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HISTÓRIA ATRAVÉS DA ARTE: O SIMBOLISMO E
ESPECIFICIDADES DAS MÁSCARAS AFRICANAS1
Fátima Rosa de Oliveira Soares2
RESUMO: Este artigo visa relatar uma experiência docente de pesquisa e
intervenção pedagógica em sala de aula, desenvolvida para o PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional) no ano de 2012 e implementada no ano de 2013,no
8º Ano “A” (período matutino) da Escola Estadual Presidente Arthur da Costa e Silva
localizado na cidade de Floresta – PR (NRE - Maringá). O tema em debate foi “O
Simbolismo eas Especificidades das Máscaras Africanas”, que teria como principal
objetivo abranger os estudos e despertar interesses pelaCultura Africana no
ambiente escolar. Partindo de uma análise realizada a respeito das sociedades
africanas, suas especificidades, simbologias e tradições. Além disso, o projeto de
intervenção estaria atendendo o que propõe a lei nº 10639 de 09 de Janeiro de
2003.Propõe-se a abordar novas perspectivas a serem utilizadas pelo professor no
ensino da História Africana e Afro-brasileira e, como é o caso, a interdisciplinaridade
possível que o tema disponibiliza.
PALAVRAS-CHAVE:Arte; Máscara; África; Afro-brasileira.
1Trabalho orientado por José Henrique Rollo Gonçalves, professor do Departamento de História da
Universidade Estadual de Maringá. 2 Graduada em História e Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Mandaguari
(FAFIMAN). Possui especialização em Psicopedagogia pela UNOPAR. Atualmente é professora da rede estadual de educação no município de Floresta no Ensino Fundamental (6º Ano à 9º Ano).
HISTÓRIA ATRAVÉS DA ARTE: O SIMBOLISMO E
ESPECIFICIDADES DAS MÁSCARAS AFRICANAS
INTRODUÇÃO
Ao observar o ensino de História, percebemos a dificuldade que os alunos
apresentam na aprendizagem desta área do conhecimento. Ainda mais agravante é
trabalhar a cultura africana, pouco tratada em alguns livros didáticos e nos
conteúdos programados da disciplina. O que buscamos, éa abertura de
possibilidades de se trabalhar essa temática em sala de aula, buscando dessa
forma, alternativaspara novas abordagens, que visam despertar o interesse dos
alunos pela contribuição dos africanos na sociedade brasileira, propondo estimular
um ensino que possa despertar o interesse e curiosidade para o referido tema.
No decorrer da História, o Continente Africano é apresentado com uma
imagem estereotipada,que geralmente aparece relacionado com a miséria, povos
desorganizados e em conflitos, camuflando a tecnologia e intelectualidade dos
povos africanos, acirrando ainda mais o preconceito em relação a essa cultura.
Conforme a Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana,devemos abordar
temas que mostrem a contribuição africana e sua cultura. Através dessa e de outras
obras que abordam o tema, percebemos a necessidade de construir práticas
pedagógicas positivas e que sejam baseadas nas Diretrizes Curriculares, a
educação étnico-racial. Com a aprovação da Lei 10639, de 9 de Janeiro de 2003, a
Escola passou a discutir juntamente com os envolvidos na educação, o referido
tema.A tarefa hoje, é realizar uma abordagem histórica no sentido de estudar e
valorizar as contribuições africanas, destacando sua cultura, pois foi através delas,
que vieram seus conhecimentos.
Sendo assim, é fundamental considerarmos que as manifestações da
diversidade étnica, cultura, social e econômica são presentes na sociedade e
transplantadas nas escolas de todo o país. Pensar os escravizados e os afro-
brasileiros,é refletir a atuação de artistas, músicos, dançarinos que nos trouxeram
ritmos e movimentos, que contribuíram para dar a “nova terra”cores e sons, modos
de relações sociais e formas de celebrar e de se lidar com os antepassados.
