Inovação Financeira para Gerenciamento de Risco de...
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MotivaçãoOs impactos ocasionados pelas mudanças climáticas já são um problema do presente, e com
perspectivas de agravamento ao redor do mundo, sendo suas consequências agravadas nos países
menos estruturados para reagir a catástrofes. Organismos internacionais apontam que de 1970 a 2012,
8.835 desastres naturais causaram cerca de 1,94 milhão de mortes e danos econômicos da ordem de 2,3
trilhões de dólares no mundo (World Meteorological Organization, 2014). As inundações e tempestades
foram responsáveis por 79% do número total de desastres, ocasionando 55% das mortes e 86% das
perdas econômicas no período. No Brasil, são destacadas as enchentes em Santa Catarina em 2008,
acarretando cerca de 135 mortes, e as chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro em 2011,
ocasionando mais de 900 mortes (Emergency Events Database/EM-DAT, 2014). Em 2000, a
Organização das Nações Unidas lançou a Estratégia Internacional para a Redução de Desastres dirigida
às causas subjacentes da vulnerabilidade, e para construir comunidades mais resilientes a desastres.
BackgroundPorque umas pessoas compram seguros e outras não?
O conceito de risco geralmente aceito possui dois elementos, ambos envolvem incerteza: i)
probabilidade não nula, segundo a qual se entende um evento poderia ocorrer em determinado espaço
de tempo; ii) impacto esperado desse determinado evento. Assim, o risco associado ao evento seria
dado por: ����� � ������ � � ������������� ∗ ��������������� ����������� .
Em adição, a propensão de um indivíduo comprar um seguro seguiria a função: � � � �. � � , onde
� é a probabilidade que o indivíduo alega estar propenso a adquirir o seguro, � é probabilidade do
evento ocorrer, é o custo do reparo, e � é o prêmio a ser pago pela proteção oferecida pelo agente
segurador. Ocorre que a decisão de compra de seguros de qualquer natureza envolve: i) aspectos
comportamentais dos indivíduos; ii) contexto sob o qual ocorre a decisão. Com base nessa visão, Lane
et al. (2008) atribuem as diferenças na propensão a comprar seguros às diferenças de nível de risco
entre catástrofes e outros riscos, e.g. veículos automotores e eletrodomésticos. Conforme Hogarth e
Kunreuther (1995), as pessoas em contextos de ignorância (ausência de informações para decidir)
tendem a assumir comportamentos de aversão extrema ao risco. E, como consequência, as decisões
seriam guiadas por aspectos não econômicos na ocasião da decisão (Fig. 2 e 5).
MétodoColeta de dados e variáveis
Esta pesquisa será desenvolvida com base em dados coletados em duas cidades: Teresópolis
(assumido local em que residem pessoas que já testemunham consequências de chuvas extremas)
e São Paulo. Em cada cidade cerca de 300 sujeitos voluntários (abordados em espaços públicos)
responderão ao mesmo instrumento de coleta, que permitirá analisar o comportamento dos
cidadãos com respeito à sua propensão a comprar proteção contra riscos de prejuízos causados por
precipitação pluviométrica extrema, mediante dois aspectos: disponibilidade de informações (Fig.
3), e exposição a experiências de enchentes anteriores. Nas duas cidades teremos dois grupos de
respondentes: i) sujeitos que receberão informações acerca de probabilidade de eventos climáticos
extremos; e ii) sujeitos que não receberão informações (Fig. 3).
Procedimentos de análise
A partir dos dados coletados serão empregados métodos multivariados para a condução dos testes
necessários ao atingimento dos objetivos propostos. Os principais procedimentos serão:
Regressões OLS, MANCOVA, e ANOVA.
Resultados preliminaresTendo em vista que o presente projeto se encontra em fase desenvolvimento, os resultados
preliminares são decorrentes de testes realizados acerca das linhas teóricas sobre as quais se apoiam
as proposições que serão testadas. Espera-se que no início de 2018 a primeira versão dos resultados
finais esteja disponível. Contudo, a título de resultados preliminares (Fig. 4 e 5): existe um artigo
publicado, e um Working Paper em fase de road show.
