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SINOPSE CURTANuma comunidade esquecida de uma zona pantanosa separada do resto do mundo por um extenso dique, a pequena Hushpuppy, de seis anos, está entregue à sua própria sorte.

Quando a tempestade do século faz subir as águas em torno da aldeia, Hushpuppy terá de lutar para salvar o pai enfermo e a sua casa inundada.

SINOPSENuma comunidade esquecida mas desafiante de uma zona pantanosa separada do mundo por um extenso dique, a pequena Hushpuppy, de seis anos, vive em risco de ficar órfã. Com a mãe há muito desaparecida e o seu querido pai, Wink, descontrolado e sempre na farra, Hushpuppy está entregue à sua própria sorte numa zona isolada cheia de animais semi-selvagens. Para ela o mundo natural é uma frágil rede de coisas que vivem, respiram, pulsam e de cujo funcionamento perfeito depende todo o universo. Por isso, quando a tempestade do século faz subir as águas em torno da aldeia, o pai fica doente subitamente e ferozes criaturas pré-históricas acordam dos seus túmulos gelados para investir através do planeta, Hushpuppy vê entrar em colapso à sua volta a ordem natural de tudo o que lhe é querido. Desesperada para reparar a estrutura do seu mundo de modo a salvar o seu pai enfermo e a sua casa inundada, a pequena heroína tem de aprender a sobreviver a uma irreversível catástrofe de proporções épicas.

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SINOPSE LONGANuma comunidade esquecida mas desafiante de uma zona pantanosa separada do mundo por um extenso dique, a pequena Hushpuppy, de seis anos, vive em risco de ficar órfã. A mãe desapareceu há muito e o seu querido pai, Wink, é um descontrolado que passa a vida na farra. Quando o pai está em casa, vive debaixo de outro telhado: ele numa barraca bolorenta e ela numa roulotte colocada sobre dois bidões de óleo. A maior parte das vezes, Hushpuppy fica entregue à sua própria sorte numa zona isolada cheia de animais semi-selvagens. Para ela, o mundo natural é uma frágil rede de coisas que vivem, respiram, pulsam e de cujo funcionamento perfeito depende todo o universo.

A vida na Banheira é marcada pela resiliência e pelas festas. Mas na escola primária (barco), a prática professora de Hushpuppy, a Senhora Bathsheba, explica aos seus alunos – todos pertencentes a famílias de baixa condição – a selecção natural, o aquecimento global e as grandes mudanças ecológicas que deixaram a pequena aldeia à beira da extinção. Aprendam a viver uns com os outros e adaptem-se, ensina-lhes: “O melhor é que vocês todos aprendam agora a sobreviver …”

A realidade abate-se sobre o pequeno mundo de Hushpuppy quando o pai é atingido por uma doença misteriosa e a natureza entra numa espiral sem controlo. Forma-se uma tempestade gigantesca, a calote polar derrete e o pai entra em convulsões aos seus pés depois de um mero soco. Hushpuppy convence-se que a ciência que ataca o seu meio ambiente e as entranhas do seu pai estão inextricavelmente ligadas. É o fim dos tempos no seu delicado habitat.

Do outro lado do mundo, há um resultado imprevisto destas súbitas mudanças globais: bestas pré-históricas ferozes libertam-se com o degelo e caminham sobre terra firme depois de séculos imobilizadas…

À medida que a água sobe na pequena aldeia de pescadores de camarão do pântano, todas as pessoas práticas fogem para os terrenos mais altos mas Wink e a sua brigada de amigos bêbados insistem em ficar. Wink e Hushpuppy são obrigados a refugiar-se na frágil barraca de Wink para enfrentar a tempestade, com este a desafiar as forças da natureza disparando uma caçadeira para o ar. Quando chega a manhã, os dois são confrontados com uma Banheira devastada, vazia e quase totalmente submersa.

Wink e Hushpuppy vão recolhendo os outros que ficaram e, como é habitual, recebem a sua sorte com festejos em vez de remorsos, organizando uma festa com todo o camarão, caranguejo e cerveja que resta. A Senhora Bathsheba estraga o humor geral ao lembrar Wink que o excesso de água salgada na Banheira terá matado toda a flora e fauna que são o seu sustento; e eles podem estar a consumir o último que o pântano e as suas águas têm para dar. Wink bebe um golo de cerveja desprezando os seus comentários. “Tenho tudo controlado.” Mas a sua tentativa de ensinar Hushpuppy a sobreviver sozinha neste ambiente em mudança é insuficiente; uma lição sobre como pescar à mão deixa-a em sofrimento.

