João e Maria

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Roteiro adaptado

Transcript of João e Maria

JOO & MARIACENA 1

Casa de Joo e Maria. Fim de tarde, quase noite. JOO e MARIA brincam enquanto o PAI e MADRASTA trabalham. Luzes baixando at o final da cena, lentamente.

MADRASTA:

Joo! Maria!

JOO:

J vai

MARIA:

Estamos indo, madrasta! (para Joo) Essa pedrinha a mais bonita, Joo!

JOO:

Eu no acho.

MARIA:

sim. Foi a pedrinha mais linda que eu encontrei!

Crianas continuam brincando. Pai intervm. amoroso com os filhos, mas frouxo com a mulher.

PAI:

Deixa eles brincarem mais um pouco, benzinho!

MADRASTA:

No. J brincaram o suficiente por hoje.

PAI:

a idade. Eles so to pequenos... Tm o direito de brincar e estudar!

MADRASTA:

Azar o deles. Nesta casa, todos devem trabalhar. E muito! (empurrando o Pai) Agora, vai na mata pegar mais lenha, seu preguioso!

PAI:

Mas eu j cortei tanta lenha, hoje. Estou cansado!

MADRASTA:

E devia cortar mais e mais!

PAI: (suplicando)

Mas, benzinho...

MADRASTA: (dura)

Nem mais nem menos! (puxando pela orelha as crianas) E chega de brincadeira por hoje!

JOO:

Madrasta, tem alguma coisa pra comer, hoje?

MARIA:

Estamos com uma fome!

PAI: (suspirando, abobalhado)

Nunca mais tivemos uma refeio decente...

MADRASTA:

Tudo por culpa do pai de vocs!PAI:

Culpa minha?!

MADRASTA:

Se trabalhasse...

JOO:Mas o papai trabalha duro, todos os dias eu e a Maria ainda ajudamos um pouquinho!

MADRASTA:

Vocs todos no fazem nada direito. E pensar que eu tenho que viver nessa pobreza... Ah, se arrependimento matasse!

PAI: (constrangido)

No fale assim, benzinho! (tom) As crianas...

MADRASTA:

isso mesmo! Se no trabalhar duro, vamos todos morrer de fome!

MARIA:

Pai, olha s que pedrinhas bonitas!

PAI:

So lindas, filhinha!

MADRASTA:

Eu no disse pra voc no trazer estas porcarias pra casa?

MARIA:

Mas so s pedrinhas brancas, Madrasta!

MADRASTA:

Fez muito mal, menina! V jogar isso fora!

PAI:

Benzinho... Ela s est brincando!

MARIA:

Eu catei as pedrinhas com tanto carinho. Peguei as mais bonitas...

JOO:

Isso muita maldade! Ouviu, madrasta?

MADRASTA:

Tem toda razo! J que eu sou m... (pega as pedrinhas) Adeus, pedrinhas! (joga as pedrinhas longe)

MARIA: (triste)

Papai, por que ela to m?

JOO:

O senhor precisa fazer alguma coisa!

PAI: (abraando as crianas)

Fiquem calmas, crianas, por favor...

MARIA:

Todos os dias ela faz uma maldade diferente... A gente no agenta mais!

PAI: (tomando coragem)

Tem razo. Isso no pode continuar assim... (para a Madrasta) Mulher!

MADRASTA: (alto)O que foi dessa vez?! Ser possvel que no me deixam em paz?!

Silncio. Pai fica apavorado.

PAI: (engasgando)

Eu vou pegar mais lenha!!! (para as crianas) Crianas, obedeam madrasta! (sai)

MADRASTA:

Ouviram o seu pai, no ?

JOO: (baixo)

Ouvimos...

MADRASTA:

Eu no escutei direito!

MARIA:

Vamos obedecer sempre senhora!

MADRASTA:

Assim que eu gosto. Agora, vo se deitar!

JOO:

Mas, e a comida?

MARIA:

Estamos com muita fome!

MADRASTA:

A comida? Bem... Temos um pozinho... Se formos dividir por quatro d quanto?

JOO:

Bem... Quase nada, n?!

MADRASTA: (repartindo)

Pois isso que tero pra janta... No vo ter uma congesto, hein?! Agora, vo dormir!

MARIA:

A essa hora?

MADRASTA:

Chispa!

Joo e Maria vo pro quarto, cada um com seu pedao de po.

MARIA:

Ela mandou a gente dormir cedo hoje... Que estranho, Joo!

JOO:

Eu no estou gostando nada disso.

