Interfaces nômades - Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web
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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Luciana Moherdaui
Interfaces nômades1
Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web
DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO
SÃO PAULO
Maio, 2012
1Esta tese foi elaborada com o apoio do UOL (www.uol.com.br), através do Programa UOL Bolsa Pesquisa, processo número 20080102180000.
2
Luciana Moherdaui
Interfaces nômades
Uma proposta para orientar o fluxo noticioso na Web
DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica na linha de Pesquisa Processos de Criação nas Mídias. Orientação: Rogério da Costa
SÃO PAULO
2012
3
Folha de aprovação
Banca examinadora
Rogério da Costa - Orientador Giselle Beiguelman (FAU/USP) Pollyana Ferrari (PUC/SP) Lúcia Leão (PUC/SP) Cícero Inácio da Silva (UFJF/MG)
4
Agradecimentos
Este trabalho ficaria sem fôlego não fossem as orientações de Giselle
Beiguelman e Rogério da Costa. Giselle por ter deixado esta jornalista e
pesquisadora voar, indefinidamente, e Rogério por aparar as arestas e torná-lo
realidade nas cerca de 300 páginas que se seguem.
Também foram absolutamente fundamentais os apoios recebidos pela
Coordenação do Programa de Comunicação e Semiótica (COS) da PUC/SP,
(Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), pela CAPES (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), cuja Bolsa de Estudo permitiu a
realização de um projeto pessoal e profissional, o Doutorado, e pelo Programa UOL
Bolsa Pesquisa por contribuir com minha formação acadêmica.
Tenho especial apreço pelo coletivo inteligente que colaborou amplamente
em minha pesquisa mesmo sem, às vezes, ter-se dado conta, por meio de redes
sociais ou conversas informais. Às vezes, em comentários sobre Jornalismo ou pela
leitura de posts. Um deles, especialmente feito por Leão Serva, ex-chefe no iG e
hoje meu amigo. Trata-se de uma piada contada nas redações toda a vez que surge
uma reforma gráfica: “com fio ou sem fio?”
Explico: grosso modo, os projetos gráficos baseiam-se em uma máxima que
surgiu após a grande mudança instituída no Jornal do Brasil por Jânio de Freitas, no
final dos anos 1950: as reformas de jornal alternam-se por tirar e colocar fios. Em
junho de 1959, o jornalista, atual colunista da Folha de S.Paulo, decidiu arrancar os
fios das páginas e aumentar o tamanho das fotos no JB. Dizia que os leitores não
liam fios. Também integravam o time Odylo Costa Filho, Ferreira Gullar, Alberto
Dines e Reynaldo Jardim.
A todos a minha gratidão, essa palavra-tudo, como diria Carlos Drummond
de Andrade (1902-1987).
5
“Nenhum conhecimento precede a experiência, todos começam por ela” Immanuel Kant
6
Resumo
Esta pesquisa analisa a interface jornalística na Web, embora a conclusão possa ser
estendida a outros protocolos e aplicativos. O objetivo principal é repensar a
exibição da notícia que circula no fluxo. A migração da cultura de página estática
para a cultura de dados (BERNERS-LEE: 2009) modificou o padrão de
comunicação que vigorou no século 20. Foram incorporados à transmissão,
publicação e recepção os seguintes termos: anotar, comentar, responder, agregar,
cortar, compartilhar, download, upload, input e output (MANOVICH: 2008, p. 226).
Esta tese parte do pressuposto de que os projetos de Jornalismo para a Internet são
constituídos sob a lógica do jornal impresso, com hierarquia e diagramação em
colunas (NELSON: 2001) quando a dinâmica atual indica a implosão da página, a
perda do processo de padronização editorial. Nesse sentido, a discussão será
fundamentada a partir de noções de revezamento, agenciamento (DELEUZE;
GUATTARI, 2007, p. 180), mapa (DELEUZE; GUATTARI: 2006, p. 21-23) e teorias
do Jornalismo.
Palavras-chave: jornalismo, Internet, interface, agenciamento, tag
7
Abstract
This research analyzes the news on the Web interface, although the finding can be
extended to other protocols and applications (apps). The main objective is to
rethink the view of news circulating in the right flow. The migration of static page
culture to the culture data (BERNERS-LEE, 2009) changed the pattern of
communication prevailed in the 20th century. The following terms were
incorporated into the transmission, publication and reception: annotate, comment,
reply, add, cut, share, download, upload, input and output. (MANOVICH, 2008, p.
226). This thesis assumes that journalism projects for the Internet are made under
the logic of the printing press, with hierarchy and in columns (NELSON, 2001)
when the current dynamics of the implosion of the page indicates, the loss of the
standardization editorial process. In this reality, the discussion will be based from
notions of relay assemblage (DELEUZE; GUATTARI, 2007, p. 180), map (DELEUZE;
GUATTARI, 2006, p. 21-23) and theories of Journalism.
Keywords: digital journalism, interface, agency, tag
8
Sumário
Índice de figuras PG 10
Índice de tabelas PG 17
Introdução PG 18
Capítulo 1. Internet das Coisas PG 29
A rede mundial de computadores PG 30
Economia: a primeira bolha PG 35
Tudo agora é ciberespaço PG 39
Computação ubíqua PG 43
A Web não morreu PG 50
Jornalismo de Internet PG 53
Bem além do papel PG 59
Design gráfico faz a diferença PG 63
Metáfora como ponto de partida PG 68
A interface é a mensagem PG 71
Corpo informacional PG 74
Agenciamentos que reconfiguram a interface PG 77
Capítulo 2. Estética Power Point PG 84
Ponto de vista jornalístico PG 85
Nem toda informação é notícia PG 88
A realidade pela lente do Jornalismo PG 90
Design de superfície, redundância e imperativo PG 93
Nos gadjets, um pouco além da repetição PG 103
Tudo é igual para todos PG 106
Como a interface mudou o Jornalismo PG 110
O jornal foi parar dentro do Facebook PG 115
Desconstruindo conceitos PG 117
9
As quatro fases do Jornalismo de Internet PG 119
Para analisar a interface, Foucault PG 129
O que caracteriza o Jornalismo de Internet? PG 132
Capítulo 3. Interfaces nômades PG 147
Rupturas e remediações PG 148
A Web de Ted Nelson PG 153
Por uma crítica da metáfora PG 156
Uma nova linguagem visual híbrida PG 161
A primeira interface de conversação PG 165
Tag para desenhar PG 170
Arquitetura da informação ainda dá conta? PG 176
Interface como superfície PG 177
A inteligência distribuída deslocou a fonte PG 180
A influência da arte digital PG 185
Links tomam o lugar das prateleiras PG 189
Notícia em rede PG 195
Twitter põe em xeque a manchete PG 199
No Facebook, jornal mantém a tradição PG 205
O jornal como rede social PG 207
A implosão da página estática PG 214
Conclusão PG 223
Bibliografia PG 239
Anexos PG 251
Formulário de observação e ficha técnica PG 251
Relatório final do Programa Bolsa UOL de Pesquisa PG 254
Interfaces pesquisadas PG 258
2012 PG 258
2009 PG 273
2008 PG 288
10
Índice de figuras
Figura 1. Mosaic, primeiro browser gráfico PG 35
Figura 2. Netscape Navigator PG 35
Figura 3. Receita por usuário na Internet PG 38
Figura 4. Projeção da Internet das Coisas em 2020: 50 bilhões PG 45 Figuras 5, 6. Internet das Coisas não se resume a tablets ou smartphones PG 46
Figuras 7, 8. Após 2011, domicílios irão gerar mais tráfego na Internet PG 46 Figura 9. Projeto Sixth Sense (MIT): usando a palma da mão para discar um número PG 47 Figura 10. Projeto Sixth Sense (MIT) 2 : passagem aérea atualiza status do voo PG 48 Figura 11. Projeto Sixth Sense (MIT) 3: projetor, câmera e marcadores de cor utilizados para acessar dados PG 48 Figura 12. Projeto Sixth Sense (MIT) 4: jornal impresso exibe vídeo de noticiário ao vivo PG 49
Figura 13. Projeto Morph, da Nokia PG 49 Figura 14. Pesquisa da Wired sobre uso de aplicativos PG 51 Figura 15. Comparação entre uso de aplicativos e consumo de Web PG 52
Figura 16. Número de interfaces criadas na Web a cada 60 segundos PG 53
Figuras 17, 18. Interfaces da CNN em 11 de setembro de 2001 PG 55
Figura 19. Cobertura da posse de Barack Obama no Facebook via CNN PG 59
Figura 20. Interface da primeira página do Sunday Tribune PG 65
Figura 21. Primeira página do The New York Times impresso, 1860 PG 67
Figura 22. Primeira página do The New York Times, impresso 1980 PG 67
Figuras 23, 24, 25. Versões impressas das capas do caderno de Esporte da Folha de S.Paulo durante a Copa 2006 PG 69
11
Figuras 26, 27, 28. Interfaces da Folha de S.Paulo na Web durante a Copa 2006 PG 70 Figura 29. Cena de Johnny Mnemonic (1995), de Robert Longo PG 75
Figura 30. Cena de eXistenZ (1999) , de David Cronenberg PG 76
Figura 31. Cena de Videodrome (1982), de David Cronenberg PG 76
Figura 32. Infográfico da ComScore sobre o aumento do acesso às redes sociais no mundo PG 80 Figura 33. Infográfico do Ibope sobre acesso às redes sociais no Brasil PG 81 Figura 34. Infográfico do Nielsen sobre tempo pelos americanos na Internet PG 82 Figura 35. Diagramação da Folha Online entre layout Web e impresso PG 94 Figura 36. BBC, 2008: abusa da repetição ao oferecer customização PG 95 Figura 37. Terra, 2009: palavras repetidas na edição PG 95 Figura 38. Folha Online, 2008: redundância e uso de setas no espaço tridimensional que é a Web PG 96 Figura 39. Folha.com, 2011. Ainda com uso de setas, mas sem Redundâncias PG 96 Figura 40. Estadão.com, 2008, palavras repetidas na edição PG 97 Figura 41. Estadão.com, 2011, eliminação da redundância PG 97
Figura 42. Globo Online, 2008, palavras repetidas na edição PG 98 Figura 43. Globo Online, 2011, com pouca redundância PG 98
Figuras 44, 45. Interfaces da CNN para iPad PG 103 Figuras 46, 47. Interfaces da ABC News para iPad PG 104 Figuras 48, 49. Interfaces das redes ABC News e CNN para iPhone PG 104 Figuras 50, 51. Interfaces da Wired para iPad PG 105 Figuras 52, 53. Interfaces da Wired para iPhone PG 105 Figura 54. Estrutura de arquitetura da informação na Web PG 106
12
Figura 55. Reconhecimento facial do Facebook PG 108 Figura 56. Primeiro blog da Web, de Tim Berners-Lee PG 110 Figura 57. Localização do post de Sohaib Athar via Google Maps PG 112 Figura 58. Esquema tradicional da coleta de notícias e do seu processamento PG 112 Figura 59. Post com anúncio da morte de Bin Laden por Keith Urbahn, antigo chefe de gabinete de George W. Bush PG 112 Figura 60. Enquete no Facebook para saber quem noticiou primeiro a morte de Amy PG 113 Figura 61. Interface do The New York Times com a notícia da morte de Amy Whinehouse PG 114 Figura 62. Interface do Daily Mail com a notícia da morte de Amy Whinehouse PG 114 Figura 63. Interface do Washington Post Reader no Facebook PG 115
Figura 64. Interface do The Guardian APP no Facebook PG 116
Figura 65. Interfaces impressa e de Web do The Bugle Beacon PG 119
Figuras 66, 67. Interfaces impressa e de Web da Folha de S.Paulo PG 121
Figura 68. A apresentação da Folha Digital, exemplo de metáfora, 2009 PG 121
Figura 69. Interface da Folha.com, 2011 PG 123
Figura 70. Interface de O Globo na Web, 2011 PG 123
Figura 71. Interface do Google Flip, 2011 PG 123
Figura 72. Interface do MSNBC , 1997 PG 125
Figura 73. Interface do Último Segundo, 2011 PG 125
Figura 74. Interface do Huffington Post, 2011 PG 126
Figura 75. Mapa coletivo feito com aplicativo do Google mostra avanço da gripe aviária PG 127 Figura 76. Twitter do jornal USA Today com informações sobre a gripe aviária PG 128
13
Figura 77. Mapa do Google sobre avanço da gripe aviária por região PG 128 Figura 78. Interface do Le Monde, 1996 PG 133
Figura 79. Interface da BBC, 1997 PG 134
Figuras 80, 81. Interfaces da edição número 17 da NEO (1997), a primeira revista em CD-ROM no Brasil PG 137 Figuras 82, 83. . Interfaces da revista NEO, edição número, 16 PG 138 Figuras 84, 85, 86, 87. Interfaces da revista NEO, edição número, 16 PG 138 Figura 88. Cobertura do Estadão sobre a morte de Michael Jackson, 2007 PG 141 Figura 89. Cobertura do The New York Times sobre a morte de Michael Jackson PG 141 Figura 90. Cobertura do Último Segundo sobre a morte de Michael Jackson PG 142 Figuras 91, 92. Versões brasileira e inglesa de destaque em vídeo da BBC sobre a Líbia, 2011. PG 143 Figura 93. Interface da CNN sobre a Líbia, 2011 PG 143 Figuras 94, 95. Movie Map, primeiro sistema hipermídia, desenvolvido pelo Massachussets Institute of Tecnology PG 144 Figura 96. Zite, aplicativo para customizar conteúdo para iPad PG 145
Figura 97. PointCast, primeira tecnologia push, de 1996 PG 146
Figura 98. Interface do El Pais, 1996 PG 150
Figura 99. Diagrama do Xanadu, sistema de hipertexto de Ted Nelson PG 154
Figura 100. Apple 1, lançado em 1976 pela empresa de Steve Jobs PG 158
Figura 101. Macintosh, lançado em 1984 pela Apple PG 158
Figura 102. Logomarca do Napster, criado por Shaw Fanning e Sean Parker PG 159
Figura 103. Sketchpad, primeira interface de conversação, 1962 PG 167
14
Figura 104. Caneta ótica, de Ivan Sutherland, 1965 PG 167 Figura 105. Sistema Augment/NLS, processador baseado em texto e mouse PG 168 Figura 106. A arquitetura Augment/NLS, de Doug Engelbart PG 168
Figura 107. Grail, sistema de reconhecimento por gesto, de Tom Ellis PG 169
Figura 108. Dynabook, computador pessoal para desenvolvido para crianças por Alan Kay PG 169 Figura 109. Nuvem de tags dos tópicos mais comentados da The Economist PG 170 Figura 110. Base de dados sobre os 66 anos da bomba de Hiroshima feita por meio da plataforma do Google Earth PG 172 Figura 111. Tackable, aplicativo para telefones celulares para uma rede social fotográfica desenvolvida em parceria com San José Mercury News PG 172 Figura 112. Interface de busca em tempo real no Twitter via Google PG 173 Figura 113. Ushahidi, plataforma de criação de mapa open source utilizada pela BBC para mostrar os problemas causados pela greve do metrô em Londres PG 173 Figura 114. Revisit, aplicativo para visualização em tempo real de posts sobre temas específicos PG 174 Figura 115. TimeSpace, mashup noticioso do The Washington Post, com texto, áudio, vídeo e fotos produzidos ao redor do mundo PG 174 Figura 116. How Twitter tracked the News of the World scandal, termômetro do The Guardian sobre como o microblog reagiu às denúncias de grampos contra celebridades no Reino Unido PG 175 Figura 117. Cascade, projeto do NY Times Lab para avaliar o comportamento dos leitores em relação ao conteúdo do jornal PG 175 Figura 118. Esboço arquitetura de informação para interfaces PG 177
Figura 119. Twitter da Mônica Bérgamo com notícia sobre a saída de Fátima Bernardes da bancada do Jornal Nacional (Rede Globo) PG 184 Figura 120. Desaparecimento das categorias, proposta por Clay Shirky: hierarquia PG 190
15
Figura 121. Desaparecimento das categorias, proposta por Clay Shirky: hierarquia com links PG 190 Figura 122. Desaparecimento das categorias, proposta por Clay Shirky: hierarquia com muitos links PG 191 Figura 123. Desaparecimento das categorias, proposta por Clay Shirky: apenas links PG 191 Figura 124. Your Life, Our Movie, de Fernando Velázquez PG 193 Figura 125. 10 x 10, de Jonathan Harris PG 193 Figura 126. The Origin of Species, de Ben Fry PG 194 Figura 127. We Feel Fine, de Jonathan Harris e Sep Kamvar PG 194 Figura 128. Proposta de uso de hashtag no Twitter, de Chris Messina PG 195 Figura 129. Cartaz do Revolution Tools PG 197 Figura 130. Cartaz do protesto thinkflickrthink PG 198 Figura 131. Blog do Twitter indica hashtags e perfis a serem seguidos para obter com últimas notícias sobre o terremoto do Japão PG 202 Figura 132. Interface de emergência do Google sobre o terremoto do Japão PG 203 Figura 133. Mapa colaborativo com informações sobre o terremoto do Japão PG 204 Figura 134. Twitter Stories, interface não hierárquica para criação e narrativas por meio de hashtags PG 205 Figura 135. Interface textual Social APP do The Guardian no Facebook PG 206
Figura 136. Interface Social Reader no Facebook PG 207
Figura 137. Interface do HuffoPost Social News PG 208
Figura 138. TimesPeople, rede social de recomendação para textos do The New York Times PG 209 Figura 139. Mashup com aplicativo do Google Maps sobre a ocupação do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, atualizado pelo Twitter do jornal O Globo e dos cidadãos PG 215
16
Figura 140. Interface da Globo News ao vivo com a cobertura da ocupação do Morro do Alemão PG 215 Figura 141. Interface do UOL News com a cobertura completa da ocupação do Morro do Alemão PG 216 Figura 142. Interface do Google Search sobre a ocupação do Morro do Alemão PG 217 Figura 143. Interface de busca em tempo real do Twitter via Google Maps com notícias sobre o morro do Alemão PG 217 Figura 144. Reprodução do Google Earth com vídeos e informações sobre o Alemão PG 218
Figura 145. Cena de A era da estupidez, de Franny Armstrong PG 218 Figura 146. Interface do Twitter exibida no YouTube com posts sobre os protestos no Egito PG 219
17
Índice de tabelas
Tabela 1. Nomenclaturas PG 61
Tabela 2. Computador e interface ontem e hoje PG 72
Tabela 3. Novo paradigma da comunicação PG 83
Tabela 4. Critérios de Noticiabilidade PG 90
Tabelas 5. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet PG 152
Tabela 6. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet PG 155
Tabela 7. Comparação entre jornalismo impresso e de Internet PG 156
Tabela 8. Jornalismo ontem e hoje PG 180
18
Introdução
Quando o projeto2 desta tese foi elaborado, em meados de 2008, pensava-se a
World Wide Web, o protocolo multimídia da Internet, como uma página estática,
com a lógica do projeto gráfico de jornais, calcada em hierarquia3, diagramação e
colunas (NELSON: 2001), e o browser um emulador do paginador.
Inclusive o título (Os critérios de composição no Jornalismo Digital – Em busca de
um modelo ideal de páginas noticiosas) remetia a uma clara tentativa de reordenar
a miscelânea configurada pela edição das interfaces naquele período – marcado,
sobretudo, por excesso de redundância e imperativo.
O uso de redes sociais ainda não era tão representativo como hoje. A curva de
crescimento, principalmente do Facebook, começou a aumentar significativamente
em 2009, segundo a ComScore. Dados da empresa que mede audiência na Internet
mostra que 1,2 bilhão de pessoas acessam redes sociais em todo o mundo.
Outra característica marcante da produção jornalística na Internet são os
portais e os chamados sites noticiosos. Steve Outing, um dos mais importantes
estudiosos do tema, definiu portal como um agregador de diversas fontes de
conteúdo, centralizados em vários destaques na “página inicial” (OUTING: 1999
apud FERRARI: 2002).
Quem melhor mostrou a forma pela qual as interfaces foram sendo apropriadas
desde o surgimento do protocolo de Berners-Lee foi Elliot Zaret, então editor da
MSNBC, em 2000, no artigo The Theory of Portal Evolution:
No começo, tínhamos a Web. Muita informação, vários cliques e isso parecia bom. Mas muito rapidamente começou a aparecer muita informação e ferramentas de busca foram necessárias para encontrar o conteúdo espalhado como em teias de aranha. E depois das ferramentas de busca
2 Para ler a íntegra do projeto, ver: http://bit.ly/wwbeOs. Acesso jan. 2012. 3 O dicionário Houaiss define hierarquia como: “organização fundada sobre uma ordem de prioridade entre os elementos de um conjunto ou sobre relações de subordinação entre os membros de um grupo”.
19
vieram os diretórios e depois deles os portais, os cliques para e-commerce” (apud FERRARI: 2002, p. 17).
Essa lógica de portais começa a ser questionada por esta jornalista quando há a
percepção do estrondoso interesse no consumo de notícias por meio de redes
sociais. Levantamento da Nielsen Wire já apontava, em 2010, baixa nos índices:
entre 2009 e 2010, a empresa registrou queda de 19% no tempo que os
americanos gastavam acessando portais – de 5,5% para 4,4%. Já o interesse por
redes sociais havia aumentado 43% no mesmo período – 15,8% para 22,7%4.
No Brasil, embora o Ibope tenha mostrado em 2010 que 60% dos internautas
disseram que as redes sociais são suficientes para se manterem informados5,
afirmou um ano depois que “portais são absolutamente relevantes e são a
referência para o adulto.”
O portal como espaço estriado, metrificado, com fronteiras delimitadas, já fora
criticado amplamente por André Lemos, professor e pesquisador da Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Para Lemos, os portais são currais porque "configuram-
se como estrutura de informação (conteúdo) que tratam as pessoas como bois
digitais forçados a passar por suas cercas para serem aprisionados em seus
calabouços interativos" (2000).
Também contribuiu para a mudança de perspectiva desta tese o anúncio do
engenheiro britânico Tim Berners-Lee no TED (sigla em inglês para Technology,
Entertainment, Design) de 2009, um dos mais importantes eventos de tecnologia do
mundo: a migração da cultura de página para a cultura de dados.
Se antes a proposta era analisar a composição, o design de interfaces
jornalísticas dos jornais (em sites e portais) de maior audiência no Brasil6 e no
4 WHAT AMERICANS do online: Social media and games dominate activity. Nielsen Wire, EUA, 2
ago 2010. Disponível em: http://bit.ly/yuF8Sp. Acesso jan. 2012. 5 Ver nota 75. 6 De acordo com dados do Instituto Ibope: Globo Notícias (G1), UOL Notícias Folha (Folha.com), Terra
Notícias, Estadão.com.br, Google News, iG News (Último Segundo), R7 Notícias, BBC, The New York Times, Band.com.br, CNN, MSNBC, El País, The Guardian e Huffington Post.
20
mundo, com base na Teoria do Jornalismo, mais especificamente o newsmaking, e
tendo como cerne a narrativa, a afirmação do pai do WWW levou a uma abordagem
completamente diferente. É óbvio que o newsmaking foi fundamental na primeira
fase da pesquisa e também para a sua conclusão.
Igual importância tem a narrativa. Porém, essas interfaces, objeto desta
pesquisa, passaram a ser observadas sob os pontos de vista do design
informacional, da auto-organização do browser e das dinâmicas das relações que se
estabelecem nas redes sociais, principalmente Twitter e Facebook.
Não fazia mais sentido aplicarem-se à pesquisa critérios para composição da
página, cujo modelo partia da organização das primeiras páginas dos jornais
impressos. Nem tampouco usar as nomenclaturas orientadas pela reprodução de
metáforas analógicas, como site ou homepage, por exemplo, cujo público-alvo é o
sujeito cartesiano.
Também não mais cabia propor um modelo de página com base no ideal
kantiano, conforme designava o projeto original, algo que a razão pura exige, mas
que não é dado no campo da experiência.
Conceito próximo ao de o matemático alemão Richard Dedekind (1831-1916),
que o definiu como um sistema algébrico que atendia a determinadas condições.
Mediante a sistematização, Dedekind preferia enfatizar propriedades
fundamentais dos objetos matemáticos, em oposição às suas representações
particulares.
É verdade que quando transpostos à Web, os valores-notícia de composição
(WOLF: 2002) não fazem jus aos projetos gráficos que mudaram o Jornalismo
impresso nos anos 1960 e 1970. Alguns não alcançam sequer a metáfora de suas
versões tradicionais.
Porém numa observação mais aprofundada feita, principalmente, a partir de
dois pontos indica que é possível rever o design informacional na Internet: arte
21
digital e rede social (Social News e jornal como rede social). Ou seja, as interfaces,
antes estáticas, tornaram-se nômades7e implodiram o processo comunicacional
baseado na hierarquia. Esse raciocínio deu origem ao título desta tese.
Implodir a página significa perder a padronização editorial. Essa é atualmente a
grande questão para os jornais, já que o conceito de edição está em xeque. A
informação principal não está mais na manchete, mas no buzz gerado na rede. As
pessoas não seguem mais editorias, buscam notícias por tags, hashtags8 ou em
perfis de jornalistas, cidadãos, instituições ou empresas de comunicação, entre
outros, nas redes sociais.
As tags são também constituidoras de interfaces. Há um sem número de
exemplos na arte digital e nas redes sociais que demonstram essa possibilidade.
Outro detalhe importante é que nem tags nem hashtags podem ser editadas já uma
vez publicadas. Não há como o Jornalismo poder controlá-las.
É curioso anotar que se fala da não linearidade do texto jornalístico na Web
desde os primeiros trabalhos publicados, na década de 1990 (sejam eles escritos
para academia ou para o mercado).
Ao longo dos anos, importantes pesquisadores pregaram essa característica
como uma das definidoras do WWW (assim como hipertextualidade,
multimidialidade, interatividade, teleação e memória, entre outras) e propuseram
formatos outros (FERRARI: 2007; SALAVERRÍA: 2005, PAUL: 2005, MCADAMS:
2005, MEADOWS: 2003; MIELNICZUK: 2003; MURRAY: 2003, MANOVICH: 2001;
DEUZE: 2001; LÉVY: 1999; LANDOW: 1995).
Ao que se refere à narrativa, a proposta de Pollyana Ferrari, em sua tese
doutoral para a Escola de Comunicação e Arte da Universidade de São Paulo (USP),
7 Um nômade não tem pontos, trajetos, nem terra, embora evidentemente ele os tenha. Eles se reterritorializam na própria desterritorialização. A terra deixa de ser terra e tende a se tornar simples solo ou suporte (DELEUZE; GUATTARI: 2007, p. 53). 8 Tags e hashtags são etiquetas, palavras-chave utilizadas na rede para marcar conteúdo. As hasgtags carregam o sinal sustenido # e são características do Twitter.
22
defende a não hierarquização da narrativa: “Na Web não há hierarquia absoluta.
Cada leitor é um agente de seleção, de bifurcação, ou de transversalidade, em
camadas rizomáticas” (2007, p. 186-187).
Ted Nelson fizera afirmação semelhante no começo dos anos 2000 e antes do
WWW, com seu Xanadu, na década de 1960. Giselle Beiguelman corrobora essa
ideia em O livro depois do livro (2003).
Embora haja diversas propostas para narrativas textuais e constituições de
interfaces como o Xanadu, de Nelson, o design de interface ficou relegado ao
formato jornal.
Isso é percebido nos excelentes projetos para a Internet assinados por
empresas mundo afora, como García Media9, capitaneada por Mario García,
passando pela Case i Associats10, de Francisco Amaral, e Institute for the Future of
the Book11, comandado por Bob Stein, responsável pelo redesenho de Wired e The
New Yorker (Web e tablet). O design assemelha-se, nas palavras do pesquisador
russo Lev Manovich, a um PowerPoint com mídias distribuídas (2008, p. 45).
De modo algum tal informação é exagero. Em 2011, os principais profissionais
dessa área participaram do LIDE2011 (Linguagem, Informação e Design
Editorial)12, entre eles, Chiquinho Amaral, que definiu o desenho do iPad para O
Estado de S.Paulo como “editado e diagramado”.
A estética da base de dados inexistiu naquele debate nem tampouco a
importância da não diagramação e da não hierarquização empurradas pelas redes
sociais. De modo geral, conclui-se que a Web se assemelhará ao papel; os projetos
são pautados pela hierarquia, e o iPad é uma banca de revistas, ainda que sua
interface seja horizontal e vertical.
9 Para saber mais sobre a García Media, ver: http://bit.ly/wkkKs5. Acesso jan. 2012. 10 Para saber mais sobre a Case i Associats, ver: http://bit.ly/zHGRK1. Acesso jan. 2012. 11 Para saber mais sobre o Institute for the Future of the Book, ver: http://bit.ly/AogqNY. Acesso jan. 2012. 12 Para saber mais sobre o LIDE2011, ver: http://bit.ly/xJoeKA. Acesso jan. 2012.
23
Mas as conclusões do LIDE2011 não chegam perto da reformulação conceitual
impulsionada pela dinâmica das redes. Talvez por uma questão mercadológica,
como afirmaram os designers Gabriel Gianordoli e Jorge Oliveira: “A Apple
descobriu que revista se compra na banca. Na banca da Apple Store!”. Para os
profissionais, “caiu o conceito de página,” conforme Berners-Lee havia previsto no
TED ao anunciar a cultura de dados.
E as redes são um reflexo dessa mudança: operam por agenciamentos coletivos
de enunciação, orquestrados por produser/prosumer e um coletivo inteligente que
transformam a interface em um “mapa aberto, conectável em todas as suas
dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações
constantemente” (DELEUZE; GUATTARI: 2006, p. 22).
Na rede, o design é fruto de revezamento: uma tensão constante entre
informação e contrainformação (DELEUZE: 2011), poder e contrapoder
(FOUCAULT: 1999; CASTELLS: 2009)13.
Embora, a configuração seja a de um espaço liso por excelência, sem fronteiras
delimitadas, nômades, há sempre a tentativa de estriá-lo (DELEUZE: GUATTARI:
2007, p. 80), como ocorreu recentemente com os protestos contra as leis
antipirataria (SOPA) e de propriedade intelectual (PIPA) nos Estados Unidos.
Se aprovadas fossem, essas leis permitiriam bloquear interfaces que
supostamente violassem direitos autorais de empresas americanas, penalizando
também companhias com sede nos Estados Unidos que liberarem acesso a esses
conteúdos.
Porém, uma crítica feita pelo governo Barack Obama14 e movimentos nas redes
sociais capitaneados por Google, Wordpress, Wikipedia, Craiglist (classificados),
13 Michel Foucault define contrapoder como ações de resistência contra aparelhos de captura (1999, p. 30). Já para o Manuel Castells, trata-se da capacidade de um ator social resistir ou enfrentar relações de poder institucionalizadas (2009, p. 47-49). 14 CASA BRANCA critica lei antipirataria. Link Estadão. 16 jan. 2012. Disponível em: http://bit.ly/y09rCh. Acesso jan. 2012.
24
Ubuweb (base de dados de poesia sonora, escrita e visual), Flickr, Gizmodo, The
Huffington Post e Wired, entre outros15, e cidadãos mundo afora fez com que o
Congresso adiasse indefinidamente a votação dos projetos16.
São os percursos pelos quais o Jornalismo passou – desde a publicação daquela
que é considerada a primeira tese produzida pelo alemão Tobias Peucer, em 1690,
quando foram sistematizados critérios de noticiabilidade e práticas da profissão, à
apropriação das redes sociais por esse campo da Comunicação – que interessam a
esta tese abordar.
O objetivo é contribuir para os estudos sobre design informacional na Internet,
especificamente ao que se refere à interface da notícia que circula no fluxo cujo
tempo é atemporal (CASTELLS: 2002, p. 553-560).
Por essa razão, o primeiro capítulo apresenta uma revisão histórica do
Jornalismo produzido na Internet desde os anos 1970, quando o The New York
Times realizou suas primeiras experiências em rede com o InfoBank, serviço de
informação com artigos do jornal. Em 1969, a BBC já havia realizado testes com
videotexto.
A expansão da Internet das Coisas bem como o fim da ideia de ciberespaço
como um divisor entre real e virtual dão evidências consistentes da reconfiguração
da interface jornalística. A notícia pode ser acessada desde dispositivos portáteis a
uma parede envolvida por tinta digital17, sem formatos previamente definidos.
Também é passado em revista o design gráfico de jornais para um entendimento
melhor sobre a forma pela qual se dá a atual exibição de notícias na rede.
15 Para saber quem mais protestou contra o SOPA, ver: http://bit.ly/y1XTzU. Acesso jan. 2012. 16 SOPA é retirada da pauta do Congresso dos EUA. Link Estadão. 20 jan. 2012. Disponível em: http://bit.ly/yDYpwT. Acesso jan. 2012. 17 A tecnologia da tinta digital consiste de duas camadas de esferas microscópicas – metade pretas, metade brancas – que mudam de posição ao receberem estímulos elétricos. Como a tecnologia dispensa a iluminação backlight e só é necessário aplicar energia para alterar a imagem, e não para exibi-la, este sistema consome muito menos bateria do que uma tela de cristal líquido tradicional. Para saber mais sobre tinta digital, ver: http://bit.ly/z4qwk9 e http://bit.ly/x0r4uf. Acesso jan. 2012.
25
Definir Jornalismo e sistematizar conceitos que correspondem à sua prática,
como newsmaking (produção de notícias), gatekeeper (seleção de notícias) e
agenda-setting (agenda de pautas), são fundamentais no segundo capítulo para
compreender como a cultura de dados modificou o padrão de comunicação que
vigorou no século 20, baseado em transmissão, publicação e recepção.
A esse padrão foram incluídos os seguintes termos: anotar, comentar,
responder, agregar, cortar, compartilhar, remix, download, upload, input, output e
crowdsorcing. (MANOVICH: 2008, p. 226).
Essa reconfiguração paradigmática ocorreu em termos no Jornalismo praticado
na Internet. A constituição da interface observada no final dos anos 2000 revelada
por duas pesquisas (uma feita em 2008 e a outra em 2010) aplicadas aos jornais
que compõem o corpus desta tese indica, além da vertente estruturalista,
problemas já apontados aqui: redundância, imperativo, além da não aplicação de
valor-notícia de composição, que norteia na mídia impressa o design das páginas.
Esse raciocínio se estende ao longo dos capítulos 2 e 3. Em 2012, nova
análise mantém a mesma estrutura.
Outras duas questões pertinentes a este trabalho sobre o Jornalismo de
Internet foram:
1) a desconstrução de algumas características tomadas como exclusivas, como
multimidialidade e interatividade, por exemplo; 2) a não aplicação das quatro fases
estabelecidas – metáfora, Internet + metáfora; Internet + open source e JDBD
(Jornalismo Digital em Base de Dados) – por uma simples razão: na rede, o browser
é um paginador e, sendo assim, uma página em branco, diagramada em colunas e
hierarquizada.
Portanto, não é possível observá-lo do ponto de vista da evolução (FOUCAULT:
2007, p. 28). O mais correto é uma análise cujo método se divide em: remediação -
26
representação de uma mídia em outra (BOLTER; GRUSIN: 2000) e media
visualization - mistura de formatos e formas (MANOVICH: 2010).
É no terceiro capítulo que começa a tomar forma a interface da notícia que
circula no fluxo principalmente por causa dos elementos de ruptura, como
filtragem colaborativa (baseada na transferência do gosto) e recomendação
(JOHNSON: 2001, p. 143-145).
Mais a nova linguagem visual híbrida, proposta por Lev Manovich, que leva em
conta o uso de tags, não para atomizar informação, mas com o objetivo de
aprofundá-la (2010); da crítica da criação baseada na metáfora, da falta de
vocabulário crítico específico; da importância da arte digital como parâmetro de
interface não hierarquizada; da relação com a fonte, que se deslocou especialmente
com o Wikileaks.
Também não se pode deixar de mencionar como nomadismo, agenciamento
coletivo de enunciação e revezamento são a chave para o Jornalismo operar nas
redes sociais sem abandonar as teorias que o sustenta.
A seguir, o escopo do projeto mostra de que maneira esta tese foi constituída
entre 2008 e 2012:
Objeto: interface jornalística
Corpus: Globo Notícias (G1), UOL Notícias Folha (Folha.com), Terra Notícias,
Estadão.com.br, Google News, iG News (Último Segundo), R7 Notícias, BBC, The New
York Times, Band.com.br, CNN, MSNBC, El País, The Guardian e Huffington Post.
Objetivos e Hipóteses
Objetivo principal: repensar a interface da notícia que circula na Web
27
Objetivos secundários
1. Investigar como o avanço da tecnologia possibilita novos formatos e
examinar que modelos têm sido gerados a partir dessas inovações.
2. Verificar se a ativação desses potenciais (geração de novos formatos)
depende das formas sociais das apropriações dessas tecnologias e de
fatores como modelo de negócio ou resistência administrativa ou
profissional/corporativa à mudança, entre outros.
3. Averiguar os parâmetros editoriais sobre arquitetura na Web. Se os jornais
seguem um padrão de identidade visual. Se existe algo que os diferencie.
Hipótese central: A interface teve que se deslocar porque a produção noticiosa
está se modificando?
Hipóteses secundárias
1. O Jornalismo de Internet atual não consegue converter em seus interesses a
notícia que circula nas redes sociais.
2. A interface se auto-organiza por revezamento e agenciamento.
3. A Social News alterou significativamente a forma pela qual a notícia é
produzida e disseminada.
4. A Web não é o único protocolo a permitir uma estética do banco de dados.
Metodologia
O método de pesquisa está sistematizado em:
• Pesquisa bibliográfica para ampliar o quadro referencial teórico-
metodológico
• Sistematizar a historicidade dos modelos de interfaces jornalísticas
desenvolvidas desde que surgiram as primeiras até os atuais formatos
em uso na Internet e apresentar tendências.
28
• Estudo da composição das interfaces do corpus da pesquisa por meio
de questionário de avaliação que levou em conta os seguintes
conceitos: alteridade (HALL: 2001); interface (JOHNSON: 2001);
arquitetura da informação (ROSENFELD; MORVILLE: 1998);
interatividade (MEADOWS: 2003); usabilidade (NIELSEN: 2000);
teleação (MANOVICH: 2001); remediação (BOLTER; GRUSIN: 2000);
semelhança e similitude (FOUCAULT: 2002; 2007); endoestética
(GIANETTI: 2006); cultura cíbrida (BEIGUELMAN: 2004) e
narrativas (MOHERDAUI: 2007). Tais conceitos serão definidos na p.
99.
29
Capítulo 1
“Falar em
cibercultura é
negar a
realidade”
Lev Manovich
30
Capítulo 1: Internet das Coisas
A rede mundial de computadores
A Internet, a rede mundial de computadores, foi criada pelo governo dos
Estados Unidos em 1969 para uso militar, como proteção contra um possível
ataque russo durante a Guerra Fria. Chamada inicialmente Arpanet, começou a
funcionar em quatro computadores na Universidade da Califórnia (UCLA, sigla em
inglês)18.
O nome Arpanet tem origem na Agência de Projetos de Pesquisa Avançada
do Departamento de Defesa dos EUA (DARPA, sigla em inglês). Depois, a rede
interligou outros centros de pesquisas e universidades. Ao se expandir para outros
países, ganhou o nome de Internet e foi apropriada em todo o mundo por indivíduos e
grupos:
(...) O resultado foi uma arquitetura de rede que, como queriam seus inventores, não pode ser controlada a partir de nenhum centro e é composta por milhares de redes de computadores autônomos com inúmeras maneiras de conexão, contornando barreiras eletrônicas. (...) Essa rede foi apropriada por indivíduos e grupos no mundo inteiro e com todos os tipos de objetivos, bem diferentes das preocupações de uma extinta Guerra Fria (CASTELLS: 2002, p. 44).
Dois anos depois, empresas jornalísticas começaram a utilizar a Internet
para distribuir informação. A inglesa BBC e o The New York Times foram os
primeiros a fazer parte dela. Ainda em 1969, a BBC iniciou testes com um novo
formato de mídia para transmitir texto e gráficos por computador: o videotexto. O
Times criou o InfoBank, serviço de informação com artigos do jornal por meio de
um sistema chamado Biennial Reporting System (BRS)19.
A década de 1970 foi marcada por grandes inovações tecnológicas, como o
desenvolvimento do primeiro sistema de rede sem fio baseado em rádio, o
18 NEW MEDIA Timeline (1969) - Poynter. Disponível e m http://bit.ly/k39HLd. Acesso jul. 2011. 19 Para saber mais sobre o BRS, ver: http://bit.ly/kRc4kg. Acesso. Ago. 2011.
31
Alohanet. A IBM anunciou o computador System/370 com suporte para memória e
a Intel um processador mais veloz, 0 4004. Também chegaram ao mercado os
computadores pessoais: Altair, criado por Ed Roberts, parceiro de Bill Gates, e
Apple, de Steve Jobs e Steve Wozniak.
Não foi diferente com o Jornalismo. O primeiro registro de uso de
computador para envio de texto ocorreu na redação da Associated Press, na
Carolina do Sul, em novembro de 1970. Na mesma década, os jornais trocaram a
produção mecânica pela computadorizada. Jornalistas passaram a criar banco de
dados, e os jornais a vendê-los.
A imprensa começava a decretar o fim do uso da máquina de escrever. O
The Wall Street Journal iniciou a transmissão de edições via satélite e o videotexto
chegou às agências de notícias. São também do mesmo período os correios
eletrônicos e os disquetes, hoje substituídos por computação na nuvem20, entre
outros dispositivos de armazenamento de dados.
Nos anos 1980, vieram os laptops para facilitar o trabalho dos profissionais
de imprensa, que podiam enviar suas matérias de qualquer lugar, e serviços de
linha discada para conexão à Internet, como o Bulletin Board System (BBS). Entre as
novidades estão: computador pessoal de IBM, Apple (Machintosh), Compaq,
modens, sistemas operacionais MS-DOS e Windows, Sistema de Domínio da
Internet (DNS, sigla em inglês), impressoras a laser.
Nos jornais, foram lançadas operações de teletexto e audiotexto.
Dez anos depois, o engenheiro britânico Tim Berners-Lee anunciou a World
Wide Web. O protocolo de Berners-Lee tornou realidade as associações entre
textos, cuja menção foi feita pela primeira vez pelo também engenheiro, mas de
origem americana, Vanevar Bush21, em, 194522:
20 Para saber mais sobre computação na nuvem, ver: http://bit.ly/pZPiNm. Acesso mar. 2012. 21 Para saber mais sobre Vanevar Bush, ver: http://bit.ly/pTYQk2. Acesso mar. 2012. 22 BUSH, V. As we may think. In: http://bit.ly/nbUKuv. Acesso mar. 2012.
32
O homem não pode esperar plenamente para duplicar esse processo mental artificialmente, mas ele certamente deve ser capaz de aprender com ele. Em pequenas coisas que ele pode até melhorar, para ter em seu registro uma relativa permanência. A primeira ideia, no entanto, é retirar da analogia as preocupações selecionadas. Seleção por associação, em vez de indexação, pode inclusive ser mecanizada. Não se pode esperar, portanto, para igualar a velocidade e flexibilidade com que a mente segue uma trilha associativa, mas deve ser possível ter a mente decisiva no que diz respeito à permanência e clareza dos itens advindos do armazenamento. Considere um dispositivo futuro para uso individual, que é uma espécie de arquivo privado mecanizado e biblioteca. Ele precisa de um nome, e uma moeda ao acaso, memex vai nomeá-lo. A memex é um dispositivo no qual uma loja individual vende seus livros, registros e comunicações e que é mecanizado a fim de poder ser consultado com flexibilidade e extrema velocidade (BUSH: 1945).
Anos mais tarde, Theodor Holm Nelson ou Ted Nelson, como é conhecido o
filósofo e sociólogo americano23, cunhou o termo que denomina tais associações:
hipertexto24. É dele também hipermídia, uma espécie de extensão do hipertexto,
porém com documentos que contêm gráficos, vídeos, áudios, textos e links que se
entrelaçam na Web25.
Aliás, uma das principais características da Web - e, talvez, a que mais bem a
defina - é o link. David Weinberger escreveu em The Hyperlinked Metaphysics of
the Web que a Web só existe por causa dos hiperlinks (2000).
O hipertexto é também uma forma de recuperar informação. Essa noção
está presente nos estudos de Roland Barthes. Ele a chamou Lexia, unidades de
leitura ou blocos de significação (1970, p. 20).
Em Arqueologia do Saber, Michel Foucault afirma que a ideia de referência
de uma obra à outra está diretamente relacionada à de hipertexto: “além do título,
das primeiras linhas e do ponto final, além de sua configuração interna e da forma
23 Para saber mais sobre Ted Nelson, ver: http://ted.hyperland.com. Acesso mar. 2012. 24 Hipertexto é um texto exibido no computador ou em outro dispositivo com referências (hiperlinks) a outro texto. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Hypertext. Acesso mar. 2012. 25 O termo hipermedia é uma extensão do hipertexto que contém gráficos, áudio, vídeo, texto e hiperlinks. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Hypermedia. Acesso mar. 2012.
33
que lhe dá autonomia, ele está preso em um sistema de remissões a outros livros,
outros textos, outras frases: nós em uma rede” (2007. p.26).
O conceito de intertextualidade remete também à linkagem. Foi cunhado
por Julia Kristeva e muito utilizado por Jacques Derrida: “todo texto se constrói
como um mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de outro
texto” (KRISTEVA: 1969, p. 146).
Embora discípulo de Vanevar Bush, Ted Nelson ponderou sobre a
necessidade de categorizar as informações para que possam mais tarde ser
recuperadas. Para Nelson, não há nada de mal em categorizar. “O problema é que
esses sistemas têm vida curta. Em poucos anos, tornam-se estúpidos” (LANDOW:
1995, p. 27).
Entretanto, é possível categorizar e fazer associações sem que a estrutura
determine: por meio de input inteligente de dados e tags, aliados à programação.
Essa ação conjunta muda a perspectiva não só da narrativa em base de dados, mas
do design de interface. A tag é um termo ou palavra-chave associado a uma
informação para relacionar conteúdo26. O uso de tags será detalhado mais adiante.
Nelson é hoje um dos críticos mais contundentes da Web, mais
especificamente do modo pelo qual são constituídas interfaces, navegação e links. É
do teórico americano a famosa frase: “uma interface deve ser tão simples que um
iniciante, numa emergência, não leve mais de dez segundos para entendê-la"
(tradução em inglês de “a user interface should be so simple that a beginner in an
emergency can understand it within ten seconds”).
Para Nelson, o projeto do WWW é “limitado, os links são unidirecionais,
levam a um só lugar. Todos do mesmo jeito. O browser simula o papel, é
diagramado em colunas e é hierarquizado”. A Web, afirma o sociólogo, “é coisa do
passado, quadrada demais”.
26Para saber mais sobre tags, ver http://bit.ly/qWlfh7. Acesso dez.2011.
