JORNALISMO E SUSTENTABILIDADE: DA EXTENSÃO À...
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JORNALISMO E SUSTENTABILIDADE: DA EXTENSÃO À PESQUISA1
Bibiana de Paula Friderichs2
Monalise Canalle3
Resumo: A presente pesquisa é mobilizada pelas ações e reflexões decorrentes do projeto
de extensão “Boas Práticas, Educação e Meio Ambiente Saudável”. Seu objetivo é estudar de
que modo os temas meio ambiente, sustentabilidade e ecologia são abordados nos dois
jornais impressos do município de Passo Fundo: Diário da Manhã e O Nacional. Para a
abordagem inicial de observação, optamos pela análise de conteúdo, segundo Bardin (2016).
A priori definimos as três categorias principais, já mencionadas, e a posteriori identificamos
outras sete subcategorias por meio das quais os temas principais se revelam. A partir dessa
análise inicial foi possível observar que há uma grande quantidade de matérias publicadas
sobre as categorias indicadas, entretanto, ainda que superficialmente, o enquadramento e a
seleção de informações dos diferentes formatos jornalísticos não contempla uma abordagem
qualificada dos temas.
Palavras-chave: Comunicação; Jornalismo; Análise de conteúdo; Meio ambiente;
Sustentabilidade
1 SUSTENTABILIDADE
A sustentabilidade é mais complexa do que se pode imaginar. Kaufmann (2012, p.1),
diz que “é o desafio da humanidade, de preservação, de convivência, envolvimento,
pertencimento, de (re) ligação com a Terra”. O uso da expressão se alastrou após a
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que aconteceu em
Estocolmo em 1972. Este foi o primeiro evento que tratou de assuntos relacionados
diretamente ao meio ambiente, bem como, de soluções para a preservação da humanidade.
Porém, no Brasil as discussões sobre o tema, levaram quase 20 anos para ganhar relevo,
1 Pesquisa vinculada ao Centro de Ciências e Tecnologias Ambientais (CCTAM), através do Programa de Extensão Comunidades Sustentáveis, cujo objetivo é qualificar as ações do projeto “Boas Práticas, Educação e Meio Ambiente Saudável”. 2 Professora Doutora da Universidade de Passo Fundo. Atua na Faculdade de Artes e Comunicação como docente nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Artes Visuais. Professora Extensionista vinculada ao Centro de Ciências e Tecnologias Ambientais (CCTAM) através do Programa Comunidades Sustentáveis - Projeto Boas Práticas, Educação e Meio Ambiente Saudável. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do curso de Jornalismo, nível VII. Bolsista de Extensão vinculada ao Centro de Ciências e Tecnologias Ambientais (CCTAM) através do Programa Comunidades Sustentáveis - Projeto Boas Práticas, Educação e Meio Ambiente Saudável. E-mail: [email protected]
especialmente após a realização da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(ECO), em 1992, no Rio de Janeiro.
Entretanto, de lá para cá, observamos que as discussões, de modo geral reduzem a
sustentabilidade apenas às vertentes econômica e ambiental. Entretanto, Sachs (apud
BALKO et al, 2012. p.4) lembra que “a sustentabilidade é um conceito que abrange o que as
populações precisam no âmbito social, cultural, ecológico, espacial e econômico”. Além disso,
trata-se de uma prática que não pode estar unicamente vinculada as necessidades do
homem, mas do meio ambiente de modo geral.
Assim, a sustentabilidade na sua dimensão ambiental vincula-se a todas as formas de
relação com o meio ambiente, direta ou indiretamente. A econômica visa a produção,
distribuição e oferta de serviços, bem como, produtos, mantendo uma competitividade limpa
e justa com os demais concorrentes. Ela busca sempre as melhores condições de trabalho
para funcionários e também tenta evitar a degradação do meio ambiente a sua volta. Já a
sustentabilidade social está ligada aos modos de vida das populações, seus conflitos e
negociações culturais, os locais de circulação públicos e privados, os espaços de trabalho e
os espaços de lazer, a manutenção da vida coletiva.
