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SEGUNDA-FEIRA, 28 DE FEVEREIRO DE 2011 Para celebrar o sol, panquecas! Especialistas em países emergentes Festa pagã, a Maslenitsa exalta o fim do inverno Escola de MBA inspirou Vale do Silício russo Página 03 Página 08 Soljenítsin para principiantes Arquipélago Gulag ganha nova versão resumida Página 06 NOTAS O ex-jogador do Corinthians Roberto Carlos se transferiu para o clube russo Anji Makhatchkala (do dialeto local, "pérola"). O clube, fundado em 1991, viveu uma boa fase em 2002, quando chegou à final da Copa da Rússia, ocu- pou a quarta colocação no campeonato nacional e estreou na Copa Uefa. Na ocasião, o escocês Glasgow Rangers se recusou a viajar para o Daguestão, onde o Anji está baseado, na fronteira com a Tchechênia, e o jogo foi realizado em Varsóvia. Hoje, o time não figura entre os grandes do futebol russo e quase foi rebaixado para a segunda divisão no ano passado. A recompensa para os tor- cedores do Cáucaso do Norte foi a con- tratação, a peso de ouro, do primeiro campeão mundial na região. Roberto Carlos vai para a "pérola" do Daguestão Risco Diminuição da confiança no país e quedas no turismo, como em 2004 e 2005, estão ligados às ações suicidas Além da tragédia humana, grupos separatistas atingem também a economia russa, tanto no turismo quanto em investimentos estrangeiros. Múltiplos traumas de um ataque terrorista Atrás somente da canaden- se PotashCorp e da norte- americana Mosaic, a em- presa criada com a fusão das russas Uralkáli e Sil- vinit vai passar a fornecer potássio para o Brasil atra- vés da BPC (Belarusian Po- tash Company) – que rea- lizava as vendas da Uralkáli no mercado internacional. Contando também com Fertilizantes Mercado brasileiro é o terceiro maior do mundo e importa 90% do que consome Espera-se que o setor agrícola do país cresça 40% até 2019. Produtividade está intimamente ligada ao volume total de fertilizantes utilizado nos campos brasileiros. produção própria, a BCP é líder mundial em volume de vendas para os merca- do brasileiro e indiano. “Cerca de 90% do nosso po- tássio é importado e o Bra- sil é o 3º maior consumidor do produto no mundo”, ex- plica o pesquisador da Em- brapa Vinicius Benites. “Em relação ao potássio, Deus definitivamente não é brasileiro”, brinca. O consumo de fertilizan- tes minerais nesse setor praticamente duplicou nos últimos cinco a sete anos. “Os contratos firmados nesses mercados influem de modo considerável nos pre- ços e na demanda de ou- tros mercados de potássio”, afirma o diretor-geral da Produtor de potássio mira o Brasil Brasil será um dos líderes do crescimento Parentes e amigos homenageiam as vítimas em Moscou NATALIA FEDóTOVA, MARINA DARMAROS GAZETA RUSSA sembarque do maior aero- porto da país, o Domodêdo- vo, em Moscou. Desta vez, foram 36 mor- tos e cerca de 180 feridos, bem longe das dolorosas marcas dos ataques ao Te- atro Dubrovka, em 2002, quando 170 perderam suas vidas e outros 721 se feri- ram, ou ainda da invasão da escola em Beslan, na Os- sétia do Norte, em 2004, que matou 385 pessoas e feriu cerca de 700. Mas o que impressionou no Domodêdovo foi a ousadia. Atacar um aeroporto inter- nacional minou pratica- mente toda a credibilidade de um governo que luta para reforçar a sensação de segurança para seus cida- dãos e, consequentemente, para os turistas. O que pesquisas mostram, no entanto, é que esse es- forço não rende frutos em nenhuma das duas frentes. Segundo dados do Centro Russo de Compreensão da Opinião Pública (VTsIOM) publicados no início de fe- vereiro, 52% dos moradores de Moscou e São Peters- burgo temem ser, eles pró- prios ou seus parentes, ví- timas de um atentado terrorista. No âmbito nacional, 80% dos russos compartilham esse medo. Esses altíssimos níveis de temor ultrapas- sam os índices verificados logo após os ataques ao metrô de Moscou, em março de 2010. Ainda segundo os especia- listas do VTsIOM, para 6% dos entrevistados a melhor forma de conter o terroris- Silvinit, Vladislav Baumgertner. “No país, hoje, não há ne- nhuma fonte de potássio. Em outras palavras: o Bra- sil vai ter que pagar o preço”, afirma Benites. Atualmente, são consumi- das quase 6 milhões de to- neladas de fertilizantes no Brasil e o volume de pro- dução do setor agrícola brasileiro crescerá 40% até 2019, segundo o relatório da ONU sobre o desenvol- vimento agrícola e segu- rança alimentar. O país deve ser um dos lí- deres em crescimento no setor nos próximos anos, superando em um terço os tradicionais consumidores dos produtos das compa- nhias russas de fertilizan- tes – a própria Rússia e a Ucrânia. Isso se explica pelo fato de que, entre 2008 e 2009, de- vido à crise, os agriculto- res aplicaram menos fer- mento mineral do que o necessário para o solo. “Existe uma relação muito estreita entre produtivida- de e o consumo de fertili- zantes no Brasil”, diz Be- nites. “O país não pode, como a Argentina, ficar 2 ou 3 anos sem comprar po- tássio”, completa. Segundo a ONU, o ritmo de cresci- mento será de somente 4% na Europa e de 10% ou 15% nos EUA e Canadá. CONTINUA NA PáGINA 4 Um grito seguido de uma explosão. Em seguida, o ce- nário de um filme de ter- ror. Esse é o maior pesade- lo dos russos, e ele voltou a se tornar realidade no dia 24 de janeiro, quando um terrorista suicida detonou uma bomba no hall de de- RIA NOVOSTI Publicado e distribuído com The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Grã Bretanha), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), Clarín (Argentina) e outros grandes diários internacionais Eles mudaram o mundo Aniversário Há 80 anos, nasciam os protagonistas da queda da URSS, Mikhail Gorbatchov e Boris Iéltsin PáGINA 5 As celebrações da queda da União Soviética, que neste ano completa duas décadas, serão marcadas por outros dois aniversários de peso. Os principais protagonistas da conturbada transição –o último presidente da URSS, Mikhail Gorbatchov, e o pri- meiro presidente da Federa- ção Russa, Boris Iéltsin (mor- to em 2007) – completariam 80 anos em 2011. O distan- ciamento histórico acentua ainda mais as diferenças po- líticas e de personalidade desses dois homens, que, ca- da qual a sua maneira, defi- niram os rumos da história russa contemporânea. Mas certas coisas eles tiveram em comum. Gorbatchov é tido na Rússia como uma figura bem diferentes do herói que o Ocidente criou. E, quando os russos tratam de Iéltsin, cai por terra o ditado do país: "Sobre os mortos, fale bem ou cale-se". mo é com o endurecimen- to das leis de migração. Para 35% dos entrevista- dos, eliminar definitiva- mente o terrorismo é im- possível para a Rússia. Já para a companhia in- glesa de análise de riscos Maplecroft, a Rússia sal- tou do 15º lugar, em 2010, para o 10º lugar, em 2011, no ranking de países que têm maior risco de ataques terroristas. “Avaliar a ameaça terrorista no mundo é imprescindível para um cálculo de risco nos negócios”, diz o dire- tor da Maplecroft, Alyson Warhurst. RG SKOLKOVO AFP/EAST NEWS GETTY IMAGES/FOTOBANK ITAR-TASS GETTY IMAGES/FOTOBANK AP NESTA EDIÇÃO EM FOCO Perfil do burocrata Uma análise da figura do fun- cionário público no cotidiano e na literatura russa PáGINA 8 PáGINA 2 POLÍCIA Para proteger e servir Reforma na legislação extin- gue o título "milítsia" e tenta restituir credibilidade FABRICIO YURI VITORINO ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA CONTINUA NA PáGINA 2 do primeiro voo do homem ao espaço 50º aniversário Agora a Gazeta Russa está também na internet www.gazetarussa.com.br

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Para celebrar o sol, panquecas!

especialistas em países emergentes

Festa pagã, a Maslenitsa exalta o fim do inverno

Escola de MBA inspirou Vale do Silício russoPágina 03 Página 08

soljenítsin para principiantesArquipélago Gulag ganha nova versão resumidaPágina 06

notas

O ex-jogador do Corinthians Roberto Carlos se transferiu para o clube russo Anji Makhatchkala (do dialeto local, "pérola"). O clube, fundado em 1991, viveu uma boa fase em 2002, quando chegou à final da Copa da Rússia, ocu-pou a quarta colocação no campeonato nacional e estreou na Copa Uefa. Na ocasião, o escocês Glasgow Rangers se recusou a viajar para o Daguestão, onde o Anji está baseado, na fronteira com a Tchechênia, e o jogo foi realizado em Varsóvia. Hoje, o time não figura entre os grandes do futebol russo e quase foi rebaixado para a segunda divisão no ano passado. A recompensa para os tor-cedores do Cáucaso do Norte foi a con-tratação, a peso de ouro, do primeiro campeão mundial na região.

roberto Carlos vai para a "pérola" do daguestão

risco Diminuição da confiança no país e quedas no turismo, como em 2004 e 2005, estão ligados às ações suicidas

além da tragédia humana, grupos separatistas atingem também a economia russa, tanto no turismo quanto em investimentos estrangeiros.

Múltiplos traumas de um ataque terrorista

Atrás somente da canaden-se PotashCorp e da norte-americana Mosaic, a em-presa criada com a fusão das russas Uralkáli e Sil-vinit vai passar a fornecer potássio para o Brasil atra-vés da BPC (Belarusian Po-tash Company) – que rea-lizava as vendas da Uralkáli no mercado internacional. Contando também com

fertilizantes Mercado brasileiro é o terceiro maior do mundo e importa 90% do que consome

espera-se que o setor agrícola do país cresça 40% até 2019. Produtividade está intimamente ligada ao volume total de fertilizantes utilizado nos campos brasileiros.

produção própria, a BCP é líder mundial em volume de vendas para os merca-do brasileiro e indiano.“Cerca de 90% do nosso po-tássio é importado e o Bra-sil é o 3º maior consumidor do produto no mundo”, ex-plica o pesquisador da Em-brapa Vinicius Benites. “Em relação ao potássio, Deus definitivamente não é brasileiro”, brinca.O consumo de fertilizan-tes minerais nesse setor praticamente duplicou nos últimos cinco a sete anos. “Os contratos firmados nesses mercados influem de modo considerável nos pre-ços e na demanda de ou-tros mercados de potássio”, afirma o diretor-geral da

Produtor de potássio mira o Brasil

Brasil será um dos líderes do crescimento

Parentes e amigos homenageiam as vítimas em Moscou

natalia fedótova, Marina darMarosGazeta Russa

sembarque do maior aero-porto da país, o Domodêdo-vo, em Moscou.Desta vez, foram 36 mor-tos e cerca de 180 feridos, bem longe das dolorosas marcas dos ataques ao Te-atro Dubrovka, em 2002, quando 170 perderam suas vidas e outros 721 se feri-ram, ou ainda da invasão da escola em Beslan, na Os-sétia do Norte, em 2004, que matou 385 pessoas e feriu cerca de 700.Mas o que impressionou no Domodêdovo foi a ousadia.

Atacar um aeroporto inter-nacional minou pratica-mente toda a credibilidade de um governo que luta para reforçar a sensação de segurança para seus cida-dãos e, consequentemente, para os turistas.O que pesquisas mostram, no entanto, é que esse es-forço não rende frutos em nenhuma das duas frentes. Segundo dados do Centro Russo de Compreensão da Opinião Pública (VTsIOM) publicados no início de fe-vereiro, 52% dos moradores

de Moscou e São Peters- burgo temem ser, eles pró-prios ou seus parentes, ví-timas de um atentado terrorista.No âmbito nacional, 80% dos russos compartilham esse medo. Esses altíssimos níveis de temor ultrapas-sam os índices verificados logo após os ataques ao metrô de Moscou, em março de 2010.Ainda segundo os especia-listas do VTsIOM, para 6% dos entrevistados a melhor forma de conter o terroris-

S i lv i n i t , V l a d i s l av Baumgertner.“No país, hoje, não há ne-nhuma fonte de potássio. Em outras palavras: o Bra-sil vai ter que pagar o preço”, afirma Benites.Atualmente, são consumi-das quase 6 milhões de to-neladas de fertilizantes no Brasil e o volume de pro-dução do setor agrícola brasileiro crescerá 40% até 2019, segundo o relatório da ONU sobre o desenvol-vimento agrícola e segu-rança alimentar. O país deve ser um dos lí-deres em crescimento no setor nos próximos anos, superando em um terço os tradicionais consumidores dos produtos das compa-

nhias russas de fertilizan-tes – a própria Rússia e a Ucrânia.Isso se explica pelo fato de que, entre 2008 e 2009, de-vido à crise, os agriculto-res aplicaram menos fer-mento mineral do que o necessário para o solo. “Existe uma relação muito estreita entre produtivida-de e o consumo de fertili-zantes no Brasil”, diz Be-nites. “O país não pode, como a Argentina, ficar 2 ou 3 anos sem comprar po-tássio”, completa. Segundo a ONU, o ritmo de cresci-mento será de somente 4% na Europa e de 10% ou 15% nos EUA e Canadá.

