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GRUPO DE LAZER NA ESCOLA: POSSIBILIDADES DE DESMITIFICAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Luís Cláudio Betetto Sciamana1
Fábio Ricardo Mizuno Lemos (O)2
Resumo No ano de 2009 foi criado em uma escola privada, localizada na cidade de Rio Claro-SP, um Grupo de Lazer tendo como participantes professoras, funcionárias, alunas, coordenação e direção. Dentro da instituição, a Educação Física sempre foi considerada sinônimo de esporte e a partir da criação do grupo e das vivências em aulas/atividades relacionadas com este, o presente trabalho teve como objetivos, compreender as aprendizagens ocorridas, assim como, se estas contribuíram/contribuem para a desmitificação do pensamento sobre a Educação Física Escolar. Para a coleta de dados, foram selecionadas seis integrantes, freqüentadoras dos encontros desde o seu início, as quais foram entrevistadas, utilizando para isso, a entrevista semi-estruturada. A análise dos resultados foi baseada na pesquisa qualitativa inspirada na fenomenologia, modalidade fenômeno situado e os resultados obtidos demonstraram aprendizagens ocorridas não só em relação ao esporte, mas também a conteúdos como: jogos, saúde e atividade física, práticas corporais alternativas. Tais considerações nos permitem afirmar que as participantes passaram a refletir e olhar a Educação Física por um outro ponto de vista, ampliando seus conhecimentos. Palavras chave: Lazer; Ensino e Aprendizagem; Educação Física Escolar. Abstract During '2009, one Leisure Team was made up in a private school located in the city of Rio Claro, state of São Paulo. That Leisure Team was compounded by teachers, employees, students and members of board of direction. At that school, Physical Education was considered as a synonym of sport and from the creation of the team and its experience in teaching and activities regarding itself, this study aims to understand lessons learned as well as if they contributed to the demystification about Physical Education thought. Six members were selected, presented since the beginning of the work, which were interviewed in a part-structured way. The analysis of the results was based on a qualitative research inspired phenomenology, placed phenomenon modality and the obtained results demonstrated learnings not only regarding sport but also contents such as: games, health and physical activity, alternative body practices. Such considerations allow us to state that the participants began to reflect to consider Physical Education from a different point of view, enlarging their knowledge. Key Words: Leisure; Learning and Teaching; Physical Education at School.
INTRODUÇÃO
Nas discussões realizadas e organizadas pelo terceiro grupo de pós-graduação em Educação
Física Escolar da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), na disciplina Educação para o
1 Professor da rede privada de Ensino de Rio Claro, estado de São Paulo. Aluno do III Curso de Especialização em Educação Física Escolar do DEFMH/UFSCar. 2 Doutorando em Educação (PPGE/UFSCar). Mestre em Educação (PPGE/UFSCar). Sócio-fundador da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH). Professor da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE/SP), do Centro Universitário Claretiano (CEUCLAR) de Batatais/SP e do Curso de Especialização em Educação Física Escolar (DEFMH/UFSCar).
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Lazer, no ano de 2008, não ficou estabelecida ou engessada apenas uma definição para o lazer. Pelo
contrário, muitas definições surgiram da necessidade de conhecer e estudar este fenômeno que
sempre existiu, mas que principalmente após a revolução industrial e cada vez mais, nos dias de
hoje, vem se tornando indispensável para todos os cidadãos.
O lazer, na Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 2010a), é considerado
um direito social de todo cidadão, assim como, a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados.
Segundo Camargo (2003):
o lazer é um conjunto de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos e associativos, realizados num tempo roubado ou conquistado historicamente sobre a jornada de trabalho profissional e doméstico e que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos (p.97).
Para Santos et al. (2007), o lazer é uma prática social, independente de tempo, espaço,
atividade, relacionada à intencionalidade, à relação com outros seres tendo como pano de fundo o
mundo.
É importante destacar que, a definição que venho construindo acerca do lazer, a partir da
disciplina cursada, relaciona o lazer à: necessidade/direito que o ser humano tem desde sempre de
fazer aquilo que mais aprecia. Independe de tempo, pois na atualidade (mundo capitalista) cada um
busca dentro do seu dia/ semana seu momento de lazer. Também não depende de espaço, pois é
possível encontrar momentos de lazer em espaços sem grande infra-estrutura e não encontrar lazer
em espaços teoricamente estruturados. Entendo, ainda, que independe de condição social, pois
ter/não ter dinheiro significa/não significa encontrar mais possibilidades de lazer. O ponto principal
é a intencionalidade, ao que se quer fazer no seu momento de lazer e como aproveitá-lo.
Partindo desta reflexão, surgiu uma oportunidade interessante de trabalho/encontro/troca
dentro da Escola onde trabalho, localizada na cidade de Rio Claro/ SP.
No ano de 2008, um grupo de funcionárias, professoras e até coordenadoras ao saber da
realização do inédito campeonato de futsal feminino, organizado pelas alunas do Ensino Médio
juntamente com o torneio masculino, indagou-me a respeito da não participação de um grupo (time)
das mesmas.
Justifiquei-me alegando que havia, na época, estendido o convite, mas que não houve muitas
adeptas à idéia, deixando minha proposta um pouco de lado. Passado o final do torneio, uma das
funcionárias sugeriu a realização de um “jogo amistoso” entre o time campeão do torneio e um time
formado pelas mesmas, que treinariam algumas vezes antes do jogo. Diante da impossibilidade de
todos (professoras, funcionárias, direção e até mesmo, minha e de espaço) ficou combinado que nos
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encontraríamos duas vezes antes do amistoso. Surgiu então uma idéia que foi compartilhada por
mim a todas as participantes do grupo: formaríamos um grupo de lazer dentro da Escola, aberto a
professoras, funcionárias, coordenação e direção, que teria como objetivos:
* Identificar os locais e práticas de Lazer dos profissionais que trabalham na escola;
* Proporcionar momentos de integração, atividades em grupo, cooperação, superação da timidez,
quebra de hierarquia (participação desde os profissionais que têm as funções mais simples, até a
direção da Escola);
* Refletir sobre as possibilidades de lazer que a escola oferece, criando a consciência da
necessidade do lazer no dia-a-dia de todos e reivindicando espaços para que o grupo se expresse
corporalmente, artisticamente e que seus membros usufruam como cidadãos de seus momentos de
lazer.
A escolha do público feminino se justifica pela abertura dada pelas participantes ao
aprendizado de novos jogos e atividades, diferentemente do público masculino (professores,
funcionários, pais, coordenadores), que possuíam seu horário de Lazer dentro da instituição, porém
restringiam o mesmo à prática do esporte não dando a abertura à iniciativa proposta.
Além desses objetivos, referentes ao grupo de Lazer, quando fiz a sugestão da criação do
mesmo, estava pensando um pouco mais à frente, na busca de soluções para problemas encontrados
dentro do nosso dia-a-dia, na quebra de alguns dos paradigmas que cercavam e cercam a Educação
Física dentro da escola (tais como, componente curricular menos importante; aulas somente para
recreação; “Educação Física é sinônimo de esporte”, se restringindo ao trabalho com as
modalidades esportivas).
Particularmente, tornou-se um grande desafio, pois determinei como objetivos deste trabalho
compreender as aprendizagens ocorridas, assim como, se estas contribuíram/contribuem para a
desmitificação do pensamento sobre a Educação Física Escolar.
Com este intento, na seqüência, será apresentada a revisão de literatura, tendo como foco,
dois eixos principais:
1 - Mitos que cercam a Educação Física Escolar;
2 - O Lazer e a escola.
Estes eixos foram eleitos por sua relevância dentro da temática apresentada, assim como
com a realidade observada na escola.
1. MITOS QUE CERCAM A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Neste capítulo, estabeleço uma reflexão acerca da Educação Física Escolar, componente
curricular obrigatório segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (BRASIL,
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1996), mas que em muitos casos não é considerada desta forma. Quais seriam as possíveis causas
para o “preconceito” em relação a esta área tão importante e quase na totalidade das escolas a mais
popular entre os alunos?
Em sete anos trabalhando como professor, em diferentes escolas e tendo passado por
diferentes níveis de ensino, a Educação Física se mostra cada vez mais instigante e apaixonante por
suas características únicas enquanto componente curricular. São estas:
* Têm caráter prático (muitas vezes o único utilizado pelos professores) o que torna as aulas
extremamente interessantes, pois quase sempre é realizada na “maior sala de aula da escola”: a
quadra, o pátio, campo ou em outras escolas nenhuma dessas áreas ou com possibilidade de
utilização de todas essas áreas. Possibilita aos alunos a saída de um ambiente no qual passam uma
grande parcela de seu período escolar sendo, conforme constatado por mim em algumas escolas, um
dos únicos momentos em que isso acontece;
* Trabalha com o movimento humano, podendo através de atividades lúdicas integrar, aproximar,
incluir e educar um grupo/classe completamente heterogêneo. Particularmente na escola onde
trabalho a possibilidade de fazer um planejamento participativo, levantamento de conteúdos
presentes na cultura de determinada escola/bairro sem a cobrança tão grande em atropelar
conteúdos presentes nos livros, é talvez a única, entre todos os componentes curriculares.
Porém, nem tudo na Educação Física é perfeito e por outro lado, questões como o
distanciamento deste componente curricular em reuniões pedagógicas, o comodismo apresentado
por alguns diretores, coordenadores negando o oferecimento da infra-estrutura adequada para os
professores que muitas vezes acabam se conformando com as dificuldades e o aparente
distanciamento de alguns alunos das aulas depois de determinada série (5º ano), faz com que seja
criado um preconceito e desprestígio em relação à nossa profissão.
Na seqüência, apresento algumas características que considero essenciais para o
entendimento de minha inquietação no que se refere a esses mitos que cercam a Educação Física
Escolar: a infra-estrutura e o papel do professor.
1.1 Infra-estrutura
Talvez pelo fato da Educação Física não ser muitas vezes considerada como uma aula como
as demais, o material necessário às aulas é sempre o último a ser adquirido e, geralmente, os
diretores das escolas gostariam que este fosse eterno, não compreendendo que é um material que
possui um tempo de vida útil, como acontece com cadernos, lápis e canetas (BETTI, 1992).
