Intro Duca o

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 Introdução Chagas, KN. – Avaliação do Gene Estrutural da MBL e a sua Relação com a Transmissão Materno-fetal do HIV. 1 1 - Introdução:  A lectina ligadora de manose (MBL) é uma proteína plasmática, com pape l impor tante no sistema de defes a inato (Thiel et al, 1995 ), qu e constitui o primeiro componente de ativação da via das lectinas do sistema complemento e atua na neutralização de microorganismos patogênicos por um mecanismo independente de anticorpo (Turner, 1996; Wallis et al, 2000; Guardia et al, 2003). A MBL é encontrada no soro de mamíferos e é considerada uma proteína de fase aguda (Ezekowitz et al, 1988; Thiel et al, 1992). O padrão de reconhecimento da MBL é definido através da conformação espacial e do sentido de orientação de seu domínio de reconheciemento de carboidrato (CRD), determinando o tipo de ligante da proteina, que são microorganismos com grande quantidade de manose (ou N-acetil-D-glucosamina ou similar) e glicanos em sua superfície (Jack et al, 2003). Quando ocorre a ligação ao microorganismo, a MBL pode desencadear várias atividades anti-microbianas. A proteína interage com, pelo menos, quatro proteínas relacionadas ao Sistema serino protease associado (MASP): MASPs 1, 2, 3 e uma forma “truncada” de MASP 2, a Map 19. Essa interação, por sua vez, ativa a cascata do complemento com a lise dos microorganismos diretamente ou com o aumento da fagocitose (Turner, 1996; Wallis et al, 2000; Jack et al, 2003). O gene mbl2 , localizado no braço q11.2-q21 do cromosomo 10, é formado por quatro exons. Três pontos de mutação foram encontrados na

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sistema complemento artigo da lectina ligadora de manose

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  • Introduo

    Chagas, KN. Avaliao do Gene Estrutural da MBL e a sua Relao com a TransmissoMaterno-fetal do HIV.

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    1 - Introduo:

    A lectina ligadora de manose (MBL) uma protena plasmtica, com

    papel importante no sistema de defesa inato (Thiel et al, 1995), que

    constitui o primeiro componente de ativao da via das lectinas do sistema

    complemento e atua na neutralizao de microorganismos patognicos por

    um mecanismo independente de anticorpo (Turner, 1996; Wallis et al, 2000;

    Guardia et al, 2003). A MBL encontrada no soro de mamferos e

    considerada uma protena de fase aguda (Ezekowitz et al, 1988; Thiel et al,

    1992).

    O padro de reconhecimento da MBL definido atravs da

    conformao espacial e do sentido de orientao de seu domnio de

    reconheciemento de carboidrato (CRD), determinando o tipo de ligante da

    proteina, que so microorganismos com grande quantidade de manose (ou

    N-acetil-D-glucosamina ou similar) e glicanos em sua superfcie (Jack et al,

    2003).

    Quando ocorre a ligao ao microorganismo, a MBL pode

    desencadear vrias atividades anti-microbianas. A protena interage com,

    pelo menos, quatro protenas relacionadas ao Sistema serino protease

    associado (MASP): MASPs 1, 2, 3 e uma forma truncada de MASP 2, a

    Map 19. Essa interao, por sua vez, ativa a cascata do complemento com a

    lise dos microorganismos diretamente ou com o aumento da fagocitose

    (Turner, 1996; Wallis et al, 2000; Jack et al, 2003).

    O gene mbl2, localizado no brao q11.2-q21 do cromosomo 10,

    formado por quatro exons. Trs pontos de mutao foram encontrados na

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    regio estrutural da molcula (cdons 52, 54 e 57) resultando em trs

    variantes allicas chamadas de alelos D, B e C, respectivamente. A forma

    selvagem denominada A. Essas mutaes ocorrem nos nucleotdeos 223

    (C para T), 230 (G para A) e 239 (G para A) do exon 1 para D, B e C,

    respectivamente (Steffensen et al, 2000). A regio promotora apresenta

    stios de ligao para transcrio de fatores envolvidos na regulao da

    resposta de fase aguda (Guardia et al, 2003). Polimorfismos adicionais

    foram descritos na regio promotora do gene. Duas variaes H e L, na

    posio 550, esto em desequilbrio de ligao com X e Y, variantes da

    posio 221, e so encontrados em trs hapltipos: HY, LY e LX (Madsen

    et al, 1995; Steffensen et al, 2000; Guardia et al, 2003). O hapltipo HY

    associado a altos nveis sricos de MBL; LY com nveis intermedirios e LX

    aos nveis sricos mais baixos (Madsen et al, 1995; Steffensen et al, 2000).

    As mutaes na regio codificadora do gene afetam o nvel srico da

    protena e baixas concentraes de MBL tm sido associadas a defeitos de

    opsonizao e fagocitose, resultando em infeces de repetio em recm-

    nascidos e crianas (Steffensen et al, 2000; Guardia et al, 2003). Acredita-se

    que este defeito seja freqente na populao geral (5 a 7%) sugerindo tratar-

    se da imunodeficincia primria mais comum (Super et al, 1989; Jack et al,

    2001).

    Vrios estudos associam os nveis de MBL suscetibilidade a

    agentes infecciosos. A deficincia de MBL tem sido associada infeco

    pelo HIV (Vrus da imunodeficincia humana) e a outros patgenos como

    bactrias, fungos, parasitas e outros vrus, tanto em crianas quanto em

    adultos (Kilpatrick et al, 1996-97). O HIV-1 um vrus com envelope, que

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    expressa a gp120/gp41, um receptor de fuso protica na superfcie viral. A

    gp120 extensivamente glicosilada, com carboidratos em mais da metade

    de sua massa molecular constituindo um excelente alvo para interao com

    a MBL (Saifudin et al, 2000).

    Os primeiros estudos mostraram que a MBL inibe, in vitro, a infeco

    de linfcitos T CD4+ pelo HIV e liga-se, seletivamente, s clulas infectadas

    pelo vrus (Ezekowitz et al, 1989). O papel da MBL na infeco pelo HIV

    ainda considerado bipolar, isto , a MBL ligada ao vrus pode resultar em

    sua neutralizao com a ativao do complemento, mas por outro lado, o

    vrus pode utilizar a MBL para ligar-se ao receptor do complemento e utiliz-

    lo comco porta de entrada nas clulas. (Thielens et al, 2002).

    Embora diversos estudos avaliem uma possvel associao entre a

    infeco pelo HIV e os gentipos de MBL, correlacionando-os ao

    desenvolvimento e progresso para a AIDS (sndrome da imunodeficincia

    adquirida), (Nielsen et al, 1995; Senaldi et al, 1995; Garred et al, 1997;

    Thielens et al, 2002; Lian et al, 2004), o papel desta protena na transmisso

    materno-fetal do vrus ainda no est esclarecido.

