GNOSE. Eu Estive No Planeta Vênus, Salvador Villanueva Medina. Gnose. Gnosis e Ufologia

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E U E S T I V E N O P L A N E T A V Ê N U S Salvador Villanueva Medina Tradução: Karl Bunn S U M Á R I O 1 O contato 2 A nave 3 A nave-mãe 4 Chegada à Vênus 5 Primeiras impressões 6 Examinando o passado venusiano 7 Um vôo sobre Vênus 8 Encontro com os franceses 9 Como os venusianos se divertem 10 – A despedida 11 – De volta aTerra Apêndice Naves interplanetárias 1

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Transcript of GNOSE. Eu Estive No Planeta Vênus, Salvador Villanueva Medina. Gnose. Gnosis e Ufologia

  • E U E S T I V E N O P L A N E T A V N U S

    Salvador Villanueva MedinaTraduo: Karl Bunn

    S U M R I O

    1 O contato 2 A nave 3 A nave-me 4 Chegada Vnus 5 Primeiras impresses 6 Examinando o passado venusiano 7 Um vo sobre Vnus 8 Encontro com os franceses 9 Como os venusianos se divertem 10 A despedida 11 De volta aTerra Apndice Naves interplanetrias

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  • APRESENTAOpor Karl Bunn

    Traduzi este livro nos anos 70, logo que tive oportunidade de adquiri-lo. Depois, fizemos uma edio impressa mas foi um fracasso de vendas. Aparentemente, as pessoas sempre estiveram mais interessadas em histrias de ETs monstruosos e assassinos do que em relatos simples, diretos e honestos, de gente simples, falando de bondade, respeito, altrusmo e fraternidade. Portanto, quase 30 anos aps a traduo, dispondo hoje de canais prprios de comunicao com o mundo, graas internet, novamente iniciamos a distribuio desta obra referendada pelo Mestre Samael Aun Weor, que conheceu o autor deste livro pessoalmente.

    Dentro deste campo da vida extra-terrestre temos ouvido muitas histrias. Muitas, sem dvida, honestas e verdadeiras; outras, puras fantasias. Todos os que tiveram experincias reais com seres de outros planetas foram, literalmente levados fogueira das calnias pelos que se dizem especialistas no tema. Dentre esses especialistas h aqueles que sequer at hoje avistaram alguma nave, mas, ainda assim, se julgam superiores aos que nelas viajaram dentro e fora de nosso sistema solar.

    Este livro, junto com mais alguns poucos que tivemos oportunidade de conhecer, graas aos trabalhos srios, mas annimos, desenvolvidos por pessoas de nossa confiana em diferentes partes do mundo, d uma mostra real e autntica de como vivem essas humanidades que esto em estgios bem mais avanados que ns, os primitivos e atrasados moradores deste planeta selvagem chamado terra.

    A questo mais real e palpitante que os leitores desta obra sempre colocam : Como pode o planeta Vnus ser habitado se o clima hostil, venenoso e que as sondas da NASA mostram como imprprio para a vida humana?

    Bem, isso tambm me deu muitos ns em minha pobre mente. Mas, um dia pude compreender como a vida nasce, cresce e se desenvolve em vrias dimenses simultaneamente. A, tudo ficou simples de ser entendido e aceito. Portanto, meus caros amigos, a NASA pode enviar centenas de aparelhos cientficos para qualquer planeta de nosso sistema solar, telescpios podem ir alm do sistema solar, fotografar, filmar, sondar, mas, nunca encontraro vida humana na terceira dimenso como ns a temos aqui na terra.

    Bem, a nasce outra questo: Mas, como v. podem provar que h vida em outras dimenses?

    A resposta : Nunca provaremos nada. No queremos provar nada. Mas, se v. quiser comprovar isso que dizemos, bem, venha estudar nossos mtodos de pesquisa e investigao nas dimenses superiores da natureza e a v. mesmo poder ver pessoalmente essas realidades.

    E mais questionamentos surgem: Mas, se os venusianos vivem na quinta dimenso como podem viajar para a terceira dimenso?

    Bem, caros amigos, isso nem a fsica quntica hoje supremo apangio da vida inteligente deste planeta consegue ainda explicar. Mas, isso fruto de nosso desconhecimento, como tambm foram certas barreiras imaginrias que criamos no passado. Houve um tempo que se acreditava que se algum ultrapassasse os 60 km / h se desintegraria. Depois, mudaram para a barreira do som. Hoje, existe a barreira da velocidade da luz que a cincia dos ETs simplesmente ignora o que seja porque eles viajam a velocidades muitas vezes superiores velocidade da luz [e nunca se desintegraram como crem nossos cientistas].

    Enquanto nossa cincia vive no mundo das cavernas em termos de conquistas csmicas, os msticos de todos os tempos e pocas sempre tiveram contato e comunicao com os ETs porque o mstico desenvolve dentro de si certas habilidades psquicas que o levam naturalmente a conhecer, ver, investigar e pesquisar dentro das sete dimenses bsicas da natureza.

    Mas, tudo isso bem complicado explicar s mentes cartesianas de nosso tempo. Nunca iro entender muito menos aceitar essas realidades que esto bem alm de sua limitada compreenso intelectual condicionada por uma cincia atesta e materialista.

    Dito isto, s nos resta desejar uma boa leitura. Obrigado.

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  • PREFCIOpor Samael Aun Weor

    Conheo Salvador Villanueva Medina h muito tempo. pessoa amiga e digna de crdito. A bem da verdade enfatizo que se trata de um homem prtico. No tem nada de extraordinrio. Nunca o vimos em devaneio. Sempre ganhou a vida como motorista, ultimamente como mecnico de automveis. Sem dvida, trata-se de uma pessoa exemplar, excelente pai de famlia, bom amigo.

    Entretanto, esse livro s lhe trouxe problemas. Essa obra j foi traduzida para o alemo, japons, ingls, francs, tendo vendido milhares de exemplares. O autor limita-se a contar o que viu e testemunhou. Considera uma obrigao narrar seu caso humanidade. E diz a verdade, s a verdade.

    Medina foi examinado por vrios psiclogos, e esses atestaram que se trata de uma pessoa lcida, inteligente e equilibrada. O que aconteceu com ele - ter ido Vnus a bordo de um disco voador - poderia ter acontecido a qualquer um. A Phillips examinou amostras de terra e arbustos recolhidos no local onde a nave que levou Medina Vnus pousou. Os especialistas daquele laboratrio descobriram uma estranha desordem atmica e molecular. As marcas deixadas pela nave foram fotografadas. Assim, a narrao de Medina est baseada em fatos e provas.

    O Movimento Gnstico Internacional est de parabns com esse evento csmico, cujo protagonista principal foi Salvador Medina. Sempre dissemos que a Terra no o nico mundo habitado, e isso ficou demonstrado com esse caso vivido por Medina. Vrios terrcolas tm sido levados a outros mundos como pde evidenciar Medina em Vnus, onde se avistou com dois franceses, os quais nem por sonho querem voltar Terra.

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  • PRLOGOpor Salvador Villanueva Medina

    O ms de agosto para mim significativo, pois, nesse ms vim ao mundo, ainda que daquela data at hoje haja transcorrido quase meio sculo. Foi tambm no ms de agosto que tive o maior privilgio que algum poderia desejar. Em ambos os casos, a aventura aconteceu sem meu conhecimento. Este ltimo difcil de provar, porque nem testemunhas havia, porm, mais rico em incidentes que o primeiro.

    Disso tudo, o que mais fundas razes lanou em minha mente, foi um motorista: ele foi a primeira pessoa que se colocou no meu caminho quando terminava a fantstica aventura. Foi fcil transbordar meu otimismo, sem imaginar suas conseqncias, que me colocavam no limite do sublime com o ridculo.

    Mas tratei de aproveitar minha experincia com o motorista. Dali por diante acautelei-me, mesmo que falando a verdade. Confesso que aps a primeira decepo com as pessoas, com suma facilidade encerrei dentro de mim a gloriosa experincia, ainda que s pessoas que a proporcionaram tivesse prometido faz-la pblica. Por dezoito meses fiz caso omisso de minha promessa para com eles, apoiando-me na desculpa de que no tinha preparo intelectual. Mas insistiram assegurando-me que se valeriam de algum meio para me ajudar na transcendental tarefa.

    No me pareceu raro ver nas primeiras pginas dos jornais, notcias a respeito de pessoas que haviam tido experincias semelhantes, ainda que menores que a minha. Novamente comeou a mexer em mim a curiosidade de saber se a populao me acreditaria. Propunha-me a contar tudo a um intelectual e acredito que fiquei atinado quanto escolha. Por aqueles dias um colunista que, sob o pseudnimo de M.G.B., escrevia uma srie de artigos sobre o assunto, chamou-me a ateno. Pela seriedade com que atuava, decidi fazer contato com ele, mandando-lhe uma parte do relato, pois, no podia desenterrar de mim a incerteza que provocara o motorista, e por isso julgo que cometi outro erro no lhe contando toda a experincia em detalhes.

    Agora era ele quem recebia com reservas as minhas palavras, e ainda que me tivesse dado oportunidade de justificar-me, creio que no soube aproveitar, agravando as suas desconfianas. Exatamente naqueles dias estava no Mxico, em viagem de frias, um casal de norte-americanos que havia tido a oportunidade de ver uma nave espacial pouca altura. Isso lhes entusiasmou tanto que decidiram document-la e documentar-se devidamente e ditar algumas conferncias. No Mxico colocaram-se em contato com o senhor M.G.B. o qual teve a gentileza de me convidar para assistir a primeira conferncia ditada por eles na capital asteca.

    Compareceram conferncia umas trezentas entusiasmadas pessoas, a maioria documentada, e algumas, com experincias pessoais. Tambm os jornalistas fizeram-se presentes, pelo que ficou muito interessante o novo incidente que iria aumentar meu acervo pessoal.

    Em companhia de meu filho mais velho ocupamos uma poltrona do salo, deixando que a conferncia transcorresse. Esquentaram-se os nimos; vrias pessoas subiram ao palco para relatar suas experincias, aumentando o interesse de todos. De repente, o conferencista, num recurso de oratria, perguntou se algum dos presentes alguma vez fizera contato com tripulantes de naves espaciais. A pergunta me fulminou. Sem saber com certeza o alcance de minha deciso, sentindo que uma extraordinria fora obrigava-me a isso, levantei a mo, sendo em seguida convidado a ir ao palco ante a expectativa geral. Alguns passos depois o arrependimento j tomara conta de mim. Mas fui em frente. Felizmente trataram-me com cortesia e houve at um grande escritor, Francisco Struk, que acorreu em defesa de minhas palavras, acalmando o rebulio que elas provocaram na assistncia.

    Os norte-americanos interessaram-se em investigar meu relato, e com a aquiescncia de M.G.B. convidaram-me para lhes ensinar o caminho e o lugar onde vira e entrara na nave. Acompanhou-nos um engenheiro militar, um professor de matemtica americano e Salvador Gutierrez, experiente fotgrafo da imprensa mexicana. A excurso foi exitosa. O engenheiro, guiado por minhas palavras, fez clculos e no demoramos a achar o lugar exato, comprovando-se as dimenses do aparelho. Isso me fez recobrar a confiana perdida com o motorista quando lhe contara o episdio. E adquiri nova informao: as naves aterrissam deixando profundas marcas. No presente caso, como havia aterrissado num local de vegetao alta, esta ficou queimada de um modo raro, totalmente desconhecida para ns; e assim encontrava-se dezoito meses depois.