Continua na Página 4

Um grito seguido de uma explosão. Em seguida, o ce-nário de um filme de ter-ror. Esse é o maior pesade-lo dos russos, e ele voltou a se tornar realidade no dia 24 de janeiro, quando um terrorista suicida detonou uma bomba no hall de de-

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Publicado e distribuído com The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Grã Bretanha), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), Clarín (Argentina) e outros grandes diários internacionais

eles mudaram o mundoaniversário Há 80 anos, nasciam os protagonistas da queda da uRss, Mikhail Gorbatchov e Boris iéltsin

Página 5

As celebrações da queda da União Soviética, que neste ano completa duas décadas, serão marcadas por outros dois aniversários de peso. os principais protagonistas da conturbada transição –o último presidente da UrSS, Mikhail Gorbatchov, e o pri-meiro presidente da federa-ção russa, Boris iéltsin (mor-to em 2007) – completariam 80 anos em 2011. o distan-ciamento histórico acentua ainda mais as diferenças po-líticas e de personalidade desses dois homens, que, ca-da qual a sua maneira, defi-niram os rumos da história russa contemporânea. Mas certas coisas eles tiveram em comum. Gorbatchov é tido na rússia como uma figura bem diferentes do herói que o ocidente criou. e, quando os russos tratam de iéltsin, cai por terra o ditado do país: "Sobre os mortos, fale bem ou cale-se".

mo é com o endurecimen-to das leis de migração. Para 35% dos entrevista-dos, eliminar definitiva-mente o terrorismo é im-possível para a Rússia.Já para a companhia in-glesa de análise de riscos Maplecroft, a Rússia sal-tou do 15º lugar, em 2010, para o 10º lugar, em 2011, no ranking de países que têm maior risco de ataques terroristas. “Avaliar a ameaça terrorista no mundo é imprescindível para um cálculo de risco nos negócios”, diz o dire-tor da Maplecroft, Alyson Warhurst.

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Perfil do burocrataUma análise da figura do fun-cionário público no cotidiano e na literatura russa

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PolÍCia

Para proteger e servirReforma na legislação extin-gue o título "milítsia" e tenta restituir credibilidade

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do primeiro voo do homem ao espaço50º aniversário

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02 Gazeta Russawww.gazetarussa.com.brPolítica e sociedade

Os protestos e a vitória da po-pulação do Egito estão na ca-beça de todo mundo. Por isso aqueles que formam a oposi-ção na Rússia não hesitam em comparar Vladímir Pútin a Hosni Mubarak.A diferença é que apenas mil pessoas protestaram em Mos-cou no dia 31 de janeiro – para defender o Artigo 31 da Cons-tituição Russa, que garante o direito de manifestação – na

efeito contrário Governo volta a endurecer e atrai a atenção de ativistas

a intensificação do controle das autoridades sobre protestos menores começa a unir e inspirar a dispersa oposição russa.

pequena Praça do Triunfo, vi-giadas por 2 mil representan-tes da polícia e do exército.Em novembro, as autoridades de Moscou finalmente apro-varam o direito de manifes-tação na Praça do Triunfo, embora o tenham feito sem renunciar ao direito do uso da violência, como foi visto no mês seguinte.Em 31 de dezembro, ao tér-mino de um protesto autori-zado, diversos líderes da opo-sição foram det idos e sentenciados a penas de 5 a 15 dias de prisão. Foram no-tícia em veículos internacio-nais e mobilizaram ativistas de direitos humanos.Depois de soltos, Boris

Nemtsov, ex-vice-premiê e ati-vista da oposição, Eduard Li-monov, líder do Bolshevik Na-cional e de outros partidos russos, e Iliá Iáshin, líder da ala jovem do partido Iábloko, descreveram a repressão como uma “Lukashenkização” do regime de Vladímir Pútin, re-ferindo-se ao recém-reeleito ditador da Bielo-Rússia. Esses partidos representam diver-sos pequenos e desunidos mo-vimentos, que têm em comum apenas o fato de serem anti-Kremlin. Nikolai Petrov, aca-dêmico do Centro Carnegie de Moscou, não acredita que a repressão durante o protesto seja uma nova estratégia de coerção das autoridades. Para ele, isso também poderia ser uma reação de curto prazo a acontecimento recentes.“Os protestos de rua têm se tornado populares por toda a Rússia e as autoridades estão obviamente esgotadas. É mais fácil ir atrás de 'bodes expia-tórios' (como Pútin se refere aos ativistas da oposição) do que de uma multidão fervo-rosa de fanát icos por futebol.” Desde que um grupo de 5 mil jovens entrou em choque com a polícia sob os muros do Kre-mlin, em 11 de dezembro, Pútin vem acusando a oposi-

ção liberal de ter iniciado a tendência destrutiva nos pro-testos públicos. Talvez impulsionado pelas afirmações do presidente Med-vedev de que aceita críticas ao poder, o número de protes-tos populares aumentou em 2010. Mas as aparentes vitó-rias dos últimos deles aos pou-cos se dissiparam.A demonstração contra o pro-jeto de uma rodovia na flores-ta de Khimki, por exemplo, foi uma causa ambiental que se tornou política e, até o fim do verão russo (inverno no Brasil), parecia vitoriosa. Diante dos grandes protestos, Medvedev decidiu interrom-per a derrubada da floresta, mas as obras voltaram em dezembro.

reito a uma vida digna. Ne-mtsov, devido às perseguições políticas que sofre, também não teria inspirado com seu potencial de liderança. Segundo Petrov, é apenas uma questão de tempo. “Os pro-blemas que estão envolvendo a sociedade não serão solucio-nados em 2011, e o desconten-tamento só irá aumentar. A oposição está se unindo. Quan-do os protestos começarem a se tornar populares e os indi-víduos insatisfeitos procura-rem representantes, a oposi-ção estará lá”. “Com o estado atual das coisas, o povo pre-cisa de um partido político como o nosso”, diz Nemtsov. “Nossas chances aumentam toda vez que as autoridades apertam o controle.”

Unidos na coalizão Partido da Liberdade do Povo, os lí-deres dos movimentos demo-crático e liberal planejavam lançar candidatos para as eleições de 2011 e um can-didato à presidência em 2012. Mas, durante o bate-papo anual televisionado com o público, o premiê Pútin declarou abertamen-te que não permitiria que a oposição “se aproximasse dos grandes aliciadores” - especialmente Boris Nemt-sov, Vladímir Rijkov e Vla-dímir Milov, os fundadores do partido.Para Rijkov, “naquele dia, Pútin selou o destino da de-mocracia. Ele deu início à campanha de 2012 deixando perfeitamente claro que não

haveria transferência demo-crática de poder”. “As autoridades querem ame-drontar aqueles que estão contra elas, mas nós conti-nuaremos defendendo a Constituição”, afirmou Iáshin, do Partido Iábloko. Apesar da fúria dos líderes e principais membros da opo-sição política, ainda é preci-so construir uma base real de apoio popular. De acordo com o diretor de desenvolvimento do institu-to de pesquisas Centro Le-vada, Denis Volkov, a men-sagem política desses grupos tem permanecido muito abs-trata para a população russa, que não enxerga a utilidade do direito de se manifestar quando não tem nem o di-

Oprimida, oposição ganha notoriedade

movimento estratégia-31, pelo direito de reunião, reúne centenas na Praça do triunfo

Veronika DormanGazeta russa

PalaVra Da oPosição

" Naquele dia, Vladímir Pútin selou o destino da democracia. Ele deu

início à campanha presidencial de 2012 deixando perfeita-mente claro que não haveria transferência democrática de poder."

Vladímir rijkovum dos quatro dos fundadores do partido popular liberal

Polícia mudanças na legislação passam a valer em março e incluem troca de nome e aumento de salários para combater a corrupção

alterações nas leis limitarão a autoridade dos oficiais e introduzirão direitos para os detidos. melhoras poderiam ajudar instituição a pôr um fim ao descrédito e aos dias de infâmia na sociedade civil.

Instituição amplamente ri-dicularizada e vista como ir-remediavelmente corrupta na Rússia, a polícia vai pas-sar por uma série de refor-mas que começam a entrar em vigor em março. Cortes de pessoal e aumento de salários foram anuncia-dos, e uma nova “Legislação Policial” foi publicada na in-ternet para fomentar a dis-cussão pública. Com o intui-to de inspirar confiança, o presidente Dmítri Medvedev sugeriu trocar o atual nome “milítsia”, um resquício so-viético, para “polítsia”, termo usado na era tsarista. O texto final da legislação incorporou essas mudanças, bem como sugestões publi-cadas na internet por cida-dãos comuns. A autoridade de um policial será agora res-

trita a seu distrito, as pesso-as terão o direito de fazer uma ligação gratuita quan-do detidas e os russos pode-rão gozar de algo semelhan-te aos direitos Miranda dos norte-americanos (a obriga-toriedade de o policial anun-ciar, de forma expressa, clara e integral, os direitos de um suspeito).

corrupçãoNo último levantamento re-alizado pelo instituto de pes-quisas Centro Levada, 60% dos russos se disseram insa-tisfeitos com a atuação da po-lícia, e somente 10% afirma-ram confiar no desempenho do órgão. “Gosto do meu trabalho. Tenho que conversar com as pessoas e fazer o bem”, diz o sargento Mikhail Menshênin, 25 anos. Junto com o policial Aleksandr Kuzminov, 23, ele é responsável pela patrulha de um distrito a sudoeste de Moscou.Menshênin, que tem um filho de dois anos, ganha 25 mil rublos por mês (cerca de R$ 1,4 mil), valor insuficiente em uma das cidades mais caras

do mundo. “Embora seja psi-cologicamente intenso, o tra-balho dificil é recompensa-do. O salário pode não ser ótimo, mas nós ganhamos bônus. Se você der o melhor de si, pode ganhar o bastan-te”, diz o sargento. Segundo ele, os prêmios podem variar de 5 mil rublos (aproxima-damente R$ 285) pela solu-ção de um caso de roubo a 15 mil (R$ 855) no feriado na-cional do “dia do policial”.Mas a solicitação rotineira de pequenas quantias de dinhei-ro em troca de favores – como livrar cidadãos de pequenas infrações no trânsito – inco-moda muitos russos.“O que você espera de nós considerando o quanto ga-nhamos?”, pergunta Aleksei, tenente de outro distrito que não quis revelar seu sobre-nome. “Os bons policiais ape-nas aceitam suborno em re-lação a coisas pequenas. Sabe como é, alguns rublos de al-guém que está violando as regras de imigração ou algo do gênero, apenas para que se chegue a um acordo favo-rável a ambos”. A reforma da instituição foi

anunciada por Medvedev logo depois de um incidente en-volvendo o major Denis Iev-siukov. Depois de uma dis-cussão com a mulher, que se queixava de sua longa jor-nada de trabalho depois da promoção a chefe de polícia, Ievsiukov, de 32 anos, abriu fogo em um mercado. Sua ação deixou três mortos.

ceticismoAlguns legisladores não acre-ditam que as medidas pos-sam conter a corrupção ou diminuir o descontentamen-to público. “Em vez de um novo poder, teremos a mesma milítsia com novo nome”, disse Gennádi Gudkov, vice-presidente do Comitê de Se-gurança da Duma (a câmara dos deputados da Rússia) e membro do partido de opo-sição Rússia Justa.Segundo Gudkov, o partido pró-Kremlin impediu as ten-tativas de submeter a polícia a uma vigilância pública maior. "Propusemos aumen-to de supervisão por meio de organizações de base, mas eles negaram", lamenta.Alguns oficiais da polícia

também não acreditam que a reforma irá inaugurar uma nova era. “Se nós não modi-ficarmos as outras institui-ções juntamente com a polí-cia e esclarecermos quem é responsável pelo quê, ne-nhum corte de funcionários ou aumento de salários pro-duzirá efeito”, disse o chefe de polícia do distrito sudo-este de Moscou, Iúri Mati-úkhin. Segundo ele, poucas instituições têm tentado com-bater a corrupção interna tão incisivamente como a polí-cia. “Desafio qualquer um a mostrar um segmento do go-verno russo que esteja fazen-do mais e de modo tão trans-parente na luta contra a corrupção”, disse.“O que é necessário é um con-trole externo em relação à polícia realizado por orga-nizações públicas”, diz o es-pecialista em segurança do Centro Carnegie de Moscou, Nikolai Petrov. “Não temos senso de responsabilidade como nos Estados Unidos, onde os corregedores são elei-tos e afastados caso não es-tejam realizando seu traba-lho corretamente.”

Reforma ou só uma mudança de nome?

Para os críticos, falta submeter o órgão a controle externo

artem zagoroDnoV Gazeta russa

vigilância esbarram na re-sistência dos cidadãos: “Prin-cipalmente os turistas acre-ditam que tais medidas ferem alguns princípios da Carta de Diretos Humanos e inco-moda terem de aguardar horas para embarque ou de-sembarque, ou verem seus pertences manuseados du-rante a revista”. E os riscos tendem a aumen-ta. Tanto a Rússia como o Bra-sil vão sediar, nos próximos anos, eventos esportivos que os transformam em potenciais alvos para organizações ter-roristas – os Jogos Olímpicos (2014 em Sôtchi, 2016 no Rio) e as Copas do Mundo (2014 no Brasil, 2018 na Rússia).“O Brasil, como qualquer outro país, não está imune a este fenômeno, e eventos in-ternacionais desta magnitu-de, com a presença massiva da mídia mundial, se cons-tituem em uma excelente oportunidade para ações ter-roristas, como a que ocorreu nas Olimpíadas de Munique, em 1972”, alerta Woloszyn.

Para Alberto Pinto, tradu-tor do russo para empresas brasileiras de grande porte, os ataques terroristas são pe-quenos desastres que vão mi-nando dia após dia a ima-g e m d e p a í s s e g u r o , construída a um custo muito a lto durante o reg ime socialista.“A cada viagem, percebe-se cada vez mais o receio tanto das autoridades quanto de quem chega ao país a negó-cios. As pessoas perguntam se há riscos, pedem para en-curtar a estadia e, em breve,

vão começar a evitar lugares públicos”, acredita ele.

medo que afastaA ousadia dos criminosos e sua necessidade de chamar a atenção do mundo para sua causa – ainda que ao custo de muitas vidas – choca pes-soas de qualquer lugar do planeta. “Mesmo sem querer, os ataques atingem qualquer um, pois geram compaixão e empatia. Você se projeta, se vê naquele aeroporto, espe-rando alguém que você ama”, diz a psicóloga Nádia Reis.Essa empatia, no entanto, in-flui também na economia.

