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Iluminação em salas de aula onde existem alunos com baixa visão dezembro/2014 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 Iluminação em salas de aula onde existem alunos com baixa visão Danielle Cunha dos Santos Ladeia [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação IPOG Belém, PA/Fevereiro/2014 Resumo A escola é um dos principais elementos do ambiente social da criança devido ao importante papel na sua formação. Quando as mesmas não possuem infraestrutura adequada de ensino, podem prejudicar seu desenvolvimento. O presente artigo teve por objetivo analisar a relação entre iluminação e o desempenho de crianças com baixa visão nas salas de aula, através de entrevistas com duas pedagogas e dois alunos respectivamente, (mediante autorização de pais e/ou responsáveis) que apresentam essa problemática. As entrevistas ocorreram em escolas da rede pública e privada de ensino do Município de Belém e Ananindeua do Estado do Pará. Foi necessário apropriar-se de alguns referenciais teóricos da área da educação e saúde, pontuando a importância da arquitetura, especialmente a iluminação de interiores na sala de aula. Percebeu-se que todas as crianças apresentavam de alguma forma, dificuldades orgânicas no seu enxergar, mas em todos os casos, não havia estruturação adequada quanto ao preparo da iluminação em sala de aula. Considera-se o trabalho satisfatório frente à participação e interesse das profissionais entrevistadas e pela aceitação de todas as recomendações dadas sobre a iluminação mais adequada dentro dos espaços escolares e principalmente por acreditar na contribuição dada para a vida escolar e até da saúde dessas crianças. Palavras-chave: Iluminação em sala de aula; Baixa visão; Arquitetura na educação. 1. Introdução No Brasil, várias são as discussões sobre as dificuldades de aprendizagem dentro do cenário escolar, bem como as discussões sobre as dificuldades que a escola e todo o sistema educacional/escolar apresentam. Essa realidade está ligada pelo fato do mesmo ser um dos principais países mais apontados em pesquisas e dados estatísticos, na sua grande dificuldade do processo de escolarização e por diversos fatores que não se resumem apenas no espaço escolar (espaço microfísico) e sim, envolvendo diversas redes que formam o todo educacional como a rede de saúde e de assistência social (espaço macrofísico). O ambiente em si e os elementos que o compõem, formam um conjunto inseparável que interfere diretamente nas pessoas que nele estão inseridas. Salas de aulas, bibliotecas, espaços multimídia, laboratórios, pátios e quadras demandam um tratamento apropriado de iluminação, que considere fatores como desempenho, saúde, economia e segurança. Dentre os diversos fatores que podem favorecer um aprendizado satisfatório para os alunos, está a própria estrutura arquitetônica de uma escola, ou seja, é importante considerar que, para a ocorrência da qualidade deste processo de ensinar e

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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

Iluminação em salas de aula onde existem alunos com baixa visão

Danielle Cunha dos Santos Ladeia – [email protected]

Iluminação e Design de Interiores

Instituto de Pós-Graduação – IPOG

Belém, PA/Fevereiro/2014

Resumo

A escola é um dos principais elementos do ambiente social da criança devido ao importante

papel na sua formação. Quando as mesmas não possuem infraestrutura adequada de ensino,

podem prejudicar seu desenvolvimento. O presente artigo teve por objetivo analisar a

relação entre iluminação e o desempenho de crianças com baixa visão nas salas de aula,

através de entrevistas com duas pedagogas e dois alunos respectivamente, (mediante

autorização de pais e/ou responsáveis) que apresentam essa problemática. As entrevistas

ocorreram em escolas da rede pública e privada de ensino do Município de Belém e

Ananindeua do Estado do Pará. Foi necessário apropriar-se de alguns referenciais teóricos

da área da educação e saúde, pontuando a importância da arquitetura, especialmente a

iluminação de interiores na sala de aula. Percebeu-se que todas as crianças apresentavam de

alguma forma, dificuldades orgânicas no seu enxergar, mas em todos os casos, não havia

estruturação adequada quanto ao preparo da iluminação em sala de aula. Considera-se o

trabalho satisfatório frente à participação e interesse das profissionais entrevistadas e pela

aceitação de todas as recomendações dadas sobre a iluminação mais adequada dentro dos

espaços escolares e principalmente por acreditar na contribuição dada para a vida escolar e

até da saúde dessas crianças.

Palavras-chave: Iluminação em sala de aula; Baixa visão; Arquitetura na educação.

1. Introdução

No Brasil, várias são as discussões sobre as dificuldades de aprendizagem dentro do cenário

escolar, bem como as discussões sobre as dificuldades que a escola e todo o sistema

educacional/escolar apresentam. Essa realidade está ligada pelo fato do mesmo ser um dos

principais países mais apontados em pesquisas e dados estatísticos, na sua grande dificuldade

do processo de escolarização e por diversos fatores que não se resumem apenas no espaço

escolar (espaço microfísico) e sim, envolvendo diversas redes que formam o todo educacional

como a rede de saúde e de assistência social (espaço macrofísico).

O ambiente em si e os elementos que o compõem, formam um conjunto inseparável que

interfere diretamente nas pessoas que nele estão inseridas.