    Tiramos amostras de terra, de dentro e de fora das marcas deixadas pela nave, que posteriormente foram mandadas para anlise nos laboratrios da Phillips, quando se comprovou que em ambas as amostras recolhidas havia uma diferena molecular bastante acentuada. Pouco depois veio da Califrnia - EUA - Jorge Adamski que tambm pronunciou uma conferncia no Teatro Insurgentes, asseverando que tivera numerosos contatos com tripulantes de naves extra- terrestres.

    Fui apresentado a ele na casa do colunista M.G.B. onde me limitei a responder suas perguntas sem estender-me demasiadamente, pois, tinha, ento, a firme convico de que nenhuma pessoa que conhecera

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  • tivera uma experincia to rica de detalhes e incidentes quanto a minha; parecia-me que todos buscavam unicamente respostas e experincias para benefcios pessoais.

    Pela capital asteca passou tambm o escritor ingls Desmond Leslie e tive oportunidade de conhec-lo e acompanh-lo por um dia e meio, graas ao interesse do agudo investigador e jornalista M.G.B. que no perdia tempo em aproveitar quantas oportunidades surgissem para investigar minhas experincias. Esclareo que tampouco a M.G.B. contara toda minha aventura. Como aos demais, limitara-me em contar-lhe somente uma parte da experincia, j que o restante julgava inverossmil; temia que me ridicularizassem, pois, estava crente que ningum acreditava em algo que no tivessem visto com os prprios olhos. Contudo, a promessa que fizera aos tripulantes da nave continuava mordendo minha conscincia. Este o motivo pelo qual resolvi escrever este relato, amplo e sem as limitaes impostas pelos jornais. Espero que me perdoem a ousadia.

    No final deste trabalho, aos versados em telepatia, relato algo que tenho tido o martrio de captar sem, contudo, poder decifrar inteiramente, mas que julgo obrigado a dizer.

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  • 1 O CONTATO

    Corria a segunda dezena do ms de agosto de 1953 ... ! Cobrindo meu turno num carro de aluguel, servi a dois norte-americanos, um casal, que me pediu recomendar-lhes um motorista que lhes ajudasse a conduzir um automvel para os Estados Unidos pela estrada de Laredo. Contra o meu costume, o trabalho me interessou e me coloquei a seu servio, saindo do Mxico dois dias depois. O automvel, um Buick modelo 52, ganhava estrada com facilidade. O casal tinha pressa em chegar e por isso revezvamos no volante. Havamos percorrido menos de 500 quilmetros - 484 para ser exato - quando se ouviu um rudo na transmisso do carro. Temerosos de causar maiores estragos ao veculo, paramos. Meus acompanhantes decidiram voltar em busca de socorro, j que em plena estrada, sem ferramentas, era impossvel fazer qualquer conserto. Quando meus temporrios patres se afastaram peguei o macaco, para investigar de onde provinha o rudo. Coloquei-o sob o carro, levantando uma roda; deixei o motor ligado transmisso e deslizei para baixo do veculo para ouvir melhor. Nesta posio ouvi algum se aproximar, pois, escutava passos na areia acumulada ao lado da pista. Alarmado - porque quando meus patres se foram, ao me colocar em baixo do carro e olhando volta no vira ningum, e o lugar era deserto - tratei de sair rapidamente de baixo do carro. No terminei meu intento quando uma voz estranha, em perfeito espanhol, perguntava-me o que acontecera com o veculo. No respondi sem antes ter deslizado para fora, ficando sentado e encostado carroceria.

    minha frente, a uma distncia de metro e meio, havia um homem de pequena estatura e estranhamente vestido. No media mais que um metro e vinte. Vestia-se com um traje feito de material parecido com a paina ou um tecido de l. Exceto a cabea e o rosto, o resto do seu corpo estava totalmente coberto. Surpreendentemente, a cor de seu rosto parecia de marfim. Seus cabelos, prateados e ligeiramente ondeados, caam at abaixo dos ombros, por trs das orelhas que, em conjunto com as sobrancelhas, nariz e boca, formava um todo harmonioso, complementado por um par de olhos verdes, brilhantes, que me recordavam os de um felino. Sobre o traje trazia um grosso cinturo, arredondado em suas bordas e cheio de pequenssimas perfuraes sem ter, aparentemente. um ponto de unio. Trazia tambm um capacete parecido com os que se usa para jogar futebol americano, um pouco deformado na parte posterior na altura da nuca, onde havia um abaulamento do tamanho de um mao de cigarros, coberto, por sua vez, de perfuraes desvanecidas nas bordas. altura das orelhas, viam-se dois buracos redondos, medindo um centmetro mais ou menos, dos quais saa grande quantidade de fios metlicos tremelicantes que, nivelados sobre as costas do capacete, formava uma circunferncia de trs polegadas e meia; tanto os fios quanto a protuberncia eram de uma cor azulada, igual ao cinturo e ao colarinho que arrematava o traje, que era de cor cinza opaca.

    O homem levou sua mo direita boca, no caracterstico gesto de quem pergunta se eu falava. Pareceu-me alucinante a sonoridade e a musicalidade de sua voz, que saa de uma boca perfeita, marcada por duas fileiras de pequeninos e branqussimos dentes. Fazendo um esforo levantei-me, valorizando-me um pouco ao notar minha superioridade fsica. O indivduo animava-me esboando um sorriso de plena doura, mas eu no conseguia desfazer a rara impresso que me produziu a sbita apario daquele tipo to singular. Como no me sentira obrigado a responder a sua pergunta, perguntei-lhe se era aviador. Usando de generosa amabilidade, respondeu-me que sim, que seu avio, como chamvamos, estava perto dali. Reconfortado pela sua resposta, ocorreu-me convid-lo a subir no carro, pois, fazia um ar frio bastante desagradvel que aumentava de quando em quando ao passar um veculo em grande velocidade. A obscuridade comeava encobrir o homem. Em vez de aceitar meu convite ou de agradec-lo, arrumou cuidadosamente seu traje, deixando-se ouvir um rudo parecido como o produzido por um carro em grande velocidade. Nas perfuraes do cinturo comeou a acender e a apagar com profuso diversas luzes que aumentavam de intensidade. O homem levantou o brao direito, como a despedir-se, aproximou-se de um monte de terra, escalando-o com facilidade de onde saltou para o bosque que margeava a estrada. Decorrido um momento subi ao mesmo monte e tratei de localiz-lo, o que fiz pelo seu cinturo que, certa distncia, se assemelhava a um grupo de numerosos vagalumes. Permaneci ali at perd-lo de vista na obscuridade do bosque.

    Voltei ao carro, retirei o macaco e, por conselho de alguns patrulheiros rodovirios, tirei o carro do asfalto, colocando-o no acostamento. Acomodei-me no assento matutando sobre o estranho ser, pensando que talvez fosse um aviador que havia sofrido algum acidente ou pane e tivesse destroado o aparelho no bosque. Por fim, adormeci. Devia ter passado bastante tempo, pois, estava profundamente adormecido quando ouvi golpes no vidro da porta dianteira direita que me despertaram. Vi duas pessoas fora do carro. Imaginei que fossem meus patres que tivessem voltado. Sem pensar em mais nada, abri a porta. Enorme foi a minha surpresa ao encontrar meu conhecido acompanhado, agora, de outro indivduo com o mesmo aspecto e trajado igual ao primeiro. Sem me dar conta convidei-os a entrar no carro, coisa que aceitaram imediatamente. Foi assim quando, pela primeira vez, tive a rara sensao de que aqueles estranhos seres eram algo superiores a mim. Como se fosse uma premeditada advertncia, ao esticar o brao direito sobre eles para ajudar a fechar a porta, senti uma dor, seguida de um entumescimento que o paralisou momentaneamente. Foi to forte a impresso que, instintivamente, apertei-me contra o veculo para o lado esquerdo, deixando espao entre eles e eu. Um

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  • instante depois senti um calorzinho emanado de seus corpos ou de seus trajes que se tornava agradvel, j que naquela poca a temperatura da regio era fria.

    Sem nenhuma apresentao, meu conhecido, agora sentado na parte central do banco do automvel, perguntou-me se havia conseguido arrumar o carro. Disse-lhe que no trazia ferramentas suficientes para tentar o conserto, de modo que no havia outra sada a no ser esperar o regresso de meus acompanhantes que tinham ido em busca de socorro. Seguiu-se um momento de expectativa, quando percebi que estavam me observando com certo entusiasmo. Acendi as luzes do interior do carro e s para perguntar-lhes algo, quis saber se eram europeus. A perfeio de seus traos levaram-me a compreender que no pertenciam a uma raa ao alcance de meu conhecimento. O do meio, que conduzia a conversa, sorrindo ligeiramente, disse que eram de um lugar muito mais distante do que eu conhecia ou podia imaginar. A questo do lugar dava-me uma sensao esquisita, mas, no me ocorria pensar em outros planetas; s em outros pases. Nosso lugar, disse, est muito mais habitado que este. difcil encontrar muito espao entre pessoa e pessoa.

    Ento, o homem comeou a falar tanto que fiquei perplexo. Faziam contraste os dois: o do meio era a prpria loquacidade; o da direita, o mutismo em pessoa. Entretanto, este era mais cheio de rosto e mais robusto de modo geral e s fazia pequenos movimentos com a cabea, deixando, de vez em quando, seus pequenos dentes mostra, que se destacavam pela sua alvura; contudo, no dizia uma palavra. O baixinho seguiu dizendo que sua terra podia ser chamada de uma cidade contnua, porque cobria tudo. As ruas prolongam-se infinitamente, nunca se cruzando no mesmo nvel. A quantidade de veculos e a sua diversidade tanta que facilmente ficaria pasmado.

    Continuando, assegurou que seus veculos no usavam combustveis minerais, nem vegetais, pois, os gases dessa classe de combustvel so prejudiciais ao organismo. Disse tambm que a propulso era proporcionada pelo calor central do planeta e pelo sol - fontes inesgotveis de energia. Nas suas cidades as pessoas poupavam esforos porque havia caladas rolantes e que ningum jamais usava o meio da rua, que era metlico para conduzir a fora de propulso dos numerosos veculos. Estes so totalmente diferentes dos que vocs usam; vers que com o material e o espao que vocs usam para transportar seis pessoas ns levamos 25, e em alguns casos, at 50. Isso s tio primeiro andar. Enquanto dizia isso, corria os olhos pelo espaoso interior do veculo onde estvamos. Porm, ns os temos at com 10 andares.

    Tudo isso j estava comeando a me aborrecer. No conhecia nenhum pas da Terra que usasse tal combustvel em seus veculos. Talvez fosse verdade que houvesse algum demasiadamente povoado, mas at a chegava a coisa com relao s suas cidades. Tambm desconhecia que existia no mundo tal grau de mecanizao. Aqueles homens estavam me parecendo um par de gozadores. Perguntei como faziam para produzir legumes, j que so to povoado. Minha pergunta saiu em tom de gozao, mas ele, tranqilamente, me respondeu: Faz tempo que cultivamos legumes em maior nmero que os conhecidos por vocs; fazemos perfuraes, empregando as paredes para esse fim. Nossas hortas so subterrneas ou interiores.

    Alguma coisa do que tinha me dito parecia-me lgico; nem tudo, porm. Tratando de me orientar, perguntei-lhe se tinham mar. Respondeu, sem dar importncia minha pergunta: Temos um s, mas trs vezes mais profundo. A coisa estava me cheirando a mentira e reprovei seu procedimento. Ento os dois explodiram numa gargalhada que acabou de me aborrecer, porm pensei que minha ignorncia fosse maior do que imaginava. Assim, no me ofendi. Diante de minha impassividade o homenzinho espetou: Espero que entendas que estamos falando de outro planeta.

