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JORNAL LABORATÓRIO DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO DA UFRJ - número 29 - 2016/1 O amor está na nuvem SitesRelacionamento.indd 1 22/01/2019 16:32:57

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JORNAL LABORATÓRIO DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO DA UFRJ - número 29 - 2016/1

O amorestá

na nuvem

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A cara metade dos coroasSite brasileiro de relacionamento faz sucesso com público mais velho

Beatriz Moura

O amor não tem idade, é o que dizem por aí. Por isso, em 2013 o jornalista Airton Gonto criou um site de relacionamento voltado para um nicho: encontro de pessoas a partir de 40 (mu-lheres) e 45 (homens) anos. Esse é o Coroa Metade. Hoje o site conta com 139 mil pessoas inscritas. “Ele é procurado basicamente por homens e mulheres que não têm tempo a perder em encontros sem sentido, mas que ainda acreditam que é possível encontrar a sua coroa metade”, conta Gon-to. Ele destaca que o site é para pessoas que não saem muito, mas que desejam encontrar uma pessoa legal e com certo nível cultural.

Ele segue os já conhe-cidos modelos de sites de encontros surgidos nos Estados Unidos. Antes de tudo é necessário preen-cher um cadastro que ajuda a construir o do perfi l da pessoa no site, e conse-quentemente a achar um parceiro.

É necessário assinar o Coroa Metade para afastar os aventureiros e juntar pes-soas realmente interessadas em arrumar um parceiro. O site tem cadastro gratuito para quem quer conhecer como funciona. No entan-to, comunicação por chat e mensagens, pesquisas de compatibilidade e de outros serviços exclusivos são só para assinantes, que desembolsam R$ 37,90 por mês.

Segundo Airton, o valor não é problema para quem aproveita os serviços. “Eles procuram algo exclusivo e nós temos. Além disso, estamos desenvolvendo um

aplicativo do site e reali-zamos muitas pesquisas”, revela o idealizador.

“Estava procurando um site de relacionamento e encontrei o Coroa Metade, achei muito confi ável”, con-ta Vera Garcia. A moradora de Campinas achou seu par no site há dois anos e meio. “Não gosto muito de sair, então pensei que seria uma boa maneira de conseguir uma companhia.” Vera acredita que é muito fácil navegar no site e preencher os perfi s.

Aos 48 anos, ela está ca-sada há um ano e meio com Hélio de Faria, de 61 anos, que conheceu no Coroa Me-tade. No entanto, no pouco tempo que fi cou no aplicati-vo percebeu que as pessoas estavam mais curiosas em

saber detalhes sobre uma questão da sua vida, do que conhecê-la. “Tenho o braço direito amputado e os ho-mens só vinham perguntar sobre isso, já meu marido conversou comigo normal-mente”, lembra.

No primeiro encontro, ela lembra que avisou para sua mãe onde estava para não correr nenhum risco. “Depois que vi que estava tudo bem, fui ao banheiro avisá-la”, conta aos risos. Naquele momento, Vera morava em Campinas e ele em Mineira, cidade próxi-ma. “Foi fácil decidir que queríamos ter uma vida juntos, então tivemos que dar um jeito na distância”, diz. Com o casamento eles foram morar em Mineira.

“Nós combinamos bas-

tante e estamos aprendendo juntos, por isso sinto que temos muito mais pela frente”, acredita Vera. Eles se sentem agraciados por terem encontrado um ao outro para poder viver o recente casamento. “Foi um presente, tenho muito carinho pelo Coroa Metade e pelo Airton pela oportu-nidade”, comemora Vera.

Já Teresa Guimarães e Eduardo da Silva não se co-nheceram em aplicativos. Há quatro anos frequentam os mesmos bailes de dança de salão em Petrópolis, re-gião serrana, onde moram. Eles se aproximaram sem estar procurando um par-ceiro, apesar de estarem há anos sem se relacionar com alguém.

“Frequentava há muito

tempo bailes e ele começou a me tirar para dançar”,, conta Teresa, que tem 65 anos. Hoje o casal tem qua-tro anos de parceria. “Não esperava que depois de tan-to tempo encontraria um novo amor”, conta a petro-politana. Avessa às novas tecnologias ela acha muito informal procurar alguém na rede. “Sou antiga mes-mo, gosto de um bom papo pessoalmente”, revela.

Já Eduardo garante que sempre procurou um novo amor. “Tenho 78 anos e se tem algo que não gosto é solidão.” Por isso, ele não descartaria usar um site ou aplicativo de relaciona-mento. “Eu acho que essas novidades são boas para qualquer idade, mas fezli-mente não precisei”, brinca.

O Coroa Metade conta com relatos dos casais que se conheceram pelo site. A ideia do criador é aumentar o número de namoros

Deu match, e agora?Dicas para não deixar o assunto morrer ao conversar com um novo paquera

Luisa Martins

A paquera virtual tam-bém tem seus bugs. Mes-mo que esta modalidade ofereça uma certa “segu-rança” por trás de uma tela de computador ou celular e seja uma ótima alternativa para quem não pode sair sempre, é comum ter difi -culdade de sair do “oi, tudo bem”. Como superar esse obstáculo? A boa notícia é que não é tão difícil quanto parece.

Um ponto a favor da conversa online é que não há a necessidade da tro-ca de olhares, como numa conversa cara-a-cara, o que intimida algumas pes-soas. Fora isso, o nível de difi culdade é o mesmo, já que você ainda está lidando com alguém novo a quem busca agradar.

No desespero de passar uma boa impressão para o match, qualquer assunto minimamente interessante pode evaporar, de acordo com o estudante universi-tário Lucas Henrique Dal-çóquio. “Estamos o tempo todo preocupados com a maneira que as outras pes-soas vão nos ver, com o que vão pensar da gente, e em vez de sermos nós mesmos e perguntar logo se a pes-soa gosta de azeitona. A gente fi ca nessa frescura de não ter assunto”, brinca o jovem de 18 anos. E ele ainda dá ideias para quem se encontra nessa situação: “Seja você mesmo, per-gunte coisas que você re-almente quer saber sobre a pessoa”.

Mas a própria internet pode ser a solução para o problema. Não faltam dicas para ajudar os tímidos no jogo da conquista espalha-das pela rede. Onde encon-

trar? Os endereços mais co-muns são os de blogs e sites voltados para os solteiros. O site atitude.com, do coach de relacionamentos Eduar-do Santorini, está repleto de sugestões para homens que buscam uma parceira: exer-cícios para perder o medo de falar com uma mulher, listas do que você deve (ou não) falar com a pessoa e até um e-book de frases que prometem ajudar a engatar uma conversa.

Imagem

: Wikihow

Outra alternativa é o WikiHow, um site que reú-ne tutoriais de praticamente tudo que pode ser feito – e claro, não deixaria de fora uma ajuda para aqueles que tem difi culdade na paquera.

Os próprios sites, apli-cativos de paquera e redes sociais também dão uma mãozinha. Atividades favo-ritas, gostos em comum, o que a pessoa tem feito ulti-mamente: tudo está dispo-nível e, na maioria das ve-zes, público. As chances de o papo fl uir bem aumentam se o tópico interessar pelo menos um dos lados.

Independente da dica que seguir ou do assunto encontrado para conversar, o importante é lembrar que a pessoa que está do outro lado da tela também tem sentimentos. Tudo bem mostrar interesse, mas cui-dado para não ter um com-portamento invasivo: além de irritante, passa uma ima-gem negativa.

