Gradientes Alofônicos de Oclusivas Alveolares_freitas_m
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM
Denise Pozzani de Freitas Barbosa
GRADIENTES ALOFNICOS DE OCLUSIVAS ALVEOLARESDO PORTUGUS BRASILEIRO EM UMA SITUAO DE
CONTATO DIALETAL
Dissertao apresentada banca examinadora e aoInstituto de Estudos da Linguagem da UniversidadeEstadual de Campinas como requisito parcial para aobteno do ttulo de Mestre em Lingustica.
Orientadora: Prof Dr Eleonora Cavalcante Albano
Campinas2011
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FICHA CATALOGRFICA ELABORADA POR
TERESINHA DE JESUS JACINTHOCRB8/6879 - BIBLIOTECA DO INSTITUTO DEESTUDOS DA LINGUAGEM - UNICAMP
P879gPozzani, Denise, 1981-
Gradientes alofnicos das oclusivas alveolares doportugus brasileiro em uma situao de contato dialetal /Denise Pozzani de Freitas Barbosa. -- Campinas, SP : [s.n.],2011.
Orientador : Eleonora Cavalcante Albano.Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual de
Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem.
1. Alofonia (Fonologia). 2. Africadas (Fontica). 3.Fontica. 4. Fonologia gestual. 5. Variao (Lingstica). I.
Albano, Eleonora Cavalcante, 1950-. II. UniversidadeEstadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem.III. Ttulo.
Informaes para Biblioteca Digital
Ttulo em ingls:Alveolar stops allophonic gradients of a dialect in contact.Palavras-chave em ingls:
Allophonic gradientsAffricatesPhoneticsGestural PhonologyLinguistic variationrea de concentrao:InexistenteTitulao:Mestre em Lingustica.Banca examinadora:Eleonora Cavalcante Albano [Orientador]Maria Filomena Spatti SandaloCsar Augusto da Conceio ReisData da defesa:08-07-2011.Programa de Ps-Graduao:Lingstica.
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Dedico este trabalho a meus pais,Elisabete e Wagner, e ao Andr.
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AGRADECIMENTOS
professora Eleonora Cavalcante Albano, que tem sido mais do que orientadora nestes
ltimos anos, obrigada por dividir comigo um pouco de tanto conhecimento, obrigada pelo
respeito, amizade e lealdade e por sua preocupao em proporcionar aos alunos uma formao
acadmica do mais alto nvel.
Aos sujeitos desta pesquisa, agradeo a simpatia e a disposio que sempre
demonstraram durante as longas sesses de gravao.
Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr. Filomena Sandalo e Prof. Dr. Csar
Reis, pelas colocaes feitas na defesa. Aos membros suplentes, Prof. Dr. Rui Roth-Neves e
Prof. Dr Wilmar DAngelis, que tambm aceitaram prontamente o convite.
Aos professores Rui e Wilmar, agradeo, ainda, as contribuies no exame de
qualificao. Ao Wilmar agradeo a leitura precisa e ao Rui agradeo todo o apoio, desde o
incio da pesquisa.
Aos professores do Departamento de Lingustica do IEL que contriburam para minha
formao durante os ltimos anos; agradeo, especialmente, a Edson Franozo, Angel Corbera
Mori e Rodolfo Ilari.
Aos funcionrios do IEL, da Secretaria de Ps-Graduao, da Biblioteca e, de maneira
especial, do Setor de Audiovisual, que me ajudaram com equipamentos de udio.
Aos colegas do LAFAPE, Maria Claudia de Freitas, Luciana Lessa Rodrigues, Leonardo
Oliveira, Maria Francisca Soares, Ana Paula Roza, Francisco Menezes e Larissa Rinaldi, que
sempre tornaram o ambiente de estudo e discusso proveitoso e descontrado. Agradeo,
ainda, ao Laudino Roces, por me ajudar a melhorar a qualidade das minhas gravaes, e ao
Antonio Pessotti, pela colaborao na construo do corpusda pesquisa.
A todos os meus colegas de turma do Bacharelado em Lingstica, por terem sido os
meus primeiros companheiros na UNICAMP.
Carolina Hebling, mais que amiga interlocutora e companheira , agradeo a
amizade constante dos primeiros anos do Mestrado. Ao meu parceiro de tantas jornadas, DiegoJiquilin Ramirez, obrigada por me ajudar, incondicionalmente, em tudo.
Ao CNPq, pelo apoio financeiro inicial, e FAPESP, pela bolsa de mestrado.
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A meus pais, Elisabete e Wagner Pozzani, por me apoiarem e incentivarem em todas as
decises importantes. Por fim, meu agradecimento e amor ao Andr, que apoiou com pacincia
todo o percurso dedicado a este trabalho e contribuiu para a melhoria da verso final do texto.
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A vida no nem governada pelavontade nem pela inteno. A vida uma questo de nervos, de fibras e declulas acumuladas, a que o
pensamento se esconde, a que apaixo vive seus sonhos.
Oscar Wilde
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RESUMO
Esta pesquisa descreve aspectos gradientes de uma alofonia do portugus brasileiro (PB);trata-se da palatalizao das oclusivas alveolares /t/ e /d/, que diante de /i/ passam a serproduzida preferencialmente como /t / e /d /. As chamadas africadas ocorrem categoricamenteem certos dialetos do PB, mas em outros esto em processo de implementao, j que sotidas como uma variedade de prestgio. So consideradas sons que apresentam certainstabilidade em suas fronteiras, alm de uma estrutura temporal complexa. Sendo assim, ameta descrever as nuances dos processos fonticos das africadas em um grupo de falantesde Jundia-SP que passa pelo processo da variao, pelo fato de viajarem, diariamente, paraCampinas-SP. Segundo estudos de Leite (2004, 2010), o falar da populao de Campinas considerado menos estigmatizado, e mais intermedirio em relao ao dialeto da capital doque o modo de falar apresentado na maioria das cidades do interior de So Paulo. A partir daanlise da fala de cinco estudantes do sexo masculino, verificou-se que a variao no categrica ou irreversvel, apresentando aspectos gradientes. As gravaes foram feitas a partirda leitura, em diferentes taxas de elocuo, de um conjunto de textos com palavras queapresentavam as oclusivas alveolares diante da vogal anterior. Alm disso, tambm foramgravadas amostras de palavras em uma tarefa de repetio, em que controlamos as seguintesvariveis: freqncia de ocorrncia na lngua e posio silbica da consoante estudada. Para aanlise, foram computadas as medidas de momentos espectrais (Forrest et. al. 1988). A partirda comparao dos momentos espectrais das africadas com os momentos espectrais de umconjunto de fricativas alveolares e ps-alveolares dos prprios sujeitos, estabeleceu-se, em umestudo transversal, o local de articulao das primeiras e a instabilidade das produes dogrupo dos cinco sujeitos. A metodologia estatstica utilizada foi a Anlise de Varincia (ANOVA)para medidas repetidas, seguida do testepost-hocde Tukey, para discriminao das diferenasde local. Pelas anlises estatsticas do conjunto de dados, pde-se observar como cadaparmetro espectral se comporta e, assim, entender a mudana de lugar de articulao.Realizou-se tambm uma anlise longitudinal com dois dos sujeitos, ao longo de um ano. Nestecaso, a estatstica descritiva de trs coletas de dados mostrou que os dois sujeitos observadospodem estar em estgios diferentes da implantao e que as estratgias de reparar a prpriafala podem ser mais ou menos consistentes. Tambm foi possvel verificar, pela anlise damudana de taxa de elocuo, que, num caso, h mais controle do uso da varivel inovadorana leitura normal do que na rpida. Para complementar as anlises fonticas, tambm foramfeitas entrevistas com os sujeitos, a fim de verificar suas atitudes em relao ao prprio dialeto.Os resultados que investigaram a frequncia de ocorrncia no foram significativos e aquelesque investigaram posio tnica mostraram apenas alguns resultados com significnciaestatstica. A Fonologia Gestual (Browman e Goldstein, 1992, 1995; Goldstein e Fowler, 2003)mostra-se adequada descrio e ao modelamento de processos gradientes como este,porque suas postulaes tericas do especial importncia dinmica dos processosfonolgicos. Alm disso, incorporam com sucesso os fatores tempo e magnitude, diretamente
relacionados idia de movimento dos articuladores.
Palavras-chave: Gradientes alofnicos, Africadas, Fontica, Fonologia Gestual, Variaolingustica.
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ABSTRACT
The aim of this study is to investigate palatalization of alveolar stops before [i] in a BrazilianPortuguese dialect, namely, that spoken in Jundia, a town in the state of So Paulo. Affricatesoccur in many dialects of Brazilian Portuguese as allophonic variation in such a context, while inothers dialects alveolar stops are undergoing change towards them, as they are considered aprestige variety. Affricates present some instability in their borders, and a complex temporalstructure. Thus, our goal is to describe phonetic detail in the affrication process, in a group ofspeakers who are implementing such a linguistic change, due to daily travels to Campinas.Studies by Leite (2004, 2010) show the dialect spoken in Campinas is considered lessstigmatized and more "intermediate" than others from the same state. Encouraged by theseresults, we conducted five case studies with speakers from Jundia. Preliminary data of this fivemale students showed that affricates have continuous characteristics between alveolar stopsand their post-alveolar counterparts. First recordings were made in a reading task. At differentspeech rates, subjects read a set of texts with words that had alveolar stops before the front highvowel. In addition, samples were also recorded in a word repetition task, with the followingcontrolled variables: word frequency of occurrence in the language and syllabic stress. Wemeasured spectral moments (FORREST et. al. 1988) and compared those measures to thespectral moments of a set of alveolar and post-alveolar fricatives. Conservative speakers wereexpected to prefer the alveolar productions, and less conservative ones were expected to prefereither post-alveolar or an intermediate production. The analyses were divided as follows. At first,we conducted a cross-sectional study, in witch we compared fricatives and affricates articulationof the five subjects using Analysis of variance (ANOVA) for repeated measures, followed by
post-hoc test Tukey for discrimination of articulation place. Statistical analysis showed thebehavior of each spectral parameter. Secondly, we conducted a longitudinal analysis of twosubjects over a year. Descriptive statistics of spectral moments of three data session showedtheir speech at different stages, using different repair strategies; it also showed sufficientvariation so as to indicate instability in affricate implementation . It also was observed, bychanges in speaking rate, which subject were more consistent in the uses of innovation. Tocomplement the phonetic analysis, interviews were conducted, in order to gather some of theirattitudes toward their own dialect. Gestural Phonology (BROWMAN & GOLDSTEIN, 1992, 1995,GOLDSTEIN & FOWLER, 2003) has proven to be adequate for describing and modeling thegradient processes involved this variation. Since its theoretical postulates capture the dynamicsof speech production over small stretches of time, we hope they also help illuminate thedynamics of language change.