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    2 - Reviso da Literatura:

    2.a Sistema Complemento:

    Em 1888, Nuttal descobriu que hemcias de carneiro possuam

    atividade bactericida para Bacillus anthracis, que era perdida com o

    aquecimento do soro a 55C. Logo aps, Bordet (1894) observou que a

    atividade imune do soro inativado pelo calor poderia ser restaurada com

    pequenas quantidades de soro fresco no imune, que por si s no

    apresentava atividade bactericida. Aps quase meio sculo, o sistema

    complemento foi definido como uma srie de protenas sricas, ativadas

    sequencialmente, cuja atividade resulta em hemlise (Figueroa et al, 1991;

    Frank, 1998).

    As protenas do sistema complemento possuem atividade proteoltica,

    porm so encontradas na forma de pr-enzimas (zimognio), que so

    ativadas apenas sob condies particulares. Nos stios de inflamao, estas

    enzimas ativadas geram vrias funes efetoras, que resultam em potentes

    eventos inflamatrios (Prodinger et al, 2003; Janeway et al, 2005).

    Por volta dos anos 80, investigadores mostraram que o sistema

    complemento constitudo no apenas de componentes solveis que se

    depositam na superfcie de microorganismos, mas tambm por protenas de

    membrana nas clulas do hospedeiro, que interagem com aquelas (Figueroa

    et al, 1991). Cerca de 35 protenas participam do sistema complemento

    realizando funes de: protenas efetoras, de receptores de superfcie

    celular e com atividade reguladora (Frank, 1998) (Tabelas 1 e 2)

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    Tabela 1 - Componentes das vias clssica, alternativa, das lectinas e da

    cascata final do sistema complemento.

    Protenas da via clssica

    Protena Concentrao sricamg/mL

    Funo

    C1 (C1qr2s2) Inicia a via clssica.

    C1q 75-150 Liga-se a poro Fc de anticorpos.

    C1r 50 Cliva C1s.

    C1s 50 Cliva C4 e C2.

    C4 300-600 C4b liga-se a superfcie ativadora e a C4a estimula a inflamao.

    C2 20 C2a a enzima ativa das C3 e C5 convertases.

    Protenas da via alternativa

    Protena Concentrao sricamg/mL

    Funo

    C3 1000-1200 C3b liga-se a superfcie ativadora, componente de C3 e C5convertase; C3a estimula a inflamao.

    Fator B 200 Bb a enzima ativa de C3 e C5 convertase.

    Fator D 1-2 Cliva o fator B quando ligado a C3b.

    Properdina 25 Estabiliza a C3 convertase (C3bBb) na superfcie ativadora.

    Via das lectinas

    Protena Concentrao sricamg/mL

    Funo

    MBL 1-2 Ligao a resduos de acares na superfcie de microorganismos.

    MASP-1 6 Serinoprotease, cliva C2, ativa C3.

    MASP-2 0.5 Serinoprotease, cliva C4.

    MASP-3 ? No conhecida.

    MAp-19 ? No conhecida.

    L-ficolina 13.7 Associa-se as MASPs e Map19 e pode ativar a via das lectinas.

    H-ficolina 15 Associa-se as MASPs e Map19 e pode ativar a via das lectinas.

    Cascata final do complemento

    Protena Concentrao sricamg/mL

    Funo

    C5 80 C5b inicia o MAC; C5a estimula a inflamao.

    C6 45 Liga-se a C5 e recebe C7.

    C7 90 Liga-se a C5b6 e insere o complexo na membrana.

    C8 60 Liga-se a C5b-7 e inicia a ligao e polimerizao de C9.

    C9 60 Liga-se a C5b-8 e forma poros na membrana.

    Modificado de Abbas et al, 2000; Winkelstein J et al, 2003; Prodinger et al, 2003.

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    Tabela 2 - Protenas reguladoras e receptores de superfcie dos produtos do

    complemento.

    Protenas reguladoras da ativao do sistema complemento

    Protena Distribuio econcentrao srica

    (mg/mL)

    Interao Funo

    Inibidor de C1esterase (C1-INH)

    Protena plasmtica

    200

    C1r, C1s Inibidor de serinoprotease,controla as vias clssica e daslectinas.

    Fator I Protena plasmtica

    35

    C4b, C3b Serinoprotease, cliva C3b e C4bcom auxlio de cofatores.

    Fator H Protena plasmtica

    480

    C3b Liga-se a C3b e dissocia-o deBb; cofator para fator I.

    Protena ligadora deC4 (C4bp)

    Protena plasmtica

    300

    C4b Liga-se a C4b e dissocia-o deC2a; cofator para fator I.

    Properdina Protena plasmtica

    340

    C3bBb Retarda a dissocoaoespontnea da enzima.

    Protena S Protena plasmtica

    340

    C5b-9 Liga-se a C5b-9 na fase fluida,inibe a formao do MAC.

    Receptores de superfcie

    Protena cofator demembrana (MCP)

    Leuccitos, clulasepiteliais e endoteliais.

    C3b, C4b cofator para fator I.

    fator acelerador dedecaimento (DAF)

    Clulas sanguneas,epiteliais e endoteliais.

    C4b2a, C3bBb Dissociao da C3 convertase.

    CD59 Clulas sanguneas,epiteliais e endoteliais.

    C7, C8 Bloqueia a ligao de C9 eimpede a formao do MAC.

    Modificado de Abbas et al, 2000, Winkelstein et al, 2003; Prodinger et al, 2003.

    CR1 - receptor 1 do complemento.

    Os hepatcitos sintetizam cerca de 90% dos componentes do sistema

    complemento. Apenas alguns deles tm sua origem predominantemente fora

    do fgado, como o C1 no epitlio intestinal e em moncitos/macrfagos; o

    Fator D no tecido adiposo; as clulas da medula ssea, particularmente os

    granulcitos, parecem representar a maior fonte de C7 plasmtico. Alguns

    estudos demonstram outras fontes no usuais das protenas do

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    complemento, tais como astrcitos, clulas endoteliais, linfcitos, epitlio

    renal, rgos reprodutores, entre outras (Volanakis, 1998; Prodinger et al,

    2003).

    Trs vias de ativao do sistema complemento tm sido descritas: 1)

    a via clssica, desencadeada por ligao antgeno-anticorpo; 2) a via das

    lectinas, ativada atravs da ligao da MBL a estruturas polissacardicas na

    superfcie de microorganismos e 3) a via alternativa, que pode ser iniciada

    pela ligao de C3, ativado espontaneamente no plasma, superfcie de

    microorganismos. Depois de ativadas, as trs vias formam a enzima C3

    convertase, que posteriormente resulta na formao da C5 convertase e

    evoluem para a via terminal comum (C5b-9). Nesta via, os componentes so

    ativados de maneira no-proteoltica e formam o complexo de ataque a

    membrana (MAC). Na fase fluida, as protenas esto inativadas, ou apenas

    transitoriamente ativadas, e tornam-se estveis aps a sua ligao com

    microorganismos ou com anticorpos (Volanakis, 1998; Abbas et al, 2000;

    Prodinger et al, 2003; Janeway et al, 2005).

