JORNAL MARTIM-PESCADOR 133

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FEVEREIRO 2015 Número 133 Ano XI Tiragem 3.000 exemplares www. jornalmartimpescador.com.br A família de dona Neusa Marina (acima à direita), e o pescador Rildo dos Santos Correa (abaixo) falam sobre a pesca na Lagoa de Araruama no Rio de Janeiro. Págs. 4 e 5 Zoraida Gomes Pimenta dá a receita da canjiquinha com costeleta de porco. Pág. 3

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Fevereiro 2015 - Número 133 - Ano XI - Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo.

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FEVEREIRO 2015Número 133

Ano XI

Tiragem 3.000exemplares

www. jornalmartimpescador.com.br

A família de dona Neusa Marina (acima à direita), e o pescador Rildo dos Santos Correa (abaixo) falam sobre a pesca na Lagoa de Araruama no Rio de Janeiro.Págs. 4 e 5

Zoraida Gomes Pimenta dá a receita da canjiquinha com costeleta de porco. Pág. 3

FILHOS DA LAGOA

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Fevereiro 20152

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

Jornalista responsável: Christina Amorim MTb: 10.678/SP [email protected] e ilustração: Christina Amorim; Diagramação: cassiobueno.com.br; Projeto gráfico: Isabela Carrari - [email protected]

Impressão: Diário do Litoral Fone.: (013) 3226-2051Os artigos e reportagens assinados não refletem necessariamente a opinião do jornal ou da colônia

EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

Av. Dino Bueno, 114 Santos - SP

CEP: 11030-350Fone: (013) 3261-2992www.jornalmartimpescador.com.br

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EXPEDIENTE Órgão Oficial da Federação de Pescadores do Estado de São Paulo

Presidente Tsuneo Okida

DefesosBagre rosado (Genidens genidens,

Genidens barbus, Cathorops agassizii) 01/01/15 a 31/03/15

Camarão-rosa (Farfantepenaeus paulensis), camarão-branco (Litopenaeus schmitti),

camarão-sete-barbas (Xiphopenaeus Kroye-ri), camarão-santana ou vermelho (Pleoticus

muelleri), camarão-barba-ruça (Artemesia longinaris)- 01/03/15 a 31/05/15

Lagosta vermelha (Panulirus argus) e lagosta verde (P. laevicauda) 01/12/14 a

31/05/15Tainha (Mugil platanus e Mugil liza)

15/03/15 a 15/08/15 (proibida em todas as desembocaduras estuarino-lagunares do

litoral das Regiões Sudeste e Sul) A partir de 15 de maio, a temporada anual da pesca

da tainha será aberta somente no litoral, permanecendo fechada até 15 de agosto

nas desembocaduras estuarino-lagunares. (veja Instrução Normativa 171 9/5/2008 em www.jornalmartimpescador.com.br

(legislação

Moratórias Cherne-poveiro (Polyprion americanus)

06/10/2005 a 6/10/2015Mero (Epinephelus itajara)

17/10/2012 a 17/10/2015Tubarão-raposa (Alopias superciliosus)-

tempo indeterminadoTubarão galha-branca (Carcharinus longimanus)-tempo indeterminado

Raia manta (família Mobulidae) - tempo indeterminado

Marlim-azul (agulhão-negro) – Makaira nigricans- comercialização proibida

Marlim-branco (agulhão-branco) - Tetrap-turus albidus –comercialização proibida

Captura de caranguejo-uçá está permitida em áreas do litoral sul

Portaria de pesca causa polêmicaA publicação da Portaria

nº 445 de 17 de dezembro de 2014, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) causou grande polêmica no setor pesqueiro. A lei publica a "Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaça-das de Extinção - Peixes e Invertebrados Aquáticos”. Entre as espécies que tem a proibição da captura, trans-porte e armazenamento estão diversas espécies de bagres, tubarões, lambaris, raias e ainda peixes como a ga-roupa-verdadeira, surubim, caranha e badejo-amarelo.