No que se refere ao espaço, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1998a)
apontam que na realidade das escolas brasileiras os espaços disponíveis para a prática e a
aprendizagem de jogos, lutas, danças, esportes e ginásticas não apresentam a adequação e a
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qualidade necessárias. Além disso, para Betti (1992), as quadras deixam a desejar, sem
conservação, sem pintura de linhas ou sem aros.
Alterar esse quadro implica uma conjugação de esforços de comunidade e de poderes
públicos. Nesse sentido, muitas escolas têm recebido benefícios de prefeituras e do governo do
estado para realizarem obras de cobertura em suas quadras, porém uma grande parcela ainda
agoniza com a falta dos mesmos e no que isso acarreta.
As condições materiais acabam, conseqüentemente, interferindo seriamente na satisfação da
aula e de forma geral, no desenvolvimento da mesma. Ainda, segundo Betti (1992), o fato de faltar,
ora espaço, ora material, ou as duas coisas, ou ainda uma falta de visão do professor para que
enquanto alguns alunos estiverem na quadra, outros estejam fazendo uma atividade diferente em
outro espaço, faz com que haja uma falta de motivação à participação. Isto sem contar que a divisão
de equipes não proporciona oportunidades iguais. Quando as turmas são compostas por alunos de
idades diferentes, e com níveis de habilidades diferentes, o problema é ainda maior.
Quanto à duração da aula, Betti (1992) afirma que muitos alunos demonstraram que não
estão contentes com o pouco tempo para as aulas de Educação Física. Preferem quando a aula é
dupla, pois parece haver uma melhor divisão desta. Quando a aula é de 50 minutos torna-se, na
realidade, um pouco mais da metade, porque entre a chamada, as explicações, e a divisão de grupos,
no caso de jogos, são passados preciosos minutos, isto sem contar o aquecimento, quando ocorre, e
o grande número de equipes formadas para jogar, no caso das turmas numerosas.
1.2 O papel do professor
Betti (1999) ressalta que muitas escolas não possuem espaço para a Educação Física, porém,
enfatiza que muitas vezes quando nos referimos ao espaço consideramos a quadra, bolas oficiais
etc. Para a autora a falta dessas condições não significa que a Educação Física está agonizando. É aí
que entra o papel do professor como motivador e educador, procurando nessas dificuldades crescer
e criar alternativas para a Educação Física, como a improvisação de materiais (sucata) e de espaço
(não necessariamente a aula de Educação Física tem que ser realizada numa quadra). Nesta
perspectiva, as aulas podem ser ministradas dentro da sala de aula, em gramados etc.
Segundo Freire (1997), qualquer material pedagógico será mais rico se for variado. Muitos
professores de Educação Física ensinam, por exemplo, voleibol para as crianças fazendo uso apenas
de uma bola oficial, alegando que assim a aprendizagem será mais direta, rápida e eficiente. Pois, se
nem para o voleibol isso seria indicado, porque a escassez de experiências reduziria as
possibilidades do jogo, muito menos em se tratando de uma educação integral, quando seria
condenável o direcionamento exclusivo para um esporte, ainda por cima utilizando um material tão
desafiador em condições tão limitadas.
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O autor ainda descreve que as lamentações quanto à falta de material para se trabalhar são
eternamente as mesmas. O que não se pode é deixar de promover a experienciação. Para o autor a
falta de criatividade é um dos graves empecilhos para uma Educação Física de melhor qualidade. O
que falta nas escolas, na maioria das vezes, não é material, é criatividade. Ou melhor, falta o
material mais importante, pois a criatividade quase nunca é ensinada nas escolas de formação
superior.
Molina Neto (1998) ressalta as dificuldades de infra-estrutura e os baixos salários que fazem
os professores se acomodarem. Essas dificuldades, porém, oferecem a oportunidade para o
professor desenvolver um trabalho criativo. O mesmo autor também ressalta que tais problemas
ocorrem com outras disciplinas, todavia, na Educação Física tem outra dimensão porque raramente
os professores são convidados a discutir os problemas e necessidades de sua disciplina.
A partir dos autores apresentados, fica evidenciado a tendência em transferir a
responsabilidade pelos problemas encontrados única e exclusivamente para o professor que, por sua
vez, sente-se isolado, sem ter a quem recorrer. Acostuma-se a sempre operacionalizar milagres para
ministrar suas aulas e após determinado período, cansado de não conseguir apoio, após sucessivas
tentativas, tende a se acomodar, tornando suas aulas repetitivas ou em muitos casos, tendo uma
prática do “deixar a bola” para que os alunos decidam o que vão fazer naquela aula.
2. O LAZER E A ESCOLA
Em um dos documentos oficiais que tratam sobre o lazer existe uma afirmação recorrente na
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio:
O lazer e a disponibilidade de espaços para atividades lúdicas e esportivas são necessidades básicas e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que os esportes e demais atividades corporais não devem ser privilégio apenas dos esportistas ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a elas para todos é um posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física (BRASIL, 1998a).
Paralelamente a esta afirmação, observo na escola em que leciono, um desprestígio aos
espaços destinados ao lazer sucumbidos pela necessidade de criar ambientes nos quais o aluno
teoricamente possa se desenvolver intelectualmente, tais como: salas de aula, salas de estudo,
laboratórios e até portarias. Não que nesses locais seja impossível a obtenção de momentos de lazer,
se considerarmos a intencionalidade, como característica principal para o desenvolvimento do lazer,
porém os espaços para o lazer ficaram teoricamente restritos e confinados a uma quadra e um pátio.
Como afirmam Silva; Santos; Lemos (2009), a escola atual em seus moldes rígidos e hierárquicos,
que na maioria das vezes cala ou pelo menos não ouve os seus principais atores, busca basicamente
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o processo de inserção de seus alunos e alunas ao mundo do trabalho. Com esta valorização do
trabalho, e para o sistema capitalista tal atitude é compatível, pois trata-se de uma prática social que
é produtiva, útil e rentável, as discussões que têm como foco o lazer são desconsideradas, pois este
é visto como um tempo inútil e improdutivo, o que não entra em consonância com o sistema
mencionado. Enfim, a escola acaba reproduzindo o que ocorre em outros tempos e espaços sociais,
ao supervalorizar o trabalho em detrimento de outras práticas sociais.
Os alunos, por outro lado, mostram-se cada vez mais inquietos, desconcentrados ou, diria
até, aflitos por momentos de lazer e descontração. Então, onde encontram ou teoricamente deveriam
encontrar estes momentos de “lazer”? Os professores que ministram aulas de outros componentes
curriculares são unânimes em afirmar: aulas de Educação Física e Artes. Para Bracht (2003) não
deveríamos responsabilizar exclusivamente um ou outro componente curricular pela educação pelo
lazer, mas sim a escola como um todo, assumindo como tarefa importante, o que implica em
colocar em questão as próprias finalidades sociais da instituição escolar. O mesmo autor diz ainda
não acreditar numa concepção de cultura que isola o lazer do trabalho, da produção e da vida. Pra
ele não existem os chamados espaços e tempos de recreio (não produtivos) nos quais se encaixaria a
Educação Física, considerada por muitos, ainda, como espaço e tempo improdutivos, recreativos.
Considero, na realidade vivenciada dentro da escola onde trabalho, exatamente este aspecto:
os espaços e tempos produtivos, dos componentes curriculares que preparam o aluno para o
vestibular são cada vez mais colocados em evidência.
Por outro lado, as atividades organizadas nas aulas de Educação Física ficam restritas a
pequenos espaços, horários e momentos. Muito deste preconceito em relação à aula de Educação
Física recai pela postura de professores que diante do despreparo, desorganização e falta de
planejamento ainda têm a postura de “deixar a bola” para que os alunos se organizem e decidam o
que vão “jogar”, como ressaltado anteriormente.
Para Bracht (2003) muitas vezes os professores confundem omissão com facilidades para
liberdade de expressão, não participando do processo de desenvolvimento de atividades, encarando-
as, assim, como fins em si mesmas e não como parte de um plano de objetivos educacionais. O
professor passa a atuar como mero espectador no processo de ensino.
De encontro a isso, uma das ações pode ser iniciada na construção de planos de ensino tendo
como temática o lazer. Apresento, assim, alguns excertos dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
importantes a serem considerados:
Na Educação Infantil, segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil (BRASIL,
1998b) há a orientação do ensino pautado na cultura corporal de movimento e acesso a esta através
da experimentação de movimentos, desafios e possibilidades de superação. Com isso, os alunos
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passariam a conhecer mais elementos que favoreceriam suas possibilidades de lazer e a de seus
colegas.
No Ensino Fundamental, segundo os PCN (BRASIL, 1998a), surge como destaque a
reflexão acerca de movimento no sentido anatômico, biomecânico, bioquímico, a fim de conhecer o
corpo humano como um todo e não como um monte de partes juntas. Esta reflexão é extremamente
importante para construir o senso crítico do ser humano no sentido de avaliar um programa de
treinamento físico em uma academia ou escolher a prática de um esporte/atividade somente por
prazer e satisfação; Criar repertório para a construção do senso crítico através de discussões
propostas pela mídia acerca de temas como padrão de beleza/ diferenças nas regiões do Brasil,
anorexia, bulimia, mídia, jornais, televisão e o que nos passam não são modelos a serem seguidos
por todos; Respeito à diversidade de indivíduos, de cultura, de opção, de afinidade com esta ou
aquela atividade, este ou aquele esporte, sem críticas do tipo: o meu é melhor que o seu ou vice-
versa; Desmitificar a lenda que a mídia passa sempre que a prática de jogos, lutas, esportes, dança e
ginástica, são sinônimos de saúde, de lazer, de bem estar (se entendidos desta maneira, levadas a um
extremo, podem conduzir a utilização de doping, dores musculares, lesões, entre outros problemas).
Aqui começa a retomada do processo ao qual o Grupo de Lazer da Escola foi convidado a
participar: a reflexão acerca das atividades propostas a fim de reiterar a aula de Educação Física
como componente curricular que proporciona momentos de lazer.
