Formação de Professores · Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Formação...
Transcript of Formação de Professores · Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica Formação...
Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
CIEcircNCIAS HUMANAS
Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio
Etapa II - Caderno II
VERSAtildeO PRELIMINAR
CuritibaSetor de Educaccedilatildeo da UFPR
2014
MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO
SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA (SEB)
MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA Esplanada dos Ministeacuterios Bloco L Sala 500 CEP 70047-900 Tel (61)20228318 - 20228320
Brasil Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Formaccedilatildeo de professores do ensino meacutedio etapa II - caderno II Ciecircncias Humanas Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [autores Alexandro Dantas Trindade et al] ndash Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2014 53p ISBN Inclui referecircncias Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio 1 Ensino meacutedio 2 Professores - Formaccedilatildeo 3 Ciecircncia e humanidades 4 Praacutetica de ensino I Trindade Alexandro Dantas II Universidade Federal do Paranaacute Setor de Educaccedilatildeo III Ciecircncias Humanas IV Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio V Tiacutetulo CDD 37319
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacuteSISTEMA DE BIBLIOTECAS ndash BIBLIOTECA CENTRAL
COORDENACcedilAtildeO DE PROCESSOS TEacuteCNICOS
Andrea Carolina Grohs CRB 91384
CIEcircNCIAS HUMANASEtapa II ndash Caderno II
AUTORES
Alexandro Dantas Trindade
Arnaldo Pinto Junior
Claudia da Silva Kryszczun
Eduardo Salles de Oliveira Barra
Marivocircne Regina Machado
Marcia de Almeida Gonccedilalves
Marcia Fernandes Rosa Neu
COORDENACcedilAtildeO DA PRODUCcedilAtildeO
Monica Ribeiro da Silva (coordenadora)
Ceacuteuli Mariano Jorge
Eloise Medice Colontonio
Giacutelian Cristina Barros
Giselle Correa
Leacuteia de Caacutessia Fernandes Hegeto
LEITORES CRIacuteTICOS
Joatildeo Batista Gonccedilalves Bueno
Junot Corneacutelio Matos
Leticia Carneiro Aguiar
Marcos Antonio Queiroz
Willian Simotildees
REVISAtildeO
Giselle Christina Correcirca
PROJETO GRAacuteFICO E EDITORACcedilAtildeO
Victor Augustus Graciotto Silva
Rafael Ferrer Kloss
CAPA
Yasmin Fabris
Rafael Ferrer Kloss
ARTE FINAL
Rafael Ferrer Kloss
SUMAacuteRIO
Introduccedilatildeo 7
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico 10
11 O problema das Ciecircncias Humanas 10
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo 11
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador 11
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria 12
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista 13
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista 14
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades 15
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas 21
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo 24
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas 27
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas 31
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas 40
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo 47
Referecircncias 49
5
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Introduccedilatildeo A minha escola natildeo tem personagem
A minha escola tem gente de verdade
Algueacutem falou do fim do mundo
O fim do mundo jaacute passou
Vamos comeccedilar de novo
Um por todos todos por um
Vamos fazer um filme Legiatildeo Urbana
Caros professores caras professoras vocecircs muito provavelmente conhecem os versos menciona-
dos O grupo Legiatildeo Urbana marcou sua eacutepoca e ateacute hoje eacute reverenciado por geraccedilotildees distintas os que
tinham seus vinte e poucos anos naquele momento os jovens de nossa atualidade e tantos outros A muacutesi-
ca como toda arte natildeo tem idade Remete contudo como toda criaccedilatildeo humana a um contexto particular
onde sujeitos singulares se expressam no registro de percepccedilotildees do mundo sentimentos ideias criacuteticas
duacutevidas incertezas projetos A deacutecada de 1990 para a sociedade brasileira correspondeu a um momento
de impasses e transformaccedilotildees das quais certamente ainda somos herdeiros Os rapazes do Legiatildeo Urbana
em alguma medida souberam disso Sugerimos a visita ao site do grupo para conhecer mais a sua histoacuteria
shows e produccedilatildeo musical disponiacutevel em httpwwwlegiaourbanacombr
E por que comeccedilar esse Caderno de estudo sobre a aacuterea das Ciecircncias Humanas e a formaccedilatildeo de
professores do Ensino Meacutedio com a menccedilatildeo a uma muacutesica do grupo Legiatildeo Urbana Entre as respostas
na verdade figuram perspectivas e algumas apostas
Comecemos pelas apostas desejar uma escola com ldquogente de verdaderdquo e talvez para dar partida
ldquocomeccedilar de novordquo com muito trabalho e cooperaccedilatildeo pela frente ndash ldquoum por todos todos por umrdquo Licenccedilas
poeacuteticas agrave parte cabe no entanto situar perspectivas sobre os objetivos e reflexotildees materializados nesse
Caderno
A escola brasileira de Educaccedilatildeo Baacutesica em especial na rede puacuteblica de ensino eacute palco de contra-
diccedilotildees sociais e poliacuteticas que nos afetam como comunidade local e nacional Entre o fim dos governos
militares e a democratizaccedilatildeo instaurada no decorrer dos anos 1980 e 1990 os debates acerca de problemas
crocircnicos tais como as desigualdades sociais e a exclusatildeo de diversos grupos do pleno exerciacutecio dos mais
diversos direitos incrementaram-se explicitando a maior publicizaccedilatildeo de demandas pautadas nos movi-
mentos populares A elaboraccedilatildeo da nova Constituiccedilatildeo Federal a Constituiccedilatildeo Cidadatilde em 1988 simboliza
parte dessas transformaccedilotildees
A promulgaccedilatildeo de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDB nordm 9394 de 20 de De-
zembro de 1996) representou uma das mudanccedilas fundamentais dos marcos legais reguladores das accedilotildees
no campo educacional A partir dela derivaram-se iniciativas e estrateacutegias de naturezas variadas Como lei
maior sobre a educaccedilatildeo brasileira baseada em princiacutepios que figuram na Constituiccedilatildeo Federal de 1988
6
Ciecircncias Humanas
vale ser lida e discutida por professores e estudantes Haacute uma versatildeo atualizada em 2013 nas publicaccedilotildees
da biblioteca digital da Cacircmara dos Deputados (httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara14676)
Destaca-se na atualidade o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) instituiacutedo pela Lei nordm 13005 de
25 de junho de 2014 e que deveraacute vigorar de 2014 a 2024 O PNE apresenta 20 metas seguidas das estra-
teacutegias especiacuteficas de concretizaccedilatildeo (BRASIL 2014)
No que se refere agraves proposiccedilotildees relativas ao curriacuteculo cabe mencionar o iniacutecio dos debates que
vieram a culminar na elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - DCNEM
(BRASIL 2012) e no acircmbito avaliativo a criaccedilatildeo do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM)
A partir de 2008 O ENEM ou Novo ENEM passou a ter outro formato assumindo o caraacuteter de
prova de ingresso nacional para o ensino superior substituindo em especial os exames de vestibular das
instituiccedilotildees federais norteando muitas propostas curriculares para o Ensino Meacutedio No ano de sua cria-
ccedilatildeo em 1998 possuiacutea caraacuteter diagnoacutestico visando elaborar amostragens sobre o desempenho escolar de
estudantes do Ensino Meacutedio
A menccedilatildeo agraves DCNEM e ao ENEM nos interessa considerando-se que houve a partir de ambos a
configuraccedilatildeo da aacuterea das Ciecircncias Humanas como dimensatildeo norteadora de accedilotildees curriculares para o En-
sino Meacutedio fomentando abordagens que buscaram ampliar diaacutelogos entre seus componentes por meio de
praacuteticas pedagoacutegicas e premissas avaliativas focadas na interdisciplinaridade e na integraccedilatildeo curricular
A aacuterea das Ciecircncias Humanas circunscrita inicialmente agrave Histoacuteria e agrave Geografia para o caso do Ensino
Meacutedio veio a ser significativamente alterada pela inclusatildeo da obrigatoriedade de oferta de dois novos
componentes a Sociologia e a Filosofia - Lei Nordm 11684 de 2 de junho de 2008 (BRASIL 2008) Essa lei
altera o art 36 da LDB nordm 9394 para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatoacuterias nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio
Essa raacutepida contextualizaccedilatildeo nos possibilita compreender certas condiccedilotildees histoacutericas nas quais fo-
ram gestadas as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica e em particular as DC-
NEM Como enfatizado em momentos anteriores desse curso reiteramos a importacircncia de tal qual a LDB
vigente conhecer e discutir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Recomendamos
a ediccedilatildeo compilada de todas as diretrizes publicada em 2013 e disponibilizada no portal do MEC httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=12663ampItemid=1152
Tais diretrizes jaacute abordadas nos Cadernos da Etapa I desse curso de formaccedilatildeo para professores cons-
tituem-se igualmente base norteadora das propostas de reflexatildeo e de accedilatildeo dessa Etapa II focada nas aacutereas
de conhecimento e nas modalidades de ensino
Por outro lado o cuidado em contextualizar toda e quaisquer informaccedilotildees e experiecircncias mesmo
natildeo sendo exclusivo das Ciecircncias Humanas eacute fortemente uma das marcas identitaacuterias desse campo do co-
nhecimento Cuidado esse caros professores e professoras que vocecircs provavelmente exercitam em suas
praacuteticas docentes no cotidiano da escola
Conhecer as DCNEM eacute um ponto de partida e nessa qualidade se institui na dependecircncia direta da
efetivaccedilatildeo de accedilotildees curriculares dispostas a lidar democraticamente com uma escola que possua ldquogente
de verdaderdquo Em outras palavras sujeitos ndash professores estudantes funcionaacuterios gestores ndash nas suas
7
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
circunstacircncias de vida as mais diversas com suas vivecircncias e expectativas singulares e como sabemos
para o caso das redes puacuteblicas de ensino da sociedade brasileira inseridos em realidades adversas e com-
plexas limitadoras daquilo que pode ser denominado de formaccedilatildeo humana integral
De acordo com as DCNEM formaccedilatildeo humana integral se associa a uma concepccedilatildeo pedagoacutegica
valorizadora de accedilotildees que busquem articular as vivecircncias e experiecircncias dos estudantes seus saberes e ex-
pectativas ao aprendizado de conhecimentos significativos e integrados das diversas aacutereas e disciplinas
tendo em vista a configuraccedilatildeo de atitudes viabilizadoras do exerciacutecio democraacutetico da cidadania do de-
senvolvimento de posturas eacuteticas quanto agrave diversidade cultural e agraves questotildees ambientais da compreensatildeo
criacutetica do mundo e da universalizaccedilatildeo de direitos sociais
Como foi pontuado em outros momentos desse curso a efetivaccedilatildeo dessa formaccedilatildeo humana integral
natildeo eacute tarefa faacutecil Tomaacute-la como desafio pode circunscrever significados sem contudo simplificaacute-los ou
garantir seu sucesso Imaginemos a praacutetica do canto coral Quem jaacute o realiza pelos motivos mais variados
ou no caso dos professores de muacutesica sabem que para que o efeito final fique belo com ritmo e harmonia
a sensibilizar ouvintes e cativar novos participantes haacute que se planejar dividir tarefas e funccedilotildees ensaiar
(muito) partilhar dificuldades e se auxiliar mutuamente Se quisermos instituir o canto coral como
metaacutefora para nossas propostas curriculares o trabalho conjunto planejado e cooperativo a par de conhe-
cimentos e estudos que o estruturem figura como estrateacutegia fundadora
Antecipamos que a questatildeo contemporacircnea dos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-
mano conforme apontado no Plano Nacional de Educaccedilatildeo foco da base nacional comum para o curriacuteculo
orientada pelas DCNEM se justifica tambeacutem como poliacutetica de universalizaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo
Depreende-se entatildeo o quanto os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas podem
e devem contribuir para esse processo qualificado de universalizaccedilatildeo do ensino e esse eacute o principal ob-
jetivo e em paralelo compromisso eacutetico das discussotildees reflexotildees e propostas que se apresentam nas
unidades desse Caderno
Na unidade um objetiva-se discutir um pouco da histoacuteria do que veio a ser denominado de Humani-
dades e de Ciecircncias Humanas problematizando aspectos estruturais e conjunturais que interferem na ela-
boraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas interdisciplinares Na unidade dois satildeo apresentadas indagaccedilotildees sobre
os jovens estudantes do Ensino Meacutedio buscando indicar accedilotildees curriculares baseadas no conhecimento e
valorizaccedilatildeo de suas experiecircncias saberes e expectativas Na unidade trecircs o eixo trabalho cultura tecno-
logia e ciecircncia eacute analisado agrave luz das contribuiccedilotildees especiacuteficas dos componentes curriculares das Ciecircncias
Humanas Na unidade quatro satildeo propostas algumas reflexotildees e sugestotildees de abordagens pedagoacutegicas
interdisciplinares nas Ciecircncias Humanas no Ensino Meacutedio
Desejamos um bom trabalho a todos e a todas
8
Ciecircncias Humanas
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico
Cara professora caro professor todo conhecimento na qualidade de praacutetica cultural possui condi-
ccedilotildees histoacutericas para sua emergecircncia e caracterizaccedilatildeo Como obra humana os conhecimentos satildeo instituiacute-
dos por sujeitos especiacuteficos em tempos e espaccedilos variados em funccedilatildeo de diversos interesses possibilida-
des e necessidades sociais e poliacuteticas Natildeo poderia ser diferente para a aacuterea que se convencionou chamar
de Ciecircncias Humanas Como nome e como conceito as Ciecircncias Humanas possuem histoacuteria e a tentativa
de abordaacute-la eacute por si soacute tema para investigaccedilatildeo Longe de esgotar essa temaacutetica achamos importante si-
tuaacute-la como convite para reflexatildeo sob a chave de discutir alguns aspectos de seu processo de constituiccedilatildeo
e de significaccedilatildeo
11 O problema das Ciecircncias Humanas
Atualmente no contexto das escolas brasileiras e de acordo com as DCNEM entende-se por Ciecircn-
cias Humanas a aacuterea do conhecimento na qual estatildeo incluiacutedas a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a
Sociologia Cada um desses componentes curriculares eacute derivado de conhecimentos cientiacuteficos e discipli-
nares os quais em funccedilatildeo de suas tradiccedilotildees e procedimentos instituiacutedos possuem atualmente estatutos
epistemoloacutegicos proacuteprios Estes satildeo o resultado mais visiacutevel do processo de especializaccedilatildeo que atingiu
praticamente todos os campos do conhecimento desde pelo menos o final do seacuteculo XVII e iniacutecio do
seacuteculo XVIII nas sociedades do ocidente europeu Ocorre que antes da generalizaccedilatildeo desse processo de
especializaccedilatildeo havia um certo domiacutenio de conhecimentos cuja heranccedila de uma forma ou de outra foi
reivindicada por cada nova disciplina cientiacutefica surgida desde entatildeo Esse domiacutenio comum chamou-se
Humanidades
As Humanidades talvez sejam a forma mais acessiacutevel de imaginar uma unidade possiacutevel entre os
quatro componentes das Ciecircncias Humanas no curriacuteculo do Ensino Meacutedio Dialogamos nessa proposta
com as observaccedilotildees da professora Marjorie Garber (2001) Para ela
Se as humanidades tecircm um futuro [] seraacute um futuro que envolve retornar ao passado e habitar esse momento interdisciplinar preacute-disciplinaacuterio Natildeo para se afastar da histoacuteria do contexto e da cultura mas para ao contraacuterio disso fazer justamente o opos-to concluir que Freud estava mais certo do que ele proacuteprio poderia supor quando ima-ginou a mente humana como sendo uma cidade tal como Roma camada sobre camada natildeo substituindo umas agraves outras mas coabitando com o passado[] Neste momento enquanto estudiosos nossa tarefa eacute reimaginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-las (GARBER 2001 p 95-96)
De acordo com essas consideraccedilotildees as Humanidades permitem entre outros desdobramentos
construir praacuteticas pedagoacutegicas de natureza interdisciplinar para as Ciecircncias Humanas Para avaliar a viabi-
lidade disso seraacute preciso percorrer algumas das ldquocamadasrdquo historicamente sobrepostas das quais emergem
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO
SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA (SEB)
MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA Esplanada dos Ministeacuterios Bloco L Sala 500 CEP 70047-900 Tel (61)20228318 - 20228320
Brasil Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Formaccedilatildeo de professores do ensino meacutedio etapa II - caderno II Ciecircncias Humanas Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [autores Alexandro Dantas Trindade et al] ndash Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2014 53p ISBN Inclui referecircncias Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio 1 Ensino meacutedio 2 Professores - Formaccedilatildeo 3 Ciecircncia e humanidades 4 Praacutetica de ensino I Trindade Alexandro Dantas II Universidade Federal do Paranaacute Setor de Educaccedilatildeo III Ciecircncias Humanas IV Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio V Tiacutetulo CDD 37319
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacuteSISTEMA DE BIBLIOTECAS ndash BIBLIOTECA CENTRAL
COORDENACcedilAtildeO DE PROCESSOS TEacuteCNICOS
Andrea Carolina Grohs CRB 91384
CIEcircNCIAS HUMANASEtapa II ndash Caderno II
AUTORES
Alexandro Dantas Trindade
Arnaldo Pinto Junior
Claudia da Silva Kryszczun
Eduardo Salles de Oliveira Barra
Marivocircne Regina Machado
Marcia de Almeida Gonccedilalves
Marcia Fernandes Rosa Neu
COORDENACcedilAtildeO DA PRODUCcedilAtildeO
Monica Ribeiro da Silva (coordenadora)
Ceacuteuli Mariano Jorge
Eloise Medice Colontonio
Giacutelian Cristina Barros
Giselle Correa
Leacuteia de Caacutessia Fernandes Hegeto
LEITORES CRIacuteTICOS
Joatildeo Batista Gonccedilalves Bueno
Junot Corneacutelio Matos
Leticia Carneiro Aguiar
Marcos Antonio Queiroz
Willian Simotildees
REVISAtildeO
Giselle Christina Correcirca
PROJETO GRAacuteFICO E EDITORACcedilAtildeO
Victor Augustus Graciotto Silva
Rafael Ferrer Kloss
CAPA
Yasmin Fabris
Rafael Ferrer Kloss
ARTE FINAL
Rafael Ferrer Kloss
SUMAacuteRIO
Introduccedilatildeo 7
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico 10
11 O problema das Ciecircncias Humanas 10
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo 11
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador 11
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria 12
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista 13
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista 14
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades 15
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas 21
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo 24
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas 27
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas 31
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas 40
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo 47
Referecircncias 49
5
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Introduccedilatildeo A minha escola natildeo tem personagem
A minha escola tem gente de verdade
Algueacutem falou do fim do mundo
O fim do mundo jaacute passou
Vamos comeccedilar de novo
Um por todos todos por um
Vamos fazer um filme Legiatildeo Urbana
Caros professores caras professoras vocecircs muito provavelmente conhecem os versos menciona-
dos O grupo Legiatildeo Urbana marcou sua eacutepoca e ateacute hoje eacute reverenciado por geraccedilotildees distintas os que
tinham seus vinte e poucos anos naquele momento os jovens de nossa atualidade e tantos outros A muacutesi-
ca como toda arte natildeo tem idade Remete contudo como toda criaccedilatildeo humana a um contexto particular
onde sujeitos singulares se expressam no registro de percepccedilotildees do mundo sentimentos ideias criacuteticas
duacutevidas incertezas projetos A deacutecada de 1990 para a sociedade brasileira correspondeu a um momento
de impasses e transformaccedilotildees das quais certamente ainda somos herdeiros Os rapazes do Legiatildeo Urbana
em alguma medida souberam disso Sugerimos a visita ao site do grupo para conhecer mais a sua histoacuteria
shows e produccedilatildeo musical disponiacutevel em httpwwwlegiaourbanacombr
E por que comeccedilar esse Caderno de estudo sobre a aacuterea das Ciecircncias Humanas e a formaccedilatildeo de
professores do Ensino Meacutedio com a menccedilatildeo a uma muacutesica do grupo Legiatildeo Urbana Entre as respostas
na verdade figuram perspectivas e algumas apostas
Comecemos pelas apostas desejar uma escola com ldquogente de verdaderdquo e talvez para dar partida
ldquocomeccedilar de novordquo com muito trabalho e cooperaccedilatildeo pela frente ndash ldquoum por todos todos por umrdquo Licenccedilas
poeacuteticas agrave parte cabe no entanto situar perspectivas sobre os objetivos e reflexotildees materializados nesse
Caderno
A escola brasileira de Educaccedilatildeo Baacutesica em especial na rede puacuteblica de ensino eacute palco de contra-
diccedilotildees sociais e poliacuteticas que nos afetam como comunidade local e nacional Entre o fim dos governos
militares e a democratizaccedilatildeo instaurada no decorrer dos anos 1980 e 1990 os debates acerca de problemas
crocircnicos tais como as desigualdades sociais e a exclusatildeo de diversos grupos do pleno exerciacutecio dos mais
diversos direitos incrementaram-se explicitando a maior publicizaccedilatildeo de demandas pautadas nos movi-
mentos populares A elaboraccedilatildeo da nova Constituiccedilatildeo Federal a Constituiccedilatildeo Cidadatilde em 1988 simboliza
parte dessas transformaccedilotildees
A promulgaccedilatildeo de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDB nordm 9394 de 20 de De-
zembro de 1996) representou uma das mudanccedilas fundamentais dos marcos legais reguladores das accedilotildees
no campo educacional A partir dela derivaram-se iniciativas e estrateacutegias de naturezas variadas Como lei
maior sobre a educaccedilatildeo brasileira baseada em princiacutepios que figuram na Constituiccedilatildeo Federal de 1988
6
Ciecircncias Humanas
vale ser lida e discutida por professores e estudantes Haacute uma versatildeo atualizada em 2013 nas publicaccedilotildees
da biblioteca digital da Cacircmara dos Deputados (httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara14676)
Destaca-se na atualidade o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) instituiacutedo pela Lei nordm 13005 de
25 de junho de 2014 e que deveraacute vigorar de 2014 a 2024 O PNE apresenta 20 metas seguidas das estra-
teacutegias especiacuteficas de concretizaccedilatildeo (BRASIL 2014)
No que se refere agraves proposiccedilotildees relativas ao curriacuteculo cabe mencionar o iniacutecio dos debates que
vieram a culminar na elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - DCNEM
(BRASIL 2012) e no acircmbito avaliativo a criaccedilatildeo do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM)
A partir de 2008 O ENEM ou Novo ENEM passou a ter outro formato assumindo o caraacuteter de
prova de ingresso nacional para o ensino superior substituindo em especial os exames de vestibular das
instituiccedilotildees federais norteando muitas propostas curriculares para o Ensino Meacutedio No ano de sua cria-
ccedilatildeo em 1998 possuiacutea caraacuteter diagnoacutestico visando elaborar amostragens sobre o desempenho escolar de
estudantes do Ensino Meacutedio
A menccedilatildeo agraves DCNEM e ao ENEM nos interessa considerando-se que houve a partir de ambos a
configuraccedilatildeo da aacuterea das Ciecircncias Humanas como dimensatildeo norteadora de accedilotildees curriculares para o En-
sino Meacutedio fomentando abordagens que buscaram ampliar diaacutelogos entre seus componentes por meio de