Peixes ornamentais também estão incluídos na lista. Em Itajaí-SC aconteceram protestos quando pescado-res bloquearam por mais de 30 horas a saída de um transatlântico no porto de Itajaí. Em Cabo Frio-RJ, foi interditada a principal via de acesso à cidade sob a liderança do presidente da Colônia de Pescadores Arte-sanais. Os ministros da Pesca, Helder Barbalho, e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, decidiram que a portaria que definiu as espécies proibidas para a pesca deverá ser re-

vista. Para isso foi criado no início de janeiro o Grupo Téc-nico de Trabalho (GTT) para discutir uma revisão da norma de ordenamento vigente e a elaboração do Plano de Ges-tão com elementos mais apro-fundados. Dia 28 de fevereiro aconteceu a segunda reunião do grupo, que realizou um debate técnico quanto à legali-dade da Portaria nº 445, entre outros assuntos. A composi-ção do Grupo Técnico conta com três representantes do Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura (Conepe); três representantes da Federação

Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Afins (FNTTAA); três re-presentantes da Confederação Nacional dos Pescadores e Aquicultores (CNPA); três representantes do Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil (MPP); um representante da Asso-ciação Brasileira de Lojas de Aquariofilia (Abla); três representantes da comunidade científica; e nove representan-tes do MPA.

Conheça a Portaria MMA no 445 no site www.jornal-martimpescador.com.br

O político paraense Hel-der Barbalho assumiu o cargo de Ministro da Pesca e Aqui-cultura dia 2 de janeiro. Em discurso, declarou que a meta de produção de pescado será de 20 milhões de toneladas

ao ano. Acrescentou que seu objetivo é fortalecer o setor para produtores industriais e artesanais. Dia 26 de fevereiro o Ministro virá à cidade de Santos conversar com repre-sentantes do setor.

A captura de caranguejo-uçá está permitida dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Cananéia – Iguape – Peruíbe. As comunidades extrativistas que realizam a captura em áreas de mangue-zal da APA Ilha Comprida, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Itapanhapima e Barra do Una, além das Reservas Extrativis-tas Taquari e Ilha do Tumba, administradas pela Fundação Florestal, serão beneficiadas com a medida. Uma das condições para a permissão é de que a pesca seja realizada

por populações tradicionais ou locais, por meio de pesca de subsistência ou artesanal, por pescadores assim cadastrados pelo órgão federal competente. O período permitido vai de 1º de dezembro a 30 de setembro, para os caranguejos machos, ou no período de 1º de janeiro a 30 de setembro, para as fêmeas. A permissão foi editada na Resolução SMA nº 02/2015. A medida modifica a proi-bição de pesca de caranguejo-uçá em todo o Estado de São Paulo editada no Decreto 60.133 da Secretaria de Meio

Ambiente do Estado de São Paulo de fevereiro de 2014. Pescadores de outras regiões litorâneas do Estado onde a pesca do caranguejo-uçá continua proibida demonstram ainda preocupação que a medida afete os pescadores artesanais que dependem deste recurso para sua subsistência.

Conheça a Resolução SMA nº 02/2015 na íntegra em www.jornal-martimpescador.com.br (abrir página de legislação)

O hábito alimentar, de modo geral, reflete padrões culturais que estão inter--relacionados com mudan-ças socioeconômicas, polí-ticas, ambientais, situação domiciliar, entre outros. A comunidade pesqueira tem costume de comer pescado, e esta prática salutar é pas-sada de pais para filhos. De todos os alimentos utiliza-dos pelas populações rurais, o pescado é ainda aquele que o pescador busca no seu próprio ambiente. Hoje, este fato já não ocorre com a maioria dos alimentos, que voltam para a comunidade na forma industrializada. Pode-se melhorar a dieta das populações com a inclusão do pescado, prática que vem cada vez mais se observan-do nas escolas que buscam introduzir este alimento nas refeições escolares, para que assim as crianças passem a apreciar este alimento e aprendam a importância da ingestão de peixes e levem consigo este bom costume. A ingestão constante de pescado traz benefícios à saúde e este hábito precisa ser divulgado entre as co-munidades urbanas e rurais. A Organização Mundial da Saúde recomenda sua inges-tão pelo menos duas vezes por semana. Como se sabe o pescado é um alimento que

