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FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL EM PORTO ALEGRE Luciana Leite Lima Luciano d’ascenzi Gianna Vargas Reis Salgado Dias

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FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL EM PORTO ALEGRE

Luciana Leite Lima Luciano d’ascenzi

Gianna Vargas Reis Salgado Dias

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Painel 26/004 Governança e Participação nos Municípios

FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA PÚBLICA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL EM PORTO ALEGRE

Isidro-Filho

Luciana Leite Lima Luciano d’ascenzi

Gianna Vargas Reis Salgado Dias

RESUMO

O objetivo deste paper foi analisara formulação e implementação da política pública

voltada ao desenvolvimento econômico local em Porto Alegre à luz da abordagem do

desenvolvimento econômico local. A perspectiva mobilizada enfatiza a

endogeneidade e o protagonismo do Estado na articulação e manutenção de

estruturas de governança compartilhada. A pesquisa levantou dados primários e

secundários. A análise foi realizada a partir de uma abordagem de tipo bottom-up, que

foca os agentes implementadores e as relações entre os atores públicos e privados.

A partir disso foram elaboradas as categorias: caráter endógeno; percepção

muldimensional dos problemas sociais; coerência entre objetivos e atividades;

pluralidade de atores; mecanismos de gestão compartilhada e; campos de atuação.

Verificamos que as ações desenvolvidas eram eminentemente locais, expressando a

endogeneidade dos processos; há uma multiplicidade de atores participando da

implementação; as formas de governança compartilhada ainda não estão

desenvolvidas; as ações têm objetivos complementares, mas são executadas de

forma fragmentada; algumas ações operacionalizam atividades que não colaboram

para o alcance do objetivos; as ações abrangem alguns campos mais profícuos para

a produção de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento, mas seu impacto tende

a ser amortecido por esses elementos citados anteriormente.

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1. INTRODUÇÃO1

O desenvolvimento econômico é uma demanda social das mais valorizadas em

nossa sociedade. Com isso, os governos são chamados a responder por meio de

políticas públicas. Até a década de 1980, o desenvolvimento econômico foi

tipicamente um item da agenda dos governos centrais. No Brasil, nos anos 1990, a

implementação das determinações da Constituição Federal incentivou a promoçãoda

descentralização para os municípios de uma série de responsabilidades. Nas políticas

sociais, por exemplo, o município se tornou o principal executor das políticas de saúde

e, mais recentemente, de assistência social. Além disso, passou a receber demandas

para a produção de outras intervenções mais específicas aos problemas da

população.

No que tange às políticas voltadas ao desenvolvimento econômico, muitos

municípios criaram estruturas organizacionais específicas. Tais iniciativas expressam

mudanças políticas e conceituais: quanto às primeiras, que o desenvolvimento

econômico pode estar-se descolando das agendas setoriais centralizadas (como as

do trabalho, da indústria, comércio ou em infraestrutura física); quanto às segundas,

que esse rearranjo temático dentro da estrutura estatal parece seguir as visões mais

contemporâneas de desenvolvimento, percebido como um fenômeno

multidimensional.

A definição de desenvolvimento econômico local que

mobilizaremosinicialmente para desenhar o objeto do estudo é a de VázquezBarquero

(2000): desenvolvimento econômico local é o processo de crescimento e mudança

estrutural que, por meio da utilização do potencial de desenvolvimento existente no

território, promove o aumento do bem-estar da população. Ela integra crescimento

econômico, cultura e meio ambiente, enfatizando as relações de interdependência

entre essas dimensões. Aqui, o papel dos agentes locais é central no processo de

1Este paper é um dos produtos da pesquisa “Análise das políticas públicas de desenvolvimento econômico no nível municipal de governo: um estudo das experiências das capitais brasileiras”, financiada pelo CNPq.

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desenvolvimento, sendo seus esforços norteados por suas necessidades,

capacidades e interesses. Obviamente, em meio ao protagonismo da endogeneidade,

a produção das políticas também devesse considerar o contexto regional, nacional e

global2.

Nesse espírito, alguns campos de ação têm sido apontados como os mais

profícuos para a produção de políticas públicas locais, quais sejam: fomento à criação

e ao desenvolvimento de redes de empresas, difusão de inovações no tecido

produtivo local, desenvolvimento urbano e institucional e conservação e melhoria do

meio ambiente e do patrimônio histórico (VÁZQUEZ BARQUERO, 2001, 2009). Tais

campos também são tratados como mecanismos de desenvolvimento econômico.

Vamos explorar essa ideia.

Em relação ao fomento de redes de empresas, são destacados os efeitos

positivos das aglomerações, como distritos industriais e clusters, no desenvolvimento.

Tal efeito estaria relacionado com as características das relações estabelecidas entre

as empresas participantes. Isso porque, relações de cooperação geram economias

externas e produzem eficiência coletiva.

É um modelo de organização que permite gerar rendimentos crescentes quando a interação entre as empresas propicia a utilização das economias externas de escala existentes no sistema produtivo, no fim das contas, um dos potenciais de desenvolvimento do território (VÁZQUEZ BARQUERO, 2007, p. 194, tradução nossa).

Quanto à inovação, ela é tida como uma das fontes mais relevantes do

crescimento econômico3. A propósito, aceita-se que o conhecimento produz e conduz

o crescimento, pois as ideias não estariam sujeitas a rendimentos decrescentes.

Nesse particular, a produção de inovação tende a ser jogada em termos da atividade

de pesquisa e desenvolvimento (P&D), bem como da qualificação profissional.

Na perspectiva do desenvolvimento econômico local, “as inovações e a

mudança tecnológica surgem em um território concreto e estão associadas ao saber

fazer local, a qualificação dos recursos humanos” e as organizações de P&D

2 Ver a coletânea de DOCAMPO (2007). 3 Ver, por exemplo, CORTRIGHT (2001); JONES e VOLLARTH (2015); CASSIOLATO e LASTRES (2005); COOMBS et al (1994); KUPFER e HASENCLEVER (2002); VÁZQUEZ BARQUERO (2009).

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(VÁZQUEZ BARQUERO, 2007, p. 195). Contudo, não basta gerar inovações, o

respectivo desenvolvimento depende da difusão delas no tecido produtivo.