Para que a sustentabilidade realmente se concretize, dentro de uma comunidade ou
organização, é necessário que haja total acordo entre todos, através do diálogo, exercício da
cidadania, da participação e da construção. Além da concretização, haverá, assim, maior
entendimento sobre a gestão ambiental. “A sustentabilidade pode ser considerada um
conceito inovador, já que emerge de uma demanda social.” (BALKO et al, 2013, p.8). Por sua
natureza coletiva, não haverá sustentabilidade sem comunicação, uma vez que é necessário
o estabelecimento de convenções socais e práticas comuns para que ela se efetive, constitua-
se em cultura.
2 COMUNICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
Comunicar não é apenas informar, mas sim auxiliar, influenciar, demonstrar. A
comunicação é feita de todos para todos. “Assim como a sustentabilidade, a comunicação
também é uma questão planetária, pois envolve o encontro com o Outro, o desafio da
coabitação” (WOLTON apud KAUFMANN, 2012, p.2). Sendo assim, para que a
sustentabilidade faça sentido é preciso comunicar, aprender, respeitar, compartilhar, conviver
com o outro e com o meio ambiente. Bueno (2012, p.12-13) explica que:
A comunicação da (e para a) sustentabilidade pode cumprir três funções básicas [...]. Em primeiro lugar, ela deve promover a consolidação do conceito de sustentabilidade, buscando eliminar equívocos [...]. A sustentabilidade deve ser percebida de maneira abrangente e incorporar aspectos ambientais, socioculturais, políticos e econômicos, porque, em princípio, ela deve permear todas as ações humanas [...]. Em segundo
lugar, a comunicação deve favorecer a conscientização dos habitantes da Terra para os riscos inerentes ao consumo não consciente, ao desperdício das riquezas naturais e à desigualdade social [...]. Finalmente, a comunicação sustentável não teme denunciar os desvios e abusos cometidos por indivíduos e organizações e está empenhada em resgatar os princípios da transparência, da convivência harmônica, da solidariedade humana.
Segundo Bueno (2012), a comunicação para a sustentabilidade deve ser desenvolvida
pensando na promoção de possíveis debates das questões ambientais. Para ele é necessário
que haja uma incorporação da perspectiva política, que busque mobilizar, informar, além de
conscientizar a todos sobre os conceitos e processos com relação ao meio ambiente, afinal
este é o papel do comunicador, que pode auxiliar na preservação do meio.
Jornalistas, educadores, comunicadores e organizações tem a missão, o
compromisso, de repassar seus conhecimentos e propaga-los para o maior número de
pessoas possíveis, fazendo com que atitudes sustentáveis se tornem a rotina de todos. A
comunicação da sustentabilidade determina que a mídia em geral, abra suas pautas para dar
perspectiva ao assunto, profundidade, sem deixar-se confundir com marketing verde.
A comunicação da, e para a sustentabilidade não pode apenas ser utilizada como um
instrumento de poder, ela deve contribuir para que sejam construídas novas visões de mundo.
Sua participação é fundamental para que a sustentabilidade seja discutida e evidenciada.
“Acredita-se que ao participarem de debates, discussões e reflexões, os sujeitos passam a
compreender suas responsabilidades em busca da sustentabilidade” (KAUFMANN, 2012,
p.2).
Kaufmann (2012) defende que a comunicação ambiental não tem nenhum
compromisso com a atualidade, não precisa ser acordada por um valor notícia imediatista
para estar nas páginas do jornal, mas de qualquer forma deve manter-se atualizada, afinal
quanto menos publicações ou ações, mais esquecida se tornará. “A autêntica comunicação
para a sustentabilidade se insere numa recepção de saber ambiental e promove o ‘encontro
de tradições e formas de conhecimento legitimadas por diferentes matrizes de
racionalidade[...]” (BUENO, 2012, p.11).
Os comunicadores profissionais precisam estar engajados nessa proposta e capacitados para liderar um processo que rompa com esta estrutura quase monolítica de circulação de informações, sob a responsabilidade de governos hegemônicos e de empresas privadas, que subsidiam ou financiam projetos de comunicação que restringem o debate e a troca de experiência. (BUENO, 2012, p.14).