Joo e Maria ficam espreita, prestando ateno na convers

CENA 2

Continuao cena anterior. PAI e MADRASTA conversam, sem perceberem as crianas.

PAI:

Eles j foram dormir?

MADRASTA:

J! (partindo o pedao restante em dois) Toma aqui o seu pedao!

PAI:

Ai, que pena tenho dos meus filhos! Voc bem que podia ser mais carinhosa com eles...

MADRASTA:

A comida est acabando e voc acha que eu posso pensar em carinho?!

MARIA: (baixo)

Do que eles esto falando, Joo?

JOO: (baixo)

Vamos ouvir para descobrir!

JOO e MARIA se aproximam mais e comeam a prestar ateno na conversa dos dois.

PAI:

Mas eu dou um duro danado. Podemos pensar numa soluo...

MADRASTA:

Soluo? Com um preguioso como voc, ns nunca vamos sair do buraco!

PAI:

No precisa falar desse jeito!

MADRASTA: (sinistra)

Tudo bem. Escuta uma coisa: nossos problemas podem acabar. Eu sei de uma soluo...

PAI:

Uma soluo? Ento conta!

Madrasta fica em silncio por uns instantes e solta:

MADRASTA:

Amanh, bem cedo... Levaremos seus filhos para um lugar bem afastado, na floresta. Inventamos uma desculpa e deixamos os dois por l.

PAI:

Sozinhos?

MADRASTA:

Eles no conseguiro descobrir o caminho de volta Que a floresta cuide deles!

MARIA: (baixo)

Estamos perdidos, Joo!

JOO: (baixo)

No chore, Maria! Eu vou achar um jeito de nos tirar dessa.

PAI:

No! Eu nunca faria isso. Como poderei deixar meus dois filhos abandonados na floresta?

MADRASTA:

Ento, prefere que morramos de fome os quatro? Pense bem! Vai ser melhor pra todos.

PAI:

No! Podemos ser pobres, mas temos que ficar sempre juntos. Ainda mais duas crianas. Eu no posso deixar que nada acontea com eles!

MADRASTA:

Ora, ora! Acho que voc ainda no entendeu a nossa situao!

Fique sossegado. J est decidido. A floresta cuidar muito bem deles!

Madrasta sai, deixando o Pai, sozinho e triste.

CENA 3

JOO e MARIA andam pela floresta.

MARIA:

Aonde voc vai? Espere por mim!

JOO:

Temos que tomar cuidado. Eles podem acordar!

MARIA:

Eu estou com medo, Joo!

JOO:

Calma! Estou tentando ter uma idia!

Ficam em silncio por um instante, pensativos.

MARIA:

Vo nos deixar na floresta, Joo. Vamos ficar perdidos pra sempre!

JOO:

Vamos voltar e vai ser amanh mesmo. S precisamos pensar. A resposta pode estar bem pertinho...

MARIA:

Bem pertinho? Onde?

JOO: (olhando para o alto)

Olha s a lua no cu, Maria. Quem sabe ela possa nos ajudar...

MARIA:A lua?

JOO:

s esperar, maninha... Voc vai ver: a lua vai nos mostrar um caminho!

Msica. Lua brilha sobre Joo e Maria. Sob os seus ps, muitas pedrinhas refletem o brilho da lua.

JOO:

Aqui, olha! As nossas pedrinhas refletindo a luz da lua! Toda vez que a lua aparece, elas brilham que nem moedinhas de prata! (comea a catar algumas pedrinhas no cho)

MARIA: (ajuda a catar as pedrinhas)

Mas ser que isso pode nos ajudar, Joo?

JOO:

Mas claro que sim! Amanh, eu mostro! Agora, vamos voltar, antes que a madrasta acorde! (sai)

MARIA:

Vamos! (vai sair e volta) Muito obrigada, luazinha! Boa noite! (sai)

CENA 4

JOO, MARIA, MADRASTA e PAI andam pela floresta.

PAI:

Joo, por que voc est olhando tanto para trs? Assim, a gente se atrasa, filho!

JOO: (piscando para Maria)

Eu estou olhando o telhado da nossa casinha...

MADRASTA:

Garoto bobo!

Pai e Madrasta vo frente, Joo e Maria atrs.

MARIA: (baixo)

O que voc est fazendo, Joo?

Joo joga uma pedrinha no cho.

JOO: (baixo)

Preparando o caminho.

MARIA: (baixo)

Com essas pedrinhas?

Joo joga outra pedrinha.

MADRASTA:

O que vocs esto aprontando, hein?

JOO:

S estou olhando a chamin da casinha, l longe...

