Os
escores obtidos nas respostas so somados e fornecem o nvel de
stress do indivduo. Este instrumento resultado da associao
entre uma lista elaborada por dois estudiosos (Vasconcellos, 1984)
e o Questionrio de Stress do Psiclogo no Exerccio Profissional
(Covolan, 1989). Nesse questionrio a pontuao de 0 a 11
considerada nula, 12 a 29 (nvel baixo), 30 a 59 (nvel mdio), 60 a
120 (nvel alto) e acima de 120, nvel altssimo.
-
46
Foi solicitado o preenchimento de uma ficha com os seguintes
dados pessoais: nome, idade, sexo, estado civil, telefone, e-mail,
presena de gravidez, utilizao de outro(s) tratamento(s) para
estresse, tempo de formao, ps-graduao, setor, cargo, horrio
de trabalho, tempo de trabalho, carga horria semanal, trabalho em
outra instituio (Apndice B).
Para avaliao da percepo do estresse, foi utilizada uma
Escala Visual Analgica (EVA) para nvel de estresse, adaptada de
Pafaro (2002) (Apndice C). Nessa escala foi colocada uma linha na
vertical, graduada de 0 a 10, sendo 0 ausncia de estresse e 10
estresse severo. Cada participante assinalava o nvel de estresse
que estava sentindo no momento, sendo de 0 a 3 nvel baixo, 4 a 6
nvel baixo e 7 a 10 nvel alto de estresse.
5.5 COLETA DE DADOS
Os enfermeiros dos trs turnos foram convidados a participar
da pesquisa a partir da explanao feita pela pesquisadora,
agendada previamente com cada gestora dos diversos setores do
hospital. Os que manifestaram interesse responderam os
instrumentos de coleta de dados, LSS, EVA e ficha de dados
pessoais.
Aps randomizao, os participantes dos grupos
auriculoterapia e placebo, receberam 12 sesses de auriculoterapia
(2 sesses por semana) com durao de aproximadamente 5
minutos cada. As sesses foram agendadas previamente e
realizadas individualmente. Exceto o grupo controle que no recebia
sesses de auriculoterapia. Entretanto, aqueles que fizeram parte do
grupo controle ou do grupo placebo receberam orientao ao final
da pesquisa sobre sua condio e foram atendidos pelo mesmo
tempo e nmero de sesses que os que participaram do grupo
auriculoterapia, sem qualquer nus para os mesmos.
-
47
Todos os sujeitos que aceitaram participar do estudo foram
avaliados quanto a nveis de estresse aps 8 sesses, ao trmino
de 12 sesses e 15 dias aps o trmino das aplicaes (follow-up),
inclusive o grupo controle, que tambm realizou as avaliaes com a
mesma frequncia que os demais.
Todas as aplicaes foram feitas pela pesquisadora,
enfermeira e acupunturista. Todos os custos da tcnica de
auriculoterapia foram de responsabilidade total da pesquisadora.
Grupo Auriculoterapia
Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) no h
padronizao no tratamento do estresse, por se tratar de doena
multifatorial. Ressaltem-se os fatores limitantes de uma pesquisa
relacionada MTC, uma vez que a padronizao de pontos em um
tratamento pode subverter os princpios conceituais sobre os quais a
MTC se estruturou. Para esta medicina, os elementos cosmolgicos
desempenham um papel importante na determinao das
constituies individuais, enquanto que, para a racionalidade
ocidental, sequer so considerados. Para a Cincia Mdica, o objeto
de estudo a doena, sua identificao, sua etiologia e sua
classificao. Para a MTC, a classificao das doenas toma por
referncia os sujeitos doentes e suas constituies individuais (So
Paulo, 2002). Desta forma, a proposta de manter um protocolo de
pontos foi feita para possibilitar a avaliao quantitativa, estatstica
do estudo cientfico, nos moldes ocidentais, controlado e
aleatorizado, dos efeitos de determinados pontos sobre o pavilho
auricular e que sejam eficazes para diminuir os sinais e sintomas de
estresse.
Protocolo utilizado neste grupo:
Shen Men: localiza-se na fossa triangular, logo acima da
bifurcao da raiz superior e inferior da antihlice. um ponto usado
no controle da ao excitatria e inibitria do crtex cerebral e tem
efeito tranquilizante, analgsico e antialrgico (Souza, 2001).