    As protenas que formam a cascata de ativao da via clssica

    compreendem C1, C2, C4 e C3, nesta ordem, e a regulao exercida por

    protenas como o inibidor de C1 esterase (C1-INH), o DAF, a protena de

    ligao C4 (C4bp), CR1, o fator I e a protena cofator de membrana (MCP)

    (Prodinger et al, 2003). A ligao de C1q superfcie de patgenos ou a

    imunoglobulinas, desencadeia uma alterao conformacional no complexo

    C1r:C1s, resultando na ativao de C1r que, posteriormente, ativa o C1s

    associado, para gerar uma serinoprotease ativa. C1s atua nos prximos dois

    componentes da via clssica C4 e C2, clivando-os em dois fragmentos: C4a,

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    fragmento pequeno, com baixa atividade quimiottica, e C4b, maior, que

    sofre uma alterao conformacional. Apenas cerca de 5% do C4b torna-se

    aderido de forma covalente s partculas de superfcie, ao redor do stio de

    ativao. Aps esta adeso, C2 forma um complexo com C4b, e clivado

    por C1s, formando dois fragmentos: o menor, C2b, liberado na fase fluida

    e o maior, C2a, mantm-se ligado a C4b, para formar o complexo C4b2a,

    enzimaticamente ativo, que a C3 convertase da via clssica (Rother et al,

    1985; Figueroa et al, 1991; Winkelstein et al, 2003; Prodinger et al, 2003;

    Janeway et al, 2005) (Figura 1).

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    Figura 1 - Representao esquemtica da via clssica de ativao do

    complemento.

    C1s

    Carboidrato

    C2

    C2b

    C4

    C2a C4b2a

    C4a

    C3C3a

    C4b2a3b

    Via Clssica

    C1r

    C1q

    Modificado de Walport, 2001.

    O C1-INH liga-se enzima ativa C1r:C1s e causa sua dissociao de

    C1q, limitando o tempo de durao no qual C1s ativo capaz de clivar C4 e

    C2. O complexo C4b2a tem meia-vida curta, aps a qual h dissociao de

    C2a em uma forma inativa. A protena srica C4bp liga-se ao C4b,

    acelerando a sua dissociao do complexo e impedindo a formao de uma

    nova convertase. E tambm, atua como cofator para o fator I, que quebra

    C4b em fragmentos menores, inativos. O DAF associado membrana

    acelera a dissociao da C3 convertase aderida superfcie de clulas do

    hospedeiro (Abbas et al, 2000; Winkelstein et al, 2003; Prodinger et al, 2003;

    Janeway et al, 2005).

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    A funo mais importante da C3 convertase clivar um nmero

    suficiente de molculas C3 para produzir C3b, que se adere superfcie do

    patgeno. Ao mesmo tempo, C3a, o fragmento menor, inicia resposta

    inflamatria local. A ativao de C3 resulta tambm na formao da C5

    convertase, com a ativao de C5 e incio da via terminal (Janeway et al,

    2005).

    A ativao da via alternativa do complemento pode ocorrer em vrias

    superfcies de microorganismos, na ausncia de anticorpo especfico

    (Janeway et al, 2005). A ativao de C3, pela clivagem em C3b, a reao

    central da cascata. (Prodinger et al, 2003).

    Ao contrrio das outras vias, a via alternativa no depende de uma

    superfcie ativadora para a sua iniciao, podendo ocorrer hidrlise

    espontnea de C3. Normalmente, o C3 plasmtico continuamente clivado

    em baixas doses para gerar C3b. Formando C3a e C3b. C3a, o fragmento

    menor, uma potente anafilatoxina e exerce seus efeitos em locais distantes

    do stio de ativao. O fragmento maior, C3b, altera sua conformao e liga-

    se a nuclefilos prprios e a grupos amida ou hidroxila de qualquer molcula

    ao redor (molcula aceptora), incluindo molculas de gua (Frank, 2000;

    Prodinger et al, 2003; Janeway et al, 2005). Se e ligao no ocorrer, o C3b

    permanece na fase fluida e rapidamente hidrolisado, tornando-se inativo e

    encerrando a ativao da cascata. Caso o C3b se ligue a uma protena

    plasmtica, o fator B, sofre uma mudana conformacional e ativa o fator D.

    Este segundo fator determina a quebra do fator B em dois fragmentos Ba,

    que fica na fase fluida e Bb, que se mantm aderido a C3b, formando o

    complexo C3bBb a C3 convertase da via alternativa. Essa convertase atua

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    clivando mais molculas de C3, induzindo a amplificao da ativao da

    cascata. O complexo C3bBb regulado positivamente pela ao da

    properdina (fator P) que se liga superfcie ativadora e estabiliza a

    convertase (Abbas et al, 2000; Frank, 2000; Winkelstein et al, 2003;

    Prodinger et al, 2003; Janeway et al, 2005) (Figura 2).

    Figura 2 - Representao esquemtica da via alternativa de ativao do

    complemento.

    C3

    C3

    H O2

    C3(HO)2B

    D

    C3(HO) Bb2

    C3(HO) B2

    Ba

    C3a

    C3bBb

    C3a

    C3bBb3b

    Via alternativa

    Modificado de Walport, 2001.

    Em superfcies no ativadoras do complemento, como por exemplo,

    as clulas humanas, os resduos de cido silico na poro de carboidratos

    das glicoprotenas permitem que o C3b aderido membrana seja

    rapidamente ligado ao fator H e, subsequentemente, quebrado pelo fator I. O

    fator H tambm pode dissociar o complexo C3bBb formado na membrana

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    celular ou na fase fluida (Prodinger et al, 2003; Janeway et al, 2005). O CR1

    e DAF competem com o fator B pelo stio de ligao de C3b e podem

    dissoci-lo do complexo C3bBb. O fator I, junto com CR1 e MCP, cliva C3b

    em iC3b (forma inativa) impedindo a formao de nova convertase

    (Winkelstein et al, 2003; Prodinger et al, 2003; Janeway et al, 2005).

