Hoje Macau 29 JUL 2014 #3141

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Especialistas afirmam que o modelo usado para a avaliação do mercado não se aplica a 100% à realidade de Macau. High Hoper na Fundação Rui Cunha Arte comunitária Deixem-me sonhar RESERVA FINANCEIRA Deputados querem revisão da lei para se viver melhor RELATÓRIO DO FMI Onde está a bolha? HOJE MACAU Enquanto esperam e desesperam por uma habitação digna, centenas de idosos sobrevivem entre baratas e ratos. Macau para além do brilho dos casinos. RATOS & HOMENS HABITAÇÃO IDOSOS SOBREVIVEM EM CONDIÇÕES PRECÁRIAS EVENTOS CENTRAIS POLÍTICA PÁGINA 5 SOCIEDADE PÁGINA 7 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 TERÇA-FEIRA 29 DE JULHO DE 2014 ANO XIII Nº 3141 hojemacau PÁGINAS 2 E 3 PUB

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Hoje Macau N.º3141 de 29 de Julho de 2014

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Especialistas afirmam que o modelo usado para a avaliação do mercado não se aplica a 100% à realidade de Macau. High Hoper na Fundação Rui Cunha

Arte comunitáriaDeixem-me sonhar

RESERVA FINANCEIRADeputados querem revisão da lei parase viver melhor

RELATÓRIO DO FMIOnde está a bolha?

HOJE

MAC

AU

Enquanto esperam e desesperam por uma habitação digna, centenas de idosos sobrevivem entre baratas e ratos. Macau para alémdo brilho dos casinos.

RATOS & HOMENS

HABITAÇÃO IDOSOS SOBREVIVEMEM CONDIÇÕES PRECÁRIAS

EVENTOS CENTRAIS POLÍTICA PÁGINA 5 SOCIEDADE PÁGINA 7

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 T E R Ç A - F E I R A 2 9 D E J U L H O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 1 4 1hojemacau

PÁGINAS 2 E 3

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HOJE

MAC

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hoje macau terça-feira 29.7.20142 REPORTAGEM

FIL IPA ARAÚJO*[email protected]

O calor faz-se sen-tir, como sem-pre, em Macau. Olhamos para

cima e o sol está na sua forma máxima de brilho, o céu está limpo e prevê-se um final de dia perfeito. Mas pode não ser assim para todos.

À hora marcada lá estava Ng Wai, no ponto de encontro, tal como combinado. De sorri-so largo apresenta-se como o irmão do nosso entrevistado. “Ele não vos vai falar, é defi-ciente, sofre de poliomielite”, avança. “Mas eu respondo a tudo o que quiserem”, garante.

Ali bem junto às Portas do Cerco, centenas de auto-carros circulam diariamente transportando os turistas para os centros de luxo - os casinos. Num jogo de pára--arranca arriscamo-nos a di-zer que ninguém repara num edifício de dois andares – que mais se parece com um antigo armazém – metade inteiro, metade desfeito. É exacta-mente aqui que entramos. “Sigam-me, é por aqui”.

Um cheiro nauseabundo entranha-se de imediato. Avançamos de cabeças bai-xas para não bater no tecto e percorremos um corredor onde só cabe uma pessoa. Pensamos que se alguém sur-gisse do lado oposto teríamos que percorrer todo o caminho de volta. Não surgiu.

“É aqui. Aqui está ele”, diz-nos Wai.

Sem sequer nos olhar, Ng Su On de 55 anos, mantém os olhos fixos num pequeno – minúsculo – ecrã que emite sons e cores de forma fugaz. Su On vestia apenas uns ‘boxers’ velhos e rasgados, mexia o corpo em movimen-tos sistemáticos e constantes e não proferiu uma única palavra na meia hora que se seguiu. O irmão conta-nos que Su sempre vivera com a mãe e o padrasto.

“Por volta dos anos 80,

HABITAÇÃO PÚBLICA DEMORAS E REGRAS RÍGIDAS LEVAM IDOSOS A VIVER EM DIFICULDADES

Sem brilho no olhar

não sei dizer o ano certo, mas foi depois de 1980, a minha mãe – que começara a adoe-cer e a temer que ninguém cuidasse do seu filho se o seu estado piorasse – preencheu o formulário para requerer a habitação económica para os dois filhos”, incorporando assim a responsabilidade ao mais velho de cuidar do irmão. “Na altura eu não pensava ter família e achei que era o melhor para nós”.

A ideia era boa, mas fal-tou um pequeno detalhe: Wai e a mãe nunca imaginaram

que o “período de decisão” para conseguir uma casa do Governo demorasse tantos anos.

Actualmente, em Macau, os candidatos a casas de ha-bitação pública são sujeitos a uma fila de espera, que pode fazer com que fiquem até dez anos à espera de uma casa. O problema tem vindo a ser polémico na sociedade, com os deputados a frisarem, por exemplo, que a necessidade do tipo de apartamento pe-dido – T1, T2 ou T3 – pode alterar-se ao longo do tempo.

Com o rumo natural da vida, Wai tornou-se homem, casou e teve dois filhos, criando assim a sua indepen-dência. O irmão manteve-se com a mãe e o padrasto, até à morte desta. Su foi “deixado ao abandono” por aquele que não era o seu pai e foi “depositado” naquele que é, agora, o seu único espaço: um quarto com lixo. Quatro paredes acolhem baratas e ratos e um formigueiro chama-nos a atenção, por-que surge no cimo de uma das paredes. Não há janelas,

mas há um colchão, latas velhas, pacotes de bolachas, um tacho de arroz com cor amarelada. Há ainda panos velhos pendurados, bocados de pneu e cobertas para as possíveis noites frias. O ar é irrespirável. Tentamos uma comunicação amigável com Su, mas ele volta a ignorar--nos. “Estive dez anos sem saber do meu irmão, não sabia onde é que o marido da nossa mãe o tinha deixado”, conta Wai.

Neste compasso de espe-ra e procura, Wai acaba por receber luz verde do Gover-no para comprar uma casa de habitação económica. Um T2 “pequeno e quente” como descreve, que acolhe agora a sua esposa e os dois “miúdos”. Su não consegue morar neste apartamento e as regras da habitação pública não permitem que Wai peça outra casa para o irmão.

“Não tenho espaço nem condições para cuidar do meu irmão. Quando o des-cobri aqui voltei a pedir uma habitação, desta vez social, para que ele tenha condições melhores e apoio. Ele é de-ficiente, precisa de alguém que perceba destes casos”, justifica-se ao HM.

O pedido de habitação so-cial foi rejeitado. Um portador de deficiência não pode pedir uma casa de forma indepen-dente, nem através de alguém, sendo que é obrigatório que esteja incluído no agregado familiar. Tentando contornar as leis, Wai explicou o caso aos serviços e tentou pedir uma nova habitação econó-mica, mas desta vez maior para que sua actual família pudesse receber o seu irmão. Pedido negado.

A lei referente à habita-ção económica impede que quem tenha recebido uma casa deste tipo através do Governo a possa vender no prazo de 16 anos – no caso do mercado privado – ou de seis anos, se o comprador for alguém que preencha os

requisitos. Além disso, um agregado familiar não pode mudar a tipologia do apar-tamento que tenha escolhido no momento do requerimen-to. Mas estas regras não são o único problema.

Ng Wai tem uma habi-tação e é só com essa que pode contar. “Mesmo que eu pudesse pedir, com o tempo que eles demoram a decidir, já os meus filhos são casados”, desabafa.

“VIVO DO LIXO”Alguém com ar curioso espreitava-nos do outro lado do corredor enquanto faláva-mos com Wai. Olhava, sorria e escondia-se. Uma, duas, três vezes. Quando nos des-pedimos de Su e do irmão, o observador aproxima-se e pergunta: “Querem que eu vos mostre as casas?”. Aceitamos sem hesitar.

“Esta é a casa de banho, serve para todos”. Uma porta de madeira esconde local que parece abandonado. Estava descoberta a origem do chei-ro nauseabundo que agora se manifestava como um ácido narinas acima. “Quantas pessoas partilham este casa de banho?”, perguntamos. “Não sei, são 40 quartos, mas somos mais de 40 pessoas. Não sei se posso dizer isto”, explica de sorriso maroto.

O que esconde o coração daquela que é a cidade com mais casinos do mundo? Como vivem aqueles que, com o rosto marcado pelas rugas, vivem no escuro, ainda que por entre o brilho e o glamour? Sem casa, devido aos atrasos ou burocracias da habitação pública, são muitos os idosos que vivem sem condições ou que demoraram a tê-las

Leong Ieng

“É impossível eu conseguir provar que moro aqui. Isto não existe legalmente, não tenho contas de água ou de luz. Dou o dinheiro ao senhorio e pronto”LEONG IENG LONEx-técnico de obras

Leong Ieng Lon é o seu nome. Tem 60 anos e mostra à equipa do HM a sua “casa”, o seu espaço. “Está limpinho e arrumado”, gaba-se. Senta-mo-nos a conversar, não nos mostrando espantados com a capacidade que Ieng tem em arrumar num espaço mi-núsculo tudo o que a vida lhe deu. Sentado na cama, estica o braço para o mini-frigorífico mesmo à sua frente e tira duas latas de chá de ervas. “Tomem, está fresco”.

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3 reportagemhoje macau terça-feira 29.7.2014

Este espaço, que não consegue acolher mais de três pessoas, custa-lhe 300 patacas por mês. “Não é renda, é o que o senhorio cobra de água e luz. Não há gás. Tenho esta resistência para ferver água”.

Ieng, outrora, foi técnico de obras. Não tem filhos, mas foi casado e vivia numa casa que lhe custava 3000 patacas mensais. “Ela deixou-me, não fui um bom marido”, confessa-se. “Estão a ver a minha pele escura? É do trabalho e da velhice”, brinca. É a recolha do lixo que lhe dá dinheiro para conseguir pagar as contas e comprar as suas “coisinhas”.

Também Ieng está impe-dido de pedir uma habitação social. Isto, porque um dos papéis obrigatórios para a candidatura é o compro-vativo de habitação actual. “É impossível eu conseguir provar que moro aqui. Isto não existe legalmente, não tenho contas de água ou de luz. Dou o dinheiro ao se-nhorio e pronto”, confessa--nos.

Atrás de nós ainda está Ng Wai, que acena com a cabeça em sinal positivo e avança com uma obser-vação. “O Governo devia pensar mais nestas pessoas. Somos idosos, precisamos de algum conforto. E o meu irmão precisa ainda mais de ajuda. Eles [o Governo] deviam ajudar estas pessoas que estão desamparadas.”

No início deste ano, a União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) publicou um inquérito sobre pessoas idosas que vivem sozinhas. Foram entrevistados mais de 952 idosos com mais de 60 anos que vivem sozinhos e os resul-tados mostravam que 72% dos entrevistados até têm filhos a residir em Macau.

Cerca de 64% têm vários problemas de saúde, de acordo com o inquérito, e “muitos admitiram ter difi-culdades em subir e descer escadas nos edifícios mais antigos, o que faz com que os idosos não tenham vontade de sair à rua”.

Isso mesmo acontece com Su, o nosso primeiro “entrevistado”, que “há anos que não vai à rua”,

porque, como nos contou Wai, “andava, mas uma vez num degrau da casa caiu e magoou-se na bacia e agora não consegue andar nem equilibrar-se”.

BUROCRACIAS NUM MUNDO AO LADO Ao olhar pela janela Lai Fong não esconde a ansie-dade. Está quase a começar a sua aula de artes plásticas e Lai não se quer atrasar. Vive na Ilha Verde há sete anos. “Mas foi preciso esperar 11 anos para conseguir vir para aqui”, conta-nos.

“Aqui” é um T1 num complexo de edifícios de habitação social. Lai vivia com o filho, também num pequeno T1. “Era muito complicado, o apartamento era muito pequeno. Depois o meu filho casou-se e teve quatro filhos. Uns dormiam no quarto e outros na sala. Eu dormia no sofá”.

Tal como Su e Ieng, Lai também recebe 3000 patacas mensais de reforma, que “não servem para pagar uma renda”. Sem esconder o “quanto é bom” viver nestes apartamentos, Lai confessa--nos que não sabe onde estaria agora, se não tivesse tido direito a esta casa. O filho voltou para a China. Lai está, agora, sozinha por cá.

de canto, de dança e até ginástica, mas essa eu não faço”, conta divertido.

Para a assistente social que nos explica os procedi-mentos para ter uma casa, este centro é local ideal para idosos e portadores de deficiência, uma vez que aqui é possível “oferecer--lhes condições de saúde e outras actividades que não poderiam conseguir de outra forma”.

Mas, sem estas associa-ções, o que seria dos idosos de Macau? E quantas mais histórias há, além dos dois exemplos – de vários com quem falamos – que demos?

Paul Pun, secretário--geral da Cáritas, é uma das pessoas que mais lida com este tipo de situações. Pessoas que esperam por ha-bitação do Governo. Pessoas que nem sequer têm direito a ela, por faltar um ou outro documento.

Mas, esquecendo os que esperam e/ou não conse-guem fracções de habitação pública, Paul Pun diz-nos que tenta proporcionar bem--estar “a mais de 500 pes-soas” só em asilos de Macau. Mas, e as outras?

“Ainda não organizámos os números destes seis pri-meiros meses, mas posso garantir que são quase 1700 pessoas as que a Cáritas ajuda mensalmente”, conta ao HM.

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que, em 2013, existem mais de 48 mil habitantes com mais de 65 anos. Os que têm entre 50 a 64 anos são cerca de 78 mil e perfazem 8% da população. O índi-ce de envelhecimento em Macau reside nos 70,8% e é visto, actualmente, como um “dos maiores desafios” do Governo.

Em 2023, por exemplo, é esperado que o número da população idosa vá ul-trapassar a percentagem de crianças e adolescentes, que no ano passado era de cerca de 14%.

Num brilho que só Ma-cau consegue ter, estão afinal escondidas dificuldades que passam tão discretas aos olhos de quem não as quer ver. Idosos ou portadores de deficiências que, sem família para os acolher, esperam pela chegada do dia da mudança. Um dia de mudança que se pode traduzir numa casa atribuída pelo Governo. Um dia que pode nem sequer chegar a tempo. - *com Flora Fong

Ao seu lado está Fei Lin que, apesar do seu sorriso aberto, mostra-se sempre tímida em falar com o HM. Também ela teve uma espera de oito anos até conseguir ouvir um sim do Governo. Mora num apartamento também com um quarto, mas não está sozinha: o marido vive com ela. “Temos um filho no interior da China e

gostávamos que ele viesse para Macau, mas as rendas são muito caras e ele tem três filhos, precisa de uma casa grande”, conta.

