Iv FormaçãO Para Novas Comunidades

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Page 1: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

I Formaccedilatildeo Para Novas ComunidadesAmor se paga com amor

ldquoO Pai criador e doador de todo bem atrai a si as criaturas humanas por um amor de predileccedilatildeo e em ordem a uma missatildeo especial A pessoa chamada entrega-se por amor de Deus que a quer exclusivamente ao seu serviccedilo e consagra-se totalmente a ele e a seu desiacutegnio de salvaccedilatildeo

Estaacute aqui o sentido da vocaccedilatildeo agrave vida consagrada uma iniciativa total do Pai que requer daqueles que escolhe uma resposta de dedicaccedilatildeo plena e exclusiva A experiecircncia deste amor gratuito de Deus eacute tatildeo iacutentima e forte que a pessoa sente que deve responder com dedicaccedilatildeo incondicional da sua vida consagrando tudo presente e futuro nas suas matildeos Por isso mesmo como ensina S Tomaacutes pode-se compreender a identidade da pessoa consagrada a partir da totalidade da sua oferta comparaacutevel a um autecircntico holocausto

A nossa alma dizem os Santos Padres eacute uma imagem viva da Santiacutessima Trindade uma espeacutecie de retrato em miniatura pois que o proacuteprio Espiacuterito Santo vem imprimir em noacutes como um sinete sobre cera branda e assim nela deixa a sua divina semelhanccedila Daqui concluem que a alma em estado de graccedila eacute duma beleza arrebatadora pois que o artista que nela pinta esta imagem eacute infinitamente perfeito visto ser o proacuteprio Deusrdquo

(Dos escritos do Pe Amedeo Cencine)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

O governo dentro da Vida Consagrada

Os superiores gerais satildeo os superiores maiores e seu poder se estende sobre todas as proviacutencias casas e membros do instituto Eles satildeo designados mediante eleiccedilatildeo canocircnica de acordo com as constituiccedilotildees e em geral seu cargo eacute temporaacuterio Quem preside a eleiccedilatildeo eacute o bispo da sede principal Apoacutes a eleiccedilatildeo a presidecircncia passa ao superior geral eleito Tanto os requisitos para ser eleito quanto o tempo de duraccedilatildeo do cargo devem ser regulamentados pelas constituiccedilotildees

Os superiores provinciais e equiparados (governam parte do instituto comparada a uma proviacutencia) satildeo superiores maiores cujo poder se restringe sobre uma proviacutencia O cargo eacute temporaacuterio e poderaacute ser imputado por nomeaccedilatildeo quando se tratar de eleiccedilatildeo seraacute necessaacuteria aprovaccedilatildeo do superior geral Os superiores locais satildeo os que possuem poder somente sobre os que pertencem a uma determinada casa do instituto Tambeacutem podem ser nomeados ou eleitos desde que sejam aprovados pelo superior maior

Os superiores dos mosteiros ou das casas sui iuris satildeo considerados superiores maiores e podem ser vitaliacutecios A eleiccedilatildeo dos superiores dos mosteiros sui iuris tratados no c 615 eacute presidida pelo bispo diocesano Os superiores nomeados por tempo determinado natildeo devem permanecer por tempo muito longo na funccedilatildeo de governo sem interrupccedilatildeo e durante o cargo podem ser transferidos para outro ofiacutecio

Os superiores devem governar pessoalmente com espiacuterito de serviccedilo Isso eacute requerido pelo proacuteprio exerciacutecio da funccedilatildeo em seu muacutenus pastoral de ensinar santificar e governar Os superiores exercem a funccedilatildeo de ensinar e de uma verdadeira direccedilatildeo espiritual no que toca agrave interpretaccedilatildeo do carisma do instituto Eles exercem a funccedilatildeo de santificaccedilatildeo pela conduccedilatildeo dos membros e da comunidade a um exerciacutecio cada vez mais perfeito da caridade formando uma comunidade sempre mais fraterna em Cristo na qual se busque e ame a Deus antes de tudo Isso se daacute ao nutrir a comunidade e cada membro com a Palavra de Deus levando-os a vivenciar a Sagrada

Liturgia tornando-se exemplo de vida e de cultivo das virtudes para eles Aos superiores cabe a funccedilatildeo de governo da comunidade ordenando-lhe a vida repartindo no grupo as funccedilotildees coordenando as atividades apostoacutelicas dos membros e da comunidade mantendo vivas as relaccedilotildees com a autoridade eclesiaacutestica e fazendo tudo isso em clima respeitoso fraternal e solidaacuterio Um governo espiritual soacute eacute possiacutevel e eficaz quando entre superiores e suacuteditos constroem-se laccedilos espirituais edificados na verdadeira liberdade e na confianccedila eacute por essa via que os suacuteditos devem se sentir livres e confiantes para manifestar abertura de espiacuterito

O Coacutedigo salvaguarda o acircmbito da consciecircncia dos suacuteditos de forma que natildeo sejam constrangidos a manifestar sua proacutepria consciecircncia tutela-os no que diz respeito tambeacutem ao sacramento da penitecircncia e agrave direccedilatildeo de consciecircncia pois a competecircncia do superior se restringe aos atos externos agrave ordem e agrave disciplina Eacute proibido aos superiores ouvir as confissotildees dos proacuteprios suacuteditos a natildeo ser que estes o peccedilam expressamente justamente para evitar a confusatildeo entre o foro interno sacramental e o foro externo e assim proteger a liberdade do superior em seus atos de governo

Eacute atraveacutes da visita canocircnica que os superiores maiores e seus suacuteditos tecircm a relaccedilatildeo interpessoal espiritual Ningueacutem deve operar para impedir essa visita ou trabalhar de alguma forma para que ela natildeo alcance o seu objetivo Ao bispo diocesano eacute assegurado o direito e o dever dessa visita aos mosteiros sui iuris de que trata o c 615 e cada casa do instituto de direito diocesano estabelecida em seu territoacuterio neste uacuteltimo caso sem prejuiacutezo ou substituiccedilatildeo da visita a que estatildeo obrigados os superiores do instituto Nos casos expressamente previstos pelo direito o bispo diocesano pode tambeacutem visitar as casas e os membros de direito pontifiacutecio

O Coacutedigo natildeo admite um governo ordinaacuterio colegial em nenhum niacutevel O superior deve ser pessoalmente responsaacutevel por aquilo que decide e ordena diante de Deus de seus superiores maiores e de seus suacuteditos Contudo pode e deve contar com os organismos de participaccedilatildeo ou de consulta (assembleacuteias consultas conselhos) Para os membros de um instituto a participaccedilatildeo nesses organismos natildeo eacute apenas um direito mas tambeacutem um dever Esses organismos tecircm as funccedilotildees regulamentadas de modo geral pelo direito universal mas de maneira especiacutefica pelo direito proacuteprio e deve por eles orientar a sua accedilatildeo Todo superior deve contar com o oacutergatildeo chamado conselho (c 627) pois as constituiccedilotildees estabelecem os casos em que o parecer ou o consentimento do conselho satildeo obrigatoacuterios para se proceder validamente O direito proacuteprio pode determinar a obrigatoriedade de o conselho emitir consentimento onde o direito universal apenas exige o parecer mas o inverso natildeo eacute liacutecito Quando o conselho deve dar seu consentimento o superior natildeo vota a fim de natildeo caracterizar voto deliberativo e configurar um governo ordinaacuterio colegial

Quando o estabelecido eacute que o conselho emita o parecer o superior deve convocaacute-lo sob pena de ver o seu ato nulo caso natildeo o faccedila Contudo o superior natildeo estaacute obrigado a decidir segundo o parecer do conselho embora seja aconselhaacutevel consideraacute-lo Eacute aconselhaacutevel que decisotildees referentes a pessoas contem apenas com o parecer do conselho e natildeo com o consentimento garantindo ao superior uma maior liberdade para agir com base no conhecimento adquirido em virtude de seu cargo Quando a exigecircncia eacute o consentimento o conselho deve ser convocado e o consentimento deve ser obtido por maioria absoluta Haacute um uacutenico caso previsto em que se admite decisatildeo colegial (c 699) eacute quando se forma uma espeacutecie de tribunal que emite voto secreto Em outras situaccedilotildees para decisotildees conjuntas tecircm se a denominaccedilatildeo votos em conjunto (votos do superior mais os votos de outros ndash conselheiros ou outros indiviacuteduos)

Entre os oacutergatildeos de governo se encontra o capiacutetulo geral como oacutergatildeo supremo de governo colegial pois representa todo o instituto e desempenha as funccedilotildees de tutelar o patrimocircnio do instituto promover a renovaccedilatildeo do instituto segundo o carisma proacuteprio eleger o moderador supremo tratar dos assuntos de maior importacircncia emanar normas para todo o instituto O capiacutetulo geral pode ser de diversos tipos ordinaacuterio extraordinaacuterio de negoacutecios eletivo Satildeo as constituiccedilotildees que determinam a sua composiccedilatildeo mas sempre a zelar para que seja representativo do todo do instituto Elas tambeacutem determinam o acircmbito do seu poder pois este natildeo eacute ilimitado A celebraccedilatildeo do capiacutetulo deve ser regulamentada segundo direito proacuteprio Apenas os membros plenamente incorporados ao instituto possuem voto deliberativo

O capiacutetulo provincial eacute o oacutergatildeo colegial que representa toda a proviacutencia e o direito proacuteprio eacute que estabelece a sua natureza autoridade composiccedilatildeo modo de proceder o tempo da celebraccedilatildeo do capiacutetulo ou de assembleacuteias semelhantes Ela absorve o capiacutetulo vice-provincial e o capiacutetulo regional que natildeo realizam um capiacutetulo proacuteprio mas se fazem representar no provincial atraveacutes de delegados Em geral desempenha uma triacuteplice funccedilatildeo eletiva (eleger o superior provincial e os delegados ao capiacutetulo geral) deliberativa (sobre os postulados a serem enviados ao capiacutetulo geral) informativa (oacutergatildeo privilegiado de consulta para o superior geral quanto ao estado das casas e da proviacutencia)

O capiacutetulo local eacute mais uma expressatildeo da vida fraterna da comunidade do que um oacutergatildeo de com poder de decisatildeo tem caraacuteter consultivo e quando existe eacute tambeacutem regulado por direito proacuteprio O Coacutedigo reconhece a autonomia de vida e de governo dos institutos em conexatildeo com o poder puacuteblico de governo na Igreja enquanto exercido em sociedades puacuteblicas e identifica a origem e natureza do poder dos superiores e dos capiacutetulos ele emana do Espiacuterito Santo em conexatildeo com a hierarquia que erigiu canonicamente o instituto e autenticamente aprovou sua missatildeo especiacutefica e eacute conferido em uacuteltima anaacutelise pelo proacuteprio direito universal e das constituiccedilotildees

atraveacutes dos superiores que remontam ao Romano Pontiacutefice sendo assim poder que receberam de Deus mediante o ministeacuterio da Igreja A amplitude da autonomia e do poder de um instituto depende de seu carisma particular e da sua posiccedilatildeo na Igreja Aqui mencionamos os institutos religiosos laicais institutos clericais de direito diocesano institutos seculares institutos religiosos clericais de direito pontifiacutecio institutos mistos institutos religiosos de irmatildeos institutos isentos Com o fim de uma maior colaboraccedilatildeo com a Igreja e com as conferecircncias episcopais os superiores maiores desses institutos podem se reunir em Conferecircncias ou Conselhos desde que as mesmas tenham estatuto proacuteprio aprovado pela Santa Seacute que os erige como pessoa juriacutedica e sob cuja direccedilatildeo permanece

708 - Canon ldquoOs Superiores maiores podem utilmente associar se em conferecircncias ou conselhos a fim de que unindo as forccedilas trabalhem para mais plenamente conseguirem a finalidade de cada instituto ressalvando sempre sua autonomia iacutendole e espiacuterito proacuteprio

para tratarem de questotildees comuns e estabelecerem a conveniente coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com as conferecircncias dos Bispos e tambeacutem com cada Bispo em particular

Verinha

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Tipologia da Vida Consagrada

A primeira forma de consagraccedilatildeo na Igreja foi a das virgens e dos ascetas por meio da continecircncia da renuacutencia aos bens da oraccedilatildeo e da penitecircncia O monaquismo como modo de vida atraveacutes da separaccedilatildeo do mundo da pobreza da continecircncia da mortificaccedilatildeo e da penitecircncia e da contemplaccedilatildeo das coisas divinas surge no seacuteculo III no Oriente e no seacuteculo IV no Ocidente e apresenta duas formas a primeira eremiacutetica ou anacoreta (total solidatildeo) e depois cenobiacutetica (vida comum sob o regime de uma regra)

Na sua origem a vida monaacutestica era mais laical e cada mosteiro era plenamente independente a partir do seacuteculo IX comeccedilam a reunir-se em congregaccedilotildees Surge tambeacutem nesse seacuteculo os cocircnegos que levavam vida comum sob a regra de S Crodegango e no seacuteculo XI

entatildeo os cocircnegos regulares com a vida comum e a profissatildeo de pobreza ligados as igrejas catedrais colegiadas

As ordens mendicantes surgem a partir do seacuteculo XIII na luta contra as seitas hereacuteticas e a decadecircncia dos costumes da Igreja tendo como pioneiros os Dominicanos ou Pregadores que influenciam sob o ponto de vista institucional os Franciscanos e os Carmelitas Essas ordens tecircm como caracteriacutesticas especiacuteficas a vida fraterna a observacircncia rigorosa da pobreza em comum a uniatildeo entre as antigas observacircncias monaacutesticas e a vida apostoacutelica a combinaccedilatildeo entre sistema de governo pessoal e capitular em vaacuterios niacuteveis Eacute a partir desse tempo que surge a praxe de emitir trecircs votos pobreza obediecircncia e castidade