REFERENCIAL TEORICO
Ao utilizar os estudos acercadas máscaras africanas,devemos relacionar o
desenvolvimento de apreciação que ocorre principalmente, no início do século XX,
da escultura africana, até então classificada pelos ocidentais, como arte de um povo
sem cultura ou precário. A partir daí,o artista africano passa a adquirir características
que para os europeus, tornam sua arte peculiar. No entanto, não há dúvidas que a
arte africana é para o seus conterrâneos,um meio de expressar sentimento e idéias
de um grupo ou sociedade.A forma mais conhecida da arte africana são as
máscaras, que possuem um grande valor não só religioso,que para os “não
africanos”, é difícil conceber uma visão clara em relação ao simbolismo que ela
apresenta.
A autora Iracy Carice estudando as diversas manifestações africanas de arte,
considera que a máscara é parte integrante da História do povo africano. Segundo
ela “na África a máscara é a essência da religião e da vida de todas as
comunidades, tendo especial significado social, étnico e religioso”.Sendo assim
propomos estudar o referido tema com a intenção de conhecer parte da cultura
africana pesquisando sua produção artística e simbologia.O uso das máscaras
sempre esteve presente na civilização e em cada lugarexerce um papel diferente
com formas e significados específicos. O autor Luis Mello3 expõe que é essencial
considerarmos que os estudos acerca da arte e sua ação no espírito e na sociedade
“veio mostrar avalidade do ponto de vista relativista - cada povo com sua arte (cada
povo comseu uso, cada roxa com seu furo)”. Transpondo esses conceitos para
nossa analise, podemos considerar que a máscara, suas formas e desenhos,
desenvolvem um papel em cada grupo social estando envolvido com a parte mística,
política e hierárquica. Entre os povos que possuem tradições ritualísticas, o uso da
máscaratem uma espécie de função mágica, tendo como maior objetivo a
proteção,livrando-os de doenças e fortalecendo-os na guerra. Ela é umacessório
utilizado para cobrir o rosto e com propósitos diversos como: lúdico,religioso,
artístico ou de natureza prática (máscara de proteção).A palavra tem,
3MELLO, Luis. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis-RJ: Vozes, 1987.
provavelmente, origem no latim macus ou máscara “fantasma” ou no árabe maskarh”
palhaço” homem disfarçado. Esse costumetambém fez parte da cultura do povo pré-
histórico, alguns acreditavam que elaspodiam protegê-los e captar forças vitais de
outro ser, tornando presente no corpo de quem a usa.
Encontramos provas dessas forças até mesmo no períodopaleolítico da Pré-
história, como assinalou o pensador americanoJoseph Campbell nos seus
comentários a respeito das famosaspinturas descobertas em cavernas na
França. Em Lascaux,escreve ele, ‘há o desenho de um xamã deitado, em
transe, comuma máscara de pássaro, e tendo ao lado a silhueta de
umpássaro empoleirado num bastão. Os xamãs da Sibéria usam atéhoje
essas indumentárias de pássaros e acredita-se que muitosforam
concebidos da união de uma mulher com um pássaro’’’. (HENDERSON,
1964, p. 198)
Dessa maneira, percebe-se que o uso de artigos simbólicos e nesse casoo
uso das máscaras, tem perpassado diversas culturas em diversos tempos. Ouseja,
verificamos a utilização desse recurso desde tempos remotos até os dias atuais,
entretanto, tendo suas próprias caracterizações e propósitos particulares.
A PRESENÇA DA MÁSCARA NO DECORRER DA HISTÓRIA
Segundo SANTANA (2012)4, no mundo ocidental os antigos gregos foram
pioneiros no uso das máscaras. Assim como o pesquisador cita, elas foram
incorporadas nas festas dionisíacas, perpetradas pela utilização de alucinógenos
como o vinho homenageavam a Dionísio e pelos rituais de fertilidade.
