Igreja: crescimento integral

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Igreja: Crescimento Integral Caio Fabio CAPTULO I O QUE SER SAL DA TERRA? "Vs sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser inspido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta seno para, lanado fora, ser pisado pelos homens." (Mateus 5:13) Nos dias de Jesus, todos os grupos religiosos de Israel viviam como sal dentro do saleiro. Alguns deles no mereciam nem ser chamados de sal, porque tinham perdido completamente o sabor. A santidade, existencialmente, comea dentro, no interior do indivduo, mas tem sua representao na secularidade, no mundo. Os contedos cristos tem que ser colocados de maneira que a sociedade humana os perceba, a fim de que o desejo de Jesus se cumpra; para que, vendo o carter da Igreja e suas aes, o nome do Pai, que est nos cus, seja glorificado. Isto ver a reproduo do "jeito" de Deus no mundo, nos Seus filhos que, semelhana do Pai, so bondosos, generosos, sensveis para amar e perdoar, humanos, intensamente apaixonados pela obra, comprometidos com a misso, conscientes do seu tempo e da sua hora e da responsabilidade para com Deus e para com o mundo, respondendo a este com o mesmo amor com o qual Deus reage todos os dias, fazendo vir sol sobre maus e bons e chuva sobre justos e injustos: "(...) porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, vir chuvas sobre justos e injustos." (Mateus 5:45) Com isso Jesus estava querendo dizer: " Vivendo assim, afeta-se de tal modo a sociedade humana, constrangendo-a de maneira to profunda, impactando a 'conscincia' do planeta, que se fora ainda que sem palavras, sem alardes, sem presses, sem manipulaes e sem tirania , o mundo, a despeito da vontade e da conscincia deste. Deste modo, fora-se o planeta a glorificar o vosso Pai que est nos cus." No entanto, nos tempos de Jesus, no havia essa visualizao de se ter um grupo humano vivendo em nome de Deus as implicaes de uma f que produzisse no corao da sociedade humana essa resposta de perplexidade, de xtase diante da verificao da presena de Deus na vida de Seus filhos. Ao contrrio, havia grandes grupos religiosos vivendo, cada um a seu modo, uma vida seca, estril, oca e concomitantemente alienada do planeta, cheios de motivaes religiosas e vazios de Deus. E quase sempre as motivaes religiosas daqueles grupos os impeliam a uma relao de distanciamento do resto da vida em sociedade, por razes as mais distintas. Havia, por exemplo, o grupo dos essnios, os quais viviam s margens do Mar Morto, afirmando, da maneira mais maniquesta possvel, a diviso entre o bem e o mal no e

mundo, alm de acharem que eram a semente dos filhos da luz do planeta, e que o resto da humanidade estava fadada condenao e ao juzo. Por isso, o movimento dos essnios foi de retrao no apenas fsica e geogrfica, mas de alienao espiritual, mental, quase que total, acerca do que acontecia com o resto da histria humana, especialmente com Israel. Havia tambm o grupo dos fariseus, os quais no viviam separados, mas que assumiram para si uma "superioridade religiosa", os quais se concebiam como o grupo religioso mais acentuadamente preocupado com as obrigaes e realizaes dos caprichos divinos na Terra. Caram num literalismo total relativo Palavra de Deus. Se Deus dizia: " Guarda a Palavra na tua cabea." Eles amarravam uma caixinha de couro na cabea com um pedacinho da Lei dentro, e andavam com ela na testa. Se Deus dizia: "Pe a Minha Palavra no teu brao direito." Eles amarravam do mesmo modo caixas ao brao contendo pores da Escritura, objetivando dar uma materialidade total e absoluta, numa inteno de cumprir a Palavra de Deus, literalmente. Se se dissesse: "Pe-na nos umbrais da porta da tua casa." Eles faziam a mesma coisa. Viviam num literalismo absoluto, no cumprimento da Palavra. O que Jesus denunciava nos fariseus era essa exterioridade sem nenhuma consequncia prtica, tal como a Palavra que carregavam na testa como fetiche divino, mas que no era trazida no corao, no humanizando a vida, no a tornando mais generosa, mais obediente; no a desafiando a uma proximidade maior de Deus, da Sua Palavra e da necessidade do prximo. Um outro grupo era o formado pelos Zelotes que assim se chamavam porque se achavam os portadores da espada da justia divina no planeta. Segundo eles prprios, eram cheios de zelo para se fazer justia, seja ela poltica ou social. Tambm se alienavam do resto do mundo, no necessariamente por razes religiosas em funo de cerimoniais, liturgias ou pelas mesmas razes do legalismo dos fariseus ou da alienao maniquesta dos essnios, alienavam-se do resto do mundo pelo simples fato de que eram politicamente obcecados, puristas, detalhistas, cheios de juzo, de preconceitos, dominados pela idia de construo de uma teocracia na terra, a qual fosse constituda por uma sociedade que preconizasse os valores vividos por eles, exercendo o poder, em nome de Deus. Por isso, eram alienados do resto do planeta, vivendo sua prpria causa, suas prprias discusses, alimentados dentro do seu prprio mundinho, fechados para as grandes demandas do resto da sociedade. Outro grupo contemporneo de Jesus era o dos saduceus, cuja maioria era formada de sacerdotes, portanto, trabalhando dentro do templo, oficiando, diante de Deus, todos os

sacrifcios e todas as cerimnias. E, justamente por esta razo, presos dentro dum claustro litrgico que no se comunica com as demais dimenses da vida. Surge Jesus, num ambiente religioso como este, e fala no necessariamente para nenhum daqueles grupos especficos, no Se dirigindo a uma platia formada por essnios, fariseus, zelotes e saduceus, mas a uma platia formada por gente que no tem "pedigree", que no carrega "grifes" religiosas, ou seja, a um grupo formado por pessoas do povo: pescadores, fiscais de impostos, prostitutas sensibilizadas, pais de famlia curiosos, mes esperanosas, gente simples que vem de todas as partes; gente doente, angustiada, possessa, oprimida; gente sadia, gente alucinada, gente culpada, outras nem tanto; enfim, gente de todo tipo. Jesus olha para aquelas pessoas, vendo a semente de um novo tempo e de uma nova comunidade; vendo nelas o que ningum mais v; enxergando nelas um potencial que s Deus consegue vislumbrar na pessoa humana. Jesus olha para aquelas pessoas, cuja maioria no tinha nome, estirpe, precedidos apenas pelos primeiros discpulos que j naquela hora estavam se transformando em apstolos; os outros eram uma massa annima. E Jesus lhes diz, com toda esperana de Deus falando ao homem; com toda a vontade Divina de ver a Sua Palavra Se materializar: "Vs sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser inspido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta seno para, lanado fora, ser pisado pelos homens." (Mateus 5:13) Quando se observam os outros evangelhos e de Jesus, parece que, at aquele momento, no consciente da possibilidade de se viver fantasticamente desafiadora e revolucionria. disse isso. Olhar para um grupo de excludos, e dizer-lhes: "Vs sois o sal da terra". Em outras palavras, Jesus estava lhes dizendo: " Vou transformar vocs naquilo que vai dar gosto ao mundo. Vou jogar uma 'pitada' de Deus neste planeta. E conto com vocs para serem esse tempero da graa divina na Terra." COMO SER O SAL DA TERRA A questo : o que que Jesus estava tentando ensinar com essa mensagem, com essa figura do sal, o qual no existe para estar dentro do saleiro; que no existe para estar protegido, guardado, mas que sal da terra, e no sal dentro do sal; sendo sal dentro de um contexto totalmente diferente do seu prprio contedo de sal. O que Jesus est querendo dizer quando diz aos discpulos: " Vocs vo viver em meio a diferenas, a coisas que lhes so estranhas. Vou jog-los dentro de algo que radicalmente o oposto de vocs. Vocs no esto no mundo para procurar uniformidade para as suas prprias vidas. Ao os movimentos havia ningum uma vida to Ningum jamais de indigentes

contrrio, vocs vo viver num ambiente avesso a vocs, para que possam alter-lo."

essencialmente

O que Jesus estava querendo dizer com isso? Pelo menos trs coisas. A primeira acerca da mensagem existencial que nos trazida por Jesus. Quando Ele diz "Vs sois o sal da terra", Jesus est afirmando um contedo existencial extremamente diferente. Ele quer dizer: " Vocs vo ser o elemento dando gosto Terra." diferenciador deste planeta,

A Terra a que Ele est-se referindo no a terra arvel e cultivvel na qual se pode plantar uma semente; mas a sociedade humana. Segundo Jesus, viver neste mundo no tem sabor, amargo; a existncia inspida e sem prazer. O que Jesus est dizendo que a Sua expectativa, quanto nossa existncia no mundo, a mais prazerosa possvel. Ningum fala de sal, de gosto, de tempero, sem falar de uma existncia com sabor, alegria, incitamento, desafio e sem aventura. Quando Jesus nos diz que somos o sal da terra, Ele nos afirma que a nossa vida tem que ser a mais saborosamente fantstica que esse mundo j viu, uma vez que ela tem de ter, no seu cerne, um contedo de gosto para o desgosto da terra. Ele nos diz ainda que devemos ser o paladar de Deus nessa terra inspida, sendo o elemento que traz sabor a uma existncia inteiramente destituda de sabor. Agora, o que isso tem a ver com o projeto da existncia da Igreja no planeta? s vezes, vejo muitos projetos eclesisticos existindo para tirar o sabor, estragar o prazer e arruinar a vida. Onde h gosto, ns o tiramos. Onde existe a esperana, passamos a pregar o pessimismo. A segunda coisa que Ele est dizendo quando afirma que somos o sal da terra que h uma dimenso tica nessa vocao. Se por um lado levamos sabor ao mundo, levando-lhe um contedo existencial radicalmente diferente daquele que o mundo tem em si mesmo, por outro lado no somos iguais ao mundo. Alis, a nossa utilidade, diz Jesus, est em que mantenhamos dentro da Terra, dentro da sociedade humana, enquanto damos sabor e gosto, a diferena. "Vs sois o sal da terra". Ns somos o sal, a terra a terra. Quando o sal fica com gosto de terra, tornando-se inspido, vira monturo, no sendo possvel diferenci-lo de um monte qualquer. Para ser sal, tendo sentido e significao, torna-se necessrio manter o contedo imaculado. Destarte, a diferena no vai ser estabelecida e medida por critrios visveis, como tamanho de cabelo, o uso ou no de batom, o porte ou no de jias, o ter ou no ter... A diferena no esta. A diferena tica, a qual se relaciona com as demais dimenses da vida, comeando com as de natureza mais privada e indo para aquelas mais pblicas. No se est falando, aqui, de legalismos ou de literalismos; porm da manuteno do esprito de justia, de verdade, de bondade, que se traduz em com-portamento bondoso, que jamais se torna frouxo, e de uma liberalidade humana que jamais se torna libertina, mas que mantm um contedo de verdade, a qual no se transforma num "justicismo" executor, mas de uma verdade

vivida em amor. Essa dimenso diferenciadora, a qual se carrega, juntamente com Jesus, para dentro do mundo. Isso no pode ser negociado; isso no pode ser alterado. S quando se mantm isso que, mesmo nos vestindo como os outros cidados nossa volta; ainda que fazendo parte de uma mesma comunidade lingustica, portanto, falando uma mesma lngua; embora sendo pessoas vivendo uma mesma poca que outras, somos radicalmente diferentes da gerao da qual fazemos parte. A terceira coisa que Jesus diz quando afirma que somos o sal da terra algo relativo natureza social. A primeira dimenso existencial (leva-se gosto ao desgosto do planeta). A segunda dimenso de natureza tica (-ser sal na terra, e no da terra; -ser sal no dentro do saleiro, mas na terra, fazendo-se parte de algo que totalmente diferente da nossa natureza intrnseca, mantendo a diferena, porm, conservando o contedo). A terceira diferena tem uma dimenso social. Jesus no diz: " Voc o sal da terra." Mas: "Vs sois o sal da terra". Isso plural, comunitrio, coletivo, social. No uma andorinha sozinha trazendo o vero, porm uma revoada de pssaros esperanosos com uma nova poca, com uma nova estao. No um cavaleiro solitrio com a inteno quixotesca de transformar o mundo, no entanto algum inserido numa comunidade de f, olhando para fora e dizendo: " Voc, eu, ns enfim, vamos viver como o sal da terra." Isso, portanto, conquanto no iniba nossos sonhos pessoais, nossas potencialidades individuais e nossos desejos mais ntimos, tal dimenso nos compele a rever a nossa vida, a nossa existncia e o nosso projeto pessoal como tendo necessariamente que fazer parte de algo maior do que ns, que o nosso prximo. No uma questo de ser o sal da terra, mas de ns sermos o sal da terra, em nome de Jesus. METFORAS DO SAL Jesus usou a mesma idia do sal fora do saleiro, por meio de outros elementos contagiantes, quais sejam: o gro de mostarda e o fermento, elementos que penetram e que atingem outras realidades para alm de si mesmos em alguns outros contextos, no Novo Testamento. Vejamos Mateus 13:31-32: "Outra parbola lhes props, dizendo: O reino dos cus semelhante a um gro de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo; o qual , na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, maior do que as hortalias, e se faz rvore, de modo que as aves do cu vm aninhar-se nos seus ramos."