A qualidade da informação e o comprometimento do comunicador são primordiais,
nenhum dado deve ser falsificado. Bueno (2012, p.15) explica que “a mídia sustentável é ao
mesmo tempo tolerante com a imperfeição humana, mas energética e implacável na luta
contra lobbies ilegítimos que sobrepõem interesses escusos às necessidades básicas das
populações”.
Nesse sentido, Bacchetta (apud MUNIZ, 2009, p.9) explica que o jornalismo ambiental
considera os efeitos da atividade humana, tanto na ciência quanto na tecnologia. Segundo
ele, este jornalismo deve contribuir para a disseminação de temas e análises de suas
aplicações nas esferas políticas, sociais, culturais e éticas. É um jornalismo que busca ampliar
a participação e decisões das pessoas sobre o seu modo de vida.
Entretanto, aparentemente, sustentabilidade e meio ambiente são assuntos que
passam longe de pautas diárias da mídia em geral, seja jornais, televisão, rádio ou internet.
Apenas são lembrados quando algo acontece, ou quando é dia do Meio Ambiente. Muniz,
(2009, p.6) aponta três momentos em que a imprensa se sente forçada a dar ênfase ao meio
ambiente:
As empresas jornalísticas se veem forçadas a fazer pequenas concessões, mas geralmente mantêm o jornalismo ambiental com um status marginal nas redações. A imprensa brasileira costuma se preocupar com o meio ambiente em apenas três ocasiões: a) catástrofe naturais e/ou acidentes graves que causam danos à natureza, como vazamento do petróleo; b) relatórios publicados por revistas estrangeiras com dados científicos sobre o aquecimento global; c) no dia 5 de junho, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Apesar de os números de publicações relacionadas ao assunto ter aumentado,
percebe-se que ainda é pouco explorado. Existem infinidades de pautas a serem trabalhadas,
porém poucas destas são consumidas pelos leitores, e é isto que faz com que este assunto
seja menos aprofundado.
Bueno (apud MUNIZ, 2009) delineia três funções principais do ecojornalismo. A
primeira é a função informativa, que como o próprio nome já diz, informa à população sobre
assuntos relacionados ao meio ambiente, para que haja maior conhecimento do tema. A
segunda é a função pedagógica a qual deixa explícito os problemas ambientais e as soluções
dos mesmos. Indica possíveis caminhos para a superação de tais problemas. E por fim, a
função política que está ligada à mobilização de todos para que lutem pelos seus direitos e
interesses na questão ambiental.
Sobre o profissional, o jornalista ambiental deve partir do ponto de que algo precisa
ser feito, deve ser capaz de produzir materiais que denunciem injustiças ou danos à natureza
que são cometidos por pessoas influentes na sociedade. Além disto, deve sempre se manter
bem informado, estudar e nunca esquecer da responsabilidade. Algo muito importante é
entender a linguagem científica, pelo fato de lidar com temas ambientais e precisar simplifica-
los para o público. Mas, assim como o profissional, o jornalismo também tem sua função,
além de denúncias e informes, auxilia na conscientização ecológica da população e reforça a
ideia de novas formas de vida e atitudes. Para Muniz (2009, p.10)
O jornalismo ambiental não pode abrir mão da militância e do engajamento político. Deve estar comprometido com uma perspectiva crítica, capaz de contextualizar as questões ambientais, potencializar o debate e oferecer alternativas para o enfrentamento da grave crise ambiental que vive nosso planeta.
Por isso, os produtores de conteúdo jornalístico deve sempre levar em conta que seu
público será heterogêneo, portanto as matérias precisam ser compreensíveis e dialogar com
o público em geral, deve ser uma narrativa responsável e ao mesmo tempo didática, que
apresenta novas ideias e dissemina essa utopia.
E é justamente este cenário de produção jornalística desejado, assim como os muitos
anos de atuação do Centro de Ciências e Tecnologias Ambientais (CCTAM), que mobilizam
essa pesquisa, especialmente diante das ações do programa Comunidades Sustentáveis.