“Pergunte coisas

que você realmente quer saber

sobre a outra pessoa

e seja você mesmo”

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROReitor: Roberto Leher

ESCOLA DE COMUNICAÇÃODireção: Amaury Fernandes

Coordenação do Curso de Jornalismo: Cristiane CostaCoordenação do Núcleo de Imprensa: Cecília Castro

número 29 Informativo produzido pelos alunos da Escola de

Comunicação da UFRJ a disciplina de Jornal Laboratório

Coordenação Acadêmica Cristiane Costa

Coordenação gráfi ca, design e capaCecília CastroEstagiários

Letícia Amorim e Wallace Nascimento

Este número foi produzido com matérias elaboradas pelos alunos da disciplina Jornal Laboratório.

TIRAGEM: 500 exemplaresDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

EXPEDIENTE

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Interessados e interesseirasSugar Daddies encontram Sugar Babies em site para quem tem dinheiro

Site busca homens bem-sucedidos dispostos a pagar a conta buscam a companhia de moças mais jovens

Crédito da foto

“Olho olho olho olho Olho olho olho olho Olho olho olho olho Olho olho olho olho Olho olho olho olho”Joe Doe da Silva

Anita Guerra

Lucio b23 tem 36 anos, olhos castanhos e um patrimônio pessoal de 10 milhões de dólares. É o que diz seu perfil no site Seeking Arrangement (Procurando Acordo, em tradução lite-ral), uma plataforma que propõe “relacionamentos de benefícios mútuos”, como o próprio site define. O re-lacionamento se dá entre os “sugar daddies” e as “sugar mommies” – “homens e mulheres bem-sucedidos que sabem o que querem”– e os “sugar babies”, “pessoas atraentes buscando as me-lhores coisas da vida”.

As “sugar babies” geral-mente são mulheres jovens e bonitas, universitárias ou aspirantes à vida de sociali-te. Os “sugar daddies”, por sua vez, são em sua maioria homens mais velhos, endi-nheirados e eventualmente casados, que bancam essas jovens com jantares, presen-tes e até mesadas em troca de companhia – e sexo.

Para Júlia Quinan, jornalista e militante do movimento feminista, o Seeking Arrangement e sites semelhantes são problemá-ticos e contribuem para o machismo da sociedade: “Eles mostram como a figura da mulher é mercantilizada e vendável, não apenas por meio de dinheiro, mas com presentes, viagens”, disse. “Mostram como a mulher precisa estar sujeita a isso, como a mulher é um instru-mento de troca. A mulher é um produto que está à dispo-sição do poder dos homens.”

A ativista relaciona, também, a relação entre os “sugar daddies” e as “sugar babies” com uma “cultura da pedofilia” que a nossa socie-

dade vive. Para ela, a relação “mais que uma naturaliza-ção do abuso sexual infantil, é uma romantização. Essa fetichização da pedofilia mostra muito como o rela-cionamento entre pessoas com grande diferença de idade é uma coisa nociva e é um produto da sociedade patriarcal”.

Brandon Wade, CEO e fundador do Seeking Arran-gement, declarou à CNN que “o amor é um conceito in-ventado por pessoas pobres”. Wade, que também disse só ter dado seu primeiro beijo com 21 anos por ser preterido pelas colegas da universida-de, criou o site em 2006 para que homens bem-sucedidos financeiramente como ele pudessem encontrar parcei-

Wade estima que cerca de 40% dos 1,2 milhões “sugar daddies” usuários do site sejam casados. É o caso de Lucio b23, o do patrimônio pessoal de 10 milhões de dólares. Casado há oito anos, disse, pelo chat privado que o site disponibi-liza, estar “sem companhia e parceria” no casamento. Lucio trabalha no mercado financeiro, é corredor nas horas vagas e seu sonho era ser músico – “infelizmente o destino não me deu esse dom”, lamentou. Como a maioria dos candidatos a “sugar daddy”, ele diz estar buscando “companhia”.

O relacionamento de tro-ca muitas vezes é associado à prostituição de luxo, mas, para Wade, esse não é o propósito do site: “Nós não permitimos acompanhantes ou prostitutas usarem o site. Não é disso que se trata. Devido à forma como nossa sociedade funciona, é estranho alguém perguntar para outra pessoa se ela gostaria de se envolver em um relacionamento de troca. É aí que entra o Seekin-gArrangement.com”, disse. Segundo ele, os “sugar da-ddies” e as “sugar babies” têm relações sexuais porque isso é de se esperar em um

relacionamento adulto, mas não é o objetivo do encontro.

Porém, o N° Zero se deparou com situações de prostituição ao se infiltrar com um perfil fake de uma “sugar baby” – coisa que o site diz fiscalizar com rigor. O usuário Johnny Rivers 10 propôs, após poucos minutos de conversa, um encontro em um motel “de alto nível” em Botafogo – por duas horas e R$600, com a possibilidade de “bônus”, segundo ele. O engenheiro de 69 anos reve-lou ser casado, apesar de ter colocado que era divorciado em seu perfil.

“O amor é um conceito inventado

por pessoas pobres”

Brandon Wade

ras que desejassem também os “benefícios mútuos” dessas relações.

O empresário considera os relacionamentos “sugar” como o “futuro do namoro”: “Ao encorajar as pessoas a acharem e negociarem um acordo, nós esperamos criar relacionamentos modernos baseados na abertura da mente e da comunicação, em uma honestidade brutal e na transparência de expectati-vas”, explica.

O Seeking Arrangement conta com aproximadamente 5 milhões de usuários ativos e está disponível em vários países.

Traição Sob Sigilo“A vida é curta. Tenha um caso” é o lema do polêmico site voltado às pessoas casadas

Jaqueline Ruiz

Ainda que Capitu, per-sonagem ilustre de Macha-do de Assis, fosse usuária do site Ashley Madison, não seria possível afirmar se traiu ou não Bentinho. Dedicado a pessoas ca-sadas, o site cujo slogan é “A vida é curta. Te-nha um caso”, foi criado em 2001 e já conta com 45.900.000 milhões ca-dastrados, espalhados em 45 países do mundo todo, em busca do que o site propõe: encontros discre-tos entre pessoas casadas.

Ashley Madison, união dos dois nomes mais po-pulares nos EUA, certi-fica o usuário da política de privacidade da plata-forma. O nome do site não aparece na fatura do car-tão de crédito, a foto de perfil pode ter efeitos que escondam o rosto do usu-ário e caso deseje adicio-nar outras fotos, só quem você conceder acesso a galeria poderá visualizar.

Ao se cadastrar, você deve responder a uma sé-rie de perguntas sobre os seus gostos, desejos e in-teresses pessoais que vão desde beber socialmente até fazer sexo a três. As diversas opções ajudam o interessado no perfil a ter um panorama da persona-lidade e dos objetivos do usuário. Para iniciar uma conversa, você pode utili-zar o sistema de busca que filtra até o peso e altura re-gistrados por outros cadas-trados, bem como os limi-tes definidos por eles: caso rápido, qualquer coisa que me dê tesão, caso virtual/chat erótico, topo tudo, longo prazo ou não decidi.

Porém, manter uma conversa não é algo fácil

Símbolo na página inicial do site, o dedo sobre a boca faz alusão ao silêncio e à política de privacidade da empresa

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retirada da internet

“Eu tinha menos

confiança de que as

mulheres se comportariam desse jeito.”Noel Biderman

no portal. O modo de pagamento não é por as-sinatura mensal, mas por pacote de créditos. Embo-ra o primeiro mês seja gra-tuito, cada conversa custa cinco créditos e uma hora de chat são 50 créditos, fa-zendo com que rapidamen-te acabem e você tenha que assinar um novo pacote. .

