Gêneros literários

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Hênio Tavares By Alcione Alves Teoria da Literatura Uninorte – 2012/2 Gêneros literários

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Resumo do capítulo V do Livro Teoria da Literatura - Hênio Tavares

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Page 1: Gêneros literários

Hênio TavaresBy Alcione Alves

Teoria da LiteraturaUninorte – 2012/2

Gêneros literários

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Tu moça, eu quase velho... Entre nós dois, que horror,Vinte anos de distância. Entre nós dois, mais nada.E hoje, pensando em ti, pus-me a sonhar de amorSomente por que vi por acaso, na estrada,Sobre um muro em ruína, uma roseira em flor...(Vicente de Carvalho, in Folhas Soltas, do livro Poemas e Canções, pag. 162.

São Paulo, 1954)

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As palavras estão dispostas em linhas numa sucessão ordenada de sons verbais, que despertam um ritmo determinado pelo número de sílabas e pausas. Essas linhas recebem o nome de VERSOS, isto é, unidade de ritmo. Quanto ao fundo, é a primeira pessoa que fala. E fala sobre si e de si, de maneira essencialmente SUBJETIVA; o assunto é o amor, sentimento emotivo e pessoal por excelência. Não há interferência de terceiros ou injunção de diálogos, o autor simplesmente expõe (EXPOSITIVO). A situação evocada faz-se mediante recursos de uma linguagem expressiva pela qual as palavras traduzem , através de associações sonoras ou sugestivas (figuras e imagens), uma mensagem sentimental, decorrida num momento PRESENTE

LIRISMO

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FanatismoFlorbela Espanca

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdidaMeus olhos andam cegos de te ver!Não és sequer razão de meu viver,Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...Passo no mundo, meu Amor, a lerNo misterioso livro do teu serA mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."Quando me dizem isto, toda a graçaDuma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

Nos dois primeiros quartetos, o eu lírico (feminino) revela a força do amor que sente: seus olhos enxergam apenas o amado (por isso “andam cegos”. Ele se transformou na sua própria vida. Por esse motivo afirma ler sempre a mesma história no ser amado: a história do seu amor, do sentimento que a arrebata e toma conta de seu ser. Ao ouvir a opinião de outras pessoas sobre a transitoriedade do amor (Tudo...passa) o eu lírico responde com a “lógica” dos seus sentimentos: como o ser amado se tornou sua própria vida, ele passou a ser seu “Princípio” e seu “Fim”. É esse raciocínio que nos leva a compreender os versos finais : não há acontecimento, por maior que ele seja, capaz de enfraquecer o poder desse amor, a ponto de destruí-lo.

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UM ERRADIO

A PORTA abriu-se... Deixa-me contar a história à laia de novela, dissé Tosta à mulher, um mês depois de casados, quando ela lhe perguntou quem era o homem representado numa velha fotografia, achada na secretária do marido. A porta abriu-se, e apareceu este homem, alto e sério, moreno, metido numa infinita sobrecasaca cor de rapé, que os rapazes chamavam opa. - Aí vem a opa do Elisiário. - Entre a opa só. - Não, a opa não pode; entre só o Elisiário, mas, primeiro há de glosar um mote. Quem dá o mote? Ninguém dava o mote. A casa era uma simples sala, sublocada por um alfaiate, que morava nos fundos com a família; Rua do Lavradio, 1866. Era a segunda vez que ia ali, a convite de um dos rapazes. Não podes ter idéia da sala e da vida. Imagina um município do país da Boêmia, tudo desordenado e confuso; ...

(Machado de Assis. In: Um Erradio, do livro “Páginas Recolhidas”, pág. 35. São Paulo, 1952”)

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Em boca fechada bem-te-vi não faz ninho

Campos de Melo passou todos os anos de sua vereança sem dar uma palavra. Era o boca-de-siri da câmara municipal de Cuité. Até que, uma tarde, ergueu o busto, como quem ia falar. O presidente da Mesa, mais do que depressa, disse:

— Tem a palavra o nobre vereador.

Então, em meio do grande silêncio, o grande mudo falou.

— Peço licença para fechar a janela, pois estou constipado.

In: http://www.releituras.com/jccarvalho_contos.asp

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Narração A forma não está disposta em linhas arranjadas

simetricamente; nem percebemos um ritmo continuado e marcado como no anterior. As pausas que se fazem, são decorrências exclusivas dos fatores de respiração e do pensamento lógico. É o que chamamos de PROSA.

Quanto ao CONTEÚDO ou FUNDO, o autor figura uma personagem, que toma a palavra. E será essa pessoa que começará a contar algo ACONTECIDO, portanto referindo-se ao PASSADO. Na certa há de haver um protagonista (no caso, ELISÁRIO) e o leitor perceberá no autor uma simulada atitude de espectador. A composição apresenta-se mista: EXPOSIÇÃO e REPRESENTAÇÃO (diálogo).

O estilo despido de imagens sonoras, diluído em afirmativas diretas e narração simples e impessoal, acusa de pronto a ausência fundamental do elemento subjetivo. É OBJETIVO.

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Como se fazia um deputado Ato I, cena VII França Júnior (Rio, 1882)

“Henrique - Como se está bem aqui! Disse um escritor que a vida da roça arredonda a barriga e estreita o cérebro. Que amargo epigrama contra esta natureza grandiosa! Eu sinto-me aqui poeta.

Limoeiro - Toma tenência, rapaz. Isto de poesia não dá para o prato, e é preciso que te ocupes com alguma coisa séria.

Henrique - Veja, meu tio, como está aquele horizonte; o sol deita-se em brilhantes coxins de ouro e púrpura, e a viração, embalsamada pelo perfume das flores, convida a alma aos mais poéticos sonhos de amor.

Limoeiro - Está bom, está bom. Esquece estes sonhos de amor, que no fim de contas, são sempre sonhos, e vamos tratar da realidade. Vira-te para cá. Deixa o sol, que tens muito para ver, e responde-me ao que te vou perguntar.

Henrique - Estou às suas ordens Limoeiro - Que carreira pretendes seguir? Henrique - Tenho muitas diante de mim ... a magistratura...

Limoeiro - Podes limpar as mãos à parede.

Henrique - A advocacia, a diplomacia, a carreira administrativa...

Limoeiro - E esqueceste a principal, aquela que pode elevar-te às mais altas posições em um abrir e fechar de olhos.