Na manhã seguinte, Hushpuppy é acordada por Wink e companhia a esgueirarem-se sorrateiramente com um enorme peixe-agulha cheio de explosivos – o louco plano é rebentar o dique que mantém toda a água no pântano e assim drenar os seus campos. A Senhora Bathsheba, a única que percebe a razão pela qual se trata de uma péssima ideia, consegue travar Wink mas não Hushpuppy de levar a cabo o plano kamikaze. O resultado é desastroso: a Banheira drenada é uma terra lamacenta e ressequida – os campos habitualmente cheios de plantas e animais estão agora mortos. Embora Wink se recuse a aceitá-lo, Hushpuppy percebe que a essência do mundo se revelou à sua volta – a colheita permanente das terras húmidas acabou.

As bestas temíveis lançam agora a sua sombra no horizonte e abrem caminho pelos continentes – rangendo os dentes, rosnando, os cornos afiados vislumbrando-se à medida que avançam para sul…

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Pouco tempo depois, o governo lembrou-se subitamente da sua existência e a Banheira foi alvo de uma ordem de evacuação obrigatória. Homens com altifalantes e acentos estranhos levaram Hushpuppy, Wink e os outros residentes da Banheira. São transportados para um hospital de campanha para refugiados estéril e obscuro, onde todos parecem tão desolados como “peixes num aquário sem água”, de acordo com Hushpuppy. Ao cuidado do Estado, ela é imediatamente vestida com roupas “aceitáveis” – tal como as outras crianças indisciplinadas da Banheira – que a fazem sentir desconfortável. Perante o diagnóstico dos médicos, Wink tenta entregar Hushpuppy que recusa furiosamente. Wink vê-se obrigado a dizer-lhe a verdade: ele está a morrer. Hushpuppy finalmente percebe que o seu pai não é o super-homem maníaco que ela pensava. Fora do seu ambiente natural, começa a tossir sangue e pede aos seus amigos que o levem para o único lugar a que chama seu.

Incapaz de olhar para Wink no seu leito de morte, Hushpuppy foge pela água em direcção a uma luz ao longe que acredita ser a sua mãe. Um misterioso barqueiro recolhe-a da água e leva-a para a sua boîte preferida, a Barraca Flutuante dos Bagres Campos Elísios “GIRLS, GIRLS, GIRLS”. Hushpuppy vagueia por este paraíso etéreo quando da cozinha sai uma mulher que olha para ela com uns olhos que se parecem com os seus. “Deixa-me mostrar-te um truque de magia”, diz a uma Hushpuppy estupefacta. Revolvendo umas fantásticas papas (grits) com jacaré e repartindo conselhos pragmáticos, ela dá a Hushpuppy um pouco do amor que esta procurou toda a sua vida. Mas enquanto dançam as duas, Huspuppy percebe que deve regressar para junto do pai e para a Banheira antes que seja demasiado tarde para os dois.

As criaturas aparecem subitamente no cume ressequido junto ao pântano drenado com a sua atenção focada numa menina pequena. Carregam na sua direcção quando subitamente esta dá a volta para os encarar com uns olhos tão destemidos como os deles. Partilham um momento de compreensão primordial e as bestas ajoelham-se perante ela que continua o seu caminho…

Regressada à Banheira, Hushpuppy partilha uma última refeição de jacaré frito com Wink na sua arruinada barraca. Tendo-se reconciliado com o pai e aceitado o caminho escolhido pela natureza, regressa para juntos dos seus amigos e família, guerreira endurecida, e todos marcham em direcção ao Selvagem Sul com os pés a chapinhar na água.

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DECLARAÇÃO ARTÍSTICAA capacidade de alguém para fazer donuts ou de rir alto são razões tão boas para fazer deles operadores de dolly como a sua capacidade para empurrar a dolly. Quero encher a minha vida de filmes com pessoas indómitas, corajosas e de bom coração. Não importa a quantidade de caos e de desastre que isso provoca porque estás a fazê-lo com as pessoas de que gostas e, no fim, os filmes acabarão por sair indómitos, corajosos e com bom coração; e isso para mim é mais importante que movimentos suaves de dolly.

Este conceito estendeu-se a todas as partes do processo de feitura de “Bestas do Sul Selvagem”. A minha forma de fazer filmes passa por criar uma energia, um sentimento e uma forma de vida que as pessoas que fazem filmes comigo podem viver. Trata-se de inventar uma realidade e povoá-la com as melhores pessoas que conheço.

A coroa de glória foi o processo de casting – quando escolhemos Dwight Henry na padaria do outro lado da rua e Quvenzhané Wallis na Escola Primária Honduras para interpretarem o papel dos nossos heróis, Wink e Hushpuppy. Nenhum deles tinha qualquer experiência anterior de actor mas quando lhes olhas nos olhos percebes neles guerreiros destemidos e sabes que podem fazer qualquer coisa. Mesmo que com isso tenhas de reescrever o argumento e mudar toda a abordagem; não importa, porque esses elementos são superficiais face a captar exactamente o espírito destemido que o filme precisava de expressar. Esse princípio aplicou-se a todas as decisões. Vamos criar um cenário interior com água? Ou vamos para o mar? Preparamos um local de filmagens acessível para parecer uma ilha no fim do mundo ou vamos para o fim do mundo? Vestimos uma miúda de 11 anos para parecer que tem seis anos? Ou escolhemos uma de seis anos? Testamos a força da história e da família que a faz com cada um dos elementos que a poderia pôr em causa.