se destaca pela quantidade de nutrientes: gordura poli--insaturada, como o ômega 3, proteínas, cálcio, ferro, selênio, magnésio, potássio, iodo, fósforo e vitaminas. É no pescado oceânico que se encontra o iodo, que na sua falta pode provocar nas populações bócio endêmico e na ausência dos outros minerais conduz à anemia ferropriva e à fadiga. O ôme-ga 3 é importante para saúde física e mental, e é encon-trado nos peixes de águas marinhas, como o atum, arenque, bacalhau e salmão. Concluindo, poderíamos afirmar que graças a este alimento as comunidades pesqueiras ainda sobrevi-vem porque neles encontram nutrientes importantes.

Augusto Pérez Montano - Médico Veterinário, membro da Comissão de Aquicultura do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo

Pescado: nutrição alternativa

Helder Barbalho é novo ministro

da pesca

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Canjiquinha: um gostinho da fazenda

Site traz informações da pesca

Canjiquinha

Informações pesqueiras sobre o litoral paulista podem ser obtidas em novo site lançado em fevereiro pelo Instituto de Pesca de Santos da Secretaria de Agricultura e Abaste-cimento do Estado de São Paulo. O site do Programa de Monitoramento da Atividade Pesqueira Marinha e Estuarina do Estado de São Paulo - PMAP está indicado na página da Estatística Pesqueira no site do Instituto de Pesca (www.pesca.sp.gov.br ou www.pesca.sp.gov.

br/estatistica.php e www.propesq.pesca.sp.gov.br) e disponibiliza ao público informações sobre o Programa e todos os números do Informe Pesqueiro de São Paulo, publicação que traz a consolidação mensal da produção pesqueira descarregada por município, apa-relho de pesca e espécie, além de informações sobre as espécies capturadas e sobre a pesca de cada município. As informações têm por objetivo dar visibilidade ao setor

pesqueiro demonstrando sua im-portância e contribuem assim para o desenvolvimento sustentável da atividade pesqueira.

O monitoramento da atividade pesqueira marinha é realizado pelo governo do Estado de São Paulo desde 1944. Seu início foi o resul-tado os esforços empregados do Brasil após a publicação do Código de Pesca de 1938 (Decreto-Lei 794 de 19 de outubro de 1938), onde já se apontava para a necessidade

da coleta sistemática de dados de produção e esforço pesqueiro. No início da década de 1940 foi elabo-rado o plano nacional de pesquisa ictiológica conduzido pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro sob a orientação do professor George Sprague Myers, da Universidade de Standford (EUA). Naquela época em São Paulo o monitoramento era realizado pela Divisão de Proteção e Produção de Peixes e Animais Silvestres.

O Instituto de Pesca, criado em 1969, tem mantido a coleta de dados de forma ininterrupta e é referência em todo o Brasil. Tradicionalmente a coleta de da-dos era realizada em Ubatuba, Santos/Guarujá e Cananeia. Em 2008 a rede de coleta de dados foi expandida para todos municípios costeiros do Estado de São Paulo. São 215 locais de descarga em 16 municípios costeiros do Estado, de Ubatuba a Cananeia.