“Sem dúvida, se um turista puder optar entre um lugar seguro e um lugar perigoso, não vai pensar duas vezes para escolher o mais segu-ro”, completa Nádia.Em 2004 e 2005, a Rosstat (Agência Nacional de Esta-tísticas da Rússia) registrou a maior queda no turismo do p a í s , 9 , 2% e 16 , 6% , respectivamente.Em 2004, quatro grandes atentados ocorreram na Rús-sia: dois ataques ao metrô de Moscou, uma bomba detona-da em um voo comercial e o trágico sequestro da escola em Beslan. Somente nesses

ataques, 479 pessoas morre-ram e mais de mil ficaram feridas, de acordo com as es-tatísticas oficiais.Segundo André Luís Wo-loszyn, especialista em ter-rorismo e consultor de orga-nizações internacionais sobre conflitos, a lentidão do go-verno em relação aos ataques pode ter impactos devasta-dores para o turismo e ou-tros setores da economia.“Uma resposta imediata e com resultados positivos – a identificação dos culpados e sua punição – demonstra que o país está preparado para este tipo de crise e propor-ciona confiança no poder do governo para debelar tais episódios”, explica.Woloszyn lembra ainda que o intercâmbio de dados entre as agências de inteligência e intensificação das revistas pessoais são fundamentais para a prevenção de novos ataques, sobretudo em áreas de grande concentração de pessoas. Mas ressalta que o endurecimento das regras de

Terroristas atentam também contra a economiacontinuação Da Página 1

" A cada viagem, percebe-se cada vez mais o receio tanto das

autoridades quanto de quem chega ao país. As pessoas perguntam se há riscos, pe-dem para encurtar a estadia."

frase

alberto pintotradutor profissional

É o número de mortos em decorrência do último aten-tado terrorista em Moscou, no aeroporto Domodêdovo. Cerca de 180 pessoas fica-ram feridas

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03Política e Sociedade

Quando o canadense Kane Cuenant procurou um curso de MBA, cogitou Harvard, o MIT ou mesmo a Universi-dade Tsinghua, na China, mas acabou optando por es-tudar na recém-inaugurada Escola de Administração de Skôlkovo, a 20 quilômetros de Moscou. “Procurei dife-rentes instituições em países com mercados consolidados, mas isso não parecia real o bastante. Sabia que queria trabalhar em mercados emer-gentes e gostaria muito de entender como fazer isso.”Cuenant é um dos primeiros 40 graduandos de Skôlkovo, e se formou em novembro. Ele afirma que a ênfase do pro-grama em habilidades prá-ticas para trabalhar nos mer-cados que lhe interessam foi fundamental para sua esco-lha. Além de russos e cida-dãos de regiões da antiga União Soviética, os graduan-dos da primeira turma vêm de países como Brasil, Ale-manha e Índia.O que levou o jovem cana-dense a escolher essa escola e não a equivalente chinesa foi sua grade curricular, ba-seada no modelo americano, que fez de Skôlkovo o pri-meiro MBA da Rússia com chances reais no cenário global.

BrasileirosFormado na primeira turma de MBA integral de Skôlko-vo com o canadense Cuenant, o brasileiro Nicholas Wiczer chegou à escola orientado por um consultor de MBA. “O pes-soal do MIT, que tem parce-ria com eles, falou muito bem, aí eu me inscrevi, mas fiquei na dúvida. No final, fiz o curso e gostei muito”, disse. “O en-sino que eles estão promoven-do é inovador. Não há uma fórmula que se possa copiar”, completa.

O material em inglês propos-to pela escola russa foi ide-alizado para ensinar os es-t ud a nt e s s obr e c omo funcionam, na vida real, os negócios em um mercado emergente. Para Marcus Alves, que deixou o cargo de gerente regional da Kimber-ly-Clark em São Paulo para integrar a segunda turma da escola, “a ideia que se tem é de que a Rússia é um país atrasado”, mas, segundo ele, “os russos estão muito mais abertos para tudo, e é por isso que este projeto é tão inovador”.

EmergentesO reitor de Skôlkovo, Wil-fried Vanhonacker, mudou-se para a Rússia em 2008, de-pois de cr iar a Escola Internacional de Negócios China-Europa (CEIBS), em Xangai. Inaugurada em 1994, a CEIBS entrou para o ranking dos 20 melhores MBAs do jornal britânico Fi-nancial Times.Na escola russa, Vanhona-cker transferiu a ênfase do aprendizado em sala de aula para um programa no qual os graduandos gastam mais de 70% do tempo em desa-fiadores ambientes de empre-sas que atuam em mercados emergentes ou em departa-mentos do governo. “Estamos tentando trazer a realidade para as salas de aula”, garante.Grande parte do crescimen-to das multinacionais nos próximos 20 anos estará em mercados emergentes dinâ-micos, nos quais o ambiente de negócios é volátil e incer-to, e os gestores já enfrentam tanto a escassez de talentos quanto falhas institucionais e de infraestrutura. O reitor explica que o MBA de Skôlko-vo foi desenvolvido para pre-parar os alunos para esses desafios. “As escolas de ne-gócios tradicionais já não es-tavam preparando os talen-

tos de que o mercado precisa – líderes empresariais capa-zes de trabalhar em ambien-t e s d i f íc e i s”, a f i r m a Vanhonacker.

ObstáculosOs estudantes de Skôlkovo devem enfrentar dificulda-des que vão desde a sobrevi-vência por dois meses num dormitório de cidade fabril na China – lidando com o co-tidiano do mercado de ma-nufatura da grande oficina global que o país se tornou–, até ajudar burocratas russos a preparar projetos de lei que serão posteriormente envia-das ao Parlamento. Além de áreas já consolida-das por MBAs do Ocidente, como contabilidade, macro-economia e marketing, o curso tem como um de seus objetivos colocar os gradu-andos em situações de pres-são, lidando com diferentes culturas, a fim de que apri-morem suas habilidades de cooperação. Para alunos ocidentais, Skôlkovo significa um olhar profundo e pessoal sobre a burocracia e a corrupção que vêm junto com a prática de negócios em mercados emer-gentes. Já para os russos, o curso também ajuda a enten-der a vida corporativa na China, na Índia e nos Esta-dos Unidos, bem como em sua terra natal.O canadense Cuenant conta, por exemplo, que o volume de papéis necessários para dar andamento a processos comuns na China e na Rús-sia o surpreendeu. “Uma ta-refa de banco nos Estados Unidos requer apenas um formulário, três ou quatro in-formações e uma assinatura. Na Rússia, a mesma opera-ção requer quatro formulá-rios, cinco informações e qua-tro assinaturas”, conta. “Na China, são no mínimo sete formulários, oito informações e quatro assinaturas, e como

em projetos, na tentativa de incentivar os choques cultu-rais e de personalidade que enfrentarão na vida real. “Não permitimos que os alunos es-colham seus próprios grupos até que cheguem à fase final do curso e tenham de lançar uma companhia startup,” diz Vanhonacker. “Você não es-colhe os colegas de trabalho em uma empresa”.A escola planeja receber 240 estudantes de MBA por ano e até 300 estudantes do cha-mado “EMBA” (Executive MBA) quando atingir sua ca-pacidade operacional total em 2014. Em 2009, a primeira turma de MBA de Skôlkovo tinha 40 alunos. Apesar desse número ter caído para 33 no

ano seguinte, o total de estu-dantes que se matricularam para o EMBA (que dura 18 meses e permite aos alunos que já trabalham estudar ape-nas meio-período) aumentou de 21, em 2009, para 37 em 2010.A experiência de trabalhar na Rússia, na China e nos Esta-dos Unidos, de acordo com Cuenant, é incalculável. “Tra-balhar com oficiais do gover-no de mercados em desenvol-vimento é algo que você simplesmente não consegue aprender em uma sala de aula. A maioria dos estudantes que se matriculam em Skôlkovo não está atrás de um mero em-prego de escritório. Eles bus-cam algo mais”, afirma.

RachEl MORaRjEE gazeta russa

Especialistas em realidade emergente

MBa escola de administração de skôlkovo tem curso focado em mercados em crescimento

Schwarzenegger visita Skôlkovo em 2010, ainda no cargo de governador da califórnia

nOtaS

O governo russo decidiu manter o horário de verão a partir do outono deste ano. “O prolongamento fará os dias ficarem mais claros, em relação à média anual cor-rente. Em algumas regiões esse aumento será de 7% a 17%”, calcula Arkádi Dvorkovitch, assessor do p r e s i d e n t e D m í t r i Medvedev. “Isso fará bem para a saúde”, acredita o chefe do Serviço Federal de Defesa dos Consumidores e do Bem-Estar, Guenádi Oní-shenko. Mas nem todos con-cordam. “Vivemos há 2 mil anos sem a troca de pontei-ros e vamos continuar a viver de mesmo jeito”, afir-mou o diretor do Centro de Cirurgias Cardíacas Báku-lev, Lev Bokêria.

Governo vai manter horário de verão

Duas derrotas seguidas –ambas para brasileiros – parecem ter acabado com a carreira de Fiódor Emeliá-nenko, campeão de artes marciais mistas. Sua der-rota para Fabrício Verdum, em junho de 2010, foi um choque. Emeliánenko rei-nava sozinho no topo do ranking por quase dez anos, e àquela altura a derrota pareceu casual. Mas as quartas de finais do torneio Strikeforce contra Antônio Silva acabaram da mesma maneira e derruba-ram de seu trono o “último imperador”, como foi ape-lidado pelos fãs.Durante dois rounds, Silva, muito mais forte, não con-seguiu fazer seu adversário capitular, mas o combate foi suspenso pelos médicos. Então, com um grande he-matoma no olho direito, o ex-campeão anunciou: “É hora de parar”.

Derrotado duas vezes, lutador se aposenta

Olimpíadas Conhecida fábrica de estrelas olímpicas, rússia passa a importar esportistas talentosos de olho nos Jogos de Londres 2012

Atletas estrangeiros fortalecem seleções

nascido nos EUa, john Robert holden representa a Rússia no basquete

Deslocada para o terceiro lugar nos quadros de medalhas desde a ascensão da china, em 2004, Rússia busca atletas de outras nacionalidades com potencial olímpico, mas há resistências.

Conhecida por exportar talentos esportivos, a Rússia está atrás de estrangeiros para repor a escas-sez de atletas do país com vista às próx imas competições internacionais.A antiga União Soviética dispu-tou por décadas a primazia nas Olimpíadas com os Estados Uni-dos, mas depois dos anos 90 a Rússia tem experimentado uma certa decadência. Exemplo disso é que o país amargou o terceiro lugar nas Olimpíadas de 2004 e 2008, superado pela China, e tam-bém teve maus resultados nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, em Vancouver. Agora, o país

procura atletas estrangeiros para reforçar suas equipes.

Sondagens e sucessosDesde o ano passado, a impren-sa tem anunciado que a Rússia, de olho na Copa de 2014, poderia conceder cidadania ao atacante brasileiro Welliton Morais. O ex- jogador do Goiás foi o artilheiro do campeonato russo em 2009 e 2010, vestindo a camisa do Spar-tak de Moscou.Agraciados com o passaporte russo, os jogadores de basquete norte-americanos John Robert Holden e Rebecca Hammon tor-naram-se capitães de seus times na Rússia. A patinadora no gelo Yuko Kawaguchi, nascida no Japão, tornou-se celebridade após representar a Rússia nos Jogos de Inverno de Vancouver.Os atletas enfrentam dificulda-des com a língua e a cultura lo-cais, além de uma enxurrada de críticas. “Meus amigos e família

ficaram surpresos e a imprensa também foi bastante crítica, mas a vida é assim: para aproveitar oportunidades excelentes, sur-gem muitas coisas boas e ruins”, disse Holden. O jogador de basquete, que se mudou para a Rússia em 2003, também tinha uma imagem car-regada de estereótipos sobre o país. “Como a maioria dos ame-ricanos, imaginei que Rússia fosse como no filme Rocky”, contou à Gazeta Russa. Nascido em Pitts-burgh, Holden foi convidado por diversos times europeus, mas es-colheu o CSKA Moscou, que lhe paga US$ 3,5 milhões por ano.

não sou espiãRebecca Hammon, que joga pela seleção nacional feminina de bas-quete, mudou-se para a Rússia com o intuito de se tornar uma campeã olímpica. Depois de oito anos jogando em times dos Esta-dos Unidos, sua decisão de re-presentar a Rússia gerou forte re-percussão na terra natal. A treinadora do time feminino nor-te-americano, Anne Donovan, chamou Hammon de “traidora” e “antipatriota”.“Tive que escutar muitas coisas coisas ao voltar. Quase fui acu-sada de trair o meu país. Mas ex-pliquei para todo mundo em casa que não sou uma espiã, apenas quero jogar basquete em uma Olimpíada. Se eu tivesse sido se-lecionada para o time norte-ame-ricano, teria feito tudo pelo meu país”, disse em entrevista ao jor-nal de esportes Soviétski Sport. A patinadora Kawaguchi mudou para São Petersburgo para trei-nar com a técnica Tamara

iúlia taRánOva gazeta russa

Gazeta Russawww.GazEtaRUSSa.cOM.BR

Moskviná. Ela ficou impressiona-da com a performance da dupla russa Elena Berejnaia e Anton Si-kharulidze durante as Olimpía-das de Inverno de Nagano, em 1998, e, segundo a Reuters, escre-veu para Moskviná pedindo para treinar com ela. Kawaguchi rece-

beu cidadania russa e começou a competir pela equipe nacional. No Japão, sua decisão não foi bem recebida por todos. “Li muitos co-mentários maldosos na internet”, disse à Reuters. “Aqueles que não entendem as leis dos esportes in-ternacionais me chamaram até de

traidora, mas não estou ofendida. As pessoas que entendem como funcionam os esportes sabem que não traí ninguém. Ainda me con-sidero japonesa. Decidi competir pela Rússia porque não tinha uma parceira suficientemente boa no Japão”.