Key words:Allophonic gradients, Affricates, Phonetics, Gestural Phonology, Linguistic variation.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Detalhamento das coletas de dados com cada sujeito 24
Tabela 2: Descrio dos objetivos de cada bloco da tarefa de repetio 30Tabela 3: Valores mdios dos quatro momentos espectrais para as fricativas do
ingls americano 33
Tabela 4: Caractersticas dos valores esperados para os quatro momentos
espectrais das fricativas alveolar e ps-alveolar 39
Tabela 5: Resultados da ANOVA (local x sonoridade) para a diferenciao entre
as fricativas alveolares e ps-alveolares 39
Tabela 6: Resultados do teste post-hoc de Tukey para a diferenciao entre
local alveolar e ps-alveolar 39Tabela 7: Caractersticas dos valores dos momentos espectrais para as regies
alveolar e ps-alveolar 44
Tabela 8: Resultados da ANOVA (local x sonoridade) para a diferenciao entre
as fricativas alveolares e ps-alveolares e as oclusivas 48
Tabela 9: Resultados do teste post-hoc de Tukey para a diferenciao entre
local alveolar, ps-alveolar e as oclusivas 48
Tabela 10: Mdias dos momentos espectrais das fricativas alveolares e ps-
alveolares de S1 e S2 57Tabela 11: Resultados do teste t para amostras dependentes (baixa x alta
frequncia) 65
Tabela 12: Estatstica descritiva dos momentos espectrais da tarefa de repetio
(bloco de anlise da frequncia de ocorrncia) 66
Tabela 13: Resultados do teste tpara amostra dependentes (tnica x ps-tnica) 67
Tabela 14: Estatstica descritiva dos momentos espectrais da tarefa de repetio
(bloco de anlise da tonicidade) 68
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Onda e espectrograma da palavra ltima pronunciada como
africada com a seleo do rudo a ser analisado
32
Figura 2: Espectro de [ ] 32
Figura 3: Espectro de [s] 33
Figura 4: Centroide (Hz) das fricativas alveolares e ps-alveolares dos
cinco sujeitos
40
Figura 5: Diferenas estatsticas entre o Centroide das fricativas
alveolar e ps-alveolar
43
Figura 6: Desvio Padro (Hz) das fricativas alveolares e ps-alveolares
dos cinco sujeitos
43
Figura 7: Diferenas estatsticas entre o Desvio Padro das fricativas
alveolar e ps-alveolar
42
Figura 8: Curtose das fricativas alveolares e ps-alveolares dos cinco
sujeitos
42
Figura 9: Diferenas estatsticas entre a Curtose das fricativas alveolar
e ps-alveolar
43
Figura 10: Assimetria das fricativas alveolares e ps-alveolares dos
cinco sujeitos
43
Figura 11: Diferenas estatsticas entre a Assimetria das fricativas
alveolar e ps-alveolar
44
Figura 12: Porcentagem de ocorrncia de africadas surdas 46
Figura 13: Porcentagem de ocorrncia de africadas sonoras 46
Figura 14: Onda e espectrograma da palavra sndico pronunciada sem
rudo por S5
47
Figura 15: Onda e espectrograma da palavra sndico pronunciada com
rudo africado por S547
Figura 16: Diferenas estatsticas entre o Centroide das fricativas
alveolar e ps-alveolar e das africadas dos cinco sujeitos
49
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Figura 17: Diferenas estatsticas entre o Desvio Padro das fricativas
alveolar e ps-alveolar e das africadas dos cinco sujeitos
49
Figura 18: Diferenas estatsticas entre a Assimetria das fricativas
alveolar e ps-alveolar e das africadas dos cinco sujeitos 50
Figura 19: Diferenas estatsticas entre a Curtose das fricativas alveolar
e ps-alveolar e das africadas dos cinco sujeitos
50
Figuras 20 e 21: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e
Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida
S1
51
Figuras 22 e 23: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e
Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS1
52
Figuras 24 e 25: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e
Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida
S2
52
Figuras 26 e 27: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e
Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS2
53
Figuras 28 e 29: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e
Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida
S3
53
Figuras 30 e 31: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e
Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS3
53
Figuras 32 e 33: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e
Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida
S4
54
Figuras 34 e 35: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e
Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS4
54
Figuras 36 e 37: Faixa de valores dos momentos espectrais Centroide (Hz) e
Desvio Padro (Hz) em taxas de elocuo normal e rpida
S5
55
Figuras 38 e 39: Faixa de valores dos momentos espectrais Assimetria e
Curtose em taxas de elocuo normal e rpidaS5
55
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Figura 40: Porcentagem de ocorrncia de africadas sonoras em trs
coletasS1
55
Figura 41: Porcentagem de ocorrncia de africadas sonoras em trs
coletasS2
57
Figuras 42 e 43: Faixas de valores do Centroide (Hz), nas trs coletas de
dadosfala normalS1 e S2
58
Figuras 44 e 45: Faixas de valores do Desvio Padro (Hz), nas trs coletas de
dadosfala normalS1 e S2
59
Figuras 46 e 47: Faixas de valores da Assimetria, nas trs coletas de dados
fala normalS1 e S2
59
Figuras 48 e 49: Faixas de valores da Curtose, nas trs coletas de dados
fala normalS1 e S2
60
Figuras 50 e 51: Faixas de valores do Centroide (Hz), nas trs coletas de
dadosfala rpidaS1 e S2
61
Figuras 52 e 53: Faixas de valores do Desvio Padro (Hz), nas trs coletas de
dadosfala rpidaS1 e S2
61
Figuras 54 e 55: Faixas de valores da Assimetria, nas trs coletas de dados
fala rpidaS1 e S2
62
Figuras 56 e 57: Faixas de valores da Curtose, nas trs coletas de dados
fala rpidaS1 e S2
62
Figura 58: Valores da Assimetria nas duas freqncias de ocorrncia
(alta e baixa)S1
65
Figura 59: Valores do Centroide (Hz) nas duas posies (tnica e ps-
tnica)S2
67
Figura 60: Valores do Desvio Padro (Hz) nas duas posies (tnica e
ps-tnica)S2
67
Figura 61: Pauta gestual de [t ] 69
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SUMRIO
Introduo ............................................................................................................... 1
Captulo IAporte terico I: A variao lingustica ................................................ 51. Africadas como alofones ..................................................................................... 5
2. Diferentes enfoques dos estudos de variao .................................................... 5
2.1 Variao e mudana: panorama .................................................................. 6
2.2 A aquisio dialetal ...................................................................................... 7
3. Algumas variaes que caracterizam o portugus brasileiro de So Paulo ....... 9
Captulo IIAporte terico II: Teoria fonolgica e a relao entre Fontica e
Fonologia ................................................................................................................11
1. A palatalizao no PB e diversas teorias fonolgicas ........................................ 111.1 Fonologia Gerativa ....................................................................................... 11
1.2 Fonologia de Uso e de Exemplares ............................................................. 13
2. Modelos dinmicos e Fonologia Gestual ............................................................ 15
3. Africadas nos estudos fonticos ......................................................................... 18
4. Discusso ........................................................................................................... 19
Captulo IIIPanorama geral da Metodologia ....................................................... 21
1. Um impasse metodolgico: anlise fontico-acstica de uma variao
lingustica ................................................................................................................
21
1.1 O caminho entre dados de fala espontnea e de laboratrio ...................... 22
2. Descrio da Metodologia .................................................................................. 22
2.1 Sujeitos ........................................................................................................ 22
2.1.1 Entrevistas ........................................................................................... 24
2.2 Materiais e mtodos da coleta de dados ..................................................... 24
2.2.1 Estratgias para a coleta de dados ..................................................... 25
2.2.1.1 Tarefa de leitura ........................................................................... 25
2.2.1.2 Variando a taxa de elocuo ....................................................... 272.2.1.3 Tarefa de repetio ....................................................................... 28
2.3 Anlise fontica ............................................................................................ 31
2.3.1 Anlise espectral .................................................................................. 31
2.4 Descrio geral dos procedimentos de anlise ........................................... 34
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Captulo IVAs produes africadas: um processo de variao e mudana em
curso .......................................................................................................................35
1. Os sujeitos .......................................................................................................... 35
1.1 Observao inicial ........................................................................................ 351.2 Analisando os questionrios ........................................................................ 36
2. As fricativas alveolares e ps-alveolares dos falantes ....................................... 38
2.1 Anlise de sons fricativas: objetivos e mtodo ............................................ 38
2.2 Caractersticas dos sons /s, , z, / do portugus brasileiro ........................ 38
3. Tarefa de leitura .................................................................................................. 45
3.1. Estudo transversal da variao ................................................................... 45
3.1.1 Detalhamento metodolgico ................................................................ 45
3.1.2 Resultados ........................................................................................... 453.1.2.1 Anlise de varincia da fala dos cinco sujeitos em taxa normal
de elocuo ..............................................................................................47
3.1.2.1.1 Discusso da anlise transversal ........................................ 51
3.1.2.2 Descrio dos resultados em diferentes taxas de elocuo ......... 51
3.1.2.2.1 Discusso ............................................................................. 55
3.2. Estudo longitudinal da variao .................................................................. 56
3.2.1 Detalhamento das trs coletas de dados ............................................. 56
3.2.2 Resultados da anlise longitudinal em taxa de elocuo normal ........ 583.2.3 Resultados da anlise longitudinal em taxa de elocuo rpida ......... 61
3.2.4 Discusso final ..................................................................................... 63
4. Tarefa de repetio ............................................................................................. 64
4.1. Efeitos da frequncia de ocorrncia das palavras ...................................... 64
4.1.1 Detalhamento da anlise ..................................................................... 64
4.1.2 Resultados e discusso ....................................................................... 64
4.2 Influncia da posio tnica ......................................................................... 66
4.2.1 Detalhamento da anlise ..................................................................... 66
4.2.2 Resultados e discusso ....................................................................... 67
Captulo VConsideraes finais .......................................................................... 69
Referncias bibliogrficas ....................................................................................... 73
Anexos .................................................................................................................... 79
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INTRODUO
Esta pesquisa tem como meta explorar, sob novas perspectivas, aspectos de um
problema j bastante abordado nos estudos do portugus brasileiro (doravante, PB), na rea deFontica e Fonologia. A pretenso foi tecer novas consideraes sobre a produo de duas
consoantes do PB, as oclusivas alveolares /t/ e /d/, que se tornam africadas em contexto
favorvel palatalizao. J explicava Maia (1999, p. 106) que muito se pergunta sobre a
pronncia mais ou menos chiada do /t/ diante de [i].