Uma hipótese recorrente em minhas reflexões é a que pessoas que normalmente não dão o
devido reconhecimento à Educação Física, pela experiência que tiveram com a mesma, ou seja,
experiências não tão boas nas quais eram submetidas a avaliações físicas, separadas por sexo em
todas as atividades, isoladas por suas dificuldades em relação àquela determinada “modalidade
esportiva” trabalhada e nas quais elementos da recreação, do lazer e do lúdico acabaram sendo
deixados de lado.
Muitas destas pessoas acabaram se tornando diretores, coordenadores pedagógicos,
professores, entre outras funções ligadas diretamente à Educação. Para estas seria necessária a
conscientização de que a Educação Física tem se modificado, no que se refere à seleção de
conteúdos, sistematização das aulas, avaliação, em comparação ao período em que os mesmos eram
estudantes, para a derrubada de paradigmas.
A participação no Grupo de Lazer da Escola seria uma grande oportunidade de observar o
movimento, as práticas corporais sobre outro aspecto: como responsável, mas não unicamente pela
promoção do lazer.
Rangel et al. (2005), apresentam a importância da inclusão de estudos sobre lazer escolar e
propõem ações que podem ser viabilizadas no grupo e dentro da instituição, tais como:
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- incentivar as práticas físicas e esportivas vivenciadas fora da escola e relatadas pelos alunos ao
professor;
- privilegiar os conteúdos das aulas de Educação Física escolar, a fim de contribuir com vivências
potencializadoras de hábitos saudáveis nos momentos de lazer;
- enfatizar o lúdico, ao propor as vivências de conteúdos culturais físicos e esportivos para suas
possíveis manifestações nos momentos de lazer;
- buscar uma formação crítica do grupo/alunos acerca da cultura corporal, para que possam
discernir informações veiculadas pela mídia;
- demonstrar que o lazer está também na atitude das pessoas, não dependendo somente de fatores
como acesso a equipamentos específicos e recursos financeiros para seu usufruto;
- incentivar relações humanas solidárias, respeitosas e inclusivas nas vivências físicas e esportivas.
3. CAMINHOS METODOLÓGICOS
No mês de abril de 2009, foi formado o “Grupo de Lazer” (nome provisório, substituído
posteriormente por “Norma Futebol Clube”, em homenagem a uma das funcionárias da Escola),
oferecido como componente extracurricular a todas as professoras, funcionárias e direção de uma
escola privada, localizada na cidade de Rio Claro-SP.
A priori, as vivências seriam realizadas uma vez por semana no período da noite, nas
dependências da escola ou arredores, com duração prevista de uma hora/uma hora e meia, mas logo
na segunda semana de realização das atividades ficou combinada, com a ajuda de uma das
professoras de Educação Física da escola, a realização dos encontros em dois dias na semana.
Num primeiro momento, minha função seria de mediador no processo de “formatação” do
grupo, promovendo atividades voltadas/relacionadas aos conteúdos da Educação Física, mas à
medida que outros membros do grupo manifestassem suas habilidades, sendo elas relacionadas às
suas áreas ou não, seriam muito bem-vindos e aceitos por todos os participantes. Todos teriam,
assim, oportunidade de ministrar oficinas relacionadas aos trabalhos/atividades que, por exemplo,
fazem como lazer, de acordo com os interesses: físico-esportivo, manual, intelectual, artístico e
social (DUMAZEDIER, 1980), turístico (CAMARGO, 2003) e virtual (SHWARTZ, 2003).
Logo no primeiro encontro realizado no mês de abril de 2009 foi feita uma sondagem para
que as participantes definissem através de sugestões (planejamento participativo) qual seria o
conteúdo abordado num primeiro momento. O conteúdo escolhido pela grande maioria, ainda
bastante empolgada com as atividades realizadas no ano anterior, foi o futsal.
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3.1 Descrição dos Sujeitos
Durante o ano várias pessoas passaram pelo grupo, algumas ficando por algum tempo,
outras apenas tendo uma pequena experiência em alguns encontros ou ainda participando somente
no mês de julho em virtude da mudança de horário dos encontros que favorecia a presença das
mesmas. Particularmente, no mês de julho aconteceram alguns fatos interessantes, os quais
considero pertinentes e merecedores de divulgação:
* a divulgação do Grupo de Lazer feita pelas próprias participantes com o intuito de estimular novas
participantes a se juntarem ao projeto. Considero este acontecimento importante, pois no início
sempre finalizando nossos encontros eu relembrava às participantes que estendessem o convite a
outras pessoas para que o grupo crescesse e, no mês de julho, conforme mencionado o número de
participantes aumentou consideravelmente;
* o início de outro campeonato de Futsal nos moldes do realizado no ano anterior, agora sim com a
participação do Grupo de Lazer “Norma Futebol Clube”;
* a inclusão de categorias novas de participantes. Alunas, coordenadoras e até a esposa de um dos
professores da escola começaram a freqüentar os encontros constantemente.
Como sujeitos desta pesquisa, foram selecionadas seis participantes que freqüentaram o
grupo a mais tempo, destas, duas são professoras, uma funcionária, uma antiga monitora da escola e
duas alunas que se juntaram ao grupo após convite feito pelas participantes. As mesmas foram
entrevistadas no mês de novembro de 2009 conforme será detalhado mais adiante. Suas identidades
foram preservadas por questões éticas adotadas junto às mesmas.
3.2 Descrição das atividades apresentadas/realizadas
O plano de aula/atividades tinha como característica básica a realização, no início das aulas,
de jogos cooperativos, recreativos, relacionados ou não ao conteúdo esporte. Neste momento, os
professores “orientadores” do grupo podiam criar e introduzir novos conteúdos, muitos trabalhados
nas aulas de Educação Física, para apreciação do Grupo de Lazer. Pega-pegas, corridas, caminhada,
jogo dos dez passes, atividades com corda, basquete adaptado, são exemplos de atividades
realizadas neste primeiro momento. Esta estratégia foi adotada para não limitar as aulas somente às
atividades relacionadas a determinado conteúdo, ampliando assim o leque de informações das
participantes acerca da Educação Física.
O segundo momento das aulas começava com um alongamento orientado pelos professores,
seguido pela explicação dos fundamentos do esporte a serem trabalhados naquele dia. Passe,
domínio, condução de bola, chute, posicionamento de defesa/ataque, contra-ataque foram
trabalhados sempre de maneira lúdica e ao final das atividades era feito um breve momento de
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reflexão acerca das atividades realizadas (para que serviam; quando poderia ser utilizada; que
adaptações poderiam ser feitas para otimizá-la etc.).
O próximo momento da aula era a realização do jogo, no qual os professores apresentavam
noções de posicionamento, regras, jogar com o time/jogar individualmente, porém, eram as próprias
participantes que decidiam através de uma rápida conversa quem iria jogar em cada uma das
posições. Durante o jogo era pedido para que as “alunas” trocassem de posição a fim de
experimentar todas e identificar-se mais com uma.
Finalmente, como último momento da aula, era desenvolvida a reflexão sobre as atividades
apresentadas/realizadas, o jogo, dificuldades encontradas, formas de superá-las, evolução de todos
enquanto grupo e individualmente. Neste momento, no início, enquanto professor, falava muito
mais que o grupo, porém, com o decorrer dos encontros, o diálogo evoluiu naturalmente, tornando
as trocas de informações e experiências extremamente dinâmicas.
Para este trabalho foi feita a opção pela pesquisa qualitativa, a qual daria um maior
parâmetro para a coleta e análise de informações. Para Negrine (1999), a base desse tipo de
investigação se concentra na descrição, análise e interpretação das informações recolhidas durante o
processo investigatório. Para André (1995), o principal instrumento para esse tipo de pesquisa é o
próprio relator que deverá ser muito fiel nos dados descritos, para posteriormente serem analisados
e bem interpretados.
Dentro desse tipo de pesquisa foi utilizado como instrumento para a coleta de dados a
pesquisa qualitativa com inspiração na fenomenologia, modalidade fenômeno situado (MARTINS;
BICUDO, 1989), sendo que na coleta dos discursos dos participantes do Grupo de Lazer lhes foram
propostas três interrogações apresentadas a seguir:
1- Fale sobre suas aprendizagens como participante do Grupo de Lazer. (Aprendizagens em relação
à organização da aula, ao esporte, a vida, conscientização etc.).
2- Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e outras experiências corporais?
(Se as aprendizagens ocorridas no Grupo de Lazer ampliaram ou não suas experiências corporais).
3- Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e a Educação Física Escolar?
(Memórias referentes à estruturação da aula na época em que as participantes eram alunas e
praticavam, ou não, Educação Física na escola em comparação com a atual fase do Grupo de
Lazer).
As questões foram as indicadas anteriormente, mas à medida que as entrevistadas
demonstraram dificuldade na compreensão das mesmas, foram feitas intervenções por parte do
entrevistador no sentido de explicitar o que havia sido perguntado. Suas falas foram gravadas em
fitas cassete magnéticas, para posterior transcrição integral. Todos os discursos coletados foram
transcritos rigorosamente na íntegra para posterior análise.
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Observa-se que as transcrições, por vezes, possuem erros do ponto de vista da língua
portuguesa culta, pois foi mantida a fala original dos sujeitos entrevistados, conforme suas
pronúncias, ou seja, manteve-se o discurso ingênuo, no sentido de genuíno, entendido como dado
original primário (GONÇALVES JUNIOR, 2003).
Esclarece-se que, após a transcrição integral dos discursos (descrições dos sujeitos),
ocorreram as seguintes fases, descritas por Gonçalves Junior (2003):
• Identificação das Unidades de Significado
Após realizar várias vezes a leitura da descrição, fez-se o levantamento de asserções que
foram significativas, no que se refere à interrogação empreendida. Trata-se do estabelecimento de
unidades de significado, as quais aparecem sublinhadas nas descrições transcritas dos sujeitos.
• Matriz nomotética
Refere-se a uma análise do geral, na qual buscou-se uma normatividade através da
comparação dos vários discursos coletados. Envolve, através de um movimento do individual para o
geral, uma compreensão das proposições individuais como exemplo de algo mais geral, ou seja,
uma generalidade das proposições individuais nas quais se baseia.
A matriz nomotética se compõe de uma coluna à esquerda onde se expõe às categorias
provenientes dos discursos dos sujeitos interrogados. As categorias são classificações organizadas
pelo pesquisador com base nas asserções encontradas nos discursos dos sujeitos participantes da
pesquisa.