Atraiu-me o sul do Louisiana porque essa mentalidade está por todos os lados. Fui lá há seis anos para uma visita de dois meses e de lá não saí. É a terra das pessoas mais tenazes da América – uma espécie em vias de extinção. E foi essa ferocidade que me conduziu a esta história. Com os furacões, os derrames de petróleo, a deterioração da terra debaixo dos nossos pés, há uma sensação de inevitabilidade de que um dia tudo será varrido do mapa. Queria fazer um filme que explorasse a forma de responder a essa sentença de morte. Não através da crítica aos políticos que a provocaram, ou apelando à responsabilidade ambiental, ou sensibilizando para o sofrimento, nada disso. Para mim, a verdadeira questão é como arranjar força para ficar e ver morrer a terra que nos fez, mantendo a esperança e a alegria e o espírito festivo que a define? Encontrei as respostas nas pessoas ferozes que escolhi para o elenco e encontrei uma enunciação da história na peça de teatro da minha querida amiga Lucy Alibar “Juicy and Delicious” – uma comédia apocalíptica sobre um rapazinho que perde o pai no fim do mundo. De nós os dois, com o espírito de Quvenzhané Wallis, saiu Hushpuppy. Ela é uma pequena besta, um pequeno animal, que, para sobreviver, tem de encontrar, aos seis anos, a força do sul do Louisiana. Coloquei nela todo o meu saber e coragem. Ela é a pessoa que quero ser.

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NOTAS SOBRE A PRODUÇÃOANTECEDENTESEsta produção não encontrou obstáculos; encontrou impossibilidades. Tal como as pessoas da Banheira, e as comunidades reais que inspiraram este filme, acabou por perseverar contra todas as possibilidades – natureza, governo e falta de recursos. As personagens de BESTAS DO SUL SELVAGEM e as pessoas por trás da sua criação não encaram os desafios como obstruções; o desafio é a premissa. Fazer, realizar, viver – apesar de tudo.

Feita com uma enorme mistura de artistas, animadores, comentadores, editores, músicos e contadores de histórias, a Court 13 faz filmes sobre comunidades improváveis, como uma comunidade improvável. E que melhor lugar para isso que New Orleans e os seus omnipresentes pântanos, uma região que foi forjando ao longo dos séculos a cultura e a tradição de viver num ambiente francamente improvável? Em que outro lugar se faz uma festa para celebrar uma tempestade? Onde há um desfile exuberante sempre que morre alguém? Onde música intemporal nos faz bater o pé num chão que se afunda? Desde que construíram um barco com peças encontradas no lixo e navegaram com ele no lago Pontchartrain para a curta-metragem “Glory at Sea”, a Court 13 tem colaborado com as pessoas e os lugares do sul do Louisiana para criar grandes histórias a partir de peças pequenas, histórias que transcendem a realidade mas são feitas com pessoas reais que vivem em circunstâncias irreais.

No entanto, o empreendimento de fazer BESTAS DO SUL SELVAGEM não foi uma missão solitária mas uma parceria completa entre a energia desafiante da Court 13 e a visão determinada da Cinereach. Depois de conhecer o cineasta, a seguir a “Glory at Sea”, a Cinereach fez tudo para assegurar que as fantasias criativas do projecto seguinte de Benh Zeitlin se tornavam realidade. De acordo com a sua missão de apoiar “histórias imprescindíveis, contadas com engenho”, a Cinereach colocou o cineasta em primeiro plano, partilhando a filosofia da Court 13 de encarar os desafios cinematográficos como oportunidades ao invés de obstáculos. Nada fizeram para impedir que Zeitlin e a sua brigada pusesse em prática aquilo que pareciam pregar na sua curta-metragem épica dois anos antes. E a presidir como sacerdote desta união esteve Paul Mezey, da Journeyman Pictures, abençoando regularmente a produção com a sabedoria e orientação ao estilo Jedi.

Tal como o sul do Louisiana, que mais do que um lugar é um modo de vida, também a Court 13 e a Cinereach são mais do que uma abordagem “diferente” à produção de filmes independentes. Com BESTAS DO SUL SELVAGEM, estas ideias nebulosas foram, finalmente, colocadas em prática em grande escala. É a primeira longa-metragem da Court 13.