Apesar de admitirem estar felizes com a casa do Governo, foram muitos os anos para que uma melhor “qualidade de vida”, como Lai descreve, lhes batesse à porta. Ou para que uma porta se abrisse.

“Temos muita sorte em estar aqui. Eu gosto muito de estar aqui. O dinheiro para os idosos não chega para pagar uma renda”, diz Lai, cujo rosto muda quando confron-tada com a situação de outras pessoas, noutros lugares de Macau, como Su. “Mas foi preciso esperar muito para estar aqui. O Governo tem que mudar a lei, tem que fazer com que a habitação social seja mais fácil para todos e mais rápida. Todos esperámos muito”.

As regras feitas pelo Exe-cutivo não ajudam, frisam os nossos entrevistados. A burocracia é demasiada, tal como nos explica uma das assistentes sociais do Centro dos Kaifong (UGAMM) na Ilha Verde. “O processo requer alguns documentos. É feita uma análise à situa-ção do agregado familiar, o rendimento mensal não pode ultrapassar as 7500 patacas e depois é tomada a decisão.

Não vos consigo precisar o número de pedidos que estão pendentes, mas são muitos.”

AJUDAS DE FORAÉ neste centro que os idosos que vivem sozinhos na Ilha Verde passam o tempo. Percebemos isso quando entramos e quando, a ouvir a conversa, há também um senhor, o único, que com um ar descontraído nos diz “ouço mal, não sei o que estão a dizer”.

Brincamos com a si-tuação e logo travamos amizade. Song Loi, assim se chama, gaba as actividades que os serviços aos idosos organizam. “Temos aulas de computador, de caligrafia,

“O Governo devia pensar mais nestas pessoas. Somos idosos, precisamosde algum conforto”NG WAI

Ng Su

Casa de banho

“O Governo tem que mudar a lei, tem que fazer com que a habitação social seja mais fácil para todos e mais rápida. Todos esperámos muito”LAI FONG

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hoje macau terça-feira 29.7.20144 POLÍTICA

FLORA [email protected]

L AM Heong Sang, deputado indirecto e vogal da Comis-são de Ética para a Adminis-tração Pública, espera que

a vinda do novo Governo possa colocar Macau noutro patamar, sem dificuldades. Em declarações ao HM, o deputado frisa que Chui Sai On – até agora único candidato – tem de ter um programa político mais claro.

“Em primeiro lugar, se o novo Chefe do Executivo não tiver um programa político muito claro e prático, não é possível resolver realmente as insatisfações de vida da população, da habitação e dos transportes de Macau”, começa por apontar Lam Heong Sang. “Nos próximos cinco anos, o Chefe deve ter um plano e mostrá-lo a toda a po-pulação, que deverá ter uma palavra

O vice-director da Federação das Associações dos Ope-rários de Macau (FAOM),

Lei Chan U, mostrou-se insatisfeito e desapontado com a proposta do Governo para a indemnização de despedimento sem justa causa. O responsável considera que im-por limites nas indemnizações viola as regras da Organização Internacional do Trabalho. “É um direito digno”, diz, e impor limites poderá causar uma rela-ção negativa entre empregadores e empregados.

O Governo apresentou uma proposta onde aumenta as indem-nizações por despedimento sem justa causa de 14 mil para 20 mil patacas, com limite de 12 meses

Educação especial Faltam funcionários de língua portuguesa Leong Lai, directora dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), admite que faltam funcionários de língua portuguesa no organismo. Respondendo a alguns comentários recentes, que dizem que Macau tem falta de professores portugueses na área do ensino especial, Leong Lai explicou que, realmente, faltam funcionários da língua portuguesa que tratam das admissão em vagas. Estes trabalhos incluem observação da situação de estudo dos alunos. Leong Lai apontou que a DSEJ precisa de recrutar dois funcionários, já abriu concurso para as vagas, mas ninguém, até ao momento, tem qualificação para o trabalho. Leong Lai acredita que conseguirá recrutar funcionários, porém as aulas podem vir a ser dadas por professores ingleses e interpretadores portugueses ajudam a comunicação com os alunos e pais. - F.F.

Lei de Bases dos Idosos Chan Meng Kam pede calendário O deputado Chan Meng Kam quer saber onde anda a proposta de Lei de Bases e Garantias do Direito dos Idosos. Numa interpelação escrita ao Governo, Chan Meng Kam critica o facto de a lei ainda não estar concluída – há mais de quatro anos a ser preparada – e questiona se o Governo vai publicar os processos legislativos por que tem passado a lei e o calendário para que a proposta seja apresentada. Chan Meng Kam relembra que o envelhecimento em Macau vai atingir picos altos, sendo que a percentagem esperada em 2036 – 20,7% - supera o critério das Nações Unidas, que é de 7%. O deputado considera que os dados mostram que o envelhecimento da população em Macau tem acelerado e recorda que o Governo referiu que tentou entregar a proposta no fim de 2012 à Assembleia Legislativa, mas no entanto, até ao momento não está a ver os relativos trabalhos legislativos. - F.F.

O deputado Lam Heong Sang pede que o novo governo tenha mais clarezae sentido prático

CHUI SAI ON SÓ PODE TIRAR BENEFÍCIOS SE ESCUTAR A POPULAÇÃO, DIZ DEPUTADO

A difícil arte de saber ouvir

“O Governo deve aceitar as opiniões de residentes, saber quais as medidas com que estão de acordo e quais devem ser melhoradas”LAM HEONG SANGDeputado indirecto

SECTOR COMERCIAL AOLADO DE CHUI SAI ON Ma Iao Lai, membro do Conselho Executivo e presidente da Associação Comercial de Macau, referiu que a grande maioria dos 120 membros do sector industrial, comercial e financeiro da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo já assinaram os boletins de propositura para apoiar Chui Sai On como líder do Governo. “Espero que Chui Sai On continue a liderar Macau, continue a avançar com a reforma política e a proceder com a melhoria dos problemas da vida da população, da habitação e de trânsito, criando um Macau melhor”, disse Ma, no encontro com o Escritório de Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado em Pequim, segundo notícia avançada pela Rádio Macau.

DESPEDIMENTOS OPERÁRIOS CONTRA LIMITE DE INDEMNIZAÇÕES

Direito à dignidadee com a máxima indemnização calculada nas 240 mil patacas.

Lei disse ao jornal Ou Mun que este ajustamento ligeiro não é uma política a longo prazo.

“O salário médio geral é 13 mil patacas. Antes, a indemniza-ção mensal de 14 mil podia abran-ger 90% dos empregados, se a indemnização mensal aumentar para 20 mil patacas, apenas pode abranger 70% de todos os empregados de Macau”, refere o responsável. Além disso, diz, o

ajustamento é ligeiro e não con-segue impedir os empregadores de não despedir os empregados sem causa justa, nem assegura o direito dos empregados.

Lei apela a que o Governo deve retirar esta proposta de in-demnização e, de acordo com as necessidades reais, deve revê-la.

O vice-presidente da FAOM aconselha que o Governo reveja a proposta, mas o Executivo já disse que vai entrega-la à Assembleia Legislativa tal como está. – F.F.

a dizer. O Governo deve aceitar as opiniões de residentes, saber quais as medidas com que estão de acordo e quais devem ser melhoradas”, frisou o deputado ao HM.

Lam continuou, relembrando que há a necessidade – e que “to-dos querem” - da diversificação da economia. O deputado con-

sidera que é dever do Chefe do Executivo eliminar os problemas de Macau, sendo essa uma missão e responsabilidade do Governo, ainda que também os empresários e trabalhadores possam contribuir para este mesmo fim.

Quando questionado sobre se considera se Chui Sai On irá conseguir manter-se no cargo de líder governamental, o deputado respondeu ao HM que Chui já deverá ser capaz de saber onde estão os principais problemas de Macau, uma vez que exerceu funções de Chefe do Executivo durante cinco anos. Acrescentou, ainda, que o actual líder da RAEM deverá ter conhecimento para saber desenvolver, de forma saudável e vantajosa, o sistema político local.

Ainda assim, Lam Heong Sang ressalva que Chui é apenas uma

pessoa, pelo que o esforço deve partir de “todos nós”, uma vez que “todos somos residentes de Macau”. Em declarações ao HM, o deputado disse ainda que Chui poderá retirar bene-fícios a partir do momento em que se concentre nos residentes locais.

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5 políticahoje macau terça-feira 29.7.2014

LEONOR SÁ [email protected]

O S deputados da Co-missão de Acompa-nhamento para os Assuntos de Finanças

Públicas querem a revisão do Es-tatuto da Autoridade Monetária de Macau, que regulamenta o fundo de reserva financeira do território. Na opinião do presidente da Co-missão, Mak Soi Kun, que espera ter mais novidades até final desta sessão legislativa, a necessidade de rever o diploma tem que ver com a “maximização do dinheiro da população” e com uma melhor fiscalização do erário público, que cabe ao grupo ao qual o deputado preside. “Entendemos que já é tempo oportuno de re-ver a legislação”, disse Mak Soi Kun, acrescentando que a ideia é que o erário público possa ser melhor gerido e fiscalizado e, quem sabe, até aplicado para “melhorar a qualidade de vida dos residentes”.

O deputado explicou ainda que, embora grande parte da gestão financeira e cambial do território seja efectuada pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), foi ao Governo que o pedido de revisão da lei foi feito, uma vez que o assunto se encontra sob tutela de Francis Tam, Secretário para a Economia e Finanças.

O actual regime dita que o sal-

D E acordo com o presidente da Au-toridade Monetária

de Macau (AMCM), An-selmo Teng, o projecto de lei que deverá substituir o regime da Reparação por Danos Emergentes de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais está actualmente em fase de

Casas sociais Melinda Chan pede mudanças nas rendas A deputada Melinda Chan entregou uma interpelação ao Governo onde questiona irregularidades no pagamento das rendas da habitação social. “É estranho que aqueles que não reúnem condições para arrendar habitação social e que deviam pagar o dobro das rendas também estejam abrangidos no âmbito da isenção de renda. Vai então o Governo rever a respectiva lei, para não conceder qualquer isenção de renda a esse tipo de arrendatários?”, questionou a deputada.

Assédio sexual PJ estuda eventuais insuficiências na lei A Policia Judiciária (PJ) admitiu, em resposta a uma interpelação do deputado Mak Soi Kun, que entre 2013 e Maio deste ano foram registados 10 casos de abuso sexual de crianças e 10 casos de violação a menores. “Os autores desses crimes são indivíduos desconhecidos e ao mesmo tempo existem também indivíduos conhecidos pelas vitimas”, explica a PJ na resposta. O mesmo organismo garante ainda “avaliar atempadamente o resultado da execução da lei, estudando a própria lei quanto à existência, ou não, de insuficiências, fornecendo o parecer em tempo oportuno ao respectivo serviço governamental ou Assembleia Legislativa”.

Para o presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas, Mak Soi Kun, está na altura fazer alterações ao diploma que regula o fundo da reserva financeira para melhorar a qualidade de vida da população

AMCM DEPUTADOS QUEREM REVISÃO DA LEI SOBRE RESERVA FINANCEIRA

Dinheiro para se viver melhor

ACIDENTES DE TRABALHO PROJECTO DE LEI EM FASE FINAL

É que é já a seguir

alertou ainda para a necessidade do Governo contratar mais profis-sionais da área da tradução, pois há falta de pessoal para traduzir os documentos da AMCM – ge-ralmente em língua inglesa – para chinês e português.

aperfeiçoamento. A infor-mação foi dada em resposta a uma interpelação escrita da deputada Ella Lei, re-lativa às indemnizações que as seguradoras são obrigadas a providenciar a todos os trabalhadores que tenham sofrido acidentes de trabalho.

“O projecto de lei da

revisão do actual Regime da Reparação por Danos Emergentes de Acidentes de Trabalho e Doenças Profissionais entrou em processo legislativo e o texto encontra-se, actualmente, em fase final de aperfei-çoamento. Através desta revisão permite-se, por um lado, o reforço da garantia

dos direitos dos trabalha-dores, nos casos de acidente de trabalhos e doenças profissionais e, por outro, uma melhor clarificação do regime”, explicou Teng, na sua resposta.

De acordo com a inter-pelação da deputada, que acusa o Governo de estar a demorar demasiado tempo no processo de revisão da lei. O diploma, actualmente em vigor, determina que todos os trabalhadores são obrigados a ter um seguro. Uma das principais ques-tões que tem levado parte dos deputados da Assem-bleia Legislativa a pedir a revisão do diploma é o constante atraso na entre-ga das indemnizações aos lesados por acidente de trabalho que, por sua vez, se encontram impedidos de continuar as suas funções. “É desumana esta forma de ‘torturar as vítimas’”, expli-cou Ella Lei no documento enviado ao Governo.

Anselmo Teng assegura que o regime será entregue “o mais brevemente possí-vel à Assembleia Legisla-tiva”. - L.S.M.

do das despesas totais do Governo passe para reserva extraordinária – após sofrer mudanças baseadas numa fórmula de cálculo – po-dendo ser investida em acções da bolsa, por exemplo. Mak Soi Kun sugere que seja dado um outro

destino ao dinheiro antes deste passar para a reserva cambial.

Além da sugestão de revisão da lei, o deputado referiu tam-bém que já foram pedidos vários documentos ao Governo, nomea-damente uma lista de desempe-

nho dos gestores e responsáveis pelos investimentos feitos com dinheiros públicos. Em resposta, o Governo afirmou que a demo-ra na entrega do documento se deve, em grande parte, à falta de recursos humanos. Mak Soi Kun

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hoje macau terça-feira 29.7.2014

JOANA [email protected]

O Instituto de Acção Social (IAS) não tem a ideia de criar

lares que alberguem encar-regados de educação idosos e filhos deficientes. Isso mesmo admitiu Iong Kong Io, presidente do instituto, numa resposta a uma inter-pelação da deputada Wong Kit Cheng. O instituto diz também que não tem um plano para criar estatísticas sobre o envelhecimentos dos deficientes mentais, apesar de admitir um “aumento contínuo” do fenómeno de envelhecimento de pais e fi-lhos deficientes em famílias de Macau.

