Japão - CSFX ( Colégio São Francisco Xavier) Ipatinga - MG - Brasil
Francisco Brasil 2013
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VISITA APOSTLICA DO PAPA FRANCISCO AO BRASIL
22-29 de julho de 2013
XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
DISCURSOS E HOMILIAS
EDIO ESPECIAL
Inclui a verso integral do dilogo do Papa
com os jornalistas a bordo do avio
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Director: Paulo Rocha.Chefe de Redaco: Octvio Carmo.
Paginao e grasmo: Manuel Costa.
Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/
travels/2013/papa-francesco-gmg-rio-de-janei-
ro-2013_po.htm
AGNCIA ECCLESIA
Propriedade: Conferncia Episcopal Portuguesa - Sec-
retariado Nacional das Comunicaes Sociais da Igreja,
pessoa Colectiva n 500966575.
Redaco e Administrao:
Quinta do Cabeo, Porta D - 1885-076 MOSCAVIDE
Tel.: 218855472; Fax: 218855473
[email protected]; www.agencia.ecclesia.pt
cha tcnica
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ENCONTRO COM OS JORNALISTAS DURANTE O VO PAPALSegunda-feira, 22 de Julho de 2013
CERIMNIA DE BOAS-VINDAS - DISCURSO DO PAPA FRANCISCOPalcio da Guanabara, Rio de Janeiro, Segunda-feira, 22 de Julho de 2013
MISSA NA BASLICA DO SANTURIO NACIONAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA - HOMILIAQuarta-feira, 24 de Julho de 2013
PALAVRAS DE IMPROVISO DO PAPA DEPOIS DA SANTA MISSA NA BASLICA DO SANTURIODE NOSSA SENHORA APARECIDASacada do Santurio, 24 de Julho de 2013
VISITA AO HOSPITAL SO FRANCISCO DE ASSIS NA PROVIDNCIA DE DEUS - DISCURSORio de Janeiro, Quarta-feira, 24 de Julho de 2013
PALAVRAS DO PAPA AOS JOVENS ITALIANOS NO FINAL DA VISITA AO HOSPITAL SO FRANCISCORio de Janeiro, Quarta-feira, 24 de julho de 2013
CERIMNIA DE BNO DAS BANDEIRAS OLMPICAS - PALAVRAS PAPAPalcio da Cidade, Rio de Janeiro, 25 de julho de 2013
VISITA COMUNIDADE DE VARGINHA (MANGUINHOS) - DISCURSORio de Janeiro Varginha, Quinta-feira, 25 de Julho de 2013
FESTA DE ACOLHIDA DOS JOVENS - SAUDAO E HOMILIAPraia de Copacabana, Rio de Janeiro, Quinta-feira, 25 de Julho de 2013
ALOCUO DO PAPA, ANGELUSBalco do Arcebispado, Rio de Janeiro, Sexta-feira, 26 de Julho de 2013
VIA-SACRA COM OS JOVENS - PALAVRAS DO PAPACopacabana, Rio de Janeiro, Sexta-feira, 26 de Julho de 2013
MISSA COM OS BISPOS DA JMJ, SACERDOTES, RELIGIOSOS E SEMINARISTAS - HOMILIACatedral de So Sebastio, Rio de Janeiro, Sbado, 27 de Julho de 2013
ENCONTRO COM A CLASSE DIRIGENTE DO BRASIL - DISCURSOTeatro Municipal, Rio de Janeiro, Sbado, 27 de Julho de 2013
ENCONTRO COM O EPISCOPADO BRASILEIRO - DISCURSOArcebispado do Rio de Janeiro, Sbado, 27 de Julho de 2013
VIGLIA DE ORAO COM OS JOVENS - DISCURSOCopacabana, Rio de Janeiro, Sbado, 27 de Julho de 2013
MISSA PARA A XXVIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE - HOMILIACopacabana, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013
ALOCUO DO SANTO PADRE, ANGELUSCopacabana, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013
ENCONTRO COM OS VOLUNTRIOS DA XXVIII JMJ - DISCURSOPavilho 5 do Rio Centro, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013
CERIMNIA DE DESPEDIDA - DISCURSOAeroporto Internacional do Galeo/ Antnio Carlos Jobim, Rio de Janeiro, Domingo, 28 de Julho de 2013
ndice
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PADRE LOMBARDI
Santo Padre Francisco, bem-vindo ao meio desta comunidade
voadora de jornalistas, operadores das comunicaes. Sen-
mos grande emoo pela possibilidade de acompanh-lo em
sua primeira viagem interconnental, internacional, depoisda comovedora deslocao a Lampedusa! Alm do mais,
a primeira viagem ao seu Connente, ao m do mundo.
uma viagem na companhia dos jovens; por isso, suscita um
grande interesse. Como pode ver, ocupamos todos os lugares
disponveis para os jornalistas neste vo. Somos mais de 70 pes-
soas, obedecendo a composio do grupo a critrios de grande
variedade, ou seja, temos representantes das televises tanto
reprteres como operadores de cmara , os representantes da
imprensa escrita, das agncias de nocias, da rdio, operadores
de internet... Pracamente esto representados, e de forma
qualicada, todos os mass-media. E esto representadas tam-
bm as culturas, as diferentes lnguas. Temos, neste vo, um
bom grupo de italianos, em seguida aparecem naturalmente
os brasileiros que vieram inclusive do Brasil para voar junto
com o Santo Padre: h dez brasileiros que vieram de propsito
para isso. Depois temos dez dos Estados Unidos da Amrica,
nove da Frana, seis da Espanha; depois h ingleses, mexica -
nos, alemes; tambm o Japo, a Argenna naturalmente
, a Polnia, Portugal e a Rssia esto representados. Trata-se,
portanto, de uma comunidade muito diversicada. Muitos dos
que aqui esto acompanham, freqentemente, as viagens
do Papa fora da Itlia, ou seja, j no esto em sua primeira
ENCONTRO COM OS JORNALISTASDURANTE O VOO PAPAL
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experincia, antes, alguns so muito navegados, conhecem
essas viagens muito melhor do que o Santo Padre. Diversa-
mente, outros esto aqui pela primeira vez, porque como
os brasileiros, por exemplo acompanham especicamente
esta viagem. Assim, decidimos dar-lhe as boas-vindas a este
grupo pela voz tambm de um de ns, ou melhor, uma de ns,que foi escolhida acho que sem problemas parculares de
concorrncia porque , certamente, a pessoa que fez mais
viagens ao estrangeiro com o Santo Padre: est em disputa
com o Doutor Gasbarri inclusive pelo nmero das viagens re-
alizadas. Alm disso uma pessoa que vem do seu Connente
e, por conseguinte, pode falar-lhe em espanhol, na sua lngua;
e para alm do mais uma pessoa mulher, sendo justo
que lhe demos a palavra. Ento dou imediatamente a palavra
a Valenna Alazraki, que a correspondente de Televisa, h
muitos anos mas permanece sempre juvenil, como o Santo
Padre v , senndo-nos contentes por a termos conoscomais no fosse porque algumas semanas atrs paru um p
e por isso temamos que no pudesse vir. Mas no, ajustou-o
a tempo, rou o gesso h dois ou trs dias e agora j est no
avio. Portanto ser ela que interpreta os senmentos desta
comunidade voadora para com o Santo Padre.
VALENTINA ALAzRAkI:
Papa Francisco, bom dia! O nico mrito que possuo para ter
o privilgio de dar-lhe as boas-vindas o elevado nmero de
horas de vo. Parcipei no primeiro vo de Joo Paulo II ao
Mxico, o meu pas. Ento era a mascote; agora, 34 anos e meio
depois, sou a decana! Por isso tenho o privilgio de dar-lhe as
boas-vindas. Sabemos, pelos seus amigos e colaboradores na
Argenna, que os jornalistas no so propriamente santos
da sua devoo. Talvez tenha pensado que o Padre Lombardi
o trouxe cova dos lees... A verdade, porm, que no so-
mos assim to ferozes, e temos um grande prazer em poder
ser seus companheiros de viagem. Gostaramos que o Santo
Padre nos visse assim, como companheiros de viagem, nesta
e em muitas outras ainda. Obviamente somos jornalistas, ese hoje, amanh ou nos dias seguintes quiser responder a
perguntas, no vamos dizer que no, porque somos jornalis-
tas. Vimos que conou esta sua viagem a Maria, tendo ido a
Santa Maria Maior e vai ir a Aparecida; pensei oferecer-lhe
um pequeno presente, uma pequenssima Virgem peregrina
para que O acompanhe nesta peregrinao e muitas mais. Por
coincidncia, trata-se da Virgem de Guadalupe; ofereo-a no
pelo fato de ser a Rainha do Mxico mas porque a Padroeira
da Amrica, pelo que nenhum Virgem Maria se ressenr: nem
a da Argenna, nem a de Aparecida, nem qualquer outra. Eu
lha ofereo com imenso carinho da parte de todos ns e com
a esperana de que proteja o Santo Padre nesta viagem e em
muitas outras ainda.
PADRE LOMBARDI:
E agora demos a palavra ao Santo Padre, naturalmente para
que nos diga pelo menos algumas palavras introdutrias a
esta viagem.
PAPA FRANCISCO:
Bom dia! Bom dia a vocs todos! Disseram eu ouvi coisas
um bocado estranhas: Que vocs no so santos da minha
devoo, que aqui eu estou no meio dos lees..., ainda bem
que no so muito ferozes! Obrigado! Verdadeiramente eu
no dou entrevistas, mas porque no sei, no consigo. Sou
assim! Sinto um pouco de diculdade em faz-lo, mas agradeo
a companhia. Esta primeira viagem tem em vista encontrar os
jovens, mas no isolados da sua vida; eu quereria encontr-los
precisamente no tecido social, em sociedade. Porque, quando
isolamos os jovens, pracamos uma injusa: despojamo-los
da sua pertena. Os jovens tm uma pertena: pertena a uma
famlia, a uma ptria, a uma cultura, a uma f Eles tm uma
pertena, e no devemos isol-los! Sobretudo no devemos
isol-los inteiramente da sociedade! Eles so verdadeiramente
o futuro de um povo! Isto verdade; mas no o so somente
eles: eles so o futuro, porque tm a fora, so jovens, con-
nuaro para diante. Mas tambm, no outro extremo da vida,
os idosos so o futuro de um povo. Um povo tem futuro se vai
em frente com ambos os pontos: com os jovens, com a fora,
porque o levam para diante; e com os idosos, porque so eles
que oferecem a sabedoria da vida. E muitas vezes penso que
fazemos uma injusa aos idosos, pondo-os de lado como se
eles no vessem nada para nos dar; eles tm a sabedoria,
a sabedoria da vida, a sabedoria da histria, a sabedoria da
ptria, a sabedoria da famlia. E ns precisamos disto! Por
isso, digo que vou encontrar os jovens, mas no seu tecido
social, principalmente com os idosos. verdade que a crise
mundial no gera coisas boas para os jovens. Li, na semana
passada, a percentagem dos jovens desempregados; pensem
que corremos o risco de ter uma gerao que no encontroutrabalho, e o trabalho que confere pessoa a dignidade de
ganhar o seu po. Os jovens, neste momento, sofrem a crise.