34
(...) Não podemos esquecer que Internet e Web são coisas diferentes (...). E acho todos os navegadores ruins, ultrapassados e limitados. Passei a década de 90 estudando o que era possível fazer para criar um sistema que substituísse a Web e aproveitasse todas as possibilidades da Internet. Então, criei esse sistema novo, o Xanadu Spaces, que substitui a Web (NELSON: 2007).
O sociólogo americano propôs, antes de o protocolo surgir, o Xanadu27,
primeiro software a ter links conectados a outros documentos. O Projeto Xanadu
começou na década de 1960.
Trata-se de um sistema de hipertexto, com uma interface inteligente de
linkagem que respeita os direitos autorais e permite uma navegação não
sequencial, por associação, como é cérebro humano. O Xanadu ainda não foi
finalizado, mas a forma pela qual foi concebido e os conceitos criados contribuíram
para o que a Web é atualmente.
É verdade que os browsers têm limitações. Quem não se lembra dos
primeiros? E de suas interfaces? Mosaic, primeiro browser gráfico, lançado pelo
Centro Nacional de Aplicações de Super Computação (NCSA), em Champaign,
Illinois, Netscape Navigator, da Netscape, e Explorer, da Microsoft. Vieram outros
depois, como Google Chrome, Mozilla e Safari.
E é verdade que eles também simulam o papel. Simulavam no inicio da Web
e continuam a simular, mas agora com um detalhe: são incrementados com
novidades tecnológicas. Mas a estrutura permanece a mesma.
27 A íntegra do projeto Xanadu está disponível em: http://bit.ly/snGeBH. Acesso dez. 2011.
35
Figura 1. Mosaic, o primeiro browser gráfico
Figura 2. Netscape Navigator28
Economia: a primeira bolha
Entretanto, não se trata apenas de uma questão técnica ou conceitual. Há
também que se considerarem fatores econômicos e culturais. Empresas operam
em uma lógica capitalista e os primeiros anos da Web foram marcados pela
primeira bolha da Internet, um processo de especulação em torno de empresas que
constituíram ou migraram seus negócios para a rede, especialmente comércio
eletrônico, de 1995 a 2000, com altos investimentos em projetos às chamadas
start-ups29.
28
As imagens dos browsers Mosaic e Nestcape são reproduções da Wikipedia. 29
Para saber mais sobre startups, ver http://bit.ly/ocDvQp.
36
O resultado foi uma vertiginosa queda na Nasdaq, bolsa de valores na qual
aquelas empresas negociavam suas ações: em 10 de março de 2000, a bolsa
registrou baixa de 4% e não parou mais de cair. As perdas alcançaram 75%.
O lucro demorou a chegar a esses setores, e não são muitas as companhias
com balanços positivos de suas operações, à exceção de grandes players como a
Google, criada em 1998 e cuja busca o levou a lucros exorbitantes30. São também
exemplos bem-sucedidos a rede social Facebook e Groupon, serviço de venda
coletiva, entre outros.
Há quem acredite que os serviços de venda coletiva são um dos pontos
centrais da segunda bolha da Internet porque criam problemas para seus
parceiros. De um lado, porque a maioria vende audiências fictícias. Depois, porque
as promoções pouco agregam às empresas (NASSIF: 2011).
Por exemplo, uma pizzaria vendia pizzas a R$ 15,00. Entrava em uma
promoção e o site de compras oferecia a R$ 3,00. A pizzaria lotava, mas de um
público que, passada a promoção, dificilmente voltaria lá. Não era seu público alvo.
Esse risco está restrito à economia americana. No Brasil, projetos dessa natureza
estão sendo avaliados com uma dose a mais de realismo (IBIDEM).
Embora a Internet seja a primeira mídia pública a ter uma economia pós-
Gutenberg (SHIRKY: 2010, p. 53), modelo de negócio nesse setor continua sendo
um ponto nevrálgico até hoje, sobretudo após o Jornalismo ter incorporado as
redes sociais em sua produção diária, cuja lógica de funcionamento opera na
contramão de portais e sites constituídos para aglomerar conteúdo.
As redes sociais, ao contrário, pulverizam o conteúdo e reconfiguram o fazer
jornalístico, principalmente em relação aos critérios de noticiabilidade, cuja teoria
será detalhada mais adiante. Trata-se de uma relação tensionada entre espaço liso
(nômade, sem fronteiras delimitadas) e estriado (aparelho do Estado, institucional,
30 Para conhecer a história da Google, acesse: http://bit.ly/FaeZn ou http://bit.ly/mM1l0F. Acesso jul. 2011.
37
metrificado e distribuído), conceitos abordados pelos filósofos franceses Gilles
Deleuze e Félix Guattari no quinto volume de Mil Platôs (2007).
Para Deleuze e Guattari, os nômades são como máquinas de guerra, ou seja,
uma máquina de movimentação permanente no território, e os aparelhos de
captura dependem da noção de sujeitos universais. Tudo vale para todos, a regra é
absoluta, não funciona com desvio.
Observados sob essa ótica, os portais seriam aparelhos de captura, que
operam em espaços estriados, e redes sociais como o Twitter (www.twitter.com) e
Facebook (www.facebook.com) seriam as máquinas de guerra, nômades do espaço
liso em constante tensão com aparelhos de captura.
De novo, o que está em jogo é um modelo que dê conta dessa nova dinâmica.
Um caminho, talvez, seja a economia baseada em aplicativos já que desde 2007
vários jornais ligados à mídia tradicional fecharam ou deixaram de produzir versão
impressa. E muitos estão na Internet lutando por paywall e assinaturas.
Em artigo para o Nieman Journalism Lab, Nicholas Carr, autor do best-seller
The Big Switch: Rewiring the World, from Edison to Google, afirmou que os
aplicativos serão o grande commodity em 201231:
Aplicativos prometem ser a maior força de reformulação da mídia em geral e meios de comunicação, em particular durante 2012. A influência será exercida diretamente – por meio de uma proliferação de aplicativos mídia especializada, bem como indiretamente - por meio de mudanças nas atitudes dos consumidores, expectativas e hábitos de compra. Há todos os tipos de implicações para os jornais, mas talvez o mais importante é que a explosão app torna muito mais fácil de cobrar por notícias online e outros conteúdos. Isso é verdade não apenas quando o conteúdo é entregue por meio de aplicativos formais, mas também quando é entregue por meio de sites tradicionais, que podem, eles próprios, ser vistos pelos clientes como uma forma de app. No
31 ARE NEWSPAPERS civic institutions or algorithms? Big Think, EUA, 16 jan. 2012. Disponível em: http://bit.ly/ydfh8x. Acesso jan. 2012.
38
velho mundo da Web aberta, pagar por conteúdo on-line parecia estranho, na melhor das hipóteses, já na pior, repugnante. No novo mundo do app, pagar por conteúdo online, de repente parece normal. O que é uma loja de aplicativos, a não ser uma série de paywalls?
A economia baseada em aplicativos pode apresentar bons resultados
principalmente por duas razões: a primeira delas é a segmentação, que permite
monitorar os usuários e, com isso, pensar em estratégias de marketings específicas
para eles, o que é valiosíssimo para os anunciantes.
A outra é o fato de que, embora as pessoas queiram consumir conteúdo
grátis na Internet, estão dispostas a pagar entre US$ 0,99 e US$ 3,99 por aplicativos
na Apple Story, por exemplo. Em julho de 2011, a empresa anunciou 15 bilhões de
downloads em seu e-commerce. E pagou US$ 2,5 bilhões a desenvolvedores32.
Figura 3. Infográfico receita por usuário - Reprodução KissMetrics
32
EM TRÊS ANOS, loja de aplicativos da Apple atinge 15 bilhões de downloads. G1, São Paulo, 7 julh. 2011. Disponível em: http://glo.bo/yuCTpu. Acesso jan. 2012.
39
Tudo agora é ciberespaço
Mas há outra questão de igual importância: o ambiente criado pela Internet.
Há, de fato, um novo ambiente? Trata-se de um mundo virtual? Ciberespaço? Seria
uma espécie de Second Life, como defendeu Ted Nelson, em 2007 à revista Época?:
“Second Life é um exemplo de inovação dos programas de interação entre homens
e máquinas. A interface em 3D é o futuro da Internet. Vai provocar uma revolução
tão grande quanto a Web”33.
Na maioria das vezes, utilizada para definir o irreal, a palavra virtual tem
origem no latim medieval virtualis, derivado de virtus, força, potência. Na filosofia
escolástica, o virtual é o que existe em potência e não em ato. Jean Baudrillard o
definiu como o desaparecimento do real (LÉVY: 1998, p. 24,25). Paul Virilio o
chamou implosão espaço-tempo.
Pierre Lévy o assume como um modo de ser fecundo e poderoso, que põe
em jogo processos de criação, abre futuros, perfura poços de sentido sob a
platitude da presença física imediata.
O filósofo francês é contrário à oposição entre real e virtual. Para Lévy, o
virtual não se opõe o real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas
maneiras de ser diferentes. Virtual é o inapreensível enquanto real é o tangível. O
virtual não é imaginário, ele produz efeitos. O virtual é a atualização do real
(IBIDEM, p. 12, 15, 21).
Gilles Deleuze fez uma distinção entre possível e virtual em Différence et
Répétition (1968): o possível já está todo constituído, mas permanece no limbo. O
possível se realizará sem que nada mude em sua determinação nem em sua
natureza. É um real fantasmático, latente. O possível é exatamente como o real: só
lhe falta a existência. Para Michel Serres, o virtual é a não presença.
33 A SEGUNDA vida da Internet. REVISTA ÉPOCA, São Paulo, mar. 2007. Disponível em: http://glo.bo/jXbVu3. Acesso jun. 2011.
40
“A imaginação, a memória, o conhecimento, a religião, são vetores da
virtualização que nos fizeram abandonar a presença muito antes da informatização
e das redes digitais”, escreveu Pierre Lévy em O que é o virtual? (1998). Para
explicar a não presença, Lévy cita como exemplos o texto e o hipertexto:
(...) O senso comum faz do virtual, inapreensível, o complementar do real, tangível. Essa abordagem contém uma indicação que não se deve negligenciar: o virtual, com muita frequência, não está presente. (...) Estará o texto aqui, no papel, ocupando uma porção definida do espaço físico, ou em alguma organização abstrata que se atualiza numa pluralidade de línguas, de versões, de edições, de tipografias? Ora, um texto em particular passa a apresentar-se como a atualização de um hipertexto de suporte informático. Este último ocupa virtualmente todos os pontos da rede ao qual está conectada a memória digital onde se inscreve seu código? Ele se estende até cada instalação de onde poderia ser copiado em alguns segundos? (LÉVY, 1998, p. 19,20). Claro que é possível atribuir um endereço a um arquivo digital. Mas nessa era de informações on-line, esse endereço seria de qualquer modo transitório e de pouca importância. Desterritorializado, presente por inteiro em cada uma de suas versões, de suas cópias e de suas projeções, desprovido de inércia, habitante obíquo do ciberespaço, o hipertexto contribui para aqui e acolá acontecimentos de atualização textual, de navegação e de leitura. Somente esses acontecimentos são verdadeiramente situados. Embora necessite de suportes físicos pesados para subsistir e atualizar-se, o imponderável hipertexto não possui um lugar (IBIDEM).
Essa ideia de não lugar, de não presença, também está presente na definição
de ciberespaço. Aliás, muitas vezes utilizado como sinônimo de mundo virtual ou
mundo digital. Foi o escritor Willian Gibson quem cunhou o termo em 1982 e o
publicou dois anos mais tarde em seu famoso livro Neuromancer:
O ciberespaço. Uma alucinação consensual vivida diariamente por bilhões de operadores autorizados, em todas as nações, por crianças aprendendo altos conceitos matemáticos... Uma representação gráfica de dados abstraídos dos bancos de todos os computadores do sistema humano. Uma complexidade impensável. Linhas de luz abrangendo o não espaço; nebulosas e constelações infindáveis de dados. Como marés de luzes de cidade (GIBSON: 2003, p. 67-68).
41
Pierre Lévy utiliza a definição de Gibson em Cibercultura (1999) e a amplia:
“O ciberespaço de Gibson torna a geografia móvel da informação normalmente
invisível. O termo foi imediatamente retomado pelos usuários e criadores de redes
digitais.” E vai além:
Eu defino ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias de computadores. Essa definição inclui o conjunto de sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à digitalização (LÉVY: 1999, p. 92).
Em 2007, em entrevista ao jornal americano The Washington Post34, Gibson
anunciou o fim do ciberespaço. Para o escritor, agora o ciberespaço é aqui.
Quando escrevi Neuromancer, quase 25 anos atrás, o ciberespaço estava lá, e nós estávamos aqui. Em 2007, o que não nos importamos mais em chamar de ciberespaço está aqui, e aqueles momentos sem conectividade, cada vez mais raros, estão lá. E aí está a diferença. Não houve um amanhecer tingido de vermelho em que nos levantamos, olhamos pela janela e dissemos: ‘Oh meu Deus, tudo é ciberespaço agora. (WASHINGTON POST: 2007).
O argumento de Gibson é bastante coerente. No Brasil, no início dos anos
2000, para acessar a Internet era preciso um computador, um modem e um cabo de
rede. Hoje, basta um dispositivo35 móvel (celular, tablet ou smartphones, entre
outros) com conexão sem fio. No primeiro trimestre de 2011, 24,4 milhões de
brasileiros utilizaram banda larga móvel36. Em todo o mundo, o número de pessoas
com acesso à rede tem aumentado consideravelmente.
Em 2000, eram 250 milhões. No final de 2010, ultrapassou dois bilhões de
pessoas. Também registrou crescimento expressivo a conexão móvel. Em todo o
mundo, 940 milhões acessaram a Internet via banda larga móvel contra 550
34 GARREAU, J, 2007. 35 O dicionário Houaiss define dispositivo como: em máquinas, peça ou mecanismo com uma função especial ou aparelho construído com determinado fim; engenho. 36 USO de banda larga no Brasil cresceu 138%. Último Segundo, São Paulo, 12 mai. 2011. Disponível em http://bit.ly/jrmKWt. Acesso jan. 2012.
42
milhões via banda larga fixa, segundo dados da Organização das Nações Unidas
(ONU) referentes a janeiro de 201137.
Graças à computação ubíqua (ou ubicomp, abreviação em inglês de
ubiquitous computing), a Internet implodiu a divisão real e virtual, transformando-
se em Internet of Things38 (Internet das Coisas) e jogou por terra todos esses
conceitos. O termo computação ubíqua foi cunhado por Mark Weiser em 1988
quando estava à frente do Departamento de Tecnologia do Centro de Pesquisa da
Xerox, em Palo Alto (Parc, sigla em inglês).
Para Weiser, o futuro da tecnologia da informação é ser um utilitário, algo
como o gás e a eletricidade (KRANENBURG: 2008, p. 7). E essa realidade já faz
parte do cotidiano:
Computação ubíqua (muitas vezes referida como ubicomp) descreve um conjunto de processos onde a tecnologia da informação tem sido completamente integrada em objetos e atividades do cotidiano: a tal ponto que o usuário muitas vezes nem percebe ao fazê-lo. Ubicomp não é apenas uma parte de nossas cidades do futuro. Seus dispositivos e serviços já estão aqui. Pensar no uso de cartões pré-pagos inteligentes para o uso de transportes públicos ou as etiquetas exibidas em nossos carros para ajudar a regular os preços de congestionamento, ou a maneira pela qual as corporações encaminham e transportam mercadorias em todo o mundo. Estes sistemas irão expandir geometricamente na próxima década, construindo os blocos para as nossas cidades do futuro (IBIDEM).
O escritor Americano Clay Shirky, um dos mais importantes pesquisadores
sobre cultura digital da atualidade e autor de Cultura da Participação (2010),
arrancou o termo de seu dicionário: “A ideia com a qual eu cresci, de ir a um
lugar separado do mundo real, é algo que os meus alunos não conseguem
37 NÚMERO de internautas ultrapassa 2 bilhões, afirma ONU. Interactive Advertising Bureau, São Paulo, 27 jan. 2011. Disponível em: http://bit.ly/uQbs0E. Acesso jan. 2012. 38
O termo Internet of things foi cunhado por Kevin Ashton em 1999. Para saber mais sobre Ashton, ver:
http://bit.ly/AdUhlj. Acesso jan. 2012.
43
entender. A Internet traz a todos os lugares alguns dos enigmas da vida na
cidade grande” (2009)39.
O russo Lev Manovich também o fez. Em entrevista a O Estado de S.Paulo em
2009 afirmou o seguinte:
Nos anos 90, só se falava de virtual, ciberespaço e cibercultura. Éramos fascinados pelas possibilidades que os espaços digitais ofereciam. O virtual, que existe à parte do real, dominou a década. Agora, a Web é uma realidade para milhões, e a dose diária de ciberespaço é tão grande na vida de uma pessoa que o termo não faz mais muito sentido. O mundo alternativo tão falado na ficção cyberpunk, nos anos 80, foi perdido. O virtual agora é doméstico. Controlado por grandes marcas, tornou-se inofensivo. Nossas vidas online e offline são hoje a mesma coisa. Para os acadêmicos que ainda usam o termo cibercultura para falar da atualidade, eu recomendo que acordem e olhem para o que existe em volta deles.40
A ideia de algo sem fronteiras, permanentemente conectado, sedimentou-
se, sobretudo com a popularização da banda larga e dos dispositivos móveis -
celulares, com funções que não se restringem somente a discar e a tirar fotos, e
tablets, cuja principal característica é a mobilidade. Esvazia-se a lógica da janela
(transparente) e espelho (reflexo) proposta por David J. Bolter e Diane Gromala em
Windows and Mirror (2003).
Para Bolter e Gromala (p. 26, 27), o equilíbrio entre ser transparente e
reflexivo é a referência que marca a diferença entre ciberespaço e mundo real: "(...)
Nenhuma interface pode ser ou deve ser perfeitamente transparente, porque a
interface vai quebrar em algum momento, e o usuário terá que diagnosticar o
problema”. A relação janela e espelho será aprofundada mais adiante.
Computação ubíqua
39 THIS MUCH I know. The Guardian, Londres, 15 feb. 2009. Disponível em: http://bit.ly/aBPwN. Acesso jan. 2012. 40 “FALAR em cibercultura é negar a realidade”. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 21 ago. 2009. Disponível em: http://bit.ly/peFS57. Acesso jan. 2012.
44
Hoje, o sujeito carrega a interface e acessa a informação que está no espaço
de fluxos, principal base da sociedade em rede, fundamentada em conhecimento,
com processos descentralizados e empresas reorganizadas pela economia
informacional41. O espaço de fluxos é a organização material das práticas sociais de
tempo compartilhado que funcionam por meio de fluxos (CASTELLS: 2002, p. 501).
Por fluxos, o sociólogo Manuel Castells entende as sequências intencionais,
repetitivas e programáveis de intercâmbio e interação entre posições fisicamente
desarticuladas mantidas por atores sociais nas estruturas econômica, política e
simbólica da sociedade42.
O espaço de fluxos pode ser descrito pela combinação de três camadas de
suportes materiais que, juntas, o constituem (IBIDEM, p. 502-505):
a) circuito de impulsos eletrônicos (microeletrônica, telecomunicações,
processamento computacional, sistemas de transmissão e transporte em alta
velocidade – também com base em tecnologias da informação. Esse é o suporte
material de práticas simultâneas, estrategicamente cruciais na sociedade em rede);
b) nós e centros de comunicação (localização de funções estrategicamente
importantes que constroem uma série de atividades e organizações locais em
torno de uma função chave na rede). A localização no nó conecta a localidade com
toda a rede. Os nós e os centros de comunicação seguem uma hierarquia
organizacional de acordo com seu peso relativo na rede. Mas essa hierarquia pode
mudar conforme seu peso relativo na mesma rede;
c) organização espacial das elites gerenciais dominantes - e não da
classe -, que exercem funções direcionais em torno dos quais todo esse processo é
41 A economia global/informacional é organizada em torno de centros de controle e comando capazes de coordenar, inovar e gerenciar as atividades interligadas das redes de empresas. (CASTELLS: 2002, p. 469). 42 Práticas sociais dominantes são aquelas que estão embutidas nas estruturas sociais dominantes. Estruturas dominantes são procedimentos de organizações e instituições cuja lógica interna desempenha papel estratégico na formulação das práticas sociais e da consciência social para a sociedade em geral (IBIDEM, p. 501).
45
articulado. A elite dominante informacional segue de mãos dadas com sua
capacidade de desorganizar grupos de sociedade, cujos interesses são
representados dentro da estrutura dos interesses dominantes.
Embora ainda não seja realidade, a Internet das Coisas em pouco tempo
estará em todo o canto, disponível a toque, voz ou gesto. E quando alcançar essa
escala de conectividade, Giselle Beiguelman, diretora de redação da revista
sElecT43 e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo (FAU/USP), aposta na mudança de nomenclatura para rede mundial de
computadores, pessoas, geladeiras e tudo o mais que nos cerca:
Enquanto a Internet das Coisas não se impõe, a rápida evolução das aplicações, que envolvem nanotecnologia, sensores e sistemas de redes sem fio confirma a sua probabilidade. O uso cada vez mais comum de etiquetas inteligentes baseadas em códigos de barra com grande capacidade de armazenamento de informações, como o QR-Code, é um indicador preciso desse processo de coisificação das redes (2011).
Pesquisa realizada pela empresa de tecnologia Cisco aponta que, desde
2008, há mais coisas conectadas a Internet do que pessoas no planeta. A estimativa
indica que em 2020 mais de 50 bilhões de coisas estejam plugadas44:
Figura 4. Projeção da Internet das Coisas em 2020: 50 bilhões
43 O FIM do virtual. sElecT, São Paulo, 25 ago. 2011. Disponível em: http://bit.ly/unMrTs. Acesso jan. 2012. 44 INTERNET DAS coisas: para 2020, mais de 50 bilhões de coisas conectadas à Internet, superando o número de pessoas conectadas. Tecnoarte News, São Paulo, 18 jul. 2011. Disponível em: http://bit.ly/pdju3e. Acesso jan. 2012.
46
Figuras 5 e 6. Internet das Coisas não se resume a tablets ou smartphones
Figuras 7 e 8. Após 2011, domicílios irão gerar mais tráfego na Internet
47
Um dos exemplos mais intrigantes dessa realidade é o Sixth Sense45, do
laboratório de Pattie Maes, pesquisadora do Media Labs, do MIT, e liderado pelo
designer indiano Pranav Mistry, que o desenvolveu durante oito meses a um custo
de US$ 350. Maes e Mistry apresentaram o projeto no TED 2009 (sigla em inglês
para Technology, Entertainment, Design)46.
No Sixth Sense, o sujeito é uma interface conectada. Ele interage com
qualquer informação por meio de gestos. “A proposta é transformar todo o mundo
em computador”, diz o indiano:
O protótipo integra projetor de bolso, espelho e câmera, que, em formato de um colar acoplado ao tórax, são ligados a um minilaptop. A câmera captura os gestos da mão, envia esses dados para o laptop e um software baseado em algoritmos de visão computacional rastreia e interpreta os movimentos das mãos de acordo com os marcadores coloridos que o usuário deve usar nos dedos (INFO EXAME: 2009). Com isso, além dos proveitos acima, é possível utilizar o Sixth Sense para coletar informações sobre objetos em tempo real. Por exemplo, o sistema pode ser instruído com um gesto para rastrear a capa de um livro e projetar dados das resenhas da Amazon.com sobre ele (IBIDEM).
Figura 9. Usando a palma da mão para discar um número
45 Para saber mais sobre o Sixth Sense, ver: http://bit.ly/sTQbs0. Acesso jan. 2012. 46 http://bit.ly/uNNYcx. Acesso jan. 2012.
48
Figura 10. Passagem aérea atualiza status do voo
Figura 11. Projetor, câmera e marcadores coloridos utilizados para acessar dados
49
Figura 12. Jornal impresso mostra vídeo de noticiário ao vivo
Pesquisas em computação e design recentes, como essa de Mistry, mostram
que as informações estarão integradas aos objetos cotidianos e não mais reduzidas
a dispositivos específicos como computadores de mesa e celulares (BEIGUELMAN:
2011), como o Morph, da Nokia47, dispositivo de comunicação baseado em
nanotecnologia, sensitivo, funciona por meio de toque, autolimpante, tem
superfície superhidrofóbica e captura informações sobre o meio ambiente.
E o mais interessante: a estrutura de nanoescala eletrônica permite o
alongamento, que o transforma em vários formatos: um pequeno tablet, uma
pulseira ou um celular48.
Figura 13. Conceito Morph - Reprodução Nokia
47 http://bit.ly/sokmXz. Acesso jan. 2012. 48 http://bit.ly/u0Wp2v. Acesso jan. 2012.
50
A Web não morreu
É sobre essa interface remodelada pela conexão ubíqua e pela Internet das
Coisas que a autora desta tese se debruça. Trata-se de compreender de que forma a
interface reconfigura os conceitos que orientam o Jornalismo, mais
especificamente o newsmaking. E a busca desse entendimento começa pela World
Wide Web. Porque foi a Web que deu expressão ao Jornalismo praticado na
Internet, cujo histórico será detalhado adiante.
A WWW possui ao mesmo tempo características que a assemelham a um
paginador de papel e a permitem implodir a página impressa. Ao contrário do que
escreveu o editor-chefe da revista Wired, Chris Anderson, a Web não está morta e o
design de interface dos dispositivos móveis, principalmente os tablets, corrobora
esse pressuposto, ainda que os aplicativos estejam na ordem do dia.
Em agosto de 2010, Anderson afirmou que as pessoas estão substituindo
browsers por aplicativos. Ou seja, o protocolo WWW deixa de ser o principal ponto
de navegação pela rede. Para ele, “a Internet é a verdadeira revolução tão
importante como a eletricidade”49.
Você acorda e verifica o seu e-mail no iPad de cabeceira - que é um app. Durante café da manhã você navega no Facebook, Twitter, e The New York Times - mais três apps. No caminho ao escritório, você ouve um podcast no seu smartphone. Outro app. No trabalho, você rola através de feeds RSS em um leitor e tem conversas Skype e mensagens instantâneas. Mais aplicações. No final do dia, você chega em casa, faz o jantar enquanto ouve a Pandora, joga alguns jogos no Xbox Live, e assiste a um filme no serviço de streaming Netflix. Você passou o dia na Internet - mas não na Web. E você não está sozinho (ANDERSON: 2010).
A conclusão do jornalista baseou-se em estudo encomendado para a Wired
segundo o qual o tráfego de dados da Internet provém de vídeos e troca de
conteúdos P2P (compartilhamento de arquivos).
49THE WEB is Dead. Long Live the Internet. Wired, EUA, 17 ago. 2010. Disponível em: http://bit.ly/bknmCP. Acesso jan. 2012.
51
Outra pesquisa recente feita nos Estados Unidos comprova que os
americanos passam mais tempo conectados a aplicativos que ao WWW. Segundo a
Flurry Analytics, entre junho de 2010 e junho de 2011, as pessoas passaram 74
minutos na Web contra 81 minutos nos aplicativos. No período, o uso da Web
cresceu 16%, ante 91% dos programas50.
Essa não foi a primeira vez que a revista americana anuncia alternativas à
Web. Em 1997, artigo intitulado “Push!” sugeria que tecnologias como PointCast e
Microsoft’s Active Desktop dariam adeus ao protocolo de Berners-Lee51: “Kiss your
browser goodbye: The radical future of media beyond the Web”52.
Ted Nelson, o pai do hipertexto, disse algo semelhante em 2007 no
programa Roda Viva, da TV Cultura, mas não matou o WWW: “A Web não vai
desaparecer, mas outras coisas surgirão, assim como e-mail, chat, VoIP (voz sobre
IP) e Skype. São todas formas diferentes de comunicação, e haverá mais.
Figura 14. Pesquisa da Wired sobre uso de aplicativos
50 PEOPLE ARE spending more time in mobile apps than on the web. Business Insider, EUA, 20 jun. 2011. Disponível em: http://bit.ly/ruv6qj. Acesso jan. 2012. 51 Para saber mais sobre Tim Berners-Lee, ver. http://bit.ly/2PqQpx. Acesso jan. 2012. 52 KISS YOUR browser goodbye: The radical future of media beyond the Web. Wired, EUA, mar. 1997. Disponível em: http://bit.ly/fLCtD. Acesso jan. 2012.
52
Figura 15. Comparação entre uso de aplicativos e Web (Flurry)
A julgar pelos números, a Web continuará a ser utilizada ainda por muito
tempo. Dados do Go-Gulf.com indicam que diariamente (em média) um bilhão de
novas interfaces são adicionadas ao protocolo. Um infográfico Go-Gulf publicado na
próxima página dá a dimensão do que ocorre na Web a cada 60 segundos53.
Na realidade, se analisada do ponto de vista dos espaços liso e estriado de
Deleuze e Guattari, a interface gráfica da Internet foi constituída para ser um
espaço liso por excelência, nômade, sem fronteiras delimitadas, embora não seja
essa a prática atual.
Entretanto, ao operar em qualquer dispositivo, o WWW tem enorme
potencial para implodir a interface tal como é configurada atualmente pelas
empresas de comunicação e se auto-organizar a partir de tags, algoritmos e
programação.
53 60 SECONDS - Things that happen on internet every sixty seconds. Go-Gulf.com. Jun. 2011. Disponível em: http://bit.ly/iRQItd. Acesso jan. 2012.
53
Figura 16. Número de interfaces criadas na Web a cada 60 segundos
Jornalismo de Internet
A Web mudou a forma pela qual o Jornalismo vinha sendo praticado até o
começo dos anos 1990. É verdade que desde a criação da Internet pelos Estados
Unidos, em 1969, já havia iniciativas isoladas como as da rede inglesa BBC e o
jornal The New York Times, que deram inicio às primeiras experiências de
transmissão de informação pela rede (ver p. 30).
Mas o potencial do Jornalismo da rede mundial de computadores foi, de
fato, percebido quando o mundo conectou-se à rede, em 1995, para acompanhar o
atentado a um prédio do governo de Oklahoma City. O responsável pela morte de
168 pessoas, o terrorista Timothy McVeigh, foi executado em 2001 em Terre
Haute, Indiana54.
Na época, foram incluídos na rede comunicados da Casa Branca, fotos dos
estragos, lista de vítimas e reportagens atualizadas sobre a tragédia. O serviço
Newsday, do Prodigy publicou um mapa com a localização do atentado, uma
54 MOHERDAUI, 2007.
54
matéria da agência Associated Press e uma descrição gráfica dos tipos de bombas
usadas em ataques terroristas55. No Brasil, a Guerra de Kosovo incluiu o país na
cobertura da rede. Na época, foi considerada a Guerra da Internet:
A Guerra do Golfo, no início da década, marcou o apogeu da cultura televisiva. O mesmo tinha ocorrido com a Segunda Guerra Mundial em relação ao rádio. Nos ataques a Bagdá, pela primeira vez na história, todos os lances fundamentais do conflito apareciam em tempo real na tela da TV. Podia-se acompanhar cada lance da batalha, como a queda de mísseis, numa espécie de mórbido videogame global. Parecia ser o desenho mais estranho e requintado da guerra neste milênio. Era um engano. O atual confronto no Kosovo experimentava o uso de uma efetiva e moderníssima arma: a Internet. Com o avanço das tecnologias da informação: habitantes de todos os recantos da Terra, de Paris a Luanda, de Tóquio a Ciudad del Leste, puderam participar efetivamente do conflito. À parte dos bombardeios e do deslocamento de tropas, desenvolveu-se uma guerra paralela, democratizada, calcada na difusão caótica de informação e opinião. Qualquer pessoa podia mover seu peão nesse tabuleiro, seja contando sua experiência nas regiões do conflito, seja emitindo suas opiniões ou multiplicando informações. Tratava-se de uma Terceira Guerra Mundial, da qual muitos podiam participar sem se levantar da cadeira do escritório. Cada um esperando se tornar o Davi da história. Dezenas de sites foram criados especialmente para tratar dos assuntos da guerra. Ambos os lados se desdobram para convencer a plateia mundial de suas razões. A ideia era seduzir e arregimentar. Pede-se sempre uma ação positiva de apoio (ou dinheiro) a este ou aquele lado. A jovem iugoslava Lana, por exemplo, escreveu um pungente apelo contra a guerra. Afirma que os sérvios estão sendo atacados injustamente e prejudicados pela ‘guerra das mídias’. Num e-mail que roda o planeta há dias, Lana escreve: ‘talvez estejamos defendendo você. É por isso que o mundo não pode deixar a verdade enterrada em crateras de mísseis Tomahawks’. Note-se que mensagem é um apelo ao mundo (FALCETA JR: 1999 apud MOHERDAUI: 2007, p. 33-34).
Houve outras coberturas de enorme importância, como a divulgação, em
1998, na Web, pelo colunista de fofocas Matt Drugde56 do caso envolvendo o ex-
presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky. Na
época, o relatório Kenneth Starr, com detalhes do caso, derrubou milhares de
servidores em todo o mundo. A americana CNN disponibilizou na rede a íntegra
55 IBIDEM. 56 Para saber mais sobre Matt Drudge, ver: http://bit.ly/1Jxp9V. Acesso jan. 2012.
55
das gravações em áudio (37 fitas com 22 horas) de uma conversa entre Monica e
sua amiga Linda Tripp na qual contava sua história com Clinton57.
A outra foi o atentado às torres gêmeas, em 2001. Conhecida como a Terça-
feira Negra - matou milhares de pessoas e paralisou o país. O ataque terrorista
também congestionou a Internet. Interfaces noticiosas chegaram a ficar fora do ar
por mais de duas horas.
Somente nos EUA, 30 milhões de pessoas tentaram se conectar a rede para
enviar mensagens por e-mail ou programas de comunicação instantânea. Para os
padrões daquele ano, esse número representava um terço a mais do que o tráfego
normal.
No dia anterior ao ataque, a média de tempo de conexão ficou em 5,5
segundos. No dia 11 de setembro, saltou para 12,9 segundos58. Isso fez com que a
Web voltasse à interface de seus primeiros anos: tela com fundo branco e links.
CNN, MSNBC e USA Today alteraram seus designs para facilitar a busca por
informações. A CNN, por exemplo, excluiu fotos, vídeos e áudio para reduzir o peso
da interface de 255 KB (kilobyte) para 20 KB (kilobyte)59.
Figuras 17 e 18. Interfaces da CNN em 11 de setembro de 2001
57 MOHERDAUI, 2007, p. 64-65. 58 IBIDEM. 59 IBIDEM.
56
De eventos isolados, a cobertura em tempo diferido60 passou a integrar o
cotidiano das redações de Internet. Acompanhar um evento e transmiti-lo a
bilhares de pessoas reforçou um dos traços do Jornalismo já praticado em rádio e
tevê, mas que se amplificou na rede, com atualização contínua - desde jogos de
futebol a eventos de repercussão internacional.
É o que Richard Grusin e David J. Bolter chamaram de hypermediacy. Ao
contrário da tevê, cujo objetivo é fazer o telespectador vivenciar os fatos ao vivo, a
Internet, especialmente com a contribuição das redes sociais, o faz participar dos
fatos:
A hipermediação na década de 1990 foi marcada pela proliferação de mediação ou pela fragmentação e multiplicidade - o design gráfico da revista Wired, a área de trabalho, janela ou tela de TV, ou o estilo audiovisual de vídeos da MTV e comerciais de TV. No boom de TI da década de 1990, a proliferação de novas formas de mídia e tecnologias e um espaço de tela cada vez mais hipermediada foram entusiasticamente comemorados junto com os IPOs, fundos de capital de risco, e ações do Vale do Silício (GRUSIN: 2010, p. 2).
Aliás, a Terça Negra mudou a forma pela qual governo e mídia se
relacionavam com os americanos. Se antes de 11 de setembro de 2001,
predominava a remediação (representação de uma mídia em outra) baseada em
immediacy (imediação), cuja tevê era o ponto central, e hypermediacy
(hipermediação), com a Internet à frente da divulgação de informação, agora a
premediation é o modo de comunicação utilizado para antecipar o que acontecerá
no futuro.
Os EUA aplicaram essa lógica ao anunciar a invasão ao Iraque, em março de
200361.
60
O tempo no Jornalismo está dividido em cinco momentos: a) tempo do acontecimento do fato; b) tempo da produção, incluindo análise e reação em relação ao fato ocorrido; c) tempo da distribuição; d) tempo da circulação; e) tempo da leitura. (MOHERDAUI: 2005, p. 78). 61 U.S. LAUNCHES cruise missiles at Saddam. In: CNN. Mar. 2003. Disponível em: http://bit.ly/kXlxCF. Acesso jan. 2012.
57
A premediação tomou uma forma fundamentalmente americana nos anos imediatamente após 9/11, quando os Estados Unidos procuraram tentar certificar-se de que o público americano nunca havia experimentado um evento catastrófico de grande escala que não tivesse já sido premediado. Em certo sentido, o evento de 9/11 pode ser visto como um marco do fim do desejo tecnocultural pelo imediatismo alimentado pelo dot.com e a histeria da realidade virtual dos anos noventa e substituíram-no por um desejo de uma nação (ou talvez um mundo) em que o imediatismo da catástrofe, o imediatismo do desastre, não pode acontecer novamente - porque seria sempre já premediado (IBIDEM, p. 12).
Ainda que os atentados às torres gêmeas e ao Pentágono tenham alterado
significativamente a cultura da mediação, o fato é que immediacy e hypermediacy
ainda fazem parte do formato e das práticas jornalísticas na Internet.
Os chamados portais e sites jornalísticos operaram nessa dinâmica da
metade dos anos 1990 até o final dos anos 2000, quando as redes sociais passaram
a ser uma alternativa na busca de informações atualizadas constantemente. Mais
especificamente, desde a morte de Michael Jackson, em 2009.
A notícia foi publicada pelo TMZ, que cobre celebridades na Internet (Web e
aplicativo), mas ganhou as redes sociais porque a imprensa passou a questionar a
credibilidade do TMZ 62 e também por causa da repercussão entre os fãs. A não
confirmação da morte do ídolo por poucas horas derrubou Google e Twitter63.
Antes, o jornal Los Angeles Times64 informou que o cantor havia sido internado às
pressas.
Outro importante evento foi a posse do presidente Barack Obama, também
em 2009. Realizado a partir de uma parceria entre a rede de tevê americana CNN e
62 http://bit.ly/5Rma2. Acesso jan. 2012. 63 NOTÍCIA DA morte de Michael Jackson derruba Google e Twitter. G1, São Paulo, 26 jun. 2009. Disponível em: http://glo.bo/BWWur Acesso jan. 2012. 64 http://lat.ms/b6Vqf1. Acesso jan. 2012.
58
o Facebook, de Mark Zuckerberg, milhares de pessoas puderam acompanhar e
comentar ao mesmo tempo tudo o que acontecia em Washington65.
Depois, outras ações consolidaram definitivamente as redes sociais como
uma das principais fontes de notícias, senão a principal. Porém, somente em 2011,
o terremoto no Japão, os movimentos no Oriente Médio contra ditaduras e a morte
de Osama Bin Laden66 reforçaram a mudança de paradigma no Jornalismo
mundial.
Entretanto, há que se considerarem diferenças tecnológicas entre o papel e
a Internet. Ainda que a tecnologia não determine a produção jornalística na rede,
mas a possibilite, há limitações como as registradas na cobertura do atentado aos
EUA. Enquanto um grande número de acessos derrubava servidores mundo afora,
os jornais de papel não tiveram seus processos produtivos alterados. Circularam
no dia seguinte, alguns até em edição extra.
Não há hipótese de um congestionamento em servidores derrubar a edição
de um telejornal, de um programa de rádio ou a publicação de um jornal ou uma
revista. Não se tem notícia de um jornal enviado à gráfica chegar ao leitor sem foto
para não sobrecarregar a página. Ou de um telejornal ir ao ar sem vídeo ou áudio
porque a conexão fora interrompida.
65 A POSSE de Obama e a experiência de compartilhamento nas redes sociais: o caso CNN.com Live + Facebook. Intermezzo, São Paulo, 21 jan. 2009. Disponível em: http://bit.ly/kXH06o. Acesso jan. 2012. 66 http://bit.ly/kdsAty. Acesso jul. 2011.
59
Figura 19. Cobertura da posse de Barack Obama no Facebook via CNN
Porém, a grande mudança é a possibilidade de ir além da reprodução de
metáforas analógicas convencionais, de a Web implodir a interface impressa. Este
tema discutido no próximo tópico.
Bem além do papel
Por causa da Web, pesquisadores elaboraram tipologias para definir
conceitos, nomenclaturas, história e características do Jornalismo praticado na
Internet (SALAVERRÍA: 2005; MIELNICZUK: 2003; SAAD: 2003; BARBOSA: 2002;
MACHADO: 2000; DEUZE: 2001; PAVLICK: 2001; WOLK: 2001; SILVA JÚNIOR:
2000; PALACIOS: 1999; ARMAÑANZAS: 1996).
Há vários estudos para propor narrativas específicas (FERRARI: 2007;
NOCI; SALAVERRÍA: 2003; PAUL: 2005; MCADAMS: 2005; MURRAY: 2003,
LANDOW: 1995), gêneros (SEIXAS: 2009; BOGOST et al: 2010), design (CAIRO:
2007; HARROWER: 2002; BRINGHURST: 2004; GARCÍA: 1997; NIELSEN: 2000; DE
PABLOS, 1999), sistemas de publicação (SCHWINGEL: 2008; GILMOR: 2004) e
analisar as funções do usuário e aferição de acesso (BOCZKOWSKI: 2004,
MOHERDAUI: 2005), entre outros.
60
Das diversas nomenclaturas para denominar o Jornalismo de Internet, as
mais utilizadas são: Webjornalismo, definido por Luciana Mielniczuk (1998) como
a produção de conteúdo exclusivamente para a Web, e Jornalismo Digital, de Elias
Machado (2007), pois engloba o WWW e outros dispositivos de conteúdo como,
por exemplo, celulares e tablets.
Também é denominado Jornalismo Multimídia, pois implica a possibilidade
da manipulação conjunta de dados digitalizados de diferentes naturezas: texto,
som e imagem. Javier Días Noci (2001), da Universidade do País Basco, defende
Jornalismo Eletrônico Multimídia Interativo, embora considere que são produtos
informativos jornalísticos dedicados à informação atual elaborada e publicados
conforme regras estabelecidas da profissão e geralmente por empresas de
comunicação que apostam na Internet como principal negócio67.
Outros pesquisadores como Helder Bastos preferem Jornalismo Eletrônico,
cujo campo se estende às nominações Jornalismo Digital e Jornalismo On-Line.
Trata-se de uma fórmula: JE = JO + JD. A justificativa, segundo Bastos, é a de que
integrada às práticas do Jornalismo Assistido Por Computador (CAR, sigla em
inglês) está a pesquisa de Internet, classificada por ele como Jornalismo On-Line.
A proposta do autor refere-se a pesquisas realizadas em redes nas quais a
informação circula em tempo diferido e cujo objetivo é a apuração jornalística
(busca de conteúdos, recolhimento de informações e contato com fontes). Essas
possibilidades de disponibilização de informações na rede são denominadas
Jornalismo On-Line, já desenvolver e disponibilizar produtos é Jornalismo Digital68.
André Lemos, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da
Bahia (Facom/UFBA), o definiu como ciberjornalismo por ser o “lugar onde
estamos quando entramos em um ambiente virtual e como o conjunto de redes de
computadores interligadas ou não, em todo o planeta (BBS, videotextos,
67 MOHERDAUI, 2007, p. 119, 120, 121. 68 IBIDEM.
61
Internet)69. É o que Mielniczuk chama de jornalismo praticado no ciberespaço (ver
quadro abaixo).
Tabela 1. Nomenclaturas
Nomenclatura Definição
Jornalismo eletrônico Feito com equipamentos e recursos eletrônicos
Jornalismo Digital ou Multimídia Emprega tecnologia digital (dados viram bits)
Ciberjornalismo Envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço
Jornalismo On-Line Desenvolvido com tecnologias de transmissão de
dados
Webjornalismo Diz respeito a uma parte específica da rede: a Web
Jornalismo de Internet Jornalismo produzido para a Internet das Coisas
Até pouco tempo atrás, fazia sentido nomear as práticas jornalísticas na
rede segundo a lógica dos autores citados acima, como Luciana Mielniczuk, Helder
Bastos, Días Noci e Elias Machado.
Esta pesquisadora utilizou o termo Jornalismo Digital, proposto por
Machado até meados de 2010 em artigos, no livro Guia de Estilo Web – Produção e
Edição de Notícias On-Line (2007), na dissertação de Mestrado (2005), defendida
na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA), e
no projeto desta tese. Para o autor, a designação on-line restringe a produção na
rede e não contempla todas as especificidades da rede.
A definição de Machado é coerente do ponto de vista da compreensão do
todo, da própria concepção de Digital70. Pois, por meio dos sistemas de publicação
disponíveis no mercado, é possível empacotar informações para serem
distribuídas em diversas plataformas.
São elas: SMS (mensagem de texto curta), podcast (formato de arquivo
padronizado mundialmente para distribuição automática de áudio, vídeo e texto),
MMS (serviço de mensagem multimídia), Moblog (blog atualizado pelo celular), RSS
(um formato de entrega de conteúdo pela Internet), Newsletters (boletins
69 IBIDEM. 70 Para saber mais sobre digital, ver: http://bit.ly/qEU0TK. Acesso jan. 2012.
62
informativos), Newsalerts (alertas de notícias), programas de comunicação
instantâneos, como Skype, e redes sociais, como Facebook e Twitter, e tablets.
Porém, com a computação ubíqua e a Internet das Coisas, essa
nomenclatura deixa de fazer sentido. Se o ciberespaço é agora aqui e os
dispositivos estão permanentemente conectados, o mais adequado é repensar a
própria definição de Jornalismo atrelada aos suportes71 que o compõem.
Que Jornalismo é esse produzido para a Internet das Coisas em um ambiente
de computação ubíqua? Como é a sua interface? De que maneira a interface
reconfigura o Jornalismo? Por enquanto, a denominação mais coerente é
Jornalismo de Internet. O termo será utilizado ao longo desta tese.
José Marques de Melo, um dos mais importantes pesquisadores no Brasil
definiu o Jornalismo como um processo social que se articula a partir da relação
(periódica/oportuna) entre organizações formais (editoras/emissoras) e
coletividades (públicos/receptores), por meio de canais de difusão que asseguram
o trânsito de informações por causa de interesses e expectativas (2003, p. 17).
Opera por meio de estratégias de noticiabilidade.
Não apenas àquelas que se referem à definição do que é notícia, mas
também às que moldam a interface da notícia. (WOLF: 2002, p. 195-196). Na rede,
Jornalismo e interface vão além dessas concepções. O fazer jornalístico será
detalhado mais adiante. Notadamente sobre a interface e para entender como ela é
constituída, é preciso porém voltar um pouco no tempo.
