Fundamentos de Conformação

52
9 - FUNDAMENTOS DA CONFORMAÇÃO PLÁSTICA DOS METAIS A conformação plástica de metais inclui um grande grupo de processos de fabricação nos quais a deformação plástica é usada para mudar a forma do metal. Nesses processos, um componente inicialmente simples (por exemplo, um lingote, um tarugo ou uma chapa metálica) é plasticamente deformado entre as ferramentas (matriz ou estampo) para a obtenção da configuração final desejada. Portanto, um componente de geometria simples é transformado num componente de geometria complexo, em que as ferramentas guardam a geometria desejada e aplicam pressão ao material em deformação através da interface ferramenta/material. Durante processamento por conformação ocorre pouca ou nenhuma sobra de material e o produto final é obtido num curto intervalo de tempo através de um ou vários passes de conformação. Como resultado final, a conformação de metais apresenta um potencial para economia de energia e material, especialmente em médios e grandes lotes, em que o custo de ferramental pode ser facilmente amortizado. Além disso, para um dado peso, componentes produzidos por conformação exibem melhores propriedades mecânicas, metalúrgicas e confiabilidade do que aqueles produzidos por fundição ou usinagem. Os fenômenos físicos que descrevem uma operação de conformação são de difícil expressão através de relações quantitativas. O fluxo metálico, o atrito na interface ferramenta/peça, a geração e transferência de calor durante o fluxo plástico do metal e o seu relacionamento com a microestrutura, as propriedades e as condições do processo são difíceis de prever e analisar. Frequentemente, quando se produzem componentes discretos, várias operações intermediárias de conformação (pré-conformação) são necessárias para transformar a geometria inicial simples numa geometria final complexa, sem causar danos ao material ou prejudicar suas propriedades. Consequentemente, o principal objetivo de qualquer método de análise é auxiliar o engenheiro de conformação no projeto de conformação e/ou sequência de pré-formas. Para uma dada operação de conformação (pré-conformação ou conformação final), o projeto essencialmente consiste em: (a) estabelecer as relações cinemáticas (forma, velocidades, taxas de deformações, deformações) entre a parte deformada e a parte não deformada, isto é, prever o fluxo de metal; (b) estabelecer o limite de conformabilidade, ou seja, determinar se é ou não possível à conformação sem rupturas internas ou superficiais do material; e (c) prever as forças e tensões necessárias para efetuar a operação de conformação a fim de que o ferramental ou equipamento possa ser projetado ou selecionado. As tensões aplicadas para deformar plasticamente um metal são, normalmente, compressivas. Entretanto, em alguns processos de conformação, o metal é dobrado, cisalhado ou estirado (tracionado). Para se obter êxito na conformação, o metal deve possuir certas propriedades. Propriedades desejáveis normalmente incluem baixa tensão de escoamento e alta ductilidade. Estas propriedades são afetadas pela temperatura. Comumente, a ductilidade aumenta e a tensão de escoamento reduz quando a temperatura de trabalho cresce. A taxa de deformação, o atrito e a trajetória de deformação são fatores adicionais que afetam o desempenho durante processamento por conformação. Discutiremos todos esses assuntos neste capítulo, que se inicia com uma visão geral dos processos de conformação mecânica. 9.1 - VISÃO GERAL DOS PROCESSOS DE CONFORMAÇÃO MECÂNICA Os processos de conformação de metais podem ser classificados como (1) processos de conformação maciça ou (2) processos de conformação de chapas. Estas duas categorias são detalhadas nos Capítulos 10 e 11, respectivamente. A seguir, são definidos estes processos, de forma a estabelecer uma base de referência para o capítulo atual. 9.1.1 - Processos de Conformação maciça Os processos de conformação maciça são, geralmente, caracterizados por significativas deformações e mudanças de forma, e a relação superfície/volume para a peça trabalhada é relativamente pequena. Sendo assim, o termo conformação maciça se aplica à conformação de peças com baixa relação

description

Conformação mecanica

Transcript of Fundamentos de Conformação

  • 9 - FUNDAMENTOS DA CONFORMAO PLSTICA DOS METAIS

    A conformao plstica de metais inclui um grande grupo de processos de fabricao nos quais a

    deformao plstica usada para mudar a forma do metal. Nesses processos, um componente

    inicialmente simples (por exemplo, um lingote, um tarugo ou uma chapa metlica) plasticamente

    deformado entre as ferramentas (matriz ou estampo) para a obteno da configurao final desejada.

    Portanto, um componente de geometria simples transformado num componente de geometria complexo,

    em que as ferramentas guardam a geometria desejada e aplicam presso ao material em deformao

    atravs da interface ferramenta/material. Durante processamento por conformao ocorre pouca ou

    nenhuma sobra de material e o produto final obtido num curto intervalo de tempo atravs de um ou

    vrios passes de conformao. Como resultado final, a conformao de metais apresenta um potencial

    para economia de energia e material, especialmente em mdios e grandes lotes, em que o custo de

    ferramental pode ser facilmente amortizado. Alm disso, para um dado peso, componentes produzidos

    por conformao exibem melhores propriedades mecnicas, metalrgicas e confiabilidade do que aqueles

    produzidos por fundio ou usinagem.

    Os fenmenos fsicos que descrevem uma operao de conformao so de difcil expresso

    atravs de relaes quantitativas. O fluxo metlico, o atrito na interface ferramenta/pea, a gerao e

    transferncia de calor durante o fluxo plstico do metal e o seu relacionamento com a microestrutura, as

    propriedades e as condies do processo so difceis de prever e analisar. Frequentemente, quando se

    produzem componentes discretos, vrias operaes intermedirias de conformao (pr-conformao)

    so necessrias para transformar a geometria inicial simples numa geometria final complexa, sem causar

    danos ao material ou prejudicar suas propriedades. Consequentemente, o principal objetivo de qualquer

    mtodo de anlise auxiliar o engenheiro de conformao no projeto de conformao e/ou sequncia de

    pr-formas. Para uma dada operao de conformao (pr-conformao ou conformao final), o projeto

    essencialmente consiste em: (a) estabelecer as relaes cinemticas (forma, velocidades, taxas de

    deformaes, deformaes) entre a parte deformada e a parte no deformada, isto , prever o fluxo de

    metal; (b) estabelecer o limite de conformabilidade, ou seja, determinar se ou no possvel

    conformao sem rupturas internas ou superficiais do material; e (c) prever as foras e tenses

    necessrias para efetuar a operao de conformao a fim de que o ferramental ou equipamento possa ser

    projetado ou selecionado.

    As tenses aplicadas para deformar plasticamente um metal so, normalmente, compressivas.

    Entretanto, em alguns processos de conformao, o metal dobrado, cisalhado ou estirado (tracionado).

    Para se obter xito na conformao, o metal deve possuir certas propriedades. Propriedades desejveis

    normalmente incluem baixa tenso de escoamento e alta ductilidade. Estas propriedades so afetadas pela

    temperatura. Comumente, a ductilidade aumenta e a tenso de escoamento reduz quando a temperatura

    de trabalho cresce. A taxa de deformao, o atrito e a trajetria de deformao so fatores adicionais que

    afetam o desempenho durante processamento por conformao. Discutiremos todos esses assuntos neste

    captulo, que se inicia com uma viso geral dos processos de conformao mecnica.

    9.1 - VISO GERAL DOS PROCESSOS DE CONFORMAO MECNICA

    Os processos de conformao de metais podem ser classificados como (1) processos de

    conformao macia ou (2) processos de conformao de chapas. Estas duas categorias so detalhadas

    nos Captulos 10 e 11, respectivamente. A seguir, so definidos estes processos, de forma a estabelecer

    uma base de referncia para o captulo atual.

    9.1.1 - Processos de Conformao macia

    Os processos de conformao macia so, geralmente, caracterizados por significativas

    deformaes e mudanas de forma, e a relao superfcie/volume para a pea trabalhada relativamente

    pequena. Sendo assim, o termo conformao macia se aplica conformao de peas com baixa relao

  • superfcie/volume. Entre os produtos primrios obtidos por este tipo de conformao incluem tarugos

    cilndricos e barras retangulares. As operaes bsicas de conformao macia, ilustradas na Figura 9.1,

    so as seguintes:

    Laminao - um processo compressivo de deformao no qual a espessura de uma placa ou chapa metlica reduzida por duas ferramentas cilndricas opostas chamadas cilindros

    (rolos) de laminao. Os cilindros giram e fora a passagem do metal pela abertura entre eles,

    ocasio na qual ocorre a compresso e consequente deformao do metal.

    Forjamento - No forjamento, uma pea comprimida entre duas matrizes opostas, de maneira que a geometria dessas matrizes seja estampada no metal. O forjamento

    tradicionalmente um processo de trabalho a quente, entretanto, existem operaes realizadas

    a frio.

    Extruso - Este um processo compressivo de conformao no qual o metal forado a fluir atravs do orifcio de uma matriz. Desta forma, o produto da conformao adquire uma seo

    transversal idntica abertura da matriz.

    Trefilao - Neste processo, um arame, tubo ou barra tem seu dimetro reduzido ao ser tracionado e forado a escoar atravs do orifcio de uma matriz cnica, denominada fieira.

    Figura 9.1 - Processos bsicos de conformao macia: (a) laminao (b) forjamento, (c) extruso e (d)

    trefilao. F a carga aplicada e v indica o movimento relativo durante as operaes.

    9.1.2 - Processos de Conformao de Chapas

  • So operaes de conformao realizadas em chapas ou tiras metlicas. Nos processos de

    conformao de chapas, a relao rea/volume para o metal inicial alta, critrio que os distingue dos

    processos de conformao macia. Trabalho em prensa frequentemente o termo aplicado para

    operaes de conformao de chapas porque as mquinas que normalmente executam estas operaes

    so prensas (prensas de vrios tipos tambm so usadas em outros processos de fabricao). A pea

    produzida por um processo de conformao de chapas frequentemente denominada estampo.

    As operaes de conformao de chapas so geralmente executadas a frio e so realizadas usando

    um jogo de ferramentas chamado puno/matriz. O puno a poro macho e a matriz a poro fmea

    do jogo de ferramentas. As operaes bsicas de conformao de chapas so mostradas na Figura 9.2 e

    so definidas como segue:

    Figura 9.2 - Operaes bsicas de conformao de chapas: (a) dobramento, (b) estampagem e (c)

    cisalhamento: (1) antes do corte (2) aps o corte. A fora e o movimento relativos nestas

    operaes so indicados por F e v, respectivamente.

    Dobramento. Envolve aplicao de esforos em duas direes opostas para provocar a flexo e a deformao plstica consequente, mudando a forma de uma superfcie plana para

    duas superfcies concorrentes, em ngulo, e formando um raio de concordncia na juno.

    Estampagem. A estampagem se refere conformao de uma chapa metlica plana em uma matriz furada ou cncava, tal como um copo, atravs do estiramento e/ou embutimento da

    chapa. Um prensa chapas (tambm chamado de sujeitador ou anti-rugas) usado para fixar o

    blank (denominao do esboo da chapa a ser estampada) na matriz, enquanto o puno

  • arrasta este esboo para dentro da cavidade da matriz. Aps a operao, o esboo adquire

    um formato determinado pela geometria do puno, como mostrado na Figura 9.2(b).