Para a construção da matriz, foi necessária também a disposição da identificação dos
discursos dos sujeitos, que foi realizada através da numeração das descrições com algarismos
romanos, dispostos na parte superior da matriz em uma seqüência horizontal.
Abaixo da seqüência dos discursos identificados e do lado direito das categorias,
estabeleceram-se as caselas, nas quais estão dispostos os números arábicos da unidade de
significado correspondente àquela categoria e discurso, não se perdendo assim, a origem da referida
unidade.
• Construção dos Resultados
Última fase da pesquisa, em que se busca uma compreensão do fenômeno, baseando-se
diretamente nos dados da matriz nomotética, a qual pode revelar idiossincrasias (individualidade de
proposições por parte de um dos sujeitos), proposições convergentes e/ou divergentes.
Independente da saturação ou não das categorias, todas as proposições foram consideradas,
pois ainda que estas perspectivas acerca da temática abordada nas três questões não estejam
saturadas, fica claro que elas existem e dão existência às diversas perspectivas devido a inesgotável
abrangência das mesmas.
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4. ENTREVISTAS
Sujeito I – Professora:
Questão 1: Fale sobre suas aprendizagens como participante do Grupo de Lazer. (Aprendizagens
em relação à organização da aula, ao esporte, a vida, conscientização etc.).
Sujeito I: Em relação às atividades eu aprendi muito porque nunca eu joguei futebol, gosto das
atividades..., são criativas..., bem elaboradas e atingiu os meus objetivos. (1) Em relação ao pessoal
é um grupo muito unido, brincalhão, mas sempre um respeitando o outro (2) e chega a ser um Lazer
mesmo, uma recreação.
Entrevistador: Você considera estas aprendizagens que você teve no Grupo de Lazer importantes
só relacionadas assim ao futebol?
Sujeito I: Não!
Entrevistador: Relacionadas a mais o que?
Sujeito I: Ao convívio? A gente aprende, conhece mais um pouquinho dos participantes do grupo.
(3)
Questão 2: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e outras experiências
corporais? (Se as aprendizagens ocorridas no Grupo de Lazer ampliaram ou não suas experiências
corporais).
Entrevistador: Se as atividades eram só repetição, se as atividades em só pra você repetir um
movimento ou era mais relacionado ao jogo, desenvolvimento das habilidades através desse jogo.
Sujeito I: Tinha de desenvolvimento das habilidades, tinha de integração... tinha de recreação e era
isso aí, eram variadas. A atividade com as bolinhas de tênis também foi nova e interessante. (1)
Questão 3: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e a Educação Física
Escolar? (Memórias referentes à estruturação da aula na época em que as participantes eram alunas
e praticavam, ou não, Educação Física na escola em comparação com a atual fase do Grupo de
Lazer).
Entrevistador: Como você vê uma aula de Educação Física escolar. Você acha que é mais ou
menos relacionada, é mais ou menos nos moldes da aula do Grupo de Lazer ou você vê uma
diferença?
Sujeito I: Que eu vejo hoje? Ou que eu via?
Entrevistador: Através das suas experiências enquanto participante do Grupo de Lazer desde o
início. Você sabe a estrutura da aula do Grupo de Lazer. Considerando uma aula de Educação Física
escolar, você acha que é mais ou menos desse jeito.
338
Sujeito I: Eu acho que varia de professor pra professor. Eu acho que uns 70% seguem essa linha de
ter um começo, um meio e um fim. (1) Os 30% restantes não...é deixa os alunos decidirem o que
vão fazer e faz lá o que você quiser (2) E fica esperando só.
Entrevistador: E como, pelo menos dentro da sua experiência com Educação Física escolar, que
você foi aluna, como estudante de Educação Física, como participante de outros grupos, como você
pensa que seria uma aula “ideal” de Educação Física?
Sujeito I: Elaborar atividades de acordo com a idade que você for trabalhar, (3) ter um começo, um
meio e um fim. Atividades interativas pra aquecer, a principal que você for trabalhar e a mais
tranqüila no final. Eu enxergo assim!
Sujeito II – Estudante:
Questão 1: Fale sobre suas aprendizagens como participante do Grupo de Lazer. (Aprendizagens
em relação à organização da aula, ao esporte, a vida, conscientização etc.).
Sujeito II: Fiz novas amizades (1), melhorou meu desempenho no futebol (2) e ajudou no meu
condicionamento. (3)
Questão 2: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e outras experiências
corporais? (Se as aprendizagens ocorridas no Grupo de Lazer ampliaram ou não suas experiências
corporais).
Entrevistador: Se o Grupo de Lazer trouxe no seu cotidiano ou na sua experiência outro tipo de
aprendizagem, pois a gente sabe que o principal foco era o futebol, certo! Mas, se além do futebol,
trouxe outras experiências corporais que você lembra ou que você acha que foram importantes
desde o começo?
Sujeito II: Experiências corporais?
Entrevistador: Experiências corporais é tudo: recreação, atividades relacionadas a outros esportes.
Sujeito II: Ah, ta! Tiveram jogos diferentes que eu nunca tinha jogado, foi bem legal... (1)
Entrevistador: Você pode dar um exemplo de jogo diferente?
Sujeito II: Era rúgbi? Flagball e tiveram outros...
Entrevistador: E mesmo com relação ao foco principal, o futebol, você acha que todas as
atividades que você participou aqui, eram razoavelmente conhecidas, ou eram atividades novas,
interessantes ou não tão interessantes, você pode falar um pouquinho sobre isso?
Sujeito II: Ah, algumas eram novas e bem interessantes, eu gostei de todas, todas foram legais! (2)
Questão 3: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e a Educação Física
Escolar? (Memórias referentes à estruturação da aula na época em que as participantes eram alunas
339
e praticavam, ou não, Educação Física na escola em comparação com a atual fase do Grupo de
Lazer).
Entrevistador: Quais as relações entre essas aprendizagens, com relação à aula que a gente têm
aqui normalmente, o esqueminha da aula... Quais as relações que você faz entre a aula que a gente
tem aqui e a Educação Física Escolar, a sua Educação Física Escolar, não só no Ensino Médio, mas
também no Ensino Fundamental, se é parecido com o que você aqui a aula que você tinha lá?
Sujeito II: Ah, algumas coisas eram parecidas, as brincadeiras, lembra mais o Fundamental (1),
porque no Ensino Médio não é tanto, a gente só jogava, só joga (2), né?, não tem recreação e as
brincadeiras são legais porque ajuda do mesmo jeito.
Entrevistador: E, você falou que as atividades realizadas lembram as atividades do Ensino
Fundamental, você pode dar algum exemplo?
Sujeito II: Base 4!
Entrevistador: Já tinha jogado no Ensino Fundamental? Aqui mesmo nessa escola?
Sujeito 2: E, deixa eu ver, tinha outra, ah, que eu lembre é essa!
Entrevistador: Com relação à estrutura da aula, você falou que no Ensino Médio é mais chegar e
jogar, no Ensino Fundamental era diferente? E aqui como é que você vê as aulas?
Sujeito 2: No fundamental era diferente, tinha a brincadeira, muitas vezes não tinha o jogo (3). O
jogo assim futebol, vamos jogar futebol, vamos jogar basquete, podia ser só a brincadeira que era
bem legal! E, aqui também, aqui você tem um pouco dos dois, que é mais legal ainda.
Sujeito III – Funcionária:
Questão 1: Fale sobre suas aprendizagens como participante do Grupo de Lazer. (Aprendizagens
em relação à organização da aula, ao esporte, a vida, conscientização etc.).
Entrevistador: Essas aprendizagens podem ser em relação às aulas, quanto à convivência, quanto à
vida, quanto ao esporte, o futebol que era nosso principal foco, ou outras coisas.
Sujeito III: Aprendizagens... Relacionamento, se tornou um grupo muito legal, onde a gente pode
conversar sobre tudo (1), coisas pessoais, coisas cotidianas, um tira sarro do outro. Descobrimos
que nós temos capacidade, que mal sabíamos chutar e hoje em dia agente até troca passes e tenta
fazer o gol (2), quer dizer capacidade! Se me perguntasse se você sabe jogar, eu diria não, imagina!
Agora se me perguntarem: - Você quer tentar jogar handebol? Eu falo: - Quero! Porque eu acho que
eu vou ser capaz de fazer, então acabou desenvolvendo em nós uma auto-estima maior (3), eu acho.
Questão 2: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e outras experiências
corporais? (Se as aprendizagens ocorridas no Grupo de Lazer ampliaram ou não suas experiências
corporais).
340
Entrevistador: Eu sei que nosso foco principal aqui é o futebol, só que além do futebol, você
percebe outras atividades trabalhadas, que trabalham outras coisas que você não conhecia
anteriormente, relacionadas a condicionamento físico, recreação, conhecimento sobre outros
esportes, atividades diferentes.
Sujeito III: Eu descobri, eu acho assim, que a gente vem treinar, o nosso objetivo hoje é o futsal,
mas ao mesmo tempo nós estamos trabalhando o nosso corpo e a gente acaba fazendo uma
academia sem perceber. Todo mundo acabou percebendo que o corpo modelou, que não sei o que
aumentou, que não sei o que endureceu, então a gente acaba fazendo (1), eu que sou sedentária, não
gosto de exercício físico, se me falarem vamos na academia! Eu digo: - Não vou! A gente acaba
trabalhando o corpo de uma forma legal, que você nem percebe.
Questão 3: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e a Educação Física
Escolar? (Memórias referentes à estruturação da aula na época em que as participantes eram alunas
e praticavam, ou não, Educação Física na escola em comparação com a atual fase do Grupo de
Lazer).
Entrevistador: Por exemplo, se você acha que o esquema da nossa aula é legal ou que na sua época
de estudante você trabalhava mais ou menos do mesmo jeito, de uma maneira diferente sendo
melhor ou pior.