Expondo também acerca da máscara no mundo grego, OLIVEIRA (2012)5
considera que na Grécia antiga as máscaras tinham o mesmo valor de um rosto
verdadeiro, toprosopon que significa “aquele diante de meus olhos”, eraa palavra
usada para designar tanto o rosto quanto a máscara. Além disso, entre os povos
romanos era utilizada na apresentação dos teatros, ondeusavam máscaras com
dupla face, dependendo da expressão que pretendiamcausar ao público era trocada
4SANTANA, L. História das Máscaras. Disponível em: WWW.infoescola.com/artes/historia-das-
mascaras. Acesso em: 15/04/2012
5OLIVEIRA, R. Entre o Rosto e a Máscara. Corpo e sociedade. Disponível em:
http://corpoesociedade.blogspot.com/2010/09/entre-o-rosto-e-mascara.html acesso em: 28/03/2012.
de lado no decorrer do espetáculo. No período da Idade Média, as máscarastambém
marcavam presençanas festas profanas. No período do renascimento, eram
utilizadas para nivelar os convidados presentes e nos teatros populares fazendo
parte do traje.
Enfim, é necessário considerar que determinadas culturas serão marcadas
por objetos ou por costumes e tradições. Joseph Henderson pensando o simbolismo
cultural, dialoga e pensa que “quanto mais detalhadamente se estuda a história do
simbolismo e do seupapel na vida das diferentes culturas, mais nos damos conta de
que há tambémnum sentido de recriação nesses símbolos”.
PRESENÇA DA MÁSCARA NA AMÉRICA
No Continente American,as máscaras também estiveram presentes entre os
primeiros habitantes. Segundo a estudiosa Iracy Carise, os índios brasileiros
também faziam uso de máscaras, que em sua grande maioria, simbolizavam
animais, pássaros e insetos. Em alguns grupos sociais primitivos, eram usadas pelo
pajé, em cerimônias de cura ou pelos xamãs6, com o objetivo de expulsar entidades
negativas e em rituais de passagens.As máscaras também fizeram parte na
religiosidade e poder entre os Olmecas. A principal divindade adorada por esses
primeiros americanos, era um poderoso espíritoda floresta, o Jaguar-homem, ao
qual se atribuía a capacidade de mudar deforma de jaguar para homem e vice-
versa. Essa divindade era representada emmáscaras utilizadas pelos sacerdotes
durante os cultos religiosos. Os Olmecasacreditavam que todo ser humano tinha um
“duplo animal”. O duplo dossacerdotes eram também chefes políticos. Além desses,
as antigas tribos dos Navajos, dos Hopi e dos esquimós, onde é aAmérica do
Norte,faziam casas, canoas, bonecos e máscaras, ambos entalhadosem madeiras.
O desenho interessante e original dessas máscaras influenciou eainda influência
artistas em todo mundo.Analisando o uso das máscaras, concluímos que ela está
impregnada designificados em cada cultura. O envolvimento do homem comesse
tipo de ornamento simbólico é evidente em quase todas as partes domundo.
6 Pensando nas concepções de xamã expostas por Mircea Eliade em “o Xamanismo e as técnicas
arcaicas do êxtase”. Segundo o autor, “o xamanismo Stricto Sensu é, por excelência, um fenômeno religioso. (...) O xamã é sempre uma figura dominante, pois, onde a experiência extática é considerada a experiência religiosa por excelência, é o xamã, o grande mestre do êxtase”. Seria para ele algo que primitivamente era ligado ao domínio do fogo e fugindo de significações que estão ligadas simplesmente a feiticeiros e magos.
Segundo ARAUJO (2012)7, atualmente a máscara ainda é
acessórioimportante em nossa sociedade, sendo utilizada em festas folclóricas,
rituaissagrados em outras situações que expressam tradição cultural. Os
homensamericanos primitivos passam a utilizar esse tipo de adorno, a partir da
evoluçãode suas roupas e fantasias, salientando o desenvolvimento desse tipo de
adereço
Com o passar dos tempos, a roupa ou a fantasia completa deanimal foi
sendo substituída, em muitos lugares, por máscaras de animais. Os homens
primitivos empregavam toda a suahabilidadeartística em tais máscaras e
algumas delas têm uma força e umaintensidade de expressão insuperáveis.