ORIGENSAmigos desde a adolescência, Benh Zeitlin sempre pensou em adaptar uma das peças de Lucy Alibar numa curta-metragem. Alibar escreveu peças que funcionam como deliciosas preparações de comida, magia e amor ao estilo sulista. Depois de ver uma encenação de “Juicy and Delicious” em 2008, Zeitlin decidiu que a perspectiva e o espírito do mundo criado por Alibar, já para não falar dos méritos particulares da história, mereciam a sua transformação numa longa-metragem de ficção – que seria a sua primeira. Alibar criou personagens dotadas de um tipo de doçura específico e sujeitas a um tipo de amor tão duro que poderia ser considerado crueldade se não estivéssemos a rir tanto. Esta dissonância nos relacionamentos entre as personagens é algo que Alibar e Zeitlin mantiveram na transição para o guião cinematográfico. No entanto, enquanto ver a encenação da peça de Alibar é testemunhar algo mágico e surreal onde as regras não se aplicam, Zeitlin abordou a história e a maneira de a contar partindo do realismo. O mesmo realismo que moldava a sua curta de 2008,

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“Glory at Sea” – mas, tal como era inegavelmente fantástico aquilo que essas personagens genuínas encontravam a bordo da sua jangada de lixo pouco flutuante, também assim seria a experiência de Hushpuppy à medida que o seu mundo se desmoronava à sua volta. Na essência, tanto a peça de teatro como o filme assentavam numa qualidade central e crucial do seu pequeno herói (heroína, no caso do filme): valentia emocional, o tipo de coragem necessário para dizer adeus a alguém que se ama.

Alibar e Zeitlin transplantaram este tema para a paisagem do sul do Louisiana – lugar onde se dá primazia à alegria pura e aos apetites libertinos, mesmo quando as suas aldeias se inundam e as margens dos rios se afundam à sua frente. O olhar do filme alarga-se para mostrar a perda do lugar junto com a perda de uma pessoa, a perda de Wink encontrando um paralelismo com a perda da sua casa. Aldeia pré-fabricada nos pântanos do extremo sul do país, a Banheira não está baseada numa aldeia específica mas na concentração num lugar de todos os elementos culturais do sul do Louisiana. Por outras palavras, a Banheira contém tudo o que de bom aguentou sem ser levado pelas mudanças naturais épicas à sua volta. A questão que se coloca à personagem de Hushpuppy passa a ser: que dever e responsabilidade tens em relação à tua terra e a ti mesmo para que tenhas de ficar por alguém ou algo que se esvai à tua frente?

Zeitlin e Alibar trabalharam no guião a 130 quilómetros a sul de New Orleans e a um mundo de distância, recolhidos numa marina situada literalmente no fim da estrada e no princípio do golfo. Os cinco pântanos que se estendem a sul de Houma como dedos dentro do oceano, as comunidades de pessoas que lá vivem (camaroeiros, caranguejeiros, homens do petróleo) e a sua forma de vida eram, seguramente, campo fértil para a sua imaginação, embora desde o princípio que o mundo de a Banheira se manteria um passo para lá da realidade. Não querendo com isto dizer que no processo de escrita não se tenha sobreposto alguma prévia escolha de locais: depois de Benh ter encontrado um velho autocarro escolar abandonado e um bidão de óleo ferrugento nas traseiras da propriedade de Claude Bourg, Hushpuppy passou a ter uma casa. Mas Zeitlin estava consciente de que ligar o cenário do filme a algum sítio ou assunto específicos reduziria o impacto da história e que remover qualquer enquadramento ou referência literais alargaria e enriqueceria a experiência do espectador. Ele e Alibar inventaram um enorme conto num universo alternativo – um universo cuja construção provavelmente seria digna dos 100 milhões de dólares de um blockbuster. Como ajustar esse mundo gigantesco e a sua destruição a um pequeno orçamento parecia um desafio impossível.

Felizmente, o filme tinha sido aceite no Directors, Screenwriters and Producers Lab do Sundance Institute que precisamente estabelece como prioridade ajudar os cineastas a navegar este tipo de problemas. O Screenwriters’ Lab foi fundamental na referida transição pela qual Alibar e Zeitlin fizeram passar a história, enquanto o Directors’ Lab deu a Zeitlin a oportunidade de dar a estas novas ideias um terreno fértil para crescer. Por fim, no Producers’ Lab deu ao projecto orientação sobre como comprimir o mundo do filme de Zeitlin num plano exequível. A bênção final veio em forma do Sundance/NHK International Filmmakers Award para Zeitlin e os dados estavam lançados. Estes cineastas tinham grandes ambições para o seu filme e ainda maiores expectativas de que as viesse a concretizar.