praacuteticas pedagoacutegicas e premissas avaliativas focadas na interdisciplinaridade e na integraccedilatildeo curricular
A aacuterea das Ciecircncias Humanas circunscrita inicialmente agrave Histoacuteria e agrave Geografia para o caso do Ensino
Meacutedio veio a ser significativamente alterada pela inclusatildeo da obrigatoriedade de oferta de dois novos
componentes a Sociologia e a Filosofia - Lei Nordm 11684 de 2 de junho de 2008 (BRASIL 2008) Essa lei
altera o art 36 da LDB nordm 9394 para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatoacuterias nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio
Essa raacutepida contextualizaccedilatildeo nos possibilita compreender certas condiccedilotildees histoacutericas nas quais fo-
ram gestadas as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica e em particular as DC-
NEM Como enfatizado em momentos anteriores desse curso reiteramos a importacircncia de tal qual a LDB
vigente conhecer e discutir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Recomendamos
a ediccedilatildeo compilada de todas as diretrizes publicada em 2013 e disponibilizada no portal do MEC httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=12663ampItemid=1152
Tais diretrizes jaacute abordadas nos Cadernos da Etapa I desse curso de formaccedilatildeo para professores cons-
tituem-se igualmente base norteadora das propostas de reflexatildeo e de accedilatildeo dessa Etapa II focada nas aacutereas
de conhecimento e nas modalidades de ensino
Por outro lado o cuidado em contextualizar toda e quaisquer informaccedilotildees e experiecircncias mesmo
natildeo sendo exclusivo das Ciecircncias Humanas eacute fortemente uma das marcas identitaacuterias desse campo do co-
nhecimento Cuidado esse caros professores e professoras que vocecircs provavelmente exercitam em suas
praacuteticas docentes no cotidiano da escola
Conhecer as DCNEM eacute um ponto de partida e nessa qualidade se institui na dependecircncia direta da
efetivaccedilatildeo de accedilotildees curriculares dispostas a lidar democraticamente com uma escola que possua ldquogente
de verdaderdquo Em outras palavras sujeitos ndash professores estudantes funcionaacuterios gestores ndash nas suas
7
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
circunstacircncias de vida as mais diversas com suas vivecircncias e expectativas singulares e como sabemos
para o caso das redes puacuteblicas de ensino da sociedade brasileira inseridos em realidades adversas e com-
plexas limitadoras daquilo que pode ser denominado de formaccedilatildeo humana integral
De acordo com as DCNEM formaccedilatildeo humana integral se associa a uma concepccedilatildeo pedagoacutegica
valorizadora de accedilotildees que busquem articular as vivecircncias e experiecircncias dos estudantes seus saberes e ex-
pectativas ao aprendizado de conhecimentos significativos e integrados das diversas aacutereas e disciplinas
tendo em vista a configuraccedilatildeo de atitudes viabilizadoras do exerciacutecio democraacutetico da cidadania do de-
senvolvimento de posturas eacuteticas quanto agrave diversidade cultural e agraves questotildees ambientais da compreensatildeo
criacutetica do mundo e da universalizaccedilatildeo de direitos sociais
Como foi pontuado em outros momentos desse curso a efetivaccedilatildeo dessa formaccedilatildeo humana integral
natildeo eacute tarefa faacutecil Tomaacute-la como desafio pode circunscrever significados sem contudo simplificaacute-los ou
garantir seu sucesso Imaginemos a praacutetica do canto coral Quem jaacute o realiza pelos motivos mais variados
ou no caso dos professores de muacutesica sabem que para que o efeito final fique belo com ritmo e harmonia
a sensibilizar ouvintes e cativar novos participantes haacute que se planejar dividir tarefas e funccedilotildees ensaiar
(muito) partilhar dificuldades e se auxiliar mutuamente Se quisermos instituir o canto coral como
metaacutefora para nossas propostas curriculares o trabalho conjunto planejado e cooperativo a par de conhe-
cimentos e estudos que o estruturem figura como estrateacutegia fundadora
Antecipamos que a questatildeo contemporacircnea dos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-
mano conforme apontado no Plano Nacional de Educaccedilatildeo foco da base nacional comum para o curriacuteculo
orientada pelas DCNEM se justifica tambeacutem como poliacutetica de universalizaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo
Depreende-se entatildeo o quanto os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas podem
e devem contribuir para esse processo qualificado de universalizaccedilatildeo do ensino e esse eacute o principal ob-
jetivo e em paralelo compromisso eacutetico das discussotildees reflexotildees e propostas que se apresentam nas
unidades desse Caderno
Na unidade um objetiva-se discutir um pouco da histoacuteria do que veio a ser denominado de Humani-
dades e de Ciecircncias Humanas problematizando aspectos estruturais e conjunturais que interferem na ela-
boraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas interdisciplinares Na unidade dois satildeo apresentadas indagaccedilotildees sobre
os jovens estudantes do Ensino Meacutedio buscando indicar accedilotildees curriculares baseadas no conhecimento e
valorizaccedilatildeo de suas experiecircncias saberes e expectativas Na unidade trecircs o eixo trabalho cultura tecno-
logia e ciecircncia eacute analisado agrave luz das contribuiccedilotildees especiacuteficas dos componentes curriculares das Ciecircncias
Humanas Na unidade quatro satildeo propostas algumas reflexotildees e sugestotildees de abordagens pedagoacutegicas
interdisciplinares nas Ciecircncias Humanas no Ensino Meacutedio
Desejamos um bom trabalho a todos e a todas
8
Ciecircncias Humanas
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico
Cara professora caro professor todo conhecimento na qualidade de praacutetica cultural possui condi-
ccedilotildees histoacutericas para sua emergecircncia e caracterizaccedilatildeo Como obra humana os conhecimentos satildeo instituiacute-
dos por sujeitos especiacuteficos em tempos e espaccedilos variados em funccedilatildeo de diversos interesses possibilida-
des e necessidades sociais e poliacuteticas Natildeo poderia ser diferente para a aacuterea que se convencionou chamar
de Ciecircncias Humanas Como nome e como conceito as Ciecircncias Humanas possuem histoacuteria e a tentativa
de abordaacute-la eacute por si soacute tema para investigaccedilatildeo Longe de esgotar essa temaacutetica achamos importante si-
tuaacute-la como convite para reflexatildeo sob a chave de discutir alguns aspectos de seu processo de constituiccedilatildeo
e de significaccedilatildeo
11 O problema das Ciecircncias Humanas
Atualmente no contexto das escolas brasileiras e de acordo com as DCNEM entende-se por Ciecircn-
cias Humanas a aacuterea do conhecimento na qual estatildeo incluiacutedas a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a
Sociologia Cada um desses componentes curriculares eacute derivado de conhecimentos cientiacuteficos e discipli-
nares os quais em funccedilatildeo de suas tradiccedilotildees e procedimentos instituiacutedos possuem atualmente estatutos
epistemoloacutegicos proacuteprios Estes satildeo o resultado mais visiacutevel do processo de especializaccedilatildeo que atingiu
praticamente todos os campos do conhecimento desde pelo menos o final do seacuteculo XVII e iniacutecio do
seacuteculo XVIII nas sociedades do ocidente europeu Ocorre que antes da generalizaccedilatildeo desse processo de
especializaccedilatildeo havia um certo domiacutenio de conhecimentos cuja heranccedila de uma forma ou de outra foi
reivindicada por cada nova disciplina cientiacutefica surgida desde entatildeo Esse domiacutenio comum chamou-se
Humanidades
As Humanidades talvez sejam a forma mais acessiacutevel de imaginar uma unidade possiacutevel entre os
quatro componentes das Ciecircncias Humanas no curriacuteculo do Ensino Meacutedio Dialogamos nessa proposta
com as observaccedilotildees da professora Marjorie Garber (2001) Para ela
Se as humanidades tecircm um futuro [] seraacute um futuro que envolve retornar ao passado e habitar esse momento interdisciplinar preacute-disciplinaacuterio Natildeo para se afastar da histoacuteria do contexto e da cultura mas para ao contraacuterio disso fazer justamente o opos-to concluir que Freud estava mais certo do que ele proacuteprio poderia supor quando ima-ginou a mente humana como sendo uma cidade tal como Roma camada sobre camada natildeo substituindo umas agraves outras mas coabitando com o passado[] Neste momento enquanto estudiosos nossa tarefa eacute reimaginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-las (GARBER 2001 p 95-96)
De acordo com essas consideraccedilotildees as Humanidades permitem entre outros desdobramentos
construir praacuteticas pedagoacutegicas de natureza interdisciplinar para as Ciecircncias Humanas Para avaliar a viabi-
lidade disso seraacute preciso percorrer algumas das ldquocamadasrdquo historicamente sobrepostas das quais emergem
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
CIEcircNCIAS HUMANASEtapa II ndash Caderno II
AUTORES
Alexandro Dantas Trindade
Arnaldo Pinto Junior
Claudia da Silva Kryszczun
Eduardo Salles de Oliveira Barra
Marivocircne Regina Machado
Marcia de Almeida Gonccedilalves
Marcia Fernandes Rosa Neu
COORDENACcedilAtildeO DA PRODUCcedilAtildeO
Monica Ribeiro da Silva (coordenadora)
Ceacuteuli Mariano Jorge
Eloise Medice Colontonio
Giacutelian Cristina Barros
Giselle Correa
Leacuteia de Caacutessia Fernandes Hegeto
LEITORES CRIacuteTICOS
Joatildeo Batista Gonccedilalves Bueno
Junot Corneacutelio Matos
Leticia Carneiro Aguiar
Marcos Antonio Queiroz
Willian Simotildees
REVISAtildeO
Giselle Christina Correcirca
PROJETO GRAacuteFICO E EDITORACcedilAtildeO
Victor Augustus Graciotto Silva
Rafael Ferrer Kloss
CAPA
Yasmin Fabris
Rafael Ferrer Kloss
ARTE FINAL
Rafael Ferrer Kloss
SUMAacuteRIO
Introduccedilatildeo 7
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico 10
11 O problema das Ciecircncias Humanas 10
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo 11
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador 11
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria 12
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista 13
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista 14
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades 15
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas 21
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo 24
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas 27
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas 31
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas 40
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo 47
Referecircncias 49
5
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Introduccedilatildeo A minha escola natildeo tem personagem
A minha escola tem gente de verdade
Algueacutem falou do fim do mundo
O fim do mundo jaacute passou
Vamos comeccedilar de novo
Um por todos todos por um
Vamos fazer um filme Legiatildeo Urbana
Caros professores caras professoras vocecircs muito provavelmente conhecem os versos menciona-
dos O grupo Legiatildeo Urbana marcou sua eacutepoca e ateacute hoje eacute reverenciado por geraccedilotildees distintas os que
tinham seus vinte e poucos anos naquele momento os jovens de nossa atualidade e tantos outros A muacutesi-
ca como toda arte natildeo tem idade Remete contudo como toda criaccedilatildeo humana a um contexto particular
onde sujeitos singulares se expressam no registro de percepccedilotildees do mundo sentimentos ideias criacuteticas
duacutevidas incertezas projetos A deacutecada de 1990 para a sociedade brasileira correspondeu a um momento
de impasses e transformaccedilotildees das quais certamente ainda somos herdeiros Os rapazes do Legiatildeo Urbana
em alguma medida souberam disso Sugerimos a visita ao site do grupo para conhecer mais a sua histoacuteria
shows e produccedilatildeo musical disponiacutevel em httpwwwlegiaourbanacombr
E por que comeccedilar esse Caderno de estudo sobre a aacuterea das Ciecircncias Humanas e a formaccedilatildeo de
professores do Ensino Meacutedio com a menccedilatildeo a uma muacutesica do grupo Legiatildeo Urbana Entre as respostas
na verdade figuram perspectivas e algumas apostas
Comecemos pelas apostas desejar uma escola com ldquogente de verdaderdquo e talvez para dar partida
ldquocomeccedilar de novordquo com muito trabalho e cooperaccedilatildeo pela frente ndash ldquoum por todos todos por umrdquo Licenccedilas
poeacuteticas agrave parte cabe no entanto situar perspectivas sobre os objetivos e reflexotildees materializados nesse
Caderno
A escola brasileira de Educaccedilatildeo Baacutesica em especial na rede puacuteblica de ensino eacute palco de contra-
diccedilotildees sociais e poliacuteticas que nos afetam como comunidade local e nacional Entre o fim dos governos
militares e a democratizaccedilatildeo instaurada no decorrer dos anos 1980 e 1990 os debates acerca de problemas
crocircnicos tais como as desigualdades sociais e a exclusatildeo de diversos grupos do pleno exerciacutecio dos mais
diversos direitos incrementaram-se explicitando a maior publicizaccedilatildeo de demandas pautadas nos movi-
mentos populares A elaboraccedilatildeo da nova Constituiccedilatildeo Federal a Constituiccedilatildeo Cidadatilde em 1988 simboliza
parte dessas transformaccedilotildees
A promulgaccedilatildeo de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDB nordm 9394 de 20 de De-
zembro de 1996) representou uma das mudanccedilas fundamentais dos marcos legais reguladores das accedilotildees
no campo educacional A partir dela derivaram-se iniciativas e estrateacutegias de naturezas variadas Como lei
maior sobre a educaccedilatildeo brasileira baseada em princiacutepios que figuram na Constituiccedilatildeo Federal de 1988
6
Ciecircncias Humanas
vale ser lida e discutida por professores e estudantes Haacute uma versatildeo atualizada em 2013 nas publicaccedilotildees
da biblioteca digital da Cacircmara dos Deputados (httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara14676)
Destaca-se na atualidade o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) instituiacutedo pela Lei nordm 13005 de
25 de junho de 2014 e que deveraacute vigorar de 2014 a 2024 O PNE apresenta 20 metas seguidas das estra-
teacutegias especiacuteficas de concretizaccedilatildeo (BRASIL 2014)
No que se refere agraves proposiccedilotildees relativas ao curriacuteculo cabe mencionar o iniacutecio dos debates que
vieram a culminar na elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - DCNEM
(BRASIL 2012) e no acircmbito avaliativo a criaccedilatildeo do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM)
A partir de 2008 O ENEM ou Novo ENEM passou a ter outro formato assumindo o caraacuteter de
prova de ingresso nacional para o ensino superior substituindo em especial os exames de vestibular das
instituiccedilotildees federais norteando muitas propostas curriculares para o Ensino Meacutedio No ano de sua cria-
ccedilatildeo em 1998 possuiacutea caraacuteter diagnoacutestico visando elaborar amostragens sobre o desempenho escolar de
estudantes do Ensino Meacutedio
A menccedilatildeo agraves DCNEM e ao ENEM nos interessa considerando-se que houve a partir de ambos a
configuraccedilatildeo da aacuterea das Ciecircncias Humanas como dimensatildeo norteadora de accedilotildees curriculares para o En-
sino Meacutedio fomentando abordagens que buscaram ampliar diaacutelogos entre seus componentes por meio de
praacuteticas pedagoacutegicas e premissas avaliativas focadas na interdisciplinaridade e na integraccedilatildeo curricular
A aacuterea das Ciecircncias Humanas circunscrita inicialmente agrave Histoacuteria e agrave Geografia para o caso do Ensino
Meacutedio veio a ser significativamente alterada pela inclusatildeo da obrigatoriedade de oferta de dois novos
componentes a Sociologia e a Filosofia - Lei Nordm 11684 de 2 de junho de 2008 (BRASIL 2008) Essa lei
altera o art 36 da LDB nordm 9394 para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatoacuterias nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio
Essa raacutepida contextualizaccedilatildeo nos possibilita compreender certas condiccedilotildees histoacutericas nas quais fo-
ram gestadas as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica e em particular as DC-
NEM Como enfatizado em momentos anteriores desse curso reiteramos a importacircncia de tal qual a LDB
vigente conhecer e discutir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Recomendamos
a ediccedilatildeo compilada de todas as diretrizes publicada em 2013 e disponibilizada no portal do MEC httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=12663ampItemid=1152
Tais diretrizes jaacute abordadas nos Cadernos da Etapa I desse curso de formaccedilatildeo para professores cons-
tituem-se igualmente base norteadora das propostas de reflexatildeo e de accedilatildeo dessa Etapa II focada nas aacutereas
de conhecimento e nas modalidades de ensino
Por outro lado o cuidado em contextualizar toda e quaisquer informaccedilotildees e experiecircncias mesmo
natildeo sendo exclusivo das Ciecircncias Humanas eacute fortemente uma das marcas identitaacuterias desse campo do co-
nhecimento Cuidado esse caros professores e professoras que vocecircs provavelmente exercitam em suas
praacuteticas docentes no cotidiano da escola
Conhecer as DCNEM eacute um ponto de partida e nessa qualidade se institui na dependecircncia direta da
efetivaccedilatildeo de accedilotildees curriculares dispostas a lidar democraticamente com uma escola que possua ldquogente
de verdaderdquo Em outras palavras sujeitos ndash professores estudantes funcionaacuterios gestores ndash nas suas
7
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
circunstacircncias de vida as mais diversas com suas vivecircncias e expectativas singulares e como sabemos
para o caso das redes puacuteblicas de ensino da sociedade brasileira inseridos em realidades adversas e com-
plexas limitadoras daquilo que pode ser denominado de formaccedilatildeo humana integral
De acordo com as DCNEM formaccedilatildeo humana integral se associa a uma concepccedilatildeo pedagoacutegica
valorizadora de accedilotildees que busquem articular as vivecircncias e experiecircncias dos estudantes seus saberes e ex-
pectativas ao aprendizado de conhecimentos significativos e integrados das diversas aacutereas e disciplinas
tendo em vista a configuraccedilatildeo de atitudes viabilizadoras do exerciacutecio democraacutetico da cidadania do de-
senvolvimento de posturas eacuteticas quanto agrave diversidade cultural e agraves questotildees ambientais da compreensatildeo
criacutetica do mundo e da universalizaccedilatildeo de direitos sociais
Como foi pontuado em outros momentos desse curso a efetivaccedilatildeo dessa formaccedilatildeo humana integral
natildeo eacute tarefa faacutecil Tomaacute-la como desafio pode circunscrever significados sem contudo simplificaacute-los ou
garantir seu sucesso Imaginemos a praacutetica do canto coral Quem jaacute o realiza pelos motivos mais variados
ou no caso dos professores de muacutesica sabem que para que o efeito final fique belo com ritmo e harmonia
a sensibilizar ouvintes e cativar novos participantes haacute que se planejar dividir tarefas e funccedilotildees ensaiar
(muito) partilhar dificuldades e se auxiliar mutuamente Se quisermos instituir o canto coral como
metaacutefora para nossas propostas curriculares o trabalho conjunto planejado e cooperativo a par de conhe-
cimentos e estudos que o estruturem figura como estrateacutegia fundadora
Antecipamos que a questatildeo contemporacircnea dos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-
mano conforme apontado no Plano Nacional de Educaccedilatildeo foco da base nacional comum para o curriacuteculo
orientada pelas DCNEM se justifica tambeacutem como poliacutetica de universalizaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo
Depreende-se entatildeo o quanto os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas podem
e devem contribuir para esse processo qualificado de universalizaccedilatildeo do ensino e esse eacute o principal ob-
jetivo e em paralelo compromisso eacutetico das discussotildees reflexotildees e propostas que se apresentam nas
unidades desse Caderno
Na unidade um objetiva-se discutir um pouco da histoacuteria do que veio a ser denominado de Humani-
dades e de Ciecircncias Humanas problematizando aspectos estruturais e conjunturais que interferem na ela-
boraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas interdisciplinares Na unidade dois satildeo apresentadas indagaccedilotildees sobre
os jovens estudantes do Ensino Meacutedio buscando indicar accedilotildees curriculares baseadas no conhecimento e
valorizaccedilatildeo de suas experiecircncias saberes e expectativas Na unidade trecircs o eixo trabalho cultura tecno-
logia e ciecircncia eacute analisado agrave luz das contribuiccedilotildees especiacuteficas dos componentes curriculares das Ciecircncias
Humanas Na unidade quatro satildeo propostas algumas reflexotildees e sugestotildees de abordagens pedagoacutegicas
interdisciplinares nas Ciecircncias Humanas no Ensino Meacutedio
Desejamos um bom trabalho a todos e a todas
8
Ciecircncias Humanas
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico
Cara professora caro professor todo conhecimento na qualidade de praacutetica cultural possui condi-
ccedilotildees histoacutericas para sua emergecircncia e caracterizaccedilatildeo Como obra humana os conhecimentos satildeo instituiacute-
dos por sujeitos especiacuteficos em tempos e espaccedilos variados em funccedilatildeo de diversos interesses possibilida-
des e necessidades sociais e poliacuteticas Natildeo poderia ser diferente para a aacuterea que se convencionou chamar
de Ciecircncias Humanas Como nome e como conceito as Ciecircncias Humanas possuem histoacuteria e a tentativa
de abordaacute-la eacute por si soacute tema para investigaccedilatildeo Longe de esgotar essa temaacutetica achamos importante si-
tuaacute-la como convite para reflexatildeo sob a chave de discutir alguns aspectos de seu processo de constituiccedilatildeo
e de significaccedilatildeo
11 O problema das Ciecircncias Humanas
Atualmente no contexto das escolas brasileiras e de acordo com as DCNEM entende-se por Ciecircn-
cias Humanas a aacuterea do conhecimento na qual estatildeo incluiacutedas a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a
Sociologia Cada um desses componentes curriculares eacute derivado de conhecimentos cientiacuteficos e discipli-
nares os quais em funccedilatildeo de suas tradiccedilotildees e procedimentos instituiacutedos possuem atualmente estatutos
epistemoloacutegicos proacuteprios Estes satildeo o resultado mais visiacutevel do processo de especializaccedilatildeo que atingiu
praticamente todos os campos do conhecimento desde pelo menos o final do seacuteculo XVII e iniacutecio do
seacuteculo XVIII nas sociedades do ocidente europeu Ocorre que antes da generalizaccedilatildeo desse processo de
especializaccedilatildeo havia um certo domiacutenio de conhecimentos cuja heranccedila de uma forma ou de outra foi
reivindicada por cada nova disciplina cientiacutefica surgida desde entatildeo Esse domiacutenio comum chamou-se
Humanidades
As Humanidades talvez sejam a forma mais acessiacutevel de imaginar uma unidade possiacutevel entre os
quatro componentes das Ciecircncias Humanas no curriacuteculo do Ensino Meacutedio Dialogamos nessa proposta
com as observaccedilotildees da professora Marjorie Garber (2001) Para ela
Se as humanidades tecircm um futuro [] seraacute um futuro que envolve retornar ao passado e habitar esse momento interdisciplinar preacute-disciplinaacuterio Natildeo para se afastar da histoacuteria do contexto e da cultura mas para ao contraacuterio disso fazer justamente o opos-to concluir que Freud estava mais certo do que ele proacuteprio poderia supor quando ima-ginou a mente humana como sendo uma cidade tal como Roma camada sobre camada natildeo substituindo umas agraves outras mas coabitando com o passado[] Neste momento enquanto estudiosos nossa tarefa eacute reimaginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-las (GARBER 2001 p 95-96)
De acordo com essas consideraccedilotildees as Humanidades permitem entre outros desdobramentos
construir praacuteticas pedagoacutegicas de natureza interdisciplinar para as Ciecircncias Humanas Para avaliar a viabi-
lidade disso seraacute preciso percorrer algumas das ldquocamadasrdquo historicamente sobrepostas das quais emergem
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
SUMAacuteRIO