Nesta parbola a do gro de mostarda , Jesus usa uma outra linguagem, uma outra figura, um novo elemento, uma outra metfora, no entanto trazendo a mesma idia de que o reino de Deus contagiante, alterando o que est sua volta, penetrando nos am-bientes e situaes exteriores, modificando-os. Interessante neste texto que h uma dinmica nele, a qual de dentro para fora: "(...) O reino dos cus semelhante a um gro de mostarda". O Reino dos Cus assemelhado a uma semente, a qual plantada na terra, enterrada, portanto; germinando, sai da terra, vindo de dentro para fora. Ele o Reino dos Cus aparece do lado de fora, porm vindo de contedos essenciais interiores; originando-se do smen, da semente, da essncia de vida. O segundo elemento de que Jesus lana mo: o fermento enfocando a mesma idia, encontra-se em Mateus 13:33: ,

"Disse-lhes outra parbola: O reino dos cus semelhante ao fermento que uma mulher tomou e escondeu em trs medidas de farinha, at ficar tudo levedado." Aqui tambm h uma dinmica: comea em um ponto, indo para outro, ou seja, de contedos afirmados que crescem, impregnando e invadindo outros mundos, outros ambientes. Parece que ao afirmar imagens desse tipo Jesus est afirmando, sobretudo, um princpio do Reino de Deus, o qual s tem sua eficcia, sua razo de ser se puder manter tal dinmica que vem de dentro para fora, de um ponto para o outro, ou esta de manter a diferena enquanto est presente, dando gosto onde h desgosto, proporcionando vida onde h morte e desesperana, num processo sucessivo de relaes comunitrias impregnadas pela conscincia da presena de Deus na vida daqueles que chamam ao Pai de Jesus Cristo de "Meu Pai". DO LADO DE FORA DO SALEIRO Jesus viveu os Seus trs anos de ministrio como sal fora do saleiro. E quando Ele nos diz "(...) Vs sois o sal da terra", Jesus nos est revelando essa dinmica que consiste em afirmar que, primeiramente, alguma coisa , e, depois que , passa a ser efetivamente dentro de um outro contedo. Quando vemos os trs anos do Seu ministrio, constatamos as aes claras de Deus agindo, dando o Seu gosto ao desgosto da vida. Primeiramente, observamos os cenrios da liberdade de Jesus para viver o gosto de Deus no desgosto da terra. Vale dizer que todos esses cenrios so contrrios, avessos ao confinamento da religio. na sociedade, e no mundo, onde a vida mais acontece com toda a sua intensidade que Jesus se encontra. na vida em sociedade que Jesus marca o Seu ponto, fazendo dela o Seu "point". Os "points" dEle no so lugares tidos e consagrados como religiosos. So apenas "points". Um dos lugares mais frequentados por Jesus

conforme lemos nos Evangelhos foi a praia (Mateus 13:3; Marcos 4:1; Lucas 5:3; Joo 21:4). Obviamente que a praia dos tempos de Jesus no se compara com as praias dos dias de hoje, no sendo Jesus um "rato de praia" (embora eu, particularmente, tenha gostado muito de uma entrevista apresentada pelo Pare & Pense, em que o surfista Joj de Oliveira, no quadro Atletas de Cristo, sendo entrevistado pelo Alex Dias Ribeiro, lhe disse que Jesus foi o primeiro surfista da terra, porque andou por sobre as guas). A praia representa um contedo de liberdade, de amplitude; uma geografia sem confinamento, livre, sem fronteiras, pela qual as pessoas passam sem impedimentos. Essa a praia, a beira-mar da Galilia dos gentios, em Israel. A praia, para Jesus, constitui-se num dos cenrios prediletos do Seu mover. Outra expresso frequente que encontramos nos Evangelhos, com relao a Jesus, "a caminho" (Mateus 20:17; Marcos 8:27; Lucas 10:38; Joo 12:12), mostrando que Ele vive a glria de Deus, o amor pelo Pai, a graa divina e a misericrdia eterna do Criador de todos os seres com a liberdade de quem esbanja tudo isso pelo caminho. Jesus tambm frequentava vrios banquetes, pois era neles que encontrava os pecadores que precisavam ser salvos: "Ento lhe ofereceu Levi um grande banquete em sua casa; e numerosos publicanos e outros estavam com eles mesa. Os fariseus e seus escribas murmuravam contra os discpulos de Jesus, perguntando: Por que comeis e bebeis com os publicanos e pecadores? Respondeu-lhes Jesus: Os sos no precisam de mdico, e, sim, os doentes. No vim chamar justos, e, sim, pecadores ao arrependimento." (Lucas 5:29-32) Jesus frequentava os cenrios do dia-a-dia, como o submundo pelo qual Ele tambm passou. Um bom exemplo disso foi a "entrada" dele na vida dos gadarenos pagos, criadores de porcos e desprezados pelos judeus. (Marcos 5:1-17). Jesus pregava em praa pblica, no comrcio, na casa das pessoas. Por exemplo, na casa de Zaqueu (Lucas 19:5), na casa de Jairo (Lucas 8:41), em casa de fariseu (Lucas 7:36). Jesus tambm pregava no campo, local onde Ele faz comparaes marotas: " Olhem! Vocs querem saber como Deus ? Olhem os lrios do campo. Salomo, coitado, era um pobreto diante da riqueza com que Deus veste esses lrios!... A glria de Salomo plida diante desses lrios. Olhem para eles. Vejam que extravagncia Divina". essa mensagem que sai da terra, que sai do campo, que sai da gua, que sai da mesa, que sai da montanha, local onde Ele se recolhe, onde Ele ora, onde Ele ensina um grupo menor; lugar onde Ele faz o sol se ofuscar, se ocultar diante do Seu rosto reluzente, quando da transfigurao (Mateus 17:2). Em outras palavras, em relao aos cenrios do evangelho nos quais Jesus atuou, ns O vemos realizando, na prtica, o que Joo disse acerca da Nova Jerusalm, quando a vislumbrou dizendo que nela encontrou rio cristalino (Apocalipse 22:1), praa (Apocalipse 21:21); no entanto, no foi encontrado ali santurio:

"Nela no vi santurio..." (Apocalipse 21:22a) Jesus, ento, j vive uma "avant-premire" da Nova Jerusalm, de modo que aonde Ele vai, a glria de Deus vai junto; Ele vai a um cemitrio, a uma tumba e a ressurreio acontece; Ele vai a um casamento e a gua transforma-se em vinho; enfim, aonde Ele vai, a glria do Cordeiro est presente. Naqueles trs anos do ministrio de Jesus, no apenas vemos a atuao de algum que vive na prtica o compromisso de dar gosto ao desgosto do mundo, nos cenrios os mais diversificados, mas tambm a manifestao disso nos relacionamentos construdos por Ele nos evangelhos. Ser sal da Terra pode significar ser pastor de prostitutas. Ser sal da terra pode significar tornar-se amigo de fiscais corruptos, embora isto no signifique cumplicidade naquilo que praticam, mas, sim, ter um corao aberto para eles, no fechando-lhes a porta. Ser sal da terra significa dar gosto vida desgostosa dos lamuriantes, dos oprimidos, dos doentes, dos estivadores que carregam cargas pesadas tanto fsicas, como emocionais e espirituais, aos quais Jesus diz: "Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vs o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de corao; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo suave e o meu fardo leve." (Mateus 11:28-30) Em outras palavras, Jesus est dizendo: " Vinde a mim, vs que sois estivadores do diabo. Parem de carregar essa carga, porque o meu jugo e suave e o meu fardo leve." Ser sal da terra, nesse contexto, significa ser gente para os desumanizados; significa trazer esperana de Deus queles cujos horizontes so limitados. H pessoas que vivem uma vida to limitada que no conseguem perceber que um dia nasceram e que um dia vo morrer. O mnimo que um indivduo pode ter de tirocnio histrico poder dizer: " Sei que um dia nasci, e que um dia morrerei." Mas, h pessoas que nem lembram que nasceram e que um dia vo morrer. At que vem Jesus invadindo tais vidas, ajudando-as a olhar para trs e dizer: " Eu nasci para um propsito." Jesus vem, ajudando-as a olhar para a morte e dizer como o apstolo Paulo: "(...) Tragada foi 15:54b) a morte pela vitria." (I Corntios

De modo que tais pessoas podem dizer:

" Eu no sou eterno, mas tenho eterno, mas estou imortalmente Jesus."

vida eterna. Eu no sou ligado vida do Senhor

Jesus vem ao mundo para se relacionar com pessoas desse tipo: prostitutas, pessoas corruptas e corrompidas, doentes, funcionrios pblicos, militares, religiosos e irreligiosos. Para Jesus, "o que cair na rede peixe". por isso que Ele conta a parbola que diz: "O reino de Deus ainda semelhante a uma rede que, lanada ao mar, recolhe peixes de toda espcie." (Mateus 13:47) Atente para a parte final do versculo: "(...) recolhe peixes de toda espcie." Jesus acaba com o "nazismo religioso", com a sele-tividade e com a segregao religiosa, recolhendo todos os tipos de pessoas. "E quando j est cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para os cestos, e os ruins deitam fora. Assim ser na consumao do sculo: Sairo os anjos e separaro os maus dentre os justos". (Mateus 13:48-49) Para Jesus, "caiu na rede peixe". A terceira coisa que vemos na vida de Jesus nos Seus trs anos de ministrio, vivendo como sal de Deus, dando gosto ao desgosto do mundo, a qualidade do contedo da Sua mensagem, que era uma mensagem para o lado de fora. Os temas dos discursos de Jesus so os mais corriqueiros possveis, ou os mais prximos da realidade humana. Dinheiro, por exemplo, um tema sobre o qual Ele fala bastante, no para pedir, como s vezes se faz hoje em dia, desesperadamente, usando o Seu nome. Todos ns precisamos de dinheiro, no se podendo ser romntico com relao a isso. Todos precisamos de dinheiro para fazer a obra de Deus. Mas o dinheiro no o objetivo da nossa espiritualidade. Um pastor , certa vez, contou-me sobre uma igreja a qual ele visitou, onde assistiu a um dos espetculos mais estarrecedores e pavorosos de sua vida. Contou-me ele que uma pessoa, frente da igreja, dirigia-se s outras dizendo: " Vocs no querem me dar dinheiro por qu? Vocs acham que eu sou ladro? Se vocs do dinheiro para algum, dem para mim. Se vocs no do para mim, acabam dando para outro ladro. Ento, dem para mim, porque, ao menos, este aqui ladro de Deus." Aquele meu amigo me disse ainda que o pastor daquela igreja conseguiu tirar tudo. Disse ele que primeiramente aquele pastor pediu R$ 10.000. Ningum deu. Depois R$ 5.000. Ningum deu. Mas de R$ 500,00 para baixo, ele conseguiu alguns cheques. E, j ao final, ele pediu: " Agora, aqueles que s tm o da passagem!" Um monte de gente levantou-se. E ele disse:

" Ento, venham aqui. Dem, porque se vocs no derem, no vai abeno-los."

