Guia de estudo para o teste aos módulos 7 8 e 9
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Da 1.ª República ao Estado Novo
No período de vigência da 1.ª República em Portugal, o agravamento da
situação económica e financeira do país e a crescente instabilidade política e agitação
social contribuíram para o descontentamento popular.
A instabilidade social, alimentada por grupos mais ou menos extremistas (de
esquerda, de direita e anarquistas), tem como combustível a difícil situação
económica, particularmente nas zonas urbanas, onde o nível de vida se deteriora de
dia para dia. O nível dos salários não acompanha a desvalorização da moeda e a
subida de preços. A subida dos preços dos bens alimentares e, principalmente, do
preço do pão, origina manifestações e tumultos, violentamente reprimidos pelas
autoridades.
Assustados com o grau de violência de algumas das reacções de rua, os
políticos elaboram leis destinadas a acalmar os ânimos das massas trabalhadoras,
entre elas a criação da semana de 48 horas. A verdade é que muitas destas medidas,
apesar de legisladas, não chegam a ser aplicadas, o que ajuda, ainda mais, a minar o
prestígio da 1.ª República, quer entre as massas trabalhadoras quer entre as classes
médias urbanas, que são as suas maiores apoiantes e as que mais temem a
instabilidade social e os movimentos radicais de esquerda (que põem em causa a
propriedade privada).
A instabilidade governativa (45 governos entre 1910 e 1926), as graves
consequências humanas e económicas originadas pela entrada de Portugal na guerra
e o anticlericalismo demonstrado nas medidas de laicização do Estado, que
conduziram à expulsão das ordens religiosas, à nacionalização dos bens da Igreja, à
proibição do ensino religioso, à criação do registo civil obrigatório e à legalização do
divórcio, num país de profunda tradição católica, dão do regime uma má imagem.
Percepcionado como hesitante para as classes médias, que o consideram demasiado
tolerante para com as massas trabalhadoras, e visto pelas massas trabalhadoras
como um regime ao serviço da burguesia e da finança, todas as medidas tomadas
pelos governos republicanos estão inquinadas, pois as pessoas desconfiam das suas
verdadeiras intenções.
Reclama-se um governo forte capaz de impor a ordem, a disciplina e a
tranquilidade política e social e de resolver o grave problema económico-financeiro do
país.
É neste contexto que surge a figura de Salazar, que se torna o “salvador da
Pátria” ao conseguir o “milagre” de equilibrar o orçamento e eliminar o défice e ao
restituir aos Portugueses a ordem e tranquilidade que desejavam, através da
instauração de um regime autoritário e repressivo.
Entre 1928 e 1969, António Oliveira Salazar controlou todos os aspectos da vida
nacional, a tal ponto que o regime é vulgarmente intitulado Salazarismo.
A instauração, em Portugal, de um regime autoritário acompanha a tendência
que se verifica na Europa de então. Com efeito, nos anos 20 e 30, assiste-se a um
agravamento das condições económico-financeira resultantes da Primeira Guerra
Mundial e/ou da Grande Depressão, que se reflectem em elevadas taxas de
desemprego e consequente agudizar das tensões sociais, evidenciadas em greves,
manifestações e motins.
Nos países em que o regime democrático se apresentava mais frágil, verifica-se
a afirmação de forças autoritárias e repressivas que prometem ordem e a superação
das dificuldades económicas e financeiras.
Salazar inspirou-se no modelo fascista implantado por Mussolini em Itália, quer
na construção do ideário, quer na edificação das estruturas político-institucionais do
Estado Novo.
O regime salazarista afirmou-se autoritário pelo repúdio do sistema parlamentar
e de pluralismo partidário, culpado pela “desordem nacional”, fazendo prevalecer o
poder executivo que, na prática, era controlado pelo presidente do Conselho.
O Estado Novo antidemocrático recusava a soberania popular. O poder
legislativo estava submetido ao poder executivo. António Ferro, no Decálogo do
Estado Novo afirmava: “Não há Estado forte onde o poder executivo não o é”. O
Parlamento, chamado Assembleia Nacional, apenas discutia as propostas da lei do
governo. Por outro lado, impedia a realização de eleições livres, uma vez que não era
permitido o pluripartidarismo, existindo apenas um partido político autorizado. Tal
como Mussolini falava na democracia como “irresponsabilidade colectiva”, António
Ferro dizia do parlamentarismo que sujeitava o Governo à “ditadura irresponsável e
tumultuária dos partidos”.