Segundo a mesma autora (1999, p. 108), podem existir graus de produo africada.
Assim, indagaes acerca desta dinmica do som nos levaram tentativa de observar alguns
exemplos de dados que permitissem verificar tais graus distintos de produo africada em um
grupo de falantes, assim como na fala de uma mesma pessoa, tentando investigar a ideia deque o estudo do som vai alm de distines estticas e que as contribuies de anlises
fonticas podem problematizar com mais consistncia certas distines fonolgicas.
Os estudos em Fontica e Fonologia tm passado por vrias mudanas, acompanhando
os avanos das cincias da linguagem, bem como dos estudos relacionados s cincias da
cognio e da fala e Sociolingustica. Desde o Estruturalismo, temos a ciso entre as duas
reas referentes aos sons das lnguas.
Ao relativizar as razes do conceito de fonema e de oposies, questionamos alguns
aspectos do campo dos estudos fonolgicos. Conforme diz Albano (2002, p. 9), tais razesesto fortemente ligadas concepo do alfabeto, como modelo e como metfora. Os estudos
em Fonologia sempre se preocuparam em transformar a fala em um sistema simblico, da a
constante tentativa de reduzir a fala a uma escrita. Os questionamentos deste trabalho
surgiram da necessidade de explicar o chamado detalhe fontico, que se manifesta
variavelmente e, a despeito do que categrico, no sentido estrito, um campo muito rico que
envolve distines muitas vezes mnimas, mas que tm importncia lingustica.
Em Trubetskoy (1981 [1933]), ocorre a bipartio fundamental para a fundao destes
dois campos de estudo. Com a forte separao que ao longo do tempo ocorreu entre a Fonticae a Fonologia, a diferena no modo como uma e outra encaram os seus objetos aparentemente
se acentuou; de um lado, vemos os estudos da fsica da produo da fala e, de outro, os
modelos fonolgicos que conceberam o fonema e levaram suas concepes at o trao
distintivo, na Teoria Gerativa. Segundo a mesma autora (2002, p. 14), prosseguindo na histria
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deste campo de estudos, [] os modelos fonolgicos mais recentes desviam-se da
seqencialidade, mas
[], por outro lado, permanecem atrelados a uma concepo do tempo comosucesso de instantes indivisveis, s relacionados ao movimento dos
articuladores enquanto sinais de controle, de natureza simblica, que instruemsobre o que fazer mas no sobre como. O modo de execuo fica a cargo dasincomensurveis leis fsicas que regem a posio dos corpos no espao e notempo.
A partir de meados do sculo XX, por outro lado, as cincias da fala se preocupam em
integrar as cincias da linguagem, tentando no ficar margem como apenas a faceta fsica
dos sistemas fonolgicos. Em meio a isso, surgem questes que desafiam a interface entre
Fontica e Fonologia, como a questo da invarincia fontica (LINDBLOM, 1989), questes de
percepo categrica e outras.
O estudo de estratgias de reparo, adaptaes alofnicas e de controle em tempo real,
os chamados ajustes online, usados em situaes de diferenas dialetais, pode oferecer
interessantes evidncias para teorias dinamicistas, tanto a que trata do gesto articulatrio
quanto aquelas que tratam de outros processos cognitivos.
Esta pesquisa tenta responder a questes sobre como a evocao dos gestos
articulatrios feita a partir de requisitos que extrapolam a configurao fontica do prprio
falante. Tentou-se, assim, em concordncia com Albano (2006, p. 2),
explorar o papel da gestualidade fnica na construo de uma identidade, de
uma voz polifnica, prpria do indivduo oudo grupo social, a qual, uma vezinstaurada, possa atuar sobre a seleo de gestos fnicos e dos seusparmetros constitutivos e moduladores.
A partir de tais consideraes, estabeleceu-se como objetivo geral realizar observaes
da produo de fala de uma comunidade especfica de falantes do PB. So estudantes da
cidade de Jundia, no estado de So Paulo, que se deslocam diariamente para outra cidade do
mesmo estado, Campinas, por conta de seu curso universitrio. A pesquisa se insere na rea
de Fontica e Fonologia, porm adentra tambm o campo da Sociolingustica, ao tratar da
variao que d indcios de uma mudana dialetal em curso.
O objeto da pesquisa so as oclusivas alveolares /t/ e /d/ produzidas diante de [i], que se
tornam africadas nesse contexto. A partir de uma perspectiva dinmica de produo da fala,
adotando o quadro terico da Fonologia Gestual e de anlises de produo de fala, procura-se
explicar como tais africadas comeam a ser produzidas, como so gradualmente implantadas
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como variantes inovadoras e como as individualidades de cada falante observado lidam com a
articulao dos gestos envolvidos na produo de tais variantes, to recentes para eles. Ainda,
estudou-se em que medida as estratgias utilizadas so mais ou menos controladas e/ou
manipuladas pelos falantes, na tentativa de responder a questes como as seguintes: fatorescomo o acento tnico ou taxas mais altas ou baixas de elocuo influenciam na produo da
africada?
Sabe-se que a produo de africadas um fenmeno comum no portugus brasileiro, e
raramente ocorre diante de outras vogais que no a vogal fechada alta somente em certas
palavras como fonema inovador, como tchau, tcheco, tch, ou em produes que marcam
diferenas bastante especficas, como tchurma, lindja, etc. (CHRISTOFARO-SILVA, s.d.).
Tambm notrio que o fenmeno da produo das africadas parece ser mais categrico em
algumas regies do pas. Apesar de, no Brasil, haver uma tendncia palatalizao dasalveolares nesse contexto, segundo pesquisa com dados do NURC1, h cidades em que o
processo parece ser mais fragmentado, como So Paulo e Porto Alegre (ABAURRE e
PAGOTTO, 2002). Ressalta-se, ento, que o acompanhamento mais detalhado de alguns
falantes pode esclarecer aspectos que deixam de ser notados em pesquisas sociolingusticas
mais gerais, com grandes grupos de sujeitos.
Para alcanar os objetivos aqui propostos, a dissertao est dividida em cinco
captulos.
No primeiro, apresentam-se os objetivos situados no bojo das anlises sociolingusticas
e de aquisio dialetal: percorrem-se alguns pontos da Sociolingustica variacionista, mais
especificamente, para que se entenda como o trabalho trata a anlise da variao e como ele,
indiretamente, aponta para uma descrio da mudana lingustica em foco.
O segundo traz discusso fatos da teoria fonolgica e do desenvolvimento das
pesquisas em fontica, especialmente em relao ao fenmeno estudado, destacando-se
tambm a importncia dos estudos em Fontica e Fonologia que envolvem abordagens
dinmicas das questes da fala.
O terceiro captulo aborda o percurso metodolgico feito durante a pesquisa. Nele
discutem-se as dificuldades de se conciliar as metodologias sociolingusticas s da Fontica
Experimental. Alm disso, o captulo detalha a seleo dos sujeitos, as estratgias de gravao
e as formas de anlise dos dados.
1Projeto Norma Urbana Culta.
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O quarto captulo traz um panorama do estado da variao, com uma descrio
transversal dos dados, e dois estudos de caso em uma anlise longitudinal, detalhando o
percurso da variao durante um ano. Tambm explora as mudanas no ritmo da fala dos
sujeitos, verificando suas implicaes para a variao, e mostra resultados de uma tarefacontrolada que verificou variveis como posio tnica e frequncia de ocorrncia no lxico.
No captulo final, discutem-se as implicaes dos resultados obtidos e das estratgias
individuais de cada sujeito para os processos de variao e mudana como um todo, bem como
para as outras questes consideradas relevantes para uma abordagem dinmica dos estudos
da fala e da linguagem.
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CAPTULO IAPORTE TERICO I: A VARIAO LINGUSTICA
1. AFRICADAS COMO ALOFONES
As descries fonolgicas, em geral, costumam lidar com operaes muito bsicas no
que concerne presena ou ausncia de alofonias nas lnguas, utilizando a noo de
distintividade no reconhecimento de fonemas e alofones. Esse primeiro passo de descrio leva
a constatar a variao na fala de um grupo. Analisar uma alofonia, porm, dentro da ampla
gama de quadros tericos vigentes, tarefa complexa e causa divergncias explicativas entre
teorias.
A palatalizao das oclusivas alveolares do PB, por exemplo, tem sido amplamenteabordada como um caso de assimilao regressiva de traos da vogal, do ponto de vista de
teorias no-lineares do Programa Gerativista, como a Fonologia Autossegmental e a Geometria
de Traos (HORA, 1993, PAGOTTO, 2002 e ABAURRE E PAGOTTO, 2002), teorias que
tentam se distanciar da descrio atemporal. Hora (1993) se baseia em dialeto falado no interior
da Bahia; j Pagotto (2002) procura descrever a variao das oclusivas alveolares que ocorre
na cidade de Florianpolis-SC e a identidade dos grupos de falantes envolvidos na produo.