    Cisalhamento. Este processo se desvia um pouco de nossos objetivos porque no envolve deformao plstica propriamente dita. Numa operao de cisalhamento, o corte da chapa

    realizado atravs de um par puno/matriz, como mostrado na Figura 9.2(c). Embora no

    seja um processo de conformao plstica, includa aqui por se tratar de uma operao

    necessria maior parte dos processos de conformao de chapas e por ser muito comum

    industrialmente.

    Visto que conformao mecnica envolve deformao, anlise de processos de conformao

    mecnica envolve tenso e deformao. Nas sees seguintes sero analisados os fundamentos

    mecnicos e metalrgicos essenciais ao estudo da deformao plstica das ligas metlicas, bem como as

    relaes essenciais que sero utilizadas para analisar os processos de conformao.

    9.2 - TENSO

    Usualmente, tenso definida considerando o estado de tenses num ponto, conforme mostrado na

    figura 9.3. A fora F atua sobre uma rea A em torno de um ponto P. Quando a rea A0 reduz a fora em componentes que so normal e tangencial A Consequentemente, as componentes normal e tangencial do estado de tenso so definidas como:

    A

    Fn

    e

    A

    Ft

    (9.1)

    Visto que essas tenses dependem tanto da fora quanto da rea, a tenso em si uma grandeza

    escalar e no vetorial. A figura 9.4 ilustra este ponto de vista.

    Figura 9.3 - rea elementar mostrando a fora total (a) e as sua componentes (b).

    Com o sistema de coordenadas mostrado, a tenso y atua numa direo paralela a F e perpendicular rea A definida como F/A Devido a F no ter componente paralela a A, no existe

    tenso cisalhante atuando nesse plano. Agora considere um plano fazendo um angulo com o plano anterior, definindo um novo sistema de eixos coordenados, x-y, em relao ao sistema original x-y.

    Neste novo sistema a fora F tem componentes Fy e Fx atuando no plano cuja rea A igual a A/cos. Ento, as tenses atuando no plano inclinado so:

    22'

    ' coscos'

    yy

    yA

    F

    A

    F (9.2)

    e

    PA

    F

    A

    FnF

    tF

    PA

    F

    A

    FnF

    tF

  • coscos'

    '' sensen

    A

    F

    A

    Fy

    xx (9.3)

    Figura 9.4 - Foras e tenses em diferentes sistemas de coordenadas.

    Este desenvolvimento, de fato, transformou a tenso y em tenses num novo sistema de coordenadas. Se o ponto P representado por um pequeno corpo, com dimenses dx, dy e dz, que est em

    equilbrio e mostrado na figura 9.5, ento, no caso mais geral, cada face pode ser submetida a uma

    fora total F1, F2, e F3 conforme mostrado. Cada uma dessas foras pode ser decomposta em

    componentes paralelas as trs direes coordenadas. Se cada uma dessas nove componentes for dividida

    pela rea da face em que atua, o estado de tenses em P ento descrito pelos nove componentes de

    tenso mostrados na figura 9.6. Como uma quantidade vetorial especifica apenas trs componentes, a

    tenso mais complicada que um vetor. As quantidades fsicas que descrevem estas nove componentes

    de tenso so denominadas tensores de segunda ordem. A tenso, deformao e vrias outras quantidades

    fsicas so tensores de segunda ordem. Uma quantidade escalar, que no se modifica com a

    transformao dos eixos, requer somente um nico nmero para a sua especificao. Escalares so

    tensores de ordem zero. As quantidades vetoriais requerem trs componentes para a sua especificao,

    sendo assim tensores de primeira ordem. O nmero de componentes necessrias para especificar uma

    quantidade :

    nkN (9.4)

    Onde N o nmero de componentes necessrias para a descrio de um tensor da n-sima ordem

    num espao de dimenso k. Por exemplo, para um espao bidimensional, somente quatro componentes

    so necessrias para descrever um tensor de segunda ordem. A constante elstica que relaciona a tenso

    F

    F

    y

    x

    y`

    x`

    A

    Fy

    cos

    AA

    A

    Fyy

    A

    FyF

    xF

    A

    Fxx

    cosFFsenFF yxF

    F

    y

    x

    y`

    x`

    y

    x

    y`

    x`

    A

    Fy

    A

    Fy

    cos

    AA

    cos

    AA

    A

    Fyy

    A

    FyF yF

    xF xF

    A

    Fxx

    A

    Fxx

    cosFFsenFF yx cosFFsenFF yx

  • com a deformao num slido elstico um tensor de quarta ordem com 81 componentes no caso mais

    geral.

    Figura 9.5 - Foras generalizadas atuando num corpo pequeno.

    Figura 9.6 - Elementos de tenso para um estado de tenses homogneo. Por conveno, todos os

    elementos de tenso so considerados positivos como mostrado.

    O produto de dois vetores A e B com componentes (Ax, Ay, Az) e (Bx, By e Bz), respectivamente,

    resulta num tensor de segunda ordem, Tij. As componentes desse tensor podem ser apresentadas numa

    matriz 3x3.

    zzyzxz

    zyyyxy

    zxyxxx

    zzyzxz

    zyyyxy

    zxyxxx

    BA BA BA

    BA BA BA

    BA BA BA

    T T T

    T T T

    T T T

    ijT

    Como a tenso um tensor de segunda ordem, suas componentes podem ser escritas como:

    z

    x

    y

    y

    xy

    z

    x x

    y

    zyx

    xy

    yx

    z

    x

    y

    y

    xy

    z

    x x

    y

    zyx

    xy

    yx

    x

    y

    yy

    xyxy

    zz

    xx xx

    yy

    zzyxyx

    xyxy

    yxyx

  • zzyzxz

    zyyyxy

    zxyxxx

    ij (9.5)

    Nessa notao, dois subndices idnticos (por exemplo, xx) indica uma tenso normal, enquanto um par distinto (por exemplo, xy) indica uma tenso cisalhante. Exceto onde a natureza do tensor de tenses importante, essa notao ser simplificada com tenso normal designada por um subndice

    simples e tenso cisalhante por , assim:

    xyxyxxx e (9.6)

    Equilbrio implica ausncia de efeitos de rotao em torno de qualquer eixo. Assim xy igual a yx, etc., e os noves componentes do tensor tenso se reduzem a seis componentes independentes. Nesse texto, tenses positivas so definidas atuando como mostrado na figura 9.6. Ento, tenses normais

    positivas so trativas, tenses normais negativas so compressivas e tenses cisalhantes positivas atuam

    como mostradas.

    O significado fsico da notao de subndices duplos o seguinte:

    O subndice i define a normal ao plano em que uma componente atua, enquanto o subndice j define a direo em que a componente de fora atua.

    Uma combinao de i e j onde ambas so positivas ou ambas so negativas define uma componente positiva.

    Uma combinao de i e j onde uma positiva e a outra negativa define uma componente negativa.

    Com a conveno adotada acima, a tenso xx, surgiu de uma fora atuando na direo x no sentido positivo num plano cuja normal est na direo x no sentido positivo. Uma vez que ambos os

    componentes so positivos, a componente de tenso positiva e trativa como mostrado. Se a fora atua

    no mesmo plano, mas na direo x no sentido negativo, a combinao de subndices positivo-negativo

    indicar uma tenso compressiva ou negativa. Uma tenso tal como xz na figura 9.6 tem dois subndices positivos e, portanto positiva; se a componente de fora atua na direo oposta (z negativo) daquela

    mostrada, a tenso ser considerada negativa. Finalmente, se o estado de tenses homogneo, uma

    tenso normal de amplitude igual a xx de atuar sobre a face vertical do lado esquerdo do elemento. Essa tenso ter uma combinao de subndices negativo-negativo e, como indicado anteriormente, tambm

    definida como uma componente positiva (trativa).

    Exemplo 9.1 --- Uma fora de 8 000 N aplicada axialmente a uma barra de 10 mm de dimetro.

    Determine os valores das tenses normal e cisalhante atuando num plano cuja

    normal faz 25 com a fora aplicada.

    Soluo:

    MPa,mm/N,

    mm

    N

    A

    Fy 8610186101

    410

    8000 22

    No sistema internacional de unidades (SI) a unidade oficial de tenso o N/m , que tem sido

    denominado pascal (Pa). Entretanto, a tenso em N/m representa valores muito pequenos; assim, a

    tenso tem sido comumente utilizada em Newton por milmetro quadrado, 1N/mm = 10 N/m =

    1MN/m .

  • MPa,cos MPa,cos o2y'y 678325861012

    MPa,sencos MPa,sencos ooy'x 0139252586101

    Foi assumido que F atua uniformemente atravs de qualquer seo normal a F; portanto descrevendo

    um estado homogneo de tenses.

    Uma quantidade til na teoria tensorial o delta de Kronecker, ij,. O delta de Kronecker um tensor isotrpico unitrio de segunda ordem.

    ji 0

    ji 1

    1 0 0

    0 1 0

    0 0 1

    ij (9.7)

    A multiplicao de um tensor ou produtos de tensores por ij causa uma reduo de dois na ordem do tensor. Isto denominado de contrao do tensor. Se for aplicada a contrao ao tensor de tenso

    obteremos o primeiro invariante do tensor de tenso, um escalar.

    1zzyyxxij ij I (9.8)

    Os invariantes do tensor tenso podem ser determinados a partir da matriz de suas componentes.

    Uma vez que o tensor tenso um tensor simtrico, pode-se reescrever a equao 9.5 como:

    zzyzxz

    yzyyxy

    xzxyxx

    ij

    (9.5a)

    Nesse caso, o primeiro invariante o trao da matriz, ou seja, a soma dos termos da diagonal

    principal, equao 9.8.

    O segundo invariante o negativo da soma dos secundrios principais. O secundrio principal de

    um elemento de uma matriz o determinante de ordem imediatamente inferior que permanece quando se

    suprimem a linha e a coluna do elemento em questo. Assim, tomando cada um dos termos principais

    (diagonal principal) em ordem e suprimindo a linha e a coluna correspondente, temos:

    zzyz

    yzyy

    zzxz

    xzxx

    yyxy

    xyxx2I

    Ou

    zzxxzzyyyyxxyzxzxyI 222

    2 (9.9)

    Finalmente, o terceiro invariante o determinante da matriz inteira dos componentes do tensor

    tenso.

    222

    3 2 xyzzxzyyyzxxyzxzxyzzyyxx I (9.10)

  • Em termos de tenses principais as equaes anteriores tornam-se:

    32 I 11 (9.11)

    1332212 I (9.12) 3213 I (9.13)

    A amplitude das tenses principais so as trs razes da seguinte equao cbica:

    0322

    13 III ppp (9.14)

    Os coeficientes I1, I2 e I3 so chamados invariantes porque so independentes do sistema de

    coordenadas escolhido nas equaes 9.8 a 9.13. Consequentemente, as tenses principais para um dado

    estado de tenses so nicas.

    O tensor de tenso total pode ser dividido em um tensor de tenso hidrosttico ou mdio, m, que envolve somente trao ou compresso pura, e um tensor tenso-desvio, ij, que representa a tenso cisalhante no estado de tenses total. Uma ilustrao, para o caso de tenso plana, apresentada na figura

    9.7. Por exemplo, o estado de tenso plana ocorre durante a laminao de chapas finas. A componente

    hidrosttica do tensor de tenso produz apenas variaes volumtricas elsticas, no causando

    deformao plstica. Medidas experimentais mostram que a tenso de escoamento dos metais

    independente da tenso hidrosttica, embora a deformao de fratura seja fortemente influenciada por

    esta componente de tenso. Devido ao fato da componente desviadora do tensor de tenso envolver

    tenses cisalhantes, ela importante na gerao da deformao plstica. Na seo 9.3 veremos que a

    tenso-desvio til na formulao de teorias de escoamento.

