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HISTORIA DE UMA FITA AZUL.
FIM.
Sr. Alvarenga acabara de tomar o café, ao qualfez um novo elogio; e depois de sorver voluptuo-samente uma pitada, continuou :
— Já eu não me lembrava da fita quando hoje
o Sr. João Gomes me contou o caso. Era difficil
l» >à-vc^fa achar a fita, porque isto de creanças V. S. sabe
que são endiabradas, e então aquella!Está rasgada? perguntou Gustavo ancioso por vel-o chegar ao fim.
Parece que não.Ah!Quando lá cheguei perguntei com muita instância pela fita ásenhora
do desembargador.E então?A senhora do desembargador respondeu-me com muita polidez que
não sabia da fita; imagine como fiquei. Ghamou-se porem a menina, e
esta confessou que uma sua prima, moça de vinte annos, lhe tirara a
fita da mão, logo no dia em que eu lh'a dei. A menina chorara muito,
mas a prima dera-lhe em troco uma boneca.
Esta narração foi ouvida por Gustavo com a anciedade que o leitor,
naturalmente imagina; as ultimas palavras, entretanto, foram um golpe
mortal. Como haver agora essa fita? De que maneira e com que razões,
se iria procurar nas mãos da moça o objecto desejado ?
T. XIV. — Fevereiro de 1870.
,r
34 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
Gustavo comniunicou estas impressões ao Sr. Alvarenga, que depondesorrir e tomar outra pitada, lhe respondeu que dera alguns passos a verse a fita pudesse vir parar ás suas mãos.
Sim?É verdade; a senfiõfã~3ó"desembargador, ficou tão penalisada com
a anciedade que eu mostrava, que me prometteu fazer alguma cousa. Asobrinha mora no Rio Comprido ; a resposta só pode estar nas suas mãosdepois de amanhã porque eu amanhã tenho muito que fazer.
Mas virá a fita? murmurou Gustavo com desanimo.Pode ser, respondeu o procurador; tenhamos esperança.Com que lhe hei de pagar tantos favores? disse o bacharel ao pro-
curador que se levantara e pegara no chapéo...Sou procurador... dê-me alguma cousa em que eu possa prestar-
lhe os meus serviços.Oh! sim! a primeira que me vier agora é sua ! exclamou Gustavo
para quem uma causa era ainda objecto puramente mythologico.O procurador sahio.
: Então, até depois de amanhã? disse João que ouvira quasi toda a con-versa, collocado no corredor.
Sim, até depois de amanhã. .
Vil.
O dia em que o procurador devia voltará casa de Gustavo era o ultimodo prazo marcado por Marianninha. Gustavo esperou por elle sem sahirde casa; não queria apparecer sem estar desenganado ou feliz.
O Sr. Alvarenga não marcara a hora. Gustavo accordou cedo, almoçou,e esperou até ao meio dia sem que o procurador desse signaes de si. Erauma hora quando appareceu.
Ha de desculpar-me, disse elle logo ao entrar; tive uma audiênciana segunda vara, e por isso
Então?Nada.Nada!
• — Ella tem a fita e declara que a não dá !Oh! mas isso é impossível!Tambem eu disse isso, mas depois reílecti que não ha outro recurso
senão contentarmo-nos com a resposta. Que poderíamos nós fazer?
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 33;
Gustavo deu alguns passos na sala, impaciente e abatido ao mesmotempo. Tanto trabalho para tão triste fim! Que importava que elle sou-besseonde parava a fita, se não podia havel-a ás mãos! O casamentoestava perdido; o suicídio unicamente.
Sim, o suicídio. Apenas o procurador Alvarenga sahio da casa deGustavo, este sondou o seu coração e mais uma vez se convenceu deque não podia resistir á recusa de Marianninha; senão matar-se.
Caso-me com a morte ! rugio elle surdamente.Outra reminiscencia de melodrama.Assim assentado o seu plano, sahio Gustavo de casa, logo depois de
ave-marias e dirigio-se para a casa de D. Leonarda. Entrou commovido;estremeceu quando deu com os olhos em Marianninha. A moça tinha omesmo ar severo com que lhe fallára a ultima vez.
Por onde andou estes tres dias? disse D. Leonarda.Estive muito oecupado, respondeu seccamente o moço e por isso...
As senhoras tem passado bem ?Assim, assim, disse D. Leonarda.
Depois:Estes pequenos andam arrufados! pensou ella.
E posto fosse severíssima em pontos de namoro, todavia comprehendeuque para explicar e acabar arrufõs a presença de uma avó era de algummodo prejudicial. Pelo que, assentou retirar-se durante cinco minutos(de relógio na mao), a pretexto de ir ver o lenço de tabaco.
Apenas se acharam sós os dois namorados, rompeu o seguinte dialogoa muito custo de ambos, porque nenhum d'elles queria começar primeiro.Foi Gustavo quem cedeu :
Não lhe trago a fita.Ah! disse a moça com frieza.Alguém m'a tirou, talvez, porque eu...
~ Que faz a policia?A policia!... Está zombando commigo, creio eu.Apenas crê ?
i— Marianninha, por quem é, perdoe-me se...N'este ponto teve Gustavo uma idéa que lhe pareceu luminosa.
Fallemos franco, disse elle; eu tenho a fita commigo.Sim ? deixe ver.Não está aqui; mas posso afíirmar-lheque a tenho. Imponho todavia
uma condição... Quero ter este prazer de impor uma condição*..Impor ?
JORNAL DAS FAMÍLIAS.
Pedir. Mostrar-lhe-hei a fita depois que estivermos casados.
A idéa, como a leitora vê, não era tão luminosa como elle pensava;
Marianninha deu uma risadinha e levantou-se.Não acredita? disse Gustavo meio enfiado.Acredito, disse ella; e tanto que acceito a condição.Ah!Com a certeza de que não a ha de cumprir.Juro.t.
Não jure! A fita está aqui.E Marianninha tirou da algibeira o pedaço de fita azul com os nomes
de ambos bordados a seda, a mesma fita que ella lhe dera.
Se o bacharel Gustavo tivesse visto as torres de S. Francisco de Paula
subitamente transformadas em duas moletas, não se admiraria tanto
como quando a moça lhe mostrou o pedaço de lita azul.
Só no fim de dois minutos pôde fallar:Mas... esta fita?...Silencio! disse Marianninha vendo entrar a avó.
A leitora naturalmente acredita que a fita fora entregue a Marianninha
pela sobrinha do desembargador, e acredita a verdade. Eram amigas;
sabiam do namoro uma da outra; Marianninha tinha mostrado á amiga
a obra que fazia para dar ao namorado, de maneira que quando a fita
azul cahio nas mãos da pequena suspeitou naturalmente que era a mesma,
e obteve-a para mostral-a á neta de D. Leonarda.Gustavo nao suspeitara nada d^sto; estava aturdido. Estava sobretudo
envergonhado. Acabava de ser apanhado em flagrante delicto de peta efora desmentido do mais formidável modo.
