III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
-
Upload
jorgeguedessilva -
Category
Documents
-
view
222 -
download
0
Transcript of III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
1/145
02
02O objectivo do presente volume o de apresentar e avaliar as experincias de conservao
levadas a cabo nos ltimos dois anos no Vale do Ca, bem como as solues propostas pelas
empresas de conservao de pedra que participaram neste projecto para mitigar as dinmicas
erosivas em aco nos afloramentos com arte rupestre. Inclui pareceres de peritos internacionais
em conservao de arte rupestre, e levanta questes sobre as vrias intervenes propostas.
Integra ainda as concluses mais relevantes de um projecto de monitorizao ssmica do territrio
do Parque Arqueolgico do Vale do Ca.
a arte daconservaotcnicas e mtodosde conservao emarte rupestre
III congressode arqueologiatrs-os-montes,alto douroe beira interior
actas das sesses
Vila Nova de Foz Ca, 18 de Maio de 2006
a arte da conservaotcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre
aartedaconservaotcnicasemtodosdeconservaoemarterupestre
entidades organizadoras do congresso:
entidades financiadoras da edio:
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
2/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 1
02a arte daconservaotcnicas e mtodosde conservao emarte rupestre
III congressode arqueologiatrs-os-montes,alto douroe beira interior
actas das sesses
Vila Nova de Foz Ca, 18 de Maio de 2006
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
3/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas2
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
4/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 3
ndice04
05
11
29
43
54
93
114
124
130
138
142
prefcio
Emlio Antnio Pessoa Mesquita
introduo
Antnio Pedro Batarda Fernandes
acta 1
Monitorizao ssmica do territrio do Parque Arqueolgico do Vale do Ca
Idalina Veludo, Lus Matias e Paula Teves Costa
acta 2
Conservao das rochas com gravuras do Vale do Ca: interveno piloto,
ncleo da canada do inferno
Lus Machado
acta 3
Estudo prvio de conservao das rochas gravadas no ncleo de arte
rupestre da Penascosa - Parque arqueolgico do Vale do Ca (PAVC)
Ftima de Llera, Marco Marques, Madalena Rodrigues e Carlos Catita
acta 4
Projecto de experimentao prvia para a conservao de uma rocha
gravada e de uma rocha-tipo, do ncleo da Ribeira de Pisco, no Pareque
Arqueolgico do Vale do CaMarta Raposo e Nuno Proena
acta 5
Limites estticos e ticos na interveno de conservao de superfces de
arte rupestre do Vale do Ca
Antnio Pedro Batarda Fernandes
acta 6
Problemas e estratgias de conservao das rochas gravadas e apreciao
das intervenes-piloto no Parque Arqueolgico do Vale do Ca
Delgado Rodrigues
acta 7
Comments on treatment proposals for rock art at Foz Ca
Valerie Magar
acta 8
Propuestas de conservacin directa en Foz Ca
Fernando Carrera Ramirez
acta 9Prservacion de lArt Rupestre dans la Vall du Ca (Portugal): Rapport
dune visite de terrain dans trois sites exprimentaux (15 - 19 Mai 2006)
Franois Soleilhavoup
Apresentao biogrfca dos participantes neste volume
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
5/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas4
prefcioEmlio Antnio Pessoa Mesquita
(Presidente da Cmara Municipal)
Antes de mais quero aqui referir que muito me apraz o facto de a Arqueologia ter no nosso
Pas, no decurso dos ltimos anos, sado de um quase casulo, s acessvel a alguns eruditos,
e conquistado um grande nmero de pessoas, seja entre acadmicos e populao escolar,seja entre os cidados em geral. Ao mesmo tempo alcanou um papel relevante (que no
tinha) no mbito das polticas actuais - comeando a ser assumida como factor no apenas
cultural, mas como elemento importante do prprio desenvolvimento scio-econmico.
Mais me orgulha constatar que essa importncia se alcanou em grande medida devido ao
movimento que se gerou volta da descoberta das Gravuras do Ca. Honra seja feita aos
nossos arquelogos, que tenho para mim como dos melhores, e honra a todos os cidados
que participaram de um lado e do outro na polmica que foi determinante para colocar
no lugar merecido a importncia do patrimnio arqueolgico e da memria colectiva que
ele encerra. Agora h que olhar para esse patrimnio com a noo clara de que to grande
riqueza (no s no Vale do Ca, naturalmente) tem de produzir frutos e no servir apenas de
deleite cientco - cultural.
Admitamos que aos arquelogos cabe sobretudo o papel da investigao e de pugnar pela
sua a preservao; e que a outras entidades cabe o papel de o valorizar e promover, como
forma de desenvolvimento das respectivas regies. Ainda que assim fosse, o certo que s
da comunho de esforos pode realmente sair algo de substancial, em que se estimule o
lado da Cincia e esta se projecte de mos dadas com a Economia. No so, em especial, os
sistemas econmicos que sobressaem em toda a investigao que se efectua mesmo sobre
os perodos mais remotos?
Os 4 volumes das Actas do III Congresso de Arqueologia de Trs-os-Montes, Alto Douro
e Beira Interior, tm como subttulo Gestos Intemporais, Ver e Conservar, Guerreiros
e Colonizadores e Ambientes e Musealizao. Falta um Volume V, que gostaramos quesasse do prximo Congresso: Arquelogia, Turismo e Desenvolvimento Sustentado ca o
desao!
No entretanto, deixo aqui o meu grande reconhecimento e o meu obrigado a todos quantos
tm contribuido de forma to determinante para a valorizao do nosso patrimnio, ao mesmo
tempo que, de forma to generosa, tm partilhado connosco o seu saber. A construo do
Museu do Ca , no imediato, o melhor prmio para o esforo de todos.
Obrigado tambm queles que trabalham ou trabalharam para que o mesmo seja, muito em
breve, uma realidade. E um especial agradecimento Sra Dra Isabel Pires de Lima, ex-Ministra
da Cultura, que se empenhou neste projecto talvez mais do que em nenhum outro.
Obrigado aos srs congressistas e aos organizadores do Congresso. E, para estes, ainda
um ltimo desao, porque est na hora de um novo salto: - Para quando um Congresso
Internacional de Arqueologia nesta Regio?
Vila Nova de Foz Ca, Janeiro 2008
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
6/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 5
introduoAs experincias
de conservao da arte
rupestre do Vale do Ca
e a sua avaliao
Antnio Pedro Batarda Fernandes
(Arquelogo, Coordenador do Programa de
Conservao do Parque Arqueolgico do
Vale do Ca)
Os trabalhos preparatrios de conservao da arte rupestre do Vale do Ca
O objectivo do presente volume o de apresentar e avaliar as experincias de conservao
levadas a cabo nos ltimos dois anos no Vale do Ca em Rochas-Tipo1 bem como assolues propostas pelas empresas de conservao de pedra que participaram neste projecto
para mitigar as dinmicas erosivas em aco nos aoramentos com arte rupestre. Nesta
introduo geral ao volume iremos apresentar sumariamente os problemas de conservao
que determinaram decisivamente as intervenes piloto de conservao realizadas bem
como um esquema sucinto das propostas das empresas de conservao. Este volume no
seu todo compreende os textos da responsabilidade das trs empresas convidadas que
explanam o trabalho de anlise e experimentao por elas realizados e os pareceres de 4
peritos internacionais em conservao de arte rupestre complementados ainda com a anlise
do signatrio s questes ticas e estticas que as intervenes propostas possam suscitar.
Paralelamente, julgou-se oportuna a incluso neste volume dum texto com as concluses
mais relevantes de um projecto de monitorizao ssmica do territrio do Parque Arqueolgico
do Vale do Ca levado a cabo pelo Centro de Geofsica da Universidade de Lisboa.
Sendo a conservao de painis de arte rupestre ao ar livre que tm como suporte o xisto
uma actividade com caractersticas algo nicas no mundo, as referncias bibliogrcas
sobre o assunto no abundam e as poucas existentes apenas do conta das consequncias
negativas, nomeadamente duma evoluo mais rpida de dinmicas erosivas previamente
existentes bem como o surgimento de outras, que intervenes realizadas de uma forma um
pouco amadora provocaram (ver, por exemplo, Devlet e Devlet, 2002: 93). Assim, foi julgado
como conveniente, aps sugesto de Delgado Rodrigues - gelogo do Laboratrio Nacional
de Engenharia Civil (LNEC), consultor do Programa de Conservao do Parque Arqueolgico
do Vale do Ca (PCPAVC) em questes de conservao, e um dos peritos cujo parecerpodemos encontrar tambm neste volume , encetar uma srie de trabalhos preparatrios de
conservao.
Rera-se que foram convidadas trs empresas portuguesas de conservao de pedra
Compsito, Nova Conservao e In Situ a participar nestes trabalhos de modo a
carem disponveis anlises variegadas e complementares s temticas de conservao de
aoramentos de xisto no seu ambiente natural. A cada uma destas trs empresas foi atribudo
um dos trs Ncleos de Arte Rupestre abertos ao pblico, tendo estas posteriormente
escolhido quer as rochas de arte rupestre, quer as Rochas-Tipo, sobre as quais incidiriam
os seus trabalhos de anlise, por um lado, e experimentao, por outro. De referir ainda que
nesta primeira fase dum projecto para o estabelecimento de metodologias de interveno,
o PCPAVC deu total liberdade aos participantes de escolherem as abordagens, tcnicas e
materiais segundo as quais norteariam os seus trabalhos, sem contudo deixar de denir como
objectivos a anlise das dinmicas erosivas presentes no aoramento gravado escolhido e a
experimentao prvia na Rocha-Tipo respectiva escolhida em funo das suas semelhanas,
em termos erosivos, com a rocha de arte seleccionada. Os trabalhos de ensaio nas Rochas-
-Tipo seleccionadas decorreram durante o ano de 2004.