O PROCESSO DE CASTINGPor maior que seja a visão deste filme, o público está firmemente implantado neste mundo através da perspectiva de uma besta singular e curiosa chamada Hushpuppy. O sucesso do filme dependia inteiramente de encontrar alguém capaz de calçar estes sapatos pequenos e enormes ao mesmo tempo. E essa foi a primeira impossibilidade encontrada – que criança poderia carregar este enorme filme sobre os seus diminutos ombros?

A procura começou no princípio de 2009, em New Orleans, numa sala de aula abandonada transformada em escritório e local de audições, onde se descobriram tantas crianças com talento que a Court 13 começou um programa de actividade de tempos livres para lhes ensinar representação e realização. As sessões com meninas dos seis aos nove anos decorreram mais como entrevistas

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e jogos do que como audições cinematográficas tradicionais. Depois de quatro meses sem Hushpuppy, a operação expandiu-se além da cidade para as comunidades dos pântanos sobre quem Zeitlin e Alibar estavam a escrever o argumento e onde o filme eventualmente viria a ser filmado. No fim, estendendo-se por oito freguesias, o exército de voluntários de casting da Court 13 passou a usar como prática esquadrinhar cada uma das cidades, vilas e aldeias, trabalhando com as autoridades escolares locais para distribuir folhetos nas escolas públicas e realizando audições nas igrejas e bibliotecas da zona. À medida que vasculhavam todas as salas de bólingue, ATL, congregações e salas de aula que encontravam, os quatro meses transformaram-se num ano; em algumas áreas, chegaram mesmo a ir porta a porta.

Quatro mil crianças depois, o trabalho árduo viu-se recompensado e tinham uma Hushpuppy – e encontraram-na mesmo ao pé do cenário do filme, em Houma, no Lousiana, entre os pântanos e os batelões que compõem o seu pano de fundo. E não tinha entre seis e nove anos; tinha cinco anos aquando da sua primeira audição. Claramente dotada de uma imaginação extraordinária, Quvenzhané Wallis era uma microforça da natureza com inigualável capacidade de concentração e inteligência emocional. A dimensão do seu talento também não se podia confinar pelas palavras “acção” e “corta”; era um furacão de humor e carisma natural que encantava qualquer pessoa, fosse quem fosse.

A missão seguinte era encontrar a personagem do pai de Hushpuppy, Wink. O processo de audição dos adultos era semelhante ao das crianças: em grande parte composto por uma entrevista sobre a sua história pessoal e a seguir uma cena com as circunstâncias explicadas e em relação à qual improvisar como uma personagem parecida com eles. Só nas últimas fases do processo, quando estavam quase a ser escolhidos, é que os actores potenciais recebiam um guião. Mais uma vez, a escolha estava concentrada nas pessoas de New Orleans ou das áreas dos pântanos que nunca tinham representado mas que ficavam curiosos com um panfleto encontrado num barbeiro ou com um anúncio numa rádio local.

Ao rever as imagens trazidas pela equipa de voluntários de audições da Court 13, Zeitlin estava sempre a voltar a um homem de sorriso único. Dwight Henry era uma figura conhecida pois geria a deliciosa padaria em frente à escola abandonada onde a equipa realizava as audições. Na sua primeira audição praticamente não representa, desfiando, em vez disso, histórias incríveis da New Orleans depois da passagem do furacão Katrina e sobre a sua resiliência em continuar a padaria. Seis meses depois, desesperados para garantir que voltava, a equipa descobriu ser quase impossível apanhá-lo. Só ao fim de algum tempo perceberam que estavam a telefonar à tarde; ele trabalhava da meia-noite ao meio-dia – horário de padeiro – e dormia depois. Quando finalmente voltou, mostrou que tinha uma forte vulnerabilidade emocional e uma presença dominante no ecrã. Zeitlin e a sua equipa sempre pensaram que o papel poderia obrigar ao recurso a um profissional experiente – mas incapazes de procurar a saída mais fácil, optaram por Henry. Os ensaios e as sessões com Zeitlin tinham lugar na padaria, das duas às cinco da manhã, enquanto cozia pão. A escolha acabou por juntar o espírito de Henry à essência do filme de tal forma que é difícil imaginar outro Wink. Ele transformou em seu o papel.

O restante elenco adulto foi escolhido entre pessoas de New Orleans e da zona onde o núcleo de produção do filme estava a começar a montar as suas infra-estruturas, complementado por alguns dos principais intervenientes de “Glory at Sea”. A Banheira tinha os seus residentes.

OS AUROQUESUm dos principais elementos do guião de Alibar e Zeitlin, e que o define como um filme independente maior do que o habitual, são as criaturas míticas, ferozes, apocalípticas conhecidas como auroques. No conceito mitológico do filme estes animais pré-históricos congelados nos glaciares há muito são descongelados e ressuscitados pelas radicais mudanças climáticas que vemos acontecer na Banheira. Como se cria uma parada de monstros que anunciam o iminente apocalipse com um orçamento pouco monstruoso? Enquanto a equipa de Zeitlin se juntava no pântano, uma segunda equipa em New Orleans estava encarregada de responder a esta questão.