    A via citoltica ou cascata terminal comum do sistema complemento

    inicia-se com a ligao do C3b a C3 convertase, formando um complexo

    trimolecular C4b2aC3b ou C3bBbC3b, que atua como C5 convertase, com

    seu stio ltico nas molculas de C2a e Bb, respectivamente. A convertase

    quebra C5 em dois fragmentos: C5a, que atua em receptores especficos e

    promove resposta inflamatria local e C5b, que inicia a formao do

    complexo C5b-9 terminal (MAC). C5b sofre alterao conformacional e liga-

    se a C6, formando um complexo que se liga a C7. H exposio de stios de

    ligao na membrana e a incorporao do complexo C5b67. Posteriormente,

    ocorre a ligao de C8, formando um complexo que j possui atividade ltica.

    O complexo C5b-8 atua como polimerizador de C9, que por sua vez, comea

    a aderir-se ao complexo e a formar poros na membrana, resultando em lise

    celular (Winkelstein et al, 2003; Prodinger et al, 2003; Janeway et al, 2005)

    (Figura 3).

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    Figura 3 - Representao esquemtica da cascata terminal do sistema

    complemento.

    C4b2a3bC3bBb3b

    C5b

    C5aC5

    C5bC6

    C7

    C5bC6

    C7C8

    Complexo de ataque membrana

    C5b

    C5b

    C6

    C7

    Modificado de Walport, 2001.

    Caso o complexo C5b-9 permanea na fase fluida, a protena S liga-

    se a ele, impedindo sua insero na membrana e inibindo a formao do

    MAC. A protena de membrana CD59 liga-se ao complexo C5b-8 e inibe a

    polimerizao de C9 (Prodinger et al, 2003).

    O sistema complemento possui funes importantes na imunidade

    inata contra agentes infecciosos e na resposta inflamatria, incluindo:

    atividade quimiottica, clareamento de imunocomplexos, ativao da

    resposta imune humoral, opsonizao, fagocitose e atividade citotxica e

    ltica (Figueroa et al, 1991; Frank, 2000; Prodinger et al, 2003; Janeway et al,

    2005) (Tabela 3).

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    Tabela 3 - Principais funes biolgicas do sistema complemento.

    Funo Protenas responsveis

    Proteo contra infeco

    Opsonizao C3 e C4.

    Quimiotaxia e ativao de leuccitos Anafilatoxinas (C5a, C3a e C4a); receptoresde anafilatoxinas em leuccitos.

    Lise de bactrias e clulas MAC

    Interface entre imunidade inata e adaptativa

    Aumento da resposta humoral C3b e C4b; receptores de C3 nas clulas B enas APC.

    Intensificao da memria imunolgica C3b e C4b; receptores de C3 nas CFD.

    Depurao

    Depurao de imunecomplexos dos tecidos C1q

    Depurao de clulas apoptticas C1q

    APC clulas apresentadores de antgenos.

    CFD clulas foliculares dendrticas.

    Modificado de Walport, 2001.

    2b. Lectina Ligadora de Manose MBL:

    A lectina de ligao manose, anteriormente conhecida como

    protena de ligao manose (MBP), pertence a uma famlia de protenas

    chamadas de colectinas. Esta protena caracterizada pela presena de trs

    subunidades de cadeias polipeptdicas, de 32 kD, covalentemente ligadas

    por pontes de dissulfeto (domnio NH2 terminal, rico em cistena), uma

    seqncia de segmento semelhante ao colgeno e um domnio carbxi-

    terminal (CRD, ligante de clcio - domnio lectina) em cada subunidade. Esta

    ltima poro confere molcula a capacidade de reconhece resduos de

    carboidratos com especificidade primria para manose, fucose ou N-

    acetilglucosamina (Holmskov et al, 1994; Summerfield et al, 1995; Prodinger

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    15

    et al, 1998; Ghiran et al, 2000; Kilpatrick, 2003; Jack et al, 2003), no se

    ligando significativamente a D-galactose (Jack et al, 2001).

    No homem, so reconhecidas trs protenas da famlia das colectinas:

    a MBL, que se apresenta sob as formas srica e heptica, produtos do

    mesmo gene, e as protenas surfactantes pulmonares A e D. Todas so

    protenas solveis (Jack et al, 2001; Kilpatrick, 2002). Descreve-se,

    atualmente, que as ficolinas (H e L), protenas com domnio de

    reconhecimento semelhante ao fibrinognio, tambm se associam as

    MASPs e a Map19 e podem ativar a via das lectinas pelo reconhecimento de

    estruturas de carboidratos especficos. Esta observao indica que a MBL

    no o nico componente da famlia das lectinas que ativa o sistema

    complemento (Schwaeble et al, 2002). Recentemente, foram descritas mais

    duas formas de colectinas humanas: 1) a colectina heptica-1 (CL-L1) e 2) a

    colectina placentria-1 (CL-P1) (Ohtani et al, 1999; Ohtani et al, 2001).

    O conceito de via das lectinas na ativao do sistema complemento

    relativamente recente e decorrente da observao de que resduos de

    carboidratos em microorganismos invasores podiam ativar complemento na

    ausncia de anticorpo e por um mecanismo independente da via alternativa.

    A via das lectinas composta pela MBL e pelas MASP-1, -2, -3 e a Map-19,

    porm, apenas MASP-1 e -2 apresentam funes definidas. A MBL circula

    no sangue em um complexo na forma zimognio da serinoprotease MASP

    apresentando a mesma estrutura modular de C1r:C1s (Petersen et al,

    2001a; Schwable et al, 2002; Prodinger et al, 2003; Janeway et al, 2005).

    Os resduos de ligao para a MBL na superfcie do microorganismo

    esto arranjados em padres, com ordem repetitiva. Acredita-se que seja

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    16

    esta conformao que resulte em alvo apropriado para a ligao da protena.

    Os padres, dos trs stios de ligao ao acar de cada subunidade

    oferecem uma plataforma lisa, com distncias constantes entre os stios

    (45) (Jack et al, 2001). Esses stios constantes e simultneos so

    essenciais devido constante de dissociao (kD) de cada interao

    separada MBL-acar ser relativamente baixa (10-3M). Todos estes padres

    facilitam a interao da MBL com a superfcie de microorganismos e

    minimiza as chances de ligao com as clulas do hospedeiro, onde so

    limitados nas glicoprotenas e no esto arranjados de forma repetitiva, com

    distncia de 20-30 entre si. Alm disso, a maioria das estruturas de

    carboidratos nas clulas animais termina com galactose ou cido silico, no

    reconhecidos pelas colectinas (Jack et al, 2001; Gadjeva et al, 2001; Botos

    et al, 2005).

    Aps a ligao aos resduos de acares, o complexo MBL-MASP

    sofre alterao conformacional e h uma auto-ativao de uma nica cadeia

    do zimognio MASP para uma serinoprotease ativa de cadeia dupla. O stio

    enzimaticamente ativo na cadeia B da serinoprotease classicamente

    descrito como componente cataltico triplo. Composto por serina, histidina e

    resduo de cido asprtico, que esto separados na estrutura primria, mas

    aproximam-se na estrutura quaternria. Seqencialmente, h clivagem de

    C4 e, posteriormente, de C2, formando-se a C3 convertase (C4b2a) tal como

    na via clssica (Prodinger et al, 2003).