Posteriormente, em Maio de 2006, realizou-se em Vila Nova de Foz Ca, integrada no
III Congresso de Arqueologia de Trs-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior, e por ns
coordenada, a Sesso A arte da conservao (Tcnicas e mtodos de conservao em arte
rupestre), onde foram apresentadas as comunicaes que deram origem aos textos aqui
apresentados. Contudo, se bem que a Sesso tivesse durado apenas um dia, o necessriotrabalho preparatrio decorreu nos dias precedentes. Os peritos internacionais Valerie
Magar, do ICCROM (International Center for the Study of Preservation and Restoration of
Cultural Property); Fernando Carrera Ramrez, da ESCRG (Escola Superior de Conservacin e
1 Aoramentos sem gravuras mas com
dinmicas erosivas semelhantes aos das
rochas insculturadas.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
7/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas6
Restauracin de Galicia); Franois Soleilhavoup, do GERME (Groupe dtude et de Recherche
sur les Milieux Extrmes) e Delgado Rodrigues, do LNEC tiveram oportunidade de
presenciarin situ as intervenes realizadas apresentadas pelos responsveis das empresasde conservao, podendo assim desenvolver uma opinio mais fundamentada. Includas
na Sesso, e aps a apresentao do trabalho realizado pelas empresas, as comunicaes
preparadas por estes peritos constituram um parecer instrumental para o prosseguimento do
PCPAVC. Pensamos que a singularidade do trabalho realizado pelas empresas juntamente
com os pareceres avisados emitidos pelos peritos justicam por si s a publicao deste
volume, que pretende ser uma contribuio precursora para a denio das estratgias de
interveno na conservao de arte rupestre ao ar livre.
Ao longo desta introduo procuraremos fornecer uma ilustrao sucinta dos problemas
de conservao mais determinantes da arte rupestre do Ca. Lanaremos ainda algumas
pistas para a avaliao destes trabalhos, relacionadas com questes de autenticidade e
integridade do objecto de interveno conservativa, os aoramentos de arte rupestre, que
desenvolveremos num outro texto presente neste volume.
Problemas determinantes de conservao dos suportes da arte rupestre do Vale do Ca
Como j em outras ocasies (ver Fernandes, 2003; Fernandes, 2004 e Fernandes, 2005)
analismos de uma forma exaustiva o contexto global (Geolgico, Geomorfolgico, Biolgico,
Climtico ou Scio-Econmico) de conservao da arte do Ca, apresentando ainda o
Programa de Conservao do Parque Arqueolgico do Vale do Ca, iremos cingir esta breve
explanao aos problemas de ordem mecnica que afectam a estabilidade dos painis de
arte rupestre e que determinaram as prioridades estabelecidas para os testes de aces de
conservao realizados em trs Rochas-Tipo do Vale do Ca.Os aoramentos gravados do Vale do Ca situam-se nas encostas ngremes que ladeiam
o curso do rio Ca ou dos seus tributrios. Alis, foi o prprio processo de encaixe do rio
e seus auentes que desencadeou a exposio dos painis suportes de motivos de arte
rupestre (Fernandes, 2004: 11). A maioria dos aoramentos gravados situa-se no sop destas
encostas, embora painis existam que se localizam a meia encosta e mesmo no topo destas
vertentes. Sendo que os sops das encostas que se precipitam sobre o Ca se localizam
a cotas entre os 100 e 150 metros, Baptista e Garcia Dez (2002: 198), num artigo sobre a
organizao simblica da arte rupestre do Vale do Ca, haviam j notado, de acordo com
os dados disponveis na altura e ainda no desmentidos, que a maioria dos aoramentos
inscritos e stios de arte rupestre se situam entre estas duas cotas. De notar ainda que, sendo
o Ca um rio geologicamente jovem, o perl das suas encostas naturalmente em V sendo
a inclinao dessas vertentes bastante acentuada, atingindo nalguns casos os 25% de
desnivelamento (ibidem: 190) (ver Fig. 1).
Assim, consequncia do posicionamento topogrco acima descrito, a instabilidade das
vertentes o problema fundamental de conservao dos aoramentos de arte rupestre do
Ca. Como motor desta instabilidade temos as dinmicas de carcter coluvional: a fora da
gravidade impele encosta abaixo sedimentos e fragmentos de maiores ou menores dimenses
fraccionados dos aoramentos situados a cotas mais elevadas por aco da sismicidade ou
da pluviosidade. Por outro lado, os prprios aoramentos (gravados ou no), localizados na
base das vertentes, constituem-se como um calo impeditivo da estabilizao das encostas.
S o inexorvel mas moroso processo de desmantelamento destes aoramentos poderproporcionar um maior nivelamento e portanto estabilidade s encostas (Rodrigues, 1999: 1).
Toda esta aco coluvional, agravada pela pluviosidade, provoca grande instabilidade nas
vertentes e nos prprios blocos gravados. Grande parte de todo o catlogo identicado
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
8/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 7
de tipos de eroso em aco nos aoramentos (ver Rodrigues, 1999) tem como origem
a instabilidade das vertentes. A eroso actua desde escalas macro-locais i.e. toda a
encosta a escalas micro-locais reas restritas dos painis insculturados e originandoou contribuindo para acelerar a evoluo de fenmenos erosivos como o toppling ou a
fracturao (ver Fernandes, 2004: 12-17). Apesar da regio possuir um regime pluviomtrico
bastante moderado (ver Fernandes, 2005: 161), as guas pluviais e a sua percolao
contribuem tambm para enfraquecer os aoramentos, ao agravarem o ritmo de eroso
provocado por fracturas preexistentes. A localizao de aoramentos em leito de cheia ainda
outro factor que contribui para a instabilidade de alguns painis de arte rupestre (ver Fig. 2).
Em suma, foi esta dinmica de eroso mecnica dos aoramentos de arte rupestre do Ca
que as experincias de conservao realizadas nos ltimos dois anos tentaram enfrentar,
propondo e testando solues passveis de mitigar a sua aco e evoluo. Outras questes
de conservao de origem biolgica (como a colonizao liqunica) ou mesmo geolgica
(conservao da pelcula siliciosa que cobre os painis ver Fernandes, 2004: 16-17) no
foram objecto directo de interveno nas experincias efectuadas. Isto porque, se por
um lado, se agura a estabilidade mecnica das vertentes como o maior problema de
conservao da arte do Ca, a verdade que algumas das solues ensaiadas nos testes
contribuem tambm colateralmente para a resoluo de alguns problemas de ordem biolgica
(como o crescimento de plantas inferiores e superiores enraizadas nos sedimentos que
preenchem caixas de fractura) e mesmo geolgica (com o estabelecimento de canais de
escorrimento das guas pluviais que evitem a percolao de macios e painis gravados).
A evoluo das dinmicas erosivas que afectam os aoramentos gravados do Vale do Ca
pertence a uma escala de tempo dicilmente mensurvel no tempo humano. Por outro
lado, o xisto presente na regio e onde a grande maioria dos motivos rupestres foi inscrita,possui caractersticas de notvel resistncia e durabilidade (Ribeiro, 2001: 54), como se pode
comprovar na Figura 3. No entanto, noutros casos os processos erodentes manifestam-se de
forma lenta mas inexorvel, como ilustrado na Figura 4.
As propostas das empresas
Ser talvez til comear por indicar os dados referentes a cada empresa. Assim, pela Nova
Conservao temos como tcnicos responsveis Nuno Proena e Paula Coghi tendo sido
seleccionadas no Ncleo de Arte Rupestre da Ribeira de Piscos a Rocha 1 como painel a
analisar e um aoramento situado imediatamente por detrs e a poucos metros da Rocha
1 como Rocha-Tipo (Nova Conservao, 2004). J no caso da Compsito, Lus Machado
foi o tcnico responsvel pela anlise Rocha 1 do Ncleo de Arte Rupestre da Canada do
Inferno e pelos testes efectuados na Rocha-Tipo situada em frente do cais uvial instalado
neste Ncleo (Compsito, 2004). Pela empresa In Situ o tcnico responsvel foi Ftima de
Llera tendo os trabalhos de anlise sido realizados na Rocha 5 do Ncleo de Arte Rupestre da
Penascosa. Como Rocha-Tipo da Penascosa foi escolhido um aoramento situado junto ao
parque de estacionamento deste Ncleo (In Situ, 2005).
Em virtude da carta branca dada s empresas participantes, estas apresentaram abordagens
prprias e variegadas. De qualquer modo, a Nova Conservao e a Compsito tiveram
perspectivas algo semelhantes centrando os seus esforos na proposio e experimentao
de materiais e tcnicas de conservao. Todos os materiais experimentados tero a sua
evoluo natural dentro do contexto em que foram inseridos devendo a monitorizaodessa evoluo nas Rochas-Tipo sujeitas a teste ser o mais alargada possvel no tempo,
de modo a conhecermos exactamente o que esperar de cada material testado. J a In Situ,
embora tambm experimentando materiais, centrou mais a sua proposta na compreenso
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
9/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas8
de tudo o que est a montante de uma interveno de conservao; ou seja, na anlise
das causas e efeitos das dinmicas erosivas em aco. Assim, esta empresa efectuou
estudos de estabilidade, trabalhos preparatrios de criao dum sistema de monitorizaotopogrca dos aoramentos e das vertentes onde estes se encontram, bem como uma
caracterizao desenvolvida de factores ssmicos, geomorfolgicos ou climticos da regio.
Uma das concluses mais interessantes em relao rocha estudada, a n 5 da Penascosa,
a da situao estvel da vertente, considerando uma percolao pouco signicativa das
diaclases ditada pelo regime pluviomtrico brando regional, e, com excepo de uma,
de todas as diaclases que esta rocha apresenta. E dizemos interessante porque partida
se considerou (ns prprios e a equipa de trabalho da In Situ), empiricamente, que este
aoramento se encontrava instvel. Tal concluso traduz a necessidade de se desenvolverem
estudos aprofundados sobre a estabilidade das vertentes e das diaclases, porque, permitiro
estabelecer graus de urgncia de interveno.
O resultado destes trabalhos prvios, que globalmente reputamos como muito relevantes,
e devido liberdade de abordagens e execuo pretendidas, apresenta-nos alguma
diversidade de anlises e propostas que, no seu todo, contribui claramente para a denio e
implementao duma metodologia correcta de interveno nos aoramentos de arte rupestre.
Apesar disto, uma das pechas que se pode apontar a estes testes a certa semelhana dos
materiais testados nas Rochas-Tipo, nomeadamente a utilizao recorrente de argamassas
base de cal hidrulica, o que resulta do campo de actuao tradicional das trs empresas
seleccionadas. Como estas so empresas de conservao de pedra especializadas em
intervenes de conservao de fachadas, ou paramentos de monumentos histricos, tal
facto determinou uma abordagem algo semelhante nos materiais utilizados nos aoramentos
teste. Logo, o espectro de aplicao de materiais no foi, infelizmente, to alargado comopoderia ser.