Aos poucos fomo-nos acostumando a esta cultura do descarte:
com os idosos, sucede demasiadas vezes; mas agora acontece
tambm com inmeros jovens sem trabalho. Tambm a eles
chega a cultura do descarte. Temos de acabar com esse hbito
de descartar. Ao contrrio, cultura da incluso, cultura do en-
contro, fazer um esforo para integrar a todos na sociedade.
Isto de certo modo o sendo que eu quero dar a esta visita
aos jovens, aos jovens na sociedade.
Agradeo-vos imenso, carssimos, santos de no devoo
e lees no muito ferozes. Muito obrigado, muito obrigado
mesmo! E eu gostava de lhes saudar a cada um. Obrigado!
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PADRE LOMBARDI:
Muito obrigado, Santo Padre, por esta introduo to expres-
siva. E agora vem todos saud-lo: passam por aqui, desse modo
podem vir e cada um pode conhec-lo, Sandade, apresentar-
se; cada um diga de que mdia , de que televiso ou jornalvem. Assim o Papa o sada e conhece
PAPA FRANCISCO:
Temos dez horas...
[Um a um, os jornalistas encontram o Santo Padre]
PADRE LOMBARDI:
Acabaram realmente de vir todos? Sim? mo! Agradecemos
verdadeiramente de corao ao Papa Francisco porque foi
julgo eu para todos ns um momento inesquecvel e penso
que constuiu uma bela introduo a esta viagem. Acho queo Santo Padre conquistou pelo menos um pouco do corao
destes lees, de modo que, durante a viagem, possam ser
seus colaboradores, isto , compreendam a sua mensagem e
a difundam com grande eccia. Obrigado, Sandade!
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PAPA FRANCISCO:
Agradeo-lhes de verdade e peo-lhes para ajudar-me e
colaborar, nesta viagem, para o bem, para o bem; o bem da
sociedade: o bem dos jovens e o bem dos idosos; ambos juntos,
no o esqueam! E eu co um pouco como o profeta Daniel:um pouco triste, porque vi que os lees no eram muito fero-
zes! Obrigado, muito obrigado! Um abrao a todos! Obrigado!
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Senhora Presidenta,
Ilustres Autoridades,
Irmos e amigos!
Quis Deus na sua amorosa providncia que a primeira viagem
internacional do meu Poncado me consensse voltar
amada Amrica Lana, precisamente ao Brasil, nao que se
gloria de seus slidos laos com a S Apostlica e dos pro-
fundos senmentos de f e amizade que sempre a uniram de
modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graas a Deus pela
sua benignidade.
Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, preciso ingres-
sar pelo portal do seu imenso corao; por isso permitam-me
que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peo
licena para entrar e transcorrer esta semana com vocs. No
tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me
foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar achama de amor fraterno que arde em cada corao; e desejo
que chegue a todos e a cada um a minha saudao: A paz de
Cristo esteja com vocs!
Sado com deferncia a Senhora Presidenta e os ilustres mem-
bros do seu Governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento
e por suas palavras que externaram a alegria dos brasileiros
pela minha presena em sua Ptria. Cumprimento tambm o
Senhor Governador deste Estado, que amavelmente nos recebe
na Sede do Governo, e o Senhor Prefeito do Rio de Janeiro,
bem como os Membros do Corpo Diplomco acreditado
junto ao Governo Brasileiro, as demais Autoridades presentes
e todos quantos se prodigalizaram para tornar realidade esta
minha visita.
Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus irmos no Episco-
pado, sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus
neste imenso Pas, e s suas amadas Igrejas Parculares. Esta
minha visita outra coisa no quer seno connuar a misso
pastoral prpria do Bispo de Roma de conrmar os seus irmos
na F em Cristo, de anim-los a testemunhar as razes da
Esperana que dEle vem e de incenv-los a oferecer a todos
as inesgotveis riquezas do seu Amor.O movo principal da minha presena no Brasil, como sabido,
transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da
Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo
o mundo, atrados pelos braos abertos do Cristo Redentor.
Eles querem agasalhar-se no seu abrao para, junto de seu
Corao, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: Ide
e fazei discpulos entre todas as naes.
Estes jovens provm dos diversos connentes, falam lnguas
diferentes, so portadores de variegadas culturas e, todavia,
em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e co-
CERIMNIA DE BOAS-VINDASDISCURSO DO PAPA FRANCISCO
Palcio da Guanabara, Rio de JaneiroSegunda-eira, 22 de Julho de 2013
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muns aspiraes e podem saciar a fome de verdade lmpida
e de amor autntico que os irmanem para alm de toda
diversidade.
Cristo abre espao para eles, pois sabe que energia alguma
pode ser mais potente que aquela que se desprende do cora-
o dos jovens quando conquistados pela experincia da suaamizade. Cristo bota f nos jovens e cona-lhes o futuro de
sua prpria causa: Ide, fazei discpulos. Ide para alm das
fronteiras do que humanamente possvel e criem um mundo
de irmos. Tambm os jovens botam f em Cristo. Eles no
tm medo de arriscar a nica vida que possuem porque sabem
que no sero desiludidos.
Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho conscincia de
que, ao dirigir-me aos jovens, falarei s suas famlias, s suas
comunidades eclesiais e nacionais de origem, s sociedades
nas quais esto inseridos, aos homens e s mulheres dos quais,
em grande medida, depende o futuro destas novas geraes.Os pais usam dizer por aqui: os lhos so a menina dos nossos
olhos. Que bela expresso da sabedoria brasileira que aplica
aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra
a luz regalando-nos o milagre da viso! O que vai ser de ns, se
no tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de
seguir em frente? O meu auspcio que, nesta semana, cada
um de ns se deixe interpelar por esta desaadora pergunta.E ateno! A juventude a janela pela qual o futuro entra no
mundo. a janela e, por isso, nos impe grandes desaos. A
nossa gerao se demonstrar altura da promessa conda
em cada jovem quando souber abrir-lhe espao. Isso signica:
tutelar as condies materiais e imateriais para o seu pleno
desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos slidos, sobre os
quais construir a vida; garanr-lhe segurana e educao para
que se torne aquilo que ele pode ser; transmir-lhe valores
duradouros pelos quais a vida merea ser vivida, assegurar-lhe
um horizonte transcendente que responda sede de felicidade
autnca, suscitando nele a criavidade do bem; entregar-lhea herana de um mundo que corresponda medida da vida
humana; despertar nele as melhores potencialidades para que
seja sujeito do prprio amanh e corresponsvel do desno
de todos. Com essas atudes precedemos hoje o futuro que
entra pela janela dos jovens.
Concluindo, peo a todos a delicadeza da ateno e, se possvel,
a necessria empaa para estabelecer um dilogo de amigos.
Nesta hora, os braos do Papa se alargam para abraar a inteira
nao brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e
religiosa. Desde a Amaznia at os pampas, dos sertes at
o Pantanal, dos vilarejos at as metrpoles, ningum se sinta
excludo do afeto do Papa. Depois de amanh, se Deus quiser,
tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Apare-
cida, invocando sua proteo materna sobre seus lares e fam-
lias. Desde j a todos abeno. Obrigado pelo acolhimento!
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Eminenssimo Senhor Cardeal,
Venerados irmos no episcopado e no sacerdcio,
Queridos irmos e irms!
Quanta alegria me d vir casa da Me de cada brasileiro,
o Santurio de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte
minha eleio como Bispo de Roma fui visitar a Baslica de Santa
Maria Maior, para conar a Nossa Senhora o meu ministrio.
Hoje, eu quis vir aqui para suplicar Maria, nossa Me, o bom
xito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus ps
a vida do povo lano-americano.
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santurio,
seis anos atrs, quando aqui se realizou a V Conferncia Geral
do Episcopado da Amrica Lana e do Caribe, pude dar-me
conta pessoalmente de um fato belssimo: ver como os Bis-
pos que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo,
discipulado e misso eram animados, acompanhados e, em
certo sendo, inspirados pelos milhares de peregrinos quevinham diariamente conar a sua vida a Nossa Senhora: aquela
Conferncia foi um grande momento de vida de Igreja. E, de
fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu
justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e
a f simples dos romeiros, sob a proteo maternal de Maria.
A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre casa da Me e
pede: Mostrai-nos Jesus. de Maria que se aprende o ver-
dadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em misso sempre
na esteira de Maria.
Assim, de cara Jornada Mundial da Juventude que me trouxe
at o Brasil, tambm eu venho hoje bater porta da casa de
Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos
ns, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores,
a transmir aos nossos jovens os valores que faro deles
construtores de um Pas e de um mundo mais justo, solidrio
e fraterno. Para tal, gostaria de chamar ateno para trs
simples posturas, trs simples posturas: Conservar a esperana;
deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.
1. Conservar a esperana. A segunda leitura da Missa apre-
senta uma cena dramca: uma mulher gura de Maria eda Igreja sendo perseguida por um Drago o diabo - que
quer lhe devorar o lho. A cena, porm, no de morte, mas
de vida, porque Deus intervm e coloca o lho a salvo (cfr. Ap
12,13a.15-16a). Quantas diculdades na vida de cada um, no
nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que
possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos.
Frente ao desnimo que poderia aparecer na vida, em quem
trabalha na evangelizao ou em quem se esfora por viver a
f como pai e me de famlia, quero dizer com fora: Tenham
sempre no corao esta certeza! Deus caminha a seu lado,
nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperana!
Nunca deixemos que ela se apague nos nossos coraes! O
drago, o mal, faz-se presente na nossa histria, mas ele no
o mais forte. Deus o mais forte, e Deus a nossa esperana!
verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e tambm
os nossos jovens, experimentam o fascnio de tantos dolos
que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperana: o
dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma
sensao de solido e de vazio entra no corao de muitos e
conduz busca de compensaes, destes dolos passageiros.Queridos irmos e irms, sejamos luzeiros de esperana!