Diferentemente de locais como o Rio de Janeiro, algumas capitais da regio Sul e a
cidade de So Paulo, os locais de interesse dos pesquisadores sempre apresentam variao deproduo; essas variaes so relevantes por acontecerem de maneira prpria em cada local e
por revelarem peculiaridades. Algumas destas esto em explicaes sociais, como as
formaes de socioletos mais especficos por determinados grupos, pois, geralmente, as
mudanas ocorrem seguindo uma determinada faixa etria ou situaes de prestgio ou
desprestgio. Muitas vezes, so captadas apenas por estudos detalhados das motivaes
sociais que desencadeiam as mudanas para certos grupos de falantes.
2. DIFERENTES ENFOQUES DOS ESTUDOS DE VARIAO
Dos neogramticos, passando por Saussure, at a contemporaneidade, debate-se o tipo
de objeto de observao que compete ao estudioso da linguagem: a comunidade real ou o
falante idealizado abstrado ao mximo no estudo da competncia lingustica. A pesquisa
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linguistca surgida no sculo XX, na esteira da distino saussureana entre diacronia e
sincronia, separou, muito prontamente, a teoria da mudana da teoria da estrutura, e os efeitos
desta separao ainda se fazem presentes hoje em dia.
Apesar disso, em meados da dcada de 1960, surge, na contracorrente, a vertentelaboviana da Sociolingustica, procura de uma descrio mais realista da competncia dos
membros da comunidade, verificando como os desvios do sistema no so meramente
diferenas aleatrias de desempenho (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p. 60).
Abandonada e retomada no curso da histria dos estudos lingusticos, a diversidade real
do comportamento lingustico parece ter obtido espao suficiente dentro da comunidade, ao
menos da Sociolingustica. A ideia de observar mudanas dialetais e conseguir mostr-las em
curso no foi, contudo, o primeiro interesse do campo. Os primeiros trabalhos variacionistas do
prprio Labov tratavam mais fortemente de variaes inerentes, aquelas que aparecem deforma espontnea, e no em consequncia de contato.
2.1 Variao e mudana: panorama
Os estudos de variao lingustica se expandiram e, desde o surgimento do forte
paradigma laboviano, a metodologia da rea tem sido amplamente discutida, incorporando
mtodos das Cincias Sociais e da Psicologia Experimental. Os diferentes enfoques dos
estudos de variao envolvem tanto anlises quantitativas, com estudos de populao, quanto
anlises qualitativas e estudos de caso, integrados populao. H, ainda, linhas de pesquisa,
que se firmaram tambm em meados do sculo XX, cujo enfoque se fundamenta na pesquisa
interacional e na anlise da conversao, como as pesquisas de Gumperz e Goffman, entre
outros.
Milroy e Milroy (1985) lembram, com muita pertinncia, que, apesar de o objetivo mais
evidente da Lingustica ser a descrio dos universais da mudana, a metodologia
sociolingustica nunca deixou de ser comparativa. A Sociolingustica tambm se vale, de certo
modo, de um mtodo comparativo em que lnguas de diferentes indivduos ou grupos so
comparadas (1985, p. 344). O que faz a Lingustica moderna diferir das observaes feitas
pelos neogramticos o fato de que estes objetivavam a reconstruo de lnguas extintas.
A partir de uma gama de trabalhos sobre variao e depois de a rea se firmar, muitas
subreas tm aparecido nas ltimas dcadas, procurando dar conta da variao a partir de
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outras abordagens metodolgicas ou da mistura entre abordagens sociolingsticas com
campos experimentais diferentes. Um exemplo o campo da Sociofontica, que, segundo
Foulkes (s/d) ganhou independncia nos ltimos anos e tem combinado desenhos
experimentais altamente controlados com a observao de produo e percepo de fala emsituaes cotidianas, utilizando amostras heterogneas.
2.2 A aquisio dialetal
As pesquisas interdialetal, de contato entre lnguas e de mistura de lnguas ganharam
fora mais tardiamente criao da metodologia variacionista, com os estudos de Trudgill
(1986) e seu interesse pelos mecanismos de acomodao decorrentes do contato, dentro de
um novo paradigma: a dialetologia quantitativa.Abriu-se, ento, um campo de investigao para as mudanas lingsticas induzidas
pelo contato e a formao de novos dialetos. O livro Dialects in contact (TRUDGILL, 1986)
mostra preocupao com as consequncias microlingusticas da acomodao, e j demonstra
um interesse inicial pela interao face a face.
Este trabalho trata do contato intralingustico entre variedades de uma mesma lngua.
Alm de se inserir num campo que trata do contato entre dialetos, a presente dissertao
pretende capturar a mudana que acompanha a mobilidade social e geogrfica dos falantes (cf.
MILROY, 2002) e a relao da variao e da mudana em curso com suas atitudes lingusticas.
Milroy e Milroy (1985) destacam a importncia da abordagem que explique o como as
lnguas mudam de estado, em termos dos processos sociais envolvidos e das mudanas de
estrutura operadas. Argumentando que motivaes sociais so importantes na explicao da
mudana, seu especial enfoque para as inovaes dos falantes so interessantes meios de se
revelar que tais inovaes no esto relacionadas somente a classes sociais ou a posies de
status de determinados falantes, mas se do por meio de laos entre membros de diversos
grupos conectados por redessociais, que permitem o fluxo das inovaes de um grupo para
outro. A mobilidade geogrfica, segundo os pesquisadores, um fator que leva os indivduos ao
estabelecimento de relaes com indivduos de outros grupos, como o caso de nossos
sujeitos.
Os estudos de aquisio dialetal surgiram no bojo da dialetologia geogrfica. Segundo
Chambers (1992, p. 673), uma das situaes sociolingusticas mais comuns aquela em que
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os falantes mudam de regio e adotam algum traoda variedade do novo dialeto encontrado,
especialmente nos dias de hoje, em que a mobilidade regional muito frequente. Para entender
os mecanismos da aquisio dialetal, segundo o mesmo autor, necessrio um enfoque na
observao de falantes de reas de transio, diferentemente do que ocorre nos estudos dosgrandes atlas geogrficos, nos quais a preferncia dada a falantes mais enraizados na sua
regio h vrias geraes (regies estas que so mais isoladas, normalmente), sem tanto
contato com falantes de outras reas.
Chambers (1992, p. 675) explica que o fenmeno adquirido no contato pode ser apenas
uma acomodao ou uma aquisio de longo termo, que passa a fazer parte do dialeto do
falante. Outros princpios importantes da aquisio dialetal citados por ele so o de que: i) tanto
no nvel lexical quanto no fonolgico, a mobilizao para a aquisio da nova configurao
dialetal no ocorre sem a interferncia dos traos do dialeto inicial, e ii) as inovaesfonolgicas so, de incio, consideradas variaes de pronncia, princpio tambm divulgado
pela teoria da difuso lexical.O conceito de difuso (LABOV, 2007) lida com a ideia de que
adultos tm a capacidade de realizar mudanas em seu sistema lingustico, a partir do contato
ou das ondasde mudana.
A aquisio dialetal tambm pode ser estudada com a mesma metodologia dos estudos
de aquisio de segunda lngua. Munro et. al. (1999) argumentam que o aprendizado de um
segundo dialeto semelhante aquisio de uma segunda lngua. Explicam que, em muitos
casos, os resultados de estudos de aprendizagem das caractersticas fonticas de uma
segunda lngua mostram uma produo considerada intermediria para os ouvintes desta.
O que se nota que muitos campos se interessam pelo estudo da variao. De
diferentes maneiras, distintas abordagens tentam dar conta do produto intermedirio que acaba
por surgir em decorrncia do contato entre vrios dialetos de uma mesma lngua. Esta pesquisa
se preocupa em detalhar os aspectos fonticos do aparecimento das africadas, sem deixar de
lado, no entanto, questes importantes para o entendimento do comportamento dos falantes e
suas motivaes.
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3. ALGUMAS VARIAES QUE CARACTERIZAM O PORTUGUS BRASILEIRO DE SO
PAULO
O portugus do interior de So Paulo conhecido, principalmente, por alguns aspectosque compem a chamada fala caipira. Dentre estes, o que mais caracteriza a fala dos
interioranos a retroflexo do /r/ (AMARAL, 1920, apud LEITE, 2004). Associadas a isso, as
oclusivas alveolares no palatalizadas diante de /i/ tambm contribuem para o reconhecimento
de um falar considerado do interiorem contraposio ao modo de falar da capital, apesar de
as africadas tambm ocorrerem em algumas regies interioranas do estado.
Ainda que, atualmente, a produo de /t/ e /d/ no africados estaja associada mais
fortemente a apenas determinadas regies paulistas ou a grupos de falantes mais idosos, ela
ainda se faz presente em boa parte do estado, e, em muitas regies, aparece na fala de gruposjovens.
Contudo, o modo de falar da regio de Campinas considerado mais prximo ao da
capital, ou mais intermedirio, como afirma Leite (2004), cujo estudo toma um objeto
semelhante ao nosso, pois trata da fala de estudantes da UNICAMP e de suas atitudes em
relao ao prprio dialeto. A pesquisadora selecionou a variante retroflexa como foco de
observao e constatou que estudantes do interior paulista da cidade de So Jose do Rio
Preto , quando em contato com falantes campineiros, tentam acobertar a realizao da
aproximante retroflexa, devido ao estigma a ela imputado. Sua pesquisa revelou que os
informantes acabavam optando por outras variantes consideradas intermedirias, e
supostamente mais prestigiosas, segundo eles.