Introduccedilatildeo 7
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico 10
11 O problema das Ciecircncias Humanas 10
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo 11
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador 11
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria 12
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista 13
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista 14
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades 15
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas 21
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo 24
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas 27
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas 31
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas 40
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo 47
Referecircncias 49
5
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Introduccedilatildeo A minha escola natildeo tem personagem
A minha escola tem gente de verdade
Algueacutem falou do fim do mundo
O fim do mundo jaacute passou
Vamos comeccedilar de novo
Um por todos todos por um
Vamos fazer um filme Legiatildeo Urbana
Caros professores caras professoras vocecircs muito provavelmente conhecem os versos menciona-
dos O grupo Legiatildeo Urbana marcou sua eacutepoca e ateacute hoje eacute reverenciado por geraccedilotildees distintas os que
tinham seus vinte e poucos anos naquele momento os jovens de nossa atualidade e tantos outros A muacutesi-
ca como toda arte natildeo tem idade Remete contudo como toda criaccedilatildeo humana a um contexto particular
onde sujeitos singulares se expressam no registro de percepccedilotildees do mundo sentimentos ideias criacuteticas
duacutevidas incertezas projetos A deacutecada de 1990 para a sociedade brasileira correspondeu a um momento
de impasses e transformaccedilotildees das quais certamente ainda somos herdeiros Os rapazes do Legiatildeo Urbana
em alguma medida souberam disso Sugerimos a visita ao site do grupo para conhecer mais a sua histoacuteria
shows e produccedilatildeo musical disponiacutevel em httpwwwlegiaourbanacombr
E por que comeccedilar esse Caderno de estudo sobre a aacuterea das Ciecircncias Humanas e a formaccedilatildeo de
professores do Ensino Meacutedio com a menccedilatildeo a uma muacutesica do grupo Legiatildeo Urbana Entre as respostas
na verdade figuram perspectivas e algumas apostas
Comecemos pelas apostas desejar uma escola com ldquogente de verdaderdquo e talvez para dar partida
ldquocomeccedilar de novordquo com muito trabalho e cooperaccedilatildeo pela frente ndash ldquoum por todos todos por umrdquo Licenccedilas
poeacuteticas agrave parte cabe no entanto situar perspectivas sobre os objetivos e reflexotildees materializados nesse
Caderno
A escola brasileira de Educaccedilatildeo Baacutesica em especial na rede puacuteblica de ensino eacute palco de contra-
diccedilotildees sociais e poliacuteticas que nos afetam como comunidade local e nacional Entre o fim dos governos
militares e a democratizaccedilatildeo instaurada no decorrer dos anos 1980 e 1990 os debates acerca de problemas
crocircnicos tais como as desigualdades sociais e a exclusatildeo de diversos grupos do pleno exerciacutecio dos mais
diversos direitos incrementaram-se explicitando a maior publicizaccedilatildeo de demandas pautadas nos movi-
mentos populares A elaboraccedilatildeo da nova Constituiccedilatildeo Federal a Constituiccedilatildeo Cidadatilde em 1988 simboliza
parte dessas transformaccedilotildees
A promulgaccedilatildeo de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDB nordm 9394 de 20 de De-
zembro de 1996) representou uma das mudanccedilas fundamentais dos marcos legais reguladores das accedilotildees
no campo educacional A partir dela derivaram-se iniciativas e estrateacutegias de naturezas variadas Como lei
maior sobre a educaccedilatildeo brasileira baseada em princiacutepios que figuram na Constituiccedilatildeo Federal de 1988
6
Ciecircncias Humanas
vale ser lida e discutida por professores e estudantes Haacute uma versatildeo atualizada em 2013 nas publicaccedilotildees
da biblioteca digital da Cacircmara dos Deputados (httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara14676)
Destaca-se na atualidade o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) instituiacutedo pela Lei nordm 13005 de
25 de junho de 2014 e que deveraacute vigorar de 2014 a 2024 O PNE apresenta 20 metas seguidas das estra-
teacutegias especiacuteficas de concretizaccedilatildeo (BRASIL 2014)
No que se refere agraves proposiccedilotildees relativas ao curriacuteculo cabe mencionar o iniacutecio dos debates que
vieram a culminar na elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - DCNEM
(BRASIL 2012) e no acircmbito avaliativo a criaccedilatildeo do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM)
A partir de 2008 O ENEM ou Novo ENEM passou a ter outro formato assumindo o caraacuteter de
prova de ingresso nacional para o ensino superior substituindo em especial os exames de vestibular das
instituiccedilotildees federais norteando muitas propostas curriculares para o Ensino Meacutedio No ano de sua cria-
ccedilatildeo em 1998 possuiacutea caraacuteter diagnoacutestico visando elaborar amostragens sobre o desempenho escolar de
estudantes do Ensino Meacutedio
A menccedilatildeo agraves DCNEM e ao ENEM nos interessa considerando-se que houve a partir de ambos a
configuraccedilatildeo da aacuterea das Ciecircncias Humanas como dimensatildeo norteadora de accedilotildees curriculares para o En-
sino Meacutedio fomentando abordagens que buscaram ampliar diaacutelogos entre seus componentes por meio de
praacuteticas pedagoacutegicas e premissas avaliativas focadas na interdisciplinaridade e na integraccedilatildeo curricular
A aacuterea das Ciecircncias Humanas circunscrita inicialmente agrave Histoacuteria e agrave Geografia para o caso do Ensino
Meacutedio veio a ser significativamente alterada pela inclusatildeo da obrigatoriedade de oferta de dois novos
componentes a Sociologia e a Filosofia - Lei Nordm 11684 de 2 de junho de 2008 (BRASIL 2008) Essa lei
altera o art 36 da LDB nordm 9394 para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatoacuterias nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio
Essa raacutepida contextualizaccedilatildeo nos possibilita compreender certas condiccedilotildees histoacutericas nas quais fo-
ram gestadas as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica e em particular as DC-
NEM Como enfatizado em momentos anteriores desse curso reiteramos a importacircncia de tal qual a LDB
vigente conhecer e discutir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Recomendamos
a ediccedilatildeo compilada de todas as diretrizes publicada em 2013 e disponibilizada no portal do MEC httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=12663ampItemid=1152
Tais diretrizes jaacute abordadas nos Cadernos da Etapa I desse curso de formaccedilatildeo para professores cons-
tituem-se igualmente base norteadora das propostas de reflexatildeo e de accedilatildeo dessa Etapa II focada nas aacutereas
de conhecimento e nas modalidades de ensino
Por outro lado o cuidado em contextualizar toda e quaisquer informaccedilotildees e experiecircncias mesmo
natildeo sendo exclusivo das Ciecircncias Humanas eacute fortemente uma das marcas identitaacuterias desse campo do co-
nhecimento Cuidado esse caros professores e professoras que vocecircs provavelmente exercitam em suas
praacuteticas docentes no cotidiano da escola
Conhecer as DCNEM eacute um ponto de partida e nessa qualidade se institui na dependecircncia direta da
efetivaccedilatildeo de accedilotildees curriculares dispostas a lidar democraticamente com uma escola que possua ldquogente
de verdaderdquo Em outras palavras sujeitos ndash professores estudantes funcionaacuterios gestores ndash nas suas
7
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
circunstacircncias de vida as mais diversas com suas vivecircncias e expectativas singulares e como sabemos
para o caso das redes puacuteblicas de ensino da sociedade brasileira inseridos em realidades adversas e com-
plexas limitadoras daquilo que pode ser denominado de formaccedilatildeo humana integral
De acordo com as DCNEM formaccedilatildeo humana integral se associa a uma concepccedilatildeo pedagoacutegica
valorizadora de accedilotildees que busquem articular as vivecircncias e experiecircncias dos estudantes seus saberes e ex-
pectativas ao aprendizado de conhecimentos significativos e integrados das diversas aacutereas e disciplinas
tendo em vista a configuraccedilatildeo de atitudes viabilizadoras do exerciacutecio democraacutetico da cidadania do de-
senvolvimento de posturas eacuteticas quanto agrave diversidade cultural e agraves questotildees ambientais da compreensatildeo
criacutetica do mundo e da universalizaccedilatildeo de direitos sociais
Como foi pontuado em outros momentos desse curso a efetivaccedilatildeo dessa formaccedilatildeo humana integral
natildeo eacute tarefa faacutecil Tomaacute-la como desafio pode circunscrever significados sem contudo simplificaacute-los ou
garantir seu sucesso Imaginemos a praacutetica do canto coral Quem jaacute o realiza pelos motivos mais variados
ou no caso dos professores de muacutesica sabem que para que o efeito final fique belo com ritmo e harmonia
a sensibilizar ouvintes e cativar novos participantes haacute que se planejar dividir tarefas e funccedilotildees ensaiar
(muito) partilhar dificuldades e se auxiliar mutuamente Se quisermos instituir o canto coral como
metaacutefora para nossas propostas curriculares o trabalho conjunto planejado e cooperativo a par de conhe-
cimentos e estudos que o estruturem figura como estrateacutegia fundadora
Antecipamos que a questatildeo contemporacircnea dos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-
mano conforme apontado no Plano Nacional de Educaccedilatildeo foco da base nacional comum para o curriacuteculo
orientada pelas DCNEM se justifica tambeacutem como poliacutetica de universalizaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo
Depreende-se entatildeo o quanto os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas podem
e devem contribuir para esse processo qualificado de universalizaccedilatildeo do ensino e esse eacute o principal ob-
jetivo e em paralelo compromisso eacutetico das discussotildees reflexotildees e propostas que se apresentam nas
unidades desse Caderno
Na unidade um objetiva-se discutir um pouco da histoacuteria do que veio a ser denominado de Humani-
dades e de Ciecircncias Humanas problematizando aspectos estruturais e conjunturais que interferem na ela-
boraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas interdisciplinares Na unidade dois satildeo apresentadas indagaccedilotildees sobre
os jovens estudantes do Ensino Meacutedio buscando indicar accedilotildees curriculares baseadas no conhecimento e
valorizaccedilatildeo de suas experiecircncias saberes e expectativas Na unidade trecircs o eixo trabalho cultura tecno-
logia e ciecircncia eacute analisado agrave luz das contribuiccedilotildees especiacuteficas dos componentes curriculares das Ciecircncias
Humanas Na unidade quatro satildeo propostas algumas reflexotildees e sugestotildees de abordagens pedagoacutegicas
interdisciplinares nas Ciecircncias Humanas no Ensino Meacutedio
Desejamos um bom trabalho a todos e a todas
8
Ciecircncias Humanas
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico
Cara professora caro professor todo conhecimento na qualidade de praacutetica cultural possui condi-
ccedilotildees histoacutericas para sua emergecircncia e caracterizaccedilatildeo Como obra humana os conhecimentos satildeo instituiacute-
dos por sujeitos especiacuteficos em tempos e espaccedilos variados em funccedilatildeo de diversos interesses possibilida-
des e necessidades sociais e poliacuteticas Natildeo poderia ser diferente para a aacuterea que se convencionou chamar
de Ciecircncias Humanas Como nome e como conceito as Ciecircncias Humanas possuem histoacuteria e a tentativa
de abordaacute-la eacute por si soacute tema para investigaccedilatildeo Longe de esgotar essa temaacutetica achamos importante si-
tuaacute-la como convite para reflexatildeo sob a chave de discutir alguns aspectos de seu processo de constituiccedilatildeo
e de significaccedilatildeo
11 O problema das Ciecircncias Humanas
Atualmente no contexto das escolas brasileiras e de acordo com as DCNEM entende-se por Ciecircn-
cias Humanas a aacuterea do conhecimento na qual estatildeo incluiacutedas a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a
Sociologia Cada um desses componentes curriculares eacute derivado de conhecimentos cientiacuteficos e discipli-
nares os quais em funccedilatildeo de suas tradiccedilotildees e procedimentos instituiacutedos possuem atualmente estatutos
epistemoloacutegicos proacuteprios Estes satildeo o resultado mais visiacutevel do processo de especializaccedilatildeo que atingiu
praticamente todos os campos do conhecimento desde pelo menos o final do seacuteculo XVII e iniacutecio do
seacuteculo XVIII nas sociedades do ocidente europeu Ocorre que antes da generalizaccedilatildeo desse processo de
especializaccedilatildeo havia um certo domiacutenio de conhecimentos cuja heranccedila de uma forma ou de outra foi
reivindicada por cada nova disciplina cientiacutefica surgida desde entatildeo Esse domiacutenio comum chamou-se
Humanidades
As Humanidades talvez sejam a forma mais acessiacutevel de imaginar uma unidade possiacutevel entre os
quatro componentes das Ciecircncias Humanas no curriacuteculo do Ensino Meacutedio Dialogamos nessa proposta
com as observaccedilotildees da professora Marjorie Garber (2001) Para ela
Se as humanidades tecircm um futuro [] seraacute um futuro que envolve retornar ao passado e habitar esse momento interdisciplinar preacute-disciplinaacuterio Natildeo para se afastar da histoacuteria do contexto e da cultura mas para ao contraacuterio disso fazer justamente o opos-to concluir que Freud estava mais certo do que ele proacuteprio poderia supor quando ima-ginou a mente humana como sendo uma cidade tal como Roma camada sobre camada natildeo substituindo umas agraves outras mas coabitando com o passado[] Neste momento enquanto estudiosos nossa tarefa eacute reimaginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-las (GARBER 2001 p 95-96)
De acordo com essas consideraccedilotildees as Humanidades permitem entre outros desdobramentos
construir praacuteticas pedagoacutegicas de natureza interdisciplinar para as Ciecircncias Humanas Para avaliar a viabi-
lidade disso seraacute preciso percorrer algumas das ldquocamadasrdquo historicamente sobrepostas das quais emergem
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
5
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Introduccedilatildeo A minha escola natildeo tem personagem
A minha escola tem gente de verdade
Algueacutem falou do fim do mundo
O fim do mundo jaacute passou
Vamos comeccedilar de novo
Um por todos todos por um
Vamos fazer um filme Legiatildeo Urbana
Caros professores caras professoras vocecircs muito provavelmente conhecem os versos menciona-
dos O grupo Legiatildeo Urbana marcou sua eacutepoca e ateacute hoje eacute reverenciado por geraccedilotildees distintas os que
tinham seus vinte e poucos anos naquele momento os jovens de nossa atualidade e tantos outros A muacutesi-
ca como toda arte natildeo tem idade Remete contudo como toda criaccedilatildeo humana a um contexto particular
onde sujeitos singulares se expressam no registro de percepccedilotildees do mundo sentimentos ideias criacuteticas
duacutevidas incertezas projetos A deacutecada de 1990 para a sociedade brasileira correspondeu a um momento
de impasses e transformaccedilotildees das quais certamente ainda somos herdeiros Os rapazes do Legiatildeo Urbana
em alguma medida souberam disso Sugerimos a visita ao site do grupo para conhecer mais a sua histoacuteria
shows e produccedilatildeo musical disponiacutevel em httpwwwlegiaourbanacombr
E por que comeccedilar esse Caderno de estudo sobre a aacuterea das Ciecircncias Humanas e a formaccedilatildeo de
professores do Ensino Meacutedio com a menccedilatildeo a uma muacutesica do grupo Legiatildeo Urbana Entre as respostas
na verdade figuram perspectivas e algumas apostas
Comecemos pelas apostas desejar uma escola com ldquogente de verdaderdquo e talvez para dar partida
ldquocomeccedilar de novordquo com muito trabalho e cooperaccedilatildeo pela frente ndash ldquoum por todos todos por umrdquo Licenccedilas
poeacuteticas agrave parte cabe no entanto situar perspectivas sobre os objetivos e reflexotildees materializados nesse
Caderno
A escola brasileira de Educaccedilatildeo Baacutesica em especial na rede puacuteblica de ensino eacute palco de contra-
diccedilotildees sociais e poliacuteticas que nos afetam como comunidade local e nacional Entre o fim dos governos
militares e a democratizaccedilatildeo instaurada no decorrer dos anos 1980 e 1990 os debates acerca de problemas
crocircnicos tais como as desigualdades sociais e a exclusatildeo de diversos grupos do pleno exerciacutecio dos mais
diversos direitos incrementaram-se explicitando a maior publicizaccedilatildeo de demandas pautadas nos movi-
mentos populares A elaboraccedilatildeo da nova Constituiccedilatildeo Federal a Constituiccedilatildeo Cidadatilde em 1988 simboliza
parte dessas transformaccedilotildees
A promulgaccedilatildeo de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDB nordm 9394 de 20 de De-
zembro de 1996) representou uma das mudanccedilas fundamentais dos marcos legais reguladores das accedilotildees
no campo educacional A partir dela derivaram-se iniciativas e estrateacutegias de naturezas variadas Como lei
maior sobre a educaccedilatildeo brasileira baseada em princiacutepios que figuram na Constituiccedilatildeo Federal de 1988
6
Ciecircncias Humanas
vale ser lida e discutida por professores e estudantes Haacute uma versatildeo atualizada em 2013 nas publicaccedilotildees
da biblioteca digital da Cacircmara dos Deputados (httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara14676)
Destaca-se na atualidade o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) instituiacutedo pela Lei nordm 13005 de
25 de junho de 2014 e que deveraacute vigorar de 2014 a 2024 O PNE apresenta 20 metas seguidas das estra-
teacutegias especiacuteficas de concretizaccedilatildeo (BRASIL 2014)
No que se refere agraves proposiccedilotildees relativas ao curriacuteculo cabe mencionar o iniacutecio dos debates que
vieram a culminar na elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - DCNEM
(BRASIL 2012) e no acircmbito avaliativo a criaccedilatildeo do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM)
A partir de 2008 O ENEM ou Novo ENEM passou a ter outro formato assumindo o caraacuteter de
prova de ingresso nacional para o ensino superior substituindo em especial os exames de vestibular das
instituiccedilotildees federais norteando muitas propostas curriculares para o Ensino Meacutedio No ano de sua cria-
ccedilatildeo em 1998 possuiacutea caraacuteter diagnoacutestico visando elaborar amostragens sobre o desempenho escolar de
estudantes do Ensino Meacutedio
A menccedilatildeo agraves DCNEM e ao ENEM nos interessa considerando-se que houve a partir de ambos a
configuraccedilatildeo da aacuterea das Ciecircncias Humanas como dimensatildeo norteadora de accedilotildees curriculares para o En-
sino Meacutedio fomentando abordagens que buscaram ampliar diaacutelogos entre seus componentes por meio de
praacuteticas pedagoacutegicas e premissas avaliativas focadas na interdisciplinaridade e na integraccedilatildeo curricular
A aacuterea das Ciecircncias Humanas circunscrita inicialmente agrave Histoacuteria e agrave Geografia para o caso do Ensino
Meacutedio veio a ser significativamente alterada pela inclusatildeo da obrigatoriedade de oferta de dois novos
componentes a Sociologia e a Filosofia - Lei Nordm 11684 de 2 de junho de 2008 (BRASIL 2008) Essa lei
altera o art 36 da LDB nordm 9394 para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatoacuterias nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio
Essa raacutepida contextualizaccedilatildeo nos possibilita compreender certas condiccedilotildees histoacutericas nas quais fo-
ram gestadas as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica e em particular as DC-
NEM Como enfatizado em momentos anteriores desse curso reiteramos a importacircncia de tal qual a LDB
vigente conhecer e discutir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Recomendamos
a ediccedilatildeo compilada de todas as diretrizes publicada em 2013 e disponibilizada no portal do MEC httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=12663ampItemid=1152
Tais diretrizes jaacute abordadas nos Cadernos da Etapa I desse curso de formaccedilatildeo para professores cons-
tituem-se igualmente base norteadora das propostas de reflexatildeo e de accedilatildeo dessa Etapa II focada nas aacutereas
de conhecimento e nas modalidades de ensino
Por outro lado o cuidado em contextualizar toda e quaisquer informaccedilotildees e experiecircncias mesmo
natildeo sendo exclusivo das Ciecircncias Humanas eacute fortemente uma das marcas identitaacuterias desse campo do co-
nhecimento Cuidado esse caros professores e professoras que vocecircs provavelmente exercitam em suas
praacuteticas docentes no cotidiano da escola
Conhecer as DCNEM eacute um ponto de partida e nessa qualidade se institui na dependecircncia direta da
efetivaccedilatildeo de accedilotildees curriculares dispostas a lidar democraticamente com uma escola que possua ldquogente
de verdaderdquo Em outras palavras sujeitos ndash professores estudantes funcionaacuterios gestores ndash nas suas
7
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
circunstacircncias de vida as mais diversas com suas vivecircncias e expectativas singulares e como sabemos
para o caso das redes puacuteblicas de ensino da sociedade brasileira inseridos em realidades adversas e com-
plexas limitadoras daquilo que pode ser denominado de formaccedilatildeo humana integral
De acordo com as DCNEM formaccedilatildeo humana integral se associa a uma concepccedilatildeo pedagoacutegica
valorizadora de accedilotildees que busquem articular as vivecircncias e experiecircncias dos estudantes seus saberes e ex-
pectativas ao aprendizado de conhecimentos significativos e integrados das diversas aacutereas e disciplinas
tendo em vista a configuraccedilatildeo de atitudes viabilizadoras do exerciacutecio democraacutetico da cidadania do de-
senvolvimento de posturas eacuteticas quanto agrave diversidade cultural e agraves questotildees ambientais da compreensatildeo
criacutetica do mundo e da universalizaccedilatildeo de direitos sociais
Como foi pontuado em outros momentos desse curso a efetivaccedilatildeo dessa formaccedilatildeo humana integral
natildeo eacute tarefa faacutecil Tomaacute-la como desafio pode circunscrever significados sem contudo simplificaacute-los ou
garantir seu sucesso Imaginemos a praacutetica do canto coral Quem jaacute o realiza pelos motivos mais variados
ou no caso dos professores de muacutesica sabem que para que o efeito final fique belo com ritmo e harmonia
a sensibilizar ouvintes e cativar novos participantes haacute que se planejar dividir tarefas e funccedilotildees ensaiar
(muito) partilhar dificuldades e se auxiliar mutuamente Se quisermos instituir o canto coral como
metaacutefora para nossas propostas curriculares o trabalho conjunto planejado e cooperativo a par de conhe-
cimentos e estudos que o estruturem figura como estrateacutegia fundadora
Antecipamos que a questatildeo contemporacircnea dos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-
mano conforme apontado no Plano Nacional de Educaccedilatildeo foco da base nacional comum para o curriacuteculo
orientada pelas DCNEM se justifica tambeacutem como poliacutetica de universalizaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo
Depreende-se entatildeo o quanto os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas podem
e devem contribuir para esse processo qualificado de universalizaccedilatildeo do ensino e esse eacute o principal ob-
jetivo e em paralelo compromisso eacutetico das discussotildees reflexotildees e propostas que se apresentam nas
unidades desse Caderno
Na unidade um objetiva-se discutir um pouco da histoacuteria do que veio a ser denominado de Humani-
dades e de Ciecircncias Humanas problematizando aspectos estruturais e conjunturais que interferem na ela-
boraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas interdisciplinares Na unidade dois satildeo apresentadas indagaccedilotildees sobre