Henrique - O jornalismo? Limoeiro - A política, rapaz, a política! “

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Romeu e Julieta Cena V

Uma sacada que dá para os aposentos de Julieta, sobre o jardim. JULIETA — Já vai embora? Mas se não está nem

perto de amanhecer! Foi o rouxinol, não a cotovia, que penetrou o canal receoso de teu ouvido. Toda a noite ele canta lá na romãzeira. Acredita-me, amor, foi o rouxinol.

ROMEU — Foi a cotovia, arauto da manhã, e não o rouxinol. Olha, amor, as riscas invejosas que tecem um rendado nas nuvens que vão partindo lá para os lados do nascente. As velas noturnas consumiram-se, e o dia, bem-disposto, põe-se nas pontas dos pés sobre os cimos nevoentos dos morros. Devo partir e viver, ou fico para morrer.

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Romeu e Julieta Cena V

ROMEU — Que me prendam! Que me matem! Se assim o queres, estou de acordo. Digo que aquele acinzentado não é o raiar do dia; antes, é o pálido reflexo da lua. Digo que não é a cotovia que lança notas melodiosas para a abóbada do céu, tão acima de nossas cabeças. Tenho mais ânsia de ficar que vontade de partir. — Vem, morte, e seja bem-vinda! Julieta assim o quer. — Está bem assim, meu coração? Vamos conversar... posto que ainda não é dia!

JULIETA — É dia sim, é dia sim. Corre daqui, vai-te embora de uma vez! É a cotovia que canta assim tão desafinada, forçando irritantes dissonâncias e agudos desagradáveis. Alguns dizem que a cotovia separa as frases melódicas com doçura; não posso acreditar, pois que ela vem agora nos separar. Alguns dizem que a cotovia é o odiável sapo permutam seus olhos; como eu gostaria, agora, que eles também tivessem permutado suas vozes! Essa voz alarma-nos, afastando-nos um dos braços do outro, já que vem te caçar aqui, com o grito que dá início à caçada deste dia. Ah, vai-te agora; ilumina-se mais e mais a manhã.

Page 11: Gêneros literários

Romeu e Julieta Cena V

ROMEU — Ilumina-se mais e mais... enquanto anoitece em nossos corações! (Entra a Ama.)

AMA — Madame! JULIETA — Ama?AMA — A senhora tua mãe vem vindo para os teus

aposentos. Amanheceu. Sê prudente, cuida do que acontece à tua volta.

(Sai.) JULIETA — Então, janela, deixe entrar o dia e deixe fugir a

vida.ROMEU — Adeus, adeus! Um beijo, e eu desço.

(Desce.) JULIETA — Estás indo embora assim? Meu esposo, meu

amor, meu amigo! Preciso ter notícias tuas todo dia, a cada hora, pois num único minuto cabem muitos dias. Ah, por essa contagem estarei velhinha antes de reencontrar o meu Romeu.

Page 12: Gêneros literários

Romeu e Julieta Cena V

ROMEU — Adeus! Não perderei oportunidade em que possa transmitir a ti, amor, meus sentimentos.

JULIETA — Acreditas que nos veremos de novo?ROMEU — Não duvido nem por um momento. E todas

essas aflições servirão de tema para doces conversas em nosso futuro.

JULIETA — Ah, Deus! Como minha alma é agourenta. Penso ver-te, agora que estás aí embaixo, como alguém morto, no fundo de uma tumba. Ou meus olhos estão me enganando ou estás muito pálido.

ROMEU — Acredita-me, amor, enxergo-te igualmente pálida. A tristeza, insensível, nos bebe todo o sangue. Adeus, adeus!

(Sai, abaixo da sacada.)

~ William Shakespeare ~

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Drama Em forma de PROSA. Mas a técnica de sua composição

difere: é em forma dialogada. Ao contrário dos outros trechos já vistos, não apela para a composição expositiva, mas para a REPRESENTATIVA. O autor parece inteiramente ausente à ação por ele criada. Quem a vive são as personagens, que falam e que atuam. Vemos, então, que o autor não é o protagonista (no 1º) ou o espectador (no 2º), mas uma espécie de coordenador a colocar em cena pessoas que se movimentam na apresentação de seus interesses e de seus sentimentos. E ainda mais: a ação decorre no presente, mas se projeta no FUTURO, pois todo o interesse do que está acontecendo se concentra naquilo que se pretende alcançar (no caso, a carreira do sobrinho).

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Elementos básicos nos Gêneros

• Prosa• VersoForma

• Expositiva• Representativa• Mista ou Expositiva-

Representativa

Composição

• Subjetivo• ObjetivoConteúdo

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Gêneros – Concepção ClássicaForma e conteúdo são separáveis,

predominando a primeira como elemento fundamental da criação literária;

Realização imitativa da natureza, consoante os exemplos colhidos nas obras dos clássicos antigos;

Teoria normativa e preceptiva: os gêneros são fixos e distintos. Wellek:

A teoria clássica é normativa e perceptiva. A teoria clássica não somente crê que um gênero difere de outro tanto na natureza como na hierarquia, como também que se deve mantê-los separados.

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Gêneros – Concepção Moderna

Victor Hugo: Os gêneros são três e representam cada um dos estágios por que passa a humanidade.

Bouvet – Usa as fases como atitudes individuais que o homem assume perante a existência e o mundo.

Richter – Inverte a ordem dos gêneros feita por Hugo

Gênero Fases

Lirismo Infância

Épico Fase viril e da luta

Drama Corporifica os tempos modernos

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Gêneros – Concepção Moderna

Forma e conteúdo são indivisíveis;A moderna teoria é descritivaOs gêneros não são fixos e podem misturar-

se.Wellek:

o A moderna teoria dos gêneros é manifestadamente descritiva. Não limita o número de possíveis gêneros nem dita regra aos autores. Supõe que os gêneros tradicionais podem misturar-se ou mesclar-se e produzir um novo gênero (como a tragicomédia) (p.111)

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CONTEÚDOS DA OBRA LITERÁRIA

LÍRICA ÉPICA DRAMÁTICA

FATOR CONSIDE

RADO

Sujeito (Pessoa) Eu Tu Ele – isso

Autor na obra Protagonista espectador Coordenador

Personalidade Subjetividade Objetividade Transposição mista

OBJETO Tema Deus, amor, dor, natureza

Homem em face de Crise

PropósitoDisposições

íntimas, sentimentos

Exaltação, dúvida,

interrogação

Apresentação

FORMA

Retórica

Expositiva, enunciativa,

assertiva, interrogativa, exclamativa

Narrativa Dialogada

Psicológica Expressão, designação,

alusão

Invocação, impressão Catarse

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CONTEÚDOS DA OBRA LITERÁRIA

LÍRICA ÉPICA DRAMÁTICA

CONTEÚDO

Esfera da vivência Emocional Intencional Racional

Motivo atualizante da vivência

Sensação Acontecer Ação

Realidade psíquica Abstração Ausência Presença

Mundo refletido Direção

Interior

Expressiva

Exterior

Impressiva

Figuração Representativa Demonstrativa

Transcendência ao religioso Totemismo Paganismo Cristianismo

Relação filosóficaSer ou substancialidade

(essências)Ontologia (Estudo do ser)