Em termo psicológico, amáscara transforma o seu portador em uma imagem
arquetípica. (JAFFÉ, 1964, p.317)
UM OLHAR SOBRE A CULTURA AFRICANA
Conforme as“Diretrizes Curriculares para a Educação das Relações Étnico-
Raciais e para oEnsino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”, devemos
abordar temasque mostrem as características das sociedades africanas, e também
no caso da hibridização brasileira, a contribuição africana na sociedade brasileira.A
cultura milenar africana é, em boa parte, ligada a ideia de tradição oral, mas é
extremamente importante considerar que existem também vestígiosrepresentados
nas artes, sendo a escultura uma de suas manifestações. Muitas vezes, grupos
sociais africanos usavam máscaras em cerimônias de rito de passagem entre vida e
morte, que poderiam simbolizar uma transformaçãomística de quem as vestia,
incorporando as divindades representavam. Geralmente tem um papel sagrado na
sua figuração, ligadas a rituais religiosos, de guerra, defertilidade da terra e até
mesmo de entretenimento, elas são criadas com o intuito deserem vistas em
movimento.
Dentre os vários rituais em que são usadas as máscaras africanas, está o
realizado na Sociedade Gueledé. Esta era composta e presidida apenas por
mulheresacima dos quarenta anos. Os rituais dessa sociedade acontecem na região
7ARAÚJO, Lindomar da S. Máscaras. Info Escola Navegando e Aprendendo. Disponível em:
http://www.infoescola.com/máscara/. Acesso em 28/03/2012.
queatualmente se encontra a Nigéria, que é uma região Yorubá.As máscaras usadas
(na sociedade Gueledé) são produzidas de madeira e tratam de diferentes temas
relacionados com a tradiçãoe a vida dos Yorubás.
Algumas delas lembram aslendas da criação do mundo representando
animais mitológicos. Outras, ainda, mostram cenas de nascimento, cenas
demercado, festas religiosas, sexualidade, maternidade e tambémassuntos
atuais, como temas político, ecumênicos e econômicosdo momento. (LODY,
2010, p.27)
Carise (1998), afirma que as máscaras Gueledés dos Yorubas geralmente
tem feição humana, usada sobre a cabeça, não só no rosto e apresentam
aspectosda vida cotidiana da aldeia. São usadas somente pela sociedade secreta
Gueledé, nas festas anuais para pedir fertilidade. Para os africanos é importante ter
“quatroolhos”, é sinal de capacidade de captar os reinos, visível e invisível. Na
concepção Yoruba, todas as pessoas adultas devem ter controle, uma cabeça
interior quecontrola tudo e a exterior que é a personalidade social, deve ter equilíbrio
paralidar com as circunstâncias.
Enfim,com relação ao uso da máscara na cultura africana, ela apresenta
variados sentidos, sendo difícil entender taisdiversidades em torno um só objeto de
arte.O objetivo do uso desse acessório não é a possibilidade de participar
damultiplicidade da vida universal, mas sim, do temor que ela incute comodepósito
das metamorfoses do individuo: a auto sugestão incomparável do homem que a usa
e a virtude secreta que a máscara guarda. Muitas vezes, o senso comum sobre as
máscaras africanas, é de ideias preconceituosas e de julgamento prévios. Para os
africanos, ela não é um acessório de teatro, nem um objeto de arte decorativa e
menos ainda, um acessório de feitiçaria, assim como é em outras sociedades. Mas
é, sobretudo, um ser sagrado que se utilizado, pode ser suporte material do homem.
“Ela não representa um ser: ela é um ser”, assim explicita Carise.
Atualmente elas marcam presença em festas tradicionais, como festa
dasbruxas, carnaval, casamento, algumas práticas profissionais e em
certosesportes. Percebemos a influência africana em todas essas manifestações.
Hoje,no Continente Africano, existem grupos que trabalham pela preservação dessa
tradição milenar. O uso das máscaras ainda continua sendo fundamental
naidentidade de vários grupos étnicos africanos.