Tenhamos uma viso posiva sobre a realidade. Encorajemos
a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes
no processo de se tornarem protagonistas da construo de
um mundo melhor: eles so um motor potente para a Igreja
e para a sociedade. Eles no precisam s de coisas, precisam
sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais
que so o corao espiritual de um povo, a memria de um
povo. Neste Santurio, que faz parte da memria do Brasil,
podemos quase que apalp-los: espiritualidade, generosidade,
solidariedade, perseverana, fraternidade, alegria; trata-se de
valores que encontram a sua raiz mais profunda na f crist.
2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem
homem e mulher de esperana a grande esperana que a f
nos d sabe que, mesmo em meio s diculdades, Deus atua
e nos surpreende. A histria deste Santurio serve de exemplo:
trs pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar
peixes, nas guas do Rio Parnaba, encontram algo inesperado:
uma imagem de Nossa Senhora da Conceio. Quem poderia
imaginar que o lugar de uma pesca infrufera, tornar-se-ia olugar onde todos os brasileiros podem se senr lhos de uma
mesma Me? Deus sempre surpreende, como o vinho novo,
no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o mel-
MISSA NA BASLICA DO SANTURIO NACIONALDE NOSSA SENHORA APARECIDA
HOMILIA
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hor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor,
que acolhamos as suas surpresas. Conemos em Deus! Longe
dEle, o vinho da alegria, o vinho da esperana, se esgota. Se
nos aproximamos dEle, se permanecemos com Ele, aquilo que
parece gua fria, aquilo que diculdade, aquilo que pecado,
se transforma em vinho novo de amizade com Ele.
3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se
caminhamos na esperana, deixando-nos surpreender pelo
vinho novo que Jesus nos oferece, h alegria no nosso cora-
o e no podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria.
O cristo alegre, nunca est triste. Deus nos acompanha.
Temos uma Me que sempre intercede pela vida dos seus
lhos, por ns, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est
5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus a de um Pai que
nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristo no
pode ser pessimista! No pode ter uma cara de quem parece
num constante estado de luto. Se esvermos verdadeiramente
enamorados de Cristo e senrmos o quanto Ele nos ama, o
nosso corao se incendiar de tal alegria que contagiar
quem esver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui neste
Santurio: O discpulo sabe que sem Cristo no h luz, no hesperana, no h amor, no h futuro (Discurso inaugural da
Conferncia de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamen
III/1 [2007], 861).
Queridos amigos, viemos bater porta da casa de Maria. Ela
abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela
nos pede: Fazei o que Ele vos disser (Jo 2,5). Sim, Me, nos
comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos
com esperana, conantes nas surpresas de Deus e cheios de
alegria. Assim seja.
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PALAVRAS DE IMPROVISO DO PAPADEPOIS DA MISSA NA BASLICA DO SANTURIO
DE NOSSA SENHORA APARECIDA
Sacada do Santurio, 24 de Julho de 2013
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Irmos e irms Irmos e irms, eu no falo brasileiro. Perdo-
em-me! Vou falar em espanhol. Desculpem! Muito obrigado!
Obrigado por estarem aqui. De corao, muito obrigado. E, com
todo o meu corao, peo Virgem Nossa Senhora Aparecida
que lhes abenoe, abenoe suas famlias, abenoe seus lhos,
abenoe seu pais, abenoe a Ptria inteira.
Vejamos agora vou cercar-me se me entendem. Fao-lhes
uma pergunta: Uma me se esquece de seus lhos? [No]
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Ela no se esquece de ns, Ela nos ama e cuida de ns. Agora
vamos lhe pedir a Bno. A Bno de Deus Todo-Poderoso
Pai, Filho e Esprito Santo desa sobre vocs e permanea
para sempre.
Quero pedir-lhes um favor, um jeinho Rezem por mim;rezem por mim, preciso! Que Deus lhes abenoe. Que Nossa
Senhora Aparecida lhes proteja. Adeus at quando eu voltar,
em 2017!
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Senhor Arcebispo do Rio de Janeiro,
Amados Irmos no Episcopado
Disntas Autoridades,
Queridos membros da Venervel Ordem Terceira de So Fran-
cisco da Penitncia,
Prezados mdicos, enfermeiros e demais prossionais de
sade,
Amados jovens e familiares, boa noite!
Quis Deus que meus passos, depois do Santurio de Nossa
Senhora Aparecida, se dirigissem para um parcular santurio
do sofrimento humano, que o Hospital So Francisco de Assis.
bem conhecida a converso do Santo Patrono de vocs: o
jovem Francisco abandona riquezas e comodidades para fazer-
se pobre no meio dos pobres, entende que no so as coisas,o ter, os dolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes no
do a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos
demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que
tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraou
um leproso. Aquele irmo sofredor foi mediador de luz ()
para So Francisco de Assis (Carta Enc. Lumen dei, 57),
porque, em cada irmo e irm em diculdade, ns abraamos
a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a
dependncia qumica, quero abraar a cada um e cada uma de
vocs - vocs que so a carne de Cristo e pedir a Deus que
encha de sendo e de esperana segura o caminho de vocse tambm o meu.
Abraar, abraar. Precisamos todos de aprender a abraar quem
passa necessidade, como fez So Francisco. H tantas situaes
no Brasil e no mundo que reclamam ateno, cuidado, amor,
como a luta contra a dependncia qumica. Frequentemente,
porm, nas nossas sociedades, o que prevalece o egosmo.
So tantos os mercadores de morte que seguem a lgica
do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do trco
de drogas, que favorece a violncia e que semeia a dor e a
morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. No
deixando livre o uso das drogas, como se discute em vrias
partes da Amrica Lana, que se conseguir reduzir a difuso
e a inuncia da dependncia qumica. necessrio enfrentar
VISITA AO HOSPITAL SO FRANCISCO DE ASSISNA PROVIDNCIA DE DEUS
DISCURSO
Rio de Janeiro, Quarta-eira, 24 de Julho de 2013
os problemas que esto na raiz do uso das drogas, promov-
endo uma maior jusa, educando os jovens para os valores
que constroem a vida comum, acompanhando quem est em
diculdade e dando esperana no futuro. Precisamos todos
de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a
abraar quem passa necessidade, para expressar solidariedade,
afeto e amor.
Mas abraar no suciente. Estendamos a mo a quem vive
em diculdade, a quem caiu na escurido da dependncia,
talvez sem saber como, e digamos-lhe: Voc pode se levantar,
pode subir; exigente, mas possvel se voc o quiser. Queri-
dos amigos, queria dizer a cada um de vocs, mas sobretudo
a tantas outras pessoas que ainda no veram a coragem de
empreender o mesmo caminho de vocs: Voc o protagonista
da subida; esta a condio imprescindvel! Voc encontrara mo estendida de quem quer lhe ajudar, mas ningum pode
fazer a subida no seu lugar. Mas vocs nunca esto sozinhos!
A Igreja e muitas pessoas esto solidrias com vocs. Olhem
para frente com conana; a travessia longa e cansava, mas
olhem para frente, existe um futuro certo, que se coloca numa
perspecva diferente relavamente s propostas ilusrias dos
dolos do mundo, mas que d novo impulso e nova fora vida
de todos os dias (Carta Enccl. Lumen dei, 57). A vocs todos
quero reper: No deixem que lhes roubem a esperana! No
deixem que lhes roubem a esperana! Mas digo tambm: No
roubemos a esperana, pelo contrrio, tornemo-nos todos
portadores de esperana!
No Evangelho, lemos a parbola do Bom Samaritano, que
fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase
morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas no
param; indiferentes seguem o seu caminho: no problema
delas! Quantas vezes ns dizemos: no um meu problema!
Quantas vezes olhamos para o outro lado e ngimos que no
vemos. Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para,
levanta-o, estende-lhe a mo e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35).
Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concreza
a parbola do Bom Samaritano. Aqui no h indiferena, mas
solicitude. No h desinteresse, mas amor. A Associao So
Francisco e a Rede de Tratamento da Dependncia Qumica
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ensinam a se debruar sobre quem passa por diculdades
porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas
est a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do
servio mdico e auxiliar aqui empenhado! O servio de vocs
precioso! Realizem-no sempre com amor; um servio feito
a Cristo presente nos irmos: Todas as vezes que zestes issoa um destes mais pequenos, que so meus irmos, foi a mim
que o zestes (Mt 25, 40), diz-nos Jesus.
E quero reper a todos vocs que lutam contra a dependn-
cia qumica, a vocs familiares que tm uma tarefa que nem
sempre fcil: a Igreja no est longe dos esforos que vocs
fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor est ao
lado de vocs e lhes conduz pela mo. Olhem para Ele nos
momentos mais duros e Ele lhes dar consolao e esperana.
E conem tambm no amor materno de Maria, sua Me. Esta
manh, no Santurio da Aparecida, conei cada um de vocsao seu corao. Onde vermos uma cruz para carregar, ao
nosso lado sempre est Ela, nossa Me. Deixo-lhes em suas
mos, enquanto, afetuosamente, a todos abeno. Obrigado!
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A minha saudao para vocs, jovens italianos, que esto nos
acompanhando em direto do Maracanzinho. Sei que se re-
uniram juntamente com muitos brasileiros de origem italiana
e com seus Bispos para celebrar a pessoa de Jesus e reer
sobre as respostas que somente Ele sabe dar s suas questes
PALAVRAS DO PAPA AOS JOVENS ITALIANOSNO FINAL DA VISITA AO HOSPITAL SO FRANCISCO
Rio de JaneiroQuarta-eira, 24 de julho de 2013
de f e de vida. Conem em Cristo, ouam-no, sigam os seus
passos. Ele nunca nos abandona, nem mesmo nos momentos
mais escuros da vida. Ele a nossa esperana. Amanh, em
Copacabana, teremos oportunidade para aprofundar esta
verdade, para tornar luminosa a vida. At amanh!
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Acabamos de benzer as bandeiras e as imagens religiosas. Bom
dia a todos! Muito obrigado por estarem aqui neste momento
e agora, de corao, vou lhes dar a Bno a vocs todos, s
CERIMNIA DE BNO DAS BANDEIRAS OLMPICAS
PALAVRAS PAPA
Palcio da Cidade, Rio de Janeiro, 25 de julho de 2013
suas famlias, aos seus amigos, ao bairro, a todos.
[d a Bno]
E rezem por mim!
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Queridos irmos e irms, bom dia!
Que bom poder estar com vocs aqui! Que bom! Desde o incio,
quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo erapoder visitar todos os bairros deste Pas. Queria bater em cada
porta, dizer bom dia, pedir um copo de gua fresca, beber um
"cafezinho" - no um copo de cachaa! - falar como a amigos
de casa, ouvir o corao de cada um, dos pais, dos lhos, dos
avs... Mas o Brasil to grande! No possvel bater em
todas as portas! Ento escolhi vir aqui, visitar a Comunidade
de vocs; esta comunidade, que hoje representa todos os
bairros do Brasil. Como bom ser bem acolhido, com amor,
generosidade, alegria! Basta ver como vocs decoraram as ruas
da Comunidade; isso tambm um sinal do carinho que nasce
do corao de vocs, do corao dos brasileiros, que est em
festa! Muito obrigado a cada um de vocs pela linda acolhida!