No documento, a que o HM teve acesso, fica a saber--se que há, actualmente, cer-ca de 300 deficientes mentais com mais de 45 anos. Entre estes, quase metade - 140 - são portadores de deficiência grave.

O chamado fenómeno de duplo envelhecimento – quando tanto os responsá-veis pelo deficiente, como o próprio deficiente começam a envelhecer – tem sido uma das maiores preocupações manifestadas por associa-ções sociais, deputados e encarregados de educação de deficientes.

Em 2009, o IAS chegou a dizer ainda que é fácil encontrar grupos de defi-cientes predestinados ao envelhecimento precoce, devido ao tipo de deficiência que apresentam. Nesse ano, o instituto prometeu também que iria ter em atenção o pro-blema e que iria providenciar serviços de acolhimento aos deficientes assim que fosse necessário.

NADA DE CONCRETOAgora, na resposta a Wong Kit Cheng, o IAS promete “providenciar serviços” de apoio a estas pessoas, mas admite que não tem planos concretos nem para a criação de lares, nem para realizar estatísticas que indiquem o progresso de envelhecimento dos deficientes.

DEFICIENTES IAS NÃO VAI CRIAR LARES PARA PAIS E FILHOS IDOSOS

Um outro plano a caminho

“ O IAS, por enquanto, não tem um plano concreto para definir os indicadores [relativos ao envelhecimento da população portadora de deficiência]”IONG KONG IO Presidente do Instituto de Acção Social

“Tendo em consideração o facto de os encarregados de educação dos deficientes in-telectuais com, pelo menos, 45 anos terem já entrado na fase da terceira idade (...) e face ao contínuo aumento

de famílias que apresentam o fenómeno de duplo enve-lhecimento, o IAS irá alocar mais recursos”, começa por dizer Iong Kong Io. “Sobre a criação de um lar que per-mita proporcionar, simulta-

neamente, os serviços de lar de idosos e de reabilitação aos filhos de famílias com deficientes intelectuais que apresentam o fenómeno de duplo envelhecimento, (...) é de referir que este instituto não tem, por enquanto, a ideia de criar o lar.”

Iong Kong Io assegura que o IAS vai recolher opi-niões sobre o assunto, de forma a avaliar a questão, mas também não deixa de frisar que “não é vulgar” encontrar lares deste tipo nas regiões vizinhas, ou “no resto do mundo”. O instituto

realça que há características que têm de ser ponderadas, caso se pense criar um ser-viço deste género.

“Ao pretender-se juntar estes dois tipos de serviços num só lar [de ajudar os ido-sos e reabilitar deficientes], além de se ter de ponderar as diferenças [ao nível] das características dos destinatá-rios, os moldes de serviços, a organização do funciona-mento do lar, as condições profissionais e o conjunto de recursos de suporte, há que considerar ainda a obri-gatoriedade, a eficácia e o

impacto de se colocar os pais de idade avançada e os filhos na fase de envelhecimento, que também carecem de ser cuidados por terceiros.”

PONDERAR O FUTURO Apesar de os números mos-trarem cerca de três centenas de deficientes a entrar na fase de envelhecimento e do IAS falar num aumento contínuo do duplo envelhecimento, o instituto descarta que o número seja significativo. Por isso mesmo, estatísticas sobre estes deficientes ainda não são para já.

“Vai-se ponderar, em função das necessidades reais, o estabelecimento de indicadores relativos ao en-velhecimento da população portadora de deficiência. Considerando que não é significativo o número de deficientes com idade supe-rior a 45 anos existentes em Macau e que o serviços que lhes são dirigidos estão in-cluídos no planeamento dos serviços para os próximos anos, o IAS, por enquanto, não tem um plano concreto para definir os indicadores [relativos ao envelhecimen-to da população portadora de deficiência]”, frisa Iong Kong Io.

O instituto realça que, neste momento, está a ser levado a cabo um “Pla-neamento dos Serviços de Reabilitação para o Próximo Decénio” e que, neste âmbi-to, se vão fazer estudos sobre o envelhecimento dos porta-dores de deficiência mental e das suas famílias. Tudo para que se possa “definir políti-cas que melhor se adequem à procura dos serviços” por parte destas pessoas.

O IAS assegura ainda a Wong Kit Cheng que as famílias com estes deficien-tes vão ter prioridade nas 350 vagas de quatro novas instalações sociais para in-ternamento que entram em funcionamento os próximos três anos. “O IAS crê que, com a sucessiva conclusão, até 2017, desses equipamen-tos sociais, o problema de cuidados com que se depa-ram as famílias com duplo envelhecimento poderá ser basicamente aliviado.”

O envelhecimento de pais de pessoas com deficiência está a aumentar, mas o IAS não tem o objectivo de criar lares que prestem cuidados, em simultâneo, tanto a idosos, como aos filhos deficientes mentais. O instituto assegura ter em conta estas famílias no plano de dez anos de serviços de reabilitação que está a fazer

6 SOCIEDADE

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7 sociedadehoje macau terça-feira 29.7.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

O primeiro relatório de avaliação do Fundo Monetário Interna-cional (FMI) a Macau

foi claro: há a possibilidade de existir uma bolha imobiliária no território, tendo sido sugerido ao Governo a criação de medidas orçamentais de médio e longo prazo para travar a escalada dos preços e evitar a subida das taxas de juro. Anselmo Teng, presidente da Autoridade Monetária e Cambial

Funcionários do jogo pedem ajuda à DSALCerca de 300 pessoas - da Forefront of the Macao Gaming e funcionários do casino Sands - tiveram ontem reunião com a Direcção dos Serviços de Assuntos Laborais (DSAL), para pedir ajuda. O caso vem na sequência de uma manifestação frente ao Venetian e está relacionado com o aumento de salários e progressão profissional. Segundo o director da Forefront of the Macau Gaming, Ieong Man Teng, a reunião demorou uma hora e meia e serviu apenas para que os fucnionários expressassem as suas opiniões. A ideia é que a DSAL sirva como uma plataforma de comunicação entre as três partes – funcionários, Sands e DSAL-, gerando consenso. – F.F.

O número de tra-balhadores não--residentes (TNR)

em Macau ultrapassou os 155 mil em Junho, mais 28,15% do que no mesmo mês de 2013. Quase dois terços são oriundos da China continental.

Dados disponíveis na página do Gabinete de Recursos Humanos com base em elementos da Po-lícia de Segurança Pública indicam que, no final de Julho, estavam emitidos 155.310 cartões de TNR, mais 28,15% do que os 121.194 existentes em Ju-nho do ano passado.

Os naturais da China continental – 99.781 – constituíam a mais impor-

TRABALHO MAIS DE 150 MIL TNR EM JUNHO

Emprego a subir

“O FMI usa um modelo para analisar os preços do imobiliário que, em Macau, dadas algumas condicionantes e especificidades que não estão contempladas no modelo, pode distorcer algumas conclusões”JOSÉ PÃOSINHO Presidente da sucursal BCP em Macau

O Fundo Monetário Internacional falou da possível existência de uma bolha imobiliária em Macau, mas a AMCM minimizou o alerta. Especialistas alertam para o facto do modelo utilizado para a avaliação do mercado não se adaptar a 100% às especificidades de Macau

MODELO DO FMI PODE NÃO SE APLICAR A MACAU, ALERTAM ESPECIALISTAS

Especificidades de pequeno mercado

(AMCM), reconheceu o problema, mas optou por um discurso menos pessimista.

“O Governo de Macau já in-troduziu medidas para combater o problema do sobreaquecimento do mercado imobiliário. Mas o FMI questiona até que ponto essas medidas são apropriadas. Temos de ser muito vigilantes em rela-ção ao que se passa e monitorizar continuamente a situação”, disse, citado pela Rádio Macau.

José Pãosinho, presidente da sucursal do Banco Comercial Português (BCP) em Macau, re-conhece que os preços da compra e venda de casa estão altos, mas chama a atenção para o modelo de avaliação utilizado.

“O FMI usa um modelo para

analisar os preços do imobiliário que, em Macau, dadas algumas condicionantes e especificidades que não estão contempladas no modelo, pode distorcer algumas conclusões”, disse ao HM, acres-centando que “as limitações ao crédito poderão ter arrefecido um pouco” o panorama do imobiliário.

O deputado José Pereira Cou-tinho considera também “não ver, na sua integralidade, os pontos de vista do FMI, porque estão longe de compreender a realidade local”.

“O que se passa em Macau é que é, de facto, um local geogra-ficamente pequeno. Não existe, na realidade, uma bolha. Significa que os espaços são cada vez mais diminutos em relação ao aumento da população e muitos turistas. O

Governo propositadamente atrasa a aprovação de plantas para cons-trução, o que origina pouca oferta e elevada procura. Não é uma bolha imobiliária mas de facto há falta de terrenos, atraso nas construções”, alerta o deputado.

Além disso, diz, “a grande parte da liquidez dos casinos são desviados para a compra de frac-ções”, uma vez que não temos uma praça financeira em Macau. “Isso faz com que os residentes tenham de concorrer juntamente com os poderosos investidores na aquisição de fracções”, apontou Pereira Coutinho.

Albano Martins, economista, também tem reservas em relação aos modelos de análise utilizados pelo FMI, lembrando os erros já assumidos nos programas de res-gate em crises europeias. Mas fala da aproximação a uma situação de bolha imobiliária.

“Pode rebentar a qualquer momento e o próprio FMI diz que, se houver uma subida das taxas de juro, muita gente vai ter problemas. A nossa moeda está ligada ao dólar americano e, por isso, as taxas de juro acompanham as taxas do dólar. Isso fomenta a bolha imobiliária, porque o acesso ao crédito é mais fácil e mais barato. Se as taxas su-birem, as coisas tornam-se compli-cadas e a bolha poderá aproximar-se do final”, disse ao HM.

“Para verificar se a bolha existe ou não, há que verificar se as transacções crescem ou não. E não crescem, têm vindo a cair. Basta olhar para o mercado e verificar se os preços sobem ou não, apesar das transacções serem menores, e os preços sobem. Tudo

isso é significativo”, acrescentou o economista.

ANEXAR MACAU A HENGQINAlbano Martins defende que o Go-verno terá de tomar medidas mais “duras e simples”. “Tem de atacar o problema criando habitação pública para a classe média e baixa e não dando habitação aos privados. Tem de fazer essa construção usando os privados, porque não possui empre-sas de construção, mas controlando os preços no privado, ao nível da compra e arrendamento. Têm de arrendar casa a preços que não sejam especulativos e o Governo tem de fazer isso”, frisou o economista.

Já José Pereira Coutinho apre-senta mais medidas para travar os preços. “A solução seria o Governo de Macau ter a coragem de anexar toda a RAEM a Hengqin, abrir as fronteiras 24 horas, porque muitos dos residentes já adquiriram mora-dias em Zhuhai”, considerou. A “co-ragem” governativa poderia passar ainda pela medida que permitisse que “só os residentes de Macau é que podem adquirir casas, à semelhança do que já acontece na Tailândia ou na Malásia”, frisa ainda.

tante comunidade destes trabalhadores. Entre Junho de 2013 e o mesmo mês deste ano, o número de TNR oriundos da China

continental subiu 34,9%, com grande parte dos seus titulares – 33.465 – afec-tos ao sector da constru-ção, seguindo-se 29.740

a trabalharem nos hotéis, restaurantes e similares e 14.790 no comércio por grosso e a retalho.

Pela primeira vez acima dos 20 mil está a comuni-dade das Filipinas – com 20.141 pessoas ou mais 14,19% face ao mesmo mês de 2013, estando quase metade dedicada às actividades de empregados domésticos.

O número de empre-gados subiu 7,3% no segundo trimestre deste ano em relação ao mesmo

período do ano passado. Entre Abril e Junho deste ano, a população activa em Macau estava estimada em 390.100 pessoas, mais 7,17% (26.100 pessoas) do que no mesmo período de 2013, com o número de pessoas empregadas a atingir os 383.600 pes-soas, mais 7,3% do que entre Abril e Junho do ano passado. Apesar de a taxa de desemprego se manter praticamente inalterada, fixando-se em 1,7%, me-nos 0,1 pontos percentuais do que no mesmo período de 2013, o aumento da população activa por im-portação de mão-de-obra fez subir também o número de empregados. - LUSA

“Para verificar se a bolha existe ou não, há que verificar se as transacções crescem ou não. E não crescem, têm vindo a cair”ALBANO MARTINS Economista

Page 8: Hoje Macau 29 JUL 2014 #3141

STDM

8 hoje macau terça-feira 29.7.2014

ANÚNCIOHM - 2ª vez - 29.7.14

Execução de Sentença sob CV1-10-0033-CES 1º Juízo Cívela forma Sumária n.º

Exequente: YEUNG MUK LOI, residente em HONG KONG, 馬鞍山利安村利華樓3009號.Executado: HONG JINDE e LIU HUICHUN, ambos com residência conhecida em Macau, 宋玉生廣場258號建興龍廣場17樓K座, ora ausente em parte incerta.-------------------------------FAZ-SE SABER que, no dia 08 de Outubro de 2014, pelas 10:00 horas, no local de arrematação deste Tribunal e no processo acima indicado, vai a venda por meio de propostas em carta fechada, do seguinte direito penhorado:-----------------------------------------------------

DIREITO(1º)

-----1/164 AVOS de que são proprietários os executados HONG JINDE e LIU HUICHUN, supra identificados, sobre a fracção autónoma designada por “UR/C”, destinada a estacionamento, composta por R/C, 1º e 2º andares, do Edf. Lok Yeung Fa Yuen, bl. 1 e 2, Edf. Lei Hong Kuok e Lei Tai Kuok, sito em Macau, na Rua do Comandante João Belo, n.º 361, descrita na Conservatória do Registo Predial de Macau, sob o n.º 21912 a fls. 97v. do Livro B106, inscrita na matriz sob o n.º 073091, estabelecimento n.º 74.----------------------------O Valor base da venda: MOP$1.200.000,00 (Um Milhão, Duzentas Mil Patacas).----

