Jornal do Urbanismo

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Jornal do Urbanismo Escola de Arquitetura da UFMG - Abril de 2016 Este pequeno jornal apresenta alguns exemplos dos principais projetos e pla- nos feitos no quesito das formas e tipos do urbanismo. Além disso, discute-se sua ressonância atualmente e suas apresentações, com enfoque no Brasil. Desta união, o movimento das pes- soas de cidades congestionadas se daria naturalmente como um imã para uma cidade próxima da na- tureza que ele considerava ser fon- te de vida, riqueza e felicidade. Cidade jardim A visão utópica de Howard foi uma tentativa de resolver os problemas de insalubridade, pobreza e poluição nas cidades por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma es- treita relação com o campo. Apostava nesse casamento cidade-campo como forma de assegurar uma combina- ção perfeita com todas as vantagens de uma vida urbana cheia de opor- tunidades e entretenimento juntamente com a beleza e os prazeres do campo. volvimento econômico simultaneamente a produção agrícola que teria merca- dos prontos da cidade próxima ao nú- cleo rural. Sua intenção não era criar um subúrbio jardim, mas uma entidade cidade-campo em combinação perma- nente com dimensões controladas de 2.400 hectares para 32.000 pessoas, sendo 2.000 hectares para a área rural de 2000 habitantes e 400 hec- tares para a parte urbana de 30000 habitantes dividas em 6 partes ou bairros com 5.000 habitantes. A zona agrícola agiria como um amortecedor contra o crescimento incontrolável do centro populacional. Para Howard, quando uma cidade atingisse a sua capacidade de suporte, novas cidades deveriam ser formadas em torno de uma cidade central de 58.000 habi- tantes, um núcleo cultural, formando uma constelação de cidades interliga- das por meio de ferrovias e rodovias. Atualmente A cidade de Maringá, é decor- rente da marcha pioneira que avan- çou em direção ao norte do Paraná e à região noroeste de São Paulo na primeira metade do século XX, tendo como eixo as linhas ferroviárias então abertas, trazendo consigo os grandes cafezais no lugar da mata atlântica. Detalhe do mapa topográ- fico com malha urbana sobreposta. Representação base da estrutura da Ci- dade Jardim de Ebenezer Howard. Alegoria dos três imãs: junção das qualidades do campo e da cidade. Além disso, a indústria se deslocaria para o campo como estratégia de desen- A Companhia de Terras Norte do Paraná (CNTP), empresa privada de capital britânico, organizou uma es- tratégia para o estabelecimento da rede de cidades - um plano geral de ocupação - foi manter a estreita rela- ção entre as vias de comunicação e as aglomerações e a regularidade na dis- tância entre os assentamentos urbanos: cidades planejadas para se tornarem grandes centros prestadores de ser- viços, posicionados sempre a uma dis- tância de 100 km entre si, e cidades menores, planejadas como centros de abastecimento da população rural, com no máximo 15 km de distância entre si. Croqui das vias principais e circulação ur- bana de Maringá. A ferrovia tracejada e as ruas e avenidas principais em traço cheio. Esquema das cidades inteligadas com áreas para a indústria, escolas e florestas. O engenheiro Jorge de Macedo de Vie- ira, encarregado pela Companhia do projeto de Maringá, imprimiu ao dese- nho da cidade o caráter das soluções do tipo garden city. Em seus desenhos, Vie- ira revelou uma grande sensibilidade não só para com os princípios formais da cidade-jardim determinados por Unwin, como também para a natureza do lugar que nunca visitou, nem preli- minarmente aos seus estudos, nem mais tarde para conhecer a cidade construí- da que havia idealizado, tomando por base somente o levantamento topográ- fico da região. Entretanto, a paisagem antrópica construída aí respeitou todas as particularidades e potencialidades que o cenário natural lhe oferecia. Sabe-se que a idéia original de Ho- ward de cidade-jardim não perpassa o desenho urbano de Maringá. A prática do urbanismo de Unwin e de Parker em Letchworth e Hampstead influenciaram e formaram a prática projetual de Jorge de Macedo Vieira, que adotou as soluções formais e os princípios de de- senho daquelas duas cidades na com- posição da forma urbana maringaense.

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Trabalho final da matéria em história do urbanismo, sobre as formas-tipo encontradas nas teorias urbanísticas e sua reverberação nas cidades brasileiras, de forma breve e sucinta. Por Aline Maracahipe Rocha

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Jornal do UrbanismoEscola de Arquitetura da UFMG - Abril de 2016

Este pequeno jornal apresenta alguns exemplos dos principais projetos e pla-nos feitos no quesito das formas e tipos do urbanismo. Além disso, discute-se sua ressonância atualmente e suas apresentações, com enfoque no Brasil.