    O complexo MBL-MASP-2 suficiente para ativar o complemento,

    sem necessidade de outra serino protease, demonstrando assim, que a

    MASP-2 o componente efetor da via das lectinas. O complexo MBL-MASP-

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    1 responsvel pela ativao direta de C3, funcionando como C3

    convertase e determinando uma via alternativa via das lectinas, embora

    alguns autores considerem este assunto controverso (Hajela et al, 2002;

    Schwaeble et al, 2002). MASP-1 cliva C2 e parece ser capaz de clivar C3

    diretamente, enquanto que MASP-2 cliva C4 e C2. As atividades

    proteolticas de MASP-1 e MASP-2 so inibidas pelo C1-INH, ambas

    podendo ligar-se de maneira covalente ao complexo MBL/MASP-2 ativado

    (Thiel et al, 1992; Reid, 1998; Wallis et al, 2002; Guardia et al, 2003;

    Prodinger, et al, 2003; Janeway et al, 2005) (Figura 4).

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    Figura 4 - Representao esquemtica da via das lectinas de ativao do

    complemento.

    MBL

    MASP-2MASP-1

    Carboidrato

    C2

    C2b

    C4

    C2a C4b2a

    C4a

    C3C3a

    C4b2a3b

    Via das lectinas

    Modificado de Walport, 2001.

    Por microscopia eletrnica, a MBL apresenta uma aparncia de

    buqu de tulipas, semelhante a C1q. A regio de colgeno dos trs

    polipeptdeos forma uma tripla-hlice, formando uma subunidade trimrica

    de cerca de 90 kD. No soro, um complexo de massa molecular grande

    (cerca de 200-700 kD) de MBL circulante evidenciado e, provavlemente,

    estabilizado atravs das regies NH2 terminal, ricas em cistena, das

    subunidades trimricas adjacentes. Este complexo forma unidades de

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    19

    dmeros a hexmeros, mas a sua atividade funcional completa requer a

    presena das estruturas maiores (Turner, 1996; Saiffudin et al, 2000; Ghiran

    et al, 2000; Jack et al, 2001) (Figura 5).

    Figura 5 - Representao da estrutura polipepitdica da cadeia de MBL.

    Modificado de Petersen et al, 2001a.

    A MBL secretada pelo fgado, mas moncitos/macrfagos, assim

    como outros leuccitos, tambm parecem sintetizar a protena (Ogden et al,

    2001; Kilpatrick, 2003). Seu nvel srico geneticamente determinado,

    variando de 1 a 2 mg/mL e apresenta elevao de at trs vezes na fase

    aguda do processo inflamatrio (Ezekowitz, et al, 1988; Prodinger, et al,

    1998; Saiffudin, et al, 2000). Um estudo com anlises sucessivas de

    amostras sangneas de crianas, no dia do nascimento, com 1 e 5 meses e

    com 1 e 2 anos de idade, demonstrou que a concentrao srica de MBL

    aumenta aps o nascimento, tornando-se mxima aps 1 ms de vida

    (Aittoniemi, et al, 1996). Os autores sugerem que a rpida elevao dos

    nveis sricos de MBL seja devido ao estresse do nascimento e adaptao

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    20

    no perodo neonatal. A concentrao de MBL no sangue de cordo umbilical

    muito semelhante encontrada no adulto e no h aumento (ou se h,

    este muito pequeno) dos nveis de MBL durante o primeiro trimestre

    (perodo mais crtico) de gestao (Kilpatrick et al 1997; Kilpatrick, 2000).

    A principal funo biolgica da MBL a opsonizao, pois suas

    estruturas de colgeno so ligantes para receptores de colectinas presentes

    nos fagcitos, ou seja, atua diretamente como opsonina (Holmskov, et al,

    1994; Summerfield, et al., 1995; Turner, 1996). Sua regio N-terminal

    interage com receptores partilhados com C1q na superfcie de fagcitos:

    cC1qR/calreticulina, uma protena multifuncional localizada no retculo

    endoplasmtico e na superfcie de vrias clulas; gC1qR, uma protena

    mitocondrial e C1qRp, expresso na superfcie das clulas mielides

    (macrfagos, moncitos e neutrfilos), clulas endoteliais, plaquetas e

    clulas pluripotentes que repopulam a medula ssea (Gadjeva et al, 2001;

    Holmskov et al, 2003). CR1/CD35 tambm foi descrito como receptor para

    todas as opsoninas primrias do complemento: MBL, C1q solvel, C4b e

    C3b (Ghiran et al, 2000; Holmskov et al, 2003; Guardia et al, 2003). O CD91

    est associado com a captao de clulas apoptticas pelos macrfagos,

    mediada pela MBL (Ogden et al, 2001; Guardia et al, 2003).

    A MBL parece ser um dos componentes mais versteis do sistema

    imune inato, sendo funcionalmente anloga IgM pois liga-se a vrios

    substratos atravs de mltiplos CRD. Esta ligao fraca, entretanto a

    interao de vrios CRD resulta em maior avidez. Tambm pode ser

    comparada IgG e IGA, por atuar diretamente como opsonina, interagindo

    com um ou mais receptores de colectina. E tambm, assemelha-se C1q,

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    interagindo com outras serinoproteases (MASP) para a ativao do sistema

    complemento (Turner, 1996).

    So descritos dois genes correlacionados MBL, o mbl-1, um pseudo

    gene e o mbl-2, localizado no brao q11.2-q21 do cromossomo 10, que

    codifica a protena. O gene composto por quatro exons: a) o exon 1

    codifica a regio 5 no-transcrita, um peptdio sinal, um seguimento N-

    terminal rico em cistena e a primeira poro da regio semelhante ao

    colgeno rica em glicina; b) o exon 2 codifica o restante da regio

    semelhante ao colgeno; c) o exon 3 codifica uma estrutura em espiral a

    helicoidal, que conhecida como a regio de pescoo e d) o exon 4

    codifica o domnio de reconhecimento de carboidrato, que adota uma

    configurao globular, e a regio 3 no-transcrita (Guardia et al, 2003)

    (Figura 6).

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    22

    Figura 6 - Representao do gene mbl-2 e das mutaes do exon 1.

    Modificado de Guardia et al, 2003 e Petersen et al, 2001a.