os jovens estudantes do Ensino Meacutedio buscando indicar accedilotildees curriculares baseadas no conhecimento e
valorizaccedilatildeo de suas experiecircncias saberes e expectativas Na unidade trecircs o eixo trabalho cultura tecno-
logia e ciecircncia eacute analisado agrave luz das contribuiccedilotildees especiacuteficas dos componentes curriculares das Ciecircncias
Humanas Na unidade quatro satildeo propostas algumas reflexotildees e sugestotildees de abordagens pedagoacutegicas
interdisciplinares nas Ciecircncias Humanas no Ensino Meacutedio
Desejamos um bom trabalho a todos e a todas
8
Ciecircncias Humanas
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico
Cara professora caro professor todo conhecimento na qualidade de praacutetica cultural possui condi-
ccedilotildees histoacutericas para sua emergecircncia e caracterizaccedilatildeo Como obra humana os conhecimentos satildeo instituiacute-
dos por sujeitos especiacuteficos em tempos e espaccedilos variados em funccedilatildeo de diversos interesses possibilida-
des e necessidades sociais e poliacuteticas Natildeo poderia ser diferente para a aacuterea que se convencionou chamar
de Ciecircncias Humanas Como nome e como conceito as Ciecircncias Humanas possuem histoacuteria e a tentativa
de abordaacute-la eacute por si soacute tema para investigaccedilatildeo Longe de esgotar essa temaacutetica achamos importante si-
tuaacute-la como convite para reflexatildeo sob a chave de discutir alguns aspectos de seu processo de constituiccedilatildeo
e de significaccedilatildeo
11 O problema das Ciecircncias Humanas
Atualmente no contexto das escolas brasileiras e de acordo com as DCNEM entende-se por Ciecircn-
cias Humanas a aacuterea do conhecimento na qual estatildeo incluiacutedas a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a
Sociologia Cada um desses componentes curriculares eacute derivado de conhecimentos cientiacuteficos e discipli-
nares os quais em funccedilatildeo de suas tradiccedilotildees e procedimentos instituiacutedos possuem atualmente estatutos
epistemoloacutegicos proacuteprios Estes satildeo o resultado mais visiacutevel do processo de especializaccedilatildeo que atingiu
praticamente todos os campos do conhecimento desde pelo menos o final do seacuteculo XVII e iniacutecio do
seacuteculo XVIII nas sociedades do ocidente europeu Ocorre que antes da generalizaccedilatildeo desse processo de
especializaccedilatildeo havia um certo domiacutenio de conhecimentos cuja heranccedila de uma forma ou de outra foi
reivindicada por cada nova disciplina cientiacutefica surgida desde entatildeo Esse domiacutenio comum chamou-se
Humanidades
As Humanidades talvez sejam a forma mais acessiacutevel de imaginar uma unidade possiacutevel entre os
quatro componentes das Ciecircncias Humanas no curriacuteculo do Ensino Meacutedio Dialogamos nessa proposta
com as observaccedilotildees da professora Marjorie Garber (2001) Para ela
Se as humanidades tecircm um futuro [] seraacute um futuro que envolve retornar ao passado e habitar esse momento interdisciplinar preacute-disciplinaacuterio Natildeo para se afastar da histoacuteria do contexto e da cultura mas para ao contraacuterio disso fazer justamente o opos-to concluir que Freud estava mais certo do que ele proacuteprio poderia supor quando ima-ginou a mente humana como sendo uma cidade tal como Roma camada sobre camada natildeo substituindo umas agraves outras mas coabitando com o passado[] Neste momento enquanto estudiosos nossa tarefa eacute reimaginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-las (GARBER 2001 p 95-96)
De acordo com essas consideraccedilotildees as Humanidades permitem entre outros desdobramentos
construir praacuteticas pedagoacutegicas de natureza interdisciplinar para as Ciecircncias Humanas Para avaliar a viabi-
lidade disso seraacute preciso percorrer algumas das ldquocamadasrdquo historicamente sobrepostas das quais emergem
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
6
Ciecircncias Humanas
vale ser lida e discutida por professores e estudantes Haacute uma versatildeo atualizada em 2013 nas publicaccedilotildees
da biblioteca digital da Cacircmara dos Deputados (httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara14676)
Destaca-se na atualidade o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) instituiacutedo pela Lei nordm 13005 de
25 de junho de 2014 e que deveraacute vigorar de 2014 a 2024 O PNE apresenta 20 metas seguidas das estra-
teacutegias especiacuteficas de concretizaccedilatildeo (BRASIL 2014)
No que se refere agraves proposiccedilotildees relativas ao curriacuteculo cabe mencionar o iniacutecio dos debates que
vieram a culminar na elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio - DCNEM
(BRASIL 2012) e no acircmbito avaliativo a criaccedilatildeo do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM)
A partir de 2008 O ENEM ou Novo ENEM passou a ter outro formato assumindo o caraacuteter de
prova de ingresso nacional para o ensino superior substituindo em especial os exames de vestibular das
instituiccedilotildees federais norteando muitas propostas curriculares para o Ensino Meacutedio No ano de sua cria-
ccedilatildeo em 1998 possuiacutea caraacuteter diagnoacutestico visando elaborar amostragens sobre o desempenho escolar de
estudantes do Ensino Meacutedio
A menccedilatildeo agraves DCNEM e ao ENEM nos interessa considerando-se que houve a partir de ambos a
configuraccedilatildeo da aacuterea das Ciecircncias Humanas como dimensatildeo norteadora de accedilotildees curriculares para o En-
sino Meacutedio fomentando abordagens que buscaram ampliar diaacutelogos entre seus componentes por meio de
praacuteticas pedagoacutegicas e premissas avaliativas focadas na interdisciplinaridade e na integraccedilatildeo curricular
A aacuterea das Ciecircncias Humanas circunscrita inicialmente agrave Histoacuteria e agrave Geografia para o caso do Ensino
Meacutedio veio a ser significativamente alterada pela inclusatildeo da obrigatoriedade de oferta de dois novos
componentes a Sociologia e a Filosofia - Lei Nordm 11684 de 2 de junho de 2008 (BRASIL 2008) Essa lei
altera o art 36 da LDB nordm 9394 para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatoacuterias nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio
Essa raacutepida contextualizaccedilatildeo nos possibilita compreender certas condiccedilotildees histoacutericas nas quais fo-
ram gestadas as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica e em particular as DC-
NEM Como enfatizado em momentos anteriores desse curso reiteramos a importacircncia de tal qual a LDB
vigente conhecer e discutir as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Recomendamos
a ediccedilatildeo compilada de todas as diretrizes publicada em 2013 e disponibilizada no portal do MEC httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=12663ampItemid=1152
Tais diretrizes jaacute abordadas nos Cadernos da Etapa I desse curso de formaccedilatildeo para professores cons-
tituem-se igualmente base norteadora das propostas de reflexatildeo e de accedilatildeo dessa Etapa II focada nas aacutereas
de conhecimento e nas modalidades de ensino
Por outro lado o cuidado em contextualizar toda e quaisquer informaccedilotildees e experiecircncias mesmo
natildeo sendo exclusivo das Ciecircncias Humanas eacute fortemente uma das marcas identitaacuterias desse campo do co-
nhecimento Cuidado esse caros professores e professoras que vocecircs provavelmente exercitam em suas
praacuteticas docentes no cotidiano da escola
Conhecer as DCNEM eacute um ponto de partida e nessa qualidade se institui na dependecircncia direta da
efetivaccedilatildeo de accedilotildees curriculares dispostas a lidar democraticamente com uma escola que possua ldquogente
de verdaderdquo Em outras palavras sujeitos ndash professores estudantes funcionaacuterios gestores ndash nas suas
7
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
circunstacircncias de vida as mais diversas com suas vivecircncias e expectativas singulares e como sabemos
para o caso das redes puacuteblicas de ensino da sociedade brasileira inseridos em realidades adversas e com-
plexas limitadoras daquilo que pode ser denominado de formaccedilatildeo humana integral
De acordo com as DCNEM formaccedilatildeo humana integral se associa a uma concepccedilatildeo pedagoacutegica
valorizadora de accedilotildees que busquem articular as vivecircncias e experiecircncias dos estudantes seus saberes e ex-
pectativas ao aprendizado de conhecimentos significativos e integrados das diversas aacutereas e disciplinas
tendo em vista a configuraccedilatildeo de atitudes viabilizadoras do exerciacutecio democraacutetico da cidadania do de-
senvolvimento de posturas eacuteticas quanto agrave diversidade cultural e agraves questotildees ambientais da compreensatildeo
criacutetica do mundo e da universalizaccedilatildeo de direitos sociais
Como foi pontuado em outros momentos desse curso a efetivaccedilatildeo dessa formaccedilatildeo humana integral
natildeo eacute tarefa faacutecil Tomaacute-la como desafio pode circunscrever significados sem contudo simplificaacute-los ou
garantir seu sucesso Imaginemos a praacutetica do canto coral Quem jaacute o realiza pelos motivos mais variados
ou no caso dos professores de muacutesica sabem que para que o efeito final fique belo com ritmo e harmonia
a sensibilizar ouvintes e cativar novos participantes haacute que se planejar dividir tarefas e funccedilotildees ensaiar
(muito) partilhar dificuldades e se auxiliar mutuamente Se quisermos instituir o canto coral como
metaacutefora para nossas propostas curriculares o trabalho conjunto planejado e cooperativo a par de conhe-
cimentos e estudos que o estruturem figura como estrateacutegia fundadora
Antecipamos que a questatildeo contemporacircnea dos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-
mano conforme apontado no Plano Nacional de Educaccedilatildeo foco da base nacional comum para o curriacuteculo
orientada pelas DCNEM se justifica tambeacutem como poliacutetica de universalizaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo
Depreende-se entatildeo o quanto os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas podem
e devem contribuir para esse processo qualificado de universalizaccedilatildeo do ensino e esse eacute o principal ob-
jetivo e em paralelo compromisso eacutetico das discussotildees reflexotildees e propostas que se apresentam nas
unidades desse Caderno
Na unidade um objetiva-se discutir um pouco da histoacuteria do que veio a ser denominado de Humani-
dades e de Ciecircncias Humanas problematizando aspectos estruturais e conjunturais que interferem na ela-
boraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas interdisciplinares Na unidade dois satildeo apresentadas indagaccedilotildees sobre
os jovens estudantes do Ensino Meacutedio buscando indicar accedilotildees curriculares baseadas no conhecimento e
valorizaccedilatildeo de suas experiecircncias saberes e expectativas Na unidade trecircs o eixo trabalho cultura tecno-
logia e ciecircncia eacute analisado agrave luz das contribuiccedilotildees especiacuteficas dos componentes curriculares das Ciecircncias
Humanas Na unidade quatro satildeo propostas algumas reflexotildees e sugestotildees de abordagens pedagoacutegicas
interdisciplinares nas Ciecircncias Humanas no Ensino Meacutedio
Desejamos um bom trabalho a todos e a todas
8
Ciecircncias Humanas
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico
Cara professora caro professor todo conhecimento na qualidade de praacutetica cultural possui condi-
ccedilotildees histoacutericas para sua emergecircncia e caracterizaccedilatildeo Como obra humana os conhecimentos satildeo instituiacute-
dos por sujeitos especiacuteficos em tempos e espaccedilos variados em funccedilatildeo de diversos interesses possibilida-
des e necessidades sociais e poliacuteticas Natildeo poderia ser diferente para a aacuterea que se convencionou chamar
de Ciecircncias Humanas Como nome e como conceito as Ciecircncias Humanas possuem histoacuteria e a tentativa
de abordaacute-la eacute por si soacute tema para investigaccedilatildeo Longe de esgotar essa temaacutetica achamos importante si-
tuaacute-la como convite para reflexatildeo sob a chave de discutir alguns aspectos de seu processo de constituiccedilatildeo
e de significaccedilatildeo
11 O problema das Ciecircncias Humanas
Atualmente no contexto das escolas brasileiras e de acordo com as DCNEM entende-se por Ciecircn-
cias Humanas a aacuterea do conhecimento na qual estatildeo incluiacutedas a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a
Sociologia Cada um desses componentes curriculares eacute derivado de conhecimentos cientiacuteficos e discipli-
nares os quais em funccedilatildeo de suas tradiccedilotildees e procedimentos instituiacutedos possuem atualmente estatutos
epistemoloacutegicos proacuteprios Estes satildeo o resultado mais visiacutevel do processo de especializaccedilatildeo que atingiu
praticamente todos os campos do conhecimento desde pelo menos o final do seacuteculo XVII e iniacutecio do
seacuteculo XVIII nas sociedades do ocidente europeu Ocorre que antes da generalizaccedilatildeo desse processo de
especializaccedilatildeo havia um certo domiacutenio de conhecimentos cuja heranccedila de uma forma ou de outra foi
reivindicada por cada nova disciplina cientiacutefica surgida desde entatildeo Esse domiacutenio comum chamou-se
Humanidades
As Humanidades talvez sejam a forma mais acessiacutevel de imaginar uma unidade possiacutevel entre os
quatro componentes das Ciecircncias Humanas no curriacuteculo do Ensino Meacutedio Dialogamos nessa proposta
com as observaccedilotildees da professora Marjorie Garber (2001) Para ela
Se as humanidades tecircm um futuro [] seraacute um futuro que envolve retornar ao passado e habitar esse momento interdisciplinar preacute-disciplinaacuterio Natildeo para se afastar da histoacuteria do contexto e da cultura mas para ao contraacuterio disso fazer justamente o opos-to concluir que Freud estava mais certo do que ele proacuteprio poderia supor quando ima-ginou a mente humana como sendo uma cidade tal como Roma camada sobre camada natildeo substituindo umas agraves outras mas coabitando com o passado[] Neste momento enquanto estudiosos nossa tarefa eacute reimaginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-las (GARBER 2001 p 95-96)
De acordo com essas consideraccedilotildees as Humanidades permitem entre outros desdobramentos
construir praacuteticas pedagoacutegicas de natureza interdisciplinar para as Ciecircncias Humanas Para avaliar a viabi-
lidade disso seraacute preciso percorrer algumas das ldquocamadasrdquo historicamente sobrepostas das quais emergem
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
7
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
circunstacircncias de vida as mais diversas com suas vivecircncias e expectativas singulares e como sabemos
para o caso das redes puacuteblicas de ensino da sociedade brasileira inseridos em realidades adversas e com-
plexas limitadoras daquilo que pode ser denominado de formaccedilatildeo humana integral
De acordo com as DCNEM formaccedilatildeo humana integral se associa a uma concepccedilatildeo pedagoacutegica
valorizadora de accedilotildees que busquem articular as vivecircncias e experiecircncias dos estudantes seus saberes e ex-
pectativas ao aprendizado de conhecimentos significativos e integrados das diversas aacutereas e disciplinas
tendo em vista a configuraccedilatildeo de atitudes viabilizadoras do exerciacutecio democraacutetico da cidadania do de-
senvolvimento de posturas eacuteticas quanto agrave diversidade cultural e agraves questotildees ambientais da compreensatildeo
criacutetica do mundo e da universalizaccedilatildeo de direitos sociais
Como foi pontuado em outros momentos desse curso a efetivaccedilatildeo dessa formaccedilatildeo humana integral
natildeo eacute tarefa faacutecil Tomaacute-la como desafio pode circunscrever significados sem contudo simplificaacute-los ou
garantir seu sucesso Imaginemos a praacutetica do canto coral Quem jaacute o realiza pelos motivos mais variados
ou no caso dos professores de muacutesica sabem que para que o efeito final fique belo com ritmo e harmonia
a sensibilizar ouvintes e cativar novos participantes haacute que se planejar dividir tarefas e funccedilotildees ensaiar
(muito) partilhar dificuldades e se auxiliar mutuamente Se quisermos instituir o canto coral como
metaacutefora para nossas propostas curriculares o trabalho conjunto planejado e cooperativo a par de conhe-
cimentos e estudos que o estruturem figura como estrateacutegia fundadora
Antecipamos que a questatildeo contemporacircnea dos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-
mano conforme apontado no Plano Nacional de Educaccedilatildeo foco da base nacional comum para o curriacuteculo
orientada pelas DCNEM se justifica tambeacutem como poliacutetica de universalizaccedilatildeo do direito agrave educaccedilatildeo
Depreende-se entatildeo o quanto os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas podem
e devem contribuir para esse processo qualificado de universalizaccedilatildeo do ensino e esse eacute o principal ob-
jetivo e em paralelo compromisso eacutetico das discussotildees reflexotildees e propostas que se apresentam nas
unidades desse Caderno
Na unidade um objetiva-se discutir um pouco da histoacuteria do que veio a ser denominado de Humani-
dades e de Ciecircncias Humanas problematizando aspectos estruturais e conjunturais que interferem na ela-
boraccedilatildeo de propostas pedagoacutegicas interdisciplinares Na unidade dois satildeo apresentadas indagaccedilotildees sobre
os jovens estudantes do Ensino Meacutedio buscando indicar accedilotildees curriculares baseadas no conhecimento e
valorizaccedilatildeo de suas experiecircncias saberes e expectativas Na unidade trecircs o eixo trabalho cultura tecno-
logia e ciecircncia eacute analisado agrave luz das contribuiccedilotildees especiacuteficas dos componentes curriculares das Ciecircncias
Humanas Na unidade quatro satildeo propostas algumas reflexotildees e sugestotildees de abordagens pedagoacutegicas
interdisciplinares nas Ciecircncias Humanas no Ensino Meacutedio
Desejamos um bom trabalho a todos e a todas
8
Ciecircncias Humanas
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico
Cara professora caro professor todo conhecimento na qualidade de praacutetica cultural possui condi-
ccedilotildees histoacutericas para sua emergecircncia e caracterizaccedilatildeo Como obra humana os conhecimentos satildeo instituiacute-
dos por sujeitos especiacuteficos em tempos e espaccedilos variados em funccedilatildeo de diversos interesses possibilida-
des e necessidades sociais e poliacuteticas Natildeo poderia ser diferente para a aacuterea que se convencionou chamar
de Ciecircncias Humanas Como nome e como conceito as Ciecircncias Humanas possuem histoacuteria e a tentativa
de abordaacute-la eacute por si soacute tema para investigaccedilatildeo Longe de esgotar essa temaacutetica achamos importante si-
tuaacute-la como convite para reflexatildeo sob a chave de discutir alguns aspectos de seu processo de constituiccedilatildeo
e de significaccedilatildeo
11 O problema das Ciecircncias Humanas
Atualmente no contexto das escolas brasileiras e de acordo com as DCNEM entende-se por Ciecircn-
cias Humanas a aacuterea do conhecimento na qual estatildeo incluiacutedas a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a
Sociologia Cada um desses componentes curriculares eacute derivado de conhecimentos cientiacuteficos e discipli-
nares os quais em funccedilatildeo de suas tradiccedilotildees e procedimentos instituiacutedos possuem atualmente estatutos
epistemoloacutegicos proacuteprios Estes satildeo o resultado mais visiacutevel do processo de especializaccedilatildeo que atingiu
praticamente todos os campos do conhecimento desde pelo menos o final do seacuteculo XVII e iniacutecio do
seacuteculo XVIII nas sociedades do ocidente europeu Ocorre que antes da generalizaccedilatildeo desse processo de
especializaccedilatildeo havia um certo domiacutenio de conhecimentos cuja heranccedila de uma forma ou de outra foi
reivindicada por cada nova disciplina cientiacutefica surgida desde entatildeo Esse domiacutenio comum chamou-se
Humanidades
As Humanidades talvez sejam a forma mais acessiacutevel de imaginar uma unidade possiacutevel entre os
quatro componentes das Ciecircncias Humanas no curriacuteculo do Ensino Meacutedio Dialogamos nessa proposta
com as observaccedilotildees da professora Marjorie Garber (2001) Para ela
Se as humanidades tecircm um futuro [] seraacute um futuro que envolve retornar ao passado e habitar esse momento interdisciplinar preacute-disciplinaacuterio Natildeo para se afastar da histoacuteria do contexto e da cultura mas para ao contraacuterio disso fazer justamente o opos-to concluir que Freud estava mais certo do que ele proacuteprio poderia supor quando ima-ginou a mente humana como sendo uma cidade tal como Roma camada sobre camada natildeo substituindo umas agraves outras mas coabitando com o passado[] Neste momento enquanto estudiosos nossa tarefa eacute reimaginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-las (GARBER 2001 p 95-96)
De acordo com essas consideraccedilotildees as Humanidades permitem entre outros desdobramentos
construir praacuteticas pedagoacutegicas de natureza interdisciplinar para as Ciecircncias Humanas Para avaliar a viabi-
lidade disso seraacute preciso percorrer algumas das ldquocamadasrdquo historicamente sobrepostas das quais emergem
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
8
Ciecircncias Humanas
1 A integraccedilatildeo entre as Ciecircncias Humanas como projeto pedagoacutegico
Cara professora caro professor todo conhecimento na qualidade de praacutetica cultural possui condi-
ccedilotildees histoacutericas para sua emergecircncia e caracterizaccedilatildeo Como obra humana os conhecimentos satildeo instituiacute-
dos por sujeitos especiacuteficos em tempos e espaccedilos variados em funccedilatildeo de diversos interesses possibilida-
des e necessidades sociais e poliacuteticas Natildeo poderia ser diferente para a aacuterea que se convencionou chamar
de Ciecircncias Humanas Como nome e como conceito as Ciecircncias Humanas possuem histoacuteria e a tentativa
de abordaacute-la eacute por si soacute tema para investigaccedilatildeo Longe de esgotar essa temaacutetica achamos importante si-
tuaacute-la como convite para reflexatildeo sob a chave de discutir alguns aspectos de seu processo de constituiccedilatildeo
e de significaccedilatildeo
11 O problema das Ciecircncias Humanas
Atualmente no contexto das escolas brasileiras e de acordo com as DCNEM entende-se por Ciecircn-
cias Humanas a aacuterea do conhecimento na qual estatildeo incluiacutedas a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a
Sociologia Cada um desses componentes curriculares eacute derivado de conhecimentos cientiacuteficos e discipli-
nares os quais em funccedilatildeo de suas tradiccedilotildees e procedimentos instituiacutedos possuem atualmente estatutos
epistemoloacutegicos proacuteprios Estes satildeo o resultado mais visiacutevel do processo de especializaccedilatildeo que atingiu
praticamente todos os campos do conhecimento desde pelo menos o final do seacuteculo XVII e iniacutecio do
seacuteculo XVIII nas sociedades do ocidente europeu Ocorre que antes da generalizaccedilatildeo desse processo de
especializaccedilatildeo havia um certo domiacutenio de conhecimentos cuja heranccedila de uma forma ou de outra foi
reivindicada por cada nova disciplina cientiacutefica surgida desde entatildeo Esse domiacutenio comum chamou-se
Humanidades
As Humanidades talvez sejam a forma mais acessiacutevel de imaginar uma unidade possiacutevel entre os
quatro componentes das Ciecircncias Humanas no curriacuteculo do Ensino Meacutedio Dialogamos nessa proposta
com as observaccedilotildees da professora Marjorie Garber (2001) Para ela
Se as humanidades tecircm um futuro [] seraacute um futuro que envolve retornar ao passado e habitar esse momento interdisciplinar preacute-disciplinaacuterio Natildeo para se afastar da histoacuteria do contexto e da cultura mas para ao contraacuterio disso fazer justamente o opos-to concluir que Freud estava mais certo do que ele proacuteprio poderia supor quando ima-ginou a mente humana como sendo uma cidade tal como Roma camada sobre camada natildeo substituindo umas agraves outras mas coabitando com o passado[] Neste momento enquanto estudiosos nossa tarefa eacute reimaginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-las (GARBER 2001 p 95-96)
De acordo com essas consideraccedilotildees as Humanidades permitem entre outros desdobramentos