Deus

No era esse o dinheiro sobre o qual Jesus falava. Jesus falava do perigo do dinheiro, ao nos dominar, entrando em nosso corao, tornando-se o nosso referencial absoluto, o nosso amor, a nossa paixo, tornando-nos escravos dele. Jesus tambm mostrou a natureza do dinheiro, a qual perversa na maioria das vezes, e de como s a graa de Deus coloca o dinheiro numa direo que pode dar glria para Deus. Jesus falou de tudo: de juzes, de tribunais, de vivas pobres (Marcos 12:43); falou de filhos que saem de casa e de outros que ficam aborrecidos dentro dela (Lucas 15:11-32); falou de como se constri uma casa, desde a preparao dos seus alicerces (Mateus 7:24-27); falou de receita de cozinha (Mateus 13:33); falou de moedinhas perdidas (Lucas 15:8); falou de plantao e de como aquilo que plantado pode ser destrudo por outras sementes ruins (Mateus 13:24-30); falou de rvores que no do fruto(Mateus 3:10); falou de assaltos em estradas e de como, s vezes, religiosos passam, indiferentes, tragdia e dor humana, ao passo que outros que no tm nenhuma confisso de nenhuma religiosidade so os mais solidrios (Lucas 10:25-37); falou do drama dos trabalhadores (Lucas 10:7b); falou de talentos e de recursos que so mal utilizados, guardados ou timidamente enterrados (Mateus 25:24); enfim, falou da vida. Jesus falou pouco de anjos, os quais so mencionados por Ele, na maioria das vezes, num plano escatolgico, final. SALGANDO A TERRA Olhando para a vida de Jesus, o que devemos fazer? Olhando para as mensagens que Ele pregou, para os cenrios por onde Ele andou, para os relacionamentos que Ele teceu e construiu; olhando para o fato de que ns somos o sal da terra e tendo conscincia de que foi Ele Jesus quem mais salgou o planeta, sendo pelo gosto que Ele trouxe a este mundo que vivemos at hoje, seno a vida seria impossvel; olhando, enfim, para a Sua vida, como que ns devemos viver? Primeiro, precisamos rever o cenrio da nossa misso. Comparemos o cenrio da nossa misso com o da misso de Jesus. Vivemos, s vezes, uma enorme ironia. Sabe qual ? Quando chegamos ao mundo, com todas as suas categorias, contedos e realidades, em geral, nos aquietamos, nos amordaamos, engolindo o discurso j pronto, fazendo o exerccio do mimetismo, tornando-nos exatamente iguais, no na aparncia, mas no comportamento. Assim, nos dirigimos para esse ambiente protegido, que o saleiro, que a igreja, na qual abrimos o peito, "trovejando" a justia divina, pregando e assumindo a ousadia fantstica de servos do Senhor. Mas, na igreja que podemos estar quietos, sem a necessidade de estarmos nos afirmando tanto, por estarmos no meio dos nossos irmos. o local no qual devemos olhar para dentro de ns mesmos, tratar nossas feridas. Mas o que acontece? Parece que subimos num palco, preocupados com a "performance", com o desempenho, com a teatralidade. L fora, no entanto, que o lugar do encontro, do confronto,

de olhar no olho do outro, que o lugar da verdade, que o lugar de ser, simplesmente nos embutimos dentro de ns mesmos, sendo dissolvidos no nada. De modo que a nossa misso acaba sendo afirm-la para aqueles que a conhecem e que no a fazem no cenrio onde ela deveria ser feita, ainda que falando dela num lugar onde ela no existe, e falando dela para missionrios sem misso, porque no lugar de se faz-la, voltamos para a igreja, dizendo que temos uma misso que, na verdade, no vivemos. Deste modo, o cenrio da misso passa a ser o saleiro, sendo sal dentro do saleiro, sal do sal, luz da luz. Geralmente, aqueles que vemos do lado de fora com coragem de bradar, so xiitas que esto muito mais para muulmanos do que para cristos. So os "guerreiros raivosos", que usam o nome de Jesus. O livro que usam a Bblia, no o Coro, mas a espiritualidade deles muulmana. Estes no so o sal da terra; so os "megafones" da terra, no havendo neles nada, alm de gritaria. O que quero dizer com isso que no adianta s ir para as praas pblicas pregar, cantar, ou ento ir para as rdios, TVs, escrever livros, se a mensagem no estiver coerente com a vida e com as atitudes. Vai-se levantar uma bandeira religiosa, mas no se estar sendo sal. Portanto, devemos comparar os cenrios da misso de Jesus com os da nossa. Pensemos nos da dele: beira mar, a caminho, no banquete, em casa, na vida, no submundo, entre as pessoas. Onde que andamos falando de Jesus? Ser que s quando nos sentimos em maioria? Raramente vejo algum testemunhando de Jesus, quando esse algum minoria. Segunda coisa rever os nossos relacionamentos e o tempo que ns investimos neles. Vejamos o tempo que Jesus investia em gente do lado de fora do saleiro. Eu fico pensando, por exemplo, nos meus relacionamentos. Eu me converti h 22 anos passados e os meus relacionamentos eram todos do lado de fora do saleiro. Eu era terra da terra e p do p. Quando Jesus entrou na minha vida, Ele desafiou-me a ser sal da terra. Num primeiro momento, eu vim do mundo para a misso. Comecei a pregar em todos os lugares. Alguns amigos comearam a dizer sobre mim: " Ele parece um carro velho; onde para, prega." Depois dessa primeira fase (do mundo misso) vem a segunda: da misso ao monastrio. Esta se d quando descobrem que algum est fazendo misso e convidam esse algum para ensinar como faz-la. Com isso vai-se deixando a esquina, a praa, a vida, ficando distante do linguajar do cotidiano, comeando a usar uma outra linguagem, ficando-se extremamente sofisticado; o nmero de pessoas que antes o entendiam diminui a cada dia. No meu caso particular, eu me vi falando a pessoas que gostavam de ouvir sobre misso, as quais sentiam um "cafun missionrio" invadindo o corpo delas todo, ficando to concentradas no que ouviam, que experimentavam a sensao de que, enquanto eles ouviam, o mundo melhorou s porque pensaram em misso. Depois veio uma outra etapa: do monastrio misso no mundo. Nunca me senti tanto fazendo misso no mundo como

nos ltimos 5 anos. Fazendo misso num mundo no qual nem se pode imaginar que se pode fazer misso, at que se comea a perceber que pode haver luz brilhando nele; que um olhar, que um sorriso, que um gesto, as mais insignificantes expresses, a linguagem, o falar e o silenciar esto gerando uma revoluo dentro das pessoas. At que se comea a perceber que elas vo se sensibilizando, vulnerabilizando-se diante de algo que mais forte do que elas. De forma que elas comeam a querer ouvir tais palavras de gosto, comeando a dizer: " Eu no sou evanglico. Para ser franco, eu no gosto de evanglico. Mas, h algo que vocs falam que fascinante." Esse algo s pode ser Jesus de Nazar. Ento, comea-se a descobrir o quanto nossa vida pode ser contagiante, provocativa, revolucionria, perturbadora e prazerozamente divina. A segunda coisa, portanto, que devemos fazer rever os nossos relacionamentos, tendo que reaprender o que ser gente para uma gente que no sabe o que ser gente; tendo que lidar com pago; tendo que lidar com incrdulo, vendo nele um crente em potencial, em nome de Jesus. s vezes no se d a mnima importncia a um incrdulo. Conforme vou encontrando os incrdulos mais incrdulos deste mundo, cumprimento-os dizendo-lhes: " Como que vai meu querido irmo?" A, o sujeito leva aquele susto: " Mas eu no sou evanglico!..." " Mas quem est falando de 'evanglico'? Eu estou falando de encontrar Deus, Jesus." O sujeito j vai ficando atemorizado. " No precisa ficar com maltrat-lo." medo sensibilizado, ou preocupado. s Eu vezes no at vou

Com essa postura, comea-se a olhar para as pessoas vendo nelas o que elas podem ser. Como que voc acha que Jesus olhou para Pedro? Pedro no estava pescando, trajando colarinho clerical, nem tampouco mitra sacerdotal. Era um pescador desgrenhado. Jesus olha para ele e diz: " Eu sei o que voc pode ser. Eu o farei pescador de homens." Esse olhar um olhar prospectivo, vendo apstolos pescadores, servas de Deus em prostitutas, escritores fiscais de rendas: em em

" Vem c, Mateus. A partir de hoje voc vai deixar de contar dinheiro, para contar a histria das histrias. Voc vai escrever acerca da Boa Nova." assim que Jesus vai vendo, no dando a mnima importncia ao que eles eram, chegando a ser ridicu-lamente

simples. E l vai Mateus largando caneta, atropelando todo mundo e dizendo: " Como que ?! Eu no sei de nada! " No faz mal, no. Voc aprende." construindo vnculos inimaginveis, vendo Deus onde ningum O v, vislumbrando potencial onde ningum o enxerga, visualizando gente onde ningum v gente, vendo irmo onde s h inimigo. Terceira coisa que precisamos fazer rever a nossa mensagem. No estou me referindo a pastores apenas. A pastores evidente. Temos que parar de pregar essa "abobrinhada" que temos falado. Nem a mulher aguenta mais ouvir o marido, indo os filhos para a igreja de um outro pastor. Se um pastor quer ver se a mensagem que ele prega tem alguma significao, basta ver como que esposa e filhos o olham. Temos que rever os temas das nossas mensagens. H temas dos quais s evanglicos gostam. necessrio que um pastor decida se vai pregar sobre um tema que s evanglico gosta ou sobre um tema que vai impactar o mundo. Para fazer que uma igreja delire. No preciso ser ungido, estar cheio do Esprito Santo; basta saber apertar o boto certo, que a igreja vai loucura. Infelizmente, isso verdade. Encontro, todos os dias, um bando de salafrrios fazendo isso, no acreditando nem na mensagem que eles mesmos esto pregando. Um dia, ouvi uma histria de um arquiteto que estava projetando uma igreja. A pedido do pastor, logo na entrada dela haveria uma cruz. Ele tambm queria que fosse colocado algum dispositivo naquela cruz, a fim de que, quando algumas pessoas a tocassem, sentissem uma espcie de vibrao. " para criar um clima!" justificou-se o pastor. Vejo tambm igrejas com determinadas "modas"; uma passa, outra vem. Muita gritaria, muita manifestao fantstica, muita coreografia, muita empolgao na celebrao, mas para a Palavra, pouco estudo, pouco compromisso. imprescindvel decidir se se quer falar para agradar a egos adoecidos de uma parte dos evanglicos ou se se quer ser sal da terra. CAPTULO II SENDO SAL FORA DO SALEIRO "E no aparecendo, havia j alguns dias, nem sol nem estrelas, caindo sobre ns grande tempestade, dissipou-se afinal toda a esperana de salvamento. Havendo todos estado muito tempo sem comer. Paulo, pondo-se em p no meio deles, disse: Senhores, na verdade era preciso terem-me atendido e no partir de Creta, para evitar este dano e perda. Mas, j agora vos aconselho bom nimo, porque nenhuma vida se papel, mesa,