Outra questo, tambm referida nos relatrios das empresas, reside na reversibilidade das
intervenes. Se bem que estes relatrios faam meno ao facto dos materiais e tcnicas
utilizados serem reversveis, a verdade que cremos, como a edio coordenada por Oddy e
Carroll (1999) evidencia, que nenhuma interveno de conservao 100% reversvel. Estes
autores sugerem mesmo que a reversibilidade em conservao ou restaurao do patrimnio
, de um modo geral, um mito apetecvel. Mesmo que os materiais utilizados possam ser
retirados de uma forma que no deixem nenhuns vestgios, a verdade que uma interveno
de conservao muda de facto o objecto intervencionado. Tal como no se pode pr o tempo
a andar para trs, a aco de reverso no faz retroceder o objecto ao estado em que ele
subsistia antes da primeira interveno, transformando-o sim numa outra coisa, j somatrio
das aces de interveno e de reverso. Logo parece-nos importante, que a partir do
momento em que se decidir avanar com uma aco se tenha conscincia que de facto se vai
alterar ()para sempre() o objecto de arte rupestre e que no existem aces de reverso que
possam inverter totalmente esse resultado.
Os aoramentos de arte rupestre do Ca so um objecto de arte no sentido que contm
em si motivos inscritos como de valor artstico universal que tem vindo a existir h j vrios
milnios num dado espao, sujeitos, no entanto, s aces erosivas naturais, apresentando
assim um estado de conservao contingente. Um dos objectivos de todo este projecto
era o de analisar formas de conciliar as questes ticas e estticas com a mitigao das
dinmicas erosivas em aco nos aoramentos de arte rupestre, mormente nos maisdegradados. Intervir, mesmo que actuando com a losoa de interveno minimal que norteou
a abordagem das empresas contratadas, implicar sempre modicar o estado actual desse
objecto de arte, o que nos coloca perante o desao de conciliar intervenes futuras com a
preservao da autenticidade e integridade dos objectos de arte rupestre.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
10/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 9
g. 01 O encaixe do rio do Ca na zona
da sua foz. De notar a inclinao das
vertentes escavadas precisamente pelo
encaixe do rio. Nesta zona constata-se
a inuncia da albufeira da barragem do
Pocinho, construda em 1984 no rio Douro
e a montante da foz do Ca. Assim, o nvel
natural das guas do Ca seria cerca de 10
- 12 metros mais baixo. O nvel presente
do Ca impede a visualizao de zonas
ribeirinhas muito declivosas e que nesta
rea apresentam razovel nmero de painis
de arte rupestre agora submersos. Nesta
rea, existem tambm zonas no submersas
e mesmo situadas a meia encosta com
aoramentos gravados de cronologia
Paleoltica e da Idade do Ferro.
(Foto: Antnio Pedro Batarda Fernandes)
g. 02 Estado do aoramento que contem
a rocha 1 da Ribeira de Piscos logo aps as
cheias invernais de 2004/2005.
(Foto: Antnio Pedro Batarda Fernandes)
fguras
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
11/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas10
g. 03 Pormenor da rocha 5 B da
Penascosa. A gura caprnea de cronologia
Paleoltica, gravada pela tcnica de abraso,
est representada em dois planos diferentes,
devido a fracturao do suporte ptreo.
Como se observa facilmente, esta fractura
anterior ao episdio de gravao, sendo
que eventualmente motivos mais antigos
gravados por picotagem podero ter sido
interrompidos pela fracturao evidente.
Esta gura, se por um lado demonstra, tal
como a seguinte, a eroso que os suportes
da arte do Ca sofrem, por outro sublinhar
a grande durabilidade dos painis, pois
o motivo caprneo sobrevive, apesar da
fracturao intensa em aco nesta rocha,
desde o Paleoltico Superior. (Foto: Baptista,
1999: 104).
g. 04 Esta gura caprnea assinala de
modo exemplar a perda de partes de
motivos (bem como sugere a ocorrncia da
desaparecimento de motivos completos) que
a eroso do suporte xistoso pode provocar.
Assinale-se, no entanto, que este motivo
sobreviver desde o perodo Solutrense
(cerca de 18 000 anos BP) de acordo
com a proposta de atribuio cronolgica
(pontuada com um ponto de interrogao,
certo) de Antnio Martinho Baptista. (1999:
80) De qualquer modo, de realar, que
apesar da intensa presso a que sujeito,
este motivo perdura ainda de forma quase
completa. Esta gura e a anterior sublinham
tambm o estudo caso a caso a que se
deve proceder, quer aquando da anlise
do estado de conservao dos painis,
quer na implementao de intervenes de
conservao. (Foto: Baptista, 1999: 80).
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
12/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 11
BAPTISTA, A. M.; GARCA DEZ, M. (2002) Lart palolithique dans la valle du Ca
(Portugal): la symbolique dans lorganisation dun sanctuaire de plein air. In SACCHI, D., ed.
- Lart palolithique lair libre: le paysage modif par limage (Tautavel, Campme, 7-9 octobre
1999). Saint-Estve: GAEP; GOPRE, p. 187-205.
COMPSITO (2004) Conservao das rochas com gravuras do Vale do Ca: estudo e
proposta de interveno (Ncleo da Canada do Inferno). [Relatrio entregue pela Compsito,
Lda ao PAVC no mbito do projecto de experimentao prvia de solues de conservao
para a arte rupestre do Vale do Ca].
DEVLET, E.; DEVLET, M. (2002) Heritage Protection and Rock Art Regions in Russia. In Lart
avant lhistoire : La conservation de lart prhistorique : 10es journes dtudes de la Section
franaise de linstitut international de conservation, Paris, 23-24 Mai 2002. Paris: SFIIC, p. 87-
94.
FERNANDES, A. P. B. (2003) O sistema de visita e a preservao da arte rupestre em dois
stios de ar livre do Nordeste portugus: o Vale do Ca e Mazouco. Revista Portuguesa de
Arqueologia. Lisboa. 6:2, p. 5-47.
FERNANDES, A. P. B. (2004) O Programa de Conservao do Parque Arqueolgico do Vale
do Ca: Filosoa, objectivos e aces concretas. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa.
7:1, p. 5-37.
FERNANDES, A. P. B. (2005) Programa de conservao do Parque Arqueolgico doVale do Ca: Primeiros resultados da estao sismolgica e da estao metereolgica
em funcionamento no PAVC. Caviso. Vila Nova de Foz Ca. 7 (Actas do I Congresso de
Arqueologia de Trs-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior), p. 159-166.
IN SITU (2005) Estudo prvio de conservao das rochas gravadas do ncleo de arte
rupestre da Penascosa - Parque Arqueolgico do vale do Ca (PAVC). [Relatrio entregue
pela In Situ, Lda ao PAVC no mbito do projecto de experimentao prvia de solues de
conservao para a arte rupestre do Vale do Ca].
NOVA CONSERVAO (2004) Anlise e projecto de conservao da rocha n1 (com
gravuras) e de uma rocha-tipo no ncleo da Ribeira de Piscos. [Relatrio entregue pela Nova
Conservao, Lda ao PAVC no mbito do projecto de experimentao prvia de solues de
conservao para a arte rupestre do Vale do Ca].
ODDY, A.; CARROLL, S., eds. (1999) Reversibility Does It Exist? London: British Museum.
RIBEIRO, M. L. (2001) Notcia explicativa da carta geolgica simplifcada do Parque
Arqueolgico do Vale do Ca. Vila Nova de Foz Ca: Parque Arqueolgico do Vale do Ca.
RODRIGUES, J. D. (1999) Conservao da Arte Rupestre do Parque Arqueolgico do Vale do
Ca. [Relatrio 241/99 Gero, LNEC. Trabalho realizado para o Parque Arqueolgico do Valedo Ca].
bibliografa
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
13/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas12
acta 1Monitorizao
Ssmica doTerritrio do Parque
Arqueolgico doVale do Ca (PAVC)
Idalina Veludo
(Centro de Geofsica da Universidade de
Lisboa; [email protected])
Luis Matias
(Centro de Geofsica da Universidade de
Lisboa, DF-Faculdade de Cincias da
Universidade de Lisboa; [email protected] )
Paula Teves Costa
(Centro de Geofsica da Universidade de
Lisboa, DF-Faculdade de Cincias da
Universidade de Lisboa; [email protected])
Introduo
O complexo Paleoltico de Arte Rupestre do Vale do Ca apresenta uma distribuio de
gravuras por diversos locais ao longo de quase 20 Km. A exposio preferencial das gravurase a associao dos animais gravados com o rio sugere uma venerao do curso de gua
levando-nos a crer que estamos perante um santurio ao ar livre. A importncia do Ca
excede o mbito nacional: poucos stios de arte rupestre do Paleoltico Superior ao ar livre
foram identicados at hoje no mundo inteiro, um dos quais tambm em Portugal Mazouco,
a cerca de 25 Km. do Vale do Ca. (Zilho, 1999)
Este conjunto artstico limitado, a Oeste, por um grande e complexo acidente tectnico
com uma extenso de mais de 200 Kms., a Falha Manteigas Vilaria Bragana (M-V-B) de
orientao SSW-NNE. A avaliar pela deformao de sedimentos relativamente recentes e pela
ocorrncia de episdios ssmicos, quer instrumentais quer histricos, o movimento dos blocos
desta Falha continua at aos nossos dias. (Cabral, 1985; Cabral, 1995).
Junto do Ncleo de Arte Rupestre da Canada do Inferno encontram-se as Pedreiras do Poio.
A distncia entre estes dois locais aproximadamente de 500 m. Como tal, o Ncleo uma
zona sensvel s vibraes causadas pelas exploses que se vericam nas Pedreiras.
Com o objectivo de monitorizar a actividade ssmica no territrio do PAVC em geral, e na
Canada do Inferno em particular, o Centro de Geofsica da Universidade de Lisboa instalou
neste local, em parceria com o Parque, um sistema de aquisio ssmica constitudo por i)
uma estao ssmica (modelo HATHOR-LEAS), ii) um sensor de 2 hz e trs componentes
(Vertical, Este-Oeste e Norte-Sul) e iii) 2 baterias e 1 painel solar para fornecimento autnomo
de energia. Este sistema registou dados em modo contnuo durante um perodo de 2 anos.