MADRASTA: (perdendo a pacincia)

De novo com isso?! Anda, anda, vamos andando!

Continuam andando.

MARIA:

J andamos o dia inteiro. Estou cansada!

JOO:

Eu tambm!Param num ponto.

MADRASTA:

Pronto! Aqui est perfeito!

MARIA:

Precisa ser to longe de casa, pai?

PAI: (com dor no corao)

Temos que pegar madeira... Outro tipo de madeira!

JOO:

Mas tem madeira na floresta toda. Por que tem que ser logo aqui?

MADRASTA: (cortando)

Ah... Isso no interessa. Vocs dois, esperem aqui. Vamos cortar lenha e voltamos logo... (para o pai) Vamos, benzinho?!

Pai e Madrasta saem, deixando Joo e Maria. Joo e Maria se sentam. Passagem de tempo. Anoitece.

MARIA:

Joo, agora estamos sozinhos de verdade.

JOO:

Mas no por muito tempo. Pode confiar!

MARIA:

Eles no vm mesmo nos buscar. Ai... Esse escuro... Eu queria tanto voltar pra casa!

JOO:

Fique sossegada que vamos voltar, num instantinho!

MARIA:

Essa boa, Joo! Voc acha que algum vai nos encontrar, nesse lado da floresta? Vamos ficar aqui pra sempre!

JOO:

J j voltamos, acredite!

MARIA:

J j quando?

JOO:

Ora, quando a nossa amiga aparecer...

MARIA:

Quem? A lua? Ela bem que podia nos ajudar.

JOO:

Maria, lembra do brilho da lua?

MARIA:

Nas pedrinhas do cho? Mas claro! to bonito quando elas brilham...

JOO:

Ento...

Msica. Lua aparece, fazendo as pedrinhas brilharem, mostrando um caminho de pedrinhas brilhantes.

JOO:

Viu? Agora s seguir as pedrinhas e j j estamos em casa!

MARIA:

Que felicidade! Vamos voltar pra casa!

CENA 5

Em casa, PAI se lamenta pelos filhos para a MADRASTA.

MADRASTA:

Pare de choramingar, homem!

PAI: (chorando)

Como fui capaz de abandonar os meus filhos na floresta?! Aqueles dois pequenos anjinhos!

MADRASTA:

Dois pequenos anjinhos? Aqueles dois davam muito trabalho. Comiam tudo o que viam pela frente... ( parte) Ah, s de pensar que finalmente eu me livrei deles!

Entram JOO e MARIA.

MARIA:

Papai, que saudade!

JOO:

Nem acredito que chegamos!

PAI:

Meus filhinhos! Vocs voltaram!?

Pai e crianas se abraam.

JOO:

O que aconteceu? Ficamos esperando por vocs.

MARIA:

Esqueceram da gente?

MADRASTA: (disfarando)

No. Imagina. Como poderamos esquecer? Nos desencontramos: foi isso!

PAI:

O importante que vocs voltaram e agora est tudo bem!

CENA 6

JOO, MARIA, PAI e MADRASTA se preparam novamente para ir floresta.

PAI:

Ah, tem certeza que precisamos ir floresta, hoje?

MADRASTA:

Mas claro! J comemos tudo que havia s nos resta esse po duro. As crianas tm de ir embora. Vamos deix-las bem no meio da floresta. Dessa vez, no ponto mais distante! Hoje, eu garanto que elas no voltam!

MARIA: (baixo)

Joo, como vamos fazer sem as pedrinhas?

JOO: (baixo)

Calma! Vamos dar um jeito.

MARIA: (baixo)

impossvel!

JOO: (baixo)

Aguarde que eu tenho um plano!

MADRASTA:

Vamos indo!

Comeam a andar.

JOO:

Pai, estamos com fome!

PAI:

Vamos dividir esse po entre ns.

Pai reparte o PO em quatro, dando um pedao pra cada um. Maria guarda o seu, debaixo do aventalzinho.

MADRASTA:

E guardem para mais tarde! Pois tudo o que temos por hoje.

Continuam andando.

MARIA:

Falta muito?

MADRASTA:

Vamos pegar lenha na parte mais espessa da floresta. Temos muito cho pela frente!

Continuam andando. Joo comea a partir o seu pedao de po, espalhando as migalhas pelo caminho.

MARIA: (baixo)

O que voc est fazendo, Joo?

JOO: (baixo)

Disfara! Faz parte do plano.

MARIA: (baixo)

Mas voc est acabando com a sua nica comida...

JOO: (baixo)

No importa. Precisamos marcar o caminho com alguma coisa.