(2º)-----1/164 AVOS de que são proprietários os executados HONG JINDE e LIU HUICHUN, supra identificados, sobre a fracção autónoma designada por “AMR/C”, destinada a estacionamento, composta por R/C, 1º e 2º andares, do Edf. Lok Yeung Fa Yuen, bl. 3 e 4, Lei Cheong Kuok e Lei Wo Kuok, sito em Macau, na Rua do Comandante João Belo, n.º 361, descrita na Conservatória do Registo Predial de Macau, sob o n.º 21911 a fls. 97 do Livro B106, inscrita na matriz sob o n.º 073136, estabelecimento n.º 70.------------------------------O Valor base da venda: MOP$1.200.000,00 (Um Milhão, Duzentas Mil Patacas).--------São convidados todos os interessados na compra do direito supra identificado a entregar na Secção Central deste Tribunal as suas propostas, até ao dia 07 de Outubro de 2014, pelas 17:45 horas, durante a hora de expediente, o preço das propostas deve ser superior ao valor acima indicado, devendo o envelope da proposta, conter, a indicação de “PROPOSTA EM CARTA FECHADA” bem como o “NÚMERO DO PROCESSO CV1-10-0033-CES”.---------No dia da abertura das propostas, podem os proponentes assistir ao acto.--------------------Durante o prazo dos editais e anúncios, os proponentes, a fim de proteger os seus interesses, podem, antes de apresentar quaisquer propostas, dirigir-se ao fiel depositário, a Sra. Kuok Heng (com domicílio profissional em Macau, na Avenida Praia Grande, n.º 409, Edifício China Law, 9.º Andar “C”, Macau) para examinar o imóvel em causa, fiel depositário, por sua vez, está obrigado a mostrar o bem a quem pretenda examiná-lo, podendo fixar as horas em que, durante o dia, facultará a inspecção.--------------------------------------Quaisquer titulares de direito de preferência na alienação do bem supra referido, podem, querendo, exercer o seu direito no próprio acto da abertura das propostas, se alguma proposta for aceite, nos termos do art. 787.º do C.P.C.-----------------------------------------Para constar se lavrou este e outros de igual teor, que vão ser legalmente afixados.--------Tribunal Judicial de Base da R.A.E.M., aos 22 de Julho de 2014.-----------------------------

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ANDREIA SOFIA [email protected]

D ESDE 2012 que os moradores do edi-fício Kong Mou Un Tai Ha se quei-

xam da falta de segurança devido ao arranque das obras do prédio de habitação públi-ca junto à Rua Central de Toi San. As fendas e infiltrações tornaram-se uma realidade no prédio dos funcionários públicos e o terreno destinado às casas do Governo continua por desenvolver.

Numa resposta à inter-pelação escrita da deputada Kwan Tsui Hang, o Instituto da Habitação (IH) explica que as obras continuam paradas. Recorde-se que o deputado Chan Meng Kam já tinha questionado o Governo sobre o andamento do projecto.

“Os proprietários dos edi-fícios vizinhos estavam preo-cupados e por fim optou-se pela alteração do andamento da execução das obras e da concepção, no sentido de diminuir a influência pro-veniente das obras sobre os residentes. Actualmente as obras estão no período de ordenamento, sendo que o

JOANA [email protected]

R AYMOND Tam e outros três argui-dos do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM)

vão ouvir hoje do Tribunal Judicial de Base a sentença a que estão sujeitos. O ex-presidente do instituto, recorde-se, senta-se no banco dos réus ao lado de Lei Wai Nong, vice-presidente, Fong Wai Seng, Chefe de Departamento dos Serviços de Ambiente e Licenciamento (SAL) do instituto e Sio Kuok Kun, chefe funcional da área dos cemitérios. Todos estão acusados do crime de prevaricação.

Passaram mais de seis meses desde que o julgamento de Tam começou. Os quatro arguidos sempre estiverem presentes nas audiências, onde também participou Paulina Alves dos Santos, assistente no processo e denunciante do chamado Caso das Campas – que deu origem a este processo.

Raymond Tam, que acabou por ser

substituído por Alex Vong no cargo de presidente do IACM, e os restantes acusados terão alegadamente cometido prevaricação por terem demorado muito tempo a entregar documentos relacio-nados com as dez campas perpétuas ilegalmente atribuídas no Cemitério de São Miguel Arcanjo.

Para a acusação – composta pelo Ministério Público e pela assistente -, não há dúvidas que a demora na entrega dos documentos foi para ajudar Florinda Chan – já absolvida da atribuição su-postamente ilegal das campas – e que a Secretária recebeu os documentos que andavam a ser procurados, depois de estes terem sido enviados pelos arguidos.

A acusação fala entre 70 a cem dias de demora na entrega dos documentos ao MP, a defesa desmente e mostra outros registos: 27 dias é o tempo máximo que os advogados de Tam e dos outros argui-dos dizem que os acusados demoraram.

Na última audiência, no final de Ju-nho, a acusação pediu que todos fossem

condenados, mas a defesa evocou ainda outras razões para pedir a absolvição:. Para os advogados de Tam, nem sequer estão preenchidos os requisitos para o crime de prevaricação. “Tem de ser [perpetrado] por funcionários com competência para intervir no processo judicial. (…) Deixa--se de fora estes arguidos, que nem sequer têm poder para cometer o crime, porque não investigaram, nem sequer ajudaram com elementos de investigação”, frisou, no mês passado, Álvaro Rodrigues.

A defesa voltou a insistir que os documentos não se encontravam desde 2002, o que dificultou a procura pelos ar-guidos, e reitera que Ng Peng In, primeira testemunha no caso e ex-administrador do IACM foi quem sempre teve os do-cumentos consigo. A acusação discorda.

Agora, resta saber hoje se Raymond Tam e os outros três arguidos vão ser condenados ou absolvidos. O crime de que vão acusados pode dar origem a pena de prisão até cinco anos. A sentença será lida durante a tarde.

O Instituto da Habitação garante que as obras da habitação pública junto à Rua Central de Toi San foram alteradas, estando em fase de “ordenamento” e de análise. José Pereira Coutinho mostra-se “desapontado” face à falta de soluções para os problemas desegurança do edifício adjacente

HABITAÇÃO PÚBLICA GOVERNO AINDA ESTÁ A ANALISAR OBRAS EM TOI SAN

Em banho-maria

“Devia proceder-se à demolição integral de todos os edifícios, que são quatro ou cinco e que têm cerca de 50 anos, e fazer um desenvolvimento planeado da zona inteira”JOSÉ PEREIRA COUTINHO Deputado

CASO IACM SENTENÇA LIDA HOJE NO TRIBUNAL JUDICIAL DE BASE

Raymond, culpado ou inocente?

Governo e o empreiteiro estão a proceder à análise e ao balanço dos problemas relativos às obras”, pode ler--se na resposta à deputada a que o HM teve acesso.

José Pereira Coutinho,

deputado que desde o início esteve ao lado dos moradores na luta por mais segurança no edifício Kong Mou Un Tai Ha, mostra-se “desapon-tado” com o esclarecimento do IH.

“A fuga de areias por baixo da estrutura tem cau-sado enormes problemas que podem pôr em perigo todo o prédio. Esta demora é muito inconveniente para os aposentados. Aquela zona poderia ser reconstruída toda de raiz para servir os interes-

ses da população”, frisou o deputado.

Sem reuniões com o Executivo há meio ano, José Pereira Coutinho defendeu desde o início o realojamen-to destas pessoas noutros edifícios públicos, mas até então o Governo não deu uma resposta.

“Há meio ano que in-sistimos nessa proposta. Desde essa data que as obras pararam e nunca mais houve sinais quanto ao desenvolvi-mento. Devia proceder-se à demolição integral de todos

os edifícios, que são quatro ou cinco e que têm cerca de 50 anos, e fazer um de-senvolvimento planeado da zona inteira”, disse ainda o deputado.

ILHA VERDE EM 2015,FAI CHI KEI SEM DATAA interpelação escrita que Kwan Tsui Hang entregou ao Governo visava saber as ra-zões dos atrasos de construção das diversas habitações públi-cas. Kuoc Vai Han, presidente substituta do IH, explicou que foram encontrados problemas

de geologia na fase de cons-trução de dois edifícios.

Em relação ao empreen-dimento Cheng I, na zona da Ilha Verde, “encontraram-se problemas relacionados com os edifícios vizinhos em mau estado de conservação, tendo em ponderação a segurança”, quanto “ao modo de constru-ção da cave”. Só em 2015 é que o edifício Cheng I estará concluído.

Em relação à habitação pública do Fai Chi Kei já foi concluída a “super-estrutu-ra”, sendo que no empreen-dimento de segunda fase da habitação social de Mong-Há “ainda se está a proceder à fundação de estacas”, uma vez que ambos os projectos passaram por “dificuldades imprevisíveis relativas à distribuição geológica, que provocaram atrasos graves no processo de fundação de estacas”. Não foi apresentado qualquer calendário para a conclusão destes edifícios.

No caso dos edifícios Iat Seng, Bairro da Ilha Verde, Fai Leng, Cheng Tou e Iat Fai, as obras “estão a ser executadas segundo os pra-zos estabelecidos”.

O IH garante, contudo, que “os serviços responsá-veis pelas infra-estruturas estão a exigir reforços ao empreiteiro, no sentido de au-mentar os recursos humanos e a maquinaria e aperfeiçoar o planeamento relativo à exe-cução das obras, para acelerar o andamento”.

sociedade

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hoje macau terça-feira 29.7.2014 9CHINA

Para contornar a influência dos EUA, a China apoia um projecto na Nicarágua, alternativo ao canal do Panamá, que garantirá o fornecimento de grão e outras matérias-primas

O anúncio de in-ves t imentos avultados em infra-estruturas

e crédito para o Brasil e para a América Latina, feito pelo governo chinês na reunião do Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), durante a visita do presidente Xi Jin-ping ao Brasil, faz parte de um projecto maior da nação asiática para controlar gran-des rotas logísticas no mundo e assegurar o fornecimento de minerais e alimentos.

A construção do canal da Nicarágua — que cortará o país numa rota alternativa ao Canal do Panamá — e

Matmo 13 mortos e 2,5 milhões afectados O tufão Matmo provocou pelo menos 13 mortos e afectou já 2,5 milhões de pessoas na sua passagem pela China, informou no domingo o Ministério dos Assuntos Civis. Nove das mortes ocorreram na província oriental de Jiangxi e quatro na meridional de Cantão, de acordo com as informações oficiais citadas pela agência Xinhua. Até domingo de manhã, mais de 2,5 milhões de pessoas tinham sido afectadas pelo impacto do tufão, que passou por oito províncias chinesas. Cerca de 289 mil pessoas nessas províncias tiveram de ser realojadas e 37 mil necessitam de assistência urgente. Matmo, o décimo tufão que afecta a China este ano, destruiu casas e campos de cultivo que equivalem a perdas económicas de perto de 547 milhões de dólares.

NICARÁGUA PEQUIM INVESTE EM CONSTRUÇÃO DE CANAL

A estratégica visão chinesa278quilómetros,

percurso do canal

da rede ferroviária Trans-continental, que atravessará o Brasil e o Peru, ligando o Atlântico e o Pacífico, fazem parte desse projecto.

O canal da Nicarágua, projecto de 40 mil milhões de dólares, começará a ser construído no fim deste ano e tem entrega prevista para 2019. Deverá percorrer 278 quilómetros — quase quatro vezes o canal do Panamá, inaugurado há um século — passando por florestas, terras indígenas e o lago da Nicará-gua, no interior do país.

O traçado foi definido há duas semanas pelo conces-sionário HKND Group. O empreendimento envolve também dois portos, uma zona de comércio livre, ho-téis, um aeroporto e estradas. O tamanho da obra levou o governo da Nicarágua a aprovar leis e medidas em prol do projecto, com um orçamento quatro vezes superior ao tamanho da economia do país.

REDUÇÃO DE CUSTOSApesar de o canal do Panamá ter capacidade disponível, a China apoia a iniciativa na Nicarágua porque não teria controle sobre as rotas logís-ticas no Panamá, devido à influência americana, que tem bases na região e é responsá-vel pela sua defesa militar.

“Para a China, faz muito sentido um segundo canal. A China é e continuará a ser

um importador de matérias--primas. Tudo o que facilite e reduza custos é positivo e paga-se a longo prazo”, disse Cláudio Frischtak, da Consultoria Internacional de Negócios Inter. B.

O canal da Nicarágua gera grande interesse geopo-lítico internacional. No mês passado, o país recebeu uma visita do presidente russo Vladimir Putin, sinalizando o interesse daquele país na futura ligação marítima. O canal deverá comportar os maiores navios existentes actualmente, como aqueles que levam minérios da re-gião para a China.

Na apresentação da rota, o HKND Group reconhe-ceu que atravessar áreas protegidas é inevitável, mas promete planos de mitigação e compensação. O lago da Nicarágua é rico em biodiversidade, e a movimentação de navios

de porte gigantesco pode alterar significativamente o ecossistema.

REDE FERROVIÁRIA NO BRASILO embaixador Sérgio Ama-ral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), destaca que os in-vestimentos chineses agora promovidos pelo mundo fora, principalmente na América Latina, têm uma preocupação com a preser-vação do ambiente local, ao contrário de investimentos feitos no passado pelo país na África, que não deixa-ram retornos económicos e sócio-ambientais signifi-cativos para os moradores afectados.

“O que é impressionante no caso da China é a visão estratégica e a capacidade de realização. Estão a criar alternativas para chegarem aos seus objectivos sem fazer ruído”, disse Amaral.

No caso da rede ferro-viária Transcontinental, o governo brasileiro espera realizar ainda este ano o leilão da primeira obra desse traçado, entre Lucas do Rio Verde (MT) e Campinorte (GO), com um orçamento estimado em 2.3 mil milhões de dólares. A China Railway Construction Corporation (CRCC) deverá participar nessa licitação em parceria com a Camargo Corrêa, em-bora o grupo ainda considere refazer todos os estudos do traçado, o que pode adiar o leilão, assim como o prazo para a conclusão, reconhece uma fonte do governo.

“Acredito que as parce-rias em infra-estruturas e agricultura ainda têm mui-to potencial para crescer, porque trazem benefícios aos dois povos”, disse Sun Chenghai, director geral da Agência de Desenvol-vimento Comercial do go-

verno chinês, a uma plateia de empresários brasileiros durante a visita oficial do presidente Xi Jinping ao país neste mês.