N'estas alturas não ha de demorar o desfecho. Apresso-me a dizer queGustavo sahio d'alli abatido, mas que no dia seguinte recebeu uma cartade Marianninha, em que lhe dizia, entre outras cousas, esta : « Perdôo-lhe tudo! »
N'esse mesmo dia foi pedida a moça. Gasáram-se pouco depois e vivemfelizes, nao direi onde, para que os não vão perturbar na sua lua demel que dura ha largos mezes.
Desejo o mesmo ás leitoras.MACHADO DE ASSIS*
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D'UM POLO A OUTRO.
FIM.
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III.
urante algumas semanas nada occorreu que inte-resse o leitor. Por isso limitamo-nos a dizer queamistosas continuaram a ser as relações dos nossos
quatro mais proeminentes personagens, que todosos dias reuniam-se para conversarem familiarmente.Convém outrosim não occultarmos que Julia poresse tempo já estava sobre si, graças ás costuras que
lhes obtinham Medeiros, Álvaro e D. Joanna.Assim ia-se passando o tempo, quando um dia o primeiro d'estes pe-
netrou na câmara do segundo extremamente agitado.É infame, Álvaro, é infame, disse elle parando em frente do moço;
nem se pôde fazer o bem!... Indigna sociedade, que não contente dedeixar a virtude languir na miséria, que lhe é precipício, escarnece edesespera quando alguern a ampara !
Álvaro, que estava sentado, tendo os cotovellos sobre uma mesa e afronte apoiada na mão direita, ergueu- a cabeça e com voz tremula deemoção perguntou-lhe :
Porque diz isso, Sr. Medeiros ?Porque? Ora, porque?! [Pois nao sabes o que se diz a teu respeito?
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38 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
Ignoras por ventura que a honra d'essa pobre menina que acolhemos eprotegemos está sendo conspurcada por tua causa ?
Como?! perguntou Álvaro com um espanto que mil pontos de ad-miraeão não poderiam exprimir.
Ainda não te disseram que infames calumniadores, ousam profanaro que ha de mais santo — a honra d'uma mulher, — attribuindo-se finsdeshonestos na protecçao e estima que dispensas á D. Julia?!
Oh! miseráveis! cobardes! bradou Álvaro erguendo-se enfurecido.É demais.
Sim, é demais, porém ainda não sabes tudo. Dizem também queaquelle desastre foi uma simples farça , em que figuraste como deus ex-machina para fazer d'essa moça o que é hoje —¦ tua amante.
Álvaro deixou-se cahir de novo na cadeira, murmurando :Meu Deus, meu Deus, que mal vos fiz eu para merecer assim
tamanhos golpes? Quando pranteio a morte de meu pae, atiram-me olabeo de seductor!
A morte de teu pae ! Deliras, Álvaro?O moço por única resposta apresentou ao seu interlocutor uma carta.
Era do theor seguinte :« Meu filho. —A dôr transtorna-me o juizo... não sei como descar-
regar-te tamanho golpe... Álvaro, estou viuva... Álvaro, estás sem pae.— Tua infeliz mãe. — Amélia. »Não deliro, não, Sr. Medeiros, disse então o moço com voz surda;
infelizmente é cruel realidade que me atormenta. Estou sem pae; semaquelle que me encaminhou na senda espinhosa da vida, não se conten-tando apenas com dar-me aexistencial Oh! mais alguns dias e todo PortoAlegre me veria abraçal-o e depôr-lhe nas mãos a carta de doutor. Ecom que prazer a recebera elle vendo a proficúidade dos seus esforços e-sacrifícios! Porque morrestes já, tão cedo, meu pae?Altos desígnios de Deus, meu filho, que ao homem não é dadoperscrutar. Demais, a morte é partilha da humanidade, e felizes os quedescem ao sepulchro sem attingidos serem pelas settas hervadas dacalumnia.
Ah! é verdade : isto consola algum tanto. A. que grau não che-gana a minha dôr, se ao sentimento de perdel-o tivesse de juntar aindaa idéa de sabel-o coberto de opprobrio ! Sr. Medeiros, siga-me porfavor. '
*
—•Onde vás, Álvaro?Vou ter com D. Julia; vou-lhe participar o que é ella aos olhos da
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 39maledicencia, vou mostrar-lhe que ainda há gente honrada no mundo...
Mas como?Dizendo-lhe: Digne-se de acceitar, Senhora, a minha mão, ajude-
me a demonstrar a desgraçados que eu a julgo na altura de ser minhaesposa.
Bravo! generoso mancebo, exclamou arrebatado o ancião*, abra-çando-o, bravo ! Cumpres o teu dever; mas o Ceo te dará a recompensa,porque és um homem honrado.
Dois mezes depois estavam os dois moços ligados pelo matrimônio.Tendo Álvaro herdado uma boa fortuna, na abastança e na felicidadegerada pelo mutuo amor passaram os seus dias. Em muitas circumstan-cias, Medeiros, que continuou a frequental-os assiduamente, recordandoo passado, lhe dizia :
Vejam, meus filhos, o que é proceder bem : se tivessem seguidooutro caminho, tu, Álvaro, não encontrarias a felicidade na familia e tuaesposa... o que seria d'ella? Razão, bem razão tinha o poeta :
Caminho da virtude, alto, escabroso,Mas no fim sempre alegre, deleitoso.
HEITOR DA SILVEIRA.
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TO BE OR NOT TO BE.
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ndré Soares contava vinte e sete annos, não era magronem gordo, alto nem baixo; na alma, como no corpo,conservava uma escassa e honrada mediania. Era umd'esses homens que não augmentam a humanidadequando nascem, nem a diminuem quando morrem.
Poupando ao leitor a narração dos acontecimentosprincipaes de vida de André Soares, limito-me a dizerque no dia 18 de Março de 1871, - justamente nodia em que rebentava em Paris a revolução da Com-
muna, — achava-se o nosso heroe no Rio de Janeiro na situação quepasso a descrever.
Gozava do um emprego que lhe dava cento e vinte mil reis por meze estava n'elle havia já cinco annos, tendo o natural desejo de subir aoutro que lhe desse pelo menos duzentos mil reis. Não recuaria se-lheofférecessem trezentos; com quatro centos, é de crer que não se zangasse,e atrevo-me a dizer que chamaria todas as bênçãos do céo sobre quemlhe desse quinhentos.
A verdade porem é que apenas tinha cento e vinte, e que apezar, de
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 41
não ter familia e morar n'uma hospedaria barata, clamava André Soarescontra o destino ou pedia a todos os santos do céo que lhe augmentas-sem o ordenado.
Dois mezes antes do dia em que esta narração começa, mettera AndréSoares alguns empenhos para obter um lugar que lhe dava justamenteduzentos mil reis, e donde poderia subir mais facilmente a maioresalturas.