Referências
Allen, F., Yago, G., & Barth, J. (2012), Financial Innovation, Financial Times Press.Fustos, I, Abarca-del-Rio, R., Ávila, A., Orrego, R. (2017). A simple logistic model to understand the occurrence of flood events into the Biobío River Basin in central Chile. Journal of Flood Risk Management, 10, 17-29.Hogarth, R.M. & Kunreuther, H. (1995). Decision making under ignorance: Arguing with yourself. Journal of Risk and Uncertainty, 10(1), 15-36.Kunreuther, H., & Dinan, J.G. (2013). Improving Insurance Decisions in the Most Misunderstood Industry. Remarks for the U.S. Senate Small Business Committee Roundtable Washington, DC.Lane, M., & Mahul, O. (2008). Catastrophe Risk Pricing: An Empirical Analysis. Policy Research Working Paper; No. 4765. World Bank, Washington, DC. © World BankLopes, L.L. (1987). Between Hope and Fear: The Psychology of Risk. Advances in Experimental Social Psychology, 20, 255-295.Shefrin, H. (2015). The Behavioral Paradigm Shift, Revista de Administração de Empresas, 55(1), 1-4.World Meteorological Organization. (2014). Atlas of Mortality and Economic Losses from Weather, Climate and Water Extremes (1970-2012).
Inovação Financeira para Gerenciamento de Risco de
Catástrofes Naturais no BrasilProjeto #2014/26003-9 | Reunião de Projetos do PFPMCG 2017 | FAPESP | Duração: AGO2016-AGO2018
Pesquisador Responsável: Wesley Mendes Da Silva (FGV/EAESP) [email protected] | Colaboradores: Angela Christine Lyons (U of Illinois) e Edimilson Costa Lucas (Unifesp)
ResumoA frequência de ocorrência de eventos de alta severidade, tais como furacões, enchentes e secas, tem sido impulsionada pelas mudanças climáticas, afetando o bem-estar de milhões de pessoas ao
redor do mundo. Todavia, a literatura aponta que consumidores de serviços financeiros (nos níveis pessoal e institucional), e ofertantes de proteção–as empresas de seguros, parecem desconhecer o
que o outro lado demanda/oferta (Kunreuther e Dinan, 2013). Portanto, apresenta-se imperativo o desenvolvimento de pesquisas ao redor do problema da proteção contra riscos de eventos de
climáticos. Em paralelo, desde a última crise econômica de proporção global, as inovações financeiras têm sido vistas como indutoras de bem-estar, na medida em que são concebidos novos produtos
e novos mecanismos financeiros (Allen, Yago e Barth, 2012). Este projeto tem como objetivo analisar o comportamento dos cidadãos com respeito à sua propensão a comprar proteção contra riscos
de precipitação pluviométrica extrema, mediante dois aspectos: disponibilidade de informações e exposição a experiências de enchentes anteriores. Para tanto, é conduzido um survey com cidadãos
de dois municípios brasileiros: Teresópolis e São Paulo. Espera-se que os resultados obtidos sejam relevantes para a área de finanças, para o agente regulador, para indústria de seguros, e para o
cidadão envolvido em situação de escolha de compra de proteção.
Palavras-chave: Mudanças climáticas, Seguros, Finanças Comportamentais, Finanças Pessoais, Resiliência
Fig1. Impacto Econômico de Catástrofes ao redor do mundo (1950-2007)
Fonte: Elaborado pela equipe de pesquisa com base em dados do Munich Re, 2008 Geo Risk Research (em bilhões de USD$).
Tanto as perdas econômicas, como as perdas
seguradas de grandes catástrofes naturais
mundiais, têm aumentado expressivamente
(Fig. 1). Diante do agravamento dos efeitos de
mudanças climáticas, da fragilidade do
aparelho de proteção aos cidadãos no Brasil
(Tab. 1), e da reduzida instrução financeira do
brasileiro típico, julga-se imperativo investir
esforço de pesquisa acerca do comportamento
das pessoas para aquisição de seguros
residenciais contra riscos climáticos.
#Eventos #Vítimas fatais # Total de afetados Prejuízo (em US$ mil)
Brasil 118 7.668 19.043.266 8.422.254Mundo 2.865 4.502.794 2.606.864.036 512.581.266
Tab 1. Resumo do impactos das enchentes ocorridas no mundo (1900-2013)
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do EM-DAT (2014).
Fig. 3. Caracterização das situações de tomada de decisão
Fonte: Adaptado pelos autores a partir de Hogarth e Kunreuther (1995, p. 16). Esta figura apresenta a estrutura do nível de conhecimento do tomador de decisão.