Seu projeto mais antigo, o “Boas Práticas, Educação e Meio Ambiente Saudável”, busca
construir junto com comunidades vulneráveis e entidades assistenciais, rotinas sustentáveis,
dinamizadas pelo compartilhamento de ideias e experiências. Sua frequente renovação e o
desejo manifesto por esses grupos de continuidade, nos despertaram algumas inquietações:
que comunicação para a sustentabilidade esses grupos recebem, além das discussões
mobilizadas pelo projeto? Depois de tanto tempo envolvidos nessa rotina, será que as práticas
e os debates nesses espaços de encontro “vazaram” para a mídia? Servimos de fonte para a
produção jornalística local? Ou ainda, questões mais essenciais: os veículos locais falam de
a sustentabilidade? O que eles dizem? De que forma dizem? E para responde-las, começando
pelo mapeamento desses temas, para mais adiante, quem sabe (em outra oportunidade),
estuda-los discursivamente.
A METODOLOGIA DE ANÁLISE
Optamos pela análise de conteúdo dos principais jornais periódicos da cidade de
Passo Fundo: Diário da Manhã e O Nacional. Fizemos um levantamento documental, a partir
das 03 categorias a priori: meio ambiente, sustentabilidade e ecologia. Tal esforço envolveu
todas as edições publicadas por esses jornais em 2016, incluindo os finais de semana. Trata-
se de um total de 539 exemplares, dos quais 249 são do DM e 290 do ON. Depois da análise
inicial, observamos que muitas vezes tais categorias manifestavam-se através de
subcategorias, resultando em 16 gráficos para estudo, alguns dos quais compartilhamos neste
artigo.
A escolha desta metodologia se deve a sua historicidade. Este método surgiu no final
do século XIX. Para Bardin (2016) seria mais coerente dizer analises de conteúdo, pois é um
método empírico, depende muito do tipo de “fala” a que está dedicada, bem como, do tipo de
interpretação que se pretende como objetivo.
Bardin (2016) ainda explica que em uma análise quantitativa o que utiliza-se como
informação é a frequência com que determinadas características do conteúdo surgem. Já na
qualitativa o importante é a presença ou ausência de determinadas características em certos
fragmentos de mensagens. Essas observações se dão a partir de uma categorização de
incidências.
Bardin (2016) explica que a categorização é uma operação que classifica elementos
constitutivos de um determinado conjunto através da diferenciação, após estes elementos são
reagrupados conforme os critérios que são previamente definidos. As categorias são rubricas
ou classes que unem um determinado grupo de elementos com um título genérico (Meio
Ambiente, por exemplo), agrupando os mesmos em razão de características em comum.
Para Bardin (2016) o analista é como um arqueólogo, pois trabalha com vestígios.
Estes vestígios são as manifestações do estado de cada dado e fenômeno. O analista
consegue tirar partido das mensagens que por ele são manipuladas, a fim de inferir alguns
conhecimentos que não estejam completamente ligados as mensagens, fazendo com que
este conhecimentos possam ser associados a outros elementos. Este profissional trabalha
com índices, descrições e interpretações.
Assim, a seguir apresentaremos os principais elementos observados no levantamento
inicial, por periódico e, para o fechamento, realizamos o agenciamento entre ambos.
5 JORNAL DIÁRIO DA MANHÃ
O primeiro veículo local analisado foi o jornal impresso Diário da Manhã, da cidade de
Passo Fundo. O período estudado foi de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2016. O Grupo
Diário da Manhã foi fundado em 1938, por Túlio Fontoura. Ao longo de oito décadas expandiu-
se em diversas cidades do interior do Rio Grande do Sul. Hoje está presente em três regiões:
a do Planalto Médio, Alto Jacuí e Produção. Além do jornal impresso, conta também com
Rádio Diário e com o portal de notícias: diariodamanha.com.
Ao longo do ano de 2016 foi analisado um total de 249 edições, buscando matérias
que utilizassem os termos: meio ambiente, sustentabilidade e ecologia. Ao todo 283 matérias
foram mapeadas, sendo que em 98 edições elas compuseram a capa. Porém, destas quase
250 edições, 76 delas sequer tocaram em qualquer um dos assuntos citados acima.