Os direitos individuais dos cidadãos não eram respeitados. Segundo o Decálogo
do Estado Novo: “Para o Estado Novo não há direitos abstractos do Homem, há
direitos concretos dos homens”. Em consequência, os opositores políticos eram
perseguidos pela polícia política (PIDE) e encerrados em prisões políticas ou campos
de concentração (o Tarrafal, em Cabo Verde); toda a informação era filtrada pela
censura. O carácter repressivo do regime evidencia-se claramente quando refere que:
“Os inimigos do Estado Novo são inimigos da Nação. Ao serviço da Nação (…) pode e
deve ser usada a força (…)”.
Afirmou-se conservador e tradicionalista, assente em valores que não deveriam
ser discutidos: Deus, Pátria, autoridade, família e trabalho. Na base da família,
entendida como núcleo de autoridade com papéis rigidamente atribuídos: o pai
trabalhador, a mulher confinada ao estatuto de esposa e mãe, filhos obedientes. Os
valores considerados fundamentais não podiam ser postos em causa, segundo
Salazar: “não discutimos Deus (…); não discutimos a Pátria e a sua História; não
discutimos a autoridade (…); não discutimos a família (…).” Todas as vanguardas
artísticas eram rejeitadas em nome da arte nacional. A vida rural era valorizada,
enquanto o cosmopolitismo citadino era desprezado. A hierarquia católica era
protegida e a religião era o primeiro dos pilares da educação nacional, resumida no
lema: “Deus, Pátria e Família”.
Afirmou-se nacionalista. “Tudo pela Nação, nada contra a Nação” era o lema. O
engrandecimento da pátria fazia-se pela exaltação dos valores nacionais, através da
glorificação do passado histórico e dos heróis nacionais, num claro apelo ao sentido
patriótico dos Portugueses. A História de Portugal era mitificada para fazer a apologia
da Nação. Reduzida a figuras marcantes (idealizadas como heróis e santos) e a factos
gloriosos (conquistas de território, batalhas), a História tinha de ser memorizada, sem
espírito crítico, por todos os jovens que frequentassem a escola.
À semelhança do modelo fascista italiano, procedeu-se ao enquadramento das
massas através da criação da Mocidade Portuguesa, milícia armada destinada à
defesa do regime e ao combate ao comunismo; da Mocidade Portuguesa, cujo
objectivo era a formação ideológica da população escolar.
Afirmou-se corporativista. As corporações constituíam a célula da organização
económica e social do país. Para além das corporações económicas, existiam
corporações morais e intelectuais. Os indivíduos apenas tinham existência para o
Estado se integrados em organismos (família, municípios, associações, corporações).
Portugal do autoritarismo à democracia
O final da Segunda Guerra Mundial trouxe o desmantelamento das estruturas do
fascismo na Europa. Porém, em Portugal, permanecia vigente a ditadura salazarista,
de tipo fascista. Salazar encenou, então, uma viragem política, aparentando uma
maior abertura, a fim de preservar o poder.
A liberalização política não passou de uma fachada. Em 1945, os portugueses
foram convidados a apresentar listas de candidatura às eleições legislativas (para
eleger os deputados da Assembleia Nacional). A oposição democrática concentrou-se
em torno do MUD (Movimento de Unidade Democrática). Afinal, tratava-se de uma
manobra repressiva por parte do regime, pois não foram asseguradas condições que
permitissem a realização de eleições isentas e a apreensão das listas pela PIDE
permitiu perseguir a oposição democrática. Por outro lado, em 1949, aquando das
eleições presidenciais, a oposição democrática apoiou o candidato Norton de Matos,
que concorria contra o candidato do regime, Óscar Carmona. De novo, perante a
repressão e a perspectiva de fraude eleitoral, Norton de Matos (que exigia,
nomeadamente, a abolição da polícia política, da Colónia Penal de Cabo Verde, da
censura, do corporativismo e do regime de partido único) desistiu da campanha.
De todos os movimentos em que a oposição se manifestou, aquele que mais
abalou as estruturas do Estado Novo foi a candidatura à presidência do general
Humberto Delgado, em 1958.
A sua coragem em criticar a ditadura – patente na célebre frase “Obviamente
demito-o”, com que se referiu a Salazar – valeu-lhe o epíteto de “general sem medo”.
A sua campanha foi rodeada de um vibrante entusiasmo popular, que as autoridades
tentaram, em vão, qualificar de agitação social. Quando o candidato da União Nacional
(Almirante Américo Tomás) saiu vitorioso com 75% dos votos, não havia margem para
dúvidas de que as eleições tinham sido uma farsa.
Perante a opinião pública, quer nacional, quer internacional, a repressão de um
movimento popular genuíno como a campanha de Humberto Delgado desfez qualquer
ilusão sobre a pretensa abertura do regime salazarista.
Em 1968, Salazar foi substituído por Marcello Caetano no cargo de presidente
do Conselho de Ministros. Entre esta data e 1974, o país viveu um clima de abertura
política moderada que ficou conhecido por “Primavera Marcelista”.