FUNÇÕES DAS MÁSCARAS NAS SOCIEDADES SECRETAS
As sociedades secretas8 são grupos fechados que tem seus
costumesespecíficos. Geralmente o objetivo é ensinar aos jovens as regras da
sociedade eprestar homenagem, através de rituais, aos seus mortos. Durante esse
momento,o indivíduo com máscara, que é denominado o mascarado, é responsável
pelarepresentação. O jovem é educado para a vida na referida sociedade, na qual
omesmo aprende a respeitar as leis, os costumes, passar por provas de resistência
físicas. É um momento muito especial, considerado rito de passagem,em que
acontece a esperada cerimônia de iniciação dos jovens que participam deum
nascimento simbólico, como se o mesmo tivesse sido devorado e
renascido,retornando para a infância e posteriormente para a fase de
adolescência.Para as sociedades secretas, os ritos de passagem acontecem
quando oindivíduo se move de uma fase para outra de sua vida, a fase da
adolescênciapara a vida adulta é considerada a mais importante, pois a pessoa se
torna sócioresponsável pela sociedade da qual participa.Nessa sociedade, as
mulheres eram respeitadas e ao mesmo tempo temidas por ter o poder de ser mãe.
O índice de mortalidade sendo muito elevadofazia com que as mães férteis fossem
protegidas. Mary Del Priore realizandoestudos sobre a África e seu aspecto
ancestral, observa as anotações feitas porum dos primeiros viajantes estrangeiros
ao chegar em Benin: “A mulher fértil émuito considerada, a estéril desprezada”
(PRIORE, 2004). Na sociedade Yorubá, o trabalho de vender mercadorias é
realizado pela mulher, também desenvolvetrabalhos artesanais, enfim, é a
responsável pela economia familiar e pelocomércio. Percebe-se claramente o
aspecto matriarcal da sociedade Yorubá e a valorização e supremacia, no que diz
respeito principalmente à fertilidade do sexofeminino.A mulher é, então, muito
importante para os Yorubá, pois, além de garantir o sustento da família, tem o poder de ser
mãe. É a mãeque ensina aos filhos as suas tradições e a sua cultura por meiodas lendas de
outras tradições orais (LODY, 2010, p. 26).
Acreditando que a mulher, com sua força feminina, poderia contribuir parao bem de
todos, eles faziam homenagens às forças femininas, com rituaiscompostos de
músicas, danças e utilizações de máscaras.
8 Partindo do aporte metodológico de “Sociedade Secreta” explicitado por Iracy Carise
Nossa proposta é estimular um estudo da cultura africana que possa
despertar o interesse dos alunos, que ataria sua curiosidade pelo enfoque em
aspectos mais próximos de seu universo, no caso a máscara, partindo da
atualidade, ou seja, como são utilizadas nos dias de hoje e como são divulgadas e
dialogando como asmáscaras africanas. Certamente, nossa proposta além de
proporcionar um diálogo cultural, cria panoramas, mesmo que não sendo o principal
objetivo, com princípios da política, economia e religiosidade africana, dobrando
assim, as possibilidades de implementação.
IMPLEMENTAÇÃODA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NA ESCOLA
A implementação da proposta de intervenção ocorreu na Escola Estadual
Presidente Arthur da Costa e Silva Ensino Fundamental, sendo concretizada na sala
do 8º ano “A” do período matutino. A proposta foi apresentada para
professores,direção e equipe na semana pedagógica, por solicitação da Secretaria
de Estado da Educação.Também foi apresentada aos alunos do 8ºAno “A” em duas
aulas no inicio do ano letivo.
A primeira atividade desenvolvida para darmos inicio à implementação, foi a
aplicação de um questionário para uma sondagem prévia do conhecimento dos
alunos, referente ao tema de estudos. É importante fazer uma sondagem para
constatar o conhecimento e visão que os alunos apresentam em relação ao
Continente Africano.Esses conhecimentos serviram de alicerce,abrindo condições
de provocar nos alunos, um processo de envolvimento para aquisição do
aprendizado significativo.
