Influência de uma piscicultura em tanque-redes sobre a ... · da ictiofauna silvestre no...
Transcript of Influência de uma piscicultura em tanque-redes sobre a ... · da ictiofauna silvestre no...
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE ENGENHARIA
CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA
Influência de uma piscicultura em tanque-redes sobre a estrutura
da ictiofauna silvestre no reservatório de Ilha Solteira, SP
Ana Carolina Oliveira de Andrade
Ilha Solteira – SP
Junho, 2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE ENGENHARIA
CAMPUS DE ILHA SOLTEIRA
Influência de uma piscicultura em tanque-redes sobre a estrutura
da ictiofauna silvestre no reservatório de Ilha Solteira, SP
Discente: Ana Carolina Oliveira de Andrade
Orientador: Prof. Dr. Igor Paiva Ramos
Co-orientadora: Msc. Letícia de Oliveira Manoel
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Faculdade de Engenharia,
Câmpus de Ilha Solteira, Universidade
Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho”, como parte das exigências para
obtenção do título de Bacharel em Ciências
Biológicas.
Ilha Solteira – SP
Junho, 2017
DEDICO
As pessoas mais importantes de minha vida: meus pais Celina Aparecida
Oliveira de Andrade e Guilherme Aparecido de Andrade por todo incentivo e apoio,
sendo sempre meu amparo para todos os momentos e as peças principais para que eu
chegasse até aqui, contribuindo imensamente para a minha formação profissional e
pessoal, não medindo esforços para a realização desse sonho!
AGRADECIMENTOS
O primeiro agradecimento é sempre a Deus, pelo presente da vida, por me dar
forças e sempre ouvir minhas orações, concedendo todas as bênçãos necessárias para eu
chegar até aqui.
À Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Faculdade
de Engenharia de Ilha Solteira (FEIS).
A todos os docentes da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira, em especial meu
orientador Igor Paiva Ramos, por todos esses anos de aprendizado, dedicação e por
todos os ensinamentos compartilhados e a querida Letícia de Oliveira Manoel, que
esteve presente em cada página desse capítulo de minha vida, sendo minha companheira
e me respaldando sempre que precisei e a todos os colegas que fazem parte do grupo
Pirá – Laboratório de Ecologia de Peixes.
Aos meus familiares que me respaldaram sempre que precisei, em especialmente
minha mãezinha que sempre se preocupou comigo, estando sempre ao meu lado mesmo
que na distância e que nunca me deixou desistir.
A todas minhas amigas frutalenses, em especial as amigas irmãs de coração Lhays
Rodrigues Kinoshita, Raphaella Macêdo, Layanne Zanolla e Maria Letícia Duarte
Martins, que nunca me deixaram esquecer a importância de uma irmandade.
As amizades que fiz nesses anos de faculdade, Allana Pizzapio, Ana Beatriz Gomes
Forini, Juliana Prado Gusson, Loanda Cumba, Tainah Boian e Thaís Bravo que foram
imprescindíveis para minha permanência em Ilha Solteira, estando presentes no dia-a-
dia, sendo cumplices, fazendo parte do meu crescimento pessoal e profissional.
SUMÁRIO
RESUMO.....................................................................................................6
LISTA DE FIGURAS..................................................................................7
LISTA DE TABELAS.................................................................................8
INTRODUÇÃO............................................................................................9
OBJETIVOS...............................................................................................11
Objetivo geral...................................................................................11
Objetivos específicos........................................................................11
MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................12
Área de estudo..................................................................................12
Procedimentos em campo.................................................................14
Análises dos dados............................................................................15
RESULTADOS..........................................................................................16
DISCUSSÃO..............................................................................................22
CONCLUSÕES..........................................................................................25
REFERÊNCIAS.........................................................................................26
6
RESUMO
Atualmente a piscicultura em tanques-rede encontra-se em crescimento no Brasil.