No discurso de posse, Marcello Caetano dava sinais de mudança, pois, apesar
de frisar a “preocupação imediata em assegurar a continuidade”, mostrava-se disposto
a “proceder (…) às reformas necessárias”.
Contudo, o regime ditatorial mantinha-se: o novo presidente do Conselho pedia
“sacrifícios a todos, inclusive nalgumas liberdades que desejava ver restauradas”. A
Primavera Marcelista oscilou entre os indícios de renovação e a preocupação em
seguir as linhas-mestras do salazarismo, o que resultou no fracasso da tentativa
reformista. A PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) passou a chamar-se
DGS (Direcção-Geral de Segurança) e diminuiu, durante algum tempo, a virulência
das perseguições; contudo, face ao movimento estudantil e operário, prendeu, sem
hesitações, os opositores ao regime. A Censura passou a designar-se por Exame
Prévio; se este, inicialmente, tolerou algumas críticas ao regime, cedo se verificou que
actuava nos mesmos moldes da Censura. A “ala liberal” da Assembleia Nacional,
composta por membros independentes (entre os quais Francisco Sá-Carneiro, Pinto
Balsemão e Magalhães Mota). Contudo, todos os projectos de lei que apresentava
foram rejeitados pela facção mais conservadora e a ausência de liberdade de
expressão tornava impossível a discussão da guerra colonial. Os deputados da ala
reformista foram-se demitindo sucessivamente, revelando o insucesso da “evolução na
continuidade”.
No início dos anos 70, a guerra nas colónias chegara a um impasse: não se
vislumbrava a vitória militar. A questão colonial parecia um beco sem saída que
esgotava os recursos nacionais (40% do orçamento de Estado era aplicado no esforço
de guerra), envolvia em risco de morte os cidadãos nacionais (7% da população activa
masculina foi chamada a intervir na guerra) e favorecia o crescimento da contestação
interna e externa. Perante uma vaga crescente de contestação à guerra, tornava-se
cada vez mais difícil para os portugueses seguir a tese de Marcello Caetano segundo
o qual os povos da Guiné, de Angola e de Moçambique não queriam a independência
de Portugal, tratando-se de guerrilhas de “selvagens assassinos e violadores”.
Nos inícios dos anos 70, verificou-se a conjugação de vários factores que
acabaram por conduzir ao derrube do regime. O agravamento da conjuntura
económica, reflexo da crise internacional marcada pela instabilidade monetária e pelo
choque petrolífero, e a guerra colonial, que constituía um sorvedouro de importantes
recursos humanos e financeiros, contribuíram para a crescente contestação interna e
internacional ao Governo.
A convergência de todos estes factores levou, na madrugada de 25 de Abril de
1974, o Movimento das Forças Armadas (MFA) a desencadear um movimento militar a
fim de derrubar o Estado Novo e instaurar o regime democrático e pluralista.
O programa do MFA decretava a destituição de presidente da República e do
Governo; a dissolução da Assembleia Nacional; a extinção da DGS, Legião
Portuguesa e organizações políticas da juventude; a amnistia imediata a todos os
presos políticos; a abolição da Censura e do Exame Prévia e propunha uma nova
política ultramarina em que se reconhecia que a solução da guerra era política e não
militar.
Os tempos que se seguiram à Revolução foram muito conturbados devido à
radicalização da vida política e à explosão dos anseios dos portugueses numa onde
de reivindicações, greves e manifestações constantes.
É neste contexto que foi elaborada a Constituição da República de 1976. Por
isso, o texto constitucional acabou por reflectir o compromisso entre as diferentes
concepções ideológicas dos partidos. Estabeleceu a reorganização do Estado e a
restrição dos direitos políticos aos responsáveis do regime anterior. A Constituição
definiu a estrutura política, económica e social do país, como um “Estado de direito
democrático”, unitário, pluripartidário e descentralizado, assente na soberania popular.
Consagrou os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, em “harmonia com a
Declaração Universal dos Direitos do Homem”, considerando que todos “têm a mesma
dignidade social e são iguais perante a lei”.
Portugal no novo quadro internacional
Apesar de se tornar difícil, pela proximidade cronológica, avaliar,
historicamente, o período da última trintena de anos, existem alguns indicadores que
permitem esboçar linhas de força da evolução portuguesa.
O envelhecimento da população: com uma pirâmide etária na forma de
“cogumelo” (o topo, constituído pela população mais idosa, apresenta uma
alargamento quase equivalente à base), Portugal debate-se com problemas de vária
ordem, por exemplo: a desertificação do interior, os encargos médicos e sociais com a
terceira idade, o encerramento de escolas por falta de alunos e de maternidades por
falta de partos. Em compensação, o país pode orgulhar-se de ter uma das mais baixas
taxas de mortalidade infantil da Europa.