MARIA: (baixo)

Ah, Joo, ser que isso vai funcionar?

JOO: (se gabando)

Est tudo sob controle, Maria! Confia em mim!

MADRASTA:

O que vocs esto conversando, hein? Assim vamos nos atrasar!

PAI:

Deixe os dois! conversa de criana.

MADRASTA:

Ah, essas crianas!

MARIA:

Ser que o seu plano vai dar certo?JOO:

Deixe comigo, maninha! Se deu certo com as pedrinhas, vai dar certo com as migalhas do po.

MARIA:

No sei no...

Madrasta, Joo e Maria param num ponto do palco.

MADRASTA:

Aqui est timo. J andamos o dia inteiro. Crianas, fiquem aqui e esperem, que ns voltamos para buscar vocs.

MARIA:

Vamos esperar como todos os dias, madrasta!

Joo e Maria se sentam.

MADRASTA:

timo. Esperem sentadinhos!

PAI:

Meus filhos... Tomem cuidado! Se por acaso...

MADRASTA: (cortando)

Chega de conversa por hoje! Vamos!

PAI:

Mas eu ainda no...

MADRASTA: (cortando)

E nada de despedidas! (puxando o marido pelo brao) Vamos indo! Antes que eu me arrependa... E deixe voc aqui tambm!

Pai e Madrasta saem. Joo e Maria ficam sentados. Comea a anoitecer.

MARIA:

Ah, Joo, j est anoitecendo. Ser que desta vez vamos conseguir voltar pra casa?

JOO:

s a gente seguir os pedacinhos de po que eu espalhei pelo caminho... Vai ser moleza!... Ningum pode nos impedir!

CENA 6 (PSSARO BRANCO)

Num outro canto da floresta, surge um PSSARO BRANCO devorando a trilha.

PSSARO BRANCO:

Minham-minham, minham-minham... Ai, que fome danada! Quem deixou este banquete pra matar a fome deste pobre passarinho?! Minham, eu vou comer tudo, tudo, sim senhor! No todos os dias que se come assim!... (comovido) Fico admirado: ainda existem pessoas generosas nessa floresta! Deixar uma comida saborosa dessas! Hum, delcia!

Pssaro continua devorando a trilha.

PSSARO BRANCO:

Minham-minham... O po duro, mas gostoso!

Segue comendo. Na outra direo, Joo e Maria seguem a trilha de migalhas.

JOO:

No vejo a hora de chegar em casa!

MARIA:

Eu tambm!

JOO:

s a gente seguir os pedacinhos... No tem erro!

Crianas topam com o pssaro. Os trs gritam de susto.

CRIANAS:

A nossa trilha!

PSSARO BRANCO:

O meu almoo!

TODOS: (num susto)

Ah!!!

Pssaro sai correndo.

JOO: (para o pssaro que foge)

Espere a!

MARIA:

Joo, ele comeu o nosso caminho. No deixou nem um pedacinho de po. Agora, como vamos voltar pra casa?

JOO:

Mas que passarinho mais folgado!

MARIA:Eu sabia. Essa histria de plano infalvel no ia dar certo. Por sua culpa, Joo! Vamos ficar aqui pra sempre! Voc pensou que era esperto e nos demos muito mal.

JOO:

Calma! Ainda podemos tentar achar um caminho.

MARIA:

Aqui, no meio da mata? A nossa casa deve estar to longe! (triste) Agora, somos s ns dois e a floresta...

JOO:... E aquele pssaro, Maria! Precisamos encontrar aquele pssaro! Quem sabe ele no possa nos ajudar!

Comeam a andar pela floresta. Sem perceberem, so seguidos pelo Pssaro Branco. Entram e saem das coxias em crculos.

MARIA:

Ah, Joo, at agora no encontramos nem o pssaro nem o caminho de casa. Estamos afundando cada vez mais, nessa floresta!

JOO:

verdade. Parece que estamos andando em crculos!

Continuam andando pela mata. Pssaro segue os dois, distncia, sem ser notado.

MARIA:

Estamos mais perdidos do que nunca, Joo!JOO:

E se formos por ali?

MARIA:

Vamos descansar um pouquinho... No agento mais andar!

JOO: (triste)

Desculpa! Eu no imaginei que fosse to difcil sair daqui.

MARIA:

E o pior que, sem as pedrinhas, nem a lua pode nos ajudar.

JOO:

Vamos ter que nos virar sozinhos dessa vez...

MARIA: (olhando para cima)

Ah, querida lua, nos ajude!