-
48
Tronco Cerebral: situa-se no meio da incisura, na juno
do antitrago com o antihlice, utilizado em afeces do crebro, com
funo tambm de sedao (Souza, 2001).
Aps a devida localizao dos pontos reativos com um
localizador de pontos, era realizada a antissepsia do pavilho
auricular com algodo e lcool a 70%.
Os participantes foram orientados para a retirada das
agulhas antes do perodo solicitado se houvesse desconforto
excessivo ou prurido e sinais de alergia. Foi recomendado que o
participante permanecesse de 2 a 3 dias com as agulhas, no
havendo necessidade de estimular o local.
A escolha desses pontos deve-se ao fato de que estes
mesmos foram utilizados em um estudo desenvolvido em 2011 e
publicado em 2012, no qual auriculoterapia verdadeira com esses
mesmos pontos diminuiu os nveis de estresse e ansiedade em
estudantes de Enfermagem (Prado, Kurebayashi, Silva, 2012).
Esses pontos tambm foram utilizados em outro ensaio
clnico controlado randomizado, publicado em 2012, que buscou
avaliar os nveis de estresse na equipe de Enfermagem de um
hospital e analisar a efetividade da auriculoterapia com agulhas e
sementes. Os sujeitos foram randomizados em trs grupos: controle,
agulhas e sementes. Os dois ltimos grupos receberam oito sesses
nos pontos Shen Men, Tronco Cerebral e Rim. O instrumento de
avaliao utilizado foi a Lista de Sintomas de Stress (LSS), aplicado
no incio, aps quatro, oito sesses e follow-up de 15 dias. As
autoras concluram que a auriculoterapia foi eficaz na reduo de
estresse em profissionais de Enfermagem, com melhores resultados
para agulhas do que para sementes, em escores altos, com
manuteno de efeitos por 15 dias (Kurebayashi, Gnatta, Pavarini
et. al., 2012).
-
49
Grupo Placebo
Foram escolhidos dois pontos: um prximo rea da
Bochecha, entre o quadrante IV e V do lbulo, indicado para tratar
paresia facial e neuralgia do trigmeo; e outro nas imediaes do
ponto correspondente ao Ouvido Externo, no trago, indicado para
tratamento de inflamaes na parte externa da orelha, zumbido e
dficit de audio. Ambos no deveriam ser responsivos
estimulao de presso e dor, portanto, foram previamente testados
com um apalpador antes de sua colocao (Hecker et. al., 2006).
Os pontos utilizados neste estudo esto redesenhados na
Figura 6. As cores representam as diferentes reas de inervao do
pavilho auricular.
Figura 6 reas inervadas e pontos da pesquisa. So Paulo, 2014.
Fonte: Adaptado de Martins EIS, Garcia EG. Pontos de Acupuntura: Guia ilustrado de referncia. So Paulo: Roca; 2003.
Foi tolerado, no mximo, perda de 3 sesses por sujeito,
desde que no fossem consecutivas, pois a acupuntura pode
apresentar bons resultados com no mnimo uma sesso por semana
(Stux, Hammerschlag, 2005).
-
50
5.6 ANLISE ESTATSTICA
Os dados foram submetidos a uma anlise estatstica
descritiva. Foram calculados os valores de mdia e desvio-padro
para as variveis quantitativas. Foi utilizada ANOVA de medidas
repetidas de dois fatores (3x4), com teste Post hoc Tukey. Teste de
Correlao de Pearson foi realizado para comparao entre EVA e
LSS. Para avaliao da influncia do setor, cargo e turno e os nveis
de estresse foi utilizado regresso linear. Foi verificado o tamanho
de efeito do tratamento pelo eta-quadrado.
Para todos os testes foi utilizado o programa estatstico R- v
2.12.2.
-
51
6 RESULTADOS
-
52
6.1 DESCRITIVA DOS DADOS SCIO-DEMOGRFICOS
Dos 257 enfermeiros que participaram do estudo, 233 eram
mulheres (91%) e 24 (9%) homens.
Grfico 1 Distribuio dos participantes segundo sexo. So Paulo,
2014.
Fonte: Dados coletados pela autora.