Os sabores da infância ficam guardados para sempre na memória. Zoraida Clea Gomes Pimenta, nascida em Nossa Senhora da Apareci-da, distrito do município de Sapucaia no Rio de Janeiro, recorda em especial de um prato chamado canjiquinha, servido com frequência na fazenda onde morou até a ado-lescência. A receita reúne dois ingredientes muito presentes no cardápio da fazenda: coste-linha de porco e canjiquinha, aquela amarelinha um pouco quebrada. A fazenda que no

início era de café, mudou a produção para a cana-de-açú-car e passou a preparar açúcar mascavo, álcool e cachaça. Na casa de farinha era feita a farinha de mandioca e no moinho eram extraídos o fubá, a farinha de milho e a canjiquinha. Zoraida, que hoje mora em CaboFrio-RJ, é a décima-terceira de 14 filhos descendentes de su-íços e portugueses. Porém a influência da culinária era a mineira, pois Aparecida ficava próxima à divisa com Minas Gerais . Das

Ingredientes: 1 kg de costeleta de porco salgada ou defumada/500 g de canjiqui-nha/1 cebola média ralada e 3 dentes de alho picados

Preparo: Dessalgar a costeleta de um dia para o outro, deixando na geladei-ra e trocando a água várias vezes. Deixar a canjiquinha de molho meia hora antes de iniciar o preparo. Refogar a cebola e o alho numa panela de pressão. Colocar as cos-teletas e deixar dourar um pouco. Colocar água e deixar por 15 minutos no fogo após apitar. Acrescentar a canji-

recordações da fazenda, Zora ida lembra-se bem da fartura do café da ma-nhã, quando eram servidos café com leite, bolo, pão e batata-doce cozida na hora. “Meu pai pedia para pegar a lingüiça que ficava no fumeiro em cima do fogão a lenha e fritar para ele comer”, recorda. “Tinhamos uma vaca só para tirar leite para dar para os filhos”, acrescenta. “Sexta-feira era dia de fazer quitanda”, explica. Chamava--se de quitandeira a mulher que preparava bolo, brevidade

e pão para a semana inteira. Assim tudo era consumido bem fresquinho. Zoraida e sua família ainda conservam a casa da fazenda, construída por volta de 1825. Por isso quando bate a saudade, ela viaja lá para saborear uma rapadura e as frutas especiais, como pêssego, figo, goiaba, jabuticaba ou suas compotas e tudo mais que tem esse sa-borzinho das coisas simples da roça. Quem quiser saber mais sobre esse sabor, arre-gace as mangas e prepare a canjiquinha. Aí vai a receita.

quinha com a água escorrida e bem lavada. Deixar em fogo baixo até a canjiquinha adquirir consistência de purê. Retificar o sal, se necessário.

Servir com angu, arroz e car-ne assada. Já no prato, o bom é derramar o molho da carne assada na canjiquinha para dar um gostinho especial.

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Coluna

OUVIDORIA EMBRAPORT: 0800 779-1000

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‘Barco Escola’ leva conhecimento sobre o Porto de Santos para

crianças da Ilha Diana A Embraport, um dos maiores e mais modernos ter-

minais portuários privados do país, instalado na margem esquerda do Porto de Santos (SP), realizou no mês de ja-neiro uma ação inédita no Porto de Santos chamada ‘Barco Escola’. A iniciativa fez parte da programação da nona edição do Programa Ecoférias, que é realizado anualmente com as crianças da Ilha Diana.

Na atividade, que teve duração de uma hora e meia, cerca de 15 crianças de 3 a 16 anos percorreram de barca catamarã todo o canal do Porto para conhecer um pouco da fauna, flora e os manguezais que compõem o ecossistema da região. Uma bióloga contratada foi a responsável por conduzir as atividades, explicando de maneira didática cada passo do passeio.

As crianças tiveram ainda a oportunidade de conhecer a história do local e sua importância para o desenvolvimento do país.

Jeová Ferreira Cardoso Junior, gerente de Segurança Patrimonial, Segurança do Trabalho, Meio Ambiente e Qualidade, destaca que a iniciativa da Embraport tem o objetivo de trabalhar nas futuras gerações a consciência da sustentabilidade. “O futuro do Porto de Santos está nas mãos das futuras gerações e por isso devemos conscientizá--los sobre como ele deve ser preservado”, destaca.

Sobre o Ecoférias O Ecoférias é um Programa de Educação Ambiental

realizado pela Embraport na Ilha Diana desde 2011, sempre nos meses de janeiro e julho, que fazem parte do calendário de férias escolares.