JOO:

Deixa de ser boba, Maria! Ela no pode fazer nada...

MARIA:

Como voc sabe, Joo? Se a gente acreditar de corao, eu tenho certeza de que ela vai atender aos nossos pedidos!

Ficam olhando para a lua, pssaro vai se emocionando e se aproxima.

PSSARO BRANCO: (emocionado)

Ah, a lua! Como linda a lua!

JOO:

Ah, senhor passarinho, era com voc mesmo que a gente queria falar! Sabia que voc comeu a nossa trilha pra casa?

PSSARO BRANCO:

Desculpem! que a trilha estava to gostosa!... Bem... Mas, mudando de assunto, vocs estavam falando da lua, no estavam?

MARIA:

Estvamos sim.

PSSARO BRANCO:

Eu fico com o corao apertadinho s de pensar nela. To bonita!... (suspirando) uma pena que eu quase nunca veja a lua!

JOO & MARIA: (se olhando)

Nunca?

PSSARO BRANCO:

. Pra falar a verdade, eu j devia estar de volta. No posso ficar pela mata at to tarde. Mas, ouvindo vocs, me deu uma vontade de ficar mais um pouco...

MARIA:

Ento fique conosco!

PSSARO BRANCO:

Eu no sei se devo...

MARIA:

No quer namorar a lua mais um pouquinho?

Pssaro fica nervoso.

PSSARO BRANCO:

Ai, meu Deus, descobriram o meu segredo!

JOO:

O qu?

PSSARO BRANCO:

Preciso ir embora!

MARIA:

Volte aqui! No v embora, passarinho!

PSSARO BRANCO:

Estes anos todos disfarando... Quem contou pra vocs?

JOO:

Contou o qu?

PSSARO BRANCO:S pode ter sido aquela gata, eu sei que foi ela! Eu ainda me vingo daquela danada!

JOO:

Fique descansado que ningum contou nada pra gente.

PSSARO BRANCO:

Ufa! (relaxando) Eu pensei que vocs tinham descoberto que eu sou apaixonado pela lua... (percebendo que falou demais) Ops!

MARIA:

Mas voc muito convencido, hein passarinho! No pense que a lua cai nas graas do primeiro pssaro que aparece...

JOO:

... E, ainda por cima, comilo!

PSSARO BRANCO:Eu sei... Por isso mesmo... um amor platnico. Eu amo a lua escondido, sem ningum saber... Desde pequenininho eu sou gamado por ela!

JOO:

Um pssaro gamado pela lua? Era s o que faltava!

MARIA:

Deixa ele, Joo! Pelo menos, no estamos sozinhos. (para o Pssaro) Mas, passarinho, por que voc no se declara pra ela?

PSSARO BRANCO:

No posso.

MARIA:

Ah, deixa de ser bobo! Voc pode fazer o que todos ns sonhamos: ver a lua bem de pertinho! s voar bem alto...

PSSARO BRANCO:

Esse o problema, meninos! Ai, que vergonha! Eu nem sei se conto... Eu no sei voar.

JOO & MARIA:

O qu?

JOO:

Um pssaro que no sabe voar? Ah, conta outra!

PSSARO BRANCO:

Eu juro. No sei mesmo. No fui criado junto com os meus irmos. Meu ovo rolou do ninho e eu fui achado por um casal de jacars que me criou. Depois, quando percebi que eles iam acabar me engolindo sem querer, sa e fui tentar a vida na floresta. Um bico aqui, um servicinho ali, eu acabei arranjando emprego h pouco tempo na casa de uma mulher muito esquisita! Mas voar que bom, nada!

JOO:

Mas voc pode voar, se quiser.

PSSARO BRANCO:

Posso no, menino. Um pssaro desengonado como eu no pode voar...(suspirando para a lua) Muito menos pensar em namorar uma moa to linda!

MARIA:

A luazinha...

PSSARO BRANCO: (se animando)

Mas eu posso muitas outras coisas. Conheo esta floresta como ningum!

JOO: (desdenhando)

Bem se v... Um pssaro que nem sabe voar vai conhecer a floresta?

PSSARO BRANCO:

Olhe, garoto, eu posso ter essa cara de bobo, esse jeito de bobo, esse olhar de bobo, mas eu no sou bobo!

JOO:

Bobo quem acredita!

PSSARO BRANCO:

Ah, ? Pois eu vou mostrar pra vocs!

MARIA: (doce)

Estamos com uma fome danada, um sono... Podia nos ajudar, passarinho?