Contudo, tal atividade aporta nutrientes ao ambiente aquático, podendo ocasionar
mudanças ambientais, como o enriquecimento orgânico da água e alterações na
abundância e composição da ictiofauna. Entretanto, a amplitude de seus impactos
ambientais é pouco conhecida em sistemas de água doce em todo mundo. Assim, o
objetivo do presente estudo foi avaliar a influência de uma piscicultura em tanques-rede
sobre a estrutura da ictiofauna silvestre no reservatório de Ilha Solteira, SP. Foram
realizadas doze coletas bimestrais entre setembro/2014 e agosto/2016, com auxílio de
redes de espera em duas áreas amostrais, uma sobre influência de pisciculturas em
tanques-rede (TR) e a outra área livre de influência (CT). Os peixes capturados foram
identificados e quantificados. Foram calculados a riqueza de espécies (S), abundância
numérica, índice de diversidade de Shannon-Wiener (H’) e equitabilidade de Pielou (J)
com auxílio dos softwares Past 3.0. As análises estatísticas foram realizadas com auxílio
dos softwares BioEstat 5.0. Foram capturados 2.614 exemplares, sendo 1.669 na área
Tanque e 945 na área Controle. Para ambas as áreas, observou-se maior riqueza de
espécies para ordem Characiformes e Perciformes, seguida de Siluriformes. Em termos
de abundância numérica, em ambas as áreas a ordem Perciformes foi a mais abundante,
seguida por Siluriformes e baixa abundância para Characiformes. Quanto às análises da
estrutura da comunidade, não houve diferença quanto à riqueza de espécies (TR 23 e CT
25, p = 0,685, t = 0,409), Diversidade de Shannon-Wiener (TR 1,708 e CT 1,949, p =
0,901, U = 0,404) e Equitabilidade de Pielou (TR 0,54 e CT 0,60, p = 0,482, t = 0,714).
Contudo, houve diferença quanto à abundância numérica (TR 1669 e CT 945, p =
0,034, t = 2,317) entre as áreas. Também se observou diferenças na estrutura
ictiofaunística (Permanova one-way F = 3,89 e p = 0,003), sendo as espécies Geophagus
proximus, Plagioscion squamosissimus e Pimelodus cf. platicirris as que mais
contribuíram para a diferença segundo a análise SIMPER. Assim, conclui-se que a
piscicultura em tanques-rede influência a estrutura da ictiofauna local.
Palavras-chaves: Agua doce, alterações ambientais, ambiente aquático, aquicultura,
impacto ambiental.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Mapa do Brasil, em destaque o reservatório de Ilha Solteira, com indicação das
áreas amostrais nas quais foi desenvolvido o projeto; B e C) Vista panorâmica da área
Tanque e Controle respectivamente......................................................................................13
Figura 2. Vista panorâmica da área Tanque.........................................................................13
Figura 3. Vista panorâmica da área Controle......................................................................13
Figura 4. Método de coleta (rede de espera) utilizado nas áreas amostrais (Tanque e
Controle) no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP...................................................14
Figura 5. Participação das ordens de peixes em (A) riqueza de espécies e (B) número de
indivíduos para as áreas Tanque e Controle no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP
entre setembro de 2014 a agosto de 2016..............................................................................18
Figura 6. Participação das espécies de peixes em abundância numérica para as áreas
Tanque e Controle no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP entre setembro de 2014
a agosto de 2016....................................................................................................................19
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Posição taxonômica, nome vulgar e abundância numérica das espécies de
coletados nas áreas Tanque e Controle no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP.
...............................................................................................................................................17
Tabela 2. Atributos ecológicos da ictiofauna para as áreas de Tanque e Controle no
reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP.....................................................................19
Tabela 3. Resultado da análise SIMPER para as espécies de peixes silvestres das áreas
de Tanque e Controle no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP............................20
9
INTRODUÇÃO
A aquicultura representa nova fronteira para o crescimento do agronegocio no
país, como indicam políticas públicas que visam expandir tal atividade. Dentre elas
temos o Plano de Desenvolvimento da Aquicultura Brasileira (PDA), criado para
ampliar e efetivar as açoes que vao orientar o desenvolvimento sustentável da
aquicultura no Brasil até o ano de 2020 (MPA, 2015).
Neste sistema de criação a espécie Oreochromis niloticus (tilápias do Nilo e suas
linhagens) possui a maior produção dentre as espécies de peixes cultivadas no Brasil
(219.329 toneladas = 45,4% da produção de pescado em 2015). Entretanto, o cultivo de
O. niloticus pode causar problemas para a biodiversidade brasileira bem como nos
serviços ecológicos prestados pelas comunidades aquáticas atingidas/influenciadas por
estes empreendimentos (PELICICE et al., 2013).
Diversos autores como Beveridge (2004), Krkosek et al. (2005), Yucel- Gier et al.
(2007) e Ramos et al. (2013), discutem a problemática desta atividade em águas
costeiras e continentais. Tais autores citam impactos desde a qualidade da água e do
sedimento até implicações sobre a estrutura das comunidades bentônica, planctônica e
de peixes, mudanças nas taxas de parasitismo de peixes silvestres, além dos inerentes
escapes de peixes em cultivo, propiciando a introdução de espécies não-nativas.