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O cenário foi montado num quartel de bombeiros abandonado no bairro de Marigny, emprestado por um antigo aluno do Sundance Institute e conhecido cineasta da região – o padrinho da produção cinematográfica independente em New Orleans. Era como uma espécie de laboratório, com enormes tanques de água, miniaturas de cidades à escala e currais nas traseiras. Isto porque como primeiro passo houve que juntar os substitutos vivos dos auroques, uma mão-cheia de animais selvagens que seriam treinados para representar para a câmara. O segundo passo passou por disfarçar estas criaturas com coberturas para a cabeça, especialmente desenhadas para representar as criaturas de olhos esbugalhados com cornos temíveis e pêlo hirsuto. A história dos auroques decorreria sobre o pano de fundo de cenários miniatura da era do gelo meticulosamente construídos. Alguns dos planos com greenscreen obrigaram à montagem de uma correia transportadora para os animais sarnentos trotarem sobre ela, um dispositivo operado por um membro da equipa numa bicicleta de exercício. Problema resolvido.

PRODUÇÃOEm Janeiro de 2010, a Court colocou a sua bandeira na nova sede nos pântanos – 517 Highway 55, em Montegut, Louisiana – que antes fora o Claude Bourg’s Cajun Country Stop e bomba de gasolina. Uma pérola na lama, as instalações serviam perfeitamente os propósitos do filme: a antiga loja de conveniência transformou-se no escritório, a garagem para camiões passou a ser o departamento de cenografia, a área de limpeza do camarão ficou para os adereços. E a verdade é que um terço do filme acabou por ser rodado no quintal do Claude. E outro terço a não mais de 15 minutos.

No final da pré-produção, havia mais de 80 pessoas a trabalhar – metade deles só no departamento de cenografia – e todas espalhadas por casas ao longo dos pântanos. Com cada nova contratação, havia mais animais a juntar, mais barcos e veículos para proteger, mais cenários complicados para construir, mais guarda-roupa para costurar. E durante todo este tempo, a coroa de glória do departamento de cenografia, um gigante barco-escola transformado em navio de guerra, atracado no braço de rio por trás do escritório da bomba de gasolina, desconcertava cada pessoa da zona que por ali passava.

A rodagem começou a 20 de Abril, data mais conhecida no Louisiana por aquilo que aconteceu nesse dia: o desastroso derrame de petróleo da BP Deepwater Horizon, apenas a centenas de milhas a sudeste da sede do filme no pântano. A produção avançou, filmando durante 40 dias nos ou perto dos canais de Montegut, Houma, Bourg e Pointe-Aux-Chenes, assim como em Mandeville e Slidell até à Costa Norte; a seguir foram mais sete dias em New Orleans para a segunda equipa e os efeitos especiais com os auroques. Cada dia era uma nova luta titânica contra os elementos nos pântanos: os dias eram longos, o ar pesado, os barcos avariavam, as crianças irritavam-se, Wink perdeu a voz, a comida deliciosa deixava-nos sem vontade de fazer nada; qualquer problema de que nos possamos lembrar, havia e ainda mais. O mantra da Court 13 de fazer coisas com o que se tem à mão revelou-se fundamental. A equipa passou por 15 diferentes plano de filmagens. Houve explosões, um encontro com o FBI, vários veículos que se incendiaram sem razão, vários veículos que não se incendiaram quando deviam, vizinhos truculentos armados com caçadeiras, uma multinacional petrolífera gigante que expulsou a produção de uma zona chave para limpar a porcaria que tinham feito em alto-mar… E aquilo que manteve o navio a flutuar foi a perseverança e o espírito de uma pequenina de seis anos. Ela passou com distinção o penoso teste da rodagem e queria mais.

PÓS-PRODUÇÃOZeitlin e o seu montador tinham montanhas de filme para trabalhar. Uma enorme montagem de cortes juntou todas as cenas e fios narrativos que Zeitlin pretendia seguir e durante meses o trabalho foi cortar o material até ter um filme que contasse a história de forma mais efectiva. Sendo um dos dois compositores, e ainda por cima um que não ia deixar de estar envolvido em todos os passos da

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pós-produção, Zeitlin entregou a montagem a outro. Com o final do prazo para Sundance à porta, em Setembro de 2010, chegou-se à conclusão que, para acompanhar cuidadosamente todos os processos de pós-produção do seu filme, Benh precisava de mais um ano.