    5`UT L N-Term 1C 2 C

    Exon 1 Exon 2 Exon 3 Exon 4DNA 5` 256bp

    GINGFPGKDGRDGTKGEKGEPGQGLR

    Variante C

    Variante B

    Variante D

    Gly 34 Asp

    Arg 32 Cys

    Gly 37 Glu

    Variante A: tipo selvagem

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    As mutaes gnicas evidenciadas so resultantes de trs

    substituies nucleotdicas, independentes, no exon 1: no cdon 54,

    decorrente da troca da glicina pelo cido asprtico (alelo B); no cdon 57,

    decorrente da troca da glicina pelo cido glutmico (alelo C) e no cdon 52,

    decorrente da troca da arginina pela cistena (alelo D). O alelo normal para a

    MBL o A e a designao usual para os alelos variantes O (Turner, 1996;

    Garred, et al, 1997; Saiffudin, et al, 2000; Petersen, et al, 2001a). Estudos

    sugerem que todas as trs variantes impedem a habilidade da MBL em

    formar cadeias polipeptdicas com estrutura de tripla-hlice semelhante ao

    colgeno nas formas homo ou heterozigotas, ou ainda, tornam as

    subunidades mais vulnerveis degradao (Butter at al, 2002; Petersen, et

    al, 2001a; Reid, 1998; Garred, et al, 1997) Consequentemente, os alelos B,

    C e D resultam em deficincia completa ou em nveis sricos baixos da

    protena.

    A expresso gncia da MBL diferente nas diversas populaes

    mundialmente estudadas. A variante B mais freqente entre caucasianos

    europeus (29%) e em populaes japonesas (37%); a variante C

    caracterstica das populaes africanas do sub-Sahara, com freqncia de

    50 a 60% e a mutao D alcana freqncias baixas em todas as

    populaes (Sumiya et al, 1991; Lipscombe et al, 1992; Sasaki et al, 2000)

    (Tabela 4).

    Tabela 4 - Freqncias allicas do gene mbl2 em diferentes populaes.

    Populao N HYPA LYQA LYPA LXPA HYPD LYPB LYPD LYQC

    Dinamarca a 250 0.31 0.19 0.04 0.26 0.06 0.11 - 0.03

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    Dinamarca b 100 0.285 0.235 0.045 0.195 0.085 0.135 - 0.002

    Inglaterra c 54 0.245 ? ? 0.31 0.07 0.085 - 0.01

    Inglaterra d 258 0.33 ? ? 0.23 ? ? - ?

    Euro-BR f 202 0.34 0.18 0.08 0.22 0.06 0.11 0.0025 0.0025

    Kenia e 61 0.08 0.25 0.13 0.24 0.04 0.02 - 0.24

    Moambique a 154 0.06 0.27 0.3 0.13 0 0 - 0.24

    Afro-BR 32 0.13 0.25 0.27 0.11 0.02 0.03 0 0.2

    Fonte: a) Madsen et al, 1998; b) Steffensen et al, 2000; c) Crosdale et al, 2000; d)

    Mullighan et al, 2000; e) Madsen et al, 1995; f) Boldt et al, 2002.

    A concentrao srica da proteina tambm varia devido a

    polimorfismos encontrados na regio promotora do gene, responsveis pela

    variabilidade dos nveis sricos de MBL na populao geral, mesmo em

    indivduos sadios (Garred, et al, 1997). Duas variaes H e L, na posio

    550, esto em desequilbrio de ligao com X e Y, variantes da posio

    221, e so encontrados em trs hapltipos: HY, LY e LX. O hapltipo HY

    associado com altos nveis sricos de MBL; LY com nveis intermedirios e

    LX com os nveis sricos mais baixos. Hapltipos de indivduos contendo a

    variante X resultam em nveis de MBL similares s variantes B, C e D

    (Madsen et al, 1995; Steffensen et al, 2000; Guardia et al, 2003). Os

    hapltipos descritos so HYPA, LYPA, LYQA, LXPA, LYPB, LYQC e HYPD.

    Foram relatados, ainda, outros dois hapltipos: HXPA, encontrado em trs

    pacientes americanos, negros, com diagnstico de Lupus Eritematoso

    Sistmico e LYPD, recentemente encontrado em um indivduo brasileiro

    (Sullivan et al, 1996; Boldt et al, 2002; Steffensen et al, 2003).

    As formas allicas distintas so efetivamente diferentes na ativao

    do sistema complemento. Acredita-se que essas diferenas, qualitativas e

    quantitativas, influenciem na predisposio infeco (Prodinger, et al,

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    25

    1998) e impeam a protena de ativar o sistema complemento (Summerfield,

    et al, 1995).

    At o presente momento no h consenso clnico do ponto de corte

    para o valor de referncia da protena. Como guia usa-se: nvel srico alto,

    acima de 1000 ng/mL; mdio, entre 500 e 1000 ng/mL; baixo, porm

    suficiente, entre 200 e 500 ng/mL e nvel srico muito baixo e provavelmente

    insuficiente, abaixo de 200 ng/mL (Guardia et al, 2003).

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    26

    2c. Deficincia de MBL e suas Repercusses Clnicas:

    A deficincia de MBL foi reconhecida, inicialmente, em 1968, por

    Miller e col., que descreveram uma criana de 3 meses de idade, do sexo

    feminino, com quadro de eczema refratrio, falncia de crescimento e

    episdios intermitentes de diarria. A criana apresentava histria familiar de

    eczema atpico grave, em parentes paternos e um primo materno com

    quadro de dermatite similar ao seu. Aps avaliao laboratorial, demonstrou-

    se deficincia na capacidade fagoctica, sem alterao nos demais exames

    imunolgicos avaliados (CH50). Este caso clnico representou,

    provavelmente, o primeiro relato de deficincia de MBL.

    Em 1976, Soothill e col. avaliaram 11 crianas e seus famliares, com

    quadro de infeces de repetio e detectaram um defeito semelhante na

    opsonizao de partculas fngicas, porm, com manifestaes clnicas

    diferentes. Em 1989, Super e col. identificaram, pela primeira vez, a

    deficincia srica de MBL, usualmente relatada em crianas e tambm

    observada em indivduos adultos. A otite mdia, a diarria crnica e a

    meningite foram descritas como as infeces mais comuns nesta deficincia,

    isolando-se nos pacientes patgenos como S. aureus, N. meningitidis,

    Klebisiella, Proteus, Pseudomonas e Candida (Summerfield, et al., 1995;

    Aittoniemi, et al., 1997). Estima-se que cerca de 5 a 7% dos indivduos da

    populao geral sejam acometidos por deficincia de MBL, o que resultaria

    na imunodeficincia primria mais comum (Super, et al, 1989; Jack, et al,

    2001).