perder de entre vs, mas somente o navio. Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, no temas; preciso que compareas perante Csar, e eis que Deus por sua graa te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, senhores, tende bom nimo; pois eu confio em Deus, que suceder do modo por que me foi dito. Porm necessrio que vamos dar a uma ilha." (Atos 27:20-26) No captulo anterior, falou-se acerca do ser sal fora do saleiro, do sal que d gosto ao desgosto da vida, trazendo-lhe o sabor de Deus existncia. Neste, estaremos abordando comparativamente, duas experincias de relacionamento humano completamente distintas. A primeira, a de Jonas, o profeta, que entra num navio para fugir de Deus e no o consegue, tendo o seu propsito malogrado. A segunda, a de Paulo, o apstolo, que entra num navio, como prisioneiro, a fim de cumprir a vontade de Deus e o faz a contento, tendo a sua atitude consequncias extraor-dinrias. So duas experincias vividas por personagens em contato com sociedades pags. Jonas, viajando num navio cosmopolitano, no qual havia pessoas que tinham crenas em deuses os mais diversos (Jonas 1:5). Paulo tambm estava viajando num navio cosmopolitano, cercado de presos, com um nmero de tripulantes e passageiros chegando a 276 pessoas (Atos 27:37). Tal navio era capitaneado por um centurio romano (Atos 27:1) e com uma tripulao provavelmente grega. O que acontece com esses dois personagens totalmente diferente, ainda que viajando em navios, e no mesmo mar o Mediterrneo; apesar de ambos chamarem o mesmo Deus de Deus (Jonas 2:6b; Atos 27:23); conquanto faam suas oraes para o mesmo Ser espiritual, crido como o Deus nico, verdadeiro e eterno. Mas, as respostas que cada um d a Deus so distintas, pelo simples fato de que as compreenses de cada um deles sobre o mundo, sobre a histria, sobre o prximo, sobre as religies, sobre as culturas e sobre as sociedades humanas eram radicalmente distintas. Ento a questo : por que que Jonas no conse-gue salgar o ambiente onde est, ao passo que Paulo consegue contagiar, contaminar com sua vida as pessoas que estavam sua volta? Jonas o sal que no quer salgar; Paulo o sal que quer salgar a terra inteira. Por qu? Por causa de possurem teologias diferentes. Jonas tinha uma teologia da segregao, do apartheid, a teologia do "eu-sou-mais-santo-do-que-o-resto-da-sociedade", uma teologia da eleio de Deus que trabalhava contra a incluso do eleito no mundo, sendo uma eleio que exclua e que era exclusiva aos eleitos, portanto exclusiva e excludente. J Paulo, mesmo se concebendo como um eleito para a misso de Deus no planeta, via tal eleio como inclusiva, inserindo-o na graa e na bondade de Deus para o mundo todo. Jonas se imagina algum que tem a misso de separar os homens. Paulo, porm, se entende como algum que tem diante de si a misso de destruir muralhas, barreiras, com o propsito de chamar os diferentes a uma s f em um s Senhor, que Jesus Cristo. Veja como so importantes as nossas concepes, nossa viso da realidade que nos cerca. No basta chamar

Deus de Pai, no basta dizer que Jesus Cristo o Senhor; no basta proferir palavras como salvao, redeno e libertao, at porque em si mesmas elas no significam nada. Quando algum chama Deus de Pai, ele pode estar chamando Deus de pai na mesma perspectiva por meio da qual filhos caprichosos chamam seus pais de pais, ou seja, eles tm uma relao doentiamente fechada e confinada com quem chamam de pai, no conseguindo v-lo e nem a si mesmos como fazendo parte de um relacionamento mais amplo com o resto da comunidade humana. Quando algum chama Jesus de Senhor, isso no significa muita coisa. s vezes, ouve-se algum dizer que Jesus o Senhor, e realmente Jesus o dono de sua vida. No entanto, ouve-se, s vezes, um outro algum chamando Jesus de Senhor, todavia com uma significao de ditador, de "Hitler" de sua vida, no vendo a submisso como uma prerrogativa da misso, mas confundindo misso com dominao. Avaliar as palavras que usamos, como tambm os contedos que elas veiculam, fundamental, visto que elas refletem e traduzem, de algum modo, a nossa compreenso do mundo e a nossa resposta a Deus e vida. SALGANDO OS RELACIONAMENTOS Outra coisa que deve vir nossa mente para que entendamos como essas duas pessoas Jonas e Paulo so to diferentes no meio em que atuam, a que tem a ver com o resultado da resposta deles aos contextos em que cada um se insere. Ambos estavam num navio, sendo fustigados por uma tempestade avassaladora, cercados de pessoas pags, vivendo uma situao imensamente tensa e dramtica, no limiar entre a vida e a morte, mas, conquanto tais circunstncias tenham sido experimentadas por ambos, a reao de cada um deles diferente diante delas. Jonas tem uma viso excludente, portanto, que exclui, porque pensa nos ninivitas como inimigos do povo de Deus, declarando guerra queles que so politicamente diferentes dele, sucumbindo a um nacionalismo fascista, pensando em si e no povo de Deus como eleitos e separados do contato e do convvio com o resto da sociedade humana. Em virtude dessa viso de mundo, consequncias trgicas se evidenciam na sua vida. Primeira consequncia trgica na vida de Jonas se explicita no fato de que ele no conseguia amar os diferentes, s amando os iguais. Se gente como ele, este consegue amar, porm sucumbindo reao dos pagos, aos quais j se referia Jesus, dizendo acerca deles que tratavam bem queles que os tratavam bem; tratavam mal aos que os tratavam mal; amavam aos que os amavam; enfim Jesus falava sobre a previsibilidade do pago: d-se bem com quem igual; d-se mal com quem diferente. Jesus, porm, recomendou-nos o contrrio, dizendo que deveramos quebrar a previsibilidade relacional na sociedade: "Ouvistes que foi dito: Amars o teu prximo, e odiars o teu inimigo. Eu, porm, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos. Porque se amardes os que vos amam, que recompensa

tendes? No fazem os publicanos tambm o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmos, que fazeis de mais? No fazem os publicanos tambm o mes-mo?" (Mateus 5:43-47) "Digo-vos, porm, a vs outros que me ouvis: Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam. Ao que te bate numa face, oferece-lhe a outra; e ao que tirar a tua capa, deixa-o levar tambm a tnica; d a todo o que te pede; e se algum levar o que teu, no entres em demanda. Como quereis que os homens vos faam, assim fazei-o vs tambm a eles." (Lucas 6:27-31) O prprio Paulo, escrevendo advertiu-os quanto a isso: aos cristos de Roma,

"Pelo contrrio, se o teu inimigo tiver fome, d-lhe de comer; se tiver sede, d-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoars brasas vivas sobre a sua cabea. No te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem." (Romanos 12:20-21) Pagos e incrdulos so os que se do bem com os iguais; cristos amam os diferentes. A segunda consequncia trgica que acontece na vida de Jonas que ele queria fazer misso entre aqueles de que gostava, numa espcie de misso da auto-afirmao, a qual no constri nada, uma vez que destinada queles que so obviamente complacentes ao que lhes est destinando a palavra; a misso entre aqueles que assimilam um mesmo ponto de vista. Misso, para Jonas, significava preservao do povo de Israel, no sendo ganhar aqueles que estavam distantes de serem ganhos. Era inconcebvel para ele abraar os ninivitas repudiveis, os inimigos polticos do povo de Israel. Por isso, Jonas preferiu no ter um futuro a ter um presente com quem ele no gostava, preferindo que sua vida no tivesse futuro algum, e no querendo, sob nenhuma hiptese, viver com quem ele no se d bem. Jonas, de certo modo, daquele tipo de gente que diz: " Se no cu vai ter ninivita, eu prefiro ficar no inferno." Com isso, Jonas se torna amargo, custico, hostil, em guerra profunda dentro de si mesmo contra aqueles que acha que so inimigos do povo de Deus. Seu mundo reduz-se a um determinado universo: h pessoas "convertveis" e pessoas que, mesmo querendo se conver-ter, Jonas no as queria. " Se eu fizer apelo, e algum ninivita se converter, fao de conta que no vi e termino o culto antes. poderia pensar Jonas. Em contrapartida, veja como a compreenso que Paulo tinha de Deus permitia-lhe ter um significado de misso totalmente diferenciado do de Jonas. Primeiramente, Paulo dizia que preferia se perder a perder aqueles pelos quais Jesus morreu: "Digo a verdade em Cristo, no minto, testemunhando comigo, no Esprito Santo, a minha prpria conscincia. (...) porque

eu mesmo desejaria ser antema, separado de Cristo, por amor de meus irmos, meus compatriotas, segundo a carne." (Romanos 9:1 e 3) O compromisso de Paulo era to levado a srio que a sua prpria vida poderia ser destruda, aniquilada e arruinada, no querendo, de modo algum, que ningum por quem Jesus morreu viesse a se perder, no importando se era judeu ou gentio, se era escravo ou livre, se era monotesta ou politesta, se era crente ou pago. Paulo concebia o mundo como feito por Deus, para Deus e que por isso devendo se reconciliar com Deus. Em razo disso, ele fazia de tudo para com todos, para ver se conseguia salvar alguns: "(...) Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns." (I Corntios 9:22b) Em virtude disso, mesmo no fim da vida trado, espoliado, abandonado, sendo "passado para trs" por alguns que diziam ser seus amigos mas no eram, Paulo escreve a segunda carta a Timteo (captulo 4), onde se v o "apagar das luzes" de sua vida, mas tambm se v a chama viva da f na sua alma, continuando a sonhar com o mundo que vai ser impactado pela graa de Deus e pelo evangelho de Jesus Cristo: "Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas, tendo amado o presente sculo, me abandonou e se foi para Tessalnica; Crescente foi para a Galcia, Tito para a Dalmcia. Somente Lucas est comigo. Toma contigo a Marcos e traze-o, pois me til para o ministrio.(...) Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dar a paga segundo as suas obras.(...) Na minha primeira defesa ningum foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto no lhes seja posto em conta. Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de foras, para que, por meu intermdio, a pregao fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leo. O Senhor me livrar tambm de toda obra maligna, e me levar salvo para o seu reino celestial. A ele, glria pelos sculos dos sculos. Amm." (II Timteo: 4:9-11;14;16-18) J sabemos porque essas duas pessoas Jonas e Paulo do respostas to diferentes mesma situao; j conhecemos tambm os resultados de se ter uma teologia adoecida ou de se ter uma construo teolgica sadia na mente; como uma empurra para uma exclusi-vidade egosta, enquanto outra empurra para uma exclusividade altrusta da graa de Deus que inclui os que esto fora. SENDO O SAL QUE QUER SALGAR Agora, o interessante olhar e fazer algumas com-paraes entre esses dois homens no episdio da viagem que cada um fez. Vejamos o que acontece com Jonas de um lado, e com Paulo de outro. A viagem de Jonas mostra a sua postura de sal que no quer salgar. A viagem de Paulo mostra a postura de quem quer salgar tudo. H 11 comparaes que podem ser estabelecidas

entre esses dois homens, nas suas respectivas viagens. A primeira comparao pode ser feita com relao falta de projeto da viagem de Jonas. Chegando em Jope (Jonas 1:3a), Jonas quer comprar uma passagem. Algum lhe pergunta: " Para onde o senhor quer ir?" " Para o lugar mais distante da terra." Naqueles dias, o lugar mais distante talvez fosse concebido como "o lugar onde o vento faz a curva" ou "onde Judas perdeu as botas". Esse lugar era Tarsis (Jonas 1:3b), o lugar mais distante que se conhecia, localizado ao sul da Espanha. " para l que eu vou." dizia Jonas. " O que o senhor vai fazer l?" perguntou o bilheteiro. " No, ainda no sei." respondeu-lhe Jonas. " Eu s acho que Deus no visita aquele lugar. por isso que eu vou para l." Paulo, no entanto, entra no navio sabendo para onde vai. " Para onde voc vai, Paulo?" " No diga nada para eles, no. Mas, os 'bobos' aqui esto me levando direto para Csar. Aleluia!" poderia ter dito ele. Quando lhe disseram a respeito dele: " Prendam-no!" Paulo exclamou: " Oba!" Paulo tinha uma fixao, uma obsesso. onde ia. Ele sabia para