O trabalho inicial do educador é tornar o objeto em questão,objeto de
conhecimento para aquele sujeito ,isto é para o aluno.Para que isso
ocorre,o educando deve ser desafiado mobilizado,sensibilizado,deve
perceber alguma relação entre o conteúdo e a sua vida cotidiana,suas
necessidades problemas e interesses .Torna-se necessário criar um clima
de predisposição favorável a aprendizagem. (GASPARIN apud
VASCONCELLOS, pp. 42, 1993).
Através do questionamento foi possível traçar a seguinte visão dos alunos
referente ao Continente Africano. A maioria dos alunos quando questionados,“o que
pensa referente à África”, relatou “a fome” e “miséria”, não apresentou
nenhumconhecimento quanto à arte africana.Relatou que “gostariam de saber como
os africanos sobrevivem à seca, pobreza e miséria”, 60% gostariam de mais
informações referentes a tais temas.
Como percebemos a maioria dos alunos demonstraram uma visão única,
ressaltando a fome, miséria e pobreza.Foram questionados: “O que você gostaria de
saber referente a África?” Assim foi a resposta dos 26 alunos que participaram do
questionamento.
Respostas apresentadas Alunos%
Como vivem na seca e pobreza 53%
Tudo 7%
Língua 6%
Surgimento 5%
Seus animais 7%
Seus mitos 15%
Nada 7%
Fonte: Questionário realizado com os alunos em fevereiro/2013
Diante deste contexto de pouco conhecimento, entende-se que há
necessidade de nova postura, de novas metodologias, novas abordagens, onde
alunos e professores passam a ser o sujeito de seu próprio processo, buscando uma
nova concepção de fazer história que torna o ato de ensinar e aprender mais
interessante e criativo.
Os alunos foram organizados em equipes e junto à professora de Geografia,
pesquisaram quanto à economia do Continente Africano, com o objetivo de perceber
que a África não se resume apenas em miséria e pobreza. Foi realizado um trabalho
interdisciplinar, tornando-seinteressantepara os alunos. De acordo com as DCE,
A interdisciplinaridade é uma questão epistemológica e está na abordagem
teórica e conceitual dada ao conteúdo em estudo, concretizando-se na
articulação das disciplinas cujos conceitos, teorias e práticas enriquecem a
compreensão desse conteúdo. Desse modo, explicita-se que as disciplinas,
chamam umas às outras e, em conjunto, amplia a abordagem dos conteúdos
de modo que se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática
pedagógica que leve em conta as dimensões científica,filosófica e artística do
conhecimento (DCE, 2008, p, 27).
Dando sequência ao trabalho, propusemos uma atividade com imagens para
uma reflexão, a representação da realidade está presente tanto em texto quanto nos
recursos visuais e partindo do que propõe SIMAN (2004):
Para que o ensino de História seja levado a bom termo, ao longo de
todo Ensino Fundamental, torna-se necessário que o professor inclua,
como parte constitutiva do processo ensino, aprendizagem, a
presença de outros mediadores culturais, como os objetos da cultura,
material, visual ou simbólica, tornado possível”imaginar” reconstruir o
não vivido diretamente, por meio de variadas fontes
documentais.(p.88)
Sendo assim,sugerimos uma pesquisa em jornais, revistas e na própria
internet para selecionar imagens referentes ao continente africano.O resultado foi
apresentado em sala de aula e logo em seguida, confeccionado painéis que foram
expostos no pátio escolar. Também visando a eficácia da implementação, a
disciplina de Geografia desenvolveu uma atividade no sentido deorientar os alunos,
os passos necessários para a leitura de um mapa. E a partir dos conceitos
trabalhados,foi produzida uma leitura de mapas, que delimitava a rota do tráfico de
escravos africanos para a América, pois acreditamos que facilitaria a compreensão
do aluno, sobre a vinda desses africanos para o Brasil.Como o mapa representa um
espaço geográfico, é essencial para o aluno se situar no espaço o qual está
estudando.