Agradeo ao casal Rangler e Joanapelas suas belas palavras.
1. Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras
e tambm aqui junto de vocs, me sinto acolhido. E impor-
tante saber acolher; algo mais bonito que qualquer enfeite
ou decorao. Isso assim porque quando somos generosos
acolhendo uma pessoa e parlhamos algo com ela um pouco
de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo - no -
camos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando
algum que precisa comer bate na sua porta, vocs sempre doum jeito de comparlhar a comida: como diz o ditado, sempre
se pode colocar mais gua no feijo! Se pode colocar mais
gua no feijo? Sempre? ... E vocs fazem isto com amor,
mostrando que a verdadeira riqueza no est nas coisas, mas
no corao!
E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode
dar para o mundo uma grande lio de solidariedade, que
uma palavra esta palavra solidariedade uma palavra
frequentemente esquecida ou silenciada, porque incmoda.
Quase parece um palavro solidariedade! Queria lanar umapelo a todos os que possuem mais recursos, s autoridades
pblicas e a todas as pessoas de boa vontade compromedas
com a jusa social: No se cansem de trabalhar por um mundo
mais justo e mais solidrio! Ningum pode permanecer insen-
svel s desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um,
na medida das prprias possibilidades e responsabilidades,
saiba dar a sua contribuio para acabar com tantas injusassociais! No , no a cultura do egosmo, do individualismo,
que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que
constri e conduz a um mundo mais habitvel; no ela, mas
sim a cultura da solidariedade; a cultura da solidariedade ver
no outro no um concorrente ou um nmero, mas um irmo.
E todos ns somos irmos!
Quero encorajar os esforos que a sociedade brasileira tem
feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as
mais sofridas e necessitadas, atravs do combate fome e
misria. Nenhum esforo de pacicao ser duradouro, no
haver harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora,
que deixa margem, que abandona na periferia parte de si
mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si
mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. No
deixemos, no deixemos entrar no nosso corao a cultura do
descartvel! No deixemos entrar no nosso corao a cultura
do descartvel, porque ns somos irmos. Ningum descar-
tvel! Lembremo-nos sempre: somente quando se capaz de
comparlhar que se enriquece de verdade; tudo aquilo que
se comparlha se mulplica! Pensemos na mulplicao dos
pes de Jesus! A medida da grandeza de uma sociedade dadapelo modo como esta trata os mais necessitados, quem no
tem outra coisa seno a sua pobreza!
2. Queria dizer-lhes tambm que a Igreja, advogada da jusa
e defensora dos pobres diante das intolerveis desigualdades
sociais e econmicas, que clamam ao cu (Documento de
Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaborao em todas
as iniciavas que signiquem um autnco desenvolvimento
do homem todo e de todo o homem. Queridos amigos, certa-
mente necessrio dar o po a quem tem fome; um ato de
jusa. Mas existe tambm uma fome mais profunda, a fomede uma felicidade que s Deus pode saciar. Fome de digni-
dade. No existe verdadeira promoo do bem-comum, nem
verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram
VISITA COMUNIDADE DE VARGINHA (MANGUINHOS)
DISCURSO
Rio de Janeiro - VarginhaQuinta-eira, 25 de Julho de 2013
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os pilares fundamentais que sustentam uma nao, os seus
bens imateriais: a vida, que dom de Deus, um valor que deve
ser sempre tutelado e promovido; a famlia, fundamento da
convivncia e remdio contra a desagregao social; a educa-
o integral, que no se reduz a uma simples transmisso de
informaes com o m de gerar lucro; a sade, que deve buscaro bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimenso espiritual,
que essencial para o equilbrio humano e uma convivncia
saudvel; a segurana, na convico de que a violncia s pode
ser vencida a parr da mudana do corao humano.
3. Queria dizer uma lma coisa, uma lma coisa. Aqui,
como em todo o Brasil, h muitos jovens. Hein, jovens! Vocs,
queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente
s injusas, mas muitas vezes se desiludem com nocias que
falam de corrupo, com pessoas que, em vez de buscar o
bem comum, procuram o seu prprio benecio. Tambm para
vocs e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, no
percam a conana, no deixem que se apague a esperana.
A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser
vocs os primeiros a pracar o bem, a no se acostumarem
ao mal, mas a venc-lo com o bem. A Igreja est ao lado de
vocs, trazendo-lhes o bem precioso da f, de Jesus Cristo, que
veio para que todos tenham vida, e vida em abundncia
(Jo 10,10).
Hoje a todos vocs, especialmente aos moradores dessa Comu-
nidade de Varginha, quero dizer: Vocs no esto sozinhos, a
Igreja est com vocs, o Papa est com vocs. Levo a cada um
no meu corao e fao minhas as intenes que vocs carregam
no seu nmo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de
ajuda nas diculdades, o desejo de consolao nos momentos
de tristeza e sofrimento. Tudo isso cono intercesso de
Nossa Senhora Aparecida, Me de todos os pobres do Brasil, e
com grande carinho lhes concedo a minha Bno. Obrigado!
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Queridos jovens,
Boa tarde!
Vejo em vocs a beleza do rosto jovem de Cristo e meu corao
se enche de alegria! Lembro-me da primeira Jornada Mundial
da Juventude a nvel internacional. Foi celebrada em 1987 na
Argenna, na minha cidade de Buenos Aires. Guardo vivas na
memria estas palavras do Bem-aventurado Joo Paulo II aos
jovens: Tenho muita esperana em vocs! Espero, sobretudo,
que renovem a delidade de vocs a Jesus Cristo e sua cruz
redentora (Discurso aos jovens (11 de abril de 1987): Inseg-
namen, X/1 (1987), 1261).
Antes de connuar, queria lembrar o trgico acidente na Guiana
francesa, no qual a jovem Sophie Morinire perdeu a vida, e
que deixou outros jovens feridos.
Convido-lhes a fazer um minuto de silncio e dirigir ao Senhora nossa orao por Sophie, pelos feridos e pelos familiares.
Este ano, a Jornada volta, pela segunda vez, Amrica Lana.
E vocs, jovens, responderam numerosos ao convite do Papa
Bento XVI, que lhes convocou para celebr-la. Agradecemos-
lhe de todo corao! O meu olhar se estende por esta grande
muldo: vocs so muissimos! Vocs vm de todos os con-
nentes! Normalmente vocs esto distantes no somente
do ponto de vista geogrco, mas tambm do ponto de vista
existencial, cultural, social, humano. Mas hoje vocs esto aqui,
ou melhor, hoje estamos aqui, juntos, unidos para parlhar a
f e a alegria do encontro com Cristo, de ser seus discpulos.
FESTA DE ACOLHIDA DOS JOVENS
Praia de Copacabana, Rio de Janeiro
Quinta-eira, 25 de Julho de 2013
SAUDAO
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Nesta semana, o Rio se torna o centro da Igreja, o seu corao
vivo e jovem, pois vocs responderam com generosidade e
coragem ao convite que Jesus lhes fez de permanecerem com
Ele, de serem seus amigos.
O trem desta Jornada Mundial da Juventude, veio de longe e
atravessou toda a Nao brasileira seguindo as etapas do pro-jeto Bote F. Hoje chegou ao Rio de Janeiro. Do Corcovado, o
Cristo Redentor nos abraa e abenoa. Olhando para este mar,
para a praia e todos vocs, me vem ao pensamento o momento
em que Jesus chamou os primeiros discpulos a segui-lo nas
margens do lago de Tiberades. Hoje Jesus ainda pergunta: Voc
quer ser meu discpulo? Voc quer ser meu amigo? Voc quer
ser testemunha do meu Evangelho? No corao do Ano da F,
estas perguntas nos convidam a renovar o nosso compromisso
de cristos. Suas famlias e comunidades locais transmiram
a vocs o grande dom da f; Cristo cresceu em vocs. Hoje,
vim para lhes conrmar nesta f, a f no Cristo Vivo que moradentro de vocs; mas vim tambm para ser conrmado pelo
entusiasmo da f de vocs!
Sado a todos com muito carinho. A vocs, aqui congregados
dos cinco Connentes e, por meio de vocs, a todos os jovens
do mundo, parcularmente aqueles que no puderam vir ao
Rio de Janeiro, mas esto em ligao conosco atravs do rdio,
televiso e internet, digo: Bem-vindos a esta grande festa da f!
Em vrias partes do mundo, neste mesmo instante, muitos jo-
vens esto reunidos para viver juntos este momento: sintamo-
nos unidos uns com os outros, na alegria, na amizade, na f.
E tenham a certeza: o meu corao de Pastor abraa a todos
com afeto universal. O Cristo Redentor, do alto da montanhado Corcovado, lhes acolhe na Cidade Maravilhosa.
Quero saudar o Presidente do Poncio Conselho para os
Leigos, esmado Cardeal Estanislau Ryko, e todos aqueles
que com ele trabalham. Agradeo a Dom Orani Joo Tempesta,
Arcebispo de So Sebaso do Rio de Janeiro, pela cordialidade
com que me recebeu e pelo grande trabalho realizado para pre-
parar esta Jornada Mundial da Juventude, junto com as diversas
dioceses desse imenso Brasil. Agradeo a todas autoridades
nacionais, estaduais e locais, alm de outros envolvidos, para
concrezar esse momento nico de celebrao da unidade,
da f e da fraternidade. Obrigado aos Irmos no Episcopado,aos sacerdotes, seminaristas, pessoas consagradas e eis que
acompanham os jovens de diferentes partes do nosso planeta,
na sua peregrinao rumo a Jesus. A todos e a cada um meu
abrao afetuoso no Senhor.
Irmos e amigos, bem-vindos vigsima oitava Jornada Mun-
dial da Juventude, nesta cidade maravilhosa do Rio de Janeiro!
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Jovens amigos,
bom estarmos aqui!: exclamou Pedro, depois de ter visto
o Senhor Jesus transgurado, revesdo de glria. Queremos
tambm ns reper estas palavras? Penso que sim, porque
para todos ns, hoje, bom estar aqui juntos unidos em torno
de Jesus! Ele que nos acolhe e se faz presente em meio a
ns, aqui no Rio. Mas, no Evangelho, escutamos tambm as
palavras de Deus Pai: Este o meu Filho, o Eleito. Escutai-O!