A monitorizao ssmica em modo contnuo implica a gesto duma grande quantidade de
informao. A deteco de eventos ssmicos num registo em modo contnuo feita quer
visualizando todo o registo, quer com recurso a programas automticos de deteco que
dependem de parmetros que devem ser ajustados consoante as caractersticas do sinal que
se pretende detectar. Recorrendo componente de informao vertical do sinal contnuo
possvel criar espectogramas dirios que rapidamente identicam e localizam no tempo os
sinais ssmicos fornecendo ainda dados sobre a sua amplitude, frequncia e durao. Assim,
torna-se possvel extrair rpida e facilmente apenas os sinais pertinentes. Em consequncia,
e utilizando o software SEISAN 8.0 (Havskov e Ottemoller, 2003), possvel seleccionar
e visualizar apenas os intervalos de tempo que contm os sinais a analisar que sero
automaticamente registados nas bases de dados. Este foi o mtodo utilizado na monitorizao
ssmica do territrio do PAVC.
Detectaram-se 6 grupos principais de sinais como ilustrado na Fig. 4:
1. Sinal curto e impulsivo;
2. Sinal longo, imerso e de baixa amplitude;
3a). Anomalias verticais;
4. Sismo regional (Al-Hoceima. Marrocos, 24/02/2004);
5. Rplicas do sismo de Al-Hoceima;6. Sismo local (epicentro a NE de Vila Flor e sentido em Foz Ca)
Anlise
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
14/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 13
1. Sinais breves e impulsivos
De todos os sinais detectados, estes so aqueles que apresentam a maior amplitude sendo
a sua durao de apenas 1 a 2 segundos. Tm caractersticas impulsivas, compressivas eso praticamente coincidentes com o exacto momento em que se verica uma exploso nas
Pedreiras. Uma exploso provoca um primeiro movimento que compressivo em todas as
direces o que contrasta com um evento natural em que os primeiros movimentos so de
diferente amplitude e polaridade dependendo da direco fonte - observadores.
Estes sinais so pois os melhores candidatos do registo duma exploso. Esta suposio
corroborada se examinarmos a sua distribuio diria e semanal.
Do mesmo modo, a distribuio epicentral destes sinais praticamente coincide com a rea de
laborao das Pedreiras.
Para avaliar a inuncia das vibraes causadas pelas exploses nas Pedreiras recorreu-se
Norma NP-2074 1997 da Comisso Tcnica Portuguesa de Normalizao Acstica. Esta
Norma foi criada com o objectivo de avaliar as vibraes provocadas por exploses, no em
estruturas naturais (para as quais no existe referncia), mas em edifcios (monumentos, de
habitao, indstria ou servios) considerando ainda a natureza do solo e a frequncia dos
fenmenos vibratrios. O valor referncia (2,5 mm/s) utilizado na anlise dos dados ssmicos
recolhidos corresponde ao limite mnimo de todos os valores mencionados pela Norma.
Este valor corresponde ao limite mximo de velocidade de vibrao no solo permitida para
monumentos histricos em solos brandos. Ainda de acordo com esta Norma, vericando-
se mais do que trs exploses dirias, um factor de 0,70 ter de ser aplicado e o este valor
mximo decresce 30% para 1,75 mm/s.
tabela 1 Valores dirios e mensais mximos
de velocidade da vibrao vericados
na estao de Foz Ca para os sinais
impulsivos, curtos.
Como se verica, os valores nunca excedem os 1,75 mm/s, no sendo considerados, com
reserva, prejudiciais para a rocha suporte das gravuras rupestres.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
15/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas14
2. Sinais longos e emersos.
Estes sinais apresentam-se como emersos, duram 20 a 30 segundos e tm baixos valores
de amplitude e velocidade de vibrao. Apresentam uma distribuio diria e semanalsemelhante dos sinais impulsivos e tm origem provvel no arremesso dos materiais no
utilizveis das Pedreiras pelas encostas que rodeiam quer estas exploraes quer o Ncleo da
Arte Rupestre da Canada do Inferno.
tabela 2 Valores dirios e mensais mximos
de velocidade da vibrao vericados na
estao de Foz Ca para os sinais longos
de baixa amplitude.
Como se verica, os valores nunca excedem os 1,75 mm/s, no sendo considerados
prejudiciais para a rocha suporte das gravuras rupestres.
3.
O registro apresenta tambm sinais considerados como anmalos. Estes sinais surgem como
picos isolados com uma larga escala de amplitudes (de 20 at 76000 unidades de contagem)
podendo ser separados em 3 diferentes tipos de acordo com a sua periodicidade:
Anomalia 1 anomalia que aparece aleatoriamente na componente vertical com valores
variveis de amplitude e picos de durao 2 3 segundos. Sendo aleatria, a sua causa no
foi ainda identicada.
Anomalia 2 anomalia diria que surge aproximadamente s 07:00 (UTC) e em todas as
componentes (vertical, N-S e E-W). Possui um baixo valor de amplitude e uma durao de
cerca de 2 horas.A suposio de que esta anomalia poder estar relacionada com o fornecimento de energia
estao, nomeadamente com o nascer do sol, parece razovel se analisarmos o prximo
grco.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
16/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 15
Anomalia 3 anomalia diria constituda por um nico par de picos com cerca de 2 minutos
de diferena entre si, simultneos em todas as trs componentes e presumivelmente tambm
relacionados com o fornecimento de energia estao.
Estas anomalias no alteram signicativamente a qualidade da informao recolhida pela
estao ssmica.
4. Sismicidade
Sempre que ocorria um evento ssmico, dados provenientes das estaes ssmicas do
Instituto de Meteorologia (IM)1 e/ou do Instituto Geogrco Nacional (IGN, Espanha)2 foram
integrados com aqueles fornecidos pela estao de Foz Ca com o objectivo de melhorar a
qualidade e preciso do clculo dos hipocentros.
De forma a caracterizar a actividade ssmica na regio do Baixo Ca, foi necessrio delimitar
uma rea considerada como estando sob inuncia do sistema de falhas M-V-B, representada
pelo polgono negro na Figura 14. Complementarmente foram utilizados os catlogos ssmicos
do International Seismological Center (ISC)3 e do IGN para o perodo de 1964 a 2005, uma
vez que o perodo monitorizado demasiado curto em termos geolgicos apenas tendo sido
detectados 44 eventos. A anlise dos catlogos elevou para 194 o nmero de eventos usados
na caracterizao ssmica. Os respectivos epicentros encontram-se distribudos de uma forma
difusa, o que torna a sua associao com uma falha especca nem sempre inquestionvel.
Os dados foram ento ltrados, usando o algoritmo Gardner&Knopoff (1974), de modo a porde lado as rplicas e sismos precursores. Este algoritmo associa, a cada valor de magnitude,
um intervalo no espao e no tempo, que dene eventos como rplicas ou sismos precursores
consoante ocorrem antes ou depois do abalo principal (de maior magnitude).
Deste modo foi possvel identicar 38 precursores, 43 rplicas e 113 eventos principais. A
partir destes eventos principais detectados foi possvel calcular os parmetros Gutenberg
Richter. Assim, o nmero de abalos ssmicos por perodo de tempo de magnitude igual ou
superior a M, N(M), pode ser calculado considerando os 113 eventos principais e os valores de
magnitude (ML) entre 1.3 e 2.9 (magnitude mxima presente no catlogos). O valor resultante,
o parmetro b (proporo relativa entre eventos de grande e pequena magnitude no universo
considerado), para o Vale do Ca de 1.03, caracterstico de um ambiente continental, onde a
capacidade de acumulao de stress ssmico no elevada. Este valor est em concordncia
com os clculos realizados pelo IGN (1992) para toda a Pennsula Ibrica como se pode
depreender da anlise da Fig. 16.
Podemos tambm olhar para a escala Mercalli de mximas intensidades para Portugal (Fig.
17) onde, para o Vale do Ca, atribuda um valor de VI4.
1 www.meteo.pt
2 www.ign.es
3 www.isc.ac.uk
4 Forte. Difcil de aguentar. Notada por
condutores e veculos automveis. Objectos
suspensos balouam. Moblia parte-se.
Chamins frgeis desmoronam. Queda
de estuque e de pedras, tijolos, azulejos e
cornijas soltas. Ondulao em tanques e
lagos. Toque de sinos grandes.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
17/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas16
Agradecimentos
Da monitorizao levada a cabo, conclui-se que a actividade tectnica na zona da Vilaria
moderada (0,5 a 0,6 mm/ano) o que tambm conrmado pelos registos de sismicidade
histrica e instrumental. Contudo, descries histricas de eventos com epicentro junto deTorre de Moncorvo (5 Km a Este da zona da Vilaria) so conhecidas para 1751 (Intensidade
Mercalli VI VII), 1752 (IV V) e 1858 (VII). Conhecem-se tambm no registo instrumental
eventos sucedidos perto da Vilaria, nomeadamente em 1918 (magnitude local de 5,7), 1945
e 1949 (ambos com magnitude local de 3,6). Para todos estes eventos a profundidade focal
desconhecida. (Moreira, 1984)
Os sinais impulsivos curtos so aqueles que apresentam uma amplitude mais elevada. Tm
uma distribuio temporal que denota serem de origem antropognica, tendo como causa
provvel as exploses nas Pedreiras do Poio. Os valores de velocidade de vibrao nunca
excedem os 1,17 mm/s. Como tal considera-se, com reserva, que no fazem perigar a rocha
de suporte das gravuras rupestres. No caso dos sinais longos de amplitude baixa, com origem
provvel tambm nas Pedreiras (no transporte dos desperdcios de explorao), o que foi dito
na frase anterior igualmente aplicvel.
A regio em estudo considera-se como sismicamente activa. De facto, a instalao da estao
ssmica na Canada do Inferno, contribuiu para aumentar o nmero de eventos ssmicos
detectados na zona. A no existncia de Normas para avaliar a inuncia das vibraes (de
origem natural ou humana) em monumentos como os Ncleos de Arte Rupestre do Vale do
Ca levou-nos a utilizar a Norma NP-2074 1997 que tem como objectivo a proteco do
edicado, no a de ambientes naturais ou superfcies rochosas como aquelas que suportam
as gravuras. Assim, a realizao de um estudo de avaliao de risco ssmico, similar aos quese executam para barragens, depsitos de gs ou centrais nucleares, recomendado para o
territrio do PAVC.