A iniciativa é direcionada a crianças e adolescentes da comunidade, e tem o objetivo de trabalhar a educação ambiental nos pequenos moradores por meio da inserção de novos hábitos, conscientizando-os sobre o uso racional dos recursos naturais, descarte correto dos resíduos domés-ticos e valorização do patrimônio ambiental da Ilha como atração turística.

Nesta nona edição, que conta com 36 horas de eco ativida-des, os temas são: “Conservação e preservação das espécies”, “Patrimônio natural Ilha Diana”, “Porto de Santos” e “Saúde e esporte”.

Outra novidade desta edição é que os integrantes da Embraport, inscritos no Programa de Voluntariado, puderam participar das atividades, auxiliando na entrega de materiais, registro fotográfico, distribuição dos lanches, além de divi-direm suas experiências profissionais com os participantes.

A LAGOA DO SAL E DOS PEIXES

A lagoa de Araruama é a fonte de sustento para muitos pescadores dos municípios por ela banhados. Rildo dos Santos Correa, 46 anos, mora na praia da Baleia em São Pedro da Aldeia e sai todo o dia para pescar na companhia de mais dois amigos. A família está há três gerações no local e pratica a pesca lanço e cerco. Com isso é possível pegar tainha, camarão, carapeba, carapicu e pirambeba. “Saímos quatro barcos juntos, assim pesca mais rápido”, conta. Os horários de saída dependem do vento. “Se tem calmaria, saímos à noite”, explica Rildo. Para sair da parte rasa da lagoa, usam longas varas de madeira, que tocam o chão dando assim impulso até chegar à parte mais funda e ligar o motor. “Temporada está fraca”, lamenta Rildo. “Antes, com quatro barcos dava para pescar cerca de 2 mil quilos de peixe”, acrescenta. Hoje pegam de 200 a 300 quilos. Rildo está casado com Luciane e tem um filho, Vitor, de 14 anos. Não incentiva o filho a abraçar a pesca diante do declínio dos peixes. “A pescaria antes tinha fartura, hoje está diminuindo muito o peixe na lagoa”, argumenta. Ainda assim, Rildo não consegue viver longe da lagoa. “Se eu não ficar na água, fico doente. Passo mais tempo dentro do barco do que em casa”, diz.

A lagoa de Araruama, na região dos Lagos no estado do Rio de Janeiro, ocupa uma exten-são de 210 km2. Tem saída para o mar através do Canal do Itajuru, e banha Araruama, Igua-binha, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Praia Seca. Sua característica é a água hipersalina, em torno de 52%. Por isso a extração do sal foi uma atividade que se desenvolveu com intensidade no passado, assim como a extração de moluscos com aproveitamento da casca para produzir a barrilha usada na confecção de vários produtos, como exemplo talco e cápsulas de remédios. A pesca ainda se desenvolve nos município por ela banhados, com a captura de tainha, carapeba e camarão-rosa, entre outros. Diversas medidas de proteção tem sido aplicadas nas últimas décadas, entre elas o defeso que teve início em 2013 e ocorre de 1º de agosto e 31 de outubro.

Rildo de São Pedro da Aldeia

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A LAGOA DO SAL E DOS PEIXES

Quando começa a anoitecer homens e mulheres se dirigem à ponta da Praia Grande em Arraial do Cabo, munidos de apretrechos para a pesca da lula. Os que vão pescar de barco levam baterias para alimentar os holofotes que atraem as lulas para perto da embarca-ção. As varas longas de madeira tem um zangarelho, às vezes chamado de zangarês, uma espécie de anzol com várias pontas curvas voltadas para cima, que se prendem aos moluscos, que assim são trazidos a bordo. As mulheres gostam de pescar no píer de madeira e muitas entoam canções que embalam sua faina. Quem ficar no caminho de terra que chega ao canto da praia pode ver o movimento dos pescadores artesanais em suas bicicletas trazendo as lulas para serem vendidas aos donos de peixarias e restaurantes. Os pescadores artesanais tem a gararantia do uso dos recursos marinhos no local devido à criação da Reserva Extrativista de Arraial do Cabo.