" As escolas de negócios tradicionais já não es-tavam preparando os

talentos de que o mercado precisa - líderes empresariais capazes de trabalhar em am-bienter difíceis.”

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Wilfried vanhonackerreitor

ricardo Betti ConsuLtor de mBa

Kane Cuenant graduando da turma de 2010

" A escola é uma alter-nativa original ao tra-dicional esquema das

escolas americanas. Eles falam explicitamente de assuntos que ainda são tabu, como corrupção.”

" Procurei instituições em países com mercados consolidados, mas isso

não parecia real o bastante. Sabia que queria trabalhar em mercados emergentes e gostaria de entender como fazer isso.”

alguns dos formulários são preenchidos por funcioná-rios, os clientes devem ainda aguardar que a operação seja concluída.”

Sob tutelaAinda que a aprendizagem experimental seja por vezes desgastante, as turmas peque-nas permitem um acompa-nhamento individualizado. Cada aluno trabalha com um mentor do mundo dos negó-cios que pode ajudá-lo a apri-morar seus objetivos, além de expandir sua visão da vida em diferentes companhias e ambientes. Os professores também sele-cionam aleatoriamente gru-pos de alunos para trabalhar

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Page 4: Gazeta Russa

04 Gazeta Russawww.gazetarussa.com.breconomia e mercado

O mercado russo, com seus 142 milhões de consumidores, atrai cada vez mais empresas es-trangeiras. E a indústria ci-nematográfica, é claro, não

retomada Depois de vender mais de US$ 1 bilhão em ingressos, bilheteria russa torna-se a segunda maior da Europa

rússia vive momento de grande recuperação da arrecadação do setor cinematográfico, após forte queda entre 2008 e 2009.

ficou de fora. Empreendedo-res se apressam em construir modernas salas por todo o país, a arrecadação de 2010 já faz da Rússia a quinta maior bi-lheteria do mundo e as distri-buidoras de filmes faturaram US$ 1 bilhão no último ano, um crescimento de 40% em relação ao ano anterior, apon-ta a revista especializada Ki-nobusiness. Os resultados re-velam uma forte recuperação

solidados mercados europeus, mesmo com estrelas como An-gelina Jolie e Johnny Depp no elenco e tendo Paris e Veneza como cenário. Na Rússia, por outro lado, a estreia arreca-dou US$ 10,3 milhões já no primeiro fim de semana de ja-neiro e o faturamento com in-gressos só perdeu para a Itá-lia, que é palco da maior parte do enredo do filme.Já “As Viagens de Gulliver”,

mercado de cinema vira herói da crise

Projetores 3D mais modernos, usados em filmes como “avatar”, chegaram no ano passado

das perdas ocorridas em 2009, auge da crise econômica, quan-do o faturamento caiu de US$ 831 milhões para US$ 736 mi-lhões em um ano.“À medida que as pessoas ficam mais ricas, podem, ob-viamente, gastar mais em en-tretenimento, cinema ou tea-tro”, ressalta Kingsmill Bond, chefe-estrategista do banco de investimentos russo Troika Dialog.

tim gosling gazEta rUSSa

com o irreverente ator Jack Black, gerou US$ 9,5 milhões no fim de semana de estreia, o melhor desempenho em todo o mundo. Hollywood já se deu conta dos lucros que a Rússia e seus pro-dutores podem gerar. Os in-vestidores estrangeiros, no en-tanto, a inda precisam encontrar meios de penetrar neste exponente setor, hoje do-minado pelas distribuidoras russas. Segundo a Kinobusi-ness, as empresas locais detém 97% do mercado. Atualmente, filmes importa-dos enfrentam uma competi-ção acirrada com a crescente produção local – até o final de 2010, 338 filmes haviam sido lançados na Comunidade dos Estados Independentes (CEI).As distribuidoras de filmes hollywoodianos ficaram com um quarto do faturamento, ou seja, US$ 250 milhões. O resto foi abocanhado por empresas russas. Vale ressaltar que os maiores sucesso do ano foram os norte-americanos “Avatar”, que rendeu US$ 100 milhões para a 20th Century Fox, e “Shrek para sempre”, que ob-teve cerca de R$ 50 milhões, s e g u n d o a r e v i s t a Kinobusiness.Em 2010, o título russo “Iôlki”, do diretor Timur Bekmambe-tov, está se provando o gran-de favorito das bilheterias. Bekmambetov é dos integran-tes da geração que está rein-serindo o país na indústria glo-bal. Além da versão dublada do popular filme de vampiros “Guardiões da Noite”, ele tam-bém dirigiu o blockbuster “O Procurado” (2008), estrelado por Angelina Jolie.

Pagando por qualidadeA forte atuação russa no mer-cado cinematográfico é sur-preendente. Hoje, existem

mil é o número de salas de cinema de que a rússia dispõe atualmente

milhões de dólares foram arrecadados por filmes estrangeiros na cei

milhões de pessoas compõem o mercado consumidor russo

11

250

142

números

Atraente para os produtores de fertilizantes, o Brasil pre-cisaria empreender esforços muito maiores para a criação de uma parceria mais inten-sa ou uma joint-venture, se-gundo Baumgertner. “É di-fícil fazer parcerias porque somente 12 países no mundo possuem grandes reservas de potássio. Além disso, a reali-zação de um projeto totalmen-te novo nessa área demora uns sete ou dez anos”, explica.Entretanto, os contratos de compra pontual ainda desper-tam o interesse dos produto-res, já que os preços das tran-sações acompanham com mais rapidez as flutuações do mer-cado. A fusão, entretanto, não traria muita diferença para o agricultor. “O mercado é do-minado por poquíssimas em-presas porque é preciso um

saída digital E-books superam obstáculos territoriais e alcançam leitores de todos os cantos do país

Distribuição ineficiente de livros pelas enormes extensões do maior país do mundo faz com que livros digitais batam recordes de downloads na rússia.

grande aporte logístico”, ex-plica Benites. “Como o preço é internacional, o produtor rural nem sabe a diferença entre o potássio russo e o ca-nadense”, completa.

Plano bEm 2010 o governo brasilei-ro concentrou esforços no

Nova gigante do potássio está de olho no Brasil

Parceria com empresas na-cionais é pouco provável

rachel morarjee gazEta rUSSa

" Há pouca distribui-ção física de livros na Rússia. Não existem

redes de lojas nacionais como Barnes & Noble ou Watersto-nes. Mas, com a mídia digital, não há controle de fronteiras, clientes e nem custos com transporte. Só é preciso aces-so à internet para usar o poder da tecnologia e criar novos mercados."fUnDaDor Da bookmatE.rU

frase

Simon Dunlop

Os russos são notadamente ávidos leitores, capazes de ainda hoje render populari-dade a escritores românticos como Aleksandr Púshkin, considerado por muitos o maior poeta russo.A sociedade russa é altamen-te instruída e possui índices de alfabetização semelhantes aos dos mais desenvolvidos países da Europa Ocidental. O mercado de livros em papel, no entanto, não conseguiu acompanhar essa paixão pela literatura.A pirataria on-line tem re-tardado o desenvolvimento da indústria editorial, já que a disponibilização de con- teúdo ilegal na internet di-minui a receita que seria ge-

rada para as ed itoras promoverem novos e jovens autores, mas essa falha vem sendo rapidamente resolvi-das pelos livros eletrônicos, os e-books.Cerca de 80% dos livros pu-blicados na Rússia são ven-didos apenas nas cidades de Moscou e em São Petersbur-go, de acordo com estimati-vas das livrarias virtuais rus-sas Bookmate.ru e Ozon.ru.“Há pouca distribuição fí-sica de livros no país. Não existem grandes redes na-cionais como a loja ameri-cana Barnes & Noble ou a britânica Waterstones”, ex-plica Simon Dunlop, funda-dor da Bookmate.ru.A distribuição digital de obras literárias, porém, deve superar os enormes desafios logísticos impostos pelo vasto território. “Com a mídia di-gital, não há controle de fron-teiras, de clientes ou custos com transporte”, explica Dunlop.Segundo ele, o número de do-

wnloads registrado no site Bookmate subiu exponen-cialmente em 2010. A popu-laridade dos e-books é bas-tante perceptível em cada vagão do metrô de Moscou, onde há pelo menos uma pes-soa agarrada a um leitor de livros eletrônicos, o chama-do e-reader.

os livros e a crisePara atender a essa deman-da dos consumidores por so-luções economicamente aces-síveis, um leitor barato e eficaz começou a ser produzido na Ucrânia, o Pocketbook, que já é campeão de vendas na Rússia.Criação do empreendedor ucraniano Oleg Naúmenko, 29 anos, esse e-reader foi pro-jetado especialmente para o mercado de língua russa. Seus leitores de bolso, que custam em média US$ 300, não são exatamente os mais baratos, mas os usuários têm recuperado o investimento rapidamente substituindo os

Livros virtuais prometem salvar indústria editorial

usuários do metrô moscovita se rendem aos livros digitais

continuação Da Página 1

notas negócios

O Brasil reabriu a concor-rência para aquisição de 36 novos caças pelo programa FX-2, com verba planejada de US$ 4 bilhões. Os parti-cipantes da licitação ante-rior – a norte-americana Boeing, a sueca Saab e a francesa Dassault – lideram a lista de preferências. Já a companhia russa Sukhoi, com seu caça multifuncio-nal Su-35, pode ficar de fora da competição. A disputa pelo mercado bra-sileiro se estende desde 1999, quando foi aberta a primeira concorrência para a aquisição de 12 a 24 ae-ronaves no valor de US$ 700 milhões. Mas, apesar do in-teresse que a Sukhoi vinha despertando na época, o Brasil não finalizou a com-

Brasil reabre licitação de caças

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menos de 11 mil salas de ci-nema em todo o país, das quais um terço pode ser considera-da defasada. Os modernos pro-jetores 3D necessários para a exibição de filmes como “Shrek para sempre” e “Ava-tar” foram introduzidos so-mente no ano passado. Segundo o chefe-executivo da rede Kinoplex, Simon Dun-lop, um país do tamanho da Rússia deveria contar com pelo menos quatro vezes mais salas. “Uma rede de cinema de porte médio nos Estados Unidos pos-sui mais salas de cinema do que todas as salas em funcio-namento hoje na Rússia”, diz.O público russo também tem se mostrado disposto a pagar mais por qualidade. De acor-do com dados da consultoria PricewaterhouseCoopers, se por um lado a receitas das bi-lheterias cresceu 40% em 2010, a frequência do público subiu apenas 14,9% no mesmo pe-ríodo. Com isso, a expectativa da consultoria é de que o mer-cado de entretenimento e mídia na Rússia cresça em média 9,3% ou mais ao ano, podendo superar dois terços de toda a receita da CEI até 2014.O número de complexos de ci-nema vinha crescendo 30% ao ano em relação ao número total de salas modernas. Porém, a crise econômica mundial acabou desaceleran-do a expansão do setor, que caiu pela primeira vez em 2010. Os piores efeitos, entretanto, não são esperados antes da me-tade deste ano. Ainda assim, a crise é vista como revés temporário e empreendedores já tentam emplacar novos projetos no país, cujo rendimento médio continua a crescer 4% mesmo durante o período de recessão.

O peso do público russo tam-bém ficou mais evidente com o sucesso que “O Turista” e “As Viagens de Gulliver”, duas produções norte-americanas, fizeram nas telas do país no começo deste ano. Os filmes atraíram mais público na Rús-sia que em qualquer outro lugar do mundo, com exceção dos Estados Unidos. “O Tu-rista”, principalmente, foi um fiasco de bilheteria nos con-

turamento chegue a US$150 milhões. De acordo com a consultoria SmartMarketing, o dispositivo ucraniano já do-mina 43% do mercado russo, enquanto a Sony aparece em segundo lugar com 24%. A Pocketbook tem crescido tão rapidamente que somen-te agora foi montada uma rede física para vendas do produto – 85% das compras do aparelho em 2009 foram feitas pela internet. Naú-menko também já criou um e-book no qual arquivos com licença custam bem menos que os livros impressos. Com 150 milhões de russos e 110 milhões de pessoas na Co-munidade dos Estados Inde-pendentes (CEI) atualmente conectados à internet, o setor possui grande potencial de crescimento.Dunlop ressalta que basta uma conexão para explorar todo o poder das novas tec-nologia e criar novos merca-dos consumidores.

pra devido a dificuldades econômicas. Em 2007, a licitação foi reto-mada, praticamente com os mesmos concorrentes. Nos planos, figurava a compra de 120 aviões por até US$ 10 bi-lhões. A aquisição, entretan-to, foi mais uma vez adiada

devido à realocação dos re-cursos para custear a assis-tência aos desastres naturais ocorridos naquele ano.O Brasil havia empurrado a aeronáutica russa contra a parede, prometendo a com-pra dos Su-35 somente se a Rússia também adquirisse as aeronaves comerciais fabri-cadas pela Embraer. Como a empresa russa concluía o de-senvolvimento e o licencia-mento de sua própria aero-nave comercial para voos regionais, o Superjet-100, o acordo foi rejeitado. Além disso, segundo fontes da própria Sukhoi, a empre-sa não pretendia transferir a tecnologia de produção do caça Su-35 ao Brasil, tentan-do prevenir sua divulgação para Venezuela, Chile ou Co-lômbia e evitar cópias. Assim, a terceira licitação para venda de caças e atualização da frota brasileira não pode contar com o russo Su-35 na lista dos principais concorrentes. No ano passado, porém, a im-prensa divulgou que a Rús-sia havia proposto ao Brasil e à Índia a participação no

âmbito geológico para a iden-tificação de reservas de po-tássio e a Vale do Rio Doce comprou minas na Argenti-na com o objetivo de produ-zir para o mercado brasilei-ro. “O Brasil não tem reservas como a Rússia, mas conta com reservas potenciais na costa, ou seja, o pré-sal”, conta Benites. A extração do elemento na camada supe-rior ao petróleo, entretanto, não é para um futuro próximo. “Não temos margem para, no curto prazo, criar outra al-ternativa de potássio para substituir a importação”, afirma Benites.A fusão das produtoras rus-sas deverá se concretizar no segundo trimestre desse ano. As condições do contrato já foram aprovadas pelos con-selhos das diretorias, apoia-dos pelos acionistas.

projeto de um caça de quin-ta geração baseado no mo-delo T-50. O protótipo já passa por tes-tes na base da cidade de Jukóvski, próxima a Moscou. Por enquanto não há uma resposta definitiva do Brasil, mas a Índia já acertou com o Kremlin a projeção dessas aeronaves para sua Força Aérea, com perspectivas de venda para terceiros.Segundo relatório do insti-tuto internacional de pesqui-sas estratégicas, a Força Aérea do Brasil (FAB) pos-sui atualmente dezoito caças franceses do modelo Mirage F-103E, 47 caças norte-ame-ricanos dos modelos F-5E\B\F, mais de 50 caças-bom-bardeiros do modelo AMX (co-produção entre Brasil e Itália) e cerca de 100 caças-bombardeiros de treino do modelo Super Tucano. Mui-tos deles, no entanto, em fun-ção da idade, do uso exten-sivo e da desatualização técnica, encontram-se quase inativos e precisam ser substituidos.