O desenvolvimento urbano e institucional refere-se à infraestrutura e à

institucionalidade. A cidade é vista como um ambiente de interações que possui regras

específicas. Ela é formada por um espaço construído e por um conjunto de atores

sociais que tomam decisões, dentre as quais, de investimento, com base nas suas

capacidades e perspectivas (VÁZQUEZ BARQUERO, 2001). Assim, as condições

urbanas influenciam o cotidiano dos agentes e suas escolhas. Da mesma forma, as

instituições e políticas públicas existentes também condicionam o comportamento dos

agentes, incentivando ou não a ação produtiva e colaborativa. As empresas, assim

como os indivíduos, preferem se localizar em lugares amigáveis e com uma boa oferta

de serviços às suas necessidades.

A conservação e melhoria do meio ambiente e do patrimônio histórico também

estão relacionados com o bem viver no território, por influenciarem as decisões

cotidianas e produtivas. Além disso, a sustentabilidade do desenvolvimento é um dos

objetivos dessas abordagens.

Ademais, frise-se que todos esses elementos seriam interdependentes. Por

exemplo, a produção e a difusão de inovações depende da complexidade do tecido

institucional e das relações entre empresas, e entre essas e os demais atores

(universidades, centros de pesquisa, escolas técnicas etc). O desenvolvimento urbano

e institucional depende do desempenho do sistema produtivo local. Por um lado,

porque é a fonte dos recursos utilizados pelos governos para produzir políticas que

beneficiem os cidadãos; por outro, porque a infraestrutura urbana e as ações dos

governos afetam (incentivam ou inibem) as decisões de investimento das empresas.

Ainda, as relações estabelecidas nas redes de empresas expressam a cultura local,

sendo reforçadas ou constrangidas pelas regras e pelas políticas públicas. Tratar

esses elementos como um sistema traz a complexidade para a produção de políticas

públicas, ainda muito perpassada pelas lógicas geográfica, funcional e setorial.

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Decerto, as parcerias, as redes e a gestão compartilhada entre atores públicos

e privados são apontadas como as formas de operação mais adequadas à produção

das políticas voltadas ao desenvolvimento econômico local (VÁZQUEZ BARQUERO,

2000; EVANS, 2004, TAPIA, 2005). Tal ideia ainda é reforçada em mais dois sentidos.

Primeiro, porque na formulação da política serão necessárias uma série de

informações, recursos e conhecimentos que, normalmente, encontram-se dispersos

entre os atores. Segundo, porque a implementação dessas iniciativas depende

fortemente da participação dos agentes econômicos (empresas e associações). Suas

capacidades e interesses indicam os limites e as possibilidades para o sucesso das

iniciativas públicas.

As estratégias divergem, mas há algo em comum a todos os pontos de vista. É o que se refere ao papel que se atribui ao Estado nas ações de desenvolvimento. Já não se vê o Estado como o único ator, senão como um parceiro [central]. A gestão centralizada do desenvolvimento é substituída por uma gestão mista, na qual convergem o Estado e os atores locais (KLEIN, 2005, p. 30, tradução nossa).

Nesse sentido, o Estado precisa desenvolver novas capacidades para

participar, elaborar e manter estruturas de governança local, que promovam a

coordenação das ações, a colaboração entre os atores e o estabelecimento das

prioridades e objetivos conjuntos (TAPIA, 2005). As agências de desenvolvimento

local podem ser inseridas nesse contexto, sendo apontadas como um dos produtos

desse movimento (GAROFOLI, 1995; VÁZQUEZ BARQUERO, 2007).

Estudos exploratório 4 apontaram que as estruturas voltadas ao

desenvolvimento econômico local existentes nas capitais brasileiras apresentam

características que nos permitem afirmar que estão alinhadas com esta visão de

desenvolvimento, quais sejam:

a) têm formatos organizacionais variados e contam sempre com a participação de

atores públicos e privados;

b) têm foco amplo, tentando produzir políticas integrais e horizontais no território.

4 NEVES (2015) e DIAS (2015).

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Nesse contexto, este paper se debruçará sobre a estrutura burocrática criada

em Porto Alegre, investigando-se os processos de formulação e implementação das

políticas públicas por ela capitaneadas.

2. METODOLOGIA

Para analisar a atuação da Prefeitura de Porto Alegre na produção de políticas

públicas voltadas ao desenvolvimento econômico, tomou-se como lócus de pesquisa

o Gabinete de Inovação e Tecnologia (Inovapoa). A pesquisa, de natureza qualitativa,

levantou dados primários e secundários durante o período de março a novembro de

2015. Os dados primários foram provenientes de entrevistas realizadas com cinco

funcionários, responsáveis por cinco ações executadas pelo Gabinete. Segundo o

Plano Plurianual 2014-17 (PPA) municipal, o Inovapoa é responsável por seis ações:

divulgação institucional; atração e fomento às empresas; capacitação para a

competitividade; soluções inovadoras para a sustentabilidade; tecnologias sociais; e

cooperação metropolitana. Não foi possível entrevistar um dos líderes de ação em

virtude de incompatibilidade de agenda.

Os dados secundários foram provenientes de relatórios de atividades, normas,

além de material informativo produzido pelo Gabinete. Em relação a eles, deve-se

apontar suas limitações. Especialmente sobre os relatórios de atividades, apesar do

Inovapoa ter sido criado em 2009, só foram produzidos dois deles, relativos a 2013 e

a 2014. Além disso, eles não são padronizados, as informações sobre os processos

e seus participantes não estão completas; não há rigor na utilização de termos

relevantes. Por exemplo, algumas vezes, elaboração e implantação são utilizados

como sinônimos. Tudo isso influencia na utilização dos dados, mas não a impede. Até

porque, acreditamos que o emprego desses produtos organizacionais em análises de

políticas públicas pode colaborar para sua melhoria.

Os dados foram tratados por meio do software NVIVO.A análise dos dados foi

realizada a partir de uma abordagem de tipo bottom-up, que foca o espaço local de

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implementação e as relações entre os atores públicos e privados. Ela é inspirada em

Vázquez Barquero (2000, 2001, 2007, 2009) e Evans (2004). Do primeiro,

selecionamos os elementos que nos permitiram caracterizar as políticas públicas

como iniciativas de desenvolvimento local, quais sejam: caráter endógeno das

políticas; percepção muldimensional dos problemas sociais; participação de uma

pluralidade de atores na formulação e na implementação; existência de mecanismos

de gestão compartilhada; e campos de atuação das políticas. Do segundo,

salientamos o papel central que joga o Estado, quando se trata de desenvolvimento

econômico, destacando as parcerias estabelecidas entre atores públicos e privados,

como variáveis que influenciam a eficiência e a efetividade das políticas públicas.