No seacuteculo XVI surgem entatildeo em reaccedilatildeo agrave Reforma protestante os cleacuterigos regulares que unem o ministeacuterio sacerdotal agrave profissatildeo religiosa abandonando a observacircncia monaacutestica e assumindo uma forma de governo centralizada e dinacircmica A partir de entatildeo todos os institutos aprovados na Igreja com voto solene passam a ser chamados de ldquoordensrdquo Surge no mesmo periacuteodo as sociedades de cleacuterigos e leigos homens e mulheres que natildeo emitiam votos ou faziam votos natildeo reconhecidos pela Igreja e foram depois chamados de congregaccedilotildees

Desde o inicio a vida monaacutestica foi tanto masculina como feminina As ordens mendicantes por exemplo tiveram uma segunda ordem feminina com uma regra proacutepria Assim a 2 de fevereiro de 1947 Pio XII com a Constituiccedilatildeo Apostoacutelica Provida Mater aprovou os institutos seculares como nova forma de vida consagrada

Verinha

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Obedecer - sinal de maturidade e crescimento

601 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da obediecircncia assumido com espiacuterito de feacute e amor no seguimento de Cristo obediente ateacute agrave morte obriga agrave submissatildeo da vontade aos legiacutetimos

Superiores que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as proacuteprias constituiccedilotildeesrdquo

O cacircnon 601 seguindo a Perfectae Caritatis n 14 coloca a obediecircncia numa perspectiva teologal e cristoloacutegica a obediecircncia eacute evangeacutelica se se baseia sobre as duas virtudes teologais da feacute e da caridade e constitui um seguimento de Jesus uma assimilaccedilatildeo a ele que se fez obediente ateacute a morte e agrave morte de cruz (cf Fl 28 VC 22 23) Nessa perspectiva cristoloacutegica aparece a estreita ligaccedilatildeo da obediecircncia com a caridade celibataacuteria e virginal e com a pobreza manifestaccedilotildees histoacutericas na vida de Jesus da eterna relaccedilatildeo entre o Pai e o Filho no Espiacuterito Este cacircnon especifica que a obediecircncia evangeacutelica obriga a submeter a vontade aos superiores legiacutetimos como representantes de Deus quando mandam segundo as constituiccedilotildeesEacute uma resposta ao individualismo que destroacutei a comunhatildeo entre os homens No entanto haacute a obrigaccedilatildeo de obedecer somente quando os legiacutetimos superiores mandam de acordo com as constituiccedilotildees Em caso contraacuterio o suacutedito tem a obrigaccedilatildeo de desobedecer

Em tal obediecircncia aos superiores encontram-se trecircs elementos a autoridade que o superior recebe eacute de Deus e portanto natildeo dos membros do instituto mesmo se fosse eleito por eles nem do proacuteprio voto de obediecircncia que fazem os suacuteditos (cf c 618) o exerciacutecio legiacutetimo da autoridade (cf c 596 617) o voto feito a Deus com o qual os suacuteditos reforccedilam sua submissatildeo ao superior submissatildeo a qual todavia satildeo obrigados independentemente dos votos pelo fato mesmo de que participam do carisma coletivo do instituto em virtude da incorporaccedilatildeo nele (cf c 654)

Tambeacutem no que se refere agrave obediecircncia o coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico ultrapassado o qual natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 590 671 678 682 696 738 739 746) Salvas essas disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio dever dar uma disciplina particular de acordo com a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 662 712 732)

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ldquo Bem aventurados os pobres de espiritordquo

600 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da pobreza agrave imitaccedilatildeo de Cristo que sendo rico se fez pobre por noacutes aleacutem de uma vida pobre na realidade e no espiacuterito a ser vivida

laboriosamente na sobriedade e alheia agraves riquezas terrenas implica a dependecircncia e a limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens de acordo com o direito proacuteprio de cada institutordquo

O cacircnon 600 tendo como fonte a Perfectae Caritatis n 13a coloca o preceito evangeacutelico da pobreza na perspectiva da imitaccedilatildeo de Cristo que de rico que era se fez pobre por noacutes(cf 2Cor 89 Fl 2 6-11) Essa imitaccedilatildeo de Cristo que leva agrave participaccedilatildeo da pobreza de Cristo fonte da riqueza da redenccedilatildeo(cf VC 90) eacute expressatildeo do dom total de si mesmas que as trecircs pessoas divinas reciprocamente se fazem(cf VC 21 22) Natildeo se trata de uma pobreza de tipo socioloacutegico somente como falta de bens materiais mas da pobreza evangeacutelica isto eacute escolhida livremente pelo Reino dos ceacuteus que conforme indicado no cacircnon 601 comporta uma vida pobre de fato e de espiacuterito que deve ser levada em operosa sobriedade que natildeo se renda agraves riquezas terrenas

A pobreza espiritual como reconhecimento de Deus doador de todo bem eacute a base da pobreza material A pobreza de fato citada no cacircnon 600 comporta por isso a sujeiccedilatildeo agrave lei do trabalho comum a todos os homens e a sobriedade no uso dos bens materiais estranha qualquer cessatildeo diante das riquezas terrenas Isso se concretiza numa real limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens e portanto numa dependecircncia dos superiores segundo o direito proacuteprio de cada instituto O religioso que violar repentinamente o voto ou outro viacutenculo sagrado de pobreza pode ser demitido de acordo com a norma contida no cacircnon 696 sect 1 segundo o procedimento estabelecido nos cc 697-700 com os efeitos estabelecidos pelos cacircnones 701 e 702 Os institutos seculares se regulam de acordo com o que eacute definido nas constituiccedilotildees(cf c 729) As sociedades de vida apostoacutelica citadas no c 731 sect 2 seguem com as devidas adaptaccedilotildees os cacircnones que se referem aos institutos de vida religiosa (cf c 746)

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Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

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A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

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A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 2: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

O governo dentro da Vida Consagrada

Os superiores gerais satildeo os superiores maiores e seu poder se estende sobre todas as proviacutencias casas e membros do instituto Eles satildeo designados mediante eleiccedilatildeo canocircnica de acordo com as constituiccedilotildees e em geral seu cargo eacute temporaacuterio Quem preside a eleiccedilatildeo eacute o bispo da sede principal Apoacutes a eleiccedilatildeo a presidecircncia passa ao superior geral eleito Tanto os requisitos para ser eleito quanto o tempo de duraccedilatildeo do cargo devem ser regulamentados pelas constituiccedilotildees

Os superiores provinciais e equiparados (governam parte do instituto comparada a uma proviacutencia) satildeo superiores maiores cujo poder se restringe sobre uma proviacutencia O cargo eacute temporaacuterio e poderaacute ser imputado por nomeaccedilatildeo quando se tratar de eleiccedilatildeo seraacute necessaacuteria aprovaccedilatildeo do superior geral Os superiores locais satildeo os que possuem poder somente sobre os que pertencem a uma determinada casa do instituto Tambeacutem podem ser nomeados ou eleitos desde que sejam aprovados pelo superior maior

Os superiores dos mosteiros ou das casas sui iuris satildeo considerados superiores maiores e podem ser vitaliacutecios A eleiccedilatildeo dos superiores dos mosteiros sui iuris tratados no c 615 eacute presidida pelo bispo diocesano Os superiores nomeados por tempo determinado natildeo devem permanecer por tempo muito longo na funccedilatildeo de governo sem interrupccedilatildeo e durante o cargo podem ser transferidos para outro ofiacutecio

Os superiores devem governar pessoalmente com espiacuterito de serviccedilo Isso eacute requerido pelo proacuteprio exerciacutecio da funccedilatildeo em seu muacutenus pastoral de ensinar santificar e governar Os superiores exercem a funccedilatildeo de ensinar e de uma verdadeira direccedilatildeo espiritual no que toca agrave interpretaccedilatildeo do carisma do instituto Eles exercem a funccedilatildeo de santificaccedilatildeo pela conduccedilatildeo dos membros e da comunidade a um exerciacutecio cada vez mais perfeito da caridade formando uma comunidade sempre mais fraterna em Cristo na qual se busque e ame a Deus antes de tudo Isso se daacute ao nutrir a comunidade e cada membro com a Palavra de Deus levando-os a vivenciar a Sagrada

Liturgia tornando-se exemplo de vida e de cultivo das virtudes para eles Aos superiores cabe a funccedilatildeo de governo da comunidade ordenando-lhe a vida repartindo no grupo as funccedilotildees coordenando as atividades apostoacutelicas dos membros e da comunidade mantendo vivas as relaccedilotildees com a autoridade eclesiaacutestica e fazendo tudo isso em clima respeitoso fraternal e solidaacuterio Um governo espiritual soacute eacute possiacutevel e eficaz quando entre superiores e suacuteditos constroem-se laccedilos espirituais edificados na verdadeira liberdade e na confianccedila eacute por essa via que os suacuteditos devem se sentir livres e confiantes para manifestar abertura de espiacuterito

O Coacutedigo salvaguarda o acircmbito da consciecircncia dos suacuteditos de forma que natildeo sejam constrangidos a manifestar sua proacutepria consciecircncia tutela-os no que diz respeito tambeacutem ao sacramento da penitecircncia e agrave direccedilatildeo de consciecircncia pois a competecircncia do superior se restringe aos atos externos agrave ordem e agrave disciplina Eacute proibido aos superiores ouvir as confissotildees dos proacuteprios suacuteditos a natildeo ser que estes o peccedilam expressamente justamente para evitar a confusatildeo entre o foro interno sacramental e o foro externo e assim proteger a liberdade do superior em seus atos de governo

Eacute atraveacutes da visita canocircnica que os superiores maiores e seus suacuteditos tecircm a relaccedilatildeo interpessoal espiritual Ningueacutem deve operar para impedir essa visita ou trabalhar de alguma forma para que ela natildeo alcance o seu objetivo Ao bispo diocesano eacute assegurado o direito e o dever dessa visita aos mosteiros sui iuris de que trata o c 615 e cada casa do instituto de direito diocesano estabelecida em seu territoacuterio neste uacuteltimo caso sem prejuiacutezo ou substituiccedilatildeo da visita a que estatildeo obrigados os superiores do instituto Nos casos expressamente previstos pelo direito o bispo diocesano pode tambeacutem visitar as casas e os membros de direito pontifiacutecio

O Coacutedigo natildeo admite um governo ordinaacuterio colegial em nenhum niacutevel O superior deve ser pessoalmente responsaacutevel por aquilo que decide e ordena diante de Deus de seus superiores maiores e de seus suacuteditos Contudo pode e deve contar com os organismos de participaccedilatildeo ou de consulta (assembleacuteias consultas conselhos) Para os membros de um instituto a participaccedilatildeo nesses organismos natildeo eacute apenas um direito mas tambeacutem um dever Esses organismos tecircm as funccedilotildees regulamentadas de modo geral pelo direito universal mas de maneira especiacutefica pelo direito proacuteprio e deve por eles orientar a sua accedilatildeo Todo superior deve contar com o oacutergatildeo chamado conselho (c 627) pois as constituiccedilotildees estabelecem os casos em que o parecer ou o consentimento do conselho satildeo obrigatoacuterios para se proceder validamente O direito proacuteprio pode determinar a obrigatoriedade de o conselho emitir consentimento onde o direito universal apenas exige o parecer mas o inverso natildeo eacute liacutecito Quando o conselho deve dar seu consentimento o superior natildeo vota a fim de natildeo caracterizar voto deliberativo e configurar um governo ordinaacuterio colegial

Quando o estabelecido eacute que o conselho emita o parecer o superior deve convocaacute-lo sob pena de ver o seu ato nulo caso natildeo o faccedila Contudo o superior natildeo estaacute obrigado a decidir segundo o parecer do conselho embora seja aconselhaacutevel consideraacute-lo Eacute aconselhaacutevel que decisotildees referentes a pessoas contem apenas com o parecer do conselho e natildeo com o consentimento garantindo ao superior uma maior liberdade para agir com base no conhecimento adquirido em virtude de seu cargo Quando a exigecircncia eacute o consentimento o conselho deve ser convocado e o consentimento deve ser obtido por maioria absoluta Haacute um uacutenico caso previsto em que se admite decisatildeo colegial (c 699) eacute quando se forma uma espeacutecie de tribunal que emite voto secreto Em outras situaccedilotildees para decisotildees conjuntas tecircm se a denominaccedilatildeo votos em conjunto (votos do superior mais os votos de outros ndash conselheiros ou outros indiviacuteduos)

Entre os oacutergatildeos de governo se encontra o capiacutetulo geral como oacutergatildeo supremo de governo colegial pois representa todo o instituto e desempenha as funccedilotildees de tutelar o patrimocircnio do instituto promover a renovaccedilatildeo do instituto segundo o carisma proacuteprio eleger o moderador supremo tratar dos assuntos de maior importacircncia emanar normas para todo o instituto O capiacutetulo geral pode ser de diversos tipos ordinaacuterio extraordinaacuterio de negoacutecios eletivo Satildeo as constituiccedilotildees que determinam a sua composiccedilatildeo mas sempre a zelar para que seja representativo do todo do instituto Elas tambeacutem determinam o acircmbito do seu poder pois este natildeo eacute ilimitado A celebraccedilatildeo do capiacutetulo deve ser regulamentada segundo direito proacuteprio Apenas os membros plenamente incorporados ao instituto possuem voto deliberativo