PASSAGEM PELO ÁRCTICOCom outro projecto de passar navios pelo Árctico em rotas que se abrem pelo aquecimento global, a Chi-na quer afirmar-se como operadora logística global, principalmente através de meios marítimos. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), 90% do volume de negócios interna-cionais feitos no mundo em 2012 realizaram-se por via marítima.

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Maestro Quem imaginaUm mundo sem música?

Diálogo aberto e dedicado com a música,Conto a história de cada composição. Quem pode imaginarOs esforços de dias infindáveis?

Em cada espectáculo a dedicação de uma vida,

Um esforço que não procura a sobrevivência.

Quem imaginariaA música transcenderá o tempo?

Nos ouvidosOndas que trazem uma elegante melodia,Unindo em coro uma sinfoniaEntre vidas passadas e as de hoje em dia.

Como se sabeQuem se ergue no palco até ao fim?

O paladar do vinho que o tempo matura.Viver,É permitir que a melodia de uma composição

Flua com a naturalidade de um suspiro.

10 hoje macau terça-feira 29.7.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

QUEM TEM MEDO DA LÍNGUA PORTUGUESA? • Sara Leite, Sandra TavaresImportante auxiliar para estudantes, professores, profis-sionais das mais diversas áreas e todos os que estejam interessados em aperfeiçoar o seu conhecimento sobre a língua portuguesa. Pontos abordados na obra: Quem tem medo da ortografia?; Quem tem medo do léxico?; Quem tem medo da morfologia?; Quem tem medo da sintaxe?; Quem tem medo da pontuação?.

MISTÉRIOS DO SUL • Danielle SteelPela primeira vez, Danielle Steel acrescenta um elemento de thriller às suas histórias, usando duas personagens invulgares nos seus livros: um assassino em série e a advogada que insiste em condená-lo.

ENCONTRO MORTAL • Nora Roberts (J. D. Robb)A tenente Eve Dallas é uma jovem polícia de Nova Iorque que se dedica ao trabalho de corpo e alma para fugir a um passado trágico que quer esquecer. Mas o passado teima em persegui-la quando um milionário é envenenado.

RICARDO [email protected]

O projecto “High Hoper” vai ter a sua primeira exposição ao

público na Fundação Rui Cunha, esta quarta-feira, pelas 18:30, onde ficará patente ao público até 9 de Agosto.

Esta iniciativa de arte comunitária da associação local “Point View Art” reúne 10 trabalhos que combinam design de moda, fotografia, maquilhagem, design grá-fico e poesia para mostrar ao público os sonhos e aspirações da população de Macau.

Segundo contou ao HM o coordenador do projecto, Fish Ho, o conceito começou a ganhar raízes há cerca de um ano, quando a curadora do projecto, Hope Chiang Chen-yuen – “uma artista de Taiwan a viver no terri-tório” – se questionou sobre as verdadeiras aspirações da

ARTE COMUNITÁRIA HIGH HOPER NA FUNDAÇÃO RUI CUNHA

Sonho meupopulação de Macau. Deu então início a uma série de inquéritos de rua, em esco-las, transportes públicos e redes sociais, onde apresen-tou uma série de perguntas simples que ambicionavam fazer os entrevistados pen-sar na importância de ter sonhos e ambições na vida. As respostas a este inquérito culminaram no projecto que

vai ser agora apresentado ao público, em que os entrevis-tados passam a ser modelos e mostram os seus sonhos através do tratamento visual e lírico desta colectânea de artistas proveniente de Macau e Taiwan.

Uma atenção especial foi dada ao guarda-roupa, tendo a equipa concebido peças originais para cada modelo,

de maneira a melhor ilustrar as suas aspirações.

VIDA CÓMODA DESTRÓI SONHOS PESSOAISDe acordo com Fish Ho, “muitas pessoas acabam por se acomodar numa vida cómoda, esquecendo-se de perseguir as suas ambições pessoais”. Este projecto visa gerar um debate, “fazendo as pessoas acreditar

A ideia nasceu quando a artista de Taiwan, Hope Chiang Chen-yuen, numa viagem de autocarro em Macau, se questionou sobre quais seriam os verdadeiros sonhos e ambições da população

Vendedora de bolinhas de peixe

Quantas são as mulheres,

Que vivem como piões,

Giram sem parar em redor da família,

Em busca da felicidade.

Uma vida em vão no sofá,

O bater do sino sinaliza os últimos anos,

Sossegada, pacificada, dormente.

O sino que me leva a revisitar

A loja das bolinhas de peixe,

Junto à escola.

Envergando um vestido branco,

Manchas amarelas que já não saem.

Saudades da sopa de ovo e tofu,

Da infância com petiscos na mão.

O sino bate,

Hora de pôr as mãos à obra.

Crianças adoráveis e ingénuas,

Vindo e anunciando,

A mensagem da minha delícia.

Deixem-me preparar,

Esse inesquecível sabor da infância.

Page 11: Hoje Macau 29 JUL 2014 #3141

Maestro Quem imaginaUm mundo sem música?

Diálogo aberto e dedicado com a música,Conto a história de cada composição. Quem pode imaginarOs esforços de dias infindáveis?

Em cada espectáculo a dedicação de uma vida,

Um esforço que não procura a sobrevivência.

Quem imaginariaA música transcenderá o tempo?

Nos ouvidosOndas que trazem uma elegante melodia,Unindo em coro uma sinfoniaEntre vidas passadas e as de hoje em dia.

Como se sabeQuem se ergue no palco até ao fim?

O paladar do vinho que o tempo matura.Viver,É permitir que a melodia de uma composição

Flua com a naturalidade de um suspiro.

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11 eventoshoje macau terça-feira 29.7.2014

O MGM, em conjun-to com o Centro de Dia “Brilho da

Vida”, organizou ontem uma sessão fotográfica para casais idosos e residentes locais, de maneira a cele-brar o seu matrimónio, num programa intitulado “Love Actually Charity”.

Esta iniciativa, integrada na campanha de ajuda comu-

Fazer teatrocontra a drogaO Instituto de Acção Social e o Teatro de Lavradores vai organizar o Concurso do Teatro de Improvisação “Theatresports”, no dia 2 de Agosto, pelas 19:00 horas, no auditório da Associação de Sheng Kung Hui da Escola Choi Kou (Macau). Esta actividade será realizada através da interacção com o público e do concurso de teatro de improvisação, com o tema do combate à droga, de medida a assinalar o “Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas” e contribuir para a “Acção de combate à droga, participação de toda a cidade! Action!”. A ideia é divulgar uma mensagem de combate à droga e de vida sadia na comunidade. Os bilhetes para o evento são gratuitos, havendo ainda ingressos disponíveis - em quantidade limitada – na sede do Teatro de Lavradores e no Centro Comunitário para Jovens da Associação dos Jovens Cristãos de Macau.

Torre de Macau com saltos nocturnosA Torre de Macau oferece este Verão um programa nocturno especial. Diariamente, entre as 18h00 e as 22h00 até ao fim de Agosto e no mesmo horário, mas de sexta a domingo durante Setembro, a companhia AJ Hackett promove saltos de “bungee jump” e “skyjump” além de passeios nocturnos na sua “Skywalk X”. Os interessados podem, assim, saltar à noite. Entretanto, a Torre de Macau apresenta também uma área especial para crianças até ao dia 24 de Agosto. O programa, denominado “Bubble Fantasia in the SKY of Macau”, inclui construções em balões com dois metros de altura no átrio da Torre e no 58º andar, além de diferentes decorações com balões distribuídos todas as semanas. Os mais novos podem também contar com espectáculos ao vivo durante o fim-de-semana, além de um castelo insuflável gigante e jogos, com entrada livre para clientes que gastem mais de 300 patacas no local.

Embaixador da cultura

No início,

A pequena cidade não sabia

Quão imenso é o universo.

A vida era simples e delicada.

O volante,

Gira à esquerda e à direita,

Sem encontrar uma saída,

O caminho de regresso.

Prédios antigos,

Rasos na sua solidão.

Olham impávidos o topo,

Novos que se erguem sem limite.

Avançam para a frente,

O Inverno não traz o fim.

Após cada ecdise,

É cada vez menor o seu esplendor.

Hoje eu,

Actor macaense que sobe ao palco,

Com uma qualquer etiqueta,

Estampada em minhas costas.

Os senhores que passam,

Poderiam abrandar os passos,

Uniremos nossos esforços,

Para conservar o património de minha casa.

CASAIS DE IDOSOS TIRAM FOTOGRAFIAS PELA PRIMEIRA VEZ

Um amor para a eternidadeque podem perseguir os seus sonhos” e “pensar nos passos que têm de realizar para atingir esse objectivo”, com vista “a obter satisfação pessoal mas também a efectuar mudanças na sociedade que as rodeia”. Segundo o mesmo, “muitas pessoas obtêm um trabalho lucrativo num casino e cons-tituem de seguida família, abandonando os objectivos iniciais da sua infância”.

Fish Ho adianta ainda “que o projecto ainda vai a meio e vai continuar no futuro”. Além de uma digressão da exposição por escolas do território, os organizadores estão também a preparar um documentário e uma publi-cação sobre o mesmo tema.

A CARREIRA 25Outra das ambições da as-sociação é “transformar um autocarro da carreira 25 numa galeria ambulante”, não fosse ter sido neste trajecto que a coordenadora primeiro formulou este conceito de arte comunitária. Segundo

nitária da equipa de volun-tários da empresa, ofereceu a dez casais de idosos, com idades acima dos 65 anos e casados na maioria há mais de cinco décadas, fotos de casamento, algo que a maior parte nunca tinha tido opor-tunidade de fazer.

Ao HM, o casal Kong explicou que “dificuldades económicas os tinham im-

pedido de realizar este tipo de fotografias no passado” e mostrou-se muitos contente de ter agora esta oportunidade de celebrar o seu casamento. Algo “que nunca esperavam fazer com esta idade”, dizem.

Quanto ao segredo por trás de uma união tão longa, o casal salienta “a necessidade de o casal se compreender e ajudar um ao outro, nunca se esquecendo de mostrar amor e carinho, visto haver sempre altos e baixos num casamen-to”. Já para as gerações mais novas, recomendam que os casais “aprendam a exprimir--se e a manter-se calmos, visto a comunicação ser o mais importante”.

Por sua vez, Wendy Yu, vice-presidente dos Recur-sos Humanos da MGM, salientou que “a empresa tem vindo a fazer várias campanhas junto da socieda-de desde Junho de 2010”. A ideia com mais um programa é “esperar que esta iniciativa inspire a comunidade a tratar dos mais idosos e da sua própria família”. - R.B.

a mesma revelou à revista Closer, “a maior parte dos artistas locais desenvolve o seu talento em projectos pes-soais, em vez de ligar o seu trabalho à comunidade em que nasceram ou cresceram. A arte comunitária ainda está pouco desenvolvida em Macau, mas conta com muita adesão no es-trangeiro. Enquanto os artistas locais não compreenderem a sua importância, vão ter re-lutância em participar nestes projectos, por isso alguém tem que tomar a iniciativa”.

Esta iniciativa recebeu apoio financeiro do Instituto Cultural de Macau, integra-do no programa “Arts in Community” que este ano é celebrado pela primeira vez, tendo ainda recebido ajuda da Fundação Rui Cunha.

A entrada para o evento é livre, estando a exposição aberta de segunda a sexta entre as 10:00 e as 19:00 horas. Ao sábado a galeria abre às 15:00 e encerra às 19:00, estando por sua vez fechada aos domingos e nos feriados públicos.

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12 hoje macau terça-feira 29.7.2014

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

OUTRA VEZ AS MELHORESCIDADES DO MUNDO (II)

J Á há três semanas a barbárie está exposta aos olhos da opinião pú-blica universal, que está a ver, julgar e, com poucas excepções,

rejeitar o terrorismo armado que Israel emprega contra meio milhão de pales-tinianos cercados, desde 2006, na Faixa de Gaza. 

Jamais qualquer explicação oficial para a invasão foi mais patentemen-te refutada por uma combinação de imagens de televisão e aritmética; ou o papaguear dos jornais sobre “alvos militares”, pelas imagens de crianças ensanguentadas e escolas incendiadas. 

13 mortos de um lado, 1.360 do outro: não é difícil concluir quem são as vítimas. Nem é preciso dizer muito mais sobre a horrenda operação militar de Israel contra Gaza. 

Mas para nós, judeus, é preciso, sim, dizer mais. 

Numa história longa e sem segu-rança, de povo em diáspora, a nossa reacção natural a quase todos os even-tos públicos inevitavelmente inclui a pergunta “Isso é bom ou é mau para os judeus?” E, no caso da violência de Israel contra Gaza, a resposta só pode ser uma: “é mau, para os judeus”. 

NO CASO DA VIOLÊNCIADE ISRAEL CONTRA GAZA,A RESPOSTA SÓ PODE SER UMA:“É MAU, PARA OS JUDEUS”

ERIC HOBSBAWM SOBRE GAZAUM TEXTO ESCRITO EM 2009. COM ACTUAL IMPORTÂNCIA

É muito evidentemente mau para os 5,5 milhões de judeus que vivem em Israel e nos territórios ocupados de 1967, cuja segurança é gravemente ameaçada pelas acções militares que o governo de Israel empreende em Gaza e no Líbano; acções que demonstram a incapacidade dos militares israelitas para trabalhar a favor do objectivos que eles mesmos declaram, e actos que só servem para perpetuar e intensifi-car o isolamento de Israel num Médio Oriente hostil. 

O genocídio ou a expulsão em mas-sa de palestinianos do que resta de seu território nativo original é, nada mais nada menos, que adoptar uma agenda prática que só pode levar à destruição do Estado de Israel. Só a convivência negociada em termos igualitários e jus-tos entre os dois grupos é garantia de futuro estável. 

A cada nova aventura militar de Israel, como a que se viu no Líbano e vê-se agora em Gaza, a solução tor-na-se mais difícil; e mais se fortale-ce, em Israel, o jugo da direita; e, na Cisjordânia, o mando dos colonos que, em primeiro lugar, nunca quiseram qualquer solução negociada.

Como aconteceu na guerra do Líbano em 2006, Gaza, agora, torna ainda mais obscuro o futuro de Israel. E o futuro se torna mais negro, também, para os nove milhões de judeus que vi-vem na diáspora.

Sejamos bem claros: criticar Israel não implica qualquer anti-semitismo, mas as acções do governo de Israel co-brem de vergonha os judeus e, mais que tudo, fazem renascer o anti-semitismo, em pleno século XXI. 