André Soares tinha o sestro de acreditar que os seus sonhos eramrealidades, bem como o de ver catastrophes onde muita vez ha apenasligeiros infortúnios e ás vezes nem isso.
Apenas mettera empenho para o emprego entrou a fazer mil castellosno ar e a fantasiar cousas espantosas. Não lhe chegava de certo odinheiro ; os míseros duzentos mil reis, n'uma cidade em qüe tudo (diz oprincipe Alexis numa carta#que acabo de ler) é mais caro do que nosEstados-Unidos e na Havana. Mas, a um sonhador como André Soaresnada é obstáculo. Elle sonhava com passeios de carro, theatros, bonscharutos, luvas de pellica, alem das despezas usuaes, epara tanto não éde crer que dessem os duzentos mil reis. Sonhava, e bastava o sonhopara o fazer feliz.
Já d'aqui pode o leitor avaliar o pasmo e a dôr de André Soaresquando recebeu uma carta do personagem que lhe servira de empenho,carta de quc basta citar este ultimo trecho!
c( ..... Assim, pois, meu caro Sr. André Soares, sinto nâo ter podidoservil-o como desejava e devia. Tenha paciência e mais tarde... ».
Nem André Soares nem nenhuma outra pessoa leu nunca o resto dacarta, porque ao chegar á ultima palavra acima transcripta, o pretendenterasgou a epístola em mil pedaços, bateu com as mãos fechadas na testa,rasgou a camisa e atirou-se desesperado a uma cadeira.
•Não se sabe com certeza que tempo gastou André Soares na posiçãoem que o deixei no periodo anterior, o que se sabe é que, depois deestar calado e pasmado, monologou do seguinte modo :
— Haverá no mundo maior desgraça do que minha? Ha empregos
graúdos para tanta gente, só não ha para um misero que tem lutado coma sorte durante longos annos? Posso eu viver mais sobre a terra? Haesperanças de me levantar d'esta abjecção?
Calou-se dois minutos.m
~ Não, não ha, continuou elle. Estou decidido; acabemos de uma vezcom esta vida de tribulações; não quero arrastar tamanha miséria atéos 80 annos.
T. XIV. 2.
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^_s*s_.:.-.;. ...ss.. tt,
12 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
E dizendo isto, o nosso André Soares vestio camisa nova, metteu-sen'um paletó, poz o chapéo na cabeça e meditou no gênero de morte quedevia escolher.
Escolheu afogar-se.Tinha um cartão de barca na algibeira; dirigio-se para a ponte das
barcas de Nicterohy. Mais de um olhou para elle; ninguém podia teridéa de que alli estava um homem em véspera de morrer.
Aproximou-se a. barca, entraram os passageiros, e com elles AndréSoares, que foi sentar-se primeiro n'um dos bancos interiores, á esperaque a barca chegasse ao meio da bahia; então procuraria a popa ou aproa e atirar-se-hia ao mar.
A barça seguio caminho; os passageiros conhecidos conversavam, osdesconhecidos aborreciam-se, e n'este numero incluo André Soares(comprehende-se) e uma moça que lhe ficava a dois palmos de distanciano mesmo banco.
Não se podia ver se era bonita, porque trazia um espesso véo sobre orosto; mas o que se podia sentir era um olhar litteralmente de fogo. Maisde um passageiro voltava de quando em quando o rosto para a moça devéo, que alias olhava para o chão, para o mar, para o tecto e nunca paraninguém.
Trajava essa desconhecida um vestido de seda escura que lhe ficavamuito elegante no corpo. Tinha luvas de pellica de côr egual á do vestido,e da mesma côr calçava uma botina, aliás duas, que lhe ficavam amal ar.
Esta ultima descoberta não a fez nenhum passageiro, mas AndréSoares que estando com os olhos pregados no chão a rememorar os seusinfortúnios, deu com os olhos _i'um dos pés da velada desconhecida.
Estremeceu.André Soares resistia a tudo n'este mundo, a uns olhos brilhantes, a
um rosto adorável, a uma cintura de anel; não resistia a um pé ele-gante. Dizem até as chronicas que entre alguns versos queoutr'ora com-puzera como quasi todos os rapazes, o que não quer dizer que fosse poeta,figurava esta quadrinha conceituosa e denunciadora dos seus instinctosphilopedes (relevem-me o neologismo) :
Se queres clar-me esperança.Se queres que eu tenha fé,Mostra-me por caridade,O teu pequenino pé;
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JORNAL DAS FAMÍLIAS. 43
Com a desconhecida da barca nicterohyense não era preciso recitar
esta quadra supplicante; ella estendia o pé com ares de quem queria
que André Soares lh'o visse, e fàlío assim porque no fim de dez minutos,
deixou a moça de olhar para o tecto, para o mar, para o chão, e entrou
a olhar unicamente para elle.André Soares estava na ante sala da morte-, nem por isso deixou de
sustentar o olhar da moça, dividindo a sua attenção entre o seu rosto e
o seu pé. Reflectia elle que ir para a sepultura com uma doce recordação
da vida, não era absolutamente prejudicial á alma. Aquelles minutos em
que ainda respirava, aproveitava-os elle na contemplação da moça e tanto
os aproveitou que quando deu accordo de si chegara a barca a S. Do-
min gos.André Soares fez um gesto de despeito; mas não teve tempo de resol-
ver alguma cousa, porque * moça levantou-se para sahir lançando-lhe
um ultimo olhar, e elle machinalmente deixou-se ir atraz d'ella e sahio da
barca.Estava adiado o suicídio, ao menos por algumas horas, porque o nosso
André Soares quando reparou que ainda se não tinha matado, murmurou
estas palavras comsigo :— Na volta.E foi seguindo atraz da bella desconhecida. Bella é talvez pouco; An-'
dré Soares achou-a fascinadora, quando na ponte uma rajada de vento
levantou um pouco o veo da moça.Ao mesmo tempo, tendo deixado ir a moça adiante, André Soares
pôde apreciar os pesinhos e a graça com que ella os movia, - nem tao
apressada como as francezas, nem tão lenta como as nossas patrícias,
mas um meio termo que permittia ser acompanhada sem desconfiança
dos estranhos.No fim de duzentos passos, André Soares estava quasi namorado de
todo, sobretudo porque a desconhecida duas ou tres vezes voltara o
rosto e passara ao infeliz um novo cabo de reboque. Cabo de reboque e
uma metaphora que o leitor comprehendcrá bem e a leitora ainda me-
lhor. Em duas palavras, quando a desconhecida entrou em uma casa ,
André .Soares estava definitivamente.^ resolvido a tentar a aventura, e a
adiar, para tempos melhores, o suicídio.
44 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
II.
Logo n'esse dia, voltou o nosso heroe para casa tão contente .como sehouvera tirado a sorte grande. O mar contava um hospede menos; masa fortuna coroara mais um de seus escolhidos.