O gráfico a seguir representa a quantidade de matérias encontradas relacionadas às
três principais categorias:
Fonte: Autor principal
Pode-se perceber que o tema Meio Ambiente é predominante, entretanto, as
subcategorias vão revelar que, diante dele, temos a ausência de aprofundamento nas
questões reflexivas e educativas, o que desvaloriza a quantidade com que aparecem. Além
disso, outra observação referente ao formato do conteúdo (nota, notícia e reportagem) que
também pode apontar para superficialidade com que o tema é abordado. O número de notícias
sobre Meio Ambiente e associado a temáticas de serviço (gráfico abaixo), esvaziam seu
potencial como espaço de educação.
Além disso, Trigueiro (2017) explica que o “jornalismo ambiental” (termo que o
jornalista não aprova), não deveria ser uma editoria própria, afinal, está presente em todas.
“A conferência do clima que acontece em Bonn, na Alemanha. Este evento é assunto de quê?
Qual editoria? De internacional? É. Ciência e tecnologia? Também. Economia? Com certeza”,
exemplifica (TRIGUEIRO, 2017).
Outro dado importante de ser ressaltado é o de que, mesmo parecendo um grande
número comparando uma categoria a outra, as demais editorias presentes nos jornais
continuam ocupando a maior parte das edições.
Após a escolha das três categorias principais, foram escolhidas o que Bardin (2016)
chama de subcategorias. Ao todo foram designadas sete, são elas: alimentação, clima,
educação ambiental, infraestrutura, política, preocupação ambiental e saúde humana. O
próximo gráfico apresenta como estas subcategorias aparecem no jornal.
Fonte: Autor principal
Como se percebe o maior número de publicações referem-se à subcategoria clima.
Entretanto, cabe ressaltar, que as matérias mais encontradas sobre clima tinham como
assunto a previsão do tempo, como um serviço. Grande parte destas matérias eram
superficiais, apenas trazendo temperaturas máxima e mínima e a probabilidade de chuva para
o dia seguinte. Além disto, sempre apresentavam a mesma fonte e títulos semelhantes.
Cada subcategoria escolhida trata de assuntos relevantes. A da alimentação conta
com matérias relacionadas à Feira Ecológica, trazendo informações sobre o espaço, novas
edições, bem como, dicas para uma alimentação saudável. Tal Feira estava, na época, entre
as ações do CCTAM informalmente, e atualmente integra um projeto institucionalizado do
Centro. A temática Educação ambiental apresente dois tipos essenciais de abordagens: 1)
matérias de cunho escolar, relacionada a atividades realizadas ao longo do ano pelos espaços
de ensino formal do município, como um registro das atividades escolar; e 2) reportagens que
explicam termos e projetos existentes no município. No entanto, pouco se fala de aspectos
ambientais do município, avaliação de médio e longo prazo de determinadas situações, ou
mesmo a análise e indicação de soluções por especialistas.
A subcategoria infraestrutura apresenta matérias que tragam de temas como: lixo,
esgotos, calçadas, dentre outros. Política, traz a opinião de alguns candidatos a vereador, na
época, sobre acontecimentos envolvendo os grupos ambientais de Passo Fundo, tais como,
Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (GESP), Comitê Rio Passo Fundo, Ibama, dentre
outros. Só a categoria Preocupação Ambiental, que corresponde a um pouco mais de 11% do
total das publicações, é o espaço onde conteúdos referentes à poluição, reflorestamento,
encontram eco. Mas aparentemente, sua escassez faz com que a discussões desapareçam
diante da grande demanda de assuntos burocráticos sobre o tema: serviços, agenda,
discussões políticas, e etc.
A última subcategoria: saúde humana, é composta principalmente pelo assunto
dengue. 2016 foi um ano marcado pela campanha contra a dengue, não apenas no município
de Passo Fundo, e, por este motivo, o assunto tornou-se de destaque. Esta subcategoria é a
segunda com maior número de publicações.
Dentre todas as matérias analisadas, poucas traziam um aprofundamento no assunto.
Muitas, inclusive, eram apenas notas. Ao todo foram 103 notas, 171 matérias, 08 reportagens
e 1 artigo de opinião.