Desde 1945, os judeus, dentro e fora de Israel, beneficiaram-se enorme-mente da má consciência de um mundo ocidental que se recusou a receber imi-grados judeus nos anos 1930, antes de ou cometer genocídio ou não se opor a ele. Quanto dessa má consciência, que

virtualmente derrotou o anti-semitis-mo no Ocidente por 60 anos e produ-ziu uma era de outro para a diáspora, sobrevive hoje? 

Israel em acção em Gaza não é o povo vítima da história. Não é sequer a “valente pequena Israel” da mitologia de 1948-67, um David derrotando vá-rios Golias que o cercavam. 

Israel está a perder a solidarieda-de do mundo, tão rapidamente quan-to os EUA perderam a solidariedade do mundo no governo de George W. Bush, e por razões semelhantes: ce-gueira nacionalista e a megalomania do poderio bélico. 

O que é bom para Israel e o que é bom para os judeus como povo são coisas evidentemente associadas, mas até que se encontre solução justa para a questão palestina essas duas coisas não são nem podem ser idênticas. E é es-sencialmente importante que os judeus o declarem, bem claramente. 

London Review of Books, vol. 31, n. 2, sessão “Cartas”: “Responses to the War in Gaza”, 29/1/2009, pages 5-6, 2009

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hoje macau terça-feira 29.7.2014

DAMASCO, SYRIA

Carlos Morais José

CIDADE VELHA

As orações deveriam ocorrer antes do crepúsculo. Há preguiça na voz do muezim. Tantos te amaram, Damasco. Talvez pela lentidão com que te abres e o odor que então exalas, minha flor...

... onde ávidos se dessedentam do deserto, que a todos nós rodeia, que a todos nós incendeia...

Há sobre ti bênçãos, há sobre ti maldições. Despercebido, entrarei na tua casa. Dormirei no teu leito e, quan-do deres por mim, terei partido, sem deixar descendência. É esta a prerro-gativa do corpo que passa sem rasto; da alma que adormece, sem ruído nem temor; do calor que se esvanece...

É tão só isto a viagem. Intento de mira-gem. Aguaceiro de razão. Ao fim: — Que minhas mãos vejo coroadas de perdão...

Não ser Cristo na terra do Profeta, mas o poeta que demanda solidão. Afir-mativo, não?

MESQUITA DOS OMÍADAS

Entro em ti embriagado mas não é mís-tico o vinho, nem o meu traje de lã. A roda ensina o voltejar da tontura. No vasto pátio vagueio em abluções pagãs. Lavo dos pés as crostas da viagem, uma a uma, antes de me curvar entre as co-lunas, nesta ausência de representação.

Olhando à volta, não reconheço nada. Procuro a escada, o fero sol, a sombra amiga, a planta tímida entre as pedras. Da História sei que pertenceste a Júpiter e o trocaste por um cristão, até o alfange para sempre te possuir.

Que desatino este e por que mudas, tão facilmente, de amantes e de irmãos? Como se pode adorar a infiel, que bebe insana da taça, ainda plena de fel?

Sei-me cercado neste namoro des-leixado, nesta visitação e na edificante ignorância do raio divino e fértil.

Blasfemarei calado sobre estas pe-dras. Não lhes conheço dono. Só o Ou-tono da crença afinal me satisfaz. Nele retrato, de um só tracto, a ousadia do rapaz, ainda tonto de largar, a fímbria de certo trono, um tão matreiro lugar.

Pouca temperança: rio bêbado, rugas rubras no olhar. Pouco mar: acendem-se desatinos no tom cru do muezim.

Já é pouco para mim. Que poesia se esvai nos passos dos peregrinos?

DA SORTE

Hás-de haver tu, que me persegues, mas por dentro, e a lívida rosa que o jardim assombra.

Eis a tumba do Baptista, secreta, dis-

creta. Aqui perto a frivolar. E eis-nos longe, em hecatombe de palavras ou viagens, em sinais inconcebíveis nou-tro lugar.

Ó distante sorte, que me alegra e funesta me carrega, distante sorte de navegar.

Ó Damasco doirada! Esse oiro que – prevejo – me enal-

teça, oiro de chão, de cabeça, de anto-nino Júpiter, quase em final de toirada.

Sois o sinal ideal, noite que tudo encobre, dia da desvelação. O símbo-lo e o patrão. A noite sim, a noite sem semente nem resquício de outra gente que as nocturnas pessoas.

Espero canções... das boas.Ó Damasco das iluminações, do

seio farto, do acto, das sentenças da minha morte. Terei sorte.

A NOITE EMBEVECIDA

Jantar no terraço, a vinte metros da mesquita primordial. Um crescente timbra o céu de sentidos tradicionais.

Amanhã andarei por estas ruas, por peregrinas de negro que se acotovelam na busca da inerme cabeça do amante de Salomé.

Babo-me então no sabor acre do carneiro, o que foi dádiva de um pai por seu filho a esse deus cujo nome não é auspicioso pronunciar.

Desço as escadas e nas ruas cruzo portas e alimento-me de travessas, in-suspeitos becos, olores do primeiro dia.

Pela velha Damasco passaram sol-dados e mercadores, viajantes e aven-tureiros, mas o seu véu permaneceu intacto, a ocultar um sorriso oferecido.

Ó noite árabe, ó mulheres de cor-pos velados, que ainda assim se des-vendam em tremores de olhos e pupilas esgaçadas.

Ó senhoras de Fátima, que em toda a parte vos encontro, como se fossem a mulher primordial – Lilith que infanta Eva, Maria que em si secreta Madalena

–, aguardando o fim da noite, como eu aguardo o que se assemelha ao advento da ressaca.

A minha sombra ganha foros de vi-sitação.

O fantasma de um resto de mina-rete por construir – atravessa esta rua onde agora me balanço – e um segredo por trás de cada porta, odor a farinha por fermentar.

Trauteio uma canção na noite em-bevecida e, em passos sérios, regresso sozinho ao hotel.

A CORTESIA

Foi na antiga capital, onde as rotas se abraçam em amplexos de conivências por tecer, que a cortesia nasceu e até hoje se condensa, sobretudo em ges-tos de homens patibulares e sorrisos repentinos de meninos.

A língua, de rudeza egrégia, perten-ce a uma civilização que aqui se oferece em cada ruga dos carões iluminados.

Damasco em surdina, como faria uma criança para brincar.

LOJA DE MÚSICA

Na montra da loja escura há Mozart e Keith Jarret, Garbarek e outros mestres da ECM. Lá dentro, pergunto: “Tens música desta região, da Syria ou redon-dezas?” O jovem responde muito sério: “Tenho e podes ouvir antes de comprar”.

Seguem-se as cascatas de vozes e alaúdes, tambores e ritmos, o tango árabe, o tom áspero das montanhas, a festa em largos de cidades escondidas, a flauta planante da Arménia.

“Quero tudo”, balbuciei. “E assim mais pop, não tens nada?” “Se queres habibi, habibi, não é aqui. Não vendo música comercial”. E perante esta ex-pressão, que desde a juventude não ouvia, corei de vergonha e satisfação, acreditando ter-me ali encontrado na loja de um amigo de fala comum.

MULHERES DE NEGRO

Foi o negro a cor do profeta, dita da sa-bedoria.Mas os haddits não previam estes bandos de mulheres de preto curvadas.

Ó minha avó do xaile negro, a que cheira hoje o teu regaço?...

— Cheira a fumo e cheira a ervas acaba-das de segar... Diz-me, menino, o que fazes tão longe do teu lugar? Não sabes que um homem guarda só a porta do seu lar? Não busques por ti no mundo: quando estás longe de casa, logo a vontade se vaza p’ra esse poço sem fundo.

Também coberto me recolho quan-do atravesso o souk dos esfuziantes ou-rives... Onde está o ouro escuro... que vossos segredos enfeita?...

— O meu segredo é a culpa que por vós carrego. Trago meu pai e meus irmãos, os ex-cessos praticados, a língua de minha mãe e a impiedade das mulheres antigas. Todos pere-grinam comigo e a mim cabe suportar esta co-lectiva salvação. Trago ainda um rei achado nas portas de um deserto. Tremia de febre e frio, sob a luz forte do Sol. Chamei-o ao meu seio e consolei-o. Talvez por isso alguns me crismem com o terno nome de Revelação.

UMA LARANJA

Não bastava espreitar. Houve o con-vite. E pelo palácio brincámos como irmãos e como amantes. Não estava o dono da casa, mas o guarda acolhedor abriu-nos a porta e fomos sinceramen-te felizes. No final, ele deu-nos uma laranja, retirada de uma árvore daquele pátio de existência breve.

in Anastasis, COD, 2013

“JANTAR NO TERRAÇO, A VINTE METROS DA MESQUITA PRIMORDIAL. UM CRESCENTE TIMBRA O CÉU DE SENTIDOS TRADICIONAIS”

A cortesia é uma dádiva e não a dú-vida hospitaleira de quando se temia no viajante um deus disfarçado.

Hoje sobram os gestos que não re-metem para qualquer obrigação. Essa memória pouco importa – ninguém se lembra... – mas é no palato áspero que ressuscitam as palavras, bálsamo fre-quente da jornada.

Não, não estarás sozinho, recita

13 artes, letras e ideias

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hoje macau terça-feira 29.7.201414 h

a revolta do emir Pedro Lystmann

C ONTINUA-SE o artigo em que se dispensa uma descrição sumária da con-clusão do concurso da re-

vista Monocle de 2014 sobre as cidades do mundo em que se oferece mais qua-lidade de vida. No original lê-se 25 Top Liveable Cities.

Em 2014, como tem sido normal, a maioria das cidades escolhidas é eu-ropeia (14 cidades). Quatro situam-se na Austrália e Nova Zelândia, duas na América do Norte e cinco na Ásia Ex-trema (Tóquio, Quioto, Fukuoka, Sin-gapura e Hong Kong). Não há cidades latino-americanas, africanas ou médio--orientais.

As primeiras 12 elogiadas são: Co-penhaga, Tóquio, Melbourne, Esto-colmo, Helsínquia, Viena, Zurique, Munique, Quioto, Fukuoka, Sidney e Auckland.

Hong Kong, a cidade número 13, tem uma particularidade: é a única perten-cente a um país que não é uma demo-cracia. No entanto, é daquelas em que há uma energia que vem da voz feroz do seu povo, ao contrário de Singapu-ra, uma cidade mais organizada mas mais muda. O que tem caracterizado Hong Kong ultimamente (um percur-so que tenho seguido com atenção) é a sua afirmação como centro artístico e de lazer, a par da sua importância como centro financeiro. Espera-se com ansie-dade o novo centro cultural M+, em Kowloon. Não me lembro de nenhum outro lugar (de par com Kuala Lumpur e Bangkok) com tantos bares no topo de edifícios. A sua estrutura transpor-tadora é admirável. A combinação en-tre áreas modernas e futuristas (como Central) e áreas populares (Sheung Wan, mesmo ao lado) é igualmente de admirar.Berlim é a décima quarta cidade. É um milagre de inclusão, sobrevivência e reinvenção. Inaugurou-se recentemen-te o Bikini Berlin, um complexo que jun-ta, generosa e inclusivamente, hotel, cinema, compras e sítios de lazer. Esta

OUTRA VEZ AS MELHORESCIDADES DO MUNDO (II)

tem sido uma capital constantemente com medo de ser ainda mais. Está cheia de museus e galerias, grande arquitec-tura moderna e muitos monumentos e é hoje a capital cultural da Alemanha. Os parques não fecham em Berlim, assim como parece ser interminável o desejo dos seus habitantes de festejar. O quê? Não sei bem. Isto não é fácil de explicar mas subsiste nas cidades alemãs, e em Berlim paralelamente ao cosmopolitismo e vanguardismo, de um modo inocente, uma poética rural e florestal. Berlim não é excepção. Só agora a cidade emergiu totalmente das violências em que a história do século XX a mergulhara.Cidade 15: Vancouver é a primeira das 2 cidades norte americanas premiadas. Não é difícil de perceber porquê: cli-ma favorável; uma vida de outdoors; in-dústria hi-tech; 220 parques e 11 praias; mais de 50% do seu lixo reciclado; ca-samento homossexual permitido desde 2005.

A última das cidades asiáticas é Singa-pura (o que coloca 4 asiáticas à frente de qualquer americana). O aeroporto de Changi é constante assunto de con-versa. Em que outro lugar, interroga a Monocle, “se aterra num jardim botânico e se fica despachado em 15 minutos?”. Registar um negócio leva 15 minutos on-line. A sua rede de transportes é im-pecável.