Em relao ao estado civil, 122 (47,47%) eram casados, 114
(44,36%) solteiros, 18 (7%) divorciados, 2 (0,78%) viuvos e 1
(0,39%) no informado.
Grfico 2 Distribuio dos participantes segundo estado civil. So
Paulo, 2014.
Fonte: Dados coletados pela autora.
Feminino
Masculino
24, 9%
0
20
40
60
80
100
120
140
Casado Solteiro Divorciado Viuvo Noinformado
Estado civil
233, 91%
122 114 18 2 1
47,47% 44,36% 7% 0,78% 0,39%
-
53
A mdia de idade dos participantes foi de 36,05 anos. A
mdia de tempo de formao foi de 8,44 anos e de tempo de
trabalho no setor foi de 3,92 anos (Tabela 1).
Tabela 1 Mdia e Desvio Padro das variveis: Idade, Tempo de
formado (anos), Tempo de trabalho no setor (anos). So Paulo,
2014.
N Mnimo Mximo Mdia DP
Idade 257 22 63 36,05 8,29
Tempo de formao 257 0 41 8,44 7,82
Tempo de trabalho
no setor 257 0,04 30 3,92 5,69
Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.
Duzentos e vinte e sete (88%) enfermeiros apresentavam
algum curso de ps-graduao e apenas 30 (12%) no eram ps-
graduados.
Grfico 3 Distribuio dos participantes segundo ps-graduao.
So Paulo, 2014.
Fonte: Dados coletados pela autora.
A mdia de pontuao de LSS entre os tipos de cargos foi de
59,43 pontos para os enfermeiros com cargos administrativos e
54,59 pontos para os enfermeiros assistenciais (Tabela 2). Foram
Sim
No
227; 88%
30; 12%
-
54
classificados como cargo administrativo, enfermeiros que no
trabalhavam diretamente na assistncia aos pacientes, ou seja,
cargos de gerncia, coordenao e superviso, setores como
Servio de Controle de Infeco Hospitalar, Educao Continuada,
Escola de Enfermagem, Mtodos Grficos e Clnicas externas e
internas. Como cargo assistencial todos os enfermeiros que
prestavam assistncia direta aos pacientes, mesmo em setores onde
existia a diviso de enfermeiro administrativo e assistencial, como
em algumas unidades de internao e de terapia intensiva, pois
embora exista essa diviso, os enfermeiros administrativos nesses
setores no lidam apenas com atividades administrativas, mas
tambm prestam cuidados aos pacientes.
Tabela 2 Mdia e Desvio Padro da pontuao de LSS dos tipos
de cargos. So Paulo, 2014.
Cargo N Mdia DP
Administrativo 54 59,43 30,54
Assistencial 203 54,59 27,02
Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.
Na tabela 3 encontram-se os percentuais dos participantes
em cada nvel de estresse segundo LSS. O nvel de maior
frequncia foi o nvel alto de estresse, 112 (43,58%) enfermeiros
apresentavam escore alto.
-
55
Tabela 3 Frequncia e percentual dos participantes segundo
nveis de estresse. So Paulo, 2014.
Nveis de Estresse N %
Nulo 10 3,89
Baixo 39 15,18
Mdio 94 36,58
Alto 112 43,58
Altssimo 2 0,78
Total 257 100
Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.
J os percentuais de participantes com nveis de estresse
segundo EVA (baixo, mdio e alto) esto descritos na Tabela 4 a
seguir. O escore predominante segundo EVA foi a faixa de
pontuao de 4 a 7, correspondente ao nvel mdio de estresse
(57,59%).
Tabela 4 Frequncia e percentual de participantes segundo nveis
de estresse pela Escala Visual Analgica (EVA). So Paulo, 2014.
EVA N %
Baixo (0-3) 58 22,57
Mdio (4-7) 148 57,59
Alto (8-10) 42 16,34
No informado 9 3,5
Total 257 100
Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.
Em todos os turnos de trabalho (Manh, Tarde, Noite e
horrio comercial) o nvel de estresse mais frequente foi Nvel Alto,
conforme explicitado na Tabela 5.
-
56
Tabela 5 Distribuio dos participantes nos turnos de trabalho
segundo os nveis de estresse. So Paulo, 2014.