(Lc 9, 35). Ento, se por um lado Jesus quem nos acolhe, por
outro tambm ns devemos acolh-lo, car escuta da sua
palavra, pois justamente acolhendo a Jesus Cristo, Palavra
encarnada, que o Esprito Santo nos transforma, ilumina o
caminho do futuro e faz crescer em ns as asas da esperana
para caminharmos com alegria (cf. Carta enc. Lumen dei, 7).
Mas o que podemos fazer? Bote f. A cruz da Jornada Mun-
dial da Juventude peregrinou atravs do Brasil inteiro com
este apelo. Bote f: o que signica? Quando se prepara um
bom prato e v que falta o sal, voc ento bota o sal; falta
o azeite, ento bota o azeite... Botar, ou seja, colocar,
derramar. assim tambm na nossa vida, queridos jovens: se
queremos que ela tenha realmente sendo e plenitude, como
vocs mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada
uma de vocs: bote f e a vida ter um sabor novo, ter
uma bssola que indica a direo; bote esperana e todos
os seus dias sero iluminados e o seu horizonte j no ser
escuro, mas luminoso; bote amor e a sua existncia ser
como uma casa construda sobre a rocha, o seu caminho ser
alegre, porque encontrar muitos amigos que caminham com
voc. Bote f, bote esperana, bote amor!
Mas quem pode nos dar tudo isso? No Evangelho, escutamos
a resposta: Cristo. Este o meu Filho, o Eleito. Escutai-O!
HOMILIA
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Jesus Aquele que nos traz a Deus e que nos leva a Deus; com
Ele toda a nossa vida se transforma, se renova e ns podemos
olhar a realidade com novos olhos, a parr da perspecva de
Jesus e com os seus olhos (Carta enc. Lumen dei, 18). Por
isso, hoje, lhes digo com fora: Bote Cristo na sua vida, e voc
encontrar um amigo em quem sempre conar; bote Cristo,e voc ver crescer as asas da esperana para percorrer com
alegria o caminho do futuro; bote Cristo e a sua vida car
cheia do seu amor, ser uma vida fecunda.
Hoje, queria que nos perguntssemos com sinceridade: em
quem depositamos a nossa conana? Em ns mesmos, nas
coisas, ou em Jesus? Senmo-nos tentados a colocar a ns
mesmos no centro, a crer que somos somente ns que con-
strumos a nossa vida, ou que ela se encha de felicidade com
o possuir, com o dinheiro, com o poder. Mas no assim!
verdade, o ter, o dinheiro, o poder podem gerar um momento
de embriaguez, a iluso de ser feliz, mas, no m de contas, so
eles que nos possuem e nos levam a querer ter sempre mais,
a nunca estar saciados. Bote Cristo na sua vida, deposite
nEle a sua conana e voc nunca se decepcionar! Vejam,
queridos amigos, a f realiza na nossa vida uma revoluo que
podamos chamar copernicana, porque nos ra do centro e o
restui a Deus; a f nos imerge no seu amor que nos d segu-
rana, fora, esperana. Aparentemente no muda nada, mas,
no mais nmo de ns mesmos, tudo muda. No nosso corao,
habita a paz, a mansido, a ternura, a coragem, a serenidade
e a alegria, que so os frutos do Esprito Santo (cf. Gl 5, 22) e
a nossa existncia se transforma, o nosso modo de pensar e
agir se renova, torna-se o modo de pensar e de agir de Jesus,
de Deus. No Ano da F, esta Jornada Mundial da Juventude
justamente um dom que nos oferecido para carmos ainda
mais perto de Jesus, para ser seus discpulos e seus mission-
rios, para deixar que Ele renove a nossa vida.
Querido jovem: bote Cristo na sua vida. Nestes dias, Ele lheespera na Palavra; escute-O com ateno e o seu corao ser
inamado pela sua presena; Bote Cristo: Ele lhe acolhe no
Sacramento do perdo, para curar, com a sua misericrdia,
as feridas do pecado. No tenham medo de pedir perdo a
Deus. Ele nunca se cansa de nos perdoar, como um pai que
nos ama. Deus pura misericrdia! Bote Cristo: Ele lhe espera
no encontro com a sua Carne na Eucarisa, Sacramento da
sua presena, do seu sacricio de amor, e na humanidade de
tantos jovens que vo lhe enriquecer com a sua amizade, lhe
encorajar com o seu testemunho de f, lhe ensinar a linguagem
da caridade, da bondade, do servio. Voc tambm, querido
jovem, pode ser uma testemunha jubilosa do seu amor, uma
testemunha corajosa do seu Evangelho para levar a este nosso
mundo um pouco de luz.
bom estarmos aqui, botando Cristo na nossa vida, botando
a f, a esperana, o amor que Ele nos d. Queridos amigos,
nesta celebrao acolhemos a imagem de Nossa Senhora
Aparecida. Com Maria, queremos ser discpulos e missionrios.
Como Ela, queremos dizer sim a Deus. Peamos ao seu cora-
o de me que interceda por ns, para que os nossos coraes
estejam disponveis para amar a Jesus e faz-lo amar. Ele est
esperando por ns e conta conosco! Amm.
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Carssimos irmos e amigos, bom dia!
Dou graas divina Providncia por ter guiado meus pas-
sos at aqui, na cidade de So Sebaso do Rio de Janeiro.
Agradeo de corao sincero a Dom Orani e tambm a vocs
pelo acolhimento caloroso, com que manifestam seu carinho
pelo Sucessor de Pedro. Desejaria que a minha passagem por
esta cidade do Rio renovasse em todos o amor a Cristo e
Igreja, a alegria de estar unidos a Ele e de pertencer a Igreja e
o compromisso de viver e testemunhar a f.
Uma belssima expresso da f do povo a Hora da Ave
Maria. uma orao simples que se reza nos trs momen-
tos caracterscos da jornada que marcam o ritmo da nossa
avidade quodiana: de manh, ao meio-dia e ao anoitecer.
ALOCUO DO PAPA
ANGELUS
Balco do Arcebispado, Rio de JaneiroSexta-eira, 26 de Julho de 2013
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, porm, uma orao importante; convido a todos a rez-la
com a Ave Maria. Lembra-nos de um acontecimento luminoso
que transformou a histria: a Encarnao, o Filho de Deus se
fez homem em Jesus de Nazar.
Hoje a Igreja celebra os pais da Virgem Maria, os avs de Jesus:
So Joaquim e SantAna. Na casa deles, veio ao mundo Maria,trazendo consigo aquele mistrio extraordinrio da Imaculada
Conceio; na casa deles, cresceu, acompanhada pelo seu amor
e pela sua f; na casa deles, aprendeu a escutar o Senhor e
seguir a sua vontade. So Joaquim e SantAna fazem parte de
uma longa corrente que transmiu a f e o amor a Deus, no
calor da famlia, at Maria, que acolheu em seu seio o Filho de
Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a ns. Vemos aqui o
valor precioso da famlia como lugar privilegiado para transmir
a f! Olhando para o ambiente familiar, queria destacar uma
coisa: hoje, na festa de So Joaquim e SantAna, no Brasil como
em outros pases, se celebra a festa dos avs. Como os avs soimportantes na vida da famlia, para comunicar o patrimnio
de humanidade e de f que essencial para qualquer socie -
dade! E como importante o encontro e o dilogo entre as
geraes, principalmente dentro da famlia. O Documento de
Aparecida nos recorda: Crianas e ancios constroem o futuro
dos povos; as crianas porque levaro por adiante a histria,
os ancios porque transmitem a experincia e a sabedoria desuas vidas (Documento de Aparecida, 447). Esta relao, este
dilogo entre as geraes um tesouro que deve ser conser-
vado e alimentado! Nesta Jornada Mundial da Juventude, os
jovens querem saudar os avs. Eles sadam os seus avs com
muito carinho. Aos avs. Saudamos os avs. Eles, os jovens,
sadam os seus avs com muito carinho e lhes agradecem pelo
testemunho de sabedoria que nos oferecem connuamente.
E agora, nesta praa, nas ruas adjacentes, nas casas que
acompanham conosco este momento de orao, sintamo-nos
como uma nica grande famlia e nos dirijamos a Maria para
que guarde as nossas famlias, faa delas lares de f e de amor,onde se sinta a presena do seu Filho Jesus [reza do ngelus].
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Queridos jovens,
Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de
amor, o caminho da Cruz, que um dos momentos fortes
da Jornada Mundial da Juventude. No nal do Ano Santo daRedeno, o Bem-aventurado Joo Paulo II quis con-la a
vocs, jovens, dizendo-lhes: Levai-a pelo mundo, como sinal
do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que
s em Cristo morto e ressuscitado h salvao e redeno
(Palavras aos jovens [22 de abril de 1984]: Insegnamen VII,1
(1984), 1105). A parr de ento a Cruz percorreu todos os
connentes e atravessou os mais variados mundos da existn-
cia humana, cando quase que impregnada com as situaes
de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Ningum
pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela
e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua prpria vida. Nesta
tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem trs
perguntas nos seus coraes: O que vocs tero deixado na
Cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela
atravessou seu imenso Pas? E o que ter deixado a Cruz de
Jesus em cada um de vocs? E, nalmente, o que esta Cruz
ensina para a nossa vida?
1. Uma anga tradio da Igreja de Roma conta que o Apstolo
Pedro, saindo da cidade para fugir da perseguio do Imperador
Nero, viu que Jesus caminhava na direo oposta e, admirado,
lhe perguntou: Para onde vais, Senhor?. E a resposta de Je-
sus foi: Vou a Roma para ser crucicado outra vez. Naquele
momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com
coragem at o m, mas entendeu sobretudo que nunca estava
sozinho no caminho; com ele, sempre estava aquele Jesus que
o amara at o ponto de morrer na Cruz. Pois bem, Jesus com a
sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os nossos
medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo
os mais profundos. Com a Cruz, Jesus se une ao silncio das
vmas da violncia, que j no podem clamar, sobretudo os
inocentes e indefesos; nela Jesus se une s famlias que passampor diculdades, que choram a perda de seus lhos, ou que
sofrem vendo-os presas de parasos arciais como a droga;
nela Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num
mundo que todos os dias joga fora toneladas de comida; nela
Jesus se une a quem perseguido pela religio, pelas ideias,
ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos
jovens que perderam a conana nas instuies polcas,
por verem egosmo e corrupo, ou que perderam a f naIgreja, e at mesmo em Deus, pela incoerncia de cristos e de
ministros do Evangelho. Na Cruz de Cristo, est o sofrimento,
o pecado do homem, o nosso tambm, e Ele acolhe tudo com
seus braos abertos, carrega nas suas costas as nossas cruzes
e nos diz: Coragem! Voc no est sozinho a lev-la! Eu a levo
com voc. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperana, dar-
lhe vida (cf. Jo 3,16).