ExistirConhecimento

Gnoseologia (Estudo do

Conhecimento humano)

ValoresAtuar

Axiologia (Estudo dos

valores morais)

SentimentosAdmiração, dor, alegria,

ódio, amor, desinteresse, etc

Heroísmo, admiração, interesse

Conflito entre interesse e sentimento

Page 20: Gêneros literários

CONTEÚDOS DA OBRA LITERÁRIA

LÍRICA ÉPICA DRAMÁTICA

TEMPO

Projeção Presente Passado Futuro

Idade do homem Juventude Madureza Velhice

Idade da humanidade Primitiva Antiga moderna

Page 21: Gêneros literários

CONCEITUANDO GÊNERO LITERÁRIO

AUTOR DEFINIÇÃO

ARISTÓTELES Formas, conteúdos e atitudes do poeta

HEGEL Princípios de fragmentação da realidade estética.

VICTOR HUGO Expressões de distintas idades.

ORTEGA & REYES

Funções básicas da estética.

CASTAGNINO Usada com alcances diversos (retóricos, literários propriamente ditos, filosóficos, históricos, etc). Algumas vezes separa três grandes modos de tradução estética: lírico, épico e dramático.

SOARES AMORA

A combinação de um tipo de forma, com um tipo de conteúdo e um tipo de composição.

H. TAVARES As diversas modalidades da expressão literária.

Page 22: Gêneros literários

Gêneros – Concepção Moderna

Subst/ Adj

Lirico ou

Épico

Narrativo

Satírico ou

Cômico

Épico Dramático

Trágico

POESIA Poesia Lírica

Poesia Narrativa

Poesia Satírica

Poesia Épica

Poesia Dramátic

a

Poesia Trágica

PROSA DE

FICÇÃO

Prosa Poética

Narrativa Prosa Satírica

Narrativa Épica

Narrativa Dramátic

a

Narrativa Trágica

DRAMA Comédia Drama Tragédia

Page 23: Gêneros literários

Classificação dos Gêneros Literários: Jônatas Serrano

Predominância de elementos

Tipo Gênero

Emocionais Verso LíricoÉpico

Prosa e verso Dramático

Prosa Oratório

Racionais Prosa Narrativo

Prosa e verso Epistolar Didático

In: Antologia Brasileira, págs. 61-62

Page 24: Gêneros literários

Classificação dos Gêneros Literários: Álvares Cardoso

TEXTO GÊNERO LITERÁRIO

Literatura (propriamente dita)

Épico ou narrativo

Lírico ou sentimental

Dramático ou representativo

Descritivo

Didático-literário Oratório

Especial Epistolar

Literatura (impropriamente dita)

Didático

In: Iniciação Literária, pág. 143

Page 25: Gêneros literários

Classificação dos Gêneros Literários: Antônio Soares Amora

FORMA

COMPOSIÇÃO

CONTEÚDO EXEMPLOS

PROSA

Expositiva

Mundo psicológico Oratória, história, crítica,

moral, mística, jornalismo etc

Mundo físico

Mundo físico e psicológico

Representativa

Mundo físico Teatro (tragédia, comédia, drama, farsa, mistério, milagre etc)

Mundo físico e psicológico

Mista Mundo físico Romance, novela, conto,

fábula, apólogo, anedota etc

Mundo físico e psicológico

In: Teoria da Literatura, pág. 149

Page 26: Gêneros literários

Classificação dos Gêneros Literários: Antônio Soares Amora

FORMA

COMPOSIÇÃO

CONTEÚDO EXEMPLOS

VERSO

Expositiva

Mundo psicológico

Poesia, lírica, poesia satírica etc

Mundo físico

Mundo físico e psicológico

Representativa

Mundo físico Teatro (tragédia, comédia, drama, farsa, mistério, milagre, auto, diálogo, monólogo etc)

Mundo físico e psicológico

Mista Mundo físico Poema épico (poema

heroico, poema herói-cômico)

Mundo físico e psicológico

In: Teoria da Literatura, pág. 149

Page 27: Gêneros literários

Classificação dos Gêneros Literários

• Há ainda a considerar uma subclassificação do gênero: é o subgênero ou ESPÉCIE LITERÁRIA, (acalanto – elegia – etc ) que é uma variante do gênero, identificada por uma ou mais características particularizadoras.

• Quando classificamos certas espécies em determinados gêneros, não significa isso que elas sejam exclusivas daqueles gêneros.

• Exemplo: o CONTO, classifcado genericamente como NARRATIVO, pode pertencer a outro gênero, coo o satírico ou o humorístico.

In: Teoria da Literatura, pág. 149

Page 28: Gêneros literários

Elementos a serem considerados na classificação de obras literárias:ELEMENTO CLASSIFICAÇÃO TIPO

GÊNEROS (funções)

Fundamentais

Lírico

Épico ou Narrativo

Dramático ou Teatral

Especiais

Satírico e Humorístico

Oratório

Epistolar

Didático

FORMA

Prosa Conto, romance, etc

Verso Soneto, ode etc

Mista Prosa poéticaUma espécie pode comportar mais de um gênero – SOMENTE FACE A UMA OBRA É QUE PODEMOS CLASSIFICÁ-LA. Exemplo as crônicas líricas e humorísticas; há romances narrativos, romances líricos e romances satíricos; há máximas humorísticas e máximas moralistas ou filosóficas etc.

Page 29: Gêneros literários

Elementos a serem considerados na classificação de obras literárias:ELEMENTO CLASSIFICAÇÃO TIPO

CONTEÚDO

Objetivo

Diletante – Exemplo: Narrativa de aventuras

Didático

Sério

Cômico ou Humorístico

Trágico etc

Subjetivo

Lírico ou sentimental

Psicológico ou Reflexivo

Humorístico

Satírico etc

Objetivo-subjetivo ou misto

Muitos confundem formas poéticas com espécies. As formas geralmente de estrutura fixa, não pertencem essencialmente a gênero algum, mas a todos. Um soneto ou uma trova podem conter os mais variados gêneros.

