Helio - Lygia Pape
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8/18/2019 Helio - Lygia Pape
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Hélio Oiticica ------ Lygia
Papedudavalle
Parte da carta de Hélio Oiticica para Roberto Pontual – 7/7/1979 – Rio de Janeiro
Sobre o assunto Meridien experiência quero falar em pontos sendo este o primeiro: tanto
RIJANVIERA quanto Ovos de Vento de Lygia Pape não foram construídos e levados a
cabo para uma espécie de happenning de um dia no Meridien: é importantíssimo observarque só pelo fato de exigirem a participação corporal das pessoas não significa isso que uma
catarse coletiva tenha que se dar. O problema aqui é o de DESABITUAÇÃO NA
APREENSÃO DA OBRA PROPOSTA E NÃO NA CRIAÇÃO DE NOVOS HÁBITOS
PSEUDO-PSICODRAMÁTICOS E CATÁRTICOS , conduzindo a destruição das mesmas
como aconteceu na estréia com a obra de Lygia Pape: as pessoas foram levadas de uma
abordagem de obras eternamente fixas na sua apreensão para oposto ou suposto oposto que
seria a destruição da obra proposta tanto uma coisa quanto a outra são no fundo a mesma,
pensam que pelo fato de declancharem catarticamente a destruição da estrutura propostaestariam superando a posição contemplativa antiga mas não só não estão como estão
incorrendo num erro horrível essas obras foram feitas e pedem uma espécie de exercício de
desabituação apreensiva não ritualística ou catárticas se a obra de Lygia pela sua frágil e
perecível natureza ou pelo seu caráter lúdico seja um convite a destruição não deveria ser
isto o que deveria ocorrer bastariam ver essas pessoas que assim agiram que outros nos
outros dias quereriam também usufruir desse espaço imantado como o chama a artista e
não se jogarem num festival de catarse e ego-trip como a que se deu a poeticidade da obra
de Lygia Pape teria a mesma fragilidade de uma casa japonesa com paineis de papelpapiro ou de arroz, imaginem se em cada casa dessas as pessoas conduzidas a catarses
destrutivas , o seu caráter lúdico tem o mesmo ludicismo da peça Nô japonesa quantas
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pessoas nos dias que se seguiram a essa bobagem catártica quereriam estar ou ir lá e se o
fizeram nada encontraram um boboca que parece iniciou a depredação disse que “pensou que
a obra fosse minha” e tive que lhe dar uma pedrada para que saísse do meu recinto como se
pode ver utilizavam esse tipo de obra e o que ela proprõe para realizarem vinganças
pessoais ou projetarem repressões indizíveis nada mais ridículo e distorcido quepensamentos obscuros teriam conduzido a tal comportamento: que tipo de gente é essa ?
o que acontece é que Lygia imantará desse mesmo modo outros espaços martelando na
mesma tecla para a realização desta coisa que chamo de EXERCÍCIO DE DESABITUAÇÃO
NA APREENSÃO DA OBRA PROPOSTA até que aos poucos se aprimorem os
comportamentos na abordagem desse mesmo exercício não só para os participantes como
para ela também seguindo Lygia Clark são obras que propõem tipo de elaboração na
abordagem e na participação dos participantes na relação deles com a gente o artista é apenas
um declanchador dessas propostas e nunca um autor a procura de interpretes as pessoasque declancharam esse tipo de catarse são na verdade uma cambada de corta-baratos gente
que insiste na interpretação da obra e o decidem fazer da maneira mais fácil e pusilânime
quanto a RIJANVIERA é o desdobramento de um tipo de obra que iniciei em 1960 e que
paulatinamente chega aos dias de hoje e há de continuar até que desemboque em outra
coisa obviamente os Penetráveis se incluem nessa ordem de exercícios experimentais e
sendo pouco conhecida (assim como toda a minha experiência o é) aqui e alhures já
conto com o tipo de surpresa na abordagem dela principalmente por parte de gente que
quer resistir ao impacto poético experimental que ela possa declanchar já gente maissofisticada (como o pessoal da MANGUEIRA e alguns artistas e gente mais sensível)
usufrui mais fácil e rapidamente das coisas ou elementos oferecidos (andar na água de
pés nus, caminhar in-out pelo labirinto: ver de dentro para fora etc). Quanto a restituição
dessas obras ao público (ambas interditadas, uma pela destruição outra por defeitos
técnicos de vazamento de água) não sei quando o será feito ou se será ou não da
conveniência do MERIDIEN faze-lo quero registrar aqui meu protesto quando a este
procedimento por parte do público que tornou impossível a continuação da obra de Lygia
(já que segundo ela a natureza do que faz não convida a uma restauração da experiência) etambém quanto a mentalidade burra e fácil de que seriam essas obras “o happening de um
dia” pra burguesada pulsinanime e ridícula que freqüenta coquetéis e vernissages pouco
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importando o sentido poético ou a natureza das experiências propostas nem uma nem
outra conseguirão cortar esse veio experimental que se aprofunda na experiência artística
brasileira se não forem retomadas no MERIDIEN o serão em outros lugares não só estas
como outras (Lygia pensa já em instalar outros Ovos de Vento na quadra da Mangueira e
eu no Pavilhão de São Cristovão) o que deverá ser decidido segunda feira dia 9 vai seranunciado pela imprensa
Obra original disponível em:http://www.overmundo.com.br/banco/helio-oiticica-lygia-pape-1
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