Conforme a avaliao de muitos falantes do estado de So Paulo, Campinas
considerada uma cidade frente das outras, mais cosmopolita, socioeconomicamente mais
desenvolvida. Segundo Leite (2010, p. 8), a regio metropolitana de Campinas a nicacujo
ncleo no tambm capital estadual, uma espcie de capital do interior (idem). Sendo
assim, muito comum que falantes de cidades menores em contato com outros, da regio
metropolitana em questo, procurem disfarar, em sua fala, aspectos considerados de
desprestgio, que a estigmatizam como carregada, puxada, feia (LEITE, 2004, p. 21), i.e.,
avaliada de forma negativa por seus novos pares.
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CAPTULO IIAPORTE TERICO II: TEORIA FONOLGICA E A RELAO ENTRE
FONTICA E FONOLOGIA
1. A PALATALIZAO NO PB E DIVERSAS TEORIAS FONOLGICAS
Os esboos de descries dialetais e de representaes fonolgicas da variao das
oclusivas alveolares no PB tm deixado de lado no s peculiaridades fonticas inerentes a
cada variao, mas tambm detalhes observveis apenas com as lentes de aumento das
anlises acsticas, espectrais e articulatrias. imprescindvel que uma boa descrio
fonolgica da variao se baseie em uma boa observao fontica, de dados reais.
natural, portanto, pensar que uma descrio dialetal seja aquela que se prope, em
um momento inicial, a descrever os dados, antes de fazer generalizaes a partir da
observao impressionista de uma variante.
Tal foi o caminho percorrido; por esse motivo, somente um aporte terico que leve em
conta os detalhes da variao alofnica pode explicar certas alofonias, como a das oclusivas e
africadas de certos dialetos do PB. Assim, possvel propor, a partir de uma fonologia de base
dinmica, a descrio da variao dialetal, pois esta se interessa por questes diretamente
relacionadas aos articuladores e aos gestos envolvidos na produo da fala.
1.1 Fonologia Gerativa
No quadro terico da Fonologia Gerativa, a palatalizao das oclusivas alveolares do PB
merece a ateno de alguns pesquisadores brasileiros desde a dcada de 1980. A maioria
deles possui enfoque na descrio dos aspectos fonolgicos e/ou extralingusticos, desde
estudos regionais sobre a variao, como o de Bisol (1986), sobre a alternncia do uso das
oclusivas e das africadas em Porto Alegre, at estudos mais gerais, como a pesquisa de
Abaurre e Pagotto (2002), integrante da Gramtica do Portugus Falado, que apresenta uma
anlise baseada em corpus do NURC, com dados de cinco capitais brasileiras. Certamente,
trata-se de um estudo de grande importncia, mas se diferencia da abordagem aqui referida,
que realiza estudos de caso com anlises fonticas. Por um lado, estudos deste porte no
permitem anlises fonticas mais detalhadas; por outro, tm relevncia por mostrarem
tendncias gerais relativas a variveis lingusticas ou extralingusticas.
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Outra pesquisa importante sobre as africadas do PB de Hora (1993) que, por sua vez,
toma a variao do interior da Bahia, e utiliza uma abordagem diferente, realizando sua
descrio atravs de teorias no-lineares do Programa Gerativista, a Teoria Autossegmental e a
Geometria de Traos, com base nas respectivas propostas de Goldsmith (1976) e Clements(1985). A abordagem tomada pelo autor, ancorada no fato de que os segmentos tm estrutura
interna que vai alm de um conjunto de traos, leva-o a considerar a palatalizao como um
processo de assimilao regressiva, resultante do espraiamento de um trao [+coronal], e a
converso das consoantes /t/ e /d/ em [-anterior].
Segundo ele, essa abordagem mais interessante para as oclusivas dentaisdo que a
que considera a palatalizao como resultado do conjunto ndulo Dorsal mais o trao [-
posterior], o que no diferencia, dentro da Teoria Autossegmental, a palatalizao das coronais
da que ocorre com as labiais, por exemplo. A concluso do autor de que a melhor forma deconsiderar a conexo coronal-palatal ancorar os traos da palatalizao em um ndulo
Coronal. A viso adotada trata, ento, a palatalizao como efeitos de ligamentos e
desligamentos de traos, o que traz o fenmeno luz de teorias mais recentes e o considera
como um segmento complexo.
A pesquisa realizada por Abaurre e Pagotto tambm considera a palatalizao como um
processo de assimilao dos traos da vogal [i], o que d origem, tambm segundo eles, a um
segmento complexo, cuja conseqncia uma realizao africada: [t ] ou [d ].
Do ponto de vista sociolingustico, a anlise por eles desenvolvida revelou informaesmuito pertinentes acerca da distribuio dialetal das variantes por regio geogrfica. Ao
contrrio do que era esperado, no h uma separao dialetal Norte/Sul para a variao em
questo. No Rio de Janeiro e em Salvador, o processo aparentou ser mais categrico, com
freqncia de [t ] de, respectivamente 100% e 85%; j em So Paulo, a palatalizao apareceu
em 73% dos casos estudados; em Porto Alegre, em 40%; e em Recife, apenas 7% dos casos
apresentaram a palatalizao. Com base em tais resultados, os autores afirmam que no se
pode falar, do ponto de vista histrico, em espalhamento geogrfico. Apesar de, no Brasil,
existir uma forte tendncia palatalizao, as explicaes externas seriam outras.
O estudo em questo difere deste em outro aspecto, ao considerar a variante africada
alveolar [ts] apenas como um efeito marginal de outros processos fonticos, como uma
aspirao que produz efeito acstico de uma africao. Talvez pelo grande enfoque que aqui se
deu ao processo gradual da mudana, neste trabalho, destaca-se a relevncia da africada
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produzida na regio alveolar. A africada alveolar aparece na pronncia de nossos cinco
informantes e, em nossas anlises, apresenta caractersticas de rudo muito parecidas quelas
da fricativa [s], o que nos levou a consider-la como variante significativa das produes.
1.2 Fonologia de Uso e de Exemplares
Outro ponto de vista surgido recentemente nos estudos fonolgicos o da relevncia do
papel do uso da lngua na descrio dos sistemas de som das lnguas naturais. As reflexes
aqui desenvolvidas se iniciam sob a perspectiva de Bybee (2001), segundo a qual a noo de
uso modifica a natureza da representao mental e at a prpria forma fontica das palavras.
Segundo ela, nas teorias sobre linguagem, pouco se tem analisado o uso; muitos
pesquisadores, ao longo dos estudos lingusticos, aliceraram seus programas de pesquisa naateno estrutura do conhecimento compartilhado (chamado de lnguapor Saussure, 1916, e
de competncia, por Chomsky, 1965). Poucos deram ateno ao que a autora chama
language use in real time.
Esse modo de olhar o objeto lingustico , sem dvida, altamente produtivo. Em seu livro
Phonology and Language Use, a autora mostra, no entanto, que o foco dado estrutura pode
ser complementado por uma viso que inclui dois outros importantes fenmenos da linguagem:
a substncia e o uso. Neste ltimo, em particular, reside a sua contribuio a esta pesquisa.
Para Bybee (2001), a noo de uso inclui no somente o processamento da lngua, mas todos
os fenmenos sociais e interacionais em que a linguagem est inserida.
A maioria dos fonlogos v nas descries fonticas a motivao inicial para as suas
prprias, e tal fato sempre foi assumido como ponto de partida em qualquer descrio dos
sistemas fonolgicos das lnguas. Poucos, porm, na opinio da autora, olharam
profundamente para os fatos fonticos.
As distines estruturalistas foram construdas na concepo de que o objeto da
descrio lingustica puramente mental. Mas certo que, de alguma maneira, o uso real
afeta as representaes estruturais da lngua. Bybee explica:
Of course, there is some value in distinguishing mental representations fromthe social activities upon which they are based, but totally excluding factors ofuse from consideration ignores the potential relation between representationand use. It is certainly possible that the way language is used affects the way itis represented cognitively and thus the way it is structured. (2001, p. 5)
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Toda a argumentao da autora persegue um modelo de descrio lingustica baseado
no uso, cujos princpios norteadores interessam, sobretudo, por afirmarem que a experincia
afeta a representao. A linguagem vista, portanto, como um sistema que emerge como
resultado de capacidades cognitivas gerais interagindo com a substncia da lngua em muitasinstncias de uso.
O papel criativo da repetio influencia tanto a construo de categorias como as
mudanas que emergem em situaes em que um falante, influenciado pelo uso em tempo real,
lana mo de tentativas de reestruturar o sistema fonolgico de seu dialeto, ou seja, situaes
em que se utiliza de estratgias de reparo lingustico, termo definido originalmente por Paradis
(1988).
As variantes alofnicas so entendidas como variaes articulatrias atribudas a
processos fonticos, que podem ocorrer por motivaes puramente fonticas, em contextosfavorecedores, ou podem mostrar mudanas em progresso. Bybee as explica assim: This
variation is due to on-line adjustments that take place in production and have as their motivation
the increased fluency of the sequences of gestures (2001, p. 64).
No que se refere especificamente ao mesmo caso das variaes alofnicas estudadas
dentro da rea da Sociofontica, percebemos tambm a ampla adoo de outro modelo
fonolgico: a Fonologia de Exemplares (PIERREHUMBERT, 2000), uma abordagem
probabilstica da aquisio do conhecimento fonolgico, que lida, basicamente, com os
processos de percepo e categorizao e pretende dar conta de fatos de variao e aquisio
da linguagem.
Segundo esse modelo, categorias fonolgicas emergem da experincia, a partir de
exemplares armazenados na memria; os indivduos atualizam essas experincias e acabam
desenvolvendo sensibilidade s propriedades estatsticas do input (FOULKES E DOCHERTY,
2006); medida que a produo se desenvolve, mais exemplares so adicionados e uma
tendncia emerge. No que se refere s mudanas dialetais, quanto mais transparente a relao
entre a variante e a categoria social, mais fcil o aprendizado (2006, p. 427). Nos estudos de
Sociofontica e da Aquisio da Linguagem, tem sido amplamente adotada, ao relacionar as
ideias de uso e variao, utilizando, principalmente, estudos que investigam a frequncia de
ocorrncia no lxico e a aquisio de certas estruturas da lngua.