O capiacutetulo provincial eacute o oacutergatildeo colegial que representa toda a proviacutencia e o direito proacuteprio eacute que estabelece a sua natureza autoridade composiccedilatildeo modo de proceder o tempo da celebraccedilatildeo do capiacutetulo ou de assembleacuteias semelhantes Ela absorve o capiacutetulo vice-provincial e o capiacutetulo regional que natildeo realizam um capiacutetulo proacuteprio mas se fazem representar no provincial atraveacutes de delegados Em geral desempenha uma triacuteplice funccedilatildeo eletiva (eleger o superior provincial e os delegados ao capiacutetulo geral) deliberativa (sobre os postulados a serem enviados ao capiacutetulo geral) informativa (oacutergatildeo privilegiado de consulta para o superior geral quanto ao estado das casas e da proviacutencia)

O capiacutetulo local eacute mais uma expressatildeo da vida fraterna da comunidade do que um oacutergatildeo de com poder de decisatildeo tem caraacuteter consultivo e quando existe eacute tambeacutem regulado por direito proacuteprio O Coacutedigo reconhece a autonomia de vida e de governo dos institutos em conexatildeo com o poder puacuteblico de governo na Igreja enquanto exercido em sociedades puacuteblicas e identifica a origem e natureza do poder dos superiores e dos capiacutetulos ele emana do Espiacuterito Santo em conexatildeo com a hierarquia que erigiu canonicamente o instituto e autenticamente aprovou sua missatildeo especiacutefica e eacute conferido em uacuteltima anaacutelise pelo proacuteprio direito universal e das constituiccedilotildees

atraveacutes dos superiores que remontam ao Romano Pontiacutefice sendo assim poder que receberam de Deus mediante o ministeacuterio da Igreja A amplitude da autonomia e do poder de um instituto depende de seu carisma particular e da sua posiccedilatildeo na Igreja Aqui mencionamos os institutos religiosos laicais institutos clericais de direito diocesano institutos seculares institutos religiosos clericais de direito pontifiacutecio institutos mistos institutos religiosos de irmatildeos institutos isentos Com o fim de uma maior colaboraccedilatildeo com a Igreja e com as conferecircncias episcopais os superiores maiores desses institutos podem se reunir em Conferecircncias ou Conselhos desde que as mesmas tenham estatuto proacuteprio aprovado pela Santa Seacute que os erige como pessoa juriacutedica e sob cuja direccedilatildeo permanece

708 - Canon ldquoOs Superiores maiores podem utilmente associar se em conferecircncias ou conselhos a fim de que unindo as forccedilas trabalhem para mais plenamente conseguirem a finalidade de cada instituto ressalvando sempre sua autonomia iacutendole e espiacuterito proacuteprio

para tratarem de questotildees comuns e estabelecerem a conveniente coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com as conferecircncias dos Bispos e tambeacutem com cada Bispo em particular

Verinha

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

Tipologia da Vida Consagrada

A primeira forma de consagraccedilatildeo na Igreja foi a das virgens e dos ascetas por meio da continecircncia da renuacutencia aos bens da oraccedilatildeo e da penitecircncia O monaquismo como modo de vida atraveacutes da separaccedilatildeo do mundo da pobreza da continecircncia da mortificaccedilatildeo e da penitecircncia e da contemplaccedilatildeo das coisas divinas surge no seacuteculo III no Oriente e no seacuteculo IV no Ocidente e apresenta duas formas a primeira eremiacutetica ou anacoreta (total solidatildeo) e depois cenobiacutetica (vida comum sob o regime de uma regra)

Na sua origem a vida monaacutestica era mais laical e cada mosteiro era plenamente independente a partir do seacuteculo IX comeccedilam a reunir-se em congregaccedilotildees Surge tambeacutem nesse seacuteculo os cocircnegos que levavam vida comum sob a regra de S Crodegango e no seacuteculo XI

entatildeo os cocircnegos regulares com a vida comum e a profissatildeo de pobreza ligados as igrejas catedrais colegiadas

As ordens mendicantes surgem a partir do seacuteculo XIII na luta contra as seitas hereacuteticas e a decadecircncia dos costumes da Igreja tendo como pioneiros os Dominicanos ou Pregadores que influenciam sob o ponto de vista institucional os Franciscanos e os Carmelitas Essas ordens tecircm como caracteriacutesticas especiacuteficas a vida fraterna a observacircncia rigorosa da pobreza em comum a uniatildeo entre as antigas observacircncias monaacutesticas e a vida apostoacutelica a combinaccedilatildeo entre sistema de governo pessoal e capitular em vaacuterios niacuteveis Eacute a partir desse tempo que surge a praxe de emitir trecircs votos pobreza obediecircncia e castidade

No seacuteculo XVI surgem entatildeo em reaccedilatildeo agrave Reforma protestante os cleacuterigos regulares que unem o ministeacuterio sacerdotal agrave profissatildeo religiosa abandonando a observacircncia monaacutestica e assumindo uma forma de governo centralizada e dinacircmica A partir de entatildeo todos os institutos aprovados na Igreja com voto solene passam a ser chamados de ldquoordensrdquo Surge no mesmo periacuteodo as sociedades de cleacuterigos e leigos homens e mulheres que natildeo emitiam votos ou faziam votos natildeo reconhecidos pela Igreja e foram depois chamados de congregaccedilotildees

Desde o inicio a vida monaacutestica foi tanto masculina como feminina As ordens mendicantes por exemplo tiveram uma segunda ordem feminina com uma regra proacutepria Assim a 2 de fevereiro de 1947 Pio XII com a Constituiccedilatildeo Apostoacutelica Provida Mater aprovou os institutos seculares como nova forma de vida consagrada

Verinha

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Obedecer - sinal de maturidade e crescimento

601 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da obediecircncia assumido com espiacuterito de feacute e amor no seguimento de Cristo obediente ateacute agrave morte obriga agrave submissatildeo da vontade aos legiacutetimos

Superiores que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as proacuteprias constituiccedilotildeesrdquo

O cacircnon 601 seguindo a Perfectae Caritatis n 14 coloca a obediecircncia numa perspectiva teologal e cristoloacutegica a obediecircncia eacute evangeacutelica se se baseia sobre as duas virtudes teologais da feacute e da caridade e constitui um seguimento de Jesus uma assimilaccedilatildeo a ele que se fez obediente ateacute a morte e agrave morte de cruz (cf Fl 28 VC 22 23) Nessa perspectiva cristoloacutegica aparece a estreita ligaccedilatildeo da obediecircncia com a caridade celibataacuteria e virginal e com a pobreza manifestaccedilotildees histoacutericas na vida de Jesus da eterna relaccedilatildeo entre o Pai e o Filho no Espiacuterito Este cacircnon especifica que a obediecircncia evangeacutelica obriga a submeter a vontade aos superiores legiacutetimos como representantes de Deus quando mandam segundo as constituiccedilotildeesEacute uma resposta ao individualismo que destroacutei a comunhatildeo entre os homens No entanto haacute a obrigaccedilatildeo de obedecer somente quando os legiacutetimos superiores mandam de acordo com as constituiccedilotildees Em caso contraacuterio o suacutedito tem a obrigaccedilatildeo de desobedecer

Em tal obediecircncia aos superiores encontram-se trecircs elementos a autoridade que o superior recebe eacute de Deus e portanto natildeo dos membros do instituto mesmo se fosse eleito por eles nem do proacuteprio voto de obediecircncia que fazem os suacuteditos (cf c 618) o exerciacutecio legiacutetimo da autoridade (cf c 596 617) o voto feito a Deus com o qual os suacuteditos reforccedilam sua submissatildeo ao superior submissatildeo a qual todavia satildeo obrigados independentemente dos votos pelo fato mesmo de que participam do carisma coletivo do instituto em virtude da incorporaccedilatildeo nele (cf c 654)

Tambeacutem no que se refere agrave obediecircncia o coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico ultrapassado o qual natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 590 671 678 682 696 738 739 746) Salvas essas disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio dever dar uma disciplina particular de acordo com a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 662 712 732)

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ldquo Bem aventurados os pobres de espiritordquo

600 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da pobreza agrave imitaccedilatildeo de Cristo que sendo rico se fez pobre por noacutes aleacutem de uma vida pobre na realidade e no espiacuterito a ser vivida

laboriosamente na sobriedade e alheia agraves riquezas terrenas implica a dependecircncia e a limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens de acordo com o direito proacuteprio de cada institutordquo

O cacircnon 600 tendo como fonte a Perfectae Caritatis n 13a coloca o preceito evangeacutelico da pobreza na perspectiva da imitaccedilatildeo de Cristo que de rico que era se fez pobre por noacutes(cf 2Cor 89 Fl 2 6-11) Essa imitaccedilatildeo de Cristo que leva agrave participaccedilatildeo da pobreza de Cristo fonte da riqueza da redenccedilatildeo(cf VC 90) eacute expressatildeo do dom total de si mesmas que as trecircs pessoas divinas reciprocamente se fazem(cf VC 21 22) Natildeo se trata de uma pobreza de tipo socioloacutegico somente como falta de bens materiais mas da pobreza evangeacutelica isto eacute escolhida livremente pelo Reino dos ceacuteus que conforme indicado no cacircnon 601 comporta uma vida pobre de fato e de espiacuterito que deve ser levada em operosa sobriedade que natildeo se renda agraves riquezas terrenas

A pobreza espiritual como reconhecimento de Deus doador de todo bem eacute a base da pobreza material A pobreza de fato citada no cacircnon 600 comporta por isso a sujeiccedilatildeo agrave lei do trabalho comum a todos os homens e a sobriedade no uso dos bens materiais estranha qualquer cessatildeo diante das riquezas terrenas Isso se concretiza numa real limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens e portanto numa dependecircncia dos superiores segundo o direito proacuteprio de cada instituto O religioso que violar repentinamente o voto ou outro viacutenculo sagrado de pobreza pode ser demitido de acordo com a norma contida no cacircnon 696 sect 1 segundo o procedimento estabelecido nos cc 697-700 com os efeitos estabelecidos pelos cacircnones 701 e 702 Os institutos seculares se regulam de acordo com o que eacute definido nas constituiccedilotildees(cf c 729) As sociedades de vida apostoacutelica citadas no c 731 sect 2 seguem com as devidas adaptaccedilotildees os cacircnones que se referem aos institutos de vida religiosa (cf c 746)

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Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 3: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

Liturgia tornando-se exemplo de vida e de cultivo das virtudes para eles Aos superiores cabe a funccedilatildeo de governo da comunidade ordenando-lhe a vida repartindo no grupo as funccedilotildees coordenando as atividades apostoacutelicas dos membros e da comunidade mantendo vivas as relaccedilotildees com a autoridade eclesiaacutestica e fazendo tudo isso em clima respeitoso fraternal e solidaacuterio Um governo espiritual soacute eacute possiacutevel e eficaz quando entre superiores e suacuteditos constroem-se laccedilos espirituais edificados na verdadeira liberdade e na confianccedila eacute por essa via que os suacuteditos devem se sentir livres e confiantes para manifestar abertura de espiacuterito

O Coacutedigo salvaguarda o acircmbito da consciecircncia dos suacuteditos de forma que natildeo sejam constrangidos a manifestar sua proacutepria consciecircncia tutela-os no que diz respeito tambeacutem ao sacramento da penitecircncia e agrave direccedilatildeo de consciecircncia pois a competecircncia do superior se restringe aos atos externos agrave ordem e agrave disciplina Eacute proibido aos superiores ouvir as confissotildees dos proacuteprios suacuteditos a natildeo ser que estes o peccedilam expressamente justamente para evitar a confusatildeo entre o foro interno sacramental e o foro externo e assim proteger a liberdade do superior em seus atos de governo

Eacute atraveacutes da visita canocircnica que os superiores maiores e seus suacuteditos tecircm a relaccedilatildeo interpessoal espiritual Ningueacutem deve operar para impedir essa visita ou trabalhar de alguma forma para que ela natildeo alcance o seu objetivo Ao bispo diocesano eacute assegurado o direito e o dever dessa visita aos mosteiros sui iuris de que trata o c 615 e cada casa do instituto de direito diocesano estabelecida em seu territoacuterio neste uacuteltimo caso sem prejuiacutezo ou substituiccedilatildeo da visita a que estatildeo obrigados os superiores do instituto Nos casos expressamente previstos pelo direito o bispo diocesano pode tambeacutem visitar as casas e os membros de direito pontifiacutecio

O Coacutedigo natildeo admite um governo ordinaacuterio colegial em nenhum niacutevel O superior deve ser pessoalmente responsaacutevel por aquilo que decide e ordena diante de Deus de seus superiores maiores e de seus suacuteditos Contudo pode e deve contar com os organismos de participaccedilatildeo ou de consulta (assembleacuteias consultas conselhos) Para os membros de um instituto a participaccedilatildeo nesses organismos natildeo eacute apenas um direito mas tambeacutem um dever Esses organismos tecircm as funccedilotildees regulamentadas de modo geral pelo direito universal mas de maneira especiacutefica pelo direito proacuteprio e deve por eles orientar a sua accedilatildeo Todo superior deve contar com o oacutergatildeo chamado conselho (c 627) pois as constituiccedilotildees estabelecem os casos em que o parecer ou o consentimento do conselho satildeo obrigatoacuterios para se proceder validamente O direito proacuteprio pode determinar a obrigatoriedade de o conselho emitir consentimento onde o direito universal apenas exige o parecer mas o inverso natildeo eacute liacutecito Quando o conselho deve dar seu consentimento o superior natildeo vota a fim de natildeo caracterizar voto deliberativo e configurar um governo ordinaacuterio colegial