Pescadores chegando e saindo de seus barcos, guardando redes, transportando o camarão recém--chegado da pesca. Essa é a paisa-gem do bairro de Praia do Siqueira em Cabo Frio-RJ, tradicional reduto de pescadores artesanais à beira da Lagoa de Araruama. Dona Neusa Marina ali nasceu em 1934, filha de pescador, e ali sua família cresceu e manteve a tradição da pesca. Seu pai, Rafael, e a mãe, Almentina, tiveram oito filhos, quatro mulheres e quatro homens. Os meninos seguiram a pro-fissão do pai que se dedicava à pesca do camarão e da tainha. Na infância, dona Neusa lembra-se das casas feitas de pau a pique com telhado de sapé e o tradicional fogão a lenha que servia também para defumar o pescado depois de salgado e seco, numa época em que os pescadores não dispunham de geladeira. Havia ainda outras maneiras para conservar o pescado sem os recursos moder-nos. O camarão era cozido em água e sal e seco no sol e depois defumado na grelha em cima do forno. “Vida de primeiro era muito difícil”, conta. “A gente brincava com boneca com cabelo feito de espiga de milho”, explica. Com toda a simplicidade da vida antiga, as pessoas eram felizes num mundo sem violência. “Os pais naquela época eram rígidos e fica-vam sempre vigiando as crianças”, diz Neusa. A meninada brincava de

pique, esconde-esconde, pular corda, jogar bola. Nas décadas de 40 a 60 havia poucas casas. Elas eram iso-ladas, e nos quintais os moradores plantavam goiaba, pitanga, fruta--do-conde, mamão, laranja-cravo, limão galego. Alguns que moravam em terrenos grandes tinham roça no fundo de casa.

Quis o destino que dona Neusa aos 18 anos se casasse com um pescador, Jaci Ramalho da Costa, já falecido. Do casamento nasceram 19 filhos, hoje seis estão vivos, três homens e três mulheres. A família ainda aumentou com a chegada de 14 netos e seis bisnetos que moram todos em Praia do Siqueira. Os três homens e uma das mulheres apren-deram a profissão de pescador com o pai. A filha Vanderleia tem 48 anos e pesca desde os 18. “Pesco mesmo desde criança”, explica, dizendo que ainda bem pequena arrastava camarão com o pé na beira da la-goa e pegava com a mão e punha numa latinha. Vanderleia lembra-se também do tempo em que dormiam com lampião de querosene aceso e acordavam com o nariz preto da fu-maça. Os pratos e as panelas eram de barro, e a mãe também aproveitava as latinhas de marmelada vazias para usar como prato, e a novidade era uma festa para a criançada. Os três filhos de Vanderleia não fizeram da pesca sua profissão, mas às vezes saem para

Os filhos da lagoa

Homens e mulheres na pesca da lula em Arraial do Cabo

Muitas gerações de famílias de pescadores cresceram à beira da Lagoa de Araruama vivendo da pesca de camarão e peixes

pescar para a própria subsistência. Afinal a pesca está bem enraizada na família, pois o marido, Antonio Ro-berto, também pescador, filho de dona Arminda, Bom Jesus de Itabapuã-Rj. Com 85 anos, dona Arminda teve 31 filhos mas somente Antonio Roberto seguiu a profissão de pescador.