Embora se autodeno-mine um site 100% con-fiável e seguro de traição, em julho de 2015 nada menos do que 37 milhões de usuários tiveram suas informações roubadas e expostas por hackers, cau-sando revolta nos clien-tes que até então confia-vam no serviço prestado.

Dentre esses, 12 mil perfis pertenciam a mulhe-res ativas no site e outros 5,5 milhões a mulheres cadastradas, mas inativas. Mas essa não foi a úni-ca polêmica envolvendo o Ashley Madison. No mesmo ano foi descober-

to que a empresa matriz responsável pela plata-forma, Avid Life Media, pagava outras empresas para criarem perfis falsos.

Um email enviado dia 4 de julho de 2013 pela dire-tora de operações internas, Nora Abtan, ao CEO Noel Biderman e outros geren-tes, revelou que os perfis falsos, chamados “anjos” estavam sendo produzi-dos no Japão, Holanda, Portugal e Hong Kong com diferentes prazos.

Em outro email, de 30 de julho de 2012, entre Sandra Simpson e um fun-cionário chamado Eduar-do Borges, fica evidente o rígido controle para a elaboração de perfis re-alistas. Os funcionários apontaram a necessidade de haver conteúdo pesso-al nos perfis e a seleção da etnia para diferenciar os perfis e não gerar des-confiança nos clientes.

Apesar disso, o site só

cresceu em número de usuários de ambos os se-xos, mesmo tendo sido desenvolvido especial-mente para o público fe-minino. Em entrevista dada à Bloomberg News em 2011, Noel Biderman, afirma que o site era fo-cado em atrair mulheres, não homens, desde as co-res femininas ao nome.

“Eu estava confiante de que homens se inte-ressariam por um serviço para realizar essas coisas de maneira anônima. Eles

aparentemente já faziam isso”, disse Biderman. “Eu tinha menos confian-ça de que as mulheres se comportariam desse jeito.”

Segundo uma pesqui-sa citada por ele, há dois ambientes mais propícios para que o adultério ocor-ra a mulheres casadas: no escritório com algum co-lega de trabalho ou den-tro de seu círculo social, com alguém próximo, um amigo de alguma amiga.

“Para elas saírem em busca de casos anôni-mo, eu teria que criar um paradigma”, explica.

Ashley Madison é um site que apesar de todas as polêmicas envolvendo a veracidade de sua admi-nistração tem grande po-pularidade. Há algo que a torna diferente de outros sites de paquera, o foco dado à traição e à expec-tativa de conhecer pessoas passando pelas mesmas situações num casamento.

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Vai rolar um adultério Site Second Love é destinado a casados que querem fugir da relação a dois

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retirada da Internet

Ana Carolina BorgesThalita Valente

“Até que a morte nos separe” é para os fracos. No Second Love, o lema se aproxima de algo como “até que a nossa internet caia”. O curioso site de re-lacionamento voltado para o adultério tem uma caracte-rística que chama a atenção: apenas pessoas casadas devem se cadastrar. Para conhecer pessoas solteiras? Não. Para conhecer pessoas também casadas.

Desfrutar de um am-biente em que as pessoas compartilham do mesmo estado civil pode facilitar o relacionamento. Segundo dados do próprio site, são mais de 400 mil usuários inscritos.

Em 2011, assim que a plataforma foi lançada para os brasileiros, após passar por países como Alemanha, Espanha e França, a porta voz Anabela Santos, em en-trevista ao jornal O Globo, afirmou que 70% dos usuá-rios eram homens e 30% são mulheres, com idade média entre 35 e 49 anos.

A história do Second

Love começou com uma mulher casada que busca-va relações extraconjugais de maneira segura. Charlie, nome provavelmente fictício, criou o site para que outros casados pudessem explorar seus desejos sem correr ris-cos. “Ter uma aventura em segurança é possível, e digo isto porque eu própria já o experimentei.”, revela Char-lie na carta de apresentação que está na home.

Passada a etapa de ca-dastro, o casado ou casada se depara com os usuários que estiveram online re-centemente, além de ter a possibilidade de buscar por novos. Ao lado de cada nome, há a suposta idade, com espaço para foto, que raramente as pessoas colo-cam. E, abaixo, um espaço para uma frase ou palavra que descreva o perfil de cada um e o que está procurando. Características como “sensí-vel”, “inteligente”, “amoroso”, “carinhoso”, “companheiro” e “amigo” são tão comuns quanto descrições do obje-tivo de navegantes do site, como “Quero trair minha esposa sem compromisso!” ou “Desejo encontrar um ho-

mem para um caso discreto”.O Second Love dispo-

nibiliza algumas formas de interação entre os cadas-trados. Ao entrar em um perfil, é possível, por meio dos ícones localizados na parte superior da interface, enviar uma mensagem, virar amigo, adicionar à lista de favoritos, ou, caso necessá-rio, bloquear os indesejados. Mas o ícone mais caracterís-tico do site é a “piscadinha”: mostrar interesse da forma mais clara possível. Os usu-ários também podem ter conversas por bate-papo e saber quem andou visitando seu perfil.

O acesso é limitado para usuários não pagantes, que só conseguem enviar até 500 mensagens diretamen-te e não podem visualizar a foto de ninguém. Porém, para mulheres, ou usuários que se definam como mulhe-res, a administração do site pode ser considerada mais flexível.

Um perfil feminino feito exclusivamente para a re-portagem foi contemplado com três meses de assina-tura grátis. “Valentethalita”, uma falsa casada de 25 anos,

ganhou o direito de trocar mensagens ilimitadas, en-viar piscadelas a hora que quisesse e ver as fotos de outros casados, caso eles permitissem.

Mas, se o perfil é cadas-trado como masculino, as facilidades são consideravel-mente reduzidas. O perfil falso de “AndréTerra”, usuário não pagante, é praticamente im-possibilitado de interagir: ele não pode carregar fotos, não tem bate-papo, não pode mandar mensagem nem adi-cionar como amigo ou aos favoritos, e pode piscar para as pretendentes apenas cinco vezes por dia.

Com um nome de usuá-rio mais criativo que o outro, a maioria dos homens do site têm idade entre 35 e 49 anos. Advogados, econo-mistas, publicitários e até o “padre34” afirmam que o casamento está desgasta-do e, que, para reacendê-lo, uma terceira pessoa seria bem-vinda. “Não tenho a pretensão de me divorciar, acho que estou vivenciando uma turbulência creio que semelhante a você. Sou hiper discreto.” Essa é só alguma das diferentes abordagens

escolhidas pelos usuários. As conversas vão desde de-sabafos sobre a vida a dois até “novinha, hum, curte co-roa, gosta de tio você?” (sic).

O site disponibiliza uma área para que usuários deem seus testemunhos. Os relatos selecionados, como é espe-rado, são sempre elogiosos. “O site é excelente, a equipe responsável pelo site está de parabéns. É de alto nível, re-comendo, só tenho elogios! Entrei hoje e estou impres-sionado!”, disse um.

Já outra expressou sua felicidade em pagar o pacote de acesso às funcionalidade para uma possível traição: “Oi, Charlie. Fiquei mui-to feliz com sua recepção e com essa assinatura! Fiquei sabendo do Second Love através de uma reportagem, dizendo que chegava ao Brasil um site direcionado a quem queria trair. Como te-nho motivos para agir como estou agindo, decidi me associar”. No entanto, em poucas horas de atividade no site, são comuns momentos embaraçosos para os mais tí-midos: a conversa desvia das para convites de sexo virtual na maior naturalidade.