Design gráfico faz a diferença
71 No dicionário Houaiss, suporte é definido como: base física (de qualquer material, como papel, plástico, madeira, tecido, filme, fita magnética etc.) na qual se registram informações impressas, manuscritas, fotografadas, gravadas etc. Ou num computador, material (disco, fita magnética etc.) destinado a receber a informação.
63
Na década de 1970, empresas jornalísticas dos Estados Unidos passaram a
ter um maior interesse em design gráfico. Interesse que tomou conta das redações
de jornais americanas – da pequena à grande imprensa -, e se manifestou de
diferentes maneiras, sobretudo pela revisão dos conceitos sobre como apresentar
informação ao leitor e pelo início da discussão sobre o tema.
Daquele ano em diante, o design gráfico começou a ocupar um espaço
significativo nos projetos editoriais, marcado pela criação de dois seminários no
American Press Institute, em Reston, Virgínia, que contou com um grupo de
jornalistas gráficos, liderados por Roger Fidler, da Knight-Rider Newspapers,
Robert Lockwood, do Allentown Morning Call, e Richard Curtis, do Baltimore News
American, para criar, em 1979, a Society Newspapers Design (SDN)72.
Esse grupo publicava o Journal of Newspaper Design. Fidler também editou o
livro Newspaper Design Notebook, um guia para jornalistas e designers com estudos
de casos sobre redesenhos de jornais. Um dos nomes mais expressivos da SND é
Edmund Arnold73 (1913-2007).
Considerado o pai do design moderno de jornais, Arnold revolucionou o
conceito de projeto gráfico nos anos 1960, e as mudanças por ele implementadas à
época se tornaram padrão no mundo todo. Com mais de 40 anos de carreira,
passou por importantes redações, como Chicago Tribune, Christian Science Monitor,
Newsday, New Orleans Times-Picayune, Boston Globe, Toronto Star, Kansas City Sta,
National Observer, publicado pela Dow Jones's e fechado em 1977.
Responsável pela reformulação de mais de 250 diários, o tipógrafo
introduziu o espaço entre elementos relacionados nas páginas e ganhou
notoriedade entre os publishers pela qualidade de seu traço, valorizando texto, com
72 Para saber mais sobre a SND, acessar o endereço. http://bit.ly/16ig1K. Acesso jan. 2012. 73 Para saber mais sobre Edmund Arnold, ver BERNSTEIN, A. Edmund Arnold, 93; Designed Newspapers. The Washington Post, EUA, 9 fev. 2007. Disponível em http://wapo.st/pOLEOc. Acesso jan. 2012.
64
o aumento dos tipos, e imagens, com a reorganização do layout, pois defendia que
as fotos tinham de contar história e não serem publicadas como adereços.
Também foi Arnold o responsável pela modulação dos textos, em vez de
publicar matérias em colunas extensas, e pela redução da diagramação de oito para
seis colunas.
Outro profissional expressivo na área é Peter Palazzo (1926-2005), da
Palazzo and Associates, responsável pelo redesenho do Sunday New York Herald
Tribune, que circulou nos Estados Unidos até 1966. A organização das capas com
espaços em branco, uso de grandes fotos e arte e a divisão do conteúdo em
editorias causaram grande impacto no mercado.
O trabalho de Palazzo foi considerado como vanguarda no início da década
de 1960. Sua importância foi tamanha que ajudou a criar a disciplina de design de
jornais nas universidades.
Os novos padrões influenciaram jornais como o The New York Times,
caracterizado pelo constante uso da cor cinza e pela primeira página carregada de
massa textual74. No início dos anos 1970, o Times mudou o conceito gráfico,
diminuiu a diagramação para seis colunas e redesenhou a capa e as páginas
internas, o que lhe conferiu o crédito de jornal mais moderno daquela década.
Na esteira do Times, também ganharam novos contornos Newsday, Louisville
Courier-Journal, Today, The Christian Science Monitor e Minneapolis Tribune. De
olho no comportamento dos leitores, os jornais – mesmo os pequenos – passaram a
ter cadernos semanais sobre variedades, esportes, moda e lazer, conforme explica
o designer Mario Garcia em seu Contemporary Newspaper Design – A structural
approach:
74 Para conhecer mais páginas do The New York Times impresso, consultar TimesMachine, disponível em: http://nyti.ms/dgjQ3. Acesso jan. 2012.
65
Como os leitores adquirem novidades e estilos de vida mais diversificados, os jornais são forçados a buscar meios para atender a este público cujos interesses especiais caminham da moda para o lazer, esportes e comida. Mesmo os mais modestos jornais incorporaram seções semanais como parte de sua pauta normal (1981, p. 3).
Figura 20. Sunday Tribune, 196075, redesenhado por Peter Palazzo
Orientado pelas novas tendências, o Chicago Tribune reorganizou suas
editorias e incorporou cadernos especiais não apenas nos finais de semana, mas
diariamente. O Dallas Morning News criou Fashion!Dallas, que circulava as quartas-
feiras com cor na capa, ênfase em fotografia e arte, combinando anúncios e
conteúdo editorial de modo atraente e efetivo, sob o lema: “The design is the key to
the success of Fashion Dallas!”.
75 Reprodução do livro Contemporary newspaper design – a structural approach (GARCIA:
1981, p. 2).
66
O objetivo do jornal era apresentar grande variedade de informação, fotos e
arte, dispostos graficamente em cada página. Todas essas mudanças
implementadas valorizaram um novo profissional, sobretudo nas grandes
redações: o designer gráfico. Mario Garcia destaca a importância dos anos 1970
para a grande imprensa americana:
A década de 1970 deu um impulso para melhorar o projeto gráfico de jornal - mas que normalmente era mais significativo para grandes jornais ou jornais com designers treinados como parte de suas equipes. Isso é suscetível a fim de alterar o futuro, para diários e semanários mais modestos começarem a descobrir os efeitos benéficos do projeto em suas publicações (IBIDEM, p. 3).
Entretanto, rever conceitos e alterar totalmente a noção de organização de
um jornal não é tarefa das mais fáceis. É preciso não dissociar o projeto gráfico do
projeto editorial, nas palavras de Mario Garcia76 (loc. cit.), cuja marca aparece
atualmente nos redesenhos dos principais jornais do mundo: "Essas seções
especiais exigem os maiores talentos e habilidades em termos de tipografia e de
design, bem como de conteúdo".
Muitos jornais passaram a adotar estratégias de design gráfico para criar
uma identidade visual em suas páginas. Dos tradicionais, o Baltimore News
American saiu com uma inovadora mistura de tipos, arte e fotos, e o Boston Herald
American modernizou a primeira página. O Washington Star optou por uma
mudança drástica em suas páginas, especialmente nas internas, ao adotar um
design baseado efetivamente em revistas.
Se os anos 1970 foram marcados pelo alto grau de influência dos elementos
de design nas redações, os anos 1980 forneceram razões para essa solidificação,
até os dias atuais. Entretanto é preciso ponderar que tais mudanças aconteceram
após o surgimento dos primeiros diários, em 165077.
76 Os projetos do designer Mario Garcia estão em: http://bit.ly/yUU88. Acesso em jan. 2012. 77O primeiro jornal diário publicado foi Einkommende Zeitug, em 1650 na Alemanha. O Daily Courant se manteve até 1735. Os primeiros diários franceses surgiram em 1777 para surgirem em Paris. A impressão nasceu em 1438 e ganhou difusão na segunda metade do século XV. A imprensa periódica só nasceu mais de um século e meio após a invenção da tipografia, tendo sido um verdadeiro florescimento de escritos de informação dos mais diversos. Desde o século XVI, pelo
67
A primeira página do The New York Times, de 1864, era diagramada com
textos distribuídos em seis colunas e a manchete ocupando o lado esquerdo
superior da página, escrita em uma linha e em uma coluna. Não havia imagens, arte
ou gráficos e a impressão era feita em preto e branco. Já capa do Times, de 1980,
aparece diagramada em seis colunas, com três fotos coloridas em destaque e
manchete com tipos grandes de centralizada ocupando quatro colunas.
Figura 21. NY Times, 1860 Figura 22. NY Times, 198078
Ainda que tenha levado muito tempo para incorporar o design ao
Jornalismo, ou para que o design surgisse para o Jornalismo, guardadas as
restrições econômicas, tecnológicas e culturais, não se pode negar que resultou em
uma mudança completa de paradigmas e de práticas nas redações, sobretudo
porque os novos formatos adotados se tornaram padrão mundial.
Nesse sentido, não é sem razão que o estudo da interface dos jornais de
Internet tem, obrigatoriamente, que revisitar os métodos de criação e de produção
menos, as notícias já tinham se tornado verdadeira mercadoria. In: TERROU, A. História da Imprensa; tradução de Edison Darci Heldt. São Paulo: Martins Fontes, 1990. 78 GARCIA: 1981, p. 4-5.
68
utilizados largamente por profissionais como Edmundo Arnold e Peter Palazzo,
pois algumas das lições passam pelo entendimento do meio, da sua relação com o
leitor e da sua abrangência.
Metáfora é o ponto de partida
Tal análise é importante, pois mostra que no caso da Web, as empresas
jornalísticas deram um passo atrás: a nova plataforma de publicação, projetada
para repensar os modelos analógicos em vigor, simula o papel, nas palavras de Ted
Nelson (2001), com diagramação em colunas, predomínio de texto e pouco uso de
recursos multimídia e do potencial de criação da interface gráfica da Internet79.
O que foi considerado design gráfico de vanguarda no jornalismo impresso
há mais de 40 anos hoje é praticamente transposto para a rede, apesar de a
Internet ser uma nova forma social que produz uma nova prática social e, por isso,
possibilita ações especificas (ECHEVERRÍA, 1999; CASTELS, 1999). Isso acontece
porque os designers levaram a experiência da mídia impressa para a rede:
(...) Muitos deles foram treinados como designers gráficos para impressão, e eles compraram as habilidades e suposições de design gráfico para a Web. Eles sabiam como usar conjuntamente palavras e imagens para se comunicar no espaço bidimensional da página impressa. Eles entenderam que um site poderia funcionar como um jornal ou uma revista em função das comunicações de forma visual. Alguns designers se tornaram Web Designers, porque eles foram atraídos pelo potencial desta nova forma de comunicar (BOLTER e GROMALA, 2003. p.6).
Outra questão importante que se coloca é a de que designer nem arquiteto
da informação podem ter uma visão estruturalista da interface; forma e conteúdo
não podem ser separados (veja nas próximas páginas comparação entre versões
impressa e de Web da Folha de S.Paulo).
79Para saber mais sobre interfaces noticiosas na Web, acessar Contra a clicagem burra, disponível em: http://bit.ly/mP6xcC Acesso em jan. 2012.
69
Jay David Bolter e Diane Gromala (op. cit., p.3-6) afirmam que o erro de
Jakob Nielsen e Donald Norman, da Nielsen Norman Group
(http://www.nngroup.com) é assumir que a única meta é tornar a interface
transparente, quando na realidade o ideal é estabelecer um ritmo apropriado entre
ser transparente e reflexivo. Eles julgam incorreto achar que o melhor design é
claro, simples e natural.
Pense na tela do computador como uma janela que se abre para um mundo visual que parece estar por trás ou além dela. Este é o mundo de informações que o computador nos oferece. Textos, gráficos, imagens digitalizadas e som. Concentrando-se no texto ou nas imagens, o usuário esquece a interface (menus, ícones, cursor), e a interface se torna transparente. Especialistas de HCI (human-computer interface) e alguns designers falam como se esse fosse o único objetivo do design de interface: montar uma janela transparente para um mundo de informação (Op. cit., p. 26).
Aliás, para Bolter e Gromala, Tim Berners-Lee e Mark Andreessen são
estruturalistas e assim também o são suas criações Web e Mosaic
(respectivamente).
Figuras 23, 24, 25. Reprodução das capas da versão impressa do Caderno de Esportes da Folha da Copa de 2006
70
Figuras 26, 27, 28. Reprodução das interfaces do caderno de Esportes da Folha na Internet da Copa de 2006
Porém, num contexto de Internet das Coisas, a ideia de ser reflexivo e
transparente precisa ser reavaliada. Do modo como é definida, restringe-se apenas
à tela do computador. Talvez esse pensamento reflita a cultura da página estática
ao contrário da Internet das Coisas, que pressupõe uma interface que, no limite, é
vestível (ver p. 47).
Na década de 1940, o computador era visto como uma enorme máquina de
calcular, projetada por Alan Turing, para resolver problemas de engenharia e
ciência. Mesmo quando Ted Nelson cunhou o termo hipertexto ainda era percebido
como máquina. Apenas em 1968, o computador passa a ser denominado como
mídia/meio. A definição aparece pela primeira vez no artigo The Computer as a
Communication Device, de J.C.R. Licklider (1915-1990) e Robert W. Taylor80:
Podemos dizer com toda a convicção que uma forma particular de organização do computador digital, com seus programas e seus dados, constitui o meio dinâmico, moldável que pode revolucionar a arte de modelagem e que, ao fazê-lo, pode melhorar a eficácia da comunicação entre as pessoas tanto como, talvez, para revolucioná-la também. (1968, p. 27).
Em seu artigo, Licklider e Taylor (op. cit., p. 21) defendiam que a
comunicação não podia se restringir apenas ao envio e recebimento de
informações, sobretudo em um momento em que a tecnologia avançava e permitia
80LICKLIDER; TAYLOR. 1968.
71
ao leitor interagir com a informação, não de modo passivo, como acontecia, ao ler
livros comprados em livraria, por exemplo, mas como participantes ativos num
processo continuado. Naquela época, os pesquisadores já pensavam a comunicação
como um dispositivo todos-todos (LÉVY, 1999, p. 63).
Com o advento da Web, o computador começou a representar e reconfigurar
formatos culturais existentes (BOLTER e GROMALA, op. cit., p. 12) por meio da
tecnologia, como jornais, revistas, filmes e tevê. Nesse sentido, para Jay David
Bolter e Diane Gromala, o projeto gráfico passaria pelas seguintes noções: a) o
computador tornou-se um novo meio; b) o design, como artefato, muda para o
design como experiência; e c) o design para Internet não pode ser invisível.
A interface é a mensagem
Porém se é verdade que projetos com o Six Sense, do Media Lab, do MIT,
serão realidade e farão parte do cotidiano do cidadão comum, a interface
transforma-se em um meio.
Nesse sentido, a interface passa a ser a mensagem porque é ela que
“configura e controla a proporção e a forma das ações e associações humanas”.
(McLuhan: 1964, p. 23). De que maneira se dá essa compreensão? Escreveu
Marshall McLuhan em Os meios de comunicação como extensão dos homens:
A luz elétrica é informação pura. É algo assim como um meio sem mensagem, a menos que seja usada para explicar algum anúncio verbal ou algum nome. Este fato, característico de todos os veículos, significa que o conteúdo de qualquer meio ou veículo é sempre outro meio, ou veículo. O conteúdo da escrita é a fala assim como a palavra escrita é o conteúdo da imprensa, e a palavra impressa é o conteúdo do telégrafo (MCLUHAN: 1964 p. 22).
A mensagem de qualquer meio ou tecnologia é a mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas coisas humanas. A estrada de ferro não introduziu movimento, transporte, roda ou caminhos na sociedade humana, mas acelerou e ampliou a escala das funções humanas, criando tipos de cidades, de trabalho e de lazer totalmente novos. O avião, de outro lado, tende a dissolver a forma “ferroviária” da cidade, da
72
política e das associações, independentemente da finalidade para o qual é utilizado (IBIDEM, p. 22-23).
Se aplicado à Internet, o conceito mcluhaniano cabe perfeitamente à
interface. Ou seja, a interface é o conteúdo do computador assim como a linguagem
visual híbrida – remix de softwares e formatos - (MANOVICH: 2008, p. 102) é o
conteúdo da interface. Ao implodir a página impressa, a interface instituiu uma
nova linguagem.
Se pensada do ponto de vista da Internet das Coisas, fica mais claro o
entendimento. Escreveu McLuhan: “O efeito de um meio se torna mais intenso
justamente porque o seu conteúdo é outro meio. Nenhum meio existe sem
depender do outro” (1964, p. 33-42). Isso faz rever as noções de Bolter e Gromala
citadas no parágrafo anterior, destacadas no quadro na página a seguir:
Tabela 2. Computador e interface, ontem e hoje
Ontem Hoje
Computador tornou-se um novo meio Interface tornou-se um novo meio
Design como artefato muda para design como experiência
Design como artefato muda para design como experiência
Design para Internet não pode ser invisível. Design para a Internet é vestível
Partindo do pressuposto de que a interface é a mensagem e que o usuário
não apenas opera, mas interage com ela, a lógica do design gráfico na Internet é a
de que o projeto tem que ser elaborado para ser experimentado e não
simplesmente utilizado. Pois a condição da informação na rede é a ação (BOLTER
e GROMALA, op. cit., p. 24, MANOVICH, 2001, p. 227). Isso exige que a interface seja
dinâmica e não uma série de telas estáticas como pode ser observado atualmente.
Há alguns caminhos para se entender esse raciocínio: a neurociência, na
visão de Miguel Nicolelis, e a arte digital, proposta por Bolter e Gromala. A
contribuição da arte digital ao Jornalismo será explicada no último capítulo. A
neurociência pode explicar de que forma o chamado wetware humano, uma
abstração que incorpora o sistema nervoso central e a mente; reconfigura não só a
relação homem-máquina, mas também o padrão do Jornalismo em vigor.
73
Para Nicolelis, não demorará muito para que as pessoas deixem de usar
monitores, teclados e mouse. Ele acredita que o computador convencional deixará
de existir. “Vamos submergir em sistemas virtuais e nos comunicaremos
diretamente com eles. No longo prazo, o corpo deixará de ser o fator limitante da
nossa ação no mundo” (2011).
Não estão longe de se tornarem realidade os cenários apresentados pelo
neurocirurgião em seu novo livro “Muito além do nosso eu” (2011). Pioneiro no
estudo de interações entre cérebro e máquina, Nicolelis realiza pesquisas com
macacos em seu laboratório na Universidade Duke, o Duke´s Center For
Neuroengineering. Eles aprenderam a utilizar um paradigma neurofisiológico
revolucionário chamado interfaces cérebro-máquina (ICM).
Com várias ICMs, a equipe de Nicolelis em Duke foi capaz de demonstrar
que os macacos podem aprender a controlar, voluntariamente, os movimentos de
artefatos artificiais, como braços e pernas robóticos, localizados próximo ou longe
deles, usando apenas a atividade elétrica de seus cérebros de primatas (p.22-23).
Trata-se de uma nova abordagem experimental para ler simultaneamente
os sinais elétricos produzidos por centenas de neurônios que pertencem a um
circuito neuronal. Os experimentos realizados no laboratório do neurocientista
permitiram traduzir pensamentos motores em comandos digitais que puderam ser
aplicados para gerar movimentos em máquinas que foram criadas sem nenhum
intuito de reproduzir a intenção dos pensamentos de um primata.
Era para liberar o cérebro das restrições impostas pelo corpo e, nesse
processo, permitir ao sistema nervoso desses animais controlarem diretamente o
funcionamento de quaisquer ferramentas, como forma de interação e exploração
do mundo ao seu redor apenas por meio do pensamento (IBIDEM: p. 23). A
pesquisa de Nicolelis foi destaque na revista Nature em outubro de 2011.81
81 MONKEY BRAINS 'feel' virtual object. Nature, EUA. 5 out. 2011. Disponível em: http://bit.ly/qd40ye. Acesso jan. 2012.
74
Se a interação entre máquinas e cérebro considera aparelhos (mesmo que
distantes) como parte do homem, é possível pensar o ser humano como máquina
social, pois depende de elementos exteriores para existir como tal. Implica uma
complementaridade não apenas com o homem que a fabrica; ela própria está em
relação de alteridade com outras máquinas, sociais, atuais ou virtuais (GUATTARI:
2008, p. 49-50).
Corpo informacional
Nesse sentido, essa máquina transforma-se em um corpo informacional na
medida em que opera em relação à outra máquina, conectada em rede, agrupando
dados biológicos, sociológicos e econômicos, cujo algoritmo que a comanda coloca
em perspectiva uma nova estética orientada pelo wetware ou input humano.
O input humano ou o wetware já são realidade há muito tempo em clássicos
da ficção cientifica como Johnny Mnemonic (1995),82 Strange Days (1995)83,
eXistenZ (1999)84, Minority Report (2002)85 e Avatar (2009)86, entre outros. Porém,
como algo longe do alcance de todos.
No caso de Avatar, Nicolelis explicou, em entrevista a Globo News, que seis
anos antes de James Cameron fazer o filme sua pesquisa já havia mencionado a
possibilidade de a atividade elétrica do cérebro controlar corpos virtuais e
computacionais, entre outros:
Além da medicina, acredito que em algumas décadas as interfaces cérebros-máquina têm o potencial de ser usadas para aumentar o alcance do ser humano. Por exemplo, em vez de mandar uma pessoa à usina de Fukishima (Japão), você mandaria um robô ou um avatar, controlado a distância por um operador (GLOBO NEWS: 2011). Até imaginar ambientes muito diferentes, ambientes microscópicos, onde você tem que ter uma ferramenta que
82 Para saber mais sobre Johnny Mnemonic, ver: http://imdb.to/ao8Ogy. Acesso jan. 2012. 83 Para saber mais sobre Strange Days, ver: http://imdb.to/NqWQI. Acesso jan. 2012. 84 Para saber mais sobre eXistenZ, ver: http://imdb.to/kLu2T. Acesso jan. 2012. 85 Para saber mais sobre Minority Report, ver: http://imdb.to/6lUzW. Acesso jan. 2012. 86 Para saber mais sobre Avatar, ver: http://imdb.to/2F9Wbq. Acesso jan. 2012.
75
poderia ser controlada por um operador, pelo pensamento de um operador, para realizar funções. Essa hipótese já está sendo aventada. Inclusive, as grandes empresas de computação como Google, Microsoft e Intel já têm divisão de interface cérebro-máquina buscando criar uma nova interface com os nossos computadores (IBIDEM).
Dois exemplos bastante ricos, lançados quase 15 anos antes da estreia de
Avatar, ilustram a questão:
Johnny Mnemonic (1995), do diretor Robert Longo. Ele criou um mensageiro
cibernético, vivido pelo ator Keanu Reeves, que transporta em seu cérebro um
arquivo de 320 gigabytes com a cura para uma doença que assola o ano 2021, a
Síndrome do Enfraquecimento Neurológico (SEN). Na realidade o cérebro de
Johnny é uma espécie de disco rígido de computador, implantado por meio de um
chip.
Figura 29. Cena de Johnny Mnemonic
eXistenZ (1999), do canadense David Cronenberg. No filme, a designer de
games Allegra Geller, interpretada por Jennifer Jason Leigh, cria o console
GamePode, que se conecta ao jogador por meio de um orifício acoplado a sua
coluna vertebral e o transporta para um imaginário de confusões, cujo limite que o
separa da realidade aparece inteiramente borrado, indefinido, e o espectador fica
sem saber se trata-se de um filme dentro do game ou vice-versa.
76
Cronenberg já havia explorado o tema em Videodrome (1982)87, mas
delimitava o imaginário da realidade para fundi-los no corpo do videomaker James
Woods (Max Renn).88
Figura 30. Cena de eXistenZ Figura 31. Cena de Videodrome
Esses filmes colocam em questão a conversão do corpo em um
deslocamento do indivíduo biológico para um novo projeto de corpo (GIANNETTI,
2006, p. 101). Para o artista australiano Stelios Arcadiou (ou Stelarc, como é
conhecido), a microtecnologia utilizada e implantada no corpo permitirá romper
com as fronteiras biológicas:
A pele era, como superfície, o início do mundo e, simultaneamente, o limite do indivíduo. (...) Expandida e penetrada por máquinas, a pele já não é mais a superfície plana e sensível de um lugar ou de uma parede intermediária. O indivíduo se encontra, agora, fora da pele; porém, isso não significa nem uma separação nem uma ruptura, mas uma compreensão da compreensão da consciência. A pele já não representa clausura (STELARC, 1997 apud GIANNETTI, 2006, p. 101).
Fora do ambiente de ficção cientifica, a noção de input humano passou a
fazer parte do nosso cotidiano, sobretudo após a concretização, em abril de 2003,
do Projeto Genoma Humano (PGH), o mapeamento completo dos genes da espécie
humana. Por um lado, há mais dados disponíveis à pesquisa e, eventualmente,
podem ser remodelados.
87 Para saber mais sobre Videodrome, ver: http://imdb.to/qznSI7. Acesso jan. 2012. 88 CRONENBERG vai aos limites da realidade e do delírio em "Spider". Folha de S.Paulo, São Paulo, 6 mar. 2007. Disponível em: http://bit.ly/sxNaLm. Acesso jan. 2012.
77
Por outro lado, existe a ameaça da sociedade de controle (VESNA: 2007, p.
8), também já retratada em filmes de ficção. Isso leva à compreensão de que ser
humano é ser informação (IBIDEM, p. 21-27): "(...) agora, a informação sobre quase
todas as pessoas no mundo desenvolvido é informatizado em centenas de bancos
de dados - coletados, analisados e divulgados por governos e corporações."
Agenciamentos que reconfiguram a interface
Antes, os sistemas estavam restritos ao deslocamento do homem no espaço.
Com a cultura de dados (BERNERS-LEE: 2009), essa vigilância passa a ser realizada
a distâncias microscópicas de identidade pessoal. Não apenas o nome ou os dados
do cartão de crédito, mas o tipo sanguíneo, as propensões biológicas a
determinadas doenças, sobretudo quando aumentar o acesso a mapas genéticos,
responsáveis por determinar riscos de saúde ou de morte.
E com a interface não é diferente. Na realidade, os sistemas de controle já
operam, ainda que de modo invisível, na rede. Google e Facebook são exemplos
disso.
Do ponto de vista do cidadão comum, um dos aspectos positivos é o acesso
aberto a uma gigantesca base de dados, conectada em rede e que permite
agenciamentos (DELEUZE; GUATTARI: 2008, p. 29), típicos de espaços lisos.
O entendimento de agenciamento na obra de Gilles Deleuze e Félix Guattari
está relacionado à produção de subjetividade, ao desejo como construção junto ao
socius. Em Micropolítica: Cartografias do Desejo, Guattari e Suely Rolnik o
definiram para além de estrutura, forma, processo e montagem: “Um agenciamento
comporta componentes heterogêneos, tanto de ordem biológica, quanto social,
maquínica, gnosiológica, imaginária”. (2005, p. 381).
78
O agenciamento remete ao coletivo, não está restrito ao campo social ou a
grupos sociais, mas a uma multiplicidade heterogênea89. Ele se dá por meio da
experiência nômade, em constante deslocamento, dentro de circuitos em fluxo que
operam em circuitos estriados. O agenciamento comporta dois segmentos –
conteúdo e expressão:
(...) Segundo um primeiro eixo, horizontal, um agenciamento comporta dois segmentos: um de conteúdo, o outro de expressão. Por um lado, ele é agenciamento maquínico de corpos, de ações e de paixões, mistura de corpos reagindo uns sobre os outros; por outro lado, agenciamento coletivo de enunciação, de atos e de enunciados, transformações incorpóreas sendo atribuídas aos corpos. Mas, segundo um eixo vertical orientado, o agenciamento tem, de uma parte, lados territoriais ou reterritorializados que o arrebatam (DELEUZE, GUATTARI: 2008).
É por causa do agenciamento coletivo de enunciação que, no âmbito da
Internet das Coisas, a interface é reconfigurada. O agenciamento coletivo
produz subjetividade a partir da enunciação, que produz enunciados em um
contexto sempre coletivo e heterogêneo. Essa subjetividade interfere
constantemente na interface:
Os agenciamentos não cessam de variar, de serem eles mesmos submetidos a transformações. Em primeiro lugar, é necessário fazer intervir as circunstâncias: (...) um enunciado não é nada fora das circunstâncias que o tornam o que é. Alguém pode gritar “decreto a mobilização geral!”. Esta será uma ação de infantilidade ou de demência, e não um ato de enunciação, se não existir uma variável efetuada que dê o direito de enunciar. O mesmo é verdade em relação a “Eu te amo!”, que não possui sentido nem sujeito, nem destinatário, fora das circunstâncias que não se contentam em torná-lo crível, mas fazem dele um verdadeiro agenciamento, um marcador de poder, mesmo no caso de um amor infeliz - é a vontade da potência que se obedece (DELEUZE; GUATTARI: 2008, p, 29).
89 Para Deleuze e Guattari (2004), as multiplicidades não entram em nenhuma totalidade nem remetem a um sujeito. As subjetivações, as totalizações, as unificações, são, ao contrário, processos que produzem e aparecem nas multiplicidades. Os princípios característicos das multiplicidades concernem a seus elementos, que são singuralidades; a suas relações, que são devires; a seus acontecimentos, que são hecceidades (quer dizer, individuações sem sujeito); a seus espaços-tempos, que são espaços e tempos livres; a seu modelo de composição, que constitui platôs (zonas de intensidade contínua); aos vetores que a atravessam, e que constituem territórios e graus de desterritorialização.
79
A subjetividade é produzida por agenciamentos de enunciação. Os processos de subjetivação ou de semiotização não são centrados em agentes individuais nem em agentes grupais. Esses processos são duplamente descentrados. Implicam o funcionamento de máquinas de expressão que podem ser tanto de natureza extrapessoal, extraindividual (sistemas maquínicos, econômicos, sociais, tecnológicos, icônicos, ecológicos, de mídia, ou seja, sistemas que não são mais imediatamente antropológicos), quanto de natureza infra-humana, infrapsiquíca, infrapessoal (sistemas de percepção, de sensibilidade, de afeto, de desejo, de representação, de imagem, de valor, modos de memorização e de produção de ideias, sistemas de inibição e de automatismos, sistemas corporais, orgânicos, biológicos, fisiológicos e assim por diante). (GUATTARI: 2005, p. 39).
Nesse sentido, o agenciamento coletivo de enunciação contribui não apenas
para remodelar a interface, mas para modificar os termos que explicavam os
modelos de comunicação em vigor no século 20 - transmissão, publicação e
recepção - para incorporar, anotar, comentar, responder, agregar, cortar,
compartilhar, recomendar, download, upload (MANOVICH: 2008, p. 226), além do
crowdsourcing.
Os sistemas abertos e as redes sociais foram determinantes para essa
mudança de paradigma. Essa é uma das causas pelas quais cada vez mais pessoas
buscam informação nessas plataformas. Pelas inúmeras possibilidades de não
somente participar, mas alterar o conteúdo.
São os chamados prosumers90 (produtores e consumidores de informação)
ou produsers91 (usuários de ambientes colaborativos que se comprometem com
conteúdo intercambiável tanto como consumidores quanto como produtores.
Fazem o que agora se chama de produsage – produção e uso).
90 O termo prosumer foi cunhado por Alvin Tofler nos anos 1980. In: Wikipedia. Disponível em: http://bit.ly/7h52om. Acesso jan. 2012. 91 Os produsers ocupam a mesma posição de produtor e usuário engajados no ato da produsage, Entre outras palavras, Bruns e Jacobs (2007), apontam que produsers definem os “usuários de ambientes colaborativos que se comprometem com conteúdos intercambiáveis tanto como consumidores quanto como consumidores quanto como produtores: eles fazem o que agora se chama de produsage”.
80
Levantamentos feitos por institutos brasileiros e estrangeiros apontam uma
alta considerável no acesso às redes sociais (apesar de usarem metodologias
diferentes cujos dados não são comparáveis). Em dezembro de 2011, a ComScore
mostrou que 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo acessam Facebook, YouTube,
LinkedIn, Twitter e Tumblr.
A cada cinco minutos de navegação, um é gasto em redes sociais. A curva de
crescimento começa a ser verificada em 2007. Esse número representa 82% do
total de usuários de Internet em todo o mundo calculados na época do
levantamento (1,46 bilhão). Hoje, mais de 2 bilhões estão conectados92.
Figura 32. Aumento do acesso às redes sociais no mundo
No Brasil, pesquisa do Ibope entrevistou 8.651 pessoas (com
representatividade de 25 milhões) no final de 2010 e revelou que cerca de 60%
usam as redes sociais há três anos ou mais. O mesmo percentual afirmou que as
redes sociais têm informação necessária para se atualizarem. Outros 45%
92 http://bit.ly/y3E9Ij. Acesso jan. 2012.
81
afirmaram que as redes sociais substituem informações dos portais de notícias93. O
país tem 77, 8 milhões de internautas94.
Figura 33. Infográfico do Ibope sobre acesso às redes sociais no Brasil
Da mesma forma que o Ibope, a ComScore aponta as redes sociais como
fonte de informação, especialmente o Twitter:
Em 2011, o Twitter foi usado como um meio central de comunicação durante os eventos de importância mundial e nacional, variando de levantes políticos no Oriente Médio a desastres, como o terremoto e tsunami no Japão. Entre os momentos mais tuitados em 2011, de acordo com o Twitter, foram os acontecimentos políticos, como a morte de Osama Bin Laden, momentos comemorativos como o Ano Novo e notícias sobre demissão de Steve Jobs da Apple e seu consequente substituto. O anúncio da gravidez da cantora Beyoncé no Video Music Awards bateu recordes no Twitter com usuários gerando 8,868 tweets por segundo em torno do evento (2011).
Chama a atenção outro dado de 2010, mas pouco difundido: vem caindo o
interesse por portais nos Estados Unidos. Entre 2009 e 2010, o Nielsen Wire
93 A pesquisa foi apresentada no MediaOn, evento que discute jornalismo na Internet. Para assistir a íntegra, ver: http://bit.ly/yPEC6b; http://bit.ly/zaXsKr; http://bit.ly/yobOCq. O download em pdf está disponível em: http://slidesha.re/x26sIn. Acesso jan. 2012. 94 TOTAL DE pessoas com acesso à internet atinge 77,8 milhões. Ibope, São Paulo, 9 set. 2011. Disponível em: http://bit.ly/wUCOoG. Acesso jan. 2012.
82
registrou queda de 19% no tempo que os americanos gastavam acessando portais
– de 5,5% para 4,4%. Já o interesse por redes sociais aumentou 43% no mesmo
período – 15,8% para 22,7%95.
No Brasil, embora o Ibope tenha mostrado em 2010 que as pessoas
incorporaram as redes sociais em seu cotidiano96, um ano depois afirmou que
“portais são absolutamente relevantes e são a referência para o adulto”97. A
ComScore mostra que 97% dos brasileiros estão conectados a redes sociais.
Figura 34. Tempo gasto pelos americanos na Internet
95
WHAT AMERICANS do online: Social media and games dominate activity. Nielsen Wire. 2 ago 2010. Disponível em: http://bit.ly/yuF8Sp. Acesso jan. 2012. 96 Ver nota 75. 97 Levantamento do Ibope exibido no Digital Age em 30 set. 2011. Disponível em: http://youtu.be/Oj6y99b3oN8. Acesso jan. 2012.
83
Tabela 3. Novo paradigma de comunicação
Produção, recepção, distribuição Incorporar, anotar, comentar, responder, agregar, cortar, compartilhar, recomendar, download, upload e crowdsourcing
Produtor Prosumer/produser
Portais/sites Redes sociais
Se há, de fato, um novo modelo comunicacional (conforme quadro acima) e
o principal articulador desse processo é o prosumer (ou produser). Esse produtor
que também é consumidor de informação reorienta conceitos que balizaram o
Jornalismo.
Isso faz necessário repensar as Teorias da Comunicação em torno dessas
novas perspectivas e entender de que maneira a interface é constituída, quais são
as suas implicações éticas e como se dá a validação do conteúdo, temas
aprofundados no próximo capítulo.
84
Capítulo 2
“Não, não, eu não
estou onde você
me espreita, mas
aqui de onde o
observo rindo”
Michel Foucault
85
2. Cultura Power Point
Ponto de vista jornalístico98
Para compreender de que forma a interface reconfigura os conceitos que
orientam o Jornalismo, é preciso revê-lo historicamente. Mais especificamente, em
relação a newsmaking (produção de notícias), gatekeeper (seleção de notícias) e
agenda-setting. O newsmaking compõe os critérios que irão definir o que é notícia e
orientar a hierarquia e a diagramação na página de um jornal ou nas chamadas de
rádio e tevê.
O gatekeeper selecionará quais serão noticiadas pela imprensa. O agenda-
setting lista o que é considerado interesse do público. O Jornalismo é, por definição,
“a profissão principal ou suplementar das pessoas que reúnem, detectam, avaliam
e difundem as notícias, ou que comentam os fatos do momento. O jornalista é quem
está envolvido nesse processo (KUNCZIK: 1998, p. 16).
Juarez Bahia, um dos mais importantes pesquisadores da área de
comunicação, definiu notícia como “o modo pelo qual o Jornalismo registra e leva
os fatos ao conhecimento do público. Noticia é sinônimo de acontecimento,
matéria, dado, verdade, mentira, certeza, dúvida, jornalismo, informação,
comunicação” (1990, p. 35).
É de Bahia a famosa afirmação: “Toda notícia é uma informação, mas nem
toda informação é uma notícia”. Outro estudioso de igual importância, Nilson Lage,
afirma que notícia é contar uma história: “um modo corrente de transmissão da
experiência – isto é, a articulação simbólica que transporta a consciência do fato a
quem não o presenciou” (LAGE: 2001, p 49).
A reflexão sobre o Jornalismo é tradicional nos Estados Unidos desde o
século XIX, embora tenha se intensificado principalmente após o célebre livro 98Parte deste tópico foi escrita a partir do artigo MOHERDAUI, L. As lentes de Barbie Zelizer. Revista Contratempo, Rio de Janeiro, n 14,, 2006, p. 185.199.
86
Public Opinion, de Walter Lippmann, publicado em 1922. Entre 1928 e 1930, o
sociólogo alemão Otto Groth lançou em quatro volumes a obra Die Zeitung (O
Jornal), resultado de um estudo iniciado em 1910 sobre a compreensão do
Jornalismo e suas implicações com a sociedade.
A teoria de Groth baseia-se em atualidade, universalidade, periodicidade e
difusão.
Autores como Jorge Pedro Sousa afirmam que a tese de doutorado do
alemão Tobias Peucer, defendida na Universidade de Leipzig, na Alemanha em
1690, seja a pioneira em Teoria do Jornalismo. Atualmente, o Jornalismo faz parte
da Teoria da Comunicação. Peucer apontou caminhos para a pesquisa e reflexão
que outros autores só começaram a seguir anos mais tarde. As discussões do autor
são temas centrais da teoria contemporânea99.
Para Sousa, os estudos do pesquisador alemão sugerem que a construção da
notícia não é uma invenção anglo-saxônica: “em princípio, toda a notícia deve ater-
se àquelas circunstâncias já conhecidas que se costuma ter sempre em conta em
uma ação tais como a pessoa, o objeto, a causa, o modo, o local e o tempo” (PEUCER
apud SOUSA: 2004, p. 10).
Em 1948, o pesquisador americano Harold Lasswell transformou essas
ações na fórmula para o texto jornalístico. Chamado lead, o primeiro parágrafo
responde às seguintes questões: o quê, a quem, quando, onde, como, por que e para
quê (LAGE: 2001, p. 26-27).
Notam-se as preocupações de Peucer com algumas das questões em torno
das quais se tenta construir atualmente uma Teoria do Jornalismo: os conceitos de
notícia e de jornais; as relações entre Jornalismo e história, a contribuição da
retórica e da evolução histórica para a estrutura das notícias, os critérios de
noticiabilidade e os constrangimentos à produção de informação.
99 SOUSA, 2004, p. 1-5.
87
No inicio do século XIX, o Jornalismo passou a ser o quarto poder e se
confundiu com democracia. Para o escritor e político francês Alexis de Tocqueville,
a soberania dos povos e a liberdade de imprensa são inseparáveis. A teoria
democrática aponta que o Jornalismo deve atuar vigiando os poderes políticos e
protegendo os cidadãos, oferecendo informações à sociedade para que os cidadãos
possam usar e cobrar serviços públicos.
Em 1947, surgiu o conceito de gatekeeper, por Kurt Lewin, a partir de um
estudo sobre as dinâmicas que agem no interior dos grupos sociais, em especial no
que se refere aos programas ligados à modificação dos hábitos alimentares (1947,
p. 145).
Identificando os canais pelos quais flui a sequência de comportamentos
relativos a um determinado tema, Lewin notou que existem neles zonas que
podem funcionar como cancela, como porteiro: o conjunto das forças antes e
depois da zona filtro é diferente de tal forma que a passagem, ou o bloqueio, da
unidade através de todo o canal, depende, em grande medida, do que acontece na
zona de filtro.
Isso ocorre não apenas com os canais de alimentação, mas também com a
sequência da informação, dada pelos canais de comunicação de um grupo. As zonas
de filtros são controladas por sistemas objetivos de regras ou por gatekeepers.
Neste último caso, há um indivíduo ou grupo que tem o poder de decidir se deixa
passar a informação ou se a bloqueia.
Na década de 70, Donald Shaw e Maxwell McCombs, formulam outra teoria
que marca o campo da produção jornalística: o agenda-setting, segundo a qual os
meios de comunicação apresentam ao público uma lista daquilo sobre o que é
necessário ter uma opinião e discutir.
O pressuposto fundamental do agenda-setting é que a compreensão que as
pessoas têm de grande parte da realidade social lhes é fornecida pela imprensa
88
(MC COMBS; SHAW: 1972). É o que Michael Schudson (2003) chamou de efeitos de
informação.
Este período é assinalado também com trabalhos de Gaye Tuchman (1978),
Herbert Gans (1979) e Philip Schlesinger (1978), entre outros. São estudos que
orientam a decisão sobre o que é notícia, as rotinas de classificação e de cobertura
dos acontecimentos, sustentação da objetividade, procedimentos ideológicos não
expressos pelos jornalistas, o chamado newsmaking.
Nem toda informação é notícia
O newsmaking (valores/notícia) é um componente da noticiabilidade. Ele
constitui a resposta à pergunta: quais os acontecimentos que são considerados
suficientemente interessantes, significativos e relevantes para ser transformados
em notícias?
Nessa seleção, os critérios de relevância funcionam em conjunto, em
pacotes, são as diferentes relações e combinações que se estabelecem entre
diferentes valores/notícia que recomendam a escolha de um fato. Os critérios de
noticiabilidade compõem o newsmaking.
Um segundo aspecto geral é que os valores/notícia são critérios de
relevância espalhados ao longo de todo o processo, isto é, não estão presentes
apenas na notícia, mas também na composição da página. Fornecem diretrizes
para apresentação do material, sugerindo o que deve ser prioritário na preparação
das notícias. O newsmaking orienta o trabalho em uma redação e deriva de
pressupostos implícitos ou de considerações relativas (WOLF: 2002, p. 195-196):
• às características substantivas das notícias; ao seu conteúdo (quando
um acontecimento se transforma em notícia);
• disponibilidade do material e aos critérios relativos ao produto
informativo (conjunto dos processos de produção e realização);
89
• ao público (imagem que os jornalistas têm acerca dos destinatários);
• à concorrência (relações entre os mass media existentes no mercado
informativo).
Dezenas de autores sistematizaram critérios de noticiabilidade (STIELER: 1695
apud KUNCIZIK: 1998) BOND: 1959; LIPMAN: 1922; WOLF: 2002; CHAPARRO: 1994;
ERBOLATO: 1991; LAGE: 2001; TRAQUINA: 2001; GROTH apud FIDALGO: 2004) porque
não há espaço suficiente nos veículos de comunicação para publicar todos os
acontecimentos considerados notícia.
Depois de Peucer, em 1965, Kaspar Stieler também estabeleceu valores para as
notícias. Para ele, os jornalistas têm de ser capazes de distinguir entre o que é
importante do que é trivial (KUNCZIK: 1998, p. 242).
Aliás, a organização de uma redação, sobretudo em relação ao perfil profissional,
e a orientação editorial são indicações dos critérios de noticiabilidade que nela vigoram
(WOLF, op. cit. P. 200). Para Michael Schudson, a criação das notícias é sempre uma
interação entre repórter, diretor, editor, constrangimentos da organização, necessidade
de manter os laços com as fontes, desejos da audiência e poderosas convenções culturais
dos jornalistas (apud CORREIA: 1997).
Embora tenham sido listados pela primeira vez em 1965 por Johan Galtung e
Marie Holmboe Ruge, os fundamentos para responder a pergunta: “how do ‘events’
become news’”? (1965, p. 65), Tobias Peucer já os selecionara em 1690. Os critérios de
noticiabilidade de Peucer, Galtung e Ruge não são diferentes dos propostos pelos
teóricos citados anteriormente. Na realidade, são complementares.
De modo geral, resumem-se a: atualidade, importância, proximidade, proeminência
negativismo e audiência.
90
Tabela 4. Critérios de noticiabilidade
Peucer, 1690 Galtung e Ruge, 1965
Casos acontecidos recentemente Frequência, amplitude, clareza, relevância
Fatos históricos mais importantes Conformidade
Temas de interesse público Imprevisão, continuidade
O que é insólito (não é habitual) Referência a pessoas e nações de elite
O que é negativo, como catástrofes Composição
O que se passa com celebridades Personificação
Interesses e desejos da audiência Negativismo
Outro aspecto a ser considerado no Jornalismo é a estreita relação com as fontes.
Estudo de Stanley Cohen e Jock Young intitulado The Manufacture of News (1973)
discute a relação jornalista versus fonte de informação e dá atenção aos contrastes entre
os códigos de conduta e as práticas de cobertura de guerras, crimes, questões e grupos
sociais e destaca a existência de objetivos estratégicos que não se relacionavam
diretamente com os códigos de objetividade e imparcialidade.
A realidade pela lente do Jornalismo
A socióloga americana Gaye Tuchman também tratou dos constrangimentos
organizacionais no trabalho jornalístico em Making News – A study in the construction of
reality. Para Tuchman, há uma enorme diferença entre cobrir um evento e receber
informação. Quanto mais fontes exclusivas um jornal reunir, melhor será o conteúdo
apresentado ao leitor e maior será sua receita (1978, p. 19; 21). Na opinião da socióloga,
a notícia é uma instituição social e enviesada conforme decisão editorial (IBIDEM, p. 4,
23):
91
1) Notícia é um método institucional para tornar informações disponíveis ao
consumidor, que compra o jornal porque tem interesse no conteúdo;
2) Notícia é uma aliada das instituições legitimadas: um secretário de Estado
pode fazer circular uma informação na mídia;
3) Notícia é localizada, apurada e disseminada por jornalistas que trabalham
em empresas. Portanto é um produto resultado das práticas estabelecidas pela
organização a qual pertence e essas práticas incluem associação com instituições cujas
informações são rotineiramente divulgadas na imprensa.
Muito tempo se passou antes de se chegar às quatro características dos jornais
modernos: 1) publicidade; 2) atualidade (ou seja, informação que se relaciona com o
presente e o influencia); 3) universalidade (sem excluir nenhum tema) e 4)
periodicidade (distribuição regular). Já no século XVI os assuntos maravilhosos e
assustadores atraíam o maior interesse dos editores100.