construir praacuteticas pedagoacutegicas de natureza interdisciplinar para as Ciecircncias Humanas Para avaliar a viabi-
lidade disso seraacute preciso percorrer algumas das ldquocamadasrdquo historicamente sobrepostas das quais emergem
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
9
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
o legado das Humanidades O objetivo eacute que desse percurso resultem
imagens viaacuteveis para um projeto pedagoacutegico destinado agrave educaccedilatildeo in-
tegrada no campo das Ciecircncias Humanas
111 A paideia grega a formaccedilatildeo do cidadatildeo
Por volta do seacuteculo V aC na Greacutecia quando ocorre a gradual
transiccedilatildeo da cultura oral para cultura escrita encontra-se o que talvez
seja o antecedente mais remoto das Humanidades tendo em vista as
heranccedilas culturais de sociedades euroasiaacuteticas Nesse contexto cultural
surge o conceito de paideia que sintetizava os estudos que deveriam
fazer parte da preparaccedilatildeo dos jovens aristocraacuteticos para a vida pessoal
familiar e social em seus aspectos religiosos poliacuteticos e morais Aleacutem
de algum tipo de treinamento fiacutesico essa preparaccedilatildeo incluiacutea o estudo
de muacutesica poesia danccedila e provavelmente rudimentos da histoacuteria
social e poliacutetica Natildeo havia contudo nenhuma preocupaccedilatildeo utilitaacuteria
muito menos vocacional Tampouco havia preocupaccedilotildees com aquilo
que se tornaria o acircmago da filosofia grega a saber a especulaccedilatildeo
sistemaacutetica sobre questotildees eacuteticas poliacuteticas metafiacutesicas epistemoloacutegi-
cas ou cientiacutefico-naturais
112 As artes liberais romanas a formaccedilatildeo do orador
Pode-se dizer que as Humanidades satildeo uma criaccedilatildeo tipica-
mente romana Aleacutem de fornecerem a raiz latina da palavra foram
os romanos antigos quem lhes conferiram um objeto e um conteuacutedo
proacuteprios Durante o final da Repuacuteblica e o iniacutecio do Impeacuterio entre os
seacuteculos I aC e I dC eles formularam a concepccedilatildeo segundo a qual
certas artes e saberes especiacuteficos seriam mais adequados para expres-
sar e atender agraves necessidades dos seres humanos Nos seus uacuteltimos
escritos Ciacutecero indicou a poesia geometria muacutesica e dialeacutetica como
artes e saberes que as crianccedilas deveriam apreender para alcanccedilar a sua
completa humanidade
O modelo das Humanidades forjado pelos romanos baseou-se
na tradiccedilatildeo grega mas foi profundamente ajustada agraves suas proacuteprias
necessidades e interesses Nesse contexto a educaccedilatildeo preconizada por
Ciacutecero e Quintiliano tinha como objetivo a formaccedilatildeo segundo o mo-
delo do papel a ser desempenhado pelo homem puacuteblico ndash o orador
A paideia era inse-paraacutevel de outro conceito grego areteacute ou excelecircn-cia especialmente exce-lecircncia de reputaccedilatildeo mas tambeacutem virtude e excelecircn-cia em todos os aspectos da vida Nesse sentido paideia significava a sa-bedoria humana e suas aplicaccedilotildees para viver uma vida virtuosa que incluiacutea natildeo apenas o autodesen-volvimento mas sobre-tudo o desenvolvimento ciacutevico com o objetivo de tornar a proacutepria cidade mais virtuosa e excelente Segundo Jaeger ldquoem sin-tonia com a modalidade de pensamento dos tem-pos primitivos [Homero] designa por areteacute a forccedila e a destreza dos guerrei-ros e lutadores e acima de tudo heroiacutesmo considera-do natildeo no sentido de accedilatildeo moral e separada da for-ccedila mas sim intimamente ligado a elardquo (JAEGER 1995 p 25-27)
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
10
Ciecircncias Humanas
O domiacutenio da comunicaccedilatildeo oral e escrita era considerado como uma
preparaccedilatildeo essencial para influenciar a poliacutetica e opiniatildeo puacuteblica e
assim servir ao Estado
Nesse sentido as Humanidades romanas afastaram-se da pai-
deia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar ar-
tes liberais As listas das artes liberais poderiam variar mas certamente
conteriam a Aritmeacutetica Muacutesica Geometria Astronomia Gramaacutetica
Retoacuterica e Dialeacutetica As quatro primeiras (quadrivium) em nada lem-
bravam os conhecimentos formais ou teoacutericos agrave maneira como foram
pensadas por Platatildeo e Aristoacuteteles Os romanos as tratavam como fatos
praacuteticas e informaccedilotildees que forneciam ao orador vocabulaacuterio e temas
uacuteteis A Muacutesica por exemplo interferiria no treinamento praacutetico dos
atos de ouvir e utilizar a voz De outro lado entre as trecircs uacuteltimas (tri-
vium) a Gramaacutetica era a de maior interesse pois o estudo da literatura
e da liacutengua passaram a ter um papel predominante sobre os demais
conhecimentos
113 As Humanidades renascentistas a formaccedilatildeo literaacuteria
A palavra ldquohumanistardquo (em italiano umanista) foi o termo cor-
rente entatildeo utilizado para nomear investigadores e professores das
universidades em finais do seacuteculo XV Eles questionaram as revisotildees
das artes liberais promovidas pela Escolaacutestica na Baixa Idade Meacute-
dia No iniacutecio da expansatildeo do cristianismo no Ocidente a partir do
seacuteculo III Agostinho e outros pensadores cristatildeos adaptaram o pro-
grama grego de educaccedilatildeo agraves ideias e valores de sua doutrina religiosa
Durante os seacuteculos XII e XIII nas catedrais e nas entatildeo emergentes
universidades o foco da educaccedilatildeo nas artes liberais foi redirecionado
para uma anaacutelise racional de textos claacutessicos sempre acompanhada
da leitura das sagradas escrituras e dos comentaacuterios biacuteblicos A impor-
tacircncia da Retoacuterica declinou fortemente e a Gramaacutetica foi transforma-
da num conhecimento especulativo com ecircnfase na loacutegica A obra de
Tomas de Aquino voltada agraves questotildees de feacute e razatildeo e agrave incorporaccedilatildeo
da formaccedilatildeo secular aos cacircnones teoloacutegicos representou esse esforccedilo
de promover uma siacutentese cristatilde que ultrapassasse e ressignificasse as
heranccedilas greco-romanas
Avessos a essa tradiccedilatildeo inaugurada com a cristandade os hu-
manistas italianos se esforccedilaram para reviver e redimensionar as artes
Nesse uso social o sentido de artes liberais nada tinha a ver com o significado que a palavra ldquohumanidaderdquo possuiacutea ateacute entatildeo ndash algo muito proacutexi-mo da noccedilatildeo grega de fi-lantropia que consiste em ter um espiacuterito amigaacutevel e um bom sentimento Elas estavam mais proacuteximas do ideal de educaccedilatildeo derivado da paideia grega onde a virtude das chama-das bonas artes deriva da sua intriacutenseca aptidatildeo aos fins morais e praacuteticos ndash um propoacutesito que se tornou a pedra angular das humani-dades bem como da edu-caccedilatildeo liberal e da cultura geral desde entatildeo
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
11
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
liberais de acordo com as tradiccedilotildees greco-romanas Desde entatildeo a
familiaridade com a cultura greco-romana antiga e a eloquecircncia no la-
tim tornaram-se preparaccedilatildeo obrigatoacuteria para a elite que controlava as
instituiccedilotildees puacuteblicas na maior parte dos estados italianos do centro e do
norte da peniacutensula Em meados do seacuteculo XV os cursos humaniacutesticos
passaram a integrar o curriacuteculo das universidades da peniacutensula italiana
e se espalharam rapidamente para o norte da Europa onde Erasmus de
Roterdam viria a se tornar um dos mais proeminentes representantes
do Humanismo renascentista
A partir da Renascenccedila as Humanidades foram progressiva-
mente institucionalizadas como conhecimento referencial Os profes-
sores italianos de Gramaacutetica e Retoacuterica muniram-se cada vez mais de
recursos pedagoacutegicos formalizados em livros manuais e instrumentos
instrucionais Nesse formato os estudos humaniacutesticos descolaram-se
dos estudos teoloacutegicos Mas ao longo de toda a Renascenccedila dificil-
mente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da huma-
nidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura
muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano ndash ao inveacutes de
Deus a tradiccedilatildeo ou a Natureza ndash fosse o centro ou a medida de todas
as coisas Segundo Hoyrup (2000) os estudos humaniacutesticos eram vol-
tados a
[] temas e questotildees centrais para uma vida virtuosa gramaacutetica (latina) retoacuteri-ca poesia histoacuteria e filosofia moral () A cultura humanista foi moldada pela cultura literaacuteria da classe alta romana e passou en-tatildeo a ser tambeacutem considerada o siacutembolo e a garantia das qualidades pessoais e espe-cialmente ciacutevicas ndash utilidade de fato sem-pre significou utilidade ciacutevica (HOYRUP 2000 p 83-85)
114 As especialidades e disciplinas modernas a formaccedilatildeo do cientista
As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais roma-
nos de uma educaccedilatildeo voltada agrave transmissatildeo de uma cultura liberal ou
cultura geral Mas apesar do caraacuteter generalista que caracterizou as
Humanidades renascentista nesse periacuteodo nada haacute que possa ante-
cipar a nossa atual procura de uma abordagem interdisciplinar para
as Humanidades Isso nos permitir enfatizar que interdisciplinaridade
Desde os tempos antigos a literatura tinha sido um meio para a edu-caccedilatildeo moral O emprego da palavra ldquoliteraturardquo restrita aos escritos mais imaginativos posterior-mente qualificados como ficcionais emergiu no de-correr do seacuteculo XVIII em sociedades do Ociden-te europeu associando-se entre outros aspectos ao surgimento do romance moderno
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
12
Ciecircncias Humanas
natildeo eacute sinocircnimo de generalidade Ao contraacuterio a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades
bem estabelecidas Assim as tentativas de produzir ou exibir uma unificaccedilatildeo entre conhecimentos ndash rea-
lizadas por exemplo por Comenius Leibniz DrsquoAlembert Kant Hegel e von Humboldt ndash somente se
tornaram possiacuteveis com a fundaccedilatildeo das academias cientiacuteficas no seacuteculo XVII ndash a Royal Society na Ingla-
terra e a Acadeacutemie des Sciences na Franccedila por exemplo ndash que foram decisivas para os processos que
resultaram na definiccedilatildeo das especialidades e na delimitaccedilatildeo das disciplinas cientiacuteficas
O contraste entre as perspectivas medieval e moderna sobre o conhecimento eacute ainda mais niacutetido no
projeto iluminista consubstanciado na Enciclopeacutedia de Diderot e DrsquoAlembert O objetivo desse projeto era
reunir todas as formas disponiacuteveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciecircncias Os enciclopedistas
franceses divergiam da concepccedilatildeo claacutessica de Humanidades e inspirados em Francis Bacon repudia-
ram a indistinccedilatildeo predominante desde a paideia grega entre arte e ciecircncia ndash uma indistinccedilatildeo decorrente
da concepccedilatildeo de que a ciecircncia deveria estar a serviccedilo de fins natildeo-cientiacuteficos isto eacute poliacuteticos morais e
religiosos entre outros Progressivamente difundiu-se o legado da Revoluccedilatildeo Cientiacutefica do seacuteculo XVII
protagonizada entre outros por Galileu Descartes e Newton convertendo a ciecircncia e seus meacutetodos em
novos criteacuterios para a legitimaccedilatildeo do conhecimento e consequentemente para a sua universalizaccedilatildeo
Os excessos de zelo com a elegacircncia e correccedilatildeo do estilo e a erudiccedilatildeo exacerbada pouco a pouco
cederam lugar ao conhecimento efetivo soacutelido e uacutetil adquirido pela investigaccedilatildeo direta das evidecircncias
empiacutericas e natildeo apenas por exaustivas anaacutelises textuais dos chamados ldquoclaacutessicosrdquo Depois de Immanuel
Kant ao final do seacuteculo XVIII a especializaccedilatildeo torna-se um imperativo crescente de tal modo que a uni-
dade da ciecircncia converte-se num ideal cada vez mais irrealizaacutevel Esse ideal tem um fugaz ressurgimento
durante as primeiras deacutecadas do seacuteculo XX impulsionado pelo programa de uma ldquoCiecircncia Unificadardquo pro-
posto pelo positivismo loacutegico No entanto esses e outros esforccedilos enfrentavam insuperaacuteveis limitaccedilotildees
115 As Ciecircncias Humanas contemporacircneas a formaccedilatildeo do especialista
O seacuteculo XIX representou um momento iacutempar para a crescente especializaccedilatildeo e disciplinarizaccedilatildeo
dos conhecimentos Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganizaccedilatildeo das universidades e susci-
tou acalorados debates sobre a classificaccedilatildeo das ciecircncias Na passagem do seacuteculo XIX para o XX o pen-
sador alematildeo Wilhelm Dilthey foi um dos que dedicou parte expressiva de suas especulaccedilotildees agrave distinccedilatildeo
entre os procedimentos e as caracteriacutesticas de determinadas ciecircncias categorizando-as em dois grandes
grupos as Ciecircncias da Natureza (Naturwissenschaften) e as Ciecircncias do Espiacuterito (Geisteswissenschaften)
Para essas uacuteltimas Dilthey identificava maneiras de conhecer muito especiacuteficas centradas em praacuteticas
interpretativas ndash hermenecircuticas ndash dos fenocircmenos analisados Das apropriaccedilotildees e adaptaccedilotildees posteriores
dessa distinccedilatildeo derivaram-se as recentes designaccedilotildees ldquoCiecircncias Humanasrdquo ndash entre as quais se incluiacuteram
a Histoacuteria a Psicologia a Economia a Antropologia a Sociologia e a Ciecircncia Poliacutetica e ldquoCiecircncias Natu-
raisrdquo ndash Fiacutesica Quimiacuteca Biologia Astronomia A essas uacuteltimas caberia a busca de explicaccedilotildees a partir de
conjuntos sistemaacuteticos de leis gerais ndash as chamadas leis da natureza enquanto as Ciecircncias Humanas de-
veriam voltar-se para a compreensatildeo de fenocircmenos que por serem presumidamente uacutenicos e particulares
natildeo estariam sujeitos a leis gerais
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
13
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
A categorizaccedilatildeo e difusatildeo das Ciecircncias Humanas entretanto
natildeo decretou o imediato ocaso das Humanidades no sentido da chama-
da educaccedilatildeo liberal Assim por exemplo em meados do seacuteculo XIX o
termo Humanidades ainda indicava predominantemente os estudos de
grego e latim com ecircnfase em gramaacutetica Houve permuta de sentidos
e fusotildees de conteuacutedos entre os termos Ciecircncias Humanas e Humani-
dades O padratildeo da educaccedilatildeo liberal foi profundamente modificado
no curso de um seacuteculo de tal modo que Humanidades passaram a
significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de
alcanccedilar a literatura em liacutengua vernaacutecula aleacutem da filosofia histoacuteria da
arte e frequentemente histoacuteria geral A essas disciplinas vieram a se
juntar os tradicionais estudos de grego e latim reunidos sob o roacutetulo
de estudos claacutessicos
12 Integraccedilatildeo e interdisciplinaridade no ensino secundaacuterio brasileiro dilemas e possibilidades
O exerciacutecio sinteacutetico de problematizar a historicidade do con-
ceito de Humanidades e de Ciecircncias Humanas no ocidente europeu
nos possibilita professoras e professores visualizar a complexidade
da questatildeo e tambeacutem perceber o quanto certas tradiccedilotildees de caraacuteter
disciplinar e cientiacutefico contribuiacuteram para separar e distanciar os diver-
sos campos de conhecimento
Se isso se manifestou nas Ciecircncias Humanas o mesmo ocor-
reu com as Ciecircncias da Natureza Em sociedades onde os progressos
tecnoloacutegicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida da organizaccedilatildeo
e divisatildeo do trabalho dos fluxos de riquezas capitais e mercadorias
e das proacuteprias percepccedilotildees do tempo e do espaccedilo os conhecimentos
sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade Seus
procedimentos metodoloacutegicos e criteacuterios epistemoloacutegicos foram entatildeo
tomados como paracircmetros de verdade confiabilidade utilidade pro-
gresso e civilizaccedilatildeo
As escolas como espaccedilos de instruccedilatildeo de educaccedilatildeo e de for-
maccedilatildeo de sujeitos os mais variados foram afetadas por todas essas
questotildees de fundo As pesquisas e trabalhos do campo da Histoacuteria da
Educaccedilatildeo principalmente indicam a importacircncia dessas reflexotildees
Em meio a tantas heranccedilas e tradiccedilotildees disciplinares propor e
realizar a integraccedilatildeo e a interdisciplinaridade entre as Ciecircncias Huma-
nas como projeto pedagoacutegico no Ensino Meacutedio brasileiro na atualida-
No Brasil nos uacutel-timos trinta anos amplia-ram-se e diversificaram-se as pesquisas sobre temas tais como a histoacuteria da escola da profissatildeo e do saber docente dos saberes e culturas escolares das concepccedilotildees pedagoacutegicas do livro didaacutetico do curriacute-culo entre outros A tiacutetulo de ter um pouco a dimen-satildeo do quanto tem sido pesquisado e produzido sugerimos professores e professoras como exer-ciacutecio navegar um pouco nos sites dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo na aacuterea de Educaccedilatildeo e tambeacutem no banco de teses e disser-taccedilotildees da CAPES (httpbancodetesescapesgovbr) Destaquem temas e tiacutetulos que mais lhes interessa-rem Se for o caso sele-cionem trabalhos que pos-sam ser alvo de um grupo de estudo
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
14
Ciecircncias Humanas
de natildeo eacute tarefa simples envolvendo desafios dilemas mas tambeacutem
possibilidades
Importante ter alguns cuidados Um deles eacute atentar para os lu-
gares que os componentes do campo das Ciecircncias Humanas ocuparam
e ocupam nos curriacuteculos do que hoje chamamos de Ensino Meacutedio
Se hoje a Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia possuem
lugares sendo esses alvos de controveacutersias tal configuraccedilatildeo como
sabemos nem sempre possuiu tal disposiccedilatildeo Como analisado ante-
riormente se as concepccedilotildees de Humanidades e de Ciecircncias Humanas
alteraram-se historicamente e epistemologicamente o mesmo pode
ser aplicado agrave reflexatildeo sobre como as Humanidades e as disciplinas
que a elas se associaram vieram a ser abordadas e categorizadas nos
curriacuteculos do Ensino Meacutedio O que entendemos por Ensino Meacutedio
como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica igualmente variou de forma con-
teuacutedo nome e funccedilatildeo Esse aliaacutes eacute um tema bastante visitado pelos
pesquisadores da Histoacuteria da Educaccedilatildeo no Brasil
Sem a pretensatildeo de esgotarmos essas reflexotildees apresentamos
ponderaccedilotildees sobre a historicidade de determinadas questotildees A deacutecada
de 1920 foi um momento significativo de proliferaccedilatildeo de debates e
projetos acerca da urgecircncia de accedilotildees que enfrentassem os problemas
brasileiros agrave eacutepoca No contexto de fim da Primeira Grande Guerra
(1914-1918) e de muitas criacuteticas aos preceitos liberais ampliaram-se
demandas por reformas sociais trabalhistas econocircmicas poliacuteticas e
educacionais Intelectuais de matizes ideoloacutegicos variados envolve-
ram-se diretamente em discussotildees sobre a criaccedilatildeo de sistema educa-
cional brasileiro que coordenasse esforccedilos no sentido de modernizar
as praacuteticas e concepccedilotildees pedagoacutegicas em vigor nas escolas brasileiras
Para aprofundar essas anaacutelises recomendamos a leitura e discussatildeo do artigo de Helena Bomeny ldquoNovos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacionalrdquo publicado na Revista Estudos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
Disponiacutevel em httpbibliotecadigitalfgvbrojsindexphpreharticleview19551094
Para conhecer melhor a vida e os projetos de intelectuais que partici-param desses debates e de seus desdobramentos nas deacutecadas de 1930 a 1960 ndash Aniacutesio Teixeira Fernando Azevedo Edgard Roquette Pinto Lourenccedilo Fi-lho Alceu Amoroso Lima ndash consulte a Coleccedilatildeo Educadores organizada pelo MEC
Disponiacutevel em httpwwwdominiopublicogovbrpesquisaResultadoPes-quisaObraFormdofirst=50ampskip=0ampds_titulo=ampco_autor=ampno_autor=ampco_cate-goria=133amppagina=1ampselect_action=Submitampco_midia=2ampco
Entre as contro-veacutersias destacam-se os tempos de aula destinados a cada um desses compo-nentes curriculares a sele-ccedilatildeo e didatizaccedilatildeo de con-teuacutedos significativos em especial mas natildeo exclu-sivamente para o caso da Filosofia e da Sociologia
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
15
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Nesse contexto polarizaram-se opiniotildees entre conservadores
e reformadores Um dos pontos de divergecircncia era a ampliaccedilatildeo do
espaccedilo dedicado aos estudos cientiacuteficos e a consequente diminuiccedilatildeo
do espaccedilo ocupado pelas Humanidades algo que se supunha ser uma
exigecircncia da sociedade moderna e dos processos de modernizaccedilatildeo tec-
noloacutegica-industrial em curso
Nos argumentos utilizados por intelectuais catoacutelicos sobressaiacute-
ram elementos de continuidade e de ruptura com as praacuteticas vigen-
tes Houve a defesa de uma formaccedilatildeo geral sem preocupaccedilatildeo com a
especializaccedilatildeo ou com a profissionalizaccedilatildeo Esse humanismo de vieacutes
catoacutelico compartilhava as mesmas preocupaccedilotildees com a formaccedilatildeo mo-
ral do antigo humanismo latino Para seus adeptos a literatura latina
sobressaiacutea como sendo ldquoa maior escola de moral que jamais existiurdquo
(SOUZA 2009 p 74)
Os intelectuais catoacutelicos promoveram uma ampliaccedilatildeo do sen-
tido tradicional de Humanidades de modo a conferir-lhe um caraacuteter
mais transcendental ldquoos estudos que se dirigem ao que haacute de mais ele-
vado no homem os estudos destinados a desenvolver o sentimento de
solidariedade humanardquo preconizando um Humanismo que integrasse
todas as dimensotildees do homem (SOUZA 2009 p 74)
Com a Revoluccedilatildeo de 1930 e a criaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educa-
ccedilatildeo e da Sauacutede no contexto das accedilotildees centralizadoras do governo de
Getuacutelio Vargas (1930-1945) reformas educacionais e de ensino pro-
movidas eou propostas nos acircmbitos estaduais na deacutecada de 1920 in-
formaram as reformas promovidas pelo governo federal a do ministro
Francisco Campos de 1931 e a do ministro Gustavo Capanema em
1942 (BOMENY 1993 p 24-39) Ambas as reformas a despeito das
diferenccedilas buscavam por meio de accedilotildees de natureza centralizadora
instaurar unidade de procedimentos para o que se desejava como sis-
tema nacional de ensino
Importante destacar nesse contexto de embates e experimen-
taccedilotildees o posicionamento dos educadores do movimento da Escola
Nova No Manifesto dos Pioneiros da Educaccedilatildeo Nova de 1932 os
signataacuterios reconheceram que nas reformas educacionais em curso
no Paiacutes o ensino secundaacuterio representava o ldquoponto nevraacutelgico da que-
statildeordquo Era nessa etapa de ensino que se concentravam ldquoos obstaacuteculos
opostos pela escola tradicional agrave interpenetraccedilatildeo das classes sociais
destinando agraves classes populares a escola primaacuteria enquanto a clas-
Sugerimos a leitura e discussatildeo do Manifesto dos Pioneiros da Educa-ccedilatildeo Nova de 1932 e do Manifesto dos Educado-res de 1959 Disponiacutevel na Coleccedilatildeo Educadores do MEC
httpwwwdominio-publicogovbrpesquisaDe-talheObraFormdoselect_action=ampco_obra=205210
Sobre o humanismo e suas apropriaccedilotildees nas propostas curriculares su-gerimos a leitura do artigo de Rosa Faacutetima de Souza ldquoA renovaccedilatildeo do curriacutecu-lo do ensino secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas ba-talhas pelo humanismordquo Curriacuteculo sem fronteiras v 9 n1 p 72-90 JanJun 2009
Disponiacutevel em
httpwwwcurricu-losemfronteirasorgvol9is-s1articles4-souzapdf
Indicamos da mes-ma autora o livro Histoacuteria da organizaccedilatildeo do traba-lho escolar e do curriacutecu-lo no seacuteculo XX Ensino primaacuterio e secundaacuterio no Brasil Satildeo Paulo Cortez 2008
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
16
Ciecircncias Humanas
se meacutedia [burguesia] servia-se da escola secundaacuteria e superior como