Page 30: Gêneros literários

ELEMENTO CLASSIFICAÇÃO TIPO

COMPOSIÇÃO

Expositivo Lírico

Representativa Dramático

Mista Narrativo/Épico

ESPÉCIES

Ode, hino, canção, elegia, madrigal, acalanto, epitalâmico etc

líricas

Epopeia, romance, novela, conto, poema heroico, poema burlesco etc

narrativas

Tragédia, comedia, drama, farsa, mistério, auto, milagre etc

dramáticas

Sátira, epigrama, poema humorístico, paródia, romance, conto, crônica etc

satíricas e humorísticas

Discurso, alocução, conferência, sermão, homilia, prédica etc

oratórias

Cartas literárias epistolar

Ensaio, tese, crítica, artigo, monografia, biografia, máximas etc

Didáticas

FORMAS POÉTICAS

Soneto, trova, sextina, oitava, acróstico, balada, triolé, rondó, rondel, pantum, vilancete, vilanela, décima, terceto, canto real, dístico.

Page 31: Gêneros literários

GÊNERO LÍRICO

Caracteriza-se por sua forma em VERSO e às vezes, a PROSA de conteúdo SUBJETIVO particularmente poético (o que o distingue dos outros) e de composição EXPOSITIVA;

Nele predominam os sentimentos e emoções do autor, o artista reflete a si mesmo como uma “CONFISSÃO”;

Para assim ser classificado o texto terá uma composição expositiva de conteúdo poético-subjetivo, mesmo que apareçam elementos objetivos, como as descrições e as narrações.

PROSA – A prosa poéticaVERSO – as formas poéticas de estrutura fixa e as espécies

literárias que se definem como líricas devido ao conceito ou fundo (conteúdo).

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GÊNERO LÍRICO: Forma e Conteúdo

Quanto à FORMA – somente são líricas quando o FUNDO de que se revestem acusa o tom subjetivo e poético do gênero .

Um soneto, por exemplo, não é essencialmente lírico; apenas a sua forma nada significa como elemento identificador. Será lírico quando o seu conteúdo encerrar sentimentos pessoais do autor.FORMAS FIXAS FORMAS LÍRICAS

Soneto, trova, balada, sextina, oitava, acróstico, triolé, rondó, rondel, pantum, vilancete, vilanela, décima, terza-rima, canto real etc.

Ode, hino, canção, elegia, madrigal, acalanto, epitalâmico genetlíaco, ditirambo, cantata, barcarola, noturno, poema bucólico etc.

Page 33: Gêneros literários

GÊNERO LÍRICO: Forma e Conteúdo

O lirismo grego, que floresceu no século VI a.C era de ordinário cantado ao som de instrumentos, mormente da lira.

É óbvio que a classificação das espécies no lirismo grego difiram das que hoje se propõem no lirismo moderno.

Enquanto aquelas estavam fundamentalmente sempre ligadas à música, estas são agora muito mais para serem lidas ou recitadas (podendo haver a intenção de musicar)

Fontes líricas:1. Uma ideia para a inteligência.2. um sentimento para o coração.3. uma música para o ouvido.4. uma imagem para os olhos.

Page 34: Gêneros literários

Poesia Lírica: ACALANTO é uma cantiga para embalar crianças.

Deita, filho E constrói teu sono O medo já vem Fecha os olhos dos ouvidos Faz escuro aos ruídos Amortece o brilho desse som. A angústia gira muda No longplei sem sulcos Da noite sem insônia Dorme filho Faz silêncio na Amazônia.

Millôr Fernandes

Page 35: Gêneros literários

Poesia LíricaACRÓSTICO, poema em que letras dos versos (mais usado as primeiras letras dos versos) no sentido vertical formam o nome de pessoa ou uma frase ou apenas uma palavra.

Menina

Menina de serenos olhos, Amiga daqueles que te rodeiam. Refletes nas tuas perfeitas feições Todo o puro, verdadeiro e sincero Amor de tua alma-criança.

Festejo cada encontro nosso, Recolho cada palavra de carinho, Imagino cada emoção sentida... Elevo o pensamento aos céus, Depois da cada dia vivido, Respeitosamente pedindo a tua felicidade. Impresso na foto está o teu rosto sorridente Colocado no porta-retrato da mente, Habituando-me eu, assim, à tua presença.

Busco compreender os vôos inquietos da tua fantasia, Riqueza permitida apenas ao mundo-criança. Agrada-me saber que tens sonhos Unicamente, porque aqueces os corações

Neles penetrando com a força de teu carinho.

Mardilê Friedrich Fabre

Page 36: Gêneros literários

Poesia Lírica DÉCIMA, improviso com canto lento, próximo a uma declamação, com estrofes de 10 versos. A décima era uma estrofe da literatura clássica na Europa do século XV e XVI e, segundo a maioria dos autores, veio para a América pelos colonizadores e aqui ganhou força especialmente no canto improvisado. Sua estrutura é a seguinte: rima abbaaccddc, com versos setissílabos ou octossílabos.

As obras da natureza São de tanta perfeição, Que a nossa imaginação Não pinta tanta grandeza! Para imitar a beleza Das nuvens com suas cores, Se desmanchando em louvores De um manto adamascado, O artista, com cuidado, Da arte, aplica os primores.

Ugolino do Sabugi

Page 37: Gêneros literários

Poesia Lírica: Décima Sua potencialidade poética é tão grande que pode ser vista como um

poema. A décima exige que o vate coloque um assunto por inteiro em dez versos. O tema tem que ter início, meio e fim. Mesmo que um poema possua várias estrofes, cada uma delas precisa desenvolver uma ideia completa. Ao seguir o mesmo tema, o decimista tem que encontrar outra visão sobre ele e desenvolvê-la totalmente. Algumas décimas apresentam o mote, que é uma sentença ou pensamento, formado de um ou dois versos, com que se finalizam as estrofes.

Ao pé do monte Calvário, Jesus chorava e gemia!

Junto de dois malfeitores, Via-se um pobre moribundo: Era o Salvador do mundo, Senhor de todos senhores! Refúgio dos pecadores, De quem sofre nostalgia! Se quisesse, sairia Daquele estado precário: Ao pé do monte Calvário, Jesus chorava e gemia!

Page 38: Gêneros literários

Poesia Lírica ELEGIA, composição lírica inspirada por algum acontecimento triste, como uma morte ou uma despedida. A elegia, assim como a ode, tem forma variável. A elegia surgiu na Grécia Antiga. Na literatura grega e latina, era composta em dísticos (estrofe de dois versos).