Os primeiros jornais a aparecerem com regularidade na Alemanha datam do ano
de 1609: Aviso, em Wolfenbüttel, e Relation, em Estrasburgo. Pouco depois, chegaram ao
mercado jornais na Holanda (1618), França (1620), Inglaterra (1620) e Itália (1636). O
primeiro jornal publicado diariamente foi o Einkommende Zeitung, de Leipzig (1650).
Estima-se que as tiragens século XVII eram de cem a duzentos exemplares, ainda que o
Frankfurter Journal já tivesse uma circulação de 1,5 mil exemplares em 1680101.
No Brasil, o estudo teórico do Jornalismo é recente. Apesar de Barbosa Lima
Sobrinho e Luiz Beltrão terem sido os pioneiros, seguidos de José Marques de Melo,
Nilson Lage e Cremilda Medina, a primeira defesa sistemática de uma Teoria do
Jornalismo só ocorreu na década de 1980, com os estudos de Adelmo Genro Filho
(1951/1988). Genro Filho é autor de O Segredo da Pirâmide.
100 KUNCZIK, 1998, p. 23. 101 IBIDEM.
92
Ele discutiu o Jornalismo a partir de aspectos de três grandes correntes: o
"funcionalismo norte-americano", a "Escola de Frankfurt" e uma espécie de concepção
sobre o Jornalismo que se autoproclama marxista, que será chamada de "reducionismo
ideológico".
De lá para cá, a história do Jornalismo guarda forte relação com a difusão de
novas tecnologias de transmissão, comunicação e informação. O conceito (MURAD, 2001,
p. 55) encontra-se relacionado ao suporte técnico e ao meio que permite a difusão das
notícias. Daí derivam Jornalismo Impresso, Radiojornalismo, Telejornalismo e
Jornalismo de Internet102.
Em relação à Internet, o pesquisador holandês Mark Deuze (2004) propõe dividir
o conceito de Jornalismo em três partes:
1) Jornalismo como ideologia. Ou seja, jornalistas oferecem um serviço público,
são neutros, objetivos, imparciais e credíveis, têm autonomia editorial, liberdade e
independência, senso de imediatismo, ética e legitimidade;
2) Jornalismo e tecnologia: multimídia;
3) Jornalismo e sociedade: multiculturalismo - contato entre as diferenças
formas de culturas nacionais e locais - que entende a cultura não está restrita à etnia, à
nação ou à nacionalidade, mas como um lugar de direitos coletivos para a determinação
própria de grupos.
No artigo What is journalism, Deuze critica o fato de a literatura geralmente
discutir o papel do Jornalismo Cívico ou a relação dos jornalistas e empresas de
comunicação e afirma que faltam textos que abordem Teoria do Jornalismo, Multimídia e
Multiculturalismo. Para o autor, a multimídia e o multiculturalismo desafiam a
102 IBID, p. 16
93
percepção do Jornalismo e de suas práticas: "A sociedade multicultural muda o foco e os
valores da noticia", conclui103.
No Brasil, tão recente quanto o estudo teórico do Jornalismo é o número de
proposições para incluir a Internet no escopo da pesquisa. Autores como
Monica Weinberg e Camila Pereira (1999), Elias Machado (2004), Márcia Bennetti
Machado (2004) e Felipe Pena (2005) defendem que a Internet faça parte desse
escopo104.
Para Pena, é a interação entre a diversidade que possibilita a unidade. Ele sugere
a sistematização a partir de três vertentes principais: a) conceitos e histórias; b)
modelos e teorias de análise; e c) tendências e alternativas105. Em seu livro Teoria do
Jornalismo (2005), Pena sintetiza o objeto da teoria em duas questões consideradas
básicas: 1) Por que as notícias são como são? 2) Quais são os efeitos que essas notícias
geram?
No primeiro caso, o autor discute a produção jornalística, aborda conceitos como
atualidade, periodicidade, objetividade, já estudados anteriormente por Tobias Peucer e
Otto Groth. Para responder a segunda questão, o autor analisa Teorias da Comunicação
e do Jornalismo.
Ele traz ao debate a Teoria do Espelho (as notícias são como são porque a
realidade assim as determina); a Teoria do Newsmaking (o Jornalismo é uma construção
social de uma suposta realidade) e a Teoria do Gatekeeper (jornalista filtra a
informação), entre outras.
Design de superfície, redundância e imperativo
Mesmo com uma perspectiva de Internet, os autores citados anteriormente
abordam o Jornalismo do ponto de vista do estruturalismo, em todo o processo
103 DEUZE, 2004. In: Journalism Studies, vol. 5, n.2. p. 134-152. Disponível em: http://bit.ly/r5LMMK. Acesso jan. 2012. 104
PENA, 2005, p.10. 105 IBIDEM.
94
produtivo, desde a pré-pauta aos valores notícia de composição. E independente do
suporte (papel, rádio ou tevê) e dos dispositivos (fixos ou móveis).
É por essa razão que não causa surpresa o resultado da análise das interfaces
jornalísticas que compõem o corpus desta pesquisa - Globo Notícias (G1), UOL Notícias
Folha (Folha.com), Terra Notícias, Estadão.com.br, Google News, iG News (Último
Segundo), R7 Notícias, BBC, The New York Times, Band.com.br, CNN, MSNBC, El País, The
Guardian e Huffington Post106 -: o design reproduz metáforas analógicas.
Figura 35. Diagramação da Folha Online entre layout Web (esq.) e impresso (dir.)
Na primeira fase da pesquisa, realizada em 2008, ficou comprovado que, do ponto
de vista gráfico, em alguns casos, a interface não chegava nem a emular sua versão
impressa. Não havia critério no uso de elementos de composição, como links ou
multimídia. Design de superfície, redundância e imperativo predominavam, o que Giselle
Beiguelman chamou de "clicagens burras”107 (2004) e virou título do blog desta
jornalista, ferramenta de metodologia para analisar interfaces108.
106 Ranking do Ibope Mídia referente a 2010. 107 MONACHESI, 2004. 108 Para saber mais sobre o Contra a clicagem burra, ver: http://bit.ly/vJmExk. Acesso jan. 2012.
95
Figura 36. BBC, 2008, abusa da repetição ao oferecer customização
Figura 37. Terra, 2009, palavras repetidas na edição
Outros estudos sobre cada interface, realizados entre 2009 e 2011, constataram o
ponto de partida desta tese: atualmente, os projetos editoriais e gráficos dos jornais de
Internet são constituídos sob a lógica do papel, ainda que observadas melhoras
consideráveis. Nova análise, realizada em 2012, aponta o mesmo (ver p. 258).
96
Figura 38. Folha Online, 2008, redundância e uso de setas no espaço tridimensional que é
a Web
Figura 39. Folha.com, 2011. Ainda com uso de setas, mas sem redundâncias
97
Figura 40. Estadão.com, 2008, palavras repetidas na edição
Figura 41. Estadão.com, 2011, eliminação da redundância
98
Figura 42. Globo Online, 2008, palavras repetidas na edição
Figura 43. Globo Online, 2011, com pouca redundância
99
Além da Teoria do Jornalismo, o questionário de avaliação dos jornais levou em
conta os seguintes conceitos, detalhados abaixo: alteridade (HALL: 2001); interface
(JOHNSON: 2001); arquitetura da informação (ROSENFELD; MORVILLE: 1998);
interatividade (MEADOWS: 2003); usabilidade (NIELSEN: 2000); teleação
(MANOVICH: 2001); remediação (BOLTER; GRUSIN: 2000); semelhança e similitude
(FOUCAULT: 2002; 2007); endoestética (GIANETTI: 2006); cultura cíbrida
(BEIGUELMAN: 2004) e narrativas (MOHERDAUI: 2007).
A sistematização dos dados será analisada a partir da página 132.
• Alteridade - Para Stuart Hall, não há identidades fixas, estáveis, unificadas
nas sociedades modernas. Ele argumenta que as identidades são
construídas dentro do discurso e não fora dele, por isso, é preciso
compreendê-las como tendo sido produzidas em lugares históricos e
institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas
também específicas, por estratégias e iniciativas mais específicas ainda.
Hall defende que é uma fantasia a identidade plenamente unificada,
completa, segura e coerente: “quando sistemas de significação e
representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma
multiplicidade de identidades possíveis, com cada uma das quais
poderíamos nos identificar — ao menos temporariamente.”
• Interface - O escritor Steven Johnson assim a define: “em seu sentido mais
simples, a palavra interface se refere a softwares que dão forma à
interação entre usuário e computador”. Para Johnson, ela atua como uma
espécie de tradutor, mediando entre as duas partes, tornando uma
sensível para a outra. “Em outras palavras, a relação governada pela
interface é uma relação de semântica, caracterizada pelo significado e
expressão, não por força física.”
• Arquitetura da informação – O conceito foi criado em 1962 por Richard
Wurman, mas com a crescente utilização das tecnologias em rede ele tem
100
sido modificado, sobretudo após a atualização feita por Louis Rosenfeld e
Peter Morville no livro que se tornou um clássico do design de WWW:
Information Architecture for the World Wide Web (1998). Para os autores,
arquitetura da informação é o princípio para orientar o desenvolvimento
de uma interface (p. 13).
• Interatividade - Mark Stephen Meadows identifica três pares opostos
como princípios básicos na interação: 1) Ingresso/Saída, 2) Dentro/Fora
e 3) Aberto/Fechado. O primeiro destes princípios define que todo
ingresso ou saída de informação no sistema deve gerar mais informação. É
a habilidade do ciclo de interação para acrescentar informação ao sistema
que define a qualidade desta interação. O segundo princípio,
Dentro/Fora, estabelece que deva existir um diálogo entre os mundos
interno e externo. A interação dentro da cabeça articula o mundo da
imaginação do “teleator” enquanto que a interação de fora da cabeça está
baseada no que o “teleator” percebe no nível empírico ou experiencial. O
terceiro princípio, Aberto/Fechado, postula que um sistema quanto mais
usado melhor ele funciona. Sistemas abertos são mais complicados, menos
previsíveis e mais interessantes do que sistemas fechados. Além destes
três princípios da interação, Meadows (identifica quatro passos pelos
quais passam o processo interativo: 1) Observação; 2) Exploração; 3)
Modificação e 4) Mudança Recíproca. Os princípios são guias para o
desenvolvimento da interação, enquanto que os passos são meios para
avaliar o resultado deste desenvolvimento. No primeiro passo, o usuário
avalia a narrativa como espaço navegável; no segundo desenvolve alguma
ação; no terceiro muda o sistema e, no quarto, o sistema tenta mudar o
usuário. Tomando estes princípios e passos como orientadores da
interação, o autor define narrativa interativa como:
Uma narrativa interativa é uma representação baseada no tempo e ação do personagem onde um leitor pode afetar, escolher ou alterar o enredo. O primeiro, segundo ou terceiro personagem pode realmente ser o leitor. Opinião e perspectiva são inerentes. A imagem não é necessária, mas é bem-vinda (2003, p. 62).
101
• Usabilidade – A má arquitetura da informação levará sempre à má
usabilidade. A maioria das interfaces tem estrutura hierárquica com níveis
cada vez mais detalhados de informações. Outras têm uma ordenação
tabular na qual são classificadas com relação a um número de atributos ou
parâmetros. As duas regras mais importantes são: ter uma estrutura e
fazer com que ela reflita a visão dos usuários da interface e suas
informações ou serviços. Pode parecer óbvio, mas muitas delas evoluíram
sem ter qualquer estrutura planejada e acabaram num caos total.
• Teleação - Lev Manovich afirma que o usuário de uma narrativa está
atravessando uma base de dados, seguindo links entre seus registros as
estabelecidos pelo criador da base de dados. “Uma narrativa interativa
pode ser entendida como a soma de múltiplas trajetórias através de uma
base de dados”
• Remediação - David Bolter e Richard Grusin definem como remediação a
representação de um meio no outro e argumentam que ela é uma
característica específica da nova mídia digital. Os autores argumentam que
a lógica da remediação descrita no livro é similar ao que Derrida
considerou ‘mimesis’. E citam “mimesis aqui não é a representação de uma
coisa por outra, a relação de semelhança ou identificação entre dois seres,
a reprodução de um produto da natureza por um produto da arte. Não é a
relação de dois produtos, mas de duas produções. E de duas liberdades.
(...) A verdadeira ‘mimesis’ é entre duas matérias em produção e não entre
duas coisas produzidas”. O conceito de meio, para os autores, está
relacionado à lógica da remediação: o meio é aquilo de remedia. Para eles,
na nossa cultura, um meio nunca pode operar de forma isolada. Precisa
estar envolvido em relações de respeito e rivalidade com outros meios.
• Semelhança e similitude - Movido por uma hipótese de trabalho - ou
seja, a de uma possível (re)afirmação (de ordem puramente sígnica e não
ilustrativa) do texto pela imagem e vice-versa - Foucault empenhou-se em
102
elaborar uma teoria geral da representação pictórica (constituída em
torno das questões da semelhança e da similitude), centrada na dualidade
entre ícone e símbolo, no entre-deux (entre os dois) típico das formulações
discursivo-pictóricas magrittianas. O que interessa nesta tese é a noção de
nomeações como forma de impor denominações.
• Endoestética - Cláudia Giannetti conceitua Endoestética a partir da
Endofísica, em seu livro Estética Digital – Sintopia da arte, a ciência e a
tecnologia (2006). Para a autora, a Endofísica (e também a Endoestética,)
está sempre discutindo a relação entre o endo (dentro) e o exo (fora). O
sujeito é, ao mesmo tempo, um observador da realidade (um observador
parcial na medida em que incorpora elementos de sua subjetividade na
observação), e alguém que está nela, mais ainda, alguém que influência
ativamente nela, modificando-a constantemente. A Endoestética trata dos
mundos artificiais baseados na interface, nos quais podemos participar
(endo) e observar (exo) ao mesmo tempo. Com essa dupla atuação do
interator num universo simulado se podem explorar as propriedades de
nosso mundo. Uma nova tecnologia que, ao contrário de todas as outras
conhecidas, não só muda algo no mundo, mas o próprio mundo se revela
como uma possibilidade cognitiva.
• Cultura cíbrida - Giselle Beilguelman aposta na possibilidade de uma
cultura cíbrida, pautada pela interpenetração de redes on-line e off-line,
que incorpore e recicle os mecanismos de leitura já instituídos, apontando
para novas formas de significar, ver e memorizar. São as zonas de fricção
entre as culturas impressas e digitais o que interessa, as operações
combinatórias capazes de engendrar outra constelação epistemológica e
outro universo de leitura correspondentes às transformações que se
processam hoje nas formas de produção e transmissão dos textos, dos
sons e das imagens.
103
• Narrativas - A partir da seguinte divisão das narrativas nas interfaces
jornalísticas da Web: texto multilinear [acesso hipertextual à informação],
b) reportagem multiforme [compreende novos formatos narrativos] e c)
pacote multimídia [reúne todos os elementos multimídia em um template
em formato Flash]. Esses formatos podem ser estáticos ou de atualização
contínua. Essa sistematização foi feita a partir de Marcos Palacios, Mindy
McAdams e Janet Murray (MOHERDAUI: 2007, p. 150).
Nos gadjets, um pouco além da repetição
Embora restrita à interface noticiosa na Web, objeto deste trabalho, o resultado
da análise, ao ser ampliada a dispositivos como iPad e iPhone, remete à simulação,
mesmo com uso maciço de aplicativos109. No caso do iPhone, de modo geral, a
informação é distribuída em lista. Sem dúvida, há desenhos belíssimos como CNN, ABC e
Wired para iPad, cujo propósito é fugir da estrutura ao menos nas interfaces principais.
A CNN mantém a manchete ao contrário da ABC, conforme imagens exibidas na página
seguinte.
Figuras 44 e 45. Interfaces da CNN para iPad
109 WIRED on iPad: Just like a Paper Tiger… Information Architects, EUA, 28 mai. 2010. Disponível em: http://bit.ly/pIzshc. Acesso jan. 2012.
104
Figuras 46 e 47. Interfaces da ABC News para iPad
Figuras 48 e 49. Interfaces das redes ABC News e CNN para iPhone
105
Figuras 50 e 51. Interfaces da Wired para iPad
Figuras 52 e 53. Interfaces da Wired para iPhone
106
Tudo é igual para todos
Do ponto de vista conceitual, os projetos de interface para jornais de Internet são
constituídos a partir de uma identidade plenamente unificada (HALL: 2001). Ou seja,
tudo vale para todos. O sistema opera na lógica da reprodutibilidade, da metáfora,
praticamente uma clonagem.
Os padrões têm de ser reproduzidos porque senão o sujeito não entende. Um
exemplo é o uso de ícones na Web: casinhas significam homepage, desenhos de
impressoras e papeis explicam ações como imprimir ou ler texto e assim por diante.
Trata-se da noção da homogeneidade em contraposição à alteridade, marca da
experiência em rede, do nômade que circula na Internet, um espaço liso por excelência,
mas em constante estriamento. “Não se pode falar sobre identidade sem falar em
alteridade, porque é pela diferença que se constrói a identidade. O conceito de
identidade implica estar em relação ‘a’ porque não há ‘nós’ sem o outro. Ambos são
pares indissociáveis” (FRANÇA: 2002).
Figura 54. Estrutura de arquitetura da informação na Web (MORVILLE; ROSENFELD, 1998)
Para o filósfo russo Mikhail Bakhtin, a alteridade define o ser humano. É no
diálogo das diferenças que a pessoa se descobre como sujeito (identidade) e descobre o
outro em relação a: gênero, raça e cultura, entre outros.
107
O discurso do sujeito vem do outro, é pronunciado em resposta ao outro. Está
impregnado pelas múltiplas vozes que tecem o discurso individual, interpentrando-se de
maneira a fazer-se ouvir. Essa multplicidade de vozes da vida social, cultural e ideologica
que se entrechocam é caracterizada por Bakhtin por polifonia (1981, p. 32).
A homogeneização é própria de espaços territorializados, assim como a ideia de
domínio, das URLs (sigla em inglês de Uniform Resource Locator). As interfaces estão
ligadas por links proprietários. Senão não ocorreriam tensões com Facebook e Google,
acusados frequentemente de práticas que violam leis de privacidade.
A priori, qualquer pessoa pode fazer parte do Facebook, Twitter ou realizar
buscas no Google. Porém, um contrato delimita ações. Quem não cumpri-las será
defenestrado. São espaços propriamente estriados, mas que permitem ações típicas de
espaços lisos, como os movimentos contra práticas de vigilância.
Um endereço com o protocolo http://www leva o internauta a uma URL
registrada (corporativa, pública ou pessoal). Isso transforma a rede em um local de
poder, com regras e, portanto, propício a conflitos - desde invasões de hackers até
estratégias de protestos (TISSELI: 2009). Na realidade, um espaço de positividade do
poder, no qual há poder e contrapoder, não existe a noção de poder absoluto
(FOUCAULT: 1999, p. 30):
Ora, o estudo desta microfísica supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos a uma “apropriação”, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que lhe seja dado como modelo antes da batalha perpétua que o contrato que faz uma cessão ou a conquista que se apodera de um domínio. Temos em suma que admitir que esse poder se exerce mais que se possui, que não é o “privilégio” adquirido ou conservado da classe dominante, mas o efeito de conjunto de suas posições estratégicas — efeito manifestado e às vezes reconduzido pela posição dos que são dominados. Esse poder, por outro lado, não se aplica pura e simplesmente como uma obrigação ou uma proibição, aos que “não têm”; ele os investe, passa por eles e através deles; apoia-se neles, do mesmo modo que eles, em sua luta contra esse poder, apoiam-se por sua vez nos pontos em que ele os alcança.
108
O Facebook protagonizou um dos mais recentes episódios envolvendo práticas de vigilância. Para ajudar a coibir pedofilia na Internet incluiu um recurso que permite o reconhecimento facial em fotografias publicadas em sua rede. Quando encontra a combinação, convida a marcar ou identificar as pessoas na foto. Pressionado pela sociedade por violar a privacidade, voltou atrás e facilitou o procedimento para desativar esse recurso.
Aliás, mobilização (ou ativismo) é uma das questões-chave da interface
atualmente. Conforme já discutido anteriormente, a interface é a mensagem (ver p. 71) e
o usuário não apenas opera, mas interage com ela. Muitas vezes, coletivamente. No caso
do Jornalismo de Internet, o design começou com a emulação do papel. Algumas
modificações foram realizadas no sentido de dar uma forma a essa nova prática. O
resultado foi uma mistura de padrões existentes e links, com multimídia e texto.
Figura 55. Reconhecimento facial do Facebook
Acontece, porém, que a interface noticiosa pode ser totalmente diferente das
atuais. A tecnologia é um dos fatores que possibilitaram essa mudança. O outro,
notadamente, é conceitual.
109
Em 2009, o engenheiro Tim Berners-Lee, criador do protocolo WWW, anunciou
no TED (sigla em inglês para Technology, Entertainment, Design) a migração da cultura de
página para a cultura de dados110. Em 2008, o pesquisador russo Lev Manovich apontou
a importância do software na cultura de dados111.
Também a mudança da linguagem HTML (linguagem utilizada para incluir
hipertextos na web) para o XML (Extensible Markup Language) e os sistemas open source
contribuíram para a criação de interfaces baseadas em dados, programação e algoritmos
(as interfaces dinâmicas serão aprofundadas no último capítulo).
Os blogs foram os precursores da produção colaborativa e merecem uma atenção
especial. Sua importância é tamanha devido ao fato da popularização de seus sistemas
de publicação, denominados em inglês Content Management System (CMS),
representarem o pontapé inicial dessa prática.
Inicialmente definidos como diários ou páginas pessoais permitiam a publicação
de conteúdo em qualquer lugar e a qualquer hora, sem intermediários. Foi a primeira
ferramenta que não exigia domínio técnico para ser utilizada. Considera-se que Berners-
Lee foi o estreante do gênero na Web, com o “What´s news in 92”, criado para divulgar
projetos relacionados ao WWW. O termo Weblog (que mais tarde virou blog) foi cunhado
em 1997 por Jorn Barger, que mantém até hoje seu projeto original.112
110 TIM BERNERS-LEE on the next Web. TED – Ideas worth spreading, EUA, fev. 2009. Disponível em: http://bit.ly/qqaSFQ. Acesso jan. 2012. 111 MANOVICH, 2008. Disponível em: http://bit.ly/nHS2gB. Acesso jan. 2012. 112 MOHERDAUI: 2007, p. 179-180.
110
Figura 56. Primeiro blog da Web, de Tim Berners-Lee
Como a interface mudou o Jornalismo
Essas mudanças levantam uma série de perguntas importantíssimas, respondidas
nesta tese ao longo dos capítulos, pois a produção coletiva alterou conceitos
fundamentais da Teoria do Jornalismo, como newsmaking, gatekeeper e agenda-setting:
1. A notícia coletiva reorganizou a interface?
2. O que a produção e disseminação generalizada de informações na rede
acarretaram para a cômoda posição dos jornalistas e sua maneira de se
comunicar?
3. A interface pode retirar a condição crítica ou induzir a avaliações sobre os fatos?
Se uma notícia for deturpada? O que a interface pode fazer por isso?
De fato, a resposta à primeira pergunta desencadeia as respostas seguintes (2 e
3). A principal mudança que sistemas abertos (ainda que estriados) como Twitter e
Facebook causaram ao fazer jornalístico e ao próprio Jornalismo passa por processos
produtivos, seleção e escolha do material que será destaque em jornal, revista, rádio e
tevê, sejam eles convencionais ou de Internet.
111
Se nesses meios, o profissional decide o que é notícia e qual o destaque será dado
a ela em seu veículo, nas redes sociais surge um novo fator determinante:
produser/prosumer.
Quem é o produser/prosumer? É o cidadão que está em rede, também detém
informação e está apto a transformá-la em notícia. Ele reconfigura a lógica dos critérios
de noticiabilidade, muda a agenda da imprensa e inclui fatos ao noticiário que circula na
Internet. Ele não só produz como valida e recomenda uma informação. É dessa maneira
se dá a legitimação na rede. E isso se reflete na interface, na maneira como ela se
constitui.
Basta lembrar que a morte de Osaba Bin Laden foi noticiada pelo Twitter por um
paquistanês de 33 anos: Sohaib Athar (@reallyvirtual)113. E ele nem sabia exatamente do
que se tratava: “Helicóptero sobrevoando Abbottabadem (é um evento raro)". Só mais
tarde, descobriu que se tratava de Bin Laden.
A mensagem foi parar na rede social antes de o presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, fazer o anúncio oficial. Ou seja, o assunto mais importante do mundo em
2011 estava nas mãos de Athar. Não foi dado em primeira mão por um jornal, tevê,
rádio ou interface de Internet. E nenhum jornalista com prestigio junto à Casa Branca foi
informado com antecedência.
Depois de Athar, Keith Urbahn, antigo chefe de gabinete de George W. Bush,
furou114 Obama também no Twitter: “Uma pessoa respeitável me disse que mataram
Osama bin Laden".115
113 MORTE de Bin Laden saiu primeiro no Twitter. estadão.com.br, São Paulo, 2 mai. 2011. Disponível em: http://bit.ly/phN9Bt. Acesso jul. 2011. 114 Jargão jornalístico para informação antecipada. 115 TWITTER NOTICIOU morte de Bin Laden antes de Obama. Infoexame, São Paulo, 2 mai. 2011. Disponível em: http://bit.ly/rezYTV. Acesso jul. 2011.
112
Figura 57. Localização do post de Sohaib Athar via Google Maps
Figura 58. Esquema tradicional da coleta de notícias e do seu processamento116
Figura 59. Post com anúncio da morte de Bin Laden por Keith Urbahn, antigo chefe de gabinete de George W. Bush
116 KUNCZIK: 1988, p. 235.
113
Outro exemplo que ilustra bastante a mudança do controle da informação das
mãos do jornalista para o cidadão foi o anúncio da morte da cantora britânica Amy
Winehouse. Nesse caso, uma tevê saiu na frente: SkyNews TV117 .
Assim que a emissora noticiou, foi parar no Twitter, Facebook e ganhou toda
Internet, além de rádios e tevês. Sendo repetida e comentada à exaustão, Amy não
demorou a chegar aos Trending Topics, a lista de assuntos mais comentados do Twitter.
O alvoroço nas redes sociais aumentou a audiência de interfaces voltadas à cobertura de
celebridades118.
Figura 60. Enquete no Facebook para saber quem noticiou primeiro a morte de Amy
Em jornais como The New York Times, The Guardian e Daily Mail, não ganhou as
manchetes. No Brasil, foi a quarta chamada no Jornal Nacional, de maior audiência no
País119. Ficou atrás dos gols da Copa América. Naquele dia, 23 de julho de 2011, toda a
imprensa chamou a atenção para o atentado na Noruega, ocorrido um dia antes.
117 Cobertura completa da morte de Amy Winehouse feita pela emissora de televisão Sky News: http://bit.ly/oFDMIT. Acesso jan. 2012. 118 MORTE de Amy Winehouse domina Twitter. Exame, São Paulo, 23 jul. 2011. Disponível em: http://bit.ly/pgFpbN. Acesso jan. 2012. 119 JORNAL NACIONAL, 23 jul. 2011. Disponível em: http://glo.bo/nSZPRh. Acesso jul. 2011.
114
Figura 61. New York Times, julho de 2011 Figura 62. Daily Mail,
julho de 2011
Após a confirmação da morte, NY Times e Daily Mail não deram manchete para a
cantora britânica. Pelo critério de noticiabilidade, a Noruega mereceu maior espaço por
conta de importância, geografia e atualidade, entre outros. Nas redes sociais, os
produsers/prosumers acompanhavam e replicavam tudo o que chegava do bairro de
Camden Town, em Londres, onde viveu Amy.
Se a atual interface noticiosa for analisada a partir do conceito de Steven Johnson,
percebe-se claramente que não se configura como um software que dá forma à interação
entre usuário e computador nem tampouco media as duas partes. Na realidade, a
interação em empresas jornalísticas na Internet é quase nula e a interface se resume a
uma página em branco (ou a várias páginas em branco). É uma superfície norteada por
pressupostos da arquitetura da informação cunhados por Louis Rosenfeld e Peter
Morville (1998)120.
Ao que se refere à usabilidade, dentro do escopo tradicional, com página em
branco, diagramação em colunas e hierarquia, há dois problemas a serem considerados:
qualidade da busca e excesso de chamadas nas interfaces principais. Ao tentar remediar
projetos já existentes em outros suportes, incorrem num equivoco de edição. Quem lê 120
Ver páginas 106 e 177 desta tese.
115
mais de 100 chamadas, modificadas ao longo de 24 horas, conforme surgem novos
assuntos? A esses exageros somam-se as nomeações como forma de impor
denominações (ver p. 101-102).
O jornal foi parar dentro do Facebook
Essa cultura está tão enraizada nas práticas jornalísticas que é reproduzida
também nas redes sociais. Em setembro, Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook,
anunciou uma série de mudanças significativas com o objetivo de manter os mais de 845
milhões cidadãos mais tempo conectados a sua rede.
A ideia é criar uma camada social paralela na Internet. Uma dessas medidas diz
respeito especificamente ao Jornalismo. Zuckerberg fez acordos com jornais como The
Guardian, The Washington Post e The Wall Street Journal para oferecer informação via
aplicativos dentro do Facebook121.
O Post, por exemplo, replicou a estética analógica ao seu Social Reader122, com
mais de 50 chamadas:
Figura 63. Interface do The Washington Post Social Reader no Facebook
121 DO JORNAL ao Facebook: Washington Post, Guardian e outros veículos lançam novo aplicativo de notícias. Knight Center, EUA, 26 set. 2011. Disponível em: http://bit.ly/nx2RqB. Acesso jan. 2012. 122 Para saber mais sobre o The Washington Post Social Reader, ver: http://bit.ly/pkPjIT. Acesso jan. 2012
116
Com menos destaques, o Guardian123 também emula a estrutura do papel, com
diagramação em colunas.:
Figura 64. Interface do Guardian app no Facebook
Além das narrativas divididas em texto multilinear (acesso hipertextual à
informação), reportagem multiforme (compreende novos formatos narrativos) e pacote
multimídia (reúne elementos multimídia em uma interface em Flash), o Jornalismo de
Internet passa ao largo de teleação, endoestética e cultura cíbrida.
Entre os grandes players do mercado, o Google é hoje a empresa que mais investe
em teleação, ainda que não dê conta de toda a rede. Nas empresas noticiosas, os serviços
de buscas não foram projetados para teleação. É raro um deles oferecer resultados
eficientes.
Teleação, endoestética e cultura cíbrida integram boa parte dos trabalhos de arte
digital. Aliás, ela pode ser um dos parâmetros para repensar a interface jornalística. É
verdade que a Internet das Coisas irá reconfigurar completamente a interface.
Entretanto, a essência da arte digital, a interação entre cidadão e criação, é a chave desse
entendimento. Sem o cidadão, a arte digital ficaria incompleta, pois ela o convida a criar
significados. Sua interface é definida por essa relação.
123 Para saber mais sobre o Guardian app, ver: http://on.fb.me/n77Y1M. Acesso jan. 2012.
117
O Jornalismo pode aplicar essa lógica. Mas antes é preciso descontruir conceitos
solidificados ao longo dos séculos e começar a apostar diretrizes que o coloquem no
conceito de mapa de Gilles Deleuze e Félix Guattari:
O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente. Ele pode ser rasgado, revertido, adaptar-se a montagens de qualquer natureza, ser preparado por um indivíduo, um grupo, uma formação social (DELEUZE; GUATTARI: 2004, p. 22).
Nesse sentido, a interface da notícia na Web assume a forma de um mapa. Mapa
esse constituído por territórios existenciais, relacionados à maneira de ser, ao corpo, ao
meio ambiente, às etnias, às nações. Esses territórios têm uma organização, um
significado dado a eles.
Porém à medida que passam a ser explorados, eles se desterritorializam, fogem
da organização e abrem-se a outros significados. No entanto, com a produção
colaborativa, se reterritorializam, se auto-organizam, que por sua vez levará a novas
desterritorializações e assim sucessivamente (IBIDEM, p. 38).
E essa desconstrução não se limita somente ao newsmaking, mas também a
definições estabelecidas ao Jornalismo de Internet, principalmente em relação às
características e terminologias atribuídas a essa nova prática social.
Desconstruindo conceitos
Não é novidade que o Jornalismo opera na Internet a partir do newsmaking, desde
a pré-pauta à composição da interface, frequentemente denominada página. Por causa
disso, as características que o definem na rede foram elaboradas a partir dessas
diretrizes. Foi mencionado no capítulo anterior que esta jornalista, até pouco tempo
atrás, também aplicava essas definições (ver p. 61).
A influência da arte digital é uma das razões pelas quais houve a mudança de
mentalidade (BOLTER; GROMALA: 2003; VESNA: 2007; BEIGUELMAN: 2003, 2005,
118
2011; GIANETTI: 2006; PAUL: 2008; MANOVICH: 2001, 2008, 2010). As outras (também
conceituais) referem-se aos trabalhos de Michael Foucault (2002, 2007), Gilles Deleuze e
Félix Guattari (2004, 2007, 2008) e pela revisão bibliográfica de obras que tratam
exclusivamente de design de jornais (GARCIA: 1981, 1997; HARROWER: 2002;
BRINGHURST: 2004).
A leitura do primeiro capítulo desta tese leva a uma conclusão clara: a Internet
das Coisas mudou o paradigma da comunicação e consequentemente alterou
significativamente a forma por que é exibida a informação que circula no fluxo (ver
quadros nas p. 61, 72, 83). Portanto não faz mais sentido adotar exclusivamente os
conceitos que balizam as teorias do Jornalismo e da Comunicação. É preciso ir além.
E o ponto de partida é deixar um pouco de lado verdades absolutas que fazem
incorrer no equívoco de transformar projetos gráficos e editoriais em uma série de
Power Points124 (MANOVICH: 2008, p. 45) ou em uma superfície com mídias distribuídas
que, na realidade, não passam de simulação da cultura da página impressa.
Em alguns casos, explicados anteriormente e detalhados ao longo deste tópico,
interfaces jornalísticas não levaram em conta nem o newsmaking na visualização de seus
conteúdos (links, multimídia e textos).
A imagem da página seguinte ilustra bem a forma pela qual é pensada a interface
para o jornal na rede.
124 Para saber mais sobre o programa da Microsoft para criar apresentações, ver: http://bit.ly/nBhIlY. Acesso jan. 2012.
119
Figura 65. Interfaces impressa e de Internet do The Bugle Beacon125
As quatro fases do Jornalismo de Internet
Um dos primeiros pesquisadores a caracterizar e a discutir o Jornalismo de
Internet foi o holandês Mark Deuze. Para ele, personalização, interatividade,
hipertextualidade e multimidialidade são definidoras dessa prática, porém nem todas
125
HARROWER: 2002 p. 228-229.
120
são exclusivas (2001). No Brasil, Marcos Palacios apontou a memória como o principal
aspecto na rede (1999).
Também foi Deuze quem incluiu o Jornalismo de Internet em fases de evolução.
Em 2001, o artigo Online Journalism: Modelling the first generation of the News media on
the World Wide Web demarcou a primeira geração, entre 1993-2001. Na esteira dele,
vieram outras sistematizações assinadas por John Pavlik (2000, 2001), Luciana
Mielniczuk (2003), Pablo Boczkowski (2004) e Elias Machado (2004), entre outros:
Primeira fase – Modelo presente nos jornais de Internet, nos quais a formatação
e a organização seguem diretamente o modelo da versão impressa. Trata-se de um uso
mais hermético e fiel à ideia da metáfora (MOHERDAUI: 2007, p. 122):
Num primeiro momento, os produtos oferecidos eram reproduções de partes dos grandes jornais impressos, que passavam a ocupar o espaço da Internet. O que era chamado então de jornal na Web não passava de transposição de uma ou duas das principais matérias de algumas editorias. Esse material era atualizado a cada 24 horas, de acordo com o fechamento das edições do impresso. Em alguns casos, como o de O Estado de S.Paulo, era disponibilizado também o conteúdo de alguns cadernos semanais. Os produtos dessa fase, em sua maioria, são simplesmente cópias do conteúdo de jornais existentes no papel. A rotina de produção de notícias é totalmente atrelada ao modelo estabelecido nos jornais impressos. No que diz respeito ao formato de apresentação das narrativas jornalísticas, não há nenhuma evidência de preocupação em inovar. (MIELNICZUK: 2003, p. 32-33).
Apesar de observadas uma série de mudanças na exibição de notícias na rede
desde que Luciana Mielniczuk defendeu sua tese doutoral em 2003, na Faculdade de
Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA), as empresas de
comunicação ainda oferecem, em áreas separadas, suas versões impressas constituídas
com base na reprodução do papel, como é o caso da Folha de S.Paulo.
O jornal paulista replica dois modelos, um é o fac-símile da página com links para
as matérias de capa e outro é na própria Web. Um dos argumentos é o de facilitar acesso
para quem está fora País ou dos principais centros de distribuição do jornal. A única
diferença é que há pouco tempo, a versão impressa era destacada na área nobre da
121
interface na Web, no canto superior esquerdo. Agora, fica abaixo das notícias do dia, do
lado direito. No iPad não é diferente ainda que o dispositivo permita leituras vertical e
horizontal.
Figuras 66 e 67. Folha: Fac-símile das versões impressa e Web126
Figura 68. A apresentação da Folha Digital é outro exemplo de metáfora, 2009.
Segunda fase – Quando mesmo submetido à metáfora do impresso são
desenvolvidos novos tipos de produtos. Jornalistas criam conteúdos originais para a
rede, com hiperlinks, redes sociais, ferramentas de busca sofisticadas, conteúdo
126 Folha de S.Paulo: fac-símile da versão impressa http://bit.ly/qLwqXv e versão para a Web: http://bit.ly/pkXJl4. Acesso jan. 2012.
122
multimídia e customização de conteúdo. Há uma maior agregação de recursos
possibilitados pelas tecnologias da rede. Nesse estágio, permanece o caráter
transpositivo (MOHERDAUI, op. cit., 124).
Com o aperfeiçoamento e desenvolvimento da estrutura técnica da Internet no País, e seguindo uma tendência mundial, nos final dos anos 90, mesmo atrelado ao modelo do jornal impresso começam a ocorrer experiências no produto jornalístico na tentativa de explorar as características oferecidas pela rede. Essa fase em que o jornal impresso funciona como uma referência para a elaboração das interfaces dos produtos é chamada fase da metáfora. Ao mesmo tempo em que se ancoram no modelo do jornal impresso, as publicações para a Web começam a explorar as potencialidades do novo ambiente, tais como links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma possibilidade de comunicação entre jornalista e leitor ou entre os leitores, através de fóruns de debates e a elaboração das notícias passa a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto. A tendência ainda é a existência de produtos vinculados não só ao modelo do jornal impresso enquanto produto, mas também às empresas jornalísticas cuja credibilidade e rentabilidade estavam associadas ao jornalismo impresso específicas. (MIELNICZUK, op. cit., p.34)
Folha.com127 e Globo Online são também bons exemplos de segunda fase. As imagens
anteriores mostram a Folha descolada da interface principal, cujos acessos são
independentes do conteúdo que vai para a Web. De modo geral, os destaques das
versões impressas ficam abaixo da interface, do lado direito. Mas não são apenas as
empresas de comunicação que operam a partir da emulação.
Em 2009, o Google criou o Google Flip. Estruturado por meio de canais como
Entretenimento, Política, Saúde e Esportes, entre outros, o Flip exibe fac-símiles das
interfaces noticiosas de grandes jornais como BBC, The New York Times e de revistas
como Slate e Business Week.
O novo formato foi pensado para diminuir a tensão entre donos de jornais digitais,
ligados a grandes conglomerados de mídia, e a empresa de busca. A empresa se
comprometeu a dividir a receita de anúncios com os publishers, incomodados com a
127 Para conhecer a Folha Digital, ver: http://bit.ly/tP5Trj. Acesso jan. 2012.
123
maneira agressiva de o Google organizar notícias sem pedir autorização e ainda tendo
lucro com o tráfego gerado na rede.
Figura 69. Interface da Folha.com Figura 70. Interface de O Globo128
Figura 71. Interface do Google Fast Flip129
128 Folha: http://bit.ly/vf7FMI e Globo: http://glo.bo/vfRhdb. Acesso jan. 2012.
124
Terceira fase - Quando são lançadas iniciativas tanto empresariais quanto editoriais
adaptadas à Internet. Caracteriza-se pela produção de conteúdos noticiosos originais,
com recursos multimidia, convergência entre suportes diferentes (multimodalidade),
disseminação de um mesmo produto em várias plataformas e/ou serviços informativos
e a produção de conteúdo pelo usuário. Há também o reconhecimento do ambiente
como um novo meio de comunicação.
O aspecto mais importante da terceira geração é considerado por John Pavlick como
as experimentações de novas formas de storytelling. Ele cita a possibilidade de
narrativas imersivas que permitem ao leitor navegar através da informação multimídia.
Storytelling é a palavra utilizada por autores americanos para se referirem à narrativa
do fato jornalístico (MOHERDAUI, op. cit., p. 125-126). Faz parte da terceira geração a
produção de conteúdo pelo usuário (BOCZKOWSKI: 2004) pelo produser ou prosumer.
O cenário se modifica a partir da crescente popularização do uso da Internet e também do surgimento de iniciativas tanto empresariais quanto editoriais destinadas exclusivamente para esse suporte. São sites jornalísticos que extrapolam a ideia de uma versão do papel para a Web. Um dos primeiros e, talvez, um dos principais exemplos dessa situação seja o www.msnbc.com, resultado da fusão em 1996 entre Microsoft e NBC, uma empresa de informática e outra de televisão. Na terceira etapa, é possível observar produtos jornalísticos com sons e animações, que enriquecem a narrativa; oferecem interatividade, como chats com a participação de personalidades públicas, enquetes, fóruns de discussões; disponibilizam opções para personalização; usam hipertexto não apenas para organização das informações da edição, mas também começam a empregá-lo nas notícias. (MIELNICZUK,op. cit., p.36).
Dois jornais ilustram bastante a ideia de terceira fase: o Último Segundo (iG)
Huffington Post (AOL). O Último Segundo (US) surgiu no começo dos anos 2000 com a
proposta de ser um jornal produzido exclusivamente para a Internet.
Passados mais de dez anos de sua fundação, o US permanece com o mesmo propósito,
sem ter uma versão impressa. O HuffPo foi criado em 2005 pela jornalista americana
Arianna Huffington para ser um blog de notícias e fofocas sobre a elite política em
129 A Google anunciou o fim do Fast Flip em setembro de 2011: http://on.mash.to/ujuxkR. Acesso jan. 2012.
125
Washington, depois de perder as eleições para governo da Califórnia. Em 2011, foi
vendido para a American Online (AOL)130.
Figura 72. Interface do MSNBC, 1997 (Internet Archive)
Figura 73. Interface do Último Segundo, 2011
130VENDIDO por US$ 315 milhões, Huffington Post lucra com blogueiros anônimos e famosos. BBC, São Paulo, 7 fev. 2011. Disponível em: http://bbc.in/p1VF8t. Acesso jan. 2012.
126
Figura 74. Interface do The Huffington Post, 2011131
Quarta fase – Para o professor da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), Elias Machado, essa etapa compreende o Jornalismo baseado em bancos de
dados inteligentes, que aparece aos usuários como uma interface tipificada no espaço
navegável que permite explorar, compor, recuperar e interagir com as narrativas.
Machado (2004) toma como pressuposto os conceitos do pesquisador russo Lev
Manovich segundo o qual os bancos de dados são identificados como uma coleção de
itens que permite uma variedade de operações: ver, navegar, buscar, intercambiar
informações e compor formas diferenciadas de narrativas (MOHERDAUI, op. cit., p.
127):
A característica do ciberespaço como um espaço navegável, que permite movimentos através da arquitetura da informação, possibilita que a composição possa ser pensada como um tipo de enredo que determina os eventos de uma narrativa interativa, dispostos em torno de um espaço audiovisual. Ao indicar uma ordem, mesmo que incorpore uma variedade de alternativas de composição resultantes dos processos de interação, a arquitetura da informação, como um roteiro, parte do pressuposto que deve existir um começo, um fluxo interativo e um fim para cada narrativa. Em qualquer que seja o caso, como tratamos de espaços interativos, o que pode variar são as possibilidades diferenciadas de começo, de fluxos interativos e de finais previstos na arquitetura da informação como uma estrutura que condiciona a composição da narrativa. (MACHADO, 2004, p.11).
131 Último Segundo: http://bit.ly/vnyDLi e Huffington Post: http://huff.to/tNPfr1. Acesso jan. 2012.
127
O americano The New York Times132 e o britânico The Guardian133 são os jornais
que mais apostam em narrativas baseadas em dados, embora nem todas permitam ao
produser/prosumer incluir informação e modificar o conteúdo. Fora do âmbito da grande
imprensa há uma série de iniciativas orquestradas por esses atores que permitem a
colaboração coletiva, como ocorreu na cobertura da gripe suína em 2009134.
Porém, há que se destacar os exemplos interessantes, como a estratégia do USA
Today135 de criar uma conta no Twitter (@usatodayhealth), para que as pessoas
pudessem acompanhar as últimas notícias sobre a gripe. O jornal americano criou um
mapa dinâmico, com atualização constante, com textos e links apontando para redes
sociais, interfaces de compartilhamento e de validação de conteúdo, além de uma lista
de serviços com endereços de hospitais e prontos-socorros.
A exemplo do USA Today, The New York Times, El Mundo136, El País137 e The
Washington Post138 apostaram em mapas dinâmicos. Além dos produsers/prosumers, o
Google também utilizou de sua tecnologia para manter os cidadãos informados139.
Figura 75. Mapa coletivo feito com aplicativo do Google mostra avanço da gripe aviária
132 http://nyti.ms/sZOsfC. Acesso jan. 2012. 133 http://bit.ly/vKH0gj. Acesso jan. 2012. 134 Ver exemplos em: http://bit.ly/n7jt3g. Acesso jan. 2012. 135 http://usat.ly/thmqEc. Acesso jan. 2012. 136 http://mun.do/uhITjh. Acesso jan. 2012. 137 http://bit.ly/u1vloF. Acesso jan. 2012. 138 http://wapo.st/uVeYlx. Acesso jan. 2012. 139 Exemplos de mapas dinâmicos e atualizados sobre a gripe suína, ver: http://bit.ly/q113x8. Acesso jan. 2012.
128
Figura 76. Twitter do jornal USA Today com informações sobre a gripe aviária
Figura 77. Mapa do Google sobre avanço da gripe aviária por região
Outra iniciativa é o Hack Day140, do jornal The Guardian, criado para que não
somente jornalistas, mas leitores ajudem a criar peças colaborativas baseadas em dados,
aplicativos, mashups e tags. Na segunda edição do evento, realizada em 2009, foram
apresentados 30 projetos em 24 horas.
Entre eles, destacam-se: base de dados visual sobre a crise econômica e gripe
suína, gadgets de seções do jornal em RSS, filtros a partir do Yahoo Pipes141 para agregar
conteúdo espalhado em redes como Digg142 e Reddit143 e uma série de ferramentas de
alerta e de validação no Twitter ou para criar rankings de retweets.