reduto dos [seus] interesses de classerdquo (AZEVEDO 2010 p 54)
Os problemas contudo naquele contexto natildeo se limitavam
agravequeles de caraacuteter socioloacutegico Havia tambeacutem questotildees de fundo as-
sociadas agraves divergecircncias entre concepccedilotildees de curriacuteculo Os educado-
res escolanovistas estavam convictos de que era no ensino secundaacuterio
que ldquose levanta a controveacutersia sobre o sentido de cultura geral e se potildee
o problema relativo agrave escolha do momento em que a mateacuteria do ensino
deve diversificar-se em ramos iniciais de especializaccedilatildeordquo (AZEVE-
DO 2010 p 54)
Esse debate professores e professoras que talvez sugira certa
atualidade natildeo se extinguiu ou foi plenamente resolvido nas deacutecadas
de 1930 e 1940 Com o fim do Estado Novo (1937-1945) e a democra-
tizaccedilatildeo a questatildeo educacional manteve sua centralidade adquirindo
contornos diferenciados materializados nos debates que possibilita-
ram a elaboraccedilatildeo do projeto em 1948 que daria origem a primeira Lei
de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo em 1961
Acrescentemos o quanto intelectuais envolvidos no debate da
deacutecada de 1930 como Aniacutesio Teixeira mantiveram e ampliaram em
tempos de maior liberdade poliacutetica e de expressatildeo sua atuaccedilatildeo es-
tando atentos todavia aos novos impasses e problemas da sociedade
brasileira nas deacutecadas de 1950 e 1960 As cidades se expandiram e
o processo de industrializaccedilatildeo em alguns dos seus efeitos ampliou
desigualdades entre os estados e regiotildees brasileiras estimulando mo-
vimentos migratoacuterios internos Criadas na deacutecada de 1930 as univer-
sidades seus projetos e cursos incluindo-se a questatildeo da formaccedilatildeo
de professores eram alvo de demandas por expansatildeo inclusatildeo e de-
mocratizaccedilatildeo nas dinacircmicas da qualificaccedilatildeo profissional O analfa-
betismo problema crocircnico precisava ser aceleradamente combatido
Os movimentos sociais entre estudantes sindicalistas intelectuais
expandiram-se nas pressotildees pelas reformas de base
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961
1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mu-
danccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da
atual LBD para o contexto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares
Nacionais em especial as DCNEM
A instauraccedilatildeo do governo autoritaacuterio apoacutes o golpe civil-mili-
tar de 1964 alterou significativamente esse cenaacuterio As mudanccedilas no
campo educacional materializaram-se entre outras accedilotildees numa nova
Professoras e pro-fessores caso queiram entender um pouco mais sobre o debate referente agrave elaboraccedilatildeo da LDB de 1961 sugerimos a consul-ta da Revista Brasileira de Estudos Pedagoacutegicos no ano de 1960 disponiacutevel no Portal Domiacutenio Puacutebli-co Para acessar clique no link abaixo e escreva o nome da Revista no cam-po ldquotiacutetulordquo
httpwwwdominio-publicogovbr
Como pesquisa eacute interessante comparar as LBDs de 1961 1971 e de 1996 no sentido de situar diferenccedilas compreender as mudanccedilas no sistema educacional brasileiro e destacar a importacircncia da atual LBD para o con-texto de elaboraccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais em especial as DCNEM
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
17
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
LDB a Lei 5692 de 1971 (BRASIL 1971) As poliacuteticas educacionais poacutes-1964 restringiram o espaccedilo
destinado agraves Humanidades nos curriacuteculos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica Novas disciplinas ndash a Educaccedilatildeo
Moral e Ciacutevica (EMC) para o ensino fundamental e Organizaccedilatildeo Social e Poliacutetica Brasileira (OSPB) para
o Ensino Meacutedio ndash foram criadas com objetivo de promover simplificaccedilotildees em determinados conteuacutedos
histoacutericos geograacuteficos e socioloacutegicos e em muitos casos divulgar valores patrioacuteticos em tempos de go-
verno ditatorial e de restriccedilatildeo agraves liberdades democraacuteticas
As reformas do periacuteodo da redemocratizaccedilatildeo poacutes-1985 entre elas a elaboraccedilatildeo de nova LDB apro-
vada em 1996 tentaram reverter esse quadro extinguindo as disciplinas mencionadas criadas no periacuteodo
da ditadura civil-militar restringindo os efeitos indesejaacuteveis da especializaccedilatildeo e da profissionalizaccedilatildeo pre-
coces e configurando a presenccedila das Ciecircncias Humanas e das demais aacutereas de conhecimento no curriacuteculo
escolar da Educaccedilatildeo Baacutesica como jaacute descrito na introduccedilatildeo desse Caderno
Importante demarcar o quanto a inclusatildeo da Filosofia e da Sociologia como componentes curricu-
lares das Ciecircncias Humanas aponta como um elemento inovador exigindo de noacutes professores e gestores
respostas e possibilidades criativas como esse curso procura fomentar
Haacute portanto na atualidade um contexto desafiador para a criaccedilatildeo de praacuteticas curriculares promo-
toras da interdisciplinaridade nas Ciecircncias Humanas e dessas com outras aacutereas do conhecimento Um
cenaacuterio desafiador e arriscamos favoraacutevel para um passo na direccedilatildeo de aproximar o ensino das Ciecircncias
Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relaccedilatildeo agraves Humanidades a construccedilatildeo
de uma genuiacutena integraccedilatildeo entre seus componentes curriculares Ningueacutem questionaria hoje o significado
e o alcance da disciplinarizaccedilatildeo dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas
recentes sucessoras no campo das ciecircncias A reflexatildeo sobre esse processo possibilita como procuramos
problematizar seu reconhecimento criacutetico e tambeacutem a compreensatildeo de alguns dos criteacuterios que informa-
ram distinccedilotildees e aproximaccedilotildees entre conhecimentos suas praacuteticas seus usos sociais
Ao admitirmos a disciplinarizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo como processos sedimentados e bem estabe-
lecidos o sonho de uma retomada da unidade nos moldes antigos das Humanidades torna-se um tanto
impraticaacutevel Talvez o possiacutevel de ser feito eacute nas belas palavras de Marjorie Garber (2001 p 96) ldquorei-
maginar as fronteiras do que chegamos a acreditar serem as disciplinas e ter a coragem para repensaacute-lasrdquo
E nisso convidamos vocecircs professores e professoras agrave reflexatildeo e ao exerciacutecio coletivo partilhando suas
ideias saberes docentes e experiecircncias pedagoacutegicas
Integrar natildeo eacute unificar Vencido assim esperamos o projeto de subordinar o Ensino Meacutedio aos in-
teresses de uma uacutenica classe social fazendo da inclusatildeo com qualidade e da universalizaccedilatildeo dos direitos
objetivos fundantes eacute preciso agora ldquoreimaginar as fronteirasrdquo disciplinares natildeo de uma uacutenica perspectiva
particular mas das vaacuterias perspectivas que no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica cada componente curricular
pode oferecer Com essa variedade e diversidade com imaginaccedilatildeo e reflexatildeo por meio de praacuteticas
curriculares inventivas repensam-se as fronteiras disciplinares sem pretensotildees de anulaacute-las
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
18
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora o texto abaixo sugere que o trabalho interdisciplinar exige o ldquoen-
cargo da compreensatildeordquo Leia o texto e discuta este conceito entre seus colegas Registre em um texto as
principais ideias debatidas e em seguida identifique um conteuacutedo ou tema do seu componente curricular
com potencial para uma accedilatildeo interdisciplinar
ldquoApesar de os estudos de processos integrativos serem pequenos em nuacutemero os autores concordam
em vaacuterios pontos Tomar emprestado de outra disciplina exige assumir o que Janice Lauer chamou de
lsquoencargo da compreensatildeorsquo Eacute necessaacuteria uma compreensatildeo miacutenima do seu mapa cognitivo incluindo os
conceitos baacutesicos modos de investigaccedilatildeo termos categorias de observaccedilatildeo teacutecnicas de representaccedilatildeo
padrotildees de prova e tipos de explicaccedilatildeo Aprender uma disciplina a fim de praticaacute-la eacute poreacutem diferente
de usaacute-la para propoacutesitos interdisciplinares O domiacutenio da disciplina denota conhecimento completo O
trabalho interdisciplinar exige adequaccedilatildeo Os que tomam algo emprestado natildeo reivindicam expertise em
todas as aacutereas Eles identificam informaccedilotildees conceitos ou teorias meacutetodos ou ferramentas relevantes para
a compreensatildeo de um problema particular processo ou fenocircmeno Aleacutem disso natildeo haacute nenhum Esperanto
interdisciplinar () A linguagem interdisciplinar normalmente evolui por meio do desenvolvimento de
uma liacutengua de comeacutercio que se torna um pidgin ndash definido em linguiacutestica como uma liacutengua provisoacuteria
ndash ou um crioulo ndash uma nova primeira liacutengua de uma comunidaderdquo (Klein Julie Thompson Humanities
culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany State University of New York
Press 2005)
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
19
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Visite a comunida-de Espaccedilos que Ensinam do Portal Ensino Meacutedio EMdiaacutelogo (wwwemdialo-gouffbr) e se inscreva No portal vocecirc encontraraacute tex-tos e viacutedeos e poderaacute par-ticipar de diaacutelogos sobre a escola e suas relaccedilotildees com a comunidade as deman-das atuais as atuaccedilotildees de estudantes professores e funcionaacuterios em busca da construccedilatildeo coletiva de es-paccedilos e tempos escolares melhores para os proces-sos educativos
2 Os estudantes ndash sujeitos do Ensino Meacutedio ndash e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora do Ensino Meacutedio os desafios de
atender agraves inuacutemeras demandas existentes na sociedade atual de seguir
as normas das instituiccedilotildees escolares e de trabalhar satisfatoriamente
com os jovens estudantes satildeo tatildeo complexos que muitos de noacutes pen-
samos na incompatibilidade dessas muacuteltiplas atividades Num cenaacuterio
cultural que valoriza a eficiecircncia e a destreza dos sujeitos diante de
situaccedilotildees corriqueiras em seus espaccedilos de trabalho natildeo eacute raro encon-
trarmos profissionais da educaccedilatildeo que procuram atuar isoladamente
sem se envolverem em projetos pedagoacutegicos coletivos considerando
que dessa forma natildeo podem ser responsabilizados pelos possiacuteveis pro-
blemas de execuccedilatildeo ou de resultados insatisfatoacuterios obtidos Entra em
cena a velha maacutexima quando alguma situaccedilatildeo natildeo eacute favoraacutevel logo
procuramos apontar os responsaacuteveis
Os sujeitos que recorrem agraves tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo ndash as
quais o Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) procurou superar ndash tra-
tam os desafios cotidianos das comunidades escolares a partir de pers-
pectivas individualistas talvez idealizadas elitistas Esses olhares satildeo
capazes de desconsiderar os desdobramentos do processo histoacuterico
ocorrido em nosso paiacutes que possibilitou a ampliaccedilatildeo de vagas para es-
tudantes e profissionais da educaccedilatildeo nas uacuteltimas deacutecadas Os espaccedilos
escolares na atualidade distantes dos paradigmas elitistas e difusores
de sua suposta eficiecircncia nas praacuteticas de ensino nos desempenhos es-
colares na uniformizaccedilatildeo dos comportamentos e na harmonizaccedilatildeo das
relaccedilotildees sociais satildeo na realidade plenos de vida contradiccedilotildees desejos
e potencialidades de produccedilatildeo de conhecimentos
Para aleacutem das tendecircncias de culpabilizaccedilatildeo eacute importante reco-
nhecer que cada vez mais profissionais da Educaccedilatildeo Baacutesica brasileira
produzem experiecircncias curriculares que incorporam a diversidade
sociocultural e a pluralidade das vozes participantes dos processos pe-
dagoacutegicos formais
Retomando as discussotildees estimuladas pelo referido Caderno II
(BRASIL 2013) ao inveacutes de elencarmos os ldquoproblemas da juventude
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
20
Ciecircncias Humanas
na escolardquo ou as ldquomazelas relatadas pelos jovens no cotidiano escolarrdquo vamos focalizar nossas reflexotildees
a partir das DCNEM (BRASIL 2012) com destaque para a centralidade dos jovens estudantes como
sujeitos do processo educativo tal como proposto no Parecer nordm 052011 do Conselho Nacional de Educa-
ccedilatildeo (BRASIL 2011) O documento explicita a necessidade de uma ldquoreinvenccedilatildeordquo da escola no sentido de
garantir ldquoo aprimoramento do educando como pessoa humana incluindo a formaccedilatildeo eacutetica e o desenvol-
vimento da autonomia intelectual e do pensamento criacuteticordquo (artigo III) e ldquoo reconhecimento e aceitaccedilatildeo
da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo das formas de produccedilatildeo dos
processos de trabalho e das culturas a eles subjacentesrdquo (Artigo VII)
Desde que a LDB nordm 939496 foi sancionada identificamos o intenso debate entorno da ldquorein-
venccedilatildeordquo dos espaccedilos escolares As atuais DCNEM reforccedilam essa ideia ao destacar o protagonismo dos
jovens estudantes como sujeitos do processo educativo Noacutes profissionais da educaccedilatildeo somos chamados
a reinventar a escola junto com nossos estudantes ao mesmo tempo em que buscamos garantir o direito agrave
aprendizagem e ao desenvolvimento do educando por meio de sua formaccedilatildeo eacutetica do desenvolvimento da
sua autonomia intelectual e do seu pensamento criacutetico Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a
realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se em vaacuterias ocasiotildees natildeo estabelecemos diaacutelogos
abertos e democraacuteticos com os sujeitos desse processo Antes de reinventarmos a escola na companhia
dos nossos jovens estudantes propomos algumas perguntas aos professores e professoras que satildeo chama-
dos a participar desse processo educativo
Podemos afirmar que efetivamente conhecemos nossos jovens estudantes do Ensino Meacutedio
Quando e onde eles nasceram Com quem vivem Como gostariam de viver Qual eacute o valor da
famiacutelia e dos amigos para esses jovens
Como eles leem o mundo A escola contribui para praacuteticas de leitura de mundo realizadas pelos
jovens estudantes O que eles esperam dos estudos escolares
Os jovens estudantes do Ensino Meacutedio que frequentam o periacuteodo diurno apresentam as mesmas
demandas daqueles que frequentam o periacuteodo noturno Segundo os jovens estudantes do Ensino Meacutedio
qual eacute o papel dos seus professores na sociedade atual
As Ciecircncias Humanas satildeo valorizadas pelos jovens estudantes Por quecirc Os estudos tradicional-
mente propostos pela aacuterea das Ciecircncias Humanas se aproximam dos interesses e necessidades dos estu-
dantes do Ensino Meacutedio
Entatildeo para iniciarmos nossas reflexotildees natildeo queremos esgotar o rol de perguntas possiacuteveis para
saber o quanto conhecemos nossos jovens estudantes pois cada espaccedilo escolar e grupo social tecircm suas
especificidades No entanto lembramos que nossa realizaccedilatildeo como docentes estaacute vinculada ao conheci-
mento que temos sobre esses sujeitos Como indicado no Caderno II (BRASIL 2013) da etapa anterior
desta formaccedilatildeo com base nos preceitos antropoloacutegicos eacute necessaacuterio conhecer para compreender Assim
ao reconhecermos as experiecircncias os saberes e as identidades culturais de nossos estudantes temos con-
diccedilotildees de estabelecer diaacutelogos e construir relacionamentos profiacutecuos
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
21
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Problematizar as relaccedilotildees entre os sujeitos na contemporanei-
dade ressaltando as relaccedilotildees entre os sujeitos integrantes das comu-
nidades escolares eacute tambeacutem uma de nossas intenccedilotildees Vivemos sob a
eacutegide de padrotildees culturais imersos numa loacutegica de mercado marcados
desde o advento da modernidade
pela valorizaccedilatildeo do individualismo hierarquizaccedilatildeo de poderes e
saberes compartimentalizaccedilatildeo dos conhecimentos desconstruccedilatildeo de
padrotildeesvalores eacuteticos dentre outras questotildees Pensando nos proces-
sos educativos os quais pressupotildeem atuaccedilotildees coletivas e integradoras
o desconhecimento do outro eacute um grande entrave para a viabilizaccedilatildeo
dos objetivos propostos na LDB ou nas DCNEM
Nesse sentido precisamos buscar a compreensatildeo das realida-
des socioculturais que estatildeo presentes nas comunidades escolares para
efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos
processos educativos sobretudo os jovens estudantes A escola puacuteblica
eacute o espaccedilo onde o diaacutelogo a colaboraccedilatildeo e o comprometimento cole-
tivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos As praacute-
ticas de ensino alheias agrave realidade social da comunidade o incentivo agrave
competitividade entre os estudantes a ausecircncia de debates de espaccedilos
de negociaccedilatildeo e de participaccedilatildeo democraacutetica na gestatildeo escolar apenas
concorrem para o desencantamento com a instituiccedilatildeo escolar
Valorizando-se as concepccedilotildees democraacuteticas que norteiam a le-
gislaccedilatildeo educacional vigente no Brasil entendemos que eacute possiacutevel su-
perar os fenocircmenos considerados promotores do mal-estar em nossas
instituiccedilotildees de ensino construindo novos paradigmas de relaciona-
mento com os jovens estudantes aleacutem de garantir os direitos agrave apren-
dizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos traba-
lhados pelos componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas
Neste sentido os proacuteximos itens pretendem explorar melhor as
contribuiccedilotildees do diaacutelogo interdisciplinar entre os componentes cur-
riculares que formam as Ciecircncias Humanas visando dois processos
distintos mas simultacircneos primeiro no que diz respeito agrave compreen-
satildeo dos sujeitos da aprendizagem por parte dos professores e segundo
na apropriaccedilatildeo por parte destes sujeitos de formas de compreensatildeo
de si mesmos das relaccedilotildees de que satildeo constituiacutedos e constituintes da
sociedade de que fazem parte Por fim avanccedilaremos ainda que pre-
liminarmente na discussatildeo de um curriacuteculo que promova a educaccedilatildeo
integral dos sujeitos envolvidos no processo educativo a partir das
contribuiccedilotildees da Aacuterea das Ciecircncias Humanas
Alguns trabalhos abordam as relaccedilotildees so-ciais no mundo contem-poracircneo atraveacutes de pers-pectivas culturais Sennett (1997 1998 2000) Gi-ddens (1991 2002) Gay (1988 1999) Benjamin (1994 2009) Sevcenko (1998 1999) Ortiz (1991)
Os subitens 114 115 e 12 deste Cader-no jaacute apontaram algumas ideias relacionadas a con-cepccedilatildeo de modernidade para as sociedades euro-peias ocidentais Os tra-balhos que abordam as relaccedilotildees sociais no mundo contemporacircneo citados na seccedilatildeo SAIBA MAIS ante-rior tambeacutem contribuem para as reflexotildees sobre a modernidade ocidental e seus desdobramentos so-cioculturais
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
22
Ciecircncias Humanas
21 Contribuiccedilotildees das Ciecircncias Humanas para a compreensatildeo da relaccedilatildeo entre Juventude e Educaccedilatildeo
Caro professor cara professora as perguntas feitas na introdu-
ccedilatildeo deste item natildeo tecircm respostas simples Contudo o conjunto dos
componentes curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas pode contri-
buir com chaves analiacuteticas que nos permitam compreender melhor
este jovem que ingressa permanece ou se afasta da escola Em outras
palavras permite que encaremos de frente aquele desafio colocado na
introduccedilatildeo deste Caderno qual seja o desejo de termos uma escola
com ldquogente de verdaderdquo
Comecemos com alguns procedimentos que particularizam as
Ciecircncias Humanas e as tornam por assim dizer ciecircncias reflexivas
isto eacute que pensam sobre a historicidade de suas proacuteprias praacuteticas so-
bre os sujeitos que as pensam e sobre a proacutepria sociedade Estes proce-
dimentos investigativos os quais podem ser entendidos tambeacutem como
perspectivas de atuaccedilatildeo satildeo a desnaturalizaccedilatildeo o estranhamento e a
sensibilizaccedilatildeo
Vejamos cada uma delas
A desnaturalizaccedilatildeo significa justamente o oposto daquela ati-
tude de achar que tudo na vida eacute ldquonaturalrdquo como se a ldquorealidaderdquo cor-
respondesse exatamente agraves representaccedilotildees que fazemos dela Ou seja
o procedimento da desnaturalizaccedilatildeo consiste em interpretar e reinter-
pretar o mundo construir novas explicaccedilotildees para aleacutem daquelas mais
recorrentes usuais rotineiras banais ou simplistas existentes em nos-
sas vivecircncias cotidianas e no que chamamos de ldquosenso comumrdquo Natildeo
se trata simples ou exclusivamente de desprezar explicaccedilotildees conside-
radas ldquosimplistasrdquo mas concebecirc-las como explicaccedilotildees e representa-
ccedilotildees que foram construiacutedas em algum momento num passado remoto
ou mesmo no presente e difundidas a tal ponto que para muitos se
tornam explicaccedilotildees naturalizadas de como ldquoas coisas realmente fun-
cionamrdquo Romper com a atitude de achar tudo ldquonaturalrdquo implica por-
tanto em estranhar esse proacuteprio mundo nosso cotidiano nossas roti-
nas mais usuais Assim a perspectiva do estranhamento requer certo
reencantamento do mundo isto eacute uma atitude de voltar a admiraacute-lo e
de natildeo achaacute-lo ldquonormalrdquo Implica tambeacutem em natildeo nos deixarmos levar
por aquilo que usualmente conhecemos como ldquoconformismordquo e ldquore-
signaccedilatildeordquo Ou seja sentir-se insatisfeito ou incomodado com a ldquovida
Visite a comunida-de Feito EMdiaacutelogo do Portal Ensino Meacutedio EM-diaacutelogo (wwwemdialogouffbr) Esta comunidade hospeda os conteuacutedos produzidos e disponibili-zados pelo Portal dentre os quais destacamos as questotildees de interesse dos jovens como a violecircncia nas proximidades e nos ambientes escolares a au-secircncia de novas tecnolo-gias em sala de aula atos preconceituosos tensotildees nos relacionamentos so-ciais e o distanciamento entre professores e estu-dantes Acesse a comuni-dade compartilhe os con-teuacutedos com seus colegas da escola e participe das discussotildees
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
23
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
como ela eacuterdquo nos conduz a formular perguntas sugerir hipoacuteteses questionar portanto os proacuteprios ldquofatosrdquo
tais como eles se nos apresentam Por fim a sensibilizaccedilatildeo pode ser entendida como a possibilidade de
percepccedilatildeo atenta das vivecircncias e experiecircncias individuais e coletivas rompendo-se assim com atitudes de
indiferenccedila e incompreensatildeo na relaccedilatildeo com o outro e com os problemas que afetam comunidades povos
e sociedades
Assim as perspectivas da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podem ser en-
tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa atitude fun-
damental para a problematizaccedilatildeo dos fenocircmenos considerados os mais triviais da realidade Aqui talvez
repouse o aspecto mais importante do legado das Ciecircncias Humanas para a aprendizagem qual seja o
de fomentar conhecimentos emancipatoacuterios voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora-
neidade Afinal a pergunta sobre qual escola queremos deve ser objeto de nossa reflexatildeo A mencionada
reinvenccedilatildeo dos espaccedilos escolares requer a aceitaccedilatildeo da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos
aleacutem de posturas investigativas e atuantes por parte dos profissionais da educaccedilatildeo e dos jovens estudantes
Antes de prosseguirmos com as perspectivas colocadas acima conveacutem desenvolver ainda que de
forma breve algumas consideraccedilotildees sobre a escola e seus sentidos possiacuteveis Como afirma Theodor Ador-
no (2003) ldquoa educaccedilatildeo tem sentido unicamente como educaccedilatildeo dirigida a uma auto-reflexatildeo criacuteticardquo