Ao Prof. Dr. Joo Cabral do Departamento de Geologia da Faculdade de Cincias da
Universidade de Lisboa, pela disponibilidade em discutir o ambiente geotectnico da regio
do Vale do Ca.
Ao Instituto de Meteorologia, em particular Eng. Dina Vales, pela disponibilizao dos dados
da rede ssmica do IM.
Concluso
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
18/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 17
fguras
g. 1 Topograa, verticalmente exagerada,
da regio do troo nal do Ca com
indicao da localizao da estao ssmica
instalada prximo da Falha da Vilaria.
g. 2 Distncia entre o Ncleo da Canada do
Inferno e as Pedreiras do Poio. Coordenadas
UTM, ponto central: 9 W.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
19/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas18
g. 3 O sistema de aquisio
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
20/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 19
g. 4 Espectograma virtual dirio, criado
para exemplicar numa s imagem os 6
tipos de sinais detectados. Eixo horizontal:
hora. Eixo vertical: frequncia (0 aos 25 HZ).
Escala de cinzentos: amplitude.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
21/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas20
g. 5 Sismograma de um sinal curto e
impulsivo.
g. 6 Primeiros movimentos associados com
exploses e eventos ssmicos naturais.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
22/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 21
grcos 1a e 1b Distribuio diria e
semanal dos sinais curtos e impulsivos,
de 10/03 a 03/04 e de Janeiro de 2004,
respectivamente.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
23/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas22
g. 7 rea de distribuio epicentral dos
sinais impulsivos curtos.
g. 8 Sinal longo, emerso e de baixa
amplitude.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
24/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 23
g. 9 Anomalia 1.
g. 10 Anomalia 2.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
25/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas24
grco 2 Relao entre o nascer do sol (azul)
e o incio da anomalia 2 (vermelho). A negro
encontra-se indicada a curva resultante do
ajuste polinomial da anomalia 2.
g. 11 Anomalia 3.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
26/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 25
g. 12 Rede de estaes ssmicas do IM e
do IGN.
g. 13 Sismicidade regional detectada
durante o perodo bienal de monitorizao.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
27/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas26
g. 14 Sismicidade local detectada.
g. 15 Epicentros detectados pela estao
de Foz Ca durante o perodo bienal de
monitorizao e existentes nos catlogos do
ISC e IGN de 2000 a 2005.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
28/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 27
g.16 Parmetro b calculado pelo IGN (1992)
g. 17 Escala Mercalli de Intensidades
Mximas.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
29/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas28
CABRAL, J. (1985) Estudos de Neotectnica em Trs-os-Montes Oriental. Tema de
Dissertao Apresentado no mbito das Provas de Aptido Pedaggica e Capacidade
Cientfca. Lisboa: Departamento de Geologia da Faculdade de Cincias.
CABRAL, J. (1995) Neotectnica em Portugal Continental. Memrias do Instituto Geolgico e
Mineiro. Lisboa: Instituto Geolgico e Mineiro.
GARDNER, J.K.; KNOPOFF, L. (1974) Is the sequence of earthquakes in southern California,
with aftershocks removed, Poissonian? Bulletin of the Seismological Society of America. [S.I].
64. p. 13631367.
HAVSKOV, J.; OTTEMOLLER (2003) Seisan: the Earthquake Analysis Software [em linha].
Disponvel em: http://www.sismo.info/software/SEISAN.htm.
IGN (1992) Anlisis sismotectnico de la Pennsula Ibrica, Baleares y Canarias. Madrid: IGN
(Publicacin Tcnica Instituto Geogrco Nacional; 26).
MOREIRA, V. S. (1984) Sismicidade Histrica de Portugal Continental. Lisboa: INMG.
ZILHO, J., coord. (1999) Arte Rupestre e Pr-Histria do Vale do Ca: Trabalhos de 1995-
1996. Lisboa: Ministrio da Cultura.
bibliografa
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
30/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 29
acta 2Conservao das
rochas com gravurasdo Vale do Ca:Interveno piloto,ncleo da Canada doInfernoLus Machado
(Tcnico Superior de Conservao de Pedra
pela Escola Superior de Conservao e
Restauro de Lisboa [ESCR]; luisgmachado@
netcabo.pt)
1 Referncia propositada ao ttulo da obra
de Baptista acima mencionada, No Tempo
Sem Tempo.
Introduo
Quando, j dentro do Parque Arqueolgico do Vale do Ca (PAVC), nos vamos afastando de
Vila Nova de Foz Ca a caminho do Ncleo de Arte Rupestre da Canada do Inferno (local ondese desenrola a nossa aco), sentimo-nos, gradualmente, ser conduzidos a um tempo que
transcende em muito a escala humana. De facto, no nos podemos esquecer que as rochas
e o vale j existiam antes da chegada dos caadores paleolticos que neste local deixaram a
sua marca. E olhando para a rocha 1, primeiro painel com arte paleoltica a ser identicado
no Vale do Ca (Baptista, 1999: 53), que comeamos a perder-nos no tempo, utuando por
histrias com muita Histria. Perante esta rocha deixmo-nos ir, para trs, viver naquele tempo
sem tempo1.
Assim, voltar atrs serviu de base para a concepo de grande parte das metodologias de
interveno e esta ideia base reecte-se na forma como foram encaradas as patologias que a
rocha apresentava. Deste modo, num misto de geotecnia e conservao foram criadas uma
a uma, e interligando-se, as metodologias para a interveno. Como resultado, pretende-
se no apenas impedir que as patologias progridam e se tornem ainda mais danosas para
a rocha, e consequentemente para as gravuras; mas tambm forar uma regresso de
algumas, nomeadamente ao nvel do movimento de fragmentos que desnivelam as superfcies
(toppling). Tomando como ponto de partida o primeiro trao gravado na rocha, que se deduz
ainda efectuado com a superfcie nivelada, o nosso desejo , conscientes da ambio, fazer o
tempo voltar atrs dezenas de milhares de anos!
Examinando os problemas que, de uma forma geral, as rochas apresentam, no foram
considerados quaisquer tratamentos a efectuar directamente nas superfcies onde as gravuras
se encontram. Esta opo advm do facto de no se observarem avanos de alguma
patologia que ponha em risco alguma perda a curto/mdio prazo. Excepo ser feita, quandose verique, presena de alguma colonizao biolgica (Figs. 1 e 2).
Tendo em considerao a especicidade do patrimnio que temos a preservar, adianta referir
que qualquer interveno projectada, e efectuada, onde se considera a incluso de novos
materiais, dever estar ligada ao estudo aprofundado da interaco de materiais, assim
como do seu envelhecimento, quer individualmente, quer no conjunto. Importa igualmente
mencionar que toda a interveno foi executada, a ttulo exemplicativo, e para que possam
ser estudados a longo prazo os tratamentos propostos, numa rocha que no tem gravuras.
Esta rocha, seleccionada por ns, foi elegida por apresentar as patologias presentes na
rocha a que se dirige a interveno. Contudo, numa tentativa de abranger mais situaes, e
consequentemente mais rochas (nunca esquecendo que cada uma apresenta a sua prpria
individualidade), seleccionmos uma rocha com as patologias mais evidenciadas e num
estado de degradao muito superior ao da Rocha 1. Assim, tentmos apresentar, neste
estudo/interveno, uma gama de solues para diversos casos, com especial realce para a
escolha de toppling num estado muito mais avanado daquele que encontramos na Rocha 1
da Canada do Inferno.
Exame diagnstico
da Rocha 1
A regio do PAVC integra-se no Macio Hesprico, mais concretamente na Meseta
Setentrional e faz parte da bacia hidrogrca do rio Douro (Ribeiro, 2001: 5). As rochas
predominantes so os litos (ouxistos luzentes, dadas as caractersticas das suas superfcies
de foliao), que se caracterizam por uma xistosidade acentuada e gro bastante no,constitudas por quartzo, sericitite, clorite e proporo varivel de argila (Costa, 1993: 160).
Situada na margem esquerda do rio Ca, a Canada do Inferno localiza-se a cerca de 500 m a
montante do local onde ia surgir a barragem de Foz Ca.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
31/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas30
A rocha tem uma morfologia que se insere num prisma triangular. A rea gravada, na superfcie
frontal, situa-se concentrada na metade superior e contm representaes picotadas e
liformes, com diferentes cronologias, de guras de: um caprdeo, dois auroques e doiscavalos (Zilho, 1997: 219, 264).
Num exame exaustivo rocha pudemos observar vrias patologias. Contudo, devemos
considerar que estas dependem, em grande parte, de uma: a movimentao de fragmentos
(toppling). Por esta razo, focmos grande parte da nossa ateno para o referido problema.
Ao existir uma linha de fractura que origina um fragmento, este ca sujeito a foras que,
geralmente, o empurram e da resulta um desnvel na superfcie (uma vez que os movimentos
se do perpendiculares a esta). Estes deslocamentos, com aco sobre os fragmentos,
independentemente das suas dimenses, podem ser ocasionados por diversos agentes,
de formas instantneas (alterao abrupta da sionomia do solo) e/ou mediante a aco
de foras constantes, quase de carcter esttico, sobre as rochas, ajudadas pela contnua
acumulao de detritos. Contudo, no nos podemos esquecer que, at que haja a completa
fragmentao da rocha (que se considera quando existe uma linha de fractura contnua que
separa por completo as partes envolvidas no processo), ocorrem reaces paralelas que
tambm so causa de degradao, designadamente, a circulao/reteno de gua na rocha.
A gua, para alm da sua aco mecnica, transportando diversos materiais como terras e
outra sujidade, tambm interage com a rocha por aco qumica. Assim, transportados pela
gua, tambm se encontram diversos compostos inicos (ies resultantes da degradao
qumica da rocha2) que se vo depositando e cristalizando, de forma localizada, nas rochas.
Este fenmeno bem visvel quando, superfcie, se observam as linhas de fractura e
ssuras, onde se encontram depsitos esbranquiados nos rebordos dessas linhas. A perdade material outro dos fenmenos associados s patologias mencionadas. Tal deve-se, em
grande parte, natureza da fragmentao, geralmente originando pequenos fragmentos que,
dadas as suas dimenses e forma, no conseguem permanecer nos seus locais originais,
sendo por isso muitas vezes arrastados por agentes naturais (vento, guas pluviais, etc.),
ou por simples aco da fora de gravidade. Nas faltas causadas pela ausncia de material
vo-se acumulando diversos elementos (muito base de terras e micro fragmentos da prpria
rocha) que proporcionam condies para que surjam plantas de pequeno/mdio porte (Figs. 3,
4 e 5).