3. RESULTADOS

3.1. O GABINETE DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

O Gabinete de Inovação e Tecnologia foi criado em 2009 com o propósito de

articular e executar políticas públicas de fomento à inovação e ao desenvolvimento

científico e tecnológico (PORTO ALEGRE, 2009). Seu funcionamento seria

temporário, até a regulamentação e funcionamento da Agência de Inovação e

Desenvolvimento Científico e Tecnológico de Porto Alegre (Inovapoa).

Entre seus objetivos estão:

a) Formular e executar políticas públicas de incentivo à inovação e ao

desenvolvimento científico e tecnológico;

b) Estabelecer uma política de concessão de benefícios para a manutenção, o

estabelecimento e a atração de empreendimentos ligados à inovação e ao

desenvolvimento científico e tecnológico;

c) Fomentar e apoiar a expansão das empresas existentes com atuação ligada à

inovação e ao desenvolvimento científico e tecnológico;

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d) Apoiar e desenvolver iniciativas de capacitação e desenvolvimento de mão-de-

obra qualificada e empreendedorismo;

e) Estimular e apoiar o estabelecimento de parcerias voltadas à inovação e ao

desenvolvimento científico e tecnológico entre empresas, governo e

universidade;

f) Estimular o estabelecimento de parcerias voltadas à inovação e ao

desenvolvimento científico e tecnológico entre empresas locais, nacionais e

internacionais.

Percebemos aqui alguns elementos que se alinham à perspectiva de

desenvolvimento econômico adotada. Em primeiro lugar, o foco na inovação,

percebida atualmente como a fonte do crescimento econômico. Em segundo lugar, a

ênfase na qualificação profissional está relacionada com o fomento às empresas, pois

trata das condições necessárias para que elas funcionem.

No que se refere às formas de governança, a estrutura normativa do Gabinete

destaca o estabelecimento de parcerias entre empresas, governo e universidade,

indicando a consideração de uma pluralidade de atores, públicos e privados, de

diferentes organizações, que possam atuar e influenciar esse campo da política

pública.

A estrutura normativa não faz referência a questões de desenvolvimento

urbano e institucional. Ou seja, macro condições que influenciam as decisões dos

atores econômicos.

3.2. AS POLÍTICAS EXECUTADAS PELO GABINETE DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

O PPA da Prefeitura de Porto Alegre, definiu como um dos programas

estratégicos o “Desenvolver com Inovação” cujo objetivo é

Promover o desenvolvimento da Cidade, fortalecendo o planejamento urbano sob a perspectiva da sustentabilidade socioambiental e dinamizando a matriz econômica do

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Município ao incentivar o crescimento dos setores produtivos, a diferenciação do capital humano, a inovação e a tecnologia (PORTO ALEGRE, 2013, p. XIII).

Esta perspectiva apresenta os elementos que compõem a abordagem do

desenvolvimento econômico local empregada: articula crescimento econômico,

inovação, desenvolvimento urbano, institucional e ambiental.Quadro 1- Ações que

fazem parte do programa “Desenvolver com Inovação”

ação órgão responsável

(vinculação)

Implantação de estação de transbordo Departamento Municipal de Limpeza Urbana Plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos

Agilização da tramitação e do fluxo dos processos de licenciamento urbano ambiental

Escritório Geral de Licenciamento e

Regularização Fundiária (Secretaria Municipal de

Gestão)

Projetos de interesse especial ao desenvolvimento da cidade

Gabinete de Desenvolvimento e Assuntos

Especiais (Gabinete do Prefeito)

Atração de novas empresas e fomento às empresas existentes

Gabinete de Inovação e Tecnologia (Gabinete do

Prefeito)

Capacitação para a competitividade

Cooperação metropolitana

Divulgação institucional de porto alegre

Soluções inovadoras para a sustentabilidade

Tecnologias sociais para uma cidade inovadora

Plano básico de gestão ambiental urbana Secretaria Municipal do Meio Ambiente Plano de manejo de unidades de conservação

Desenvolvimento do complexo do porto seco

Secretaria Municipal da Produção, Indústria e

Comércio

Desenvolvimento econômico local

Inovação no setor agropecuário

Parque industrial da restinga – PIR

Porto alegre rural - fomento à produção e comercialização

Sanidade animal

Trabalho para a juventude Secretaria Municipal da

Juventude

Novas tecnologias de segurança pública municipal Secretaria Municipal de

Segurança

Mobilidade urbana Secretaria Municipal dos

Transportes

Programa nacional de acesso ao ensino técnico e emprego- PRONATEC

Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego

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ação órgão responsável

(vinculação)

Escola social de turismo de porto alegre

Secretaria Municipal de Turismo

Incremento das atividades turísticas

Informação turística - geração e distribuição

Marketing turístico

Oferta turística - consolidação, desenvolvimento e qualificação

Turismo promoção nacional e internacional

Turismo relações institucionais e parcerias

Avaliação permanente do plano diretor de desenvolvimento urbano ambiental

Secretaria Municipal de Urbanismo

Cadastro e monitoramento da irregularidade fundiária do município de porto alegre

Detalhamento do plano diretor de desenvolvimento urbano ambiental – PDDUA

Estudo do desenvolvimento urbano: porto alegre 2015 – 2035

Plano de desenvolvimento estratégico do 4° distrito

Plano energético municipal

Projeto de implementação do sistema de avaliação do desempenho urbano

Qualificação de espaços abertos

Revisão da tramitação e fluxo dos processos de licenciamento de edificações e parcelamento de solo

Código municipal do meio ambiente

Informação indisponível

Estudo e ações estratégicas para a qualificação do espaço público

Implantação de rotinas de informatização e geoprocessamento na coordenação de vistoria predial

Inovação como estratégia para o desenvolvimento local do turismo

Plano nacional setorial de qualificação – PLANSEQ

Qualificação do licenciamento ambiental

Qualificação profissional – PLANTEQ

Zoneamento ecológico de porto alegre

Fonte: elaboração própria a partir de Porto Alegre (2013) e Portal da Gestão (sítio da Prefeitura de

Porto Alegre)

Nessa listagem identificamos, pelo menos, 12 diferentes órgãos da Prefeitura

envolvidos na execução das 46 ações do programa estratégico.Com isso, Porto

Alegre apresenta, em seu planejamento, uma visão integrada do desenvolvimento

econômico, ao mesmo tempo que setorializa as iniciativas voltadas ao seu

atingimento.