André estava fora de si; amava, não era mal recebido o seu amor,cujo objecto, de mais a mais, era um anjo, um nume, uma creaturamais do céo que da terra, como elle mesmo diria em verso, se ainda cul-tivasse a poesia.
Qs mesmos gestos complacentes que a moça fizera antes de entrar nacasa em S. Domingos, fizera-os depois de sahir, e na barca e na cidade,até chegar á rua dos Inválidos onde morava.
Nunca mais terrivel devia ser ao nosso André Soares a idéa dos centoe vinte mil reis mensaes, nem mais saudosa a idéa dos duzentos. A ver-dade porem é que não pensou em nada d'isso ; estava mordido deveras.A moça depois de entrar em casa não chegou á janella como elle espe-rava; mas em todo o caso dera-lhe todos signaes de que não era indiffe-rente a seus affectos, e esta certeza fez do desgraçado d'aquella manhã omais venturoso de todos os mortaes.
Ha de parecer singular a mais de uma leitora que, não lhe tendo ditoa desconhecida onde morava, André Soares adivinhasse que era justa-mente na casa da rua dos Inválidos onde a vira entrar.
; Mas a explicação é facilima.André Soares pertencia á classe ingênua dos namorados que fazem
indagações no armarinho da esquina ou na padaria ao pé. Depois deesperar um razoável tempo a ver se a bella dama apparecia á janellaAndré dirigio os passos a uma padaria que ficava perto, e fez as interro-gações precisas a um caixeiro que alli encontrou. Veio a saber que amoça era viuva, que se chamava Claudia, que vivia com um irmão empre-gado em Nicterohy onde tinha alguns parentes.
; André Soares arriscou algumas perguntas a respeito da interessanteviuva, e soube que era exemplar, noticia que o informado lhe deu commuitos commentarios a respeito das vantagens da virtude e o appendicede alguns casos de pessoas que elle conhecera e quedeshonráram as bar-bas dos seus avós :
Alem d'estas noticias soube ainda André Soares que a moça possuíacerca de vinte apólices e uma preta velha, que eram toda a riqueza dodefunto marido.
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 45
É um bom principio para quem casar com ella, accrescentou ocaixeiro com ar malicioso.
De certo, disse André Soares brincando com a corrente do relógioe fitando um olhar prescrutador no caixeiro, que brincava com a tampade uma barrica vasia.
Não ó muito, mas é um bom principio, repetio este.E haja algum farejador? arriscou o namorado.Nenhum.Admira!
Ha muita gente que passa e olha., mas ella não se importa comninguém.*—.
André Soares estava mais contente do que se lhe viessem trazer o decretoda nomeação malograda. Tinha a moça todas as condições que elle podiaexigir n'aquellas circumstancias. Sobretudo achava-se elle livre de con-currentes. Se fosse tres mezes antes
Tres mezes antes, disse o informante, andou aqui um moço quenão era mal acceito; mas desappareceu.
André Soares sahio d'alli contentissimo.Foi um anjo que o céo me enviou, pensava elle, para me salvar da
morte e ao mesmo tempo trazer-me a felicidade. E digam lá que não haProvidencia ou sorte, ou o quer que seja que vela pelos homens! A
pequena é uma formosura, e o pé é o mais gentil que até hoje tenho visto.
Que pé! Não é um pé, é um milagre. E os olhos? e o andar?Fez o namorado assim o inventario das bellezas da formosa Claudia, foi
jantar alegremente e logo de tarde deu o seu passeio pela rua doslnvali-dos, tão imbebido em olhar para a janella onde estava a moça que não
reparou no caixeiro da padaria que se arrimára á porta para assistir ao
romance.
in.
Era claro que a viuva Claudia gostava do rapaz; trocou com elle umlongo e expressivo olhar e dignou-se responder com um-sorriso que An-dré Soares lhe enviou. *
Quando elle de todo desappareceu , Claudia entrou para dentro e foitocar piano. Não escolheu um trecho alegre adequado á situação ¦ pre-ferio uma melodia triste que parecia dizer com a sua alma, ou ao menos
que ella queria que se parecesse com ella. O certo é que voltando d'ahi a
46 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
pouco André Soares e ouvindo-a tocar cousas tão melancólicas, sentioaccordar-lhe dentro d'alma um som poético da sua adolescência e logon'esta noite expeitorou uma elegia tão triste que não trazia um versocerto.
A primeira carta nâo se fez demorar, e a resposta foi immediatamèntèás mãos do namorado. Não era carta apaixonada a da moça, mas AndréSoares comprehendeu que ella usara de certa reserva que lhe parecianecessária. Replicou o pretendente, treplicou a dama, e os autos de cora-ção foram se avolumando progressivamente, até que André Soares en-tendeu que era conveniente freqüentar a casa e aproveitou uma apre-sen tação que lhe offerecêram.
A primeira vez que se falláram os dois foi visível para o Sr. JustinoMagalhães, irmão de Claudia, que elles se amavam.
Justino Magalhães tinha um programma na vida : agradar aos pre-' tendentes da irmã afim de poder continuar a viver economicamente, isto
é, a ter casa e mesa sem despender um real. Fiel a estas idéas, tratou decaptar a boa vontade de André Soares, que por sua parte atirou-se decorpo e alma aos braços do futuro cunhado.
Claudia era ainda mais bella de perto que de longe; o namorado veri-ficou logo essa differença quando começou a freqüentar a casa. A moçaera sobretudo de umameiguice incomparavel. André Soares ficava encan-tado quando fallavam algum tempo á sós, e ella podia expandir-se comelle,
Mas por que motivo me distinguiu logo n'aquelle dia na barca ?perguntava André uma noite á moça.
Ora, porque? Porque o céo nos destinava um para o outro.E se soubesse!...
• — 0 que?Não lhe digo.Receia?... 'Nada; tenho vergonha. N'aquelle fatal dia...Fatal... repetio a moça com um ar de doce resentimento.Perdão; fatal por outro motivo, que eu só mais tarde lhe explica-
rei... Sim, ha anjos que velam por nós.Ha! suspirou a moça.
A conversa foi interrompida por Justino que se aproximou para dizerque no dia seguinte havia um bonito espectaculo no theatro de S. Luiz.André Soares recebera justamente n'esse dia o ordenado; era oceasiaode fazer um convite.
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 47
Tenho justamente camarote para amanhã, disse elle; se quizeremdar-me a honra de acceitar...
Mas ia ella dizendo.Com^muito gosto, atalhou Justino.
O camarote foi acceito.Mas a curiosidade da moça trabalhava. Que mysterio seria esse de que
lhe fallára André Soares. Insistio com elle d'alli a algum tempo, e nodia seguinte, e alguns dias depois, até que o namorado francamente con-fessou que um motivo grave o levara a commetter um crime.
Um crime ?A minha própria morte.