    De outro planeta?, retruquei entre indignado e espantado.

    Sim, homem; um outro mundo, como vocs dizem; creio que sabes que eles existem

    --Claro que sim, apressei-me em responder, porque a pergunta me pareceu ofensiva. Ora, imagine! Como que no sei da existncia de outros mundos?!

    E para terminar, quis demonstrar meus conhecimentos de astronomia, asseverando que, segundo nossos cientistas, nenhum outro planeta alm do nosso, poderia ter habitantes racionais.

    O que os leva a pensar assim?, perguntou-me. Acaso os deficientes meios de que dispem para fazer seus clculos? No lhes parece demasiada pretenso acreditar que so os nicos seres que povoam o universo?

    Aquilo estava tomando uma direo mais sria do que imaginava. De repente voltei a me dar conta da dor que ainda sentia em meu brao e tambm da singularidade daqueles tipos com seus trajes, os cintures, a rara cor da pele, a expresso de seus olhos, a estranha voz, cujo som nada podia encontrar de parecido. Para meu pobre intelecto isso tudo eram provas demais. Decidi seguir resistindo, dizendo que tudo o que me falavam parecia-me inacreditvel.

    -- Certo! inacreditvel para a mentalidade de vocs, mas, me diga uma coisa: por que?

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  • 2 A NAVE

    A pergunta foi to imprevisvel que me deixou confuso. Ao acaso respondi que o supunha apoiado nos estudos dos nossos cientistas, astrnomos e matemticos, que diziam que alguns dos planetas que formam nosso sistema solar so demasiadamente frios e outros demasiadamente quentes.

    Muito bem disse. Vou te dar um exemplo muito simples: vocs, na Terra, tm lugares extremamente frios, e mesmo assim, neles vivem pessoas que, sem artifcios e sem auxlio mecnico de espcie alguma, conseguem sobreviver, valendo-se unicamente de seus prprios recursos. Agora imagine esses mesmos indivduos dotados dos elementos necessrios e teis para formar o clima ou ambiente de que precisam. Que importncia teria para eles a distncia do sol se este lhes d os recursos necessrios para se protegerem e, ademais, converterem o negativo em positivo? Outro pequeno exemplo.

    Segui escutando.

    J percebeste que um indivduo, valendo-se to s de um pequeno tanque onde armazena o que necessita para respirar, pode estar fora de seu meio sem perigo para sua integridade fsica?

    O exemplo iluminou meu crebro. Sem perder tempo, perguntei:

    -- Vocs devem respirar algo diferente que ns!?

    -- Claro: respondeu satisfeito.

    -- Mas eu no vejo nada adicional ... ?

    -- No v nada porque, segundo tua mentalidade, deve ser adicional; toque aqui.

    Enquanto dizia convidava-me a toc-lo no que deveria ser o estmago e ali dava para sentir uma consistncia semidura, diferente de como a temos. Em seguida completou a explicao:

    -- Ns levamos aqui o que nos d a vida, injetado diretamente nos pulmes.

    -- Isso sim maravilhoso!, exclamei com entusiasmo. Mas, ... que diabo!...

    As dvidas continuavam me assaltando. Ele me advertiu dizendo que perguntasse tudo que quisesse, que me responderia. Para comear, perguntei-lhe, j que vinham de outro planeta, que espcie de veculos usavam. Respondeu-me dizendo o que tinha dito antes: que a sua nave estava a pouca distncia dali e que logo teria oportunidade de conhec-la se assim o quisesse. Em minha mente revolvia-se uma pergunta, mas no encontrava jeito de faze-Ia. Havia me ocorrido que sendo os adultos to pequenos, como seriam as crianas. Para minha surpresa, corno se estivesse lendo meus pensamentos, respondeu minha pergunta mental, meu pensamento, da seguinte maneira:

    --Vou te explicar o que quer saber, ou seja, o relacionado com as crianas. Em nosso mundo no vemos crianas nas ruas. Desde que nascem, ficam sob a tutela do que poderamos chamar de governo que se encarrega de seu controle e de sua educao at que atinjam a maioridade. Ento, so classificadas de acordo com as suas qualidades fsicas e mentais, encaminhando-as para um lugar onde haja necessidade. Geralmente realiza-se essa operao por casais, homem e mulher.

    Ocorreu-me, ento, de perguntar-lhe como faziam para aclimatar uma pessoa de um clima frio para o quente e vice-versa.

    -- Como vers, no temos esse problema. Pela simples razo de que todo nosso mundo dispe de um s clima, uniforme, e este, no natural, e sim, artificial, criado e feito por ns. Compreendes agora porque desfrutamos de um s clima benigno sem ter, corno vocs, regies extremas? Alm do mais, nossa populao no nos permitiria esse luxo.

    Aquilo para mim ia se tornando completamente convincente. Tudo o que dizia comeava a fazer sentido. Imediatamente minha mente formulou nova pergunta, relacionada com seu nico mar. No cheguei a formul-la e ele j cortou meu pensamento, respondendo:

    -- J te disse que temos um mar e este contm tanto lquido quanto os da Terra juntos. Dele tiramos tudo, que precisamos para construir nossos edifcios, para fabricar nossas roupas, nossos veculos e sessenta por cento ou mais de nossa alimentao. Prosseguiu:

    -- Nossos barcos atuais no so como os vossos, como vocs concebem e constroem. Os nossos tanto podem navegar quanto voar ou ir a qualquer lugar sem oferecer perigo algum. Em nosso mar, grandes profundidades, existem fbricas descomunais com sistemas diferentes aos que vocs usam. Esses sistemas atraem a populao marinha que selecionada e aproveitada cientificamente.

    Diante de meu assombro, acrescentou:8

  • -- Como compreenders, em nosso mar no h agitaes de nenhum tipo, pois o temos a nosso servio e sob nosso controle, ficando eliminadas essas contingncias.

    Ficava cada vez mais preocupado. Ansiava saber mais sobre aquelas pessoas. Perguntei, ento, como que falavam to bem o espanhol. Respondeu-me que poderiam aprender qualquer idioma, por mais difcil que fosse, e que em seu mundo, um dia, tambm falaram muitos idiomas e que agora empregavam um s - uma lngua universal - formado pelas palavras mais fceis, tendo conseguido tal intento de um modo simples e eficaz.

    Perguntei em seguida se conheciam todo nosso mundo - a Terra. Asseguraram-me que conheciam no somente sua superfcie como tambm sua contextura e todos os costumes das diferentes regies, por mais afastadas que fossem ou que a ns parecessem.

    -- Primeiro o conseguimos com nossos aparelhos apropriados, dos quais esto dotados nossas naves; segundo, com nossa prpria populao, alguns selecionados que mais se paream com vosso tipo fsico. Costumamos deix-los bem providos prximo ao lugar que queremos investigar, recolhendo-os posteriormente no momento propcio.

    Brotou em mim a preocupao das finalidades pelas quais perseguiam nosso mundo. Ao ser perguntado a respeito, ilustrou-me com uma histria:

    -- A etapa que vocs atravessam atualmente h milhes de anos passamos tambm. Em nosso mundo houve guerras e destruies, atrasos e progressos. Um belo dia chegou a igualdade. Arrijaram os lderes polticos e em seus lugares foram colocados sbios e destacados humanistas. No lugar dos soberbos, ambiciosos e egostas, que s buscavam o lucro em benefcio pessoal, foram colocados homens que se interessavam pelo bem de todos indistintamente.

    Aps breve pausa:

    -- Houve uma mudana total na administrao pblica e pouco a pouco foi desaparecendo a vaidade que era a maior aliada dos exploradores. A moral em todos seus profundos aspectos assentou-se firmemente. Hoje, verdadeiros sbios nos governam, procurando - sempre - melhor alimentao, melhor vesturio e melhor e uniforme educao. Acabaram-se os privilgios. Agora, no mesmo lugar educa-se fsica e mentalmente quem, provavelmente, descende de ricos ou de pobres. Quem se destaca nessa educao destinado para locais onde possa desenvolver livremente suas aptides sem qualquer preocupao. Isso que vocs chamam de nao ou ptria desapareceu totalmente. Somos cidados de nosso mundo. No usamos bandeira, nem identificao alguma. Cada criana, ao nascer, tatuada na planta dos ps. como uma ficha que fala de sua origem e de suas faculdades. Assim cresce sem complexos, sadia e livre.

    As horas transcorreram rapidamente. Comeava a clarear quando descemos do carro. Para dizer a verdade no sabia se tudo aquilo era verdade, mas devia ser, pois estava a poucos centmetros daqueles personagens, disposto a certificar ou confirmar tudo que me haviam dito. Adiantaram-se um pouco, subindo o monte de terra. De repente voltaram-se como que querendo surpreender-me num movimento suspeito. Dei-me conta que de seus capacetes e cintures saam sons intermitentes e em grande escala, as vezes subindo de tom at doer os ouvidos.

    A curiosidade me invadiu e no tive outra soluo que lhes perguntar a finalidade de tais cintures. A pergunta parece que os agradou. O baixinho fixou seus olhos no cinturo. Seu acompanhante s levou as mos ao seu sem deixar de me observar. Mas sua expresso era tal que dava a entender que com aquela maravilha, sentiam-se imunes a qualquer perigo. Pelo menos o que me pareceu. Seus olhos fulgurantes, brilhantes, demonstravam carinho e segurana. Finalmente o baixinho levantou os olhos e disse:

    -- Este um aparelho que serve para imobilizar qualquer mecanismo ou inimigo. Diga-me agora, prosseguiu, satisfeita a tua curiosidade, tens desejo de conhecer nossa mquina? Venha conosco, ento!

    E rubricou o convite com amplo e amvel sorriso. O terreno era pantanoso. Meus acompanhantes vadeavam o charco buscando lugares mais firmes. De repente percebi que no lugar onde eles colocavam os ps, o lodo parecia abrir-se, sem grudar em seus ps, num efeito parecido ao produzido por ferro quente. Olhei meus sapatos. Estavam totalmente cobertos de lama, j atingindo as pernas da cala. A observao deu-me a impresso de estar caminhando atrs de dois fantasmas e, inconscientemente, comecei a aumentar a distncia entre eles e eu, sem, contudo, perd-los de vista.

    Aquilo foi a primeira de uma srie de surpresas que se gravariam profundamente em meu crebro. Alguns metros adiante, de chofre, ante minhas vistas, vi a majestosa nave de que me haviam falado. Deslumbrante, imergia rodeada das folhagens como gigantesco ovo em descomunal ninho. Parei em seco e pus-me a contemplar o que tinha adiante. Uma majestosa esfera achatada que se apoiava em trs ps que formavam um tringulo. Tinha, na parte superior, uma cabine ligeiramente inclinada para dentro, como de um metro de altura, circundada de buracos que se assemelhavam a olhos de boi, como aqueles que se v nos barcos.