Sujeito III: Ah, o nosso esquema é melhor! Eu acho assim que acabou todo mundo falando que não
queria jogar futsal, mas era futsal que todo mundo queria jogar, então ficou meio que a maioria
venceu. Me fez lembrar a época que eu estudava, não Ensino Médio, porque eu não podia fazer
Educação Física porque eu já trabalhava, mas a época que eu fazia a minha 5ª, 6ª, 7ª série, que lá eu
gostava de fazer exercício. Aí eu falo: - Não gosto de fazer exercício, sou sedentária, mas não, estou
aqui todos os dias eu acabo vindo porque eu acho que lá no fundo faltava isso, alguém como você,
para encabeçar alguma coisa, pra incentivar a gente a formar esse grupo e agora eu não me importo
que apareça três ou quatro meninas, mas desde que elas apareçam, agora gosto do esquema e acho
que ele está muito bem estruturado. O caminho é por aí mesmo!
Entrevistador: Você lembra mais ou menos como era o esquema da sua aula de Educação Física
no Ensino Fundamental?
Sujeito III: Lembro, eu tinha uma professora que ela era muito focada no vôlei, então eu aprendi
assim que todo professor acaba gostando de alguma atividade e seus alunos acabam seguindo. (1)
Então era sempre vôlei, ela não parava pra ouvir nossa opinião, rodeava, rodeava e acabava no vôlei
(2), tanto é que nesses jogos infantis a gente só treinava vôlei, só participava do vôlei, mas eu
gostava também.
341
Sujeito IV – Professora:
Questão 1: Fale sobre suas aprendizagens como participante do Grupo de Lazer. (Aprendizagens
em relação à organização da aula, ao esporte, a vida, conscientização etc.).
Entrevistador: As aprendizagens podem ser em relação às aulas, ao esporte em si... nosso tema
principal o futebol, aprendizagens que você vai levar para a sua vida em relação a relacionamento,
convivências ou outras coisas.
Sujeito IV: Bom, em relação ao futebol eu nunca joguei, então tudo o que eu estou fazendo aqui eu
estou aprendendo (1), começando do zero. É, em relação a convivência eu estou aqui com pessoas
que eu conheço a muito tempo, mas que eu passei a ver de outro modo agora e a amizade, é lógico,
foi se ampliando. (2)
Questão 2: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e outras experiências
corporais? (Se as aprendizagens ocorridas no Grupo de Lazer ampliaram ou não suas experiências
corporais).
Entrevistador: Se as aulas aqui do Grupo de Lazer ampliaram um pouquinho o leque de atividades
que você conhecia em relação a Educação Física, como você tinha falado sobre o futebol e outras
experiências além do futebol se você aprendeu outras coisas relacionadas agora às atividades.
Sujeito IV: É, principalmente o futebol mesmo! Fora outras brincadeiras que a gente faz quando
tem o aquecimento, esporte em grupo (1), enfim, praticamente tudo eu tô começando agora a fazer.
Entrevistador: Eu gostaria que você falasse um pouquinho das expectativas que você tinha quando
você entrou relacionado ao futebol. Você achava que você ia dar conta, que você sente hoje?
Sujeito IV: Eu achei que eu não ia conseguir! Eu achava muito difícil e, agora eu sinto que eu
percebo quando eu erro e a cada partida para mim é uma superação. Às vezes eu tendo a recuar,
quando eu percebo que é um desafio muito grande pra mim, a minha vontade é parar, sair, que eu já
tive crise aqui que quem faz sabe! Daí eu penso que tá tão bom pra mim que eu penso que vale a
pena eu superar isso e continuar. (2) E eu acho que o grupo também acolhe muito bem, conseguindo
entender essa dificuldade.
Questão 3: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e a Educação Física
Escolar? (Memórias referentes à estruturação da aula na época em que as participantes eram alunas
e praticavam, ou não, Educação Física na escola em comparação com a atual fase do Grupo de
Lazer).
Entrevistador: É um pouquinho do que eu tinha falado pra você antes, gostaria que você fizesse
um paralelo entre as aulas aqui do nosso grupo e as suas aulas de Educação Física no Ensino
342
Fundamental I, Ensino Fundamental II, Ensino Médio, ou se você já era participante em outros
grupos.
Sujeito IV: Bom, posso dizer primeiro em relação aos alunos? Os alunos, os professores de
Educação Física percebem aspectos nos alunos, que às vezes a gente como professora na sala de
aula não percebe. E eu enquanto participante comecei a sentir a dificuldade que é trabalhar algo
muito mental, que você tem que entender aquilo e sentir aquela idéia e se esforçar pra conseguir
colocar na sua cabeça e compreender enfim aquilo que você está trabalhando. E, aprender com o
corpo tem um outro aspecto ainda, que além de você entender, você tem que conseguir fazer, e isso
pra mim é difícil, porque eu sempre lidei com outro aspecto que é entender e partir pra escrita, mas
entender fisicamente é difícil (1)! Eu entendo, mas não consigo fazer! Então, agora só a pratica pra
fazer com que eu consiga algumas coisas.
Entrevistador: Agora só pra terminar! Você lembra mais ou menos como era o esquema das suas
aulas de Educação Física, não precisa falar onde era, que você falasse um pouquinho se era mais ou
menos parecido com o nosso esquema de aula, se era diferente, se você acha que nós tivemos um
avanço aqui ou se era melhor lá?
Sujeito IV: Eu acho que teve um avanço grande sim, porque na minha época era muita competição
e, eu acho até que foi isso que me inibiu um pouco (2). Porque eu lembro que no começo, até a 4ª
série, eu sempre fui muito bem, participava de Olimpíada e com o tempo isso foi morrendo em
mim, foi um aspecto que eu não trabalhei muito bem (3). Depois mais velha eu fui fazer dança, mas
ficou uma coisa meio desajustada, né?, e agora que eu estou voltando a fazer eu to sentindo que
realmente foi alguma coisa que travou lá atrás, porque é assim, eu nem me lembro de fazer
alongamento e aquecimento pra começar a aula, então eu vejo o esquema que há algum tempo eu
vejo o pessoal fazer aqui no Colégio eu não me lembro de fazer naquela época. (4) Se bem que tem
gente que ainda faz! Aquela coisa do professor sentar e os alunos ficarem jogando câmbio,
queimada, né?, e quando no fim da aula dá o sinal e todo mundo vai embora (5). Então eu acho que
foi isso que me desmotivou também, na adolescência a gente já fica mais tendencioso a não fazer,
então eu parei! Parei com esportes né?, porque dança eu cheguei a fazer.
Sujeito V – Estudante:
Questão 1: Fale sobre suas aprendizagens como participante do Grupo de Lazer. (Aprendizagens
em relação à organização da aula, ao esporte, a vida, conscientização etc.).
Entrevistador: Essas aprendizagens podem ser em relação às aulas, quanto a convivência, quanto a
vida, quanto ao esporte, o futebol que era nosso principal foco, ou outras coisas.
Sujeito V: Convivência, hã, a diferença de idade é bem grande , aí... do que as minhas amigas, mas
é legal! (1) No esporte aprende as funções melhor (2), treina.
343
Questão 2: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e outras experiências
corporais? (Se as aprendizagens ocorridas no Grupo de Lazer ampliaram ou não suas experiências
corporais).
Entrevistador: No que as aprendizagens ocorridas aqui no Grupo de Lazer ampliaram ou não as
suas experiências corporais. Se além do futebol, as outras atividades exploradas aqui por nós
durante as aulas foram novas pra você e trouxeram alguns comentários ou algumas práticas
importantes na sua vida ou se, mesmo o que agente fez no futebol foram atividades novas ou
atividades que você já conhecia?
Sujeito V: A maioria foi novo... relacionado a futebol, jogos diferentes que a gente faz (1) e até as
outras aulas que não são relacionadas ao esporte , como futebol americano e fora da quadra também
interessante como a massagem. (2)
Questão 3: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e a Educação Física
Escolar? (Memórias referentes à estruturação da aula na época em que as participantes eram alunas
e praticavam, ou não, Educação Física na escola em comparação com a atual fase do Grupo de
Lazer).
Entrevistador: Se mais ou menos o esquema da nossa aula aqui é o esquema da Educação Física
que você tem atualmente no Ensino Médio, que você teve no Ensino Fundamental ou que você
pensa...como você pensa que seja uma aula de Educação Física, ela deve ter mais alguma coisa do
que nós temos aqui ou se tem alguma coisa a mais para ser melhorada. Então primeiro gostaria que
você falasse um pouquinho, fizesse uma relação um pouquinho sobre como é a nossa aula aqui e
como foi a sua aula no Ensino Fundamental ou na Educação Infantil, no Ensino Médio. Se era
parecido, se você achava mais bacana lá ou se você acha mais bacana aqui?
Sujeito V: Acho bem diferente da Educação Física, porque tem mais...hã... a gente treina mais o
futebol por exemplo, na Educação Física a gente só jogava, sem saber a regras, sem saber mais a
fundo ou em qualquer outro esporte . Acho aqui mais interessante porque a gente não aprendia
muito, que nem na Educação Física a gente só jogava. (1)
Entrevistador: Isso no Ensino Fundamental, no Ensino Médio...
Sujeito V: Nos dois!
Entrevistador: E aí, aproveitando que eu tenho conhecimento que você pretende seguir na área da
Educação Física, o que você pensa entrando agora na faculdade, como você pensa que deve ser o
esquema de uma aula... uma aula bem legal que você gostaria de dar pro seus alunos?
Sujeito V: Devia ser mais...é como chama? É...fazer habilidades, treinar mais habilidades, treinar
mais específico chute, domínio e jogo também, importante e não só voltar a dar um esporte, tipo,
344
mas colocar coisas diferentes, como por exemplo, a gente fez com futebol americano. Todo mundo
gostou, eu acho! Outros tipos de esporte pra conhecer, não só o básico basquete, vôlei e futebol (2),
porque a maioria já conhece né? Atletismo, essas coisas...
Entrevistador: E aproveitando uma coisa que você falou também, mesmo com relação aos esportes
mais tradicionais trabalhados e repetidos ano após ano, que fosse... não sei se essa é a sua idéia,
fosse mais aprofundado no sentido de exploração das regras ou adaptações a esse mesmo jogo pra
que não ficasse sempre aquela repetição...
Sujeito V: Enjoa né? Fica uma coisa chata, muita gente não gosta de jogar por isso!
Sujeito VI – Antiga monitora da escola:
Questão 1: Fale sobre suas aprendizagens como participante do Grupo de Lazer. (Aprendizagens
em relação à organização da aula, ao esporte, a vida, conscientização etc.).