A moça ficou seria.Alguma paixão, disse ella com tristeza.Oh! não!Não comprehendo...Que quer? disse elle. Nem só de pão vive o homem; achava-me
n'uma situação pecuniária desagradável e... mas para que falharemos de
cousas mesquinhas?...André Soares calou-se e entrou a reílectir; pareceu-lhe que fora expan-
sivo de mais e que acabava de dar á namorada a idéa de pinga. Igual-
mente lhe pareceu que um pinga só é poético nos livros, mas que na
vida real toda a gente o despreza. E reílectio emfim que apresentando-se
candidato á mão da viuva cumpria lhe mostrar que não ia só atraz das
suas apólices...0 resultado de todas estas reflexões produzio esta observação :
Felizmente lá vae esse tempo; foi uma crise que passou. Agora...
-Não desejo saber isso, disse a moça; porque não falharemos só do
nosso coração?É apenas um parenthesis necessário, disse André Soares, é me pre-
ciso explicar-lhe a razão porque ató hoje lhe não pedi officialmente a sua
mão.A moça fez um gesto.André continuou :
Não lhe pedi a sua mão porque espero obter um novo lugar queme colloque com situação melhor do que actualmente me acho. Não é
ella má! lembro-lhe porem que sou solteiro; casado, seria hisufficiente.
Peço-lhe desculpa de entrar n'estes promenores; é uma senhora de juízo;e ha de acceital-os como cabidos e necessários.
*8 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
i — Nem cabidos nem necessários, disse a moça; eu pouco tenho, mastenho alguma cousa...
Perdão...Ouça...Desejo observar...Ouça. O seu pouco com o meu pouco farão o necessário para a
nossa existência. Duas creaturas que se amam são naturalmente econo-micas das cousas da vida.
André Soares teve ímpeto de cahir aos pés da moça e ir d'alli comella para a egreja.
Conteve-se do primeiro movimento.O segundo era impossível.
O que me acaba de dizer é a expressão elevada e nobre de seu cora-ção, disse elle. Eu porem não tenho o direito de fallar a mesma lingua-gem; a sociedade exige mais de mim. Peço-lhe só alguns dias de espera.
André Soares pedira effectivamente um novo emprego, e d'esta vez, senão havia mais probabilidade que da outra, havia mais esperanças nofácil espirito do pretendente.
Justino soube pela irmã, das razões dadas por André Soares, e achouque eram de cavalleiro.
E um rapaz muito sympathico, disse Justino; é um homem comoha poucos.
Esta opinião de Justino não devia produzir impressão no animo deClaudia, porque elle não tinha outra a respeito de todos os pretendentesda irmã.
Todavia enthusiasmou-a.E a razão é clara.Claudia gostava realmente do rapaz; e o seu coração não se lembrava
ou não reparava na opinião uniforme de Justino a respeito de outraspessoas que a pretendessem mas a quem ella nunca dera attenção.
Justino, porem, insistio na opinião que formara de André Soares etão cavalleiro o achou que não teve duvida de lhe pedir vinte mil reis'nodia seguinte.
Não era a primeira vez que Justino recorria á bolsa de André Soarese porque isso, e outras necessidades que agora lhe accresciam, augmen-tavam as despézas de André Soares, ia este sendo obrigado á bolsa deoutros, e a crear assim uma divida externa assaz vasta.
E tão triste é esta situação que eu não tenho animo de continuar ocapitulo. Veremos no capitulo seguinte o que aconteceu ao nosso heroe.
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 49,
IV.
Vão passados cinco mezes depois da conversa em que André Soaresexpoz á sua amada qual era a situação da vida e quaes os seus pro-jectos.
Os dias foram passando sem vir o emprego; André Soares passava jáuma vida assaz triste e lastimosa. A moça pela sua parte, com quantodesejasse repelir-lhe o que uma vez lhe dissera, não se atrevia a fazel-oafim de conservar a reserva que a sua posição lhe impunha. .
. Redrobava entretanto de carinhos e affecto com o misero namorado,*
o que de algum modo lhe suavisava as penas do coração.Que anjo! dizia elle todas as noites ao retirar-se para casa. Que
anjo!Se o emprego não vinha, em compensação chegavam as dividas, e o
passivo de André Soares ia tomando um aspecto assustador.Ao mesmo tempo o amor do pobre rapaz, se era possível, crescia mais,
o que estava longe de ser um lenitivo n'aquella situação. A idéa de não
poder casar com a bella viuva ou de casar nas condições em que elle se
achava, atormentava o espirito do pobre moço.Imagine o que não soffreria o coração do pobre rapaz e calcule em que
circumstancias, e com que cara ouvio elle um dia, ao passar pela padariade que fallei no segundo capitulo, as seguintes palavras do caixeiro a
um vizinho:Este é uma das duas amarras da viuvinha.
André Soares ficou sem pinga de sangue. Naturalmente ia voltar o
rosto, mas a tempo deteve o movimento e continuou a andar até entrar
na casa da viuva Claudia.Parou entretanto no corredor antes de subir as escadas.E reflectio :
Que será aquillo? llludir-me ha esta mulher? Serei eu a fábula da
rua? Terei eu um rival mais venturoso?Estas e outras interrogações fel-as o nosso heroe com o desespero na
alma e no rosto.Sentio depois uma dôr aguda no peito e teve uma vertigem.
O desgraçado padecia deveras, amava deveras.Emfim subio.Claudia recebeu-o «om o modo do costume, o qual modo havia já
%
I
50 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
vinte dias que não era o mesmo modo anterior. O misero namoradoentretanto não dera por isso ató então.
Naquelle dia, porem, como já tinha a pulga atraz da orelha, notouuma grande differença, irritou-se com ella, disse algumas palavras seccasá moça e sahio. Calcula-se facilmente qual seria a noite do pobre rapaz.No dia seguinte enviou uma lacrimosa epistola á sua dama, dizendo-lhe :
« Claudia :« Uma terrível revelação me foi feita hontem. Ainda assim quero crer
em ti. Preciso porem que me jures se realmente me ames ou se eu já nãomereço da tua parte o affecto com que me honraste outrora.»
Dois dias esperou a resposta d'esta carta. No terceiro appareceu-lhe encasa Justino. Vinha alegre. Trocaram algumas palavras banaes e emfim :
Sei que você escreveu uma carta a minha mana, disse o irmão daviuva.
É verdade.Claudia río-se quando a leu.Rio-se?
É verdade : rio-se. E não devia fazer outra cousa... Dê cá um cha-ruto... Nâo devia fazer outra cousa, porque no ponto em que se acham ascousas entre ambos, exigir agora uma explicação d'aquella ordem... ésingular.
Justino concluia estas palavras e recebia das mãos de André Soares ocharuto que pedira.