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2. MODELOS DINMICOS E FONOLOGIA GESTUAL
Geralmente, a fonologia tida como encapsulamento da estrutura linguisticamente
relevante da fala em descries de unidades segmentais. Albano (2002) ressalta a pesadainfluncia da noo antiga do alfabeto na descrio da fala; uma influncia que sempre esteve
presente, desde as primeiras tentativas de se criar descries e transcries da fala. Apesar
das muitas tentativas de aproximar a transcrio fontica da fala, a unidade fontico-fonolgica
nunca perdeu seu correlato com a letra do alfabeto.
Alm da notria influncia dos sistemas escritos nos estudos da fala, a distncia entre o
lingustico e a estrutura fsica sempre foi algo a ser superado pelas teorias fonolgicas. Nessa
linha, a Fonologia Gestual vem ganhando relativo espao como teoria eficiente h duas
dcadas. Sua primeira manifestao como teoria, a Fonologia Articulatria, doravante FAR,(BROWMAN e GOLDSTEIN, 1986, 1992, 1995), prope uma abordagem completamente
diferenciada.
Na teoria fonolgica proposta por Catherine Browman e Louis Goldstein, a noo de
movimento inerente ao primitivo terico. O gesto articulatrio descreve tanto caractersticas
espaciais como temporais da fala; tomado como unidade de anlise, oferece as mesmas
vantagens das fonologias no-lineares e simplifica a descrio de segmentos complexos, como
as africadas.
A noo de produo e percepo da fala como traduo de uma sequncia de
smbolos estticos em um processo dinmico no produtiva e no consegue explicar muitos
fenmenos. H gradientes e contextos diferentes de produo, como a fala mais descontrada,
e, tambm, detalhes fonticos de relevncia que fogem a quaisquer noes estticas.
A FAR assume, desde o incio, que as estruturas fsica e cognitiva, consideradas
distintas em outros modelos, so duas dimenses de um mesmo sistema complexo. As
unidades de anlise so, portanto, unidades de ao, dinamicamente especificadas, de modo
que possvel caracterizar de forma intrnseca as propriedades dessas aes chamadas
gestos, e suas consequncias biomecnicas. As unidades na FAR so, dessa forma, unidades
de ao e, como consequncia, so dinmicas, no estticas, e potencialmente sobrepostas, j
que as tarefas que envolvem os gestos so distribudas entre os vrios articuladores
(BROWMAN e GOLDSTEIN, 1992).
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A produo da fala na FAR toma como base o modelo da dinmica de tarefas, proposto
por Saltzman e Kelso (1987), entre outros. Assim, o modelo permite que se calculem as
trajetrias dos articuladores no tempo, coordenando sua estrutura. Essas trajetrias, dentro da
computao proposta para o modelo, so o input para o trato vocal, gerando sua formaresultante. A ideia modelar a sobreposio dos gestos, assim como sua coordenao e sua
estruturao em fase.
As chamadas pautas gestuais2servem como representao dessa coordenao e da
ativao temporal e de magnitude dos articuladores durante a produo.
Isso permite caracterizar tanto as propriedades microscpicas da fala quanto as
propriedades dos contrastes fonolgicos de uma determinada lngua. possvel modelar as
principais restries mecnicas e tambm restries particulares.
Esta pesquisa adotou, ento, o gesto articulatrio como unidade, pois se trata de umprimitivo que permite a incorporao do detalhe fontico na descrio; ele proporciona uma
variao de parmetros que d, abstratamente, a noo prpria da coordenao entre os
gestos. Devido sua caracterizao mais realista, permite a representao de informaes
gradientes e contnuas no sistema fonolgico (BROWMAN e GOLDSTEIN, 1992).
A escolha da Fonologia Articulatria como base terica da pesquisa no se deu por
acaso. As africadas de que tratamos, produzidas no interior de So Paulo, no so analisveis
ou tm possibilidade de representao nos modelos fonolgicos tradicionais; mesmo teorias
mais recentes que procuram desviar da descrio temporal clssica no explicam a produo
gradual destas consoantes.
claro que ainda h muito a aperfeioar neste contexto de trabalho. Albano (2002, p. 8)
afirma que mesmo para um modelo de base dinmica difcil
explicar o detalhe fontico que se manifesta em variaes quantitativas deparmetros fsicos, mas est sob o controle de variveis qualitativas e, portanto,aparentemente simblicas, tais como distines dialetais e/ou fronteiras deconstituintes morfolgicos ou sintticos.
Porm, j se tornou bastante difundida a ideia de que a produo da fala comea a partir
de representaes discretas; seu fim sempre o contnuo da fala, um contnuo gestual.Portanto, de grande importncia o esforo de muitos pesquisadores no tocante incorporao
do contnuo da fala s representaes ditas abstratas (vide a prpria FAR, proposta por
Browman e Goldstein, 1992, 1995 e Keyser & Stevens, 2006).
2traduo de Albano (2001) para o termo de Browman e Goldstein gestural scores.
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Tambm so de grande relevncia postulaes como a de Ohala (1981), que tenta
explicar a relevncia dos ajustes em tempo real, influenciados pela interao com o aparato
auditivo. Segundo ele, a despeito do pequeno nmero de pronncias aceitas para cada palavra,
a fala real sempre produz rudo, ou seja, h um nmero ilimitado de variaes fonticasmensurveis nos sinais acsticos (Ohala, 1981, p. 179). Alm de identificar as palavras no sinal,
o falante precisa produzi-las, utilizando informaes do sistema acstico-auditivo.
O ponto em que essa variao de pronncia se torna significativa para a produo
aquele em que o ouvinte passa a pronunciar a partir da interao com o aparelho auditivo.
Segundo o mesmo autor, ainda, variadas vezes, e para vrios falantes, h uma gama de
possibilidades de pronncia, as quais podem ou no estar sob o seu controle ativo.
Ademais, vlida a intuio de que alguns ajustes so preciosos para a realizao
plena de determinados sons das lnguas, mesmo que suas caractersticas no envolvamdistintividade. Keyser e Stevens (2006) citam, por exemplo, como a propriedade do
arredondamento, das fricativas /s/ e / /, pode ser uma informao importante na descrio.
Apesar de um / / arredondado e um / / no-arredondado no serem distintivos, do ponto de vista
fonolgico (mais especificamente, de uma fonologia de traos), a descrio de / / que ignora o
arredondamento dos lbios incompleta.
O modelo de base dinamicista, que trata da produo e percepo das aes
(GOLDSTEIN e FOWLER, 2003) consegue abarcar em uma descrio alofnica processos
contnuos e gradientes, que envolvem, sobretudo, relaes temporais de sobreposio edeslizamento de articulao gestual, os chamados overlaps (Keyser & Stevens, 2006, Gafos,
2001); o fenmeno de africao das oclusivas alveolares como uma produo dialetal
inovadora, por exemplo, fica convenientemente documentado se assumirmos a Fonologia
Articulatria ou Gestual. Albano (2001) adota amplamente os seus pressupostos, reconhecendo
a importncia da face acstico-articulatria da produo.
A observao da sobreposio aparece com mais detalhes no estudo de Gafos (2001),
que prope uma gama de marcos no segmento de sincronizao entre gestos sobrepostos:
Onset: inicio do movimento em relao ao alvo, correspondente borda da esquerda deAlbano (2001);
Target: ponto no tempo em que o gesto atinge o alvo;
C-center: ponto mediano doplateau gestual;
Release: o afastamento do gesto para longe do alvo;
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Release-offset: ponto no tempo em que o controle ativo do gesto cessa, correspondente
borda direita.
Estes marcos seriam a estrutura interna dos gestos; a partir desses pontos, seria
possvel descrever a sobreposio e os ajustes articulatrios neles envolvidos.
3. AFRICADAS NOS ESTUDOS FONTICOS
Segundo Ladefoged e Maddieson (1996, p. 90), essa classe de sons da fala no possui
fronteiras precisas, sendo uma categoria intermediria entre uma oclusiva simples e uma
seqncia de oclusiva e fricativa. Johnson (2003, p. 141) afirma tambm que tais sons no so
eventos estticos. Este estudo, bem como os citados autores, considera que sua descrio
fonolgica deve levar em conta esta complexidade. Para alm, possvel incorporar anlisedo fenmeno ideias mais recentes sobre processos gradientes de produo envolvidos nas
africadas.
No caso especfico das oclusivas velar e palatal, Johnson (2003) diz que seu lugar de
articulao visto pelos movimentos formnticos (fechamento e soltura no so realizados
numa s postura), ao invs de ser visto atravs de valores particulares de formantes. As
caractersticas do movimento, ento, so dadas pelo seu ponto de incio e fim.
As africadas so geralmente descritas com os mesmos parmetros acsticos utilizados
para oclusivas e fricativas, j que costumam ser considerados sons complexos de uma
categoria intermediria entre oclusiva e fricativa (LADEFOGED E MADDIESON, 1996). o que
se prope em alguns trabalhos de descrio fontico-fonolgica que envolvem anlise acstica
de africadas, como de Miller-Ockhuizen e Zec (2003), que tratam das alofonias envolvendo
africadas da lngua srvia, e o de Dorman et. al. (1980), com descrio das africadas do ingls.
Os parmetros espectrais e acsticos das fricativas podem ser empregados com
sucesso, pois, segundo Kent e Read (1992, p. 169), os parmetros que se utilizam para
diferenciar apenas as africadas ainda no esto muito bem estabelecidos. Segundo eles, as
principais pistas que distinguem uma fricativa de uma africada, no caso das alveolares, ao
menos, so os valores da durao e de rise time3, ou durao do aumento da energia do rudo.
3Kent & Read (1992, p. 130) conceituam rise timecomo a medida do tempo em que a amplitude atinge o seu valormximo. Segundo estudos prvios de Howell e Rosen (1983), afirma-se que a mdia do rise timedas africadas se dpor volta de 33 ms e das fricativas 76 ms. Alm de as africadas apresentarem intervalo de frico menor que asfricativas, so caracterizadas por um acmulo de energia mais rpido, verificado por essa medida.