O formato mais utilizado (matérias, ou notícias), traziam assuntos factuais, porém, não
tinham profundidade. O ponto positivo é que sempre havia fontes, e, na maioria das vezes,
mais do que uma. O segundo formato mais utilizado, a nota, trata dos mais diversos assuntos,
desde lembretes, convites, registros de reuniões à serviços e agenda.
O que se percebe é que o número de publicações é satisfatório, sendo quase uma por
dia, durante um ano, porém os formatos escolhidos dão a impressão de que os assuntos não
trazem tanta relevância quanto deveria para se tornar uma reportagem no jornal, ou ganhar
maior destaque. O formato nota é o que traz menos informação dentre todos os formatos
jornalísticos, ele apresenta o assunto com algumas informações, porém não há profundidade
e pode não apresentar uma fonte.
Além de tudo, a desigualdade em formatos não é algo positivo. Dentre todos as
publicações apenas 8 reportagens foram realizadas. E dentre todas as edições analisadas
apenas 1 artigo de opinião tratou do assunto meio ambiente. Segundo Muniz (2009),
“a segmentação do Jornalismo impresso em cadernos de meio ambiente, saúde, automobilismo, agropecuária, cultura, entre outros, realça um enfoque fragmentário da realidade, tais cadernos, que poderiam ser o espaço da reportagem, do aprofundamento e da contextualização, infelizmente reproduzem o padrão noticiarista e, portanto, pouco (ou nada) contribuem para a consciência ambiental do cidadão”.
Após a análise realizada pode-se perceber que o grupo Diário da Manhã tem sim
espaço para conteúdos que sejam voltados ao meio ambiente, ecologia e sustentabilidade.
Porém, a crítica que fica é de que, os materiais produzidos deveriam tem uma maior
profundidade nas informações.
6 JORNAL O NACIONAL
O segundo veículo local analisado foi o jornal impresso O Nacional, também do
município de Passo Fundo, no período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2016. O grupo
editorial O Nacional foi criado em 19 de junho de 1925, e é uma empresa de caráter privado
com circulação diária e regional no Norte do estado. Segundo o grupo a informação por eles
produzida apresenta qualidade, profundidade e imparcialidade. Além disto, o veículo é
responsável pelas publicações do anuários da Biodiesel e o de Passo Fundo. O Nacional
conta também com um portal online: onacional.com.br.
Ao longo do ano de 2016 foram analisadas 290 edições, com o mesmo objetivo dito
anteriormente, o de mapear notícias sobre os temas: meio ambiente, sustentabilidade e
ecologia. Após finalizar o mapeamento foram encontradas 225 matérias, sendo que em 70
edições elas compuseram a capa. Porém destas quase 300 edições, 133 delas sequer
tocaram em qualquer um dos assuntos citados.
O gráfico a seguir representa a quantidade de matérias encontradas relacionadas às
três principais categorias:
Fonte: Autor principal.
Ao longo da análise pode-se perceber a predominância de matérias que tratem do
assunto meio ambiente e a disparidade entre as três principais categorias. Assim como o
veículo analisado anteriormente, esta discrepância entre um assunto e outro é algo negativo
para o veículo. O ponto positivo é que a grande maioria das matérias aprofundavam-se nos
assuntos tratados, trazendo fontes e/ou especialistas.
Percebe-se que apenas uma matéria sobre o assunto ecologia foi encontrada, nesta
matéria o tema abordado foi a decoração natalina feita através de materiais recicláveis. A
sustentabilidade aparece um pouco mais se comparada à ecologia, dentre os assuntos
destacados nas matéria estão desde carros mais sustentáveis desenvolvidos por determinada
empresa, até a preocupação com um meio ambiente sustentável e a questão climática.
Cabe ressaltar que, assim como o veículo analisado anteriormente as demais editorias
que não se relacionem com as principais categorias ocupam um maior espaço no jornal.