Manh % Tarde % Noite % Comercial % NI Total
Nulo
1 1,06 5 5,68 2 5,71 2 5,13 - 10 Baixo
12 12,77 19 21,59 5 14,29 3 7,69 - 39 Mdio
38 40,43 30 34,09 10 28,57 15 38,46 1 94 Alto
42 44,68 34 38,64 18 51,43 18 46,15 - 112 Altssimo
1 1,06 - - - - 1 2,56 - 2 TOTAL
94 100 88 100 35 100 39 100 1 257
NI = no informado. Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.
Os setores do hospital foram classificados em 3 categorias:
administrativo, unidade aberta ou unidade fechada. O Departamento
de Enfermagem, Escola de Enfermagem, Servio de Controle de
Infeco Hospitalar, Educao Continuada, Mtodos Grficos,
Clnicas Externas e Internas foram classificados como setores
administrativos, pois os enfermeiros que trabalhavam nesses setores
no estavam diretamente ligados assistncia aos pacientes. J as
unidades de internao peditricas e de adultos foram classificadas
como Unidades Abertas. As unidades de terapia intensiva adulto e
peditricas, Pronto Socorro, Centro Cirrgico, Central de Materiais
Esterilizados, Hemodilise e Hemodinmica foram classificados
como Unidades Fechadas.
Os enfermeiros que trabalham nos setores administrativos ou
que possuem cargos de chefia apresentaram mdia de pontuao
de estresse mais elevada em comparao com os profissionais que
atuam na assistncia, conforme descrito na Tabela 6, a seguir. Entre
as reas assistenciais, os enfermeiros que trabalham em unidades
de internao apresentaram mdia maior do que aqueles que
trabalham em setores fechados.
-
57
Tabela 6 Frequncia dos participantes, mdia e desvio padro da
pontuao de estresse segundo tipos de setores. So Paulo, 2014.
Setor N Mdia DP
Administrativo 54 59,43 30,54
Unidades abertas 124 56,44 27,50
Unidades fechadas 70 51,70 26,15
TOTAL 257 55,61 27,80
Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.
Os plantes no Hospital Beneficncia Portuguesa de So
Paulo so de 8 horas dirias, com carga horria semanal de 40
horas para os enfermeiros que esto na assistncia e, em alguns
setores administrativos, 44 horas semanais. Esse dado difere da
maioria dos hospitais, cuja carga horria semanal de 36 horas e
plantes de 6 horas ou escala de 12/36h. Alm da carga horria
semanal mais elevada, 32 (12,45%) trabalhavam tambm em outra
instituio. A maior parte (6,23%) com carga horria de 76 horas
semanais e apenas um trabalhava 84 horas semanais, conforme
dados da Tabela 7.
-
Tabela 7 Distribuio dos participantes que trabalham ou no em outra instituio, segundo carga horria semanal. So
Paulo, 2014.
Trabalha
em outra
instituio
40h
(%)
44h
(%)
54h
(%)
60h
(%)
70h
(%)
76h
(%)
80h
(%)
84h
(%)
No
informado
(%)
Total
N (%)
No 190
(73,93%)
35
(13,62%)
225
(87,55%)
Sim 1
(0,38%)
2
(0,78%)
2
(0,78%)
4
(1,56%)
16
(6,23%)
4
(1,56%)
1
(0,38%) 2 (0,78%)
32
(12,45%)
Total 190
(73,93%) 36 (14%)
2
(0,78%)
2
(0,78%)
4
(1,56%)
16
(6,23%)
4
(1,56%)
1
(0,38%) 2 (0,78%)
257
(100%)
Fonte: Dados coletados no Hospital Beneficncia Portuguesa de So Paulo.
58
-
59
Dentre os 257 participantes, 155 (60,31%) no apresentavam
problemas de sade e 102 (39,69%) apresentavam alguma queixa.
As mais frequentes foram dores osteomusculares, seguidas de
enxaqueca/cefaleia, HAS, Hipotireoidismo, Gastrite, Dislipidemia,
DM, entre outras.
Durante a explanao e convite para participar do estudo
foram explicados os critrios de excluso, portanto, os enfermeiros
que faziam uso de algum medicamento psicotrpico ou outra prtica
complementar no responderam aos instrumentos de coleta. No foi
investigado o uso de demais medicamentos prescritos ou utilizados
como auto medicao.