Salas de aulas, bibliotecas, espaços multimídia, laboratórios, pátios e quadras demandam um

tratamento apropriado de iluminação, que considere fatores como desempenho, saúde,

economia e segurança. Dentre os diversos fatores que podem favorecer um aprendizado

satisfatório para os alunos, está a própria estrutura arquitetônica de uma escola, ou seja, é

importante considerar que, para a ocorrência da qualidade deste processo de ensinar e

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aprender, é fundamental existir certa harmonia entre os dois componentes: a arquitetura e o

pedagógico.

Nesse contexto, é necessário que a arquitetura destes prédios esteja plenamente adequada para

receber os estudantes e possibilitar o máximo de condições de aprendizagem, bem como

profissionais preparados para receber, ensinar e observar quando necessário, certas

deficiências apresentadas por alunos durante seu preocesso de aprendizado.

A busca da harmonia entre seus usuários e o ambiente, é uma questão que deve ser

cuidadosamente relacionada, pricipalmente no que diz respeito ao ambiente escolar infantil,

visto que a criança desenvolve, a partir daí, suas interações sociais, devendo haver então uma

relação entre espaço físico, atividades pedagógicas e comportamento humano.

Dessa forma, é necessário que os projetos de escolas pensem edificações que considerem

aspectos do conforto ambiental tais como as condições térmicas, luminosas e acústicas que

resultam em variações climáticas favorecedo o bem estar e o aproveitamento didático dos

alunos que estejam nesses ambientes, já que os mesmos podem refletir-se em fatores tão

diversos como a sociabilidade dos usuários, seu desempenho acadêmico e mesmo em sua

saúde. (ELALI, 2003 citado por BELTRAME, 2007).

Pode-se afirmar então que, a iluminação de uma sala de aula pode afetar de maneira positiva

ou negativa na aprendizagem dos alunos, ainda mais para aqueles que possuem algum tipo de

comprometimento orgânico como a baixa visão. Nesses casos, faz-se ainda mais necessário

pensar em edificações que atendam a todos os requisitos básicos necessários para um

apredizado de qualidade, sendo estes no que diz respeito a iluminação ou não.

O que se sabe, é que a incidência de problemas relacionadas a baixa visão na infância, de

acordo com a Organização Mundia de Saúde, é muito grande, devendo receber atenção

especial.

Sendo assim, este artigo teve por objetivo analisar a relação entre a iluminação e o

desempenho das crianças com baixa visão nas salas de aula e, de acordo com o

conhecimentos arquitetônicos e luminotécnicos adquiridos pela autora, propor informalmente

soluções capazes de melhorar ou quem sabe, sanar as deficiências de iluminação existentes

nas salas de aulas analisadas, de modo a melhorar a qualidade de aprendizado dos alunos em

geral, e em especial dos alunos com baixa visão identificados pelas pedagogas.

Para tanto, foram coletados dados na rede pública e privada de ensino, do Município de

Belém e de Ananindeua, ambos no Estado do Pará, contando com o auxílio de duas

pedagogas de ambas as escolas. Acompanhou-se duas crianças através de estudo de caso e

analisou-se esses dados de acordo com o referencial teórico que será apresentado.

2. Referencial Teórico

2.1. Algumas concepções sobre baixa visão e o cenário escolar

Na definição dada pela internet (BRASILMEDIA, 2012), baixa visão ou visão subnormal

corresponde ao comprometimento do funcionamento de ambos os olhos, não podendo ser

corrigida com o uso de óculos. A mesma pode ser mais encontrada em idosos, mas podem

ocorrer em pessoas de qualquer idade. São decorrentes de doenças como glaucoma, catarata,

uveíte, degeneração macular, opacidade da córnea, tracoma, retinopatia diabética, miopia

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magna, doença de Stargardt, albinismo, retinite pigmentosa e ceratocone, podendo ser

adquiridas ou congênitas.

Segundo o Ministério da Educação pela Secretaria de Educação Especial, na infância, as

causas mais frequentes de deficiência visual ocorrem por:

coriorretinite por toxoplasmose congênita (infestação pelo protozoário Gondi na

gestação);

catarata por síndrome da rubéola congênita (mãe adquire rubéola na gestação);

retinopatia por prematuridade, hemorragias e lesões vasculares;

malformações oculares, encefalopatias e síndromes;

atrofia óptica por infecções, vírus, bactérias, alterações no sistema nervoso central

por anóxia ou hipóxia, meningite, encefalite e hidrocefalia, e

deficiência visual cortical pelas causas já citadas, drogas de todos os tipos e quadros

convulsivos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) relata que, anualmente, cerca de 500.000 crianças

ficam cegas no mundo. Destas, 70 a 80% morrem durante os primeiros anos de vida, em

conseqüência de doenças associadas ao seu comprometimento visual.

De acordo com o Ministério da Educação e Cultura – MEC (2012), tal problema afeta

variados tipos de funções que englobam tanto a simples percepção da luz até a redução da

acuidade e do campo visual, interferindo diretamente na execução de tarefas rotineiras e

desempenho geral dos portadores deste tipo de deficiência.