" para l que eu estou indo. Vou pregar para Csar. Esse navio no vai ficar encalhado, porque eu tenho que chegar l." Jonas usa sua liberdade para fugir. Paulo, entretanto, usa o fato de estar preso para fazer a vontade de Deus at o fim. Jonas entra no navio e se aliena. Diz-nos a Bblia que ele foi para o poro do navio, deitou-se e dormiu profundamente (Jonas 1:5b). Paulo diferente: entra no navio e se integra. Sabe quantas pessoas viajam com ele, a ponto de precisar o nmero: 276 pessoas a bordo (Atos 27:37). Fica amigo do centurio (Atos 27:3), faz amizade com o piloto, compreende as foras polticas que agem no navio, integrando-se inteiramente ao ambiente. Jonas no ora nunca, nem por ele, nem por ningum e nem por coisa alguma. Os pagos estavam durante a tempestade fazendo viglia; todos

jejuando (Jonas 1:5a), s Jonas, porm, olhando contempla-tivamente toda a situao de desespero sua volta. Seus companheiros de viagem lhe diziam: " Tu s o nico que no oras aqui, 'evanglico'!" J Paulo entra no barco e ora por todos (Atos 27:35), tornando-se o intercessor do navio, dizendo-lhes, no meio da tempestade: "Mas, j agora vos aconselho bom nimo, porque nenhuma vida se perder de entre vs, mas somente o navio. Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, no temas; preciso que compareas perante Csar, e eis que Deus por sua graa te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, senhores, tende bom nimo; pois eu confio em Deus, que suceder do modo por que me foi dito. Porm necessrio que vamos dar a uma ilha." (Atos 27:22-26) Que coisa maravilhosa era a vida de Paulo! Que diferena radical! Jonas se considera a causa da tragdia. Quando lhe perguntaram o que deveriam fazer para que o mar se acalmasse, ele lhes respondeu: "(...) Tomai-me, e lanai-me ao mar, e o mar se aquietar; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade." (Jonas 1:12) O grande inimigo daquele barco no era o diabo, mas o profeta. Pior do que o diabo um profeta desobediente. Eles lhe perguntam: " O que a gente faz?!" Ele no diz: " T amarrado!" Mas diz: " Amarrem-me e joguem-me no mar, problema, a urucubaca de vocs." porque eu que sou o

Paulo, porm, v o vento, as ondas, a tempestade e todos os demais sinais da tragdia e da calamidade, mas no diz que aquilo por interveno do diabo, no diz que por culpa do homem ou do vento, no responsabiliza o centurio, nem o piloto e nem a si mesmo. " O vento o vento, a onda a onda, a natureza a natureza. Entretanto, apesar disso tudo, no porque eu seja bom, mas em virtude da graa de Deus que me separou para levar o evangelho, no vai cair nem um fio de cabelo da cabea de ningum." Olhando Jonas, vemos a sua desistncia da vida: " Podem jogar-me ao mar. Eu no tenho coragem de me

suicidar! Matem-me!" Paulo diferente! Lendo Atos 27, ns encon-tramos um apstolo apaixonado pela vida, querendo viver, ansiando por chegar Roma. Paulo quer cumprir cabalmente o seu ministrio, querendo olhar para trs e dizer: "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a f." (II Timteo 4:7) Paulo o ser humano mais vivo daquele barco! ele quem diz: "(...) Senhores, vejo que a viagem vai ser trabalhosa, dano e muito prejuzo, no s da carga e do navio, tambm das nossas vidas." (Atos 27:10) Em outras palavras, Paulo lhes estava dizendo: " No devemos cara'." ir, porque, se formos, vamos 'quebrar a com mas

O pessoal foi e "quebrou a cara". Depois Paulo diz: " No devamos ter vindo, mas j que viemos e 'quebramos a cara', levantemos a cabea! E tem mais: nimo, porque Deus disse que ningum vai se perder." Quando a situao vai ficando insustentvel, os marinheiros resolvendo desertar num bote (Atos 27:30-31), ele chama o capito e diz: " Se essa mo-de-obra especializada sair do barco, nem anjo ajuda. O anjo do Senhor me disse que nos vai ajudar, mas que era para 'segurar' os marinheiros aqui, porque quem entende de ventos so eles, no apstolo." Paulo um indivduo operoso! Ele v h muito tempo, desanimados, sem vontade diz: " Gente! Se remar." ns no comermos, no todos trabalhando de comer e lhes foras para

teremos

E comea a comer, dando graas e partindo o po; e todos comem com ele (Atos 27:34-36). vida que Paulo tem dentro de si; uma vontade enorme de ir adiante que o motiva. Jonas perde o respeito de todos, chegando o prprio capito do navio a lhe dizer: " Voc doido, homem? Como voc diz que cr num Deus que criou o cu, a terra e o mar, e tenta fugir dele? Ns, pagos, temos deuses que atuam em reas especficas. Quando estamos fugindo de um deus que criou a terra, vamos para o mar; quando a gente est fugindo do deus das guas, vamos para a terra. Agora, voc diz que cr num Deus que tudo criou, e vem para o meio do mar?! Seria melhor que voc amarrasse uma pedra ao pescoo e se suicidasse!" Jonas recebe uma "aula de teologia" do capito do navio.

Jonas perde o respeito de todos. Paulo, ao contrrio, ganha o respeito de todos. Chega ao barco algemado e acorrentado e, depois de um dia, depois de uma semana, ele se torna o homem mais livre do barco. No fim, os soldados queriam matar a todos os prisioneiros para que estes no fugissem nadando (Atos 27:42); no entanto, o centurio, por amor a Paulo, impediu que isso ocorresse, preservando a vida de todos eles (Atos 27:43). Paulo ganhou o respeito de todos. Jonas "vomitado" em Nnive e l prega com raiva e com rancor, acontecendo o que ele no queria: todos da cidade se convertem (Jonas 3:10). Paulo chega em Malta, vai-se relacionando com as pessoas do lugar, enchendo-se de amor, chamando as pessoas do lugar pelo nome, entrando na casa delas, comendo com elas, orando por suas doenas, curando suas enfermidades (Atos 28:7-10), convivendo com elas trs meses (Atos 28:11a), depois dos quais a populao da ilha inteira fica abalada com o evangelho de Jesus. Jonas quase "se envenena" de dio, ao ver a morte de uma planta (Jonas 4:6-9). A rvore que lhe dava sombra morre e ele entra em crise: " Que ser de mim sem a minha rvore?!" a histria do amor de Jonas! E por uma rvore! Dava at um romance: Captulo I: "Como sentia falta dela sem saber quem era ela"; Captulo II: "Eis que ela aparece"; Captulo III: "Me faz sombra"; Captulo IV: "Ela morre"; Captulo V: "Eu morro com ela". Este o amor de Jonas! Um "amor profundo", por uma "causa nobre". Jonas e a rvore. Ele era o profeta mais ecologicamente desgraado do planeta. Paulo chega na ilha de Malta e l mordido por uma vbora, no dando a mnima importncia a isso (Atos 28:3-5). Jonas v uma planta morrer quer morrer junto com ela; Paulo picado por uma cobra e diz: " Sai pra l!" Todos ficam admirados: " E a, gente! Vamos cantar 'Voc tem valor'." E todos ficam esperando que ele caia morto: " Ele vai cair... O dedo roxo... Quando comear a a se desencontrar... Ele nada disso acontecia. No espanto daqueles que no que comearam a pensar e dele vai inchar... Ele vai ficar bater palmas, suas mos vo comear vai cair morto de repente..." E entanto, Paulo estava animado, para o conheciam (Atos 28:6), de modo a dizer:

" um deus que est entre ns!" Jonas considera os ninivitas uns brbaros, no querendo ir pregar-lhes por este motivo. No entanto, veja como Paulo descreve os habitantes da ilha de Malta: "Os brbaros trataram-nos com 28:2a) singular humanidade". (Atos

A mente excludente de Jonas o faz olhar o ninivita considerando-o um brbaro; a mente potencialmente inclusiva e graciosa de Paulo o faz olhar para os brbaros e dizer acerca deles: " So todos gente." Jonas ora pela destruio da cidade, orando para que isso acontea (Jonas 3:10-4:1-3). Paulo passa trs meses orando pelos doentes da ilha (Atos 28:9-11), vendo cada um deles, em nome de Jesus, ser curado. Mas, por que dois homens que criam no mesmo Deus agem to diferentes? Jonas tinha uma teologia poltica que o afastava do mundo. Paulo tinha uma teologia da compaixo e da graa que o fazia ver o mundo como a sua parquia, como lugar de Deus no qual a Sua glria seria implantada. MARCAS DO SAL FORA DO SALEIRO Se Paulo nos ensina, num navio, como salgar o mundo, nossa pergunta agora deve ser a seguinte: Quais as principais marcas do homem e da mulher que so sal fora do saleiro? O que aprendemos com Paulo, um ser humano que mesmo em meio a tantas circunstncias adversas, consegue dar gosto ao desgosto de uma viagem miservel? Quais so as grandes marcas de Paulo que eu e voc precisamos assimilar? H oito caractersticas na vida de Paulo que devemos guardar, internaliz-las e pensar nelas. So marcas de gente que d gosto s viagens mais desgostosas da Histria. A primeira delas bom senso. Algo que impressiona em Paulo que ele um evangelista cheio de bom senso, no fazendo o gnero do evangelista "arrebatada e carismaticamente doido". Paulo cheio do Esprito Santo: vm doentes, ele os cura; vm demnios, ele os manda sair; discerne espritos; prega com uno... Mas ele no doido. A realidade para Paulo no negada, no tentando falsear os dados e as informaes do mundo concreto, e no sublimando o que existe: o que existe existe; o que . Em Atos 27:9-10, ele adverte a respeito dos problemas e perigos que encontraro durante a viagem: " No saiamos deste porto, porque, se vamos nos arrebentar." O pessoal insiste em ir. Ele diz: " No vamos, no!..." O que um evanglico "tradicionalmente lugar de Paulo? Certamente diria: " Ns vamos pela f! O esto seguras!" vento est doido" faria As no o vento nos pegar,

amarrado!...

ondas

Infelizmente, isso que acontece. Quanto "mais espiritual" mais sem bom senso. a espiritualidade suicida. Mas, temos medo do bom senso, porque houve um "contgio" no nosso meio em termos de se fazer acreditar que a f genuna

louca. Quando agimos com bom senso, algum diz: " No tem f." Se o barco no qual Paulo viajava no fosse ocupado por um centurio romano, soldados romanos, prisioneiros e mais uma tripulao grega, mas se fosse um navio s de evanglicos e Paulo tivesse dito para no irem em razo do vento e da tempestade, certamente o haveriam jogado para fora do barco. Possivelmente argumentariam com Paulo: " Qual , irmo?! Voc no tem f, no!... Ns somos filhos do Rei!... Os ventos tm mais que parar quando passarmos... A causa nobre... Voc no quer ir pregar para Csar?..." F, na nossa compreenso, virou sinnimo de estupidez. Porque no nosso meio existe a idia de que para que algum realmente tenha f necessrio autoflagelar-se, tendo um projeto de vida essencialmente suicida, dizendo: " Vamos para o mar revolto e o vento e a tempestade danem!" que se

Mas Paulo olha para as adversidades que esto ao seu redor, interpretando-as com profundo bom senso. Ou seja: se vai chover, por que no levar o guarda-chuva? Se vai ventar forte, por que no se abrigar? Se no prudente sair quela hora, por que no esperar? No devemos tentar ao Senhor nosso Deus. Olhemos a vida com bom senso. Em Atos 27:33-34, ns vemos Paulo com o mesmo bom senso: "Enquanto amanhecia, Paulo rogava a todos que se alimentassem, dizendo: Hoje o dcimo quarto dia em que, esperando, estais sem comer, nada tendo provado. Eu vos rogo que comais al-guma coisa; porque disto depende a vossa segurana; pois nenhum de vs perder nem mesmo um fio de cabelo." Em outras palavras, ele est dizendo: " Comam, porque se no comerem, vocs no tero foras para velejar, nem para nadar, nem para se agarrar a tbuas, tentando o prprio salvamento. No adianta nem orar. Vocs tem agora que comer." A segunda marca de Paulo a sua positividade nas atitudes. A mente positiva dele impressiona. De um lado um bom senso realista; de outro uma positividade construtiva capaz de reverter catstrofes em situaes amenas. Em Atos 27:21b-22, Paulo diz: "(...) Senhores, na verdade era preciso terem-me atendido e no partir de Creta, para evitar este dano e perda. Mas, j agora vos aconselho bom nimo, porque nenhuma vida se perder de entre vs, mas somente o navio."