(ADORNO 2003 p 121) reflexatildeo essa que busque superar aquilo que o autor designa como ldquotabusrdquo Isto
eacute representaccedilotildees inconscientes ou preacute-conscientes preconceitos psicoloacutegicos e sociais que se conservam
no discurso do senso comum e que a despeito de em grande parte perderem sua base real sedimentam-
se de forma coletiva e se convertem em ldquoforccedilas reaisrdquo que moldam a forma como enxergamos o mundo
Theodor Adorno (2003) ao posicionar-se publicamente ao longo dos anos 1960 em torno de temas rela-
cionados agrave educaccedilatildeo a partir da criacutetica que fazia aos meios de comunicaccedilatildeo de massa e de modo geral agrave
ldquoinduacutestria culturalrdquo estava convicto de que a educaccedilatildeo natildeo era necessariamente um fator de emancipa-
ccedilatildeo Ao contraacuterio englobada como estava ndash e ainda estaacute ndash em processos de desumanizaccedilatildeo e reificaccedilatildeo
tiacutepicos da contemporaneidade capitalista (o que implica na naturalizaccedilatildeo do mundo das relaccedilotildees sociais
e da proacutepria humanidade a partir da mercantilizaccedilatildeo da vida) poderia reproduzir o horror e a barbaacuterie em
nome da Razatildeo ou da Modernidade Nesse sentido o objetivo da escola deveria ser a ldquodesbarbarizaccedilatildeo da
humanidaderdquo por mais restritos que pudessem ser o alcance e as possibilidades atribuiacutedas agrave escola
Outro argumento instigante eacute o desenvolvido por Bernard Charlot (2000) a partir das pesquisas de
Franccedilois Dubet (1994) para quem a escola assim como a sociedade natildeo pode ser analisada como um
sistema regido por uma loacutegica uacutenica mas ao contraacuterio estruturada por vaacuterias loacutegicas de accedilatildeo tais como
processos de socializaccedilatildeo subjetivaccedilatildeo distribuiccedilatildeo de competecircncias dentre outras O sentido da escola
deixa de ser dado de antematildeo para ser ao contraacuterio construiacutedo pelos atores pelos sujeitos por suas expe-
riecircncias individuais e coletivas Em outras palavras a escola fabrica ou contribui para fabricar atores e su-
jeitos de naturezas diferentes As reflexotildees de Charlot e Dubet nos conduzem a pensar melhor a principal
questatildeo que norteia esta unidade qual seja os sujeitos da aprendizagem ldquoa experiecircncia escolarrdquo afirma
Charlot ldquoeacute a de um sujeito e uma sociologia da experiecircncia escolar deve ser uma sociologia do sujeitordquo
(CHARLOT 2000 p 38)
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
24
Ciecircncias Humanas
Podemos agora prosseguindo na argumentaccedilatildeo de Bernard Charlot (2000) retomarmos aquelas
perspectivas norteadoras das Ciecircncias Humanas (desnaturalizaccedilatildeo estranhamento e sensibilizaccedilatildeo) ob-
jetivando a construccedilatildeo de chaves analiacuteticas que os professores e professoras do Ensino Meacutedio possam
mobilizar para compreender a si mesmos bem como aos estudantes como sujeitos da aprendizagem
Estas chaves tambeacutem podem e devem ser mobilizadas pelos proacuteprios estudantes a partir dos diferentes
componentes curriculares articulados na aacuterea de Ciecircncias Humanas As reflexotildees apresentadas acima vi-
sam tornar mais palpaacuteveis algumas das premissas apontadas no Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL
2011) em sua exposiccedilatildeo dos princiacutepios norteadores das DCNEM (BRASIL 2012) dentre as quais aquela
que enfatiza a necessidade de ldquooferecer aos nossos jovens novas perspectivas culturais para que possam
expandir seus horizontes e dotaacute-los de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao conhecimento
historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista que a edu-
caccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociaisrdquo (BRASIL
2011)
Neste sentido se partimos de premissas tais como as de que o Ensino Meacutedio tem como puacuteblico os
Jovens de modo geral ou se partimos de ldquoproblemas sociaisrdquo como fracasso escolar evasatildeo ou desin-
teresse dos jovens pela escola ou ainda da violecircncia e de formas de transgressatildeo isto eacute todas aquelas
referecircncias apontadas no Caderno II da Etapa I (BRASIL 2013) o que podemos fazer eacute antes de tudo
problematizar a historicidade e o alcance daquelas poderosas visotildees que constroacuteem nossa realidade
O diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas nos fornece pistas e caminhos
metodoloacutegicos que nos permitem pocircr em questatildeo essas preacute-noccedilotildees Assim quando tomamos a ldquojuventuderdquo
ou a ldquoevasatildeo escolarrdquo como objetos para ficarmos nestes exemplos estamos simplesmente reproduzindo
o que o senso comum a visatildeo comumente aceita e tida como verdade e os discursos autorizados sobre tais
problemas enfatizam Ou seja a ldquoJuventuderdquo ou a ldquoEvasatildeo Escolarrdquo satildeo percepccedilotildees de fenocircmenos sociais
muito complexos percepccedilotildees essas construiacutedas num contexto de relaccedilotildees sociais nas quais as disputas em
torno de seu significado natildeo satildeo niacutetidas
A princiacutepio esta afirmaccedilatildeo pode causar estranheza Afinal natildeo parece oacutebvio que a Juventude ou a
Evasatildeo existam Aiacute eacute que estaacute o ldquoXrdquo da questatildeo e que tornam as Ciecircncias Humanas tatildeo importantes para
uma educaccedilatildeo emancipadora os objetos destas ciecircncias satildeo o mundo social o mundo que nos eacute familiar
seja no presente ou no passado Por outro lado os conceitos de que tais ciecircncias se utilizam muitas ve-
zes confundem-se com a linguagem cotidiana expressatildeo deste mesmo mundo que as Ciecircncias Humanas
investigam Entatildeo como poderiacuteamos romper com o ldquosenso comumrdquo Desnaturalizar estranhar e sensi-
bilizar implicam em termos praacuteticos em um exerciacutecio de pocircr em relaccedilatildeo aquilo que conhecemos como
evidecircncias empiacutericas inquestionaacuteveis existentes por si soacutes Uma atitude cara agrave Sociologia mas natildeo exclu-
siva dela consiste em nas palavras de Pierre Bourdieu ldquotomar para objeto o trabalho social de construccedilatildeo
do objeto preacute-construiacutedo eacute aiacute que estaacute o verdadeiro ponto de rupturardquo (BOURDIEU 1998 p 28) Assim
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
25
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
termos como ldquoJuventuderdquo ou ldquoEvasatildeo Escolarrdquo por exemplo da perspectiva das Ciecircncias Humanas de-
vem antes de tudo serem postos em relaccedilatildeo com o contexto em que foram ldquoproduzidosrdquo historicamente
Em suma devem ser investigados enquanto noccedilotildees e percepccedilotildees que tecircm uma historicidade e um espaccedilo
de produccedilatildeo que variam de uma cultura para outra e mesmo no interior de uma mesma sociedade
Em outras palavras no acircmbito do diaacutelogo entre os componentes curriculares das Ciecircncias Hu-
manas eacute preciso levar em conta uma praacutetica cientiacutefica que natildeo se exima de pocircr em causa suas proacuteprias
operaccedilotildees e seus instrumentos de pensamento seus conceitos e teorias como primeiro passo em busca da
forma como outros instrumentos de pensamento conceitos e teorias muitas vezes popularizados foram
construiacutedos Essa autorreflexatildeo eacute talvez a maior das contribuiccedilotildees que os professores e professoras do
Ensino Meacutedio podem se apropriar para pensar os sujeitos da aprendizagem e a si proacuteprios Como tal eacute
tambeacutem um exerciacutecio que pode ser estimulado com e pelos estudantes potencializando o prazer pelo saber
e pelo conhecimento de Si e do Outro como parte de uma estrateacutegia para a autonomia intelectual
22 Para que servem as Ciecircncias Humanas
Qual professor durante suas aulas nunca ouviu de determinado estudante a indagaccedilatildeo suposta-
mente desafiadora ldquopara que serve esta disciplinardquo Antes mesmo de formular uma resposta adequada o
professor tambeacutem pode ter ouvido de outros estudantes ldquopara passar no vestibularrdquo ldquopara tirar uma boa
nota no ENEMrdquo ldquopara natildeo repetir de anordquo
Entre os estudantes que buscam uma utilidade praacutetica para as atividades desenvolvidas nas escolas e
os estudantes que vislumbram potencialidades socioculturais mais amplas podemos encontrar jovens an-
gustiados com as perspectivas do mercado de trabalho inconformados com suas configuraccedilotildees familiares
desmotivados com o cenaacuterio cultural e poliacutetico de sua regiatildeo preocupados com sua inserccedilatildeo e aceitaccedilatildeo
nos meios sociais proacuteximos Infinitas questotildees povoam as cabeccedilas de nossos jovens estudantes do Ensino
Meacutedio que aleacutem de estarem matriculados em nossas escolas encontram-se em uma fase da vida marcada
por processos de transiccedilatildeo repletos de dilemas indefiniccedilotildees questionamentos e crises Nesse sentido
reafirmamos a importacircncia da discussatildeo referente agraves identidades juvenis
Com tantas questotildees existenciais os jovens estudantes valorizam os conhecimentos abordados pe-
los componentes curriculares Eles estatildeo mais preocupados com seus espaccedilos e tempos de sociabilidade e
praacuteticas coletivas ou com as muitas vezes repetitivas experiecircncias curriculares
No Caderno II (BRASIL 2013) da Etapa I o item ldquo2 Jovens cultu-ras identidades e tecnologiasrdquo proporcionou reflexotildees acerca dos desafios de compreender o jovem nos cenaacuterios socioculturais contemporacircneos e os muacuteltiplos trajetos possiacuteveis para a existecircncia do tempo de juventude
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
26
Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora temos que reconhecer muitas
vezes atuamos em salas de aula sem sabermos quais satildeo as princi-
pais demandas trazidas pelos jovens estudantes sujeitos do processo
educativo que ainda precisam exercer na praacutetica o protagonismo nos
espaccedilos e tempos escolares
Mas como os professores do Ensino Meacutedio podem conhecer as
demandas de tantos jovens estudantes Haacute tempos e espaccedilos escolares
para tal tarefa Bem como jaacute explicitado natildeo eacute simples atendermos agraves
inuacutemeras atividades que satildeo colocadas aos profissionais da educaccedilatildeo
Entretanto podemos pensar em estrateacutegias que ampliem as leituras
dos nossos estudantes em relaccedilatildeo aos componentes da aacuterea de Ciecircn-
cias Humanas buscando aproximaccedilotildees instigantes entre a realidade
social e as chaves analiacuteticas que destacamos no item anterior
Algumas das marcas mais caracteriacutesticas de nosso tempo satildeo
as constantes intensas e desafiadoras mudanccedilas que atingem distintos
grupos sociais concomitantemente Entre os jovens estudantes as no-
vas tecnologias ndash lanccediladas no mercado em ritmo cada vez mais acele-
rado ndash apresentam apelos consumistas e simboacutelicos capazes de alterar
suas formas de leitura de mundo praacuteticas de conviacutevio comunicaccedilatildeo
participaccedilatildeo poliacutetica e produccedilatildeo de conhecimento interferindo efeti-
vamente no conjunto de suas relaccedilotildees sociais Diante deste cenaacuterio de
mudanccedilas os profissionais da educaccedilatildeo precisam refletir sobre os pro-
jetos pedagoacutegicos em curso reafirmando a preocupaccedilatildeo com a plena
formaccedilatildeo para o exerciacutecio da cidadania fundada na incorporaccedilatildeo dos
elementos culturais como desdobramento do processo de humaniza-
ccedilatildeo
Considerando os procedimentos investigativos mencionados no
item 21 podemos analisar criticamente as potencialidades e os limi-
tes das novas tecnologias Nossos jovens estudantes invariavelmente
muito bem informados e ao mesmo tempo seduzidos pelos equipa-
mentos marcas funcionalidades interfaces aplicativos e demais es-
pecificaccedilotildees teacutecnicas disponibilizadas no mercado podem discorrer
sobre aspectos da cultura digital que ganha forccedila dia apoacutes dia
Por outro lado para noacutes professores a problematizaccedilatildeo das
novas tecnologias eacute uma interessante oportunidade para estabelecer-
mos um diaacutelogo mais proacuteximo com nossos estudantes conhecendo
um pouco mais sobre suas visotildees de mundo expectativas dilemas
anseios
No Caderno II da
Etapa I o item ldquo21 Jo-vens em suas tecnologias digitaisrdquo abordou aspectos importantes que podem ser retomados agora Am-pliaremos a discussatildeo no item ldquo3 O eixo Trabalho CiecircnciaTecnologia e Cul-tura na aacuterea de Ciecircncias Humanasrdquo deste caderno
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
27
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Voltando aos procedimentos investigativos do item anterior ao trabalharmos com as perspectivas
da desnaturalizaccedilatildeo do estranhamento e da sensibilizaccedilatildeo podemos compreender bem como tornar
compreensiacuteveis aos estudantes o impacto cotidiano das novas tecnologias de informaccedilatildeo desde o uso de
celulares e smartphones passando pela produccedilatildeo de conteuacutedos na internet em sites e nas redes sociais
ateacute agraves formas de sociabilidade produzidas historicamente por tais mediaccedilotildees Em suma abrimos uma
possibilidade metodoloacutegica de desenvolver projetos educacionais que abordem a relaccedilatildeo entre as novas
tecnologias e a sociedade possibilitando tanto a compreensatildeo da complexidade do mundo contemporacirc-
neo como tambeacutem permitindo a construccedilatildeo de espaccedilos nos quais o diaacutelogo entre saberes fazeres e visotildees
de mundo distintos possam contribuir para o desenvolvimento integral de todos e de cada um Nesse
sentido os projetos educacionais aproximam-se tambeacutem de diretrizes eacuteticas e poliacuteticas que reafirmam o
papel humanizador da escola na contemporaneidade Eacute dentro desse ambiente escolar pautado por dire-
trizes eacuteticas e poliacuteticas ndash capazes de estimular a reavaliaccedilatildeo das funccedilotildees historicamente constituiacutedas para
as proacuteprias instituiccedilotildees escolares ndash que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de
nossos jovens estudantes
Buscando atender agraves demandas atuais os profissionais da escola puacuteblica brasileira precisam consi-
derar a historicidade dos paradigmas claacutessicos constituiacutedos pela tradiccedilatildeo educacional para estabelecerem
amplos diaacutelogos com os paradigmas emergentes oriundos da complexidade sociocultural contemporacircnea
Os componentes curriculares da aacuterea das Ciecircncias Humanas satildeo fundamentais para a construccedilatildeo
dessa escola puacuteblica capaz tanto de compreender os jovens estudantes como tornaacute-los compreensiacuteveis
a si mesmos Nesse sentido estimular a ldquoimaginaccedilatildeo socioloacutegicardquo ndash que evidentemente natildeo se esgota
no componente curricular da Sociologia ndash implica compreender as relaccedilotildees entre a biografia individual
e o contexto histoacuterico e social mais amplo O desafio da anaacutelise da sociedade eacute tambeacutem um exerciacutecio de
autoconhecimento Atraveacutes desta imaginaccedilatildeo o estudante compreende problematiza e ressignifica sua
proacutepria experiecircncia e a situa no acircmbito de permanecircncias e rupturas em diferentes escalas locais regionais
nacionais e mundial
Eacute nesta perspectiva que podemos situar a sensibilizaccedilatildeo diante de diversas temaacuteticas cotidianas
dentre as quais se destacam as questotildees ambientais as poliacuteticas afirmativas de inclusatildeo as perspectivas de
superaccedilatildeo das diversas formas de desigualdade (socioeconocircmica racial de gecircnero) as formas socio-his-
toacutericas de construccedilatildeo de identidades (culturais religiosas eacutetnico-raciais geograacuteficas etc) Ainda eacute me-
diante a desnaturalizaccedilatildeo da revoluccedilatildeo microeletrocircnica da cultura digital dos processos de globalizaccedilatildeo
dentre outras questotildees que o jovem estudante pode tambeacutem se apropriar de formas de conhecimento que
lhe parecem muitas vezes inacessiacuteveis Por fim eacute por meio do estranhamento do ldquomundordquo dos conheci-
mentos produzidos sobre este ldquomundordquo e dos discursos que o apresentam como ldquoimutaacutevelrdquo (ldquoa vida como
ela eacuterdquo ldquorsquoArsquo realidade eacute essardquo etc) que dialeticamente o jovem estudante pode pocircr em questatildeo a pretensa
ldquoverdade dos fatosrdquo e requisitar uma atuaccedilatildeo criacutetica e emancipadora
Assim constatamos que natildeo faltam desafios agraves instituiccedilotildees escolares aos profissionais da educaccedilatildeo
e aos estudantes e comunidades para a construccedilatildeo de uma escola plural e diversa comprometida natildeo
apenas com a inserccedilatildeo qualificada no mundo do trabalho mas especialmente nas novas configuraccedilotildees e
relaccedilotildees sociais Entendemos que a escola e seus processos educativos natildeo podem ser reduzidos agraves media-
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
28
Ciecircncias Humanas
ccedilotildees estritas do mercado de trabalho Se por um lado natildeo podemos desconsiderar a formaccedilatildeo do sujeito
para a vida social que inclui o mundo do trabalho por outro lado as instituiccedilotildees educacionais tecircm funccedilatildeo
primordial na formaccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e natildeo tutelados capazes de desenvolver autonomia eacutetica e
elevaccedilatildeo esteacutetica e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussatildeo e de articulaccedilatildeo
sociopoliacuteticos solidaacuterios democraacuteticos e participativos
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora como sugestatildeo para o desenvolvimento de um bom trabalho e com
foco no processo de humanizaccedilatildeo sugerimos a realizaccedilatildeo de um exerciacutecio simples com os jovens Peccedila
que eles escrevam (ou utilizem outra forma de expressatildeo mais atraente como um pequeno viacutedeo uma
teatralizaccedilatildeo etc) quais satildeo seus valores atuais seus planos para o futuro e como eles se imaginam daqui
a 10 anos
Acreditamos que com este exerciacutecio simples vocecirc poderaacute se surpreender com a beleza de muitos
sonhos com o valor que estes jovens datildeo a famiacutelia e a escola Esses dados podem ser expostos sem iden-
tificaccedilatildeo dos autores eacute claro mas como forma de valorizar o jeito de cada um Lembre-se que conhecer os
sujeitos da aprendizagem eacute fundamental Poderaacute fazer toda a diferenccedila na conduccedilatildeo das nossas aulas Nos
tornaraacute profissionais mais proacuteximos do que o jovem estudante tambeacutem espera de um professor
Depois de realizar essa accedilatildeo registre as conclusotildees por escrito e socialize no seu grupo de estudo
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
29
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
3 O eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora como eacute de seu conhecimento
as DCNEM apresentam como eixos integradores as dimensotildees do tra-
balho da cultura da ciecircncia e da tecnologia Esses eixos buscam supe-
rar o histoacuterico conflito sobre o papel da escola formar para a cidada-
nia ou para o trabalho produtivo Essas dimensotildees superam inclusive
o peso que as aacutereas do conhecimento tecircm no curriacuteculo e na formaccedilatildeo
dos sujeitos Consideramos o papel das Ciecircncias Humanas de extrema
relevacircncia no desenvolvimento dessas dimensotildees
As Ciecircncias Humanas tecircm na essecircncia dos seus diferentes
componentes curriculares o potencial e a responsabilidade de liderar
reflexotildees importantes no cotidiano escolar Essas reflexotildees satildeo funda-
mentais para a formaccedilatildeo cidadatilde e para a leitura de mundo dos jovens
brasileiros
Professores noacutes que atuamos no Ensino Meacutedio assumimos o
compromisso de trabalhar para a concretizaccedilatildeo do direito dos nossos
estudantes agrave compreensatildeo das inter-relaccedilotildees entre os fenocircmenos so-
ciais e culturais aleacutem da proacutepria construccedilatildeo da ideia de natureza ao
longo do tempo
Os fenocircmenos naturais quando analisados em diversas escalas
permitem aos jovens estudantes perceberem as diferentes visotildees de
mundo e situar-se como integrante dessa comunidade global
Aleacutem disso a aprendizagem dos fenocircmenos da natureza permi-
te o desenvolvimento de atitudes de preservaccedilatildeo que se concretizam
sobre o local manifestando assim uma accedilatildeo cidadatilde
O Parecer CNECEB Nordm 052011 (BRASIL 2011) que dispotildee
sobre as DCNEM ao citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo
(LDB nordm 939496) aponta o Ensino Meacutedio como etapa que deve pos-
sibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores o acesso aos
conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de
explicar o mundo seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e
seus processos produtivos Nesse caso as Ciecircncias Humanas tecircm um
papel primordial pois aleacutem de localizar os estudantes no tempo e no
espaccedilo por meio da dimensatildeo cultural permite dialogar com as espe-
cificidades dos diversos grupos sociais A tecnologia como uma das
dimensotildees auxilia tanto como meacutetodo de abordagem como estrateacutegia
Os novos paradig-mas da modernidade em contexto de mundializaccedilatildeo ou globalizaccedilatildeo segundo Pinto (2005) apresentam uma mudanccedila educacio-nal jaacute que exigem dife-rentes respostas que estatildeo distantes de um uacutenico mo-delo de escola Fazer parte de uma Comunidade Glo-bal parte da compreensatildeo do Planeta como uacutenico e noacutes como integrantes da mesma comunidade humana Sugerimos para aprofundamento
PINTO Luiz Cas-tanheira Educar para uma Cidadania Global Cadernos de InDucar Setembro 2005 p 1-10 Disponiacutevel em
httpwwwinducarptwebpagecontentsptcadteoriaClassesPierre-BourdieuEducacaoNFpdf Acesso em 1382014
Consulte as Dire-trizes Curriculares Nacio-nais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM - no site do MEC Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_docmanamptask=doc_downlo-adampgid=8016ampItemid=
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
30
Ciecircncias Humanas
por tornar menores as distacircncias o mundo mais conectado e a apren-
dizagem mais atraente aos jovens nativos digitais
As DCNEM apontam em uma das suas premissas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico Essa premissa demanda que noacutes profes-sores estejamos empenhados na escolha de estrateacutegias de aprendizado e organizaccedilatildeo das aulas focando sobretudo a forma como os nossos estudantes aprendem Por isso planejar estrateacutegias de investigaccedilatildeo e de pesquisa ultrapassa a pura e simples dimensatildeo do ensino para abranger a aprendizagem significativa duradoura e transformadora Essas atividades desafiam nossos estudantes na busca de respostas para questotildees que provavelmente ainda natildeo foram realizadas Os estudantes passam a ser ativos na construccedilatildeo do seu proacuteprio conheci-mento (BRASIL 2012 p 4)
Essa atitude pode ter iniacutecio na caracterizaccedilatildeo dos diferentes conceitos sobre tempo reconhecendo os tempos histoacutericos ndash homo-gecircneo linear ciacuteclico finito infinito e miacutetico entre outros ndash os quais permitem a percepccedilatildeo do ritmo e a duraccedilatildeo temporal bem como a aprendizagem sobre a forma como as sociedades humanas convivem e se diferenciam ainda que coexistam no mesmo periacuteodo de tempo Jaacute a caracterizaccedilatildeo sobre espaccedilo implica em refletir sobre lugar paisagem territoacuterio e natureza que relacionadas agrave anaacutelise de territoacuterio promo-vem uma visatildeo criacutetica sobre o mundo partindo do seu lugar menor espaccedilo apropriado pelo ser humano
Segundo Milton Santos (1978) o espaccedilo tambeacutem eacute social e per-mite reconhecer suas categorias analiacuteticas internas como a paisagem a configuraccedilatildeo territorial a divisatildeo territorial do trabalho A dimensatildeo do trabalho portanto eacute imprescindiacutevel para auxiliar tanto em estrateacutegias de investigaccedilatildeo como na anaacutelise das transformaccedilotildees locais Nesse sentido os jovens seriam motivados por projetos que buscam fazer a diferenccedila seja na escola com a criaccedilatildeo do grecircmio estudantil seja na comunidade com a coleta seletiva do lixo para ficarmos em alguns exemplos