Segundo Sá (2008), crianças com baixa visão apresentam dificuldades na escola, uma vez

que, não conseguem identificar com facilidade detalhes de ilustrações e elementos do texto

como acentos e pontuação. Na maioria dos casos, em função da própria complexidade para

enxergar, não se interessam pelas atividades, tornando-se cianças arredias e impacientes e

comumente com relacionamentos sociais complicados.

Brito (2000), relata que de acordo com os conhecimentos médicos atuais, cerca de 60% das

causas de cegueira e severo comprometimento visual infantil são preveníveis ou minimizados,

porém, não há cura para a visão subnormal, mas muitos recursos disponíveis facilitam o

desenvolvimento e melhoram a qualidade de vida dessas crianças.

Ainda para Brito (2000), sentir-se confortável é uma das melhores sensações sentidas pelos

seres humanos e alguns estudos já comprovaram que condições desfavoráveis de conforto

ambiental são causas de mau desempenho dos alunos.

Circunstâncias exteriores e o estado emocional influenciam, diretamente, na qualidade da

visão destas crianças, fator este que, resulta na oscilação visual pouco compreendida pela

família e até mesmo por profissionais da escola, que tendenciosamente caracterizam as

atitudes e comportamentos de tais alunos como preguiça, falta de interesse, distração ou

dificuldade de aprendizagem.

Para tanto, observa-se a importâcia de cursos de pedagogia, formação de professores, gestão

escolar e ainda educação especial terem, em sua grade curricular, conteúdos que abordassem a

compreensão das complexas situações de ensino, em especial, atitudes de aceitação e respeito

às diferenças individuais, e em particular disciplina que ressaltassem as necessidades de um

ambiente favorável, destacando-se por exemplo, a parte de iluminação para alunos com baixa

visão. Ou seja, reconhecer as condições físicas onde atividades educacionais para crianças

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com baixa visão são desenvolvidas como de extrema importância para o bom desempenho do

aluno e, consequentemente, para a absorção do conteúdo programático, influenciando

também, em possibilidades de melhor relacionamento social.

Tendo como base o exposto acima, sugere-se que a sala de aula seja considerada como

ambiente de trabalho tanto do professor quanto do aluno, visto que é nesse ambiente que ele

passa a maior parte do seu tempo, devendo então oferecer, condições para o exercício da vida

laboral de produção e reprodução de conhecimentos.

O que se percebe é que quanto maior forem as condições de conforto térmico nos ambientes

de uma edificação, melhor será o desempenho e o aproveitamento didático dos alunos em sala

de aula. Sendo assim, em se tratando de arquitetura, o conforto do espaço onde se convive as

condições térmicas, luminosas e acústicas resultam em variações climáticas, comprometendo

o bem estar dos alunos nesse ambiente. Dessas condições, um fator essencial dentro do espaço

físico da sala de aula, é a iluminação adequada para o desenvolvimento confortável das

atividades, tanto para as crianças com baixa visão quanto para as que enxergam normalmente,

tornando extremamente importante balancear a qualidade e a quantidade de iluminação em

um ambiente, bem como escolher, adequadamente, a utilização da luz natural junto à

artificial.

No entanto, é importante pontuar a contribuição da arquitetura, mais especificamente a

iluminação em salas de aula, como alternativa e não como solução única da resolutividade de

tal problemática.

2.1.1. Tipos de degeneração que provocam a baixa visão

Como já citado anteriormente, vários são os tipos de degeneração visual que podem ocorrer

na infância em decorrência de vários fatores desfavoráveis como partos prematuros, infecções

causadas por rubéola e sarampo, e que podem ser agravados por uma deficiência de

iluminação adequada em sala de aula, mas vamos tratar aqui, de uma maneira geral, de

algumas dessas degenerações e a uma ilustração da degradação provocada pela mesma em seu

portador.

a) O glaucoma congênito se apresenta com o aumento da pressão interna dos olhos causado

por uma anomalia na eliminação do humor aquoso (líquido que drena o globo ocular)

causando danos no nervo óptico. A criança apresenta aumento do globo ocular, muita

sensibilidade à luz, lacrimejamento e coceira. A cirurgia deve ser decidida o mais cedo

possível. Os glaucomas ocasionam a perda da visão periférica e a área central da visão se

apresenta borrada. Podem ser comparadas como se estivesse vendo tudo através de um vidro

embaçado, como mostra a figura 1.

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Figura 1 – Exemplo de imagem pelo glaucoma

Fonte: Brasilmedia (2012)

b) Retinopatia é a fuga dos vasos sanguíneos da retina, causando manchas escuras no campo

de visão onde ocorrem os vazamentos. O texto podem aparecer borrados ou distorcidos nessas

regiões como pode-se observar na figura 2.

Figura 2 – Exemplo de imagem pela degeneração por retinopatia

Fonte: Brasilmedia (2012)

c) Na catarata congênita, toda luz que entra pelo olho é absorvida pela estrutura chamada

cristalino. A catarata provoca uma opacificação desta região, impedindo a passagem da

luminosidade para a retina e, conseqüentemente, atrapalhando a visão. O problema pode ser

hereditário ou ocasionado por um trauma durante o parto ou uma infecção na gestação (pelo

vírus da rubéola, por exemplo). A cirurgia de tratamento deve ser feita o mais breve possível.