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  • O conjunto era impressionante e dava a sensao de grande fortaleza. Era de uma cor parecida com as fascas produzidas pelo ao contra o esmeril, mas, de uma transparncia difusa. Quando os homens estavam a um metro e meio da nave, ambos levaram a mo direita apoiando-a no cinturo e, em seguida, na parte inferior da esfera surgiu uma abertura que depois converteu-se em escada. guisa de corrimo, havia dois cabos, elsticos a meu ver, pois se flexionaram quando os dois se apoiaram neles. Entretanto, eu permanecia a cerca de sete metros de distncia, mas, como a nave estava numa baixada, observei que os homens no deixavam nenhuma marca de lodo que pudesse, eventualmente, estar grudado aos seus sapatos. Pude ver, tambm, como o mais avantajado se perdia no interior da nave, e o outro, parado no meio da escada e apoiando-se no corrimo, voltou-se para mim, convidando-me para me aproximar; e ainda que algo me impelisse em direo contrria, fiz um esforo e segui caminhando at a distncia de um metro da nave.

    Algo devia ter mudado em mim, pois, o medo ou o receio que sentia, havia passado, convertendo-se em audcia. Comecei a imaginar que o que tinha diante de meus olhos, no passava de uma casa de exploradores, que no era nenhuma nave, e at achei-a parecida com uma casa convencional. Quando o homem repetiu seu convite, decididamente avancei e comecei a subir logo atrs dele.

    Samos por uma espcie de clarabia ou buraco redondo, de pouco mais de meio metro de circunferncia, numa plataforma horizontal. Quando me dei conta, o buraco por onde entrramos, fechara-se em forma inesperada.

    Claro que estava impressionado. Mesmo encerrado dentro daquela coisa, a luz a atravessava, e a parte que devia dar para a escada por onde subimos, parecia de cristal, porque dava para se ver fora com absoluta clareza.

    Passei a vista sobre aquilo que se apresentava aos meus olhos no interior da nave. Uma parede baixava desde o teto fazendo canto com a plataforma. Nessa parede adivinhava-se algo que bem poderia ser um espaldar, ainda que parecesse demasiadamente alto. Na juno daquele disforme espaldar, pois no era outra coisa, estava o que devia ser um assento, dividido em trs partes vistas de frente, com algo parecido com tampos, mas esses estavam levantados para os lados.

    Eu devia parecer um bicho numa jaula, pois os homens limitavam-se a me observar. Finalmente, o que falava espanhol, convidou-me a passear um pouco, mas pareceu-me que aquilo no ia se levantar nem um centmetro com meu peso pelo que, ironicamente, disse que gostaria de experimentar.

    Indicaram-me o assento do meio, ficando eles um em cada ponta. O assento era estofado de uma maneira desconhecida para mim, isso que passei pelo menos dois teros de minha vida ocupando assentos de carros. No podia negar o fato de que gostaria de colocar um assento desses no carro onde trabalho. Se o assento era surpreendentemente macio, o espaldar era melhor ainda, pois, bastava recostar um pouco o corpo e facilmente me perdia naquela massa agradavelmente aconchegante. Baixaram-se os tampos e imediatamente senti uma ligeira presso sobre minhas pernas e parte de meu abdmen. Ajustavam-me com tal presso e firmeza que me dava a impresso de estar metido dentro de uma esponja.

    O tampo sobre minhas pernas no era outra coisa que uma mesa de instrumentos, e tal como a dos lados, as mesas eram geminadas, de modo que cada um ou qualquer um deles podia operar a nave.

    Gostaria de descrever uma dessas mesas de comando. como uma mesinha retangular, ligeiramente inclinada para mim junto ao peito.Sobressaindo-se dos demais instrumentos, havia uma tela, no maior que o farol de um automvel, de superfcie convexa. Era lmpida e luminosa, de uma claridade mpar. Junto tela, nos seus lados da parte anterior, havia duas protuberncias redondas, uma branca e outra negra. Devo esclarecer que as cores de todos os instrumentos eram luminosas, mais brilhantes que a nossa luz fluorescente.

    Na frente, junto tela, havia trs botes: dois colocados em forma vertical e um no meio, em forma horizontal. Ao lado direito via-se uma srie de teclas; a primeira larga e as outras estreitas. Na metade da primeira, este teclado comea na maior, de cor branca, e conforme se afasta, vai escurecendo at terminar em negro brilhante. At o extremo oposto e a cada lado havia, ao alcance dos dedos polegares dos pequenos homens, dois diminutos descansos para os mesmos (dedos), angulares e para fora. No lado esquerdo, em fileira, igual ao teclado, surgiam chaves em forma de pequenas raquetes que se manipulavam para frente. Finalmente, diante da tela, e aproximadamente no centro do painel, havia quatro peas em forma de meia lua, tendo a parte inferior circular e a superfcie plana. Operava pelo centro visto que admitiam em cada um delas somente dois movimentos. Essas peas formam uma cruz. Esses painis eram complementados com um cilindro no extremo posterior. Dentro do cilindro moviam-se cinco sees com diferentes velocidades tendo as leituras em diagonal. Mudava de cor conforme girava, indo do branco ao negro. Assim era, mais ou menos, o painel.

    Nele se reproduziam os movimentos da mquina vontade do operador. Observando tudo no percebi quando comeamos a subir. A decolagem foi suave, lenta e em forma vertical.

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  • 3 A NAVE-ME

    Pude ver aos meus ps o carro abandonado. Continuamos subindo, sempre em forma vertical e sempre tendo aos meus ps o carro como referncia, enxergando-o por ltimo como uma forma borrada e no mais que do tamanho de um carro de brinquedo. Meus acompanhantes instruiram-me a operar a tela. Bastava fazer girar qualquer dos botes laterais do painel, para atrair, de forma ntida e precisa, tudo que havia fora da nave: da parte superior, da inferior, da direita e da esquerda. O boto do centro servia para aproximar a imagem at dar a impresso de ficar a pouco mais de um metro de distncia.

    Antes que me esquea, no extremo direito do painel h uma bola incrustada num cncavo, terminando numa alavanca redonda, que fazia mover, em toda a extenso da tela, um ponto negro que serve de mira quando h necessidade de se usar diferentes armas. que mais tarde descreverei.

    Por fim, tudo ficou coberto de nuvens, e ns continuamos subindo. Os homens buscavam um buraco nas nuvens para que eu pudesse ver nosso planeta, pois, acreditavam, e com razo, que aquilo iria me impressionar. De minha parte sentia-me tranqilo. Tratei de buscar o motivo dessa tranqilidade, pois, no me parecia normal. Meu temperamento nervoso por natureza e ainda mais eu que nunca subira antes em avio, e isso j me parecia motivo mais que suficiente para ficar nervoso. Recordei que somente momentos antes de entrar na nave me sentira nervoso. Recordava que o tipo mais avantajado perdera-se na escada e ansiava o momento que o segundo fizesse o mesmo para eu voltar voando para a estrada e meter-me no carro, nico lugar que me dava segurana.

    No entanto, de repente todo aquele medo desapareceu de mim e agora at indiferena sentia pela sorte que o carro podia ter, abandonado l embaixo.

    Uma sombra de preocupao assaltou meu esprito: estar sob domnio daqueles seres. Mas tratei de afastar a idia da cabea distraindo-me observando como operavam o painel e olhando para fora atravs das paredes para comprovar o efeito das manobras. At sentia admirao pela simplicidade dos comandos daquela nave, que at uma criana poderia manejar. Quando entramos no espao sem nuvens, fizeram-me sinal para o que tnhamos sob nossos ps. Confesso que, por mais ressentido que pudesse estar, alm da convico de que subira na nave sob estranha influncia, agora isso me parecia coisa perdovel. O que tinha ao alcance de minhas vistas era um espetculo maravilhoso: uma esfera ligeiramente opaca, algo fora de foco que por momentos converteu-se numa massa redonda e sacolejante como inimaginvel gelatina. Pareceu-me estarmos voando sobre a parte central do continente americano, j que se divisava, com relativa facilidade, e perdendo-se num abismo sem fim, as terras americanas conjuntamente com a parte larga da Repblica Mexicana e a parte estreita do continente.

    Logo, os homens indicaram-me a pequena tela, aconselhando-me a acionar o boto central. Por que haveria de negar-me? No tenho nem sinto palavras para expressar o que senti e vi a uns poucos metros de mim com meus assombrados olhos que, para dar crdito ao que via, tinha que afast-los da tela e volv-los atravs da parede da nave que me parecia mais real e mais verossmil. Dentro daquela pequena e clarssima circunferncia, na qual, a meu capricho e s com um simples movimento daquele controle, podia trazer e reduzir todo um mundo a detalhes, at os mais insignificantes; vi o nosso alargado continente nadar numa massa lquida que se desvanecia em cores azuis e vermelhas at desaparecerem seus contornos num vazio infinito. Esse incrvel espetculo gravou-se de tal maneira em minha mente que muitas vezes tenho despertado sobressaltado, sentindo-me no vazio e atrado por aquela enorme esfera que uma vez contemplei, qui, sem minha vontade.

    Quando os homens acreditaram que era suficiente (digo acreditaram porque, se dependesse de minha vontade, olharia sem parar), porque para eles o tempo contava, imediatamente metemo-nos numa nuvem de grandes massas, algumas to negras que escureciam o interior da nave. Aqui tive outra maravilhosa viso. Acabvamos de sair do ventre obscuro de uma nuvem negra quando, intempestivamente, uma luz vermelho-sangue invadiu o interior da nave de forma vivssima. Tudo mudou de aparncia. As fisionomias dos homens tornaram-se ossudas e espectrais. A minha tambm devia ter adquirido outro aspecto porque o pequeno homem apressou-se em me dizer para no ter medo porque era o sol que estava dando esse aspecto. A mim me pareceu estarmos dentro de um poderoso refletor.

    Repentinamente cessou o movimento, ou melhor dizendo, a sensao de que amos a aterradoras velocidades. Ficamos suspensos no ar. Em seguida outra no menos agradvel surpresa. Tratavase de um gigantesco disco de cor negra, deslumbrante a ponto de cegar. Andamos lentamente ao seu redor como que o reconhecendo. Os raios de sol refletiam-se em sua superfcie. Estava imvel como que deixando-se farejar pelo pequeno aparelho que ocupvamos. Finalmente voltamos a ficar imveis frente ao gigantesco aparato. Vimos como se abria na parte superior uma tampa das mesmas dimenses que nossa nave e tambm como esta comeou a deslizar dentro daquele monstro. Sentia-se perfeitamente sua parte inferior roar como se estivesse em trilhos. Terminada a sensao, levantaram-se os tampos da mesa de controle, deixando-nos novamente livres. Os

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  • homens convidaram-me a segui-los. Abriu-se uma clarabia e por ela samos da pequena nave. A porta estava aberta e por ela descemos a uma enorme abboda, onde no havia mais colunas que as formadas pelo aparelho onde ficou ajustada nossa pequena nave.

    Dentro havia intensa iluminao, sem, contudo, saber-se de onde vinha a luz. Mais parecia-me que todas as superfcies ao alcance de nossa vista produziam luz. Os homens dirigiram-se alm do lugar onde haviam estacionado a nave, onde uma parede cortava a circunferncia. Eu, atrs deles, com urna indiferena que s em me lembrar hoje, me d calafrios. Pouco antes de chegar na parede, uma seo de um metro deslizou para o lado. Seguimos por ali, encontrando-nos agora num espao em forma de meia lua. A parte semicircular era ocupada por uma espcie de tela panormica de cinema s que intensamente luminosa. Ao p da tela, uma mesa comprida coberta materialmente de instrumentos, entre os quais, grande quantidade de pequenos, porm incrivelmente visveis, mostradores com diferentes leituras. Destacavam-se trs fileiras de botes ou teclas semelhantes as de um piano dispostas para um concerto; grande quantidade de protuberncias completavam aquele quadro maravilhoso de instrumentos e, junto este, trs volumosos assentos.