Quanto aos sintomas que compem a Lista de Sintomas de
Stress, o mais frequente foi o de nmero 5: No final de um dia de
trabalho, sinto-me desgastado, com 94,16% dos participantes
assinalando esse item, sendo que 66,15% dos enfermeiros
relataram esse sintoma atribuindo maior nota na escala de 0 a 3,
correspondente a frequncia Sempre. O sintoma que apareceu em
menor frequncia, apenas em 9,34% dos participantes, foi o nmero
32: Fumo demais.
Dos 257 enfermeiros que participaram do estudo, apenas 17
(6,6%) relataram outros sintomas que no faziam parte da LSS. Os
sintomas listados foram: vontade de chorar por qualquer motivo (7
participantes), dificuldade de concentrao, tontura, tenso pr-
menstrual, espasmos palpebrais, baixa autoestima, cimbras (2
participantes), tricotilomania, dermatite atpica, fogachos e sudorese
(1 participante cada).
6.2 ANLISE INTERGRUPOS E EVOLUO DOS NVEIS DE
ESTRESSE SEGUNDO A LSS E EVA
Para comparao entre os grupos constatou-se diferena
estatisticamente significante (p
-
60
comparao entre os momentos de avaliao (p
-
61
O grfico 4 ilustra a evoluo dos trs grupos quanto aos
nveis de estresse.
Grfico 4 Evoluo do escore de estresse entre os grupos ao
longo das avaliaes. So Paulo, 2014.
Ao avaliar o tamanho de efeito pelo eta-quadrado, observou-
se que o Grupo Auriculoterapia apresentou melhor resultado com
reduo dos nveis de estresse em 34% de efeito de tratamento
contra 8% do Grupo Placebo.
6.3 TESTE DE CORRELAO ENTRE LSS E EVA
Na anlise de Correlao de Pearson entre os instrumentos
LSS e EVA obteve-se ndice de 0,57. Na primeira avaliao a
correlao entre LSS e EVA foi bastante fraca (0,33). No segundo
momento com 8 sesses foi de 0,57, seguido de 0,61 na terceira
avaliao e 0,60 no follow-up. Essa situao demonstra a dificuldade
inicial na auto percepo dos sintomas de estresse, que melhorou
ao longo da coleta de dados.
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
LS
S (
es
co
re)
Auriculo
Controle
Placebo
LSS 1 LSS2 LSS 3 LSS 4
-
62
6.4 REGRESSO LINEAR ENTRE OS NVEIS DE ESTRESSE
E CARGO, SETOR E TURNO DE TRABALHO
Ao avaliar a influncia do cargo, no foi possvel afirmar que o
tipo de cargo influencia na varincia do escore de estresse pela LSS
(p=0,257), assim como o tipo de setor (p=0,261) e turno de trabalho
(p=0,10).
H uma pequena tendncia do turno da tarde apresentar nvel
de estresse menor que os demais turnos, porm no
estatisticamente significante.
-
63
7 DISCUSSO
-
64
A amostra do estudo foi composta por 257 enfermeiros,
predominantemente do sexo feminino (91%), com mdia de idade de
36,05 anos, perfil semelhante a demais estudos (Guido et al., 2011;
Lima et al., 2012; Menzani, Bianchi, 2009).
A Enfermagem conhecida no apenas por caracterizar-se
como uma profisso essencialmente feminina, como tambm pela
especificidade das aes desenvolvidas no dia-a-dia. No ambiente
de trabalho, as profissionais gerenciam o desenvolvimento de suas
atividades e, fora desse contexto, gerenciam suas vidas como
pessoas, esposas e mes. Essa situao, de desenvolver mltiplas
atividades, com vnculos de trabalho formais ou no, pode tambm
contribuir para o desenvolvimento do estresse (Menzani, Bianchi,
2009).
A mdia de tempo de formao foi de 8,44 anos e de tempo
de trabalho no setor foi de 3,92 anos, ou seja, apesar de no
trabalharem por perodo prolongado em suas unidades, eram
graduados h mais tempo.
A maioria dos enfermeiros (88%) apresentava algum curso de
ps-graduao. Essa caracterstica tem sido observada entre
enfermeiros jovens, que j buscam especializar-se em suas reas de
interesse, para melhor insero e diferenciao na rea hospitalar.