Como a catarata provoca áreas de opacidade na lente de seus olhos, o resultado é um efeito

turvo ou vago, especialmente na luz brilhante. Sendo assim, no caso de cataratas, os textos

pode aparecer desbotados em segundo plano, como pode ser visto na figura 3.

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Figura 3 – Exemplo de imagem pela degeneração por catarata

Fonte: Brasilmedia (2012)

d) Degeneração macular, onde ocorre um desgaste dos tecidos da mácula, provocando um

vazamento de sangue e fluídos com o característico borrão na parte central da visão, tornando

difiícil a visualização de objetos que estejam sendo vistos diretamente. No caso de

degenaração macular, os textos podem aparecer quebrados e com pouca clareza, como mostra

a figura 4.

Figura 4 – Exemplo de imagem pela degeneração macular

Fonte: Brasilmedia (2012)

e) Retinose pigmentar é uma doença hereditária cujos sintomas em geral se manifestam no

jovem. Trata-se de uma degeneração da retina que começa na periferia e lentamente

compromete a visão central. Os efeitos na visão são similares ao do glaucoma congênito.

f) A neurite óptica é a inflamação do nervo óptico do recém-nascido associada à presença na

mãe de anemia, subnutrição, diabetes ou uso de drogas. Quanto mais cedo diagnosticada,

melhor se dá o tratamento, prevenindo ou amenizando as sequelas e a conversão para

Esclerose Múltipla, tendo em vista preservar a qualidade de vida do paciente.

Estas são apenas algumas das várias formas de baixa visão que acometem crianças,

comprometendo seu desenvolvimento em todas as áreas de sua vida, e que podem ser

observadas de acordo com seu comportamento. Faz- se necessário então que o profissional

pedagógico esteja bem atento e informado, de forma a buscar soluções para que a criança seja

o mínimo prejudicada.

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2.2. Iluminação e suas contribuições

De acordo com o site Wikipedia (2011), iluminação é um fenômeno físico resultante da

exposição de uma fonte de luz em um ambiente que pode absorver ou refletir a luz tornando-o

visível.

Para Bigoni (2010), a luz pode ser usada para manipular os ambientes de diferentes maneiras,

auxiliando no estabelecimento da atmosfera dos recintos, e, consequentemente, nas atitudes e

humor dos ocupantes.

As fontes de luz podem ser naturais ou artificiais. Segundo Rodrigues (2002), a luz natural

sempre foi a principal fonte de iluminação da arquitetura, até a descoberta da eletricidade e a

invenção da lâmpada, o que tornou a iluminação artificial inseparável da edificação,

proporcionando ao homem utilizá-la à noite para dar continuidade a suas atividades ou até

mesmo para o lazer, como bares e shopping centers.

Para obter-se um ambiente com condições de iluminação confortáveis e eficientes, é

necessário valer-se de conceitos importantes como iluminância, uniformidade da iluminação e

ofuscamento.

Por definição, iluminância é o fluxo luminoso emitido por uma determinada fonte luminosa e

que incide numa determinada superfície. Ou seja, é a quantidade de luz dentro de um

ambiente. Para que haja a realização das atividades pretendidas sem esforço visual, é

necessários que se obtenha uma quantidade mínima de luz num plano de trabalho a ser

utilizado. Para cada finalidade a qual se destina o espaço físico existem valores de

iluminâncias mínimas para a iluminação em serviço, estabelecidos pela Associação Brasileira

de Normas Técnicas (ABNT), como por exemplo a NBR 5413, que trata em suas

especificidades de Iluminação de Interiores, onde se realizem atividades de comércio,

indústria, ensino, esportes e outras. Logo, os resultados dos conceitos empregados, citados

acima, devem corresponder às expectativas sugeridas pela normatização para que o ambiente

possa tornar-se confortável ao usuário.

Outro fator importante é a uniformidade de luz no ambiente, fazendo com que a iluminância

seja a mesma quando medida em qualquer ponto da sala, beneficiando a todos os usuários,

sem distinção. Para ajudar a obter esse uniformidad, um ponto a ser bservado está relacionado

a forma, dimensões e posicionamento das aberturas.

No que diz respeito a ausência de ofuscamento, pode-se observar tanto em relação à

iluminação natural quanto na artificial. Quando se trata da iluminação natural, deve-se evitar a

incidência de luz solar diretas nos planos de trabalho, tais como lousas e carteiras. Já em

relação à iluminação artificial, aspectos como excesso, inadequação e pulsação intermitente

da fonte de luz, podem causar ofuscamento e em consequencia, a distração e desconforto,

prejudicando enfim as tarefas visuais.

Rodrigues (2002) salienta que a iluminação deve harmonizar-se com o projeto arquitetônico

e/ou de interiores, uma vez que é parte de um projeto global, definindo em muitos casos as

características do ambiente. Com isso, conclui-se que ao se elaborar um projeto de iluminação

para determinado ambiente, não se deve levar em consideração apenas os aspectos

quantitativos, mas também os qualitativos, de modo a criar uma iluminação que corresponda a

todos os anseios do usuário do espaço iluminado.

Para o projeto de uma sala de aula, por exemplo, é necessária a elaboração de um espaço bem

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iluminado que mantenha os alunos atentos, que proporcione a visualização dos elementos que

compõem as atividades, assim como a compreensão e a apreensão do conteúdo programático.