Desta forma, efluentes (restos de ração, fezes, muco, escamas, peixes mortos)
desta atividade são aportados ao ecossistema aquático, podendo induzir diversas
alterações ambientais. Essa entrada de matéria orgânica alóctone no ecossistema
aquático pode causar alterações na abundância e composição da ictiofauna, incluindo
desde a redução drástica ou mesmo o desaparecimento local de algumas espécies de
peixes, bem como a disseminação de espécies oportunistas (AGOSTINHO et al., 2007).
Dentre elas, destacam-se também processos de eutrofização (PENCZAK et al., 1982;
10
WESTON, 1991), alterações na cadeia alimentar da biota silvestre (BEVERIDGE,
2004; HÅKANSON, 2005; RAMOS et al., 2008, 2013a), alteraçoes em atributos
populacionais da ictiofauna silvestre (BRANDÃO et al., 2012; RAMOS et al., 2013a)
mudanças na estrutura da ictiofauna local (DEMPSTER et al., 2002; MACHIAS et al.,
2006).
Apesar do cultivo de peixes em tanques-rede estar sendo incentivado em águas
de represas hidrelétricas brasileiras, há pouca informação sobre as possíveis alterações
que esse sistema de cultivo pode causar a estrutura da comunidade ictiofaunística em
água doce. Portanto, são cada vez mais necessários estudos aprofundados e diagnósticos
corretos dos fatores que influenciam a estrutura e o comportamento da comunidade de
peixes para balizar medidas de conservação (MARQUES, 2014). Neste contexto, a
represa de Ilha Solteira, por apresentar áreas aquícolas delimitadas e empreendimentos
de pisciculturas em tanques-rede em operação, possui características favoráveis a
estudos nesta vertente.
Sendo assim, o presente estudo busca responder ao seguinte questionamento:
Seria possível pisciculturas em tanque-redes influenciar a estrutura da ictiofauna no
reservatório de Ilha Solteira, SP?
11
OBJETIVOS
Objetivo geral
Avaliar a influência de uma piscicultura em tanques-rede sobre a estrutura da
ictiofauna no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, São Paulo, Brasil.
Objetivos específicos
• Caracterizar a ictiofauna associada ao sistema de tanques-rede (Tanque) e de
área sem a influência de pisciculturas em tanques-rede (Controle);
• Comparar à estrutura da ictiofauna (riqueza, abundância, diversidade e
equitabilidade) entre as áreas Tanque e Controle.
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo
O reservatório de Ilha Solteira, formado em 1978, sob domínio da União,
localiza-se na região do alto rio Paraná, seu principal rio formador, entre os Estados de
São Paulo e Mato Grosso do Sul. O reservatório de Ilha Solteira é do tipo bacia de
acumulação, com profundidade média de 17,6 m, volume máximo de 21,06 x 109 m3,
bacia hidrográfica de 1.195 km2 de área e tempo de residência de 46,7 dias (CESP,
2011). Atualmente vários empreendimentos de pisciculturas em tanques-rede utilizam
este reservatório para criação de linhagens de tilápias-do-nilo (O. niloticus), entre outras
espécies.
As coletas foram realizadas em duas áreas amostrais, uma em piscicultura em
tanques-rede - Área Tanque (TQ) no município de Santa Clara D’Oeste – SP, no braço
12
Can-Can do reservatório de Ilha Solteira, rio Grande (50°55’57.60’’W e
20°02’33.62’’S) e a segunda em uma área 10 km a montante, similar fisiograficamente -
Área Controle (CT), sem a influência de sistemas de pisciculturas em tanques-rede
(50°51'58.94"W e 20° 0'13.71"S) (Figura 1, 2 e 3).
Figura 1. Mapa do Brasil, em destaque o reservatório de Ilha Solteira, com indicação
das áreas amostrais nas quais foi desenvolvido o projeto.
13
Figura 2. Vista panorâmica da área Tanque. Autoria: Letícia de Oliveira Manoel
Figura 3. Vista panorâmica da área Controle. Autoria: Letícia de Oliveira Manoel
14
Procedimentos em campo
As coletas foram realizadas entre setembro/2014 e agosto/2016 com
periodicidade bimestral, com auxílio de redes de espera de diferentes malhagens. Foram
utilizados dois lotes de redes com malhas 3, 4, 5, 6 e 7 cm entre nós não adjacentes e um
lote de redes com malhas 7, 8, 10, 12 e 14 cm entre nós não adjacentes, instaladas no
período entre 17:00 e 18:00 horas e recolhidas após 12 horas (Figura 2).