Ou seja: Paulo lhes est dizendo: " O que no tem remdio remediado est. Levantem a cabea!" No ano de 1995, l pelo ms de junho, recebi um telefonema de que a Fbrica de Esperana, o maior projeto social da VINDE, estava em chamas. Corri para l, e, da Avenida Brasil eu via labaredas. Comecei a clamar a Deus por misericrdia... Trabalhando com um maarico, no conserto de uma estrutura metlica do telhado de um dos galpes, o funcionrio ocupado com tal servio no viu quando uma fagulha passou por entre as frestas da telha, caindo em caixas altamente inflamveis. Quando l cheguei, o fogo ainda estava alto, e todos ns, funcionrios da Fbrica e moradores da comunidade, auxiliavam os bombeiros a pr fim no fogo, que por Deus foi debelado. Algum, ento, perguntou: " E agora, pastor? Est desanimado?" " Este caminho sem volta." respondi. " O fogo que est aqui no nosso corao muito maior que este, e ainda que tenhamos de comear tudo de novo, ns o faremos, para a glria de Deus." A tendncia humana diante do imprevisto, diante da tribulao e das intempries da vida se quedar ao desnimo, ao desespero. Paulo, porm, nos ensina que quem cr no Deus Todo-Poderoso pode crer que do caos Ele ir suscitar salvao e livramento. A terceira marca que percebemos na vida de Paulo sua sobrenaturalidade. Isto : Paulo tem uma mente aberta para o sobrenatural, vendo anjos visitando tempestades. Ele no v anjos diria e corriqueiramente segurando ventos, mas os v invadindo as catstrofes do dia-a-dia, trazendo palavra de nimo e consolao da parte de Deus vida humana. o que se pode constatar em Atos 27:23-26: "Porque esta mesma noite o anjo de Deus, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizen-do: Paulo, no temas; preciso que compareas perante Csar, e eis que Deus por sua graa te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, senhores, tende bom nimo; pois eu confio em Deus, que suceder do modo por que me foi dito. Porm necessrio que vamos dar a uma ilha." Imaginemos a situao: Paulo, em meio quela tempestade, reunindo todos e dizendo-lhes: " Vem c, gente. Todo mundo aqui. Capito, ontem noite, o anjo de Deus, de Quem eu sou e a Quem eu sirvo, esteve comigo aqui neste navio. Ele me disse: -- Ningum vai se perder. Nem um fio da cabea de ningum." Bom senso, positividade e sobrenaturalidade. Vejamos como tais caractersticas no so incompatveis. H pessoas que acham que para haver sobrena-turalidade precisa haver o aniquilamento do bom senso. Paulo profundamente racional na anlise das coisas, tendo f quando a f precisa ser

posta em ao como desafio. Antes do mal (a tempestade) chegar, ele usa o bom senso. Se o mal tornou-se inescusvel, ele responde a isso com positividade, evocando a interveno sobrenatural de Deus. Outra marca de Paulo pode ser definida pela palavra "valoridade". O que vem a ser "valoridade"? Primeira-mente, trata-se de um neologismo criado por mim, querendo significar a capacidade de perceber os contedos e os valores das coisas. O que que tem valor? O que que no tem valor? Vejamos Atos 27:22b: "(...) porque nenhuma vida se somente o navio." perder de entre vs, mas

Para Paulo, o navio era bagatela; o navio, pode-se fazer outro; vida no! bonita essa caracterstica dele. O mundo percebe quem que d valor a vida e quem que no d. Se se quiser ganhar o respeito das pessoas, deve-se deix-las perceber que vida vida; coisa coisa. diz: Paulo se aproxima de seus companheiros de viagem e lhes sero navio

" Gente, o navio ns vamos perder; mas todas as vidas salvas." Assim sendo, as comearam a perceber: " Esse homem me ama!" Imaginemos o contrrio. " Deus precisa deste navio." pessoas que estavam naquele

E comeariam as reunies de orao pelo navio. E todos orando pelo navio, pela vela do navio, pela ncora do navio. H igrejas assim, nas quais a vida humana no tem valor algum, mas bens materiais como casa, fazenda, acampamento, templo novo tm proeminncia. Gente que pensa assim no tem o respeito nem do diabo. Porm, quando as pessoas, sejam elas ricas, sejam elas pobres, comeam a perceber que a igreja est interessada mais nelas do que nas coisas delas, ela comea ganhar respeito e a sua palavra passa a ser ouvida. A quinta marca de Paulo sua praticabilidade. Em Atos 27:30-32, encontramos essa caracterstica de ser prtico em Paulo: "Procurando os marinheiros fugir do navio e, tendo arriado o bote no mar, a pretexto de que estavam para largar ncoras da proa, disse Paulo ao centurio e aos soldados: Se estes no permane-cerem a bordo, vs no podereis salvar-vos. Ento os soldados cortaram os cabos do bote e o deixaram afastar-se." Paulo, em outras palavras, estava dizendo: " O saber humano, em alguns momentos, essencial. O senhor capito e entende de guerra. Eu sou apstolo e entendo as

coisas de Deus. Agora, quem entende de marinheiros."

navio

aqui

so

os

O fascinante que Paulo tem a mente cheia da grandeza e da graa da sabedoria de Deus, mas respeita o acervo da sabedoria e da cincia humana dada por Deus s Suas criaturas, feitas Sua imagem e semelhana. Ele do tipo de gente que se tiver de contratar uma consultoria para a monitorao de algum empreendi-mento, ele contrata. Com isso, acaba aquele pensamento infantil e tolo do tipo "eu sou filho do Rei e por isso sei tudo e mais do que todo mundo". No sejamos "filhos do Rei" burros. Paulo era "filho do Rei" mais do que a maioria dos "filhos do Rei" que conhecemos por a. Mas ele disse: " Olha, quem entende de barco aqui so esses Mantenham-nos aqui, porque precisamos deles." pagos.

Imaginemos um apstolo dizendo que precisa da ajuda tcnica de um pago. Isso vem a depor contra todas as nossas espiritualidades separatistas. " Eu sei combater principados e potestades, mas combater ondas marinheiro. No importa se seja pago. A experincia humana inegvel." quem sabe crente ou

Imaginemos o mundo sendo invadido por essa mentalidade de Paulo. As fbricas, as reparties pblicas, os escritrios cheios de bom senso, de positividade, de sobrenaturalidade, de "valoridade" e de praticabilidade! No possvel que algum que tenha tal maneira de pensar e proceder no seja percebido. A sexta marca de Paulo sua liderana espiritual natural. Ele no chega se apresentando e dizendo: " Reverendo Paulo de Tarso, conhecido pelo discernimento espiritual exercido no curso de 37 anos de ministrio bem-sucedido e com aproximadamente 2.114 curas realizadas e que j pregou o evangelho para mais seres humanos vivos neste planeta. Ningum pregou mais do que eu. E mais do que isto: ningum conhece mais as estradas romanas do que eu." Paulo no faz isso. A nica vez que ele faz isso escrevendo a segunda carta Igreja de Corinto, na qual ele mesmo diz que assim o fazia "como por loucura", de modo insensato: "O que falo, no o falo segundo o Senhor, e, sim, como por loucura, nesta confiana de gloriar-me. E posto que muitos se gloriam segundo a carne, tambm eu me gloriarei. Porque, sendo vs sensatos, de boamente tolerais os insensatos. Tolerais quem vos escravize, quem vos devore, quem vos detenha, quem se exalte, quem vos esbofeteie no rosto. Ingloriamente o confesso, como se framos fracos. Mas, naquilo em que qualquer tem ousadia, com insensatez o afirmo, tambm eu a tenho. So hebreus? Tambm eu. So israelitas? Tambm eu. So da descendncia de Abrao? Tambm eu. So ministros de Cristo? (falo como fora de mim) Eu

ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prises; em aoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de aoites menos um; fui trs vezes fustigado com varas, uma vez apedrejado, em naufrgio trs vezes, uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmos; em trabalhos e fadigas, em viglias muitas vezes; em fome e sede, em jejuns muitas vezes; em frio e nudez. Alm das coisas exteriores, h o que pesa sobre mim diaria-mente, a preocupao com todas as igrejas." (II Corntios 11:17-28) Paulo chega no navio como gente. No chega pigarreando sua grandeza apostlica. Paulo chega no navio acorrentado, entrando em silncio, deixando acontecer. Daqui h uns minutos, o primeiro contato com o centurio. " P", esse preso da pesada! Gente boa pensou o oficial. mesmo!" certamente

Depois, indo ao convs, conversa com o piloto acerca das gaivotas do mediterrneo, sobre o azul das guas... " Que prisioneiro interessante!" poderia tambm ter o mestre do navio. pensado

Com relao aos demais presos, Paulo no se faz de mais importante, tratando a todos bem. Lucas est junto escrevendo a histria, incluindo-se como narrador na narrativa. E, durante a tempestade, Paulo toma a frente, trabalha, anima, exorta, incentiva, ora, agradece... O capito fica perplexo: " Esse preso fantstico mesmo!" Antes da advertido: hora de sair para a viagem, Paulo tinha

" No saiam, no, porque vai ser perigoso!..." Mas, no lhe do ouvidos: " Ns vamos, sim!" E "quebram a cara". Durante a tempestade, ele diz: " Vocs deviam ter-me ouvido." Mas, Paulo no assume uma atitude dizendo: negativa e pedante,

" Bem feito! Bem feito! Bem feito! Eu falei!... Eu disse que isso ia acontecer!... Bem feito! Bem feito! Bem feito!" Ao contrrio! Paulo lhes diz: " Deviam ter-me ouvido, mas j que no o fizeram, nimo! No vamos nos desanimar, nem nos desesperar." E continua:

" Porque um anjo do Senhor, que criou todas as apareceu-me ontem noite e disse-me que nenhum cabelo da cabea de ningum vai cair."