André Soares não cabia em si de contente.Então, ella?Você ó um visionário, um crédulo, um rapazota sem juizo. Pois
então uma senhora em vésperas de casar com você... Que bom charuto !Leve mais estes.Obrigado. Como ia dizendo, uma senhora em vésperas de casar
por sua livre vontade, ha de lá... Você é um doudo !...André Soares concordou facilmente com tudo o que lhe dizia Justino
e prometteu que n'essa mesma noite lá iria á casa d'elles. Recusou entre-tanto dizer donde lhe viera a revelação a que alludíra na carta.
Justino conversou largo tempo com o futuro cunhado de quem se des-pedio para ir embora.
Já!Já. Vou pagar uma divida. Vejamos se me chega o dinheiro.
E metteu a mão no bolso do paletó com a confiança de um homemque traz a carteira. Errada confiança porque a carteira ficara em casa.
JORNAL DAS FAMÍLIAS. H' — Não seja essa duvida, disse André Soares; eu empresto-lhe o que
fôr preciso, se não orçar por muito!Trinta e cinco mil e quinhentos, disse Justino.Tome lá, acudio iVndré Soares entregando-lhe trinta e dois mil
reis. Nao tenho mais.Não faz mal. Para tapar a boca ao credor, cuido que é bastante.
Justino sahio alegremente depois de muitas amabilidades ao futurocunhado que não menos alegre ficou.
A scena que precede deve ter explicação.Claudia não mostrou a carta de André Soares ao irmão. Vio-a este
sobre uma mesa, perguntou á viuva o que era, e esta disse então um
tanto zangada, que eram ciúmes do noivo.Posso ler?Lê.
Leu a carta Justino e offereceu-se para ir entender-se com André Soa-
res, cousa que a viuva nem approvou nem reprovou; limitou-se a encolher
os hombros.André não era homem que descobrisse na missão dè Justino a necessi-
dade de trinta e cinco mil reis, e a divida, que podia existir mas que,em todo o caso, não ia ser paga, pareceu-lhe tão authentica, que iria pediremprestado se não tivesse dinheiro para favorecer o amigo.
Ao chegar á casa da noiva ia André Soares todo tremulo de commoção.
A moça, entretanto, pareceu-lhe ainda mais fria que da ultima vez. Attri-
buio isso ao resentimento que lhe deixara a carta.Mas então não perdoa? perguntou elle.O que?A carta?
Claudia levantou os hombros.Foi uma imprudência, confesso, disse elle; mas que quer? Eu
amo-a.Nada.Aproveito a occasião para lhe dizer que d'aqui a um mez será o
nosso casamento, disse André Soares, se acaso a elle se não oppõe.
Claudia ficou um pouco sorprehendida com a noticia, continuou entre-
tanto a ficar callada.André Soares sahio vendendo azeite ás canadas.
Ha alguma cousa, por força, pensava elle, mas eu hei de descobrir
tudo!{Continuar-se-ha.) »ACHAD0
m ASS1S*
A LOUCA.
O seguinte conto que se vai ler não é ficção minha.A heroina é uma mulatinha que sabe dizer, em um repente, quadras
muita vez felizes.Tenho-lhe perguntado a causa da sua loucura, e a resposta que sempre
obtive é esta : « Elle foi e não vem mais! » e depois desfolha uma gar-galhada nervosa.
Com muito custo pude averiguar a sua triste historia.Ahi vai, pois, ella.
i.
Em 184..., não havia mulatinha mais dengosae não menos espirituosana cidade do *** do que Anna das Dores; ninguém como ella sabia ves-tir-se oom tanta graça mostrando as bellas formas do seu delicado corpo !
Os rapazes endoideciam por sua causa (isto é hyperbole), e faziamesforços para ver si ella entregava-se aos seus braços; mas a raparigaamava e pregava em alto gráo a virtude, e deixava, portanto, de dar ouvi-dos á tentadora seducção, que vinha coberta com o manto de oiro.
II.
Entre esses rapazes libidinosos, houve um que amou a mulatinha comverdadeira paixão : chamava-se Nicanor, era filho de um dos principaesfazendeiros do lugar, tinha vinte e dois annos; bastante sympathico eardente como o sol do seu paiz. ¦Nicanor, ao principio, fez corte á rapariga, para ver se ella deixava-se
JORNAL DAS PAMi.
cahir nos laços da seducção; não pôde. E a respv,
era uma solemne gargalhada, mesmo nas bochech,
O rapaz lutou muito; mas foi vencido, afinal, pela iv
Amou com frenezi de um louco!
A imagem da travessa mulatinha não sahio-lhe do pensameixo..ver se podia vencer esse amor que tomava-o de um modo tao brusco;
era tarde.O °enio de Nicanor mudou-se completamente, tanto para a rapariga,
como para os rapazes seus amigos : para estes, não era mais aquelle
peralta terrivel, que desprezava a honra da donzella com o maior cynismo
do mundo! E para a mulatinha, era agora respeitoso em excesso, e
não deixava que, em sua presença,os seus companheiros faltassem o res-
peito á cila.Oue mudança faz o amor no caracter de um homem!...
III.
Anna das Dores começou a observar os modos do rapaz a seu respeito,
e notou que elle soffria muito por sua causa.
Da commiseração ao amor ha um pequeno espaço.
Anna das Dores sem o sentir, transpoz elle.
O amor em certas naturezas, quando irrompe, torna-se como um
immenso rio que se acha represado algum tempo, e, por isso, adquire
bastante força para lançar mui longe essas compressas do seu curso e
soltar-se com terrivel fúria em procura do seu alvo, arrastando tudo
quanto encontre em seu caminhar horrível, sem se importar com os des-
troços que deixa apoz de si !O amor da rapariga foi assim, e nem podia ser por menor desde que
lhe corria nas veias sangue africano em fusão com o sangue americano .
As declarações foram feitas com as expansões e confianças de dois co-
rações que possuíam em alto gráo esse sagrado e verdadeiro sentimento
abençoado por Christo-Amor! t .Pobres creanças! estavam com os pés no pórtico do sacratissimo tem-
pio d'esse-amor ideal, e não viam lá mais adiante o terrive1 positivismo
e o tolo prejuízo d'isso que o vulgo chama - opinião publica - essa
mentecapta com foros de sabichona, que mais condemna do que absolve
sem saber porque !Foi longe o sorvo d'esse amor!. .
¦V
AL das famílias.
js que Anna das Dores deixasse de fazer por1 soube pagar com usura, porque o seu amor era
. duas edades \ e, portanto, sempre juvenil.
IV.
O pae de Nicanor veio a saber (porque intrigantes nunca faltam) dosamores do filho, e as tenções que elle tinha de casar-se com a sympathicamulatinha; ficou assaltado de uma tremenda raiva, ordenou ao filho
que deixasse esse indigno amor, que só servia para envergonhar as suascans e o seu sangue, puro de mancha africana : que lembrasse ser essarapariga uma — mulata!
O mancebo fez pouco caso dos preconceitos do pae.Este repetio o sermão mais duas ou tres vezes, ameaçando-o, no final,
de mandar como recruta para S. Paulo.O filho não se incommodou com as bravatas do velho; e, ao contrario,
sua paixão pela rapariga recrudesceu!...