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O Gabinete de Inovação e Tecnologia é responsável por seis ações:

1) Atração de novas empresas e fomento às empresas existentes: atração de novos

investimentos e fomento às empresas existentes para geração de novos produtos,

serviços e processos que incrementem a economia; apoio para o desenvolvimento

de regiões de potencial tecnológico; e criação de novos parques, polos e

incubadoras tecnológicas. Objetivos da ação: fomentar a integração

transformadora entre governo, universidade e empresas inovadoras; apoiar e dar

suporte a empresas interessadas em se instalar no Município; apoiar e incentivar

a manutenção e o crescimento de empresas já estabelecidas; realizar estudos

tributários, de diagnóstico mercadológico e prospecção tecnológica; elaborar

políticas públicas (leis e decretos) para incentivo de crescimento de empresas; e

divulgar e incentivar a participação de empresas em editais de fomento à inovação

e tecnologia.

2) Capacitação para a competitividade: articulação e promoção de ações de

capacitação para o desenvolvimento de competências de recursos humanos nos

diversos níveis, visando a garantir fornecimento de mão de obra especializada e

promoção social. Objetivos da ação: fomentar a formação de mão de obra

qualificada para atender a demanda do mercado; estimular a participação em

programas de qualificação de empresas; ampliar o acesso ao conhecimento e

estimular a participação em editais de fomento para a capacitação do indivíduo;

disseminar a cultura do empreendedorismo. Os objetivos são operacionalizados

por meio do Programa Unipoa e do Programa Emprega Unipoa. O primeiro

concede bolsas de estudos em universidades privadas conveniadas, é executada

pela Secretaria Municipal de Educação. O segundo visa a auxiliar os bolsistas do

Programa Unipoa a entrarem no mercado de trabalho por meio de oficinas de

orientações básicas (por exemplo, como elaborar currículos), cursos de idiomas,

assim como debates, seminários e outros voltados a temas de empregabilidade.

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3) Cooperação metropolitana5: promover a integração entre o município de Porto

Alegre e os demais municípios da Região Metropolitana. Objetivos: articular

intervenções que promovam o desenvolvimento da Região Metropolitana de forma

integrada.

4) Divulgação institucional de Porto Alegre: promoção e divulgação dos diferenciais

competitivos e colaborativos de Porto Alegre, por meio da participação no circuito

das grandes feiras e eventos nacionais e internacionais. Objetivos: aumentar a

visibilidade de Porto Alegre no cenário nacional e internacional visando atrair

investimentos estratégicos que promovam a Cidade no circuito global da inovação

tecnológica; fortalecer a imagem de Porto Alegre como cidade inovadora,

empreendedora e modelo em democracia participativa.

5) Soluções inovadoras para a sustentabilidade: promoção, incentivo e busca de

alternativas e soluções economicamente viáveis, ambientalmente corretas e

socialmente justas para a resolução dos problemas urbanos. Objetivos: qualificar

os processos de gestão de resíduos sólidos urbanos; avaliar a matriz energética

atual e propor inovações para geração de energia limpa; qualificar os processos

construtivos, por meio do incentivo a novos processos, e fomentar a inserção de

materiais que garantam melhor desempenho térmico e energético; e estabelecer

parcerias com instituições que aportem conhecimento em sustentabilidade.

6) Tecnologias sociais para uma cidade inovadora: melhoria da qualidade de vida da

população, por meio de pesquisa, divulgação e apoio tecnológico de grupos,

comunidades e organizações da sociedade na solução de seus problemas e

necessidades. Objetivos: promover, divulgar e fomentar tecnologias sociais

possibilitando a popularização e democratização do acesso à ciência e tecnologia.

Vê-se que as ações condizem com os objetivos do Inovapoa. Elas abordam o

fomento de empresas, a atração de investimentos para a inovação, a qualificação dos

recursos humanos e o desenvolvimento urbano e ambiental. Isso condiz com as

5Essa ação não consta no sítio do Inovapoa, as informações apresentadas foram coletadas no PPA 2014-2017.

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categorias típicas da abordagem do desenvolvimento econômico local. Entretanto,

elas não fornecem informações sobre os sistemas de governança.

3.3. A FORMULAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

No que se refere à formulação das ações executadas pelo Inovapoa, verificou-

se que três tinham sido formuladas a partir de iniciativa do próprio Gabinete:

Divulgação Institucional, Capacitação para a Competitividade e Cooperação

Metropolitana. Em relação às duas outras ações, verificou-se que os executores

desconheciam seu processo de planejamento. De forma geral, embora os informantes

conhecessem a origem dos programas, não tinham informações sobre sua

formulação: motivação, responsáveis, atores envolvidos, debates etc. Além disso,

apenas dois informantes souberam relatar detalhes sobre a ação que executavam.

Essas informações indicam algumas questões. Primeiro, as iniciativas foram

formuladas no âmbito local, criadas por atores locais para lidar com um problema

social percebido. Nesse sentido, alinham-se com a abordagem do desenvolvimento

econômico local. Segundo, o fato dos atores executores desconhecerem o processo

de formulação das ações sob sua responsabilidade indica: (1) que não participaram

do processo; (2) que não foram socializados nas ideias, fatos, demandas e

necessidades que justificaram a criação da ação; e (3) que não mantêm relações com

os participantes desse processo. Em relação a esse último ponto, pode-se inferir que

o processo de formulação foi insulado, uma vez que os executores mantêm relações

com atores externos na implementação das ações em virtude das parcerias. Estes,

no entanto, não foram apontados como integrantes da elaboração das ações. Nesse

caso, faltam elementos de gestão compartilhada, o que pode prejudicar a política

pública em termos de diversidade de informações, recursos e apoio. Terceiro, chamou

a atenção o fato de que três, dos cinco entrevistados, demonstraram pouco

conhecimento sobre os objetivos e estratégias das ações sob sua responsabilidade.

Indicando alguma deficiência de treinamento ou não conformidade com a ação.

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3.4. A IMPLEMENTAÇÃO DAS AÇÕES

Abordaremos a implementação das ações a partir de dois elementos: o que foi

executado e quais atores participaram.

No que tange as atividades realizadas, utilizamos como principal fonte de dados

os dois relatórios produzidos pelo Inovapoa, referentes aos anos de 2013 e 2014, eas

entrevistas. Os dados foram sistematizados abaixo.

O objetivo da ação “Divulgação institucional de Porto Alegre” é promover e

divulgar a cidade por meio da participação em eventos. Verificou-se que a maior parte

das atividades realizadas parecem convergir para o objetivo. Foram apresentadas 23

atividades nos relatórios (oito em 2013,15 em 2014), conforme segue:

a) Promoção, organização e participação em eventos: das 23 atividades

relatadas, 16 podem ser incluídas nessa categoria. Nessas ocasiões o

Inovapoa atuou promovendo seminários sobre o tema da inovação e da

tecnologia no âmbito municipal e divulgando os programas e a cidade.