    Figura 9.7 - Desmembramento da tenso total em componentes hidrosttica e desviadora.

    A tenso hidrosttica dada por

    33

    321

    zyx

    m (9.15)

    O tensor tenso-desvio dado por

    - ' ijmijij (9.16)

    y

    xy

    x

    2

    yx

    2

    yx

    2

    yx

    22

    yxxy

    Tenso total Componente

    hidrosttica

    Componente

    desviadora

    y

    xy

    x

    2

    yx

    2

    yx

    2

    yx

    22

    yxxy

    y

    xy

    x

    2

    yx

    2

    yx

    2

    yx

    22

    yxxy

    Tenso total Componente

    hidrosttica

    Componente

    desviadora

  • Assim,

    100

    010

    001

    m

    zyzxz

    zyyxy

    zxyxx

    ij

    ou

    mzyzxz

    zymyxy

    zxyxmx

    ij

    finalmente

    3

    2

    3

    2

    3

    2

    yxzyzxz

    zyzxy

    xy

    zxyxzyx

    ij

    (9.17)

    Uma vez que ij' um tensor de segunda ordem, este possui eixos principais. Os valores

    principais da tenso-desvio so as razes da equao cbica

    0322

    13 J'J'J' (9.18)

    Onde J1, J2 e J3 so os invariantes do tensor da tenso-desvio. J1 a soma dos termos principais na

    diagonal da matriz de componentes de ij' .

    01 mzmymxJ (9.19)

    J2 obtido do negativo da soma dos secundrios principais de ij' .

    222222

    2222

    6 yzxzxyzyxzyx

    zxzyyxyzxzxy

    6

    1

    '''''' J

    (9.20)

    O terceiro invariante J3 o determinante da equao 9.17. Cabe salientar que o segundo invariante

    usado para definir o critrio de Tresca para o inicio do escoamento; isso ser discutido na seo 9.3.

    Alm disso, para qualquer estado de tenses que inclui todos os componentes cisalhantes do estado de

    tenses mostrados na figura 9.6, uma determinao das trs tenses principais pode ser feita encontrando

    as razes da equao 9.14. Esse procedimento ilustrado nos exemplos a seguir.

    Exemplo 9.2 --- Considere um estado de tenso plana, semelhante ao que ocorre durante a laminao

    de chapas finas, em que = 100 MPa, = 50 MPa, = 30 MPa e = = =0.

  • Encontre as tenses principais no plano x-y e a componente hidrosttica do estado

    de tenses.

    Soluo:

    15050100 I zyx1

    100 45010030 I 2zxzyyx2yz

    2xz

    2xy2

    02 2223 xyzxzyyzxyzxzxyzyx I

    Ento, a equao cbica pode ser escrita como.

    0100 4150 0100 4150 p2ppp2p3p

    A raiz da equao quadrtica nos fornece as tenses principais no plano x-y. Elas so.

    = 35,95 Mpa e = 114,05 MPa

    A outra raiz obviamente =0

    A componente hidrosttica desse estado de tenses

    MPa

    MPa MPa zyxm 50

    3

    050100

    3

    Ou alternativamente

    MPa

    MPa ,MPa ,m 50

    3

    0051149535

    3

    321

    9.3 - DEFORMAO

    Quando um corpo deformado, pontos nesse corpo so deformados. Deformao definida em

    termos de tais deslocamentos, porm de modo tal que exclui os efeitos dos movimentos do corpo rgido

    por translao ou rotao.

    Inicialmente, iremos considerar a situao mostrada na figura 9.8, onde o comprimento l0 entre os

    pontos P e B refere-se a alguma condio inicial. Se sob carregamento P move-se para P e B para B, e todos os pontos entre P e B movem-se para posies relativamente similares entre P e B, um estado de

    deformao existe quando ll0, consequentemente, AA0. Embora ocorra tanto rotao quanto translao, a mudana no comprimento ou na rea que usada para definir deformao como.

    00

    0

    l

    l

    l

    lle

    (9.21)

    Onde e a deformao de engenharia ou nominal.

    Cabe salientar que a mudana no comprimento dividida pelo comprimento original. Para grandes

    deformaes, uma definio alternativa, proposta por Ludwik, mais conveniente. A deformao

  • verdadeira ou logartmica, , definida de maneira tal que mesmo mudanas incrementais no comprimento dividida pelo comprimento instantneo.

    l

    dld (9.22)

    Aps integrao desta equao, obter-se-.

    0l

    lln (9.23)

    Figura 9.8 - Translao, rotao e deformao de uma barra.

    Como a deformao plstica de um metal resulta em variaes volumtricas inferiores a 0,1%, para

    anlise de processos de conformao estas variaes so consideradas desprezveis e uma relao de

    volume constante de grande utilidade. Por exemplo, visto que V=0, a situao mostrada na figura 9.8 resulta em:

    0

    00l

    l

    A

    A AllA 0 (9.24)

    Consequentemente,

    A

    Aln

    l

    lln 0

    0

    (9.25)

    O exemplo seguinte ilustra a convenincia de se usar a deformao verdadeira para anlise de

    processos de conformao mecnica.

    Exemplo 9.3 --- a) Uma barra com comprimento l tracionada e deformada uniformemente at o

    comprimento l=2l . Determine a deformao de engenharia e verdadeira para esse

    processamento.

    P

    B

    l0

    P

    B

    l

    A

    A0

    P

    B

    l0

    P

    B

    l

    A

    A0

  • b) Qual deve ser o comprimento final, l, de uma barra de comprimento inicial l ,

    comprimida com a mesma deformao da parte a, exceto no sentido (deformao

    negativa)?

    Soluo:

    a)

    0,693l

    2l ln

    l

    l ln

    1,0l

    l2l

    l

    lle

    0

    0

    0

    0

    00

    0

    0

    b)

    0l l

    ll1,0e

    0

    0

    Isto significa que a barra deve ser comprimida at uma espessura zero (nula). Obviamente que

    fisicamente no possvel tal compresso.

    2

    6930 06930l

    e ll l

    l ln, ,0

    0

    A barra necessita ser comprimida da metade de seu comprimento original para se obter uma

    deformao verdadeira igual a da parte a. Esse resultado consistente do ponto de vista fsico.

    Considerando a deformao do bloco mostrado na figura 9.9 do volume inicial, V0=h0l0w0, para o

    volume final, Vf=hflfwf. A relao de volume constante, V=0 (V0=Vf), nos leva a uma relao entre as trs deformaes verdadeiras principais. As trs deformaes principais so deformaes ortogonais

    localizadas de tal modo que as deformaes cisalhantes so nulas. Calculando a deformao volumtrica

    e igualando soma das trs deformaes lineares obtm-se

    00

    000 w

    w ln

    l

    l ln

    h

    h ln

    V

    V ln

    Ou

    0 wlh (9.26)

    Portanto, a soma das trs deformaes principais nula e uma relao de muita utilidade na

    anlise de processos de conformao mecnica, pois frequentemente utilizada para encontrar uma das

    deformaes principais a partir do conhecimento das outras duas.

    No meio industrial, a deformao em processos de conformao frequentemente expressa em

    termos da reduo da rea da seo transversal (figura 9.8), definida como:

    00

    0 1A

    A

    A

    AAr

    (9.27)

    Utilizando a relao de volume constante, temos.

    r1A

    A pois

    r-1

    1ln

    A

    Aln

    l

    lln

    0

    0

    0

    (9.28)

  • importante salientar que a reduo de rea nem sempre apresenta com clareza o quadro real do

    processo de conformao. Por exemplo, a reduo de rea durante a extruso hidrosttica de barras

    aumentada de 95% para 98%, uma alterao aparentemente pequena, mas a relao entre as reas inicial

    e final foi alterada de 20:1 para 50:1, Consequentemente, a deformao verdadeira de 300% para 391%.

    Pode-se dizer que a reduo de rea no foi capaz de dar visibilidade s alteraes ocorridas no exemplo

    citado.

    Figura 9.9 Deformao de um bloco mantendo o volume constante.

    A deformao de um corpo pode ocasionar no apenas uma variao de comprimento de um elemento

    linear do corpo, mas pode tambm resultar numa mudana do ngulo inicial entre duas linhas. A variao

    angular em um ngulo reto conhecida como deformao cisalhante. A figura 9.10 ilustra a deformao

    produzida por um cisalhamento puro de uma das faces de um cubo. Com a aplicao da tenso cisalhante

    o ngulo em 0, que era originalmente de 90o, decresce de uma pequena quantidade . A deformao

    cisalhante igual ao deslocamento, a, dividido pela distancia, h, entre os planos cisalhantes.

    tanha (9.29)

    Figura 9.10 - Ilustrao esquemtica do cisalhamento simples.

    tf

    l0

    wf

    t0

    l0w0

    tf

    l0

    wf

    tf

    l0

    wf

    t0

    l0w0

    t0

    l0w0

    a

    h

    0

    a

    h

    0

    h

    0

  • Exemplo 9.4 --- Uma placa de ao inoxidvel AISI 304 lingotada com 13m de comprimento, 1,2m

    de largura e 200mm de espessura. Essa placa submetida a quatro passos de

    desbaste, onde sua espessura reduzida para 28mm e a largura mantida constante

    (para isso, usado um passo de laminao na vertical). Posteriormente, essa chapa

    submetida a seis passos de acabamento num trem de laminao e tem sua espessura

    reduzida para 2,5mm, com a largura sendo mantida em 1,2m, como mostrado no

    desenho esquemtico da figura 9.11. Na figura so apresentadas as variaes

    dimensionais em cada um desses passos de laminao.

    Figura 9.11 - Valores tpicos da reduo de espessura em cada passo num trem de acabamento.

    a) Calcule a deformao de engenharia e a deformao verdadeira total.

    b) Calcule as deformaes de engenharia e verdadeira em cada passe e compare o valor da soma

    dessas deformaes com a deformao total calculada no item a.

    Soluo:

    a) A deformao de engenharia total :

    91028

    2852

    0

    0,

    mm

    mmmm,

    t

    tte

    f

    A deformao verdadeira total :

    422,28mm

    2,5mm ln

    t

    t ln

    0

    f

    b) A deformao de engenharia em cada passo :

    50028

    2814

    0

    011 ,

    mm

    mmmm

    t

    tte

  • 11082

    8252

    15033

    3382

    35015

    1533

    39048

    4815

    40014

    1448

    5

    566

    4

    455

    3

    344

    2

    233

    1

    122

    ,mm,

    mm,mm,

    t

    tte

    ,mm,

    mm,mm,

    t

    tte

    ,mm,

    mm,mm,

    t

    tte

    ,mm,

    mm,mm,

    t

    tte

    ,mm

    mmmm,

    t

    tte

    A deformao verdadeira em cada passo :

    110

    160

    440

    500

    510

    690

    6

    5

    4

    3

    2

    1

    ,2,8mm

    2,5mm ln

    t

    t ln

    ,3,3mm

    2,8mm ln

    t

    t ln

    ,5,1mm

    3,3mm ln

    t

    t ln

    ,8,4mm

    5,1mm ln

    t

    t ln

    ,14mm

    8,4mm ln

    t

    t ln

    ,28mm

    14mm ln

    t

    t ln

    5

    6

    4

    5

    3

    4

    2

    3

    1

    2

    0

    1

    A soma das deformaes de engenharia em cada passo :

    91091110150350390400500654321 ,e,,,,,,,eeeeee t

    A soma das deformaes verdadeira em cada passo :

    422412110160440500510690654321 ,,,,,,,, t

    Usando a deformao verdadeira a soma das deformaes em cada passo igual deformao

    verdadeira total. Isso ilustra a propriedade aditiva da deformao verdadeira. O mesmo no

    verdadeiro para a deformao de engenharia.