O conjunto de faltas condiciona substancialmente, ou altera de forma radical, o curso da
gua no interior da rocha, o que conduz, em certos casos, a formao de considerveis
depsitos de lamas no interior e superfcie da rocha. O decaimento biolgico, por aco de
micro-organismos, tambm est presente. No entanto, devido dimenso das reas onde se
verica colonizao biolgica, este problema no se faz sentir de forma grave. Deste modo, a
proposta equacionada levou em linha de conta que, a haver interveno a este nvel, dever
ser sempre pontual.
Rera-se que o diagnstico aqui apresentado, de forma resumida, serve essencialmente
para claricar, de forma concreta e simplicada, como se desenrola toda a concepo
dos tratamentos propostos. Assim, para um melhor conhecimento da tipologia das rochas
presentes, no se dispensa a consulta do relatrio executado pelo LNEC, sendo o responsvel
pelo estudo o Eng. Delgado Rodrigues (Rodrigues, 1999); o relatrio sobre a colonizao
liqunica das rochas da responsabilidade da biloga Paula Romo (Romo, 1999); e outrosdocumentos que contm estudos exaustivos da caracterizao das rochas e do meio onde se
inserem (Fig. 6).
2 O arrastamento de ies originados por
hidrlise dos minerais constituintes da rocha
, muitas vezes, o futuro cimento dos
depsitos que se vericam sobretudo nas
bordas das fracturas, onde h uma maiorpermanncia das guas que circulam na
rocha.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
32/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 31
A aco: exemplos prticosOs trabalhos executados na Rocha-Tipo tiveram o objectivo de colocar em prtica um
conjunto de solues tericas que foram equacionadas aps o diagnstico estar concludo e
preenchem, pelo menos assim pensamos, o essencial deste estudo/interveno.Deste modo, a interveno iniciou-se com a limpeza geral da rocha. Nesta operao foram
removidas terras aglomeradas em cavidades abertas da rocha, vegetao alojada nas
superfcies e alguma vegetao circundante que pelas suas caractersticas dicultava o
acesso dos tcnicos ao local das operaes. Para tal, recorreu-se a ferramenta manual
(utenslios metlicos para eliminar as razes de plantas e musgos, vassouras de cerda suave,
etc.), para desagregar toda a sujidade a remover. Por ltimo, foi efectuada a lavagem das
superfcies onde iriam decorrer os trabalhos. A gua utilizada nesta operao foi gua
destilada e, para que no houvesse choques trmicos, esta foi aplicada sobre a rocha aps
ter estado sob as mesmas condies de temperatura por vrias horas (num mnimo de cinco
horas com exposio solar similar da rocha).
Fechamento das linhas de fractura
Para evitar que a gua circule livremente por dentro da rocha, o que ajuda ao avano das
patologias registadas, necessrio proceder ao fechamento de todas as linhas de fractura que
permitam que tal acontea. Para melhor adequar os tratamentos foi feita uma distino nas
superfcies a tratar. Assim, as superfcies frontais so aquelas onde se encontram as gravuras;
as outras so as laterais (com os respectivos alados direito, esquerdo) e topo (Figs. 7 e 8).
Uma das aces desenvolvidas teve como objectivo criar uma barreira para que no seja
possvel a gua entrar livremente na rocha. Tal implicou um detalhado exame prvio de toda
a circulao de gua na rocha, de modo a evitar que a barreira aplicada funcione de formanegativa permitindo a entrada de gua por outras faces e, consequentemente, aumentando o
tempo de permanncia de gua na rocha (Fig. 9).
Assim, todas as linhas de fractura onde se efectuou um tratamento tiveram sempre em
considerao todos os pontos de entrada de gua. Neste caso, a grande preocupao
recai no topo da rocha que, dadas as suas caractersticas, a zona que se apresenta mais
vulnervel a este problema (Fig. 10). Foram executados, a ttulo exemplicativo, vrios
preenchimentos com diferentes tipos de argamassa, cada um correspondendo a uma
situao distinta. No entanto, como j foi referido, estes preenchimentos foram conjuntamente
estudados com uma outra soluo para evitar que a gua penetrasse na rocha, dados os
imensos desnveis e descontinuidades do seu material constituinte: a execuo, tambm
a ttulo exemplicativo, de uma rampa para evitar a acumulao de gua (Fig. 11). Nesta
operao foram utilizados diversos materiais para testar a sua resposta em situaes reais.
No caso dos preenchimentos de linhas de fractura com grande afastamento (onde existem
faltas considerveis de material), foram usadas argamassas de cal hidrulica (da Lafarge) com
inertes minerais num trao de 1:3. Para evitar volumes excessivos de argamassa, onde se
vericavam grandes espaos abertos, foram estes parcialmente preenchidos com pequenos
fragmentos de pedra de tipologia idntica da rocha (no caso foram recolhidos pequenos
fragmentos na rea circundante). O acabamento foi esponjado e ligeiramente reentrante.
Porque consideramos ser importante que as intervenes, nesta fase, sejam facilmente
detectadas, argamassa foi apenas acrescentada uma pequena quantidade de pigmento. Nas
linhas mais nas foi utilizada uma argamassa base de C30 num trao de 1:4, com inertes degranulometria na (Fig. 12).
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
33/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas32
No topo da rocha executou-se uma rampa para permitir que as guas possam escorrer, sem
acumulaes indesejadas, sobre a rocha. Como se trata de um teste, tentmos executar
esta rampa com mais de uma juno para que fosse possvel vericar a abilidade dasargamassas, principalmente aquelas com ligante acrlico, que no nosso caso o Paraloid B72
(Figs. 13 e 14). Neste ponto temos que ter presente que o produto uma resina termoplstica,
logo sujeita a alteraes fsicas por aco trmica (mais precisamente o calor). Assim, so
de grande a importncia os dados relativos s temperaturas do meio ambiente circundante
s rochas e, mais importante ainda, a temperatura que as rochas atingem superfcie.
Considerando que a resina acrlica utilizada se mantm estvel at aos 70C, averiguar que a
rocha no se sujeita a temperaturas superiores torna-se imprescindvel. Se forem detectadas
temperaturas com valores superiores a 70C (muito improvvel), forosa uma alterao,
querendo manter esta metodologia de interveno, da resina que serve de aglutinante dos
inertes minerais. Contudo, a opo por uma resina acrlica a mais vivel pois a sua utilizao
permite uma posterior remoo sem que haja danos para os suportes. Na data da execuo
desta operao foram fornecidos dados que apontam para uma segura utilizao da referida
resina (Fig. 15). No entanto, temos que ter presente que a execuo da rampa, na sua forma
ideal, dever ter o mnimo de junes. Assim, aconselha-se a utilizao de elementos inteiros
executados com a forma do local onde iro encostar. Nestes casos poder ser reforada a
zona com pequenas barras de bra de vidro, principalmente se os elementos forem muito
grandes (Fig. 16).
Consolidaes
Na rocha 1 no se considerou a hiptese de aplicar quaisquer tipos de consolidante pois
o fechamento de alguns vazios existentes permitir, de algum modo, a estabilizao dosfragmentos adjacentes. Contudo, para ser o mais abrangente possvel no nosso estudo,
e porque a Rocha-Tipo apresentava alguma desagregao das lminas (laminao), num
dos fragmentos que se encontrava no alado direito, foi testado de forma experimental um
consolidante. O produto seleccionado foi o RC 90 da Rhodia pois um silicato de etilo ao qual
foi adicionado uma resina. Esta opo advm das necessidades especcas deste tipo de
rocha que, devido sua estrutura, origina a separao de lminas, por vezes com afastamento
considervel. A metodologia empregue consistiu na aplicao de pachos para que houvesse
um maior tempo de contacto do consolidante com a rocha.
Os resultados desta operao foram examinados aps aproximadamente dois meses (de
28/07 a 7/10 de 2003), tendo sido, no recorrendo a nenhuma anlise especca, satisfatrios:
o aumento da coeso das lminas notrio (Fig. 17).
Neste ponto devemos referir que, observada a necessidade e se for imperativo proceder-se
a uma consolidao dos suportes, esta operao deve ser muito ponderada e precedida
de devido estudo. Este dever contemplar, obrigatoriamente, trs vertentes: uma tendo em
conta o efeito do produto na rocha (alteraes a nvel da resistncia mecnica e possveis e
indesejadas interfaces pedra consolidada/no consolidada); outra, o efeito rocha/produto;
e, crucial, o envelhecimento do produto na rocha (considerando os produtos e subprodutos
formados aquando das reaces de oxidao dos novos materiais e seus efeito na rocha) (Fig.
18).
Movimentao de fragmentosUma das grandes apostas do nosso estudo prendeu-se desde muito cedo com a ideia de
que era possvel ir mais alm do que uma simples interveno de conservao: tnhamos que
fazer o tempo andar para trs. claro que no se pretende o impossvel, mas tentar, na
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
34/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 33
medida dos possveis, procurar solues que garantam uma maior estabilidade das rochas,
e respectivos tratamentos, para o futuro. Deste modo, descrevem-se aqui, de seguida,
os trabalhos que tiveram como objectivo primordial a correco de toppling. O que sepretende com esta operao nivelar as superfcies colocando os fragmentos no seu local
original, ou, pelo menos, o mais aproximado possvel. Esta recolocao dos fragmentos
origina a redistribuio de foras que conduzem a uma maior estabilidade estrutural. Rera-
se ainda que esta operao recai em fragmentos cujo movimento se deu aps a inscrio
de gravuras na rocha (Fig. 19). Logo, a ideia base prende-se no apenas com problemas de
teor meramente tcnico mas sim, tambm, com a diculdade de leitura de alguns painis que
sofrem deste problema.
Como j foi referido, a escolha da Rocha-Tipo visava compreender vrias patologias,
semelhantes rocha 1 mas, tambm, abranger outras necessidades de outras rochas com
gravuras do Parque. Desta forma, para ilustrar a operao da movimentao dos fragmentos
que apresentam toppling, escolhemos aquele que numa situao real apresentaria os maiores
problemas e nos colocaria as maiores diculdades.