2. E assim podemos responder segunda pregunta: o que
foi que a Cruz deixou naqueles que a viram, naqueles que a
tocaram? O que deixa em cada um de ns? Deixa um bem queningum mais pode nos dar: a certeza do amor inabalvel de
Deus por ns. Um amor to grande que entra no nosso pe-
cado e o perdoa, entra no nosso sofrimento e nos d a fora
para poder lev-lo, entra tambm na morte para derrot-la
e nos salvar. Na Cruz de Cristo, est todo o amor de Deus, a
sua imensa misericrdia. E este um amor em que podemos
conar, em que podemos crer. Queridos jovens, conemos em
Jesus, abandonemo-nos totalmente a Ele (cf. Carta enc. Lumen
dei, 16)! S em Cristo morto e ressuscitado encontramos
salvao e redeno. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte
no tm a lma palavra, porque Ele nos d a esperana e a
vida: transformou a Cruz, de instrumento de dio, de derrota,
de morte, em sinal de amor, de vitria e de vida.
O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de Terra de
Santa Cruz. A Cruz de Cristo foi plantada no s na praia, h
mais de cinco sculos, mas tambm na histria, no corao e na
vida do povo brasileiro e no s: o Cristo sofredor, senmo-lo
prximo, como um de ns que comparlha o nosso caminho
at o nal. No h cruz, pequena ou grande, da nossa vida que
o Senhor no venha comparlhar conosco.
3. Mas a Cruz de Cristo tambm nos convida a deixar-nos con-
tagiar por este amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o
VIA-SACRA COM OS JOVENS
PALAVRAS DO PAPA
Copacabana, Rio de JaneiroSexta-eira, 26 de Julho de 2013
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outro com misericrdia e amor, sobretudo quem sofre, quem
tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra, um ges-
to; ensina-nos a sair de ns mesmos para ir ao encontro destas
pessoas e lhes estender a mo. Tantos rostos acompanharam
Jesus no seu caminho at a Cruz: Pilatos, o Cireneu, Maria, as
mulheres... Tambm ns diante dos demais podemos ser comoPilatos que no teve a coragem de ir contra a corrente para
salvar a vida de Jesus, lavando-se as mos. Queridos amigos,
a Cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cireneu, que ajuda
Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras
mulheres, que no veram medo de acompanhar Jesus at o
nal, com amor, com ternura. E voc como ? Como Pilatos,
como o Cireneu, como Maria?
Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofri-
mentos, os nossos fracassos para a Cruz de Cristo; encontra-remos um Corao aberto que nos compreende, perdoa, ama
e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida, para
amar cada irmo e irm com este mesmo amor. Assim seja!
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MISSA COM OS BISPOS DA JMJ,SACERDOTES, RELIGIOSOS E SEMINARISTAS
HOMILIA
Catedral de So Sebaso, Rio de JaneiroSbado, 27 de Julho de 2013
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Amados Irmos em Cristo,
Vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes, seminar-
istas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso
nas palavras do Salmo da Missa de hoje: Que as naes vos
gloriquem, Senhor (Sl 66). Sim, estamos aqui reunidos paragloricar o Senhor; e o fazemos rearmando a nossa vontade
de sermos seus instrumentos, para que no somente algumas
naes mas todas gloriquem o Senhor. Com a mesma par-
resia coragem, ousadia - de Paulo e Barnab, anunciemos o
Evangelho aos nossos jovens para que encontrem Cristo, luz
para o caminho, e se tornem construtores de um mundo mais
fraterno. Neste sendo, queria reer com vocs sobre trs
aspectos da nossa vocao: chamados por Deus; chamados
para anunciar o Evangelho; chamados a promover a cultura
do encontro.
1. Chamados por Deus. importante reavivar em ns esta
realidade que, frequentemente, damos por descontada emmeio a tantas avidades do dia-a-dia: No fostes vs que
me escolhestes, mas eu que vos escolhi, diz-nos Jesus (Jo
15,16). Signica retornar fonte da nossa chamada. No incio
de nosso caminho vocacional, h uma eleio divina. Fomos
chamados por Deus, e chamados para permanecer com Jesus
(cf. Mc 3, 14), unidos a Ele de um modo to profundo que nos
permite dizer com So Paulo: Eu vivo, mas no eu, Cristo
que vive em mim (Gal 2, 20). Este viver em Cristo congura
realmente tudo aquilo que somos e fazemos. E esta vida em
Cristo justamente o que garante a nossa eccia apostlica,
a fecundidade do nosso servio: Eu vos designei para irdese para que produzais fruto e o vosso fruto permanea (Jo
15,16). No a criavidade pastoral, no so as reunies ou
planejamentos que garantem os frutos, mas ser el a Jesus,
que nos diz com insistncia: Permanecei em mim, e eu per-
manecerei em vs (Jo 15, 4). E ns sabemos bem o que isso
signica: Contempl-lo, ador-lo e abra-lo, parcularmente
atravs da nossa delidade vida de orao, do nosso encon-
tro dirio com Ele presente na Eucarisa e nas pessoas mais
necessitadas. O permanecer com Cristo no se isolar, mas
um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me
cabea umas palavras da Bem-aventurada Madre Teresa de
Calcut: Devemos estar muito orgulhosas da nossa vocao,
que nos d a oportunidade de servir Cristo nos pobres. nas
favelas, nos cantegriles nas Villas miseria, que ns devemos ir
procurar e servir a Cristo. Devemos ir at eles como o sacerdote
se aproxima do altar, cheio de alegria (Mother Instrucons,
I, p.80). Jesus, Bom Pastor, o nosso verdadeiro tesouro; pro-
curemos xar sempre mais nEle o nosso corao (cf. Lc 12, 34).
2. Chamados para anunciar o Evangelho. Queridos bispos e
sacerdotes, muitos de vocs, seno todos, vieram acompanharseus jovens Jornada Mundial. Eles tambm ouviram as pala-
vras do mandato de Jesus: Ide e fazei discpulos entre todas
as naes (cf. Mt 28,19). nosso compromisso ajud-los a
fazer arder, no seu corao, o desejo de serem discpulos mis-
sionrios de Jesus. Certamente muitos, diante desse convite,
poderiam senr-se um pouco atemorizados, imaginando que
ser missionrio signica deixar necessariamente o Pas, a famlia
e os amigos. Recordo o meu sonho da juventude: parr mission-
rio para o longnquo Japo. Mas Deus me mostrou que o meu
territrio de misso estava muito mais perto: na minha ptria.
Ajudemos os jovens a perceberem que ser discpulo missionrio
uma consequncia de ser bazado, parte essencial do ser
cristo, e que o primeiro lugar onde evangelizar a prpria casa,
o ambiente de estudo ou de trabalho, a famlia e os amigos.
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No poupemos foras na formao da juventude! So Paulo
usa uma bela expresso, que se tornou realidade na sua vida,
dirigindo-se aos seus cristos: Meus lhos, por vs sinto de
novo as dores do parto at Cristo ser formado em vs (Gal 4,
19). Tambm ns faamos que isso se torne realidade no nosso
ministrio! Ajudemos os nossos jovens a descobrir a coragem ea alegria da f, a alegria de ser pessoalmente amados por Deus,
que deu o seu Filho Jesus para nossa salvao. Eduquemo-los
para a misso, para sair, para parr. Jesus fez assim com os seus
discpulos: no os manteve colados a si, como uma galinha com
os seus pinnhos; Ele os enviou! No podemos car encerrados
na parquia, nas nossas comunidades, quando h tanta gente
esperando o Evangelho! No se trata simplesmente de abrir a
porta para acolher, mas de sair pela porta fora para procurar
e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a parr da
periferia, daqueles que esto mais afastados, daqueles que
habitualmente no freqentam a parquia. Tambm eles soconvidados para a Mesa do Senhor.
3. Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos
ambientes, infelizmente, ganhou espao a cultura da excluso,
a cultura do descartvel. No h lugar para o idoso, nem para
o lho indesejado; no h tempo para se deter com o pobre
cado margem da estrada. s vezes parece que, para alguns,
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as relaes humanas sejam regidas por dois dogmas mod-
ernos: ecincia e pragmasmo. Queridos Bispos, sacerdotes,
religiosos e tambm vocs, seminaristas, que se preparam
para o ministrio, tenham a coragem de ir contra a corrente.
No renunciemos a este dom de Deus: a nica famlia dos seus
lhos. O encontro e o acolhimento de todos, a solidariedade ea fraternidade so os elementos que tornam a nossa civilizao
verdadeiramente humana.
Temos de ser servidores da comunho e da cultura do encon-
tro. Permitam-me dizer: deveramos ser quase obsessivos neste
aspecto! No queremos ser presunosos, impondo as nossas
verdades. O que nos guia a certeza humilde e feliz de quem
foi encontrado, alcanado e transformado pela Verdade que
Cristo, e no pode deixar de anunci-la (cf. Lc 24, 13-35).
Queridos irmos e irms, fomos chamados por Deus, chamadospara anunciar o Evangelho e promover corajosamente a cultura
do encontro. A Virgem Maria seja o nosso modelo. Na sua vida,
Ela deu exemplo daquele afeto maternal de que devem estar
animados todos quantos cooperam na misso apostlica que
a Igreja, tem de regenerar os homens (Conc. Ecum. Vat. II,
Cost. dogm. Lumen genum, 65). Seja Ela a Estrela que guia
com segurana nossos passos ao encontro do Senhor. Amm.
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Excelncias,
Senhoras e Senhores, bom dia!
Agradeo a Deus pela possibilidade de me encontrar com
to respeitvel representao dos responsveis polcos ediplomcos, culturais e religiosos, acadmicos e empresariais
deste Brasil imenso.
Queria lhes falar usando a bela lngua portuguesa de vocs
mas, para poder me expressar melhor manifestando o que
trago no corao, prero falar em castelhano. Peo-lhes a
cortesia de me perdoar!
Sado cordialmente a todos e lhes expresso o meu reconhe-
cimento. Agradeo a Dom Orani e ao senhor Walmyr Jnior
as amveis palavras de boas vindas, de apresentao e tes-
temunho. Nas senhoras e nos senhores, vejo a memria e a
esperana: a memria do caminho e da conscincia da sua
Ptria e a esperana que esta Ptria, sempre aberta luz que
irradia do Evangelho, possa connuar a desenvolver-se no
pleno respeito dos princpios cos fundados na dignidade
transcendente da pessoa.