    9.4 - CRITRIO DE ESCOAMENTO E PLASTICIDADE MACROSCPICA

    Um corpo deformado elasticamente retorna ao seu estado original quando as cargas so removidas.

    Alm disso, no regime elstico tenses e deformaes so relacionadas atravs de certas constantes

    elsticas, usualmente o coeficiente de Poisson, , e o modulo de elasticidade, E, atravs da lei de Hooke.

  • zyx

    xx

    EE

    E

    (9.30)

    Uma fora trativa na direo x produz uma deformao ao longo desse eixo, produz tambm

    contraes ao longo dos eixos y e z. Foi encontrado experimentalmente que a deformao transversal

    uma frao constante da deformao na direo longitudinal. Essa constante o coeficiente de Poisson.

    O valor absoluto do coeficiente de Poisson para um material elstico e isotrpico 0,25, entretanto seu

    valor para a maioria das ligas metlicas mais prximo de 0,33. Tambm, est implcito que qualquer

    tenso causa deformao elstica. Para causar deformao plstica um certo nvel de tenso deve ser

    alcanado; esse definido como o limite de escoamento. Para a maioria dos metais dcteis, tanto a

    mudana de forma quanto a deformao do corpo original podem continuar, at que ocorra alguma

    instabilidade, se a tenso para causar escoamento aumenta continuamente. Isto ser discutido nas sees

    seguintes. Agora, vamos estabelecer certas expresses matemticas, denominadas critrio de

    escoamento, que so utilizadas para predizer se ou quando o escoamento ocorrer sob determinado

    estado de tenses em termos de determinadas propriedades do material sendo tensionado.

    9.4.1 Critrio de Escoamento

    Qualquer critrio de escoamento um postulado de equaes matemticas do estado de tenses

    que induzem escoamento ou o incio da deformao plstica. A forma mais geral

    C , , , , ,f yzxzxyzyx (9.31)

    Ou, em termos de tenses principais.

    C , ,f 321 (9.32)

    Para a maioria dos metais dcteis que so isotrpicos, as seguintes suposies so assumidas:

    Os limites de escoamento em trao e compresso so equivalentes.

    No ocorre variao volumtrica, consequentemente, o equivalente plstico do coeficiente de Poisson 0,5.

    A componente hidrosttica do estado de tenses no influncia no escoamento.

    Caso alguma dessas suposies for violada, torna-se necessrio o estabelecimento de outro critrio.

    Efeitos da taxa de deformao e da temperatura sero discutidos nas sees 9.8 e 9.9 enquanto os

    efeitos da anisotropia plstica sero considerados no captulo 13. importante salientar que essas

    suposies significam que os critrios a seguir apresentados no so aceitos universalmente para

    todos os slidos e nem para todas as situaes de carregamento.

    Em vista das suposies 1 e 3, um critrio de escoamento postulado, se plotado num espao tri-

    dimensional de tenses, deve produzir uma superfcie prismtica com rea de seo transversal

    constante. Essa chamada de superfcie de escoamento. Se uma das trs tenses principais for

    mantida constante, o que equivalente a cortar a superfcie de escoamento com um plano, a curva

    bidimensional resultante chamada de mapa de escoamento (yield locus).

    A suposio de que o escoamento independente da componente hidrosttica do estado de

    tenses, razovel se o fluxo plstico for causado somente por mecanismos cisalhantes, tais como

    escorregamento e maclao. A discusso desses mecanismos ser feita na seo seguinte.

  • 9.4.1 1 Critrio de Tresca

    Este critrio postula que o escoamento ocorrer quando a maior tenso cisalhante alcanar um

    valor crtico.

    32131 seCou Cminmax (9.33)

    Para avaliar C, um estado de trao uniaxial deve ser usado. Neste, 031 2max , , e o

    escoamento ocorre quando 01 , o limite de escoamento em trao uniaxial. Ento,

    C 031 (9.34)

    No caso de cisalhamento puro, 0331 e , 1minmax . O escoamento ocorre

    quando a tenso cisalhante mxima alcana o limite de escoamento em cisalhamento puro, isto , o limite

    de escoamento cisalhante k. Portanto, k1 , assim.

    Ck 22 131 (9.35)

    A figura 9.12 mostra a curva de escoamento (yield locus) para esse critrio num espao

    bidimensional de tenses. Cabe observar que este critrio independente da tenso intermediria

    principal.

    Exemplo 9.5 --- Um tubo de parede fina com as extremidades fechadas submetido a uma presso

    interna de 20 MPa. A raio do tubo de 30cm e esse no escoa em nenhuma regio.

    a) Se o material do tubo tem limite de escoamento de MPa2000 , qual a espessura mnima da

    parede, t, que dever ser especificada utilizando o critrio de Tresca?

    b) Se o limite de escoamento cisalhante, k, fosse especificado como 60 MPa, qual espessura mnima

    que dever ser especificada?

    Soluo:

    Como se trata de um tubo de parede fina, as trs tenses principais so t

    Pr ,

    t

    Prz2

    21

    e 0 r3 , onde P a presso, r o raio e t a espessura da parede. Usando o critrio de Tresca

    chega-se:

    a) 30mmt MPat

    mmMpa , 1mn3mx

    2000

    3002031

    b) 50mmt MPat

    mmMpa k1

    1200

    3002023

  • Figura 9.12 - Curva de escoamento obtida a partir do critrio de Tresca.

    9.4.1 2 Critrio de von Mises

    Von Mises props que o escoamento ocorrer quando o segundo invariante da componente

    desviadora do estado de tenses, J2, atingisse um determinado valor crtico.

    12222222 6 C 6

    1 J yzxzxyzyxzyx (9.36)

    Ou, em termos de tenses principais

    12322132212 C6

    1 J (9.37)

    0 I

    II

    III

    IV

    V

    VI

    3

    1

    02

    1

    1

    1

    1

    1

    3

    3

    3

    3

    3

    3

    10

    0

    0

    013

    13

    31

    031

    031

    013

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    13

    31

    1

    3

    eVI

    V 0

    0

    1

    3

    e

    eIV

    eIII

    eII

    eI

    0 I

    II

    III

    IV

    V

    VI

    3

    1

    02

    1

    1

    1

    1

    1

    3

    3

    3

    3

    3

    3

    10

    0

    0

    00 I

    II

    III

    IV

    V

    VI

    33

    11

    02 02 02

    11

    11

    11

    11

    11

    33

    33

    33

    33

    33

    33

    110 0

    0 0

    0 0

    013

    13

    31

    031

    031

    013

    0

    0

    0

    0

    0

    0

    13

    31

    1

    3

    eVI

    V 0

    0

    1

    3

    e

    e

    0

    0

    1

    3

    e

    eIV

    eIII

    eII

    eI

    00 I

    II

    III

    IV

    V

    VI

    33

    11

    02 02 02

    11

    11

    11

    11

    11

    33

    33

    33

    33

    33

    33

    110 0

    0 0

    0 0

  • Usando trao uniaxial para definir a constante 1C , temos que no escoamento 01 ,

    03 2 e 1C igual a 20

    3

    1 . Para cisalhamento puro, com 31 k , 02 e 1C igual a

    2k . Assim o critrio de Von Mises escrito como

    22023221322123

    1k

    6

    1 J (9.38)

    Ou

    223221322101

    2

    1 (9.39)

    Numa forma mais geral, esse critrio pode ser reescrito como.

    212222220 6 yzxzxyzyxzyx 2

    1 (9.40)

    A figura 9.13 apresenta o mapa de escoamento para este critrio e a figura 9.14 mostra as curvas

    de escoamento de ambos os critrios superpostos para a mesma tenso de escoamento 0 . Note que as

    maiores diferenas, entre os dois critrios, na predio do escoamento ocorre para as trajetrias II e IV.

    Figura 9.13 - Curva de escoamento obtida a partir do critrio de von Mises.

    Cabe ressaltar que a conveno de que 321 no satisfeita quando curvas e superfcies

    de escoamento so consideradas.

    1

    3

    0

    0

    0

    0

    Cisalhamento

    puro

    Cisalhamento

    puro

    Trao

    biaxial

    Trao

    simples

    Compresso

    simples

    Trao

    simples

    Compresso

    simples

    Compresso

    biaxial

    12 2

    03

    031

    577,0

    155,12

    03

    031

    577,0

    577,0

    2031

    23

    21 02

    1

    3

    0

    0

    0

    0

    Cisalhamento

    puro

    Cisalhamento

    puro

    Trao

    biaxial

    Trao

    simples

    Compresso

    simples

    Trao

    simples

    Compresso

    simples

    Compresso

    biaxial

    12 2

    03

    031

    577,0

    155,12

    03

    031

    577,0

    577,0

    2031

    23

    21 02

  • Figura 9.14 - Comparao entre os critrio de Tresca e von Mises para o mesmo valor de 0 .

    Escoamento (fluxo plstico) pode ser iniciado de diversas maneiras. Em trao pura, escoamento

    ocorre quando a tenso tenso de fluxo trativa alcana 0 (trajetria I na figura 9.14). Em compresso

    pura, o material escoa quando a tenso de fluxo compressiva atinge 0 , que, para materiais dcteis,

    normalmente igual tenso de fluxo trativa, porm com o sentido invertido (trajetria V na figura 9.14).

    Quando a chapa expandida biaxialmente por um puno ou um meio pressurizado, as duas tenses

    principais na superfcie da chapa so iguais, o que caracteriza um estado de trao biaxial balanceada.

    Uma combinao dessas tenses, de acordo com um critrio de escoamento, deve alcanar 0 (trajetria

    III na figura 9.14).

    Uma condio tecnicamente importante alcanada quando o produto sendo conformado

    impedido de deformar em uma das direes principais (deformao plana). Isso ocorre porque elementos

    da matriz mantm uma dimenso constante; ou porque uma parte da pea deformada, e regies no

    deformadas adjacentes exercem uma influncia restritiva. Por exemplo, este o caso da laminao plana

    de chapas finas. Em outras situaes, a restrio cria uma tenso naquela direo principal, a tenso a

    mdia entre as outras duas tenses principais, correspondendo trajetria II da figura 9.14. A tenso

    requerida para deformao ainda 0 de acordo com o critrio de Tresca, porm 0155,1 de acordo

    com o critrio de Von Mises (figura 9.13).

    Outro estado de tenses importante o cisalhamento puro, em que as duas tenses principais so

    de mesma amplitude, mas de sinais opostos (trajetria IV na figura 9.14). Escoamento ocorre quando o

    11

    1

    1

    3

    3

    1

    1

    0

    0

    0

    0

    I

    II

    III

    III

    IV

    IV

    V

    VVI

    31

    11

    1

    1

    1

    1

    3

    1

    3

    3

    1

    1

    1

    1

    0

    0

    0

    0

    I

    II

    III

    III

    IV

    IV

    V

    VVI

    31

    31

  • limite de escoamento cisalhante, k, for alcanado, ou seja, 05,0 de acordo com o critrio de Tresca e

    0577,0 de acordo com o critrio de Von Mises.