Segundo Elias e Navarro (2006), o ambiente hospitalar
reconhecido como insalubre, penoso e perigoso para os que ali
trabalham, um local propcio para o adoecimento. Alm dos riscos de
acidentes e doenas de ordem fsica aos quais esses profissionais
esto expostos, o sofrimento psquico tambm bastante comum,
diante da alta presso e cobrana a que esto submetidos.
Dos 257 enfermeiros participantes, 43,58% apresentavam
nvel alto de estresse. Em todos os turnos de trabalho houve
predominncia do nvel alto. No turno noturno, mais de 50% dos
enfermeiros apresentavam essa classificao.
O efeito do trabalho em turnos para a sade dos profissionais
de enfermagem pode se manifestar atravs dos sintomas de
-
65
estresse, principalmente, distrbios neuropsquicos,
cardiovasculares e gastrintestinais. Alm disso, interfere na vida
pessoal e familiar do profissional, pela dificuldade de participao de
atividades sociais e planejamento de vida (Costa, Morita, Martinez,
2000).
Encontrou-se outro estudo, do tipo exploratrio, cujo objetivo
era determinar o nvel de stress, hardiness e as suas correlaes
com o trabalho nos diferentes turnos para enfermeiros de um
hospital escola. Verificou-se que os enfermeiros que no possuam
horrio de trabalho fixo, trabalhavam em horrio comercial ou eram
do turno noturno apresentaram alerta para alto nvel de stress,
sendo que os enfermeiros do turno noturno apresentaram os
menores valores para hardiness controle e desafio (Batista, Bianchi,
2013).
As aes mais tcnicas e socialmente mais qualificadas so
realizadas pelas enfermeiras, responsveis pela chefia, coordenao
e superviso do trabalho dos tcnicos e dos auxiliares de
enfermagem que, por sua vez, executam o trabalho menos
qualificado, dedicando mais tempo aos pacientes (Elias, Navarro,
2006).
Entre os enfermeiros que trabalhavam em horrio comercial e,
portanto, apresentavam cargos administrativos, 46,15%
apresentavam nvel alto de estresse. O trabalho do enfermeiro,
inserido nas instituies de sade, muitas vezes multifacetado,
dividido e submetido a uma diversidade de cargos que so
geradores de desgaste. Os enfermeiros so responsveis por
pessoas, o que os obriga a um maior tempo de trabalho dedicado
interao, aumentando a probabilidade de ocorrncia do estresse
por conflitos interpessoais (Guerrer, Bianchi, 2008).
Para os cargos administrativos, a mdia de pontuao de LSS
foi de 59,43 pontos. J para os enfermeiros que estavam
diretamente ligados assistncia ao paciente foi de 54,59 pontos.
-
66
Este resultado tambm foi encontrado no estudo realizado por
Guerrer e Bianchi (2008), onde os enfermeiros assistenciais
apresentaram ndice elevado de estresse nos domnios assistncia
de enfermagem e coordenao da unidade. J para aqueles com
cargos de chefia, o ndice de estresse foi elevado para os domnios
relacionamento, funcionamento da unidade e administrao de
pessoal. A mdia total do nvel de estresse entre os cargos foi maior
para aqueles com cargos de chefia e coordenao.
Os profissionais de enfermagem que cuidam de outras
pessoas, muitas vezes se esquecem de cuidar de si mesmos e do
ambiente de trabalho, e por isso, tem adoecido pelas condies e
pelos ambientes desfavorveis para desenvolver as suas atribuies
(Ribeiro et. al., 2012).
Cento e dois enfermeiros (39,69%) apresentavam alguma
queixa de sade. O problema mais frequente foram dores
osteomusculares. Das doenas ocupacionais, os distrbios
musculoesquelticos so um dos mais graves e so considerados
importante problema de sade. Os principais fatores de risco so a
organizao do trabalho e as possveis sobrecargas de segmentos
corporais em determinados movimentos, como por exemplo, fora
excessiva para realizar algumas tarefas, repetitividade e posturas
inadequadas (Magnago et al., 2010).