140 Para saber mais sobre o Guardian Hack Day, ver: http://bit.ly/qKi619. Acesso jan. 2012. 141 Para saber mais sobre o Yahoo Pipes, ver: http://bit.ly/s6xcnZ. Acesso jan. 2012. 142 http://bit.ly/twjp2B. Acesso jan. 2012.
129
Para analisar a interface, Foucault
Observados somente do ponto de vista da narrativa, os exemplos citados acima
podem justificar o olhar sobre o Jornalismo praticado na Internet a partir da sua
evolução. Porém deixam de fazer sentido se incluídos na perspectiva da interface. O que
muda é a forma pela qual as duas vertentes são pesquisadas.
No caso da interface, a construção se dá a partir da lógica estruturalista orientada
pela Teoria do Jornalismo, ou seja, o newsmaking comanda todo o processo, ainda que
em alguns casos, como já foi afirmado anteriormente, de modo inadequado.
Consequentemente o resultado é um conteúdo arranjado a partir dos pilares que
balizam o design gráfico nos jornais impressos. Em uma página em branco, diagramada
em colunas (que vão de 3 até 12), o equilíbrio (BRINGHURST, op. cit., p. 71) se dá entre
quatro principais elementos básicos que devem ser levados em conta nesse quebra-
cabeça.
São eles: manchetes (fonte, tamanho e espaço ocupado), texto (tamanho e
importância), fotos e legendas devem impactar o conteúdo apresentado, conforme
explica o jornalista e designer Tim Harrower em The Newspaper Designer´s Hanbook
(2002, p.22):
Páginas de jornal são como quebra-cabeças. Quebra-cabeças podem que se encaixar em um número de maneiras diferentes. Apesar de as páginas poderem parecer complicadas num primeiro momento, você encontrará apenas quatro elementos básicos: quatro tipos de peças de quebra-cabeças que são essenciais. E porque estes quatro elementos se acostumam sempre, eles ocupam 90% de todo espaço editorial. Uma vez que você dominar esses quatro blocos básicos de construção, você já os domina design da página.
Transposta para a Internet, a estrutura se mantém: em uma superfície em branco,
há manchetes, fotos, hipertexto e multimídia destacadas pelos critérios de importância e
atualização. Não há definição de números de chamadas, como acontece na mídia
tradicional.
143 http://bit.ly/sMJ8sE. Acesso jan. 2012.
130
As interfaces exibem milhares de informações conectadas umas às outras, e as
alterações são feitas na medida em que um novo fato surge ou pela temporalidade do
texto. Talvez isso seja explicado pela falta de uma complexificação sobre critérios de
seleção dos elementos que as compõem (ver anexo, p. 258-288).
Se pensarmos as interfaces jornalísticas desde os primórdios do design gráfico,
não há como aplicar a seus estudos uma classificação por fases, pois são replicadas para
Web convenções estabelecidas na mídia tradicional (NELSON, 2001). Na realidade, as
práticas sociais na rede restringem a produção à superfície da tela, transformando o
browser em um paginador (BEIGUELMAN, 2003, p. 37, 67).
Outra razão para justificar o apagamento das fases é o princípio da remediação,
segundo o qual uma mídia representa a outra (BOLTER e GRUSIN, 2000), uma vez que é
preciso tratar o Jornalismo de Internet no jogo de sua instância e “deixar de observá-lo
por um tempo a partir da noção de evolução”, conforme afirma Foucault em Arqueologia
do Saber:
(...) É preciso mostrar que as formas prévias de continuidades não se justificam por si mesmas, que são sempre o efeito de uma construção cujas regras devem ser conhecidas e cujas justificativas devem ser controladas. É preciso apontar as condições de legitimidade desse tipo de categorização. Seria bem possível, por exemplo, que as noções de “influência” ou de “evolução” originassem uma crítica que as colocasse – por um tempo mais ou menos longo – fora de uso. (2007, p.28).
O argumento de Foucault é justificável nesse caso porque reafirma não somente
ponto de partida, mas norteia esta tese como um todo por não se dedicar
exclusivamente ao debate sobre a estrutura, mas sim no campo em que se manifestam,
se cruzam, se embricam e se especificam as questões do ser humano (2007, p. 18),
estendidas aqui à interface e às relações homem-máquina.
Defender o apagamento das fases ao estudo da interface não significa apontar que
todo o mundo se enganou, mas definir uma posição singular de exterioridade de suas
vizinhanças. Mais do que reduzir os outros ao silêncio, fingindo que seu propósito é vão
131
– é tentar definir esse espaço em branco de onde falo, e que toma forma, lentamente, em
um discurso tão incerto ainda (IBIDEM, p 19).
Não é sem razão que os conceitos de arqueologia e genealogia de Michel Foucault
dão sentido a essa questão. A arqueologia foi nos anos 1970 o método de pesquisa do
filósofo francês, tendo sido substituída depois pela genealogia. Para Foucault, uma
arqueologia referia-se às ciências humanas:
(...) Mais do que uma descrição paradigmática geral, trata-se de um corte horizontal de mecanismos que articulam diferentes acontecimentos discursivos – os saberes locais – ao poder. Essa articulação, claro, é inteiramente histórica: possui data de nascimento – e o grande desafio consiste em encarar igualmente a possibilidade de seu desaparecimento, como na orla do mar um ponto de areia (REVEL: 2005, p. 16-17).
Ao passar a utilizar o conceito de genealogia, o filósofo insistiu sobre a
necessidade de dirigir a leitura horizontal de discursividades para uma análise vertical –
orientada para o presente – das determinações históricas do nosso próprio regime de
discurso. E qualificou o seu projeto de arqueologia das ciências humanas mais como uma
genealogia nietzschiana do que como uma obra estruturalista.
Em um texto sobre o escritor alemão Friedrich Nietzsche, afirmou que a
genealogia é uma pesquisa histórica que se opõe ao desdobramento meta-histórico das
significações ideais e das indefinidas teologias, que se opõe à unicidade da narrativa
histórica e à busca da origem e que procura, ao contrário, a singularidade dos
acontecimentos.
Portanto, a genealogia trabalha a partir da diversidade e da dispersão, do acaso,
dos começos e dos acidentes: não pretende voltar ao tempo para restabelecer a
continuidade da história, mas procura restituir os acontecimentos na sua singularidade
(REVEL, op. cit. p. 17-52-53).
Também corroboram a necessidade de uma abordagem que não leve em conta a
ideia de evolução as noções do pesquisador russo Lev Manovich (2008; 2010) sobre
nova deep remixability (mistura de formatos e softwares) ou media visualization (criação
132
de novas representações visuais a partir de objetos de mídia ou parte deles). Deep
remixability e media visualization serão aprofundadas mais adiante.
O próprio Tim Berners-Lee recusa as nomenclaturas que definem a evolução da
Web. Em 2006, em uma entrevista a IBM, o engenheiro britânico criticou o uso do termo
Web 2.0 Criado por Tim O´Reilly em 2005, o termo se refere a conexão entre pessoas
enquanto que Web 1.0 significa conexão entre computadores144.
Para Berners-Lee essas nominações não passam de estratégia de marketing, pois
o WWW foi criado com o propósito de conectar pessoas, ser um sistema aberto145. Em
novembro de 2011, O’Reilly afirmou que o conceito Web 2.0 é obsoleto: “Essa expressão
foi própria de outro momento que se tentava promover a ideia de Web, e creio que foi
bem-sucedida e criado entusiasmo, mas lamentavelmente envelheceu”.146
É com esse raciocínio que nesta tese as fases não serão aplicadas ao estudo do
design de interfaces noticiosas. Não é possível utilizá-las para definir o seu atual estágio
porque o ponto de partida é o mesmo: diagramação em colunas, página em branco e
hierarquia, e as fases não dão conta desse ponto de vista (ver p. 67-71). O argumento
ganha mais força se analisada a tipologia na Web, como mostra a pesquisa feita com os
jornais e que será detalhada adiante.
O que caracteriza o Jornalismo de Internet?
Antes, porém, é preciso desconstruir outro aspecto importantíssimo: o que
caracteriza efetivamente a produção jornalística na Internet? Quais são os pontos de
partida para incrementar a narrativa? É sabido que texto e links marcaram o inicio das
interfaces de notícia na rede. Quem não se lembra do jornal francês Le Monde de 1996? E
da BBC em 1997? As interfaces seguiam os padrões de conexões estabelecidos à época:
banda estreita, a maioria das pessoas conectava-se por meio de linhas telefônicas. 144 WHAT IS web 2.0? O'Reilly, EUA, 30 set. 2005. Disponível em: http://oreil.ly/umHTu6. Acesso jan. 2012. 145DEVELOPERWORKS interviews: Tim Berners-Lee. IBM developerWorks, EUA, 28 jul. 2006. Disponível em: http://ibm.co/pUWtcn. Acesso jan. 2012. 146 "CONCEITO de web 2.0 é obsoleto", assegura Tim O'Reilly, Terra, Sâo Paulo, 23 nov. 2011. Disponível em: http://bit.ly/AbVijW. Acesso jan. 2012.
133
Com o passar dos anos, os projetos passaram a ser desenhados tendo em conta o
aumento do uso da banda larga e acesso a redes sem fio a um baixo custo, a
popularização de computadores e dispositivos móveis, um maior interesse dos
internautas por notícias e interfaces constituídas a partir do rastreamento de padrões de
uso e relações de consumo (JOHNSON: 2003, p. 89) e customização por dispositivos
(computador de mesa, notebook, tablet e telefones celulares).
Por causa disso, os jornais têm investido cada vez mais em conteúdo multimídia,
seguindo à risca a cartilha de características elencadas abaixo (interatividade,
hipertextualidade, personalização, multimidialidade/convergência, memória e
instantaneidade/atualização contínua (PALACIOS, 2003, p. 14-36) e imersão
(MOHERDAUI: 2005, p. 135-137) por diversos pesquisadores mundo afora,
especialmente para Web e agora tablets.
Porém, aplicadas à estrutura do papel, assemelham-se ao que Manovich chamou
de estética Power Point (ver p. 118):
Figura 78. Interface do Le Monde, 1996 (Internet Archive)
134
Figura 79. Interface da BBC, 1997 (BBC)
• Interatividade – Jô Bardoel e Mark Deuze (2001) afirmam que a interatividade
não é um termo ou conceito que surge com a Web. A interação já ocorria no rádio
ou na tevê, por exemplo. Mas a Web amplifica essa ação. O leitor deixa de apenas
receber a informação e se torna mais ativo. Além de interagir, ele pode produzir e
distribuir informação. Para os autores, a notícia na Internet (Web e aplicativos)
possui a capacidade de fazer com que o usuário sinta-se diretamente parte do
processo jornalístico. Isto pode acontecer de diversas maneiras: pela troca de e-
mails entre leitores e jornalistas, pela disponibilização da opinião dos leitores,
como é feito em interfaces que abrigam fóruns de discussões, por meio de chats
com jornalistas, etc. Arlindo Machado (1997) ressalta que a interatividade ocorre
também no âmbito da própria notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto
também pode ser classificada como uma situação interativa. Na opinião de Lev
Manovich (2001), a nova mídia é essencialmente interativa, e o usuário pode
interagir com a mídia ou com um objeto. O autor associa interatividade ao
princípio do hipertexto. Para Meadows, interatividade pressupõe
necessariamente ação e reação (ver p. 100).
• Hipertextualidade - Possibilita a interconexão de textos por meio de links. João
Canavilhas (1999) e Bardoel e Deuze (2001) chamam a atenção para a
possibilidade de, a partir do texto noticioso, apontar-se links para várias
pirâmides invertidas da notícia, bem como para outros textos complementares
(fotos, sons, vídeos, e animações), outras interfaces relacionadas ao assunto,
material de arquivo dos jornais, textos jornalísticos ou não que possam gerar
135
polémica em torno do assunto noticiado e publicidade. Deuze (2001) divide os
links em internos e externos e pondera para a ética ao inserir link externo em
uma publicação.
• Personalização - Também denominada individualização, a personalização ou
customização consiste na opção oferecida ao usuário para configurar ou receber
os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses individuais. Há
interfaces noticiosas que permitem a pré-seleção dos assuntos por meio de
newsletter, newsalert, o RSS, SMS e MMS, entre outros. Outros serviços de
personalização são o Blogging, no qual o internauta monta uma pasta com links
de todos os blogs que deseja colecionar. O de.li.cio.us é uma espécie de bookmark
no qual são armazenados links interessantes.
• Multimidialidade/Convergência - Multimidialidade refere-se à convergência
dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato
jornalístico. A convergência torna-se possível em função do processo de
digitalização da informação e sua posterior circulação e/ou disponibilização em
múltiplas plataformas e suportes, numa situação de agregação e
complementaridade. São os chamados pacotes multimídia de Mindy McAdams
(2005), que trazem em uma pequena tela material jornalístico como, por
exemplo, slide show com áudio, infográficos animados, galeria de imagens, fotos
randômicas, vídeos e textos, entre outros. Mark Deuze (2001) define a
multimidialidade como a combinação de informação oferecida em diferentes
formatos por uma ou mais empresas de comunicação.
• Memória – Marcos Palacios (1999) argumenta que a acumulação de informações
é mais viável técnica e economicamente na Web do que em outras mídias. No
WWW, a memória torna-se coletiva, por meio do processo de hiperligação entre
os diversos nós que a compõe. Desta maneira, o volume de informação
anteriormente produzida e diretamente disponível ao usuário e ao produtor da
notícia cresce exponencialmente no Jornalismo de Internet, o que produz efeitos
quanto à produção e recepção da informação jornalística. O usuário pode
136
acompanhar a informação passo a passo e gravá-la, pode repetir a apresentação
imediatamente ou pode assisti-la na quando quiser.
• Instantaneidade/Atualização Contínua – Rádio, tevê e impresso têm processos
de produção do noticiário diferenciados do ritmo do Jornalismo praticado na
Web. No jornal, por exemplo, o leitor tem de esperar até o dia seguinte para saber
as novidades. No rádio e na tevê, é preciso seguir as grades de programação. Na
Internet não há essa delimitação de temporalidade. A notícia é distribuída em
Web e aplicativos após ter sido devidamente apurada. Em alguns casos, publica-
se uma linha apenas, e ao longo do dia o conteúdo é atualizado ou
complementado, mesmo procedimento adotado em agências noticiosas. Javier
Díaz Noci (2006) afirma que a informação atualizada é cada vez mais importante
na Internet, tanto que os destaques das interfaces noticiosas aparecem junto com
as últimas noticias.
• Imersão – Janet Murray (2003) diz que a experiência de ser transportado para
um lugar primorosamente simulado é prazerosa em si mesma,
independentemente do conteúdo da fantasia. A autora se refere a essa
experiência como imersão. Imersão é um termo metafórico derivado da
experiência física de estar submerso na água. A sensação de estar envolvido por
uma realidade completamete estranha [essa ação é pungente em games como os
MUDs, por exemplo, nos quais jogadores assumem papeis de personagens147] está
relacionada à psicologia. O próprio programa de computador serve como um
narrador da história, publicando diálogos dos jogadores em seus monitores e
apresentando entradas, saídas, descrições e alguns acontecimentos
(MOHERDAUI: 2005, p. 135-137).
É verdade que como afirmam Mark Deuze (2001) e Marcos Palacios (2003), a
Internet potencializa as caracteristicas do Jornalismo: a tevê, por exemplo, é multimídia,
oferece texto, áudio, foto e vídeo. O CD-ROM também é multimídia, é hipertextual.
147 Para saber mais sobre MUDs, ver: http://bit.ly/zY6T6J. Acesso mar. 2012.
137
Pode ser imersivo, mas não oferece ainda atualização contínua nem tampouco
interatividade ou memória. A não ser que faça uso da transmídia, narrativa que se
desenrola através de vários suportes midiáticos, com cada novo texto contribuindo de
maneira distinta e valiosa para o todo. (JENKINS: 2008, p. 135).
Foi com o CD-ROM que o termo multimídia se popularizou no início da década de
1990, sobretudo com desenhos de interfaces para arte digital ou visitação de exposições
via CD-ROM, denominado à época new media. Depois, ganhou a Web. (MANOVICH: 2008,
p. 82-83). Aliás, naquela época a definição new media virou slogan de entrega de
conteúdo por Internet, tevê digital ou CD-ROM e DVD. Muito mais voltada à tecnologia
em si e ao dispositivo que ao conteúdo (HARRIES: 2002).
Manovich, ao contrário, a caracterizou como convergência de formas culturais
contemporâneas (interfaces, hipertexto e base de dados) e modelos anteriores, como o
cinema, baseadas no computador (2001, p. 25). O exemplo da revista NEO, a primeira do
gênero no Brasil, é esclarecedor, conforme imagens exibidas nas próximas páginas.
Figuras 80 e 81. Interface da edição número 17 da NEO (1997), a primeira revista em CD-ROM no Brasil. Nesta edição, a exposição de fotos do ex-guerrilheiro argentino Che Guevara assinadas por Alberto Corda é o destaque da matéria de capa. Naquele ano, a revista reunia elementos considerados característicos do Jornalismo praticado na Internet, como hipertextualidade, multimidialidade e imersão. Com uma diferença: primor no desenho da interface. Frequentemente, os textos eram acompanhados de trilha sonora, recurso pouco comum na Web - principalmente hoje em dia.
138
Figuras 82 e 83. Interfaces da revista NEO, edição número, 16. Detalhe para o anúncio
multimídia da Volkswagen: ao pular a página, a porta da Kombi se fecha. Outra diferença importantíssima. O tamanho do anúncio e a forma pela qual é exibido, sem incomodar a leitura como ocorre nas interfaces do WWW. Em geral, eles pingam na tela durante a navegação. Outro ponto a destacar é a matérua sobre um disco novo da Rita Lee. O texto acompanha videoclipe e áudio do álbum.
Figuras 84, 85, 86 e 87. Interfaces da revista NEO, edição número, 16.
Em relação à interatividade na mídia tradicional (rádio, jornal, revista, tevê), o rádio
tem ampla capacidade de interação, ainda que opere com controle por causa de sua
139
lógica orientada no modelo de comunicação um-todos (LÉVY: 1999, p. 164). Porém, é o
meio no qual há uma maior interação entre ouvinte e jornalista. Isso se dá
principalmente por telefone.
Com o advento da Internet, surgiram outras ferramentas como e-mail e redes sociais
(ainda que sejam dispositivos todos-todos), incorporadas às mídias, mas a frequência
com a qual ocorre a relação um-um (LÉVY, loc.cit) é maior no rádio148. Steven Johnson
conta que o rádio começou como um meio distribuído, muitos-muitos, bottom-up149, de
modo muito parecido coma Web em seus primórdios, mas logo se consolidou no modelo
de radiodifusão, dominado por redes nacionais como a RCA e a NBC (2001: p. 108).
As interfaces noticiosas operam com uma lógica de interatividade definida por Lev
Manovich como fechada (base de dados restrita). Para o pesquisador russo, toda
comunicação intermediada por computador é interativa, que pode ser fechada ou aberta
(software ou interface responde diretamente às ações dos usuários).
Manovich usou essa classificação para exemplificar os games e a comunicação do
jogador com uma base de dados. Trata-se de interação homem-máquina - e não homem-
homem - na qual o jogador realiza uma ação e o banco de dados reage a ela (2008).
Interatividade, de fato, pressupõe ação e reação (LÉVY: 1999; DEUZE: 2001;
MEADOWS: 2003). De nada adianta chamar interatividade botões de impressão,
aumento ou diminuição de fonte, envio de e-mail ou compartilhamento de conteúdo em
redes sociais.
Na realidade, são ferramentas que pressupõem algum tipo de ação, mas não
necessariamente uma reação. Para Giselle Beiguelman (MONACHESI: 2004), a
148 A noção de Pierre Lévy de dispositivo comunicacional um-todos, um-um e todos-todos (1999, p. 64) é aplicada à interatividade. Para Lévy, um-todos se refere a: imprensa, televisão e rádio como forma de distribuição de informação. Assim como um-um é aplicado a telefone e correio e todos-todos a conferências, sistemas para ensino ou trabalho cooperativo e processos comunicacionais em rede. 149
Bottom-up designa qualquer sistema material cujo comportamento relativamente regular é o resultado de interações aleatórias de seus elementos. A estratégia bottom-up preocupa-se com a singularidade da base material dos processos mentais. Explica os processos cognitivos (que se apresentam como sequenciados e centralizados) como resultante de interações paralelas e descentralizadas de uma unidade biológica básica bem definida, como os neurônios (JOHNSON: 2001, p. 108).
140
interatividade virou uma espécie de commodity no qual prevalece uma lógica de
clicagem burra em que o que vale é o ponto de chegada em detrimento ao processo - um
mal necessário para chegar a um fim pré-determinado.
Visto da perspectiva da narrativa baseada em dados (aberta) de Manovich, o
hipertexto também é um elemento interativo. Para o pesquisador russo, o internauta
atravessa uma base de dados, segue links estabelecidos pelo designer dessa interface.
Portanto, o autor entende que a narrativa interativa é a soma de múltiplas trajetórias
através de uma base de dados (2001, p. 227).
Ou seja, leitor se torna o personagem da narrativa ao interferir nela (MACHADO:
2007). Isso reconfigura o conceito tradicional de narrativa, ancorado em uma sequência
de ações e de experiências feitas por um certo número de personagens, representados
em situações que mudam ou a cuja mudança reagem, e cujo leitor apenas acompanha o
enredo (RICOEUR: 1994, p. 214).
Embora o link seja considerado um fator condicionante do WWW de Berners-Lee não
só para David Weinberger (ver p. 32), mas para Deuze também, a técnica foi utilizada
anteriormente em projetos de CD-ROM, ainda que com algumas limitações do suporte,
mas com linkagens para Web. Na realidade, como afirma o pesquisador holandês, o link é
o ponto de partida (2001).
Aliás, antes de o protocolo ser inventado surgiram dezenas de sistemas
hipertextuais, porém não tão populares150. Mas na rede, ocupa (como a multimídia) boa
parte da narrativa, embora utilizados muitas vezes sem critérios de importância (tanto
para notícia quanto para interface). É comum não haver estratégias para links com
artigos relacionados nem definição de lugar de inserção, se no meio do texto ou ao final.
Já que a intenção é manter a mesma lógica das mídias tradicionais, talvez fosse o caso
de aplicar a noção de Herbert Gans (1979 apud WOLF: 2002, p. 197), válida até mesmo
150
Ver http://bit.ly/qrUCRN.
141
para a Web: “Os critérios de relevância devem ser flexíveis, relacionáveis e comparáveis;
inclusivos ou exclusivos, facilmente racionalizados e orientados para a eficiência”.
Figura 88. Interface do estadão.com.br com a cobertura da morte de Michael Jackson, em 2007. O excesso do Estadão é o número de faixas musicais disponíveis.
Figura 89. Interface do New York Times com a cobertura da morte de Michael Jackson: uma série de links colocados no texto que atrapalham a leitura. Link leva a cada artista ouvido pela reportagem.
142
Figura 90. Interface do Último Segundo, com a cobertura da morte de Michael Jackson. No jornal do iG (Internet Group), percebe-se claramente um critério na escolha de cada link
O principal crítico do uso que se faz do hipertexto é o próprio pai do termo: Ted
Nelson (ver p. 33-34). Para Steven Johnson, autor de Cultura da interface (2001), os
equívocos têm origem no Vale do Silício: “a maioria das empresas voltadas
especificamente para a Web ignorou deliberadamente o hipertexto, preferindo
concentrar-se nos adereços mais televisivos dos vídeos granulosos e animações
rodopiantes” (2001, p. 82).
Jacob Nielsen resumiu o problema do link como texto âncora para um hipertexto da
seguinte maneira: “clique aqui”. Para o especialista em usabilidade, essa regra tem duas
justificativas. Em primeiro lugar, apenas os visitantes que usam mouse realmente clicam,
enquanto que pessoas com alguma espécie de deficiência ou que manipulam interfaces
por meio de toque não clicam.
Em segundo, as palavras “clique” e “aqui” dificilmente contêm informações e,
portanto, não devem ser usadas como elementos de design que atraem a atenção do
usuário. Ele defende que só devem ser transformadas em hipertexto as informações
mais importantes (2000, p. 55).
143
A rede inglesa BBC, que lançou no começo 2010 um sofisticadíssimo guia com
diretrizes para design151, usa até hoje click to play na versão brasileira. Arrancou da
versão inglesa no projeto que estreou em julho do mesmo ano. Trocou a redundância e o
imperativo pelo botão152 (veja comparação abaixo). Aliás, o “clique aqui” foi por muito
tempo (e em alguns casos ainda é) sinônimo de interatividade. Em gadgets, como iPod, o
termo é toque para assistir (tradução do inglês: tap to play).
Figuras 91 e 92. Versões brasileira e inglesa de destaque em vídeo da BBC sobre a Líbia, 2011.
Mas não é só a BBC que opera nessa lógica. A americana CNN também:
Figura 93. Interface da CNN sobre a Líbia, 2011: chamada de vídeo “click to play”153
151 A NEW global visual language for the BBC's digital services. BBC Internet Blog, Londres, 16 fev. 2010. Disponível em: http://bbc.in/o2x7Yv. Acesso mar. 2012. 152 BBC News website redesign: Frequently asked question. BBC News, Londres, 16 jul. 2010. Disponível em: http://bbc.in/qMoIEW. Acesso mar. 2012. 153CNN.COM Gets a Radical Redesign. ReadWriteWeab, EUA, 22 out. 2009. Disponível em: http://rww.to/p5x7Rj. Acesso jan. 2012.
144
O conceito dessas interfaces pouco difere do Movie Map, de 1978, considerado o
primeiro sistema hipermídia, desenvolvido por Andrew Lippman e seus colegas do MIT
(Massachussets Institute of Technology) que hoje integram o Media Lab do instituto.
O Movie Map consistia em uma aplicação de turismo que permitia ao usuário simular
uma viagem por Aspen, no Colorado (EUA). Ele foi implementado por meio de um
conjunto de videodiscos com fotografias da cidade. Em uma alusão ao Google Street View,
os filmes foram captados por câmeras montadas em carros que circulavam pelas ruas de
Aspen.
Figuras 94 e 95. Interfaces do Movie Map, do MIT
Quanto à personalização, é algo que tem se sofisticado desde que o WWW tornou-se
popular. São as chamadas mídia push, que empurram informação sob medida
diretamente ao usuário.
O primeiro sistema a aplicar essa tecnologia foi o PointCast. Surgiu em 1996 com a
proposta de oferecer customização de serviços no desktop. Agregava em uma tela
informações de várias fontes. Seu conceito era baseado no Daily Me, idealizado por
Nicholas Negroponte, do MIT (Massachusetts Institute of Technology). A Microsoft
chegou a propor uma parceria, mas o PointCast se tornou tão popular que comprometeu
seu funcionamento e deixou de operar154.
154 DO POINTCAST à Zite. Último Segundo, São Paulo, 11 mar. 2011. Disponível em: http://bit.ly/uU8ieC. Acesso jan. 2012.
145
Mas a mídia push não parou com o PointCast. Há um sem número de sistemas de
personalização, os mais comuns deles atualmente são Newsletter e RSS. Em 2011, foi
lançada a revista Zite para iPad, organizada com base no que seus contatos têm
compartilhado no Twitter ou no Google Reader.
O grande problema desses agentes inteligentes ocorre quando estão atreladas verbas
do departamento de marketing das empresas e, por isso, a entrega geralmente se
transforma em um empurrão, na opinião de Steven Johnson:
O que precisamos realmente é de melhores maneiras de puxar. É em torno disso que o projeto competente de interface sempre girou. É a única maneira de manter as solicitações indesejadas fora de nossos desktops. Os empurradores imaginam um futuro em que cada anúncio passageiro é decisivo para as nossas necessidades, em que cada boletim sabe o nosso nome. Mas e se quisermos um mundo sem boletins? (2001, p. 139-140).
Figura 96. Interface do Zite para iPad155
155 http://bit.ly/t1Of3A. Acesso jan. 2012.
146
Figura 97. Interface do PointCast 156
Obviamente, há casos bem-sucedidos e que representam uma ruptura em relação a
formatos existentes como o Firefly, desenvolvido pela equipe de Pattie Maes, do Media
Lab, do MIT157, conforme será detalhado no próximo capítulo.
156 Para saber mais sobre o PointCast, ver: http://bit.ly/nWPiYz. Acesso jan. 2012. 157 PATTIE. Wired, EUA, dez. 1997. Disponível em: http://bit.ly/sYQqTk. Acesso jan. 2012.
147
Capítulo 3
“A Internet está em fluxo
constante”
Geert Lovink
148
3. Interfaces nômades
Rupturas e remediações
O Firefly começou como um simples programa de recomendação de música que
apresentava títulos de discos e pedia ao usuário que os classificasse em uma escala de
um a sete. O truque estava em classificar o maior número de discos possível: o usuário
avaliava dez discos e o Firefly oferecia outros dez.
Quando o ciclo de opções se tornava insuficiente, era possível instruir o software
para recomendar outra música. Um botão estimulava a ação: “Vai, agente”! Ao clicar
nele, o agente trazia de volta uma lista de discos ainda não classificada, mas que ele
entendia que seria apreciada (JOHNSON: 2001, p. 142).
O que isso significa? Que o computador havia elaborado um modelo mental dos
interesses do usuário e fizera projeções a partir disso. Por trás dessa dinâmica está a
chamada filtragem colaborativa. Nesse caso, com a premissa do senso comum. Firefly se
apoiava na transferibilidade do gosto: supunha que as pessoas com interesses em
comum iriam partilhar também outros interesses.
Porém, o que tornava o sistema poderoso era o mecanismo de feedback incorporado
ao agente. Esse processo coletivo, de baixo para cima (bottom-up), gera um imenso
número de padrões potenciais a considerar, e o feedback do espectador ajuda o agente a
decidir que padrões potenciais vale a pena conservar (IBIDEM, p. 143-145).
Exemplos como esse do Firefly mostram a capacidade de a rede construir gigantescos
bancos de dados baseados em filtragem colaborativa, o que também interfere
diretamente em memoria e atualização contínua.
É verdade, como afirma Palacios (2003, p. 22-23), que algumas características
apresentadas anteriormente são encontradas em outros suportes jornalísticos e, em
alguns casos, são potencializadas na Web, como é o caso da imersão, por exemplo. Não
149
são apenas as obras de arte que provocam imersão, mas projetos gráficos de jornais ou
narrativas de tevê ou cinema também o fazem. Prova disso são os diversos filmes em 3D
lançados recentemente, e Avatar (2009) é uma espécie de divisor de águas desse
formato.
É correto o raciocínio de Palacios ao demarcar as rupturas ocorridas no Jornalismo
de Internet, como a dissolução dos limites de espaço e tempo para publicar notícias (op.
cit. p. 24-25). Entretanto, como já afirmado anteriormente, a atualização continua opera
na lógica do tempo diferido (ver p. 56). Outra ruptura de igual importância é a memória,
que pode ser recuperada pelo produser ou prosumer para produzir (ou recriar)
informação.
De novo o exemplo do Firefly é esclarecedor porque utilizava uma base de dados
constituída a partir da atualização contínua. Nesse caso, a filtragem colaborativa
baseada em feedback configura-se uma ruptura e não uma potencialização. Não há na
mídia tradicional forma de personalização que dê conta dessa dinâmica. Trata-se de algo
completamente novo.
O problema da recuperação da informação são as tecnologias de browsers adotadas
na elaboração de interfaces de dados de dez, quinze anos atrás. Quando são modificadas
ou estão defasadas, a memória se perde.
Quem não se frustrou ao acessar um arquivo do WaybackMachine e se deparou com
o seguinte aviso: seu browser não lê essa interface? A explicação é simples: ou o servidor
mudou e o conteúdo não foi migrado ou foi corrompido e desapareceu. A solução seria
atualizar a linguagem de programação158.
Se na Web é algo complexo, no CD-ROM a dificuldade aumenta ainda mais. As telas
das edições 16 e 17 da revista NEO, de 1997, capturadas para ilustrar as páginas 119 e
120 desta tese foram abertas em um computador com sistema operacional Windows 97
158 Para saber mais sobre browser, ver: http://bit.ly/n6xEaN. Acesso jan. 2012.
150
(Microsoft), embora a configuração exigida refira-se a Windows 95 ou 3.1 ou 3.11 para
computadores. O software não roda em versões atuais.
Mesmo que haja a constatação de que a Web possibilita reconfigurar o atual processo
comunicacional, as empresas de comunicação ainda operam em uma lógica
estruturalista, baseadas na remediação, conforme revela pesquisa com os seguintes
jornais: Globo Notícias (G1), UOL Notícias Folha (Folha.com), Terra Notícias,
Estadão.com.br, Google News, iG News (Último Segundo), R7 Notícias, BBC, The New York
Times, Band.com.br, CNN, MSNBC, El País, The Guardian e Huffington Post.
Figura 98. Interface do El País, 1996159
De modo geral, a composição tem sido norteada ao longo dos últimos anos
levando em conta principalmente:
a) aumento do uso da banda larga no mundo; b) baixo custo de acesso a Internet;
c) crescimento do interesse dos usuários por notícias em redes sociais; d) inovações
tecnológicas que possibilitam desenvolver conteúdo jornalístico na rede; e) tendências
de design observadas a partir de análise de perfil de consumo do usuário e do tipo de
configuração de seu computador.
159 http://bit.ly/pYl9ia. Acesso jan. 2012.
151
A análise aponta para a categorização feita acima. Há uma série de elementos
padronizados que formam o conjunto das interfaces:
• Exibição de estatísticas (matérias mais lidas, mais comentadas, mais
enviadas por e-mail, ou nuvens de assuntos relacionados);
• Ferramentas que pressupõem interatividade e de serviços (SMS, RSS,
newsletter, podcast, personalização, comentários, enquetes, correções e fale conosco,
entre outros), formatos de conteúdos (blogs, reportagem multiforme, texto multilinear,
pacotes multimídia, redes sociais, tags e open source);
• Multimídia (áudio, vídeo, slide show, infográfico animado, fotos e galeria de
fotos);
• Área de registro e login;
• Versões clássicas de jornais, rádios ou tevê;
• Sistema de busca avançado (por data, texto e multimídia);
• Resolução de tela (a maioria apresenta configuração 1024 ou maior);
• Conceito do acesso ao conteúdo se dá por mouse na tela do computador
(em gadgets como iPad e iPhone, o acesso é feito por toque);
• Menus são predominantemente horizontais;
• Serviços pagos e gratuitos (conteúdo e aplicativos);
• Anúncios de mídia rica e estáticos (como os links patrocinados). Em busca
de uma identidade visual e para fidelizar o usuário, algumas interafces jornalísticas têm
elementos diferenciados, como os widgets do ]estadão.com.br ou as versões em outras
línguas e a acessibilidade para deficientes, da BBC160.
Em relação à tipologia, se comparadas as versões impressa e de Web, percebe-se que
a lógica é a mesma já apontada anteriormente o jornal é um quebra-cabeça que contém
manchete, texto, fotos e legendas, como pode ser observado nas tabelas das páginas
seguintes.
160 Para saber mais sobre as ferramentas de composição, consultar http://bit.ly/9tGlir. Acesso em jul. 2011.
152
Tabela 5. Quadro comparativo entre jornalismo impresso e de Internet
Impresso
Internet
elementos
básicos do design
manchete
texto
foto
legenda
manchete
hipertexto
multimídia
redes sociais
Impresso
Internet
manchete
estática, definida
por tipologia,
formato, tamanho
e espaço, pode ser
centralizada e
alinhada
(esquerda ou
direita)
manchete
estática, definida
por tipologia,
formato, tamanho
e espaço, pode ser
centralizada e
alinhada
(esquerda ou
direita)
Impresso
Internet
texto
pirâmide
invertida,
hierarquia
diagramação em
colunas, remissão
a Internet
hipertexto
Pirâmide invertida
com links; simula
o papel, hierarquia
diagramação em
coluna; remissão a
outras mídias
153
Impresso
Internet
foto
estáticas,
complementam
texto; têm 3
cortes: horizontal,
vertical e
quadrada; são
destacadas na
capa ou nas
internas; são
abertas/fechadas
multimídia
dinâmicas,
multimídia forma
manchetes,
submanchetes;
em alguns casos,
há fotos fechadas;
no geral, são
horizontais,
quadradas e
retangulares
legenda
usadas para
descrever a
imagem, fato e
personagens; são
publicadas de três
formas: abaixo da
imagem, na lateral
e entre duas fotos
chamada
uso de chamadas
para destacar
multimídia; são
publicadas
geralmente abaixo
das imagens
A Web de Ted Nelson
Nessa perspectiva, quem melhor analisou a mídia na Internet foi, sem dúvida alguma,
Ted Nelson. Crítico fervoroso da Web, o fato é que o sociólogo americano trouxe, quando
anunciou seu Xanadu, propostas extremamente possíveis ainda que vistas como
visionárias.
Em entrevista ao programa Roda Viva, programa da TV Cultura, em 2007161, afirmou
que “os parágrafos ficam suspensos no ar, e as conexões podem ficar suspensas no ar,
161 http://bit.ly/ABJojM. Acesso jan. 2012.
154
sem necessariamente terem um formato retangular". O XML (Extensible Markup
Language) torna isso perfeitamente possível (ver p. 109).
Figura 99. Diagrama do Xanadu (1965), projeto de hipertexto de Ted Nelson
Para Nelson, a interface da Web segue tradições, e a hierarquia é parte disso. Embora
o argumento seja o de que a constituição se deu de modo convencional por ter sido
considerada “correta, natural e única forma", na opinião dele, são modelos de
“aprisionamento que constrangem e distorcem nosso trabalho e nosso pensamento”
(NELSON: 2001).
Outra questão igualmente importante é a analogia do design de interface que parte
da premissa de que a reprodução de metáforas visuais dá conta do entendimento que o
usuário tem do mundo que o cerca (JOHNSON: p. 18).
Esse raciocínio se encaixa perfeitamente nos atuais projetos de Jornalismo de
Internet analisados para esta pesquisa, a começar pela interface. No impresso, há os
formatos tabloide e standards. Na Web, horizontal ou vertical.
155
Até meados dos anos 2000, as interfaces eram construídas em 800 x 600 pixels,
padrão vertical, com menus nas laterais esquerdas. Depois, 1024 x 768 pixels em diante,
horizontal. A diagramação também segue a lógica tradicional, entre três e sete colunas,
com a diferença do uso do link na rede.
Tabela 6. Quadro comparativo entre jornalismo impresso e de internet
Impresso
Internet
interface/
formato
tabloide
standard, edição
com templates
diferenciados
horizontal ou
vertical, com
scroll; interfaces
têm formatos
semelhantes ao
standard; edição
em um ou dois
templates
Também se aplica o mesmo à manchete: nas duas versões, indica conteúdo a ser lido,
prioriza grandes notícias, é âncora da matéria e ajuda o designer a organizar a interface
para o leitor acessá-la. À exceção de alguns jornais, regra geral, usa-se o manual de
redação da mídia clássica para o newsmaking.
Procedimento idêntico é verificado nos cabeçalhos. A inglesa BBC e o brasileiro
Último Segundo162, por exemplo, têm guias específicos para o Jornalismo de Internet. A
BBC, inclusive, criou diretrizes especialmente para projetos gráficos na rede163. Porém,
sob a lógica da metáfora.
162 http://bit.ly/r8k2h0. 163 http://bbc.in/o2x7Yv.
156
Tabela 7. Quadro comparativo entre jornalismo impresso e de internet
Impresso
Internet
tipologias
com serifa nos
textos; nos selos
ou destaques, são
usadas letras sem
serifa, com tipos
variados, em
itálico ou negrito;
textos justificados
sem serifa (facilita
a leitura), uso de
um ou dois tipos,
em itálico ou
negrito; textos não
justificados
Por uma crítica da metáfora
Mesmo reticente, Jakob Nielsen afirma que a metáfora é útil por duas razões: oferece
estrutura unificadora ao design e facilita o aprendizado ao permitir que as pessoas usem
na Internet o conhecimento que já têm sobre seus sistemas de referência (2000, p. 180).
O especialista em usabilidade critica, portanto, os ícones de compras, representados
por carrinhos: “o conhecimento do sistema de referência indicaria que a forma de
comprar cinco cópias de algo é repetir a ação de colocar um único item no carrinho cinco
vezes” (IBIDEM).
Para Steven Johnson, essas metáforas são o idioma da interface gráfica
contemporânea e é esse idioma que atesta o extraordinário sucesso das GUI (graphical
user interface) desenvolvidas pela Xerox no Palo Alto Research Center e popularizadas
depois pelo Macintosh, da Apple.
O Mac, anunciado em 1984 por Steve Jobs, morto em outubro de 2011, vítima de um
câncer raro no pâncreas, foi o primeiro computador pessoal com interface amigável
(mouse, janela e ícones), mais tarde copiado pela Microsoft, de Bill Gates, no Windows.
Explica Johnson:
157
Talvez toda a inovação high tech seja acompanhada de flashbacks imaginários desse tipo, mas nosso próprio momento histórico acrescentou um desvio inusitado a essa longa tradição. As metáforas low tech, orgânicas, pertenciam em tempos passados aos que estavam em descompasso com a curva de potência da máquina, os ludistas e os antediluvianos, os poetas e os romancistas, os que recorriam a analogias mais antigas por estarem perturbados demais pelo choque do novo. Na sociedade de hoje, a missão de traduzir foi transferida para os técnicos. Na era da interface gráfica, com suas metáforas visuais de lixeiras e pastas em desktops, flashbacks imaginativos tornaram-se proezas de programação, engendradas por bruxos high tech que programam em linguagem assembly164 (2001, p. 19).
Jobs fundou a Apple em abril de 1976, aos 21 anos, na garagem de casa, em Los Altos
(EUA), com amigos, incluindo o engenheiro Steve Wozniak e Mike Markkula, ex-gerente
da Intel. Para comprar as primeiras peças que montariam o Apple I, Jobs investiu US$
1.500 da venda de uma Kombi, e Wozniak entrou com US$ 250 que faturou com uma
calculadora HP 65.
O primeiro produto a estourar no mercado foi o Apple II, em 1977, que difundiu a
ideia de computadores domésticos e os tornou milionários: o valor da empresa foi a US$
1,8 bilhão. A primeira impressora laser foi popularizada pela Apple165.
Depois, veio a aposta na mobilidade: o executivo modificou a indústria da música ao
lançar, em 2001, o iPod, gadget que permite às pessoas ouvir música em qualquer lugar
do mundo. E o mais importante: pagando por isso. Com o iTunes, Jobs criou um modelo
de negócio para conteúdos que antes estavam grátis na rede. Por meio da plataforma, é
possível comprar discos, filmes, revistas e jornais, entre outros.
Em 2007, anunciou o iPhone, cuja interface reconfigurou as funções do telefone e o
modo pelo qual as pessoas fazem uso dele. Três anos depois, surgiu o iPad, que impôs de
164Assembly ou linguagem de montagem é uma notação legível para o código de máquina que uma arquitetura de computador específica usa. A linguagem de máquina, que é um mero padrão de bits, torna-se legível pela substituição dos valores em bruto por símbolos chamados mnemônicos. Uma mnemônica é um auxiliar da memória. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: http://bit.ly/vWcBqp. Acesso jan. 2012. 165 GLOBO, 2011, p. 28-29.
158
vez a cultura dos aplicativos (pagos) e da mobilidade. Sem mouse, com acesso apenas
por toque166.
Figura 100. Apple I, lançado em 1976 pela empresa de Steve Jobs167
Figura 101. Anúncio do Macintosh, em 1984: Introducing Macintosh. For the rest of us.
Antes de a Apple criar um plano para consumo pago de conteúdo para seus produtos,
o que valia na rede era o consumo sem custo. Quem não se lembra do alvoroço causado
pelo Napster, criado por Shaw Fanning (sócio de Mark Zuckerberg no Facebook) e Sean
166 STEVE JOBS era um gênio. O Globo. 11 out. 2011. Disponível em: http://glo.bo/rBnecc. Acesso jan. 2012. 167 Para saber mais sobre o Apple I, ver: http://bit.ly/qLrH. Acesso jan. 2011.
159
Parker? A plataforma assentou a cultura do compartilhamento hoje difundida
amplamente por serviços como o Torrentz168, por exemplo, que permite download grátis
de música, filmes e livros, entre outros.
Criado em 1999, o Napster oferecia áudio no formato MP3, até então inexistente no
mercado. Os arquivos eram trocados por meio de uma rede P2P, na qual internautas
conectados apareciam como servidores de arquivos. Após muitos processos, o Napster
saiu do ar pela primeira vez em 2001. Voltou a funcionar em 2003, com sistema de
tarifas. Em 2011, foi vendido a Rhapsody (empresa de serviços de streaming vinculada
ao Best Buy)169.
O programa se difundiu por três razões muito simples (SHIRKY: 2010, 115):
(1) O dado digital é perfeita e infinitamente copiável a custo marginal zero; (2) as pessoas vão compartilhar se o compartilhamento for simples o bastante, e nessas condições nós normalmente não somos mesquinhos; e (3) Shawn Fanning criou um sistema para conectar as ações (1) e (2) com os incentivos certos. Isso foi o que virou a indústria fonográfica de cabeça para baixo. Tanto que o modelo original do Naspter foi destruído quando os processos judiciais da indústria aumentaram o custo de conectar o (1) e o (2) para um número significativo de pessoas.
Figura 102. Logomarca do Napster, criado por Shaw Fanning e Sean Parker
168 Torrent Search Engine http://bit.ly/snmIQ4. Acesso. Jan. 2012. 169NAPSTER encerra de vez suas atividades. INFO Online, São Paulo, 2 dez. 2011. Disponível em: http://bit.ly/sdh3iN. Acesso jan. 2012.
160
iPhone, iPod e iPad talvez sejam os primeiros dispositivos a não reproduzir
completamente metáforas visuais como o Macintosh. A operação se dá a partir de
aplicativos escolhidos pelo usuário. No iPhone, por exemplo, não há o ícone que
representa uma lixeira ou pasta de arquivo. Para apagar um aplicativo, basta pressioná-
lo e clicar no xis que aparece ao lado dele. Já o iPad tem ícones que emulam uma estante
de livros (iBook) e uma banca de jornal. A mais recente versão do sistema operacional do
iPhone também traz a banca.
Giselle Beiguelman critica a necessidade da reprodutibilidade:
O pressuposto é o mesmo do reducionismo. Não pode mudar porque se mudar as pessoas não entendem. Essa ideia pressupõe um sujeito universal domesticado, em permanente controle do seu imaginário. Assim, o mercado se garante pela reprodutibilidade. Como se garante? Precisa de um ícone que represente uma casa para entender que o que se chama homepage é um lugar? O teclado tem de ser Qwerty e o monitor tem de parecer uma tevê senão as pessoas não entenderão que se trata de um computador? (2009).