De acordo com Bertolotti (2007), a luz é parte integrante dos processos de aprendizagem

escolar e, dentre os muitos fatores que influenciam os mesmos, aqueles relacionados com as

condições ambientais têm papel importante, portanto uma boa iluminação favorece o

desempenho visual, otimizando tais processos de aprendizagem.

Existem ainda outros aspectos que devem ser observados para que a sala de aula esteja de

acordo para atender aos seus usuários, mas os acimas citados, já se fazem satisfatórios para

elaboração de novas salas de aula, ou possivelmete, trabalhar na adaptação de salas que não

atendam as normas estabelecidas pela ABNT.

Conclui-se, com base nas palavras de Rennhackkamp (1964) que “Quanto melhores as

condições de iluminação, mais fácil e mais rápida a tarefa será realizada e menor será o

esforço para os olhos”.

3. Método

Para a realização desta pesquisa que tem como precípuo escopo analisar a relação entre a

iluminação e o desempenho das crianças com baixa visão nas salas de aula de escolas da rede

pública e privada de ensino do Município de Belém e Ananindeua do Estado do Pará, foi

realizado um levantamento bibliográfico consistente que respaldasse tal estudo.

A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas. Uma da rede pública e outra da rede privada,

ambas localizadas no Estado do Pará. Foi realizada uma entrevista aberta com duas pedagogas

com formação em Pedagogia e Educação Especial, uma de cada escola.

A coleta de dados se deu por meio de observação direta com dois alunos que apresentam

baixa visão (apontados pelas pedagogas) nas salas de aula, estes foram descritos em forma de

estudo de caso, mediante autorização prévia de seus responsáveis.

O conteúdo desta pesquisa visa analisar a conexão entre a baixa visão e a iluminação nas salas

de aula, verificar quais aspectos arquitetônicos podem ser sugeridos de acordo com a

realidade atual de cada instituição e consequentemente melhorar as condições de aprendizados

do aluno que apresentam algum tipo de deficiência visual, causadas ou não, em decorrência

da falta de iluminação adequada.

4. Análise e discussão dos dados

Estudo de caso 01: Sávio

Sávio é uma criança de dez anos, portador da síndrome de Down e que estuda em uma escola

da rede particular de ensino de Belém do Pará.

Seu comportamento diferenciado foi observado com um olhar especial pela equipe técnico

pedagógica da escola e desde já, alguns cuidados já foram previamente tomados para que o

mesmo se inserisse ao meio.

Ao desejar observar detalhes em um desenho, fisionomia ou até discriminar objetos,

brinquedos ou peças de um jogo, Sávio aproximava os olhos de seu intento. Quando este não

conseguia grafar, encaixar a peça do jogo, enfim realizar o que desejava ou o que

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apararentemente para sua idade seria uma tarefa cotidiana, demonstrava irritação e desagrado.

Esfregava os olhos e franzia a testa com frequência.

Sá (2008) cita que:

“crianças com baixa visão apresentam dificuldades na escola, uma vez que não

conseguem identificar com facilidade detalhes de ilustrações e importantes

elementos textuais. Na maioria dos casos, em função da própria complexidade para

enxergar não se interessam pelas atividades, tornando-se cianças arredias e

impacientes e comumente com relacionamentos sociais complicados” (SÁ,

2008:48).

Ao ser solicitada a sua escrita, o aluno fazia somente riscos finos e fracos, fato este que

chamou a atenção da professora, pois levando em consideração a sua idade, seus movimentos,

porte atlético e sua habilidade com baquetas usadas por bateristas, o que se esperava é que

seus rabiscos fossem fortes.

A professora então criou diversas situações que respaldassem a sua suspeita de que a

dificuldade de Sávio era a baixa visão. É certo que não foi fácil devido às características da

própria síndrome que se confundiam.

Quando a criança começou a ter momentos de agressividade batendo, cuspindo e rasgando o

que via pela frente por não conseguir enxergar com clareza, a família foi solicitada em um

plantão pedagógico que é uma prática da escola, para então procurar um especialista, o

oftalmologista, que pudesse de fato dar a sua opinião sobre o caso.

Foi um trabalho de parceria entre escola, família e especialistas, uma vez que, os terapeutas

também foram contactados para que a observação fosse feita em todos os espaços citados.

Percebeu-se então que a iluminação inadequada na sala de aula colaborava para que Sávio não

conseguisse, por exemplo, enxergar o que caia no chão quando este ia pegar, conseguindo

apenas quando usava o tato. É interessante perceber que os outros sentidos são sempre

desenvolvidos como forma de auxílio aos que possuem baixa visão ou que são portadores de

qualquer tipo de dificiência, sendo obviamente muito importante o estímulo desses sentidos

no complemento da dificiência apresentada.

Outro aspecto observado foi que Sávio, fecha os olhos com frequência, principalmente na área

externa a sala de aula, onde a iluminação natural é abundante.

O espaço físico da sala de aula, totaliza aproximadamente 15,23 m². O mesmo correspondia a

um espaço escuro, com piso em cerâmica estampada em tons de bege e marrom, paredes

amarelas, contendo algumas delas desenhos infantis e outras preenchidas com armários em

madeira maciça escura, e forro também em lambril de madeira.