coisas, fio de

a partir daqui que a espiritualidade de Paulo comea a se tornar explcita. At ento foram dias de relacionamento humano, de servio, de encontro, de conversa, de generosidade no trato. Agora entram em cena oraes (Paulo ora a Deus com seus companheiros de viagem para que o dia nasa, a fim de que possam enxergar, e a fim de que o Senhor lhes d fora para remar). Paulo no pede uma luz sobrenatural provinda da escurido, mas pede a luz do sol. Paulo vai exercendo liderana. Quando ningum quer comer, ele parte o po, d graas e diz: " Comam!" Quando chegam ilha de Malta, e Paulo mordido por uma vbora, ele a sacode no fogo, ficando tranquilo, crendo na palavra de Jesus que dissera que se alguma coisa mortfera beber, no lhe far mal; e se pegar em serpente, no lhe morder. Paulo est ali apostolicamente dizendo com aquele fato que no andava brincando de beber veneno nem com serpentes. Mas que cria na Palavra de Deus e que, embora picado, confiava em Deus e na Sua vontade para com a obra que ele Paulo tinha que realizar naquela ilha e em Roma. Depois disso, explicita-se mais ainda sua espiritualidade, quando comea a curar pessoas moradoras da ilha. Ora pelo pai de Pblio, que estava com uma disenteria horrvel. Cura-o e muitas outras pessoas vm. Paulo ficou trs meses naquela ilha. E at hoje se encontram nela os resduos, os registros e o filo de uma das comunidades crists mais antigas do planeta. Essa uma maneira de ser sal fora do saleiro, exercendo uma liderana espiritualmente natural, no-artificial, que no impositiva, tirana, mas que cresce medida que os fatos a confirmam. A stima marca na vida de Paulo a "trata-bilidade". mais um neologismo criado para nomear essa caracterstica de Paulo no tratar bem as pessoas. Vejamos Atos 28:2a: "Os brbaros trataram-nos com singular humanidade". Sabe o motivo pelo qual os brbaros os trataram bem? Porque primeiramente estes foram bem tratados. Os presos do navio e todos que viajam com Paulo, dentro em pouco estavam gravitando ao seu redor, por uma razo simples: ele sabia tratar bem as pessoas. A Bblia diz que devemos fazer aos outros aquilo que queremos que os outros nos faam. "Como quereis que os homens vos tambm a eles." (Lucas 6:32) faam, assim fazei-o vs

A oitava e ltima marca da vida de Paulo sua "evangelicidade", ou seja, a qualidade daquilo ou daquele que evangelstico. extraordinrio como tal caracterstica presente em Paulo! Como a evangelizao nele "escorre" para dentro dos veios da vida com naturalidade, conquistando coraes, no os dominando pela

imposio! No entanto, conquista-os pelo amor gradual, pela imposio dos fatos do amor. Quando o informam acerca do pai de Pblio que est doente, Paulo se solidariza e ora pelo ancio. Quando dizem que h uma multido de doentes na cidade, ele diz: " Pode vir, porque vamos orar com amor e com paixo!" Isto "evangelicidade". qualidade evangelstica. No um programa, um projeto, um mtodo, uma estratgia. vida de salvao e graa "escorrendo" para dentro do mundo, em nome de Jesus. Concluindo, vimos como Paulo foi sal para salgar aquele navio, aquele contexto de adversidade, de dificuldades, em meio a pessoas diferentes e, muitas vezes, hostis. E ns? Para sermos agentes dessa salvao, nesse navio da vida que est afundando no planeta, precisamos urgentemente dessas oito marcas na nossa vida: bom senso, positividade, sobrenaturalidade, "valori-dade", "praticabilidade", liderana natural, "tratabilidade" e "evangelicidade". Que Deus nos d compreenso hoje para que queiramos ser esses que do gosto mesmo estando no navio do desgosto, em nome de Jesus. CAPTULO III SAL, SIM! FANTICO, NO! "E aconteceu que, ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao cu, manifestou no semblante a intrpida resoluo de ir para Jerusalm, e enviou mensageiros que o antecedessem. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe preparar pousada. Mas no o receberam porque o aspecto dele era de quem decisivamente ia para Jerusalm. Vendo isto, os discpulos Tiago e Joo perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do cu para os consumir? Jesus, porm, voltando-se os repreendeu [e disse: Vs no sabeis de que esprito sois]. [Pois o Filho do homem no veio para destruir as almas dos homens, mas para salv-las]. E seguiram para outra aldeia." (Lucas 9:51-56) Tenho estado muito preocupado, ultimamente, com o esprito de fanatismo que tem invadido a igreja evanglica, no Brasil. Nestes 20 anos, tambm tenho estado muito alegre por ver que a igreja evanglica tem crescido muito e, com isso, que muita gente est encontrando Jesus e, nEle, salvao, libertao, esperana e a possibilidade de uma vida melhor. E esta tem sido a razo da minha vida e misso que Deus me confiou, em funo da qual esforo-me e vivo. Entretanto, angustia-me ver que, algumas vezes, esse crescimento, o qual tem o seu aspecto extraor-dinrio, vem tomando contornos de algo no to sadio, adoecido, estranho, que se assemelha enfermidade, patologia, redundando em evidncias explicitamente fanticas. Estamos vivendo, hoje, no Brasil, um momento no qual precisamos definir o que queremos que acontea em nossa ptria. O que queremos que acontea no nosso pas? Como povo de Deus, temos duas opes: a primeira querer ver o Brasil evanglico; a

segunda ver o Brasil de Jesus. O que queremos? Ver o Brasil evanglico ou ver o Brasil de Jesus? O Brasil pode ser evanglico sem ser de Jesus, como pode tambm ser de Jesus sem ser evanglico. E pode ser evanglico e ser de Jesus! E pode ser de Jesus e ser evanglico! Isto porque o fato de ser evanglico no significa que ser de Jesus; e o fato de ser de Jesus no significa que ser evanglico, uma vez que, se tudo aquilo que fosse de Jesus tivesse que ser, necessariamente, evanglico, Jesus s estaria tendo vez na Histria de 180 anos para c, quando o Movimento Evanglico tal qual o conhecemos hoje comeou a existir. Se, para ser de Jesus, o mundo tivesse que ser protestante, Jesus s estaria agindo e atuando nele de 500 anos para c, quando da Reforma Protestante. Enfim, Deus tem meios e modos de fazer que a Sua salvao entre no mundo sem, obrigatoriamente, ter que faz-la evanglica. A Igreja pode ser de Jesus, e ser evanglica. No h nada incompatvel com isso. Mas, a Igreja pode ser evanglica, e o pas no qual est inserida tambm, sem que ambos sejam de Jesus, porque o fato de ser evanglico religiosamente falando no implica uma relao direta com Jesus e com Seu evangelho. s vezes, desenvolvemos esquemas religiosos que se tornam independentes de Deus e divorciados dEle, existindo como uma cultura autnoma, no tendo mais nada a ver com a origem de todas as coisas, a saber, Deus, o Criador. Ora, isso aconteceu com o judasmo, que no incio fora a religio de Deus e que acabou sendo, depois de algum tempo, uma religio que, em muitas fases da Histria, lutou contra Ele. Isso tambm ocorreu com o movimento farisaico, que no incio fora um movimento defensor do zelo pelas coisas de Deus, tornando-se, ao final, o "carro-chefe" que deflagou a morte histrica de Jesus. Isso se verificou, de igual modo, no cristianismo original dos apstolos, do Novo Testamento, que, 300 anos depois, foi "constantinianizado", transformando-se num movimento de natureza poltica com vistas unificao do Imprio Romano, em decorrncia do que a Igreja se foi paganizando, at que ela mesma criou o momento mais escuro da histria da civilizao humana (a Idade das Trevas) do ocidente com as Cruzadas e o advento da Santa Inquisio, feitas em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, utilizando a cruz e todos os demais elementos sagrados do cristianismo, ainda que o Esprito Santo neles no estivesse presente, nos quais Jesus estivesse ausente e nos quais Deus no Se manifestasse, mas o diabo. Ns, hoje, estamos vivendo um momento singular, quando vemos a f espalhando-se pelo Brasil. Aleluia! No entanto, a pergunta que devemos nos fazer, com relao expanso da f neste pas, o que queremos que acontea com o Brasil. Queremos v-lo apenas tornar-se uma nao evanglica, tendo templos em todos os lugares, vendo a maioria das lideranas polticas confessando-se evanglicas, tendo muitos veculos de comunicao evanglicos, com uma boa parte dos recursos financeiros do pas em poder daqueles que se dizem evanglicos, etc?!... Mas, o Brasil vai continuar o mesmo! Na mesma misria, com os mesmos casos de corrupo, com a mesma prtica poltica... Talvez, at, pior, pelo fato de no haver mais nenhuma referncia evanglica qual se possa recorrer, no se tendo esperana

de alguma coisa alternativa, porque o que era alternativo se acabou tornando em algo associado ao que existe de pior no mundo, que por sua vez passou a usar o nome de Deus para justificar suas aes. isso que queremos? Ou queremos um pas de Jesus? Um pas no qual o corao das pessoas esteja cheio do evangelho de Jesus; no qual os sinais do evangelho estejam presentes sinais de justia, de verdade, de solidariedade, de generosidade, de bondade, de f sadia, de prosperidade equilibrada e justa os quais evidenciem que a mo de Deus est abenoando a terra como um todo; sinais de salvao genuna, que desembocam numa transformao da mente, da conduta, da vida, dos relacionamentos e dos vnculos os mais diversos. isso que queremos? O que queremos que acontea ao Brasil? Gostaria em muito de que dissssemos que queremos ver o Brasil se tornar um pas de Jesus, vendo o Reino de Deus sobre esta terra, o qual estar sobre ns no quando formos maioria, mas quando esta terra estiver salgada pelo evangelho do Senhor Jesus; quando houver mais sinais de justia feita em nome de Deus do que de injustia; quando houver mais sinais do amor de Deus do que de escndalos; quando houver mais manifestao do Esprito Santo do que do poder humano que manipula as coisas. A, sim, estaremos "cara a cara" com manifestaes do Reino de Deus e do evangelho do Senhor Jesus. O que isso tudo que foi exposto at o presente momento tem a ver com o texto que abre este captulo? Porque tal texto mostra a grande e primeira manifestao de que processos de corrupo, de distoro e de "fanatizao" da f esto mais prximos de ns do que imaginamos. No texto de Lucas 9:51-56 no encontramos a descrio de um episdio do qual Jesus estivesse ausente. Ao contrrio! Jesus est presente, andando com Seus discpulos Tiago e Joo (Lucas 9:54a), sendo que este ltimo entrou para a histria conhecido como o Apstolo do amor (Joo 13:23; 19:26). Mas, estes homens, ainda que andassem com Jesus, vendo a Sua maneira de tratar, de amar e de acolher as pessoas, e o pblico ao qual Ele Se dirigia e o qual Ele privilegia, que, em geral, era formado por doentes, carentes de amor, desprezados pela vida; estes homens que O tinham visto dar demonstraes cabais e evidentes do Seu amor imenso e misericordioso aos seres humanos; estes homens Tiago e Joo , todavia, sucumbem "sndrome do poder". Ao chegarem a uma aldeia de samaritanos, incumbidos por Jesus de Lhe prepararem pousada (Lucas 9:52) uma vez que Ele j estava com uma espcie de "santa obsesso" pelo Calvrio, pondo-Se a caminho em direo a Jerusalm, para onde estava indo, nada podendo det-Lo (Lucas 9:53) , dizendo a Seus discpulos que O antecipassem, indo de cidade em cidade a fim de Lhe prepararem pousada, noite aps noite. E, chegando a uma aldeia de samaritanos, os discpulos lhes disseram: " O nosso Mestre vem vindo a! Vamos preparar um lugar para Ele descansar." aqui "

" Que bom! Tomara que Ele venha" disseram os samaritanos. Que Ele fique vontade entre ns." Entretanto, quando Jesus chega quele lugar, Ele diz:

" Eu no quero ficar aqui, no! Vou passar frente." O texto claro, uma vez que diz: "(...) no semblante intrpida resoluo de ir para Jerusalm". (Lucas 9:51b) Os samaritanos se sensibilizaram com isso bom senso: e usaram a de

" Que pena! Seria uma honra O termos aqui entre ns! Mas, o que podemos fazer? Ele est querendo ir adiante, deixemo-Lo ir." Assim, os samaritanos no lanaram mo de nenhum argumento que, de algum modo, pudesse dissuadi-Lo da sua inteno, fazendo-O permanecer entre eles. Simplesmente disseram: " Se o Senhor quer passar, pode passar." E Jesus passou. No entanto, Tiago disseram: " O que esse pessoal pensa que somos?!" Os discpulos no iriam dizer para Jesus: " Mestre, o Senhor quer que faamos vir fogo do cu para consumi-Lo?" Mas, dirigiram toda a sua frustrao para o "mais fraco", para o "herege", para quem no gozava de boa reputao, que era o samaritano. "(...) Senhor, queres que mandemos descer fogo do cu para os consumir?" (Lucas 9:54b) L no fundo do corao de Tiago e Joo havia uma frustrao enorme, por terem feito tudo aquilo que Jesus determinara, preparando-Lhe pousada, para, no fim, Ele resolver passar adiante, no considerando do ponto de vista daqueles discpulos o esforo que dispenderam para que Sua passagem pela aldeia de samaritanos fosse a mais agradvel possvel. " Algum vai ter que pagar por isso! Ah, vai sim!" Tiago e Joo. J que no podem "descontar" Este: em Jesus, eles do pensaram dizem cu a e Joo, frustrados,

" O Senhor quer que a gente mande descer fogo consumir esse pessoal?"

para

Impressiona-me o fato de que esse episdio ocorreu cerca de 2000 anos atrs, com Jesus presente. Imaginemos hoje. Se se tem coragem, na presena de Jesus, de se manipular o nome de Deus e o Seu poder contra algum ou contra um grupo de quem ou do qual no se gosta, imaginemos nos dias de hoje, sem a Sua presena fsica! Se nos primrdios da f e diante de Jesus algum tem o atrevimento de fazer um pedido como aquele, imaginemos a que a natureza humana pode recorrer quando, num af de religiosidade, exacerba tal sentimento,

acreditando que Deus e o Seu poder esto disponveis para o atendimento dos nossos caprichos, demandas e frustraes. Fanatismo no salva, apenas amargura a vida. No texto de Lucas 9:51-56, o que se constata o sintoma bsico essencial para o nascimento de um esprito de fanatismo. Tiago e Joo deixam-se dominar pelo esprito de seita, a qual se concebe como um grupo fechado de iluminados, os quais tm uma conexo especial com Deus, usando o poder dEle a seu prprio favor, contra aqueles ou contra aquilo de que no gostam. H algum tempo atrs, li num jornal de So Paulo uma matria sobre uma mulher que foi a uma igreja dita evanglica, na qual encontrou um pastor vendendo uma pulseirinha, cujo valor era R$ 50,00. Tal pastor dizia: " Quem quiser a bno de Deus tem que comprar essa pulseirinha para colocar no pulso. s R$ 50,00! Quem vai querer a bno de Deus?" E uma grande fila se formou na frente do plpito onde estava aquele pastor vendendo aquela pulseirinha, a qual "traria" a bno daquela semana. Quem no tivesse aquela pulseirinha no ganharia nenhuma bno naquela semana. Aquela mulher egressa da macumba achou estranho aquilo tudo, pois cria em que as coisas de Deus eram de graa. E ficou observando tudo que se passava sua frente. Ao seu lado, uma senhora desabafava: " Eu queria tanto essa bno da semana! Mas eu no tenho R$ 50,00... S R$ 5,00!... Ser que ele me vende a pulseirinha por R$ 5,00, s para eu levar essa bno?" Ela disse: " Vai l! Ele compaixo, n!" pastor. Tem que ter um pouquinho de

" S se voc for comigo!" a senhora lhe falou. E para l foram as duas. disse: Chegando l, aquela senhora eu no

" Pastor, eu quero levar a bno da semana... Mas, tenho R$ 50,00. Eu s tenho R$ 5,00." O pastor imediatamente lhe respondeu:

" Olha, minha filha! Traz mais R$ 45,00 que a bno Deixa os R$ 5,00 e traz mais R$ 45,00." " Mas, pastor, eu no tenho mais! Eu s tenho R$ 5,00." disse. " Sem mais R$ 45,00 no leva!" Afirmou o pastor. Ento aquela mulher oriunda da macumba, e que estava aproximando da f dirige-se quele pastor, dizendo:

sua. Ela se

" No possvel, pastor! As bno de Deus so de graa. Ningum compra nada dEle. Deus misericordioso! Ns damos a Ele por gratido. Ns no compramos nada dEle."

O pastor lhe respondeu incisivamente: " Aqui, no! Ou compra, ou no leva!" " No possvel! Ento, isso argumentou. aqui no de Deus." Ela

Ao terminar de dizer isso conforme o relato dessa mulher naquele jornal ela levou uma pernada que a derrubou no cho. Depois disso, ouviu algum dizer: " Chutem!" Ela disse ainda que alm dos inmeros chutes que lhe deram, agararam-na pelos cabelos, levantando-a do cho para lhe darem socos no rosto, no estmago, nas costas... Isso tudo durou meia-hora, segundo ela. Durante a "sesso" de espancamento, algum disse: " Ela est possessa pelo demnio!" Ela, porm, dizia: " No! Eu estou falando em nome de Deus!" E apanhou, apanhou, at que se calou de tanto apanhar. Ela foi embora para casa toda arrebentada. De casa, levaram-me para o hospital e depois para a delegacia. O que que faz que tais coisas aconteam? Naquele mesmo jornal li uma reportagem intitulada "O dia em que quase queimei na fogueira", escrita por um jornalista que visitou uma igreja tambm dita evanglica escondido", fazendo uma matria, encontrando material farto para o seu trabalho. Esquisitices de todo tipo, com manifestaes de manipulao e coao coletiva. E ele olhando tudo aquilo. De repente, ele resolveu anotar algumas "frases" que eram faladas, alguns jarges que eram proferidos. Mas, ele pensou: " Se eu anotar qualquer coisa aqui, vo desconfiar de mim." At que num determinado momento do culto, as pessoas foram convidadas a escrever num papel algum problema que queriam ver solucionado ou algum pedido que queriam fazer e lev-lo frente para orao tal como ocorre em muitas igrejas evanglicas no havendo nada de errado nessa atitude. Aproveitando que todos estavam escrevendo, comeou a fazer algumas anotaes. Mas, ele devia ter muita cara de reprter ou devia escrever como tal conforme seu prprio relato. Porque, de repente, ele s sentiu um safano por trs, na cabea. "Praft!" E mais outro: "Praft!" Algum comeou a gritar:

" H um traidor em nosso meio! O que que a gente traidor?!" E, alucinada e freneticamente, as gritar: pessoas

faz

com a

comearam

" Queima! Queima! Queima! Queima! Queima!" As pessoas se dirigiram para onde ele estava, marchando como soldados, at que o agarraram pelos cabelos, comearam-lhe a bater no rosto e a empurr-lo para todos os lados. Ele pensou, desesperado: " Vou morrer aqui dentro!" Olhando para o seu lado, vislumbrou algum que lhe pareceu o mais lcido dentre a multido frentica que o cercava e o espancava, ao qual lhe disse, entre socos e empurres: " Por favor, pelo amor de Deus, me ajuda!" Ento, aquele homem, entrou no meio da roda e disse: " Calma! Calma! Vem, que eu lhe dou proteo." Tal homem conseguiu tir-lo daquele templo e, do lado de fora, deu-lhe uma sacudida e disse-lhe: " Dessa vez eu o salvei. Mas, no volta mais, no... voc est lidando com gente poderosa!" chegando porque

Um amigo pastor certa vez estava me dizendo que, em visita a uma igreja, o pastor pediu uma garrafa de vinho. E, pegando-a, quebrou-a no canto do altar, ficando com o gargalo mostra. E, dirigindo-se s pessoas que assistiam ao culto disse: " Quem aqui -- cabra de ferro, valente, cheio de f em Deus?... Que venha at aqui frente, para que eu d com a garrafa na cabea... vou tirar o seu sangue aqui na frente... vou tirar os seus miolos... Vem! Vem, em nome de Jesus, vem!" Disse-me o meu amigo que o tal pastor chegava a dizer: " Eu quero ser do diabo, se eu no fizer isso com voc." E repetiu isso trs vezes. Um rapaz atendeu ao pedido do pastor, indo at frente. Mas, ao chegar l, o pastor lhe disse: " Voc no serve! Voc estava aqui ontem, e por isso j conhece a minha encenao. Voc no serve, no. Volta! Quero algum que no conhea a minha encenao." No foi ningum. E ele insistia:

" Vem quem tem f! Vem! Vem!" Ningum foi. Ele, ento, disse: " Viram? Ningum tem f! Se eu estivesse oferecendo um Mercedes ou um apartamento na praia, todos vocs viriam. Mas como o que lhes ofereci era uma garrafada na cabea ningum veio. por isso que Deus no pode dar nada a vocs. Se voc quiser receber alguma coisa de Deus, voc tem que ser capaz de fazer coisas loucas." E arrematou: " Quem aqui quer fazer um negcio de 100 mil reais?" Vrias pessoas levantaram as mos: " Ento, dem-me um cheque de 10 mil reais." E, no conseguindo ningum que lhe desse cheque de 10, 5 ou 1 mil, conseguiu trs otrios que lhe deram, cada um, um cheque de R$ 500,00, porque perguntou quem queria fazer um negcio de 5 mil dlares, ao que trs pessoas responderam levantando as mos. Por que um salafrrio desse tipo consegue "limpar" o bolso do outro? O que isso tem a ver com o evangelho de Jesus? Angustia-me perceber que muito daquilo que chamamos de evanglico, no pas, assim. E se essa tendncia se desenvolver e prevalecer no Brasil, vamos ter um pas evanglico, mas sem nada do evangelho, correndo o risco de vivermos num pas de fanticos, que no vo salgar a terra, porm, apenas, amarg-la. Fanticos no salgam a terra porque no amam a vida e no querem um mundo melhor; fanticos s querem o mundo para si mesmos. O fantico no ama o mundo; quer apenas domin-lo. Esse o esprito do fanatismo. CARACTERSTICAS DO FANATISMO Quando lemos o texto de Lucas 9:51-56, percebemos nas entrelinhas quatro coisas que se relacionam com o esprito de fanatismo, que chama fogo do cu, que quer destruir os outros, perdendo o amor pela vida, com o nico propsito de dominar o mundo. O fantico pode at dominar o mundo, mas no salga a vida, melhorando-a. Por qu? Primeiro, porque, para o fantico, sua misso mais importante do que o propsito dela. O fantico entende que mais importante do que o propsito pelo qual foi enviado fazer acontecer aquilo que ele quer que acontea. Tiago e Joo foram enviados para prepararem pousada para Jesus, no importando se Ele queria ou no ficar na cidade. No entanto, Jesus "frustra" as expectativas dos dois discpulos, no se detendo na aldeia de samaritanos, mas indo adiante. Para Tiago e Joo, mais importante do que o que foram fazer (preparar pousada para Jesus) era acontecer o que eles queriam que acontecesse (que Jesus permanecesse na aldeia). A misso deles ("lhe preparar pousada") tornou-se mais importante do que o propsito dela ("a intrpida resoluo de ir para Jerusalm"). Mais importante do que criar espao para Jesus escolher o que queria fazer (f