Já aqui se elogiara, em artigo próprio, o esforço gigantesco que tem sido fei-to para tornar Singapura “uma cidade num jardim”. O seu Jardim Botânico e a nova zona de jardins e estufas per-to do Hotel Sands denota um desejo vegetal avassalador. É a única destas 25 entradas que não regista nenhum assassínio no ano passado. A mistura harmoniosa entre o novo e o antigo é outra das suas vantagens, mesmo que esta possa ser um pouco irritantemen-te arranjadinha.Nós conhecemos os seus defeitos: ex-cesso de regulamentação; animosidade contra trabalhadores estrangeiros; fal-ta de liberdade de expressão; negação de direitos aos homossexuais (uma anedota mundial: depois do caso dos penguins, veja-se o da figura de banda desenhada Archie).As 6 cidades seguintes são europeias. A primeira é Madrid. Se a crise económi-ca tem trazido atrasos à capital, os pla-nos para redução da utilização de car-ro próprio e da implementação de um sistema de bicicletas (e bicicletas eléc-tricas) públicas é um modelo a seguir. Uma cidade artística e com 2691 horas anuais de sol tem muito para oferecer.Paris destaca-se pelos seus monumen-tos, museus, bibliotecas e universida-des. Tem 490 parques. Também sabe-mos que é excelente em termos de as-sistência médica. A revista Monocle não deixa de apontar várias falhas flagran-tes: sistema de metro muito vasto mas velho e sujo; a capital espelha a falta de direcção que parece afectar o país; Burocracia; custo de vida. Amesterdão é um lugar que sempre me pareceu imobilizado nos louros de algumas das suas qualidades óbvias - a menor das quais não será a divertida e única organização do seu centro em torno dos seus canais. Mas a revista Monocle nota subtis avanços: 100 no-vos postos de carregamento eléctrico a juntar aos impressionantes 550 já exis-tentes e mais estacionamento para bici-cleta, o meio de transporte de 58% dos seus habitantes. Amesterdão acolhe

pessoas de 178 nacionalidades diferen-tes mas aparentemente já de um modo tão tolerante como antigamente. Fica--se com a impressão que é uma cidade que terá de escolher melhor a direcção a tomar.Hamburgo junta a características típi-cas das cidades alemãs, eficiência e lim-peza, um projecto cuja conclusão tarda e que se tornou num embaraço para a sua imagem: a Elbphilharmonie Hamburg, uma gigantesca casa de concertos junto do Elba. O mesmo acontece em Berlim com a construção do novo aeroporto. Mas Hamburgo é um sítio muito pró-

“EM OSLO É PREFERÍVEL NÃO URINAR EM PÚBLICO, SOB PENA DE PRISÃO, NÃO SE FUMA EM QUAISQUER BARES E RESTAURANTES E É PROIBIDO BEBER ÁLCOOL EM ESPAÇOS PÚBLICOS”

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15 artes, letras e ideiashoje macau terça-feira 29.7.2014

prio, com muita construção moderna junto ao rio, um exemplo constante e imprescindível para cidades que exi-bem uma geografia semelhante. Man-tém uma imagem muito alemã, porven-tura pouco inclusiva, mas, dentro desse quadro, bastante tolerante e aberta.Barcelona foi recipiente, recentemen-te, de dois projectos louváveis e que trarão certos avanços às suas gentes: o El Born Centre Cultural e a conversão de um antigo hospital num comple-xo internacional político e cultural. A aceitação de arquitecturas inovadoras é uma característica desta cidade so-larenga e animada que terá de lidar de modo mais eficiente com a gran-de quantidade de turistas que recebe anualmente.Lisboa não é uma novata nestas classifi-cações mas parece-me que nunca atin-gira um lugar tão alto. A Monocle elogia o trabalho feito para trazer as pessoas

“PARTY CAPITAL? BERLIM”

para junto do rio. Eu sou testemunha e aplaudo. Muitas outras edições desta revista mostram uma população lisboe-ta empreendedora e inovadora na aber-tura de pequenos negócios. Esta edição lembra que Lisboa fica a menos de uma hora de várias praias com surf. É, depois de Brisbane, a cidade que regista mais horas de sol por ano.Um sabor libertário e uma propensão para a tolerância permitem dizer que esta “é a cidade perfeita – para quem é turista”. Regista 23 assassinatos e ape-nas 115 roubos a residências (um valor muito baixo, Fukuoka tem 994 e Paris 11.126).

Portland é a vigésima terceira elogiada e a única situada nos E.U.A (refere-se noutra página da revista que Chicago, cheia de qualidades, não figura nesta selecção devido à elevada taxa de cri-minalidade). O que é que é valorizado? Trabalha-dora e boémia, tolerante, com bairros cheios de árvores, Portland é presença habitual nesta competição. A sua cozi-nha, baseada em produtos locais, tem fama. A sua localização privilegiada permite, em teoria, fazer surf e ski no mesmo dia. 2341 horas de sol, apenas 15 assassinatos, uma taxa elevadíssima de reciclagem de lixos (90%) e uma fa-cilidade de transporte que dispensa o uso de carro próprio ajudam a perceber esta classificação.Oslo, a Penúltima. Para lá das qua-lidades óbvias, a sua localização e a inclinação da sua população para o ar livre tornam-na muito atraente. Há re-sorts de ski a 30 minutos do centro da cidade. Também é uma pequena cida-de Monocle – cafés, jardins, pequenas boutiques, pequenas fábricas de cer-veja. “Beer prices are high but crime is low”. Tem 1226 carregadores eléctricos para carros e parques geralmente abertos 24 horas.

A última das ínclitas 25 é Brisbane, uma entrada nova. É também, de en-tre todas, a que aprecia mais horas de sol por ano, um imenso trunfo e triunfo que a sua arquitectura apro-veita.Mais barata que Melbourne e Sidney e com um centro espaçoso, Brisbane pro-porciona um ambiente descontraído para o negócio. Este atrai uma clientela frequentadora de inúmeros cafés e res-taurantes (aparentemente também um número elevado de binge-drinkers, além de haver um problema de intolerância para com os muçulmanos e a popula-ção aborígene).

A apreciação deste ano de 2014 contém dois critérios novos, interes-santes: O número de jornais diários e um que cobre um espectro que vai da-quelas aquelas cidades cuja vida é de-masiado regulamentada àquelas mais

libertárias (em inglês: libertarian paradise or stickler for rules?).

O primeiro revela o seguinte por-menor: várias cidades do sul da Euro-pa e da Ásia têm um número elevado de jornais diários, enquanto algumas cidades do Norte da Europa publicam um número muito menor de títulos. As-sim, Lisboa tem 12, Madrid 10 e Hong Kong 53, enquanto cidades como Au-ckland, Viena, Portland e Brisbane ape-nas 1 jornal diário.

O segundo critério avisa que Sin-gapura se encontra no extremo regula-mentário do espectro. Em Oslo é pre-ferível não urinar em público, sob pena de prisão, não se fuma em quaisquer bares e restaurantes e é proibido beber álcool em espaços públicos. As cidades australianas, e as outras escandinavas, não revelam também grande tendência libertária.

Madrid é exemplo de uma cidade que corre o risco de se ver com a vida demasiadamente regulamentada.

Cidades como Lisboa e Paris são definitivamente libertárias. Portland e Auckland não sobressaem, igualmente, por impor demasiadas regras. Party ca-pital? Berlim.

Cidade com mais McDonald’s? Hong Kong – 238 restaurantes (isto não é nada bom sob uma perspectiva Mono-cle). Cidade com menos McDonald’s? Zurique – apenas seis. Lisboa vem logo a seguir a Zurique – 15, semelhante a Amesterdão e Oslo – 16.

Finalize-se lembrando que, se estes critérios presentes à escolha das cida-des com melhor qualidade de vida fun-cionam como modelo quase universal (quase porque alguns são de aplicação e desejo geral, como uma boa qualida-de do ar ou uma boa assistência médi-ca, mas outros não o serão para algu-mas culturas, como o da tolerância em relação à homossexualidade ou o dos direitos dos trabalhadores estrangei-ros) e a sua apreciação tem impacto au-tomático na que se faz das falhas locais (Macau), não seria nunca vontade do autor destas linhas que se procedesse a uma “estocolmização” de Macau ou qualquer outra cidade asiática, antes que cada uma, dentro de padrões uni-versais de qualidade, se desenvolva de acordo com as suas características pró-prias.

“CIDADES COMO LISBOA E PARIS SÃO DEFINITIVAMENTE LIBERTÁRIAS”

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16 DESPORTO hoje macau terça-feira 29.7.2014

E M plena crise na Eu- ropa, o mercado de futebol está mais ani-mado do que nunca

e promete bater todos os re-cordes até ao final de Agosto. Luis Suárez (Barcelona) e James Rodríguez (Real Ma-drid) entraram directamente para o top dos cinco jogadores mais caros de sempre e as dez maiores transferências deste verão, todas juntas, aproximam-se já dos 500 milhões de euros. Números impressionantes, mas que, ao que tudo indica, podem ainda crescer ao longo do próximo mês de Agosto. Clubes como Mónaco, Liverpool, Man-chester United e City têm ainda margem de manobra para investir, enquanto outros, como o Paris Saint-Germain, esperam vender primeiro para depois voltarem a gastar.

Real Madrid e Barce-lona continuam a ser os principais dinamizadores do mercado. O clube catalão tinha gasto mais de 81 mi-lhões de euros para comprar Luis Suárez ao Liverpool e o rival merengue não se ficou atrás e investiu 80 milhões na contratação de James Rodríguez. O quarto e quin-

Primeiro UFC femininoasiático em Agosto no Venetian A organização da UFC (Ultimate Fighting Championship) anunciou ontem que vai organizar o primeiro combate entre mulheres na Ásia no dia 23 de Agosto, inserido na luta Bisping vs. Le. No dia, a russa Milana Dudieva – que se estreia no campeonato UFC - vai enfrentar a norte-americana Elizabeth Phillips – campeã amadora do Estado de Washington na versão MMA (mixed martial arts). Para ajudar a divulgar o evento, Ronda Rousey - atleta olímpica e campeã da UFC que recebeu em 2014 o prémio ESPY de melhor atleta feminina - vai assistir ao combate e participar em várias acções de promoção. Segundo o comunicado de imprensa, Dana White, o presidente da UFC, salientou que “a divisão de mulheres tem vindo a tornar-se muito popular no mundo inteiro, e Ronda Rousey é sem dúvida a maior atleta feminina do campeonato”. O evento decorre na Arena do Venetian e os bilhetes custam entre 280 e 4680 patacas.

Luiz Suarez (Liverpool Barcelona) 81ME

James Rodríguez (Mónaco Real Madrid) 80ME

David Luiz (Chelsea Paris Saint-Germain) 49,5ME

Diego Costa (At. Madrid Chelsea) 42ME

Luke Shaw (Southampton Manchester United) 42ME

Alexis Sánchez (Barcelona Arsenal) 41ME

Ander Herrera (At. Bilbao Manchester United) 40ME

Cesc Fabregas (Barcelona Chelsea) 37ME

Adam Lallana (Southampton Liverpool) 35ME

Toni Kroos (Bayern Munique Real Madrid) 30ME

TRANSFERÊNCIAS MERCADO NÃO PÁRA DE MEXER

Verão quente

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Elizabeth PhillipsMilana Dudieva

to jogadores mais caros de sempre numa lista em que os dois espanhóis dominam em toda a linha. A equipa de Madrid é responsável

AS DEZ MAIORES TRANSFERÊNCIAS DO VERÃO DE 2014

(EM MILHÕES DE EUROS)

DEZ POTENCIAIS ALVOS DO MERCADO ATÉ AO FINAL DE AGOSTO

Di María (Real Madrid)

Isco (Real Madrid)

Khedira (Real Madrid)

Edson Cavani (PSG)

Falcao (Mónaco)

Balotelli (Milan)

Arturo Vidal (Juventus)

Paul Pogba (Juventus)

Schneijder (Galatasaray)

Fernando Torres (Chelsea

Lukaku (Chelsea)

por seis nomes no top-ten dos jogadores mais caros de sempre, entre os quais estão os portugueses Luís Figo e Cristiano Ronaldo,

enquanto a equipa catalã também tem três nomes nessa mesma lista. O Paris Saint-Germain, com a com-pra de Cavani ao Nápoles, na temporada passada, é o único intruso neste top-ten.

A compra de James Ro-dríguez foi a última abanar o mercado e deixou o Mó-naco com os bolsos cheios. Oitenta milhões de euros que o Real Madrid espera recuperar em poucos meses com a venda de camisolas. Oitenta milhões de euros que o clube do Principado já anunciou que tem a intenção de os gastar até ao final do Verão.

O Manchester United, apesar de já ter investido 82

milhões de euros nas con-tratações de reforços como Luke Shaw (Southampton) e Ander Herrera (At. Bilbao), diz que tem um «orçamento ilimitado» para atender a todas as necessidades de Van Gaal. E a verdade é que a equipa de Old Traffford, depois do acordo com a Adidas, avaliado em 900 mi-lhões de anos, tem dinheiro para gastar.

Ao vizinho City também

não falta liquidez e, a qual-quer momento, pode abanar o mercado com propostas irrecusáveis. O Liverpool, também abonado com a venda de Suárez, também ainda está activo, particu-larmente à procura de um avançado para substituir o uruguaio. A solução pode passar por Cavani. O PSG admite vender o avançado para depois investir em Di María. - Mais Futebol

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TEMPO POUCO NUBLADO MIN 28 MAX 33 HUM 65-90% • EURO 10.7 BAHT 0.2 YUAN 1.2

ACONTECEU HOJE 29 DE JULHO

Pu Yi

LÍNGUADE gATO

hoje macau terça-feira 29.7.2014 (F)UTILIDADES 17

João Corvo fonte da inveja

O amor não se faz, descobre-se.

Morre António Feio,o actor que fazia rir e pensar• Hoje é dia de recordar António Feio, actor e encenador, espelho da simplicidade, característica que usou para gerar gargalhadas. Morre a 29 de Julho de 2010 e torna-se inesquecível.António Feio nasceu em Lourenço Marques, 6 de Dezembro de 1954, vivendo em Moçambique até aos 7 anos. Em 1961, viaja com a família para Lisboa, estreando-se no teatro aos 11 anos, na peça ‘O Mar’, de Miguel Torga, dirigida por Carlos Avilez, no Teatro Experimental de Cascais.Depressa colhe reconhecimento também muito jovem estreia-se na televisão e no cinema, acumulando também diversas participações na rádio e em algumas campanhas publicitárias.O seu percurso profissional afasta-se dos palcos, quan-do decide trabalhar num atelier de arquitectura, como desenhador. Mas o apelo do teatro é mais forte e António Feio regressa, em 1974, à casa que o viu nascer: o Teatro Experimental de Cascais.Ao longo da sua carreira, trabalhou em diversos espaços de cultura, desde a Casa da Comédia, ao Teatro Nacional D. Maria II, até que conhece José Pedro Gomes, em 1993, actor que viria a ter forte relevância no percurso de António Feio nos palcos.O teatro viaja para a televisão por intermédio de uma dupla inesquecível, numa Conversa da Treta que nos fazia rir e pensar.E morreu a rir, com uma lição que vida que conseguiu trans-mitir, no mediatismo cruel que a doença concede. Enquanto lutava contra um cancro no pâncreas – o “bicho” que queria vencer –, António mostrou o outro lado de si.A sua dimensão humana esteve à altura do talento que marca a carreira nas artes, quer como actor, quer como encenador. Já perto dos últimos suspiros, recebeu o grau honorífico de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. A 29 de Julho de 2010, morreu um homem feliz.