Figura 4. Método de coleta (rede de espera) utilizado nas áreas amostrais (Tanque e
Controle) no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP. Autoria: Letícia de Oliveira
Manoel.
15
Os espécimes coletados foram individualizados em sacos plásticos e
gradativamente resfriados (caixas térmicas preenchidas com gelo em cubos) a fim de
diminuir rapidamente a sua atividade metabólica até o óbito, conforme autorização
SISBIO nº 42229-1. Posteriormente, os indivíduos coletados foram identificados até o
menor nível taxonômico possível e quantificados, visando à caracterização das
assembleias de peixes em ambas as áreas.
Análises dos dados
Foram calculados riqueza de espécies (S), abundância numérica, índice de
diversidade de Shannon-Wienner (H’) e equitabilidade de Pielou (J) (Krebs, 1989) para
as áreas Tanque e Controle.
A abundância numérica relativa de cada espécie, o índice de diversidade de
Shannon-Wienner (H’), equitabilidade de Pielou e riqueza de espécies (S) (Krebs,
1989), para ambas as áreas, apos calculadas mensalmente foram submetidas à análise de
normalidade e comparados com teste estatístico pertinente, sendo o teste-t aplicado para
a abundância numérica relativa, riqueza de espécies (S) e equitabilidade de Pielou e
teste-U (Mann-Whitney) para diversidade de Shannon-Wienner (H’).
Para verificar diferenças na estrutura da comunidade entre as áreas aplicou-se a
análise PERMANOVA one-way (Anderson, 2001) e posteriormente análise SIMPER
para verificar a contribuição de cada espécie para diferença observada, ambas utilizando
a distância de Bray-Curtis (Clarke, 1993). Ressalta-se que todas as análises estatísticas
foram realizadas com auxílio dos softwares Past 3.0 e BioEstat 5.0 e o nível de
significância adotado foi p < 0,05.
16
RESULTADOS
Foram capturados 2.614 exemplares, sendo 1.669 pertencentes à área Tanque e 945
na área Controle. Para área Tanque registrou-se três ordens, 11 famílias e 23 espécies,
enquanto para área Controle foram registradas três ordens, nove famílias e 25 espécies
(Tabela 1).
Quanto à riqueza de espécies por ordem, para ambas as áreas, observou-se maior
riqueza de espécies para ordem Characiformes. Sendo a ordem Perciformes mais
abundante na área controle, e Siluriformes similar em ambas as áreas (Figura 5A). Em
termos de abundância numérica, em ambas as áreas a ordem Perciformes foi a mais
abundante, com destaque para as espécies não-nativas Geophagus cf. proximus e
Plagioscion squamosissimus, seguida por Siluriformes, destacando-se a espécie nativa
Pimelodus cf. platicirris, principalmente na área Tanque. Para Characiformes observou-
se baixa abundância, sendo mais abundante na área controle, com destaque para
Serrasalmus maculatus (Figura 5B). As demais espécies apresentaram abundância
numérica inferior a 7% (Figura 6).
17
Tabela 1. Posição taxonômica, nome vulgar e abundância numérica das espécies de
peixes coletadas nas áreas Tanque e Controle no reservatório de Ilha Solteira, rio
Grande, SP.
Tanque Controle
CHARACIFORMES
Anostomidae
Leporinus friderici (Bloch, 1794) piau-três-pintas 1 0
Characidae
Metynnis maculatus (Kner, 1858) pacu-prata 56 13
Serrasalmus maculatus Kner, 1858 piranha 11 70
Serrasalmus marginatus Valenciennes, 1837 piranha 19 1
Schizodon nasutus Kner, 1858 ximborê 30 9
Schizodon intermedius Garavello e Britski 1990 piau 0 5
Triportheus nematurus (Kner, 1858) sardela 14 38
Roeboides paranensis Pignalberi, 1975 dentudo 13 13
Curimatidae
Cyphocharax sp. saguiru 2 0
Steindachnerina insculpta (Fernández-Yépez, 1948) saguiru 17 2
Cynodontidae
Rhaphiodon vulpinus Spix & Agassiz, 1829 cachorra 19 32
Erythrinidae
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) traíra 6 26
Acestrorhynchidae
Acestrorhynchus lacustris (Lütken, 1875) peixe-cachorro 3 4
PERCIFORMES
Sciaenidae
Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) corvina 488 307
Cichlidae
Astronotus sp. 0 1
Cichla piquiti Kullander & Ferreira, 2006 tucunaré azul 2 7
Cichla kelberi Kullander & Fereira, 2006 tucunaré amarelo 9 45
Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) tilápia 7 3
Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840) zoiúdo 25 15
Geophagus cf. proximus (Castelnau, 1855) porquinho 631 317
Tilapia rendalli (Boulenger, 1897) tilápia 0 2
Crenicichla sp. joaninha 0 4
SILURIFORMES
Loricariidae
Hypostomus sp. cascudo 2 1
Pterygoplichthys anisitsi (Eigenmann & Kennedy,1903) cascudo 13 5
Megalancistrus parananus (Peters, 1881) cascudo abacaxi 0 1
Pimelodidae
Pimelodus sp. mandi 1 0
Pimelodus cf. platicirris Borodin,1927 mandi 297 23
Pinirampus pirinampu (Agassiz, 1829) barbado 0 1
Callichthyidae
Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) tamboatá 3 0
Total de indivíduos 1669 945
Táxons Nome ComumAbundância Numérica
18
0
2
4
6
8
10
12
14
Characiformes Perciformes Siluriformes
Riq
uez
a d
e es
péc
ies
(S)
Tanque ControleA
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Perciformes Siluriformes Characiformes
N°
de
ind
ivíd
uo
s
B
Figura 5. Participação das ordens de peixes em (A) riqueza de espécies e (B) número de
indivíduos para as áreas Tanque e Controle no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande,
SP entre setembro de 2014 a agosto de 2016.