V. *
Em uma noite, estava Nicanor em casa de sua amante, planejandoum meio de se poderem unir pelos laços do matrimônio, sem que seu paefosse sabedor senão depois de realisado esse sagrado enlace; com grandeopposição da rapariga, que não desejava que por esse motivo o pai deNicanor não só o amaldiçoasse, como cumprisse as suas terríveis ameaçascontra elle : pedia á seu amante, que, presentemente, tirasse esse casa-mento da idéa, até que um dia pudesse ser realisado. O rapaz não accei-tava objecções de qualidade alguma; queria esse consórcio, apezar daira que o velho ficaria assim que soubesse estar elle consummado.
Seria dez horas mais ou menos, quando bateram á porta.Nicanor ao abril-a, foi bruscamente atirado ao chão e immediatnmente
manietado; o mesmo fizeram á pobre Anna das Dores, que se achavadesmaiada . . «-»
vi.Nicanor foi como recruta para S. Paulo , com ordem terminante d
se quizesse evadir no trajecto, matassem-o sem contemplação 1..;Ordem de um pae malvado....
e .
He
JORNAL DAS FAMÍLIAS. «j *jO O
Passados dias, essa víbora recebia a noticia que seu filho tinha sidomorto pelos soldados da escolta, visto ter querido evadir-se.
Ahi tendes o resultado da falta de instrueçao n'um homem que querem,ou não mandões!... Estão promptos até em sacrificarem ávida de seus
próprios filhos, quando estes lhes desobedecem!...Cegueira do espirito, que faz degradar o homem em um estado de com-
pleta abjecção!!...
CONCLUSÃO.
Anna das Dores depois de ter desapparecido n'essa infeliz noite, sóreap-
pareceu passado um anno, e tão desfigurada, que jamais se diria que fosseessa sympathica mulatinha d'outro tempo! e no estado de loucura, queeu a conheço, não cessando, porém, de caminhar, caminhar e caminharsempre (como a Judia errante !) em procura do que?
De certo que do amante?...Desgraçada!...0 que teria-lhe feito esse malvado pae assassino?Mysterio!...
ERNESTO CASTRO.
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VARIEDADES.
PENSAMENTOS SOBKE A BELLEZA.
A belleza é uma flor, cujo perfume é a bondade (Duelos).
A verdadeira belleza é sempre casta e inspira um respeito involuntário(George Sand).
Perguntaram um dia a Aristóteles, de que provinha a impressão que abelleza faz sobre os sentidos. - Esta pergunta é digna de um cego,disse o philosopho.
Ê pelo espirito principalmente, que as mulheres são bellas (Duelos).Uma mulher bonita, agrada os olhos, unia virtuosa agrada o coração,üsta e um thesouro, aquella é uma jóia (N. Bonaparte).
A belleza sem o pudor é uma flor arrancada da haste (Boiste).Uma grande belleza causa mais admiração do que amor. Uma mulher
graciosa, causa mais impressão, e fere mais profundamente (Bayle).As mulheres celebres pela belleza teem sempre a loucura de tomar afnvola curiosidade do publico por consideração (Duelos).
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JORNAL DAS FAMÍLIAS 37
A belleza sem o espirito, tem uma triste conseqüência, as paixões queella inspira são de curta duração (De Bernis).
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A belleza sem pudor, é uma rosa sem perfume (Beauchêne).
Quando a virtude e a modéstia, reunem-se á belleza de uma mulher,seus encantos são irresistíveis; seu sorriso é mais delicioso do que um
jardim de rosas; a pureza e a innocencia brilham em seus olhos; a can-dura e a verdade residem em seu coração (Gregory).
A belleza e a fealdade, dependem do capricho , e da imaginação doshomens (Nicole).
ERNKST1NA F. VARELU.
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MOSAICO.
LEMBRANÇAS HISTÓRICAS.
O primeiro governador da capitania de S. Paulo foi Antonio de Albu-querque Coelho de Carvalho, e o primeiro presidente da mesma provincia,o visconde de Congonhas.
A colônia, hoje cidade de Petropolis, foi fundada em 1845 pelos cida-dãos Aureliano de Souza Oliveira Coutinho, depois visconde de Sepetiba,Paulo Barbosa da Silva e major Júlio Frederico Koeler.
Em 11 de Agosto d« 1862 lançou-se a pedra fundamental do temploevangélico na rua Joinville em Petropolis; com a pedra depositáram-setres números do Mercantil, por ser o primeiro periódico que se publicoun'esse lugar, e também uma planta topographica de Petropolis, assignadapelo fallecido major Júlio Frederico Koeler.
O primeiro navio encouraçado que teve o Brazil, foi o vapor Brazilque, construído nos portos de França, foi conduzido ao porto do Rio deJaneiro pelo capitão tenente Henrique Antonio Baptista, a quem o go-verno condecorou, em 11 de Setembro de 1865 , com a commenda daordem da Rosa, dando o gráo de cavalleiro aos dois pilotos francezes
JORNAL .DAS FAMÍLIAS. ^
Louis Amand e Auguste Guiz, que acompanharam dito official n'aquelle
navio, em attenção ás difficuldades e obstáculos que tiveram de superar
na viagem.
Em 27 de Dezembro de 1868 um violento incêndio devorou em pouco
tempo dois armazéns da alfândega do Rio de Janeiro , e a maior parte
das mercadorias alli existentes.0 fogo manifestou-se das 6 para ás 7 horas da manhã no armazem
n° .0, cheio de fazendas francezas, e passou d'este para o n° 14, arreca-
dação de diversos generos.Compareceram no lugar do sinistro, alem de muitos cidadãos nacionaes
e estrangeiros, o Imperador, os ministros da fazenda, guerra e do impe-
rio, o ajudante general, diversos officiaes do exercito e armada, e quasi
todas as autoridades policiaes.
Falleceu em 8 de Março de 1869, na Tijuca, o almirante visconde de
Inhaúma, que desembarcara ha poucos dias muito doente, tendo por isto
pedido exoneração do commando em chefe da esquadra brazileira em
operação contra o governo do Paraguay.' Se foi respeitado pelas balas inimigas, não deixou o illustre marinheiro
de ser uma das victimas d'essa gloriosa companha, onde, apezar de en-
lermo conservou-se até levar seus navios victoriosos á Assumpçao ; e
depois de não ter mais navios inimigos que combater, nem fortalezas que
transpor, nem baterias que destruir, estando gravemente doente , reco-
lheu-se á pátria para morrer. 'Na guerra conquistara os postos de vice-almirante e de almirante, os
títulos de barão, de visconde e a grã cruz da ordem da Rosa; e se em
quanto viveu, foi do Brazil um dos mais distinctos homens do mar, pere-
cendo, deixou seu nome gravado entre os dos mais proeminentes vultos
da historia do paiz.])or MOREIRA DE AZEVEDO.