Quando o estabelecido eacute que o conselho emita o parecer o superior deve convocaacute-lo sob pena de ver o seu ato nulo caso natildeo o faccedila Contudo o superior natildeo estaacute obrigado a decidir segundo o parecer do conselho embora seja aconselhaacutevel consideraacute-lo Eacute aconselhaacutevel que decisotildees referentes a pessoas contem apenas com o parecer do conselho e natildeo com o consentimento garantindo ao superior uma maior liberdade para agir com base no conhecimento adquirido em virtude de seu cargo Quando a exigecircncia eacute o consentimento o conselho deve ser convocado e o consentimento deve ser obtido por maioria absoluta Haacute um uacutenico caso previsto em que se admite decisatildeo colegial (c 699) eacute quando se forma uma espeacutecie de tribunal que emite voto secreto Em outras situaccedilotildees para decisotildees conjuntas tecircm se a denominaccedilatildeo votos em conjunto (votos do superior mais os votos de outros ndash conselheiros ou outros indiviacuteduos)

Entre os oacutergatildeos de governo se encontra o capiacutetulo geral como oacutergatildeo supremo de governo colegial pois representa todo o instituto e desempenha as funccedilotildees de tutelar o patrimocircnio do instituto promover a renovaccedilatildeo do instituto segundo o carisma proacuteprio eleger o moderador supremo tratar dos assuntos de maior importacircncia emanar normas para todo o instituto O capiacutetulo geral pode ser de diversos tipos ordinaacuterio extraordinaacuterio de negoacutecios eletivo Satildeo as constituiccedilotildees que determinam a sua composiccedilatildeo mas sempre a zelar para que seja representativo do todo do instituto Elas tambeacutem determinam o acircmbito do seu poder pois este natildeo eacute ilimitado A celebraccedilatildeo do capiacutetulo deve ser regulamentada segundo direito proacuteprio Apenas os membros plenamente incorporados ao instituto possuem voto deliberativo

O capiacutetulo provincial eacute o oacutergatildeo colegial que representa toda a proviacutencia e o direito proacuteprio eacute que estabelece a sua natureza autoridade composiccedilatildeo modo de proceder o tempo da celebraccedilatildeo do capiacutetulo ou de assembleacuteias semelhantes Ela absorve o capiacutetulo vice-provincial e o capiacutetulo regional que natildeo realizam um capiacutetulo proacuteprio mas se fazem representar no provincial atraveacutes de delegados Em geral desempenha uma triacuteplice funccedilatildeo eletiva (eleger o superior provincial e os delegados ao capiacutetulo geral) deliberativa (sobre os postulados a serem enviados ao capiacutetulo geral) informativa (oacutergatildeo privilegiado de consulta para o superior geral quanto ao estado das casas e da proviacutencia)

O capiacutetulo local eacute mais uma expressatildeo da vida fraterna da comunidade do que um oacutergatildeo de com poder de decisatildeo tem caraacuteter consultivo e quando existe eacute tambeacutem regulado por direito proacuteprio O Coacutedigo reconhece a autonomia de vida e de governo dos institutos em conexatildeo com o poder puacuteblico de governo na Igreja enquanto exercido em sociedades puacuteblicas e identifica a origem e natureza do poder dos superiores e dos capiacutetulos ele emana do Espiacuterito Santo em conexatildeo com a hierarquia que erigiu canonicamente o instituto e autenticamente aprovou sua missatildeo especiacutefica e eacute conferido em uacuteltima anaacutelise pelo proacuteprio direito universal e das constituiccedilotildees

atraveacutes dos superiores que remontam ao Romano Pontiacutefice sendo assim poder que receberam de Deus mediante o ministeacuterio da Igreja A amplitude da autonomia e do poder de um instituto depende de seu carisma particular e da sua posiccedilatildeo na Igreja Aqui mencionamos os institutos religiosos laicais institutos clericais de direito diocesano institutos seculares institutos religiosos clericais de direito pontifiacutecio institutos mistos institutos religiosos de irmatildeos institutos isentos Com o fim de uma maior colaboraccedilatildeo com a Igreja e com as conferecircncias episcopais os superiores maiores desses institutos podem se reunir em Conferecircncias ou Conselhos desde que as mesmas tenham estatuto proacuteprio aprovado pela Santa Seacute que os erige como pessoa juriacutedica e sob cuja direccedilatildeo permanece

708 - Canon ldquoOs Superiores maiores podem utilmente associar se em conferecircncias ou conselhos a fim de que unindo as forccedilas trabalhem para mais plenamente conseguirem a finalidade de cada instituto ressalvando sempre sua autonomia iacutendole e espiacuterito proacuteprio

para tratarem de questotildees comuns e estabelecerem a conveniente coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com as conferecircncias dos Bispos e tambeacutem com cada Bispo em particular

Verinha

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

Tipologia da Vida Consagrada

A primeira forma de consagraccedilatildeo na Igreja foi a das virgens e dos ascetas por meio da continecircncia da renuacutencia aos bens da oraccedilatildeo e da penitecircncia O monaquismo como modo de vida atraveacutes da separaccedilatildeo do mundo da pobreza da continecircncia da mortificaccedilatildeo e da penitecircncia e da contemplaccedilatildeo das coisas divinas surge no seacuteculo III no Oriente e no seacuteculo IV no Ocidente e apresenta duas formas a primeira eremiacutetica ou anacoreta (total solidatildeo) e depois cenobiacutetica (vida comum sob o regime de uma regra)

Na sua origem a vida monaacutestica era mais laical e cada mosteiro era plenamente independente a partir do seacuteculo IX comeccedilam a reunir-se em congregaccedilotildees Surge tambeacutem nesse seacuteculo os cocircnegos que levavam vida comum sob a regra de S Crodegango e no seacuteculo XI

entatildeo os cocircnegos regulares com a vida comum e a profissatildeo de pobreza ligados as igrejas catedrais colegiadas

As ordens mendicantes surgem a partir do seacuteculo XIII na luta contra as seitas hereacuteticas e a decadecircncia dos costumes da Igreja tendo como pioneiros os Dominicanos ou Pregadores que influenciam sob o ponto de vista institucional os Franciscanos e os Carmelitas Essas ordens tecircm como caracteriacutesticas especiacuteficas a vida fraterna a observacircncia rigorosa da pobreza em comum a uniatildeo entre as antigas observacircncias monaacutesticas e a vida apostoacutelica a combinaccedilatildeo entre sistema de governo pessoal e capitular em vaacuterios niacuteveis Eacute a partir desse tempo que surge a praxe de emitir trecircs votos pobreza obediecircncia e castidade

No seacuteculo XVI surgem entatildeo em reaccedilatildeo agrave Reforma protestante os cleacuterigos regulares que unem o ministeacuterio sacerdotal agrave profissatildeo religiosa abandonando a observacircncia monaacutestica e assumindo uma forma de governo centralizada e dinacircmica A partir de entatildeo todos os institutos aprovados na Igreja com voto solene passam a ser chamados de ldquoordensrdquo Surge no mesmo periacuteodo as sociedades de cleacuterigos e leigos homens e mulheres que natildeo emitiam votos ou faziam votos natildeo reconhecidos pela Igreja e foram depois chamados de congregaccedilotildees

Desde o inicio a vida monaacutestica foi tanto masculina como feminina As ordens mendicantes por exemplo tiveram uma segunda ordem feminina com uma regra proacutepria Assim a 2 de fevereiro de 1947 Pio XII com a Constituiccedilatildeo Apostoacutelica Provida Mater aprovou os institutos seculares como nova forma de vida consagrada

Verinha

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Obedecer - sinal de maturidade e crescimento

601 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da obediecircncia assumido com espiacuterito de feacute e amor no seguimento de Cristo obediente ateacute agrave morte obriga agrave submissatildeo da vontade aos legiacutetimos

Superiores que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as proacuteprias constituiccedilotildeesrdquo

O cacircnon 601 seguindo a Perfectae Caritatis n 14 coloca a obediecircncia numa perspectiva teologal e cristoloacutegica a obediecircncia eacute evangeacutelica se se baseia sobre as duas virtudes teologais da feacute e da caridade e constitui um seguimento de Jesus uma assimilaccedilatildeo a ele que se fez obediente ateacute a morte e agrave morte de cruz (cf Fl 28 VC 22 23) Nessa perspectiva cristoloacutegica aparece a estreita ligaccedilatildeo da obediecircncia com a caridade celibataacuteria e virginal e com a pobreza manifestaccedilotildees histoacutericas na vida de Jesus da eterna relaccedilatildeo entre o Pai e o Filho no Espiacuterito Este cacircnon especifica que a obediecircncia evangeacutelica obriga a submeter a vontade aos superiores legiacutetimos como representantes de Deus quando mandam segundo as constituiccedilotildeesEacute uma resposta ao individualismo que destroacutei a comunhatildeo entre os homens No entanto haacute a obrigaccedilatildeo de obedecer somente quando os legiacutetimos superiores mandam de acordo com as constituiccedilotildees Em caso contraacuterio o suacutedito tem a obrigaccedilatildeo de desobedecer

Em tal obediecircncia aos superiores encontram-se trecircs elementos a autoridade que o superior recebe eacute de Deus e portanto natildeo dos membros do instituto mesmo se fosse eleito por eles nem do proacuteprio voto de obediecircncia que fazem os suacuteditos (cf c 618) o exerciacutecio legiacutetimo da autoridade (cf c 596 617) o voto feito a Deus com o qual os suacuteditos reforccedilam sua submissatildeo ao superior submissatildeo a qual todavia satildeo obrigados independentemente dos votos pelo fato mesmo de que participam do carisma coletivo do instituto em virtude da incorporaccedilatildeo nele (cf c 654)

Tambeacutem no que se refere agrave obediecircncia o coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico ultrapassado o qual natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 590 671 678 682 696 738 739 746) Salvas essas disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio dever dar uma disciplina particular de acordo com a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 662 712 732)

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ldquo Bem aventurados os pobres de espiritordquo

600 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da pobreza agrave imitaccedilatildeo de Cristo que sendo rico se fez pobre por noacutes aleacutem de uma vida pobre na realidade e no espiacuterito a ser vivida

laboriosamente na sobriedade e alheia agraves riquezas terrenas implica a dependecircncia e a limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens de acordo com o direito proacuteprio de cada institutordquo

O cacircnon 600 tendo como fonte a Perfectae Caritatis n 13a coloca o preceito evangeacutelico da pobreza na perspectiva da imitaccedilatildeo de Cristo que de rico que era se fez pobre por noacutes(cf 2Cor 89 Fl 2 6-11) Essa imitaccedilatildeo de Cristo que leva agrave participaccedilatildeo da pobreza de Cristo fonte da riqueza da redenccedilatildeo(cf VC 90) eacute expressatildeo do dom total de si mesmas que as trecircs pessoas divinas reciprocamente se fazem(cf VC 21 22) Natildeo se trata de uma pobreza de tipo socioloacutegico somente como falta de bens materiais mas da pobreza evangeacutelica isto eacute escolhida livremente pelo Reino dos ceacuteus que conforme indicado no cacircnon 601 comporta uma vida pobre de fato e de espiacuterito que deve ser levada em operosa sobriedade que natildeo se renda agraves riquezas terrenas

A pobreza espiritual como reconhecimento de Deus doador de todo bem eacute a base da pobreza material A pobreza de fato citada no cacircnon 600 comporta por isso a sujeiccedilatildeo agrave lei do trabalho comum a todos os homens e a sobriedade no uso dos bens materiais estranha qualquer cessatildeo diante das riquezas terrenas Isso se concretiza numa real limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens e portanto numa dependecircncia dos superiores segundo o direito proacuteprio de cada instituto O religioso que violar repentinamente o voto ou outro viacutenculo sagrado de pobreza pode ser demitido de acordo com a norma contida no cacircnon 696 sect 1 segundo o procedimento estabelecido nos cc 697-700 com os efeitos estabelecidos pelos cacircnones 701 e 702 Os institutos seculares se regulam de acordo com o que eacute definido nas constituiccedilotildees(cf c 729) As sociedades de vida apostoacutelica citadas no c 731 sect 2 seguem com as devidas adaptaccedilotildees os cacircnones que se referem aos institutos de vida religiosa (cf c 746)

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Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

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A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

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A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 4: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

Quando o estabelecido eacute que o conselho emita o parecer o superior deve convocaacute-lo sob pena de ver o seu ato nulo caso natildeo o faccedila Contudo o superior natildeo estaacute obrigado a decidir segundo o parecer do conselho embora seja aconselhaacutevel consideraacute-lo Eacute aconselhaacutevel que decisotildees referentes a pessoas contem apenas com o parecer do conselho e natildeo com o consentimento garantindo ao superior uma maior liberdade para agir com base no conhecimento adquirido em virtude de seu cargo Quando a exigecircncia eacute o consentimento o conselho deve ser convocado e o consentimento deve ser obtido por maioria absoluta Haacute um uacutenico caso previsto em que se admite decisatildeo colegial (c 699) eacute quando se forma uma espeacutecie de tribunal que emite voto secreto Em outras situaccedilotildees para decisotildees conjuntas tecircm se a denominaccedilatildeo votos em conjunto (votos do superior mais os votos de outros ndash conselheiros ou outros indiviacuteduos)

Entre os oacutergatildeos de governo se encontra o capiacutetulo geral como oacutergatildeo supremo de governo colegial pois representa todo o instituto e desempenha as funccedilotildees de tutelar o patrimocircnio do instituto promover a renovaccedilatildeo do instituto segundo o carisma proacuteprio eleger o moderador supremo tratar dos assuntos de maior importacircncia emanar normas para todo o instituto O capiacutetulo geral pode ser de diversos tipos ordinaacuterio extraordinaacuterio de negoacutecios eletivo Satildeo as constituiccedilotildees que determinam a sua composiccedilatildeo mas sempre a zelar para que seja representativo do todo do instituto Elas tambeacutem determinam o acircmbito do seu poder pois este natildeo eacute ilimitado A celebraccedilatildeo do capiacutetulo deve ser regulamentada segundo direito proacuteprio Apenas os membros plenamente incorporados ao instituto possuem voto deliberativo