19
0
100
200
300
400
500
600
700
G. proximus P. squamosissimus
P. platicirris M. maculatus S. maculatus C. kelberi Outros (TR 17/ CT19 espécies)
Nº d
e in
div
íduos
Tanque Controle
Figura 6. Participação das espécies de peixes em abundância numérica para as áreas
Tanque e Controle no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP entre setembro de
2014 a agosto de 2016.
Quanto às análises da estrutura da comunidade, observou-se que apesar de não
terem sido observadas diferenças quanto à riqueza (TR 23 e CT 25, p = 0,685, t =
0,409), Diversidade de Shannon-Wiener (TR 1,708 e CT 1,949, p = 0,901, U = 0,404) e
Equitabilidade de Pielou (TR 0,54 e CT 0,60, p = 0,482, t = 0,714), houve diferença
quanto à abundância numérica (TR 1669 e CT 945, p = 0,034, t = 2,317) entre as áreas,
com maior abundância observada na área Tanque (Tabela 2).
Tabela 2. Atributos ecológicos da ictiofauna para as áreas de Tanque e Controle no
reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP.
TR CT
Abundância 1669 945 p = 0,034
Riqueza (S) 23 25 p = 0,685
Diversidade (H') 1,708 1,949 p = 0,901
Equitabilidade (J) 0,544 0,605 p = 0,482
AtributosEstações de amostragem
P
Também, foram observadas diferenças na estrutura ictiofaunística entre as áreas
(Permanova one-way p = 0,003 e F = 3,89), sendo, segundo a análise SIMPER, as
20
espécies alóctones com capacidade de ajuste a alterações ambientais, como G. cf.
proximus, P. squamosissimus e P. cf. platicirris as que mais contribuíram para a
dissimilaridade, com 60,93% (Tabela 3).
Tabela 3. Análise de SIMPER para as espécies de peixes silvestres das áreas Tanque e
Controle no reservatório de Ilha Solteira, rio Grande, SP.
Táxons Contribuição Acumulado % Tanque Controle
Geophagus cf. proximus (Castelnau, 1855) 17,45 28,64 52,6 26,4
Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) 13,65 51,06 40,7 25,6
Pimelodus platicirris Borodin,1927 11,67 70,21 24,8 1,92
Serrasalmus maculatus Kner, 1858 2,792 74,79 0,917 5,83
Metynnis maculatus (Kner, 1858) 1,873 77,87 4,67 1,08
Triportheus nematurus (Kner, 1858) 1,822 80,86 1,17 3,17
Cichla kelberi Kullander & Fereira, 2006 1,771 83,76 0,75 3,75
Schizodon nasutus Kner , 1858 1,707 86,56 2,5 0,75
Rhaphiodon vulpinus Spix & Agassiz, 1829 1,164 88,47 1,58 2,67
Satanoperca pappaterra (Heckel, 1840) 1,079 90,25 2,08 1,25
Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) 1,022 91,92 0,5 2,17
Serrasalmus marginatus Valenciennes, 1837 0,9473 93,48 1,58 0,0833
Roeboides paranensis Pignalberi, 1975 0,7674 94,74 1,08 1,08
Pterygoplichthys anisitsi Eigenmann & Kennedy,1903 0,6211 95,76 1,08 0,417
Steindachnerina insculpta (Fernández-Yépez, 1948) 0,5411 96,64 1,42 0,167
Cichla piquiti Kullander & Ferreira, 2006 0,37 97,25 0,167 0,583
Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) 0,339 97,81 0,583 0,25
Acestrorhynchus lacustris (Lütken, 1875) 0,2745 98,26 0,25 0,333
Schizodon intermedius Garavello e Britski_(1990) 0,2175 98,62 0 0,417
Crenicichla sp. 0,1911 98,93 0 0,333
Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) 0,1428 99,16 0,25 0
Cyphocharax sp. 0,12 99,36 0,167 0
Tilapia rendalli (Boulenger, 1897) 0,08361 99,5 0 0,167
Hypostomus sp 0,07851 99,63 0,167 0,0833
Leporinus friderici (Bloch,1794) 0,05998 99,73 0,0833 0