As carteiras eram coloridas e não havia janelas na sala, porém, existia uma porta de abrir com

duas folhas, onde uma das mesmas ficava sempre aberta para proporcionar a iluminação e a

ventilação natural. Tais portas davam acesso também a um jardim e essa mudança brusca, ao

sair de um ambiente sombrio e entrar diretamente em outro claro com a luz forte do sol

causava um incômodo desgastante para Sávio.

Esta sala de aula contava com apenas um ponto de luz artificial central, onde eram utilizadas

duas lâmpadas fluorescentes tubulares.

Deve-se citar que, não foi autorizada pela escola a exibição de imagens da mesma, portanto,

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fez-se necessário, para o melhor entendimento, a elaboração de croquis, que se encontram em

anexo.

Todos estes fatores citados acima contribuíram para que a quantidade de lux encontrado no

espaço fosse inferior ao valor recomendado pela NBR 5413 que é de no mínimo 200 lux e no

máximo 500 lux para salas de aula. Portanto, foram elaboradas algumas sugestões que

pudessem garantir àquele ambiente a iluminação adequada para o bom desempenho dos

alunos como um todo, porém levando em consideração as necessidades específicas do aluno

com baixa visão.

O forro e as paredes foram pintados de branco, mantendo, porém os desenhos infantis

coloridos sobre estas últimas.

Para Rodrigues (2002), “a luz natural sempre foi a principal fonte de iluminação da

arquitetura, até a descoberta da eletricidade e a invenção da lâmpada, o que tornou a

iluminação artificial inseparável da edificação, proporcionando ao homem utilizá-la para dar

continuidade as suas atividades” (RODRIGUES, 2002:36).

Sendo assim foram criados também mais pontos de luz e distribuídos no espaço de tal

maneira que foi garantido o valor em média de 400 lux na sala como um todo, inclusive

próximo ao quadro negro, além da criação de uma janela voltada ao jardim, o que

proporcionou o usufruto de iluminação e ventilação natural dentro do espaço. Tais medidas

tornaram o ambiente mais claro e o contraste do espaço antes sombrio com o jardim passou a

ser bem mais discreto.

A equipe pedagógica recebeu algumas recomendações que precisam ser levadas em conta no

dia a dia do aluno como:

O aluno deve ficar posicionado no centro da sala de aula, a uma distância de um metro do

quadro, desta maneira é evitada a incidência do reflexo de luz no quadro, a claridade

diretamente nos olhos do aluno e jogo de sombras sobre o caderno, livro ou o que estiver

sendo explorado no momento;

Priorizar o uso constante de óculos;

Dar uma importância ímpar para a elaboração das atividades escritas e as ilustrações

visuais que devem ser seguramente percebido pelo aluno, estas devem ser explicadas

verbalmente de modo claro e objetivo.

Hoje Sávio usa óculos e lupa, ainda encontra algumas dificuldades em perceber e discriminar

alguns detalhes mais específicos, seu humor melhorou consideravelmente assim como o seu

interesse pelas atividades propostas neste contexto.

O trabalho realizado com o aluno ao longo desse período foi valiosíssimo para todos os

envolvidos, quando hoje é muito bom poder encontrá-lo nos corredores, no parque, em sala de

aula, na escola como um todo, interagindo, sorrindo e principalmente jogando futebol que é

uma prática eleita como a favorita do mesmo.

Estudo de caso 02: Maira

Maira estuda em uma escola pública no município de Ananindeua no estado do Pará. Com

apenas oito anos Maira demonstra um encanto pela dança, e é incrível a naturalidade com que

cria movimentos em consonância com a música que está escutando.

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A aluna chegou à escola com um histórico de comportamento desviante, dificuldade de

atenção, relacionamento e ainda requerendo estímulos para o aprimoramento da leitura e da

escrita.

Após uma semana de avaliação de suas interações, comportamento e do seu processo de

desenvolvimento da aprendizagem, observou-se que Maira esfregava os olhos com

frequência, precisava de ajuda para encontrar seu material escolar, principalmente quando

esses caiam no chão, e encostava o caderno o máximo possível no rosto, tencionando

enxergar o que estava escrito. A aluna tem preferência por sentar na frente, quando não

consegue chegar cedo para pegar o lugar e senta atrás ou até mesmo no meio da sala de aula,

Maira levantava a todo instante na tentativa de enxergar o que estava desenhado ou escrito no

quadro.

Ao desenvolver suas atividades de colorir a aluna sempre ultrapassa os limites das linhas dos

desenhos. Quando precisa escrever uma letra que não consegue perceber os detalhes Maira

faz bolinhas e cria histórias lançando mão de uma história imaginária e na maioria das vezes

sem coerência.

A dificuldade visual de alunos com baixa visão poucas vezes são compreendidas pelas

professoras e equipe técnica da escola, na maioria das vezes estas crianças são rotuladas de

hiperativas, preguiçosas, distraída e outras dificuldades de aprendizagem.

