ÍTACA

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12.2.11 Constantinos Caváfis: "Ιθάκη" / "Ítaca": trad. de Ísis Borges da Fonseca Por sugestão do Aetano, publico "Ítaca", de Caváfis. A tadução é de Ísis Borges da Fonseca. Ìtaca Quando partires em viagem para Ítaca faz votos para que seja longo o caminho, pleno de aventuras, pleno de conhecimentos. Os Lestrigões e os Ciclopes, o feroz Poseidon, não os temas, tais seres em teu caminho jamais encontrarás, se teu pensamento é elevado, se rara emoção aflora teu espírito e teu corpo. Os Lestrigões e os Ciclopes, o irascível Poseidon, não os encontrarás, se não os levas em tua alma, se tua alma não os ergue diante de ti. Faz votos de que seja longo o caminho. Que numerosas sejam as manhãs estivais, nas quais, com que prazer, com que alegria, entrarás em portos vistos pela primeira vez; pára em mercados fenícios e adquire as belas mercadorias, nácares e corais, âmbares e ébanos e perfumes voluptuosos de toda espécie, e a maior quantidade possível de voluptuosos perfumes; vai a numerosas cidades egípcias, aprende, aprende sem cessar dos instruídos. Guarda sempre Ítaca em teu pensamento. É teu destino aí chegar. Mas não apresses absolutamente tua viagem. É melhor que dure muitos anos e que, já velho, ancores na ilha, rico com tudo que ganhaste no caminho, sem esperar que Ítaca te dê riqueza.

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Constantinos Caváfis: "Ιθάκη" / "Ítaca": trad. de Ísis Borges da

Fonseca 

Por sugestão do Aetano, publico "Ítaca", de Caváfis. A tadução é de Ísis Borgesda Fonseca.

Ìtaca

Quando partires em viagem para Ítacafaz votos para que seja longo o caminho,pleno de aventuras, pleno de conhecimentos.Os Lestrigões e os Ciclopes,o feroz Poseidon, não os temas,tais seres em teu caminho jamais encontrarás,se teu pensamento é elevado, se raraemoção aflora teu espírito e teu corpo.Os Lestrigões e os Ciclopes,o irascível Poseidon, não os encontrarás,se não os levas em tua alma,se tua alma não os ergue diante de ti.

Faz votos de que seja longo o caminho.Que numerosas sejam as manhãs estivais,nas quais, com que prazer, com que alegria,entrarás em portos vistos pela primeira vez;pára em mercados feníciose adquire as belas mercadorias,

nácares e corais, âmbares e ébanose perfumes voluptuosos de toda espécie,e a maior quantidade possível de voluptuosos perfumes;vai a numerosas cidades egípcias,aprende, aprende sem cessar dos instruídos.

Guarda sempre Ítaca em teu pensamento.É teu destino aí chegar.Mas não apresses absolutamente tua viagem.É melhor que dure muitos anose que, já velho, ancores na ilha,

rico com tudo que ganhaste no caminho,sem esperar que Ítaca te dê riqueza.

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Ítaca deu-te a bela viagem.Sem ela não te porias a caminho.Nada mais tem a dar-te.

Embora a encontres pobre, Ítaca não te enganou.

Sábio assim como te tornaste, com tanta experiência,já deves ter compreendido o que significam as Ítacas.

Jorge Luis Borges: "Arte poética": tradução de Josely ViannaBaptista 

Ítalo Durdson me chamou atenção para o fato de que a Josely Vianna Baptista,excelente poeta e tradutora de poesia, traduziu um dos meus poemas

 favoritos: o "Arte poética" do Jorge Luis Borges. Eis o poema e a tradução:

Arte poética

Mirar el río hecho de tiempo y aguay recordar que el tiempo es otro río,saber que nos perdemos como el ríoy que los rostros pasan como el agua.

Sentir que la vigilia es otro sueñoque sueña no soñar y que la muerteque teme nuestra carne es esa muertede cada noche, que se llama sueño.

Ver en el día o en el año un símbolode los días del hombre y de sus años,convertir el ultraje de los añosen una música, un rumor y un símbolo,

ver en la muerte el sueño, en el ocasoun triste oro, tal es la poesíaque es inmortal y pobre. La poesíavuelve como la aurora y el ocaso.

A veces en las tardes una caranos mira desde el fondo de un espejo;

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el arte debe ser como ese espejoque nos revela nuestra propia cara.

Cuentan que Ulises, harto de prodigios,lloró de amor al divisar su Itaca

verde y humilde. El arte es esa Itacade verde eternidad, no de prodigios.

También es como el río interminableque pasa y queda y es cristal de un mismoHeráclito inconstante, que es el mismoy es otro, como el río interminable.

Arte poética

Fitar o rio feito de tempo e águae recordar que o tempo é outro rio,saber que nos perdemos como o rioE que os rostos passam como a água.

Sentir que a vigília é outro sonhoque sonha não sonhar e que a morteque teme nossa carne é essa mortede cada noite, que se chama sonho.

No dia ou no ano perceber um símbolodos dias de um homem e ainda de seus anos,transformar o ultraje desses anosem música, em rumor e em símbolo,

na morte ver o sonho, ver no ocasoum triste ouro, tal é a poesia,que é imortal e pobre. A poesiaretorna como a aurora e o ocaso.

Às vezes pelas tardes certo rostocontempla-nos do fundo de um espelho;a arte deve ser como esse espelhoque nos revela nosso próprio rosto.

Contam que Ulisses, farto de prodígios,chorou de amor ao divisar sua Ítacaverde e humilde. A arte é essa Ítacade verde eternidade, sem prodígios.

Também é como o rio interminávelque passa e fica e é cristal de um mesmoHeráclito inconstante, que é o mesmo

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e é outro, como o rio interminável.

BORGES, Jorge Luis. O fazedor . Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo:

Companhia das Letras, 2008