Essa questão leva a, pelo menos, dois equívocos: o primeiro deles, já abordado no
segundo capítulo (ver p. 94), é a redundância, o excesso de repetição nas interfaces
principais. Michel Foucault explica o problema das semelhanças ou dos signos de
conveniência: “teve influência na construção do saber oriental e desempenhou papel
fundamental até o século 16 quando a representação se dava como repetição” (2007, p.
23-24).
O segundo são as terminologias, incoerentes com a dinâmica da rede. Essa lógica se
explica pelo fato de o projeto gráfico (e editorial) ser pensado pela continuidade do
tempo e pelas tradições de similaridade que constituíram as práticas simbólicas da
modernidade, elaboradas no século 19 (IBIDEM). Observar as interfaces atuais é como
voltar aos séculos 16 e 19.
Ocorre, porém, que o computador se tornou uma máquina social que opera em
relação a outras máquinas, com ferramentas que têm transformado seus pressupostos
básicos: datilografar e fazer cálculos. Isso modifica completamente a interface. Que
161
precisa ser repensada do ponto de vista de um mapa cognitivo, o que requer uma nova
linguagem visual e um novo vocabulário crítico. É urgente sistematizar critérios para
julgar a interface (JOHNSON: 2001, p. 20-21).
O argumento de Giselle Beiguelman é esclarecedor:
Talvez a metáfora do site para designar a situação de não localidade que estrutura o ciberespaço, esteja na raiz desse fenômeno de equívocos terminológicos que não são inconvenientes por serem errôneos, mas por mascararem a situação inédita de uma espacialidade independente da localização em um espaço tridimensional (2003. p. 11-12). Nem mesmo pode-se dizer que esse conjunto de metáforas opere com tamanho sucesso por aproximar distintos backgrounds e repertórios simbólicos, cumprindo a função de um ritual pedagógico de “transição” entre formações culturais distintas. A percepção desse tipo de situação não significa reconhecer que a Internet nada mais faz que incorporar um repertório cultural já existente (IBIDEM, p. 13).
O que está em jogo é compreender de que modo a interfere no processo
comunicacional (ver p. 110) e, então, repensá-la a partir da notícia que circula no fluxo
cujo tempo agora é simultâneo e atemporal (CASTELLS: 2002, p. 553-560). De que
interface fala-se?
Certamente, não mais àquela constituída a partir da remediação, a reprodução de
uma mídia em outra. O conteúdo da interface é a media visualization, termo cunhado
pelo pesquisador russo Lev Manovich, uma mistura de softwares e formatos sem reduzi-
los somente a dados.
Uma nova linguagem visual híbrida
É nesse contexto que se dão as rupturas, não mais restritas somente às
características do Jornalismo de Internet, como destacadas neste capítulo, mas
ampliadas às teorias da comunicação como um todo. E a Web, de Tim Berners-Lee,
possibilita essa mudança.
162
Em The language of new media (2001), o pesquisador russo Lev Manovich
afirmou que a nova mídia não pode ser entendida em uma lógica de transposição de uma
forma cultural existente, ou no sentido da metáfora (MCADAMS, 1995; BOLTER;
GROMALA, 2003), remetendo-o a modelos anteriores.
Pelo contrário, deve operar no sentido de migração ou de deslocamento, como
forma de ampliação dos atuais modelos narrativos. Manovich a definiu como “a
convergência de formas culturais contemporâneas (interfaces, hipertexto e base de
dados) e modelos anteriores, como cinema, baseadas no computador” (2001, p. 25-48),
cujas características são:
1) Representação numérica (todos os objetos da nova mídia são construídos em
códigos digitais);
2) Modularidade (a nova mídia possui uma estrutura modular, ou seja, pode ser
composta em módulos;
3) Automação (a representação numérica da mídia e sua estruturação modular
permitem automatizar muitas operações envolvidas na criação, manipulação e acesso
das mídias);
4) Variabilidade (os objetos da nova mídia não são algo fixo de uma vez para
sempre, mas algo que pode existir em diferentes e potencialmente em infinitas versões;
a ordem dos elementos é essencialmente variável);
5) Transcodificação (traduzir uma forma cultural em outro formato).
Sete anos mais tarde, em Software takes command (2008), o autor propõe uma
nova linguagem visual híbrida. Se antes, a nova mídia era resultado de formas culturais
contemporâneas baseadas no computador, agora é definida por: a) mudança contínua
nas formas (variáveis); b) uso do espaço em 3D como plataforma comum para o design
de mídia; e c) integração sistemática de técnicas de mídia não compatíveis.
É o que Manovich chama de deep remixabilility: o remix não envolve apenas
conteúdos de diferentes mídias, mas também técnicas fundamentais, métodos de
trabalho e modos de representação e expressão.
163
O pesquisador russo apoia-se na experiência com programas usados durante sua
trajetória profissional para pensar a Cultura do Software - Word, PowerPoint, Photoshop,
Illustrator, Final Cut, After Effects, Flash, Firefox e Internet Explorer, entre outros -,
definida por ele como (p. 13):
Um subconjunto de aplicativos de software que permite: publicação, criação, movimento, acesso, compartilhar e remixar imagens, seqüências de imagens em movimento, desenhos 3D, textos, mapas, elementos interativos, bem como várias combinações desses elementos, tais como Web sites, desenhos 2D, gráficos, jogos de vídeo,comerciais e artísticas instalações interativas, etc (enquanto originalmente este software aplicativo foi projetado para rodar no desktop. Hoje algumas das criações de mídia e ferramentas de edição também estão disponíveis como webware, isto é, aplicações que são acessadas via Web como o Google Docs).
Para chegar a essa conclusão, Manovich faz uma revisão histórica do software,
cuja expansão se deu principalmente na década de 1990 e nos anos 2000 e hoje deixou
de ser considerada uma tecnologia invisível para se tornar o novo padrão intelectual da
atualidade e estende também a noção de remediação (BOLTER; GRUSIN: 2000) ao
computador.
Ele atribui ao esforço da equipe de Alan Kay, na década de 70, no centro de
pesquisa da Xerox no Palo Alto (EUA), a existência de ferramentas, interface e serviços
disponíveis nos computadores (MANOVICH, op. cit., p. 34-37).
Embora o cientista americano não tenha sido o único a desenvolver aplicativos de
mídia como, por exemplo, programas de desenho e animação (escritos nos anos 1960),
ele contribuiu para estabelecer um novo paradigma do computador como mídia (media
computing). Mas com um detalhe: a interface criada por Kay transformou o computador
em uma máquina que imita a mídia tradicional, com ferramentas de criação e edição
semelhantes (IBIDEM, p. 37). Ou seja, o computador vira uma máquina de remediação.
Para Manovich, a única diferença entre a remediação das mídias e do computador
consiste em saber como e o que eles remediam. Intrigado, o pesquisador russo pergunta:
“Por que essas pessoas dedicaram suas carreiras a criar uma máquina de remediação?
164
Não havia nada de novo nas formulações teóricas de Alan Turing e Von Neumann170
sobre o computador imitar as mídias tradicionais?”:
(...) Eu quero entender algumas das transformações dramáticas do que é a mídia, o que ela pode fazer, e como nós a usamos - as transformações que estão claramente ligadas à mudança de tecnologias anteriores de mídia para software. Algumas dessas transformações já ocorreram na década de 1990, mas não foram muito discutidas no momento (por exemplo, o surgimento de uma nova linguagem de imagens em movimento e design visual em geral). Outros nem sequer foram nomeados ainda. Ainda outros, tais como remix e mash-up cultura - estão sendo encaminhados o tempo todo, e ainda assim a análise de como eles se tornaram possíveis pela evolução de software de mídia até agora não foi tentada (IBIDEM, p. 38).
A justificativa estaria no fato de Kay ter como propósito transformar o
computador em uma mídia dinâmica pessoal (tradução de personal dynamics media) na
qual é possível aprender, descobrir e criar. Foi o que seu grupo da Xerox fez: simulou a
maioria dos meios dentro do computador e também acrescentou novos aplicativos a ele.
Kay e seus colegas desenvolveram uma nova linguagem de programação que
permitiu criar novos meios de comunicação a partir de ferramentas já existentes. A essas
ferramentas criou-se uma interface unificada com símbolos e ícones para que o usuário
pudesse realizar várias funções (IBIDEM, p. 40).
A mídia dinâmica pessoal do cientista americano é um novo tipo de meio de
comunicação com capacidade de arquivar informação, de simular velhas mídias e de
proporcionar conversação bilateral. Embora o computador tenha aparência visual das
mídias já existentes, essa mídia funciona de maneira diferente.
Se considerar a fotografia digital superficialmente, ela remediará a fotografia
analógica. Mas se for entendido o seu funcionamento e o que pode ser feito a partir e
com essa imagem digital, percebe-se que não há remediação e que há diferenças. Por
exemplo, a imagem digital é representada por pixels, explica Manovich (2008):
Por exemplo, considere a fotografia digital que muitas vezes imita a aparência na fotografia tradicional. Para Bolter e Grusin, este é o
170
http://bit.ly/qqb7dI.
165
exemplo de como mídias digitais corrigem seus antecessores. Mas em vez de só prestar atenção à sua aparência, vamos pensar em como fotografias digitais podem funcionar. Se uma fotografia digital é transformada em um objeto físico no mundo - uma ilustração em uma revista, um cartaz na parede, uma impressão em uma t-shirt - funciona da mesma forma como o seu antecessor. Mas se deixarmos a mesma fotografia dentro de seu ambiente nativo do computador - que pode ser um laptop, um sistema de armazenamento de rede, ou em qualquer computador habilitado em dispositivo de mídia, como um telefone celular que permite ao usuário editar esta fotografia e movê-la para outros dispositivos e Internet - que pode funcionar de maneira que, na minha opinião, a torne radicalmente diferente do seu equivalente tradicional. Para usar um termo diferente, podemos dizer que uma fotografia digital oferece aos seus usuários muitos recursos que o seu antecessor não digital não pode oferecer. Por exemplo, uma fotografia digital pode ser rapidamente modificada de várias maneiras e igual e rapidamente combinada com outras imagens; instantaneamente movido ao redor do mundo e compartilhados com outras pessoas e inserido em um documento de texto, ou um projeto arquitetônico. Além disso, podemos automaticamente (ou seja, executando os algoritmos apropriados) melhorar o contraste, aumentar a nitidez, e até mesmo em algumas situações, remover borrões (41).
(...) Novos DNAs de uma fotografia digital são devidos ao seu lugar particular de nascimento, ou seja, dentro de uma câmera digital. Muitos outros são o resultado do atual paradigma da computação em rede em geral (42).
A primeira interface de conversação
Embora o trabalho de Alan Kay seja importantíssimo no estudo da interface, há
que se destacar o Sketchpad, anunciado em 1962 por Ivan Sutherland, considerado a
primeira interface de conversação por Susan Brennan, pesquisadora da obra de
Sutherland.
O Sketchpad foi o primeiro sistema de manipulação direta de imagens em uma
tela. O uso se dava por meio de uma caneta ótica. Também foi o pioneiro ao utilizar
programação aplicada a objetos, que Kay ajudou a desenvolver171. Sutherland detalhou
171 A TALK by Alan Kay. New Media Reader, EUA, 27 mai. 1986. Disponível em: http://bit.ly/nOf0vX. Acesso jan. 2012.
166
o Sketchpad em sua tese de doutorado, apresentada em 1963 no Massachusetts Institute
of Technology (MIT)172.
A caneta foi substituída pelo mouse, inventado em 1965 por Douglas Engelbart,
engenheiro responsável pela criação do primeiro sistema de aumento da cognição
humana, o Augment/NLS. Tratava-se de um processador de texto baseado em hipertexto
com uma imensa capacidade de armazenar e classificar informação. Engelbart foi
fortemente influenciado por Vanevar Bush e é considerado o pai da interface
contemporânea por Steven Johnson:
(...) O programa de Sutherland – chamado Sketchpad – foi o percussor de aplicações gráficas como MacPaint e Photoshop. Estes são, sem dúvida, descendentes notáveis, mas o problema que o Sketchpad procurava resolver era o de como fazer o computador desenhar coisas na tela, como levar a máquina além de uma simples exibição de caracteres. Não encarava o problema mais relevante da tradução de toda a informação digital numa linguagem visual. Essa foi a grande sacada de Engelbart, e estivera empenhado nela havia quase duas décadas (2001: 16)
A busca começara com um pequeno e provocativo ensaio intitulado As we may think com que Engelbart topou quando esperava para ser embarcado de volta aos Estados Unidos no fim da II Guerra Mundial. Escrito por um cientista militar de alta patente chamado Vanevar Bush, o ensaio descrevia um processador de informações teórico, chamado Memex, que permitia ao usuário abrir caminho por grandes coleções de dados, quase como um navegador da Web de nossos dias. A imagem obsedou Engelbart durante décadas, à medida que ele fazia carreira irregular na incipiente indústria da computação. A legendária demonstração que fez em São Francisco foi do primeiro produto em condições de funcionamento que sequer se aproximava da funcionalidade do invento especulativo de Bush, o Memex. Doug Engelbart teve uma carreira notavelmente eclética e visionária, mas por essa única demonstração já merece sua reputação de pai da interface contemporânea. (IBIDEM: 17).
172 SKETCHPAD: A man-machine graphical communication system. Techical Report (Cambridge University), set. 2003. Disponível em: http://bit.ly/pmyKcH. Acesso jan. 2012.
167
Figura 103. Sketchpad, primeira interface de conversação
Figura 104. Caneta ótica, de Ivan Sutherland
168
Figura 105. Sistema Augment/NLS, processador baseado em texto e mouse
Figura 106. A arquitetura Augment/NLS, de Doug Engelbart173
Em 1969, o cientista Thomas Ellis projetou o Grail (GRAphic Input Language).
Programado por Gabriel Groner e seus colegas da Rand Corporation, foi precursor no
reconhecimento por gesto. Em 1970, Kay anuncia o Dynabook, computador pessoal para
crianças. O dispositivo assemelha-se a um tablet. Skatchpad e Grail deram o pontapé
inicial à interface gráfica do usuário (GUI, sigla em inglês).
Apesar de os trabalhos de Douglas Engelbart, Vannevar Bush, J.C. Lindlicker e
Douglas Engelbart serem orientados ao aumento do trabalho intelectual e o científico,
em particular, Manovich escolheu Alan Kay para pensar a nova mídia pela abordagem da
173 HISTORY in pictures. Doug Engelbart Institute. Disponível em: http://bit.ly/ou1B0p. Acesso jan. 2012.
169
pesquisa do cientista segundo a qual o computador é um meio de expressão que permite
desenhar, pintar, criar animações e compor música.
Figura 107. Grail, sistema de reconhecimento por gesto, de Tom Ellis
Figura 108. Dynabook, computador pessoal desenvolvido para crianças, de Alan Kay
O pesquisador russo procura entender o que é a mídia depois do software, ou
seja, o que aconteceu a técnicas, linguagens e conceitos de mídia do século 20 como
resultado da computadorização. Em resumo: o que aconteceu à mídia depois que ela se
tornou software-ized (softwarizada) (2008: 39-40). A identidade do computador como
mídia demorou 40 anos para surgir, se se levar em conta que o MIT começou a trabalhar
170
no primeiro protótipo interativo em 1949, e o lançamento do Photoshop aconteceu em
1989.
Embora exista a perspectiva de interfaces pensadas a partir da deep remixability,
as empresas de comunicação trabalham em uma lógica de absoluta remediação. A
estética da base de dados resume-se, grosso modo, a um elemento de composição, uma
ilustração (ou a um gênero174 do Jornalismo) como, por exemplo, o infográfico. Não há a
percepção de que há algo completamente diferente. Um infográfico é apenas parte da
narrativa.
Há igual discussão em curso sobre o newsgames. Considerado gênero, o
newsgames usa a lógica do jogo para informar (BOGOST et al: 2010, p. 175-181. O termo
foi criado em 2003 pelo designer Gonzalo Frasca, desenvolvedor do September 12th,
onsiderado um dos primeiros jogos envolvendo o noticiário, que simula o combate ao
terrorismo175.
Tag para desenhar
Figura 109. Nuvem de tags dos tópicos mais comentados da The Economist176.
174 Gêneros são formas que o jornalista busca para se expressar. Seu traço definido está, portanto, no estilo, no manejo da língua: são formas jornalístico-literárias porque seu objetivo é o relato da informação e não necessariamente o prazer estético (GARGUREVICH: 1982 apud MELO: 2003, p. 43). 175 O QUE são os newsgames? Último Segundo, São Paulo, 10 mar. 2008. Disponível em: http://bit.ly/qLUQdV. Acesso jan. 2012. 176 http://econ.st/vJ6ql6. Acesso jan. 2012.
171
Já o híbrido, resultado da mistura de formatos e softwares, tem de ser a narrativa
principal. Tão importante - ou mais - quanto uma manchete ou uma chamada com foto.
Subverte sua origem primeira: ser um acessório.
Aliás, Manovich defende esse híbrido como a nova linguagem visual. Nessa
definição não entram newsgames nem infográficos. O autor fez a distinção entre um
simples infográfico e uma visualização de tags criada a partir de uma base de dados sem
reduzi-la simplesmente a dados superficiais ao cunhar o termo media visualization
(2010).
Sabe-se que a tag é vista como algo que atomiza a informação, mas o pesquisador
russo vai além:
Considere uma técnica chamada de nuvem de tags177. A técnica foi popularizada pelo Flickr em 2005 e hoje pode ser encontrada em inúmeros sites e blogs. Uma tag cloud mostra as palavras mais comuns em um texto no tamanho da letra correspondente à sua frequência no mesmo texto. Tag cloud exemplifica um método amplo que pode ser chamado de visualização de mídia.
A brasileira Fernanda Viégas, uma das desenvolvedoras do Many Eyes178,
plataforma aberta da IBM para criação de base de dados, compara a visualização a
escrever e afirma ser um novo meio de comunicação. Em 2010, Fernanda entrou para a
lista de mulheres mais influentes do mundo da tecnologia da respeitada
revista FastCompany179. Dois anos antes de Manovich e Fernanda, o designer Eric
Rodenbeck afirmou que a visualização da informação é uma mídia180
.
Desse modo, Software takes command (2008) responde a pergunta feita pelo
pesquisador em 2001, em Language of the new media: “como a mudança para narrativas
baseadas em computador (teleação) redefine a natureza das narrativas precedentes e
177 Para saber mais sobre tag cloud, ver: http://bit.ly/rvUdEo. Acesso jan. 2012. 178 Para saber mais sobre o Many Eyes, ver: http://bit.ly/uNVPK6. Acesso jan. 2012. 179 CONHEÇA Fernanda Viégas, brasileira que é a "senhora planilha". Terra, São Paulo, 5 mai. 2010. Disponível em: http://bit.ly/qClHTo. Acesso jan. 2012. 180 INFORMATION visualization is a medium. O´Reilly, São Paulo, 4 mar. 2008. Disponível em: http://oreil.ly/rnr1oB. Acesso jan. 2012.
172
que novas possibilidades emergem desse marco tecnológico e cultural”? Os exemplos da
próxima página ilustram a interface da nova linguagem visual híbrida:
Figura 110. Base de dados colaborativa sobre os 66 anos da Bomba de Hiroshima feita
na plataforma do Google Earth. O resultado é um arquivo em 3D com depoimentos de sobreviventes e informações coletadas de fontes oficiais181
Figura 111. Tackable, aplicativo para telefones celulares desenvolvido em parceria com
o jornal The San Jose Mercury News para uma rede social fotográfica em torno dos profissionais a empresa e dos cidadãos. A ideia é que os editores do jornal possam recolher material georeferenciado para ilustrar o noticiário182.
181 Para saber mais sobre o Hiroshima Archive, ver: http://bit.ly/tXJV74. Acesso jan. 2012. 182 Para saber mais sobre o Crowdsourced photojournalism app, ver: http://bit.ly/vWNGGz. Acesso jan. 2012.
173
Figura 112. Interface em tempo real de posts do Twitter via Google183
Figura 113. Ushahidi, plataforma de criação de mapa open source, utilizada pela BBC de
Londres para mostrar os problemas causados pela greve do metrô, que afetou milhares de pessoas em setembro de 2010. Os cidadãos podiam enviar para a rede inglesa mensagens em texto, vídeo, áudio e tweets, com a hashtag #TubeStrike. O resultado é m mapa colaborativo e detalhado, atualizado quase que em tempo real. O Ushahidi ganhou fama nas eleições do Quênia, em 2007184.
183 A pesquisa por real time não está mais disponível no Google. 184 Para saber mais sobre o Ushahidi, ver: http://bit.ly/vZjRwq. Acesso jan. 2012.
174
Figura 114. Revisit é uma visualização dinâmica de tweets sobre um tema
específico. A plataforma customizar visualização de posts e enfatizar conversas estabelecidas por retweets (replicar mensagens) ou replies (respostas)185.
Figura 115. TimeSpace, do The Washington Post – Trata-se de um mashup noticioso, um
mapa no qual é possível acessar textos, fotos, vídeos e comentários sobre notícias ao redor do mundo além de fazer busca customizada de conteúdo186.
185 Para saber mais sobre o Revisit, ver: http://bit.ly/taGqzk. Acesso jan. 2012. 186 Para saber mais sobre o TimeSpace, ver: http://wapo.st/rA0N53. Acesso jan. 2012.
175
Figura 116. Termômetro do Guardian sobre como o Twitter reagiu ao anúncio do fechamento do News of the World, de Rupert Murdoch187. Profissionais que trabalhavam para o jornal de Murdoch foram acusados de grampear quatro mil pessoas, entre elas celebridades, para obter informações exclusivas188. Durante quatro dias, o Guardian analisou meio milhão de posts com a hashtag #notw para captura a reação das pessoas ao escândalo.
Figura 117. Cascade – Aplicativo open source desenvolvido pelo The New York Times
Labs para analisar o impacto de seus conteúdos nas redes sociais. A ferramenta constroi uma visualização de dados a partir de comportamento e de como a informação se propaga em redes como Twitter, por exemplo189.
187 HOW TWITTER tracked the News of the World scandal. The Guardian, Londres, 13 jul. 2011. Disponível: http://bit.ly/s2Q4qd. Acesso jan. 2012. 188
MURDOCH DIZ: "Lamentamos pelo escândalo do grampo”. Reuters, São Paulo, 16 jul. 2011. Disponível em: http://bit.ly/rL4URQ. Acesso jan. 2012. 189 Para saber mais o Project Cascade, ver: http://bit.ly/vbLf2x. Acesso jan. 2012.
176
Arquitetura da informação ainda dá conta?
Para compreender de que forma chegou-se à nova linguagem visual híbrida da
qual fala Manovich é preciso, porém, revisitar dois principais conceitos que balizam o
Jornalismo de Internet e estão na ordem do dia: arquitetura da informação e interface.
Se na mídia tradicional, a exigência é a de alguém com boa formação cultural,
conhecimento geral e domínios das línguas portuguesa e estrangeira; na rede essa
perspectiva é outra: o profissional é visto também como um arquiteto da informação,
pois está inserido na concepção dos princípios sistemáticos, estruturais e
organizacionais para fazer algo funcionar – a estrutura elaborada de um artefato, ideia
ou política que se evidencia por ser nítida (WURMAN, 1996, p. 16).
No mesmo grupo, está o designer informacional, responsável por planejar um
ambiente visual que organiza o material a ser apresentado na tela do computador
(GARCIA, 1997, p. 5). É verdade que o jornalista responsável pelo fechamento da
primeira página do jornal impresso trabalha com noções semelhantes, já que organiza
um mosaico informativo também na Internet.
No caso da arquitetura da informação, no Brasil o conceito foi adotado nos anos
2000 pela primeira vez por Beth Saad, da Escola de Comunicação e Artes da
Universidade de São Paulo (ECA/USP). Xosé García López, Manuel Gago Mariño, José
Pereira Fariña (2003) e Elias Machado (2004) propuseram um alargamento do conceito,
sobretudo após a atualização de Louis Rosenfeld e Peter Morville (1998) para a web.
Para eles, arquitetura da informação seria entendida da seguinte forma: 1)
sistema de orientação na busca (1962); 2) orientação na busca e recuperação de
informação (1990); e 3) roteiro para criação de narrativas multimídias (2000).
Já o designer da informação, deve ter habilidades em: 1) Gerenciamento; 2) Arte
visual; 3) Linguagem; 4) Tecnologia e 5) Jornalismo, conforme defende Mario Garcia (op.
cit., p. 22-29). Garcia destaca que, no caso do Jornalismo, o conhecimento da área
contribui para a melhor apresentação do conteúdo em uma interface na Internet e
177
enumera cinco competências: hierarquia, brevidade, acuracia, relatividade (localizar
conteúdos já destacados e indicar arquivo e busca) e consistência (oferecer background).
Figura 118. Esboço de arquitetura da informação (MORVILLE; ROSENFELD, 1998)
Ainda que com uma proposta para ir além das noções de Richard Wurman e Peter
Morville, a arquitetura da informação remete à estrutura, à organização. E é por essa
razão que os projetos de jornalismo para a Internet não abandonaram a influência das
mídias clássicas e, mesmo identificadas como um PowerPoint com multimídia,
continuam reproduzindo metáforas analógicas.
Interface como superfície
Outra questão que se coloca nessa discussão é o conceito de interface,
frequentemente confundido com o de superfície nos jornais de Internet. De modo geral, a
interface é compreendida como algo que conecta o homem à máquina (LEMOS: 2004). O
The Internet Dictionary diz que interface ou (user interface) é a parte de um programa
178
que interage entre usuário e uma aplicação. Ou GUI (Graphical User Interface), que
oferece uma navegação amigável, baseada em imagens.
Para Alison J. Head (1999) significa o modo de comunicação com o usuário por
meio do design, formado por ícones, menus, mouse, teclado e outros dispositivos
interativos. Steven Johnson afirma que “mais do que ferramentas, estamos diante de
aplicações que se assemelham mais a um ambiente, a um espaço” (2001, p. 17-20).
Para o jornalista e escritor americano, o termo se refere a softwares que dão
forma à interação entre usuário e computador. A interface atua como uma espécie de
tradutor, mediando entre as duas partes, tornando uma sensível para a outra. Essa
mediação se torna necessária porque a lógica do pensamento humano se dá por meio de
palavras, conceitos, imagens, sons e associações, sendo difícil compreender a linguagem
de sinais e símbolos numéricos usados pelo computador (2001, p. 17).
O pai do Macintosh (Apple), Jef Raskin, defende que a interface é qualquer modo
como um usuário executa tarefas em um dispositivo, e que faz com que ele responda
(2002, p. 2). Já André Lemos trabalha com a ideia de manipulação direta (direct
manipulation), ou seja, a interface atua como um mediador cognitivo, e essa mediação é
criada por meio de uma ação global com múltiplos agentes em uma manipulação direta
da informação (1997).
Lev Manovich denominou interfaces culturais a relação homem-computador-
interface, pois os computadores apresentam e permitem a interação de dados digitais
que formatam modalidades culturais. A nomenclatura proposta pelo pesquisador russo
tem origem na análise das formas culturais existentes - palavra impressa e cinema, por
exemplo. Que o autor também classifica como interfaces culturais.
Esse entendimento passa necessariamente pela redefinição da relação entre
homem e máquina, amplamente discutida por autores como Gilbert Simondon (1958),
Anthony Giddens (1991), Félix Guatarri e Gilles Deleuze (1976), e que põe fim a
abordagens romântica (a estética ciborgue não deve ser uma herança na qual o corpo é a
parte desprezível e ele deve ser a máquina) e cartesiana (a parte mental é superior e o
179
corpo é a parte maquínica, que obedece a comandos pré-programados) para dar lugar à
ideia de que a máquina é entendida como um fenômeno heterogêneo, em que há uma
subjetividade particular ou várias, mas não existe uma máquina em si.
Com isso, a ideia segundo a qual técnica e ambiente não são distintos, mas
imbricados, possibilita a criação de interfaces dinâmicas no âmbito da Internet das
Coisas, pois a técnica é condição para uma intervenção humana adequada, e o ambiente
é o meio associado que assegura o desempenho técnico. A máquina, no entendimento de
Simondon (1958, p. 60), representa a materialização do pensamento humano, que forja
conexões mentais e depois as inscreve no objeto.
Isso posto, percebe-se, portanto, de que maneira as empresas de comunicação
operam na rede. Além da aposta em multimídia e links para redes sociais, grosso modo,
os projetos gráficos baseiam-se em uma máxima que surgiu após a grande mudança
instituída no Jornal do Brasil por Jânio de Freitas, no final dos anos 1950: as reformas de
jornal alternam-se por tirar e colocar fios.
Em junho de 1959, o jornalista, hoje colunista da Folha de S.Paulo, decidiu
arrancar os fios das páginas e aumentar o tamanho das fotos no JB. Dizia que os leitores
não liam fios. Também integravam o time Odylo Costa Filho, Ferreira Gullar, Alberto
Dines e Reynaldo Jardim190.
Não é novidade que qualquer projeto passa pelo planejamento editorial e pela
definição de público (AMARAL, 2004). Um caminho talvez seja repensar a interface e
perfilar o público habituado cada vez mais a Internet das Coisas. Entre todas as
definições apontadas até agora, talvez, seja mais coerente pensar na proposta por Steven
Johnson:
“A interface atua como uma espécie de tradutor, mediando entre as duas partes,
tornando uma sensível para a outra”. Isso não exclui o entendimento de a interface ser a
mensagem.
190 JB CRIOU nova concepção gráfica e editorial no jornalismo brasileiro. Último Segundo, São Paulo, 30 ago. 2010. Disponível em: http://bit.ly/o02rkq. Acesso jan. 2012.
180
Tabela 8. Jornalismo ontem e hoje
Ontem Hoje
Jornalismo Digital Jornalismo de Internet
Mundo virtual/ciberespaço Internet das Coisas
Computador como meio Interface como meio
Fases Remediação/Media visualization
A inteligência distribuída deslocou a fonte
Mas o que tem impedido interface de se impor completamente como mensagem
aos conglomerados de mídia? Aos que sustentam que o que vale é o repórter e a fonte191,
esquecem-se de que o Wikileaks jogou por terra essa regra quando mostrou ao mundo
todo que a fonte se deslocou.
Criada em 2006, a base de dados de Julian Assange provocou um terremoto
diplomático mundo afora ao reforçar a liberdade da informação quando foi ao ar
um vídeo192 que mostrava soldados americanos em Bagdá matando civis, entre os quais
dois jornalistas da Reuters.
Assange tem acordos com jornais como Guardian, New York Times e Der Spiegel
por acreditar que a mídia impacta de maneira estrondosa seus vazamentos. Os dados
brutos do Wikileaks são talhados por um time composto por matemáticos e jornalistas
para transformar informações em notícia como a que originou a divulgação de 90 mil
telegramas sobre as operações militares dos EUA, entre 2004 e 2009, no Afeganistão.
A publicação levou o australiano à prisão. Oficialmente, não por esta razão, mas
acusado de crimes sexuais193.
191 'JORNALISMO não é arte, é trabalho coletivo'. O Globo, Rio de Janeiro, 11 out. 2011. Disponível em: http://glo.bo/qfizEs. Acesso jan. 2012. 192 WIKILEAKS media insurgency. The New Yorker, EUA, 31 mai. 2010. Disponível em: http://nyr.kr/sBEROI. Acesso jan. 2012. 193 ASSANGE, o fundador do WikiLeaks, é preso em Londres. Veja, São Paulo, 7 dez. 2010. Disponível em: http://bit.ly/uWxM0c. Acesso jan. 2012.
181
E mais: a rede opera por meio de uma inteligência distribuída ou coletiva194 que
não se restringe mais necessariamente a repórter e fonte. Uma das razões, sem dúvida
alguma, é o uso maciço de Twitter e Facebook.
Se antes, para obter alguma visibilidade, a participação do cidadão na produção
de conteúdo estava restrita à aprovação do mainstream da mídia, nas redes sociais essa
lógica rompe os paradigmas em vigor. Jornalistas e não jornalistas estão no mesmo
patamar. Com a diferença de que os não jornalistas disputam agora o campo pela
validação de informação pelos seus pares.
A máxima segundo a qual os donos dos meios sempre se empenham em dar ao
público o que o público deseja porque percebem que a sua força está no meio e não na
mensagem ou na linha do jornal (MCLUHAN: 1964, p. 245) perdeu um pouco do sentido
depois do crowdwsourcing (produção colaborativa)195, ainda que Assange compartilhe
do pensamento macluhaniano sobre o meio ser mais forte que a mensagem.
A cobertura da imprensa sobre a invasão da reitoria da Universidade de São
Paulo (USP) reflete bem isso. Obviamente, sabe-se que há manifestações orquestradas
em redes sociais que operam a partir de lideranças e ideologias como, por exemplo,
àquelas relacionadas à política (CASTELLS: 2009).
De modo geral, jornais, emissoras de rádio e tevê, Internet e opinião pública
abordaram o caso com repúdio veemente aos alunos, chamados de "delinquentes
mimados", "playboys" e "bebês da USP". Tomaram como verdade absoluta as versões da
polícia. De fato, foi difícil para a imprensa perfilar os rebeles, pois trataram mal os
jornalistas, com silêncio, empurrões e pedradas (SINGER: 2011).
Mas havia outro um lado: estudantes da universidade não envolvidos no conflito
cujos relatos (ainda que produzidos para jornais acadêmicos) foram parar nas redes
194 É uma inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências. A base e o objetivo da inteligência coletiva são o conhecimento mútuo das pessoas e não o culto de comunidades fetichisadas ou hipostasiadas (LÉVY, 1999, p. 28). 195 Para saber mais sobre Crowdsourcing, ver: http://bit.ly/vR7yxJ. Acesso jan. 2012.
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sociais e reverteram de alguma maneira a noção segundo a qual se tratava de mocinhos
(polícia) versus bandidos (invasores da reitoria). Testemunho de Job Henrique,
estudante da Escola de Comunicação e Artes (ECA), publicado no Facebook, mostra outro
ângulo da situação196:
O que eu, Bruno e mais uma repórter, a Glenda, vimos do lado de fora, foi cena de cinema. Foi incrível, inacreditável, assustador, sombrio, amedrontador. Uma operação de guerra, com viaturas blindadas chegando a todo instante. Policiais desciam de suas viaturas com escopetas (carregadas com munição não letal, como me confirmou um deles) a tiracolo, sem nenhuma identificação no colete antibalas. Em apenas 10 minutos, um contingente militar havia se instalado ao redor da reitoria. Tentamos avançar e encontrar com a Shay, mas um policial foi bem claro: ‘Xispa daqui’. Não adiantava afirmar que éramos imprensa, pois a cara de estudante denunciava em nós um inimigo em potencial.
Esse outro lado resultou em um editorial publicado pela Folha de S.Paulo com
críticas à cobertura feita por seus profissionais197. Demonstra que o jornal (marca) não
é mais importante do que a notícia que publica. Assim, muda a perspectiva mcluhaniana.
Importante também é a mensagem publicada por meio do crowdsourcing.
Isso não significa excluir os veículos de comunicação, mas integrá-los a essa nova
dinâmica. Eles são parte do processo, mas não determinam completamente a
credibilidade da informação e nem a sua angulação.
Prova disso foi o movimento encampado pela mídia brasileira e estrangeira,
como The Washington Post, Reuters, Bloomberg, Folha de S.Paulo, O Globo e TV Record,
contra publicação de notícias exclusivas em redes sociais, especialmente o Twitter. Por
quê? Para que jornalistas, ainda que carreguem em suas assinaturas a marca da empresa
na qual trabalham, não prejudiquem o negócio jornal.
196 HENRIQUE, J. O que eu assisti na desocupação da reitoria. Facebook, São Paulo, 9 nov. 2011. Disponível em: http://on.fb.me/uhSSGx. Acesso jan. 2012. 197 SINGER, S. A imprensa burguesa no campus. Folha de S.Paulo, 13 nov. 2011. Disponível em: http://bit.ly/rB6L56. Acesso jan. 2012.
183
O comunicado da Folha foi redigido com esse propósito. Distribuído em setembro
de 2009 pela editora-executiva, Eleonora de Lucena, trazia as seguintes
recomendações198:
Os profissionais que mantêm blogs ou são participantes de redes sociais e/ou do Twitter devem lembrar que:
a) representam a Folha nessas plataformas, portanto devem sempre seguir os princípios do projeto editorial, evitando assumir campanhas e posicionamentos partidários;
b) não devem colocar na rede os conteúdos de colunas e reportagens exclusivas. Esses são reservados apenas para os leitores da Folha e assinantes do UOL. Eventualmente blogs podem fazer rápida menção para texto publicado no jornal, com remissão para a versão eletrônica da Folha.
Porém, apesar de os veículos de comunicação tentarem estriar o espaço nas redes
sociais, o agenciamento coletivo de enunciação se impõe, ainda que o ponto de partida
seja o do produser/prosumer e, aos poucos, leve a um coletivo (também formado por
jornalistas) cujo resultado, mesmo com prejuízo financeiro, seja o de vazar a informação
antes guardada para vender jornal.
Há vários exemplos que ilustram essa disputa de campo. A notícia do afastamento
de ministros do governo Dilma Rousseff foi publicada no Twitter. Jornalistas que cobrem
o setor chegaram a disputar quem foi o primeiro a dar o furo. Também foi informada em
primeira mão no microblog a saída da apresentadora Fátima Bernardes da bancada do
Jornal Nacional (TV Globo). Há outras situações já citadas nesta tese, a partir da página
111.
198 FOLHA cria regras para seus jornalistas no Twitter. TOLEDOL, blog sobre RAC, São Paulo, 9 set. 2009. Disponível em: http://bit.ly/sF7pFA. Acesso dez. 2011.
184
Figura 119. Twitter da jornalista da Folha, Mônica Bergamo, com noticiário exclusivo, em dezembro de 2011.
Outro exemplo de produção colaborativa de jornalistas se deu em abril de 2011
com o massacre na Escola Municipal Tasso de Silveira, no Rio de Janeiro. Wellington
Menezes de Oliveira invadiu a escola e abriu fogo contra os alunos. Doze crianças
morreram e o atirador cometeu suicídio199.
Profissionais de O Globo, Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, entre outros,
completaram informações sobre o caso pelo Twitter, sobretudo em relação à localização
de parentes do atirador. Quem acompanhava, obtinha notícias atualizadas sem precisar
acessar a URL do jornal. Isso representa um novo paradigma na interface da notícia que
circula em rede.
199 TRAGÉDIA em escola no Rio de Janeiro. Veja, São Paulo, 7 abr. 2010. Disponível em: http://bit.ly/tKHHQl. Acesso jan. 2012.
185
A influência da arte digital
É verdade que a Internet provocou rupturas no Jornalismo, como a quebra da
temporalidade, a recuperação da informação e uma nova linguagem visual. Mas a maior
delas, a mais importante e a que reconfigura completamente esse campo da
comunicação é o fato de a interface implodir a página, seja na Web ou em aplicativos (no
caso, abertos).
Isso significa perder o processo de padronização editorial, particularmente
calcado pela hierarquia. De que maneira isso começou? Nomadismo, agenciamento e
revezamento de Gilles Deleuze e Félix Guattari dão fundamento a essa mudança.
Porém, não é possível abordar a ruptura das estruturas que balizam o design do
Jornalismo sem antes refletir sobre o processo criativo da arte digital. De certo modo, a
interface da arte digital tem repertório suficiente para orientar o fluxo noticioso na
Internet. Há dezenas de exemplos que transpostos ao Jornalismo não o descaracterizam.
Pelo contrário. Rompem paradigmas calcados na hierarquia, presos ao
formato200 e reforçam a urgência em repensá-lo no âmbito da sociedade em rede ou pós-
fordismo, cuja essência é o agenciamento coletivo de enunciação em uma cultura
predominantemente baseada em dados em detrimento ao pensamento conduzido pela
linha de montagem, da cultura padronizada. Marshall McLuhan fez uma analogia
interessante sobre Henry Ford e Gutenberg, embora restrito, à época, a tevê:
Foi a TV que vibrou o maior golpe no carro americano. O carro e a linha de montagem se haviam tornado a última expressão da tecnologia de Gutenberg; ou seja, da tecnologia de processos uniformes e repetitivos aplicados a todos os aspectos do trabalho e da vida. A TV pôs em questão todos os pressupostos mecânicos sobre a uniformidade e a padronização, bem como sobre todos os valores do consumidor (1964: 250).
200 O que faz um programa ser de determinada forma, usar determinados enquadramentos de imagens, planos, cenário, recursos narrativos e de edição, presença ou não de um apresentador ou repórter, ser ao vivo ou gravado, seu assunto, tema e duração, é justamente a definição do seu formato. Nota-se que também as rádios jornalísticas funcionam com base na definição de uma programação diária, baseada no encadeamento de formatos radiofônicos. (RAMOS, 2009, p.1).
186
(...) aonde um automóvel pode ir, os demais também podem, e onde quer que o automóvel vá, a versão-automóvel da civilização o acompanha com toda certeza. Ora, este é o sentimento orientado pela TV, não apenas anti-carro e anti-padronização, mas também anti-Gutenberg – e, portanto, antiamericano. Claro que sei que John Keats201 não quis significar isto. Ele nunca pensou sobre os meios ou sobre a maneira pela qual Gutenberg criou Henry Ford, a linha de montagem e a cultura padronizada. Tudo o que sabia é que era popular atacar o uniforme, o padronizado e as formas quentes202 de comunicação em geral (IBIDEM: 251).
Os computadores passaram a ser utilizados na arte no início dos anos 1960. Os
primeiros trabalhos foram assinados por Michael A Noll, um pesquisador da Bell
Laboratories203, de New Jersey. Entre eles estão Guassian Quadratic (1963), exibido em
1965 como parte da Computer-Generated Picture´s, realizada na Howard Wise Gallery, de
Nova York.
Bela Julesz e os alemães George Nees e Frieder Nake também tiveram suas obras
incluídas naquela exposição. Embora as peças se assemelhassem a desenhos abstratos
que replicavam formas estéticas de expressão muito familiares às da mídia tradicional,
capturavam uma estética essencial do novo meio que delineava funções matemáticas
básicas para orientar a arte digital (PAUL: 2008, p. 15).
Na mesma direção estão os trabalhos de John Whitney, Charles Csuri e Vera
Molnar. Produzidos na década de 1960, permanecem influentes hoje para as pesquisas
sobre transformações de imagens geradas por computador por meio de funções
matemáticas.
Whitney (1917-1996), considerado o pai da computação gráfica, usou antigos
computadores militares para criar seu curta-metragem Catalog (1961), um catálogo de
201 The Insolent Chariots (As Carruagens Insolentes) apud McLuhan, 1964, p. 251. 202 Há um principio básico pelo qual pode se distinguir um meio quente, como o rádio, de um meio frio, como o telefone, ou um meio quente, como o cinema, de um meio frio, como a televisão. Um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos e em alta definição. Alta definição se refere a um estado de alta saturação de dados. O telefone é um meio frio, ou de baixa definição, porque ao ouvido é fornecida uma magra quantidade de informação. A fala é um meio frio, de baixa definição, porque muito pouco é fornecido e muita coisa deve ser preenchida pelo ouvinte. De outro lado, os meios quentes não deixam muita coisa a ser preenchida ou completada pela audiência. Um meio quente, como o rádio, e um meio frio, como o telefone, têm efeitos bem diferentes sobre seus usuários (IBIDEM: 38). 203 Para saber mais sobre a Bell Labs, ver: http://bit.ly/rKPbW3. Acesso jan. 2012.
187
efeitos sobre o qual se debruçou anos a fio. Mais dois filmes produzidos após esse curta -
Permutations (1967) e Arabesque (1975) –, assegurou-lhe a reputação de pioneiro em
filmagem computadorizada.
O cineasta também colaborou com seu irmão, o pintor James (1922-1982), em
diversos filmes experimentais. Csuri, cujo filme Hummingbird (1967) é um marco da
animação feita por computador, fez suas primeiras imagens digitais em 1964, em um
IBM, modelo 7094.
A saída do IBM 7094 consistia de cartões perfurados de 4 x 7 polegadas, que
continham informações para acionar uma plotter de cilindro, especificar quando
apanhar, mover e soltar a caneta, sinalizar a chegada do fim da linha, e assim por diante
(IBIDEM, p. 15-16).
Foi na transição da era industrial para a era eletrônica que aumentou o interesse
dos artistas por intersecções entre arte e tecnologia. Em 1966, Billy Kluver fundou o
Experiments in Art and Technology (EAT), cujo propósito era desenvolver uma
colaboração efetiva entre engenharia e arte. Em mais de uma década, Kluver fez
parcerias com Andy Warhol, Robert Rauschenberg, Jean Tinguely, John Cage e no
pavilhão da Pepsi-Cola, na World Expo 70, em Osaka (Japão).
O EAT foi a primeira instancia de colaboração complexa entre artistas,
engenheiros, programadores, pesquisadores e cientistas que se tornaria mais tarde a
característica da arte digital. Notadamente, o instituto também recebeu apoio criativo da
Bell Labs que se tornou uma estufa de experimentação artística (IBIDEM).
Os antecessores das atuais instalações digitais também exibiram suas obras na
década de 1960. Em 1968, a mostra Cybernetic Serendipity, no Institute of Contemporary
Arts de Londres, apresentou trabalhos focados na estética orientada por máquinas e
transformação, explorando variadas possibilidades de interação e sistemas abertos,
como um “pós-objeto”.
188
No artigo Systems Aesthetics and Real Time Systems, o crítico americano Jack
Burnham trata dos sistemas de abordagem da arte: um dos pontos de vista é o sistema
com foco na criação do estável, em curso nas relações entre sistemas orgânicos e não
orgânicos.
De modo diferente, este argumento da arte como sistema ainda mantém posição
de grande vulto nos atuais discursos sobre arte digital. Nos anos 1970, Burnham foi
curador de uma exposição chamada Software no Jewish Museum de Nova York na qual
incluiu um protótipo do Xanadu, sistema hipertextual de Ted Nelson (IBIDEM, p. 16-17).
Na mesma época, usando novas tecnologias como vídeo e satélites, artistas
começaram a experimentar performances ao vivo, antecipando as interações que
tomaram conta da Internet por meio de streaming e transmissão direta de imagens e
sons.
Esses projetos consideravam desde aplicação de satélites para estender a
disseminação em massa da transmissão televisiva ao potencial estético da
teleconferência em vídeo e à exploração do tempo real que desmoronou as fronteiras
geográficas (IBIDEM, p. 18).
Nas décadas de 1970 e 1980, pintores, escultores, arquitetos, fotógrafos e
videoartistas e artistas performáticos começaram a aumentar consideravelmente
experiências com técnicas de imagem baseadas no computador. Neste período, a arte
digital evoluiu em muitas vertentes, desde obras orientadas por aspectos dinâmicos e
interativos a conceitos de movimento de fluxos. Essas tecnologias e a mídia interativa
desafiaram as tradicionais noções de obra de arte, audiência e artista (IBIDEM, p. 21).