    Estava to distrado observando tudo aquilo que no me havia dado conta de estar rodeado de pessoas que, com meus dois amigos, somavam oito. Pedi-lhes perdo por meu indiscutvel adormecimento. Responderam-me que estavam contentes com minha visita ali na sua nave - o monstro que vira de fora. Algo me chamou a ateno: quatro daquelas pessoas vestiam-se como meus amigos; os outros dois, no havia dvida, eram seus superiores, no s pelo seu aspecto geral que denotava maior idade, como tambm por apresentarem maior personalidade, sem contar com o traje de cores diferentes - um marrom brilhante que os tornava distintos dos demais. Como se isso no bastasse, era s observar a reverncia com que os outros a eles se dirigiam.

    Tudo o que estava me acontecendo desde cedo quando deixramos o carro na estrada, parecia-me to irreal que comecei a sentir uma sensao de vazio, temendo ter que voltar novamente e me descobrir no carro. Mas no era assim! Estava vivo e muito bem desperto! Os chefes daquela nave convidaram-me a permanecer com eles algum tempo, pois, disseram-me que sentiam verdadeiro prazer em ter um homem de minha raa como convidado.

    Ao lado direito e em frente a enorme tela, havia uma fileira de camas. No creio que algum de minha raa, que as visse, fosse pensar em algo diferente. Lgico que havia algumas diferenas se comparadas com as nossas, mas somente pela simplicidade, pois reduziam-se a umas macas de um metro e meio de comprimento, por um metro de largura e umas duas polegadas de espessura. O material de estofamento era acolchoado, poroso, suave, e devia estar sustentado por outro material resistente e pouco elstico. Ao lado da cama havia dois punhos em forma de mo, os quais, fazendo girar, colocava a cama em diferentes posies, podendo convert-la em confortvel poltrona sem ps de nenhum tipo, pois estava fixa na parede.

    Aceitando o oferecimento que me faziam de demonstrar o funcionamento daquele extraordinrio veculo, as camas, mediante comando, transformaram-se em cadeiras ou poltronas, onde se sentaram meus amigos, os chefes, e algum mais daqueles que estavam na nave. Os trs restantes perderam-se nos monstruosos assentos defronte tela, junto ao painel de instrumentos. Repentinamente comeou a se ouvir uma espcie de sibilo agudssimo e a tela dividiu-se em trs sees em todo seu tamanho. Na seo do meio comeou a surgir umas luzes vermelhas que iniciavam nos mais inesperados lugares vindo a morrer sempre no extremo, aumentando sua espessura antes de desaparecer na maioria das vezes. Isso me chamou a ateno. Perguntei a um dos chefes o que era aquilo (eu ocupava um lugar ao meio deles). Explicaram-me que eram partculas csmicas que uma poderosa fora de repulso gerada pela mquina afastava de nosso trajeto para no prejudicar a nave.

    Aquilo era interessante, pois como se cruzavam em diferentes direes formavam figuras caprichosas que bastariam para me entreter vrios dias. No havia dvida que muito tempo tinha decorrido, pois meu estmago assim estava advertindo. Inesperadamente um dos homens que nos acompanhava parou e dirigindo-se ao lado esquerdo de cada uma das poltronas mexeu uma pea que formava parte de um comprido e articulado brao. Logo dirigiu-se ao lugar do canto contrrio que ocupvamos e voltou com duas pequenas bandejas, uma em cada brao.

    As bandejas formavam um quadro de seis polegadas e estavam divididas em cinco fundas sees, cada uma repleta de algo consistente com um sabor to agradvel que era difcil encontrar algo parecido que houvesse comido anteriormente. No s o sabor era agradvel, como tambm era muito reconfortante. Pouco depois de haver comido esses alimentos, senti uma agradvel satisfao de reconfortante otimismo que borrava de minha mente todos os problernas e preocupaes. Os olhos fechavam-se. Naturalmente que isso tinha uma explicao. A noite anterior quase no havia dormido; guiara por uns trezentos quilmetros. Em seguida, as diferentes emoes que passara, e, se isso no fosse pouco, agora estava no interior de uma fantstica nave rodeado de estranhas pessoas. Sim, estranhas! Mas que me faziam sentir-me o homem mais importante da Terra. Eram gentis, amveis, como se estivessem em obrigao comigo. Porque negar: faziam-me sentir insignificante. Por fim, por mais esforos que fizesse, no pude vencer o sono e no soube de mais nada por largo tempo.

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  • Quando me despertaram eu estava transformado, ainda que no tivesse mudado de posio e de lugar. Tudo que levava vestido, sumira. Agora meu corpo estava coberto com um traje parecido com o deles, mas sem cinturo. Faltava-me tambm a espcie de colarinho do pescoo e os sapatos; os que calava, que me haviam colocado, era uma espcie de galocha que me envolvia at os tornozelos. Levava tambm uma cala to justa que me lembrava as roupas de um toureiro. Sentia-a materialmente aderida s pernas sem contudo atrapalhar o mnimo movimento. Da cintura para cima estava coberto por uma espcie de pulver desses que se colocam pelo pescoo. As mangas do pulver iam at os pulsos, e no pescoo, at o pomo de Ado. No tinha nenhuma daquelas coisas como fechos, botes, bolsos e nem se notava sinal de costura de nenhuma espcie. O material era grosso, pois algumas partes o sentia como tendo uma polegada de espessura. De uma frescura incomparvel. Dava-me a sensao de estar nu.

    Ante minha estranheza, os homens explicaram-me que haviam tomado essa liberdade por ser absolutamente necessrio para minha proteo. Haviam tentado despertar-me, mas no o conseguiram. Com isso deixaram-me magoado. Afinal considerava o cmulo trocar de roupa sem me comunicar. Mas, acreditei porque, uma vez, quando menino, alguns amigos tinham me tirado de um carro onde estava dormindo e me colocaram numa rvore. Por que no acreditar no que diziam? Alm do mais no havia tempo para perder em futilidades. Os homens me acordaram para que com meus olhos visse o maravilhoso espetculo que pouco depois iriam me oferecer.

    Disseram-me para no tirar os olhos da tela e para no perder nenhum detalhe. Realmente, pouco depois apareceu uma bola do tamanho de uma bolinha de gude. Era vista de uma maneira completamente diferente de tudo o que cruzava a tela em diferentes direes e com rapidez vertiginosa. A bolinha no mudava de lugar. S aumentava de tamanho. Agora j apresentava-se das dimenses de uma bola de golfe. Parecia maravilhosa e vinha em nossa direo em linha reta.

    Mais tarde chegou a atingir o tamanho de uma bola de futebol. No mudava de cor. Era de um vermelho incandescente como de carvo em brasa. Pouco depois, era do tamanho de um balo. No mudava de lugar. Se a coisa continuasse nesse rumo, em pouco tempo invadiria toda a tela, na qual quase no mais se viam aqueles riscos. Ser que aquela bola estava me obcecando, hipnotizando, j que no afastava a vista dela? Comecei a sentir medo. Todos os que permaneciam a bordo tambm sentiam. Dava para notar em suas fisionomias. Tambm estavam atentos e creio que preocupados. Nosso objetivo tinha agora pelo menos um metro de dimetro. Tratei de parar. Os dois chefes ao mesmo tempo me indicaram que ficasse em meu assento bem quieto, mas ningum fazia nada para evitar a coliso. Eu os olhava desesperado, mas no me davam importncia.

    Aquela fantstica bola cobria toda a tela agora. Tratei novamente de deter-me, e desta vez, senti uma presso em minha perna de dois pequenos, mas poderosos braos. O homem que estava a minha direita disse que no estvamos correndo nenhum tipo de perigo e que s estvamos entrando em outro mundo - no mundo no qual viviam - e o que agora estvamos vendo era somente a camada atmosfrica que o cobria.

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  • 4 CHEGADA VNUS

    O inevitvel chegou. A bola cresceu e cobriu as trs telas. Comecei a sentir um calor sufocante. Mas, s eu. Os demais continuavam do mesmo jeito que antes. Atribu essa sensao ao meu estado psicolgico ou nervoso. A perigosa sensao de choque fora superada. Agora a tela inferior cobriu-se com quadros pequenos, divididos em canais profundos e retos. A medida que cresciam eram distinguidos melhor. Estavam cobertos com algo que parecia arbusto e sobre eles havia outras coisas. Acabvamos de passar por alguns, onde se viam naves pequenas, como aquela que trazamos dentro. Comeamos a descer em forma vertical, indo direto para um dos quadros divisados na tela inferior de maneira perfeita.

    Todos param. Dispomo-nos a sair. Abre-se a porta da cabine. Ao nosso lado esquerdo h uma coluna grossa, pegada parede que no tinha visto quando entrara. Gira uma seo ficando a descoberto uma escada de degraus semi-circulares. Os chefes adiantam-se. Desce um, logo outro. Perdem-se na coluna oca. Meus amigos fazem sinal para que os siga. Aquela operao recordou-me a descida em pra-quedas. Ponho um p num degrau e ao me sujeitar com as mos ao que estava diante de mim, suavemente comecei a descer como num elevador, parando quando chegou no piso inferior, cinco metros abaixo da parede inferior da nave. Agora estamos sob sua barriga. Efetivamente esta negra e brilhante. Ao meu redor est cheio de pequenas rvores, todas cobertas de frutas. D para sentir seu aroma. Entre as rvores h alguns postes grossos de metal tambm negros. Neles descansa nossa nave. Tambm h corredores em todas as direes que esto, pelo menos, meio metro sobre o nvel do pavimento. Ao pisarmos nele, soa ocamente.

    As rvores medem pouco mais de dois metros, mas so frondosas. Seus ramos e galhos no tm folhas. Nem no cho vem-se folhas cadas. Seus galhos so bastante grossos e no guardam proporo com o tronco. H frutos em abundncia. Toquei um e me deu a sensao de ter a casca muito fina. O fruto era macio, como quando est maduro. Cada rvore estava sustentada pelo tronco com quatro ps que vinham do cho. Examinei a terra, mas no nada parecida com a nossa. Parece p de algo como borracha moda ou areia fina. Era negra e estava mida, muito mida, porm, no de gua, mas de um lquido viscoso. Meus amigos me garantiram que efetivamente no era terra, mas um produto qumico e que as rvores no se mantm presas pelas razes e que estas lhes servem somente de fonte ou canal de alimentao. Dizem tambm que estamos num terrao, e este, um tanque para conter todo o material que alimenta sua fruticultura.

    Seguimos por uma passarela at a borda. Olho para baixo e me dou conta que, o que eu acreditava serem canais, so ruas. L em baixo movem-se vrios veculos, e junto s paredes, h grande quantidade de pessoas, todas alinhadas. No se encontram, nem se esbarram. Assim que levanto o rosto para cima, encontro algo verdadeiramente assombroso: uma abbada altssima e contnua que no se v onde termina. Meus amigos me dizem que cobre todo seu mundo, mas, no s isso. Ela canaliza e dirige raios luminosos em todas as direes.

    Seguem explicando-me que se trata de uma capa de nuvens espessas, s quais esto misturadas substncias que, ao receberem os raios do sol, absorvem seu calor e sua luz, multiplicando-a, e com ela, iluminam todo o planeta. Garantem-me que no tm noites. O clima abafado. Comea a me faltar o ar. O que respiro no suficiente. Sinto-me mal. Estico o colarinho daquela camisa e ela cede. elstica, mas, no consegui mais ar. O rosto me arde. Creio que vou desmaiar e apio-me na amurada da plataforma. Os homens que estavam me cuidando esperavam j essa reao e estavam prevenidos. Ofereceram-me algo de borracha do tamanho de um charuto, dizendo-me para chupar como se estivesse fumando.