Víktor litóvkin

livros convencionais por ar-quivos gratuitos disponíveis na web. A crise econômica recente também foi um divisor de águas para o setor. Em 2009, foram vendidos 142 mil Po-cketbooks, o correspondente a US$ 37 milhões. Neste ano, a expectativa é de que o fa-

Page 5: Gazeta Russa

05Gazeta Russawww.gazetarussa.com.br capaFim de uma era Retrospectivas celebram 80 anos dos dois homens que mais marcaram o renascimento da Federação Russa

os dois pais da rússia moderna

Se as mudanças trazidas pela dissolução da União Sovié-tica certamente não satisfi-zeram a todos, o estabeleci-m e n t o d e u m a n o v a Constituição, de uma econo-mia de mercado, da liberda-de de ir e vir, de expressão e de imprensa são reconheci-dos por muitos. Responsável, em grande parte, por essas transformações, o primeiro presidente da Federação Russa, Boris Iéltsin, comple-taria 80 anos neste mês. Fa-lecido em 2007, o estadista agora ganhou uma série de homenagens pelo país.“Iéltsin, antes de qualquer outro político soviético, va-lorizou a importância do am-paro popular, mudando o sis-tema tradicional de relações

Na história moderna, alguns grandes líderes encabeçaram movimentos determinantes para seus países, como o es-panhol Adolfo Suárez, a bri-tânica Margaret Tatcher, o alemão Helmut Kohl e o ame-ricano Ronald Reagan. Al-guns, entretanto, mudaram o mundo. É o caso dos russos Vladímir Lênin, fundador do governo comunista – o maior desafio contemporâneo ao Ocidente –, e Mikhail Gorba-tchov, que colocou abaixo o mesmo sistema, em um mo-vimento que fechou para sem-pre as portas do século 20 e permitiu que o mundo entras-se em um novo ciclo.Entre 1985 e 1990, Gorba-tchov ganhou destaque por uma série de feitos. O maior foi reconhecer o absurdo da corrida armamentista e da guerra atômica e anunciar seu ideal de um mundo des-nuclearizado. Foi ele quem viabilizou o diálogo entre a URSS e os EUA para o de-sarmamento, levando as ne-gociações à assinatura do tra-tado de eliminação de mísseis de médio e curto alcance, em 1987. A partir daí, os países decidiram destruir todo tipo de armamento nuclear, cuja existência em si é motivo para o início de uma guerra atômica, e passaram a nego-ciar a redução dos armamen-tos e a proibição de armas químicas e biológicas. Ironicamente, a onda de mu-dança provocada por ele foi a mesma que o tirou de cena. No final de sua carreira po-lítica, teve de suportar a so-lidão e o isolamento. Muitos daqueles que ganharam os holofotes durante a transi-ção iniciada por Gorbatchov, ou que subiram ao poder gra-ças a ele, não o perdoaram pelas dimensões de seu pen-samento sobre liberdade e o desprendimento do poder e, durante muitos anos, fizeram de tudo para atingi-lo do modo mais mesquinho. Em 1999, Gorbatchov enfren-tou outro drama com o fale-cimento da mulher e amiga Raissa, vítima de leucemia. A tragédia, no entanto, im-pulsionou a reaproximação entre Gorbatchov e a Rússia. Diante do sofrimento do homem, os russos começa-

entre o poder e a sociedade”, disse o autor de sua nova bio-grafia, Rudolf Pikhoia.Depois de construir a car-reira política populista nos Urais, Iéltsin é indicado para a prefeitura de Moscou pelo então presidente Mikhail Gorbatchov e pelo segundo- secretário Iegor Ligatchov. Mas em 1987, quando come-ça a criticar publicamente o presidente e o Politburo, acaba demitido. “Iéltsin não tinha medo, por isso não pre-cisava de instrumentos para espalhar o temor”, disse à Gazeta Russa o chefe da re-vista alemã Der Spiegel em Moscou, Matthias Schepp. A campanha oposicionista dos comunistas contra Iélt-sin e subsequentes denúncias de alcoolismo não o impedi-ram de ser eleito presidente em 1991, com 57% dos votos. Ele inicia então uma série de reformas que culminariam numa abertura à liberdade de expressão e de mercado.“Iéltsin criou, sobretudo em seu primeiro ano de presidên-cia, toda uma série de decre-tos chamados ‘acerca da li-berdade de imprensa’, ‘acerca da defesa da liberdade de im-prensa’ etc.”, explica o atual conselheiro presidencial para assuntos de direitos humanos, Mikhail Fedotov. A Constitui-ção por ele promulgada em 1993 também garantia amplas liberdades individuais, como o Artigo 31, que garante que o “direito de se reunir de ma-neira pacífica, sem armas, conduzir comícios e demons-trações, desfiles e piquetes”. Mas para a ativista dos di-reitos humanos Liudmila Aleksêieva, a falta de tradi-ção democrática teria atra-palhado. “A economia pla-nificada e o mercado liberal se mostraram incapazes, então para muitos a memó-ria de liberdade ficou atrela-da à lembrança de dificulda-des e privações”, explica.Outras reminiscências de seu governo remetem ao uso de força militar contra as mas-sas que protestavam por me-lhores condições de vida em frente ao Parlamento em 1993, que resultou num total de 500 mortos (números não-oficiais), e a Primeira Guer-ra da Tchetchênia. “Acredi-to que nem tenha passado pela cabeça dele pensar sobre as liberdades como institui-ções. Na cabeça das pessoas, sobrou apenas o tiroteio no Parlamento – e isso está im-presso mais forte que a Cons-tituição”, diz analista políti-co Gleb Pavlóvski.

ram a entender o significado de sua figura política. Gorbatchov foi o primeiro governante na história da Rússia a deixar o Kremlin sem se agarrar ao poder. A saída voluntária do governo, iniciada por ele, certamente não foi uma moda que pegou. Iéltsin em seguida retomou a prática de permanecer ao menos até conseguir fazer seu sucessor. Agora, Gorbatchov está pas-sando por uma nova nova provação. Como diria o es-critor escocês Thomas Car-lyle, a história é a biografia dos grandes homens. E, ainda tão disposto e encantador, Gorbatchov garantiu para si um lugar na eternidade e tor-nou-se um monumento vivo na Rússia. Tornou-se Histó-ria. Ser homem e ator histó-rico ao mesmo tempo e, ainda, manter a simplicidade e a ca-pacidade de ser irônico sobre si mesmo não é fácil. Somen-te alguém com uma perso-nalidade singular é capaz de fazer isso.

Iéltsin, o ex-comunista que trouxe liberdade

O homem que escreveu a história

marina darmarosgazeta Russa

LiLia shevtsovaespecIal paRa gazeta Russa

o contato próximo com o povo marcou a atuação dos estadistas durante os anos 80 e 90

então secretário-geral do Partido comunista, gorbatchov faz visita oficial à Polônia, em 1988

Fama de populista de iéltsin começou ainda nos urais e se estendeu a moscou

boris iéltsin

mikhail gorbatchovex-secRetáRIO-geRal,

pResIdente da unIãO sOvIétIca

pRImeIRO pResIdente eleItO

da FedeRaçãO Russa

Boris Nikoláievitch Iéltsin nas-ceu em 1º de fevereiro de 1931 no povoado de Butka, nos Urais. Iniciou sua carreira par-tidária no comitê regional do Partido Comunista em Sverdlo-vsk, do qual se tornou primei-ro-secretário em 1976. Em 1985 passou a trabalhar em Moscou, no comitê central do Partido Comunista da União Soviética, ocupando o cargo de diretor do Departamento de Constru-ção. Em 1985 e 1986 foi secre-tário do comitê central. Entre 1986 e 1988 foi candi-dato a membro do Politbu-ro do comitê central do Parti-do Comunista. Depois de um pronunciamento crítico numa plenária do comitê central foi afastado da direção do par-tido. Em 12 de julho de 1990, anunciou a saída do partido e em 12 de junho de 1991 foi eleito primeiro presidente da Federação Russa, posição que ocupou até dezembro de 1999, após ser reeleito em junho de 1996. Quando deixou o cargo, em 1999, Vladímir Pútin ficou emcarregado do cargo de pre-sidente de transição. Boris Iéltsin morreu no dia 23 de abril de 2007, em Moscou.

Mikhail Serguêievitch Gorba-tchov nasceu em 2 de março de 1931 no vilarejo de Privólnoie, no território de Stávropol, no sul da URSS. Foi indicado para o cargo de secretário de Agri-cultura do comitê central do Partido Comunista em 1978. Em 1980 tornou-se membro do Po-litburo, onde ficou até 1991. Co-mo secretário-geral do comitê central, entre 1982 e 1984, aju-dou a trazer uma nova geração de políticos aos cargos mais elevados do governo. De 1984 a 1985, atuou como presidente do Comitê de Assuntos Estran-geiros do parlamento soviético. Em março de 1985, Gorbatchov se tornou secretário-geral, o primeiro líder da União Soviéti-ca nascido depois da Revolução de Outubro de 1917. Em 15 de março de 1990 tornou-se presi-dente da União Soviética, cargo que ocupou até agosto de 1991. Introduziu uma série de refor-mas que mudaram radicalmen-te a estrutura socioeconômica do país, incluindo as aclamadas glasnost (transparência) e pe-restroika (reconstrução). Tam-bém se deve a ele a significati-va melhora nas relações com os Estados Unidos.

PerFiL PerFiL

" Iéltsin criou, sobretudo em seu primeiro ano de presidência, toda uma

série de decretos chamados ‘acerca da liberdade de im-prensa’ ou ‘acerca da defesa da liberdade de imprensa’. Ele se relacionava com a imprensa, eu diria, de forma paternal."cOnselheIRO dO pResIdente paRa

assuntOs de dIReItOs humanOs

" Infelizmente, naqueles anos sobressaiu-se tam-bém uma colossal pro-

vação. A economia planificada e o mercado liberal se mostra-ram incapazes diante de todas essas dificuldades, então para muitos a liberdade ficou ligada à lembrança de dificuldades e privações.” deFensORa dOs dIReItOs humanOs

" Gorbatchov garantiu para si um lugar na história e tornou-se um

monumento vivo na Rússia. Ser ator histórico e manter a simplicidade e o capacidade de ser irônico sobre si mesmo não é fácil. Só alguém com uma personalidade singular é capaz de fazer isso."cIentIsta pOlítIca

Frases

mikhail Fedotov

liudmila aleksêieva

lilia shevtsova

rePortagem oPinião

grandes líderes mudam países, alguns mudam o mundo, diz a chefe dos programas de política russa do centro carnegie de moscou, Lilia shvetsova.

os principais protagonistas do cenário político dos anos 90 celebram o aniversário do primeiro presidente da Federação russa e discutem seu legado.

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Page 6: Gazeta Russa

06 Gazeta Russawww.gazetarussa.com.brespecial

soljenítsin sentiu na pele os abusos dos gulags e se tornou a voz de um povo oprimido

autor, publicado pela primeira vez em 1961, superou o câncer e as arbitrariedades do regime soviético até ter a acusação de traidor revogada e poder voltar à rússia

um autor sob vigilânciaDe 1950 a 1953, Soljenítsin permaneceu no campo de tra-balhos forçados em Ekibastuz, no Cazaquistão, onde os pre-sos não tinham nomes e eram chamados pelos números cos-turados nos chapéus, no peito, nas costas e nos joelhos. Lá ele trabalhou numa brigada de pedreiros e depois na fun-dição. Esse campo foi descrito no romance “Um dia na vida de Ivan Denísovitch”.