Entrevistador: Essas aprendizagens podem ser em relação às aulas, quanto a convivência, quanto a
vida, quanto ao esporte, o futebol que era nosso principal foco, ou qualquer outro tipo de
aprendizagem.
Sujeito VI: Bom, participar do grupo pra mim eu acho uma atividade legal porque sai fora da
minha rotina, da minha correria do dia-a-dia (1) e eu acho interessante porque a gente passou por
uma série de atividades, desde fundamento (2), é relações de esforço físico (3), de interação, eu
acho bacana algumas atividades que tem envolvidas alguma coisa de dinâmica, de trabalhar em
grupo (4), então assim, pra mim ta sendo aprendizado em todos os sentidos principalmente, que
seria talvez o meu objetivo quando eu entrei seja fundamento mesmo do esporte futebol, mas daí eu
percebi que você mescla com uma série de outras atividades que estão evoluindo pra outras
características que eu nem buscava a princípio, mas que hoje eu já percebo que tem uma
importância muito grande porque faz uma série de interação com outros fatores (5) que não só o
futebol em si.
Questão 2: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e outras experiências
corporais? (Se as aprendizagens ocorridas no Grupo de Lazer ampliaram ou não suas experiências
corporais).
Entrevistador: Se as aprendizagens ocorridas aqui no Grupo de Lazer ampliaram, ou não, as suas
experiências corporais. Essas experiências corporais podem ser em relação ao nosso principal foco
o futebol, as atividades realizadas além do futebol ou as atividades realizadas por outras pessoas
como a outra professora de Educação Física, então se essas atividades foram novas, se você achou
importante ou se a maioria já eram conhecidas suas?
345
Sujeito VI: Fora o que a gente tem de... porque fundamentos eu já tinha feito em outras épocas,
então, até então não foram novidade. Fora isso, todas as atividades pra mim são novas! Essas
atividades de aquecimento que a gente faz, eu, na minha época de estudante nunca tinha feito, a
atividade que a outra professora de Educação Física deu também e são coisas que vão
acrescentando (1), pelo menos pra mim, tem dia que eu chego aqui numa pilha e vou pra casa de
boa, consigo trabalhar depois porque é realmente uma atividade de lazer, nem só um esporte que
além de tudo é bom porque é uma atividade física, mas também neste sentido de descontração. (2)
Questão 3: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e a Educação Física
Escolar? (Memórias referentes à estruturação da aula na época em que as participantes eram alunas
e praticavam, ou não, Educação Física na escola em comparação com a atual fase do Grupo de
Lazer).
Entrevistador: Gostaria que você fizesse uma retrospectiva para a sua época de participante das
aulas de Educação Física, como eram essas aulas, se eram parecidas com as nossas aulas, se você
achava que a Educação Física era aquilo e através do Grupo de Lazer achou que era outra coisa.
Sujeito VI: A atividade que a gente faz é bem diferente da minha época de aluna de Educação
Física quando, pelo que eu me lembro, a gente tinha só a segunda parte que era aquecimento,
fundamento e jogo em todos os esportes. (1)
Entrevistador: E era sempre esporte?
Sujeito VI: Sempre! Aí a gente tinha que escolher ou fazia futebol ou handebol, você escolhia o
módulo que você queria. Como eu gostava de um, eu só fazia futebol, então a gente não passava por
outros esportes, então eu não aprendi muito de basquete, de vôlei, só que eu fazia o que eu gostava,
então não tinha atividade de integração mesmo. (2)
Entrevistador: Ahã! E isso a partir de quando você lembra que essas atividades eram dessa
maneira, vocês faziam a escolha e vocês direcionavam mais a isso?
Sujeito VI: Isso foi no... Colegial! Quando era até a 8ª era por período, então tipo, os dois primeiros
meses era um, outros dois outro, ia mudando assim a gente fazia um pouquinho de tudo.
Entrevistador: Mas sempre relacionado a esporte?
Sujeito VI: Sempre!
Entrevistador: Você lembra mais ou menos quais esportes eram trabalhados?
Sujeito VI: Eu acho que era futebol, handebol, basquete e vôlei. Mas eu acho que o foco maior...
basquete não era muito porque menina não, eu acho que não gostava muito, no geral as meninas não
gostavam muito. E era assim, não tinha essas atividades, então eu acho que é bem interessante
porque ela trabalha mais convivência, eu acho que é o momento que sai da sala de aula e você vai
fazer outras coisas. (3) Quem não gosta, eu gostava, mas quem não gostava de esporte não gostava
346
da aula de Educação Física porque era só jogo, se tem atividade diferente acaba que faz com que
todo mundo participe melhor. (4)
5. CONSTRUÇÃO DOS RESULTADOS
Os resultados que serão apresentados a seguir foram organizados em categorias que
emergiram a partir dos discursos das participantes entrevistadas, que, por sua vez, desvelaram suas
perspectivas acerca de suas aprendizagens, relações com outras experiências corporais e com as
aulas de Educação Física.
Vale salientar, que nesta perspectiva metodológica, os discursos das participantes não
precisam ser confrontados com “falas” de autores acadêmicos, pois são relevantes e expressam a
descrição de suas compreensões acerca da temática estudada.
Em alguns casos são observadas caselas vazias na matriz construída, indicando que a
depoente não expressou asserção correspondente àquela categoria.
Quadro 1 – Matriz Nomotética – Questão 1:
Questão: Fale sobre suas aprendizagens como participante do Grupo de Lazer. (Aprendizagens em
relação à organização da aula, ao esporte, a vida, conscientização etc.).
Depoentes
Categorias I II III IV V VI
A. Aprendizagens significativas
relacionadas ao esporte futsal.
1 2 2 1 2 2
B. Aprendizagens significativas não
relacionadas diretamente com o
esporte futsal.
2 1 e 3 1 e 3 2 1 3 e 4
C. Relaxamento para a rotina de
trabalho.
1
D. Interação de fatores inerentes ao
esporte com fatores de convivência.
5
Apresentaremos, a seguir, cada uma das quatro categorias, utilizando-se de fragmentos
provenientes das unidades de significado (atribuídas por nós pesquisadores) dos discursos das seis
participantes da pesquisa, relacionados com a questão número um. Nos fragmentos retirados dos
discursos dos educadores e educadoras, e selecionados para serem expostos ao longo da construção
347
dos resultados, podemos notar letras maiúsculas que aparecem ao lado do número arábico (unidade
de significado) e correspondem à categoria que aquele discurso pertence.
A. Aprendizagens significativas relacionadas ao esporte futsal.
Conforme mencionado anteriormente, o esporte e particularmente o futsal, foi o conteúdo
escolhido pelas participantes do grupo na elaboração do planejamento participativo. Todas as
participantes mencionaram ter tido aprendizagens relacionadas ao esporte, suas regras,
fundamentos, esquema tático, visão de jogo, conforme podemos observar nos seguintes trechos:
“(...) eu aprendi muito porque nunca eu joguei futebol, gosto das atividades..., são criativas..., bem
elaboradas e atingiu os meus objetivos” (Sujeito I – 1A).
“(...) Descobrimos que nós temos capacidade, que mal sabíamos chutar e hoje em dia agente até
troca passes e tenta fazer o gol!” (Sujeito III – 2A).
Nesta categoria observou-se a evolução ocorrida por alguns membros do Grupo de Lazer de
um conteúdo/esporte desde a iniciação a modalidade até a realização de atividades/jogos mais
elaborados e complexos utilizando o futsal.
B. Aprendizagens significativas não relacionadas diretamente com o esporte futsal.
Esta categoria diz respeito às aprendizagens significativas não relacionadas diretamente com
o futsal. Uma delas tem relação com o convívio, conhecimento aprofundado das pessoas, criação de
vínculos de amizade entre todas as participantes como, por exemplo, podemos observar nos
seguintes trechos:
“(...) em relação a convivência eu estou aqui com pessoas que eu conheço a muito tempo, mas que
eu passei a ver de outro modo agora e a amizade, é lógico, foi se ampliando” (Sujeito IV – 2B).
“(...) Convivência, hã, a diferença de idade é bem grande, aí... do que as minhas amigas, mas é
legal!” (Sujeito V – 1B).
O relacionamento entre representantes de diferentes segmentos dentro da escola
(professoras, funcionárias e alunas) mostrou-se extremamente positivo estendendo-se para
encontros posteriores, confraternizações e quebra de hierarquia e timidez de algumas das
participantes.
Outra aprendizagem refere-se à evolução biológica do corpo no sentido de condicionamento
físico, fortalecimento dos músculos, melhoria do sistema respiratório, como podemos observar em:
“(...) ajudou no meu condicionamento.” (Sujeito II – 3C).
“(...) é, relações de esforço físico” (Sujeito VI – 3C).
348
Tais comentários são interessantes, pois começam a demonstrar uma tomada de consciência
em relação a fatores não só relacionados a atividade em si, ou o jogo/esporte pelo jogo/esporte, mas
sim ao exercício físico, um dos responsáveis por uma mudança na qualidade de vida das pessoas.
Também foi encontrada a referência a aspectos trabalhados pelo professor nas suas aulas,
sendo um deles, a auto-estima, como podemos observar em:
“(...) Se me perguntasse se você sabe jogar, eu diria não, imagina! Agora se me perguntarem: -
Você quer tentar jogar handebol? Eu falo: - Quero! Porque eu acho que eu vou ser capaz de fazer,
então acabou desenvolvendo em nós uma auto-estima maior...” (Sujeito III – 3D).
C. Relaxamento para a rotina de trabalho.
Esta categoria referenda as atividades realizadas pelo Grupo de Lazer como sendo um dos
responsáveis pelo relaxamento e descanso para a rotina de trabalho, como podemos observar em:
“(...) participar do grupo pra mim eu acho uma atividade legal porque sai fora da minha rotina, da
minha correria do dia-a-dia...” (Sujeito VI – 1E).
Tal reflexão nos remete a mais uma das facetas da Educação Física como componente
curricular, que é proporcionar momentos de lazer e realização de atividades prazerosas para todos.
Obviamente que não se restringe a isso, mas é inegável que sem esta característica, a Educação
Física não seria tão “popular” entre os alunos dentro da escola.