Spotted: O novo ‘correio elegante’Lucas Cardoso de Menezes

Pode ter sido apenas uma troca de olhares e você pode não ter pensado em chegar na menina(o) naque-le momento, mas guardou o arrependimento e foi se remoendo o caminho todo até sua casa. Ainda há uma chance. Trazendo para o mundo digital aquela brin-cadeira antiga chamada de “correio elegante”, os grupos, perfis e páginas denominados de “spotted” – criadas no Faceebook, principalmente por univer-sitários – vêm possibilitando a formação de novos casais em todo o país.

Remetentes que pre-ferem o anonimato, em primeiro momento, têm oportunidade de abrir o co-ração e se declarar para essa outra pessoa, que antes po-deria ser admirada apenas a distância, talvez por falta de coragem. Agora não é mais preciso aguardar até que aconteça uma festa junina.

Funciona da seguinte maneita: o interessado pro-cura no Facebook a página “Spotted “ que representa o local onde ele estava, en-caminha seu relato para os moderadores, que avaliam o conteúdo e publicam. Usu-ários costumam descrever com perfeição o momento em que estiveram próximos a quem procuram e quan-to mais detalhes melhor. Descrever as roupas, ca-racterísticas físicas, onde estava, o que estava fazen-

do, que ônibus pegou, etc. O céu é o limite e o coração é o alvo.

Traduzindo, “spotted” significa “marcado” o que é, no meio digital o que todos que utilizam as páginas ten-tam fazer. De acordo com o responsável pelo Spotted Escola de Comunicação da (ECO-UFRJ), que não revela o nome, já foram publicadas mais de 2 mil cantadas e, o caminho en-tre a postagem e o encontro é um pouco mais longo do que parece, não havendo uma regra geral, nem sem-pre o anônimo se revela para a pessoa que lhe interes-sa. Ele ainda afirma que as cantadas podem servir para que outras pessoas resolvam concordar, tomar coragem e demonstrar interesse pelo descrito.

Um discreto, “Queria te ver outra vez”, ou um “eu te

quero”, está valendo. Segun-do Carlos, administrador do Spotted Unigranrio (Ca-xias), muitas mensagens são censuradas, “nem sempre eles são cordiais”.

“Já recebemos um conto erótico, que de tão pesado não pode ser publicado”, contou Carlos. Não tendo ofensas e preconceito, sua flecha tem grande possibili-dade de acertar o alvo.

Os perfis dos Spotteds que já se espalharam pela rede social são sempre mo-derados por alguém, essa pessoa geralmente faz a avaliação de tudo que é encaminhado, podendo aprovar ou não o conteúdo da nota.

Em quase todas as publi-cações analisadas há uma similaridade, existe sempre um amigo para indicar a pessoa que está sendo pro-curada. Esses amigos fazem

a menção e direcionam a mensagem à pessoa que mexeu com o coração do anônimo, que pode se mani-festar por ali ou apenas via “inbox”.

“Você estava no bandejão hoje (20), na fila, com uma caixa de papelão na mão. Acompanhada de dois ami-gos. Estava vestindo uma camisa cinza, jeans e tênis branco. Preciso saber quem você é, e se tem namorado. Me lembro que almoçou na mesa bem próxima de onde servem os alunos”, publicou na semana passada o “spot-ted: UFRJ”, da Federal do Rio de Janeiro.

Alguns usuários man-dam fotos, as vezes feitas sem que seu amor à pri-meira vista perceba. As imagens facilitam a identifi-cação. Algumas mensagens, mesmo que não censuradas, podem ser bem constrange-

doras, chegando até a inibir qualquer reação por parte do alvo.

“Queria muito agradecer por você existir, Spotted! Conheci meu atual namo-rado através da página e estamos com planos para casar! Muito obrigada mes-mo”, postou em setembro do ano passado o “spotted UFRJ”. O moderador da página foi convidado inclu-sive para ser o padrinho do casamento.

O Spotted já se espa-lhou pelos metrôs, bairros, faculdades, cursos, igrejas, manifestações, ocupações, entre outros. Em 2013, a reportagem do G1, havia listado 10 páginas com es-sas características na rede brasileira, hoje, três anos após, existem ao menos 700 páginas destinadas a ajudar os pombinhos publicando suas cantadas.

“O céu é o limite

e o coração é o alvo”

Em páginas criadas no Facebook, anônimos revelam suas paixões secretas

As primeiras e a maioria das páginas utilizadas para paquerar denominadas como spotted são criadas e moderadas por universitários

Arte / Lucas C

ardoso

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Bate-Papo UOL ainda “tem local”Cesar Cavalcante

Sempre há alguém disposto a criar um nick mentindo o tamanho da ge-nitália, entrar em uma sala virtual com participantes suspeitos, abrir uma con-versa reservada e despejar alguns minutos de cantada barata. Não, o Bate-Papo UOL não voltou. Ele sem-pre esteve na rede, e sempre “bombou”. Bateu uma ver-gonha tardia dos momentos vividos nessa clássica pá-gina? Pois saiba que ela continua frequentada da mesma maneira.

Claro que agora os usuá-rios são mais familiarizados com o funcionamento da “cam” e treinados para não clicar nos apetitosos spams pornográficos. Algumas coisas mudaram. Mas uma rápida ida ao mais famoso chat do país reserva mo-mentos de nostalgia e revela que as paqueras ainda fun-cionam no estilo old school web.

Lançado há 20 anos, o chat caiu no gosto dos usu-ários, ainda nos primórdios da internet no Brasil. A conexão era lenta e proble-mática, e o Bate Papo-Uol sentia isso também. Mas a capacidade do site em agrupar milhares de pes-soas, simultaneamente, em centenas de salas e com um desempenho razoável no envio das mensagens tornava o chat uma boa es-colha. E hoje, os avanços tecnológicos, que criaram um novo conceito de ins-tantaneidade, exigem ainda mais da página: “Nossa, como trava”, se queixa uma usuária com o nick “Ami-ga...”, na sala destinada aos

Nostálgico chat mantém influência no mundo da “paquera sem cerimônia”

sexo casual, com conquista sem muita cerimônia, que o portal também lançou salas com os títulos ‘fetiche’, ‘a três’, ‘selvagem’, ‘suingue’ e até ‘sadomasoquismo’.

Para fugir da estigma da podolatria, uma outra sala recebeu o carinhoso nome ‘Louco por pés’. Nela, ou-tra característica do site é evidenciada: a falta de usu-árias faz com que homens héteros entrem em frenesi ao verem um nick femini-no. Bastaram 20 segundos para seis usuários come-çarem a ‘pegar no pé’ da “paulistinha24”. Um deles tentou explicar o desejo se-xual: “Bem... eu me achava maluquinho até descobrir que existem muitas pessoas com gosto parecido, e que é algo que pode ser fantasia-do e vivenciado numa boa, sem excessos”.