O capiacutetulo provincial eacute o oacutergatildeo colegial que representa toda a proviacutencia e o direito proacuteprio eacute que estabelece a sua natureza autoridade composiccedilatildeo modo de proceder o tempo da celebraccedilatildeo do capiacutetulo ou de assembleacuteias semelhantes Ela absorve o capiacutetulo vice-provincial e o capiacutetulo regional que natildeo realizam um capiacutetulo proacuteprio mas se fazem representar no provincial atraveacutes de delegados Em geral desempenha uma triacuteplice funccedilatildeo eletiva (eleger o superior provincial e os delegados ao capiacutetulo geral) deliberativa (sobre os postulados a serem enviados ao capiacutetulo geral) informativa (oacutergatildeo privilegiado de consulta para o superior geral quanto ao estado das casas e da proviacutencia)

O capiacutetulo local eacute mais uma expressatildeo da vida fraterna da comunidade do que um oacutergatildeo de com poder de decisatildeo tem caraacuteter consultivo e quando existe eacute tambeacutem regulado por direito proacuteprio O Coacutedigo reconhece a autonomia de vida e de governo dos institutos em conexatildeo com o poder puacuteblico de governo na Igreja enquanto exercido em sociedades puacuteblicas e identifica a origem e natureza do poder dos superiores e dos capiacutetulos ele emana do Espiacuterito Santo em conexatildeo com a hierarquia que erigiu canonicamente o instituto e autenticamente aprovou sua missatildeo especiacutefica e eacute conferido em uacuteltima anaacutelise pelo proacuteprio direito universal e das constituiccedilotildees

atraveacutes dos superiores que remontam ao Romano Pontiacutefice sendo assim poder que receberam de Deus mediante o ministeacuterio da Igreja A amplitude da autonomia e do poder de um instituto depende de seu carisma particular e da sua posiccedilatildeo na Igreja Aqui mencionamos os institutos religiosos laicais institutos clericais de direito diocesano institutos seculares institutos religiosos clericais de direito pontifiacutecio institutos mistos institutos religiosos de irmatildeos institutos isentos Com o fim de uma maior colaboraccedilatildeo com a Igreja e com as conferecircncias episcopais os superiores maiores desses institutos podem se reunir em Conferecircncias ou Conselhos desde que as mesmas tenham estatuto proacuteprio aprovado pela Santa Seacute que os erige como pessoa juriacutedica e sob cuja direccedilatildeo permanece

708 - Canon ldquoOs Superiores maiores podem utilmente associar se em conferecircncias ou conselhos a fim de que unindo as forccedilas trabalhem para mais plenamente conseguirem a finalidade de cada instituto ressalvando sempre sua autonomia iacutendole e espiacuterito proacuteprio

para tratarem de questotildees comuns e estabelecerem a conveniente coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com as conferecircncias dos Bispos e tambeacutem com cada Bispo em particular

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Tipologia da Vida Consagrada

A primeira forma de consagraccedilatildeo na Igreja foi a das virgens e dos ascetas por meio da continecircncia da renuacutencia aos bens da oraccedilatildeo e da penitecircncia O monaquismo como modo de vida atraveacutes da separaccedilatildeo do mundo da pobreza da continecircncia da mortificaccedilatildeo e da penitecircncia e da contemplaccedilatildeo das coisas divinas surge no seacuteculo III no Oriente e no seacuteculo IV no Ocidente e apresenta duas formas a primeira eremiacutetica ou anacoreta (total solidatildeo) e depois cenobiacutetica (vida comum sob o regime de uma regra)

Na sua origem a vida monaacutestica era mais laical e cada mosteiro era plenamente independente a partir do seacuteculo IX comeccedilam a reunir-se em congregaccedilotildees Surge tambeacutem nesse seacuteculo os cocircnegos que levavam vida comum sob a regra de S Crodegango e no seacuteculo XI

entatildeo os cocircnegos regulares com a vida comum e a profissatildeo de pobreza ligados as igrejas catedrais colegiadas

As ordens mendicantes surgem a partir do seacuteculo XIII na luta contra as seitas hereacuteticas e a decadecircncia dos costumes da Igreja tendo como pioneiros os Dominicanos ou Pregadores que influenciam sob o ponto de vista institucional os Franciscanos e os Carmelitas Essas ordens tecircm como caracteriacutesticas especiacuteficas a vida fraterna a observacircncia rigorosa da pobreza em comum a uniatildeo entre as antigas observacircncias monaacutesticas e a vida apostoacutelica a combinaccedilatildeo entre sistema de governo pessoal e capitular em vaacuterios niacuteveis Eacute a partir desse tempo que surge a praxe de emitir trecircs votos pobreza obediecircncia e castidade

No seacuteculo XVI surgem entatildeo em reaccedilatildeo agrave Reforma protestante os cleacuterigos regulares que unem o ministeacuterio sacerdotal agrave profissatildeo religiosa abandonando a observacircncia monaacutestica e assumindo uma forma de governo centralizada e dinacircmica A partir de entatildeo todos os institutos aprovados na Igreja com voto solene passam a ser chamados de ldquoordensrdquo Surge no mesmo periacuteodo as sociedades de cleacuterigos e leigos homens e mulheres que natildeo emitiam votos ou faziam votos natildeo reconhecidos pela Igreja e foram depois chamados de congregaccedilotildees

Desde o inicio a vida monaacutestica foi tanto masculina como feminina As ordens mendicantes por exemplo tiveram uma segunda ordem feminina com uma regra proacutepria Assim a 2 de fevereiro de 1947 Pio XII com a Constituiccedilatildeo Apostoacutelica Provida Mater aprovou os institutos seculares como nova forma de vida consagrada

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Obedecer - sinal de maturidade e crescimento

601 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da obediecircncia assumido com espiacuterito de feacute e amor no seguimento de Cristo obediente ateacute agrave morte obriga agrave submissatildeo da vontade aos legiacutetimos

Superiores que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as proacuteprias constituiccedilotildeesrdquo

O cacircnon 601 seguindo a Perfectae Caritatis n 14 coloca a obediecircncia numa perspectiva teologal e cristoloacutegica a obediecircncia eacute evangeacutelica se se baseia sobre as duas virtudes teologais da feacute e da caridade e constitui um seguimento de Jesus uma assimilaccedilatildeo a ele que se fez obediente ateacute a morte e agrave morte de cruz (cf Fl 28 VC 22 23) Nessa perspectiva cristoloacutegica aparece a estreita ligaccedilatildeo da obediecircncia com a caridade celibataacuteria e virginal e com a pobreza manifestaccedilotildees histoacutericas na vida de Jesus da eterna relaccedilatildeo entre o Pai e o Filho no Espiacuterito Este cacircnon especifica que a obediecircncia evangeacutelica obriga a submeter a vontade aos superiores legiacutetimos como representantes de Deus quando mandam segundo as constituiccedilotildeesEacute uma resposta ao individualismo que destroacutei a comunhatildeo entre os homens No entanto haacute a obrigaccedilatildeo de obedecer somente quando os legiacutetimos superiores mandam de acordo com as constituiccedilotildees Em caso contraacuterio o suacutedito tem a obrigaccedilatildeo de desobedecer

Em tal obediecircncia aos superiores encontram-se trecircs elementos a autoridade que o superior recebe eacute de Deus e portanto natildeo dos membros do instituto mesmo se fosse eleito por eles nem do proacuteprio voto de obediecircncia que fazem os suacuteditos (cf c 618) o exerciacutecio legiacutetimo da autoridade (cf c 596 617) o voto feito a Deus com o qual os suacuteditos reforccedilam sua submissatildeo ao superior submissatildeo a qual todavia satildeo obrigados independentemente dos votos pelo fato mesmo de que participam do carisma coletivo do instituto em virtude da incorporaccedilatildeo nele (cf c 654)

Tambeacutem no que se refere agrave obediecircncia o coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico ultrapassado o qual natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 590 671 678 682 696 738 739 746) Salvas essas disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio dever dar uma disciplina particular de acordo com a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 662 712 732)

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ldquo Bem aventurados os pobres de espiritordquo

600 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da pobreza agrave imitaccedilatildeo de Cristo que sendo rico se fez pobre por noacutes aleacutem de uma vida pobre na realidade e no espiacuterito a ser vivida

laboriosamente na sobriedade e alheia agraves riquezas terrenas implica a dependecircncia e a limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens de acordo com o direito proacuteprio de cada institutordquo

O cacircnon 600 tendo como fonte a Perfectae Caritatis n 13a coloca o preceito evangeacutelico da pobreza na perspectiva da imitaccedilatildeo de Cristo que de rico que era se fez pobre por noacutes(cf 2Cor 89 Fl 2 6-11) Essa imitaccedilatildeo de Cristo que leva agrave participaccedilatildeo da pobreza de Cristo fonte da riqueza da redenccedilatildeo(cf VC 90) eacute expressatildeo do dom total de si mesmas que as trecircs pessoas divinas reciprocamente se fazem(cf VC 21 22) Natildeo se trata de uma pobreza de tipo socioloacutegico somente como falta de bens materiais mas da pobreza evangeacutelica isto eacute escolhida livremente pelo Reino dos ceacuteus que conforme indicado no cacircnon 601 comporta uma vida pobre de fato e de espiacuterito que deve ser levada em operosa sobriedade que natildeo se renda agraves riquezas terrenas

A pobreza espiritual como reconhecimento de Deus doador de todo bem eacute a base da pobreza material A pobreza de fato citada no cacircnon 600 comporta por isso a sujeiccedilatildeo agrave lei do trabalho comum a todos os homens e a sobriedade no uso dos bens materiais estranha qualquer cessatildeo diante das riquezas terrenas Isso se concretiza numa real limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens e portanto numa dependecircncia dos superiores segundo o direito proacuteprio de cada instituto O religioso que violar repentinamente o voto ou outro viacutenculo sagrado de pobreza pode ser demitido de acordo com a norma contida no cacircnon 696 sect 1 segundo o procedimento estabelecido nos cc 697-700 com os efeitos estabelecidos pelos cacircnones 701 e 702 Os institutos seculares se regulam de acordo com o que eacute definido nas constituiccedilotildees(cf c 729) As sociedades de vida apostoacutelica citadas no c 731 sect 2 seguem com as devidas adaptaccedilotildees os cacircnones que se referem aos institutos de vida religiosa (cf c 746)

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Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

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A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

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A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 5: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

atraveacutes dos superiores que remontam ao Romano Pontiacutefice sendo assim poder que receberam de Deus mediante o ministeacuterio da Igreja A amplitude da autonomia e do poder de um instituto depende de seu carisma particular e da sua posiccedilatildeo na Igreja Aqui mencionamos os institutos religiosos laicais institutos clericais de direito diocesano institutos seculares institutos religiosos clericais de direito pontifiacutecio institutos mistos institutos religiosos de irmatildeos institutos isentos Com o fim de uma maior colaboraccedilatildeo com a Igreja e com as conferecircncias episcopais os superiores maiores desses institutos podem se reunir em Conferecircncias ou Conselhos desde que as mesmas tenham estatuto proacuteprio aprovado pela Santa Seacute que os erige como pessoa juriacutedica e sob cuja direccedilatildeo permanece

708 - Canon ldquoOs Superiores maiores podem utilmente associar se em conferecircncias ou conselhos a fim de que unindo as forccedilas trabalhem para mais plenamente conseguirem a finalidade de cada instituto ressalvando sempre sua autonomia iacutendole e espiacuterito proacuteprio

para tratarem de questotildees comuns e estabelecerem a conveniente coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com as conferecircncias dos Bispos e tambeacutem com cada Bispo em particular

Verinha

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Tipologia da Vida Consagrada

A primeira forma de consagraccedilatildeo na Igreja foi a das virgens e dos ascetas por meio da continecircncia da renuacutencia aos bens da oraccedilatildeo e da penitecircncia O monaquismo como modo de vida atraveacutes da separaccedilatildeo do mundo da pobreza da continecircncia da mortificaccedilatildeo e da penitecircncia e da contemplaccedilatildeo das coisas divinas surge no seacuteculo III no Oriente e no seacuteculo IV no Ocidente e apresenta duas formas a primeira eremiacutetica ou anacoreta (total solidatildeo) e depois cenobiacutetica (vida comum sob o regime de uma regra)

Na sua origem a vida monaacutestica era mais laical e cada mosteiro era plenamente independente a partir do seacuteculo IX comeccedilam a reunir-se em congregaccedilotildees Surge tambeacutem nesse seacuteculo os cocircnegos que levavam vida comum sob a regra de S Crodegango e no seacuteculo XI

entatildeo os cocircnegos regulares com a vida comum e a profissatildeo de pobreza ligados as igrejas catedrais colegiadas

As ordens mendicantes surgem a partir do seacuteculo XIII na luta contra as seitas hereacuteticas e a decadecircncia dos costumes da Igreja tendo como pioneiros os Dominicanos ou Pregadores que influenciam sob o ponto de vista institucional os Franciscanos e os Carmelitas Essas ordens tecircm como caracteriacutesticas especiacuteficas a vida fraterna a observacircncia rigorosa da pobreza em comum a uniatildeo entre as antigas observacircncias monaacutesticas e a vida apostoacutelica a combinaccedilatildeo entre sistema de governo pessoal e capitular em vaacuterios niacuteveis Eacute a partir desse tempo que surge a praxe de emitir trecircs votos pobreza obediecircncia e castidade