Pimelodus sp. 0,0557 99,82 0,0833 0
Astronotus sp. 0,04282 99,89 0 0,0833
Megalancistrus parananus (Peters, 1881) 0,03626 99,95 0 0,0833
Pinirampus pirinampu (Agassiz, 1829) 0,03239 100 0 0,0833
21
DISCUSSÃO
Quanto às análises da estrutura da comunidade, os resultados demonstraram
diferenças na abundância numérica entre as áreas Tanque e Controle. A área Tanque
apresentou maior número de indivíduos em relação à área Controle, sendo que as
possíveis causas desse aumento podem estar relacionadas com o enriquecimento
orgânico do sedimento e água e uma possível alteração na dieta dos peixes que habitam
as áreas próximas aos tanques. Esse sistema de cultivo em tanques-rede se constitui em
uma fonte de entrada constante de nutrientes no ambiente aquático, tais como nitrogênio
e fósforo (TACON e FORSTER, 2003), que pode levar à deterioração da qualidade da
água e a mudanças no ambiente. Entre estas mudanças, a atração exercida por restos de
ração, peixes cultivados, animais mortos, escamas e fezes são responsáveis por altas
concentrações de peixes em áreas com essa modalidade de cultivo (DEMPSTER et al.,
2004, AGOSTINHO et al., 2007).
Assim, espera-se que para a ictiofauna, o aporte de matéria orgânico e nutriente
promova mudanças em diferentes escalas, levando a proliferação de algumas espécies e
à redução de outras menos tolerantes. Ao nível de comunidade é possível à ocorrência
de alteração na estrutura, não apenas pelos efeitos no recrutamento diferenciado, mas
também pela atração que a área cultivada exerce sobre as espécies de peixes
oportunistas, com reflexos na densidade, na relação predador-presa e na incidência de
parasitas e doenças (AGOSTINHO et al., 1999).
Este efeito ocorre principalmente devido ao fato de que reservatórios geralmente
são pobres em habitats e recursos alimentares, quando comparados a sistemas lóticos
(AGOSTINHO et al., 2007). Desta forma, as estruturas dos tanques-rede podem
oferecer abrigo (DEMPSTER e TAQUET, 2004) e alimento a biota silvestre
(DEMÉTRIO et al., 2012; RAMOS et al., 2013b). Isto ocorre, pois até 30% da matéria
22
orgânica utilizada no sistema de cultivo, são disponibilizados no ambiente aquático na
forma de efluentes (PILLAY, 2004).
Esta utilização pode ocorrer de forma direta por meio do consumo dos efluentes
ou indiretamente por meio do enriquecimento orgânico local. Assim, a atratividade de
animais de pequeno porte que fazem parte da cadeia alimentar (STRICTAR-PEREIRA
et al., 2010; BRANDÃO et al., 2012; DEMÉTRIO et al., 2012; RAMOS et al., 2013b),
atraem animais de grande porte (predadores) que se alimentam desses animais de
pequeno porte, como P. squamosissimus. Aliado a este fato, tem-se a atração das
espécies onívoras, com ampla plasticidade alimentar como G. cf. proximus e P. cf.
platicirris, que consomem os restos de ração que são depositados no sedimento e
dissolvidos na coluna de água na área Tanque. Desta forma, verifica-se que a facilidade
de forrageamento proporcionada pela ração serve como atrativo, elevando a densidade
populacional dessas espécies no entorno de tanques-rede e consequentemente
interferindo na abundância numérica entre as áreas, podendo assim justificar os
resultados encontrados no presente estudo.