    A reao notvel. A cada tragada recobro as foras at me sentir normal outra vez. A gola da camisa oprime-me novamente, mas, j no me incomoda mais.

    Sob aquela monumental abbada vem-se infinidades de naves como aquela que trazamos dentro e muitssimas como a grande. Todas negras. Cruzam-se rapidamente em diferentes alturas. Noto que, segundo sua direo, a altura em que operam. H naves de todos os tipos. Tubulares de vrios tamanhos, compridas e grossas; esfricas de todos os tamanhos parecendo globos de cristal. Agora, passa uma sobre ns, que se assemelha a um ovo ou a uma pra. Vai a pouca altura e desloca-se em pequena velocidade. Asseguram-me que tambm uma nave de transportes. Uma coisa me chama a ateno: apesar da velocidade e da quantidade de veculos, estes no se chocam. nossa frente descia agora uma gigantesca nave. Ao cruzar-se com uma pequena, esta desviou-se com incrvel rapidez. Creio que os pilotos no intervieram nesse movimento de desvio. Inquieto, pergunto sobre o fenmeno. Explicam-me dizendo que todas as mquinas tm fora de repulso. Aquelas que imprudentemente se colocam no trajeto de outras, so rechaadas como bola de futebol.

    Andamos pela passarela junto amurada, at chegar a um canto do terrao. Ali esto os elevadores, dispostos em toda extenso desse lado. No so fechados como os da Terra, mas tm trs fachadas cobertas por grade macia e rgida, na qual nos encostamos, eu bem preso com as mos; porm, justamente onde me apio esto os controles. Pergunta-me um dos chefes se tenho fome. Fome? No! Nem me lembrava disso, afirmei. Rindo, disse-me que, casualmente, aquele edifcio em que estvamos era um restaurante. Efetivamente, ao

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  • descermos, parvamos em cada andar e todos estavam cheios de gente. Continuamos descendo. Finalmente, num dos andares descobrimos alguns lugares vazios e saltamos. Reinava grande harmonia em todos os movimentos das pessoas. No se atrapalhavam, nem cochichavam. Cada um chegava, pegava sua poro de alimento, sentava-se, comia e devolvia a bandeja vazia, retirando-se em seguida.

    Dei-me conta que a parede frontal a que ocupvamos ao descer, tambm estava cheia de elevadores, e as duas restantes, convertidas em armrios embutidos em toda volta cheios de bandeja iguais as que usvamos na nave. O piso deste local estava coberto de pequenas cadeiras que se completavam com um brao reversvel, no qual se colocava a bandeja. No pude conter uma exclamao de surpresa. Agora os alimentos eram ainda melhores que os da nave. Meus amigos ofereceram-me rao dobrada e comi at me dar por satisfeito. Foram dez sabores diferentes, pois, todos so diferentes. Pude observar tambm que as bandejas eram de cores diferentes, tantas que me cansei de contar, e os homens me garantiram que cada cor tem cinco sabores diferentes, porm, todos tinham a mesma consistncia. As colherinhas que usavam assemelham-se s nossas colheres rasas, porm so ligeiramente curvas muito pequenas.

    As pessoas que vi nesse edifcio no mediam mais que um metro. Todos pequenos, mas bem proporcionais. Todos vestiam-se do mesmo modo, com roupas iguais s que eu trajava, mas de cores diferentes. Naquele mundo de clima condicionado h uma contnua orgia de cores, vistas em qualquer direo que se olhe. Homens e mulheres vestem-se iguais. De frente diferenciam-se apenas pela formas prprias da mulher. Ao falar, suas vozes soam tranqilas. No so como as nossas: broncas, grossas e at certo ponto, desagradveis ao ouvido. Todos tm cabelos prateados e ondulados. E todos chegam a cair nos ombros. A cor verde dos olhos geral, com tambm o marfim da pele. Meus amigos explicaram-me que a raa pequena porque assim o querem. um processo cientfico. Quanto cor dos olhos, pele e cabelos, devido ao clima reinante no planeta.

    No refeitrio havamos ficado meus dois amigos e eu. Os demais haviam se retirado, pois tinham que fazer o relatrio de sua misso. Ns ficamos conversando. Era maravilhoso estar entre tantos bonecos humanos. A eles eu devia parecer um monstro. Samos do refeitrio pelo mesmo elevador e chegamos ao que devia ser o sub-solo. Esse pavimento est totalmente vazio. As pessoas cruzam por ele. No h portas de rua em rua. As paredes frontais que no tm elevadores, compem-se de uma srie de entradas em forma de arco. No centro h dois mais espaosos que os demais. Por ali cruzam os veculos. H muitssima luz, porm, no se sabe a fonte. Pode-se dizer que so as paredes que a produzem. Caminhamos sobre um piso macio, polido como metal.

    Samos em direo rua e ao chegarmos a parte frontal do prdio, detemo-nos. As caladas rolantes circulam a uma velocidade moderada. Esto divididas em trs bandas: duas que se movem em direes contrrias e uma, a do meio, que se mantm imvel. As pessoas mudam de uma para outra, em movimento, com agilidade, saltando da em movimento para a imvel e desta para a outra em sentido contrrio. Ou ento entram num edifcio. As fachadas dos prdios so lisas. No tm janelas. So lisas por completo. Suas belas cores parecem de vidro, ou melhor dizendo, de espelho, pois, nossa imagem reflete-se nitidamente. Percebe-se a juno do material em cada pavimento, porm formando um todo. Cada edifcio de uma s cor. Diferenciam-se por elas. No h placas de tipo algum. Os edifcios-restaurantes so azuis, existentes a cada quatro quadras. O meio da rua largo, dividido ao centro por um meio-fio estreito, coberto com algo parecido a tiras de metal: uma estreita de cor amarela e outra larga de cor marrom-escuro. Descubro s dois tipos de veculos terrestres, diria, mesmo que a palavra no seja apropriada. So individuais, pequenos, destinados a uma s pessoa e est provido de duas rodinhas. No coincidem com a idia de rodas bem proporcionadas que temos, porque so rechonchudas e largas. Nesses veculos vai uma s pessoa, porm, h veculos de trs rodas. Nos primeiros h um assento com encosto, e sobre a roda dianteira s h um guidom no maior que a mo deles, operado como uma manivela. No segundo tipo, o assento largo e tambm h encosto e apoio para os ps. Tambm so operados como o guidom. Esse tipo de veculo encontrvel em quase todos os edifcios, no sub-solo. E qualquer um que os usa, deixa em qualquer lugar que quiser. Nos de trs rodas, geralmente, vo os casais, homem e mulher. So vistos circulando em boa velocidade e geralmente sobre pistas estreitas. O outro tipo de veculo terrestre podamos denomin-lo coletivo. So parecidos com estruturas de edifcios pequenos por terminar. A maioria tem 10 andares, ainda que haja outros com menos. Este tipo de transporte raro, porque no sobe ou desce s uma pessoa, mas, recolhe e deixa andares inteiros.

    Como o sistema me pareceu interessante, vou descrev-lo em maiores detalhes. Para isso, vejamos primeiro como so as ruas, para fazermos melhor idia. Essas sobem e descem, formando passagens em desnveis em cada esquina, onde os veculos passam, a cada duas quadras, sob uma ponte, usando o oco desta para alojar as plataformas que recebem os passageiros.

    Vejamos agora como so os veculos que andam a um metro das caladas. J que falamos delas, vamos completar a sua descrio: correm em toda sua extenso, separadas do olho da rua por rgido pra-peito. No que podia ser o meio-fio, est aberta a interminvel boca de um coletor-aspirador que se encarrega de chupar o p que poderia produzir no piso o contnuo rodar de veculos, nico desperdcio admissvel num mundo onde se percebe a limpeza absoluta. Como j disse, os veculos so armaes que esto presas ou ligadas numa plataforma que serve de base. Esta por sua vez repousa sobre vrias fileiras de rodinhas. Geralmente, cada

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  • fileira tem cinco fortes rodas. Chega a haver at 10 fileiras de rodinhas. Assim a armao ambulante e exatamente como ela, h duas em cada parada. Esto sem rodas e dispostas umas atrs das outras.

    Tratarei de descrever o complemento, ou seja, onde se sentam os passageiros. Trata-se de uma caixa que tem at dez assentos corridos no que cabem cinco ou seis pessoas. Naturalmente pequenas. Cada caixa todo um mecanismo. O veculo chega na sua parada e se ajusta com preciso de milmetros. Emparelha com a primeira armao fixa. Ouve-se um golpe seco e desloca-se uma seo da dita armao fixa. Caminha uns metros mais at ajustar-se com a armao seguinte e recebe outra caixa repleta de passageiros. Dizia antes que cada uma dessas caixas todo um mecanismo, porque os assentos esto montados sobre uma banda que, enquanto est dentro da armao fixa, comea a girar, colocando cada assento ao alcance de um tipo de escada de barrotes, automtico. As pessoa usam tanto as escadas elevadoras, como os assentos com enorme facilidade. Ditos elevadores conduzem a uns corredores subterrneos e para abordar um destes veculos, a operao se faz inversamente.

    No h condutores, nem motoristas. No usam trole. Tampouco vo sobre trilhos. No entanto, so to perfeitas suas paradas que cheguei a pensar que se uma inteligncia os manobrasse, no conseguiria tal perfeio. Andam um atrs do outro, algumas vezes em linhas cerradas. Em determinados lugares alcanam velocidades de at setenta ou mais quilmetros por hora. Sempre circulam sobre duas das pistas estreitas.

    A luz das ruas proveniente do cu ou da abbada celeste. No to viva como a que desfrutamos de dia. Assemelha-se mais com a que brilha ao amanhecer e so vistas brotar de milhares de lugares, como raios de sol passando atravs de nuvens brancas e prateadas que formam um infinito refletor. Meus amigos me haviam dito que no havia luz artificial nas ruas e que tampouco tinham noites e o fato de nenhum tipo de veculo trazer meios de iluminao, parecia comprovar o que eles tinham me dito. Porm dentro dos edifcios, surpreendente a intensidade da luz ali existente, parecendo que emana das paredes e do teto.

    Samos a andar porque ainda que as caladas sejam mveis e dotadas de assentos as pessoas sentem prazer em usar suas pequenas pernas e ningum se deixa levar. Ao contrrio, parece que muitos se divertem saltando de banquinho em banquinho. Eu caminhava devagar e minha nica preocupao era no pisar em algum, fato que no me perdoaria.

    Admirvel a mudana que se operou em mim. Sinto a mente aliviada e adquiro grande poder de observao. Assimilo com facilidade o que eles me explicam e sinto tal grau de despreocupao que quase me esqueo que tenho que voltar ao meu mundo, ainda que meus amigos venusianos ignorem a data. Nem sequer me havia dado conta que os dois falam espanhol e s retornei realidade ao ver minha desproporo com todos os seres que me rodeavam, no s em estatura, como tambm em feira.