Vanderlei, filho de dona Neusa, lembra-se que em sua infância a mãe tinha que carregar lata de água de poço na cabeça para abastecer a casa. “Mamãe sofreu pra caramba, hoje tem vida de princesa”, diz com bom humor. A comida que Vanderlei mais gostava era o pirão feito com peixe ou camarão. Era o alimento de todo dia. “A gente comia bastante e ficava todo mundo barrigudinho”, diz. Hoje Vanderlei pesca com a esposa Vilma, que é também descascadeira de ca-marão. Saem para pescar de segunda

a domingo. Fazem pesca de arrasto com uma rede chamada trolha, que é lançada na lagoa, e traz o camarão. Hoje, alguns pescadores se queixam da diminuição do pescado na lagoa. Dizem que antigamente pegavam muito pescado, mas não tinha gelo, nem comprador. Hoje, há mais infraestrutura para a venda, mas a quantidade do peixe e do camarão diminuiu. Dos tempos antigos, os pescadores tem saudades da vida com mais segurança. “Antes não havia violência, a gente não andava se vigiando”, diz Vanderlei. “Anti-gamente a vida era sofrida, mas era boa”, acrescenta. Quem chegar à praia do Siqueira e puxar um dedo de prosa com os moradores e apreciar a bonita paisagem, vai descobrir que a vida ainda é bem boa por aquelas paragens.

Dona Neusa, a filha Vanderleia e netos

Antonio Roberto, dona Arminda, Vilma, Vanderlei e dona Neusa

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Casquinha de bacalhau é a pedida

Visite Ilha Diana

Da Ilha Diana a Monte CabrãoSaindo do centro de Santos, a barca da

CET faz um interessante passeio pelo estuá-rio de Santos. Após 20 minutos de trajeto, a primeira parada é na Base Aérea de Santos, que apesar do nome, fica localizada no distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá. De-pois de cerca de 10 minutos a barca faz uma parada na Ilha Diana, tradicional reduto de pescadores artesanais na área continental de Santos. Segue depois para outro bairro da área continental, Monte Cabrão. Roberto Rogério da Silva Alves, um dos pilotos da barca, é nascido em ilha Diana, e há dois anos pilota a barca. È filho de Adriano da Silva Alves e Geny, tradicionais moradores da ilha. Como todo homem do mar, adora seu trabalho em constante contato com a natureza do estuário de Santos.

Alda Faria trabalha há 12 anos na empresa de pesca de Hélio Marcelino e adora receitas com frutos do mar. Aqui vai uma fácil para todos apreciarem.

½ kg bacalhau/1 cebola, dentes de alho/1 tomate/ ½ pimentão/ 150 ml de leite de coco/ 4 colheress (sopa) azeite de dendê/ queijo ralado para gratinar.

Preparo. Refogar cebola, alho, pimenta, acrescentar bacalhau. Colocar leite de coco e dendê, co-locar na casquinha e levar ao fogo pra gratinar.

Casquinha de bacalhau é uma deliciosa entrada para uma refei-ção com frutos do mar e também uma especialidade do Restaurante Estuário. Além de ser um dos mais tradicionais restaurantes de Santos, é famoso pelo excelente atendimento dos garçons da casa. Fundado em 1963 é representante típico de culinária de frutos do mar da Baixada Santista.

O Restaurante Estuário fica em frente ao Aquário Municipal na rua Imperatriz Leopoldina 1. Fone: (13)3271.1799

Veja mais na página do fa-cebook: https://www.facebook.com/pages/Caf%C3%A9-com--Peixe/1590186421205199

Localizada em Santos/SP, a comunidade de Ilha Diana encanta pela sua simplicidade e modo de vida, onde lindas casas de madeira e embarcações atracadas convivem em harmonia com famílias de caranguejos e aves do manguezal. Um convite à tranquilidade e co-nhecimento das tradições caiçaras.

A Caiçara Expedições-Operadora de Turismo da Baixada Santista organiza grupos para Ilha Diana, onde é necessário agendamento prévio. Inclui dicas preparatórias, seguro, café da manhã simples e al-moço caiçara elaborado pela comuni-dade, monitoria de moradores locais, passeio de barco e acompanhamento

de guia de turismo credenciado pelo Ministério do Turismo.

Suba a bordo e conheça este lugar especial com a Caiçara Ex-pedições!!!