Corroborando ainda com o presente estudo, Leite, Silva e
Merighi (2007) tambm verificaram que a principal queixa das
profissionais de Enfermagem estava relacionada ao sistema
osteomuscular. Outro estudo, realizado por Borges (2013), verificou
a eficcia da massagem para tratamento da lombalgia entre a
equipe de Enfermagem de um Pronto Socorro localizado na Grande
So Paulo. Foi realizado por meio de um ensaio clnico
randomizado, utilizando a massagem por acupresso e tcnica a
laser como placebo para o tratamento da lombalgia ocupacional. Os
profissionais que receberam a massagem apresentaram reduo do
escore de dor de moderada para leve e tambm melhora quanto
-
67
avaliao funcional relacionada lombalgia, mostrando-se uma
teraputica eficaz para tratamento desse tipo de dor.
Os enfermeiros que trabalhavam em setores administrativos
apresentaram mdia de estresse mais elevada (59,43). Entre as
unidades assistenciais abertas e fechadas, os enfermeiros que
trabalhavam em setores fechados apresentaram menor nvel de
estresse (51,7) em comparao com os de setores abertos como
unidades de internao (56,44).
Em consonncia ao resultado encontrado nessa pesquisa,
Frana et. al. (2012), realizaram um estudo para identificar a
Sndrome de Burnout em profissionais de enfermagem de dois
hospitais. Ao analisar os tipos de setores, verificaram que os
profissionais que trabalhavam no setor administrativo eram os mais
acometidos. No universo administrativo, o enfermeiro responsvel
responde diretamente pelas Resolues exigidas pelo Conselho de
Enfermagem e atribuies definidas por rgo superior e, dessa
forma, os nveis de exigncia acarretam para o profissional um
conjunto de condies que podem resultar na Sndrome de Burnout.
Apesar dos ambientes fechados serem carregados de atribuies e
responsabilidades que levam o profissional a sofrer fortes influncias
de estressores, ainda nesse estudo, os setores abertos
apresentaram maior ndice em comparao com os fechados.
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) considerada uma
unidade fechada, cujo entrosamento com outros setores bastante
limitado. um setor onde se encontram pacientes internados que
necessitam de cuidados intensivos diretos. A assistncia prestada a
pacientes em setores crticos bastante polmica, pois de um lado
ela requer intervenes rpidas, de outro, mobilizam emoes e
sentimentos de forma muito intensa. Nesses setores, o trabalho do
enfermeiro permeado por ambiguidades, aspectos gratificantes e
limitantes que esto presentes no seu mundo e na vida (Guerrer,
Bianchi, 2008).
-
68
Outro estudo que corrobora com esses resultados de
Bianchi (2000) que verificou que os enfermeiros de unidades abertas
apresentavam maior nvel de estresse do que em setores fechados.
Os enfermeiros de unidades de internao esto sujeitos a um
desgaste emocional. A autora discute tambm a correlao com
sobrecarga de trabalho, tarefas repetitivas e montonas e volume de
atividades burocrticas existente levando-os falta de controle das
atividades realizadas, perda de energia, fadiga e esgotamento.
Em contrapartida, Myhren, Ekeberg e Stokland (2013)
avaliaram a relao entre o nvel de satisfao no trabalho, estresse
ocupacional e sintomas de burnout em mdicos e enfermeiras
intensivistas de um hospital universitrio. A mdia de satisfao no
trabalho entre os enfermeiros foi menor do que entre os mdicos
intensivistas. Escores mdios de Burnout foram relativamente
baixos, porm o escore alto foi correlacionado com personalidade
vulnervel, baixa satisfao no trabalho e alto escore de estresse
ocupacional.
Esses apontamentos acerca do estresse do enfermeiro
continuam sendo levantados at a presente dcada. Os enfermeiros
apresentam como um dos fatores de estresse o relacionamento
interpessoal com os pacientes no hospital, como verificado em outro
estudo publicado por Kato (2014). Este estudo avaliou a associao
entre as estratgias de enfrentamento de 204 enfermeiros
hospitalares para lidar com o estresse interpessoal com os pacientes
e o estresse psicolgico em comparao com um grupo de
vendedores. Os enfermeiros apresentaram maior angstia e
sofrimento psquico do que o grupo controle composto pelos
vendedores. A autora discorre sobre a importncia do coping
construtivo na comunicao e relacionamento interpessoal
enfermeiro-paciente. Essa estratgia de enfrentamento construtiva
envolve esforos ativos para melhorar, manter ou sustentar um
relacionamento por meio de uma comunicao eficaz, pois apesar
da relao com os pacientes ser um fator potencial de estresse,
-
69
tambm visto como fator de satisfao no trabalho e pode reduzir
o estresse dos enfermeiros.