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  • 5 PRIMEIRAS IMPRESSES

    Desde que estive a primeira vez num dos seus hortos de terrao vi algo que me chamou a ateno de forma extraordinria. Tratava-se de uns edifcios, parecidos com os demais s at a meia altura, prosseguindo da em forma circular at uma altura de uns duzentos metros talvez, onde terminavam em forma de cpula, redonda e lisa. Essa prolongao era de cor negra, brilhante, tal como a das naves circulares, como aquela que nos trouxe at esse mundo de maravilhas. Para qualquer lado que se conte, a cada quatro edifcio encontra-se um desses, ou seja, cada um deles est localizado entre um grupo de vinte e quatro quadras. So os nicos que possuem sinais ou guias, porm, essas indicaes, no dizer de meus dois amigos, somente marcam o nmero da zona que ele controla.

    Explicaram meus amigos que esses edifcios eram os mais importantes, pois, deles se administrava todo o grupo que os cerca, entre os quais, encontram-se restaurantes, dormitrios, cinemas, salas de jogos, salas de msica, laboratrios para o preparo de alimento, central mdica, fbrica de vesturio e lavanderia (que se assemelha mais a um laboratrio de limpeza de roupa). Controlam ainda a distribuio de roupas e de alimento, o clima e a iluminao da zona. Tudo isso de forma automtica.

    Asseguraram-me ainda que a partir dessas cpulas, mantinham comunicao constante com naves e edifcios. Em suas torres so captados sons provenientes de todas as partes do universo, estudando-os e classificando-os para materializ-los em seguida. Desde suas cpulas controlam e mantm a forma e a altura da sua abbada atmosfrica, controlando tambm o clima na parte exterior dos edifcios, e como se tudo isso fosse pouco, em cada um h um arquivo vivo no qual se pode investigar o passado, ver o presente e at mesmo o futuro em gestao. Sem precisar sair do mesmo, algum pode ver os processos de construo de edifcios e a fabricao e a montagem de toda classe de veculos areos e terrestres. Do mesmo modo, pode ser vista a preparao do seu alimento e vesturio desde o princpio. Usa-se um maravilhoso sistema de auto-sono-viso (que valha a palavra), onde possvel manejar o espetculo vontade do operador. Em cada uma de suas salas, nas paredes, h umas telas controladas por manipuladores situados em cada lado da abertura. Apia-se as mos nesses manipuladores, com os dedos polegares sobre um boto e, de modo semelhante ao cinema, d uma sensao de incrvel profundidade, possibilitando a idia de que realmente est vendo homens, materiais, mquinas e todo seu processo. Com os manipuladores faz-se passar o espetculo direita e esquerda, ou, se preferir, detm-no, dando a impresso de se estar percorrendo a regio num veculo. Para isso basta apertar ditos botes.

    Como julgo interessante o que vi em algumas delas, tratarei de descrever essas interessantes impresses. Comearemos por algo que todos conhecem: pneus de automvel. Isso coisa do seu passado, pois, atualmente tem o pavimento com brilho de espelho, usando um sistema diferente de rodas. Como estava dizendo, no passado usaram um tipo de roda muito parecida com a nossa, ainda que seu princpio de fabricao fosse diferente.

    Ns, em matria de transportes, tanto areo como terrestre, temos avanado em velocidade, mas no em segurana. Construmos veculos para velocidades de duzentos ou mais quilmetros por hora, deixando as conseqncias disso ao sabor da sorte, pois, num veculo qualquer, viajamos sobre quatro rodas com cmaras de ar e, sabemos por experincia prpria que no s a essa velocidade como tambm a um tero dela, se de forma imprevista estoura o pneu, ou se a roda perde o ar que a mantm, a vida que vai em cima do veculo depende exclusivamente da sorte.

    Eles no brincavam com a sorte, nem com sua vida, e por isso, buscavam segurana em algo confivel, na solidez de um material. E os seus pneus, suas rodas, estavam construdas dentro desse princpio de confiana. E como vi todo o processo de fabricao, atravs daquele maravilhoso aparelho, estou em condies de descrev-lo. Espero que consigam me entender apesar do meu pobre vocabulrio, porque no sei se consigo expressar-me devidamente. Comearemos pelo ncleo, ou seja, por aquilo que para ns representa a cmara de ar, base para um pneu confivel.

    Para conseguir isso, fixemos em nossa mente um molde para esse ncleo, como se quisssemos nele alojar uma de nossas rodas. Dito molde est aberto em sua parte superior. Alm disso, est dividido em sua parte longitudinal, no centro, formando assim duas sees iguais que poderiam abrir-se para desalojar o ncleo uma vez construdo. As duas paredes que formam o molde esto cobertas de perfuraes em toda sua extenso. Esse molde gira numa mquina e em seu oco, enrola-se o material que o formar. Esse material, conforme vi, de trs tipos, a saber: uma mangueirinha ou tubo do dimetro de um lpis, feito de um plstico especial, mas que tambm poderia ser borracha (como a que conhecemos). O tipo que o seguia era a mesma mangueira, s que agora reforada com fibra, pelo que, tinha maior resistncia. A esse material, seguia-se outro, que no era oco, mas que tambm no era slido; era um cordel ou corda do mesmo dimetro que os anteriores, construdo de fibras, talvez de sisal ou qualquer outro material fibroso, torcido naturalmente e tratado quimicamente, para que aceitasse um envolvimento alm do plstico, aqui de borracha, semelhante s fibras que formam o revestimento dos nossos pneumticos.

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  • Muito bem. Uma vez o molde cheio desse material, naturalmente que sempre com a mesma tenso, quantidade e peso, entra com todo o conjunto no processo de cozimento, com o objetivo de obter uma unidade compacta, que no se desfaz quando retirada do molde. Quando esse ncleo est pronto, ambas sees giram em sentido contrrio sem retirar-se do material. Assim como o descolam do ncleo sem estrag-lo. Terminado o processo anterior, temos ento a base para uma roda semi-slida confivel. Depois disso, passamos ao processo de fabricao de uma malha de metal, destinada a aumentar a resistncia e conservar sua forma. Essa malha tecida por uma mquina especial. Conforme tecida, nela vo entrando ditos ncleos, acompanhado de um espaador que contm uma ranhura na metade de sua extenso. Essa necessria porque, seu trajeto, passa por uma cortadeira circular, que se encarrega de dividir em cada ncleo s o material necessrio. Pouco depois de cortada a malha, os ncleos se separam dos espaadores, seguindo estes um caminho e aqueles entrando em uns canais que se aprofundam cada vez mais at conseguir que dita malha fique aderida nas paredes laterais, formando uma abertura fixa e segura. Logo, passam a cobrir o ncleo malhado com o material de cobertura exterior, no nosso caso, borracha. Dali passam aos moldes que dar o acabamento. Eles usaram lisas, porm, sigamos com o processo. Uma vez terminado nosso pneu, nessa fase de acabamento, no o poderemos montar em nosso tipo atual de roda, que so feitas para usar cmaras de ar depois de prontas.

    Mas podemos usar com vantagens o procedimento que eles usaram, ou seja, dois discos de lmina de boa espessura, troquelados com a forma de rodado e unidos pelo centro sobre ele terminado, concluindo com os furos necessrios para qualquer tipo de automvel. Poderamos substituir com unidades completas desse tipo nosso atual e inseguro sistema de rodado. Como vem, esses discos podem ser terminados com maior beleza, digno dos carros mais luxuosos. Este sistema tem algumas vantagens e a principal a substituio das desgastadas pelas recauchutadas. Em nosso mundo seria necessrio toda uma indstria.

    Eles, hoje, usam motores em forma de rodilhos que trabalham ao inverso dos nossos. Ns fazemos rodar ou girar o centro ou massa embobinada. Eles fixam o eixo. Como vocs percebem, no muita a diferena nesse aspecto.

    Passemos agora s suas naves. Eles me haviam assegurado que o princpio que ns usamos para voar incorreto, pois, nossas aeronaves so frgeis e inseguras, alm de dependerem de combustvel para propulso, que alm de aumentar o peso, diminui seu raio de ao. Em troca, aconselham que deveramos construir mquinas que aproveitassem as foras existentes ao nosso redor, que so incontveis. Por exemplo, eles, mesmo em pequenas naves, trazem diminutas, porm poderosas fontes de energia: aproveitam o calor, o frio, a luz, as trevas, as linhas magnticas e at mesmo as tormentas eltricas. O princpio de sua maquinaria, em todas as naves, o mesmo, variando s a sua disposio. Tratarei de transmitir o processo de construo de uma nave circular pequena, ou seja, essas que ns na Terra chamamos de Disco Voador.

    A primeira coisa que vemos a base, ou seja, a parte inferior. Vem em bruto. V-se a enorme circunferncia oca. Vem-se tambm suas trs cavidades, por onde receber os ps de sustentao. Traz tambm cinco bases onde sero alojados o que seriam coxins selados, maravilhosos por certo, nos quais so injetados materiais lquidos, artificiais, produzidos em laboratrio, muito parecido com o estanho. Cada coxim alojar o extremo de um eixo vertical. Nesta (nave) haver cinco deles e em cada um rodaro grandes e delgados volantes unidos a outros pequenos. Em trs desses eixos esto alojados cinco dos grandes volantes. Nos dois restantes, somente quatro. Os volantes grandes terminam num ngulo agudssimo que se alojam numa ranhura do mesmo dimetro em que est o volante pequeno. Esta parte aguda de que falo est coberta de pequenos crculos, que podem ser bobinas, pois, os pequenos que os alojam, por sua vez, esto cobertos de barrinhas ou varetas dispostas em ngulo ao seu redor.

    Aps essa operao segue-se a colocao das fontes de energia, tambm em nmero de cinco e tm a forma de um recipiente para assar frango. Tudo est devidamente unido. Segue-se agora a escada interior em forma tubular. alojada entre as duas sries de volantes. Tudo em ordem, colocam a cobertura central. Chega entre quatro ps motorizados que giram, sobem ou descem a vontade dos operadores. Por sua vez, essa cobertura traz os coxins devidamente colocados encaixando-se perfeitamente nos eixos, escada e na parte inferior da nave. Temos ento a sala de mquinas que impulsionar a nave. Ainda que essa seja a parte mais trabalhosa, tudo feito com facilidade e preciso.

    A mesma mquina que trazia a cobertura central, eleva agora todo o conjunto, facilitando assim a colocao das balizas de sustentao. Estas devem ser colocadas e fixadas com preciso, porque quando no so necessrias, giram perdendo-se em suas cavidades, deixando uma superfcie contnua com o restante desta parte da nave. Estes aparelhos contam com dois tipos de escada: circular, que pode descer por baixo da nave e outra cortada na parte inferior desta, porm, coincidente com a anterior, que a que leva parte alta da nave, convertida em sala de controles. A parte superior, que tambm chega num guindaste (por assim dizer) de quatro ps motorizados, igual a cobertura central, traz seu pescoo ou coroa, como queiramos chamar. Essa coroa tem janelinhas redondas em seu redor, subindo ou baixando a vontade. Ao baixar deixa, tal como as balizas de sustentao, uma superfcie lisa, prolongando o formato da nave, oblonga vista de perfil. Essas janelinhas no so de observao direta, porm telas captadoras para diferentes usos. Assim, a nave j est pronta. Vmo-la agora ser examinada pelos tcnicos, que testaro tudo. Contudo falta ainda o mais importante. Nessa altura a

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  • nave j se movimenta conforme a vontade dos tripulantes: sobe, baixa, movimenta-se de distintas maneiras e ngulos, mas ainda inerme.