Nível de conhecimento a respeito das Probabilidades
Preciso Ambíguo Ignorância
Nível de
conhecimento
a respeito das
Perdas
Preciso �
Preciso
-Preciso
�
Preciso
-Ambíguo
�
Preciso
-Ignorância Ambíguo
� Ambíguo
- Preciso
� Ambíguo
-Ambíguo
� Ambíguo
-Ignorância Ignorância
� Ignorância
- Preciso
� Ambíguo
- Preciso
Ignorância
-Ignorância
Nível de conhecimento a respeito das Probabilidades
Preciso Ambíguo Ignorância
Nível de
conhecimento
a respeito das
Perdas
Preciso �
Preciso
-Preciso
�
Preciso
-Ambíguo
�
Preciso
-Ignorância Ambíguo
� Ambíguo
- Preciso
� Ambíguo
-Ambíguo
� Ambíguo
-Ignorância Ignorância
� Ignorância
- Preciso
� Ambíguo
- Preciso
Ignorância
-Ignorância
Miopia Disponibilidade Otimismo Inércia Simplificação Herding
foco no curto prazo tendência a basear as decisões em experiências mais recentes
tendência a subestimar a probabilidade de prejuízos pessoais
tendência a permanecer no status quo
tendência a processar apenas subconjuntos de informação
tendência a tomar decisões por imitação social
Empréstimos de longo prazo com
reduções de prêmios
de seguro para diluir
o custo ao longo do tempo
Renovação automática do seguro
Programas de comunicação que permitam que o
indivíduo perceba a
probabilidade de um
desastre aproximar-se das estimativas científicas
Política de condicionar financiamentos à aquisição
de seguros residenciais
Programas de comunicação que permitam o
fornecimento de exemplos
de consequências das
enchentes que dramatizem seu impacto
Programas de comunicação que enfatizem normas
sociais de segurança,
aumentando o status social
de investimentos protetivos
Fig. 2. Comportamentos comuns que afetam a aquisição de compra de proteção contra enchentes
A realização dos testes será realizada
buscando comparar os grupos que
receberam/não receberam informações
acerca de catástrofes, sendo residentes, ou
não, em regiões tipicamente de alto risco.
Antes mesmo de realizar a coleta de dados,
foram realizados estudos preliminares, que
foram publicados, ou estão sob
julgamento.
Fig. 4. Artigo publicado como resultado preliminar (doi:
10.1016/j.trf.2017.04.022)Fig. 5. Motivos para comprar/não comprar seguros (resultado preliminar)
1 2 3 4 5 6 7
Eu não tenho sorte. Meus produtos costumam quebrar sempre
Eu tipicamente compro esses tipos de garantia
Eu dormiria mais tranquilo se tivesse o seguro
Apesar do risco de perda ser baixo, eu não estou disposto a assumi-lo
O produto é do tipo que quebra facilmente
O custo da garantia é relativamente pequeno ao preço do produto
O seguro não é caro
O custo da garantia não é alto se comprado à chance de ocorrer algo errado
Eu me arrependeria de não ter a garantia no caso de uma quebra
Esse produto é muito valioso para mim
O custo de reparo (ou troca) seria muito maior que o custo da garantia
1 2 3 4 5 6 7
Eu tenho sorte. Coisas como quebra de eletrodomésticos não ocorrem comigo
Esse produto não é tão valioso para mim
Eu não confio em seguros e em garantias. Eles nem sempre cobrem tudo, além da…
Eu não costumo comprar garantias desse tipo
Eu me arrependeria de desperdiçar dinheiro comprando a garantia, se acaso não houver…
A garantia é cara, se comparada ao custo do produto
O custo da garantia é alto comparado à chance de ocorrer algo errado
O preço do seguro é alto
O produto é de um tipo que dificilmente quebra
Nota: A Fig 4 é a reprodução de um artigo recentemente publicado, decorrente deste projeto, que explorou a propensão à compra de seguros de
automóveis, comparando homens e mulheres. A Fig 5 é a reprodução de uma parte de um Working Paper acerca da influência que a restrição de
informações pode exercer sobre a decisão de compra de seguros. Esse último trabalho foi apresentado sob o título “Decisão sob Ignorância e
Disclosure de Produto: Implicações na Compra de Seguros” no EnAnpad 2016 (Costa do Suípe/BA).