A parte de leão desse ano foi gasta a fazer com que o filme funcionasse, com uma descoberta definitiva: na sua essência, o filme era sobre Hushpuppy e o pai. Felizmente aconteceu outro milagre, ao garantir a bolsa de pós-produção da Kenneth Rainin Foundation da San Francisco Film Society que levou à possibilidade de contratar alguns dos melhores especialistas de efeitos visuais da Bay Area para conseguir fazer coexistir as filmagens dos auroques com o resto do filme. Mais tarde, com alguns grandes defensores na Film Society, o filme voltou a ganhar a bolsa no seu segundo ano de pós-produção, o que permitiu uma parceria com os míticos Skywalker Labs para o trabalho de som. Um presente dos céus para um pequeno filme do Louisiana à procura de mostrar cinematograficamente algo muito maior que a soma das suas ínfimas partes.

Finalmente, no final de 2011, Zeitlin sentou-se com o seu colaborador para escrever a música, numa altura em que cada uma destas fases de pós-produção já se fazia ao mesmo tempo. Os dois tinham escrito a música de “Glory at Sea”, que tinha tido sucesso para lá do filme, usada em vídeos da campanha de Obama em 2008 e num anúncio da Google Chrome. Desta vez, a chave estava em articular a imaginação e o estado de espírito de Hushpuppy com o mundo a desabar à sua volta. Contrataram uma banda lendária do Louisiana para o som da Banheira mas a questão estava em saber que melodia sairia da peculiar caixa de música do mundo de Hushpuppy quando esta a abrisse para o público.

Descobriram a resposta e a Banheira acabou por ganhar uma paisagem sonora épica, visualmente mágica que se estende aos pés das bestas, arautos da desgraça, e uma canção para a transformação da sua heroína em guerreira. Os últimos retoques da mistura final de som foram dados em Marin County; acabava na baía aquilo que tinha começado noutra baía, mas pantanosa.

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SOBRE O ELENCOQUVENZHANÉ WALLIS (Hushpuppy) nasceu a 28 de Agosto de 2003 em Houma, Louisiana, filha de Venjie Sr. e Qulyndreia Wallis e irmã de Qunyquekya, Venjie Jr. e Vejon. Frequenta a terceira classe na Escola Primária Honduras e os seus passatempos preferidos são ler, cantar, dançar, representar e jogar no seu iPod e na sua Nintendo DS. Gosta muito de estrelas como China McClain, Selena Gomez e Miley Cyrus e a sua comida favorita é galinha Alfredo frita. Basquetebol, voleibol, dança e cheerleading são os seus desportos favoritos.

DWIGHT HENRY (Wink) viveu a maior parte da sua vida em New Orleans. Filho do Dr. Victor Arthur Henry e de Etna Henry, tem cinco filhos: Dwight Jr., Darius, Cameron, Dwayne e D’juan. Empresário que subiu a pulso, há 15 anos que é proprietário da Henry’s Bakery & Deli e actualmente é também dono do Buttermilk Drop Bakery & Café, situado no número 1781 da rua N. Dorgenois, em New Orleans, Lousiana. Entre as suas paixões estão cozinhar, fazer pão, desportos e, agora, representar.

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SOBRE A EQUIPA TÉCNICABENH ZEITLIN (Realizador, co-argumentista, compositor) é um cineasta, compositor, animador e membro fundador da Court 13. Ganhou vários prémios com as suas curtas-metragens EGG, ORIGINS OF ELECTRICITY, I GET WET e GLORY AT SEA. A sua primeira longa-metragem, BESTAS DO SUL SELVAGEM, ganhou o Grande Prémio do Júri no Festival de Sundance 2012 e foi seleccionado para a secção Un Certain Regard do Festival de Cannes. Vive em New Orleans, Lousiana, com um grupo de animais selvagens.

LUCY ALIBAR (Co-argumentista) é uma dramaturga e contadora de histórias da zona da Panhandle, na Flórida (os 16 condados mais a oeste do estado). Já escreveu as peças “Juicy and Delicious” (Collective Unconscious/The TANK), “A Friend of Dorothy” (Finalista do prémio para a melhor peça de teatro no Fringe de Montreal), “Lightning/Picnic”, “Mommy Says I’m Pretty on the Insides” e “Christmas and Jubilee Behold the Meteor Shower”. O seu trabalho já foi produzido e encenado pelo Sundance Institute, Joe’s Pub, William Theatre Festival, HERE Arts Center, Ensemble Studio Theatre, Dixon Place, New Georges, Fringe de Edimburgo, Festival de Avignon e Cherry Lane Theatre. Lucy é membro do EST/Youngblood, Jose Rivera’s Writing Group e fundadora do New Georges Writer/Director Lab. Membro do Sundance Screenwriting, duas vezes finalista do Heideman Award no Actor’s Theatre de Louisville e vencedora do Young Playwrights, Inc.