    A figura 9.15 mostra a superfcie de escoamento num espao de tenses tridimensional, tanto

    para o critrio de Tresca quanto para o critrio de Von Mises. A superfcie formada um prisma

    hexagonal reto para Tresca e um cilindro circular reto para Von Mises. Ambas esto centradas numa

    linha em que os trs cosenos diretores so iguais, e qualquer combinao de tenses, 1 , 2 e 3 ,

    quando adicionadas como componentes vetoriais deve produzir uma resultante que toque a superfcie de

    escoamento caso escoamento esteja ocorrendo.

    Figura 9.15 - Superfcies de escoamento de Tresca e von Mises num espao tridimensional de tenses.

    Exemplo 9.6 --- Um tubo de parede fina com as extremidades fechadas submetido a uma presso

    interna de 20 MPa. A raio do tubo de 30cm e esse no escoa em nenhuma regio.

    a) Se o material do tubo tem limite de escoamento de MPa2000 , qual a espessura mnima da

    parede, t, que dever ser especificada utilizando o critrio de Von Mises?

    b) Se o limite de escoamento cisalhante, k, fosse especificado como 60 MPa, qual espessura mnima

    que dever ser especificada?

    Soluo:

    1

    3

    2

    Superfcie de

    escoamento

    32

    0cr

    Curva de escoamento

    no plano

    1

    3

    2

    Superfcie de

    escoamento

    32

    0cr

    Curva de escoamento

    no plano

  • Como se trata de um tubo de parede fina, as trs tenses principais so t

    Pr ,

    t

    Prz2

    21

    e 0 r3 , onde P a presso, r o raio e t a espessura da parede, ou seja, 21 2 e 03 .

    Usando o critrio de Von Mises chega-se:

    a) 012

    1

    21

    21

    21

    21

    21

    21

    103

    2

    4

    2

    2

    1

    222

    1

    mm98,25MPa2002

    mm300MPa203

    2

    Pr3t

    t

    Pr

    3

    2

    001

    b) k2 4

    2

    6

    1

    226

    1k 1

    21

    21

    21

    21

    21

    21

    21

    1

    50mmMPa602

    mm300Mpa20

    2k

    Prt

    t

    Prk21

    Se o limite de escoamento trativo for propriedade especificada e a espessura desconhecida, o critrio de

    Tresca mais conservativo, mas se o limite de escoamento cisalhante for propriedade especificada o

    mesmo valor para a espessura ser especificado por ambos os critrios.

    9.4. 2 Trabalho de Deformao Plstica

    Para os critrios de escoamento discutidos, a componente hidrosttica de qualquer estado de

    tenses atua ao longo do eixo em torno do qual a superfcie de escoamento est posicionada. No existe

    componente de deformao do vetor deformao total que atua na direo de m ; consequentemente, a

    componente hidrosttica no tende a expandir a superfcie de escoamento e, de fato, no realiza trabalho.

    Uma vez que a componente desviadora atua na mesma direo que o vetor deformao total, o produto

    dessas quantidades causa trabalho mximo quando a superfcie de escoamento expandida.

    Se uma barra de comprimento original l0 submetida a uma fora F atuando sobre a rea w0t0 e

    uma deformao dl ocorre (figura 9.16), o trabalho realizado por esta fora Fdl, e o trabalho por

    unidade de volume :

    d ltw

    dl Fdw

    0 0 0

    (9.41)

    No caso geral, onde as trs tenses normais e as trs tenses cisalhantes atuam simultaneamente,

    o trabalho por unidade de volume :

    zxzxyzyzxyxyzzyyxx dddddddw (9.42)

    Em termos dos componentes principais,

    332211 ddddw (9.43)

  • Figura 9.16 - Deformao de uma barra.

    9.4.3 - Tenso e Deformao Efetivas

    Muitas vezes de grande utilidade a substituio de um estado complexo de tenses e deformaes

    por funes invariantes da tenso e da deformao. Se for construda a curva tenso-deformao plstica,

    denominada de curva de escoamento ou de curva de fluxo, em termos dos invariantes de tenso ou

    deformao, ser obtida a mesma curva, independentemente do estado de tenses. Por exemplo, as curvas

    de escoamento obtidas num ensaio de trao uniaxial de um tubo de paredes finas com presso interna

    sero idnticas quelas obtidas atravs de um ensaio de toro biaxial, caso sejam obtidas em termos de

    funes invariantes de tenso e deformao.

    As funes invariantes frequentemente utilizadas so a tenso e a deformao efetivas. Quando os

    eixos coordenados coincidem com as direes principais, a tenso efetiva de von Mises definida como:

    21222222 62

    1yzxzxyzyxzyxef (9.44a)

    Em termos das tenses principais teramos

    212322132212

    1 ef (9.44b)

    A deformao efetiva definida de maneira tal que o trabalho infinitesimal por unidade de volume

    332211 dddddw efef (9.45)

    Para o critrio de von Mises a deformao efetiva dada por

    212132322213

    2 ddddddd ef (9.46)

    Essa equao pode ser escrita de uma forma mais simples como

    0l

    0w0t

    dl

    F

    F

    00 tw

    F

    0l

    0w0t

    dl

    F

    F

    00 tw

    F

  • 21

    23

    22

    21

    3

    2

    dddd ef (9.47)

    Se a trajetria de deformao for constante (com uma razo constante de 321 d:d:d ), a

    deformao efetiva total pode ser expressa em termos da deformao total como.

    21

    23

    22

    21

    3

    2

    ef (9.48)

    Caso a trajetria de deformao no seja constante, ef deve ser encontrado de uma integral de

    trajetria de efd .

    9.5 MECANISMOS DE DEFORMAO PLSTICA E ENCRUAMENTO DE METAIS

    Inicialmente, ser considerada a deformao permanente de um monocristal de zinco. Se, aps a

    deformao, o cristal de zinco for examinado, observar-se- o aparecimento na superfcie de degraus, que

    so designados por bandas de escorregamento (Figura 9.17-a e b). As bandas de escorregamento so

    provocadas pelo escorregamento, ou deformao devida s tenses de cisalhamento, dos tomos do metal

    que se encontram em determinados planos cristalogrficos designados por planos de escorregamento. A

    superfcie do monocristal de zinco deformado ilustra muito claramente a formao das bandas de

    escorregamento j que, nestes cristais, o escorregamento est limitado aos planos basais da estrutura HC

    (figura 9.17-c e d).

    Figura 9.17 - Monocristal de zinco deformado plasticamente, mostrando bandas de escorregamento: (a)

    vista frontal do cristal, (b) vista lateral do cristal, (c) vista lateral esquemtica, indicando

    os planos basais de escorregamento no cristal HC e (d) indicao dos planos basais de

    escorregamento na clula unitria HC.

    Nos monocristais dos metais dcteis com estrutura CFC, tais como o cobre e o alumnio, o

    escorregamento ocorre em mltiplos planos de escorregamento e, consequentemente, o aspecto das

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    (d)

    Fora

    Fora

    (a) (b)

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    (d)

    Fora

    Fora

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    Planos basais de

    escorregamento

    na estrutura HC

    (d)

    Fora

    Fora

    (a) (b)(a) (b)

  • bandas de escorregamento na superfcie destes metais, quando deformados, mais uniforme. Observando

    a superfcie escorregada destes metais com uma ampliao maior, verifica-se que, no interior das bandas,

    o escorregamento ocorreu segundo muitos planos de escorregamento (figura 9.18). Estes degraus

    estreitos designam-se por linhas de escorregamento e a distncia entre elas geralmente da ordem de 50

    a 500 tomos, enquanto que a distncia entre bandas de escorregamento , geralmente, cerca de 10 000

    dimetros atmicos. Os termos banda de escorregamento e linha de escorregamento tm sido em muitas

    ocasies utilizados indiferentemente, o que no correto.

    Figura 9.18 - Formao de linhas e bandas de escorregamento durante a deformao plstica de um

    monocristal metlico.

    A figura 9.19 , mostra-se um possvel modelo atmico para o escorregamento de um conjunto de

    tomos sobre outro num cristal metlico perfeito. Clculos efetuados a partir deste modelo mostram que

    as resistncias mecnicas dos cristais metlicos deveriam ser cerca de 1000 a 10 000 vezes superiores aos

    valores observados. Assim, nos cristais metlicos reais de grandes dimenses, este mecanismo para o

    escorregamento atmico no pode ser correto.

    Figura 9.19 - Desenho esquemtico do escorregamento entre dois planos atmicos devido a tenses

    cisalhantes. Este mecanismo invivel devido ser muito energtico.

    Para que cristais metlicos de grandes dimenses possam ser deformados pela ao de tenses

    cisalhantes menores, tem de existir uma grande densidade de defeitos cristalinos conhecidos por

    F

    F

    Banda de escorregamento

    (1 000 tomos)

    Linha de escorregamento

    (100 tomos)

    Distncia entre bandas de

    escorregamento (30 000 tomos)

    F

    F

    F

    F

    F

    F

    Banda de escorregamento

    (1 000 tomos)

    Linha de escorregamento

    (100 tomos)

    Distncia entre bandas de

    escorregamento (30 000 tomos)

    F

    F

    F

    F

    Banda de escorregamento

    (1 000 tomos)

    Banda de escorregamento

    (1 000 tomos)

    Linha de escorregamento

    (100 tomos)

    Distncia entre bandas de

    escorregamento (30 000 tomos)

    F

    F

    F

    F

    F

    F

    F

    F

    Tenso cisalhante

    y

    x

    b

    (a) (b)

    Tenso cisalhanteTenso cisalhante

    y

    x

    b

    (a)

    y

    x

    y

    x

    bb

    (a) (b)

  • deslocaes. Estas deslocaes so criadas em grande nmero (106 cm-2), medida que o metal solidifica, e quando o cristal metlico deformado so criadas muitas mais. Um cristal fortemente

    deformado pode ter densidade de deslocaes da ordem de 1012

    cm-2

    . A figura 9.20, mostra como, pela

    ao de uma pequena tenso cisalhante, uma deslocao em cunha pode originar uma unidade de

    escorregamento. Para que o escorregamento ocorra por este processo necessria uma tenso

    relativamente baixa, uma vez que, em cada instante, apenas um pequeno grupo de tomos escorrega sobre

    os outros.

    Figura 9.20 - Desenho esquemtico mostrando como, pela ao de uma pequena tenso cisalhante, uma

    deslocao em cunha pode originar um degrau unitrio de escorregamento (a, b e c).

    Analogia com a ondulao de um tapete. Este processo muito menos energtico do que

    aquele apresentado na figura 9.19.

    Pode ser visualizada uma situao semelhante ao movimento de uma deslocao num cristal

    metlico pela ao de uma tenso cisalhante, considerando o movimento de um tapete, com ondulao,

    sobre um pavimento. Fixando uma das extremidades do tapete poder ser impossvel desloc-lo, devido

  • ao atrito entre o pavimento e o tapete. Contudo, fazendo uma ondulao no tapete (anloga deslocao

    no cristal metlico), pode mover-se o tapete, empurrando progressivamente, ao longo do pavimento, a

    ondulao nele existente (figura 9.20-d).