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    27

    Alguns trabalhos evidenciam a inter-relao entre MBL e infeces de

    repetio e sugerem que a protena desempenhe uma importante proteo

    adicional contra infeco (efeito ante-anticorpo) em crianas durante o

    perodo de imaturidade do sistema imune e de suscetibilidade infeco

    (Sastry, et al, 1993). Esta observao pode ser confirmada pela

    demonstrao de nvel srico de MBL maior na populao peditrica que

    nos indivduos adultos (Tabela 5).

    Tabela 5 - Associao entre protena ligadora de manose e infeces.

    Autores Quadro Clnico Resultados

    Miller et al, 1968 eczema, diarria, dermatite grave Fagocitose ausente.

    Soothill et al,

    1976

    infeco freqente sem explicao Fagocitose diminuda em 10crianas.

    Summerfield et al,

    1995

    infeces no usuais e graves Mutao no gene da MBL; nvelsrico baixo.

    Ten et al, 1999 pansinusite, infeces recorrentes MBL- diminudo; CH50- normal;Imunoglobulinas - normal

    Koch et al, 2001 Infeco aguda de vias areas(IVAS)

    maior risco de IVAS nos pacienteshomo e heterozigotos paramutaes no gene.

    Cedzynski et al,

    2004

    Infeces do aparelho respiratriopelo VSR

    Maior risco de infeco nospacientes com defeito de respostahumoral e deficincia de MBL.

    VRS vrus sinsicial respiratrio.

    Vrios estudos demonstram que a lectina apresenta afinidade por

    carboidratos presentes em bactrias (Salmonella, E. coli, Staphylococcus,

    Streptococcus, micobactrias, etc.), vrus (Influenza A, HIV, etc.), fungos

    (Candida) e parasitas (Leishmania major e L. mexicana) (Holmskov, et al,

    1994; Polotsky, et al, 1997; Guardia et al, 2003) (Tabela 6).

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    28

    Tabela 6 - Caractersticas de ligao da MBL com os micoorganismos.

    Ligao eficiente Padro heterogneo deligao

    Ligao baixa ou nenhumaligao

    Candida albicans,Saccharomyces cerevisiae,

    Aspergillus fumigatus,Staphylococcus aureus,

    Streptococcus pyogenes,Salmonella typhimurium,

    Salmonella montevideo, N.gonorrhoeae, Bifidobacteriumbifidum, Veillonella dispar e

    formas no encapsuladas deListeria monocytogenes,Haemophilus influenzae,

    Neisseria cinera e N. subflavi.

    E. coli, Klebisiela, H.influenzae tipo b, N.

    meningitidis sorogrupo A,Propionibacterium acnes,

    Actinomyces israelli,Fusobacteria e Leptotrichia

    buccalis.

    Streptococcus agalactiae,Streptococcus pneumoniae,Staphylococcus epidermidis,Clostridium sp, Bacterides

    sp, Fusobacteria mortiferum,Eubactria, Neisseriae

    mucosa, N. meningitidissorogrupo B e Cryptococcus

    neoforman.

    Modificado de Guardia et al, 2003.

    H tambm alguns autores que relatam um papel protetor dos nveis

    sricos diminudos de MBL e a infeco por microorganismos intracelulares,

    o que poderia ser explicado pela diminuio da ativao do sistema

    complemento com consequente diminuio do processo inflamatrio (Sobrog

    et al, 2003; El Sahly et al, 2004). Mais recentemente, Dahl e col. (2004)

    publicaram um estudo no qual 9245 pacientes foram avaliados quanto ao

    nvel srico e a genotipagem de MBL, na tentativa de correlacionar a

    deficincia da protena com risco de infeces ou morbidade aumentada por

    outras doenas, ou comportamentos sociais associados, e no encontraram

    significncia estatstica na correlao entre os indivduos com deficincia de

    MBL comparados ao grupo controle.

    2d. Interao MBL e o Vrus da Imunodeficincia Humana tipo 1 (HIV-1):

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    O HIV-1, agente etiolgico da AIDS, foi inicialmente identificado no

    tecido linfide de um paciente masculino, homossexual, de 33 anos de

    idade, em 1983 (Barre-Sinoussi et al, 1983). O HIV um RNA vrus,

    pertence famlia dos retrovrus e subfamlia dos lentivrus, caracterizado

    pela complexidade de seus genomas, pois contm alm de genes comuns

    de retrovrus (gag, pol e env), outros seis genes reguladores: vif, vpu, vpr,

    tat, rev e nef. O envoltrio externo do vrus composto por duas

    glicoprotenas, que se originam de uma protena precursora, a gp160: as

    glicoprotenas transmembrana gp41 e de superfcie gp120, responsveis

    pela interao com os ligantes (Greene, 1991).

    A produo dos componentes do HIV est sob comando dos genes

    virais. O gene env responsvel pela codificao das protenas do

    envelope, por sua vez as enzimas integrase, protease, transcriptase reversa

    e ribonuclease so codificadas pelo gene pol e o gene gag responsvel

    pela formao dos componentes do core (Greene, 1993).

    A estrutura da gp120 importante para a interao vrus-receptor e

    conseqente entrada do vrus na clula. Vrias pontes de dissulfeto

    contribuem para a dobradura do envelope. A gp120 uma protena muito

    glicosilada. Os n-glicanos nelas interligados so necessrios para a criao,

    mas no para a manuteno da conformao bioativa. As alteraes

    induzidas por drogas no padro de glicosilao da gp120 podem impedir a

    fertilidade do vrus (Greene, 1991; Pavlakis, 1997). O core contm quatro

    protenas nucleocapsdeos: p-24, p-17, p-9 e p-7. Em seu interior,

  • Introduo

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    encontram-se as duas fitas de RNA e enzimas virais importantes para a sua

    replicao: transcriptase reversa, integrase e protease (Greene, 1991).

    O papel do sistema complemento na infeco pelo HIV tem sido

    intensamente avaliado. Em 1987, Perricone e col. verificaram, pela primeira

    vez, a ativao reduzida das vias clssica e alternativa em pacientes HIV

    soropositivos. Slder e col. (1989) observaram que esta ativao poderia

    ocorrer sem a participao do anticorpo. Foi estabelecido que as protenas

    do complemento e os anticorpos competem pelo mesmo stio de ligao na

    gp120 (Prohszka et al, 1997a). E tambm, observou-se que as protenas

    DAF e fator H relacionvam-se com a resistncia do HIV lise mediada pelo

    complemento (Stoiber et al, 1996). Posteriormente, foi evidenciado que a

    ligao de C1q poro globular do seu receptor bloqueia a interao entre

    CD4 e gp120 (Szab et al, 2001).

    As possveis conseqncias da ativao do complemento pelo HIV

    poderiam evoluir para dois sentidos distintos: 1) aumento da infeco devido

    maior ligao de vrions s clulas alvo, atravs de receptores do

    complemento ou 2) eliminao do vrus devido sua lise ou lise das

    clulas infectadas, ou ainda, neutralizao do vrus por clulas fagocitrias

    (Haurum et al, 1993; Speth et al, 1997; Stoiber et al, 2003).