Elegia crepuscular

A morte chegou e arrebatou-te sem teres tempo de te opores Sabiamente soubeste alegrar a tua existência e num longo adeus deixtaste o espaço azul e foste para o país do sonho Nem tempo tiveste de pôr em prática os sonhos que te banhavam Adeus viajante do tempo

Rogério Saviniano Telo

Page 39: Gêneros literários

Poesia Lírica EPIGRAMA, dito espirituoso, breve e incisivo, que pode ter forma poética. Esta composição poética era comum entre os escritores da antiga Roma. Os epigramas têm muitas vezes um caráter satírico. Bocage tornou-se célebre pelos seus epigramas cômicos e satíricos, como, por exemplo:

Aqui jaz um homem rico Nesta rica sepultura: Escapava da moléstia, Se não morresse da cura.

Page 40: Gêneros literários

Poesia Lírica EPITÁFIO, em geral, são versos escritos em túmulos para homenagear pessoas ali sepultadas, mas figuradamente podem ser dirigidos a outros seres.

Aqui jaz o Sol Que criou a aurora E deu luz ao dia E apascentou a tarde

O mágico pastor De mãos luminosas Que fecundou as rosas E as despetalou.

Aqui jaz o Sol O andrógino meigo E violento, que

Possuiu a forma De todas as mulheres E morreu no mar.

Vinicius de Morais

Page 41: Gêneros literários

Poesia Lírica

HINO, poema ou cântico composto para glorificar deuses ou heróis, canto solene em honra da pátria e/ou de seus defensores, com refrão (estribilho). Exemplo: Hino Nacional, Hino Rio-Grandense, Hino à Bandeira, cuja letra é de Olavo Bilac. O hino é originário da Grécia, onde era entoado em honra aos deuses. É hoje manifestação lírica subjetiva que se pode dedicar a seres humanas e acontecimentos que se quer comemorar.

Page 42: Gêneros literários

Poesia Lírica HAICAI é um poema de forma fixa de origem japonesa. Foi no século XX que começou a ser praticado no Brasil. O haicai é um poema pequeno de apenas três versos,

que segue algumas normas:

a) o 1º e o 3º versos são redondilhas menores (5 sílabas) e o 2º é uma redondilha maior (7 sílabas), com 17 sílabas métricas ao todo;

b) os versos podem ser rimados ou não;

c) fala direta ou indiretamente sobre a natureza, representada pelas estações do ano;

d) reflete um momento vivido pelo poeta;

e) linguagem simples;

f) não tem título

Manhã cor de cinza, a geada cobre os campos. Verde esmaecido.

Mardilê Friedrich Fabre

Page 43: Gêneros literários

Poesia Lírica MADRIGAL, como composição lírica, manifesta um sentimento subjetivo; pela espécie de sentimento, expressa um galanteio dirigido à formosura da mulher; pelo tratamento, é gracioso e leve. Exprime um pensamento fino, terno ou galante e que, em geral, se destina a ser musicada. O madrigal aborda assuntos heróicos, pastoris e até libertinos.

Madrigal

Dormias, Márcia, e eu vi Cupido ansioso Já dum, já do outro lado Querer furtar-te um beijo gracioso, Que tu, a cada arquejo descansado, Na linda boca urdias. Graciosíssimo, oh! Márcia!... Não sabias Como o nume girava de alvoroço. Escondendo-lhe o jeito De o dar do melhor lado. Eu vim, e dei-to Bem na boca, e logrei o esperto moço.

Francisco Manuel do Nascimento

Page 44: Gêneros literários

Poesia Lírica: SONETO

pequena composição poética composta de 14 versos, com número variável de sílabas, sendo o mais freqUente o decassílabo, e cujo último verso (dito chave de ouro) concentra em si a ideia principal do poema ou deve encerrá-lo de maneira a encantar ou surpreender o leitor.

Dentre os poemas de forma fixa, é o soneto o mais praticado, devido à sua condensação e lógica interna.

Ao que tudo indica, o soneto - do italiano sonetto, pequena canção ou, literalmente, pequeno som - foi criado no começo do século XIII, na Sicília.

Alguns atribuem a Jacopo (Giacomo) Notaro, um poeta siciliano e imperial de Frederico, a invenção do soneto, que surgiu como uma espécie de canção ou de letra escrita para música, possuindo uma oitava e dois tercetos, com melodias diferentes.

Francesco Petrarca aperfeiçoou a estrutura poética iniciada na Sicília, difundindo-a por toda a Europa em suas viagens.

Page 45: Gêneros literários

Poesia Lírica: SONETO

Rua dos Cataventos I

Escrevo diante da janela aberta. Minha caneta é cor das venezianas: verde!... e que leves, lindas filigranas desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas mistura os tons... acerta... desacerta... Sempre em busca de nova descoberta, vai colorindo as horas quotidianas

Jogos da luz dançando na folhagem! Do que eu ia escrever até me esqueço... Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando... E me transmuto... iriso-me... estremeço... Nos leves dedos que me vão pintando!

Mário Quintana

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Poesia Lírica QUADRA, forma poética escrita, constituída de quatro versos rimados normalmente 2º com o 4º versos.

Vem desde os séculos XI e XIV, quando os poetas portugueses já imitavam a poesia provençal.

O poeta expressa todo o seu pensamento em uma única estrofe, demonstrando o poder da síntese semelhante à trova literária em que a rima é 1º com 3º versos e 2º com o 4º.

A quadrinha popular lusa é um poema de uma só quadra, setissílaba. No Brasil, é poema de forma fixa com rigores, unânimes, baixados pelas casas

trovadorescas, como no ritmo, na métrica e na exigência de mensagem completa, sem o que seria apenas uma estrofe. É

o mais curto poema que apresenta todos os requisitos básicos e de métrica

Coração que bate-bate... Antes deixes de bater! Só num relógio é que as horas Vão passando sem sofrer.

Mário Quintana

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Poesia Lírica ODE, cujo sentido grego é canto, poema lírico de forma complexa e variável, exprime alegria e entusiasmo. Surgiu na Grécia Antiga, onde era cantado com acompanhamento musical. A ode caracteriza-se pelo tom elevado e sublime com que trata determinado assunto.

Ode

Eu nunca fui dos que a um sexo o outro No amor ou na amizade preferiram. Por igual a beleza apeteço Seja onde for, beleza.

Pousa a ave, olhando apenas a quempousa Pondo querer pousar antes do ramo; Corre o rio onde encontra o seu retiro E não onde é preciso.