Para que se procedesse operao no terreno houve que preparar com muito cuidado todos
os momentos desta aco, pois no s se corria o risco de perda importante da rocha, como
esta operao representa para os operadores riscos efectivos de graves danos fsicos. A
morfologia do terreno associada tipologia da rocha e dimenso e posio dos fragmentos
eram os grandes pontos-chave de todas as diculdades apresentadas. Como se trata de um
estudo, a operao foi efectuada como tal. Ou seja, aqui o que realmente importava era aferir
a viabilidade das aces propostas.
Antes de qualquer aco sobre a rocha, houve a necessidade de delimitar toda a rea onde a
operao iria decorrer. Nesta fase dos trabalhos, a limpeza representa um papel crucial poispermite libertar os fragmentos de todos os agentes que de algum modo possam oferecer
resistncia aquando de quaisquer dos movimentos exigidos (Fig. 20).
Aps a limpeza, que incluiu a remoo de vegetao e grande acumulao de terras, foram
colocados sistemas de elevao com diferenciais mecnicos. Toda a movimentao e
contacto com a rocha foram assegurados com cintas de nylon (minimizando a possibilidade
de agresso rocha). Foram utilizados dois cadernais (um de 1500 kg e outro de 3000 kg)
em simultneo. O sistema foi ancorado a outra rocha, evitando assim a montagem de uma
estrutura metlica. Contudo, quando se tratar de um caso onde haja gravuras (caso real),
exigindo todos os cuidados, no se poder operar sem a montagem de uma estrutura. Como
ser fcil compreender, para evitar que a movimentao se d em contacto com outras partes
da rocha, necessrio que os fragmentos sejam deslocados completamente soltos (Fig. 21).
Como se trata de uma rocha bastante degradada, os fragmentos existentes encontram-se
estabilizados por gravidade, muitas vezes encostados uns aos outros. Assim, para que seja
possvel corrigir todas as deslocaes dos referidos fragmentos necessrio desmontar
parte da rocha ou, quando possvel, prender os fragmentos adjacentes que possam sofrer
deslocaes indesejadas durante a operao (Figs. 22 e 23).
Nesta operao visvel o resultado positivo apenas com a movimentao de dois dos
maiores fragmentos. Contudo, no foi possvel recolocar a superfcie num plano sem
irregularidades, pois seria necessrio, neste caso preciso, mexer na rocha mais atrs (Fig. 24).
O carcter deste tipo de interveno no dispensa que seja sublinhado o facto desta medida
no ser extensiva, devendo apenas ser contemplados os casos onde os fragmentos que seencontrem numa posio de desequilbrio possam vir a sofrer o colapso nal, soltando-se
denitivamente dos seus locais a curto/mdio prazo, e/ou que estejam, efectivamente, a
promover a acelerao da degradao da rocha.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
35/145
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
36/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 35
3 Esta evidncia j tinha sido igualmente
mencionada por Paula Romo (1999: 18).
Finalmente, embora no muito signicativo, importa mencionar o fenmeno da colonizao
biolgica. Como j foi referido, o decaimento biolgico da rocha no um dos problemas de
relevo3 (pelo menos na Canada do Inferno). Mas, existindo, mesmo em pequena quantidade,deve ser eliminado. A simples remoo por aco mecnica no aconselhada porque,
embora por vezes no seja visvel a olho nu, provoca desgaste na superfcie dos suportes.
Este desgaste agravado quanto maior for o grau de adeso dos lquenes ao substrato.
O ideal , pois, operar-se com uma metodologia que utilize aco mecnica e qumica,
aconselhando-se a que a seguir se especica. Primeiramente, e por operador especializado,
remove-se a camada supercial dos lquenes com bisturi (sem nunca existir qualquer contacto
do utenslio com a rocha). Desta forma, as razes (hifas) e todo o aparelho dos lquenes
cam mais susceptveis ao ataque qumico. De seguida aplica-se um biocida ( base de
sais quaternrios de amnio tipo Preventol R80 numa concentrao de 2%) atravs de
pincelagem s, e apenas s, sobre a rea delimitada pelos lquenes.
Defendemos que a losoa para a conservao das gravuras do PAVC deve assentar no
princpio da interveno mnima. Quando, claro est, esse princpio no nos coloque de
braos cruzados, impvidos e serenos, observando o avano da degradao deste patrimnio
de incomensurvel valor.
Embora tenhamos dado especial relevo aos tratamentos de carcter mais interventivo, tal no
signica que estes devam ser aplicados de forma generalizada a todas as situaes. Neste
estudo privilegiaram-se os casos onde as aces, causas e consequncias, da interveno
se revelam mais complexas, a todos os nveis, quer tcnico quer tico. Procurmos, assim,
claricar, desmisticar e justicar todas as aces efectuadas, at o fazer o tempo andarpara trs. Como de um estudo se trata, era pois de grande interesse testar procedimentos,
tcnicas e produtos. Contudo, estamos convictos que conseguimos, de algum modo, dar um
contributo positivo para a resoluo de alguns problemas graves que se vericam nas rochas
com gravuras, nomeadamente o toppling.
Esperamos que este trabalho, que inclui a concepo terica de alguns tratamentos propostos
(no decorrer do estudo previamente efectuado) e a sua execuo, venha a contribuir para que
se desenvolva um plano coerente e ecaz para a salvaguarda das gravuras do PAVC. Estamos
cientes da incipincia de estudos nesta rea, e o que zemos foi, de alguma forma, adaptar
metodologias e conhecimentos especcos, da rea da conservao de pedra, para este
trabalho. Faltaro ainda mais testes sobre outros produtos e solues. De qualquer forma,
este foi o primeiro passo, um incio, ainda que com as limitaes e adversidade prprias de
um trabalho deste gnero. Que no se perca a conscincia da necessidade de intervir para a
salvaguarda deste patrimnio. Nem a vontade, e muito menos a coragem.
Concluses
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
37/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas36
fguras
g. 1 A rocha-modelo, vista geral.
Foto: Compsito.
g. 2 Pormenor do toppling.
Foto: Compsito.
g. 3 Uma pequena or alojada no interior
da Rocha1 (dim. aprx. 5cm).
Foto: Compsito.
g. 4 Pequenas plantas, tipo musgos, no
interior da Rocha1 (dim. do crculo aprx.
6cm). Foto: Compsito.
g. 5 Depsitos de lama nos interstcios
da rocha, ao longo das linhas de fractura
associadas a perdas de material.
Foto: Compsito.
g. 6 Colonizao biolgica. No que diz
respeito aos microrganismos observa-se,
maioritariamente, a presena de lquenes.
Foto: Compsito.
g. 7 Desenho da parte frontal da Rocha1.
So visveis os inmeros espaos vazios
que carecem de tratamento. Fonte: Baptista,
1999, p. 53.
g. 8 Esquematizao da aplicao de
argamassas superfcie. A vermelho
esto assinaladas as argamassas que
no carecem de pigmentao especial; a
verde esto assinaladas aquelas que, se
situarem no meio de gravuras, devero
ser cuidadosamente pigmentadas. Foto:
Compsito.
1 2 3
4 5
6
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
38/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 37
g. 9 Argamassas aplicadas sobre a
superfcie frontal. Mais esquerda, na linha
de fractura mais larga e mais profunda
foram utilizadas argamassas base de cal
hidrulica sem pigmentao. Nas linhas
mais nas foi utilizada argamassa de C30,
com alguma correco cromtica (no se
pretende nesta fase disfarar demasiado a
interveno). Foto: Compsito.
g. 10 bem visvel o aspecto fragmentrio
em que se encontra a Rocha-Tipo. Esta
caracterstica promove, para alm da
acumulao de terras, a entrada de gua
para o interior da rocha. Esta imagem foi
obtida aps a limpeza das superfcies.Foto: Compsito.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
39/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas38
g. 11 Esquema das junes entre os novos
elementos e a rocha. Foto: Lus Machado.
g. 12 Rampa executada a ttulo
exemplicativo. A gua tomar um outro
curso e no permanecer na rocha.
Curiosamente, observa-se a presena de um
dejecto animal (provavelmente ave de algum
porte). Neste caso, singularmente, ajuda a
perceber o novo rumo que a gua tomar na
superfcie da rocha. Foto: Compsito.
g. 13 Pormenor da rampa executada. Em A
est assinalada uma zona onde se utilizou a
resina com inertes minerais. Em B assinala-
se uma argamassa base de C30. Foto:
Compsito.
g. 14 A forma como a parte da frente da
rampa se integrou no conjunto. Utilizando
material da mesma tipologia consegue-
se uma harmonia do conjunto. Foto:
Compsito.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
40/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 39
g. 15 Dados fornecidos pelo PAVC.
Aos registos fornecidos, para facilidade
de leitura, foram retirados os valores da
humidade relativa (HR). Como se pode
observar, as temperaturas ambiente (TMP) e
superfcie das duas rochas onde esto os
sensores (TMA e TMB), no ultrapassam os
valores de 5C (min.) e 45C (Max.).
g. 16 Forma esquemtica da colocao
de barras de suporte aquando da utilizao
de elementos pesados para a execuo de
rampas inteiras. Desta forma, colocando
pequenas barras de bra de vidro pode ser
o excesso de peso, e consequente exigncia
mecnica, resolvida.
Foto e diagrama: Lus Machado.
g. 17 Esquema da laminao que ocorre
nas rochas xistosas. Se o espao entre asdiversas lminas for muito grande (acima
de 0,1mm) um silicato de etilo normal no
ser funcional. Diagrama: Lus Machado.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
41/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas40
g. 18 Zona onde foi testado o produto
consolidante (alado direito).
Foto: Lus Machado.
g. 19 Distribuio de foras consoante a
inclinao dos fragmentos.
Foto e diagrama: Lus Machado.
g. 20 Aspecto geral da Rocha-Tipo antes
da interveno. O toppling que esta rocha
apresenta um dos maiores problemas da
sua estabilidade. Assinala-se a zona onde foi
decidido intervir. Foto: Compsito.
g. 21 A rocha em contraste. Esta
visualizao fornece uma clara ideia do
avanado estado de degradao da rocha.
Importante a percepo do que est a
ocorrer: o deslocamento e a instabilidade
do conjunto, com grande contribuio de
dois grandes fragmentos. A e B: inclinao
e o sentido do movimento dos fragmentos.
a: superfcie da rocha. Foto e diagrama:Compsito.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
42/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 41
g. 22 Sistema utilizado para a
movimentao de fragmentos. Aqui
perceptvel a necessidade de ancorar outros
elementos durante a operao que se faz
constituir de vrias fases. Foto: Compsito.
g. 23 Esquematizao de movimentos base
para o reposicionamento de fragmentos.