Outro ponto funda-mental para o sucesso do Bate-Papo UOL é o ano-nimato dos usuários. Eles podem iniciar uma conversa com alguém, abandonar o papo em alguns segundos e não sentir remorso por isso. Por este motivo, a inibição não existe neste universo. Atualmente, 25 milhões de usuários visitam, mensal-mente, a página, que chega a receber 70 mil pessoas si-multaneamente. Em 2014, foi lançado um app, com um número de ferramen-tas limitada, mas suficiente para competir com outros programas de paquera para celular. O Bate-Papo UOL encontrou a receita certa para um ponto de encon-tro de sucesso. E ela conta com pitadas despudoradas, fortes doses de anonimato e um bocado de erotismo.

adventistas.Na página de religiosos,

ela divide espaço com os usuários ‘Lessbica23anos’, ‘M solteira adv’, ‘KSADO-PAUGROSSO’ e outros. Depois de algumas trocas de saudações com o usuário ‘paulo25’, a paraibana revela o verdadei-ro nome. Se chama Clei-de, tem 33 anos, mora em João Pessoa, é d i v o r c i a -da, tem um filho e diz que “busca amizades” e uma “con-versa legal”. Ela não se i n c o m o d a com os di-álogos mais a p i m e n -tados que vão subin-do no chat, entre usu-ários que e s q u e c e m de ativar o modo “re-s e r v a d o ”. Depois de se interessar pelo perfil de ‘paulo25’, que também diz ser adventista, morar no Recife e buscar “talvez algo a mais” no chat, ela ofere-ce o celular, antes de dizer que precisa sair, voltando a reclamar do travamento do site.

No mesmo horário (9h da manhã de uma terça--feira), o usuário “Soro + Casar HH” entra na sala ‘soropositivos’, agrupada na categoria ‘namoro’, do bate--papo. Ele logo responde

ao cumprimento de “pau-lista25”. “Tudo bem, sim. Com saúde... e você?” Ele se chama Ricardo, tem 47 anos, mora em Campinas, e está no Brás, região central da capital paulista, no apê de um amigo para fazer uma entrevista de emprego.

O usuário “paulista25” demonstra interesse na conversa ao dizer que gosta de homens mais maduros. Recebe de Ricardo sua frase de “o que procuro”: “Alguém especial, carinho-so, romântico, caseiro, que se cuide e queira relaciona-mento sério”.

Durante a conversa, Ri-cardo explica que descobriu ser soropositivo indefectá-vel há 3 anos e emenda a pergunta: “Você tem pernas e coxas peludas?”, depois

de descrever com tamanho do próprio pênis. O suposto paulista de 25 anos diz que raspa as pernas e se adianta alegando não querer ir di-reto para a casa de alguém. “Se eu desejasse, sairia com um passivo a cada hora em São Paulo, pois convites

não faltam. Mas não saio porque só querem sexo”, tenta consertar o expe r ient e Ricardo, an-tes de levar a conversa para um campo me-nos sexual.

Desde o lançamento, a libido dos u s u á r i o s dita o tema de boa parte das salas do Ba t e - Pa p o UOL. A sexualização dos apelidos, as fotos de identificação dos usuários e os textos de descrição

de cada um apontam para isso. Se em uma paquera, no tête-à-tête, o assunto é tratado com cautela, no chat ele chega a aparecer em questão de minutos. Mas a maioria dos usuários não quer apenas manter uma conversa mais quente na internet, e logo depois que surge o interesse em levar tornar real todo o desejo no chat vem a pergunta: “Tem local?”.

Foi vendo a demanda dos usuários pela busca de um

Foto Clara Sthel

Achou que o chat tivesse sumido? Hoje, até app de celular ele tem!

Site de relacionamento para funcionários públicos junta o útil ao agradável

“O estress,a dedicação, a clausura dos

estudos para um concurso são necessários”

Roberto

Depois do concurso, o amor

Clara Sthel Por que você não faz um

concurso público? Quem nunca ouviu a clássica per-gunta, dita por um familiar mais velho? Se você acatou a recomendação do seu tio preocupado e fez um con-curso público, e hoje é um funcionário concursado com estabilidade financei-ra, parabéns! Você avançou uma casa. Agora, a próxima etapa do jogo da vida é arru-mar um(a) companheiro(a), porque ainda é difundida a ideia de que as pessoas têm que ter um relacionamento estável para serem felizes, de preferência com alguén com a mesma situação fi-nanceira que você. E é aí que o site Namoro Estável entra na vida de muitos fun-cionários públicos, um site de relacionamentos criado há quatro anos, dedicado a encontrar pessoas que se-jam funcionários públicos ou pensionistas.

Assim que acessamos a home do Namoro Está-vel, logo abaixo do login e

senha, existem dois links “úteis”, um para uma maté-ria que explica o que signi-fica ser um funcionário pú-blico, e o outro com o título: “Curtida no Facebook pode autorizar dispensa por justa causa?” Essas duas matérias dão o tom do site, que pare-ce mais uma intranet de uma instituição pública, do que um site para arranjar uma paquera. As cores, o layout e a organização nada intuitiva reforçam a ideia de um site bem formal.

Para usar todas as van-tagens do Namoro Estável tem que pagar mensalmente ou anualmente, dependendo do plano. O valor varia entre R$19 a R$ 96 reais. Mas há possibilidade de usar algu-mas ferramentas de forma gratuita com restrições.

Nas duas versões o usuá-rio pode ver quantas pessoas espiaram o seu perfil. Um ponto negativo é a filtragem de algumas palavras no in-tuito de limitar os usuários se comunicarem por outros meios, como por exemplo, se você quiser mandar seu

email para conversar com alguém fora do site, as letras do endereço eletrônico são trocadas por asteriscos

Mas será que a busca de um verdadeiro amor se en-trelaça com a situação finan-ceira do parceiro? Dizem que em Brasília a vontade de ser servidor público é quase

não tem a mesma situação econômica que você. Mas não é só isso, o tempo de-dicado aos estudos antes de passar em uma prova tam-bém é um dos componentes que fazem algumas pessoas adotarem a paquera online: “Tive alguns relacionamen-tos que não deram certo, as pessoas querem ser felizes, mas não querem semear jun-tas. O stress, a dedicação, a clausura dos estudos são necessários; por isso, estou sozinho”, explica o advoga-do Roberto, que começou a usar o site após uma indica-ção de um amigo.

A preparação para os concursos envolve muito es-tudo e uma mudança na vida social. A constatação fica ní-tida nas falas dos usuários, muitos deles apontam essa fase de estudos como o prin-cipal motivo para estarem solteiros e à procura de uma pessoa num site de namo-ro. A parceira ideal seria al-guém que já tivesse passado pela mesma situação e que tenha, preferencialmente, as mesmas ambições: “Já sou

formado, porém faço uma segunda graduação, pois as-piro no futuro me especiali-zar e alcançar outro patamar profissional, social e finan-ceiro”, escreve Xandrake, no seu perfil. Outra caracte-rística que muitos usuários do sexo masculino fazem questão de reforçar e a dedi-cação aos estudos, “Amo es-tudar para concursos e viver a vida de forma saudável e equilibrada”, enfatiza Ribei-ro, técnico administrativo de Brasília.

As dificuldades na na-vegação, por ser uma plata-forma pouco amigável, sem versão mobile e com restri-ções na versão gratuita, faz o site sofrer uma grande eva-são de visitas. Muitos usu-ários se animam de início com a proposta do Namoro Estável, e depois, desistem, ao verem que as pessoas se cadastram e acabam não en-trando muito ou demoram dias para responder. A al-ternativa é trocar telefones e migrar para outras platafor-mas como o WhatsApp ou Facebook.

um vírus espalhado pelo ar. E parece ser verdade, 80% dos cadastrados no site vi-vem no Distrito Federal.