Assim das diferenças me separo E onde amo, porque o amo ou não amo,

Nem a inocência inata quando se ama Julgo postergada nisto.

Não no objecto, no modo está o amor Logo que a ame, a qualquer cousa amo.

meu amor nela não reside, mas Em meu amor.

Os deuses que nos deram este rumo Também deram a flor pra que a colhêssemos com melhor amor talvez colhamos O que pra usar buscamos.

Fernando Pessoa (Ricardo Reis)

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Prosa Poética

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Caracteriza-se por sua forma em PROSA ou em VERSO, de conteúdo OBJETIVO ou OBJETIVO-SUBJETIVO, cujo método fundamental é a NARRAÇÃO, e de composição EXPOSITIVA REPRESENTATIVA (mista);

FORMAS EM VERSO FORMAS EM PROSA

Romance ou XácaraCanção da gestaBaladaEpopeia ou Poema ÉpicoPoema Heroico ou NarrativoPoema Herói-CômicoPoema BurlescoPoema Alegórico ou Prosopopaico (Fábulas e Apólogos)

RomanceEpopeiaNovelaConto e CrônicaAnedotaFábulaApólogoParábola

GÊNERO NARRATIVO ou ÉPICO

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Romance ou Xácara: romance etimologicamente significa “língua popular”. Romance são poemas narrativos populares organizados em estrofes geralmente livres (estíquica) e de extensão intermediária. Quanto à estrutura rítmica, podem apresentar rimas assoantes ou consoantes, aparecendo também versos soltos; quanto à métrica , os versos de redondilha maior são mais frequentes, seguidos dos decassílabos e dos de redondilha menor , com paralelismo ou o ritornelo.

Don’Alva, minha SenhoraQue tanto amor me inspirais,Hei de querer-vos, emboraDon’Alva, não queirais.Pois o querer-vos agoraEu prefiro a tudo o mais,

Don’Alva minha SenhoraQue tanto amor me inspirais,

Don’Alva, minha Senhora,Dona de risos fatais,Alegre, gárrula mora Como um bando de gazais

Nos vossos olhos a Aurora;E em trevas me mergulhais,Don’Alva minha senhora,Dona de risos fatais.

Don’Alva minha senhora,Senhora de olhos mortais.Tanto esta alma vos adoraTanto me desadorais!

Seja! Este amor não descoraMuito embora o maldigais,Don'Alva, minha Senhora,Senhora de olhos mortais.

Orlando Teixeira, in Xácara

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CANÇAO de GESTA: São composições em versos, geralmente, decassílabos e assonânticos, cujo conteúdo é a exaltação de feitos heroicos, algumas também relatam passagens religiosas e da vida de santos . Estilizadas em linguagem popular parecem ter surgido mais ou menos no final do século XI.

Excerto nº 2 : O grande luto pela morte de Rolando

O combate é tremendo. Os francos lutam muito unidos e causam imensas perdas aos muçulmanos. Mas, um a um vão caindo. Fica só um punhado de heróis. Eles vão morrer. Entrementes, simbólicos sinais da tragédia aparecem no céu da França.

II

A batalha é maravilhosa e pesada,Muito bem golpeiam Olivier e Roland,Os Doze Pares não perdem tempo,E os franceses golpeiam todos juntos;Morrem os pagãos aos milhares e centenas:Quem não foge não tem quem o salve.Bom grado, mau grado, aí terminam seus dias.Mas os francos perdem seus melhores defensores.Eles não voltarão a ver nem os pais, nem os parentes,Nem Carlos Magno, que nas montanhas os aguarda.

Page 52: Gêneros literários

Poesia Narrativa

A bombaA bomba explode no oceanoe atira lágrimas de fogo(o homem treina para morrer).Um canto de poesia friabrota, mirrado, entre os cardosPonho o ouvido no chãoe a mensagem de guerrame vem de tôdas as partes

Poema narrativo Um poema narrativo

Este é um exemploContar algo exclusivoEm determinado momento

Pode ou não rimarUma estrofe de memóriaO importante é estarContando uma história.

Divida o seu assunto em três pontosO primeiro introduz a históriaO segundo narra o contoO último fecha a narratória

Page 53: Gêneros literários

Balada:

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Balada do Amor através das Idades

Eu te gosto, você me gostadesde tempos imemoriais.Eu era grego, você troiana,troiana mas não Helena.Saí do cavalo de paupara matar seu irmão.Matei, brigámos, morremos.

Virei soldado romano,perseguidor de cristãos.Na porta da catacumbaencontrei-te novamente.Mas quando vi você nuacaída na areia do circoe o leão que vinha vindo,dei um pulo desesperadoe o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro,flagelo da Tripolitânia.Toquei fogo na fragataonde você se escondiada fúria de meu bergantim.

Mas quando ia te pegare te fazer minha escrava,

você fez o sinal-da-cruze rasgou o peito a punhal...

Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos)fui cortesão de Versailles,

espirituoso e devasso.Você cismou de ser freira...

Pulei muro de conventomas complicações políticas

nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno, remo, pulo, danço, boxo,tenho dinheiro no banco.

Você é uma loura notável,boxa, dança, pula, rema.

Seu pai é que não faz gosto.Mas depois de mil peripécias,

eu, herói da Paramount,te abraço, beijo e casamos.

Carlos Drummond de Andrade, in 'Alguma Poesia'

Page 55: Gêneros literários

Poesia Narrativa O Poema Narrativo conta uma história e

geralmente é mais longo que os outros.

No poema dramático a história é contada por um narrador. Daí que vem o nome poema narrativo.

As epopeias e as baladas estão entre os principais tipos de poesia narrativa.

Muitas das fábulas que conhecemos hoje como textos em prosa, originalmente foram escritas como poemas narrativos.

ÚLTIMAS PALAVRAS

Mãe... Aqui estou eu...Seu filho, o que morreu,Lembras ainda de mim?Peço perdão se te fiz sofrerViria ao mundo, por seu querer,Mas tu não quiseste assim.

Durante meses me protegesteSei que às vezes sofresteE junto de te choreiSenti a barra que passavasContudo, pensei que me amavasDepois senti que me enganei.

Pois foste tu Oh! Mãe querida!Que um dia dar-me ia a vidaNão permitiu que eu vivessePois antes de ver o mundoDeparei-me com o lixo imundoDo beco em que me deixaste.

Mas, sabe Mãe, o meu perdãoNão se desfez com a solidãoSequer, está esquecido ou mortoMeu perdão está vivo e presenteNeste coração que ainda senteA cruel dor de um aborto.