D. Interação de fatores inerentes ao esporte com fatores de convivência.
Esta categoria complementa e aprofunda o entendimento da concepção que a Educação
Física não tem fim em si só, mas também trabalha com fatores relacionados à afetividade e
fortalecimento de vínculos de amizade, como podemos observar em:
“(...) percebi que você mescla com uma série de outras atividades que estão evoluindo pra outras
características que eu nem buscava a princípio, mas que hoje eu já percebo que tem uma
importância muito grande porque faz uma série de interação com outros fatores que não só o
futebol em si...” (Sujeito VI – 5F).
Quadro 2 – Matriz Nomotética – Questão 2:
Questão: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e outras experiências
corporais? (Se as aprendizagens ocorridas no Grupo de Lazer ampliaram ou não suas experiências
corporais).
349
Depoentes
Categorias I II III IV V VI
A. Desenvolvimento de outros
conteúdos.
1 1 1 2 1
B. Conhecimento de atividades
relacionadas ao esporte futsal.
2 1
C. Superação de dificuldades, limites e
erros.
2
D. Interferindo na qualidade de vida. 1 2
Na seqüência, apresentaremos cada uma das quatro categorias, utilizando-se de fragmentos
provenientes das unidades de significado (atribuídas por nós pesquisadores) dos discursos das seis
participantes da pesquisa, relacionados com a questão de número dois.
A. Desenvolvimento de outros conteúdos.
Conforme citado anteriormente, um dos objetivos do trabalho com o Grupo de Lazer foi o
da apresentação de atividades e principalmente jogos relacionados a outros conteúdos. Esta
categoria foi construída a partir dos excertos de cinco das seis participantes do grupo.
“(...) Tiveram jogos diferentes que eu nunca tinha jogado, foi bem legal...” (Sujeito II – 1A).
“(...) até as outras aulas que não são relacionadas ao esporte, como futebol americano e fora da
quadra também interessante como a massagem...” (Sujeito V – 2A).
Vale salientar, que as atividades e conteúdos trabalhados com o Grupo de Lazer foram
selecionados junto aos conteúdos trabalhados pelos professores em suas aulas do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio. Os conteúdos abordados foram: saúde e qualidade de vida,
práticas corporais alternativas, esportes adaptados e jogos de “quebra-gelo”.
B. Conhecimento de atividades relacionadas ao esporte futsal.
A maioria das participantes do Grupo de Lazer teve contato com o futsal durante as aulas
passando desde atividades/jogos de iniciação ao esporte, até atividades mais complexas
relacionadas ao entendimento mais profundo do jogo. Curiosamente as citações que nos remetem a
esta categoria foram feitas por duas das participantes que tinham maior experiência com o esporte,
tendo passado até por turmas de treinamento.
“(...) A maioria foi novo... relacionado a futebol, jogos diferentes que a gente faz...” (Sujeito V –
1B).
350
“(...) algumas eram novas e bem interessantes, eu gostei de todas, todas foram legais!” (Sujeito II –
2B).
C. Superação de dificuldades, limites e erros.
Esta categoria nos remete ao fortalecimento da auto-estima, como foi mencionado numa das
categorias da questão um, levando as participantes a experienciarem diferentes níveis de dificuldade
apresentados durante as atividades e principalmente nos jogos, objetivando a superação de
limitações pessoais e limitações impostas pela sociedade.
“(...) eu sinto que eu percebo quando eu erro e a cada partida para mim é uma superação. Às vezes
eu tendo a recuar, quando eu percebo que é um desafio muito grande pra mim, a minha vontade é
parar, sair, que eu já tive crise aqui que quem faz sabe! Daí eu penso que tá tão bom pra mim que
eu penso que vale a pena eu superar isso e continuar...” (Sujeito IV – 2C).
D. Interferindo na qualidade de vida.
Categoria que faz referência ao lazer e à prática de atividade física como necessários para a
rotina diária, seja ela de estudo ou trabalho, sendo responsáveis por uma mudança na qualidade de
vida.
“(...) porque é realmente uma atividade de lazer, nem só um esporte que além de tudo é bom porque
é uma atividade física, mas também neste sentido de descontração...” (Sujeito VI – 2D).
“(...) mas, ao mesmo tempo nós estamos trabalhando o nosso corpo e a gente acaba fazendo uma
academia sem perceber. Todo mundo acabou percebendo que o corpo modelou, que não sei o que
aumentou, que não sei o que endureceu, então a gente acaba fazendo” (Sujeito III – 1D).
As participantes demonstraram consciência das mudanças pessoais ocorridas e as associam
com as atividades realizadas pelo Grupo de Lazer.
Quadro 3 – Matriz Nomotética – Questão 3:
Questão: Quais as relações entre as suas aprendizagens no Grupo de Lazer e a Educação Física
Escolar? (Memórias referentes à estruturação da aula na época em que as participantes eram alunas
e praticavam, ou não, Educação Física na escola em comparação com a atual fase do Grupo de
Lazer).
351
Depoentes
Categorias I II III IV V VI
A. A prática da aula livre. 2 2 5 1 1
B. Estrutura da aula influenciando na
participação.
1 e 3 1 e 3 4 2 4
C. Preferências do professor
monopolizando conteúdos.
1 e 2 2
D. Outro olhar para os alunos. 1 3
E. Inibição nas aulas. 2 e 3
Abaixo apresentaremos cada uma das cinco categorias, utilizando-se de fragmentos
provenientes das unidades de significado (atribuídas por nós pesquisadores) dos discursos das seis
participantes, relacionados com a questão número três.
A. A prática da aula “livre”.
Categoria que apresenta que praticamente todas as participantes do Grupo de Lazer já
experienciaram a prática de alguns professores de “rolar a bola” e assumir o papel de organizador
de equipes, árbitro ou nem mesmo isso. Podemos verificar essas afirmações em:
“(...) a gente treina mais o futebol, por exemplo, na Educação Física a gente só jogava, sem saber a
regras, sem saber mais a fundo ou em qualquer outro esporte. Acho aqui mais interessante porque
a gente não aprendia muito, que nem na Educação Física a gente só jogava...” (Sujeito V – 1A).
“(...) Aquela coisa do professor sentar e os alunos ficarem jogando câmbio, queimada, né?, e
quando no fim da aula dá o sinal e todo mundo vai embora...” (Sujeito IV – 5A).
B. Estrutura da aula influenciando na participação.
Aulas relacionadas ao esporte, mas abrangendo formas cooperativas de desenvolvimento são
apontadas como mais interessantes e prazerosas, permitindo a participação de todos, além de
estimular habilidades e capacidades diferentes, abrangendo conceitos, valores e atitudes, como
podemos observar em:
“(...) fazer habilidades, treinar mais habilidades, treinar mais específico chute, domínio e jogo
também, importante e não só voltar a dar um esporte, tipo, mas colocar coisas diferentes como, por
exemplo, a gente fez com futebol americano. Todo mundo gostou, eu acho! Outros tipos de esporte
pra conhecer, não só o básico basquete, vôlei e futebol...” (Sujeito V – 2B).
352
“(...) quem não gostava de esporte não gostava da aula de Educação Física porque era só jogo, se
tem atividade diferente acaba que faz com que todo mundo participe melhor...” (Sujeito VI – 4B).
C. Preferências do professor monopolizando conteúdos.
Nesta categoria ficou evidenciada a influência da preferência por uma modalidade esportiva
na eleição de conteúdos. Foi observada através das falas de duas participantes que apontavam seus
professores, ou até elas mesmas com tendências a direcionar sua prática ao trabalho com uma única
modalidade esportiva, pela experiência adquirida na mesma ou por uma maior facilidade em buscar
atividades e jogos relacionados ao esporte. Podemos observar estas características nos seguintes
trechos:
“(...) Lembro, eu tinha uma professora que ela era muito focada no vôlei, então eu aprendi assim
que todo professor acaba gostando de alguma atividade e seus alunos acabam seguindo...” (Sujeito
III – 1C).
“(...) Como eu gostava de um, eu só fazia futebol, então a gente não passava por outros esportes,
então eu não aprendi muito de basquete, de vôlei, só que eu fazia o que eu gostava, então não tinha
atividade de integração mesmo...” (Sujeito VI – 2C).
“(...) Então era sempre vôlei, ela não parava pra ouvir nossa opinião, rodeava, rodeava e acabava
no vôlei...” (Sujeito III – 2D).
Uma das características da aula, independente do componente curricular, que desperta a
atenção dos alunos é a adequação dos conteúdos à realidade da comunidade com a qual se trabalha.
Na Educação Física esta combinação é extremamente interessante e tende ao sucesso quase sempre,
mas ainda é muito pouco explorada, talvez, devido à dificuldade do professor em abordar diferentes
conteúdos, os quais nem sempre domina. O certo é que muitas vezes o professor é que acaba por
induzir os alunos a segui-lo ministrando aulas sempre relacionadas ao mesmo conteúdo.
D. Outro olhar para os alunos.
Nesta categoria fica presente a valorização do professor de Educação Física por seu olhar
diferenciado em relação aos alunos, observando e captando dificuldades, sejam elas motoras,
cognitivas ou afetivas, as quais os professores que trabalham quase que exclusivamente em sala de
aula não conseguem observar:
“(...) os professores de Educação Física percebem aspectos nos alunos, que às vezes a gente como
professora na sala de aula não percebe. E eu enquanto participante comecei a sentir a dificuldade
que é trabalhar algo muito mental, que você tem que entender aquilo e sentir aquela idéia e se
esforçar pra conseguir colocar na sua cabeça e compreender enfim aquilo que você está
trabalhando. E, aprender com o corpo tem um outro aspecto ainda, que além de você entender,
353
você tem que conseguir fazer, e isso pra mim é difícil, porque eu sempre lidei com outro aspecto
que é entender e partir pra escrita, mas entender fisicamente é difícil...” (Sujeito IV – 1E).