O site, segundo o jornal Correio Braziliense, tem mais de 25 mil usuários, que prezam pela condição financeira estável na hora da paquera. Afinal, como seria um planejamento de uma vida com alguém que

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NO 29 - 2016/1 1110 NO 29 - 2016/1

Paixão na era TinderFamoso por promover encontro casuais, aplicativo une casais duradouros

Clara Mayrink

Existe amor no Tinder. Apesar de ser conhecido por ser uma plataforma para pessoas que procuram encontros casuais, muitos casais sérios foram forma-dos no aplicativo.

O Tinder é um aplica-tivo para celular que usa a localização geográfica e os interesses comuns com base nos dados do perfil do Facebook dos usuários para conectar pessoas.

Recentemente, até o cantor espanhol Enrique Iglesias declarou ter um perfil no aplicativo. Em 2013, ano de maior popula-ridade do Tinder, ele foi um dos mais baixados na Apple Store.

O aplicativo foi lançado no final de 2012, nos Esta-dos Unidos e em agosto de 2013 no Brasil, que já é o país com segundo maior nú-mero de usuários no Tinder.

Os brasileiros passam mais tempo que usuários de outros países no aplicativo e também ganham na quan-tidade de matches, que é o termo dado para as combi-nações de casais.

Dos 26 milhões de ma-tches diários registrados no mundo, 7 milhões acon-tecem no Brasil. A média diária do brasileiro no aplicativo é de 77 minutos. Em outros lugares, este tempo gira em torno de 60 minutos.

A fama do aplicativo está nos encontros casuais

que são marcados pela pla-taforma. Foi criada até uma paródia do Tinder com a Cinderela. O vídeo “Tinde-rella”, produzido pelo canal do Youtube College Hu-mor, viralizou há dois anos e foi chamado de “o conto de fadas da nova geração”. Nele, dois usuários marcam um encontro em uma boa-te, têm uma noite juntos e “vivem felizes para sem-pre, porque nunca mais se falaram”.

Mas nem só de relacio-namentos efêmeros é feito o Tinder. Muitos namoros sé-rios tiveram seu início neste aplicativo, indo contra a fal-ta de credibilidade que os relacionamentos iniciados virtualmente costumam ter. Alguns casais já estão jun-

Ana Carolina Mello com o namorado Raul Palermo., que conheceu no Tinder. Ela baixou o aplicativo para um trabalho acadêmico e acabou encontrando o namorado

tos há anos, se casaram e já tiveram até filhos. Pesqui-sas recentes realizadas nos

Estados Unidos indicaram que 5% dos casais ameri-canos nasceram no Tinder e 30% dos que ainda estão juntos nasceram da internet em geral.

A estudante de jornalis-mo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carol Mello conheceu seu atual namorado de uma forma inusitada. A jovem se inscreveu no Tinder em agosto de 2013, assim que o aplicativo chegou ao Brasil, para fazer um trabalho da faculdade. “Usei por mais uns meses, mas nunca dire-to. Sempre excluía a conta e depois voltava. Baixei para falar mal. Acho a dinâmica do aplicativo ruim, pare-ce um rodízio de gente”, comenta.

Arquivo pessoal

Dos 26 milhões de matches

diários registrados no mundo, 7 milhões

acontecem no Brasil.

A média diária do brasileiro no aplicativo

é de 77 minutos

O match com Raul Pa-lermo aconteceu quase que sem querer. “Para o tra-balho até tentei dar match com homens aleatórios, mas só apareceu doido. O engraçado é que meu na-morado tem o mesmo nome e idade de um fotógrafo de balada que eu achava lin-do. A foto demorou muito a carregar, então dei like para garantir. Quando deu match eu vi que não era, mas ele era gente boa e daí deixei rolar”, explicou.

Depois de três meses de conversas, os dois saíram juntos e desde a primeira vez, passaram a se ver sem-pre. Estão se relacionando há dois anos e meio, mas, em um namoro sério, estão há um ano. “A gente não estava procurando namoro, mas acabou acontecendo”, resume.

Já para Caio Bruno Queiroz, o Tinder trouxe, além de uma namorada, uma vaga de estágio. Ele namora Beatriz Furtado desde dezembro de 2015 e a mãe dela, que traba-lha no Tinder na área de atendimento, lhe passou um contato profissional. Agora, Caio é estagiário de atendimento na Match, empresa de aplicativos e si-tes de relacionamentos, que administra o Tinder, o Par Perfeito e a Divino Amor.

“Eu me inscrevi no Tin-der em 2014, quando tinha saído de um relacionamento e meus amigos me indica-ram. Lá, conheci a minha atual namorada”, conta Caio, que é estudante de jornalismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Alguns amigos de Caio acham engraçado o fato de ele ter começado um relacionamento sério no Tinder, que veem como meio para uma “pegação”. “Nós somos a prova viva de que dá para conhecer pes-soas legais nos aplicativos.

Além de nós, um casal de amigos da minha namora-da se conheceu no Blendr (aplicativo semelhante ao Tinder) e hoje mora jun-to”, declarou. “No fim das contas, o relacionamento se dá da mesma forma que se tivesse conhecido em outro lugar. O que faz do rela-cionamento diferente é a pessoa.”

O mais complicado para alguns casais é explicar para os mais velhos como se conheceram. Carol Mello disse, aos risos, que teve di-ficuldade em explicar para sua mãe o que era Tinder. Já a mãe do namorado da estudante Ana Lidia Guer-reiro acredita que ela e seu filho se conheceram no carnaval. “Todo mundo es-tranha o fato de termos nos conhecido no Tinder, dá risada. Mas a gente já não liga mais”, explica.

Ana Lidia se inscreveu no aplicativo no final de 2014, porque suas amigas já usavam há um tempo e ela acreditou que pudesse ser divertido. “Eu tinha fi-cado um tempo sem usar o Tinder e reinstalei para o carnaval de 2015. Ele tinha umas fotos, mas não dava muito para ver o rosto dele direito, dei like mais pela descrição que ele tinha”, re-lembra Ana.

“Foi ele que veio falar comigo, comentando que também tinha gostado da

minha descrição”, conta. Os dois ficaram juntos a primeira vez em um bloco no carnaval. Depois, saí-ram juntos umas quatro ou cinco vezes, mas ela viajou e passou um mês fora. “A gente se falou quase todo dia durante esse mês e co-meçamos a namorar duas semanas depois que voltei.”

Desde 2014 há um blog com o nome “Tinderella”, que faz sucesso entre as mulheres. A inspiração veio de uma autora britâ-nica anônima, que teve sua vida marcada por desastres amorosos. Ela descobriu o Tinder e criou uma pá-gina na internet para que seus amigos acompa-nhassem seus encontros, sempre engraçados. Para sua privacidade (e também dos rapazes), a Tinderella preferiu não revelar sua identidade. O blog tem feito tanto sucesso que a escri-tora já pensa em lançar um livro.

No último dia dos na-morados, o Tinder fez

O vídeo “Tinderella”, produzido pelo canal College Humor, viralizou em 2014 no Youtube : o conto de fadas da nova geração

Reprodução

“O relacionamento

se dá da mesma forma que se tivesse conhecido em outro lugar. O que faz do

relacionamento diferente é a

pessoa”Caio Bruno

Queiroz

parcerias com empresas. A Uber e o Tinder realizaram uma campanha em come-moração à data, em que foram oferecidos códigos promocionais de 25 reais de desconto em viagens da Uber para os usuários que curtissem o perfil da empresa no Tinder. O dia dos namorados é o período no qual o Tinder tem mais downloads, afinal, nin-guém quer passar esse dia sozinho.