Page 56: Gêneros literários

Poemas narrativos:

Espécie

Versos Estrofe rima Conteúdo Obs.:

Romance ou Xácara

redondilha maior (frequentes), decassílabos e redondilha menor , com paralelismo ou o ritornelo

geralmente livres (estíquica)

assoantes ou consoantes , também versos soltos

Temática popular

Lai de bretanha é um poema curto de 12 estrofes em versos octossílabos sobre lendas medievais

Canção da gesta

Decassílabos assonântica

Feitos heroicos consagrados pela tradição ou pela história ou passagens religiosas

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É o gênero representativo ou figurativo, por excelência. Caracteriza-se por sua forma em PROSA ou VERSO, de conteúdo OBJETIVO ou OBJETIVO-SUBJETIVO, cujo método fundamental é a NARRAÇÃO, e de composição REPRESENTATIVA (para encenação em palco);

CRIAÇÕES CLÁSSICAS Tragédia – Comédia – Drama Satiresco

CRIAÇÕES MEDIEVAIS Mistérios – Milagres – Auto – Farsa

CRIAÇÃO RENASCENTISTAS Tragicomédia

CRIAÇÃO ROMÂNTICA Drama

CRIAÇÕES POPULARES Variedades ou Revista Mágica

CRIAÇÕES POÉTICO-MUSICAIS Ópera – Opereta – Melodrama - Vaudeville

GÊNERO DRAMÁTICO ou TEATRAL

Page 58: Gêneros literários

Criações clássicas – Criação Definição Caracterís

tica

TRAGÉDIA - Ao pé da letra, significa “canto do bode”, por nela se apresentarem os sátiros. - Seu final é sério intenta comover ou

purificar sentimentos nobres, inspirando-lhes terror e compaixão;

- Feitos da virtude (superação) ou do crime (castigos);

- Tema: grandes passagens da história nacional

Partes: prólogo – episódios/atos (4); 3 unidades (ação / lugar / tempo)Versos.

COMÉDIA - prende-se as comemorações dionisíacas, onde momentos de tristeza com instantes de alegria, e orgias as pessoas saiam em procissão com o “phallus” .

DRAMA SATIRESCO

Seu fim era cultuar a memória de Baco, tendo por assunto episódios relacionados à vida dessa divindade

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Criações medievais Criação Definição Caracterís

tica

MISTÉRIO Representação de episódios da vida de Cristo.

MILAGRE Representam de episódios em que figuram homens e santos.

AUTO Era em Portugal toda obra representativa e dramática. Procede de “actum” – aito – auto.

Sentido geral no que se refere às peças de teatro

FARSA Modalidade cômica do auto

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Criações Renascentista e Romântica

Criação Definição Característica

TRAGICOMÉ-DIA

Acontecimentos funestos, mas o desfecho é feliz, embora não seja cômico. Nela o real e o imaginário se mesclam, podendo haver o elemento maravilhoso

DRAMA É a evolução natural da tragicomédia ou sua modernização. Espécie mista na qual se fundem os elementos da tragédia e da

Shakespeare

Page 61: Gêneros literários

Modo lírico Modo narrativo Modo dramático

EmissorNão tem narrador.A voz que fala é a do «sujeito poético» ou «eu poético»

Narrador da 1.ª ou de 3.ª pessoa.

Geralmente não tem narrador. No palco, os actores encarnam directamente as personagens.

Mensagem

Geralmente não tem personagens. Quando existem são apenas «pretexto».

As personagens são indispensáveis.

As personagens são indispensáveis.

Tempo estático. Tempo dinâmico. Tempo dinâmico.

Geralmente não tem acção. Quando existe, é apenas «pretexto».

A acção é fundamental. A acção é fundamental.

A narração, quando existe, é pretexto para a confissão emocional do eu poético.

A narração é indispensável.

A narração não existe, a não ser, ocasionalmente, na fala das personagens.

A descrição, quando existe, é pretexto para a confissão emocional do eu poético.

A discrição geralmente existe.

A descrição é substituída pelo texto didascálico; no palco, por roupas, cenário, iluminação, etc.

O diálogo, quando existe, é pretexto para a confissão emocional do eu poético.

O diálogo geralmente está presente.

O teatro é, essencialmente, diálogo.

Receptor Tem acesso ao texto através da leitura.

Tem acesso ao texto através da leitura.

Tem acesso ao texto através da leitura ou, ao vivo, no teatro.

Page 62: Gêneros literários

Texto não literário Texto LiterárioÉ, predominantemente,

informativo.Sem deixar de ser informativo,

abreespaço, abre espaço à ficção, à

emoção, àExpressão dos sentimentos.

É objetivo (cada palavra possui

um só significado).

É subjetivo (aberto a váriasinterpretações); socorre-se de

váriosrecursos expressivos.

Tem intenção mais imediata,utilitária.

Tem uma intenção estética.

Usa uma linguagem impessoal (o

emissor apaga-se para fazerressaltar o conteúdo), isto é,

fria edireta.

Usa uma linguagem mais pessoal ( a

subjetividade do emissor é importante na

análise do conteúdo).

O texto não literário diz, afirma,

declara; é, por isso denotativo.

O texto literário sugere, insinua, evoca,

remete para, reenvia para; é, por isso,

conotativo.

Page 63: Gêneros literários

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: CONTEÚDO (ou fundo)

• São as ideias, os conceitos, os sentimentos, os apelos e as imagens imateriais que as palavras transmitem da mente do escritor à do leitor.

• Quando o escritor produz sua obra, coloca nela a sua visão do mundo, sua maneira de pensar e de sentir. Esta maneira de ver as coisas através de sua consciência de escritor é que constitui o conteúdo de sua obra. Isso não significa que a obra, necessariamente represente a figura do escritor, mas sim que sua figura está presente no conteúdo, no significado dessa obra.

• O conteúdo é comumente confundido com “assunto ou mensagem” de uma obra.

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OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: FORMA

• É a linguagem escrita ou falada “veículo” das ideias e dos sentimentos do escritor. • Para Tolstoi, o conteúdo é a arte da comunicação;

a “forma” artística o meio para conquistar o público mediante o conteúdo.

• Assim, na “forma” temos os aspectos que envolvem a construção do texto, ou seja, o vocabulário, a sintaxe, a sonoridade, as imagens materiais, a disposição das palavras no papel.

• Portanto, a forma envolve os aspectos linguísticos e gráficos do texto.