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Vfvwãxn&d-ér ' 1 * (> • *ftfM*'*^V Vn. ~-^fiÊ$«SgjJf^V
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POESIAS.
FÁBULAS DE FL0RIAN.
0 PAPAGAIO.
Um gordo papagaio, escapo da gaiola,N'um bosque resolveu fixar sua morada;E lá, tomando o tom dos sabichões vulgares,Criticava sem dó toda a familia alada.
Do rouxinol no canto achava.notas lentas,E a cadência má; no seu alto conceitoSeria a toutinegra audível si por mestre0 tivesse tomado e com real proveito.
Não sabia cantar também o pintarroxo ;Nenhum pássaro em summa : e quando elles cantavam,Respondendo aos seus sons com fortes assobios,Não os deixava em paz emquanto não calavam.'
Fatigados emfim de tantos viluperios,Vão-lhe dizer um dia os pássaros reunidos :« Fazei-vos admirar, vós que assobiaes sempre;« Deveis ter bella voz; sejamos instruídos. »
JORNAL DAS FAMÍLIAS. . 61
Mostra-se o papagaio assaz embaraçado;Coca um pouco a cabeça e sente um calafrio ;Mas coagido a fallar, envergonhado exclama :<( Senhores, eu não canto, apenas assobio. »
*
A CASQUILHA E A ABELHA.
Cloé, joven e formosa,E casquilha sobretudo,Desde manhã trabalhava,Já se sabe — ao touçador;E sorrindo-se a miúdo,Requebrando-se gárbosa,Ao seu caro confidenteOs sentimentos fiavaE os projectos, sem temor.Eis que súbito apparece,Zumbindo, abelha imprudente :
« Soecorro! soecorro! grita;« Martha e Luiza, aceudi-me;« Enxotai-o, — o monstro alado. »
0 monstrosinho insolenteDe Cloé nos lábios toca.
A pobre moça esmorece :
Martha, a quem furor agita,
A abelha tendo agarrado,
Dispõe-se a punir-lhe o crime.
« Ahi perdoai-me o engano.
(( Diz o insecto com doçura;
« De Cloé a linda bocea
(( Me pareceu uma rosa
« E commetti a loucura... »
Cloé recupera o sensoE diz : « Pela confissão« Que fez, e o pouco damno,
« Conccdamo-lhe o perdão. »
— Oh! muito pôde o incenso !J. LUZ.
MODAS. ¦s {
DESCRIPÇÃO DO FIGURINO DE MODAS..
Primeiro vestuário. — Vestido àe faille còv de castanha : Polaca de broche-veludo; ella é aberta adiante, curta atraz e com pregas; saia guarnecidacom folhos e macheados; laços de veludo côr de castanha sobre a frente dadita saia.
Chapéo de feltro cinzento-escuro enfeitado com veludo e piuma de abes-truz.
Segundo vestuário. — Trajo para moça, toilette Ac faille azul claro; saiainteiramente guarnecida com pregas. Avental de cassa branca também compregas; algibeira de faille azul presa á cintura por uma fita : lenço de pes-coco (fichu) de cassa enfeitado de renda branca.
TRABALHOS.
EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE BORDADOS E TRABALHOS.
Nò í.— Desenho para alva, toalha de altar, véo de poltrona, etc. Estebonito desenho é feito inteiramente em ponto de festão; depois de acabado,recorta-se a fazenda debaixo das barrinhas. Querendo empregal-o para alvaou toalha de. altar, repetir-se ha o mesmo desenho á direita e á esquerda.Sendo para véo de poltrona, o desenho executa -se uma vez só. Poderia-se tam-bem fazer d'elleuma almofada para canapé, n'esse caso poderia-se bordarsobre tafetá de côr ou sobre fazenda de ouro ou praia e armal-o depois so-bre um transparente de sedado côr. lista obra depois dc acabada é de muitobom gosto.
JORNAL DAS FAMÍLIAS. 63
N° 2. — Cercadura para cortinas pequenas, saia, vestido para criança, etc.Este trabalho pode executar-se sobre fazenda de linho crua, cassa e até sobretafetá para confection. A obra toda é em ponto de festão ou cordãozinho;depois de acabado, recorta-se a fazenda nas partes sem pontos do dese-nho.
jj° 3, — Trajo para a estação mais fria : elle é de panno leve côr de castanhaepopeline escosseza.
N° 4. — Confection de panno-veludo preto guarnecida com guipure e laçosde fita. A saia é de faille azul ferrete.
flo gÉ _ Capa de vigonha cinzenta bordada. A guarnição é de rendas.No 6. _ Paletó de panno cinzento, guarnecido com largos galões e franja.]sjo 7, _ Cercadura para cortinas pequenas. A obra toda é em ponto de fes-
tão; depois recorta-se a fazenda nas partes sem pontos do desenho.N° 8. — Canto para lenço, festão e cordãozinho.
EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE MOLDES.
VERSO DA PRECEDENTE ESTAMPA DE BORDADOS.
Molde d'um paletó para a estação mais fria.
No { —Frente, o molde é dobrado em dois lugares nas linhas com pontos.N° 2. — Costas.N° 3. — Pequeno lado. *N° 4. — Manga que se corta em dois pedaços; a parte inferior é marcada.N° o. — Canhão de manga. Colloca-se no lugar indicado no molde.N° 6. — Desenho do paletó acabado, visto na frente.N° 7. — Desenho do paletó visto, pelas costas. 0 desenho sobre a manga é
repetido na frente do paletó no mesmo lugar aonde elle se acha na estampa.Ouerendo ter um desenho mais rico, será preciso repetil-o duas vezes. Onosso modelo era de panno cinzento bordado com galão grosso de Ia preta.Pode este paletó ser de qualquer fazenda e bordado com galão irmanado ou
preto.
EXPLICAÇÃO DA ESTAMPA DE TAPEÇARIA COLORIDA.
Os trabalhos d'esta estampa são irmanados com as tiras da gravura quedemos no n° 1 do corrente anno.
Ver as explicações dadas no sobredito numero.
DUAS GRAVURAS SOBRE MADEIRA.
Demos até agora âs nossas assignantes, gravuras sobre madeira represen-
tando os quadros dos grandes pintores : para variar vamos no Poente anno
offerecer- hes gravuras de scenas de imaginação ou de iamiha. Principiamos
com duas estampas cujos assumptos são os seguintes: Na primeira uma
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*
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64 JORNAL DAS FAMÍLIAS.
moça encontra-se com um pobre velho enfraquecido pela fome e o cansaço,e lhe offerece alguns alimentos.
Na segunda outra menina mais.moça e um galante menino servem deapoio ao pobre velho que com elles vai gozando das bellezas do campo edo calor do sol.
Paris. — Typographia deG. ChameroLrua üos SaMos-l>adnjs,l9.
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