A arte digital é frequentemente transformada em um processo de estrutura
aberta baseado no fluxo de informação e no engajamento do participante. O público se
torna parte do trabalho ao remodelar componentes textuais e visuais de um projeto. Em
vez de ser o único criador da obra, o artista vira um mediador ou facilitador da interação
que resulta em contribuição. Essa interação é o que Claudia Giannetti chama de
Endoestética (ver p. 102).
189
A arte digital pôs fim aos limites entre as disciplinas de arte, ciência, tecnologia e
design, incluindo pesquisa e desenvolvimento. Desde história, passando pela produção e
manifestação, a arte digital desafia a categorização (IBIDEM, p. 21-22).
Agora, é o Jornalismo de Internet que coloca à prova a ordenação. No artigo
Ontology is Overrated: Categories, Links, and Tags, o escritor americano Clay Shirky
afirma que a Web provoca uma ruptura radical nessas estratégias existentes em vez de
ser apenas uma extensão delas:
O que eu acho que está chegando diferentemente são maneiras muito mais orgânicas de organização da informação que os nossos esquemas de categorização atuais permitem, com base em duas unidades - a ligação, o que pode apontar para qualquer coisa, e a marca, que é uma forma de colocação dos rótulos de ligações. A estratégia de etiquetar - de forma de livre rotulagem, sem levar em conta restrições categóricas - parece ser uma receita para o desastre, mas como a internet tem nos mostrado, é possível extrair uma quantidade surpreendente de valor de grandes conjuntos de dados desorganizados (2005)204.
Links tomam o lugar das prateleiras
Shirky dá exemplos de interfaces que operam desde a lógica do que ele
denominou sistemas de arquivos e hierarquia, com links, como o Yahoo!, até a não
hierarquia. Na opinião dele, foi incorporada à Internet o formato biblioteca para
armazenar conteúdo: "Ambos bibliotecários e cientistas da computação acataram a
mesma idéia que é: ‘Você sabe, não faria mal adicionar algumas ligações secundárias
aqui '- links simbólicos, aliases, atalhos, o que você quiser chamá-los’”.
204 SHIRK, C. Ontology is overrated -- Categories, links, and tags. Disponível em: http://bit.ly/tP1YnM. Acesso jan. 2012.
190
Figura 120. Hierarquia - Há um nível superior, com subdiretórios. Subdiretórios
contêm arquivo ou outros subdiretórios e assim por diante. Bibliotecários e cientistas da informação defendem a ideia segundo a qual não fará mal algum em acrescentar a esse formato links secundários.
Figura 121. Hierarquia com links - A maioria dos sistemas criados para subdividir o
mundo funciona assim, como a Biblioteca do Congresso dos EUA. Há, por exemplo, em seu catálogo, um livro sobre os Balcãs. Ora, esse é um livro sobre arte, mas também de história. Portanto, a palavra-chave que o localiza tem de abranger o seu significado total. Ou seja, é preciso uma tag (ou mais de uma) que facilite a busca. Uma das coisas que Tim Berners-Lee ensinou, no início dos anos 1900, é que é possível não apenas alguns links, mas centenas, milhares deles.
191
Figura 122. Hierarquia com muitos links – Esse é o lugar onde o Yahoo! abandonou o barco. A regra da ferramenta de busca é que uma URL só pode aparecer em três lugares. A justificativa, segundo Shirky é a de que o Yahoo! não queria receber spam, pois estavam desenvolvendo um diretório comercial. Ledo engano: os donos do negócio deixaram de investir na lógica da Web: quanto mais links expostos, menos hierarquia. Não há mais prateleira ou arquivos. Os links por si só são suficientes.
Figura 123. Apenas links (Não há sistema de arquivos) – Uma das razões pelas quais
o Google foi bem-sucedido é o entendimento de que não há arquivos, não há prateleiras e não é preciso prever o que o internauta quer. A ideia é oferecer o melhor resultado da busca baseado em uma dinâmica em links.
No caso da arte digital, há uma série de trabalhos que dão a dimensão da obra
composta pela lógica matemática e pela não categorização, ainda que, em alguns casos,
as palavras-chave (tags) sejam pré-determinadas. São repertórios que corroboram a
192
necessidade de uma crítica da interface que dê conta das nuances particulares da
Internet e da experiência em rede. E vão de encontro à proposta de Shirky apresentada
anteriormente.
Foi assim com as redes sociais e, mais especificamente, com as tags que, ao serem
incorporadas, inauguraram uma nova maneira de ler, de produzir notícia e
reformataram a interface. O processo se dá por meio do algoritmo205, responsável pela
busca de informação para compor uma obra.
Há um sem números de projetos que ilustram essa lógica, como 10 by 10
(www.tenbyten.org), youTag (www.youtag.org), Your Life Our Movie
(www.yourlifeourmovie.org), Locative Painting (www.locativepainting.com.br),
Sensitive Rose (www.sensitiverose.com), ThoughtMesh (http://thoughtmesh.net), The
Origin of Species (http://benfry.com/traces), We Feel Fine (http://www.wefeelfine.org)
e Geoplay (http://www.geoplay.info/pt)
Também integram composições cujas variáveis vão desde palavra-chave mais
acessada à palavra-chave mais postada: Filosofia da Caixa Prata
(http://bogotissimo.com/silverbox/br), Zexe.net (www.zexe.net), Open Street Map
(www.openstreetmap.org) e as plataformas do Google – Earth, Maps, Street View
(http://www.google.com/intl/pt-BR/options) – entre outros.
Na realidade, trata-se de programações que permitem várias combinações no
espaço estriado da Internet, que são recombinadas e compartilhadas a cada
agenciamento. É nesse sentido que se dá o movimento nomádico: um revezamento
contínuo de territorialização e desterritorialização, ou seja, ocupa momentaneamente, se
desloca e volta a ocupar, como os Flash mobs, organizados para realizar ações que
respondam a agenciamentos coletivos de enunciação.
205
É uma sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, cada uma das quais pode ser executada mecanicamente num período de tempo finito e com uma quantidade de esforço finita. In: Wikipedia. Disponível em: http://bit.ly/sFCuYf. Acesso jan. 2012.
193
É micropolítica, não tem como objetivo elaborar estruturas capazes de se
reproduzirem permanentemente (BEIGUELMAN: 2009).
Figura 124. Your Life, Our Movie, de Fernando Velázquez, Bruno Favaretto e Francisco Lapetina, cria um filme a partir de palavras-chave da base de dados do Flickr206.
Figura 125. 10 x 10, de Jonathan Harris – A cada hora, o 10 x 10 exibe 100 fotos
relacionadas a 100 tags mais populares de fontes como ABC, BBC, The Guardian, MSNBC e Reuters207.
206 Para saber mais sobre o Your Life Our Movie, ver: http://bit.ly/u3AI0D. Acesso jan. 2012. 207 Para saber mais sobre o 10x10 , ver: http://bit.ly/u0LfcJ. Acesso jan. 2012.
194
Figura 126. The Origin of Species, de Ben Fry, mostra atualizações feitas nas seis edições
de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, cuja primeira edição foi publicada em 1859208. Na primeira, o livro era composto por aproximadamente 150 mil palavras. Já a sexta contemplava 190 mil. A ideia é mostrar as mudanças produzidas no texto ao longo dos anos209.
Figura 127. We Feel Fine, de Jonathan Harris e Sep Kamvar, mostra atualização contínua
do comportamento das pessoas na Internet. O sistema varre a Web em busca de frases que comecem por “I feel” (“Eu sinto”, em português). Cada sentimento é associado a sexo, idade, lugar, previsão do tempo de onde o post foi escrito e data210.
208 Para saber mais sobre a vida e a obra de Charles Darwin, ver: http://bit.ly/tZJp2Y. Acesso jan. 2012. 209 Para saber mais sobre The origin of species, ver: http://bit.ly/uyrK9F. Acesso jan. 2012. 210 Para saber mais sobre We Feel Fine, ver: http://bit.ly/sXbCJG. Acesso jan. 2012.
195
A notícia em rede
Essa narrativa que reconfigura a interface é também percebida claramente no
Twitter, cujo projeto original era o de ser uma rádio (www.odeo.com) e hoje é uma
espécie de SMS muldimidiático (Short Message Service), cujo acesso se dá basicamente
por meio de hashtags, links e textos restritos a 140 caracteres.
Hashtags são palavras ou frases precedidas do sinal # (sustenido). Elas foram
utilizadas no microblog pela primeira vez em 23 de agosto de 2007 por Chris Messina211,
um desenvolvedor do Google, para organizar grupos ou categorizar informação212.
Figura 128. Proposta de uso de hashtag no Twitter, de Chris Messina
No início da década de 1990, o programador Jack Dorsey, pensando na tecnologia
usada para localizar taxistas, se perguntou por que não utilizá-la para encontrar pessoas.
Assim nascia a ideia do Twitter, criado em 2006 após Dorsey convencer Evan Willians,
desenvolvedor do Blogger (da Google), e Biz Stone, diretor de criação, a ajudá-los nessa
empreitada (MOHERDAUI: 2009). “O Twitter foi criado como uma manifestação social”,
conta seu co-criador, Evan Henshaw-Plath213.
Já as tags começaram a ser apropriadas como marcadores de conteúdo em
2003214. O bookmark de.li.ci.ous215 foi o primeiro a permitir inclusão de palavras-chave
211 Para saber mais sobre Chris Messina, ver: http://bit.ly/vNIakC. Acesso jan. 2012. 212 GROUPS FOR Twitter; or A proposal for Twitter Tag Channels. Factory Joe, EUA. 25 ago. 2010. http://bit.ly/tFE9xn. Acesso jan. 2012. 213 “TWITTER nació de un fracasso”, dice co-creador. El Universal, Uruguai, 7 dez. 2011. Disponível em: http://bit.ly/vvBIcv. Acesso jan. 2012. 214 Para saber mais sobre tag e metadados, ver http://bit.ly/uUFfce. Acesso jan. 2012. 215 Delicious: http://bit.ly/ugpaU1. Acesso jan. 2012.
196
em links. Depois, a rede de compartilhamento de fotos Flickr216 também adotou o
recurso (ver p. 171). O sucesso do de.li.ci.ous e do Flickr popularizou o uso em YouTube,
Last FM e Technorati217.
A importância dessas etiquetas é tamanha que The New York Times contratou um
editor de tags que passou a ter a mesma autoridade que o secretário de redação,
responsável pela abertura e pelo fechamento da primeira página218.
Um dos exemplos mais pungentes do uso social do microblog foi a chamada
Primavera Árabe. Jovens do norte da África e do Oriente Médio organizaram protestos
pelo fim da ditadura ou contra o fundamentalismo religioso em: Tunísia, Egito, Barein,
Líbia, Iêmen, Marrocos219.
Não só o Twitter foi utilizado para implicar as pessoas, Facebook, blogs e celulares
(SMS, inclusive) também se revelaram importantes. A repercussão do uso de redes
sociais foi tamanha que iniciou uma discussão na própria rede sobre a função dessas
plataformas. A grande questão era responder quem fez a revolução: pessoas ou
ferramentas?
O Techcrunch, especializado em cobertura sobre tecnologia, publicou um artigo
sob o título: People, Not Things, Are The Tools Of Revolution220, assinado pelo jornalista e
fotógrafo Devin Coldewey. Para ele, pessoas (e não coisas) são as ferramentas da revolução.
A resposta veio de André Lemos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em um
trocadilho: Things (and People) Are The Tools Of Revolution! (Coisas - e pessoas - são as
ferramentas da revolução)221. Para rebater Coldewey, Lemos emprestou do filósofo e
216 Flickr: http://bit.ly/voeli7. Acesso jan. 2012. 217 YouTube: http://bit.ly/uHAVFH; Last FM: http://bit.ly/rr5xYy; Technorati: http://bit.ly/tprVJq. Acesso jan. 2012. 218 EDITOR 2.0. BuzzMachine, EUA, 22 out. 2007. Disponível em: http://bit.ly/uOVEdC. Acesso jan. 2012. 219HYPER-NETWORKED protests, revolts, and riots: a timeline. Wired, EUA, 16 dez. 2011. http://bit.ly/xgRBqe. Disponível em: Acesso jan. 2012. 220
PEOPLE, not things, are the tools of revolution. TechCrunch, EUA, 11 fev. 2011. Disponível em: http://tcrn.ch/tDTPWk.Acesso jan. 2012. 221THINGS (and people) are the tools of revolution! Carnet de Notes, Salvador, 25 fev. 2011. Disponível
em: http://bit.ly/vMZtQo. Acesso jan 2012.
197
antropólogo francês Bruno Latour a Teoria Ator-Rede (tradução do inglês Actor-Network
Theory), segundo a qual:
• Não há essência ou imanência
• Toda agência depende da associação em causa
• Agentes não humanos não são entidades passivas
Escreve Lemos:
Para evitar pensar os agentes apenas como humanos, a ANT [Actor-Network Theory] prefere o termo “actante” que, vindo da semiótica greimasiana, remete a tudo aquilo que gera ação. Portanto, não há essência, e actantes humanos e não humanos assumem determinados papéis a depender das associações que se constituem em determinada ação. Se não há ação, não há nada e eles não são “actantes” (2011).
(...) Blogs, Facebook, Twitter e celulares agiram como mediadores e foram tradutores de ações de/para outros actantes que ganharam várias dimensões (as ruas, as emissões televisivas, os artigos, etc.) e fizeram com que as ditaduras da Tunísia e do Egito caíssem. Eles podem não ter função mediadora no futuro, já que não há essência ou potência velada, só associações que se fazem ou não no tempo. Como diz Latour: “essência é existência e existência é a ação”. No fundo, a discussão sobre se as mídias sociais e telefones celulares fizeram a revolução se perde na polarização entre sujeitos (que têm uma essência – ser o mediador e senhor da agência) e os objetos (que têm uma essência – serem apenas intermediários, “ferramentas”, “instrumentos”, “meios”) (IBIDEM).
Clay Shirky tem a mesma opinião que Lemos: “novas ferramentas não causaram
esses comportamentos, mas o permitiram. Uma mídia flexível, barata e inclusiva nos
oferece agora oportunidades de fazer todo tipo de coisas que não fazíamos antes” (2010,
p. 61).
Figura 129. Revolution Tools (Reprodução Carnet de Notes)
198
Em menor proporção, obviamente, Eugênio Tisseli já destacara esse tipo de ação
no Flickr, em junho de 2007, quando a interface da rede de compartilhamentos foi
utilizada para um protesto de usuários, de modo não coordenado, para responder à
mudança em sua política de filtros na Alemanha. O protesto foi marcado pela criação e
disseminação de uma tag anticensura: #thinkflickrthink222.
Figura 130. Cartaz do protesto thinkflickrthink
Dois anos depois, pulularam manifestações realizadas por meio de hashtags: a
morte do cantor Michael Jackson, em 25 de junho (#michaeljackson), a reeleição do
presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad, em 12 de junho (#iranelection).
No Brasil, são destaques ações sobre a nova crise no Senado quando José Sarney
assume a Presidência da Casa, em 1° de fevereiro, por causa de denúncias de atos
secretos, empreguismo e verbas indenizatórias (#forasarney), e o fim da
obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo, aprovado pelo Supremo
Tribunal Federal em 17 de junho (#diploma).
222 REBELIÃO na Internet. Trópico - Ideias de norte e sul, São Paulo, 28 fev. 2009. Disponível em: http://bit.ly/vROEab. Acesso jan. 2012.
199
A campanha eleitoral de 2010 à Presidência da República no Brasil teve ampla
participação popular na Internet. Fatos negativos publicados pela imprensa nacional
ganharam eco na rede como, por exemplo, o famoso caso da bolinha de papel cujo
personagem principal foi o ex-governador de São Paulo, José Serra.
Ao fazer uma caminhada no Rio de Janeiro durante a campanha política, em 20 de
outubro de 2010, Serra foi atingido por dois objetos, uma bola de papel e uma fita crepe.
O caso de agressão repercutiu em toda a imprensa e o ex-governador teve de cancelar
compromissos na capital carioca.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o comparou ao goleiro chileno Rojas,
que fingiu ter sido atingido por um foguete no Maracanã, durante as eliminatórias para a
Copa do Mundo de 1990223. Contra a acusação do candidato derrotado à Presidência da
República, a militância do Partido dos Trabalhadores (PT) organizou-se em rede e levou
aos Trending Topics do Twitter as hashtags: #BolaDePapelFacts , #SerraRojas e
#DilmaFactsByFolha.
No mesmo ano, após as eleições presidenciais, a ocupação do Complexo do
Alemão no Rio de Janeiro pela polícia resultou em outras coberturas coletivas via redes
sociais, especialmente no microblog., Rene Silva, 17, morador do Alemão não imaginaria
que seu tuíte ‘tem um tiroteio no alemão’ teria tanta repercussão e aumentaria o número
de seguidores de sua conta @vozdacomunidade de 180 para 40 mil224.
Twitter põe em xeque a manchete
Ainda que se questionem as condições de uma palavra-chave ir ao topo dos
Trending Topics do Twitter [se programado225 ou fruto de um agenciamento], o fato é
223 LULA COMPARA Serra ao goleiro Rojas e diz que agressão é 'mentira descarada'. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 out. 2010. Disponível em: http://bit.ly/uyCnUL. Acesso jan. 2012. 224 APÓS RELATAR invasão, tuiteiro do Morro do Alemão usa rede para ajudar a comunidade. Folha de S.Paulo, São Paulo, 20 jan. 2011. Disponível em: http://bit.ly/tqxiaq. Acesso jan. 2012. 225 CEO do Twitter admite que empresa censura os Trending Topics. IDG Now!, São Paulo, 01 ago. 2011. Disponível em: http://bit.ly/AbBXAt. Acesso jan. 2012.
200
que há uma minoria226 que faz a diferença no microblog e em outras redes. E o mais
importante é notar que a hashtag virou uma nova prática social. E se as tags são mesmo
a chave para a constituição temporária e cambiante de projetos artísticos na rede e
engajar pessoas em torno de algo, é possível aplicar o mesmo raciocínio à composição de
notícias.
Essa discussão não é nova. Começou a se difundir com a publicação do artigo The
semantic web na revista Scientific American, em maio de 2001. Naquele ano, Tim
Berners-Lee, James Hendler e Ora Lassila escreveram que a Web semântica mudaria a
estrutura de significação de conteúdos que circulam na rede. Essa idéia teria como eixo
os links:
(...) A propriedade essencial da World Wide Web é a sua universalidade. O poder de um link de hipertexto é que ‘qualquer coisa pode ligar-se a qualquer coisa’. Até à data, a Web se desenvolveu mais rapidamente como um meio de documentos para as pessoas, em vez de dados e informações que podem ser processados automaticamente.
Entretanto, a proposta original implicava a unificação da linguagem de
compartilhamento, o que não aconteceu, de fato. Por diversas razões, e a mais evidente
delas é a diversidade cultural. Para as máquinas compreenderem a semântica dos
documentos e arquivos, é preciso que haja padrões de classificação fundamentados.
A Web semântica é descentralizada, a priori, e a questão que se coloca é como
mapear o acesso a essas coleções de informações dispersas e estruturá-las de modo
inteligível? A resposta passa pela criação de grupos com entendimento em comum, o
folksonomy227. Talvez isso leve a uma linguagem lógica que permitirá a linkagem de
226 Para os filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari, uma minoria pode ser numerosa ou mesmo infinita; do mesmo modo uma maioria. O que as distingue é que a relação interior ao número constitui o caso de uma maioria em conjunto finito ou infinito, mas sempre numerável, enquanto que a minoria se define como conjunto não numerável, qualquer que seja o número de seus elementos. O que caracteriza o inumerável não é nem o conjunto nem os elementos, é antes a conexão, o “e” que se produz entre os elementos. A potência da minoria não se mede por sua capacidade de entrar e de se impor no sistema majoritário, mas de fazer valer uma força de conjuntos não numeráveis, por pequenos que sejam, contra a força dos conjuntos numeráveis, mesmo que infinitos (2007, p. 173-175). 227 Folksonomies representam uma estrutura que emerge organicamente. E Surgem quando um grande número de pessoas está interessado em uma informação em particular e é encorajado a marcá-las com tags. In: The semantic web revisited. mai./jun. 2006, p. 5. Disponível em: http://bit.ly/txQe2C. Acesso jan. 2012.
201
dados dentro de uma web universal, conforme propôs Tim Bertners-Lee (et al) no artigo
The Web Semantic Revisited:
A Web semântica que desejamos fazer é uma substancial reutilização de ontologias e base de dados existentes. São informações linkadas no ciberespaço no qual o banco de dados é enriquecido e ampliado constantemente. O que leva os usuários a reutilizar conteúdo encontrado por acaso e descobrir informação relacionada a ele, que tem sido a marca registrada das campanhas de viral na rede (2006, p.5).
Trata-se da noção de collaborative tagging, segundo a qual usuários podem
incluir metadados (dados sobre dados)228 sob a forma de palavras-chave para
compartilhar conteúdo (GOLDER et al: 2005, p. 1). Essa atividade tem crescido de
maneira espantosa, sobretudo em redes sociais, que operam a partir dessa lógica. Assim,
a informação publicada é categorizada para facilitar a busca não só pelo usuário que a
marcou, mas também a qualquer pessoa com interesses em comum.
Sob o ponto de vista da organização, é interessante notar que, apesar de a
Internet se configurar como uma miscelânea, nas palavras de David Weinberg, essa
bagunça pode ser usada para fazer sentido no mundo229:
Tags do Flickr podem ser agrupadas com outras características e combinadas com termos de pesquisa, e as fotos mais interessantes podem ser automaticamente mostradas, graças a todo o confuso e descoordenado significado não intencional que os usuários da Internet infundem em suas páginas.
E no meio dessa bagunça, em alguma medida, a informação é aprofundada, como
defende Manovich (ver p. 171).
Não é novidade que um dado bruto nada significa, um dado organizado é
informação e uma informação contextualizada resulta em conhecimento. É nesse sentido
que o pesquisador russo defende o uso das tags. Porém, a grande questão que se e coloca
é como conectar milhares de dados sem reduzir a informação jornalística e exibí-los em
uma nova linguagem visual híbrida? As tags dão conta disso? No Twitter, sim. 228 Para saber mais sobre metadados, ver http://bit.ly/swTbfN. Acesso jan. 2012. 229 EVERYTHING is Miscellaneous - how the Web destroys categories, disciplines and hierarchies. Boing Boing, EUA, 2 mai. 2007. Disponível em: http://bit.ly/uhphZG. Acesso jan. 2012.
202
O microblog estimula tanto o collaborative tagging que agora todo evento de
grande porte ou acontecimentos como tragédias têm roteiros feitos a partir de hashtags
e perfis de jornalistas ou jornais e cidadãos em geral. Foi assim na cobertura do
terremoto que atingiu o Japão em março de 2011. Informações sobre órgãos de saúde e
ajuda à população e perfis de cidadãos e jornalistas que acompanharam a tragédia foram
publicados em inglês e em japonês no microblog230.
Figura 131. Hashtags e perfis a serem seguidos em japonês para orientar as pessoas231
O Google também montou uma interface (ainda que hierarquizada) e
disponibilizou um mapa colaborativo para ser atualizado via open source. Trata-se de
interfaces de emergências, cuja produção de subjetividade tem origem nos
agenciamentos coletivos de enunciação.
230SIGUE LA cobertura del terremoto y tsunami en Japón desde Twitter. Clases de Periodismo, América Latina, 11 mar. 2011. Disponível em: http://bit.ly/sQMkNJ. Acesso mar. 2012. 231 Interface de emergência 2 http://bit.ly/sdyFCI. Acesso jan. 2012.
203
Figura 132. Interface de emergência do Google com informações sobre o terremoto no Japão232
232 RESOURCES related to the 2011 Japan crisis. Google. 12 mai. 2011. http://bit.ly/vftaUX. Acesso jan. 2012.
204
Figura 133. Mapa colaborativo do Google Earth com informações multimídia sobre o terremoto no Japão233
A lógica das hashtags não se restringe apenas às interfaces de emergência. Em
novembro de 2011, estreou o Twitter Stories, plataforma colaborativa para narrativas
baseadas em relatos humanos234. Entrou em vigor uma nova prática social: postar
conteúdo seguido de @twitterstories ou de #twitterstories:
Leia sobre um único tweet que ajudou a salvar uma livraria de sair do negócio; um atleta que levou uma centena de seus seguidores para um jantar à base de caranguejo e, pescadores japoneses que usam o Twitter para vender suas capturas antes de voltar para a praia. Cada história nos lembra a humanidade por trás dos tweets, que fazem o mundo bem menor.
Conte sua história: Ajude-nos a descobrir mais histórias. Conte-nos como você ou outra pessoa têm usado o Twitter de uma maneira interessante. Envie a sua, mencionando @twitterstories ou usando a hashtag #twitterstories. Inclua um link para uma foto ou vídeo que ajuda a ilustrá-la para o mundo. Cada mês, vamos escolher uma seleção de perfis para compartilhar.
233 Interface de emergência 3 http://bit.ly/sZCBYJ. Acesso jan. 2012. 234 Para saber mais sobre Twitter Stories, ver: http://bit.ly/tdBkQH. Acesso jan. 2012.
205
Figura 134. Interface do Twitter Stories, sem hierarquia, porém organizada em colunas235
No Facebook, jornal mantém a tradição
Há outras duas novas práticas sociais colocadas em teste por empresas
jornalísticas em uma tentativa de repensar a interface e continuar a manter o leitor ou a
audiência, já que se trata de mídias clássicas como jornal, tevê, rádio e revistas.
Isso não significa que o Facebook não está de olho nos mais de 955 milhões de
membros cadastrados236 ou o Twitter, com seus 140 milhões de usuários237. Aliás, é
interessante anotar que nenhuma das duas redes foi criada com intuito de ser
apropriada pelo Jornalismo.
A de Mark Zuckerberg teve origem em Harvard, em 2004, para que alunos
pudessem votar nas garotas mais bonitas de uma das mais prestigiadas universidades
do mundo. Mais tarde, foi ampliada a outras escolas de nível superior e depois ganhou a
Internet.
235 Para saber mais sobre @twitterstories, ver: http://bit.ly/vsFHGy. Acesso jan. 2012. 236 Para saber mais sobre o Facebook, ver: http://on.fb.me/wxffB2. Acesso jan. 2012. 237 Os números são oficiais do blog do Twitter. Para saber mais, ver: http://bit.ly/AD1WCI. Acesso jan. 2012.
206
Já o microblog intitula-se hoje “uma rede de informação em tempo real”238. Entre
as novas práticas sociais, a primeira, citada anteriormente, é a parceria entre Facebook e
jornais com o objetivo de integrá-los à rede via aplicativos. Há duas questões a serem
abordadas: uma de caráter de design informacional e a outra relacionada á privacidade.
Quanto ao design, os aplicativos estão organizados hierarquicamente. Ou seja, o
jornal muda para o Facebook, mas mantém sua tradição dentro do aplicativo. Porém, a
hierarquia e a diagramação desaparecem na linha do tempo do membro da rede social.
Sobre privacidade, toda a vez que um link de uma notícia é clicado, automaticamente
entra na lista pública um aviso de que aquele texto foi lido. A mensagem para marcar
como “não lido” aparece apenas no final do texto.
Pela interface apresentada, nota-se que há um objetivo claro de compartilhar
indiscrinadamente e provocar uma conversa em torno do conteúdo. É possível saber
quais amigos leram, por reportagens do inglês The Guardian ou do americano The
Washington Post.
Ainda que pese o problema da extrema vigilância, talvez o interessante neste caso
seja a forma pela qual é exibida na linha do tempo a atividade de leitura do internauta,
conforme mostram as imagens a seguir. Essa é uma das tentativas de implicar pessoas
em torno de algo.
Figura 135. Social app do Guardian no Facebook
238 Para saber mais sobre o Twitter, ver: http://bit.ly/zScLkO. Acesso mar. 2012.
207
Figura 136. Interface do Social Reader no Facebook
O jornal como rede social
A segunda prática social é o movimento inverso percebido em jornais como
Huffington Post e The New York Times. Em vez de aplicativos na rede de Mark
Zuckerberg, a interface dos jornais se transforma em uma rede social. HuffoPost Social
News tem como acesso principal o Facebook, embora permita login com o Twitter239. Já o
TimesPeople, do NY Times, utiliza o microblog para engajar seus leitores240.
Nos dois, o Social News aparece como destaque na interface, o que tem mais peso
ainda é o formato hierarquia e diagramação em colunas.
Dentre os exemplos citados, o Twitter é o que melhor explica a implosão da
página estática a partir da narrativa baseada em dados. O microblog resolve também o
problema da redundância tão recorrente em interfaces de grandes conglomerados de
mídia e já apontado ao longo desta tese. Não há mais página diagramada e a hierarquia
não determina a importância da notícia. A manchete é substituída pelo buzz, pela
repercussão de um post, pela sua validação, não limitado à quantidade de caractere.
239 HuffPost Social News: http://huff.to/tmIfgP. Acesso jan. 2012. 240 TimesPeople - The New York Times: http://nyti.ms/uXijQh. Acesso jan. 2012
208
Na rede, as pessoas não seguem editorias, mas tags ou hashtags e perfis. O
Jornalismo não consegue controlar o uso de tags e hashtags nem o conteúdo relacionado
a elas, mesmo quando é o autor.
Aliás, as hashtags são [ao mesmo tempo] termômetro e narrativa. Sem
diagramação e colunas, a interface da notícia é remodelada. De modo geral, configura-se
em uma espécie de lista. Ainda que esse formato não seja representativo de um design de
excelência, como refletem projetos gráficos da revista Wired ou do The Guardian, dá
lugar à reflexão sobre Infoestética, proposta por Lev Manovich em seu novo trabalho,
intitulado Info-Aesthetics- Information and Form241, ainda sem data para ser publicado.
Figura 137. Interface do HuffPost Social News
241 Para saber mais sobre Info-Aesthetics- Information and Form, ver: http://bit.ly/zW2xUT. Acesso jan. 2012.
209
Figura 138. Interface do TimesPeople
Para Manovich, Infoestética refere-se às práticas culturais que podem ser mais
bem compreendidas como resposta às novas prioridades da sociedade informacional:
dar sentido à informação, trabalhar com ela e produzir conhecimento a partir dela. O
objetivo do trabalho, iniciado nos anos 2000, é detectar formas estéticas e culturais
emergentes específicas contemporâneas mesmo que não resultem no belo242:
Nosso trabalho é descobrir o que é o novo belo na era da informação. Não penso que já o sabemos. Esse novo belo que virá talvez nada tenha a ver com a forma do iMac, ou com as músicas parecidas com máquinas do Kraftwerk ou as formas de bolhas da arquitetura contemporânea. Se não tivermos sorte, será algo que até mesmo as nossas máquinas acharão feias. No ponto em que estamos simplesmente não sabemos ainda.
E ainda que Google, YouTube, MySpace tenham design próprio, o pesquisador
russo acredita que essas empresas não se preocupam com uma nova estética:243
É claro que o Google vem com uma estrita economia de textos que exibem informação pura, retirando todos os gráficos (falo do sistema original de busca que procura por websites, em oposição a imagens e vídeos). Mas você já podia achar essa estética nos guias telefônicos do século XX, num sistema de informação de trens e em outros designs de informação existentes.
242A ERA da infoestética. Trópico – Ideias de norte e sul, São Paulo, 12 nov. 2007. Disponível em: http://bit.ly/zXHWsr. Acesso jan. 2012. 243 IBIDEM.
210
Similarmente, muitas páginas do Myspace têm sua própria estética e backgrounds coloridos, ícones piscando e imagens “fofinhas” - mas isso não é diferente do jeito que os adolescentes e estudantes decoram os seus quartos na América.
A dinâmica das redes sociais coloca em xeque o conceito de edição e leva a
repensar a forma pela qual a notícia é produzida e exibida. Isso responde, em parte, a
pergunta feita em 2009 pelo crítico de mídia e ativista Geert Lovink no evento Estamos
preparados para o público 2.0, realizado em São Paulo: “O que é notícia para as redes
sociais?”244. Nesse contexto, a pirâmide invertida só faz sentido quando é ponto de
partida para reconstruir a informação e colocá-la em rede.
O produser/prosumer recebe uma informação, a valida, modifica o lide e a
redistribui. Isso não significa romper com a linearidade, mas perceber outra abordagem:
a linearidade se dá a partir de estratégias de revezamento: eles publicam na nuvem,
remixam e republicam o que dá lugar a um novo texto. Mas essa prática social só
encontra sentido se for realizada em uma rede social organizada, como propõe
Lovink245:
Queremos que as redes sociais sejam administradas por poucas pessoas? Não. Então, deveria haver um potencial maior de reagrupar. Há muitos não envolvimentos em redes. O que acontece quando você dá poder às pessoas? Há muito ruído, mas as redes da ‘moda’ serão substituídas por redes organizadas, menos vagas mais amistosas e muito mais focadas no que elas querem atingir.
A pergunta de Lovink leva a outras, respondidas logo adiante. O que é rede social?
Por que um jornal de Internet não tem a mesma produção de subjetividade que uma
rede social? Por que as redes sociais abrem espaço a relações de poder e contrapoder
(ver p. 107)? Por que a contrainformação246 circula mais facilmente nas redes sociais?
No livro Communication Power (2009), o sociólogo catalão Manuel Castells faz uma
interessante definição de rede:
244TWITTER para quê? Trópico – Ideias de norte e sul, São Paulo, 10 mai. 2009. Disponível em: http://bit.ly/xM9Zk8. Acesso jan. 2012. 245
A ERA da infoestética. Trópico – Ideias de norte e sul, São Paulo, 12 nov. 2007. Disponível em: http://bit.ly/zXHWsr. Acesso jan. 2012. 246 Para o filósofo Gilles Deleuze, informação é o conjunto de palavras de ordem, que regem uma sociedade. A contrainformação opera (e só é eficaz) quando é ou se converte em ato de resistência. In: Gilles Deleuze, arte e resistência. 4 jul. 2011. Disponível em: http://bit.ly/zM1eO8. Acesso jan. 2012.
211
Uma rede é um conjunto de nós interligados. Os nós podem ser de diferente relevância para a rede, e os nós de modo particularmente importantes são chamados centros em algumas versões da teoria de rede. Stull, qualquer componente de uma rede (incluindo os centros) são um nó, e sua função e significado dependem dos programas da rede e de sua interação com os outros nós da rede. Os nós aumentam a sua importância para a rede por meio da absorção de informações mais relevantes, e processamento de forma mais eficiente. A importância relativa de um nó não decorre de suas características específicas, mas de sua capacidade de contribuir para a eficácia da rede na realização dos seus objetivos, conforme definido pelos valores e interesses programados para essas redes. No entanto, todos os nós de uma rede são necessários para o seu desempenho, embora elas permitam alguma redundância como uma salvaguarda para o seu correcto funcionamento. Quando os nós se tornam desnecessários para o cumprimento dos objetivos da rede, elas tendem a se reconfigurar, excluindo alguns modos e acrescentando outros novos. Nós só existem e funcionam como componentes de redes. A rede é a unidade, e não o nó (p. 20-21).
Redes sociais não são criações do século 21. Constituem o padrão fundamental da
vida, de todos os modos de vida, afirma Castells (IBIDEM, p 21) e não é uma discussão
nova (COSTA: 2005, p. 236) Porém, a atual interconexão generalizada entre as pessoas
tem chamado a atenção de muitos teóricos sobre o modo pelo qual os coletivos se
comportam quando se constituem redes de altas densidade na Internet.
Estamos em rede, interconectados, com um número cada vez maior de pontos e
com uma frequência que só faz crescer. A partir disso, torna-se claro o desejo de
compreender melhor a atividade desses coletivos, a forma como comportamentos e
ideias se propagam, o modo como as notícias fluem de um ponto a outro do planeta, etc.
(IBIDEM). A grande questão que se coloca é como criar sinergia entre as pessoas?
Redes sociais não são comunidades. Comunidades remetem à solidariedade,
vizinhança e parentesco. Hoje, esses aspectos são alguns entre os muitos possíveis nas
redes sociais. Há novas formas de associação, as pessoas estão imersas numa
complexidade chamada rede social, com muitas dimensões e que mobiliza um fluxo de
recursos entre inúmeros indivíduos distribuídos segundo padrões variáveis. (IBIDEM, p.
239).
212
Embora na sociedade informacional o homem seja hiperindividualista e o
narcisismo seja elevado a ultima potência, principalmente, na Internet247, há uma
enorme disposição em compartilhar, basta haver uma motivação que o coloque em
relação com outras pessoas.
Aliás, afirma Clay Shirky: “a motivação para compartilhar é o fator determinante;
a tecnologia é apenas o facilitador” (2010, p. 75). Para Shirky, há uma malha de
retroalimentação de motivações pessoais e sociais na Internet que inclui desde a
Wikipedia a movimentos políticos.
Na verdade, a sinergia entre as pessoas se dá por meio dos laços fracos. Em 1973,
o sociólogo Mark Granovetter publicou um artigo intitulado The Strength of Weak Ties
no qual afirma que as pessoas tentam procurar emprego mais por intermédio de
conhecidos do que de amigos ou de familiares. Amigos e familiares representam o que
ele chamou de laços fortes. Já os conhecidos fazem parte dos laços fracos.
Para Granovetter, deve-se procurar emprego por meio dos laços fracos, pois esses
laços fracos são fortes com indivíduos de outro grupo que você ainda não tem acesso. O
importante é atingir os laços fracos, porque esses vão replicar a mensagem para mundos
mais distantes.
Rogério da Costa, da PUC/SP, afirma que a tese de Granovetter caiu como uma
luva nas redes sociais:
Rede social é formar laços fracos. Você tem seus laços fortes, como sempre teve, mas rede social na Web, seja Twitter, Orkut, MySpace, Facebook, etc. é para fomentar esses laços fracos, que, ao contrário do que podemos pensar, são muito importantes. É justamente aquele cartão de uma pessoa que você ouviu em um congresso, e você envia um e-mail para ela, que daqui a pouco te convida para integrar uma rede social na qual você publica um artigo, que, seguindo nesse caminho vai muito mais longe. Essa é a estratégia das pessoas que compreenderam que as redes sociais são um modo de construir um outro tipo de relação
247 SOMOS hipermodernos. Facom/UFBA – Ciberspesquisa, Salvador, 17 jul. 2005. Disponível em: http://bit.ly/pTLjRR. Acesso jan. 2012.
213
de propagação de interesses e captação de coisas interessantes por meio justamente desses laços fracos (2009).
Um dos exemplos mais significativos desse raciocínio foi a Primavera Árabe.
Milhares de pessoas que foram às ruas pedir o fim das ditaduras e das atrocidades no
Oriente Médio e na África não possuíam obrigatoriamente grau de parentesco ou de
vizinhança. Mas foram solidárias à causa (ver p. 196-197).
Essa é a diferença marcante entre jornais e redes sociais e explica por que não
funciona criar um Social News em uma empresa de comunicação, como fizeram
Huffington Post e The New York Times (ver p. 207). Não é da lógica do jornal operar no
conceito de rede.
A rede é baseada em um revezamento constante dos espaços liso e estriado. O
jornal é estriado por excelência e não permite produzir espaços lisos como Facebook e
Twitter. Castells demonstra as razões por que tais ações são impossíveis, sobretudo por
questões políticas: “remove-se o controle sobre a distribuição da mensagem. O que
contrasta com o poder da mídia de reformatar a mensagem a ser difundida” (2009, p.
418):
(...) Se as redes de mídia se envolverem em uma cruzada política em torno de uma opção política, seu destino depende do sucesso desta opção. Elas perdem sua relativa neutralidade, o que diminui a credibilidade, fator-chave para se chegar a um público amplo. Se jogam e perdem, suas conexões políticas podem ser danificadas, e elas podem pagar por isso em termos de vantagens reguladoras. Se seus funcionários são nomeados por critérios políticos, o seu profissionalismo vai sofrer. E, finalmente, se desvanecem suas estrelas políticas, seus resultados financeiros vão se deteriorar, e soar a campainha para seus proprietários e seus financiadores. É verdade que há um número de casos em que a cruzada ideológica (Fox News, ou o espanhol El Mundo) também contribui para um bom negócio, por um período substancial de tempo, e num contexto político específico. Mas, em termos gerais, a imprensa partidária é uma proposição nefasta no mundo dos negócios.
214
Esse é um dos argumentos pelos quais se pode afirmar que o jornal é um jardim
murado248 ou, nas palavras de André Lemos, da UFBA, faz parte de um portal-curral,
segundo o qual "configuram-se como estrutura de informação (conteúdo) que tratam as
pessoas como bois digitais forçados a passar por suas cercas para serem aprisionados
em seus calabouços interativos" (2000).
Já as redes sociais permitem interferências, ainda que sejam pré-programadas. O
modelo portal ainda está em vigor por questões culturais e econômicas, ainda que
pesem os modelos de negócios estabelecidos pelas redes sociais e Google, por exemplo.
E são nas redes sociais que contrapoder e contrainformação operam de maneira mais
significativa.
A implosão da página estática
Entretanto, não se pode negar que jornais como NY Times e Guardian e a rede de
televisão BBC têm investido esforços em repensar a interface sem se limitarem ao
formato definido para o Jornalismo de Internet – hierarquia e diagramação em coluna. O
NY Times aposta em engajamento, como o TimesPeople, o Guardian na estética da base
de dados, com o Datablog249, e a BBC na Web semântica250.
Porém, o resultado desses trabalhos é tratado como acessório, como algo que
complementa o texto ou melhora o desempenho da busca, no caso da emissora inglesa
(ver p. 171) e não como uma linguagem própria da dinâmica da Web que subverta o
padrão em vigor.
De que maneira isso pode efetivamente ser compreendido?
Se observada fora do espaço estriado da grande imprensa, a cobertura do Morro
do Alemão é reveladora. Enquanto jornais como Globo News e UOL Notícias destacavam
os últimos acontecimentos no formato tradicional – manchete, foto e chamada -, um
248 Para saber mais sobre jardim murado ou walled garden, ver: http://bit.ly/zGgUdk. Acesso jan. 2012. 249DATA JOURNALISM and data visualization from the Datablog. The Guardian, Londres, 26 mar. 2012. http://bit.ly/t4TIq1. Acesso jan. 2012. 250 Para conhecer o projeto da BBC de Web semântica, ver: http://bbc.in/zXGGer. Acesso jan. 2012.
215
mapa georeferenciado e aberto do Google permitia cobertura colaborativa - por meio do
Twitter e também oferecia informações do jornal O Globo251.
O autor do projeto é uma empresa de planejamento e monitoramento de redes
sociais chamada Moscatelli. Não se trata aqui de fazer propaganda, mas de mostrar
possibilidades outras de uso de aplicativos sem hierarquia para o Jornalismo.
Figura 139. Interface do Google Maps para cobertura da invasão do Morro do Alemão com informações de cidadãos e do jornal O Globo via Twitter
Figura 140. Interface da Globo News com a cobertura da ocupação do Alemão: hierarquia e diagramação
251 Twitter - Violência Rio de Janeiro http://bit.ly/tWTvTc. Acesso jan. 2012.
216
Figura 141. Interface do UOL News com a cobertura do Alemão: hierarquia e diagramação
217
Não seria exagero propor uma abordagem assim, além da primeira, na página
189:
Figura 142. Interface do Google Search sobre a ocupação do Alemão
Ou assim:
Figura 143. Interface de busca dinâmica do Twitter sobre o Alemão via Google Search
218
Ou ainda por meio do Google Earth, criando um mash-up de dados:
Figura 144. Reprodução do Google Earth com vídeos e informações sobre o
Alemão
E essa narrativa poderia ser recontada ou reconstruída mais tarde assim:
Figura 145. Cena de A era da estupidez, de Franny Armstrong. No filme, o ator Pete Postlethwaite, morto em 2011, assume o papel de um produser/prosumer ao contar e ao mesmo tempo recriar um documentário sobre a destruição da terra por causa da estupidez do homem. Ele opera uma interface simples, com uma lista de links que levam a uma imensa base de dados composta por áudio, texto, foto e vídeo252.
252 Para saber mais sobre A era da estupidez, ver: http://imdb.to/yMb87l. Acesso jan. 2012.
219
O argumento de Giselle Beiguelman fecha a questão sobre a implosão da página:
Nesse sentido, o que se impõe confrontar hoje é o desaparecimento dos critérios que permitiam ordenar, classificar e distinguir não só os distintos formatos discursivos dos textos, em função de sua materialidade (carta, jornal, documento de arquivo ou livro), mas as próprias especificidades entre as mídias sonoras, visuais e textuais que têm agora seus limites objetivos implodidos pela interface (2003, p. 13).
Um print-screen da tela de vídeo no YouTube com os posts publicados no Twitter
sobre os protestos no Egito demonstram claramente que a dinâmica de rede
reconfigurou completamente a interface jornalística253:
Figura 146. Interface do Twitter exibida no YouTube com posts sobre os protestos no Egito
A esta altura, o leitor deve estar se perguntando por que criar novo repertório
para a interface jornalística na Internet uma vez que o Jornalismo tem sua base calcada
na hierarquia? Fala-se tanto em não linearidade, mas também se fala tanto que as
pessoas apenas passam os olhos pelos textos, leem somente os primeiros parágrafos de
uma notícia.
253 O vídeo, intitulado The egyptian revolution on twitter, está disponível em: http://bit.ly/wgYx5w. Acesso jan. 2012.
220
Então, a ideia é a de uma interface nômade, desterritorializada, sem pontos ou
trajetos embora evidentemente os tenha (DELEUZE; GUATTARI: 2007, p. 53), porém
presa a um formato clássico de texto? Isso é possível?
Sim, a partir da noção de revezamento (IBIDEM, p. 180). Porque do mesmo modo
que a rede é um espaço liso por excelência, que possibilita ações nomádicas, permite
realizar percursos no espaço estriado, metrificado, pertencente ao newsmaking
(TUCHMAN: 1978).
É nesse espaço tensionado que se reconfigura a estética da composição: por um
lado, a Internet foi desenvolvida para ser uma espécie de rizoma, cuja linha segue um
plano que não tem mais dimensões do que aquilo que o percorre. Por outro, há a relação
de aparato de captura, caracterizado por ocupação metrificada.
Isso indica que o espaço liso não deixa de ser constantemente convertido em
espaço estriado, e o espaço estriado é constantemente revertido a um espaço liso. Há
misturas e passagens de um para outro, graças a movimentos completamente diferentes
(DELEUZE; GUATTARI, 2007, p. 180).
É por essa razão que hoje é possível ter uma interface nômade cujo conteúdo
remete ainda a uma estrutura textual orientada pela Teoria do Jornalismo. Ora, um
nômade não tem pontos, trajetos, nem terra, embora evidentemente ele os tenha,
explicam Deleuze e Guattari:
(...) Se o nômade pode ser chamado de desterritorializado por excelência, é justamente porque a reterritorialização não se faz depois, como no migrante, nem em outra coisa, como no sedentário, Para o nômade, ao contrário, é a desterritorialização que constitui sua relação com a terra, por isso ele se reterritorializa na própria desterritorialização. A terra deixa de ser terra e tende a se tornar simples solo ou suporte (2007, p. 53).