Memria do passado e utopia na perspecva do futuro se
encontram no presente, que no uma conjuntura sem
histria e sem promessa, mas um momento no tempo, um
desao a recolher sabedoria e sab-la projetar. Todos aqueles
que possuem um papel de responsabilidade, em uma Nao,
so chamados a enfrentar o futuro "com os olhos calmos dequem sabe ver a verdade", como dizia o pensador brasileiro
Alceu Amoroso Lima [Nosso tempo, in: A vida sobrenatu-
ral e o mundo moderno (Rio de Janeiro 1956), 106]. Queria
comparlhar com os senhores e senhoras trs aspectos deste
olhar calmo, sereno e sbio: primeiro, a originalidade de uma
tradio cultural; segundo, a responsabilidade solidria para
construir o futuro; e terceiro, o dilogo construvo para en-
carar o presente.
1. Antes de mais nada, justo valorizar a originalidade dinmica
que caracteriza a cultura brasileira, com a sua extraordinria
capacidade para integrar elementos diversos. O senr comum
de um povo, as bases do seu pensamento e da sua criavidade,
os princpios fundamentais da sua vida, os critrios de juzo
sobre as prioridades, sobre as normas de ao, assentam,
fundem-se e crescem numa viso integral da pessoa humana.
Esta viso do homem e da vida, tal como a fez prpria o povo
brasileiro, recebeu tambm a seiva do Evangelho, a f em Je-
sus Cristo, no amor de Deus e a fraternidade com o prximo.
A riqueza desta seiva pode fecundar um processo cultural
el idendade brasileira e, ao mesmo tempo, um processo
construtor de um futuro melhor para todos. Um processo que
faz crescer a humanizao integral e a cultura do encontro e
do relacionamento; este o modo cristo de promover o bem
comum, a alegria de viver. E aqui convergem a f e a razo, a
dimenso religiosa com os diversos aspectos da cultura hu-
mana: arte, cincia, trabalho, literatura... O crisanismo une
transcendncia e encarnao; tem a capacidade de revitalizar
sempre o pensamento e a vida, frente ameaa da frustrao
e do desencanto que podem invadir os coraes e saltam para
a rua.
2. O segundo elemento que queria tocar a responsabilidade
social. Esta exige um certo po de paradigma cultural e, conse-
quentemente, de polca. Somos responsveis pela formao
de novas geraes, por ajud-las a ser hbeis na economia e
na polca, e rmes nos valores cos. O futuro exige hoje o
trabalho de reabilitar a polca; reabilitar a polca, que uma
das formas mais altas da caridade. O futuro exige tambmuma viso humanista da economia e uma polca que realize
cada vez mais e melhor a parcipao das pessoas, evitando
elismos e erradicando a pobreza. Que ningum que privado
do necessrio, e que a todos sejam asseguradas dignidade,
fraternidade e solidariedade: esta a estrada proposta. J no
tempo do profeta Ams era muito frequente a advertncia
de Deus: Eles vendem o justo por dinheiro, o indigente, por
um par de sandlias; esmagam a cabea dos fracos no p da
terra e tornam a vida dos oprimidos impossvel (Am 2, 6-7).
Os gritos por jusa connuam ainda hoje.
Quem detm uma funo de guia permitam-me dizer quem
a vida ungiu como guia deve ter objevos concretos e buscar
os meios especcos para alcan-los, mas tambm pode haver
ENCONTRO COM A CLASSE DIRIGENTE DO BRASIL
DISCURSO
Teatro Municipal, Rio de JaneiroSbado, 27 de Julho de 2013
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o perigo da desiluso, da amargura, da indiferena, quando
as aspiraes no se realizam. Aqui fao apelo dinmica da
esperana, que nos impele a ir sempre mais longe, a empregar
todas as energias e capacidades a favor das pessoas para quem
se trabalha, aceitando os resultados e criando condies para
descobrir novos caminhos, dando-se mesmo sem ver resulta-dos, mas mantendo viva a esperana, com aquela constncia
e coragem que nascem da aceitao da prpria vocao de
guia e de dirigente.
prprio da liderana escolher a mais justa entre as opes,
aps t-las considerado, parndo da prpria responsabilidade
e do interesse pelo bem comum; por esta estrada, chega-se ao
centro dos males da sociedade, para venc-los com a ousadia
de aes corajosas e livres. nossa responsabilidade, embora
sempre limitada, esta compreenso global da realidade, ob-
servando, medindo, avaliando, para tomar decises na hora
presente, mas estendendo o olhar para o futuro, reendo
sobre as consequncias de tais decises. Quem atua respon-
savelmente, submete a prpria ao aos direitos dos outros
e ao juzo de Deus. Este sendo co aparece, nos nossos
dias, como um desao histrico sem precedentes; devemos
procur-lo, devemos inseri-lo na prpria sociedade. Alm da
racionalidade cienca e tcnica, na atual situao, impe-se
o vnculo moral com uma responsabilidade social e profunda-
mente solidria.
3. Para completar esta reexo, alm do humanismo integral,
que respeite a cultura original, e da responsabilidade solidria,
considero fundamental para enfrentar o presente: o dilogo
construvo. Entre a indiferena egosta e o protesto violento,
h uma opo sempre possvel: o dilogo. O dilogo entre as
geraes, o dilogo no povo, porque todos somos povo, a ca-
pacidade de dar e receber, permanecendo abertos verdade.
Um pas cresce, quando dialogam de modo construvo as
suas diversas riquezas culturais: a cultura popular, a cultura
universitria, a cultura juvenil, a cultura arsca e a cultura
tecnolgica, a cultura econmica e a cultura da famlia, e acultura da mdia. Quando dialogam impossvel imaginar
um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuio
das energias morais numa democracia que permanea fechada
na pura lgica ou no mero equilbrio de representao de in-
teresses constudos. Considero tambm fundamental neste
dilogo a contribuio das grandes tradies religiosas, que
desempenham um papel fecundo de fermento da vida social
e de animao da democracia. Favorvel pacca convivncia
entre religies diversas a laicidade do Estado que, sem as-
sumir como prpria qualquer posio confessional, respeita
e valoriza a presena da dimenso religiosa na sociedade,
favorecendo as suas expresses mais concretas.
Quando os lderes dos diferentes setores me pedem um con-
selho, a minha resposta sempre a mesma: dilogo, dilogo,
dilogo. A nica maneira para uma pessoa, uma famlia, uma
sociedade crescer, a nica maneira para fazer avanar a vida
dos povos a cultura do encontro; uma cultura segundo a
qual todos tm algo de bom para dar, e todos podem receber
em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar,desde que saibamos nos aproximar dele com uma atude
aberta e disponvel, sem preconceitos. Esta atude aberta,
disponvel e sem preconceitos, eu a deniria como humildade
social que o que favorece o dilogo. S assim pode crescer
o bom entendimento entre as culturas e as religies, a esma
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de umas pelas outras livre de suposies gratuitas e num clima
de respeito pelos direitos de cada uma. Hoje, ou se aposta no
dilogo, na cultura do encontro, ou todos perdemos. Todos
perdemos Passa por aqui o caminho fecundo.
Excelncias,Senhoras e Senhores!
Agradeo-lhes pela ateno. Acolham estas palavras como
expresso da minha solicitude de Pastor de Igreja e do respeito
e afeto que nutro pelo povo brasileiro. A fraternidade entre os
homens e a colaborao para construir uma sociedade mais
justa no so um sonho fantasioso, mas o resultado de um
esforo harmnico de todos em favor do bem comum. Encorajo
os senhores neste seu empenho em favor do bem comum, que
exige da parte de todos sabedoria, prudncia e generosidade.
Cono-lhes ao Pai do Cu, pedindo-lhe, por intercesso deNossa Senhora Aparecida, que cumule de seus dons a cada
um dos presentes, suas respecvas famlias e comunidades
humanas e de trabalho e, de corao, peo a Deus que lhes
abenoe. Muito obrigado!
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Queridos Irmos!
Como bom e agradvel encontrar-me aqui com vocs, Bispos
do Brasil!
Obrigado por terem vindo, e permitam que lhes fale como
amigos, pelo que prero usar o castelhano, para poder ex-
pressar melhor aquilo que levo no corao. Peo-lhes que me
perdoem!
Reramo-nos um pouco, neste lugar preparado por nosso
irmo Dom Orani, para estar sozinhos e poder falar de co-
rao a corao como Pastores a quem Deus conou o seu
Rebanho. Nas ruas do Rio, jovens de todo o mundo e muitas
outras muldes esto esperando por ns, necessitados de
serem envolvidos pelo olhar misericordioso de Cristo BomPastor, que ns somos chamados a tornar presente. Por isso,
gozemos deste momento de descanso, de parlha, de verda-
deira fraternidade.
Comeando pela Presidncia da Conferncia Episcopal e do
Arcebispo do Rio de Janeiro, quero abraar a todos e cada um,
especialmente aos Bispos emritos.
Mais do que um discurso formal, quero comparlhar algumas
reexes com vocs.
A primeira veio minha mente, quando da outra vez visitei
o Santurio de Aparecida. L, ao p da imagem da Imacu-
lada Conceio, eu rezei por vocs, por suas Igrejas, por seus
presbteros, religiosos e religiosas, por seus seminaristas,
pelos leigos e as suas famlias, em parcular pelos jovens e os
idosos, j que ambos constuem a esperana de um povo: os
jovens, porque eles carregam a fora, o sonho, a esperana do
futuro, e os idosos, porque eles so a memria, a sabedoria
de um povo.[1]
1. APARECIDA: CHAVE DE LEITURA PARA AMISSO DA IGREJA
Em Aparecida, Deus ofereceu ao Brasil a sua prpria Me. Mas,
em Aparecida, Deus deu tambm uma lio sobre Si mesmo,
sobre o seu modo de ser e agir. Uma lio sobre a humildade
que pertence a Deus como trao essencial e que est no DNA
de Deus. H algo de perene para aprender sobre Deus e sobre
a Igreja, em Aparecida; um ensinamento, que nem a Igreja no
Brasil nem o prprio Brasil devem esquecer.
No incio do evento que Aparecida, est a busca dos pes-
cadores pobres. Tanta fome e poucos recursos. As pessoas
sempre precisam de po. Os homens partem sempre das suas
carncias, mesmo hoje.
Possuem um barco frgil, inadequado; tm redes decadentes,
talvez mesmo danicadas, insucientes.
Primeiro, h a labuta, talvez o cansao, pela pesca, mas o
resultado escasso: um falimento, um insucesso. Apesar dos
esforos, as redes esto vazias.