Em sequencia,propusemos aos alunos uma leitura da obra “As Gueledés: a
festa das máscaras”, do antropólogo e museólogo Raul Lody, na qual relata a
importância das mulheres e dos seus poderes na sociedade Yoruba, em que o autor
ainda salienta, o uso da máscara nessa sociedade.A intenção foi, portanto, a
percepção da valorização da mulher, ligando essas nos ritos e no uso das máscaras
nessa sociedade.Após leitura e debate referente à obra,os alunos produziram textos
e ilustrações conforme o conhecimento adquirido.Trabalhamos algumas aulas
expositivas e textos referentesa arte africana.
Neste sentido, o principal intuito foi buscar uma maior abrangência sobre as
principais características dos povos a serem estudados e sobre tudo,quanto ao uso
da máscara na cultura africana. Foramsolicitados na pesquisa os seguintes tópicos:
as funções e uso da máscara entres os africanos, Egito Antigo, índios da América do
Norte, .Ásia,esquimós do Alaska,gregos,venezianos e na atualidade. E partindo da
pesquisa produzidacriou-se uma discussão,tendo como foco analisar a utilização da
máscara nas diversas culturas,para que assim, osdiscentes percebam as diferenças
culturais, respeitando as especificidades de cada uma dessas.
Através de pesquisa orientada,os alunos confeccionaram um “bingo didático”,
com informações referentesàs máscaras, que a partir de então, era do conhecimento
dos mesmos. Aatividade despertou ainda mais a motivação dos alunos, no sentido
de conhecer mais e melhor, em relação ao objeto estudado.A atividade foi realizada
com grande sucesso epercebeu-se que ocorreu ótimo aprendizado, pois além da
pesquisa, os alunos elaboraram as questões nas cartelas, necessitando de leituras e
entendimentos do assunto.O jogo também é uma proposta de conhecer o aluno com
quem se convive, suas dificuldades e destrezas, não só cognitivas, mas também
sociais e emocionais, além de proporcionar uma aprendizagem lúdica, prazerosa e
informal.
Finalizando a parte de pesquisa, os alunos foram sendo preparados para a
confecção das máscaras, receberam orientação da professora de Arte e deram
ínicio em casa,com a ajuda dos pais.Oprocesso de exercício de produção exigiu
muito tempo, principalmente para secagem. Dando continuidade através dessa
atividade,as pesquisas e estudos de observações das máscaras que foram
confeccionadas, analisamos as seguintes: Máscara Gueledés, sociedade Yorubá da
Nigéria e Costa do Marfim, usada para o culto aos antepassados e
fertilidade;Máscara de dança da sociedade Ekpo, da região oriental da Nigéria,
usada para celebrar a ajuda mútua entre os membros da sociedade;Máscara da
sociedade secreta Ló da Costa do Marfim, que lembra o conceito de fertilidade
masculina e feminina, com dois dos rostos sobrepostos;Máscara Yaure da Costa do
Marfim, usadas nos ritos da puberdade;Máscara Muanam Puo do povo quioco,
nordeste da Angola, simboliza a beleza feminina usada na dança da fertilidade.Foi
uma fase de grandeenvolvimento, momento bastante esperado, onde ocorreu as
confecções das máscaras, já estudadas. As oficinas foram realizadas em
contraturno com grupos de alunos.Após estudos realizados e as máscaras
confeccionadas ecatalogadas,chegou o momento da apresentação do resultado. Na
escola realizamos uma apresentaçãocom a participação dos alunos intitulado o
“Baile das Máscaras”, e em seguida aconteceu a exposição dos demais trabalhos.
Foto: Produção das Máscaras pelos alunos - Acervo: Profª Fátima Rosa de Oliveira (PDE-2012)
Vale ressaltar que a avaliação foi contínua,teve inicio com o levantamento de
ideias prévias dos alunos referentes ao tema de estudo, culminando com o ponto
principal, que foi a exposição dos resultados à comunidade escolar.