    Nos cristais reais, as deslocaes podem ser observadas num microscpio eletrnico de

    transmisso utilizando folhas finas do metal. As deslocaes aparecem como linhas devidas ao

    desarranjo atmico associado a elas, que interfere com a transmisso do feixe de eltrons do

    microscpio. A figura 9.21, mostra-se um arranjo celular cujas paredes so constitudas por deslocaes

    originadas por deformao de uma amostra de alumnio. As clulas esto relativamente livres de

    deslocaes mas esto separada por paredes com uma elevada densidade de deslocaes.

    Figura 9.21 - Estrutura celular de deslocaes numa amostra deformada de liga de alumnio (MET - 20

    000X). As clulas esto relativamente livres de deslocaes, porm esto separadas por

    paredes com elevada densidade de deslocaes.

    As deslocaes provocam deslocamentos atmicos em planos e direes cristalogrficos de

    escorregamento especficos. Os planos de escorregamento so geralmente os mais compactos e so

    tambm os que se encontram mais afastados uns dos outros. O escorregamento mais fcil nos planos

    mais compactos, j que, para provocar o deslocamento dos tomos nestes planos, necessria uma tenso

    de cisalhamento inferior aquela dos planos menos compactos (Figura 9.22). Contudo, se o

    escorregamento nos planos compactos estiver restringido, por exemplo, devido a tenses locais elevadas,

    ento os planos de compacidade mais baixa podem tornar-se ativos. O escorregamento segundo direes

    compactas igualmente favorecido, j que, quando os tomos se encontram mais prximos uns dos

    outros, menor a energia necessria para mover os tomos de uma posio para outra.

    O conjunto de um plano de escorregamento com uma direo de escorregamento designa-se por

    sistema de escorregamento. Nas estruturas metlicas, o escorregamento ocorre em determinados sistemas

    de escorregamento que so caractersticos de cada estrutura cristalina. Na tabela 9.1, indicam-se os

    planos e direes de escorregamento predominantes nas estruturas cristalinas CFC, CCC e HC.

    Nos metais com estrutura cristalina CFC, o escorregamento ocorre nos planos octaedrais

    compactos {111} e segundo as direes compactas 110. Na estrutura cristalina CFC, existem oito planos octaedrais {111}. Os planos do tipo (111) correspondentes a faces opostas do octaedro, que so

    paralelos entre si, consideram-se planos de escorregamento (111) do mesmo tipo. Assim, na estrutura

    cristalina CFC, existem apenas quatro tipos diferentes de planos de escorregamento (111). Cada plano do

    tipo (111) contm trs direes de escorregamento do tipo [110]. As direes opostas no so

  • consideradas como direes de escorregamento diferentes. Assim existem na rede CFC, 4 planos de

    escorregamento x 3 direes de escorregamento = 12 sistemas de escorregamento (tabela 9.1).

    Figura 9.22 Comparao do escorregamento entre um plano atmico compacto e outro no compacto.

    Tabela 9.1 Sistemas de escorregamento observados em estruturas cristalinas.

    Estrutura Alguns metais Plano de

    escorregamento

    Direo de

    escorregamento

    Nmero de sistemas

    de escorregamento

    CFC Cu, Al, Ni, Pb, Au,

    Ag, Fe-,

    111 011 1234

    CCC Fe-, W, lato , Mo

    110 111 1226

    Fe-, W, Na, Mo 211 111 12112

    Fe-, K 321 111 24124

    HC Cd, Zn, Mg, Ti, Be,

    0001 0211 331

    Ti (planos

    prismticos) 0110 0211 313

    Ti, Mg (planos

    piramidais) 1110 0211 316

    A estrutura CCC no uma estrutura compacta, j que no tem planos de mxima compacidade,

    como acontece na estrutura CFC. Os planos {110} so os que tm a maior densidade atmica e

    frequentemente o escorregamento tem lugar nestes planos. Contudo, nos metais CCC tambm ocorre

    escorregamento nos planos {112} e {123}. Uma vez que os planos de escorregamento, na estrutura CCC,

    no so planos de mxima compacidade, como acontece na estrutura CFC, para provocar o

    escorregamento nos metais CCC so necessrias tenses de cisalhamento mais elevadas do que no caso

    dos metais CFC. Nos metais CCC, as direes de escorregamento so sempre do tipo 1 11. Como existem seis planos de escorregamento do tipo (110) e cada um deles contm duas direes de

    escorregamento 1 11, h 6 x 2=12 sistemas de escorregamento {110} 1 11.

    Na estrutura HC, os planos basais (0001) so os planos de mxima compacidade e so os planos

    de escorregamento habituais nos metais HC, como Zn, Cd e Mg, que tm razes c/a elevadas (tabela 9.1).

    Contudo, nos metais HC com valores baixos da razo c/a, como Ti, Zr e Be, o escorregamento tambm

    ocorre frequentemente nos planos prismticos {10 1 0} e piramidais {10 1 1}. Em qualquer dos casos, as

    direes de escorregamento continuam a ser as direes 11 2 0. A existncia de um nmero limitado de sistemas de escorregamento nos metais HC limita a sua ductilidade.

    (a)

    Tenso cisalhante Tenso cisalhante

    (b)(a)

    Tenso cisalhante

    (a)

    Tenso cisalhante Tenso cisalhante

    (b)

    Tenso cisalhante

    (b)

  • Um segundo mecanismo importante atravs do qual os metais se deformam o processo

    conhecido por maclao. Este mecanismo ocorre quando uma regio do cristal tem a sua orientao

    alterada, estando esta relacionada orientao do restante da rede cristalina de maneira definida e

    simtrica. A regio maclada uma imagem de espelho da matriz cristalina, sendo o plano de simetria que

    as separa denominado plano de maclao, conforme mostra o desenho esquemtico da figura 9.23. A

    maclao, tal como o escorregamento, ocorre numa direo especfica, chamada direo de maclao. Na

    tabela 9.2 esto listados os planos e direes de maclao para as estrutura CCC, CFC e HC. Contudo, no

    escorregamento, todos os tomos de um dos lados do plano de escorregamento se movem da mesma

    distncia (figura 9.20), enquanto que na maclao os tomos se movem de distncias que so

    proporcionais s respectivas distncias ao plano de macla (figura 9.23).

    Figura 9.23 - Desenho esquemtico do processo de maclao.

    Uma boa visualizao da mecnica da maclao pode ser feita atravs do estudo dos diagramas

    da Figura 9.24. Nesses desenhos a maclao representada somente esquemtica e no se refere a

    maclao de um cristal real. A figura superior representa uma estrutura cristalina composta de tomos

    com formato de esferides achatados. A figura inferior representa o mesmo cristal, aps ter sofrido uma

    ao de cisalhamento que produziu uma macla. A macla formada pela rotao de cada tomo da regio

    deformada, em torno de um eixo passando pelo seu centro e perpendicular ao plano do papel. Trs

    tomos esto indicados pelos smbolos a, b e c nas duas figuras, para mostrar suas posies relativas

    antes e depois do cisalhamento. Note-se que os tomos individuais esto muito pouco deslocados com

    relao aos seus vizinhos. Embora os movimentos dos tomos num cristal real no sejam iguais aos

    mostrados na Figura 9.24, o movimento de um tomo relativamente a seus vizinhos muito pequeno. As

    duas partes dessa figura mostram outra caracterstica importante da maclao: o reticulado da macla

    uma imagem especular do reticulado da matriz. Os reticulados da macla e da matriz esto orientados

    simetricamente com relao a um plano de simetria chamado plano de maclao.

    Na figura 9.25, est esquematizada a diferena bsica entre o efeito do escorregamento e da

    maclao na topografia superficial de um material metlico deformado. Para simplificar, foi admitido que

    a macla atravesse todo o cristal. O escorregamento origina um conjunto de degraus (figura 9.25-a),

    enquanto que a maclao origina pequenas regies bem definidas no cristal deformado (figura 9.25-b).

    No entanto, a diferena entre a maclao e o escorregamento deve ser examinada cuidadosamente, uma

    vez que, em ambos os casos, o reticulado cisalhado. No escorregamento, a deformao ocorre em

    planos individuais do reticulado, conforme indicado na Figura 9.25-a. Quando medido num plano de

    escorregamento isolado, o cisalhamento pode ser muitas vezes maior que o espaamento do reticulado,

    dependendo do nmero de deslocaes envolvido. O cisalhamento associado deformao por maclao

    , por outro lado, uniformemente distribudo em um volume, ao invs de localizado em alguns planos de

    escorregamento discretos. Neste caso, em contraste com o escorregamento, os tomos movem somente

    uma frao de um espaamento interatmico relativamente aos outros (figura 9.23). A deformao total

    por cisalhamento na maclao tambm pequena, de forma que o escorregamento um processo de

  • deformao plstica muito mais importante e predominante na maioria das ligas metlicas. Das trs

    estruturas cristalinas habituais nos materiais metlicos (CCC, CFC e HC), a maclao mais importante

    na estrutura HC, devido ao pequeno nmero de sistemas de escorregamento existente nesta estrutura.

    No obstante a contribuio da maclao, os metais HC, como o zinco e o magnsio, so menos dcteis

    do que os metais CCC e CFC, que tm um maior nmero de sistemas de escorregamento.

    Figura 9.24 Representao esquemtica mostrando como uma macla pode ser produzida por uma

    movimentao atmica simples.

    Figura 9.25 A diferena entre os cisalhamentos associados a maclao (a) e ao escorregamento (b).

    Tabela 9.2 - Planos e direes de maclao.

    Estrutura Cristalina Exemplos Plano de macla Direo de macla

    CCC Fe-, Ta (112) [111]

    CFC Zn, Cd, Mg, Ti (10 1 2) [ 1 011]

    HC Ag, Au, Cu (111) [112]

    FO eixo cristalogrfico

    no deforma

    Degraus de

    escorregamento

    F

    Planos da

    macla

    O eixo cristalogrfico

    sofre deformao

    F

    F

    (a) (b)

    FO eixo cristalogrfico

    no deforma

    Degraus de

    escorregamento

    F

    FO eixo cristalogrfico

    no deforma

    Degraus de

    escorregamento

    F

    Planos da

    macla

    O eixo cristalogrfico

    sofre deformao

    F

    F

    Planos da

    macla

    O eixo cristalogrfico

    sofre deformao

    F

    F

    (a) (b)

  • A maclao mecnica tem sido usada na explicao de certas propriedades mecnicas de alguns

    metais. Por exemplo, quando um metal macla, o reticulado interno a macla frequentemente se realinha,

    com uma orientao onde os planos de escorregamento se localizam mais favoravelmente com relao

    tenso aplicada. Sob certas condies, um metal fortemente maclado pode ser mais facilmente deformado

    que um metal isento de maclas. Por outro lado, o realinhamento do reticulado, se restrito a um nmero

    limitado de maclas, pode levar fratura, por permitir que ocorram grandes deformaes no interior das

    maclas. As maclas so tambm de importncia nos fenmenos de recristalizao, porque as intersees

    de maclas so locais preferenciais para a nucleao de novos gros durante o recozimento.