Parceiros envolvidos: Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul

(FIERGS), Rede Mercocidades, instituições de ensino superior (não

especificadas).

b) Reuniões com parceiros (quatro relatos): para planejamento de iniciativas

conjuntas, organização de eventos, formação de espaços de articulação entre

atores. Parceiros envolvidos: Rede Mercocidades, consulado dos EUA, Fórum

de Secretários Municipais de Ciência e Tecnologia, instituições de ensino

superior.

c) Outras atividades: lançamento de material de divulgação (Guia Porto Alegre de

Negócios e Oportunidades); sanção da lei que obriga a inclusão sobre a história

científica do padre Landell de Moura no currículo escolar da rede municipal;

publicação de paper em anais de eventos.

Em relação a ação “Atração e fomentos às empresas” foram listadas 29

atividades (nove em 2013, 20 em 2014):

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a) Apoio e participação em eventos: foram apontadas oito atividades nessa

categoria. A atuação do Inovapoa envolveu: apresentação de programas e a

inauguração do Polo de Economia Criativa.

b) Reuniões com parceiros (estabelecidos ou potenciais). Foram listadas oito

atividades desse tipo, que versaram sobre: planejamento de atividades

conjuntas, prospecção de empresas gaúchas para internacionalização,

discussão sobre a Lei Municipal de Inovação, divulgação de evento, missão ao

Vale do Silício, recepção a empresas internacionais interessadas em investir

em Porto Alegre. Parceiros envolvidos: Programa Gaúcho da Qualidade e

Competitividade (PGQP), consultor internacional, cidade de Albuqueque

(EUA), Centro de Pesquisa Trento Rise (Itália), Associação das Empresas

Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet, Federação das

Indústrias do Rio Grande do Sul, Hannover Fairs Sulamérica, empresas do Vale

do Silício (Google, Linkedin, entre outras), Korea Evaluation Institute of

Industrial Technology e StartUp MVM Technologies, Hipra Farmacêutica.

c) Política Municipal de Economia Criativa. A elaboração dessa política abarcou

sete atividades: duas reuniões do Comitê de Economia Criativa; quatro

reuniões com grupos sociais, entidades empresariais, órgãos da Prefeitura e

instituições de ensino; evento de lançamento da política.

d) Outras ações. Estabelecimento de condições para: construção de incubadora

de empresas (concessão de terreno); Arranjos Produtivos Locais (participação

na elaboração e aprovação de lei que define as regiões com potencial

tecnológico e áreas de interesse tecnológico); criação de incubadora pública

para gerir novas empresas de base tecnológica (convênio com instituição de

ensino); desenvolvimento de centro de Inovação (protocolo de intenções). Além

dessas, a aprovação da Lei Municipal de Inovação e a formulação de material

de divulgação (Guia Porto Alegre de Negócios e Oportunidades). Parceiros

envolvidos: Secretaria Municipal da produção, Indústria e Comércio, Escola

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Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Pontifícia Universidade Católica

(PUC), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Para a ação “Capacitação para a competitividade” foram elencadas oito

atividades (quatro em 2013, quatro em 2014):

a) Execução do Unipoa: “determinação” do decreto municipal que prevê a

concessão das bolsas de estudo, abertura de inscrições para a concessão das

bolsas de estudo e entrega de bolsas de pós-graduação. Parceiros envolvidos:

Centro Universitário Ritter dos Reis (Uniritter), Faculdade de Tecnologia (Ftec),

Instituto Brasileiro de Gestão de Negócios (Ibgen), Faculdade de

Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs), Faculdade São Francisco

de Assis (Unifin).

b) Reuniões com parceiros: participação em grupo de trabalho para a criação de

programa de educação fiscal, articulação com instituições de ensino superior

para a criação do Fórum Municipal de Instituições de Ensino Superior,

apresentação da proposta do Fórum Permanente das Instituições de Ensino

Superior. Parceiros envolvidos: instituições de ensino superior (não

especificadas).

c) Outras atividades: divulgação de editais de fomento à inovação e promoção do

desenvolvimento científico e tecnológico e apoio a eventos de

empreendedorismo e capacitação (Startup Weekend, Endeavor, CeoSummit,

Semana Global de Empreendedorismo e o Workshop com Vitor Hwang).

A execução do Programa Unipoa envolve a Secretaria Municipal de Educação,

conforme expõe um informante: “Quem acompanha, por exemplo, número de alunos,

número de vagas, matrícula [etc] [...] é a Secretaria Municipal de Educação”. A partir

desse programa, foi criado o EmpregaUnipoa que, segundo um informante: “é calcado

[...] em parcerias. A gente faz ações [...] 100% de qualificação [...] a gente procura

oferecer a mais de 700 bolsistas, porque hoje não adianta um curso superior só”.

Segundo ele, as qualificações versam sobre empreendedorismo, liderança e

inovação.

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A ação “Soluções inovadoras para a sustentabilidade” foi operacionalizada por

meio de 14 atividades (quatro em 2013, 10 em 2014):

a) Programa Porto Alegre Resiliente. Grande parte das atividades atribuídas a

ação se referem a esse programa, elas abarcaram: promoção do evento Cem

Cidades Resilientes; realização do encontro do Programa Porto Alegre

Resiliente com atores sociais e estatais; 17 “rodadas do programa Porto Alegre

Resiliente”; desenvolvimento do plano de resiliência envolvendo diferentes

atores; visita de representante da Fundação Rockefeller para acompanhar a

elaboração do plano; evento para assinatura de “memorando de entendimento”

do projeto Cem Cidades Resilientes; apresentação em evento da experiência

de Porto Alegre na construção da resiliência urbana; promoção de evento para

conclusão do projeto com a formação de GTs com diferentes atores para

discussão temática. Parceiros envolvidos: Fundação Rockefeller, Secretaria de

Governança Local, lideranças comunitárias das regiões de Porto Alegre,

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lideranças empresariais,

ONGs (não especificadas).

b) Reunião com parceiros: para oportunizar a inclusão de Porto Alegre no

programa que irá criar a Rede Brasileira e o Instituto Brasileiro de Cidades

Inteligentes e Humanas; para desenvolver projeto de conscientização, entre

alunos da rede privada, sobre o consumo e o descarte corretos de

equipamentos eletrônicos. Parceiros envolvidos: Sindicato do Ensino Privado

do Rio Grande do Sul, diretores de escolas.

c) Realização de eventos: Feira de Descarte de Equipamentos Eletrônicos-

Reciclagem Tecnológica eWorkshop Gestão Sustentável de Resíduos Sólidos.