Em relao EVA, a fraca correlao entre LSS e EVA na
primeira avaliao (0,33) pode ser explicada pelo desconhecimento
da sintomatologia do estresse pela maioria dos profissionais. O
mesmo ocorreu no estudo de Pafaro (2002), no qual obteve auto-
avaliao sem estresse dos profissionais de Enfermagem que
apresentavam sintomas de estresse.
O sintoma mais frequente e que apareceu com maior
intensidade foi o relacionado ao desgaste aps um dia de trabalho.
Sempre haver desgaste psicolgico mesmo que o trabalho seja
fsico ou manual (Hanzelmman, Passos, 2010). No caso das
atividades do enfermeiro, o trabalho no apenas braal, mas
envolve aspectos emocionais, mentais, gerenciais e que exigem o
raciocnio clnico e crtico a todo instante. Dessa forma, o trabalho
possui aspectos negativos que afetam tanto o corpo fsico quanto a
mente do indivduo.
Hanzelmman e Passos (2010) realizaram um estudo
descritivo, qualitativo, a fim de identificar as representaes sobre os
fatores desencadeadores do estresse ocupacional e sua influncia
no trabalho, atribudos pelos profissionais de Enfermagem. Os
fatores identificados pelos participantes do estudo foram
relacionados s condies e organizao do trabalho e os mesmos
interferem, respectivamente, no corpo e na mente dos indivduos.
Quanto ao tratamento para o estresse dos enfermeiros,
observou-se que o Grupo Auriculoterapia obteve melhores
resultados desde a segunda avaliao, aps 8 sesses e manteve-
se at o final do estudo. J o Grupo Placebo apresentou melhora
somente a partir da terceira avaliao, aps 12 sesses.
Outros estudos encontrados utilizaram os pontos Shen Men e
Tronco Cerebral para reduo de estresse e ansiedade. Um deles,
publicado em 2009, realizado com profissionais da equipe de
Enfermagem em uma unidade de terapia intensiva de um hospital
-
70
privado na cidade de So Paulo, avaliou os nveis de estresse antes
e aps tratamento com auriculoterapia. Os resultados mostraram
que os sintomas apresentados foram: desgaste, dores nas costas,
comer em excesso, cansao. Entre os profissionais, 85,4%
apresentou melhora dos sintomas aps tratamento. As autoras
concluram que a auriculoterapia pode contribuir para a diminuio
de sinais e sintomas de estresse (Giaponesi, Leo, 2009).
Como citado anteriormente, outro ensaio clnico realizado com
profissionais de Enfermagem, utilizou os mesmos dois pontos,
acrescidos do ponto Rim para diminuio do nvel de estresse,
obtendo resultados favorveis (Kurebayashi et al., 2012).
O Ponto Shen Men tambm foi utilizado no estudo de
Kurebayashi (2013) para tratamento do estresse em profissionais de
Enfermagem. A autora trabalhou com um grupo protocolo, com
pontos pr-determinados, incluindo os Pontos Shen Men e Tronco
Cerebral e um grupo sem protocolo, cujos pontos foram escolhidos
de acordo com os diagnsticos da Medicina Tradicional Chinesa. Em
ambos os grupos utilizou-se o Ponto Shen Men em 100% dos
participantes.
Apesar da dificuldade em estabelecer pontos sham para
auriculoterapia, devido alta responsividade e inervao, a escolha
dos pontos sham no presente estudo foi adequada. Os pontos
Ouvido Externo e rea da Face apresentaram baixo efeito de
tratamento (8%) para reduo do estresse entre os enfermeiros.
Todos esses estudos obtiveram bons resultados para o
tratamento do estresse ou da ansiedade utilizando como um dos
pontos de tratamento o Ponto Shen Men, j descrito nos diferentes
mapas auriculares como eficaz para o tratamento dessas desordens.
7.1 LIMITAES DO ESTUDO
A primeira limitao do estudo foi relacionada ao tempo para
desenvolvimento da pesquisa, desde os problemas tcnicos para
-
71
submisso nos dois Comits de tica (EEUSP e Hospital) at a
aprovao pelo hospital. Para atingir a am