Sobre isso Dallacqua, 2012, ressalta que:

“cada vez mais firma-se a noção e a necessidade de que sejam incorporados, junto às

ações de formação continuada de professores, estejam eles atuando no ensino

especial ou não, conteúdos para a aquisição de conhecimentos, competências e

atitudes que favoreçam a compreensão das complexas situações de ensino,

enfatizando especialmente atitudes de aceitação e respeito às diferenças individuais”

(DALLACQUA, 2012:36).

A falta de coerência, além dos outros fatores já citados, fez com que a professora percebesse

que sua dificuldade não era leitura e escrita e sim de visão. Encaminhou então para o

profissional especializado, um oftalmologista, que deu, após um exame detalhado, um laudo

de baixa visão.

O especialista, a partir de seu laudo, enviou então para a escola, um relatório, no sentido de

orientar com algumas recomendações que pudessem favorecer o cotidiano de Maira em sala

de aula, de modo que suas atividades viessem a ser desenvolvidas com maior facilidade e o

aprendizado não sofresse comprometimento.

Dentre as recomendações do mesmo, consta:

A importância de uma boa iluminação para os ambientes que requerem aprimoramento do

uso da visão e ainda da percepção de detalhes ao desenvolver atividades escolares;

O controle do excesso e do reflexo (ofuscamento) da luz em relação aos olhos da aluna,

fechando assim, os três itens de contribuição da arquitetura de interiores aqui já mencionados.

Outras sugestões ainda foram feitas tais como:

As tarefas desenvolvidas precisam ser previamente elaboradas com o aumento do tamanho

das letras, desenhos e números explicados com riqueza de detalhes, tudo de acordo com a

condição visual do aluno;

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É importante também valorizar o uso constante de óculos e se necessário da lupa.

No que diz respeito a especificações arquitetônicas, a sala de aula onde Maira estuda

apresenta piso tipo koroduor em tons de cinza claro, paredes brancas e forro em PVC também

branco, onde encontra-se apenas um ponto de luz artificial central com duas lâmpadas

fluorescentes tubulares além de dois ventiladores que, no momento em que estavam

funcionando, criavam momentos oscilatórios de sombra sobre as áreas de trabalho.

Como na escola anterior, não foi autorizada a exibição de imagens da mesma, portanto, fez-se

necessário, para o melhor entendimento, a elaboração de croquis que também se encontram

em anexo.

A parede oposta ao quadro negro magnético tem aproximadamente 2,30 de altura e o pé-

direito de aproximadamente 3,00 m, o que resulta em uma abertura de 0,70 m de altura,

seguindo o comprimento inteiro da sala, o que proporciona ventilação e iluminação natural.

Porém tal abertura era responsável também pela existência de reflexos no quadro, o que

dificultava bastante a visualização dos alunos, e principalmente de Maira.

Para o conforto visual e, consequentemente, melhor desempenho dos alunos, em especial de

Maira, foi sugerido a modificação do posicionamento do quadro dentro da sala de aula para

uma parede perpendicular a que apresenta a abertura. Como consequência, as carteiras

escolares também deverão ser reposicionadas. Sugeriu-se também a instalação de brises

metálicos onde existe a abertura, ficando os mesmos inclinados de maneira a impedir que os

raios solares incidam diretamente no quadro, evitando assim o ofuscamento, porém a

claridade e a ventilação continuariam presentes no espaço. Entretanto, por se tratar de uma

escola da rede pública, apenas a primeira sugestão foi posta em prática, uma vez que não

dependia de orçamento para sua realização. Consequentemente a segunda tal medida não foi

colocada realizada, já que era mais dispendiosa.

Outra sugestão, é que fossem retirados os ventiladores do teto e colocados nas paredes. Desta

forma, as oscilações entre sombra e luz deixariam de existir. Foram ainda sugeridos que mais

pontos de luz fossem criados, a fim de garantir a distribuição uniforme da luz artificial dentro

da sala de aula. As duas sugestões foram efetivadas e uma melhoria na qualidade de

iluminação da sala de aula foi claramente observada, proporcionando não somente para

Maira, mas para os demais alunos, um ambiente favorável ao aprendizado.

Assim como foi solicitado às professoras de Sávio, foram sugeridas também às professoras de

Maira que a posicionasse no centro da sala e um metro de distância do quadro negro, desta

forma, a incidência de reflexos no quadro foram evitadas, bem como a claridade nos olhos da

menina e as sombras sobre o caderno ou livro. Pediu-se também para que as professoras

ficassem atentas ao uso constante de óculos, uma vez que este fator é de extrema importância

para o bom desenvolvimento das atividades. Tais atividades devem ser explicadas

verbalmente a aluna e as imagens, letras e números devem ser de tamanhos maiores, para que

facilite a visualização e entendimento da mesma.

O acompanhamento do professor nesses casos é fundamental devido à insegurança que a

dificuldade causa, uma vez que a criança não se locomove com segurança e, na maioria das

vezes, apresentam dificuldades em participar de jogos que sugiram à visão a longa distância.

Seguindo as instruções do especialista e com uma visão especial, hoje, toda a família e escola

perceberam Maira bem mais segura e tranquila no ambiente escolar.

Uma tabela com a compilação dos principais dados colhidos nas entrevistas, com as

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orientações feitas pelos oftalmologistas e arquitetos e com evoluções verificadas até o

presente momento, foi elaborada com o intuito de, relembrar os fatores mais importantes

apresentados no estudo de caso deste artigo.