No seacuteculo XVI surgem entatildeo em reaccedilatildeo agrave Reforma protestante os cleacuterigos regulares que unem o ministeacuterio sacerdotal agrave profissatildeo religiosa abandonando a observacircncia monaacutestica e assumindo uma forma de governo centralizada e dinacircmica A partir de entatildeo todos os institutos aprovados na Igreja com voto solene passam a ser chamados de ldquoordensrdquo Surge no mesmo periacuteodo as sociedades de cleacuterigos e leigos homens e mulheres que natildeo emitiam votos ou faziam votos natildeo reconhecidos pela Igreja e foram depois chamados de congregaccedilotildees

Desde o inicio a vida monaacutestica foi tanto masculina como feminina As ordens mendicantes por exemplo tiveram uma segunda ordem feminina com uma regra proacutepria Assim a 2 de fevereiro de 1947 Pio XII com a Constituiccedilatildeo Apostoacutelica Provida Mater aprovou os institutos seculares como nova forma de vida consagrada

Verinha

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Obedecer - sinal de maturidade e crescimento

601 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da obediecircncia assumido com espiacuterito de feacute e amor no seguimento de Cristo obediente ateacute agrave morte obriga agrave submissatildeo da vontade aos legiacutetimos

Superiores que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as proacuteprias constituiccedilotildeesrdquo

O cacircnon 601 seguindo a Perfectae Caritatis n 14 coloca a obediecircncia numa perspectiva teologal e cristoloacutegica a obediecircncia eacute evangeacutelica se se baseia sobre as duas virtudes teologais da feacute e da caridade e constitui um seguimento de Jesus uma assimilaccedilatildeo a ele que se fez obediente ateacute a morte e agrave morte de cruz (cf Fl 28 VC 22 23) Nessa perspectiva cristoloacutegica aparece a estreita ligaccedilatildeo da obediecircncia com a caridade celibataacuteria e virginal e com a pobreza manifestaccedilotildees histoacutericas na vida de Jesus da eterna relaccedilatildeo entre o Pai e o Filho no Espiacuterito Este cacircnon especifica que a obediecircncia evangeacutelica obriga a submeter a vontade aos superiores legiacutetimos como representantes de Deus quando mandam segundo as constituiccedilotildeesEacute uma resposta ao individualismo que destroacutei a comunhatildeo entre os homens No entanto haacute a obrigaccedilatildeo de obedecer somente quando os legiacutetimos superiores mandam de acordo com as constituiccedilotildees Em caso contraacuterio o suacutedito tem a obrigaccedilatildeo de desobedecer

Em tal obediecircncia aos superiores encontram-se trecircs elementos a autoridade que o superior recebe eacute de Deus e portanto natildeo dos membros do instituto mesmo se fosse eleito por eles nem do proacuteprio voto de obediecircncia que fazem os suacuteditos (cf c 618) o exerciacutecio legiacutetimo da autoridade (cf c 596 617) o voto feito a Deus com o qual os suacuteditos reforccedilam sua submissatildeo ao superior submissatildeo a qual todavia satildeo obrigados independentemente dos votos pelo fato mesmo de que participam do carisma coletivo do instituto em virtude da incorporaccedilatildeo nele (cf c 654)

Tambeacutem no que se refere agrave obediecircncia o coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico ultrapassado o qual natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 590 671 678 682 696 738 739 746) Salvas essas disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio dever dar uma disciplina particular de acordo com a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 662 712 732)

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ldquo Bem aventurados os pobres de espiritordquo

600 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da pobreza agrave imitaccedilatildeo de Cristo que sendo rico se fez pobre por noacutes aleacutem de uma vida pobre na realidade e no espiacuterito a ser vivida

laboriosamente na sobriedade e alheia agraves riquezas terrenas implica a dependecircncia e a limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens de acordo com o direito proacuteprio de cada institutordquo

O cacircnon 600 tendo como fonte a Perfectae Caritatis n 13a coloca o preceito evangeacutelico da pobreza na perspectiva da imitaccedilatildeo de Cristo que de rico que era se fez pobre por noacutes(cf 2Cor 89 Fl 2 6-11) Essa imitaccedilatildeo de Cristo que leva agrave participaccedilatildeo da pobreza de Cristo fonte da riqueza da redenccedilatildeo(cf VC 90) eacute expressatildeo do dom total de si mesmas que as trecircs pessoas divinas reciprocamente se fazem(cf VC 21 22) Natildeo se trata de uma pobreza de tipo socioloacutegico somente como falta de bens materiais mas da pobreza evangeacutelica isto eacute escolhida livremente pelo Reino dos ceacuteus que conforme indicado no cacircnon 601 comporta uma vida pobre de fato e de espiacuterito que deve ser levada em operosa sobriedade que natildeo se renda agraves riquezas terrenas

A pobreza espiritual como reconhecimento de Deus doador de todo bem eacute a base da pobreza material A pobreza de fato citada no cacircnon 600 comporta por isso a sujeiccedilatildeo agrave lei do trabalho comum a todos os homens e a sobriedade no uso dos bens materiais estranha qualquer cessatildeo diante das riquezas terrenas Isso se concretiza numa real limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens e portanto numa dependecircncia dos superiores segundo o direito proacuteprio de cada instituto O religioso que violar repentinamente o voto ou outro viacutenculo sagrado de pobreza pode ser demitido de acordo com a norma contida no cacircnon 696 sect 1 segundo o procedimento estabelecido nos cc 697-700 com os efeitos estabelecidos pelos cacircnones 701 e 702 Os institutos seculares se regulam de acordo com o que eacute definido nas constituiccedilotildees(cf c 729) As sociedades de vida apostoacutelica citadas no c 731 sect 2 seguem com as devidas adaptaccedilotildees os cacircnones que se referem aos institutos de vida religiosa (cf c 746)

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Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

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A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

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A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 6: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

entatildeo os cocircnegos regulares com a vida comum e a profissatildeo de pobreza ligados as igrejas catedrais colegiadas

As ordens mendicantes surgem a partir do seacuteculo XIII na luta contra as seitas hereacuteticas e a decadecircncia dos costumes da Igreja tendo como pioneiros os Dominicanos ou Pregadores que influenciam sob o ponto de vista institucional os Franciscanos e os Carmelitas Essas ordens tecircm como caracteriacutesticas especiacuteficas a vida fraterna a observacircncia rigorosa da pobreza em comum a uniatildeo entre as antigas observacircncias monaacutesticas e a vida apostoacutelica a combinaccedilatildeo entre sistema de governo pessoal e capitular em vaacuterios niacuteveis Eacute a partir desse tempo que surge a praxe de emitir trecircs votos pobreza obediecircncia e castidade

No seacuteculo XVI surgem entatildeo em reaccedilatildeo agrave Reforma protestante os cleacuterigos regulares que unem o ministeacuterio sacerdotal agrave profissatildeo religiosa abandonando a observacircncia monaacutestica e assumindo uma forma de governo centralizada e dinacircmica A partir de entatildeo todos os institutos aprovados na Igreja com voto solene passam a ser chamados de ldquoordensrdquo Surge no mesmo periacuteodo as sociedades de cleacuterigos e leigos homens e mulheres que natildeo emitiam votos ou faziam votos natildeo reconhecidos pela Igreja e foram depois chamados de congregaccedilotildees

Desde o inicio a vida monaacutestica foi tanto masculina como feminina As ordens mendicantes por exemplo tiveram uma segunda ordem feminina com uma regra proacutepria Assim a 2 de fevereiro de 1947 Pio XII com a Constituiccedilatildeo Apostoacutelica Provida Mater aprovou os institutos seculares como nova forma de vida consagrada

Verinha

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

Obedecer - sinal de maturidade e crescimento

601 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da obediecircncia assumido com espiacuterito de feacute e amor no seguimento de Cristo obediente ateacute agrave morte obriga agrave submissatildeo da vontade aos legiacutetimos

Superiores que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as proacuteprias constituiccedilotildeesrdquo

O cacircnon 601 seguindo a Perfectae Caritatis n 14 coloca a obediecircncia numa perspectiva teologal e cristoloacutegica a obediecircncia eacute evangeacutelica se se baseia sobre as duas virtudes teologais da feacute e da caridade e constitui um seguimento de Jesus uma assimilaccedilatildeo a ele que se fez obediente ateacute a morte e agrave morte de cruz (cf Fl 28 VC 22 23) Nessa perspectiva cristoloacutegica aparece a estreita ligaccedilatildeo da obediecircncia com a caridade celibataacuteria e virginal e com a pobreza manifestaccedilotildees histoacutericas na vida de Jesus da eterna relaccedilatildeo entre o Pai e o Filho no Espiacuterito Este cacircnon especifica que a obediecircncia evangeacutelica obriga a submeter a vontade aos superiores legiacutetimos como representantes de Deus quando mandam segundo as constituiccedilotildeesEacute uma resposta ao individualismo que destroacutei a comunhatildeo entre os homens No entanto haacute a obrigaccedilatildeo de obedecer somente quando os legiacutetimos superiores mandam de acordo com as constituiccedilotildees Em caso contraacuterio o suacutedito tem a obrigaccedilatildeo de desobedecer

Em tal obediecircncia aos superiores encontram-se trecircs elementos a autoridade que o superior recebe eacute de Deus e portanto natildeo dos membros do instituto mesmo se fosse eleito por eles nem do proacuteprio voto de obediecircncia que fazem os suacuteditos (cf c 618) o exerciacutecio legiacutetimo da autoridade (cf c 596 617) o voto feito a Deus com o qual os suacuteditos reforccedilam sua submissatildeo ao superior submissatildeo a qual todavia satildeo obrigados independentemente dos votos pelo fato mesmo de que participam do carisma coletivo do instituto em virtude da incorporaccedilatildeo nele (cf c 654)

Tambeacutem no que se refere agrave obediecircncia o coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico ultrapassado o qual natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 590 671 678 682 696 738 739 746) Salvas essas disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio dever dar uma disciplina particular de acordo com a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 662 712 732)

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ldquo Bem aventurados os pobres de espiritordquo

600 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da pobreza agrave imitaccedilatildeo de Cristo que sendo rico se fez pobre por noacutes aleacutem de uma vida pobre na realidade e no espiacuterito a ser vivida

laboriosamente na sobriedade e alheia agraves riquezas terrenas implica a dependecircncia e a limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens de acordo com o direito proacuteprio de cada institutordquo

O cacircnon 600 tendo como fonte a Perfectae Caritatis n 13a coloca o preceito evangeacutelico da pobreza na perspectiva da imitaccedilatildeo de Cristo que de rico que era se fez pobre por noacutes(cf 2Cor 89 Fl 2 6-11) Essa imitaccedilatildeo de Cristo que leva agrave participaccedilatildeo da pobreza de Cristo fonte da riqueza da redenccedilatildeo(cf VC 90) eacute expressatildeo do dom total de si mesmas que as trecircs pessoas divinas reciprocamente se fazem(cf VC 21 22) Natildeo se trata de uma pobreza de tipo socioloacutegico somente como falta de bens materiais mas da pobreza evangeacutelica isto eacute escolhida livremente pelo Reino dos ceacuteus que conforme indicado no cacircnon 601 comporta uma vida pobre de fato e de espiacuterito que deve ser levada em operosa sobriedade que natildeo se renda agraves riquezas terrenas

A pobreza espiritual como reconhecimento de Deus doador de todo bem eacute a base da pobreza material A pobreza de fato citada no cacircnon 600 comporta por isso a sujeiccedilatildeo agrave lei do trabalho comum a todos os homens e a sobriedade no uso dos bens materiais estranha qualquer cessatildeo diante das riquezas terrenas Isso se concretiza numa real limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens e portanto numa dependecircncia dos superiores segundo o direito proacuteprio de cada instituto O religioso que violar repentinamente o voto ou outro viacutenculo sagrado de pobreza pode ser demitido de acordo com a norma contida no cacircnon 696 sect 1 segundo o procedimento estabelecido nos cc 697-700 com os efeitos estabelecidos pelos cacircnones 701 e 702 Os institutos seculares se regulam de acordo com o que eacute definido nas constituiccedilotildees(cf c 729) As sociedades de vida apostoacutelica citadas no c 731 sect 2 seguem com as devidas adaptaccedilotildees os cacircnones que se referem aos institutos de vida religiosa (cf c 746)

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Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

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A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

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A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 7: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

Superiores que fazem as vezes de Deus quando ordenam de acordo com as proacuteprias constituiccedilotildeesrdquo

O cacircnon 601 seguindo a Perfectae Caritatis n 14 coloca a obediecircncia numa perspectiva teologal e cristoloacutegica a obediecircncia eacute evangeacutelica se se baseia sobre as duas virtudes teologais da feacute e da caridade e constitui um seguimento de Jesus uma assimilaccedilatildeo a ele que se fez obediente ateacute a morte e agrave morte de cruz (cf Fl 28 VC 22 23) Nessa perspectiva cristoloacutegica aparece a estreita ligaccedilatildeo da obediecircncia com a caridade celibataacuteria e virginal e com a pobreza manifestaccedilotildees histoacutericas na vida de Jesus da eterna relaccedilatildeo entre o Pai e o Filho no Espiacuterito Este cacircnon especifica que a obediecircncia evangeacutelica obriga a submeter a vontade aos superiores legiacutetimos como representantes de Deus quando mandam segundo as constituiccedilotildeesEacute uma resposta ao individualismo que destroacutei a comunhatildeo entre os homens No entanto haacute a obrigaccedilatildeo de obedecer somente quando os legiacutetimos superiores mandam de acordo com as constituiccedilotildees Em caso contraacuterio o suacutedito tem a obrigaccedilatildeo de desobedecer