Chegou o FMI Pronto. Foi preciso vir cá a senhora dona Lagarde para mostrar ao Governo tudo o que os locais têm tentado mostrar: a economia de Macau depende do exterior – a sério? -, Macau precisa de mais disciplina na forma como gasta o dinheiro – jurem? -, o mercado imobiliário é ridículo em Macau – nunca ninguém reparou. Foram precisos 15 anos, para o FMI perceber aquilo que, todos os dias, quem cá vive sente.Segundo o FMI, a economia de Macau está vulnerável. Segundo o FMI, é necessário definirem-se avaliações a nível financeiro e opções políticas a longo prazo, em áreas como a do envelhecimento da população, a diversificação económica e a eventual desaceleração do crescimento dos sectores do jogo e do turismo. No fundo, o que o Fundo Monetário Internacional deixa é um aviso. Aquele que muitos de nós têm vindo a frisar. Medidas que o Governo está consciente que são necessárias – e até as usa para fazer política de boca -, mas que não implementa. Há quantos anos andamos a falar da necessidade de diversificação económica? Qual a diversificação que foi, até agora, conseguida? Pode ser que, com a visita do FMI a Macau e o consequente relatório, o Governo abra os olhos. Pode ser que seja necessário alguém – como o FMI, com o peso do FMI, de fora – apontar o que está mal cá dentro para que o Governo se decida a mudar. Ou pode ser que não. Até porque, se formos a ver, o que é que interessa o FMI a Macau?

C I N E M ACineteatro

SALA 1DAWN OF THE PLANET OF THE APES [B]Um filme de: Matt ReevesCom: Jason Clarke, Gary Oldman, Keri Russel14.30, 16.45, 21,30

DAWN OF THE PLANET OF THE APES [3D] [B]Um filme de: Matt ReevesCom: Jason Clarke, Gary Oldman, Keri Russel19.15

SALA 2PLANES 2: FIRE & RECUE [A]FALADO EM CANTONÊSUm filme de: Bobs Gannaway14.30, 16.15, 19.45

PLANES 2: FIRE & RECUE [3D] [A]FALADO EM CANTONÊS

Um filme de: Bobs Gannaway18.00

DELIVER US FROM EVIL [C]Um filme de: Scott DerricksonCom: Eris Bana, Edgar Ramirez, Olivia Munn, Sean Harris21.30

SALA 3STEP UP ALL IN [B]Um filme de: Trish SieCom: Alyson Stoner, Biana Evigan, Ryan Gusman, Adam G. Sevani14.30, 16.45, 21.30

STEP UP ALL IN [3D] [B]Um filme de: Trish SieCom: Alyson Stoner, Biana Evigan, Ryan Gusman, Adam G. Sevani19.15

Uma verdadeira “recuperação” depois de um CD mau, ‘Recovery’ traz o que de melhor Eminem consegue fazer: letras profundas e extremamente bem escritas. Com poucas aparências de ‘Slim Shady’ – o alter ego negro de Marshall Matters – o segundo álbum mais recente do rapper de Detroit traz de regresso o hip hop ‘old school’, com a melodia moderna do rap. ‘Space Bound’ e ‘Not afraid’ são algumas das músicas que vale a pena ouvir. - Joana Freitas

EMINEMRECOVERY (2010)

U M D I S C O H O J E

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hoje macau terça-feira 29.7.201418 publicidade

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19hoje macau terça-feira 29.7.2014

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Cecília Lin; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado; Ricardo Borges (estagiário) Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

O primeiro passo para fora do nosso país é também o primeiro passo para o de-sejado regresso. Partimos em busca de oportunidades, de sonhos, de esperança, mas por cima do ombro, em tantos instantes do dia-a-dia, espreitamos o país que deixamos para

trás; olhamos sem olhar, gritamos sau-dades em silêncio, sentimos, ainda que por instantes, o cheiro a maresia, o sol quente na face, o fado que arrepia a alma e a saudade que faz palpitar o coração.

A saudade do coração transporta-se para as palavras, e diariamente Portugal está na boca e no pensamento dos que partiram. Olhamos à distância, e procuramos ao longe explicar o país que vemos. Explicamo-lo a nós mesmos, procurando entender o in-compreensível, explicamo-lo aos curiosos, intrigados com a debandada de milhares de um país que desistiu dos seus.

Explicar Portugal é explicar os salários baixos, é explicar o desajuste do rendimento mínimo, quando é fácil de constatar que a visita ao mercado ou à superfície comercial para abastecer as dispensas custa o mesmo em todos os países. Explico o incompreen-sível, numa qualquer fila de supermercado, onde não mudam os preços, mas sim o recheio das carteiras e o ar desesperado dos pais que em Portugal tantas escolhas difíceis têm de fazer, na hora de deixar compras para trás.

Explicar Portugal é explicar que existe trabalho, mas que se desistiu de trabalhar com direitos; é explicar que o cancro da precariedade arrasta consigo toda a réstia de esperança, consumindo regalias, segurança e dignidade. É explicar que as oportunidades são somente para quem se despir de sonhos e ambições para se remeter a uma escravatura de ameaça constante.

É tentar fazer entender os cortes nos salários, despropositados, exagerados, cri-minosos, explicando depois a aplicação de tamanha poupança; sacrificam-se famílias, perspectivas de vidas, para resgatar banco após banco, falidos uma e outra vez, para pagar a dispendiosa factura que é a ambição desmedida e ganância de alguns.

Retratar Portugal é pincelar a impunidade dos claramente culpados e o castigo dos ino-centes. Os patrões fora da lei, os banqueiros que jogam Monopólio com o dinheiro dos pensionistas, dos trabalhadores, dos fundos de Protecção Social. É explicar, no caso da Saúde24, porque continuam sorridentes e impunes administradores e gestores, insis-tindo na contratação ilegal e na escravatura

Tiago Pinheiroin Esquerda.net

“Explicar Portugalé também explicar a apatia perante o crime evidente de quem despedaça todo e qualquer vestígio de esperança”

O Portugal daí explicado aqui

de enfermeiros. Seria longa a explicação, que não esqueceria a protecção da maioria que (des)governa Portugal, bem como a inércia de um Sindicato que esqueceu que a luta laboral se trava ao lado dos trabalhadores e não ao lado dos patrões.

Esmiuçar Portugal é explicar o aban-dono da protecção social, o abandono negligente do sistema nacional de saúde, utilizando os bolsos vazios de reformados e desempregados para sustentar hospitais à beira da ruptura; com cada vez menos profissionais (em debandada acelerada

do País) e sem condições mínimas, pou-ca restará aos Hospitais que se tornarem as imagens dantescas dos Hospitais de Campanha de há séculos atrás.

Abordar Portugal é deixar claro o ataque feroz às oportunidades de qualquer crian-ça que ambicione estudar, delapidando a escola pública de condições, perseguindo ferozmente os professores, transmitindo a inequívoca ideia de que educação digna é um privilégio apenas para alguns, regredindo para uma feudalismo medieval que tanto apraz aos poucos, mas cada vez mais ricos, de Portugal.

Explicar Portugal é também explicar a apatia perante o crime evidente de quem despedaça todo e qualquer vestígio de esperança. A demissão do povo de decidir, remetido a uma dor que esconde, conduz à singularidade entre uma Europa que há muito castiga os partidos do “centrão” que os governa; PS’s e PSD’s têm sido trucidados eleitoralmente Europa fora, enquanto em Portugal ainda se vêem neles as melhores soluções, comprovadamente erradas após 40 anos de democracia.

Explicar Portugal é explicar a passivi-

dade perante um poder político promíscuo, interesseiro, aceitando sem expressão o jogo de cadeiras entre políticos, bancos e empresas públicas, que custam milhões a quem trabalha, a quem trabalhou, a quem quer trabalhar.

Explicar Portugal é, no entanto e orgu-lhosamente, explicar uma alma sem fim, de coragem adormecida em alguns, mas tão viva em tantos, que dia após dia, deixam impressa toda a sã alma nas lutas que tra-vam. Explicar Portugal é explicar a revolta do povo de Abril que um dia ressurgirá, é enaltecer a coragem de homens e mulheres que se debatem por cada milímetro de liber-dade e de direitos, sem desistir, sem vacilar. Explicar Portugal é explicar todos os que esquecem os seus próprios recibos verdes lutando pelos outros, que se esquecem do seu diminuto vencimento lutando contra os cortes alheios.

O Portugal daí não se entende aqui. Entende quem explica, quem sonha um dia voltar. Afinal o Portugal daí também é dos Portugueses daqui, os que não desistem, os que daqui gritam para ai, tentando também se fazer ouvir.

RUBE

N AL

VES,

LA

CAGE

DOR

ÉE

OPINIÃO

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hoje macau terça-feira 29.7.2014

cartoon por Stephff CINZENTOS

Carne estragada retirada do mercadoO grupo norte-americano OSI anunciou que vai retirar do mercado todos os produtos da sua subsidiária Husi em Xangai, fábrica que alegadamente misturava carne estragada com carne fresca, embalava-a com novos rótulos, e vendia-a para várias cadeias de ‘fastfood’. Através de um comunicado difundido ontem na imprensa chinesa, a OSI explica que “para voltar a ganhar a confiança dos clientes, e para cooperar com o avanço da investigação oficial”, o grupo decidiu retirar todos os produtos de carne que a fábrica da Husi em Xangai vendia a várias cadeias de restauração, incluindo a McDonalds, KFC ou Pizza Hut. O fabricante alimentar com sede em Aurora (Illinois, Estados Unidos) também disse que está a realizar uma investigação interna sobre o sucedido na fábrica da Husi em Xangai, e que perante uma eventual “má conduta” tomará medidas legais contra os responsáveis. Segundo o comunicado, a OSI enviou uma equipa para assegurar a gestão do problema e colaborar com as autoridades de Xangai.

Japão Aluna de 16 anos mata colega de escola Uma aluna de 16 anos, suspeita de ter matado e decapitado uma colega de escola, foi detida no domingo no Japão, informou ontem a imprensa local. Segundo a agência japonesa Kyodo, a vítima terá sido atingida na cabeça e estrangulada. A presumível autora do crime terá depois decapitado a vítima e cortado a sua mão esquerda. O homicídio ocorreu na cidade de Sasebo, em Nagasaki, no oeste do Japão. O corpo da jovem foi descoberto na sua casa, onde morava sozinha, segundo a imprensa japonesa. Na mesma cidade de Sasebo, uma estudante matou uma colega de escola em 2004.

O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, instou os cidadãos norte-coreanos

a manterem vivo o “espírito de defesa da pátria” durante as ce-lebrações do 61.º aniversário do fim da Guerra da Coreia, informou ontem a agência KCNA.

No seu discurso, o jovem líder norte-coreano aludiu à “necessida-

FLORA [email protected]

O departamento de su-pervisão de qualidade, inspecção e quarente-na da China descobriu

que um lote de doces típicos expor-tados de Macau para o continente, em Maio, reprovou na qualidade, por excesso de químicos e bactérias. Man Cheng, gestor da empresa Nova Cherykoff Alimentos, responsável pelos produtos, disse ao canal chi-nês da TDM que, quando recebeu o aviso das autoridades chinesas, suspendeu de imediato a venda e recuperou as embalagens.

Os problemas de segurança alimentar sucedem-se. Desta vez foi detectado excessode químicos e bactérias em lotes de doces exportados de Macau para o continente

DOCES TÍPICOS DE MACAU COM PROBLEMAS DE QUALIDADE

Lembranças com sabor amargo

“O problema dos dois produtos [bolachas e rolos de ovos] vem das matérias-primas. As farinhas de feijão verde para as bolachas de amêndoa tinham problemas e a nossa empresa já mudou de fornecedor, para uma empresa de Taiwan. Os rolos de ovos tiveram problemas com o fermento vindo do interior da China e a empresa já começou a usar o produto dos Estados Unidos. Depois de termos usado este novo produto, os rolos de ovos já foram aprovados no exame de qualidade e voltaram a ser vendidos. As bolachas de amêndoa ainda estão sob super-visão”, disse Man Cheng.

O responsável explicou à Rádio Macau que os produtos também são vendidos em Macau, mas que já foi suspensa a sua venda e foi feita a recuperação dos lotes sem problemas. Man

Cheng disse ainda que pediu ao Centro de Segurança Alimentar para implementar melhorias, esperando recuperar a confiança dos consumidores.

O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) garantiu ao HM que está a acom-panhar o caso, mas que ainda não tem resultados porque os produtos são exportados para o interior da China e não vendidos para Macau. Por isso os exames de avaliação são feitos pelas autoridades chinesas, sendo que o IACM afirma necessitar “de tempo” para confirmar a situa-ção com o continente.

61.º ANIVERSÁRIO DO FIM DA GUERRA DA COREIA

Kim em defesa da “pátria” de de incutir nos jovens e adultos o heroísmo e o espírito patriótico demonstrado pelo Exército e povo da Coreia do Norte” durante a Guerra da Coreia (1950-53).

A Coreia do Norte celebrou no domingo, 27 de Julho, o 61.º aniversário deste conflito com a visita do “líder supremo” ao Ce-mitério dos Mártires da Guerra

de Libertação da Pátria, edifi-cado em 2013 em Pyongyang para homenagear os mortos em combate.

Pyongyang refere-se à Guerra da Coreia como a “Guerra da Libertação da Pátria”, já que considera que a Coreia do Sul e os Estados Unidos invadiram o seu território, e designa o 27 de

Julho como o “Dia da Vitória”, garantindo que foi o vencedor do conflito.

A Guerra da Coreia, travada entre 1950 e 1953, terminou, no entanto, com um impasse no terri-tório, tendo a península da Coreia continuado dividida em dois países.

Nesta guerra, a Coreia do Sul teve ao seu lado os Estados Unidos e o Reino Unido, enquanto a Coreia do Norte era apoiada pela China e pela antiga União Soviética.

ENSAIO DE ATAQUE A POSIÇÕES NO SULEntretanto, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, liderou sábado o disparo de um míssil que simu-lou um ataque às bases militares da Coreia do Sul onde estão instalados 28.500 soldados norte--americanos.

De acordo com a KCNA, a agência oficial da Coreia do Norte, o disparo aconteceu no sábado e marcou também o aniversário, no domingo, do acordo de cessar-fogo que colocou fim á guerra na penín-sula coreana, entre 1950 e 1953.

Apesar de não ter revelado o local do disparo, a KCNA desta-cou a presença do líder do país naquele que foi o primeiro ensaio depois do Conselho de Segurança ter condenado a Coreia do Norte por mais uma série de ensaios em violação das resoluções das nações Unidas. - Lusa

“O problemados dois produtos [bolachas e rolos de ovos] vem das matérias-primas”MAN CHENG Gestor da empresa Nova Cherykoff Alimentos