O Tinder vem pas-sando por mudanças e aprimoramentos desde que foi lançado, em 2012. O aplicativo está se diversifi-cando. Em breve, terá mais opções além do masculino e feminino, uma área volta-da ao público transgênero.

Além disso, o serviço vetará menores de 18 anos. Hoje, o Tinder já possibi-litou cerca de 11 bilhões de conexões, que puderam evoluir para namoros e até casamentos. Ou, no míni-mo, um encontro casual.

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NO 29 - 2016/1 1312 NO 29 - 2016/1

Muito mais que um rostinho bonitoAs descrições de perfi s no Tinder e o que dizem sobre quem está por trás do app

A visão do app para quem está em busca do match perfeito

Marina Mairos Antonio Costa

Seja solteiro ou compro-metido, na faixa dos 15 aos 30 anos, de qualquer gênero ou orientação sexual, todo mundo já ouviu falar e/ou usou o Tinder. Embora a galeria de fotos seja o des-taque do maior aplicativo de relacionamento do mun-do e o que mais conta na decisão se alguém vale ou não o like (ou até o super-like), as descrições também têm uma grande parcela de infl uência na hora de ava-liar um perfi l.

O perfi l no Tinder re-vela a personalidade do usuário, das principais características dele e do que ele acredita ser seu/s principal(ais) ponto(s) forte(s). Essas informações mostram como alguém se descreve para pessoas desconhecidas; a estraté-gia escolhida para mostrar o melhor de si, aspectos que podem despertar o in-teresse e conquistar seu principal objetivo, o like.

Na busca pelo match perfeito, o usuário apos-ta em diversas estratégias para ter a oportunidade de conversar com alguém que o interessou. Não existem regras nem padrões para uma descrição no Tinder, mas é certo que vale a pena investir na criatividade, deixando os outros usuá-rios curiosos para conhecer melhor quem está por trás do app.

Descrição CurrículoO tipo mais clássico e

mais usado de descrição no Tinder. Nela, o usuá-rio conta onde estuda e/ou trabalha e seus princi-

pais interesses e hobbies. Provavelmente, considera sua carreira e estilo de vida suas maiores qualidades e, portanto, acredita ter maior chance de conquistar seu par ideal por meio delas. Alguns exageram nos deta-lhes profi ssionais e passam a sensação de estarem em uma seleção de emprego, em vez de em uma seleção de parceiros amorosos em potencial.

Descrição Marketing Pessoal

Nesse tipo de descrição, que também é um clássico no Tinder, o usuário opta por não contar nada sobre si diretamente. Ao contrá-rio, ele divulga seus perfi s nas redes sociais, principal-mente seu Instagram. É uma aposta na aparência: já que o aplicativo tem um limi-te de fotos, deixa links que contêm mais fotos para os interessados poderem confe-rir. Essa estratégia, porém, é pouco prática e pode causar o efeito contrário. É possí-vel que pessoas deixem de “dar like” por não quererem sair do aplicativo para saber

mais sobre o usuário; pode ser mais fácil só passar para o seguinte.

D e s c r i ç ã o 100% Sincera

O usuário que usa essa estratégia de descrição quer deixar bem claro quais são suas inten-ções antes mesmo de iniciar uma conversa. Assim, quem escolher “dar like” nele, já sabe o que vai encontrar. Como a impressão geral é de que relacionamen-tos sérios não são o foco principal de quem o usa o Tinder, esse tipo de usuá-rio costuma informar que não participa dessa estatísti-ca. “À procura de uma boa conversa”, “em busca de um amor”, “em busca de um relacionamento sério” são frases muito usados.

Descrição ResumoEsse tipo de descrição é

marcante: procura resumir o usuário em apenas pouquís-simas palavras. “Intenso”, “apaixonado”, “amante da natureza” e “amo animais” são bastante usados e mos-tram que essa pessoa tem

ser mais fácil só passar para

características que o defi -nem bem. Escolhê-las para encontrar um par é um ato de confi ança, pois o dono do perfi l mostra que está seguro de quem é e acredita que pode conquistar alguém com o ponto mais forte de sua personalidade.

Descrição ConviteEssa não é bem uma

descrição, já que não conta nada sobre a vida ou per-sonalidade do usuário. Ela é, na verdade, um convite para uma conversa ou para conhecer o dono do perfi l melhor – por meio do like, claro. “Quem eu sou? Dá um like para saber”, “é só

perguntar”, “like para saber mais” são referências para essa estratégia de conquista.

Descrição Referência Cultural

Muitos usuários gostam de adicionar referências culturais e pop às suas descrições, buscando, prova-velmente, outras pessoas que entendam tais referências, se identifi quem e se interes-sem por ela – um encontro de fãs. Frases de séries e de fi lmes são as mais usadas nesse caso. Dentre elas, pas-sagens da americana How I Met Your Mother, a “queri-dinha” de muitos que usam essa tática.

Surpresa à primeira vistaEstratégias em apps de paquera podem projetar imagem diferente da realidade

Vítor Santos

É quase meia-noite de uma quinta-feira de outono no Rio de Janeiro. A chuva cai. A sessão de pré-estreia do fi lme “Capitão América 3: Guerra Civil” está prestes a começar em um dos cine-mas da Zona Sul da cidade. Um homem com casaco es-curo e capuz começa a andar na direção de Letícia Fon-seca. Por alguns instantes, a estudante de Biomedicina sente medo. Quando ele se aproxima e tira o capuz… ela fi ca sem reação. Muda.

“Ele é mais bonito do que eu esperava!”, pensa Letícia, em uma mistura de surpresa e alívio. Pela primeira vez ela se encontrava com o garoto “muito fofi nho” que conhe-ceu através do Tinder – fa-moso aplicativo de paquera – e com quem já conversava havia alguns dias.

“O bom do cinema é que, se os dois fi carem sem assun-to, pelo menos vão assistir ao fi lme. É como uma válvula de escape”, explica a estu-dante, de 21 anos. “Já passei por situações em que pensei: por que eu vim aqui?”

Claudio Pinkusfeld, de 19 anos, também já teve de lidar com alguns constrangimen-tos. O fotógrafo fl uminense estava em São Paulo e fi cou ansioso para encontrar um baiano que deu um “match” nele – termo usado quando há uma combinação, ou seja, ambos se “curtem” e podem dar início a um bate-papo. Eles, então, foram a um res-taurante na rua Augusta, fa-moso reduto boêmio da capi-tal paulista. Porém, papo vai, papo vem... e nada de cli-ma! “Ele era lindo, mas não aconteceu. No fi nal, a gente se despediu e nunca mais se viu”, lembra Claudio.

Usuários de aplicativos de relacionamento apostam em fotos de diferentes ângulos no perfi l

Kaique Rocha/Divulgação

O psicólogo Ailton Silva sugere que os pretendentes con-versem bastante antes do encontro para criar intimidade, se conhecerem melhor e evitar situações inesperadas. Marcar em locais públicos é uma importante medida de segurança. “Avise a alguém onde está indo; não aceite entrar no carro do outro ou dar carona; busque informações no Facebook ou no Google”, aconselha. Se o perfi l na rede social tem poucas fotos, amigos e informações, desconfi e: pode ser falso.