E. Inibição nas aulas.
Categoria construída a partir do discurso de uma das participantes que relatou ter se afastado
das aulas de Educação Física escolar a partir do momento em que o esporte limitou-se à sua prática,
substituindo o prazer, os valores e os conceitos pela competição exacerbada e não reflexiva. A
presença da competição como elemento dominante das aulas de Educação Física aparece segundo
os relatos a partir dos últimos anos do Ensino Fundamental e no Ensino Médio:
“(...) porque na minha época era muita competição e, eu acho até que foi isso que me inibiu um
pouco...” (Sujeito IV – 2F).
Na medida em que a competição não é considerada como elemento dominante nas
aulas/atividades, estabelecem-se outros fatores, como o aprendizado, as discussões e a participação,
como os prioritários a serem desenvolvidos nas aulas de Educação Física:
“(...) eu lembro que no começo, até a 4ª série, eu sempre fui muito bem, participava de Olimpíada e
com o tempo isso foi morrendo em mim, foi um aspecto que eu não trabalhei muito bem...” (Sujeito
IV – 3F).
A não dominância da competição nas aulas de Educação Física aparece, segundo os relatos,
nas primeiras séries do Ensino Fundamental.
CONSIDERAÇÕES
O trabalho com o Grupo de Lazer foi extremamente interessante e surpreendente na medida
em que os discursos coletados, características observadas e dificuldades encontradas estreitaram as
relações dos encontros com as aulas de Educação Física dentro da escola.
O grupo apresentou-se a priori interessado em treinamento, esporte e fundamentos do
mesmo. Esta ainda é a visão da Educação Física para muitos, inclusive alguns alunos meus,
referendada pelas experiências que os mesmos tiveram até àquele momento, pela característica
esportivizada de suas aulas, competição, jogo pelo jogo, esporte pelo esporte.
Porém, será esta a Educação Física que queremos? As respostas coletadas nesta pesquisa
respondem negativamente a esta questão na medida em que a prática do professor em transformar
sua aula em esporte sem variações, privilegiando os indivíduos mais habilidosos em detrimento a
diversidade dos outros com os quais trabalha só acaba por distanciar um número cada vez maior de
alunos das aulas de Educação Física. Atestados, dispensas, atividades concomitantes começam a ser
utilizados como desculpa para a não realização das aulas ou quando isso não acontece o que
354
observamos é a presença de um aluno disperso, desinteressado ou pior ainda, apático, que não
expõe suas opiniões, dúvidas e idéias.
No primeiro encontro a discussão acerca do conteúdo trabalhado e a escolha democrática do
mesmo já demonstrou uma mudança, que para muitas das participantes, talvez nem tenha sido
percebida, mas elas tiveram o direito de serem ouvidas, propuseram suas idéias, ouviram as
sugestões das outras colegas de trabalho, agora “colegas de grupo”, chegando a um consenso.
Ao propor a realização de um planejamento participativo, entre outros aspectos, o professor
está exercitando por um lado, o respeito pelas idéias dos alunos contextualizadas com suas
diferentes realidades, por outro, restituindo o direito a que todos se manifestem sendo ouvidos e
considerados.
As atividades relacionadas a outros conteúdos que não fossem o futsal (escolhido
democraticamente pelo grupo), eram consideradas no início atividades de aquecimento e recreação
preparatórios para o esporte, dissociadas completamente do mesmo. No decorrer dos encontros
essas atividades relacionadas a outros conteúdos, os quais foram citados anteriormente, ganharam
destaque e mereceram ampliação de tempo para sua realização.
Em alguns dos encontros, o conteúdo esportivo nem chegou a ser trabalhado, mas o sucesso
da aula foi notado à medida que existiu uma grande quantidade de participantes que citaram em
suas falas as aprendizagens relacionadas a outros conteúdos.
Darido e Souza Júnior (2007) condenam a prática da Educação Física vinculada apenas a
uma parcela da cultura corporal, os esportes coletivos, especialmente àqueles mais praticados no
Brasil: futebol, voleibol e basquetebol.
Ainda segundo os autores, em virtude da ênfase esportiva, a Educação Física tem deixado de
lado importantes expressões da cultura corporal produzidas ao longo da história do ser humano,
bem como o conhecimento sobre o próprio corpo. Tais expressões – as danças, as lutas os esportes
ligados à natureza, os jogos – e conhecimentos, podem e devem constituir-se em objeto de ensino e
de aprendizagem. Por exemplo, as danças podem estar presentes, com mais freqüência, nas aulas de
Educação Física.
Neste sentido, os jogos cooperativos, esportes adaptados e conhecimento de outras
modalidades foram conteúdos abordados e apresentados ao Grupo de Lazer. As respostas do grupo
à realização das novas atividades foram semelhantes. Houve integrantes resistentes, mas a grande
maioria respondeu positivamente aos questionamentos propostos posicionando-se durante as
discussões realizadas e refletindo sobre as posturas e atitudes.
No que se refere ao conteúdo principal das aulas, o futsal, a ênfase maior no trabalho feito
com o Grupo de Lazer foi a apresentação da modalidade, seus fundamentos, regras e discussões
acerca das dificuldades encontradas pelas participantes durante o processo de aprendizagem e
355
formas de superá-las. Os encontros não abrangeram todos os componentes da modalidade como
discutir estética numa partida de futebol ou refletir sobre as obras de Nelson Rodrigues
(CASTELLANI FILHO, 1993), mas não se limitaram somente ao saber fazer.
A proposição de jogos que explorassem não só fundamentos, mas também as capacidades
físicas agilidade, equilíbrio, coordenação e ritmo foram uma constante, sendo muito bem aceitos
pelas participantes conforme também observado em suas falas.
A aprendizagem e o desenvolvimento de todas as participantes do grupo no transcorrer do
ano de 2009 ficaram evidenciados durante o campeonato de futsal, realizado no mesmo ano dentro
da escola, no qual o grupo “Norma Futebol Clube” disputou jogos equilibrados com as meninas que
cursavam o Ensino Médio, as quais tinham menos idade e quase na sua totalidade, muito mais
conhecimento da modalidade. Os comentários ouvidos pelas participantes foram extremamente
positivos e envaidecedores, incentivando ainda mais o comparecimento das mesmas aos encontros.
Seria impossível também deixar de lado neste trabalho as observações feitas acerca da
sintonia do grupo, seu comportamento e valorização do mesmo como elemento fundamental para
obtenção do sucesso alcançado nos encontros. Desde o início, todas as participantes mostraram-se
atenciosas e companheiras, auxiliando as colegas nos momentos de dificuldade, sejam elas
relacionadas às situações encontradas dentro da aula ou de fora.
Em momentos de angústia, apatia, timidez ou na recepção às novas colegas que passaram e
não permaneceram durante todo o ano, essa turma mostrou-se extremamente especial. Situações nas
quais os professores tiveram de ministrar aulas para duas, três ou quatro pessoas foram observadas
durante esta jornada, mas o esforço e a dedicação daquelas que estavam presentes faziam com que
as atividades se tornassem extremamente positivas e recompensadoras.
Na escola, trabalhando com turmas de trinta e cinco, quarenta ou quarenta e cinco alunos é
muito difícil chegar a este grau de intimidade entre os alunos. Trabalhamos com turmas
heterogêneas nas quais valores observados podem e devem ser respeitados na medida em que todos
possam encontrar seu espaço para se expressar e para amadurecer fisicamente, cognitivamente e
afetivamente.
Neste contexto, encontramos as afirmações de Darido; Souza Júnior (2007), que explicitam
um pouco do que vem a ser trabalhar as dimensões de conteúdos nas aulas de Educação Física.
Particularmente, nos atentamos a dimensão atitudinal, que segundo os autores, seria proporcionar
atividades e situações para que os alunos possam refletir sobre como o ser humano deve ser!
No que se refere à Educação Física os autores nos apresenta alguns exemplos que remetem
ao que seria trabalhar com a dimensão atitudinal na escola. Seriam eles:
� valorizar o patrimônio de jogos e brincadeiras do seu contexto;
356
� respeitar os adversários, os colegas e resolver os problemas com atitudes de diálogo e não
violência;
� predispor-se a participar de atividades em grupos, cooperando e interagindo;
� reconhecer e valorizar atitudes não-preconceituosas relacionadas a habilidade, sexo, religião
e outras;
� adotar o hábito de praticar atividades físicas visando a inserção em um estilo de vida ativo
Para finalizar, gostaria de fazer uma observação que considero extremamente pertinente em
relação às aulas de Educação Física no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio. As falas das
participantes, minha própria experiência enquanto estudante e minhas observações acerca das aulas
realizadas na escola onde trabalho e em outras escolas, me remetem ao conteúdo esportivizado
dessas aulas e ao processo de afastamento que vai tomando conta dos alunos durante os anos.
Propostas para superar esta dificuldade? Inserção de novos conteúdos levando em
consideração a realidade da escola como: ginástica, capoeira, dança, saúde e qualidade de vida,
apresentados através de aulas mais dinâmicas, não caindo no ostracismo e no desânimo de acabar
por reproduzir comportamentos reprováveis como o “deixar a bola” para que os alunos decidam o
que vão fazer estão entre as proposições. Porém, gostaria de mencionar Darido; Souza Júnior
(2007), quando afirmam que:
(...) Transformar opiniões preconceituosas sobre a educação física constitui um enorme desafio para os professores da disciplina. No entanto, desenvolver um ensino inclusivo pode ajudar a superar o já referido histórico da disciplina – que, em muitos momentos, pautou-se por selecionar indivíduos aptos e inaptos. Deve-se levar em conta também que, mesmo alertados para a exclusão de grande parte dos alunos, muitos professores apresentam dificuldades em refletir e modificar procedimentos e atividades excludentes, devido ao enraizamento de tais práticas? Quando o professor desenvolve efetivamente uma atitude inclusiva? Quando apóia, estimula, incentiva, valoriza, promove e acolhe o estudante (p.18).
Esta é, foi e sempre será minha postura dentro do Grupo de Lazer, na busca de parcerias
para a realização de projetos que envolvam um número cada vez maior de participantes, propondo
aos poucos a modificação da estruturação da aula, na tentativa de propor alternativas para a
desmitificação da Educação Física dentro da escola.
A partir dos resultados deste trabalho, podemos afirmar que sinalizações para esta
desmitificação foram encontradas, o que acaba por incentivar uma prática comprometida com a
superação, visando favorecer a formação não fragmentada e significativa dos participantes do
processo educacional.
357
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