    9.6 DEFORMAO PLSTICA EM METAIS POLICRISTALINOS

    A quase totalidade dos materiais metlicos utilizados em aplicaes de engenharia so metais e

    ligas policristalinos. Nesses metais, os limites de gro aumentam a resistncia mecnica, uma vez que

    atuam como obstculos ao movimento das deslocaes, exceto a temperaturas elevadas, em que se

    tornam regies frgeis. Na maior parte das aplicaes em que a resistncia mecnica importante,

    desejvel um tamanho de gro pequeno e, por isso, a maior parte dos materiais metlicos produzida

    com gro fino. Na figura 9.26, so comparadas as curvas tenso-deformao obtidas em ensaios de trao

    de amostras de cobre mono e policristalino, efetuados temperatura ambiente. Qualquer que seja a

    deformao, o cobre policristalino mais resistente do que o cobre monocristalino. Para a deformao de

    20%, a resistncia trao do cobre policristalino 276 MPa, enquanto que a do cobre monocristalino

    55 MPa.

    Figura 9.26 - Curvas tenso-deformao do cobre mono e policristalino. Os materiais policristalinos

    apresentam maior resistncia mecnica devido aos limites de gro dificultar o

    escorregamento.

    Durante a deformao plstica dos materiais metlicos, as deslocaes que se movem num

    determinado plano de escorregamento no podem passar, em linha reta, diretamente de um gro para

    outro. Assim, em cada gro, as deslocaes movem-se em planos de escorregamento preferenciais que

    tm orientaes diferentes das dos gros vizinhos Esse fenmeno pode ser mais bem visualizado com o

    auxilio da figura 9.27. Nessa figura apresentada uma fotografia ilustrando a mudana de direo das

    linhas de escorregamento nos contornos de gro.

  • Figura 9.27 Liga de alumnio policristalina deformada plasticamente. Pode ser facilmente observado o

    paralelismo das bandas de escorregamento no interior dos gros e h ocorrncia de

    descontinuidades nos limites de gros.

    Os contornos de gro funcionam, portanto, como barreiras a propagao das delocaes. Outras

    imperfeies no reticulado cristalino tambm funcionam como barreiras movimentao das deslocaes

    no interior dos gros, por exemplo, segregados, partculas de segunda fase, etc. Alm dessas barreiras, os

    efeitos da interao de delocaes com outras delocaes tambm contribuem para o encruamento dos

    metais e suas ligas. Observa-se tambm, durante a deformao plstica a frio, a distoro dos gros uns

    em relao aos outros, devido criao, movimentao, ancoramento e rearranjo das deslocaes. Na

    figura 9.28, so mostradas microestruturas de amostras de material metlico no estado recozido e aps

    deformao plstica. Pode se observar que quando a deformao aumenta, os gros ficam mais alongados

    segundo a direo de trefilao, devido ao movimento de deslocaes.

    Figura 9.28 - Micrografias obtidas atravs de microscopia tica em amostras de material metlico

    recozida e aps deformao.

    Pode-se obter com o auxlio de microscopia de filmes finos (microscopia eletrnica de

    transmisso, MET, em lminas de at 100m de espessura) um conhecimento mais aprofundado sobre o

    encruamento dos materiais metlicos. Nos primeiros estgios da deformao plstica, o escorregamento

    se d essencialmente nos planos primrios de escorregamento e as deslocaes tendem a formar arranjos

    coplanares. Com o prosseguimento da deformao, observa-se a ocorrncia de escorregamento cruzado e

    os processos de multiplicao de deslocaes se tornam operantes. A estrutura deformada a frio forma

    regies de alta densidade de deslocaes (emaranhados de deslocaes), que evoluem formando uma

    estrutura em forma de rede de emaranhados, denominada de estrutura celular de deslocaes. Na

  • estrutura celular as paredes das clulas so formadas por emaranhados de alta densidade de deslocaes

    enquanto os interiores dessas clulas apresentam densidades prximas do material em seu estado

    recozido, conforme mostrado na figura 9.21 e no desenho esquemtico da figura 9.29. O tamanho das

    clulas diminui com a deformao para pequenas deformaes, mas logo atinge um tamanho de clula

    fixo, mostrando que, conforme a deformao continua, as deslocaes varrem as clulas e se juntam ao

    emaranhado nas paredes das clulas. A estrutura celular normalmente j est caracterizada quando a

    deformao a frio atinge 6% e estar completamente formada quando a deformao atinge 12%. A

    natureza exata da estrutura trabalhada a frio depender do material, da deformao, da taxa de

    deformao e da temperatura de deformao. A formao de uma estrutura celular menos pronunciada

    para baixas temperaturas e altas taxas de deformao, como tambm, em materiais onde o deslizamento

    cruzado apresenta dificuldades para se tornar operante (materiais que apresentam baixa energia de falha

    de empilhamento)

    (a) (b)

    Figura 9.29 - Desenho esquemtico mostrando (a) os estgios iniciais da formao celular e (b) uma

    estrutura celular completamente formada com alta densidade de deslocaes nas paredes

    das clulas.

    A maior parte da energia gasta na deformao de um material metlico convertida em calor. No

    entanto, uma pequena frao (esta frao cai de 5% para pequenas deformaes at 1 ou 2% para grandes

    deformaes) da energia gasta armazenada na estrutura causando um aumento da energia interna. A

    quantidade de energia armazenada aumenta com o ponto de fuso do material metlico e com o aumento

    do teor de soluto da liga. Para um dado material a quantidade de energia armazenada depende do

    processamento, ou seja, do processo de conformao (trefilao, extruso, laminao, etc.), da geometria

    da zona de deformao (semi-ngulo, dimetro do cilindro, etc.) e do coeficiente de atrito na interface

    produto/ferramenta. A energia armazenada aumenta tambm com a diminuio da temperatura.

    A maior parte da energia armazenada devida gerao e interao das deslocaes durante o

    trabalho a frio, ou seja, devido formao da microestrutura celular de deslocaes. Os vazios so

    responsveis por parte da energia armazenada em metais deformados a temperaturas muito baixas.

    Entretanto, os vazios so muito mais mveis que as deslocaes, de maneira que facilmente escapam da

    maioria dos metais deformados temperatura ambiente. Falhas de empilhamento e maclas so

    provavelmente responsveis por uma pequena frao da energia armazenada. Uma reduo na ordenao

    de curto alcance durante a deformao de solues slidas pode tambm contribuir para a energia

    armazenada. A energia de deformao elstica contribui apenas para uma parte insignificante da energia

    armazenada.

  • 9.7 - COMPORTAMENTO DOS MATERIAIS DURANTE A CONFORMAO

    9.7.1 Trabalho a Frio

    Trabalho a frio (tambm conhecido como conformao a frio), se refere conformao

    mecnica realizada a temperatura ambiente ou a temperatura ligeiramente acima desta. Durante o

    trabalho a frio os mecanismos de recuperao e recristalizao no esto operantes no espao de tempo

    de realizao da operao de conformao (todo o tempo compreendido entre o incio do processamento

    at a obteno da pea final). O trabalho a frio quando compara ao trabalho a quente permite a obteno

    de tolerncias mais estreitas, conseqentemente fornecendo melhor preciso dimensional. Alm disso, o

    encruamento gerado pela deformao plstica aumenta a resistncia mecnica e a dureza do produto. O

    trabalho a frio possibilita, quando pequenas redues de rea esto envolvidas (dependendo da

    ductilidade do material), uma maior taxa de produo, pois nenhum aquecimento prvio da pea

    requerido, economizando despesas com fornos, combustvel para oper-los e tempo despendido em

    operaes de aquecimento. Devido a esta combinao de vantagens, muitos processos de conformao a

    frio desenvolveram-se em importantes operaes de produo em larga escala. Eles fornecem tolerncias

    mais estreitas e bom acabamento superficial, minimizando a quantidade de usinagem subseqente.

    H certas desvantagens ou limitaes associadas com operaes de trabalho a frio, tais como a

    necessidade de maior potncia para executar a operao de conformao e o cuidado a ser tomado para

    assegurar que a superfcie da pea a ser conformada esteja livre de carepas e sujeiras. Entretanto, a

    principal limitao do trabalho a frio est relacionada quantidade limitada de deformao que pode ser

    realizada na pea devido ao encruamento. Em algumas operaes, o metal deve ser recozido para dar

    continuidade ao processo de conformao, o que torna o processo cada vez mais caro e caso seja

    necessrio vrias etapas de recozimento o processo perde viabilidade. Em outros casos, o metal pode no

    ser dctil o suficiente para ser trabalhado a frio. Em ambos os casos, processamento a quente pode ser a

    soluo.

    Durante processamento a frio dos materiais metlicos a taxa de encruamento pode ser obtida pela

    inclinao da curva de escoamento (curva de fluxo). Normalmente, a taxa de encruamento menor para

    metais hexagonais compacto do que para metais cbicos. O aumento da temperatura de deformao pode

    tambm diminuir a taxa de encruamento. Para ligas endurecidas por adies em soluo slida a taxa de

    encruamento pode tanto aumentar como diminuir, comparada com a taxa de encruamento do metal puro.

    Entretanto, a resistncia final de uma liga em soluo slida quase sempre maior do que a do metal

    puro que sofreu o mesmo trabalho a frio.

    A Figura 9.30 mostra a variao tpica da resistncia e da ductilidade com o aumento da

    quantidade de trabalho a frio. Uma vez que na maioria dos processos de trabalho a frio uma ou duas

    dimenses do metal so reduzidas s custas de um aumento nas outras dimenses, o trabalho a frio

    produz o alongamento dos gros na direo principal de trabalho. Grandes deformaes produzem uma

    reorientao dos gros numa orientao preferencial. Alm das mudanas das propriedades em trao

    mostradas na figura 9.30, o trabalho a frio produz tambm mudanas em outras propriedades fsicas.

    Normalmente ocorre uma pequena reduo na densidade (da ordem de alguns dcimos por cento), uma

    diminuio aprecivel da condutividade eltrica devido ao aumento do nmero de centros espalhadores e

    um pequeno aumento do coeficiente de expanso trmica. Devido ao aumento da energia interna durante

    trabalho a frio, a reatividade qumica tambm aumentada. Isso leva a uma diminuio geral na

    resistncia corroso e, em certas ligas, introduz a possibilidade do aparecimento de trincas de corroso

    sob tenso.

    A curva tenso-deformao tpica para a maioria dos metais dividida em uma poro elstica e

    uma poro plstica. No estudo da conformao de metais, a poro de deformao plstica de

    fundamental importncia porque durante a conformao o material plstica e permanentemente

  • deformado, essa poro denominada de curva de fluxo ou curva de escoamento do material (figura

    9.30). Na regio de deformao plstica uma taxa de encruamento alta implica uma mtua obstruo de

    deslocaes deslizantes nos sistemas de escorregamento que se interceptam. Isso pode ocorrer atravs da

    interao dos campos de tenso das deslocaes, atravs de interaes que produzem deslocaes

    bloqueadas em partculas segregadas, contornos de gro, etc. e atravs da interpenetrao de um sistema

    de escorregamento por outro que resultam na formao de degraus de deslocaes.

    Figura 9.30 Variao das propriedades mecnicas com o trabalho a frio.