''Se as autoridades sovi-éticas não tinham um Homero, agora elas têm

Soljenítsin. Possivelmente, dentro de dois mil anos a leitura do ‘Arquipélago Gu-lag’ proporcionará o mesmo prazer que a leitura da Ilíada nos proporciona nos dias de hoje.”

cItação

Iosif Bródskipoeta

Literatura aleksandr Soljenítsin descreveu campos de trabalho no clássico “arquipélago Gulag”, que ganha versão editada por sua viúva

Nem as condenações ou a censura foram suficientes para impedir que o autor ganhasse o Nobel de Literatura em 1970.

Corria o ano de 1961 quan-do um original impresso em folha dupla chegou à reda-ção da revista Nôvi Mir. O texto não tinha margens ou espaços entre linhas e esta-va intitulado “Щ-854” (Щ, que pronuncia-se “scha”, é a 27ª letra do alfabeto russo).A redatora da seção de prosa, Anna Berzer, entregou o exemplar imediatamente ao chefe de redação, Aleksandr Tvardóvski, e ressaltou que o texto era “sobre o campo de trabalho forçado sob o ponto de vista de um cam-ponês, uma coisa do povo”. Tvardóvski lembra que na-quela noite deitou e folheou o original. Depois de duas ou três páginas, concluiu que o manuscrito não deveria ser lido na cama. Levantou-se, vestiu-se e, enquanto sua fa-mília dormia, devorou du-rante toda a noite o roman-ce, entre goles de chá. Leu e releu aquela obra até que o dia amanheceu sem que ele tivesse dormido. No dia seguinte, mandou que procurassem o autor e des-cobriu que o texto fora es-crito por um professor de co-légio, que ensinava física e astronomia, e que já havia dado aulas de matemática em uma escola da zona rural, perto da cidade russa de Vla-dímir, no oeste do país. A fi-gura por trás do grande texto era Aleksandr Soljenítsin (1918-2008). o autorSoljenítsin nasceu e passou a juventude na cidade de Ros-tov, onde se formou em Físi-ca e Matemática e cursou, por correspondência, a Faculda-de de Literatura do Institu-to de História, Filosofia e Li-teratura de Moscou. Quando foi à capital russa para prestar as provas da ins-tituição, viu eclodir a Segun-da Guerra Mundial. Logo se tornou soldado. Em 1942 virou tenente e comandou uma bateria da artilharia. Depois, já capitão, permane-ceu à frente dos combates até 1945, quando foi preso na Prússia Oriental, apenas al-gumas semanas antes do con-flito acabar. O motivo da pri-são foi uma carta trocada com um amigo e intercepta-

da pela censura. Na corres-pondência, os jovens oficiais chamavam Stálin de “padri-nho”, uma referência à máfia e à figura cruel e bruta do líder russo.Aos 26 anos, Soljenítsin foi condenado a oito anos em campo de trabalho forçado, seguidos de exílio interno perpétuo.

Primeiros livrosDurante o tempo em que pas-sou no campo, Soljenítsin es-creveu sobre a juventude antes da guerra, as experi-ências do conflito, os contos dos colegas de regimento e o cotidiano cruel das prisões. Certa vez, ao ser pergunta-do sobre como se tornou es-critor, disse: “A coisa acon-teceu bem no fundo do meu ser, nos campos de trabalhos forçados”.Parte da pena ele cumpriu nas “charachka”, institutos de pesquisas patrocinados pelo governo e que usavam o trabalho de cientistas e in-telectuais presos para desen-volver equipamentos de rádio e de telecomunicações. Dessa experiência saiu o romance “O Primeiro Círculo”.Um ano antes de ser liberta-do, descobriu que tinha um tumor e foi operado no hos-pital do campo de trabalhos forçados. O câncer, no entan-to, já tinha se espalhado. Sol-jenítsin conseguiu autoriza-ção para que fosse levado a uma clínica do Uzbequistão, onde chegou em estado gra-víssimo, e ali recuperou-se. A proximidade da morte e a cura foram traduzidas na obra “O Pav i lhão dos Cancerosos”.No final da década de 1960, com o fim do regime de Ni-kita Khrushchev, o governo soviético endureceu e os exemplares de “Um dia na vida de Ivan Denísovitch”, escrito por Soljenítsin em 1962, foram retirados das bi-bliotecas. Em 1974, a censu-ra passou a valer para todos os seus livros.Àquela altura, no entanto, os romances já haviam sido lidos por milhões de russos e traduzidos e publicados em dezenas de países europeus e asiáti-cos. “Cartas, cente-nas delas. Novos pacotes continuam chegando da Nôvi Mir todos os dias. Uma explosão de cartas de toda a Rússia”, surpreen-dia-se o escritor

dissidente.Assim, Soljenítsin tornou-se o cronista e o confidente da tragédia popular russa. “E que contemplação elevada das vidas dos presos tenho. Uma perspectiva nunca antes alcançada. Biografias, casos, eventos, tudo isso as pessoas enviam para mim”, revelou.

a grande obraNão foi uma tarefa fácil tra-balhar sobre esse material extenso, espontâneo e desor-ganizado. O escritor nunca guardou as cartas recebidas em um único lugar. As principais partes da obra- prima “Arquipélago Gulag” também precisaram ser es-critas em um local secreto, que só foi revelado 25 anos depois. Soljenítsin trabalhou por dois invernos seguidos, entre 1965 e 1967, naquele que se tornaria o mais influente livro sobre os campos de tra-balho forçado (os gulags) da era Stálin.Nos primeiros anos de 1970, o escritor franco-russo Sasha Andreie, acompanhado de uma delegação da Unesco, articulou um esquema para tirar o livro da Rússia. Foram dias de tensão. Se a obra fosse descoberta na fronteira seria o fim para o livro, para o autor e para o portador.

O manuscrito chegou ao ex-terior com sucesso e Solje-nítsin comemorou: “Liberda-de! Leveza! Todo o mundo pode ser abarcado! Eu estou enclausurado? Eu sou um es-critor intimidado? Não! Meus caminhos são livres e por todos os lugares!”

NobelEm 1970, Soljenítsin recebeu o Prêmio Nobel de Literatu-ra “pela força moral com a qual deu continuidade à se-cular tradição da literatura russa”. “O prêmio caiu como um feliz balde d’água sobre a cabeça!”, festejava. Era algo contraditório. Comemorar o quê, se há cinco anos seu nome estava proibido de ser mencionado, seu arquivo pes-soal fora confiscado, suas obras não podiam ser publi-cadas na União Soviética e outros textos estavam fada-dos a um intransponível en-clausuramento? Somente o samizdat – a prática de có-pias e transcrições caseiras clandestinas de livros proi-bidos – absorvia a obra de Soljenítsin.O escritor temia ser barrado na volta da viagem a Esto-colmo, na Suécia, para a ce-rimônia de premiação. As au-toridades até desejavam desesperadamente livrar-se dele, mas não tiveram a co-ragem de destruir o autor aos olhos de um mundo que lia o Arquipélago.Em 1974, no entanto, Solje-nítsin foi acusado de “trai-ção à pátria” e preso, além de ter a cidadania revogada e ser extraditado.

Novos temposPassados 16 anos, muito mudou. “Arquipélago Gulag” foi publicado na Rússia, a acusação de traição foi revo-gada e Soljenítsin retornou ao país. Muitos documentos secretos do regime soviético foram abertos ao público, re-velando a verdade do perío-do, e a obra continua atual. Elizabeth Applebaum, auto-ra de um livro sobre a histó-ria dos gulags e ganhadora do Prêmio Pulitzer, ressalta: “Passados 15 anos desde a queda da URSS é impressio-nante constatar, quando re-lemos ‘Arquipélago Gulag’, quão poucas inconsistências tem o livro. Isso tudo consi-derando que o autor não tinha acesso aos arquivos nem aos documentos oficiais. É graças à veracidade que a obra não perdeu sua atuali-dade e a sua importância”.

o cronista russo do século 20

NatáLIa soLjeNítsINa eSpecIal para roSSIySkaya Gazeta

aleksandr Issáevitch Soljenít-sin (1918–2008) foi um dos maiores escritores e ativistas da rússia no século 20. Sua obra-prima, “arquipélago Gu-lag”, foi escrita sob constante ameaça de prisão, viajando pela então União Soviética e conversando com sobreviven-tes dos campos de trabalho forçado. No Brasil, uma versão resumida da obra foi publica-da nos anos 1970 por duas editoras diferentes – a Difel e o círculo do livro. Depois dis-so, poucos livros do autor saí-ram no país. Na rússia, a obra completa, em três volumes, teve sua publicação tardia apenas na década de 1990. para torná-lo mais acessível, a viúva do escritor, Natália Sol-jenítsina, compilou uma ver-são resumida da obra, publi-cada em outubro e incluída na lista de literatura russa do sé-culo 20, obrigatória nas esco-las secundárias do país.

Você reduziu o livro a quase um quinto do tamanho origi-nal. o que ficou de fora?Acho que mantive todas as linhas narrativas, apesar de sacrificar grande quantida-de de detalhes. Eliminei partes que descrevem o curso das repressões da dé-

cada de 1930 e foi necessá-rio sacrificar muitos episó-dios, mas tentei escolher histórias de vida que per-mitem ver um panorama. Acho que consegui manter a linha narrativa e não en-xugar demais o romance.

Qual a lição mais importante para os estudantes que irão ler o livro?Arquipélago Gulag não é um romance didático, não é um sermão. Mas tenho a impres-são de que, após sua leitu-ra, todos podem entender quão horríveis são as déca-das de atraso com que as in-justiças e maldades em nosso país são descobertas e discutidas.

É verdade que soljenítsin lia capítulos de arquipélago para os filhos dormirem?Claro que não! Isso é mais uma das lendas sobre a vida de Aleksandr Issáevitch. Nunca lemos Arquipélago para nossos filhos, nem de dia, nem de noite. Quando cresceram, cada qual leu os livros do pai a seu modo. Ignat, por exemplo, conhe-ceu o Arquipélago bem cedo, aos 11 anos. Sei que já releu o livro diversas vezes.

Fazendo a nova versão, você se sentiu mais como autora ou editora literária?O trabalho não foi uma edi-ção, mas uma alteração do texto. Um trabalho feliz e amargo ao mesmo tempo, pois dava pena cortar todas as linhas. Imagine um qua-dro à óleo que você tem de reproduzir com meios mais econômicos. Senti-me como uma aprendiz de pintor que carregasse a tarefa de re-

produzir um grande quadro à óleo usando somente um pedaço de carvão.

Por que a versão resumida de-morou tanto a ser publicada na rússia, apesar de já haver edi-ções semelhantes nos eua?Há 25 anos, Aleksandr Is-sáevitch aceitou, relutante-mente, editar uma versão resumida de Arquipélago para estudantes norte-ame-ricanos. Naquela época, tal-vez com certa arrogância,

imaginávamos que os ame-ricanos teriam dificuldade de aguentar os três volumes da obra. Tínhamos certeza de que um resumo não seria necessário na Rússia quan-do o país fosse livre e o livro fosse publicado. Passaram-se 20 anos e Gulag foi pu-blicado. Mas a vida mudou tanto que as pessoas não têm tempo. Ficou claro aqui, do mesmo jeito, que não só crianças, mas muitos adul-tos também, não conseguem ler todo o Arquipélago.

se uma versão resumida foi feita pelo próprio soljenítsin, por que não a usaram?Esperava poder fazê-lo, mas, quando comecei a trabalhar, já no primeiro capítulo, tive certeza de que essa aborda-gem não seria possível. O ce-nário é outro. Algumas par-tes foram suprimidas da versão norte-americana por não precisarem de comen-tários extensos, desnecessá-rios para nossas crianças, onde uma memória coletiva permite entender certas pas-sagens. Ao contrário, algo que seria especialmente in-teressante para os estran-geiros podia ser suprimido sem muitos problemas em

arquipélago Gulag para para principiantes

Natália soljenítsina, viúva do autor, descreve o trabalho co-mo a reprodução de um quadro a óleo usando apenas carvão

Entrevista atatiana shebáieva

e maria agranovitch

uma versão para os russos. Assim, tive de refazer todo o trabalho.

a nova edição apresenta uma fotografia inédita do autor, na qual soljenítsin, vestindo uma telogreika (o uniforme de inverno do exército Verme-

lho) com numeração de preso, é revistado em um posto de controle. Qual é a história da foto? Ela foi tirada nos primeiros dias do exílio interno, já de-pois de ter cumprido pena no campo de trabalhos for-çados. Os números são ver-

dadeiros, temos até hoje e guardamos como tesouro. Aleksandr Issáevitch os trou-xe do campo de trabalhos forçados, costurados dentro do uniforme. Seus compa-nheiros de prisão fizeram o mesmo. Chegando ao desti-no, ainda nos primeiros dias, eles costuraram aqueles nú-meros nas roupas novamen-te, do jeito que andavam quando presos, e tiraram fo-tografias um do outro. O dono da câmera era Nikolai Ivánovitch Zubov. Ele e sua esposa, também exilados in-ternos, viraram grandes ami-gos de Aleksandr Issáevitch, apesar de ele ser bem mais novo. O casal Zubov é des-crito com muito amor no Ar-quipélago, também retrata-do sob o nome Kádmin na novela O Pavilhão dos Cancerosos.

o material final recebeu mui-tos comentários?Todos sentiam falta de algo que foi suprimido e cada qual tentou me convencer a rea-valiar alguma parte especí-fica. Eu ouvia com muita atenção todos os comentários e, quando possível, incluía algo de volta ao texto – cor-tando outras partes, para não aumentar o volume geral. Terminei por elaborar um pequeno dicionário dos nomes mais importantes, o que não existia no Arquipélago original.