Em tal obediecircncia aos superiores encontram-se trecircs elementos a autoridade que o superior recebe eacute de Deus e portanto natildeo dos membros do instituto mesmo se fosse eleito por eles nem do proacuteprio voto de obediecircncia que fazem os suacuteditos (cf c 618) o exerciacutecio legiacutetimo da autoridade (cf c 596 617) o voto feito a Deus com o qual os suacuteditos reforccedilam sua submissatildeo ao superior submissatildeo a qual todavia satildeo obrigados independentemente dos votos pelo fato mesmo de que participam do carisma coletivo do instituto em virtude da incorporaccedilatildeo nele (cf c 654)

Tambeacutem no que se refere agrave obediecircncia o coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico ultrapassado o qual natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 590 671 678 682 696 738 739 746) Salvas essas disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio dever dar uma disciplina particular de acordo com a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 662 712 732)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

ldquo Bem aventurados os pobres de espiritordquo

600 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da pobreza agrave imitaccedilatildeo de Cristo que sendo rico se fez pobre por noacutes aleacutem de uma vida pobre na realidade e no espiacuterito a ser vivida

laboriosamente na sobriedade e alheia agraves riquezas terrenas implica a dependecircncia e a limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens de acordo com o direito proacuteprio de cada institutordquo

O cacircnon 600 tendo como fonte a Perfectae Caritatis n 13a coloca o preceito evangeacutelico da pobreza na perspectiva da imitaccedilatildeo de Cristo que de rico que era se fez pobre por noacutes(cf 2Cor 89 Fl 2 6-11) Essa imitaccedilatildeo de Cristo que leva agrave participaccedilatildeo da pobreza de Cristo fonte da riqueza da redenccedilatildeo(cf VC 90) eacute expressatildeo do dom total de si mesmas que as trecircs pessoas divinas reciprocamente se fazem(cf VC 21 22) Natildeo se trata de uma pobreza de tipo socioloacutegico somente como falta de bens materiais mas da pobreza evangeacutelica isto eacute escolhida livremente pelo Reino dos ceacuteus que conforme indicado no cacircnon 601 comporta uma vida pobre de fato e de espiacuterito que deve ser levada em operosa sobriedade que natildeo se renda agraves riquezas terrenas

A pobreza espiritual como reconhecimento de Deus doador de todo bem eacute a base da pobreza material A pobreza de fato citada no cacircnon 600 comporta por isso a sujeiccedilatildeo agrave lei do trabalho comum a todos os homens e a sobriedade no uso dos bens materiais estranha qualquer cessatildeo diante das riquezas terrenas Isso se concretiza numa real limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens e portanto numa dependecircncia dos superiores segundo o direito proacuteprio de cada instituto O religioso que violar repentinamente o voto ou outro viacutenculo sagrado de pobreza pode ser demitido de acordo com a norma contida no cacircnon 696 sect 1 segundo o procedimento estabelecido nos cc 697-700 com os efeitos estabelecidos pelos cacircnones 701 e 702 Os institutos seculares se regulam de acordo com o que eacute definido nas constituiccedilotildees(cf c 729) As sociedades de vida apostoacutelica citadas no c 731 sect 2 seguem com as devidas adaptaccedilotildees os cacircnones que se referem aos institutos de vida religiosa (cf c 746)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
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600 Cacircnon ldquoO Conselho evangeacutelico da pobreza agrave imitaccedilatildeo de Cristo que sendo rico se fez pobre por noacutes aleacutem de uma vida pobre na realidade e no espiacuterito a ser vivida

laboriosamente na sobriedade e alheia agraves riquezas terrenas implica a dependecircncia e a limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens de acordo com o direito proacuteprio de cada institutordquo

O cacircnon 600 tendo como fonte a Perfectae Caritatis n 13a coloca o preceito evangeacutelico da pobreza na perspectiva da imitaccedilatildeo de Cristo que de rico que era se fez pobre por noacutes(cf 2Cor 89 Fl 2 6-11) Essa imitaccedilatildeo de Cristo que leva agrave participaccedilatildeo da pobreza de Cristo fonte da riqueza da redenccedilatildeo(cf VC 90) eacute expressatildeo do dom total de si mesmas que as trecircs pessoas divinas reciprocamente se fazem(cf VC 21 22) Natildeo se trata de uma pobreza de tipo socioloacutegico somente como falta de bens materiais mas da pobreza evangeacutelica isto eacute escolhida livremente pelo Reino dos ceacuteus que conforme indicado no cacircnon 601 comporta uma vida pobre de fato e de espiacuterito que deve ser levada em operosa sobriedade que natildeo se renda agraves riquezas terrenas

A pobreza espiritual como reconhecimento de Deus doador de todo bem eacute a base da pobreza material A pobreza de fato citada no cacircnon 600 comporta por isso a sujeiccedilatildeo agrave lei do trabalho comum a todos os homens e a sobriedade no uso dos bens materiais estranha qualquer cessatildeo diante das riquezas terrenas Isso se concretiza numa real limitaccedilatildeo no uso e na disposiccedilatildeo dos bens e portanto numa dependecircncia dos superiores segundo o direito proacuteprio de cada instituto O religioso que violar repentinamente o voto ou outro viacutenculo sagrado de pobreza pode ser demitido de acordo com a norma contida no cacircnon 696 sect 1 segundo o procedimento estabelecido nos cc 697-700 com os efeitos estabelecidos pelos cacircnones 701 e 702 Os institutos seculares se regulam de acordo com o que eacute definido nas constituiccedilotildees(cf c 729) As sociedades de vida apostoacutelica citadas no c 731 sect 2 seguem com as devidas adaptaccedilotildees os cacircnones que se referem aos institutos de vida religiosa (cf c 746)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 9: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

Castidade no celibato

Cacircnon 599 ldquo O Conselho evangeacutelico da castidade assumido por causa do Reino dos ceacuteus e que eacute sinal do mundo futuro e fonte de maior fecundidade num coraccedilatildeo indiviso

implica a obrigaccedilatildeo da continecircncia perfeita no celibatordquo

O cacircnon 599 fala da obrigaccedilatildeo da perfeita continecircncia no celibato mas como conteuacutedo do conselho evangeacutelico da castidade assumido pelo Reino dos Ceacuteus Potildee assim a obrigaccedilatildeo do controle da vontade na esfera da sexualidade Trata-se pois de uma obrigaccedilatildeo sustentada pela graccedila ( cf PC 12 a) A castidade perfeita e perpeacutetua no celibato ou na virgindade eacute a integraccedilatildeo por obra da graccedila da sexualidade num amor oblativo vivido na vida celibataacuteria escolhida pelo Reino dos ceacuteus O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria deve tender a sua plena realizaccedilatildeo na virgindade do coraccedilatildeo da qual a virgindade fiacutesica eacute sinal e tutela Se falta por qualquer razatildeo a virgindade fiacutesica a castidade celibataacuteria no dinamismo do amor deve igualmente tender a sua perfeiccedilatildeo na divindade do coraccedilatildeo consecuccedilatildeo daquela pureza de coraccedilatildeo que no aniquilamento total de si chega agrave uniatildeo plena com Deus Eacute o que se depreende do Decreto Perfectae Caritatis n 12c

ldquo A virgindade fiacutesica vivida na virgindade do coraccedilatildeo indica a doaccedilatildeo de si mesmo a Deus desde o nascimento O conselho evangeacutelico da castidade celibataacuteria eacute pois sinal de vida futura e eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso Soacute a virtude teologal da

caridade eacute fonte de uma mais rica fecundidade no coraccedilatildeo indiviso no hoje mas na - projeccedilatildeo da realizaccedilatildeo futura da qual a proacutepria vida consagrada torna se assim mais

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 10: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

( 16 33) sinal cf VC Como consequumlecircncia os candidatos natildeo devem ser admitidos agrave profissatildeo senatildeo depois que tenha sido por eles alcanccedilada uma suficiente maturidade

psicoloacutegica e afetiva Visto que a observacircncia da castidade perfeita atinge intimamente inclinaccedilotildees mais profundas da natureza humana os candidatos natildeo se abeirem nem sejam

admitidos agrave profissatildeo da castidade senatildeo depois duma provaccedilatildeo verdadeiramente suficiente e com a devida maturidade psicoloacutegica e afetiva Sejam natildeo soacute instruiacutedos sobre os perigos

- que ameaccedilam a castidade mas formem se de tal maneira que abracem o celibato consagrado a Deus tambeacutem como um bem de toda a pessoa rdquo

No que se refere agrave castidade o Coacutedigo estabelece um miacutenimo canocircnico pelo que se ultrapassa isso natildeo se pode mais permanecer na vida consagrada (cf cc 694 695 1395) Salvas as disposiccedilotildees gerais do Coacutedigo o direito proacuteprio deve dar uma disciplina particular segundo a natureza e as finalidades do instituto (cf cc 598 692 712 732)

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos

A vida terrena de Jesus foi uma expressatildeo da radicalidade com que viveu os princiacutepios e todos os preceitos da nova Lei instaurada por ele mesmo Jesus amou ateacute o fim foi a fundo no sentido que em sua morte chegou ateacute a mais total radicalizaccedilatildeo de sua virgindade precisamente pela totalidade e exclusividade do amor para com o Pai e para com todos os homens de sua pobreza pois privou-se de todo apoio humano e experimentou o sentido do abandono humano da obediecircncia por ter comprido tudo segundo o desiacutegnio do Pai superando qualquer tentaccedilatildeo ou desejo de realizaccedilatildeo humana

Para todos os batizados conforme as diversas condiccedilotildees de vida haacute uma exigecircncia legal de pobreza mas natildeo ateacute o ponto de desfazer-se de todo bem terreno de castidade mas natildeo ateacute a renuacutencia do matrimocircnio de obediecircncia mas natildeo ateacute o ponto de privar-se da proacutepria vontade em relaccedilatildeo agravequeles que representam a Deus Na vida consagrada os preceitos e os valores evangeacutelicos vaacutelidos para todos devem ser vividos na inserccedilatildeo mais profunda do misteacuterio da cruz do Senhor e de sua ressurreiccedilatildeo como um seguimento de Jesus mais

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 11: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

de perto e mais radical A vida consagrada eacute no plano pessoal uma antecipaccedilatildeo da perfeiccedilatildeo escatoloacutegica e no plano eclesial um sinal dessa perfeiccedilatildeo mesmo consciente de que a consagraccedilatildeo do cristatildeo seraacute plenamente concretizada somente na ressurreiccedilatildeo final

No decreto Perfectae Caritatis n 26 isso eacute bem latente

ldquo Dado que hoje as preocupaccedilotildees apostoacutelicas se fazem sentir sempre com maior urgecircncia e o empenhamento nas coisas deste mundo corre o risco de ser cada vez mais absorvente

- torna se particularmente oportuno chamar a atenccedilatildeo para a natureza escatoloacutegica da vida consagrada rdquo

I Formaccedilatildeo Para Novas Comunidades

A Vida Consagrada em geral

1 A consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos

Sob o aspecto teoloacutegico a consagraccedilatildeo de Cristo eacute o referencial o modelo o paracircmetro para a compreensatildeo da consagraccedilatildeo pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos Entretanto sob a base de uma especial vocaccedilatildeo e em virtude de um peculiar dom do Espiacuterito a pessoa participa dessa consagraccedilatildeo por um tiacutetulo novo e especial A vida consagrada em si natildeo eacute de natureza clerical nem laical

Essa consagraccedilatildeo por parte de Deus que toca as raiacutezes do ser acontece sob um duacuteplice aspecto pelo carisma proacuteprio e pela graccedila concedida para cumprir a proacutepria vocaccedilatildeo e exercer corretamente o carisma recebido Eacute Deus que atraindo a pessoa para si a consagra a ele para que ela pelo dom total consagre-se a ele assumindo como norma de vida estaacutevel a profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos (cf cc 573 710 731)

Cacircnon 573 sect 1 ldquoA vida consagrada pela profissatildeo dos conselhos evangeacutelicos eacute uma forma estaacutevel de viver pela qual os fieacuteis seguindo mais de perto a Cristo sob a accedilatildeo do Espiacuterito Santo consagram-se totalmente a Deus sumamente amado para assim dedicados por

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 12: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

tiacutetulo novo e especial a sua honra agrave construccedilatildeo da Igreja e agrave salvaccedilatildeo do mundo alcanccedilarem a perfeiccedilatildeo da caridade no serviccedilo do Reino de Deus e transformados em sinal preclaro na Igreja preanunciarem a gloacuteria celesterdquo

Essa vida fundamenta-se na comunhatildeo filial com Deus e fraterna com Cristo de maneira a atuar e expressar uma densidade e uma totalidade que lhe eacute proacutepria Tal consagraccedilatildeo se baseia na globalidade do Evangelho e da vida de Jesus Natildeo se trata de uma simples imitaccedilatildeo de Jesus mas sim de assumir um ldquoserrdquo do qual procede um ldquofazerrdquo para aproximar-se cada vez mais do ser e do fazer de Jesus(cf VC 16-20 72)

Cristo e os Conselhos Evangeacutelicos

Comunidades Novas e RCC10-02-2004

- A +A

Os conselhos evangeacutelicos tecircm sua origem divina mais exatamente cristoloacutegica pois estatildeo fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus isto quer dizer que se fundam em sua vida em toda sua vida A vida e a doutrina de Jesus estatildeo na base de toda forma de vida cristatilde e de maneira especial na base da vida consagrada

Quando se fala na vida de Jesus natildeo se refere aos seus aspectos mas agraves suas dimensotildees