    A equao bsica que relaciona a tenso de escoamento (encruamento) com a microestrutura

    bG i 0 (9.49)

    Onde 0 a tenso de escoamento, i a tenso de atrito contrria ao movimento das

    deslocaes, G o modulo de elasticidade cisalhante, b o vetor de Burgers, a densidade de

    deslocaes e uma constante numrica, geralmente compreendida entre 0,3 e 0,6. Baseado nessa anlise, est bvio que a curva de escoamento funo tanto do material quanto do processamento, ou

    seja, do estado de tenses a que est submetido (processo de conformao). Nos ltimos anos, tem-se

    dado muita importncia ao desenvolvimento das teorias de encruamento baseada nos modelos

    microestruturais, mas, infelizmente, ainda sem grande sucesso. O atual estgio do desenvolvimento

    cientfico ainda no permite determinar uma curva de escoamento, equao constitutiva bsica, com a

    preciso necessria para a correta modelagem de processos de conformao mecnica. Muitos

    pesquisadores esperam alcanar esse objetivo nos prximos anos. No entanto, enquanto no se alcana

    este objetivo, as curvas de fluxo tm sido determinadas atravs de ensaios de trao, compresso,

    cisalhamento, toro, entre outros. Cabe ressaltar, que as curvas levantadas atravs destes testes so

    apenas aproximaes do comportamento real de escoamento dos materiais quando submetidos aos

    diferentes processos de conformao, pois se trata de distintas trajetrias de deformao.

    Limite de resistncia

    Curva de escoamento

    Alongamento

    Reduo de rea

    na fratura

    Reduo de rea durante trabalho a frio

    Pro

    pri

    edade

    Limite de resistncia

    Curva de escoamento

    AlongamentoAlongamento

    Reduo de rea

    na fratura

    Reduo de rea

    na fratura

    Reduo de rea durante trabalho a frio

    Pro

    pri

    edade

  • 9.7.1 Determinao de uma expresso para o encruamento

    A figura 9.31 mostra uma curva tenso nominal - deformao nominal ( eS ), levantada atravs

    dum teste de trao, e sua correspondente curva tenso verdadeira - deformao verdadeira ( ) usando as seguintes definies:

    Deformao verdadeira, l

    dld ou e 1ln (9.50)

    Tenso verdadeira, A

    F ou eS 1 (9.51)

    Aqui A a rea instantnea associada a um carregamento especifico F.

    A equao 9.50 til somente at a carga mxima. Aps o incio da estrico, a variao

    dimensional est localizada na estrico, assim a deformao nominal, e, que envolve uma medida de

    toda a seo til, no ode ser usada para calcular a deformao verdadeira, . Uma expresso alternativa, apresentada na equao 9.25, continua valida. Essa e baseada em medidas da rea da seo transversal

    mnima, e visto que A

    dAl

    dl ,

    A

    dAd ou

    A

    A0ln (9.52)

    Aps estrico, a equao A

    F , mas no eS 1 , fornece a tenso verdadeira mdia na

    estrico na direo de carregamento. Essa no mais a tenso efetiva, , visto que o estado de tenses na estrico triaxial.

    Figura 9.31 - Representao esquemtica da curva tenso-deformao.

    Exemplo 9.7 --- Uma amostra com 10 mm de dimetro e 50 mm de comprimento til submetida a

    uma carga trativa de 18 000 N. Nesse instante, o comprimento til 63 mm.

    Ten

    so

    Deformao

    Nominal

    Verdadeira

    Ten

    so

    Deformao

    Nominal

    Verdadeira

  • Assumindo que a deformao uniforme at esse ponto, determine a tenso

    verdadeira, a deformao verdadeira e o dimetro.

    Soluo:

    MPa2229

    4mm 10

    000N 18

    A

    FS

    20

    ,

    2600mm 50

    mm 50-mm 63e ,

    Utilizando as equaes 9.50 a 9.52, temos:

    MPa82880,261 MPa2229e1S ,,

    23102601e1 ,,lnln

    Devido a constncia de volume as equaes

    d

    d2

    AA

    ll 00

    0lnlnln so todas

    equivalentes. Assim mm9181221

    mm 10d

    d

    mm 10e

    dmm 1022310 2

    0,231

    ,,

    ln,

    Para muitos materiais dcteis que no sofreram trabalho a frio anterior ao teste de trao, que se

    encontram no estado recozido, o comportamento do escoamento inicial at a carga mxima

    adequadamente descrito por uma equao de potncia da forma:

    nk (9.53)

    Onde para uma determinada deformao induzida (poro plstica da deformao total), o valor correspondente de o novo limite de escoamento causado pelo encruamento induzido pela deformao. Usando a equao 9.27, pode-se mostra que:

    r1

    1ln (9.54)

    A conseqncia fsica importante dessa observao pode agora ser explicada. Se uma certa

    quantidade de trabalho a frio induzida num metal, essa corresponde a um valor particular de r, e com a

    equao 9.54 o valor equivalente da deformao determinado. Introduzindo esse valor na equao 9.53,

    e assumindo que k e n so conhecidos, calcula-se , que o novo limite de escoamento do devido ao efeito do encruamento. Via tal procedimento, possvel quantificar razoavelmente (veja bem,

    razoavelmente) o limite de escoamento como uma funo do encruamento. Note, tambm, que as

    condies que so descritas pela equao 9.53 foram 0 0 321 , e 321 d2d2d ,

    onde a direo de carregamento a direo 1 e assumido por predominar isotropia e volume constante.

    Usando as equaes 9.44 e 9.47 pode ser mostrado que

    efef dde 11 (9.55)

    Ento, os resultados de um teste de trao so, de fato, descrio de uma curva tenso-

    deformao plstica efetiva. Por esta razo pode-se escrever a equao 9.53 como

    0 n

    efef k (9.56)

  • Outras equaes para descrever o escoamento dos materiais metlicos tm sido sugeridas.

    Algumas delas so:

    Ludwik: cefef ba (9.57)

    Onde a, b e c so constantes arbitrrias. Esta uma outra forma aproximada da curva de

    escoamento, mas tende a subestimar a tenso em que a deformao baixa (

  • Soluo:

    Usando a equao 9.54, a deformao verdadeira induzida .

    511,04,01

    1ln

    ef

    A partir da equao 9.56 e com os valores de k e n dados, o novo limite de escoamento, 0 , .

    MPa 121,1 10,511527 1 46,00 ef

    Exemplo 9.9 - Mostre que no incio da instabilidade em trao, assumindo que o comportamento

    plstico descrito por n

    efef k , a deformao verdadeira na carga mxima, u ,

    igual ao expoente de encruamento, n.

    Soluo:

    Por definio, AF , assim 0d AdA dF na carga mxima. Assim

    d

    A

    dAd Por definio. Ou

    d

    d

    Como nk ,

    n1n knkd

    d

    Ou

    n 1n

    Visto que est se considerando a condio de carga mxima, nu .

    A tenso verdadeira na carga mxima (note que essa tenso no pode ser chamada de limite de resistncia verdadeiro porque o limite de resistncia a tenso de engenharia mxima enquanto que a tenso verdadeira mxima ocorre na fratura) pode ser expressa como

    nnuu kk visto que nu (9.60)

    Uma vez que o limite de resistncia defino como

  • 0

    uu

    A

    FS (9.61)

    Usando essas equaes e a equao 9.51 obtm-se a carga mxima como

    unuu0uu AknAASF (9.62)

    Portanto

    0

    unu

    A

    AknS

    Da equao 9.52, temos,

    ueA

    A

    0

    u (9.63)

    Como nu ,

    n

    ue

    nkS

    (9.64)

    Onde e base do logaritmo natural nas equaes 9.63 e 9.64.

    9.7.1 Tenso de escoamento mdia

    A tenso de escoamento mdia ou tenso de fluxo mdia o valor mdio de tenso obtida da

    curva de escoamento entre a deformao inicial e final, que ocorre durante a conformao. Esse valor

    ilustrado na curva tenso-deformao da Figura 9.32.

    A tenso de escoamento mdia determinada integrando-se a equao da curva de escoamento

    (fluxo), entre os valores de deformao inicial e final, dentro da faixa de interesse e, em seguida,

    dividindo-se este valor pela faixa de deformao, ou seja:

    xefxef

    ef

    xef

    xef

    ef d

    1

    1

    0

    (9.65)

    Onde 0 a tenso de fluxo mdia, (MPa); e xef o valor da deformao efetiva

    (equivalente) at o passe x e 1 xef o valor da deformao efetiva at o passe x+1. importante

    observar que a deformao no passe de conformao obtida da diferena entre 1 xef e xef .

    Nos casos em que se aplica a Equao 9.56 a equao 9.35 pode ser escrita da seguinte forma:

    xefxef

    ef

    xef

    xef

    nef dk

    1

    1

    0

    (9.65a)

  • Nos casos em que a deformao inicial nula (primeiro passe de conformao de um material

    recozido), a Equao 9.65 pode ser simplificada para:

    n

    k nef

    10

    (9.66)

    Faremos uso extensivo da tenso de fluxo mdia nas prximas sees deste texto. Conhecidos os

    valores de K e n para o material em trabalho, um mtodo para determinao da deformao final ser

    desenvolvido para cada processo. Baseando-se nesta deformao, a Equao 9.66 pode ser usada para

    determinar a tenso de fluxo mdia qual o metal est submetido durante a operao.

    Figura 9.32 - Curva tenso-deformao, indicando a tenso de fluxo mdia 0 .

    9.8 - EFEITOS DA TAXA DE DEFORMAO

    Teoricamente, um metal em trabalho a quente se comporta como um material perfeitamente

    plstico, com coeficiente de encruamento nulo (n = 0). Isto significa que o metal deveria continuar

    fluindo sob o mesmo nvel de tenso de fluxo, desde que a tenso de escoamento seja alcanada. Porm,

    um fenmeno adicional caracteriza o comportamento dos metais durante a deformao, especialmente em

    temperaturas elevadas de trabalho a quente. Este fenmeno a sensibilidade taxa de deformao.

    Comearemos nossa discusso definindo taxa de deformao.

    A taxa na qual o metal deformado em um processo de conformao est relacionada

    diretamente com a velocidade de deformao v. Em muitas operaes de conformao, a velocidade de

    deformao igual velocidade de avano da ferramenta ou outro elemento mvel do equipamento.

    facilmente visvel a velocidade de deformao em um ensaio de trao, pois ela igual a velocidade da

    base mvel em relao a base fixa. Dada a velocidade de deformao v, a taxa de deformao definida

    como:

    h

    v (9.67)

    Onde a taxa de deformao convencional, (m/s/m), ou simplesmente (s-1) e h a altura ou o comprimento instantneo (dimenso principal) do metal que est sendo deformando. Se a velocidade de

    deformao v constante durante a operao, a taxa de deformao mudar medida que h variar

    (devido deformao trativa ou compressiva). Na maioria dos processos de conformao, a determinao

    da taxa de deformao complexa devido geometria da pea e s variaes da taxa de deformao nas

    ef x

    ef x+1

    0

    ef x

    ef x+1

    00

  • diferentes partes da pea. A taxa de deformao pode alcanar 103 s

    -1 ou mais para alguns processos de

    conformao, tais como forjamento e laminao em altas velocidades.

    J observamos que a tenso de fluxo de um metal uma funo da temperatura. Nas temperaturas

    de trabalho a quente, a tenso de fluxo depende tambm da taxa de deformao. O efeito da taxa de

    deformao nas propriedades de resistncia conhecido como sensibilidade taxa de deformao. O

    efeito pode ser visto na Figura 9.33. Quando a taxa de deformao aumenta, a resistncia deformao

    tambm aumenta. A curva se aproxima muito de uma linha reta em um grfico log-log, conduzindo

    relao:

    mC (9.68)

    Onde C a constante de resistncia (semelhante, mas no igual ao coeficiente de resistncia na

    equao de curva de fluxo), e m o expoente de sensibilidade taxa de deformao.