Nova edição tem quase um quinto do número de páginas do original, mas manteve a essência

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Page 7: Gazeta Russa

07Opinião

expedientepresidente de conselho: aleksandr gorbenko;diretor-Geral: pavel negoitsa; editor chefe: vladislav Fronin endereÇo da sede: av. pravdY, 24, bloCo 4, 12º-andar, MosCoU, rÚssia - 125993 WWW.rbtH.rU e-mail: [email protected] tel.: +7 (495) 775 3114 faX: +7 (495) 775 3114editor-chefe: evgUeni abov; editor-eXecutivo: pavel golUb;

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escreva para a redação da

Gazeta russa em moscou:

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o ano de 2011 marca o vigésimo aniver-sário do fim da União Soviética e

do Estado leninista. É impor-tante, contudo, começar nos-sas memórias evidenciando o que seria o 80º aniversário de Boris Nikoláievitch Iélt-sin, o personagem principal daquele momento em 1991, e que morreu em 2007.Felizmente o colapso da União Soviética foi presidi-do por dois homens de inte-ligência e ponderação. Ape-sar de todas as críticas severas que receberam no próprio país, Boris Iéltsin e Mikhail Gorbatchov serão lembrados no longo curso da história como líderes positi-vos, porém limitados.Gorbatchov reconheceu a inutilidade da Guerra Fria e deu um fim a ela com o ob-jetivo de revigorar o sistema soviético – iniciativa que aca-bou falhando. Iéltsin reco-nheceu o fracasso do sistema soviético e tentou ajudar a exterminá-lo para que as na-ções do Ocidente aceitassem a Rússia como uma delas – o que também não saiu como esperado. Embora forças maiores tenham determina-do os resultados da Guerra Fria e da União Soviética, grandes talentos políticos lo-cais foram necessários para

tornado. Com seu carisma, impetuosidade e sorte, ele triunfou, primeiro em Mos-cou e depois como líder da Federação Russa. Iéltsin foi extremamente feliz na esco-lha do momento e dos per-sonagens que frustraram o golpe de agosto de 1991.Ele sempre tomou as crises como fontes de inspiração, mas faltava-lhe acompanha-

mento e vigor para materia-lizar as reformas necessárias. Mesmo após ter seu manda-to renovado no referendo de abril de 1993, Iéltsin não con-seguiu promover uma refor-ma institucional. Em setem-bro do mesmo ano, recorreu a métodos ilegais para dis-solver o legislativo, gerando um conflito que o levou a uma vitória violenta, mas também

acarretou prejuízos irrepa-ráveis, no dia 4 de outubro daquele ano. O episódio re-presentou um terrível retro-cesso para o estado de direi-to em um país que necessitava de segurança jurídica. Aque-le Iéltsin tinha perdido a noção das necessidades eco-nômicas, e o medo da popu-lação russa ficou explícito nas eleições de dezembro de 1993,

IÉLTSIn acredITou no povo ruSSoquando seu partido foi der-rotado. Embora tenha acei-tado o resultado eleitoral, nunca aprendeu a trabalhar c o m u m p a r l a m e n t o indisciplinado.Todo grande líder erra, mas Iéltsin cometeu duas falhas graves que comprometeriam seu registro na história.Em 1994, a Rússia enfrenta-va um verdadeiro problema de ordem pública no Cáuca-so do Norte, porém declarar guerra contra o povo tche-tcheno foi um grave erro de julgamento e falta de huma-nidade, que cheirava a res-quícios de governo soviético. A guerra na Tchetchênia se tornou o instrumento perfei-to para difundir a russofo-bia na Europa e na América – era de fabricação russa.Seu segundo erro se deu quan-do concorreu ao segundo man-dato presidencial. Infelizmen-te, Iéltsin foi facilmente convencido, por meio de uma mensagem comunicada com urgência diretamente de Wa-shington, de que somente ele poderia impedir que os comu-nistas retornassem ao poder. Havia diversas opções de go-vernantes além de Iéltsin. Ne-nhum deles era ideal e a maio-ria era pouco conhecida no Ocidente, mas qualquer um deles poderia ter vencido e feito um trabalho melhor que o dele. Os anos seguintes no seu gabinete se alternaram entre o fracasso e a farsa.Considerando sua trajetória confusa, por que alguém de-

veria olhar para trás com res-peito para o governo de Boris Iéltsin? Acima de tudo, por-que ele representou a antíte-se de um Slobodan Milose-vic – o sanguinário presidente da ex-Ioguslávia. Nós todos fomos beneficiados pela atu-ação de Iéltsin durante os meses críticos de 1991-92. Além disso, devemos lembrar Iéltsin pela visão que tinha mas nunca conseguiu prati-car. Até certo ponto, ele foi um líder russo que não teve medo da população. Acredi-tava que se o povo russo ti-vesse mais poder político e econômico, tudo correria bem. Só não fazia ideia de como alcançar isso.Ele não queria mobilizar, doutrinar, disciplinar ou con-trolar a população, mas ca-pacitá-la. Fracassou. Iéltsin não pôde realizar essa visão em parte porque a tarefa era imensa e em parte porque poucos indivíduos das supos-tas forças democráticas rus-sas compartilhavam dela. É absolutamente verdadeiro que toda carreira política acaba em fracasso. A de Iélt-sin foi assim. Mas quanto tempo será necessário para que a Rússia gere novamen-te um líder nacional que acre-dite que a seu povo deve ser dado poder no lugar de doutrinas?

Wayne Merrydiplomata

americano

Wayne Merry foi redator de política da Embaixada dos Estados Unidos em Moscou entre 1991 e 1994.

Olaf Koens é um jornalista holandês baseado em Moscou e freelancer para diversos veículos de comunicação.

Olaf Koensespecial para GaZeta russa

TerrorISMo, BravaTaS e corrupção

os líderes russos se comprometeram mais uma vez a per-seguir e punir os

terroristas responsáveis por um atentado. Desta vez o per-petrado no aeroporto Domo-dêdovo, em Moscou, no final de janeiro. Ainda assim, é di-fícil sentir-se seguro, pois o problema real continua ignorado. Depois do atentado, o presi-dente russo Dmítri Medvedev pediu para as autoridades “trazerem os culpados à jus-tiça e destruírem suas orga-nizações”. Após os incidentes com bombas no metrô de Mos-cou no ano passado, Medve-dev se comprometeu a “con-tinuar as operações antiter-roristas sem hesitar e até o final”. O presidente tenta imi-tar o tom severo de seu men-tor, o primeiro-ministro Vla-dímir Pútin, que prometeu, em 1999, “limpar os terroris-tas de suas privadas” e afir-

mou ser “uma questão de honra para o serviço de segu-rança arrastar os terroristas do fundo dos esgotos para a luz de Deus”. As declarações provocaram repercussão. Depois do atentado no aero-porto, a polícia de Moscou anunciou medidas adicionais

de segurança. Na verdade, quase nenhuma mudança aconteceu. Pouco tempo após o ataque, com receio de per-derem seus voos, os passa-geiros do Domodêdovo sim-plesmente rodeavam os dis-positivos de rastreamento. Os detectores de metal localiza-dos na entrada do aeropor-to, por sua vez, não funcio-nam há quase 6 meses.No fim das contas, a segu-

o presidente Dmítri Medvedev anunciou planos para retirar o Estado de suas va-

riadas participações na mídia. Embora os entendidos no as-sunto já possam prever o be-nefício da venda massiva das empresas de mídia, seria in-teressante, em primeiro lugar, questionar se todas essas companhias têm, de fato, algum valor comercial. A re-vista Newsweek, por exem-plo, foi vendida por apenas US$1 no ano passado. Pela minha experiência, é raro encontrar uma empresa nati-va de mídia que seja lucrati-va. Geralmente, um negócio com número insuficiente de

telespectadores e recursos ge-rados pela publicidade vende propaganda disfarçada de no-tícia para compensar o déficit na receita. Quem vai querer se associar a um tipo de ne-gócio tão corrupto?Arkádi Dvorkovitch, conse-lheiro econômico do presi-dente Dmítri Medvedev, disse que gostaria de manter a compra das empresas de mídia fora das mãos de “in-vestidores desonestos”. É um conceito interessante. O ob-jetivo de uma empresa co-mercial é a geração de lucro. Partindo desse princípio, qual é o valor de uma com-panhia que gera apenas prejuízo?A revista Newsweek foi co-locada à venda pela The Wa-shington Post Company por-que a publicação estava incorrendo em prejuízo.

parência absoluta de proprie-dade ou conhecer as alianças dos novos donos. Além disso, é difícil definir o que é um veículo de propriedade do go-verno. Afinal, mesmo que pelo registro o proprietário pare-ça ser uma empresa indepen-dente, o beneficiário pode ser um político ou uma entidade do Estado. Eliminar da sociedade os ca-nais de mídia picaretas é algo que o público tem ca-pacidade de fazer, porém é necessário que tenha como opção outros veículos de boa qualidade. É nesse aspecto que a administração deve focar. Devem-se criar con-dições para que canais de mídia realmente preocupa-dos com seus públicos pos-sam crescer e prosperar. A safra atual de fornecedores de autocensura e notícias de-

a dIfícIL LIBerTação da MídIa

sonestas serão colocados em seus devidos lugares – e marginalizados.Há um ótimo provérbio russo que caracteriza bem o plano original de vender os canais de mídia do governo: “cer-veja sem vodca é como di-nheiro jogado ao vento”. Tal-

vez o mesmo pudesse ser dito em relação a empresas que não geram lucro. Elas serão bem difíceis de vender.

William Dunkerley

the moscow times

William Dunkerley é analista e consultor de negócios de mí-dia especializado na Rússia e na antiga União Soviética.

Antes, porém, da negociação do ano passado, a Newswe-ek vinha fazendo um esfor-ço significativo para se reer-guer. Os dirigentes mudaram a composição do público, fi-zeram uma reformulação gráfica e editorial e até ten-taram aumentar a receita, mas acabaram cometendo graves erros de julgamento. No caso das dispendiosas em-presas de mídias controladas pelo governo russo, algumas circunstâncias dificultam esse processo. Em primeiro lugar, elas são muitas – mais do que a economia poderia sustentar como negócios le-gítimos. Além disso, os inte-grantes da mídia não costu-mam ter uma visão apurada de negócios. Por último, a cul-tura de corrupção já instau-rada seria uma instituição difícil de ser erradicada.

Além do mais, ainda paira no ar a seguinte dúvida: de-seja realmente o governo re-tirar sua atuação na mídia? Uns sugerem que os canais poderiam ser adquiridos por parceiros dos atuais proprie-tários políticos; outros, que a iniciativa é um meio para tomar o controle dos líderes regionais e colocá-los sob o poder vertical. Criar leis de “subsídios” para auxiliar essa “transição do governo para o privado” parece coe-rente com o suposto esque-ma de corrupção.Em entrevista televisionada em dezembro, Medvedev afir-mou que as decisões de im-prensa devem ser tomadas in-dependentemente de qualquer influência estatal, uma inicia-tiva louvável. Isso, porém, será muito difícil de acontecer. Não parece simples garantir trans-

políticos assumem suposta linha dura, mas ataques continuam quase todo dia no cáucaso

Gazeta RussaWWW.gazeTaRUssa.cOM.BR

rança durante o ataque foi pior do que nunca, segundo testemunhas. Os passageiros que chegavam ao aeroporto perambulavam pelos termi-nais. Nenhum setor da segu-rança tomou para si a res-ponsabilidade pelos procedi-mentos pouco rigorosos no local, embora ex-funcioná-rios tenham dito a jornalis-tas que o corte nos salários, em primeiro lugar, e depois de pessoal, comprometeram a realização de um rastrea-mento adequado.Classificar o ataque como um atentado terrorista “signifi-ca que alguém responsável pela segurança no Domo-dêdovo ou do Ministério de Serviço de Segurança Fede-ral vai ser despedido”, escre-veu Anna Nemtsova, corres-pondente da revista ameri-cana Newsweek. “Infeliz-mente parece que não aprenderam a lição. Ainda há pouca segurança nos lu-gares públicos”, completou. Incapazes ou não dispostos a encarar difíceis questões como, por exemplo, o que

ocorreu e por quê, os políti-cos assumem uma suposta linha dura, mas os ataques continuam.No próprio Cáucaso, que seria a base dos grupos apontados como responsáveis, eles acon-tecem quase diariamente, e a população muçulmana das problemáticas regiões de Da-guestão, Inguchétia e Tche-tchênia sabem muito bem o que significa a linha dura dos políticos russos. Corrupção e medo reinam no Cáucaso do Norte, onde o poder resi-de em um sistema complica-do de lealdades e afilhados políticos corruptos.Para acalmar a situação, Mos-cou envia navios de dinheiro que nunca vão ao encontro da população mais pobre, desa-parecendo nos bolsos dos ofi-ciais regionais. Enquanto mui-tos não conseguem comprar nem um carro popular, poli-ciais de tráfego no Daguestão patrulham em Porsches Cayenne. Os verdadeiros ter-roristas circulam livremente, e a população é quem paga o preço. As disparidades têm

causado aumento do apoio local ao terrorismo. Algumas horas depois dos ataques no aeroporto, já apareciam men-sagens de apoio em sites de extremistas russos. Por todo Cáucaso, as pessoas viravam a cara para o Kremlin. Entre os caucasianos há a crença de que os representantes da se-gurança federal sequer ten-tam caçar os verdadeiros ter-roristas, explodindo prédios “de forma simbólica”. Afinal, se os terroristas fossem en-contrados não haveria mais necessidade do envio de re-cursos de Moscou para finan-ciar essas operações.O economista e empresário Aleksandr Khlopónin talvez seja o homem mais solitário da Rússia. Indicado há quase um ano como enviado presi-dencial para o recém-criado Distrito Federal do Cáucaso do Norte, imediatamente após assumir a nova posição iniciou uma nova jornada na tentativa de melhorar a situ-ação da região, estimulando o desenvolvimento econômi-co e proporcionando alterna-

tivas a tudo que possa ser ofe-recido pelo fundamentalis-mo islâmico.No verão passado, Khlopó-nin anunciou uma série de projetos prioritários de de-senvolvimento econômico para combater conflitos ét-nicos e religiosos. Nos pla-

nos constam a construção de uma refinaria de petróleo na Tchetchênia e o desenvolvi-mento dos portos de Makha-tchkala e de Derbent, junta-mente com a criação de in-fraestrutura turística na re-gião. Porém, não é tão simples obter investimento, e em meio à retórica dos donos da guer-ra, oficiais do serviço de se-gurança, líderes militares e figuras políticas locais, a voz

de Khlopónin tem passado despercebida. “A iniciativa de promover emprego e de-senvolvimento econômico não parece estar funcionando”, disse Nemtsova, da Newswe-ek, no dia em que o ataque ocorreu. “Há muita frustra-ção entre os habitantes.”Depois do ocorrido, o presi-dente Medvedev postergou sua viagem para participar do Fórum Econômico Mun-dial, em Davos, na Suíça, onde discursaria sobre como a Rússia é um lugar seguro para investimentos – tendo em vista, particularmente, o estímulo de interesse estran-geiro no desenvolvimento de esportes de inverno no Cáu-caso do Norte. A Rússia ainda sonha que as montanhas do Cáucaso possam competir como destino turístico com os Alpes Suíços. A cada ata-que, entretanto, fica mais dis-tante de seu sonho.