PSSARO BRANCO:

Eu posso tudo s no me peam pra dar um rasante! no tem um lugar nessa floresta que eu no conhea. Esto com muita fome? Meninos, j sei aonde levar vocs!

Fuso para a prxima cena.

CENA 7 (CASA DE DOCES)

JOO MARIA acompanham o PSSARO BRANCO e chegam casa da bruxa. H DOCES por todos os lados, nas paredes e no teto.

MARIA:

Nossa, quantos doces!

JOO:

Que delcia!PSSARO BRANCO:

Sejam bem-vindos Casa de Doces!... Eu no sei que graa tm esses doces. Vocs humanos tm um gosto muito esquisito...

JOO:

Maria, voc est pensando o mesmo que eu?

MARIA:

Com uma fome dessas, quem resiste, Joo?

Crianas avanam e comeam a comer.

PSSARO BRANCO:

Crianas, assim vocs vo pr a casa abaixo! Cuidado!

Joo e Maria ignoram os apelos do Pssaro e continuam comendo.

JOO:

Nossa, que telhado gostoso!

MARIA:

E essa janela?!

BRUXA: (em off)

A casa minha, a casa minha!Quem est saboreando a minha casinha?

JOO:

Quem est a?

PSSARO BRANCO:

Eu avisei pra vocs...

BRUXA: (em off)

Quem est lambendo a minha casinha? Vamos ver...

Aparece a BRUXA. Bruxa parece ser boazinha. No enxerga direito.

BRUXA: (apalpando as crianas)

Ah, deixa eu ver melhor: duas lindas ( parte) e apetitosas criancinhas!

MARIA:

Desculpe comer a sua casinha, senhora!

BRUXA:

No precisa me chamar de senhora, meu anjinho!

JOO:

que estamos famintos, tia!

BRUXA:

Voc fez muito bem em trazer estas duas lindas crianas!

Pssaro Branco sai. Bruxa volta-se para as crianas.

BRUXA: (boazinha)

Ento vocs estavam perdidos na floresta?

JOO:

Como sabe?

BRUXA:

Eu sinto o cheiro de criancinhas a quilmetros de distncia!

A floresta to grande... Sempre uma criana se perde...

E estou sempre prontos para receb-los!

MARIA:

Nos desculpe, mas quando vimos tantos doces juntos...

JOO:

Ns nunca comemos nada to gostoso assim!

BRUXA:

Ento, gostam de doces? Por que no falaram antes?

Empurra a MESA COM MUITOS DOCES.

MARIA:

Ah, Joo, acho que no devamos aceitar comida de estranhos...

JOO:

Mas no tem outro jeito.

BRUXA:

Comam, minhas criancinhas! Comam vontade!

Crianas comem.

BRUXA:

Ningum vem at a Casa de Doces e sai daqui sem comer bastante, ouviram?

JOO:

Obrigado, tia!

MARIA:

Ningum nunca nos recebeu to bem assim.

BRUXA:

E eu ia negar um lanchinho a duas crianas to indefesas? Eu no sou como essas bruxas sem corao! (consertando) Quer dizer: eu nem sou uma bruxa! No mesmo?

PSSARO BRANCO:

Claro que no!

MARIA:

Ainda bem. As bruxas so to ms!

Bruxa fica irritada com os comentrios, mas disfara.

JOO:

E to feias!

MARIA:

Cada uma mais horrorosa do que a outra!

JOO:

De uma feira que assusta! Voc no acha, tia?BRUXA:

Eu... O que eu acho?... Bem... Eu acho que j est na hora de criancinhas irem dormir!

PSSARO BRANCO: (sem perceber a malcia da bruxa)

Mas est to cedo, ainda! Vocs devem estar bem cansadinhas.

Maria e Joo se olham.

MARIA:

Estamos mesmo!

JOO:

A gente pode tirar uma soneca?

BRUXA:

Mas claro! E nada como uma boa noite de sono depois de um dia agitado. Agora, vo se deitar!

MARIA:

Ai, que sono! Como voc boa, tia!

BRUXA:

Ah, imagina!

Mas chega de conversa e vamos dormir!

JOO:

Bem... Se assim... Boa noite!

MARIA:

Boa noite! E muito obrigada!

Crianas vo dormir. JOO:

Ah, Maria, eles so to legais conosco...

MARIA:

Parece at que estamos no Cu!

JOO:

Puxa! Eu ficaria aqui pra sempre!

BRUXA:

Quem eles pensam que so para irem entrando assim? E ainda por cima me chamando de feia! Muito em breve, vo direto pra panela! Eu vou devorar os dois. Primeiro o rapazinho, depois a menina. Esses trapinhos no perdem por esperar!