    Com relao via das lectinas, em 1989, Ezekowitz e col.

    demonstraram a inibio in vitro de clulas T CD4+ pelo vrus. Pouco tempo

    depois, foi relatado que a ativao do sistema complemento ocorreria aps a

    ligao da MBL gp120 (Haurum et al, 1993).

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    Figura 7- Representao do HIV, e as glicoprotenas de superfcie, e sua

    interao com a MBL.

    HIV

    10 nm

    CRD

    MBL (tetrmero)

    Regio de pescoo

    Domnio semelhante ao colgeno

    gp120

    Domnio rico em cistena

    Glicanos ricos em manose

    Modificado de Ji X et al, 2005.

    Em 1995, um estudo clnico com 80 pacientes HIV-soropositivos

    evidenciou que a distribuio do nvel srico de MBL nestes indivduos era

    semelhante de pessoas saudveis, sem influencia no risco de infeco

    pelo HIV. Porm, o maior nmero de pacientes com nvel srico indetectvel

    estava presente entre os indivduos infectados. No se comprovou a

    associao entre o nvel de MBL e o declnio de clulas T CD4+; o tempo de

    demora da soro-converso ou com a durao da doena at a morte

    (Nielsen et al, 1995). Senaldi e col. (1995), descreveram que os nveis

    sricos de MBL esto elevados em todos os estgios da infeco pelo HIV e

    so estatisticamente semelhantes aos da populao normal, corroborando

  • Introduo

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    os dados de Nielsen. Estes autores tambm no associaram a deficincia de

    MBL ao desenvolvimento ou progresso da infeco pelo HIV (Nielsen et

    al, 1995; Senaldi et al, 1995).

    Em 1997, Garred e col. descreveram pacientes, HIV-soropositivos,

    nos quais a presena das mutaes do exon 1 do gene mbl2 (homo e

    heterozigose) estavam associadas a maior morbi-mortalidade dos pacientes,

    devido a suscetibilidade aumentada de infeces durante o curso da doena.

    Por outro lado, as concentraes sricas aumentadas de MBL poderiam ser

    decorrentes do grande nmero de infeces oportunistas.

    Prohszka e col. (1997a) encontraram nveis sricos de MBL

    significativamente mais baixos nos indivduos HIV-soropositivos que no

    grupo controle HIV-soronegativos e concluem que a MBL pode afetar a

    progresso da AIDS de duas formas: 1) a MBL pode se ligar a gp120 no

    envelope dos vrions, resultando em ativao da via das lectinas, e os

    fragmentos das protenas ativadas do complemento poderiam se ligar aos

    vrions e aumentar a sua infectividade e 2) a ativao das vias das lectinas

    poderia ocorrer atravs da gp120 livre, adsorvida clula T CD4+, o que

    poderia facilitar a destruio destas clulas e, conseqentemente, a

    progresso da AIDS (Prohszka et al, 1997b).

    Ao contrrio destes relatos, Maas e col. (1998) evidenciaram um

    efeito protetor, embora fraco, da variante do exon 1 nos pacientes HIV-

    soropositivos sem doena. Malik e col. (2003) avaliaram pacientes HIV

    positivos (n=138) e HIV negativos (n=40) e no observaram diferena

    estatstica na freqncia de alelos homo ou heterozigotos da MBL entre os

    dois grupos. Em um estudo previamente realizado em nosso laboratrio,

  • Introduo

    Chagas, KN. Avaliao do Gene Estrutural da MBL e a sua Relao com a TransmissoMaterno-fetal do HIV.

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    foram avaliados 107 pacientes HIV positivos, evidenciando-se que 20,6%

    apresentavam dosagem de MBL acima do limite superior (> 7,5 mg/mLl) e

    elevao dos nveis sricos de MBL nos estgios mais avanados da

    doena, porm sem significado estatstico (Lian et al, 2004). Alves e col.

    (2004) relataram maiores valores de carga viral nos pacientes soropositivos

    que apresentavam a variante allica B, sugerindo que os baixos nveis

    sricos de MBL nestes pacientes poderiam levar a uma eliminao ineficaz

    do vrus na circulao e, conseqentemente, ao aumento da carga viral

    plasmtica. Todos estes relatos demonstram o quo controverso este

    assunto tem se mostrado.

    2e. MBL e a Transmisso Materno-Fetal do HIV:

    Considerando-se a importncia da MBL na resposta imune inata, sua

    capacidade de ligao com a gp120 e a dificuldade no estabelecimento dos

    diversos fatores relacionados com a transmisso materno-fetal do HIV,

    suspeitou-se da influncia desta protena nesta situao.

    H poucos estudos desenvolvidos, tentando correlacionar o gene da

    MBL e o risco de transmisso materno-fetal do HIV e, ainda, a evoluo para

    AIDS. Em 1999, Amoroso e col. avaliaram a presena do alelo B em

    crianas HIV-soropositivas infectadas por transmisso materno-fetal e em

    crianas expostas ao risco, porm no infectadas. No houve diferena

    significativa na freqncia de distribuio deste entre os grupos porm, nas

    crianas infectadas notou-se um risco maior (3.68) para progresso rpida

    da doena quando a mutao estava presente.

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    Boniotto e col. (2000) avaliaram a presena de mutaes ou

    polimorfismos da protena em trs grupos de pacientes infectados pelo HIV:

    1) filhos de mes HIV positivas infectados pelo vrus, 2) filhos de mes HIV

    positivas sem infeco viral e 3) pacientes saudveis, sugerindo que a

    influncia da MBL na transmisso materno-fetal do vrus e a progresso para

    AIDS poderiam ser decorrentes de mutaes da regio codificadora do gene

    mbl2, que alterariam a estrutura da protena, ou a regio promotora, por

    regular a concentrao srica da MBL.

    Posteriormente, em 2003, Boniotto e col. ainda avaliaram filhos de

    mes HIV-soropositivas, com e sem infeco, evidenciando maior freqncia

    do alelo O nas crianas infectadas e que a sua presena determinava um

    risco de 1.37 para a infeco pelo HIV.

    Apenas no trabalho mais recente (Arraes et al, 2004) foi feita uma

    correlao entre os dados maternos e do lactente ao gentipo da MBL, onde

    se encontrou uma freqncia maior de alelos O nas mes transmissoras.

    Porm, as mes acompanhadas neste estudo no receberam tratamento

    durante a gestao e os seus filhos tambm no receberam AZT ao

    nascimento e durante as seis primeiras semanas de vida. Os autores

    sugerem que a transmisso materno-fetal do vrus depende somente do

    gentipo de mlb2 da me e da criana.