que fosse mantida uma tran-sição de regime pacífica.Devido a sua experiência como chefe do partido comu-nista em Sverdlovsk, Iéltsin entendeu o sistema soviético por dentro como poucos. No entanto, como muitos de seus colegas, somente depois de descobrir o mundo real, no exterior, ele percebeu o fra-casso que seu país tinha se

corrupção e medo reinam no cáucaso do norte, região dominada por afilhados políticos

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08 GAZETA RUSSAWWW.GAZETARUSSA.COM.BREm Foco

CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS

INDÚSTRIA DA CARNEDE 15 A 18 DE MARÇO, CENTRO DE EXIBIÇÕES VSEROSSIYSKIY, MOSCOUPara especialistas da indústria de carne e derivados, a exibi-ção dispõe de equipamento completo para processamento, empacotamento, transporte e venda de produtos semi-pron-tos e prontos, incluindo certifi-cação e estocagem.› www.vvcentre.ru

SAPATOS E COURODE 28 A 31 DE MARÇO, EXPOCENTR, MOSCOUA feira é a mais antiga do se-tor de sapatos e curtume na Rússia e nos países da CEI (Comunidade dos Estados In-dependentes), e apresenta coleções atualizadas dos fabri-cantes. Uma boa oportunidade para estabelecer contatos com revendedores e representantes na região.› www.expocentr.ru

JÓIAS E ACESSÓRIOSDE 21 A 24 DE MARÇO, COMPLEXO DE EXIBIÇÕES MANEJ, MOSCOURealizada duas vezes por ano, a feira tem por objetivo colo-car em contato fabricantes e compradores, distribuidores, fornecedores e consumidores.› www.gifts-expo.com

ALEKSANDR RÓDTCHENKOATÉ 1º DE MAIO, 3ª A DOM., DAS 10H ÀS 17H30, PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULOA exposição traz quase 300 obras, entre fotos, monta-gens e parte da produção gráfica do artista (capas de livros, revistas e cartazes). Organizada pela Moscow House of Photography.

www.pinacoteca.org.br ›

ESPERANDO MOSCOUATÉ 6 DE MARÇO, SÁB. ÀS 21H30 E DOM. ÀS 18H, TEATRO INDAC, SÃO PAULOA peça de Renato Andra-de é baseada no clássico de Antón Tchekhov “As Três Ir-mãs”. Drama sobre o pâni-co do sentido de sobreviver e a espera por um amanhã obscuro e carente de pers-pectivas.

www.indac.com.br/teatro ›

O CONCERTOCINEMAS PÁTIO HIGIENÓPOLIS (12H35) E RESERVA CULTURAL (13H), SÃO PAULOUm renomado maestro da orquestra Bolshoi, Andrei Fi-lipov é demitido por contra-tar músicos judeus e decide reunir seus colegas e orga-nizar um grande concerto em Paris.

www.reservacultural.com.br ›www.cinemark.com.br ›

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Se você deseja ganhar o res-peito de uma família russa, deve aprender como fazer blini (panquecas) – e bem. Principalmente neste perío-do do ano. Costumo me es-quivar dessa responsabilida-de, mas neste ano prometi a mim mesma que me torna-ria uma mestra na arte das panquecas russas a tempo da festa pagã Maslenitsa.Arregacei as mangas e mer-gulhei em livros de receitas do século 19. Interroguei se-nhoras na feira e cheguei até ao ponto de ligar para minha sogra.A festa pode ser resumida como uma semana de come-moração, panquecas e brigas, que prenuncia o � m do in-verno, o início da quaresma e a promessa de primavera. Absorvida sem grande des-taque pelo calendário orto-doxo russo, a Maslenitsa é, na verdade, um ritual que persistiu ao tempo e que per-tence a uma antiga cultura pagã de veneração da natu-reza, de tradições agrárias e mais consciente da mudan-ça de estações.A Maslenitsa foi original-mente ligada ao equinócio de primavera, momento que marca o início da estação e se caracteriza pela passagem direta do sol pelo equador, fazendo com que noite e dia tenham a mesma duração. Dos quatro pontos extremos do calendário (os solstícios e equinócios), o equinócio de primavera era o mais vene-rado por sociedades antigas, já que anunciava o retorno do sol após o inverno.No mito popular russo, Iarí-lo e Morana (inspirados nos egípcios Ísis e Osíris), são ir-mãos e amantes que repre-sentam a vida e a morte, o

Folclore popular Redonda e amarela, iguaria é símbolo da festa pelo retorno da primavera

De origem pagã e adaptada à tradição cristã, festa também serve como um farto banquete antes da esquálida dieta da quaresma.

fogo e o gelo, e a primavera e o inverno. O romance deles chega a um ponto febril du-rante o solstício de verão, para depois se tornar um es-piral de traições no outono, e separação e morte no inverno.Possuída de raiva, Morana se transforma em uma bruxa terrível, espalhando morte e geadas. As lavouras se trans-formam em palha seca en-quanto Iarílo se retira para um mundo subterrâneo. Com o retorno da primave-ra, os � éis costumavam quei-mar uma estátua de palha com formato de Morana sobre um monte de neve para cha-mar Iarílo de volta à super-fície. Quando as chamas es-talavam e tomavam conta da estátua, os eslavos pagãos ce-lebravam o retorno da pri-mavera dançando, lutando e fartando-se de um grande banquete no qual as panque-cas, redondas e amarelas, re-presentavam o sol.Então os cristãos, sempre e� -cientes na reciclagem de fe-riados alheios, encontraram uma adaptação constrange-dora para a Maslenitsa na leitura litúrgica da Páscoa. Na Rússia agrária, a quares-ma serviu como uma descul-pa espiritual conveniente para seguir uma dieta espar-tana, já que proíbe o consu-mo de carne, queijo, óleo, ovos, álcool e manteiga, in-gredientes muito utilizados para dar sabor ao tradicio-nal mingau de aveia. Conveniente porque os qua-renta dias da quaresma coin-cidem com o período em que a quantidade de alimentos básicos que restava ao � nal do inverno era mínima.Nos dias de hoje, é claro que se pode comprar mangas ou carne em qualquer super-mercado durante o ano todo, mas a maioria dos russos ainda se orgulha de cum-prir “O Grande Jejum” como uma maneira de se agarrar a algum terreno moral su-perior e perder dez quilos

Panquecas anunciam chegada do sol

A Maslenitsa, festa pagã para celebrar o final do inverno e início da primavera, dura uma semana é recheada de comida, fogueiras e brincadeiras

JENNIFER EREMEEVAGAZETA RUSSA

Em seu empenho para mo-dernizar o Estado, o presi-dente russo Dmítri Medve-dev, já tendo escolhido a desestalinização do país como fundamental para esse processo, pretende introdu-zir mudanças essenciais no estatuto e na atividade do tchinovnik (funcionário pú-blico, burocrata), por enten-der que “o tchinovnik é um servidor do povo e não o se-nhor do seu destino”. Trata-se de uma iniciativa impor-tante, pois a Rússia precisa eliminar os entraves buro-cráticos para dinamizar sua economia e a morosidade da burocracia é um empecilho a essa dinamização.Os tchinóvniki formam uma categoria ou casta pratica-mente tão antiga quanto o Estado russo e, apesar de haver em seu meio muita gente digna e abnegada, sua

Burocratas Servidores são os alvos preferidos das sátiras

Um dos maiores tradutores de literatura russa no Brasil na atualidade, Paulo Bezerra analisa a figura do funcionário público na Rússia.

imagem na história do país é bastante negativa e sempre foi o objeto preferido da sá-tira literária. A palavra tchinovnik deriva de tchin, que signi� ca ordem instituída, patente militar, grau, classe funcional, etc. Antes de Pedro, o Grande, os tchinovniki eram nomeados pelo critério de sangue e li-nhagem, a vida do Estado não era subordinada a regras e à observância de proporções geométricas e relações line-ares. Ao estruturar o Esta-do, Pedro criava a nobreza como classe para dirigi-lo.

Com este � m, instituiu em 1722 a Tabel’ o rangakh (ou “Escala hierárquica”), que criava dezoito categorias fun-cionais para militares e civis, sendo as sete primeiras ex-clusivas dos nobres. A partir da oitava classe, pessoas sem linhagem nobre podiam exer-cer o serviço público na clas-se de assessor de colegiado, o qual recebia também a pa-tente de major e o direito de pleitear sua inclusão na clas-se da nobreza. Essa mistura de patente mi-litar com classe funcional dava ao Estado russo uma

característica burocrática muito peculiar por misturar burocracia militar com bu-rocracia civil, instituindo o uso de uniforme-farda para o tchinovnik. O leitor que desconheça esse fato jamais entenderá por que o deten-tor do mais alto cargo na hie-rarquia burocrática do ser-viço público russo tinha a patente de general se seu cargo era civil. Tal mistura também se deve ao prestígio de que a farda e o exército gozavam na socie-dade russa. Como os tsares eram militares e viam no

A imagem do tchinovnik na vida russa

PAULO BEZERRAESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Como preparar os “blini” russosIngredientes:• 250g de farinha de trigo;• 7g de levedura seca (que se autofermenta);• 7g de açúcar; • 5g de sal;• 3 ovos (gemas separadas);• 250ml de leite;• 150ml de nata/coalhada;• 100g de manteiga clarificada derretida (própria para cozinhar)

Modo de preparo:1. Em uma tigela grande, junte a farinha com os demais ingre-dientes secos. Adicione leite, a nata e as gemas, e misture até formar uma massa consisten-te e lisa. 2. Cubra a tigela com filme plás-tico e espere até que pequenas bolhas se formem na superfície da mistura. Isso deve levar cerca de meia hora. 3. Bata as claras até que atinjam uma consistência semelhante à

da massa e, em seguida, mistu-re tudo.4. Pré-aqueça o grill ou uma fri-gideira (temperatura média) e delicadamente espalhe a man-teiga sobre toda superfície. Co-loque mais ou menos 3 colheres de massa na panela, certifican-do-se de que a massa se espa-lhe uniformemente.5. Deixe a massa fritar até que a parte superior fique dourada e crocante e seu miolo pareça se-co. Vire-a. Cozinhe por cerca de

Rigoroso inverno russo termina com verdadeiro banquete

Burocracia remete ao ditado brasileiro: “É na hora da confusão que o malandro mete a mão”

exército o ideal de organiza-ção, a ordenação do serviço público a partir da Tabel’ o rangakh decorreu, segundo o criador da culturologia Iuri Lotman, da natureza de um poder que se espelhava na es-trutura do exército. Daí sua psicologia de casta, seu ar-raigado corporativismo, seu autoritarismo, em suma, sua existência às vezes quase im-permeável a um controle por parte do próprio Estado. Na consciência social russa, o tchinovnik sempre esteve associado ao uso de in� nitos pormenores e formalidades para protelar e tornar extre-mamente confusos os proces-sos judiciais e administrati-vos e assim abrir espaço para a propina, a concussão. Pa-rece aquele ditado brasilei-ro: “é na hora da confusão que o malandro mete a mão”. É claro que há exceções, mas a força da imagem negativa que � cou na história parece apagá-las. Quase três séculos se passa-ram desde a instituição da Tabel’ o rangakh. Muita coisa mudou no mundo e sobretu-do na Rússia. Mas a tradição burocrático-militar deixou marcas indeléveis na histó-ria russa, e até o socialismo, cujos ideais democráticos nortearam seus fundadores, acabou degenerando num “socialismo” burocrático de caserna. Torçamos para que Medvedev consiga mudar essa tradição.

em menos de dois meses.Ambos os objetivos podem ser facilmente atingidos se alguém estiver vivendo à base de mingau de trigo e sopa de repolho. O próprio nome Maslenitsa contém a palavra “maslo”, que signi� ca man-teiga ou óleo – embora alguns estudiosos argumentem que é uma versão mais antiga de

“miasnoi post’”, que signi� -ca “jejum sem carne”.Seja qual for a explicação, a Maslenitsa é a hora certa para se esbaldar em mantei-ga, queijo e creme de leite. É uma celebração geral do povo pelo retorno da luz e do calor e a última gota de diversão e gordura antes do início da quaresma.

um minuto ou até que doure no-vamente, e depois tire do fogo. Empilhe um blin sobre o outro, pincelando-os com manteiga.

Modo de servir:Na Rússia, o jeito mais popu-lar de se comer blini é com ca-viar vermelho (existem redes de fast-food que vendem a iguaria em cada esquina), mas também pode-se degustá-los com creme de leite azedo, salmão, manteiga ou geleia.

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