• A forma é, por vezes, tomada por “gênero ou espécie”, o que constitui um emprego abusivo.

Page 65: Gêneros literários

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: FORMA

• Para muitos estudiosos, não se separam conteúdo e forma. Na verdade são indissociáveis: - localizam-se no texto literário, o que equivale a

dizer que se concentram num único objeto, “a palavra escrita”.

- Têm uma categoria Dual, são um “par de seres”. Assim, um romance, um conto, um poema, não tem conteúdo e forma separadamente, mas possuem uma forma/conteúdo. Isto é, se uma obra tem uma forma; já está encerrada a ideia de conteúdo.

Page 66: Gêneros literários

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: FORMA

• Entretanto, parece fora de dúvida a existência, ao menos do ponto de vista metodológico, de uma distinção entre ambas.• Toda a vez que o leitor examina a gramática, as

soluções linguísticas do texto, está privilegiando a forma em prejuízo do conteúdo.

• Preocupa-o antes “como” o texto diz, do que “o” que diz. Em suma despreza o “mundo”, em favor da linguagem na qual o texto se converteu.

• Esse procedimento nos dá uma visão parcial do texto, mas também evidencia que a separação é possível e praticável.

• Todavia, a pesquisa completa do texto pressupõe a sondagem “do que se diz” e “do modo como se diz”.

Page 67: Gêneros literários

A forma de uma obra de literária pode apresentar-se sob dois aspectos diferentes: a prosa e o verso. PROSA • Expressão natural da linguagem. Usada normalmente ao conversarmos, ao escrevermos uma carta, ao fazermos uma redação, sem metrificação intencional e não sujeita a ritmos regulares. Veículo comum do pensamento.

O texto divide-se em blocos chamados parágrafos, que é a característica mais notória de um texto escrito em prosa.

São compostos de períodos, orações ou frases que desenvolvem uma única ideia. • Num texto, a cada ideia diferente, acrescentada à anterior, deve também corresponder, a um parágrafo diferente. Um novo parágrafo deve sempre indicar um pensamento a mais.

Por isso, na prosa, é essencial o uso correto da pontuação e a paragrafação para obtermos um texto que transmita nossas ideias de modo correto, claro, coerente e agradável de ler.

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: PROSA

Page 68: Gêneros literários

Tem jeito de prosa; a disposição das palavras na folha de papel é feita em parágrafos, mas não é difícil perceber numa leitura em voz alta que há um ritmo marcado por pausas e ênfases. A esse ritmo costuma-se chamar «ritmo poético» e aos textos em prosa carregados de significação poética, em que predomina o ritmo das frases, a sonoridade das palavras chamamos de “prosa poética”.

Compare os dois textos seguintes. O primeiro é um exemplo de prosa comum. O segundo, um exemplo de prosa poética:

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: PROSA POÉTICA

Page 69: Gêneros literários

1 — Ouvíamos o apito do trem e logo depois o ranger de suas rodas nos trilhos, bem ao lado de nossa casa. Era o trem de Belo Horizonte. Sua passagem acordava-nos, fazia louças e panelas caírem dos armários e toda a casa tremer como se ocorresse um terremoto.

2 — Não há nada mais triste do que o grito de um trem no silêncio noturno. É a queixa de um estranho animal perdido, único sobrevivente de alguma espécie extinta, e que corre, corre, desesperado, noite em fora, como para escapar à sua orfandade e solidão de monstro. (Mário Quintana)

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: PROSA POÉTICA

Page 70: Gêneros literários

A simples apresentação de textos em versos permite sua imediata identificação.

Versos são as linhas descontínuas, quebradas, que formam o poema.

Sem parágrafo, sem período, os versos de um poema, que podem ser metrificados ou livres; cada bloco de versos forma uma estrofe.

A linguagem poética sob o aspecto auditivo ou melódico se caracteriza pelo ritmo, bem mais acentuado que na prosa, e pela eventual utilização da rima.

É a linguagem subjetiva, carregada de emoção e sentimento, com ritmo melódico constante, bela e indefinível como o mundo interior do poeta.

Várias são as possibilidades de exploração da linguagem com esta função poética: no material sonoro, nas palavras, na associação de ideias, nas construções frasais.

Para isto utilizam-se o ritmo, a harmonia imitativa, a rima, a aliteração, as figuras de palavras, as figuras de pensamento, as figuras de sintaxe; visando sempre um efeito estético (de beleza, belo).

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: VERSO

Page 71: Gêneros literários

Na forma clássica os versos possuem métrica, ritmo e rima.

1 — A métrica impõe ao verso uma quantidade definida de sílabas poéticas, que se contam como se fala e não como se escreve. “escandir” um verso é marcar suas sílabas poéticas.

2 — Metro é a medida ou a extensão da linha poética.

3 — A rima é a repetição de sons idênticos ou parecidos ao longo das estrofes, mais comumente no final de versos alternados. Embora seja elemento secundário e até mesmo dispensável, a rima é aproveitada pelos poetas para comunicar aos versos mais harmonia e encantamento. É um recurso musical que agrada aos ouvidos.

4 — O ritmo é feito através de sílabas fortes e fracas mantidas com uma certa regularidade de posição no conjunto de versos. Um poema pode abrir mão de tudo — rima, estrofe, métrica —, menos do ritmo.

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: VERSO

Page 72: Gêneros literários

É a maneira típica de cada um exprimir seus pensamentos, sentimentos e emoções, através da linguagem. No estilo cumpre distinguir o aspecto material ou linguístico (que são as possibilidades de expressão que a língua oferece ao escritor e que este seleciona a seu gosto e até mesmo recria) e o aspecto mental, psíquico, subjetivo, ou seja, os traços psicológicos do artista, suas tendências, seu modo de ver e julgar a vida e o mundo em que vive. Da fusão desses dois elementos, um externo, outro interno, é que resulta o estilo.

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: ESTILO

Page 73: Gêneros literários

• Todo o escritor tem seu estilo próprio, isto é, sua expressão tem uma forma característica, que nada mais é, do que a manifestação de seus impulsos emotivos, da sua sensibilidade e a aparência peculiar do seu próprio espírito.

• Podemos, pois, afirmar que o estilo é o espelho onde se reflete a alma do escritor, a tela em que se projeta a personalidade do artista.

• Mas, além destas características individuais que diferenciam os autores uns dos outros, o estilo revela também os traços psicológicos das raças e as tendências das diversas escolas literárias.

• Daí dizermos que há um estilo clássico, um barroco, um modernista, etc.

OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA: ESTILO