CENA 8

Amanhece. Joo est dentro de uma GAIOLA. Maria dorme. Entra a bruxa, com uma CHAVE na cintura. Bate o SINO.

BRUXA:

Levanta, preguiosa!

MARIA:

Mas, tia?...

BRUXA:

Eu sou l tia de duas criancinhas horrorosas como vocs?!

MARIA:

Mas, ontem mesmo...

BRUXA:

Levanta e prepara um prato bem saboroso pro teu irmo!

Maria percebe o irmo na gaiola.

MARIA:

Joo! Voc est preso!

JOO:

Me tirem daqui!

BRUXA:

Prepare algo pra ele ficar bem gordinho... Criancinha s serve se for bem suculenta... Hum, delcia! No h prato mais gostoso do que carne de criana!

MARIA:

Sua bruxa!

BRUXA:

Obrigada!

MARIA:

Sua malvada! No tem pena de mim?

BRUXA:

Voc... Eu vou devorar depois!

MARIA:

Depois?

BRUXA:

Mas que menina mais apressada! No quer dar a vez ao irmo?

Bruxa ri e sai.

JOO:

Maria, no chore! Ns vamos sair dessa.

Entra PSSARO BRANCO.

PSSARO BRANCO:

A minha gaiola! O que ele est fazendo l dentro?

MARIA:

Socorro! Por favor, nos ajude!

PSSARO BRANCO:

O que est acontecendo aqui?

JOO:

Estou preso nesta droga de gaiola!

PSSARO BRANCO:

Ele dorme na minha gaiola e ainda reclama?!

MARIA:

Foi a bruxa que prendeu ele!

PSSARO BRANCO:

Minha Nossa Senhora dos Passarinhos! Ento, ela est aprontando alguma?! Bem que eu desconfiava! Sempre achei ela meio esquisita!

MARIA:

Nos ajude, passarinho!

PSSARO BRANCO:

Mas claro! Isso no pode continuar assim... Algum precisa fazer alguma coisa! (decidido, para a Bruxa) Ei, bruxa!

BRUXA volta.

BRUXA: (alto)

Ah! Ser possvel que no me deixam em paz?! (encarando o Pssaro) O que foi dessa vez?!

Silncio. Pssaro e Bruxa se encaram. Pssaro fica apavorado.

PSSARO BRANCO: (se esquivando)

Nada no... Desculpa!

BRUXA:

Melhor mesmo... (para Maria) Quem manda aqui sou eu, ouviu bem, garotinha! Nem tente com esse frouxo, que ele s faz o que eu mando!27

BRUXA:

Viu s, sua moleca? Aqui, vocs dois vo ter que andar na linha. Ah, se vo! (Para Joo) E voc, deixe-me ver o seu bracinho. Vamos: coloque o brao pra fora da gaiola!

Joo coloca o brao para fora da gaiola.

BRUXA:

Muito magrinho ainda! Voc vai comer bastante. No dia em que estiver bem gordinho, vai pro caldeiro! Ah, se vai!

Bruxa ri e sai.

JOO:

Ns vamos sair dessa.

MARIA:(triste)

Ser mesmo? Ningum mais se importa com a gente, Joo!

JOO:

Tem certeza? Eu acho que algum pode estar se importando... (triste)Acho melhor no usar mais o ossinho... No adianta insistir, Maria! No vai funcionar por muito tempo!

MARIA:

Guarde o ossinho! Ainda vai precisar dele. Essa bruxa malvada no vai vencer to fcil!

CENA 9 (CONFRONTO FINAL)

Manh na casa da bruxa. PSSARO faxina. MARIA ao caldeiro.

BRUXA:E, voc, menina, j preparou o almoo do seu irmo?MARIA:

Como todos os dias, senhora!

BRUXA:

timo! (para Joo) E voc, moleque?

JOO:

Eu j sei: o brao!

BRUXA:

Isso mesmo: ponha o bracinho pra fora pra eu ver se j engordou!

Joo coloca novamente um OSSINHO pra fora, como se fosse o bracinho. Bruxa tateia o osso, pensando tratar-se do brao.

BRUXA:

Esta vista cansada... Deixa eu apalpar o bracinho... Mas que desgraa! Continua magrinho. Garoto, voc come, come, come e no engorda. J passou um ms inteiro e nada!

MARIA:

O meu irmo ainda est muito magrinho. S vendo!

JOO:

Eu preciso me alimentar mais. Estou to fraco!

MARIA:

Eu sinto uma pena to grande do meu irmo magricela, dona bruxa!