Parceiros envolvidos: Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).

d) Outras atividades: apoio a eventos na área de energias renováveis e gestão de

resíduos urbanos. Parceiros envolvidos: Departamento Municipal de Limpeza

Urbana e Instituto latino Americano de Desenvolvimento Sustentável.

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Constatou-se que as atividades mencionadas no relatório de 2013 estavam

relacionadas com a gestão de resíduos urbanos, especialmente os eletrônicos. Já as

atividades de 2014 enfatizaram o Programa Porto Alegre Resiliente. Na entrevista, o

respondente só se referiu a política de descarte de resíduos eletrônicos. Segundo ele,

a atividade é coordenada pelo Inovapoa e executada pelo Departamento Municipal de

Limpeza Urbana e pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Segundo ele, tal

conformação justificaria a transferência da atividade para esses órgãos. Identificou-se

uma baixa valorização da ação por parte de seu executor, que demonstrou pouco

interesse na divulgação de informações sobre seu funcionamento.

A ação “Cooperação metropolitana”, segundo dados de entrevista, não chegou

a fase de implementação. No relatório de 2013 não constam atividades relacionadas.

E no relatório de 2014 são elencadas atividades de articulação para a disseminação

da ação; uma iniciativa de implantação de uma “ferramenta que objetiva identificar e

incluir formas de contato de todas as instituições públicas e privadas” (PORTO

ALEGRE, sd, pg. 18) que atuam na área da ciência, tecnologia e inovação e;

publicação de artigo sobre o Guia Eletrônico de Instituições Tecnológicas da Capital.

As atividades apresentadas não parecem ser capazes de atingir o objetivo

pretendido: articular intervenções que promovam o desenvolvimento da Região

Metropolitana de forma integrada. Tal desconexão vai ao encontro da informação de

que a ação “não existe mais”, conforme relato do entrevistado6.

Por fim, na ação “Tecnologias sociais para uma cidade inovadora” foram

apresentadas sete atividades (cinco em 2013, duas em 2014).

a) Estabelecimento de parceria: para instalação do Polo de Economia Criativa;

para o projeto Banco de ideias e projetos. Parceiros envolvidos: Centro

Universitário Metodista (IPA), Secretaria de Governança Local.

6 Curioso notar que a descrição resumida do programa no relatório de atividades de 2014 está errada, foi trocada

pela descrição da ação “Capacitação para competitividade”. Tal “lapso” reforça a informação de que a ação foi

abandonada.

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b) Apoio e participação em evento: Fórum Social Temático (2013 e 2014), 54°

Semana de Porto Alegre, Festival Internacional de Cinema de Porto Alegre,

Fórum Internacional de Software Livre. Parceiros envolvidos: Secretaria

Municipal de Cultura, Secretaria de Governança Local.

Vê-se que as atividades desenvolvidas abrangem alguns campos de atuação

considerados como os mais profícuos para a produção de políticas públicas locais. O

fomento à criação e ao desenvolvimento de redes de empresas e a produção e difusão

da inovação parecem ser preocupações orientadoras das atividades da ação “Atração

e fomentos às empresas”. Essa ação tem objetivos relacionados com a “Capacitação

para a competitividade”, uma vez que a qualificação dos recursos humanos é um

importante critério nas decisões de investimento. Também é complementar a ação

“Divulgação institucional”, pois promove a cidade com vistas a atrair investimentos.

Entretanto, não há indícios de atuação coordenada entre elas.

O desenvolvimento urbano é contemplado de forma parcial na ação “Soluções

inovadoras para a sustentabilidade”. Pois não há direcionamento a outras questões

fundamentais da vida em grandes cidades como a infraestrutura urbana. Isso indica

que essas questões são tratadas em outras secretarias, sugerindo fragmentação das

ações. Além disso, a questão ambiental surge timidamente, por meio da gestão de

resíduos eletrônicos.

Analisando as atividades à luz dos objetivos, podemos classificá-las em três

tipos, segundo a coerência na relação objetivos-meios para atingi-los:

1) Atividades que permitem o atingimento dos objetivos. É o caso das ações

“Divulgação institucional de Porto Alegre” e “Atração e fomento às empresas”.

2) Atividades que são parcialmente condizentes com objetivos. A ação

“Capacitação para a competitividade” foi inserida nessa categoria em virtude

de seu foco em apenas um tipo de intervenção: concessão de bolsas em

instituições de ensino superior. Dentre seus objetivos estão: fomentar a

formação de mão de obra qualificada para atender a demanda do mercado e

estimular a participação em programas de qualificação de empresas. Isso

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demandaria uma aproximação com o setor produtivo. Contudo, os relatórios e

as entrevistas apontaram para a baixa participação desses atores nas

atividades. De fato, nos relatórios de atividades os parceiros fundamentais são

as instituições de ensino superior, nenhuma menção é feita ás empresas.

Mesmo o programa Emprega Unipoa (que foi citado apenas nas entrevistas),

não integra o setor produtivo, trata somente de desenvolver habilidades

individuais para que os bolsistas se comportem de forma a maximizar sua

empregabilidade. Nesse programa os parceiros são o Sebrae, o Senac, o

Centro de Integração Empresa-Escola e o Instituto Empreender Endeavor

Brasil. Outra ação nessa categoria é a “Soluções inovadoras para a

sustentabilidade”, também em virtude de valorizar duas iniciativas (resiliência

da cidade e resíduos eletrônicos). Não se quer dizer que não sejam relevantes,

mas que os objetivos da ação exigem maior escopo e integração entre as

atividades. Especialmente na questão dos resíduos eletrônicos, não foram

identificados atores não-estatais, limitando o objetivo de buscar soluções

economicamente viáveis, ambientalmente corretas e socialmente justas.

3) Atividades que não permitem o alcance dos objetivos. Nessa categoria

incluímos a “Cooperação metropolitana” e a “Tecnologias sociais para uma

cidade inovadora”. A primeira porque embora conste no PPA, no Portal de

Gestão7 e no relatório de atividades, foi referida como inexistente por seu

executor. O que cria uma preocupação adicional sobre a validade das

informações a respeito das políticas públicas e dos recursos a elas

direcionados. Ainda, as atividades atribuídas a ação no relatório de 2014

apresentam relação extremamente frágil com os objetivos, dificilmente

promoveriam seu atingimento. Em relação a segunda ação, paira também a

dúvida sobre sua existência, pois as realizações são poucas e, em sua maioria,

são participações em eventos. Atividades que não parecem ter relação direta

com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da população por meio de

7Portal que permite acompanhar o atingimento da meta das ações.