As setas largas indicam o desmonte prvio
dos elementos envolvidos. As setas nas
indicam o sentido do movimento posterior.
Foto e diagrama: Lus Machado.
g. 24 A rocha, de perl, aps interveno
de movimentao dos fragmentos.
Foto: Compsito.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
43/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas42
BAPTISTA, A.M. (1999) No Tempo sem Tempo. A Arte dos Caadores Paleolticos do Vale do
Ca. Vila Nova de Foz Ca: Parque Arqueolgico do Vale do Ca.
COSTA, J. B. (1993) Estudo e Classifcao das Rochas por Exame Macroscpico. Lisboa:
Fundao Calouste Gulbenkian.
RIBEIRO, M.L. (2001) Notcia Explicativa da Carta Geolgica Simplifcada do Parque
Arqueolgico do Vale do Ca. Vila Nova de Foz Ca: Parque Arqueolgico do Vale do Ca.
RODRIGUES, J. D. (1999) Conservao da Arte Rupestre do Parque Arqueolgico do Vale do
Ca. Relatrio 241/99 Gero, LNEC. [Trabalho realizado para o Parque Arqueolgico do Vale
do Ca].
ROMO, P. M. S. (1999) Colonizao liqunica nas rochas xistosas do Parque Arqueolgico
do Vale do Ca: relatrio de deslocao. [Trabalho realizado para o Parque Arqueolgico do
Vale do Ca, policopiado].
ZILHO, J., coord. (1997) Arte Rupestre e Pr-histria do Vale do Ca: Trabalhos de 1995-
1996. Lisboa: Ministrio da Cultura.
bibliografa
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
44/145
a arte da conservao tcnicas e mtodos de conservao em arte rupestre | vol. 02 43
acta 3Estudo prvio de
conservao dasrochas gravadasno ncleo dearte rupestre daPenascosa - Parque
Arqueolgico doVale do Ca (PAVC)
Ftima Llera, Marco Marques, Madalena
Rodrigues e Carlos Catita.
In Situ, Conservao de Bens Culturais,
Lda.; [email protected]
Prefcio
Na sequncia de uma consulta realizada In Situ, Conservao de Bens Culturais, Lda, pelo
Parque Arqueolgico do Vale do Ca (PAVC), a empresa props-se realizar um estudo deavaliao do estado de conservao, assim como, desenvolver uma interveno piloto para a
denio e implementao de metodologias de conservao para os aoramentos rochosos
gravados do Ncleo de Arte Rupestre da Penascosa. Os trabalhos decorreram entre os meses
de Abril de 2004 e Abril de 2005.
Ao avaliar os aoramentos objecto de estudo e em simultneo preparar uma interveno
piloto de conservao piloto numa Rocha Tipo, estudando e testando diversos materiais
comummente utilizados para as actividades de conservao e restauro, o grupo de trabalho
deparou-se com uma diculdade na denio da metodologia de interveno. O que
conservar? Onde estabilizar? Seria necessrio estabilizar? Quais os factores de instabilizao?
O grupo de trabalho foi levado a reconhecer que, para a denio de uma interveno de
conservao ou consolidao das rochas gravadas, seria primeiro necessrio realizar um
estudo geotcnico para a avaliao da estabilidade dos aoramentos, sendo necessrio
tambm estudar e avaliar o comportamento da encosta qual os aoramentos pertencem.
Desta forma, o grupo tcnico desenvolveu um estudo para a avaliao da estabilidade. No
entanto, no sendo suciente, o mesmo grupo determinou que aps a avaliao, e de forma
a comprovar ao longo de um tempo determinado os resultados obtidos, seria necessrio
implementar um programa de monitorizao. Determinou-se uma metodologia para a
monitorizao, implementando-se uma primeira aco para a obteno de leituras.
de referir que as actividades desenvolvidas, com uma sequncia lgica de programao,
nem sempre foram lineares. A empresa, tendo sido contratada para a elaborao de uma
proposta de conservao e o desenvolvimento de uma interveno piloto, considerou que oconhecimento de que dispunha, sobre o objecto em estudo, no era suciente para poder
compreender a evoluo de todos os mecanismos que afectam o estado de conservao
dos aoramentos, e em consequncia, dos painis. Sendo assim, no foi possvel programar
as actividades para a sequncia lgica; estudar para conhecer, conhecer e actuar, ou seja;
diagnosticar, monitorizar e implementar aces de conservao.
IntroduoAs visitas ao Ncleo de Arte Rupestre da Penascosa iniciaram-se em Abril de 2004 de forma a
identicar e seleccionar os aoramentos objecto do estudo. Para isso, a IN SITU contou com
a colaborao dos tcnicos do PAVC para a denio dos aoramentos de maior relevncia
para o Parque, permitindo assim realizar uma escolha com base em critrios de seleco pr-
denidos i.e.: aoramentos com painis de gravuras importantes, que se encontrassem j em
estudo e que fossem de fcil acessibilidade.
De um conjunto muito diverso de aoramentos, a IN SITU determinou as rochas
representativas dos fenmenos de instabilizao e do padro de alterao das rochas do
Ncleo. Com efeito, procedeu-se realizao do estudo sobre as rochas seleccionadas,
tendo como um dos objectivos que estas fossem representativas das condies a que o
Ncleo da Penascosa est sujeito. Por exemplo, considerou-se o enquadramento das rochas
seleccionadas no espao do Ncleo e principalmente, a sua exposio aos ciclos de cheias
Numa fase inicial do projecto, seleccionaram-se trs rochas para estudo do estado de
conservao; duas rochas gravadas (Rocha 3 e Rocha 5, segundo a designao do PAVC)e uma rocha tipo sem gravuras (designada por Tipo 2). Na Rocha Tipo 2 identicava-se uma
disposio similar s Rochas 3 e 5, quanto sua estabilidade, assim como, o mesmo padro
de alterao, na qual se poderiam desenvolver aces para a interveno piloto.
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
45/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas44
No decurso do trabalho, acrescentaram-se duas rochas ao estudo, uma rocha acessvel para
o desenvolvimento dos trabalhos de conservao (designada por Rocha Tipo) e uma Rocha
Monitorizada com sondas para o estudo das variaes de temperatura.O trabalho desenvolveu-se em trs frentes; no local objecto de estudo (Ncleo de Arte
Rupestre da Penascosa), nas instalaes da IN SITU e em laboratrio (Laboratrio de
Mineralogia e Petrologia do Instituto Superior Tcnico).
A constituio de uma equipa interdisciplinar foi fundamental, j que permitiu uma abordagem
abrangente na leitura e na compreenso do ncleo em estudo. Estiveram envolvidos neste
trabalho tcnicos de diversas reas, que desenvolveram um projecto orientado para a
conservao de patrimnio natural e cultural.
Identicadas as Rochas, procedeu-se ao seu enquadramento em termos culturais
(resenha histrica da ocupao humana do vale do Ca) e ambientais (enquadramentos
geomorfolgico, climtico, hidrolgico, geolgico/ssmico e materiais ocorrentes).
Efectuou-se a caracterizao do material rochoso dos aoramentos atravs da observao
macroscpica, assim como, da observao ao microscpio das amostras coligidas para a
caracterizao mineralgica e petrogrca das rochas.
Efectuou-se igualmente a avaliao do estado de conservao do material rochoso que
constitui o suporte das gravuras nos aoramentos estudados do Ncleo da Penascosa, quer
em termos de estabilidade dos blocos que compartimentam o macio, quer em termos de
alterao fsica e qumica das superfcies ptreas.
Procedeu-se a uma avaliao pormenorizada da estabilidade da Rocha 5, desenvolvendo um
estudo geotcnico enquadrado no estado de conservao do Ncleo. Desta forma, aps os
resultados da avaliao da estabilidade, desenvolveu-se e implementou-se uma metodologia
para um programa de monitorizao dos aoramentos.Em simultneo, efectuou-se uma interveno piloto para a implementao de metodologias
para a conservao dos aoramentos rochosos, sendo igualmente estudada a adequao
de alguns consumveis (resinas epoxdicas, inertes e ligantes) s condies ambientais
autctones do Vale do Ca.
Caracterizao do Ncleo de
Arte Rupestre da Penascosa
1. Enquadramento geral
O PAVC insere-se no Nordeste de Portugal, na regio duriense. Atente-se que o Rio Ca
um auente do Rio Douro. Assim, a rea do PAVC, que se estende algumas dezenas de km
ao longo das margens do primeiro, evidencia as condies ambientais, scio-econmicas e
culturais caractersticas desta regio. Assumem uma importncia fundamental:
1. A geomorfologia, nomeadamente a sua localizao numa superfcie planltica da zona
setentrional da meseta ibrica, entrecortada por vales encaixados concomitantes com a
existncia de uma rede de drenagem vincada;
2. As formaes predominantemente xistosas;
3. Um clima temperado continental de caractersticas mediterrnicas, das quais se salientam
um clima seco, quente no Vero e com baixa pluviosidade anual (INMG, 1991).;
4. Uma ocupao humana fundamentalmente sustentada pela pastorcia e por uma agricultura
assente essencialmente no cultivo da vinha, oliveira e amendoeira (Fernandes, 2004);
5. A existncia de relevo acidentado com vertentes que ladeiam o rio, por vezes abruptas e de
zonas de acessibilidade difcil que dicultaram sobremaneira a ocupao humana do vale doCa, mas que contriburam para que os painis insculturados preservassem a sua integridade
at actualidade;
O PAVC alberga 28 ncleos inventariados de arte rupestre, penetrando a arte paleoltica mais
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
46/145
-
8/14/2019 III CONGRESSO ARQ TRAS-OS-MONTES Volume 2
47/145
III congresso de arqueologia trs-os-montes, alto douro e beira interior | actas46
baixa a moderada intensidade, cando o seu carcter sedimentar registado na laminao
vincada que apresenta. Devem ainda salientar-se entre as diversas famlias de fracturas que
cortam este macio, as de inclinao subvertical, de direco N/S e N20E (respectivamenteN4E e N24E, corrigida a declinao magntica) que geraram as superfcies utilizadas, como
s