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CRÍTICAS“The New York Times”, Manohla Dargis

É difícil não pensar que o sucesso da Searchlight com “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, ajudou os produtores do muito cortejado “Bestas do Sul Selvagem” a optar por aquela distribuidora. Destaque deste ano em Sundance e um dos melhores filmes a passar pelo festival em duas décadas, “Bestas do Sul Selvagem” não é uma obra habitual de estúdio. Realizado por Benh Zeitlin, que escreveu o argumento com Lucy Alibar, o filme é ao mesmo tempo um conto realista mágico e a viagem de um herói, ambientado numa parte do sul do Louisiana esplendidamente mitificada na Banheira. Aí, uma menina de seis anos, Hushpuppy, vive em estado de graça e assombro com o pai, um bebedor inveterado chamado Wink, no meio de galinhas à solta (que depois são cozinhadas), bêbados cambaleantes e criaturas agitadas.Este é o primeiro filme de Zeitlin, que nasceu em Queens, Nova Iorque, e cresceu no Westchester, no sul do estado de Nova Iorque, tendo-se licenciado na Wesleyan University e conta entre as suas influências Malick, John Cassavetes e Emir Kusturica. Depois de ter trabalhado na República Checa com outra das suas inspirações, o animador Jan Svankmajer, Zeitlin foi para o sul do Louisiana pós-Katrina, onde filmou “Bestas do Sul Selvagem” com um colectivo chamado Court 13. (“Mais uma ideia que uma organização”, na definição de Zeitlin, Court 13 recebeu o nome do court de squash que ele e alguns amigos geriam em Wesleyan.) Filmado em Super 16mm, “Bestas do Sul Selvagem” é de uma beleza assombrosa, tanto visualmente como no carinho com que trata as personagens, que vivem à beira do abismo e, se calhar, em certo sentido, na cabeça de Hushpuppy.

“The Observer” (Reino Unido), Philip French

Tem havido uma série de filmes sobre a costa do Louisiana depois do desastre do furacão Katrina, sendo o documentário de quatro horas de Spike Lee, “When the Levees Broke”, feito em 2006, o mais notável e “Polícia Sem Lei”, de Werner Herzog, realizado três anos depois, o mais estranho. Tirando o cenário, nenhum deles tem muito em comum com “Bestas do Sul Selvagem”, uma fábula situada num recanto perdido do pântano, onde uma comunidade multirracial de excêntricos vive em cabanas flutuantes ou casas rudimentares assentes em estacas. Movem-se em barcos improvisados e partilham as casas com os animais domésticos de que se alimentam. A personagem central é uma menina de seis anos, Hushpuppy, que vive com o pai doente, um pescador viciado em álcool. Tudo é filtrado pela mente fascinante de Hushpuppy que age como um comentador precoce e desconcertado.A professora eloquente e apocalíptica que ensina as crianças na pequena escola de uma só divisão encheu-lhe a cabeça de ideias sobre a interdependência de tudo no mundo e a iminente possibilidade da mudança radical no ambiente por causa do aquecimento global. Num conto onde realismo absoluto, surrealismo e o onírico se misturam, Hushpuppy sobrevive a um dilúvio apocalíptico, é levada por médicos e assistentes sociais bem-intencionados e foge para recuperar a sua antiga vida e parte numa viagem em busca da sua mãe.Acabando como “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, que também se move do pré-histórico para o apocalíptico, o filme é poético, misterioso e opaco, um pouco como a obra do realizador africano Souleymane Cissé mas sem a profundidade desta. Os actores não-profissionais Quvenzhané Wallis e Dwight Henry são convincentes como Hushpuppy e Wink e presumo que venham dos mesmos ambientes que os personagens que interpretam. Henry é, na verdade, um padeiro de sucesso e dono de uma charcutaria em New Orleans, enquanto Wallis tem nove anos e é uma pequena fã de Miley Cyrus, cujas paixões incluem ler, jogos de vídeo, basquetebol e cheerleading.

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“Acabando como ‘A Árvore da Vida’, de Terrence Malick, que também se move do pré-histórico para o apocalíptico, o filme é poético, misterioso e opaco…”

Philip French, The Observer

“‘Bestas do Sul Selvagem’ é uma das mais auspiciosas estreias americanas na realização em anos.”

Liam Lacey, The Globe & Mail

“Cria um mundo para onde nos deixamos levar, um mundo de beleza, medo e de mítico assombro.”

Peter Travers, Rolling Stone

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REALIZADORBenh Zeitlin

ARGUMENTO Lucy Alibar e Benh Zeitlinbaseado na peça “Juicy and Delicious”, de Lucy Alibar

ELENCOQuvenzhané Wallism, Dwight Henry

PRODUTORES Michael Gottwald, Dan Janvey e Josh Penn

PRODUTORES EXECUTIVOSPhilipp Engelhorn, Paul Mezey e Michael Raisler

EUA | 2012 | Digital | Cor | 92 min. | Distribuído por Alambique