Desta união, o movimento das pes-soas de cidades congestionadas se daria naturalmente como um imã para uma cidade próxima da na-tureza que ele considerava ser fon-te de vida, riqueza e felicidade.

Cidade jardim A visão utópica de Howard foi uma tentativa de resolver os problemas de insalubridade, pobreza e poluição nas cidades por meio de desenho de novas cidades que tivessem uma es-treita relação com o campo. Apostava nesse casamento cidade-campo como forma de assegurar uma combina-ção perfeita com todas as vantagens de uma vida urbana cheia de opor-tunidades e entretenimento juntamente com a beleza e os prazeres do campo.

volvimento econômico simultaneamente a produção agrícola que teria merca-dos prontos da cidade próxima ao nú-cleo rural. Sua intenção não era criar um subúrbio jardim, mas uma entidade cidade-campo em combinação perma-nente com dimensões controladas de 2.400 hectares para 32.000 pessoas, sendo 2.000 hectares para a área rural de 2000 habitantes e 400 hec-tares para a parte urbana de 30000 habitantes dividas em 6 partes ou bairros com 5.000 habitantes. A zona agrícola agiria como um amortecedor contra o crescimento incontrolável do centro populacional. Para Howard, quando uma cidade atingisse a sua capacidade de suporte, novas cidades deveriam ser formadas em torno de uma cidade central de 58.000 habi-tantes, um núcleo cultural, formando uma constelação de cidades interliga-das por meio de ferrovias e rodovias.

AtualmenteA cidade de Maringá, é decor-rente da marcha pioneira que avan-çou em direção ao norte do Paraná e à região noroeste de São Paulo na primeira metade do século XX, tendo como eixo as linhas ferroviárias então abertas, trazendo consigo os grandes cafezais no lugar da mata atlântica.

Detalhe do mapa topográ-fico com malha urbana sobreposta.

Representação base da estrutura da Ci-dade Jardim de Ebenezer Howard.

Alegoria dos três imãs: junção das qualidades do campo e da cidade.

Além disso, a indústria se deslocaria para o campo como estratégia de desen-

A Companhia de Terras Norte do Paraná (CNTP), empresa privada de capital britânico, organizou uma es-tratégia para o estabelecimento da rede de cidades - um plano geral de ocupação - foi manter a estreita rela-ção entre as vias de comunicação e as aglomerações e a regularidade na dis-tância entre os assentamentos urbanos: cidades planejadas para se tornarem grandes centros prestadores de ser-viços, posicionados sempre a uma dis-tância de 100 km entre si, e cidades menores, planejadas como centros de abastecimento da população rural, com no máximo 15 km de distância entre si.

Croqui das vias principais e circulação ur-bana de Maringá. A ferrovia tracejada e as ruas e avenidas principais em traço cheio.

Esquema das cidades inteligadas com áreas para a indústria, escolas e florestas.

O engenheiro Jorge de Macedo de Vie-ira, encarregado pela Companhia do projeto de Maringá, imprimiu ao dese-nho da cidade o caráter das soluções do tipo garden city. Em seus desenhos, Vie-ira revelou uma grande sensibilidade não só para com os princípios formais da cidade-jardim determinados por Unwin, como também para a natureza do lugar que nunca visitou, nem preli- minarmente aos seus estudos, nem mais tarde para conhecer a cidade construí-da que havia idealizado, tomando por base somente o levantamento topográ-fico da região. Entretanto, a paisagem antrópica construída aí respeitou todas as particularidades e potencialidades que o cenário natural lhe oferecia. Sabe-se que a idéia original de Ho-ward de cidade-jardim não perpassa o desenho urbano de Maringá. A prática do urbanismo de Unwin e de Parker em Letchworth e Hampstead influenciaram e formaram a prática projetual de Jorge de Macedo Vieira, que adotou as soluções formais e os princípios de de-senho daquelas duas cidades na com-posição da forma urbana maringaense.