Resultados semelhantes foram apresentadas por Ramos et al. (2013b), em um
estudo para as áreas de reservatórios tropicais. Nesse estudo, os autores acima
demonstram que as alterações na dieta da espécie onívora de Pimelodus maculatus estão
diretamente relacionadas com a presença de atividades piscícolas. Este fato é evidente
ao observar um maior número de itens alimentares utilizados por peixes na área
Controle em relação ao número de itens alimentares utilizados pelos peixes na área
Tanque. Estas espécies generalistas, como G. cf. proximus e P. maculatus usam um
novo recurso alimentar de fácil aquisição e alta disponibilidade, como os restos de
ração, explicando os resultados obtidos.
23
Sendo assim, peixes silvestres são atraídos para áreas próximas à piscicultura em
tanques-rede, que atuam como FAD’s (fish aggregation devices), fato este bem
documentado para piscicultura em ambiente marinho e havendo poucos relatos para
pisciculturas em sistemas de água doce (DEMPSTER et al., 2002, 2004; BUBIĆ et al.,
2011; OZGUL & ANGEL, 2013; BRANDÃO et al., 2012; RAMOS et al., 2013, 2015;
IZQUIERDO-GÓMEZ et al., 2015), ressaltando assim a importância para estudos
voltados para ambientes dulcícolas.
24
CONCLUSÕES
Conclui-se que a atividade de piscicultura em tanques-rede no reservatório de Ilha
Solteira, influencia diretamente a ictiofauna silvestre local, atraindo os peixes para a
área próxima aos tanques em busca de restos de ração como alimento, causando
modificações na estrutura da comunidade, alterando a abundância numérica na área
próxima aos tanques.
25
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, A. A.; GOMES, L.C.; SUZUKI, H.I.; Jr. JÚLIO, H. F. Riscos da
implantação de cultivos de espécies exóticas em tanques-redes em reservatórios do Rio
Iguaçu. Cadernos da Biodiversidade. Curitiba, v. 2, n. 2, p. p1-9, 1999.
AGOSTINHO, A.A.; GOMES, L.C.; PELICICE, F.M. Ecologia e Manejo de Recursos
Pesqueiros em Reservatórios do Brasil. EDUEM: Maringá, 2007.
AGOSTINHO, A.A.; PELICICE, F.M; GOMES, L.C. Dams and the fish fauna of the
Neotropical region: impacts and management related to diversity and
fisheries. Brazilian Journal of Biology, v. 68, n. 4, p. 1119-1132, 2008.
ANDERSON, M.J.; A new method for non‐parametric multivariate analysis of
variance. Austral ecology, v. 26, n. 1, p. 32-46, 2001.
AZEVEDO-SANTOS, V.M.D.; RIGOLIN-SÁ, O.; PELICICE, F.M. Growing, losing
or introducing? Cage aquaculture as a vector for the introduction of non-native fish in
Furnas Reservoir, Minas Gerais, Brazil. Neotropical Ichthyology, v. 9, n. 4, p. 915-919,
2011.
BEVERIDGE, M.C.M. Cage aquaculture. 3ª ed. Oxford: Blackwell Publishing, 2004.
BRANDÃO, H. Influence of a cage farming on the population of the fish species
Apareiodon affinis (Steindachner, 1879) in the Chavantes reservoir, Paranapanema
River SP/PR, Brazil. Acta Limnologica Brasiliensia, v. 24, n. 4, p. 438-448, 2012.
26
BUBIĆ, T.Š.; GRUBIŠIĆ, L.; TIČINA, V.; KATAVIĆ, I. Temporal and spatial
variability of pelagic wild fish assemblages around Atlantic bluefin tuna Thunnus
thynnus farms in the eastern Adriatic Sea. Journal of Fish Biology, v. 78, n. 1, p. 78-97,
2011.
CESP - Companhia Energética de São Paulo. Disponível em <http://www.cesp.br>
Acesso em: 17/11/2011.
CLARKE, K. R. Non-parametric multivariate analysis of changes in community
structure. Australian Journal of Ecology, v. 18, n. 1, p. 117-143, 1993.
DEMÉTRIO, J.A.; GOMES, L.C.; LATINI, J.D.; AGOSTINHO, A.A. Influence of net
cage farming on the diet of associated wild fish in a Neotropical reservoir. Aquaculture,
v. 330, p. 172-178, 2012.
DEMPSTER, T.; SANCHEZ-JEREZ, P.; BAYLE-SEMPERE, J.T.; GIMÉNEZ-
CASALDUERO, F.; VALLE, E.C. Attraction of wild fish to sea-cage fish farms in the
southwestern Mediterranean Sea: spatial and short-term temporal variability. Marine
Ecology Progress Series, v. 242, p. 237-252, 2002.