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Esta ltima, porm, descrita pelos autores como uma pista apenas secundria, e no muito
confivel.
Castleman e Diehl (1996), tambm preocupados com os parmetros para a
diferenciao entre o rudo das africadas e das fricativas, realizaram um estudo na tentativa derevelar os melhores parmetros. Os pesquisadores utilizaram fricativas e africadas em incio de
palavra e, segundo suas anlises discriminantes, os melhores critrios para distingui-las foi
durao do silncio e da frico. Rise time foi considerada uma medida menos efetiva, porm
no totalmente descartada por ser uma importante pista perceptual.
Estudos sobre palatalizao e africadas com enfoque na metodologia articulatria
tambm existem para o portugus brasileiro. Um dos primeiros estudos sobre palatalizao
uma investigao articulatria feita por Cagliari (1974), muito completa em sua descrio.
Outros mais sofisticados se seguiram depois. Segundo este estudo, as africadas do portugusso produzidas em uma regio alveopalatal, diferente daquelas produzidas efetivamente no
palato.
Em outras lnguas, h estudos articulatrios bastante detalhados sobre o fenmeno,
como o de Recasens e Espinosa (2007), sobre fricativas e africadas em dialetos do catalo, que
concluem que os sons rotulados como //, /t/ e /d/ tambm so produzidos na regio
alveopalatal.
4. DISCUSSO
Neste estudo, partiu-se das observaes iniciais de Albano (1999, 2001) sobre a
palatalizao. Segundo a autora, a africada surge como efeito da sobreposio entre os gestos
consonantal e voclico em diferentes marcos da slaba, em produes gradientes que envolvem
sobreposio e ajustes finos, deixando-se de lado a ideia de que a descrio fonolgica de /t/ e
/d/ ps-alveolar envolve a produo de dois segmentos distintos, ou seja, uma oclusiva seguida
de uma fricativa, como se explicar mais adiante.
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CAPTULO IIIPANORAMA GERAL DA METODOLOGIA
1. UM IMPASSE METODOLGICO: ANLISE FONTICO-ACSTICA DE UMA VARIAOLINGUSTICA
Como j foi apontado, alguns aspectos da metodologia sociolingustica so relevantes
para este trabalho. Na perspectiva de tal rea da Lingustica, o trabalho com dados naturais, de
fala mais espontnea, ganha destaque; as formas de incitar a fala verncula e as maneiras de
minimizar os efeitos da interveno do observador, criadas por Labov, tornaram-se o principal
mtodo de coleta de dados na rea.
Tarallo (2001, p. 19) explica muito claramente que o material de estudo do sociolinguista
deve ser o vernculo, a fala enunciada nos momentos em que o mnimo de ateno prestado
lngua. Por outro lado, o trabalho com anlises fontico-fonolgicas requer um controle muito
preciso do objeto lingustico a ser analisado, a fim de evitar vieses e resultados aleatrios,
decorrentes da falta de um controle mnimo de variveis. Isso, na maioria das vezes, torna
invivel a coleta de dados totalmente espontneos ou mesmo mais naturais, frutos, por
exemplo, de entrevistas ou narrativas referentes a temas diversos, completamente alheios ao
fenmeno lingustico em questo.
Tendo em vista o envolvimento deste trabalho em ambos os campos, restou refletir
sobre estratgias para que se deixasse a fala dos sujeitos o menos artificial possvel. Sendo
objeto do estudo a variao, preciso que o falante esteja muito vontade e que haja espao
para que ela acontea, ainda que em corpora mais controlados. Mesmo Labov (1972)
reconhece a dificuldade de se observar o vernculo. Segundo ele, qualquer observao
sistemtica define um contexto formal, em que a ateno prpria fala pode aparecer. por
tais motivos que, muitas vezes, opta-se pela anlise de um corpusheterogneo, tanto de fala
controlada quanto de fala menos artificial.
Ora, a simples presena de um microfone e um gravador deixa o sujeito em uma
posio formal de enunciao. Segundo Labov, a soluo envolver o sujeito em uma situao
em que outro fator do contexto seja mais relevante.
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1.1 O caminho entre dados de fala espontnea e de laboratrio
O caminho encontrado para a obteno de dados que contemplassem as exigncias,
tanto da necessidade de uma observao menos engessadaquanto de um controle exigidopela anlise rigorosa, foi a criao de algumas tarefas especficas para os sujeitos, como
descreveremos nas prximas sees.
Em uma das tarefas, procurou-se envolver os sujeitos em uma situao de elocuo
especfica: a leitura de boletins jornalsticos. Esta tarefa, apesar de ser uma situao formal de
elocuo, permitiu que os sujeitos se envolvessem com os temas abordados pelas notcias e,
dessa forma, prestassem menos ateno prpria fala.
A segunda situao de coleta dos dados foi uma tarefa de repetio, na qual os sujeitos
ouviam uma palavra obscurecida por filtro e eram incitados a adivinhara palavra, para depoisrepeti-la. Nesta tarefa, o engajamento do sujeito em cumprir o que foi pedido compreender a
palavra e repeti-latambm serviu como uma estratgia para que a ateno fosse desviada da
pronncia, favorecendo, assim, um registro menos artificial.
2. DESCRIO DA METODOLOGIA
2.1 Sujeitos
Os sujeitos foram selecionados no incio do primeiro semestre de 2009, de acordo com a
presena parcial ou inconstante de africadas em suas falas. Dos dez sujeitos abordados para a
pesquisa, constatou-se que nenhum deles apresentava uma produo completamente
desprovida de africadas.
Os sujeitos preencheram um formulrio com algumas informaes pessoais. Aps o
contato inicial, seguiu-se a leitura de dois pequenos textos, que mostravam presena ou
produo inconstante de africadas e produo de rudo intermedirio(i.e., produzido na regio
alveolar) entre elas. Falantes que apresentaram todas as africadas caracteristicamente ps-
alveolares completaram uma repetio das tarefas, mas sua produo no entrou na anlise
final de dados.
Dentre todos esses sujeitos iniciais, cinco j produziam africadas completamente ps-
alveolares e, portanto, foram deixados fora da pesquisa; dentre os estudantes que
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apresentavam em seu dialeto produo de ps-alveolares como a produo default, quatro
eram do sexo feminino.
Dessa forma, os sujeitos escolhidos para acompanhamento foram cinco jovens
estudantes do sexo masculino. Como dito, todos j apresentam um pouco de variao na fala.Finalizando, os ltimos quesitos observados para que se tomasse a deciso de analisar ou no
os sujeitos foram tempo de residncia em Jundia e origem geogrfica dos pais. A seguir,
apresentar-se-o mais detalhadamente os sujeitos selecionados para as observaes. Alm de
todos serem do sexo masculino, esto dentro da mesma faixa etria. Em 2009, eram alunos de
primeiro ano em cursos de graduao da Unicamp; alm disso, residiam em Jundia e viajavam
todos os dias para Campinas.
- Sujeito 1 (S1)Aluno do curso de Msica, na modalidade Canto Lrico. No momento das coletas de dados,
tinha 18 anos. natural de Jundia, assim como seus pais, que l tambm moraram toda a vida.
- Sujeito 2 (S2)
Aluno do curso de Economia e natural de Jundia; em 2009 tinha 18 anos completos. Reside
nessa cidade desde que nasceu, nunca tendo morado em outro local. Sua me de Osasco, na
Grande So Paulo, e seu pai natural de Jundia, sempre tendo residido l.
- Sujeito 3 (S3)
Aluno de Economia, tambm com 18 anos. Nasceu em Jundia, onde sempre residiu. O pai
natural de Indaiatuba-SP, cidade prxima a Campinas, e sua me nasceu em Jundia, onde
tambm sempre residiu.
- Sujeito 4 (S4)
Cursa a faculdade de Engenharia Mecnica e, em 2009, completou 20 anos. Nasceu em
Jundia, onde reside. Seu pai nasceu em Limeira-SP e sua me em So Carlos-SP, ambas
cidades do interior do estado.
- Sujeito 5 (S5)
Aluno do curso de Engenharia Mecnica, 17 anos em 2009, nasceu em So Carlos-SP. Reside
em Jundia h 15 anos. Seu pai nasceu em Tiet-SP e sua me em Jundia-SP. O estudante
residiu em So Carlos, tambm no interior do estado, nos dois primeiros anos de vida.
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2.1.1 Entrevistas
Alm das gravaes da fala dos sujeitos, tambm se fez uma pequena entrevista com
cada falante, aps a ltima gravao, a fim de procurar saber o que pensam sobre o modocomo falam e sobre as diferenas de fala que encontraram ao tomar contato com falantes de
outros lugares. A entrevista permite complementar as anlises de fala e revela suas intenes
na direo da mudana. So 16 perguntas, presentes no Anexo IV4; as respostas foram dadas
ortograficamente e servem como um contato preliminar com os sujeitos, antes de se
observarem as anlises de fala.
Isso se justifica porque, alm de procurar analisar o grupo de falantes, em conjunto,
tambm se procurou estudar mais detalhadamente dois dos falantes, a fim de que se
percebessem as diferenas na implantao da variante inovadora; possvel que alguns dosfalantes observados nem mesmo cheguem a efetivar essa mudana em sua produo, pois
mudana pressupe um estado anterior de variao, mas variao no implica mudana efetiva
(TARALLO, 2001).
2.2 Materiais e mtodos da coleta de dados
As coletas de dados, ou sesses de gravao, se deram no ano de 2009 e ocorreram da
seguinte maneira:
TABELA 1: DETALHAMENTO DAS COLETAS DE DADOS COM CADA SUJEITO
2009 S1 S2 S3 S4 S5
(C1) coleta 1 - Maio/Junho x x x x x
(C2) coleta 2 - Setembro x x
(C3) coleta 3 - Dezembro x x
As primeiras coletas de dados ocorreram entre maio e junho, aps a seleo de
palavras definitiva para a gravao e a seleo dos sujeitos. Foram realizadas cinco sesses,uma com cada sujeito; o objetivo era a gravao de fala, conforme comentado nas prximas
4No Anexo IV, encontra-se o roteiro de entrevistas que aplicamos aos sujeitos na ltima coleta de dados com as respectivasrespostas. As questes foram baseadas no roteiro de entrevistas do j citado trabalho de Leite (2004), que procurava investigar asatitudes lingusticas, em relao ao prprio dialeto, de falantes residentes em Campinas mas provenientes da cidade de So Josdo Rio Preto.