BRUXA:

Sente pena, ? Pois devia sentir pena de mim, isso sim! ( parte) No vejo a hora de matar a minha fome!

PSSARO BRANCO:

Ele pode esperar mais alguns dias...

MARIA:Ainda est muito magrinho! Precisa comer muito ainda!

JOO:

At eu conseguir sair...

MARIA: (corrigindo)

... Desse estado de magreza e ficar no ponto!

Ele precisa ficar at mais coradinho!

BRUXA:

Isso mesmo... Pensando bem, ele precisa ficar bem coradinho!

Todos suspiram aliviados.

MARIA:

Ento eu posso fazer o almoo pro meu irmo?

BRUXA:

Coloque o caldeiro pra esquentar.

PSSARO BRANCO:

Posso ajudar no almoo?

BRUXA:

No precisa. O prato hoje vai ser especial...

PSSARO BRANCO:

Qual?

BRUXA:

Molequinho refogado!

PSSARO BRANCO: (despreocupado, sem entender)

Ah, tudo bem, ento...

Todos entram em pnico.

TODOS MENOS BRUXA: (caindo a ficha)

O qu?!!!

BRUXA:

Cansei de esperar! Hoje eu trao esse garoto! Vamos cozinhar esse menino, agora!

MARIA:

Mas assim?

BRUXA:

Assim ou assado. Mas hoje ele vai pra mesa!

JOO:

Ai, socorro!

MARIA:

Senhora, no devore o meu irmozinho! Por favor!

BRUXA:

Chega de conversa fiada, ou voc vai pro caldeiro junto com ele!

PSSARO BRANCO:

Dona bruxa, ele s um menino...

BRUXA:

Por isso mesmo: a carne mais macia!

MARIA: (para Pssaro)

Socorro! Voc precisa salvar o meu irmo!

PSSARO BRANCO:

Ai, ai, ai

MARIA:

Por isso mesmo. Faa alguma coisa! Por favor!

PSSARO BRANCO:

Bem... Neste caso... Algum precisa enfrentar essa bruxa!

Pssaro volta-se para a Bruxa com um espelho. Pssaro fica mais corajoso do que nunca. Fala como se fosse um super-heri de desenho animado.

PSSARO BRANCO: (alto)

Bruxa malvada. Nem ouse tocar num fio do cabelo deste garoto!

BRUXA:

Quem voc pensa que pra me enfrentar?

PSSARO BRANCO:

Algum que se cansou das suas maldades, bruxa perversa! Vamos, lute!

BRUXA:

Ora, vejam s... O emplumado est contra mim!

PSSARO BRANCO:

Seu reinado acabou, maldosa!

BRUXA: (recuando, fingindo estar amedrontada)

Bem... Se assim...

Efeito. Bruxa faz um feitio e o pssaro mostra o espelho. Bruxa cai e se transforma num rato .

PSSARO BRANCO:

Bem... Meus caros, creio que essa malvada teve o castigo que merecia!

MARIA & JOO:

Se teve!

PSSARO BRANCO:

Agora, vo! Vo, que o pai de vocs deve estar preocupado!

JOO:

J vamos... Mas no sem agradecer...

MARIA:

Muito obrigada, passarinho! Vamos sentir saudade.

JOO:

Obrigado mesmo e desculpe qualquer coisa!

PSSARO BRANCO: (encabulado)

Ora, no tem de qu!

JOO:

Se no fossem vocs, ns seramos o prato principal!

PSSARO BRANCO:

Eu no ia deixar de ajudar duas crianas to especiais...

Os trs se abraam.

MARIA:

Bem...

JOO:

Acho que j est na hora.

MARIA:

Mas como vamos pra casa?

PSSARO BRANCO:

Eu acho que posso ajudar... Sigam o caminho das pedras que deixei para vocs. Vai direto para a cada de seu pai! Adeus amigos

JOO:

Obrigado passarinho. Voc um grande amigo.

CENA 10 (EPLOGO)

PAI est sentado, triste. JOO e MARIA chegam em casa. Se aproximam do pai, na ponta dos ps. Tapam seus olhos para ver se ele descobre quem . Pai fica radiante e sorri.

PAI:

Meus filhos, que saudade! Achei que nunca mais ia ver vocs!

MARIA:

Pai, como ns sentimos a sua falta!

JOO:

Voc precisava ver que aventura ns vivemos!

JOO:

Aonde est a madrasta?

PAI:

Foi atrs da felicidade dela, meus filhos. Ela no precisa mais de ns. E eu s preciso de vocs para ser feliz!

FIM