Foto: Exposição de Máscaras - Acervo: Profª Fátima Rosa de Oliveira (PDE-2012)
TRABALHO REALIZADO DURANTE O GTR
Paralelo à implementação da Proposta Pedagógica na Escola, foram
socializadas as atividades on-line com os professores da rede pública GTR(Grupo
de Trabalho em Rede).O GTR teve inicio no dia 19/03/2.013, com 15 participantes
de variados NREs, sendo a maioria, do núcleo de Curitiba.No primeiro momento
após a apresentação, houve a socialização do Projeto de Intervenção
Pedagógica,tendo como objetivo a troca de idéias e dos fundamentos teóricos
relacionados à Temática proposta.Foram várias as considerações dadas,sendo
impossível relatar todas.A professora (S.T.F) diz que entende que o conhecimento é
que faz com que haja respeito e admiração por outras culturas. Entretanto, a
participante salienta que devemos conhecer e estudar a África,como um continente
único que abriga uma diversidade enorme de culturas. E conclui entendendo que
estudar a África e sua contribuição humana, econômica, política e social na
construção de outras sociedades,é fazer com que as diferenças sejam minimizadas,
se ainda não puderem serem excluídas.
Ao refletir sobre a relevância da Produção Didático-Pedagógicos para a
realidade da escola pública, foram várias as discussões. Destacamos a participação
de (C.R.N) “Seu projeto de intervenção segue uma linha de raciocínio e apresenta
embasamento teórico. O tema proposto é importante, já que as máscaras estão
carregadas de princípio religioso e social”. (W.F.S) faz a seguinte consideração:
“Gostei muito da produção didático-pedagógica. O questionário investigador auxilia
num diagnóstico mais preciso sobre o que os alunos sabem sobre o tema. Já as
imagens ajudam o aluno a perceber as formas de vida dos africanos em seu
continente. Os mapas, além de situar o aluno geograficamente no que diz respeito
ao tema, possibilita o desenvolvimento de uma habilidade que permite ao mesmo
situar-se em seu próprio mundo. A montagem de painel, as pesquisas, leituras e a
confecção das máscaras, também são recursos importantes na construção do
conhecimento.”
Todas as participações dos cursistas foram de grande valia para enriquecer a
implicação da proposta, foram várias as sugestões apontadas.Todos participaram e
interagiram de forma positiva, o grupo trouxe novas alternativas, alavancou
problemas significantes,referentes ao tema de estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aplicação do projeto “História Através da Arte:Simbolismo e Especificidades
das Máscaras Africanas”,exigida como tarefa integrante da conclusão do
PDE, possibilitou-nos novas ferramentas pedagógicas, que possibilitaram a
valorização da cultura africana, uma vez que esse povo tem grande contribuição na
formação da cultura brasileira. A partir das atividades desenvolvidas, constatou-se
um despertar nos alunos pelo tema de estudos, bem como o envolvimento de outras
disciplinas.
Todo povo representa sua cultura através de significados próprios, que são
exteriorizados através da arte, música, comida, dentre outros.
A análise desses significados redimensiona a imagem que temos de um povo,
pois cria um relativismo cultural que inevitavelmente nos levará a respeitar outras
culturas.
O trabalho interdisciplinar com as disciplinas de Arte, Geografia e História, foi
um exercício de solidariedade e aprofundamento de conhecimento.As atividades em
equipe, a apresentação e confecções das máscaras, foram momentos de superação
da timidez e as amizades conquistadas durante todo o processo de desenvolvimento
do projeto, foram destacadas pelos alunos, como os pontos fundamentaisdo
processo. Foi gratificante vê-los envolvidos, confiantes, solidários, controlando a
situação, respondendo e apresentando as atividades propostas, despertando em
toda a escola,o interesse pelo tema de estudos.
Com o resultado deste trabalho percebemos algumas pistas de como
podemos facilitar a aprendizagem aos nossos alunos, usando outras ferramentas,
além dos textos e aulas expositivas, tornando a aprendizagem mais significativa e as
aulas de História mais prazerosas.
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