Mais informações: www.caica-raexpedicoes.com

[email protected]/Tel: (13)3466.6905

Jorge Martins, garçon há 7 anos no Restaurante Estuário

Casquinha de bacalhau

Alda Faria

TEMPURÁIngredientes:3 cenouras médias200 g de vagem cortada bem fininha na faca100 g de camarão-sete-barbas limpo2 ovos inteiros batidos com 2 colheres (sopa) de águaSal a gosto1 xícara (chá) de farinha de trigoÓleo bem quente para fritarPreparo:Bater bem o ovo com a água. Misturar tudo e fritar em porções no óleo bem quente.

Roberto Rogério da Silva Alves

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KUKISASHIMI DE FORNO

A engenheira mecânica Suzana Pasternak Kuzolitz, a Kuki, fala sobre receitas saudáveis

Ingredientes :1 peça de filé de peixe extra limpo 500 g (sem pele e espinhas) (estilo sashimi ,pode ser peixe branco ou vermelho)Recomenda-se olhete, salmão ou atum1/2 maço de cebolinha japonesa (nira) ou alho-poró1 alho picado1 cebola roxa picada1 xicara (chá)de amêndoas em lascas ou pinoli1 colher de sopa de manteiga 1 colher de sopa de pimenta biquinho1 colher de sopa de limão espremidoshoyu e sal marinho a gosto azeite

Preparo:Em uma travessa redonda fatiar o pescado em fatias finas colocando--as na travessa sem que uma fatia se sobreponha sobre a outra. Regar com o suco de limão. Em uma pequena frigideira dourar na manteiga as lascas de amêndoas ou pinoli . Reservar. Em outra pequena frigideira dourar no azeite a cebola roxa e o alho. Regar quente sobre o pescado adicionando um pouco de shoyu. Temperar com um pouquinho de sal e salpicar as amêndoas torradas ou pinoli. Adicionar as pimentinhas biquinho e levar ao forno por 5 minutos. Depois de pronto salpicar a cebolinha. Serve 3 porções. O prato pode ser acompanhado de opções como: panaché de legumes, arroz selvagem, batadas assadas ao murro e alecrim.

Viajando pelo mundo de veleiro, Suzana se deparou com a ne-cessidade de usar os ingredientes disponíveis no momento. “Isso fez que eu desenvolvesse minha própria forma de cozinhar com o que ia encontrando pelo mundo”, explica. Aprendeu também a adaptar ao próprio paladar as diversas comidas típicas de regiões interessantes do Oriente. Morando hoje em São Paulo e atuando no campo da en-genharia mecânica, adora criar pratos para ocasiões especiais, e sua afinidade maior é com frutos do mar por ter vivido alguns anos em um veleiro. “Cozinhar é para mim observar o mundo a minha volta, traduzindo em sabores e texturas as minhas experiências de viagens para compartilhar com meus amigos e familiares”, explica. Kuki é adepta de uma culinária saudável, por isso usa ingredientes leves e evita gorduras de forma geral. “Somos o que comemos e sempre é possivel usar ingredientes saborosos sem necessariamente serem extremamente calóricos”, afirma.

“Somos o que comemos”

Kuki gosta de receitas com frutos do mar

Page 8: JORNAL MARTIM-PESCADOR 133

Fevereiro 20158

Na rota do camarão-rosaA vida num barco de pesca de

camarão-rosa é bem agitada, em viagens que podem durar mais de 40 dias no mar. Na chegada, após cerca de três dias para descarregar e abastecer, é hora de partir de novo. O catarinense Orlando Laurenço, 59 anos, o Xodó, é mestre do barco camaroeiro Jambo, das armadoras Marione Maria da Silva e sua irmã

Marlene. A tripulação do barco é composta de contra-mestre, moto-rista, gelador, cozinheiro, pescador. Xodó, como todo homem do mar, adora navegar. “Me dou bem no mar, o mar é saúde”, diz Xodó que está desde a década de 70 na pesca profissional. “Não tem lugar mais seguro, lá você sabe que não vai ser assaltado”, conclui.

Xodó é mestre do camaroeiro Jambo