Após a escolha das três categorias principais, foi escolhido o que Bardin (2016) chama
de subcategorias. Ao todo foram designadas sete, são elas: alimentação, clima, educação
ambiental, infraestrutura, política, preocupação ambiental e saúde humana, como mostra o
gráfico a seguir:
Fonte: Autor principal
Percebe-se que novamente o clima fica em destaque quando se trata de
subcategorias. O principal assunto trazido foi a previsão do tempo, que novamente apresenta
apenas uma fonte em todas as matérias relacionadas a este tema. Apesar de manter
exatamente a mesma fonte, que é inclusive a mesma do veículo anterior, as matérias trazem
mais informações do que só temperaturas e probabilidade de chuva. Muitas vezes
apresentam os fenômenos climáticos como la niña e o el niño.
A segunda subcategoria que mais apresenta matérias relacionadas ao assunto é a
preocupação ambiental. Este tema traz como assuntos limpeza da bacia hidrográfica do
município, embargo do Bosque e também alguns acontecimentos relacionados ao Ibama. A
alimentação traz matérias que abordam novidades sobre o projeto Feira Ecológica da
Universidade de Passo Fundo, desde datas à nova localização e edições especiais.
A subcategoria saúde humana, também traz uma atenção especial para a campanha
de combate à dengue que permaneceu muito ativa em 2016 em diversas cidades da região.
Além disto, outro assunto relevante e muito comentado foi o do depósito irregular de pneus
no município de Ernestina, que acabou ganhando, inclusive, diversas capas e um
acompanhamento do caso.
A infraestrutura apresenta assuntos cotidianos e problemas localizados, tais como,
acúmulo de lixo, esgoto a céu aberto e a dificuldade enfrentada pelas usinas de reciclagem
do município. Este último também teve um acompanhamento, trazendo desde o início do
problema até o mesmo ser solucionado. Outra subcategoria, a Política, assim como no
veículo anterior apresenta matérias voltadas a órgãos locais, tais como Corsan, Comitê Rio
Passo Fundo, Ministério Público, dentre outros.
A última subcategoria diz respeito à educação ambiental, nesta pode-se encontrar
matérias sobre atividades desenvolvidas, principalmente por escolas do município. Além disto,
apresenta assuntos como, trotes ambientais desenvolvidos, livros, cine debate, entre outros.
Todas as matérias escritas foram adaptadas a formatos jornalísticos.
O grupo O Nacional, ao longo de 2016, utilizou 90 notas, 124 matérias (notícias), 9
reportagens e 2 entrevistas, para tratar das três principais categorias: meio ambiente,
sustentabilidade e ecologia. Aplica-se ao grupo a crítica de que a disparidade entre os
formatos não é algo positivo e demonstra, talvez, falta de interesse.
Percebe-se que o formato mais utilizado é a matéria (notícia), o ponto positivo é que
este formato permite um aprofundamento do assunto, e sempre traz fontes para que haja uma
melhor compreensão do tema abordado. O ponto negativo é que mesmo tento mais de 50%
das publicações em formato de notícia, as notas continuam marcando uma grande presença.
Dentre todas as edições analisadas apenas 9 reportagens foram realizadas, buscando
um aprofundamento a mais no assunto, e 2 entrevistas no formato ping pong.
O grupo O Nacional apresenta um espaço satisfatório para assuntos voltados às três
principais categorias. Porém, há uma disparidade tanto em editorias quanto em formatos, por
este motivo é necessário que seja reavaliada a forma como é realizada a cobertura e a
importância que se dá a determinados assuntos.
7 COMPARAÇÃO DE CONTEÚDO ENTRE OS VEÍCULOS
Após a análise de conteúdo realizada em ambos os veículos, pôde-se perceber que
os dois contaram com a presença das três principais categorias, mesmo que em algumas
ocasiões não fossem tão evidenciada. O gráfico a seguir apresenta a comparação entre os
jornais e o total de vezes que foram mencionadas as palavras meio ambiente, sustentabilidade
ou ecologia, seja na manchete, linha de apoio ou corpo do texto:
Fonte: autor principal
No jornal O Nacional foram mapeadas 214 matérias que falavam ou citavam o assunto
meio ambiente em suas mais diversas ramificações, 10 matérias referentes à categoria
sustentabilidade e apenas 1 que evidenciava o tema ecologia. Em comparação o jornal Diário
da Manhã publicou 261 matérias sobre o assunto meio ambiente, também tratando das mais
diversas faces do tema, com relação à categoria sustentabilidade foram mapeadas 9 matéria
e o assunto ecologia apareceu 11 vezes em um caderno especial chamado “DM Ecologia”.