Este inovador projeto consistia no dese-nho de uma cidade articulada a ambos lados de uma larga via (50 metros) com transporte ferroviário, de longitude em princípio não limitada, o que possibili-tava seu crescimento. Desta maneira o trem passava a ser um elemento estru-turador do território. Na rua central se concentrariam os serviços públicos para os cidadãos e as casas dos habitantes. O que propunha Arturo Soria era or-denar a escala territorial os núcleos ur-banos que já existiam na periferia, me-diante a criação de um assentamento urbano unido a uma linha de transporte ferroviário, isto é, criar em meio a Ma-dri uma coroa urbanizada que unisse as localidades de Pozuelo, Carabanchel, Villaverde, Vallecas, Vicálvaro, Canil-las, Hortaleza e Fuencarral. Lamenta-velmente, só chegariam a realizar-se os 5 Km que uniam a antiga carreteira de Aragão com o Pinhal de Chamartín, isto é, o que hoje conhecemos como Ci-dade Linear. Sua construção se iniciou em 1892 e ao ano seguinte obteve seu primeiro reconhecimento internacio-nal na Exposição Universal de Chicago.

Cidade Linear A cidade linear tem como característica mais marcante o desenvolvimento em linha; geralmente com uma via central que funciona como estrutura principal em torno da qual se desenvolvem ra-mos secundários. Além disso, está liga-da em muitos aspectos à questão do transporte e da crescente importância do sistema viário no planejamento da cidade, principalmente ao longo do sé-culo XX. Em sua concepção inicial, com Soria y Mata, esteve ligada também ao movimento higienista e à questão dos bairros operários. Desde a déca-da de 1880, Soria y Mata acredi-tava que sua cidade linear poderia se estender pelo território ligando ci-dades e mesmo países, em uma grande rede urbana. Este fenômeno não está longe da realidade dos nossos dias.

AtualmenteNo Brasil, temos como representação a construção da cidade de Brasília e a partir disso observa-se o que Lúcio Cos-ta disse, certa vez, que o bom urbanista deveria ser aquele que coloca um pou-co da cidade no campo e um pouco do campo na cidade, ele estava, na reali-dade, apropriando-se do pensamento de Soria (criador da Cidade – linear): “Realizar la vida urbana; urbanizar el campo”. Tal fato comprova a tese de-fendida por Carpintero de que o pro-jeto para o Plano–piloto é simbiótico, ao procurar fundir pensamentos ur-banísticos de um período, como os da Cidade – linear, Cidade – jardim e al-guns dos princípios da Carta de Atenas.Para o entendimento da divisão da cidade em duas escalas – Residencial e Monumental – deve-se entender, ini-cialmente, o conceito de escala: o re-sultado da comparação, considerando a questão dimensional, entre dois ob-jetos. Em segundo lugar, entender que os eixos estruturadores do Plano-piloto – um para cada escala – foram implan-tados de forma a proporcionar uma re-lação entre elas e, como conseqüência, reforçar os seus conceitos morfológicos.

Croqui do eixo monumental por Eduardo Bertc.

Modelo linear de Arturo Soria y Mata contra a distinção de centralidade.

va a própria redenção da sociedade, levando-a criar, de forma intencional, uma cidade que viria a privilegiar o des-locamento por automóveis. Porém, isto relembra a intenção de Soria y Mata em ligar a cidade ao aspecto de um siste-ma viário de planejamento da mesma.

Plano-piloto de Brasília, com os eixos principais que formam um avião, com a centralidade linear.

Esquema de uma parte do projeto da Ci-dade Linear em Madri ao qual foi implantada.

Brasília continua necessitando de um maior entendimento a começar, pelo processo que desencadeou sua cons-trução. Só assim, poderemos preservá-la na forma devida; prepará-la para o futuro; e utilizar seus ensinamentos. A obra completa de Lúcio Costa, por-tanto, deveria ser objeto de estudo constante. O que ele nos deixou como legado está, na realidade, muito além de sua produção, que estendida às suas reflexões, pode ser convertida em ensinamentos atemporais com utili-dade em qualquer lugar, na arquitetu-ra ou urbanismo, onde o bem-estar do homem seja o principal fim.

O projeto de integração do país por intermédio de rodovias apressou a construção de uma nova capital e, como bem se sabe, a mentalidade de-senvolvimentista era a principal carac-terística do período JK cujo carro-chefe era a indústria automobilística. Para Lúcio Costa a industrialização significa-

Por: Aline Maracahipe Rocha.Fontes: REGO, Renato Leão. O desenho urba-no de Maringá e a idéia de cidade-jardim. Acta Scientiarum, 2001.ANDRADE, Liza Maria Souza de. O conceito de Cidades-Jardins: uma adaptação para as cidades susten-táveis. Arquitextos, 2003.LAUANDE, Francisco. O projeto para o Plano-piloto e o pensamento de Lúcio Costa. Arquitextos, 2007.http://docslide.com.br/documents/cidade-linear-arturo-soria-y-mata.html