O aumento geral dos salários, conciliado com a política de concessão de
crédito às famílias, reflectiu-se num aburguesamento geral da população: é frequente,
pelo menos nas regiões urbanas e litorais, que as famílias possuam casa própria,
automóvel e despendam o seu rendimento, não só na alimentação, vestuário e contas
correntes, mas também em telecomunicações, computadores pessoais e férias.
Uma política de protecção à maternidade (que tem feito aumentar,
nomeadamente, o período de licença de parto) e o contacto com os modelos europeus
provocaram uma evolução rápida das mentalidades que transformou radicalmente, no
espaço de uma geração, a relação entre homens e mulheres e o estatuto destas na
vida social. Em Portugal, na maioria dos casos, ambos os elementos do casal
trabalham e as mulheres acedem, em maior número do que os homens, ao ensino
superior.
No entanto, muito está ainda por fazer: por exemplo, uma em cada três
mulheres é, no tempo actual, vítima de agressões por parte do companheiro.
Tal como aconteceu nos países da União Europeia, Portugal enveredou por uma
aposta no sector terciário, destacando-se, nomeadamente, o sucesso das
telecomunicações, do turismo (que teve, desde os anos 80, um boom na região do
Algarve, por vezes à custa de atentados ao ambiente e da descaracterização
urbanística) e das grandes superfícies comerciais. Simultaneamente, estreitaram-se as
relações comerciais com os parceiros da União Europeia.
De país de emigrantes, até aos anos 60, Portugal transformou-se num país de
imigrantes. A descolonização, nos anos 70, trouxe consigo a vaga de residentes nas
ex-colónias; nos anos 80, a imigração brasileira conheceu uma acentuada expansão e,
desde os anos 90, imigrantes da ex-União Soviética deslocam-se para Portugal
aproveitando a livre circulação prevista no Acordo de Schengen. A imigração oriunda
na República Popular da China tem, igualmente, registado um maior afluxo. Os
imigrantes fornecem a Portugal os contingentes populacionais que compensam (em
parte, apenas) o envelhecimento da população e transportam, consigo, o inevitável
dinamismo daqueles que se aventuram a sair do seu país de origem. Por seu turno, a
imigração coloca à governação e ao cidadão comum os desafios da legalização
desburocratização e do acolhimento económico e social.
Depois de 48 anos ininterruptos de ditadura, Portugal iniciou, com a Revolução
de 25 de Abril de 1974, um processo de democratização que não mais posto em
causa.
Enquanto a década de 70 foi marcada por uma intensa militância e por
propostas muito divergentes para o futuro do país, no período após a integração
europeia a vida política caminhou para concentração dos votos, nos momentos
eleitorais, nos dois partidos que alternam no poder. À semelhança do que ocorreu nos
restantes países europeus, as propostas mais radicais foram tendo um papel cada vez
menos actuante. A estabilidade política teve o custo do desinvestimento dos cidadãos:
os níveis de abstenção cresceram e jovens, bem como a maioria da população,
desinteressaram-se da militância política.
A integração europeia contribuiu para o fortalecimento de vínculos com as
restantes democracias europeias. O isolacionismo a que Portugal estava votado
durante a vigência do Estado Novo rompeu-se, e o país recebeu o estímulo do
contacto com modelos socioculturais e mentais novos. O reconhecimento do prestígio
de Portugal na União Europeia é evidenciado, nomeadamente, pelo convite para a
ocupação de cargos de relevo na estrutura da comunidade.
Num processo de crescimento muito rápido, Portugal descurou, no entanto,
vários itens de aprofundamento do espírito democrático: continua a ter um dos índices
de corrupção mais elevados da União Europeia e o débil empenhamento nas questões
cívicas é sinal de falta de formação do espírito de cidadania.
Alguns sectores económicos e sociais continuam a acusar um imobilismo
responsável pelo travão ao desenvolvimento: apesar dos progressos da alfabetização,
o abandono escolar continua a ser um fenómeno muito preponderante, em especial
nos meios rurais; o desafio da educação para todos tem sido um dos desafios
fundamentais do desenvolvimento português; a integração de uma franja de
carenciados coloca ao Estado e às instituições de auxílio responsabilidades
acrescidas; o desemprego constitui uma das principais preocupações da população
portuguesa, desde o trabalhador não-qualificado ao licenciado; a imigração crescente
fornece mão-de-obra, jovialidade e espírito de empreedimento ao país, mas coloca-
lhe, também, o desafio da integração na vida económica e social; os baixos
investimentos na Investigação e Desenvolvimento são responsáveis pelo atraso
científico-tecnológico português.