(...) O nômade aparece ali na terra sempre que se forma um espaço liso que corroi e tende a crescer em todas as direções. O nômade habita esses lugares, permanece nesses lugares, ele próprio os faz crescer, no sentido em que se constata que o nômade cria o deserto tanto quanto é criado por ele. Ele é o vetor da desterritorialização (IBIDEM).
221
É verdade que ao longo desta tese foram mostrados exemplos para o que
Manovich chamou de deep remixability254 (ver p. 172-175; 193-194) . Para o pesquisador
russo, a deep remixability é definidora de novas propriedades no ambiente digital:
interface e ferramentas, correspondentes a dois componentes fundamentais de qualquer
software moderno: estrutura de dados e algoritmos.
Cada ferramenta disponibilizada por uma aplicação de mídia é essencialmente
um algoritmo que processa ou cria formatos particulares de dados (MANOVICH: 2008, p.
102). Porém, quando se trata apenas conteúdos baseados em escrita (predominante na
Internet), o melhor caminho é ainda o do pensamento balizado pelo revezamento.
O esforço em torno de um novo modelo da estética da base de dados parte do
pressuposto de que também é preciso abandonar as reproduções analógicas recorrentes
nos softwares, já abordadas anteriormente (ver p. 162).
A interface do Adobe Acrobat Reader é um exemplo dessa falta de vocabulário
específico para a nova mídia (LOVINK: 2009; MANOVICH: 2008; BEIGUELMAN: 2003).
Combina metáforas de uma variedade de tradições e tecnologias de um jeito que não
parecem ter lógica. Em uma única interface há elementos:
1) de áudio (botões de play e de gravar) do século 20
2) de edição de imagem (botões de zoom)
3) com associação direta à tradição impressa ainda que nunca tenham sido
usados no papel (ícones de tesoura e cola)
4) presentes em livros (janelas de anotações)
5) padrão de GUI [Graphical User Interface] como busca, filtro e múltiplas janelas
Essa repetição contínua do ambiente analógico recai em questionamentos, como
faz Lev Manovich: "(...) Não é claro para mim porque me pedem para percorrer as
páginas clicando na seta para a frente e para trás - uma convenção de interface que é
254 O remix envolve não apenas conteúdos de diferentes mídias, mas também técnicas fundamentais, métodos de trabalho e modos de representação e de expressão. In: MANOVICH, L. Software takes command, 2008, p. 121-128.
222
normalmente usada para mover meios de comunicação de imagem.” (2008: p, 98-99).
Mas esse é assunto para uma outra pesquisa.
223
Conclusão
Ainda que seja difícil compreender a perda do processo de padronização
editorial no Jornalismo por causa da dinâmica das redes sociais, o fato é que se
trata de algo irreversível. Isso significa uma completa reestruturação nas bases que
orientam esse campo da Comunicação.
Redes sociais constituem interfaces nômades, territorializadas e desterritorializadas.
Esse raciocínio é fortalecido não somente por teoria e práticas sociais, mas por
pesquisas realizadas por institutos como Nielsen, Ibope e ComScore, que mostram
aumento expressivo no acesso a Facebook e Twitter.
Nas redes sociais, fora dos formatos portal e site, as notícias deixam de ser apenas
uma interação entre repórter, diretor, editor, constrangimentos da organização,
necessidade de manter laços com as fontes, desejos de audiência e poderosas
convenções culturais dos jornalistas, como definiu Michael Schudson.
Atualmente, estão envolvidos também novos atores e agentes sociais,
dessemelhantes, integrantes de sistemas bottom-up – e não top-down como operam as
chamadas mídias clássicas –, pois adquirem seus conhecimentos a partir de baixo e os
fazem replicar-se. É o que o escritor Steven Johnson chamou de comportamento
emergente:
Em uma linguagem mais técnica, são complexos sistemas adaptativos que mostram comportamento emergente. Neles, os agentes que residem em uma escala começam a produzir comportamento que reside em uma escala acima deles: formigas criam colônias; cidadãos criam comunidades; um software simples de reconhecimento de padrões aprende a recomendar novos livros. O movimento das regras de nível baixo para a sofisticação do nível mais alto é o que chamamos de emergência (2003, p. 14).
Embora essa lógica leve à implosão da página estática e revele outra perspectiva de
interface, o Jornalismo das grandes corporações ainda lida com a Internet do
mesmo modo que em suas versões tradicionais. É o que revela a análise feita com os
224
quinze jornais de maior audiência no Brasil e no exterior, mapeados segundo dados do
Ibope e detalhados no último capítulo.
Porém uma observação sistemática de repertórios como os da arte digital, de
mashups, formadores do media visualization, do pesquisador Lev Manovich, e das
narrativas baseadas em tags e hashtags ajudam a repensar a exibição da notícia e
comprovam a hipótese principal desta tese: responder se a interface teve de se deslocar
porque a produção está se modificando. Sim, deslocou-se. Não há volta. E também
corrobora as hipóteses secundárias:
O Jornalismo de Internet atual não consegue converter em seus interesses a
notícia que circula nas redes sociais: apesar de ter se apropriado delas, especialmente
o Twitter, o Jornalismo não controla a informação que circula no fluxo como o faz em
suas versões de papel, Web e aplicativos. Nem as publicadas por fontes.
E o Wikileaks fecha questão sobre isso. Ainda que seu fundador Julian Asssange tenha
feito acordos com Guardian, New York Times e Der Spiegel, foi o Wikileaks quem passou a
comandar parte do jogo. Por uma razão muito simples de compreender e ao mesmo
tempo bastante complexa: nas redes, a produção (inclusive a das fontes) é resultado de
um movimento que provém do excedente cognitivo, definido pelo escritor Clay Shirky
como “fruto do tempo livre de cidadãos escolarizados do mundo, como um coletivo”:
Algo que torna a era atual notável é que podemos agora tratar o tempo livre como um bem social geral que pode ser aplicado a grandes projetos criados coletivamente, em vez de um conjunto de minutos individuais a serem aproveitados por uma pessoa de cada vez (2010 p. 14-15).
Esse entendimento também poderia se referir à inteligência coletiva de Pierre Lévy
(1999) ou à emergência bottom-up de Steven Johnson (2003). Se esses agentes fossem
introduzidos ao sistema de produção de notícias, seria possível remodelar a forma pela
qual se pensa o Jornalismo na teoria e na prática - do processo editorial ao gráfico. Caso
isso ocorresse, a interface não ficaria descolada do ambiente colaborativo, o que levaria
essa prática para um novo patamar.
225
A ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, pela polícia em 2010 é
esclarecedora nesse sentido. À cobertura da imprensa, somaram-se às coberturas
coletivas, especialmente aquelas realizadas pelo Twitter.
Um dos produsers/prosumers, Rene Silva, 17, morador do Alemão não imaginaria que
seu tuíte ‘tem um tiroteio no alemão’ teria tanta repercussão e aumentaria o número de
seguidores de sua conta @vozdacomunidade de 180 para 40 mil255. Essa ação fez Silva
sair das redes, na posição de observador dos fatos, a personagem em jornais e
programas de televisão, como foi mencionado no capítulo 3.
Outra situação igualmente interessante foi o excedente cognitivo reunido para narrar
a situação no morro do Alemão a partir de um mapa georeferenciado e aberto do Google
Por meio de acesso via Twitter, qualquer pessoa podia enviar informações sobre o que
estava acontecendo ali. O mapa também oferecia notícias de O Globo na Internet. O
conteúdo era dividido por cor para diferenciar a abordagem coletiva da imprensa
tradicional.
Isso mostra que esse excedente cognitivo não está associado à lógica do newsmaking.
É sabido que o newsmaking é um componente da noticiabilidade, conforme explicado no
capítulo 2. São os critérios de noticiabilidade que indicam o que será publicado pela
imprensa. Também são esses os critérios aplicados à diagramação da primeira página de
um jornal de papel. Eles fornecem diretrizes para apresentação do material, sugerindo o
que deve ser prioritário.
É dessa maneira que são estabelecidas as quantidades de chamadas que uma capa
terá. Não é sem razão que perdurou por mais de 110 anos o slogan do The New York
Times: All the News That's Fit to Print (Todas as notícias que podem ser impressas). Mais
tarde, nos anos 2000, o jornal americano o ampliou para a Web: All the News That's Fit to
Click - or Blog, Stream, Archive, Digitize, E-Mail, Personalize, etc.
255 APÓS RELATAR invasão, tuiteiro do Morro do Alemão usa rede para ajudar a comunidade. Folha de S.Paulo. 20 jan. 2011. Disponível em: http://bit.ly/tqxiaq. Acesso jan. 2012.
226
O lema do Times está totalmente atrelado ao newsmaking. Aliás, a organização de
uma redação, sobretudo em relação ao perfil profissional, e a orientação editorial têm
origem nesse conceito (WOLF: 2002).
Curioso anotar que, transposta para a Internet (Web e aplicativos, entre outros), a
ideia segundo a qual a organização se dá por critérios de noticiabilidade e valor-notícia
de composição levou a extremos – da absoluta economia ao total exagero –,
mencionados nos capítulos 2 e 3.
Ficou comprovado que, em alguns casos, independentemente do suporte (papel,
tevê, rádio) e dos dispositivos (fixos ou móveis), a interface não chegava nem a emular a
versão clássica. Não foi percebido critério no uso de elementos de composição, como
links ou multimídia. Design de superfície, redundância e imperativo predominavam, o
que Giselle Beiguelman chamou de “clicagens burras” (2004).
Por outro lado, havia (e ainda há) jornais com mais de 100 chamadas em sua
interface principal, como o New York Times. Alguém lê tudo isso? Ou seja, um exaustivo
uso do valor-notícia de composição no qual prevalece a noção de que quase tudo é
importante. Isso passa ao largo da tentativa de reorganizar o que David Weinberg
chamou de “miscelância” na Internet.
Tanto é verdade que uma corrente de pesquisa atropelou o gatekeeper pela defesa
sistemática do termo “curadoria da informação” para que a escolha continue sendo feita
de cima para baixo. Porque, de modo geral, é isso que sugere o termo, que tem origem na
arte, na metade do século 19. A discussão sobre curadoria da informação apareceu em
novembro de 2008 em um texto do professor Jeff Jarvis, diretor do Tow-Knight Center
for Entrepreneurial Journalism, ligado à universidade de Jornalismo de Nova York.
Jarvis redefiniu curadoria como “a necessidade de o editor organizar, corrigir e
criticar o excesso de informação que circula na rede256”. É correto dizer que o gatekeeper
trabalha com a ideia da seleção, o profissional é uma espécie de porteiro, de guardião, e
256 CURATION and journalists as curator. mindymcadams.com, EUA, 3 dez. 2008. Disponível em: http://bit.ly/9bTY. Acesso mar. 2012.
227
decide o que fará com uma informação. Porém, organizar, corrigir e criticar faz parte da
prática jornalística total. Não há a necessidade de um curador, seja para o Jornalismo ou
para as redes sociais. Porque o filtro na rede se dá a partir de validação e recomendação
de conteúdo na própria rede.
Aliás, a sobrecarga de informação e a necessidade de filtro não surgiram com a
Internet. Na realidade, são anteriores a ela. Começaram em 1453 com a invenção da
imprensa de Gutenberg. “Por causa da Internet, temos a impressão de que o excesso é
maior”, explica o escritor Clay Shirky.
Para ele, a grande questão não é o aumento exponencial de informação disponível,
mas a falta de meios eficientes para organizar a busca do que se deseja (2011). Só o
Google não resolve. Nem os mecanismos de pesquisa dos jornais que, muitas vezes, se
revelam inconsistentes. Ignoram duas importantes rupturas: memória coletiva e
filtragem colaborativa.
A interface se auto-organiza por revezamento e agenciamento: a interface
circula em um fluxo atemporal. A produção de conteúdo é baseada principalmente em
agenciamentos coletivos de enunciação, burburinhos, zumbidos, que têm na figura do
produser/prosumer seu maior colaborador, além do crowdsourcing. Vem de todos os
lados, transborda, rompe os limites. É óbvio que no espaço liso das redes, o Jornalismo
opera por tentativas de estriá-lo, de criar limitações e impor procedimentos típicos da
sua prática social.
Conforme abordado no capítulo 1, o entendimento de agenciamento na obra de
Gilles Deleuze e Félix Guattari está relacionado à produção de subjetividade, ao desejo
como construção junto ao socius. Em Micropolítica: Cartografias do Desejo, Guattari e
Raquel Rolnik o definiram para além de estrutura, forma, processo e montagem: “Um
agenciamento comporta componentes heterogêneos, tanto de ordem biológica, quanto
social, maquínica, gnosiológica, imaginária”. (2005, p. 381).
É por causa do agenciamento que a interface é reconfigurada. Esse burburinho
produz subjetividade a partir da enunciação, que produz enunciados em um contexto
228
sempre coletivo e heterogêneo. Subjetividade essa que interfere constantemente na
interface. Não se pode esquecer o fator tecnológico. Vale lembrar que são resultado de
agenciamentos o excedente cognitivo, a inteligência coletiva e a emergência bottom-up.
Também é verdade que as próprias redes sociais se revezam entre ser máquinas de
guerra e aparelhos de captura. De novo, é esclarecedor o exemplo do movimento contra
as leis antipirataria (SOPA, sigla em inglês) e de proteção à propriedade intelectual
(PIPA, sigla em inglês), já abordado na Introdução (ver p. 23-24), mas agora tendo o
Google como protagonista.
O Google, mesmo preocupado com negócios, é o mesmo que estimula mobilizações
na rede. E é exatamente isso que diferencia as redes das interfaces jornalísticas: a
possibilidade de produzir espaços lisos que as empresas de comunicação não permitem.
É por essa razão que não faz sentido que jornais como Huffington Post ou The New
York Times criem redes sociais dentro de suas plataformas ainda que linkadas a outras
redes sociais. O Social News é resultado do excedente cognitivo e é isso que mexe com
estruturas já solidificadas, esmiuçadas a seguir.
A Social News alterou significativamente a forma pela qual a notícia é
produzida e disseminada: já que o Jornalismo não controla o fluxo informacional, o
conceito de edição entra em xeque. Com isso, não há mais necessidade de diagramação e
a hierarquia, principalmente a manchete, não determina mais a importância da notícia.
Por essa razão também não faz sentido pensar em gatekeeper (ou curador) para a
Internet, explicado no tópico anterior. O termo que melhor se adequa nesse caso é
produsage (produção e uso). Editorias são substituídas por tags ou hashtags. As tags são
termômetro e inauguram não só uma nova forma de ler, mas de exibir conteúdo. No
Twitter, por exemplo, o produser/prosumer segue palavras-chave e não editorias ou
manchetes. Isso se tornou uma prática social.
229
O microblog estimula tanto o collaborative tagging que agora todo evento de grande
porte ou acontecimentos como tragédias têm roteiros feitos a partir de hashtags e perfis
de jornalistas ou jornais e cidadãos em geral. Foi assim na cobertura do terremoto que
atingiu o Japão em março de 2011. Informações sobre órgãos de saúde e ajuda à
população e perfis de cidadãos e jornalistas que acompanharam a tragédia foram
publicados em inglês e em japonês nessa rede.
É verdade que a interface auto-organizada em rede implica rediscutir questões de
ética e credibilidade. Porém a própria dinâmica das relações que ali se estabelecem
resolve isso de várias maneiras. Por exemplo, quando há vontade de indução de valia
sobre fatos, principalmente políticos ou de fatos envolvendo tragédias ou conflitos.
A greve da polícia militar na Bahia no início de 2012 é esclarecedora nesse sentido.
Ganharam espaço nas redes sociais boatos sobre violência e criminalidade, o que
aumentou a tensão, principalmente em Salvador, sede da mobilização. Mas a própria
rede se encarregou de desmenti-los.
A contrainformação deu outro ângulo não só à cobertura da imprensa e despolitizou
a divulgação de notícias também nas redes. No dia 3 de fevereiro, considerado o mais
violento, alguém espalhou que um shopping da capital baiana havia fechado as portas.
Mas um depoimento no Facebook, acessado via celular, refutou a informação. O comércio
funcionava normalmente.
Outro caso importante foi a denúncia de estupro na 12ª edição no Big Brother Brasil,
da Rede Globo. A emissora carioca, em uma tentativa de impedir o vazamento de um
vídeo de sete minutos no qual o modelo Daniel Gustavo Rodrigues aparece
supostamente abusando da estudante de administração Monique Amin, não conseguiu
controlar a circulação nas redes sociais. As imagens se espalharam feito rastilho de
pólvora, o que levou à expulsão do participante do reality show e a abertura de uma
investigação policial257.
257 EDIÇÃO DO BBB12 ignora possível caso de estupro. Veja, São Paulo, 16 jan. 2012. Disponível em: http://bit.ly/zm6MR4. Acesso fev. 2012.
230
A World Wide Web não é o único protocolo a permitir uma estética do banco de
dados: não se pode negar que há avanços consideráveis na produção e na exibição de
informações jornalísticas no protocolo de Tim Berners-Lee, sobretudo no que se refere à
tecnologia. Obviamente, em uma rede com alta velocidade de conexão, aumenta-se a
capacidade de download de conteúdo e, consequentemente, a maior oferta de
hipermídia. Porém, a base de criação é a mesma. É por isso que a interface funciona por
meio de tradições.
Um exemplo disso é o browser258, do inglês browse, cuja própria denominação está
relacionada à lógica do nomadismo, segundo a qual o sujeito navega pela possibilidade
de linkagem de algo que pode ser permutado sem limites determinados e é
transformado em um paginador. Browse remete a flanar e não a navegar. O flâneur,
segundo a definição de Charles Baudelaire, é aquele que passeia pela cidade a fim de
experimentá-la259. É assim que a rede opera. É assim que o design tem de ser pensado.
O texto também é reflexo dessa estrutura ancorada às Teorias do Jornalismo
aplicadas às mídias clássicas e à necessidade de reprodutibilidade das grandes
corporações de comunicação. O que explica, de certo modo, a exibição em manchete,
linha fina, resumo e foto, a exemplo de uma página de jornal impresso. Trata-se de um
fac-símile com mídia distribuída.
E isso não aparece somente na Web. Nos aplicativos também. Principalmente os
fechados, pagos. Embora frutos de um design belíssimo, como o da revista Wired (iPad
ou iPhone), seguem convenções. Mas não precisavam ser assim. Poderiam ser
concebidos não para serem jardins murados, como os portais-currais denominados por
André Lemos, mas para permitirem a produção de espaços lisos.
A interface, seja ela de Web ou de Internet das Coisas, tem de ser percebida como um
mapa cognitivo, que requer uma nova linguagem visual e um novo vocabulário crítico,
mesmo que resulte em uma estética de experimentação ainda que não considerada bela.
258 Segundo o dicionário Houaiss, browse significa: folhas, ração e outros alimentos colhidos a esmo (por animais)', p.ext. 'busca rápida com os olhos'. 259 Para saber mais sobre flâneur, ver: http://bit.ly/wGoVYt. Acesso fev. 2012.
231
É urgente sistematizar critérios para julgá-la, como afirmou o escritor Steven Johnson
(2001, p. 20-21). E os trabalhos de arte digital são um ponto de partida importantíssimo
para isso, já que desafiam a categorização.
São obras compostas pela matemática, baseadas em algoritmo, sem hierarquia ou
categorização mesmo que em alguns casos, as tags sejam pré-programadas. Por isso, a
interface jornalística deveria ser pensada não só a partir de um coletivo inteligente, mas
do input de dados e tags, pois ela opera por revezamento entre informação e
contrainformação; poder e contrapoder.
É resultado de alteridades. Não há uma estética definitiva. As redes colocam em
xeque a estética PowerPoint de Manovich e os formatos portal e site não cabem nessa
nova abordagem.
É como afirmou o escritor Clay Shirky: “Uma das razões pelas quais o Google foi bem-
sucedido é o entendimento de que não há arquivos, não há prateleiras”. Com a empresa
de Lary Page e Sergey Brin foi assim. Como seria com a interface da notícia?
Se um projeto como o Sixth Sense, do Massachusets Institute of Tecnology (MIT),
como demonstrado no capítulo 1, fosse reelaborado para o Jornalismo, qual seria a
abordagem, uma vez que trabalha com sensores que projetam diferentes interfaces, não
só diferentes como vestíveis? E não há apenas a Web ou aplicativos. Há algo que os
transborda. O sujeito se transforma em uma interface conectada. Ele carrega a interface.
Sabe-se que um dos impedimentos é cultural. O outro é econômico. Embora os
agenciamentos coletivos imponham interfaces nômades, o que está em jogo é saber
como o Jornalismo pode ganhar dinheiro com essa nova abordagem. Essa é talvez uma
das razões para que o raciocínio das empresas de comunicação não tenha mudado ao
longo de quase 20 anos de existência da World Wide Web, como será abordado a no
próximo tópico.
232
A economia informacional
Apesar de sua função social e de ser definido por Michael Kunczik como “a profissão
principal ou suplementar das pessoas que reúnem, detectam, avaliam e difundem as
notícias, ou que comentam os fatos do momento” (1998, p. 16), o Jornalismo é um
negócio. Vende notícias. Esse componente está visivelmente presente no newsmaking.
A informação jornalística está inserida na sociedade desde o século 17, quando começam
a surgir publicações periódicas (MEDINA: 1978p. 15):
(...) Os próprios avanços tecnológicos fazem parte das necessidades da industrialização, ou que reforça a informação, no caso, jornalística, como decorrência normal do sistema econômico que está na base. Há então a considerar a informação como um produto, mais um, desse sistema (IBIDEM, p 16). (...) O Jornalismo nos meios gráficos e eletrônicos, o cinema e a televisão nos programas de lazer, todos os recursos técnicos de reprodução e divulgação de massa. E não é mais possível discorrer sobre a mensagem jornalística como um dado isolado dessa realidade (IBIDEM).
A crítica à industrialização da notícia começa no mesmo século, após a burguesia,
em ascensão na época, criticar o que ficou conhecido por “mentes privilegiadas” que
detinham acesso a informações. Ou seja, “uma teoria autoritária da imprensa, típica dos
séculos 16 e 17, que se fundamentava na posição sintomática do sistema
socioeconômico da Europa, sobretudo Inglaterra e França” (IBIDEM, p. 17-18).
Tobias Peucer, quando escreveu sua tese sobre o Jornalismo em 1690, já havia
detectado critérios de noticiabilidade que apontavam esse viés.
O que se viu nesse período foi o fim do Jornalismo romântico baseado no
“mercado livre de ideias”, que esbarrou na complexidade tecnológica desencadeada pela
revolução industrial e, por consequência, na complexidade informativa. O que levou a
um ataque fervoroso à grande engrenagem da qual faz parte o Jornalismo como um todo,
dividido entre a economia e o compromisso com o público.
Há um sem número de exemplos que ilustram essa lógica. Um dos mais atacados
por observadores da mídia foi o caso da estudante Eloá Cristina Pimentel, morta pelo ex-
233
namorado Lindemberg Fernandes Alves em 2008, após ficar em cativeiro na própria
casa, em São Bernardo do Campo, por mais de 100 horas.
A cobertura virou um reality show centrada no seguinte raciocínio: quanto maior
a audiência, mais consumidores atingidos por anunciantes, mais dinheiro entra em
caixa.260 O caso Eloá se transformou no que José Arbex Jr. denominou “shownarlismo”,
Jornalismo do espetáculo, que trata a notícia como entretenimento e já era praticado nos
Estados Unidos desde o século 19261.
A cobertura chamada ao vivo por meios televisivos e radiofônicos também foi
incorporada à Internet desde o início das produções jornalísticas. Os anúncios também,
forjando o intervalo entre as programações. Foi assim no atentado a Oklahoma, em
1995, tratado no primeiro capítulo.
A importância do Jornalismo de Internet foi, de fato, percebida, quando as pessoas
se conectaram à rede para acompanhar notícias sobre o ataque orquestrado pelo
terrorista Timothy McVeigh, morto em 2001. No Brasil, essa percepção se deu anos mais
tarde, com a Guerra de Kosovo (1999).
Depois vieram as coberturas sobre o escândalo envolvendo o ex-presidente dos
Estados Unidos Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky (1998), o atentado às torres
gêmeas, que ficou conhecido como a Terça Negra (2001).
De eventos isolados, a cobertura baseada em tempo diferido e atualização
contínua passou a integrar o cotidiano das redações de Internet. Sempre em uma
perspectiva econômica, guardadas as diferenças de abordagens entre Internet e mídias
clássicas, como jornal impresso, rádio e tevê.
260 A MÍDIA e o sequestro em Santo André. Observatório da Imprensa, São Paulo, out. 2008. Disponível em: http://bit.ly/x5xb42. Acesso mar. 2012. 261 SHOWRNALISMO. Observatório da Imprensa, São Paulo, 29 out. 2001. Disponível em: http://bit.ly/5tvfJB. Acesso mar. 2012
234
Wikileaks também quer dinheiro
No caso do jornal impresso há um detalhe importante a ser colocado em
discussão: a emulação do Wikileaks como forma de demarcar claramente a notícia
como um produto à venda e como um serviço à sociedade sob o rótulo da
transparência, conforme mostra a teoria nas leituras de Cremilda Medina e Gaye
Tuchman, entre outros. O projeto FolhaLeaks é um bom exemplo desse raciocínio.
Criado pela Folha S.Paulo em setembro de 2011, permite que leitores enviem
documentos, fotos e sugestões ao jornal. A reportagem faz triagem e checagem das
informações para avaliar uma posterior publicação, com a garantia de o colaborador ter
garantido seu anonimato.
Tais informações passam por um filtro determinado pelo newsmaking do jornal. É
raro um texto oriundo do FolhaLeaks não ter chamada na primeira página. Isso o
torna vendável262. Afinal, de modo geral, empresas de comunicação obtêm receita a
partir de venda em banca, assinaturas e anúncios.
Já o Wikileaks, de Julian Assange, cuja lógica é a do contrapoder, da
contrainformação, também está interessado em lucro. Seu dinheiro tem origem em
doações cuja lista é desconhecida do público. Quando faz acordos como os que fez com
Ian Taylor, correspondente europeu do Guardian, e Nick Davies, repórter investigativo
do mesmo jornal britânico (LEIGH; HARDING: 2011, p. 99), a estratégia de Assange
também assume procedimentos do newsmaking.
Ninguém passa informações, principalmente as reveladas pelo Wikileaks, sem
algum interesse. Especialmente as fontes. Mesmo as que fazem parte do excedente
cognitivo.
E Assange passou a ser o intermediário dessas fontes, não mais restritas somente
a políticos com intenção de emplacar intrigas ou criar fatos positivos, como já
mencionado no capítulo 2, mas descoladas de jornais e jornalistas, como o caso de
Braddley Manning. O soldado raso enviou ao Wikileaks um vídeo confidencial mostrando
262 Para saber mais sobre o FolhaLeaks, ver: http://bit.ly/rbF6ge. Acesso mar. 2012.
235
o massacre de civis por tropas americanas em Bagdá, Iraque, e 260 mil páginas de
telegramas diplomáticos confidenciais contendo avaliações da inteligência (IBIDEM, p.
100).
Um mês depois da divulgação desses documentos, os cofres da organização
receberam US$ 1,1 milhão em forma de doação263. Isso significa que se os jornais
emplacam as denúncias, ganham os dois. Um vende, o outro angaria
investimentos.
A represália veio na contenção econômica. No final de 2011, bancos e financeiras
bloquearam doações feitas por meio de cartões de crédito e serviços de pagamento
eletrônico. Juntas, as bandeiras Visa e MasterCard, além do PayPal, intermediavam 90%
das doações. Outros 5% vinham de Western Union e The Bank of America.
“Eram milhares de doações, com valor médio de US$ 25. Poucas excediam US$
100 e não havia doadores corporativos”, disse o islandês Kristinn Hrafnsson, porta-voz
do Wikileaks, em entrevista à ISTOÉ Dinheiro264.
Agora, Assange corre para descontar o prejuízo. Um aviso em sua interface indica
que as doações são importantes para “lutar contra essa (bloqueio) e outras formas de
censura, para projetos do Wikileaks, manter equipe, servidores e infraestrutura de
proteção. Somos completamente apoiados pelo público265.”
O cenário atual em nada lembra a primeira bolha da Internet, marcada por um
processo de especulação em torno de empresas que constituíram ou migraram seus
negócios para a rede, especialmente o comércio eletrônico, de 1995 a 2000, com altos
investimentos às chamadas start-ups. Especuladores as hipervalorizaram para depois as
abandonarem, provocando desvalorização generalizada, quebradeira e fusões (SERVA: 2002,
p. 98).
263 O dinheiro acabou. E agora? ISTOÉ Dinheiro, São Paulo, 28 out. 2011. Disponível em: http://bit.ly/sPUUqN. Acesso mar. 2012. 264 IBIDEM. 265
Para saber mais sobre como funcionam as doações ao Wikileaks, ver: http://bit.ly/u65dYo. Acesso mar. 2012.
236
Hoje players como Facebook, Google e Twitter encontraram soluções para faturar
com a Internet (por meio de aplicativos) e principalmente com a Web sem emular o que
já existia. A razão para isso está no fato de perceberem que a base da Web e da Internet
são as pessoas.
É gente conversando com gente, é relacionamento. Isso se tornou o grande
negócio, como os movimentos pelo software livre, que desenvolveram novos mercados,
descentralizados, auto-organizados, confrontando as forças do mercado tradicional
(RHEINGOLD: 2002, p. 54). O surgimento do Orkut é reflexo disso. Foi criado quatro
anos após a bolha, em 2004, embora não seja considerada uma rede social da qual faz
parte o excedente cognitivo266.
Foi com esse raciocínio que, nos anos 1920, Bill Paley se tornou por mais de 50
anos a figura mais importante da radiodifusão moderna ao apostar em novos formatos
para a CBS. Como se perceberá a seguir, a compreensão da Internet e da rádio se toca
pelas bordas.
A lição Bill Paley, da CBS
Não é novidade que nem todo publisher tem o brilhantismo de Paley. Ele
transformou a rede CBS (rádio e TV) em um sucesso de audiência não apenas por causa
do modelo de negócio que introduziu na empresa – merchandising -, mas ao seguir sua
intuição. Não emulou a NBC, na época, líder de mercado. Apostou em entretenimento e
programação (HALBERSTAM: 1975, p. 22-25).
Quando virou dono da CBS, aos 27 anos, não entendia nada de radiodifusão. Era
um jovem em um setor mais jovem ainda. Trabalhara antes na empresa de tabaco
pertencente à sua família. Embora um sucesso absoluto, Paley não queria repetir a
mesma trajetória. Depois da Grande Depressão, o pai, Sam Paley, vendeu a companhia
por US$ 30 milhões e investiu US$ 400 mil na CBS (IBIDEM).
O ano era 1928 e a CBS estava sem dinheiro, contava apenas com seis afiliadas e
estava alojada num pequeno andar da Paramount Tower (IBIDEM).
266 Para saber mais sobre o Orkut, ver: http://bit.ly/H8naq. Acesso mar. 2012.
237
E o exemplo da CBS é o que melhor se encaixa para discutir a economia na
sociedade informacional. O raciocínio à época pode ser perfeitamente aplicado à Internet
e à Web (IBIDEM, p. 23): “Radio had no past. The present was very shaky and did most
responsible people did not seem to think there was very much future”. (Rádio não tinha
passado. O presente era muito instável e as pessoas com alguma responsabilidade
pareciam pensar que não havia muito futuro).
À exceção de Facebook, cujo lucro é oriundo de conteúdo sem custo postado
pelos milhares de membros, Google, com suas receitas baseadas em links
patrocinados267, e Twitter, ainda novato no quesito modelo de negócios, tendo
anunciado seus tweets patrocinados em 2009, a Apple criou a economia baseada em
aplicativos, em uma clara tentativa de produzir espaços estriados.
Em julho de 2011, a empresa anunciou 15 bilhões de downloads na sua Apple
Story. Os desenvolvedores receberam US$ 2,5 bilhões. São modelos diferentes: um atua
nos espaços lisos tensionados e o outro somente nos espaços estriados.
Mark Zuckerberg também viu uma forma de ganhar dinheiro com APPs e
anunciou dezenas de parcerias nesse sentido. The Guardian e Washington Post estão
entre suas apostas numa estratégia clara de aumentar o tráfego para suas interfaces fora
da rede. Não só no Facebook, mas no Twitter também. Estratégia essa que se revelou um
fracasso, de acordo com o State of The News Media de 2012268.
O estudo mostra que apenas 9% da audiência dos jornais de Internet têm origem
nas redes sociais. Espertamente o relatório induz à crença de que “a mídia social se
tornou uma nova vitrine, mas não substitui tradicionais trajetos virtuais para chegar a
uma informação”.
Na realidade, o que falta é uma estratégia que leve em conta o que Howard
Rheingold mostrou em seu Smart Mobs: The Next Social Revolution, em 2002: que os 267 Quando você fizer uma busca no Google, observe que do lado direito e, às vezes, na parte superior, aparece um resultado diferente do tradicional. Ele é pago. Para aparecer ali, as empresas participam de um leilão online, no qual pagam um valor por cada palavra. O sistema do Google, com base neste valor e na quantidade de cliques, define qual resultado aparece em primeiro lugar. Esta é a principal fonte de receita do Google. Yahoo! e Microsoft também exploram este serviço globalmente (ISTOÉ Dinheiro: 2009). 268 Para ler a íntegra da pesquisa, ver: http://bit.ly/wfcFQI. Acesso mar. 2012.
238
negócios têm de ser pensados a partir dos relacionamentos que se estabelecem e não
por meio de uma ação emuladora.
Para se ter uma ideia do quanto as redes sociais ganharam importância, somente
no Brasil o Facebook publicou o maior número de anúncios: 10, 9 bilhões de inserções,
de acordo com dados da ComScore. A rede ultrapassou o Orkut, da Google, no País: 36,1
milhões contra 34,4 milhões.
A grande questão que se coloca é saber se é possível uma empresa de
comunicação ter um modelo de negócio baseado em redes sociais, em agenciamentos.
Hoje, os jornais simulam o crowdsourcing. Não fazem parte dele.
Como seria sua interface, uma vez descoberto esse modelo? Manteria a tradição
ou romperia como fez corajosamente Bill Paley ao assumir a CBS? Até agora, a história
mostra que na Web as reformas se alternam entre colocar e tirar fios. Mesmo
aqueles que ganham dinheiro com o protocolo de Berners-Lee ou com aplicativos.
239
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251
Anexos Formulário de observação e ficha técnica
O formulário de observação abaixo foi elaborado a partir dos trabalhos de
Luciana Moherdaui (2008; 2005), Javier Díaz Noci et al (2007); Javiera Díaz Noci (2004);
Lluís Codina (apud DÍAZ NOCI; SALAVERRÍA: 2003); Ainara Larrondo e Ana Serrano
(2007); Richard van der Wurff e Lauf, Edmund (2005).
Orientações X – para apenas uma alternativa Numeral – mais de uma alternativa, sendo que o número 1 tem peso maior data: __/ __/ __ jornal: _______________________________ Design característica ( ) remediation ( ) híbrido 1) projeto gráfico simula o papel? ( ) sim ( ) não há informações sobre o projeto? ( ) sim ( ) não 2) período de mudança do design ________________________________ 3) browser ( ) horizontal ( ) vertical menu ( ) horizontal ( ) vertical 4) cabeçalho simula papel? ( ) sim ( ) não total de chamadas na capa: ______________ 5) diagramação em colunas? ( ) sim ( ) não 6) divisão em canais (editorias)? ( ) sim ( ) não 7) arquitetura da informação? ( ) hierarquia ( ) não linear
252
8) exibe estatísticas? ( ) sim ( ) não 9) resolução de tela? ( ) 1024 ( ) 800 ( ) outros 10) download ? ( ) rápido ( ) lento 11) visibilidade em mais de um navegador? ( ) sim ( ) não 12) tipo de acesso? ( ) mouse ( ) multi-touch ( ) voip 13) braço de outras mídias? ( ) sim ( ) não 14) distribuição? ( ) on-line ( ) off-line e on-line
15) sistemas (s) predominante (s)? ( ) textual ( ) visual ( ) áudio ( ) vídeo a) entre mídias da mesma empresa? ( ) sim ( ) não b) entre mídias de empresas diferentes? ( ) sim ( ) não Communication Cloud 16) exibe tags? ( ) sim ( ) não
• há informações sobre uso de tags? ( ) sim ( ) não
• leitor pode inserir tags? ( ) sim ( ) não
17) busca? ( ) sim ( ) não - em caso de sim, simples ( ) avançada ( ) Conteúdo
• há informações sobre publicação de conteúdo? ( ) sim ( ) não
18) atualização contínua? ( ) sim ( ) não
253
19) formatos ( ) reportagem multiforme ( ) texto multilinear ( ) pacotes multimídia 20) possui quais elementos? ( ) galeria de imagens ( ) fotos ( ) áudio ( ) 3D
( ) podcasts ( ) vídeos/ videocast ( ) slide show ( ) votar/avaliar
( ) últimas notícias ( ) comentários ( ) enquete ( ) personalizar/customizar
( ) recomendar notícias ( ) favoritos ( ) impressão ( ) aumentar/diminuir fonte
( ) modifica layout ( ) fórum ( ) bate-papo ( ) hot site
( ) contato (redação) ( ) expediente ( ) registro ( ) webmail
( ) código de ética ( ) privacidade ( ) copyright ( ) painel do leitor
( ) acessibilidade ( ) fale conosco ( ) outros
• links? em caso de sim, ( ) relacionados ( ) internos ( ) externos
• aplicativos? ( ) sim ( ) não em caso de sim, quais? ( ) widget ( ) mashup ( ) google ( ) outros
• marcadores? ( ) sim ( ) não em caso de sim, o que é permitido compartilhar ( ) texto ( ) vídeo ( ) áudio ( ) foto
• redes sociais? ( ) sim ( ) não em caso de sim, são integradas ao jornal ( ) sim ( ) não • blogs? ( ) sim ( ) não
• holografia? ( ) sim ( ) não
• infográfico? ( ) sim ( ) não
em caso de sim, ( ) estático ( ) animado ( ) dinâmico [base de dados]
• há informações sobre uso dos elementos de composição? ( ) sim ( ) não 21) distribuição? ( ) digital ( ) analógica em caso de digital, multiplataforma? ( ) sim ( ) não 22) profundidade? ( ) sim ( ) não
254
em caso de sim, ( ) doc ( ) HTML ( ) pdf ( ) excel ( ) ppt Open Source 23) produção ( ) própria + agência ( ) própria + agência + colaborador 24) público participa? ( ) sim ( ) não em caso de sim, como? ( ) texto ( ) vídeo ( ) áudio ( ) imagem ( ) comentário
• leitor modifica base de dados? ( ) sim ( ) não em caso de sim, qual formato ( ) infográfico ( ) arquivo
• sistema aceita conteúdo de outros dispositivos? ( ) sim ( ) não em caso de sim, ( ) computador – tevê ( ) celular – rádio digital ( ) outros
• edição ( ) com o conteúdo produzido por jornalistas ( ) em uma área separada no portal
• destaque na capa? ( ) sim ( ) não
255
Relatório final do Programa Bolsa UOL de Pesquisa
Número do Processo: 20080102180000 Data: 20/03/2009
Título do projeto Os elementos de composição da página no jornalismo digital
Pesquisador Gisele Beiguelman Nome do aluno Luciana Moherdaui
Nível da bolsa � Iniciação Científica � Mestrado X Doutorado
Este relatório, a ser preenchido pelo pesquisador proponente, deverá conter a avaliação das atividades desempenhadas pelo aluno, conforme os itens abaixo relacionados:
1. Atividades acadêmicas (notas obtidas, exames de qualificação, monitorias, projeto de tese e dissertação, etc.) 2008
• Análise sobre o estado da arte do jornalismo digital e construção do referencial teórico da pesquisa.
• Revisão do projeto e da bibliografia. • Definição da metodologia adotada e justificativa para escolha do método. • Mapeamento as estruturas noticiosas dos 20 sites noticiosos abordados na
tese e elaboração da tabela comparativa dos elementos de composição (ABC News, BBC News, CBS News, CNN, Corriere Dela Sera, El Mundo, El Pais, estadao.com.br, Folha Online, G1, Guardian Unlimited, La Repubblica, Le Figaro, Le Monde, MSNBC, Terra Notícias, The New York Times, USA Today, Washington Post e Último Segundo). Apresentação dos artigos O estado da questão da composição das páginas e Em busca de elementos de composição para 6º SBPJO e 2º ABCiber, respectivamente.
• Esboço dos capítulos da tese. • Cumprimento das disciplinas Processos de criação e produção do
conhecimento em redes fixas e móveis (nota 9); Seminário de Pesquisa I (nota 10); Mídias e Impactos Sócio-culturais – Inteligências Coletivas e redes sociais (nota); Regimes de Sentidos nas Mídias – Interações corpo a corpo e as emoções midiatizadas (nota).
• Criação do Contra a clicagem burra (www.contraclicagemburra.com) para sistematizar as categorias de composição de página.
2009
• Aplicação de questionário aos jornais pesquisados no projeto, apuração, análise de dados e redação do resultado.
• Inclusão de plataformas de redes sociais como metodologia de pesquisa. • Preparação de perguntas para entrevistar editores dos jornais digitais que
fazem parte da pesquisa.
256
• Participação como aluna ouvinte da disciplina Processos de criação e produção do conhecimento em hipermídia e em redes fixas e móveis: pressupostos críticos e criativos no Design de Interfaces, ministrada por Giselle Beiguelman.
• Oficialização da Rede Jornalismo e Tecnologias Digitais, projeto de pesquisa aplicada à experimentação e criação de inovações tecnológicas em captação, produção, empacotamento, transmissão e distribuição de conteúdos jornalísticos nas convergentes plataformas: http://bit.ly/zRM4sE
• Colaboração na revisão de artigos da edição de 2009 da Galáxia, Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica - www.pucsp.br/pos/cos/galaxia. A Galáxia tem conceito A na Qualis/Capes.
• Membro do Conselho da nova revista acadêmica da PUC/SP intitulada Nexi. A publicação, exclusivamente, online, será voltada a estudantes de mestrado e doutorado.
2. Publicações submetidas e aceitas (inserir referência completa): MOHERDAUI, L. Em busca de um modelo de composição para os jornais digitais. In: Revista Contemporânea. UFBA Bahia, Salvador, jan. 2009. Disponível em: http://bit.ly/Aen4Av. Acesso mar. 2012. MOHERDAUI, L. O estado da questão da composição das páginas. In: Anais do 6º - A construção do campo do jornalismo no Brasil. CD-ROM. Metodista, São Bernardo do Campo, SP, 2009. 3. Avaliação geral do andamento do trabalho do aluno: Aspectos Satisfatório
sem restrição Satisfatório
com restrição Insatisfatório
Cumprimento dos objetivos
X
Contextualização X Metodologia utilizada
X
Resultados esperados
X
Aplicabilidade X Cronograma X Bibliografia utilizada
X
4. Parecer Final: Foi atingido o objetivo proposto no projeto: identificar os elementos de composição da página noticiosa que estão sendo utilizados ou desenvolvidos de forma específica para o jornalismo digital. Esse mapeamento norteará a segunda fase do projeto, que se resume a:
257
A) entrevistar editores-chefes dos 20 jornais do Brasil e do exterior com mais acesso na internet, segundo dados recentes do Ibope: Márcia Menezes (G1), Ana Lucia Busch (Folha Online), Antonio Prada (Terra Notícias), Mariana Castro (Último Segundo), Marco Chiaretti (estadao.com.br), Kenneth Estenson (CNN), Charles Tillinghast (MSNBC), Matt Rehm (The New York Times), Randy Stearns (ABC News), Dan Farber (CBS News), Jeff Webber (USA Today), Elizabeth Spayd (Washington Post), Laurent Greilsamer (Le Monde), Bertrand Gié (Le Fígaro), Ezio Mauro (La Repubblica), Paolo Mieli (Corriere della Sera), Javier Moreno (El Pais), Fernando Baeta (El Mundo), Steve Herrmann (BBC News) e Alan Rusbridger (Guardian Unlimited). B) Elaboração dos capítulos da tese, estruturada da seguinte maneira: Introdução (abertura inclui clicagens burras, interface e browser) 1. Do papel para a web (1.1. Composição das páginas; 1.2. Elementos do design informacional; 1.3. Ponto de vista jornalístico) 2. O browser como paginador (2.1. Critérios de construção; 2.2. Desconstruindo conceitos; 2.3. Categorias de análise) 3. Em busca de um modelo (3.1. Rupturas e remediações; 3.2. Superfície e interface; 3.3. Das simbioses - tecnologia, jornalismo e design) 4. Estudo de caso (4.1. Análise geral; 4.2. Quadro comparativo; 4.3. O denominador comum) 5. Uma nova proposta (5.1. Definição; 5.2. Características; 5.3. Valor-notícia de composição) 6. Conclusões 7. Anexos (7.1. Questionário de entrevistas; 7.2. Formulário de observação; 7.3. Tabulação de dados; 7.3.1. Entrevistas; 7.3.2. Sites noticiosos).
258
Interfaces pesquisadas269
2012
www.g1.com.br
269Ranking do Ibope atualizado em julho de 2010. O ranking anterior, de 2008, que consta na primeira versão do projeto de pesquisa, contém a mesma estrutura, com exceção do uso maciço de redes sociais e botões de compartilhamento e reputação. Versões daquele ano dos jornais estão disponíveis para consulta em www.archive.org.
259
www.folha.com
260
www.terra.com.br
261
www.estadao.com.br
262
www.googlenews.com
263
www.ultimosegundo.com.br
264
www.r7.com.br
265
www.bbc.co.uk/portuguese
266
www.nytimes.com
267
www.band.com.br
268
www.cnn.com
269
www.msnbc.com
270
www.elpais.com
271
www.guardian.co.uk
272
www.huffingtonpost.com
273
2009
www.g1.com.br
274
www.folha.com
275
www.terra.com.br
276
www.estadao.com.br
277
www.googlenews.com
278
www.ultimosegundo.com.br
279
www.r7.com.br
280
www.bbc.co.uk/portuguese
281
www.nytimes.com
282
www.eband.com.br
283
www.cnn.com
284
www.msnbc.com
285
www.elpais.com
286
www.guardian.co.uk
287
www.huffingtonpost.com
288
2008270
www.abc.com
270 Ranking de 2008, que consta na primeira versão do projeto de pesquisa.
289
www.bbc.co.uk
290
www.cnn.com
291
www.cbsnews.com
292
www.corriere.it
293
www.elmundo.es
294
www.elpais.es
295
www.folha.uol.com.br
296
www.g1.com.br
297
www.guardian.co.uk
298
www.repubblica.it
299
www.lefigaro.fr
300
www.lemonde.fr
301
www.msnbc.com
302
www.terra.com.br
303
www.nytimes.com
304
www.washingtonpost.com
305
www.ultimosegundo.com.br
306
www.usatoday.com