Depois, quando foi da vontade de Deus, comparece Ele mesmono seu Mistrio. As guas so profundas e, todavia, encerram
sempre a possibilidade de Deus; e Ele chegou de surpresa,
quem sabe quando j no o espervamos. A pacincia dos que
esperam por Ele sempre posta prova. E Deus chegou de uma
maneira nova, porque Deus surpresa: uma imagem de barro
frgil, escurecida pelas guas do rio, envelhecida tambm pelo
tempo. Deus entra sempre nas vestes da pequenez.
Veem ento a imagem da Imaculada Conceio. Primeiro o
corpo, depois a cabea, em seguida a unicao de corpo e
cabea: a unidade. Aquilo que estava quebrado retoma a uni-
dade. O Brasil colonial estava dividido pelo muro vergonhoso
da escravatura. Nossa Senhora Aparecida se apresenta com
a face negra, primeiro dividida mas depois unida, nas mos
dos pescadores.
H aqui um ensinamento que Deus quer nos oferecer. Sua bele-
za reeda na Me, concebida sem pecado original, emerge
da obscuridade do rio. Em Aparecida, logo desde o incio, Deus
d uma mensagem de recomposio do que est fraturado, de
compactao do que est dividido. Muros, abismos, distncias
ainda hoje existentes esto desnados a desaparecer. A Igreja
no pode descurar esta lio: ser instrumento de reconciliao.
Os pescadores no desprezam o mistrio encontrado no rio,
embora seja um mistrio que aparece incompleto. No jogam
fora os pedaos do mistrio. Esperam a plenitude. E esta no
ENCONTRO COM O EPISCOPADO BRASILEIRO
DISCURSO
Arcebispado do Rio de JaneiroSbado, 27 de Julho de 2013
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demora a chegar. H aqui algo de sabedoria que devemos
aprender. H pedaos de um mistrio, como partes de um
mosaico, que vamos encontrando. Ns queremos ver muito
rpido a totalidade; e Deus, pelo contrrio, Se faz ver pouco
a pouco. Tambm a Igreja deve aprender esta expectava.
Depois, os pescadores trazem para casa o mistrio. O povosimples tem sempre espao para albergar o mistrio. Talvez
ns tenhamos reduzido a nossa exposio do mistrio a uma
explicao racional; no povo, pelo contrrio, o mistrio entra
pelo corao. Na casa dos pobres, Deus encontra sempre lugar.
Os pescadores agasalham: revestem o mistrio da Virgem
pescada, como se Ela vesse frio e precisasse ser aquecida.
Deus pede para car abrigado na parte mais quente de ns
mesmos: o corao. Depois Deus que irradia o calor de que
precisamos, mas primeiro entra com o subterfgio de quem
mendiga. Os pescadores cobrem o mistrio da Virgem com
o manto pobre da sua f. Chamam os vizinhos para verem abeleza encontrada; eles se renem volta dela; contam as suas
penas em sua presena e lhe conam as suas causas. Permitem
assim que possam implementar-se as intenes de Deus: uma
graa, depois a outra; uma graa que abre para outra; uma
graa que prepara outra. Gradualmente Deus vai desdobrando
a humildade misteriosa de sua fora.
H muito para aprender nessa atude dos pescadores. Uma
Igreja que d espao ao mistrio de Deus; uma Igreja que al-
berga de tal modo em si mesma esse mistrio, que ele possa
encantar as pessoas, atra-las. Somente a beleza de Deus pode
atrair. O caminho de Deus o encanto que atrai. Deus faz-se
levar para casa. Ele desperta no homem o desejo de guard-
lo em sua prpria vida, na prpria casa, em seu corao. Ele
desperta em ns o desejo de chamar os vizinhos, para dar-lhes
a conhecer a sua beleza. A misso nasce precisamente dessa
fascinao divina, dessa maravilha do encontro. Falamos demisso, de Igreja missionria. Penso nos pescadores que
chamam seus vizinhos para verem o mistrio da Virgem. Sem
a simplicidade do seu comportamento, a nossa misso est
fadada ao fracasso.
A Igreja tem sempre a necessidade urgente de no desaprender
a lio de Aparecida; no a pode esquecer. As redes da Igreja
so frgeis, talvez remendadas; a barca da Igreja no tem a
fora dos grandes transatlncos que cruzam os oceanos. E,
contudo, Deus quer se manifestar justamente atravs dos nos-
sos meios, meios pobres, porque sempre Ele que est agindo.
Queridos irmos, o resultado do trabalho pastoral no as -senta na riqueza dos recursos, mas na criavidade do amor.
Fazem falta certamente a tenacidade, a fadiga, o trabalho, o
planejamento, a organizao, mas, antes de tudo, voc deve
saber que a fora da Igreja no reside nela prpria, mas se es-
conde nas guas profundas de Deus, nas quais ela chamada
a lanar as redes.
Outra lio que a Igreja deve sempre lembrar que no
pode afastar-se da simplicidade; caso contrrio, desaprende
a linguagem do Mistrio. E no s ela ca fora da porta do
Mistrio, mas, obviamente, no consegue entrar naqueles
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que pretendem da Igreja aquilo que no podem dar-se por
si mesmos: Deus. s vezes, perdemos aqueles que no nos
entendem, porque desaprendemos a simplicidade, inclusive
importando de fora uma racionalidade alheia ao nosso povo.
Sem a gramca da simplicidade, a Igreja se priva das condies
que tornam possvel pescar Deus nas guas profundas doseu Mistrio.
Uma lma lembrana: Aparecida surgiu em um lugar de cru-
zamento. A estrada que ligava Rio, a capital, com So Paulo,
a provncia empreendedora que estava nascendo, e Minas
Gerais, as minas muito cobiadas pelas cortes europeias: uma
encruzilhada do Brasil colonial. Deus aparece nos cruzamentos.
A Igreja no Brasil no pode esquecer esta vocao inscrita em
si mesma desde a sua primeira respirao: ser capaz de sstole
e distole, de recolher e divulgar.
2. APREO PELO PERCURSO DA IGREJA NOBRASIL
Os Bispos de Roma veram sempre o Brasil e sua Igreja em
seu corao. Um maravilhoso percurso foi realizado. Passou-se
das 12 dioceses durante o Conclio Vacano I para as atuais
275 circunscries. No teve incio a expanso de um aparato
governamental ou de uma empresa, mas sim o dinamismo dos
cinco pes e dois peixes de que fala o Evangelho que,
entrando em contato com a bondade do Pai, em mos cale-
jadas, tornaram-se fecundos.
Hoje, queria agradecer o trabalho sem parcimnia de vocs,
Pastores, em suas Igrejas. Penso nos Bispos nas orestas, sub-
indo e descendo os rios, nas regies semiridas, no Pantanal,
na pampa, nas selvas urbanas das megalpoles. Amem sempre,
com total dedicao, o seu rebanho! Mas penso tambm em
tantos nomes e tantas faces, que deixaram marcas indelveis
no caminho da Igreja no Brasil, fazendo palpar com a mo a
grande bondade de Deus por esta Igreja[2].
Os Bispos de Roma nunca lhes deixaram ss; seguiram de
perto, encorajaram, acompanharam. Nas lmas dcadas, o
Beato Joo XXIII convidou com insistncia os Bispos brasileirosa prepararem o seu primeiro plano pastoral e, daquele incio,
cresceu uma verdadeira tradio pastoral no Brasil, que fez
com que a Igreja no fosse um transatlnco deriva, mas
vesse sempre uma bssola. O Servo de Deus Paulo VI, para
alm de encorajar a recepo do Conclio Vacano II, com deli-
dade mas tambm com traos originais (veja-se a Assembleia
Geral do CELAM, em Medelln), inuiu decisivamente sobre a
autoconscincia da Igreja no Brasil atravs do Snodo sobre a
evangelizao e de um texto fundamental de referncia que
connua atual: a Evangelii nunandi. O Beato Joo Paulo II
visitou o Brasil trs vezes, percorrendo-o de cabo a rabo, de
norte a sul, insisndo sobre a misso pastoral da Igreja, a co-
munho e parcipao, a preparao do Grande Jubileu, a nova
evangelizao. Bento XVI escolheu Aparecida para realizar a V
Assembleia Geral do CELAM e isso deixou uma grande marca
na Igreja de todo o Connente.
A Igreja no Brasil recebeu e aplicou com originalidade o Con-
clio Vacano II e o percurso realizado, embora tenha do de
superar determinadas doenas infans, levou a uma Igreja
gradualmente mais madura, aberta, generosa, missionria.Hoje estamos em um novo momento. Segundo a feliz expresso
do Documento de Aparecida, no uma poca de mudana,
mas uma mudana de poca. Sendo assim, hoje cada vez mais
urgente nos perguntarmos: O que Deus pede a ns? A esta
pergunta, queria tentar oferecer qualquer linha de resposta.
3. O CONE DE EMAS COMO CHAVE DE LEITURA DO PRESENTE E DO FUTURO
Antes de mais nada, no devemos ceder ao medo, de que
falava o Beato John Henry Newman: O mundo cristo estgradualmente se tornando estril, e esgota-se como uma
terra profundamente explorada que se torna areia.[3] No
devemos ceder ao desencanto, ao desnimo, s lamentaes.
Ns trabalhamos duro e, s vezes, nos parece acabar derrota-
dos: apodera-se de ns o senmento de quem tem de fazer o
balano de uma estao j perdida, olhando para aqueles que
nos deixam ou j no nos consideram credveis, relevantes.
Vamos ler a esta luz, mais uma vez, o episdio de Emas (cf.
Lc 24, 13-15). Os dois discpulos escapam de Jerusalm. Eles
se afastam da nudez de Deus. Esto escandalizados com o
falimento do Messias, em quem haviam esperado e que agora
aparece irremediavelmente derrotado, humilhado, mesmo
aps o terceiro dia (cf. vv. 17-21). O mistrio dicil das pessoas
que abandonam a Igreja; de pessoas que, aps deixar-se iludir
por outras propostas, consideram que a Igreja a sua Jerusalm
nada mais possa lhes oferecer de signicavo e importante.
E assim seguem pelo caminho sozinhos, com a sua desiluso.
Talvez a Igreja lhes aparea demasiado frgil, talvez demasiado
longe das suas necessidades, talvez demasiado pobre para dar
resposta s suas inquietaes, talvez demasiado fria para comelas, talvez demasiado auto-referencial, talvez prisioneira da
prpria linguagem rgida, talvez lhes parea que o mundo fez
da Igreja uma relquia do passado, insuciente para as novas
questes; talvez a Igreja tenha respostas para a infncia do
homem, mas no para a sua idade adulta.[4] O fato que hoje
h muitos que so como os dois discpulos de Emas; e no
apenas aqueles que buscam respostas nos novos e difusos
grupos religiosos, mas tambm aqueles que parecem j viver
sem Deus tanto em teoria como na prca.
PERANTE ESTA SITU