Pode-se perceber que há um certo equilíbrio entre os dois veículos, mas que o Diário
da Manhã concedeu um pouco mais de espaço do que o outro veículo as temáticas
recortadas. Entretanto, isto não significa que suas matérias contemplaram de modo
qualificado questões como a educação ambiental e o aprofundamento da discussão. Além
disso, nenhum dos jornais desenvolve um especial, ou uma grande reportagem que tratasse
de algum dos assuntos citados anteriormente, o que infelizmente, faz com que nos
questionemos sobre a afirmação de Muniz (2009, p.6), quando fala das três principais
ocasiões para uma grande reportagem ambiental : “a) catástrofe naturais e/ou acidentes
graves que causam danos à natureza, como vazamento do petróleo; b) relatórios publicados
por revistas estrangeiras com dados científicos sobre o aquecimento global; c) no dia 5 de
junho, quando se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente”.
O gráfico a seguir mostra a disposição das sete subcategorias explicadas
anteriormente em ambos os veículos:
Fonte: Autor principal
Percebe-se que o maior número de publicações foi referente à subcategoria clima em
ambos os veículos, isto porque quase diariamente é apresentada a previsão do tempo,
fazendo com que este número cresça consideravelmente em comparação aos demais.
Também podemos notar que o menor números de publicações foi referente à categoria
alimentação, isto também em ambos os veículos.
As demais subcategorias apresentam um certo equilíbrio, com exceção das
subcategorias infraestrutura, onde o jornal Diário da Manhã traz mais do dobro de matérias
em comparação ao jornal O Nacional; e a subcategoria saúde humana, onde, por ser um ano
com a campanha contra a dengue bem presente, o grupo Diário da Manhã, também quase
dobrou o número de publicações em comparação ao outro veículo.
Todos os assuntos são de suma importância, porém, pode-se afirmar, que
independente do período analisado, sempre a subcategoria clima estará se não no topo, entre
as mais trabalhadas nos veículos.
CONCLUSÃO
Após realizar o presente estudo, pode-se concluir que o número de publicações
encontradas em ambos os veículos é considerado algo positivo, porém, o que faz com que
isto não seja algo tão bom é a profundidade dada às matérias escritas. Poucas traziam um
embasamento, sempre com fontes, porém, em determinados assuntos, elas se repetiam.
Também, pode-se concluir que o veículo local Diário da Manhã dá mais destaque aos
assuntos meio ambiente, sustentabilidade e ecologia em comparação ao O Nacional, mas que
isto não é necessariamente algo positiva, pois, por menor o número de publicações do
segundo veículo seu texto era melhor escrito e fundamentado. Nem sempre é a quantidade
que nos importa, mas sim a qualidade e a importância dada a determinados assuntos.
Infelizmente, ainda é preciso um amadurecimento muito grande dos veículos para a
abordagem de temas como os trabalhados. É preciso sim dar mais destaque a eles, pois
envolvem a vida do ser humano em diversos aspectos, incluindo habitat, alimentação e
condições climáticas.
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Almedina – São Paulo, 2016.
BALKO, Ana Beatriz et al. Comunicação colaborativa: o Diálogo e a Construção da Sustentabilidade Ecológica. XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – S. Cruz do Sul – RS, 2013.
BUENO, Wilson da Costa. Comunicação e Sustentabilidade: Aproximações e Rupturas. Razón e Palabra, vol.17, núm. 79, Estado do México – México, maio – julho, 2012.
CANALLE, Monalise. Discutindo um “Futuro Sustentável” com André Trigueiro. Disponível em: < http://nexjor-sites.upf.br/boaspraticas/?p=1751>. Acesso em: 22 de nov de 2017.
KAUFMANN, Cristiane. Comunicação para a sustentabilidade: inter-relação e interdependência nas organizações. XIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Chapecó – RS, 2012.
MUNIZ, Cristiano dos Santos. Jornalismo ambiental: conceitos e especificidades. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre – RS, 2009.