Como foi a vida de Jesus

Jesus eacute o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmatildeos Sua vida consiste em desviver-se Natildeo se pertence a si mesmo Eacute existe e vive para Deus e para os homens E a virgindade- pobreza-obediecircncia foram a expressatildeo objetiva desta plena e definitiva autodoaccedilatildeo Por isso a vida de Jesus natildeo foi simples existecircncia mas uma proexistecircncia Seu existir foi proexistir existir em favor dos outros dando tudo e a si mesmo Entatildeo os conselhos evangeacutelicos natildeo podem ser entendidos como aspectos mas como dimensotildees constitutivas da vida de Jesus

Para noacutes tambeacutem os conselhos evangeacutelicos natildeo satildeo aspectos mas dimensotildees constitutivas de nossa vida Porque o consagrado imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gecircnero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai e que propocircs aos disciacutepulos que o seguiam(Conciacutelio)

Afirmar a origem divina-cristoloacutegica dos conselhos evangeacutelicos eacute afirmar a sua existecircncia mas tambeacutem sua invioacutelavel perdurabilidade na igreja jaacute que se trata de bem irrenunciaacutevel sobre o qual a igreja natildeo tem poder de vida ou morte A Igreja o recebe como se recebe um dom e o guarda com fidelidade porque eles natildeo satildeo de origem eclesiaacutestica mas cristoloacutegica Os conselhos evangeacutelicos expressam a doaccedilatildeo total e irrevogaacutevel de Cristo agrave Igreja e a doaccedilatildeo total da igreja a Cristo(noacutes natildeo podemos extinguir os mesmos)

A hierarquia da igreja tem a missatildeo de interpretaacute-las regular sua praacutetica e tambeacutem de organizar formas estaacuteveis de vivecirc-los

Por causa da origem cristoloacutegica o consagrado vive natildeo simplesmente a castidade mas a castidade de Cristo natildeo eacute a pobreza mas a pobreza de Cristo tampouco eacute a obediecircncia mas a obediecircncia de Cristo Existem outras formas de pobreza castidade e obediecircncia mas nenhuma delas nos interessa somente a que Cristo viveu (natildeo eacute aos nossos moldes)

Se noacutes nos desviarmos ou nos descuidarmos da origem e dimensatildeo cristoloacutegicas dos conselhos evangeacutelicos noacutes os tornaremos ininteligiacuteveis esvaziados de sentido perdendo sua maior riqueza

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
Page 13: Iv  FormaçãO Para Novas Comunidades

teoloacutegica Noacutes natildeo podemos desvinculaacute-los da pessoa de Cristo de sua vida e doutrina Deste modo e por essa razatildeo os conselhos evangeacutelicos se converteram em simples meios asceacuteticos em vez de ser atitudes e dimensotildees essencialmente evangeacutelicas e cristoloacutegicas

Portanto para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangeacutelicos eacute necessaacuterio voltar decididamente agrave pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina com o chamado ao seu seguimento e com seu misteacuterio de Keacutenosis em relaccedilatildeo com a Igreja com sua vida com sua santidade com sua dimensatildeo carismaacutetica e escatoloacutegica e com sua missatildeo evangelizadora em relaccedilatildeo com o Reino de Deus com sua valiosidade absoluta com suas exigecircncias supremas e com seu estabelecimento neste mundo como inauguraccedilatildeo da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto)

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade a pobreza e obediecircncia constituem as trecircs dimensotildees mais profundas do viver humano de Cristo Natildeo foram alguma coisa de secundaacuterio ou marginal em sua existecircncia mas algo constitutivo de seu modo histoacuterico de ser e de viver para os outros

O que significaram na vida-missatildeo de Jesus esses trecircs conselhos evangeacutelicos

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio uma forma dele demonstrar o seu amor provar o seu amor total a Deus e aos homens Uma prova autecircntica profunda de amor Como provar o meu amor a ti como tu iraacutes reconhecer que o meu amor eacute sincero e eacute tatildeo sincero que vou ser pobre-obediente-casto E natildeo como meios para conseguir o amor perfeito mas como expressatildeo desse amor perfeito Natildeo para tornar possiacutevel o amor mais para tornar visiacutevel o amor Para demonstrar o maacuteximo amor ao Pai e aos irmatildeos

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens se tivesse vivido de outra maneira sem o miacutenimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoiacutesmo Poreacutem natildeo nos teria feito ver com a mesma claridade e evidecircncia esse amor e essa liberdade Fazer ver com argumentos dar provas convincentes A virgindade-pobreza-obediecircncia de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutaacutevel de liberdade

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediecircncia-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amaacute-lo Nada nos prende nem nos domina Quando tomamos posse de algo ou de algueacutem eacute porque estamos dominados por esse algo ou algueacutem Devemos tambeacutem atraveacutes desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens a nossa doaccedilatildeo de noacutes mesmos sem reservas

Doaccedilatildeo total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo)

O amor manifesta-se sempre como dom Natildeo haacute amor se natildeo haacute dom

Amor total - dom total - dom de si mesmo

Amar eacute dar-se Jesus natildeo se pertence e natildeo vive para si Por isso vive inteiramente para os outros para Deus e para os homens isto eacute para o Reino Literalmente ele desvive-se Jesus pocircs-se a serviccedilo dos outros - do Pai e dos irmatildeos - tudo o que era e o que tinha Filiaccedilatildeo experiecircncia com Deus doutrina tempo proacutepria vida Porque viveu inteiramente como Filho do Pai pode viver inteiramente como irmatildeo de todos os homens

Vivecircncia antecipada do sacrifiacutecio da sua morte

Os conselhos eram para Jesus parte integrante de sua Keacutenosis do misteacuterio de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz A Keacutenosis que Jesus vive natildeo era mera renuacutencia nem puro esvaziamento mas auto-doaccedilatildeo por amor Cristo ofereceu-se a si mesmo e natildeo sangue de animais E esse sacrifiacutecio durou toda a sua vida

A morte eacute a total oferta do nosso ser a Deus o gratildeo de trigo precisa morrer para nascer de novo

Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte o nosso aniquilamento que culminaraacute em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade)

Cristo natildeo pode deixar de ser Deus natildeo pode renunciar ao seu ser divino poreacutem renunciou a sua condiccedilatildeo divina gloriosa isto eacute renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a gloacuteria que lhe correspondia em virtude de sua divindade Natildeo fez valer seus direitos Despojou-se de sua nobreza Sendo Senhor e Rei apresentou-se como servo e escravo

Inauguraccedilatildeo de modo celeste de vida

A vida da graccedila nos faz viver desde esta vida a gloacuteria do ceacuteu A vida da graccedila eacute a vida eterna

Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
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Tambeacutem foram os conselhos evangeacutelicos em Cristo antecipaccedilatildeo de sua ressurreiccedilatildeo gloriosa prefiguraccedilatildeo da nossa e inauguraccedilatildeo neste mundo da vida celeste Atraveacutes dos conselhos evangeacutelicos Cristo tornou jaacute presente nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado

Pela pobreza-obediecircncia e castidade Cristo adiantou aqui e agora a condiccedilatildeo essencial da vida celeste estabelecendo um tipo de relaccedilotildees divinas e humanas vaacutelidas para outra vida

Viveremos aqui o que viveremos no ceacuteu A vida na terra deve ser uma preparaccedilatildeo e antecipaccedilatildeo da vida que vamos viver no ceacuteu Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no ceacuteu

O que satildeo e o que devem significar em noacutes os conselhos evangeacutelicos

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significaccedilatildeo que tiveram nele Do contraacuterio seria necessaacuterio a condiccedilatildeo evangeacutelica da vida consagrada Se a vida consagrada eacute em sua proacutepria essecircncia seguimento e imitaccedilatildeo radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente

Os conselhos evangeacutelicos na vida consagrada satildeo afirmaccedilatildeo clara da primazia absoluta do Reino presenccedila no mundo dos bens definitivos prefiguraccedilatildeo e experiecircncia da vida eterna e da ressurreiccedilatildeo gloriosa

Devemos entatildeo viver os conselhos evangeacutelicos com o mesmo sentido que Cristo viveu poreacutem para noacutes homens pecadores precisamos acrescentar uma afirmaccedilatildeo complementar os conselhos evangeacutelicos devem se tornar meios removedores de obstaacuteculos em mortificaccedilatildeo das raiacutezes de pecado-de cobiccedila de egoiacutesmo de soberba (as concupiscecircncias) que existem em noacutes inclusive depois do batismo e que um dia podem se transformar em frutos de pecado Satildeo pedagogia para o amor aleacutem de ser constitutivamente amor Porque a amar se aprende amando E esta eacute uma significaccedilatildeo que em Cristo natildeo tiveram

Para noacutes assume tambeacutem o caraacuteter asceacutetico mas natildeo para aiacute porque seria privaacute-las de todo o seu sentido cristoloacutegico e consequentemente esvaziaacute-los de seu conteuacutedo melhor Deixariam entatildeo de ser realidades e atitudes evangeacutelicas para ser simplesmente costumes asceacuteticos ou meios humanos de purificaccedilatildeo

A Castidade

Prometer viver a castidade significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total divino e humano de Cristo que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaccedilao interpessoal que continuaraacute sendo vaacutelidas na outra vida a fim de transcender toda mediaccedilatildeo fundada nos sentidos (prazer pelo prazer)

A castidade vem de encontro a concupiscecircncia do prazer vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado

Celibataacuterio (virgindade consagrada) - vive essa dimensatildeo acrescida da renuacutencia ao matrimocircnio e ao exerciacutecio da sexualidade como consequumlecircncia loacutegica desse amor imediato total para viver inteiramente para o Reino Evitando toda polarizaccedilatildeo e toda imediaccedilatildeo no amor

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si eacute realmente virgem como Cristo porque eacute esposa de Cristo Desposei-vos a um uacutenico Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura (2 Cor 112s)

Quando Jesus comunica seu Espiacuterito agrave Igreja comunica-lhe a sua virgindade Virgindade cristatilde natildeo significa entatildeo renuacutencia ao matrimocircnio mas acolhida total do Espiacuterito de Cristo a renuacutencia ao matrimocircnio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espiacuterito

Santo Agostinho diz Criou a Igreja virgem e por isso eacute virgem Na carne haacute somente virgens consagradas na feacute todos devem ser virgens homens e mulheres Virgem eacute pois a Igreja eacute virgem seja virgem

Portanto precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus o nosso olhar o nosso gosto o nosso cheiro o nosso ouvir o nosso falar o nosso tocar o nosso sentir

A pobreza O Pai eacute a nossa uacutenica riqueza

A pobreza de Cristo foi em face ao Pai confianccedila absoluta que ele expressou numa renuacutencia expliacutecita a todo outro apoio para afirmar decididamente que se apoiava somente nele e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha Em face a si

mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral
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mesmo a pobreza foi parte integrante de seu ministeacuterio de aniquilamento Em face dos bens desse mundo liberdade soberana

Prometer viver na pobreza (fraternidade unidade) pobreza quer dizer empenhar-se em confiar infinitamente em Deus apoiando-se unicamente nele viver decididamente para os outros compartilhando tudo o que se eacute e tudo o que se tem com os irmatildeos natildeo pertencer-se para pertencer a todos e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independecircncia ativa Eacute portanto um meio de se vencer a concupiscecircncia do possuir que atinge uma dimensatildeo muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra

A Obediecircncia O desafio da liberdade na obediecircncia

A obediecircncia em Cristo foi submissatildeo filial plena e amorosa ao querer do Pai Foi estado e atitude de perfeita docilidade ativa e responsaacutevel agrave vontade do Pai Foi saber-se centro do plano salviacutefico de Deus aceitaacute-lo incondicionalmente com todas as suas consequecircncias

Fazer voto de obediecircncia significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmatildeos a viver em atitude de total docilidade agrave vontade amorosa do Pai e a acolhecirc-la filialmente como criteacuterio uacutenico de vida sejam quais forem as mediaccedilotildees humanas ou sinais que manifestam essa vontade

Se estivermos atentos a vontade de Deus natildeo esperaremos que as nossas autoridades a revele para noacutes e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para noacutes eacute muito difiacutecil Noacutes mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para noacutes Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas

Para vivermos a obediecircncia natildeo podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos resistentes a ela mas uma atitude de descoberta uma disposiccedilatildeo interior uma determinaccedilatildeo de descoberta para vivecirc-la Como noacutes natildeo queremos vivecirc-la nem queremos descobriacute-la O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e natildeo temos como nos abster de cumpriacute-la

Os grandes desafios da vida consagrada

A missatildeo profeacutetica da vida consagrada vecirc-se provocada por trecircs desafios principais lanccedilados agrave proacutepria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangeacutelicos de castidade pobreza e obediecircncia estimulando a Igreja e de modo particular as pessoas consagradas a pocircr em evidecircncia e testemunhar o seu significado antropoloacutegico profundo Na verdade a opccedilatildeo por esses conselhos longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas revela-se antes como uma transfiguraccedilatildeo dos mesmos Os conselhos evangeacutelicos natildeo devem ser considerados como uma negaccedilatildeo dos valores inerentes agrave sexualidade ao legiacutetimo desejo de usufruir de bens materiais e de decidir autonomamente sobre si proacuteprio Essas inclinaccedilotildees enquanto fundadas na natureza satildeo boas em si mesmas mas a criatura humana enfraquecida como estaacute pelo pecado original corre o risco da as exercitar de modo transgressivo A profissatildeo de castidade pobreza e obediecircncia torna-se uma admoestaccedilatildeo a que natildeo se subestimem as feridas causadas pelo pecado original e embora afirmando o valor dos bens criados relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto

  • O governo dentro da Vida Consagrada
  • Tipologia da Vida Consagrada
  • Obedecer - sinal de maturidade e crescimento
  • ldquoBem aventurados os pobres de espiritordquo
  • Castidade no celibato
  • A Vida Consagrada e os conselhos Evangeacutelicos
  • A Vida Consagrada em geral