DEMPSTER, T.; TAQUET, M. Fish aggregation device (FAD) research: gaps in
current knowledge and future directions for ecological studies. Reviews in Fish Biology
and Fisheries, v. 14, n. 1, p. 21-42, 2004.
27
HÅKANSON, L. Changes to lake ecosystem structure resulting from fish cage farm
emissions. Lakes & Reservoir: Research and Management, v. 10, n. 1, p. 71-80, 2005.
IZQUIERDO-GÓMEZ, D.; GONZÁLEZ-SILVERA, D.; ARECHAVALA-LÓPEZ, P.;
LÓPEZ-JIMÉNEZ, J.A.; BAYLE-SEMPERE, J.T.; SÁNCHEZ-JEREZ, P. Exportation
of excess feed from Mediterranean fish farms to local fisheries through different
targeted fish species. Journal of Marine Science, v. 72, n. 3, p. 930-938, 2014.
KREBS, C.J. Ecological methodology. New York: Collins, 1989.
KRKOSEK, M.; LEWIS, M.A.; VOLPE, J.P. Transmission dynamics of parasitic sea
lice from farm to wild salmon. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences,
v. 272, n. 1564, p. 689-696, 2005.
MACHIAS, A.; GIANNOULAKI, M.; SOMARAKIS, S.; MARAVELIAS, C.D.;
NOFITOU, C.; KOUTSOUBAS, D.; PAPADOPOULOU, K.N.; KARAKASSIS, E I.
Fish farming effects on local fisheries landings in oligotrophic seas. Aquaculture, v.
261, n. 2, p. 809-816, 2006.
MARQUES, H. Variação espaço-temporal de atributos ecológicos da ictiofauna de um
grande reservatório Neotropical. 2014.
MPA - Ministério da Pesca e Aquicultura. Plano de desenvolvimento da aquicultura
brasileira 2015-2020. Brasília - DF, 2015.
28
OZGUL, A.; ANGEL, D. Wild fish aggregations around fish farms in the Gulf of
Aqaba, Red Sea: implications for fisheries management and conservation. Aquaculture
Environment Interactions, v. 4, n. 2, p. 135-145, 2013.
PELICICE, F.M.; VITULE, J.R.S.; LIMA-JUNIOR, D.P.; ORSI, M.L; AGOSTINHO,
A.A. A serious new threat to Brazilian freshwater ecosystems: the naturalization of
nonnative fish by decree. Conservation Letters, v. 7, n. 1, p. 55-60, 2014.
PENCZAK, T.W.; GALICKA, W.; MOLINSKI, M.; KUSTO, E., M. ZALEWSKI. The
enrichment of a mesotrophic lake by carbon, phosphorus and nitrogen from the cage
aquaculture of raibow trout, Salmo gairdneri. Journal of Applied Ecology, p. 371-393,
1982.
PILLAY, T.V.R. Aquaculture and the environment (2ª edition). Blackwell Publishing,
212p, 2004 .
RAMOS, I.P.; BRANDÃO, H.; ZANATTA, A.S.; ZICA, E.O.P.; SILVA, R.J.;
REZENDE-AYROZA, D.M.M.; CARVALHO, E.D. Interference of cage fish farm on
diet, condition factor and numeric abundance on wild fish in a Neotropical reservoir.
Aquaculture, v. 414, p. 56-62, 2013a.
RAMOS, I.P.; FRANCHESCHINI, L.; ZAGO, A.C.; ZICA, E.O.P.; WUNDERLICH,
A.C.; CARVALHO, E.D.; SILVA, R.J. New host records and a checklist of fishes
infected with Austrodiplostomum compactum (Digenea: Diplostomidae) in Brazil.
Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 22, n. 4, p. 511-518, 2013.
29
STRICTAR-PEREIRA, L.; AGOSTINHO, A.A.; GOMES, L.C. Cage culture with
tilapia induces alteration in the diet of natural fish populations: the case of
Auchenipterus osteomystax. Brazilian Journal Biology, v. 70, n. 4, p. 1021-1030, 2010.
TACON, A. G.J; FORSTER, I. P. Aquafeeds and the environment: policy implications.
Aquaculture, v. 226, n. 1, p. 181-189, 2003.
WESTON, D.P. The effects of aquaculture on indigenous biota. p. 534-567. In BRUNE,
D.E. e TOMASSO, J.R. (eds). Aquaculture and water quality. Lousiania, The World
Aquaculture Society, 1991.
YUCEL-GIER, G.; KUCUKSEZGIN, F.; KOCAK, F. Effects of fish farming on
nutrients and benthic community structure in the Eastern Aegean (Turkey). Aquaculture
Research, v. 38, n. 3, p. 256-267, 2007.