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pesquisa, divulgação e apoio tecnológico de grupos, comunidades e

organizações da sociedade na solução de seus problemas e necessidades.

A análise dos programas nos permite visualizar os diferentes atores que

participam das atividades realizadas pelo Inovapoa. A pluralidade de atores e o

esforço percebido para promover parcerias, aproximam o Inovapoa das estruturas de

governança adequadas a produção de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento

econômico local.

A partir dos dados expostos anteriormente, foi possível identificar em torno de

49 diferentes atores, como mostra o quadro 2.

Quadro 2- Lista de atores envolvidos nas atividades do Inovapoa

Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet

Associação de usuários de informática e telecomunicações

Associação dos Amigos da Biblioteca Pública do RS

Centro de Integração Empresa-Escola

Centro de Pesquisa Trento Rise (Itália)

Cidade de Albuquerque (EUA)

Consulado dos EUA

Departamento Municipal de Limpeza Urbana

Deputados estaduais (não especificados)

Diretores de escolas

Empresários (não especificados)

Empresas: Hannover FairsSulamérica, do Vale do Silício (Google, Linkedin, entre outras), StartUp MVM Technologies

Endeavor Brasil

Entidades empresarias (não especificadas)

Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS)

Fórum Nacional de Secretários Municipais de Ciência e Tecnologia

Fundação Rockefeller

Grupos sociais: artesãos, artistas, designers

Hipra Farmacêutica

Instituições de ensino: IBGEN, IPA, ESPM, Fadergs, Ftec, PUC, UFRGS, Unifin, Unisinos, Uniritter

Instituto Latino Americano de Desenvolvimento Sustentável

Korea Evaluation Institute of Industrial Technology

Lideranças comunitárias das regiões de Porto Alegre

ONGs

Programa Gaúcho da Qualidade e Competitividade (PGQP)

Rede Mercocidades

Sebrae e Senac

Secretaria de Governança Local

Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio

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Secretaria Municipal de Cultura

Secretaria Municipal de Educação

Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Sindicato do Ensino Privado do RS

Vereadores (não especificados)

Fonte: elaboração própria

O envolvimento dessa diversidade de atores nos processos de formulação e

implementação das atividades do Inovapoa, aponta para a gestão compartilhada.

Embora não tenhamos encontrado evidências que nos permitam afirmar que as seis

ações foram formuladas de forma descentralizada, com a participação de atores

sociais, o mesmo não podemos dizer das atividades desenvolvidas pelo Inovapoa.

Averiguamos um processo mais descentralizado de formulação, especialmente, na

Política Municipal de Economia Criativa e no Programa Porto Alegre Resiliente.

No que se refere à implementação, constatamos que sempre há a participação

de atores externos. Tal configuração, como vimos na discussão sobre a abordagem

do desenvolvimento econômico local, contribui com as políticas uma vez que insere

uma série de informações, recursos e conhecimentos que estãodisperso entre os

atores. Além disso, a sustentabilidade das políticas públicas pode ser favorecida pela

participação dos atores que por elas se interessam e/ou são afetados.

O quadro 3 apresenta a distribuição dos parceiros (estabelecidos, temporários

ou potenciais) segundo as ações.

Quadro 3- Ações e atores envolvidos na implementação

Divulgação Institucional

de Porto Alegre

Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul

RedeMercocidades

Instituições de ensino superior (não especificadas)

Consulado dos EUA

Fórum de Secretários Municipais de Ciência e Tecnologia

Atração e fomentos às

empresas

Programa Gaúcho da Qualidade e Competitividade

Consultor internacional

Cidade de Albuqueque (EUA)

Centro de Pesquisa Trento Rise (Itália)

Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação,

Software e Internet

Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul

Hannover Fairs Sulamérica

Empresas do Vale do Silício (Google, Linkedin, entre outras),

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Korea Evaluation Institute of Industrial Technology

StartUp MVM Technologies

HipraFarmacêutica

Grupossociais

Órgãos da prefeitura (não especificados)

Secretaria Municipal de Indústria e Comércio

Escola Superior de Propaganda e Marketing

Pontifícia Universidade Católica do RS

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Vereadores (nãoespecificados)

Deputadosestaduais (nãoespecificados)

Endeavor Brasil

Sebrae

Capacitação para a

competitividade

Secretaria Municipal de Educação

Instituições de ensino superior: Iniritter, IBGEN, Ftec, Fadergs,

Unifin

Sebrae e Senac

Endeavor Brasil

Soluções inovadoras

para a sustentabilidade

Fundação Rockefeller

Secretaria de Governança Local

Lideranças comunitárias das regiões de Porto Alegre

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Liderançasempresariais

ONGs (nãoespecificadas)

Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul

Diretores de escolas

Departamento Municipal de Limpeza Urbana

Instituto latino Americano de Desenvolvimento Sustentável

Secretaria Municipal de Meio Ambiente

Tecnologias sociais para

uma cidade inovadora

Centro UniversitárioMetodista

Secretaria de Governança Local

Secretaria Municipal de Cultura

Fonte; elaboração própria

Nota-se que a ação “Atração e fomento às empresas” é a que envolve a maior

variedade de atores: empresas, instituições de ensino, centro de pesquisa, políticos,

outros órgãos da prefeitura etc. Novamente, salientamos a inexistência de atores

empresarias na ação “Capacitação para a competitividade”, o que pode fragilizar sua

capacidade de atingir seus objetivos e gerar impacto social. A ação “Divulgação

institucional”, inclui poucos parceiros, mas eles são diversos. Já a ação “Tecnologias

sociais para uma cidade inovadora” tem um rol limitado de parceiros.

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A importância do estabelecimento de parcerias está em seus efeitos sobre a

eficiência e a efetividade das políticas públicas. Em outras palavras, os problemas

sociais são produzidos por múltiplas variáveis, algumas conhecidas e outras não; a

participação de diferentes atores minimiza as limitações de conhecimentos e de

recursos. Além disso, nesse tipo de política, os atores não estatais têm papel na

implementação, o que torna mais importante sua inclusão, pois gera compromisso e

sustentabilidade. A manutenção das interações entre diferentes atores gera

informações sobre os processos das políticas, que podem ser utilizadas para

retroalimentar o processo, adaptando-o às mudanças contextuais.