ALUNO IDADE ORIENTAÇÕES DO

OFTALMOLOGISTA

ORIENTAÇÕES DO

ARQUITETO

EVOLUÇÕES

VERIFICADAS

Sávio 10 anos Uso de óculos;

Uso de lupa.

Forro e paredes

pintados de branco;

Criação de mais fontes

de luz artificiais;

Distribuição dos

pontos de luz

artificiais de maneira

uniforme no ambiente;

Criação de mais uma

janela voltada para o

jardim.

Melhora no humor;

Interesse pelas

atividades propostas;

Maior interação.

Maira 8 anos Solicitou boa iluminação nas

salas de aula;

Controle do excesso e reflexo

da luz aos olhos da aluna;

Atividades com letras,

desenhos e números grandes;

Atividades explicadas com

riquezas de detalhes;

Uso de óculos;

Uso de lupa, quando

necessário.

Modificação da

posição do quadro

negro e

consequentemente da

posição das carteiras

ecolares;

Remoção dos

ventiladores de teto;

Reposição dos

ventiladores nas

paredes;

Criação de mais fontes

de luz artificiais;

Distribuição dos

pontos de luz

artificiais de maneira

uniforme no ambiente.

Maior segurança;

Mais tranquilidade;

Melhor

desenvolvimento das

atividades.

Tabela 1 – Resumo dos estudos de caso

Fonte: Dados produzidos pelo autor (2014)

5. Conclusão

Este trabalho se fez importante por proporcionar um momento de reflexão sobre o sistema

educacional brasileiro, por suas dificuldades e também por sua complexidade, isto é, não cabe

acreditar que apenas uma ou duas ciências são suficientes para a formação

educacional/escolar de indivíduos e/ou formação do espaço escolar. Percebe-se que é de

fundamental importância que a Arquitetura e suas especialidades, estejam inseridas na

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construção e manutenção desses espaços, não somente por sua estética e beleza, mas também

pela responsabilidade social que ela pode atingir.

É difícil talvez pensar que, quando se fala em Educação de Qualidade, se pense

imediatamente na participação do arquiteto nesse sistema, muito embora, essa realidade vem

se modificando.

A Arquitetura sempre se fez presente no espaço escolar, entretanto sua participação estava

muito mais ligada em construção de um espaço de vigilância e controle dos alunos do que a

preocupação de um espaço prazeroso e eficaz à aprendizagem. Na virada do século, no Brasil,

com a discussão sobre inclusão escolar a Arquitetura se fez bastante presente devido à

exigência do Ministério da Educação e Cultura - MEC, pela implantação de rampas,

banheiros adaptados, importância das cores, entre outros componentes que auxiliam na

formação de uma Educação com maior valorização. Isto é, surge então, uma nova concepção

de Arquitetura nas escolas, muito mais preocupada com os benefícios para a equipe de

trabalho e, principalmente, para os alunos.

A intervenção realizada nas escolas citadas na pesquisa se mostrou de uma importância ímpar

para o desenvolvimento da aprendizagem das crianças e crescimento profissional das

professoras e técnicas envolvidas na pesquisa.

Uma vez que, após as sugestões do oftalmologista e as modificações de extrema pertinência

realizadas sob a orientação do arquiteto na escola, os traços e os caminhos para uma

aprendizagem significativa, ficou visivelmente capaz de acontecer de forma positiva para

todos os envolvidos.

Com a melhora da iluminação nas salas de aula e com as orientações realizadas às professoras

participantes da pesquisa, além da intervenção médica, podemos afirmar que os alunos Sávio

e Maira tiveram uma evolução nas atividades em sala de aula, nos rabiscos e grafias dos dois

alunos, etc.

Assim, o objetivo de contribuir para melhorar o desempenho de alunos em sala de aula

através da identificação da conexão entre a baixa visão e a iluminação no ambiente escolar,

com diminuição do esforço visual dos alunos a partir do aumento dos pontos de luz no seu

local de estudos, foi cumprido com a realização desta pesquisa.

A arquitetura escolar renovada pode contribuir de maneira muito significativa para a

superação de dificuldades relacionadas com a baixa visão e problemas de aprendizagem

associados.

Dessa forma, o desafio lançado é cooperar com a literatura da Arquitetura nos espaços

escolares e, se possível, pôr em pauta outras necessidades dentro do espaço escolar, como o

caso da iluminação. Contribuir não somente com a Educação, mas também na vida de

professores, alunos e toda a equipe que necessita de um espaço com iluminação adequada, um

espaço bonito, prazeroso, satisfatório, ou seja, um ambiente pleno.

Referências

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infra-estrutura necessária ao processo de Ensino e aprendizagem escolar. Disponível em:

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Anexos

Figura 01 – Planta baixa da sala de aula de Sávio.

Fonte: Geração Sustentável (2010)

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Figura 02 – Planta baixa da sala de aula de Maira, antes das modificações.

Fonte: Geração Sustentável (2010)

Figura 03 – Elevação 01 da sala de aula de Maira.

Fonte: Geração Sustentável (2010)

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Figura 04 – Planta baixa da sala de aula de Maira, após as modificações.

Fonte: Geração Sustentável (2010)