    Atravs de nosso ponto de observao (a tela descrita anteriormente) seguimos seus movimentos seguintes. Aproxima-se agora de outro departamento, onde h umas cubas ou tinas tubulares com capacidade aproximada de duzentos litros. Uma destas se separa do grupo indo ao encontro da nave, que se aproxima a pouca altura, at ficar sobre a mesma. Tudo se move sem interveno humana direta. A nave desce lentamente sobre esse cilindro at dar a impresso de t-lo tragado. Ao levantar-se novamente, leva-o em suas entranhas, ficando no solo apenas a plataforma em que era transportado, retornando esta ao seu lugar de origem. O leitor capaz de imaginar o que seja esse cilindro? Pois, nada mais, nada menos que uma terrvel arma, capaz de desintegrar tudo, absolutamente tudo de qualquer distncia que se conceba. Alm do mais, produz vibraes capazes de pulverizar edifcios em poucos minutos.

    A parte grossa das paredes da nave mede umas dez ou mais polegadas de espessura. O material transparente, tendo maior visibilidade em sua parte inferior, na qual, em alguns casos, v-se o giro dos volantes de suas maquinarias. So esses volantes que produzem luminiscncias que aumentam ou diminuem de intensidade segundo a zona em que operam. Esses volantes giram a diferentes velocidades e os inferiores so os mais lentos.

    Nossa nave, essa que seguimos os passos de sua fabricao, est semi-acabada, faltando agora o polimento. Para esse processo vmo-la flutuar suavemente e dirigir-se, assim, para outro departamento, at chegar e situar-se no centro de uma gigantesca mquina provida de uma srie de discos que giram grandes velocidades, movendo-se em todas as direes at cobrir totalmente a nave, fazendo-a sumir-se da nossa vista. Terminada essa operao, nossa nave est flamejante, brilhante e pronta para qualquer tipo de prova. Sai ento ao espao livre onde faz toda classe possvel de testes, evolucionando de maneira incrvel. S vendo para acreditar, dentro de nossa mentalidade.

    As naves tubulares tm dispostas duas sries de volantes em todo seu cumprimento, e segundo a sua longitude, chegam a ter at vinte em cada eixo de grandes dimenses. Uma de suas caractersticas, segundo meus amigos, quando lhes perguntei o que faziam quando perdiam, em suas incurses, algumas delas, e eles garantiram que assim acontece, que fazem-nas explodir sobre o mar depois de recolher seus tripulantes, com o objetivo de evitar que os restos caiam em mos ambiciosas. Cada nave, todas elas, tem sua maquinaria composta de volantes de diferentes tamanhos, segundo as propores do veculo. Acredito que no final, o princpio que utilizaremos para propulsar as naves terrenas ser esse. H um dado interessante que pode servir para nossos cientistas: de acordo com o tamanho da nave o nmero e o dimetro de seus volantes e o nmero de fontes de energia. No caso da pequena nave descrita acima, como dizia, no maior que um assador de frango e a parte exterior ou cobertura est coberta de pequenas perfuraes.

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  • 6 EXAMINANDO O PASSADO

    Prosseguindo com a narrao, vamos dar uma olhada no processo de preparao dos alimentos. Dividi-lo-emos em duas partes, porque efetivamente assim; so independentes, ou seja: uma parte do material proveniente do mar e a outra, dos hortos de terrao. Contudo, toda alimentao preparada em laboratrios. Comecemos com o mar. So grandes fbricas flutuantes e cada uma delas conta com viveiros formados por redes que as cercam at a grandes profundidades; h tambm um lugar destinado, nos viveiros, para os grandes peixes, algo que em nosso mundo vem se assemelhar a um bebedouro, s que no nosso caso do viveiro, um lugar oxigenado. So nesses grandes viveiros que se captam os peixes para estudo e alimentao. Nessa mesma zona os peixes so alimentados com dietas especiais que proporcionam magnficos resultados. Durante todo o tempo que fiquei a observar o processo atravs daquela tela no edifcio descrito anteriormente, no vi ser industrializado nenhum peixe com menos de dois metros, mas, no foram poucos os que mediam mais de quatro metros. Tambm no vi vrias espcies, como existem em nossos mares da Terra. Todos os que vi sendo capturados tinham a figura de um gigantesco salmo, de branca e sugestiva carne. Esses enormes peixes passam, em seguida, por todo um processo que me pareceu maravilhoso. Ao final do mesmo, saam convertidos numa impalpvel farinha. Com isso j temos uma das matrias primas.

    Como disse, a outra matria proveniente dos hortos de terrao. Vamos explicar melhor. Eles conseguiram criar e desenvolver um tipo de fruta, geralmente redonda e no maior que uma laranja pequena. como as nossas frutas carnosas, mas sem fibras. Sua casca fina como a da ameixa, mas sem caroo. Assim tinham me dito e eu comprovei depois. Para resumir, essas frutas tambm acabam convertidas em finssima farinha. A seguir ambas as farinhas so convertidas em lquido, sendo transportado aos laboratrios atravs de um sistema de tubulao e dali aos locais de consumo.

    Foi num desses edifcios onde tambm vi o processo de construo dos mesmos. Meus dois amigos asseguraram-me que naquele planeta haviam mais indivduos da minha raa. Ao entrar no mesmo, dei-me conta que o edifcio estava crescendo ou despregando-se do solo. Explicaram-me que s o estavam aumentando. Seu processo de aumentar edifcios inverso do nosso na Terra, coisa por demais lgica, pois, eles usam os terraos como horto e campo de pouso para naves. Para que eu pudesse ver, ao natural, o processo de aumento de edifcio, levaram-me ao poro, lugar onde se leva a cabo essa operao. Percebi ento, que esses no so mais que ruas subterrneas, atravs das quais transitam veculos que movem os materiais destinados a construo. Tambm por a que correm grossas tubulaes negras, atravs das quais, so transportadas roupas, alimentos e tudo que necessrio para seus habitantes. Mas sigamos com o edifcio. A todos os pores atravessam umas colunas de umas vinte polegadas de espessura e so essas que formam as armaes para os edifcios. No lugar em que nos encontrvamos, tudo estava pronto para ser aumentado. Em cada uma das colunas est colocado um macaco com formato de meia-cana, abraado mesma, presa por meio de umas ranhuras. Esses ganchos compem-se de vrias sees interiores; so pneumticos e conectam-se em unies flexveis. Quando tudo est pronto, uma pequena mquina aplica uma fora em todos e o edifcio levanta-se sobre eles. Os lances ou segmentos de coluna, com uns dois metros de altura, por umas vinte polegadas de espessura, so macios e em cada canto tm um acoplamento que se ajusta com preciso. So sumamente levianos, a ponto de algum poder lev-los debaixo do brao. Colocamnos um a um em cada buraco mostra ao levantar o edifcio, ficando firmemente presos ali. Depois, tiram a fora dos ganchos e o edifcio baixa, ficando aumentado. Entram em cena agora os rematadores que colocam a caixa dos elevadores, unidades autnomas providas de rodinhas em seus lados, que rodam num cubo, acoplado em sees, semelhante as colunas. No usam os perigosos e desajeitados cabos. Na parte exterior, s desliza a cobertura em forma de arco e o oco descoberto recheado. Saem os aparelhos carregados de material. um verdadeiro espetculo ver-se um daqueles homenzinhos, comodamente sentado em cima de um aparelho que me lembra uma aranha gigante e de assombrosa maneabilidade. Acerca-se com segurana do lugar exato com seu rolo de material. Outro homem montado num aparelho semelhante, mas sem rolo algum e s provido de um pequeno instrumento que sujeita com ua mo, ajustando com a outra o extremo do material no lugar em que ser soldado, por que isso que fazem, nem mais nem menos. Com os ps movem os controles de seus aparelhos que o sobe e desce em seu cmodo assento. Quando o extremo do rolo trazido pela primeira mquina ficou preso, os dois aparelhos caminham, um levando o rolo e o outro soldando-o em seu lugar. Assim em menos tempo que levo para contar isso, eles terminam sua tarefa.

    Pois bem. Tudo o que vi aqui, pessoalmente, vi de novo, depois, num dos edifcios de controle, s que aqui, em forma de projeo, estudando o trabalho realizado em diferentes ngulos, algo que interessante pelos detalhes que mostra. Ainda nesse mesmo edifcio de controle localizaram e falaram com os dois outros terrestres e prontificaram-se em fazer uma entrevista com eles, algo que serviu para aquilatar o grau de eficincia de suas comunicaes. Comprovei depois, que os dois indivduos da Terra estavam no outro lado do planeta, algo assim como do Mxico a China. Ficaram sabendo que os dois no eram espanhis, mas franceses que tinham chegado ao planeta cinco anos antes.

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  • Num desses edifcios tambm pude admirar algo que me chamou a ateno. Era algo relacionado com o seu passado e seu sistema de transportes e alimentao. 0 primeiro referia-se a uma bola transportadora e foi o tipo que culminou em eficincia e rapidez. Depois dela, veio o transporte areo capaz de cobrir grandes distncias. Esse meio passou a histria. Tratava-se de uma bola gigante, maior que a nave esfrica que usamos. Dividia-se em trs sees, e as duas unies que a fechavam, era sua superfcie de rolamento. Circulava nuns canais que alojavam mais da metade do transporte. Em razo de sua enorme circunferncia, devia alcanar grandes velocidades, pois os trilhos eram sumamente lisos. Porm a coisa no pra a. Podia-se chamar a esse meio de transporte velocidade por inrcia, pois no usavam qualquer tipo de propulso. Meus amigos fizeram-me uma demonstrao com um modelo pequeno e o vi subir a uma altura de quatro metros. Teria subido quinhentos se, a demonstrao no terminasse a. As estaes de paradas eram cubos do mesmo dimetro que a bola, parando pela ao do ar que era comprimido dentro dele. Esse cubo, ou tnel, estava provido de comportas e vlvulas para dar sada ao aparato.

    Outra coisa que me chamou a ateno foi seu primitivo meio de produzir legumes em tempos remotos. Eles tinham me dito que houve uma poca em que cultivaram maior nmero de legumes que ns conhecemos. Assim, quando tive oportunidade, perguntei-lhe, se no haveria maneira de conhecer os meios que se valiam para consegui-lo. Como tnhamos pouco tempo disponvel, entramos num edifcio de controle, buscando uma reproduo daquele antigo meio. Disseram-me que veria ali em modelo, mas que me demonstrariam depois se houvesse tempo. Produziam legumes perfurando o solo na profundidade que quisessem. Ali faziam cortes em circunferncia, dando uma forma de ngulo ou de repiso, de modo a parecer uma srie de cones superpostos com a parte estreita para cima. Esse tipo de horta possua vrias janelas, sendo que a principal colocava os legumes ali cultivados a salvo dos raios solares, por que naquele tempo ainda no sabiam se proteger dos mesmos. A segunda vantagem desse sistema era que, numa superfcie pequena, conseguiam grandes produes e com pouco esforo, j que desde os tempos primitivos usavam - com eficincia - sistema de elevadores. Segundo meus amigos eles tiveram hortas desse tipo, com centenas de pisos.

    Relatarei agora algumas coisas relacionadas com o mar. Comearei com alguns modelos de barco. Dizia antes que eles no se parecem com os nossos. Mais de uma vez cheguei a pensar que a diferena entre os deles e os nossos veculos martimos deve-se ao fato de o mar daquele planeta ser mais denso ou mais leve. No perguntei isso a meus dois amigos, por que quando l estava no tinha me ocorrido essa hiptese. Percebi um modelo, cujo casco era plano, mais semelhante a um lancho rudimentar de lento velejar que um navio de grandes velocidades. Esse tipo foi desenhado para cargas, e compe-se de galerias que correm em seu comprimento, havendo entre uma e outra, uma parede fechada e oca, cujas sees esto