Contudo, essas relações dependem: da construção de confiança; da montagem

de redes de comunicação e interação; proximidade organizacional (AMARAL FILHO,

2001). Identificamos a existência de uma estrutura de governança apenas na Política

Municipal de Economia Criativa. Ressalta-se as parcerias com outros órgãos da

prefeitura, recorrentes nas ações, apontando para o desenvolvimento de

intersetorialidade no enfrentamento dos problemas sociais.

4. CONCLUSÕES

À luz da abordagem do desenvolvimento econômico local, este estudo

constatou que o Inovapoa é uma das estruturas organizacionais, criadas no âmbito

municipal, que desenvolve políticas que se caracterizam por uma visão

muldimensional dos problemas sociais e intersetorialidade. Isto é, abarcam as

dimensões socioeconômica, ambientale institucional, operando por meio da

articulação de vários campos do conhecimento.

Além disso, ainda podemos elaborar mais algumas conclusões. Em primeiro

lugar, as iniciativas estudadas se caracterizam por serem eminentemente locais.

Todas as ações, programas e políticas planejadas e/ou implementadas pelo Inovapoa

foram gestadas no município. Mesmo as ações (constantes no PPA), sobre as quais

não podemos fazer afirmações a respeito de seu processo de formulação, sabemos

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que foram elaboradas por funcionários do Inovapoa. Isso revela a endogeneidade

dessas iniciativas: respondem à demandas e necessidades dos atores locais; são

elaboradas tendo em vista os recursos disponíveis; são direcionadas à expansão dos

recursos considerando as especificidades locais.

A endogeneidade é a base da ideia de desenvolvimento local que mobilizamos

aqui: consiste no princípio de que as decisões relativas às mudanças sociais

desejadas para a localidade sejam tomadas pelos atores locais, que conviverão com

os frutos da ação pública correspondente. Nesse sentido, ela se apoia na capacidade

das localidades e territórios para adotar sua própria estratégia de desenvolvimento,

ao levar a cabo as ações necessárias para alcançar os objetivos que a própria

sociedade definiu para si.

A endogeneidade está baseada em três elementos: equidade, sustentabilidade

e participação. Encontramos esses elementos, com maior (como é o caso da

participação e da sustentabilidade) ou menor (no caso da equidade) intensidade nos

objetivos das políticas. Já na implementação, percebemos que o elemento mais

recorrente é a participação, operacionalizada por meio das parcerias. Chama a

atenção a pouca referência ao impacto, em termos de equidade das ações

executadas. Da mesma forma, o elemento da sustentabilidade parece pouco evidente

nos dados sobre as atividades realizadas.

Em segundo lugar, averiguou-se que na implementação das atividades há a

participação de uma pluralidade de atores. E, mesmo assim, identificamos uma ação,

“Capacitação para competitividade”, que carecia do envolvimento de atores do setor

econômico. Nesse caso, o objetivo da ação é qualificar de acordo com as

necessidades dos empregadores. Entretanto, em suas atividades não foi relatada a

participação desse tipo de ator. Então, quais os critérios que orientam as atividades?

Como a desconexão com um dos atores implementadores afetará o impacto da ação?

Um dos elementos definidores do desenvolvimento local é a participação de

diferentes atores locais na formulação e na implementação das políticas públicas. Ela

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minimiza as limitações cognitivas e de recursos, alavancando a intervenção. Além

disso, a participação tenderia a gerar compromisso e sustentabilidade ao processo.

A interação entre diversos atores na formulação e na implementação das

estratégias de desenvolvimento supõe novos espaços de concertação, como redes e

parcerias. Isto é, formas organizacionais que propiciem a decisão e a gestão

compartilhada. Esse é um grande desafio para a gestão pública, especialmente no

Brasil, pois historicamente o Estado costuma centralizar a produção de políticas

públicas. A cooperação público-privada gera a necessidade de criar novas formas de

governança, nas quais a negociação, a percepção da interdependência e da

convergência de interesses, o intercâmbio de recursos e o trabalho conjunto sejam

elementos orientadores. No caso do Inovapoa verificamos que algumas ações

preveem fóruns de concertação na forma de comitês. Mas o que os relatórios de

atividades mostram é a prevalência de reuniões como mecanismo de interação.

Em terceiro lugar, temos a questão da fragmentação das ações. Embora uma

perspectiva de desenvolvimento muldimensional seja percebida nos objetivos do

Inovapoa, nas ações isso não fica claro. Por exemplo, em duas ações

complementares “Atração e fomento às empresas” e “Capacitação para

competitividade”. Um dos recursos que influenciam as decisões de investimento é a

qualidade dos recursos humanos disponíveis numa localidade. Vimos que não há

articulação entre as ações, elas funcionam separadamente. Então, como se sabe que

as capacidades incentivadas por meio do Programa Unipoa estão atendendo às

necessidades das empresas que estão sendo atraídas e/ou fomentadas? A resposta

a essa pergunta coloca em cheque a própria legitimidade das duas ações.

Em quarto lugar, identificamos fragilidade na relação entre objetivos e

atividades. Algumas atividades implementadas careciam de coerências com os

objetivos que deveria auxiliar a atingir, como foi o caso da “Cooperação metropolitana”

e da “Tecnologias sociais para uma cidade inovadora”.

Por fim, as ações formuladas e executadas pelo Inovapoa correspondem a

alguns campos profícuos para a produção de políticas públicas locais voltadas ao

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desenvolvimento econômico local, quais sejam: fomento à criação e ao

desenvolvimento de redes de empresas, difusão da inovação, desenvolvimento

urbano e conservação e melhoria do meio ambiente.

A ação “Atração e fomento a empresas” foca o desenvolvimento de polos,

parques industriais e arranjo produtivos locais. Também executou ações voltadas à

inovação, por exemplo: estabelecimento das condições para a criação de incubadora

pública para gerir novas empresas de base tecnológica, Lei de Inovação e Política

Municipal de Economia Criativa. A ação “Divulgação institucional” pode ter efeito

complementar, já que age no sentido de atrair investimentos.

A ação “Soluções inovadoras para a sustentabilidade” atua no campo do

desenvolvimento urbano e melhoria do meio ambiente por meio do Programa Porto

Alegre Resiliente e da gestão de resíduos eletrônicos. Contudo, as atividades são

frágeis para atingir os objetivos mais gerais.

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_____________________________________________________________

AUTORIA

Luciana Leite Lima - UFRGS

Endereço eletrônico: [email protected]

Telefone: (51) 3308-7007

Luciano D’Ascenzi – AGERGS

Endereço eletrônico: [email protected]

Gianna Vargas Reis Salgado Dias – UFRGS

Endereço eletrônico: [email protected].