Dicas

Já no Rio, ele se apaixo-nou por um homem de 1,93 m de altura antes mesmo de vê-lo pessoalmente. “Parecia um cara alto, forte, um deus grego”, conta. Certo dia, por acaso, os dois se cruzaram em uma festa. A visão foi outra. “Ele era alto sim, mas corcunda, todo ‘errado’. Tan-to que demorei a identifi cá--lo.” Nem a vontade de con-versar surgiu.

Marketing pessoalNa avaliação do professor

de Psicologia da Universi-dade de São Paulo (USP), Ailton Amélio da Silva, es-pecialista em relacionamen-to amoroso e comunicação, essas surpresas acontecem porque as pessoas tendem a selecionar as fotos que consi-deram ser “a melhor visão de si”. Por mais que as imagens não tenham sofrido qualquer alteração, como edição digi-tal no Photoshop, a simples escolha de quais inserir no perfi l dos aplicativos já é um

problema. “Se variar ilumi-nação ou ângulo, fi ca uma diferente da outra”, explica.

Letícia concorda com o psicólogo, e por isso publi-ca imagens em diferentes ângulos e poses – na frente do espelho, com pintura no rosto, com camisetas de su-per-heróis e bandas de rock e até mesmo dentro de um laboratório, vestindo jaleco, máscara e touca. “Com essa foto [no laboratório], a pes-soa já sabe minha paixão por Biomedicina. Mostro meus gostos pessoais para ter as-sunto”, ressalta a estudante, que durante a entrevista ves-

tia uma camiseta do fi lme “Homem de Ferro”.

Claudio, por sua vez, acredita que a escolha das fotos é como uma estratégia de marketing. “Você deve colocar primeiro sua foto de corpo mais bonita, depois as mais atraentes… Quanto mais corpo você mostrar, e mais dentro do padrão ele for, mais combinações você vai ter. Foto com animal também chama a atenção”, aconselha o fotógrafo, que teve seu perfi l renovado há cerca de um ano com a ajuda de um amigo já “experiente” em ferramentas de paquera.

O fotógrafo acredita que os conselhos deram origem a um “novo Claudio” nos apli-cativos, mais bem-humorado e descontraído. Faz parte da conquista: “Não quero ser apenas mais um. Gosto de uma entrada triunfal”. Sua própria autodescrição já co-meça assim: “Ex-represen-tante da Jequiti, protagonis-ta do fi lme Tainá, dublê da Xena Princesa Guerreira, já montei no cavalo guerreiro, conselheiro da Paris Hilton, tenho dois umbigos”. E daí em diante a lista continua…

Porém, em nenhuma das fotos Claudio aparece com a cor de cabelo atual, como na noite em que foi entrevista-do, em Ipanema: uma mistu-ra de loiro com azul.

“No fi m das contas, os usuários desses aplicativos querem ser aceitos e, para isso, tentam seguir padrões. Isso é uma bobagem, porque depois vão ter ‘medo’ de en-contrar pessoalmente – ou, caso contrário, correm o ris-co de decepcionar”, analisa Ailton. “Por outro lado, tem gente que já deixa claro que fuma, ou que é obeso… En-tão, se o outro aceitar o con-vite do encontro, já vai saber o que pode esperar.”

Segundo Claudio, que calcula já ter se encontrado pessoalmente com pelo me-nos 40 “combinações”, é pre-ciso “dar a cara a tapa” e estar preparado para frustrações: “Tem gente que depois nun-ca mais vai falar com você. É normal! Não crie expecta-tiva. Mas já conheci muitas pessoas que me ajudaram até mesmo a lidar com minha insegurança [com relação à aparência]”, conta ele, que já pesou 133 kg e hoje conside-ra o seu corpo um dos prin-cipais atrativos na constante caçada do “match” perfeito.

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O poliamor está no ar Site de paquera permite que usuários procurem por mais de um companheiro

Inicialmente criado como um site, o OkCupid já migrou para aplicativo de celular

Luis Eduardo Paes

O OkCupid é um site de paquera para aqueles que procuram não apenas um par. A rede de relaciona-mento ainda é o único site de paquera não especia-lizado em poligamia que permite que usuários pro-curem por mais de um companheiro. Aqueles que escolhem as opções en-tre “saindo com alguém”, “casado” ou em um “rela-cionamento aberto” podem entrar em contato com ou-tra pessoa para fazer parte da relação amorosa.

Inicialmente criado como um site, o OkCupid já migrou para o aplicativo de celular. Por semana, o apli-cativo é baixado por mais de 1 milhão de pessoas. No entanto, ele ainda não é muito conhecido no Brasil.

A decisão de incluir uma opção para os usuários que

querem um poliamor veio depois que a empresa notou um aumento no número de interessados em relações não monogâmicas. De acor-do com dados da empresa, divulgados em janeiro, 24% dos usuários estão “seria-mente interessados” em sexo grupal, enquanto 42% consideram namorar al-guém que já está em um relacionamento aberto ou um poliamor.

Esse foi mais um pas-so dado para a inclusão de relacionamentos margi-nalizados. Em 2014, o site acrescentou a opção de “re-lacionamento aberto”. Além disso, no ano passado, au-mentou para 22 o número de gêneros reconhecidos. Entre as opções estão, por exemplo, “transgênero” ou “queer gênero”.

Em entrevista ao jornal The Atlantic, Jimena Al-mendares, chefe-executiva

do OkCupid, afirmou que “encontrar um parceiro é um processo muito impor-tante. O usuário deve poder se expressar exatamente como é e o que precisa”.

O OkCupid garante ser a melhor rede social de pa-quera por três aspectos: o amor pela matemática, a liberdade para interação e a permissão para a partici-pação de qualquer pessoa. Um usuário pode criar um perfil gratuitamente, mas pode também pagar para ter alguns benefícios exclu-sivos, como pesquisas mais avançadas para encontrar um parceiro, ver todos os visitantes e pessoas que cur-tiram o perfil, entre outras.

Para encontrar um “par perfeito”, a rede social analisa a personalidade de cada usuário. A partir de um cruzamento de dados e algoritmos, é possível en-contrar um “match” que

combine com os gostos e interesses. No processo de criação do perfil, o usuá-rio deve responder diversas perguntas inusitadas como: “você gosta de discussões políticas” ou “em certo as-pecto, uma guerra nuclear não seria emocionante?”.

A partir dessas respostas, o site faz uma comparação para ter um grau de com-patibilidade entre usuários. É possível identificar tra-ços de personalidade com base nessas porcentagens, tornando a interação ainda mais fácil. Ao contrário de outros aplicativos, o OkCu-pid também não restringe o envio de uma mensagem. Um usuário pode tentar conversar com outro em qualquer momento.

O usuário Vitor_dl, por exemplo, conheceu o ex-na-morado pelo OkCupid, em 2013. “Eu gosto do OkCu-pid porque ele vai além de

uma foto, como nos outros aplicativos. Você pode ten-tar entender a personalidade da pessoa antes de querer conversar com ela”, disse o usuário Vitor_dl.

Por outro lado, essa li-berdade acaba aumentando um problema recorrente. Segundo os usuários, mui-tas pessoas não sabem interagir de uma maneira respeitosa. Esse problema é mais relatado por mulheres. De acordo com a usuária amandacds, “todos parecem tarados e ficam falando sa-canagens. Eles só querem sexo”.

Ainda pouco conheci-do no Brasil, o OkCupid é uma das maiores redes sociais de relacionamen-to do mundo. A intenção é que ele se popularize ainda mais no Brasil para tentar ser um concorrente de peso entre os aplicativos mais reconhecidos.

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