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subsees. Como possvel perceber pela tabela acima, somente com dois dos cinco sujeitos
foi possvel completar as trs coletas de dados planejadas inicialmente. Trs dos sujeitos no
puderam participar das outras duas sesses de gravaes.
Portanto, a observao dos dados foi segmentada em duas etapas: i) uma anlise defala do grupo, com os dados de todos os sujeitos em C1; ii) duas observaes longitudinais com
S1 e S2, com dados de trs coletas realizadas ao longo de um ano (C1, C2 e C3).
Para garantir a qualidade das gravaes, utilizou-se um gravador digital Marantz
Professional, modelo PMD670, com um microfone direcional Sennheiser e815s. Para o
cumprimento da tarefa de repetio, os sujeitos contaram com um notebook DELL Latitude110,
e fones de ouvido PhilipsSHM3300. Os dados presentes nos boletins jornalsticos foram lidos;
j para a tarefa de repetio, os estmulos sonoros foram apresentados em uma rotina do Praat,
verso 5.0.40
5
. Em ambas as tarefas, cada palavra analisada foi gravada em trs repeties.Em C1, as gravaes com S4 e S5 foram realizadas em uma sala silenciosa do
LAFAPE, com atenuao de rudo; j as gravaes de S1, S2 e S3 foram realizadas em uma
sala de aula da ps-graduao do Instituto de Estudos da Linguagem, devido a reformas no
ambiente do Laboratrio. Houve esforo em conseguir a sala mais isolada e realizar as
gravaes nos horrios mais silenciosos. C2 e C3, com S1 e S2 apenas, foram realizadas
dentro do estdio de gravao do LAFAPE. As sesses duraram, aproximadamente, 50
minutos, havendo pequenas pausas entre tarefas ou blocos de tarefas.
2.2.1 Estratgias para a coleta de dados
2.2.1.1 Tarefa de leitura
Construiu-se, primeiramente, um corpuspara a gravao de fala semi-espontnea dos
sujeitos. Para isso, a primeira estratgia foi a leitura de boletins jornalsticos6. Essa ideia foi
baseada na pesquisa de Ladd et. al. (1999), em uma tentativa de apresentar dados menos
artificiais para os informantes. Como j se mencionou, a estratgia tinha por objetivo desviar a
ateno dos falantes da prpria fala, visto que os boletins apresentavam notcias reais e de
relativo interesse.
5Disponvel em http://www.fon.hum.uva.nl/praat/.6Adaptados de www.estadao.com.br.
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Cada boletim continha de quatro a cinco palavras-alvo, respeitando-se o sintagma
fonolgico. As notcias foram adaptadas para cumprir as exigncias do corpuspretendido. Nas
frases, as palavras foram colocadas sempre na posio de sujeitoncleo ou de complemento.
As palavras selecionadas so, exclusivamente, substantivos ou adjetivos. Com estasmodificaes, as frases ficaram semelhantes a uma frase-veculo. Para o controle da taxa de
elocuo, o nmero de slabas das frases que continham as palavras foi tambm controlado: 15
slabas.
Para selecionar as palavras-alvo, foi utilizado, inicialmente, o programa Listas (SILVA et.
al., 1994), que toma como base o minidicionrio Aurlio, e tambm a base de dados do
portugus brasileiro do CETEN, que tem corpusretirado do jornal Folha de So Paulo7. Foram
selecionados substantivos e adjetivos que continham /t / e /d / em slabas tonas, em palavras
trisslabas ou polisslabas
8
. Procurou-se o maior nmero possvel de palavras queapresentassem o fenmeno nas ps-tnicas o que acarretou na maior parte do corpus se
constituir de palavras proparoxtonas, mas algumas pr-tnicas tambm foram incorporadas,
por questes de escassez de exemplos que satisfizessem as condies no banco de dados. O
padro preferido para as slabas foi o CV, admitindo-se uma coda em uma das slabas; o
corpuscompleto pode ser visto no Anexo I.
interessante observar uma diferena significativa entre oclusivas surdas e sonoras.
Realizando as buscas na base de dados do CETEN, percebemos grande quantidade de
palavras com oclusivas surdas e uma quantidade bem menor com sonoras. Sufixos comotivo(em palavras como esportivo, narrativo) e o particpio tido (como em batido, prometido)
abundam na base.
Por fim, tambm foram selecionadas 40 palavras que contemplaram as fricativas
alveolar e ps-alveolar /s, , z, / (cf. Anexo III), para que pudssemos comparar as
caractersticas de seus rudos, para cada falante, com o rudo das africadas.
7Base elaborada pelo Ncleo Interinstitucional de Linguistica Computacional (NILC), disponvel em:http://www.linguateca.pt/cetenfolha/index_info.html, acesso em 15 dez. 2008.8Evitamos palavras com apenas duas slabas para que as oclusivas que pretendamos analisar no ficassem naslaba final, o que poderia acarretar em um quase desaparecimento da vogal final ou mesmo em uma captaosonora muito fraca da slaba final da palavra.
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2.2.1.2 Variando a taxa de elocuo
A relao entre a produo de africadas pelos falantes de Jundia com a variao da
taxa de elocuo importante para este trabalho. O objetivo foi verificar se, na fala rpida emenos monitorada, os falantes, ainda assim, manipulam essa produo, produzindo rudo para
tentar disfarar sua pronncia (ZELLNER, 1998). Pensa-se que os sujeitos tenderiam a produzir
menos africadas menos palatalizadas na fala acelerada. Para tanto, criou-se um mecanismo
para propiciar coletas de dados em diferentes taxas de elocuo, para analis-las como
variveis.
A fim de se obter variao na taxa de elocuo, na tarefa de leitura, pediu-se que os
sujeitos produzissem uma fala mais monitorada e uma fala mais rpida. Considerou-se, assim,
a existncia de duas velocidades de fala: rpida e normal. sabido que cada falante possuivelocidades intrnsecas, i.e., a velocidade de fala varia de falante para falante; uma taxa de fala
qualquer pode ser considerada rpida para alguns, mas normal para outros.
Foi necessrio, ento, estabelecer um modo para variar a taxa de elocuo que
tentasse, da melhor maneira possvel, respeitar as diferenas individuais. Foi por esse motivo
que no se optou pelo uso do metrnomo, mesmo porque os falantes gravados no esto
habituados a seu uso. Ao invs disso, apresentou-se um modelo de fala normal, monitorada,
seguido de exemplo de fala rpida do mesmo falante. Este falante-modelo teve sua fala
gravada com auxlio do metrnomo. Para ele, delimitou-se uma media de 4,5 slabas por
segundo para fala normal e 6,5 slabas por segundo para fala acelerada. Ele procedeu leitura
de um boletim jornalstico, em ambas as velocidades, para que, posteriormente, os sujeitos da
pesquisa fizessem o mesmo.
Em seguida, tomou-se a fala exemplar e deu-se a ela um tratamento para minimizar a
informao lingustica e, principalmente, dialetal da produo exemplar. A fala tambm foi
filtrada, deixando-se somente as frequncias de 0 a 900 kHz. Segundo Cummins (2007), falas
filtradas nas frequncias mais baixas no so difceis de serem seguidas, e, por esse motivo,
distorceu-se a gravao modelo, para evitar o enfoque em informaes dialetais que pudessem
levar o sujeito a copiar a fala ouvida, j que o falante-modelo era natural de Piracicaba-SP.
Assim, os informantes, primeiramente, ouviam essa produo modelar e, em seguida,
repetiam as mesmas oraes tentando seguir a velocidade normal. Em seguida, foram
instrudos para produzir uma fala monitorada, a mais clara e normal possvel. Depois,
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novamente ouviam e repetiam as oraes da gravao modelar, ento de uma fala rpida, e
pedia-se que lessem os textos de forma acelerada, como se narrassem um jogo de futebol. Os
informantes podiam ouvir novamente, a qualquer momento, a fala modelar.
Esse modelo que os sujeitos escutavam tambm era o trecho de um boletim:Os petroleiros de todo o Brasil comearam a entrar em greve desde o fim desemana, mas a maioria paralisou as atividades a partir da zero hora destasegunda-feira, segundo informaes da Federao nica dos Petroleiros.9
Cada boletim foi lido trs vezes em cada velocidadea fim de se obter trs repeties
de cada palavra , mas no em seguida, o que resultou em trs repeties em cada taxa. A
ideia surgiu da pesquisa conduzida por Cummins (2007), segundo a qual sujeitos conseguem,
facilmente, sincronizar sua leitura com a leitura de um texto gravado. H uma srie de pistas
que auxiliam um falante a entrar em sincronia com uma gravao de texto lido. De acordo com
o autor, esse alcance de sincronia no se d somente para a fala, mas para qualquer
movimento corporal, o que corrobora uma teoria gestual para os estudos da fala.
2.2.1.3 Tarefa de repetio
Para continuar verificando como as africadas dos sujeitos de nossa pesquisa se
apresentaram no momento de cada coleta, aplicou-se um teste de repetio que mostraria
como os falantes produziam certas palavras, com oclusivas alveolares antes de [i], a partir de
estmulos disfarados.
A primeira ideia era elaborar uma tarefa de repetio aos moldes dos testes de
percepo com restaurao de fonemas (WARREN, 1970). Um dos primeiros experimentos de
restaurao de fonemas mostrou que, no caso de certas oclusivas e fricativas do ingls, ainda
que um segmento de uma palavra seja substitudo por um rudo, um tom complexo ou um tom
shepard10, ouvintes percebem essa palavra normalmente, restaurando o fonema ausente ou
encoberto.
9trecho adaptado de www.estadao.com