Nativos digitais - termo empregado pela primeira vez no artigo ldquoDigital Natives Digital Immigrantsrdquo do escritor e designer de jogos na inter-net norte-americano Marc Prensky em 2001 Esse termo ganhou forccedila por-que ajudou a retratar o fe-nocircmeno das crianccedilas e jo-vens que nasceram na era da tecnologia digital Vocecirc pode aprofundar esse tema acessando o portal do MEC no endereccedilo abaixo
httpportaldoprofes-sormecgovbrstoragemate-riais0000012178pdf
O Projeto de ensino e aprendizagem desenvolvido na Escola de En-sino Meacutedio Engordm Annes Gualberto de Imbituba-SC (iniciado em 2013) em parceria com o PIBIDUNISUL foi intitulado pelos estudantes do Ensino Meacutedio Inovador (ProEMI) de Accedilatildeo Verde O projeto se propotildee a auxiliar na formaccedilatildeo integral dos estudantes modificando atitudes na relaccedilatildeo com o meio ambiente levando-os a refletir sobre a produccedilatildeo e seleccedilatildeo de resiacuteduos soacutelidos tanto na escola como na sua casa Os estudantes do ProEMI depois de diagnosticar haacutebitos dos colegas em relaccedilatildeo ao descarte do lixo procu-raram socializar os resultados e sensibilizar a Comunidade Escolar sobre a responsabilidade de cada um na melhoria do ambiente escolar
Para implantar um projeto sobre a reciclagem de lixo na sua Escola sugere-se o site httpwwwlixocombrcontentview135242
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
31
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Afinal nossa interferecircncia cidadatilde acontece de forma mais efetiva no nosso lugar embora a tecnolo-
gia com destaque para as miacutedias sociais amplie em muito o poder de interferecircncia do cidadatildeo Podemos
dizer que ateacute amplia a categoria do lugar
As manifestaccedilotildees sociais que ocorreram no paiacutes a partir de junho de 2013 ndash as chamadas ldquojornadas
de junhordquo ndash foram exemplares do poder de mobilizaccedilatildeo poliacutetica dos jovens brasileiros em torno de diver-
sas questotildees bem como evidenciaram o poder das redes sociais
Dessa forma aproveitar essa energia juvenil para promover pequenas modificaccedilotildees na comunidade
poderaacute ser significativo em sua aprendizagem para a cidadania Segundo o Parecer CNECEB Nordm 52011
que trata sobre as DCNEM precisamos oferecer aos estudantes novas perspectivas culturais para que
possam expandir seus horizontes dotando-os de autonomia intelectual assegurando-lhes o acesso ao co-
nhecimento historicamente acumulado e agrave produccedilatildeo coletiva de novos conhecimentos sem perder de vista
que a educaccedilatildeo tambeacutem eacute em grande medida uma chave para o exerciacutecio dos demais direitos sociais
(BRASIL 2011 p 1)
A Ciecircncia como dimensatildeo para o Ensino Meacutedio auxilia na compreensatildeo da realidade que apesar de
ser empiricamente observaacutevel eacute apreendida e atribuiacuteda de significado A representaccedilatildeo sobre o mundo ou
a natureza eacute decorrente do que pensamos ou expressamos Neste sentido as Ciecircncias Humanas possuem
elementos conceituais para colocar em questatildeo a leitura de mundo por meio de dados cientificamente
interpretaacuteveis
A realidade interpretada pelos sujeitos eacute carregada de signos culturais construiacutedos historicamente
Segundo Fachinetto e Ribeiro (2013) refletir sobre as manifestaccedilotildees sociais na atualidade nos induz a reconstruccedilatildeo dos demais conflitos da socie-dade contemporacircnea o que nos instiga a reconstruir tais processos no acircmbito destas manifestaccedilotildees Assim continuam os autores o entendimento de que o conflito eacute inerente agraves relaccedilotildees sociais e que a sociedade contemporacircnea estaacute perpassada por uma multiplicidade de conflitos sociais nos auxiliaratildeo a compreender e refletir em sala de aula estas questotildees Ver artigo em FACHI-NETTO Rochele Fellini RIBEIRO Vitor Eduardo Alessandri Juventudes manifestaccedilotildees sociais e representaccedilotildees sobre a violecircncia O puacuteblico e o pri-vado nordm 21 JaneiroJunho 2013 Disponiacutevel em
httpwwwseeruecebrjournal=opublicoeoprivadoamppage=articleampop=viewamppa-th5B5D=585 Acesso em 0162013
Segundo Sirgado (2000) os signos culturais foram discutidos por Vi-gotski quando este afirmou que a emergecircncia da atividade simboacutelica consti-tui tanto na histoacuteria da espeacutecie humana quanto na histoacuteria pessoal de cada indiviacuteduo o ponto de passagem do plano natural para o plano cultural (VI-GOTSKI 1997 p 18-19) Esta eacute a questatildeo de fundo das anaacutelises de Vigotski Assim continua o autor a necessidade de mostrar que a funccedilatildeo simboacutelica como toda funccedilatildeo superior ou cultural tem sua origem numa funccedilatildeo natural Portanto os signos culturais refletem como as pessoas significam a sua cultu-ra as suas experiecircncias o que o rodeia Ver mais em SIRGADO Angel Pino O social e o cultural na obra de Vigotski In Revista Educaccedilatildeo e Sociedade Ano XXI nordm 71 jul2000 Disponiacutevel emhttpwwwscielobrpdfesv21n71a03v2171pdf Acesso em 0162013
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
32
Ciecircncias Humanas
Eacute importante criar nas nossas aulas uma fluidez de significados e apontar para a relatividade dos
padrotildees de observaccedilatildeo A partir daiacute podemos aferir o quanto o empiacuterico e o representado se revestem de
subjetividades interpretaccedilotildees e sentidos diversos construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e em suas interfaces
com o natural
Noacutes professores compreendemos que os saberes sociais e os conhecimentos cientiacuteficos envolvem
a circulaccedilatildeo e a ressignificaccedilatildeo e que esses podem ser abordados nos projetos de ensino escolar para
interpretar a cultura das comunidades Trata-se dessa forma de um direito do estudante compreender a
cultura e as suas expressotildees interpretando os seus sentidos mais amplos os processos de construccedilatildeo dos
conhecimentos a constituiccedilatildeo das identidades individuais e coletivas sua estruturaccedilatildeo do mundo social
representaccedilotildees religiosas levando-se em conta os saberes sociais e as produccedilotildees cientiacuteficas
As relaccedilotildees entre indiviacuteduos nas diferentes sociedades satildeo complexas e a sua compreensatildeo no En-
sino Meacutedio permite ao estudante refletir sobre as suas praacuteticas sociais Callai (1999) analisando a impor-
tacircncia dos grupos sociais afirma que
[] o grupo eacute fundamental para a vida No nosso cotidiano ele eacute permanentemen-te vivido Pertencemos a diversos grupos [hellip] Eacute nesse processo de socializaccedilatildeo que estaacute embutido todo o aprendizado Portanto os processos de socializaccedilatildeo e aprendi-zagem satildeo intermediados pelos grupos e eacute essencial para os jovens Daiacute os diferentes grupos formados nas escolas e a importacircncia da percepccedilatildeo sobre essas identidades para a garantia da aprendizagem (CALLAI 1999 p 67)
Aleacutem disso cabe agraves Ciecircncias Humanas a discussatildeo sobre o domiacutenio do privado e do puacuteblico dis-
cussatildeo essa que extrapola os limites do Estado e alcanccedila segmentos expressivos da sociedade civil e suas
instituiccedilotildees ndash associaccedilotildees comunitaacuterias sindicais religiosas e as diversas miacutedias Constituem espaccedilos por
excelecircncia de controveacutersia de discussatildeo e de cidadania e por isso merecem ser objetos de investigaccedilatildeo
e reflexatildeo nas escolas do Ensino Meacutedio Esse debate eacute importante para compreender a necessidade da
garantia da livre manifestaccedilatildeo de interesses ideias crenccedilas valores e comportamentos Derivada desta
relaccedilatildeo podemos pensar por exemplo na relaccedilatildeo entre religiatildeo e Estado e a garantia de laicidade deste
uacuteltimo justamente para garantir a liberdade de pensamento e manifestaccedilatildeo na esfera puacuteblica
Nesse sentido noacutes professores do Ensino Meacutedio precisamos promover atividades formativas que
proporcionem a reflexatildeo sobre os desafios contemporacircneos relacionados agraves novas formas de conviacutevio
toleracircncia e mutualidade identidades e orientaccedilotildees sexuais valores crenccedilas e manifestaccedilotildees religiosas
direitos humanos discriminaccedilotildees de gecircnero cor e etnia entre outros Portanto reconhecer as identidades
as diferenccedilas e os valores de alteridade eacute direito do estudante que poderaacute problematizar os fatores que
contribuem tanto para a reproduccedilatildeo como para a eliminaccedilatildeo das formas de discriminaccedilatildeo social
Outros conceitos primordiais para as Ciecircncias Humanas satildeo a Eacutetica e a Poliacutetica Para a reflexatildeo das
questotildees eacuteticas com os jovens estudantes do Ensino Meacutedio faz-se necessaacuterio relacionaacute-las a conceitos de
bem e de mal de certo e de errado de justiccedila e de injusticcedila e de virtude e viacutecio entre outros Abre-se para
a possibilidade de investigaccedilatildeo sobre as relaccedilotildees poliacuteticas na comunidade agrave qual a escola estaacute localizada
O estudo reflexivo e interpretativo da cultura local regional e nacional agrave luz das relaccedilotildees entre eacutetica e
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
33
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
poliacutetica oferece oportunidade para aprofundar as relaccedilotildees entre o social e o individual o coletivo e o
particular o puacuteblico e o privado
Aleacutem disso o Estado e o Direito tambeacutem satildeo conceitos que norteiam o trabalho dos componentes
curriculares das Ciecircncias Humanas Para alguns componentes curriculares esses conceitos satildeo abordados
com mais ou menos intensidade mas todos os trabalham O vieacutes da cultura pode novamente intermediar
esse conhecimento pois a formaccedilatildeo cidadatilde se subsidia sobre direitos e deveres Direito de forma geneacute-
rica eacute o conjunto de normas entendidas como intransferiacuteveis ao ser humano que devem dentre outras
questotildees assegurar a dignidade da vida e garantir as condiccedilotildees necessaacuterias para seu desenvolvimento em
niacutevel individual e coletivo
O surgimento do Estado moderno na cultura Ocidental ampliou as suas funccedilotildees jaacute que passou a
atuar aleacutem das atividades administrativas e poliacuteticas como regulador da vida puacuteblica da sociedade civil
ateacute entatildeo sob o controle da Igreja Nesse contexto a liberdade de crenccedila religiosa e de expressatildeo de pensa-
mento a manutenccedilatildeo da seguranccedila a preservaccedilatildeo da vida a resistecircncia agrave tirania entre outros passam a ser
apresentados como direitos fundamentais do cidadatildeo que devem ser respeitados pelo Estado (MONDAI-
NI 2009) No entanto a disputa entre diferentes grupos para assumir e ou manter o comando do Estado
deixa com frequecircncia as instituiccedilotildees estatais a serviccedilo de interesses particulares O que provoca muitas
vezes a negaccedilatildeo dos direitos que deveriam ser garantidos pelo Estado
Portanto caro professor cara professora promover a compreensatildeo do caraacuteter contraditoacuterio do Esta-
do das disputas poliacuteticas que envolvem o exerciacutecio e a sucessatildeo do poder os direitos e deveres inerentes
a cada cidadatildeo (civis poliacuteticos econocircmicos culturais ambientais entre outros) a luta constante para a
promoccedilatildeo e a defesa da dignidade humana dentre outras questotildees implica reconhecer valores fundamen-
tais da democracia Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano
da Educaccedilatildeo Baacutesica para a configuraccedilatildeo de uma reflexatildeo a respeito da dignidade da vida em toda a sua
diversidade
A categoria do trabalho para noacutes que atuamos nas Ciecircncias Humanas eacute considerado essencial para
a vida em sociedade Entretanto podemos entender trabalho como uma accedilatildeo pela qual o ser humano trans-
forma o meio em que vive e ao mesmo tempo como um produto das diferentes formas de organizaccedilatildeo
social
O trabalho nas diferentes culturas passou por processos histoacutericos de divisatildeo e hierarquizaccedilatildeo de
institucionalizaccedilatildeo e formalizaccedilatildeo O trabalho eacute distribuiacutedo segundo os interesses de grupos hegemocircni-
cos a partir de referecircncias de classe gecircnero etnia entre outros A categoria trabalho tem sido alvo de
redefiniccedilotildees conceituais quer advindas de anaacutelises empiacutericas sobre as novas configuraccedilotildees da produccedilatildeo
de mercadorias quer dos novos saberes conhecimentos experiecircncias e vivecircncias desvinculados da esfera
produtiva
As categorias trabalho e economia satildeo fundamentais para a compreensatildeo de desigualdades sociais
de relaccedilotildees hieraacuterquicas de formas de estratificaccedilatildeo social (classificaccedilatildeo das pessoas de acordo com seu
poder aquisitivo) de diferenciaccedilatildeo social e da construccedilatildeo de identidades coletivas Nesse caso em diver-
sas atividades formativas nas nossas aulas podemos propor por meio da investigaccedilatildeo a compreensatildeo de
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
34
Ciecircncias Humanas
como o trabalho se expressa na comunidade do entorno da escola Essa accedilatildeo poderaacute gerar reflexotildees criacuteticas
sobre o processo de democratizaccedilatildeo e a construccedilatildeo da cidadania
O trabalho como vimos eacute essencial para a vida e uma caracteriacutestica inerente ao ser humano jaacute que
potencializa as nossas capacidades intelectuais e fiacutesicas Por isso refletir sobre esse tema com os estudan-
tes da Educaccedilatildeo Baacutesica pode gerar a compreensatildeo das distintas condiccedilotildees de trabalho e da distribuiccedilatildeo so-
cial dos seus resultados oferecendo oportunidades para a compreensatildeo da inserccedilatildeo de cada agente social
nas complexas redes de relaccedilotildees econocircmicas em niacutevel local e global
Aleacutem disso destacamos ainda que a compreensatildeo do mundo requer a utilizaccedilatildeo de uma das dimen-
sotildees fundamentais para o Ensino Meacutedio a Ciecircncia No entanto ressaltamos que a Ciecircncia eacute mais do que
erudiccedilatildeo ou saber enciclopeacutedico ou ainda uma disciplina um meacutetodo uma abordagem O conhecimento
cientiacutefico pode ser apresentado ao estudante por meio de estrateacutegias pedagoacutegicas que estimulem a curio-
sidade e o estranhamento desafiando-o a pensar sobre si e sobre o outro Estimular o exame criacutetico em
torno dos paracircmetros cientiacuteficos pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensatildeo sobre ciecircncia e
estruturar as suas praacuteticas cognitivas ampliando a leitura de mundo
A reflexatildeo sobre a ciecircncia tambeacutem tem grande potencial problematizador das condiccedilotildees em que o
conhecimento eacute constituiacutedo e socialmente aceito De modo particular eacute importante destacar que opiniatildeo
e conhecimento expressam diferentes formas de saber humano mas haacute uma continuidade entre eles na
medida em que a opiniatildeo pode alimentar a curiosidade cientiacutefica e a ciecircncia pode se tornar uma opiniatildeo
Dessa forma essa perspectiva permite ao estudante compreender as diversas visotildees do saber que moldam
as nossas crenccedilas e interpretaccedilotildees do mundo
Segundo Milton Santos (1999) vivemos num periacuteodo tecno-cientiacutefico-informacional no qual pode-
se afirmar que a ciecircncia nunca se expandiu tanto em direccedilatildeo agraves suas aplicaccedilotildees tecnoloacutegicas com repercus-
O processo de democratizaccedilatildeo brasileira segundo Kinzo (2001) pode ser comparado a outras experiecircncias autoritaacuterias vivenciadas na mesma eacutepo-ca em outros paiacuteses da Ameacuterica Latina Ainda segundo a autora a demo-cratizaccedilatildeo que se iniciou com a restauraccedilatildeo do governo civil (1985) natildeo foi o produto de uma ruptura com a antiga ordem Ao contraacuterio as antigas e as novas praacuteticas e estruturas se entrelaccedilam numa combinaccedilatildeo que estruturou as opccedilotildees e estrateacutegias seguidas pelos principais atores do processo poliacutetico A autora nos lembrou que o sistema poliacutetico atual possui contornos democraacute-ticos jaacute que o paiacutes ampliou significativamente as condiccedilotildees de contestaccedilatildeo puacuteblica e participaccedilatildeo poliacutetica No entanto ainda temos um longo processo de construccedilatildeo da democracia assim como a cidadania pois temos problemas na ldquoqualidaderdquo da contestaccedilatildeo puacuteblica e da participaccedilatildeo do cidadatildeo quanto ao funcionamento efetivo do processo decisoacuterio democraacutetico Vocecirc concor-da Como essa afirmaccedilatildeo pode ser vista no Brasil atualmente Ver mais em
KINZO M D G A democratizaccedilatildeo brasileira um balanccedilo do proces-so poliacutetico desde a transiccedilatildeo Satildeo Paulo Perspec [online] vol15 n4 2001 p 3-12 Disponiacutevel em
httpdxdoiorg101590S0102-88392001000400002 Acesso em 1382014
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
35
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
O periacuteodo teacutecnico-cientiacutefico-informacional eacute definido por Milton Santos (1999) a partir de Richta (RICHTA R La civiliza-tion au carrefour Paris Anthropos 1968) como o periacuteodo atual da histoacuteria da sociedade Esse periacuteodo se iniciou apoacutes a II Guerra Mundial e se intensificou apoacutes 1970 Nesse periacuteodo a teacutecnica e a ciecircncia natildeo soacute se aproximaram mas sua produccedilatildeo e capacidade de inovaccedilatildeo foram intensifi-cadas gerando profundas modificaccedilotildees no mercado que se torna cada vez mais mundializado Todo esse processo facilitado e po-tencializado pela grande capacidade de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo Ver mais em SANTOS Milton A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
sotildees comportamentais ideoloacutegicas educacionais e econocircmicas De tal
modo que hoje se torna cada vez mais comum referir-se a ambas como
sendo uma uacutenica coisa a chamada tecno-ciecircncia Por isso professores
eacute importante lembrarmos que a relaccedilatildeo entre ciecircncia e tecnologia tem
impactos no conhecimento sistemaacutetico sobre o mundo e sobre a proacutepria
natureza Com as tecnologias muitas das limitaccedilotildees humanas satildeo ven-
cidas a soluccedilatildeo de problemas satildeo mais raacutepidas e eficazes de tal ordem
que aumentam a capacidade produtiva e poderiam melhorar a vida na
Terra Entretanto o seu uso tambeacutem pode provocar seacuterios problemas
para a natureza e para a sociedade como o aumento da desigualdade
social com a ampliaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de renda caso a sociedade
natildeo conquiste a sua cidadania
Essa contradiccedilatildeo provoca a reflexatildeo sobre a emergecircncia do su-
jeito da histoacuteria e da sociedade tornando mais complexa as redes con-
ceituais que procuram dar conta do humano A condiccedilatildeo humana es-
sencial para a nossa aacuterea do conhecimento se manifesta como condiccedilatildeo
do sujeito da subjetividade jaacute que ambos se materializam na histoacuteria
compreendida como vivecircncia e como conhecimento inerente agraves accedilotildees
de sujeitos em suas diferenccedilas nos diversos tempos e espaccedilos Desta-
camos ainda a necessidade de levantarmos as questotildees de gecircnero de
etnias de religiatildeo e de sexualidade entre outras jaacute que satildeo temas que
interferem direta ou indiretamente no processo de humanizaccedilatildeo na
afirmaccedilatildeo ou negaccedilatildeo dos direitos humanos
A humanizaccedilatildeo requer o reconhecimento do patrimocircnio cultu-
ral valorizando as histoacuterias e as memoacuterias da sociedade que o cons-
Segundo Carrara (2009) a reflexatildeo sobre gecircnero raccedila etnia e sexu-alidade possui uma fragmentaccedilatildeo no entanto tambeacutem estatildeo intimamente imbricados na vida social e na histoacuteria das sociedades ocidentais e portanto necessitam de uma abordagem conjunta A adoccedilatildeo dessa temaacutetica em sala de aula segundo o autor justifica-se eticamente jaacute que o processo de natu-ralizaccedilatildeo das diferenccedilas eacutetnico-raciais de gecircnero ou de orientaccedilatildeo sexual que marcou os seacuteculos XIX e XX restringiu o acesso agrave cidadania a negros indiacutegenas mulheres e homossexuais A atitude que precisamos promover vai aleacutem da simples toleracircncia mas por meio do conhecimento podemos sensi-bilizar para atitude de respeito a todas as diferenccedilas Ver mais em
BRASIL Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em Gecircnero Orientaccedilatildeo Sexual e Relaccedilotildees Eacutetnico-Raciais Livro de con-teuacutedo Versatildeo 2009 Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009 Dispo-niacutevel em
httpestaticocnpqbrportalpremios2013igpdfgenero_diversidade_esco-la_2009pdf Acesso em 0162013
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
36
Ciecircncias Humanas
truiu seja ele material ou imaterial Nesse sentido sensibilizar o es-
tudante
do Ensino Meacutedio para perceber a diversidade cultural e religio-
sa eacute garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressatildeo eacute
assegurar as condiccedilotildees para despertar o desejo e interesse pelo conhe-
cimento das histoacuterias e memoacuterias pessoais e coletivas
A memoacuteria em sua relaccedilatildeo com o tempo constroacutei as subjetivi-
dades e as identidades permite levantar questotildees sobre a constituiccedilatildeo
de tradiccedilotildees e de patrimocircnios A investigaccedilatildeo de como a memoacuteria e o
esquecimento satildeo dinacircmicas presentes na criaccedilatildeo de valores e de for-
mas de vida podem auxiliar os jovens na busca de sua identidade e na
valorizaccedilatildeo da sua comunidade
Assim caro professor cara professora temos a certeza de que
a construccedilatildeo da cidadania soacute existe com a valorizaccedilatildeo do patrimocircnio
cultural de uma dada comunidade regiatildeo e naccedilatildeo Natildeo se preserva
um patrimocircnio desconhecido Por isso as Ciecircncias Humanas tem um
papel fundamental na construccedilatildeo da cidadania dos brasileiros quando
auxiliam no processo de reconhecimento e valorizaccedilatildeo dos saberes e
das identidades dos estudantes e de seus familiares
Destacamos ainda a importacircncia de auxiliarmos na formaccedilatildeo
esteacutetica dos nossos jovens pois eacute por ela que os seres se constituem
no processo humano fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI 2007)
A arte portanto comunica os sentimentos as ideias as sensaccedilotildees as
percepccedilotildees e as accedilotildees produzidas pelos indiviacuteduos e pelas sociedades
em diferentes espaccedilos e tempos
Para Freire (2000) a educaccedilatildeo como processo contiacutenuo pode
criar o belo Nesse sentido a arte favorece entre outras coisas a com-
preensatildeo da cultura envolve as dimensotildees eacuteticas e esteacuteticas de seu
tempo O estudo e a compreensatildeo dessas dimensotildees satildeo fundamentais
para a criticidade da anaacutelise do produto cultural As questotildees se des-
dobram para a avaliaccedilatildeo da arte e da cultura na sociedade contemporacirc-
nea suas condiccedilotildees de difusatildeo e produccedilatildeo a potencialidade dos meios
de comunicaccedilatildeo em pautar o gosto artiacutestico a relaccedilatildeo entre ldquocultura
popularrdquo e ldquocultura eruditardquo os coacutedigos impliacutecitos no processo cogni-
tivo da apreciaccedilatildeo esteacutetica ou ainda a relaccedilatildeo entre gosto e estratifica-
ccedilatildeo social dentre outras possibilidades
Por patrimocircnio cul-tural apreende-se o que a Constituiccedilatildeo Brasileira de 1988 no artigo 216 seccedilatildeo II conceitua ldquo[] os bens de natureza ma-terial e imaterial tomado individualmente ou em conjunto portadores de referecircncia agrave identidade agrave accedilatildeo agrave memoacuteria dos dife-rentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem I formas de expressatildeo II modos de criar fazer e viver III criaccedilotildees cientiacute-ficas artiacutesticas e tecnoloacute-gicas IV obras objetos documentos edificaccedilotildees e demais espaccedilos desti-nados agraves manifestaccedilotildees artiacutestico-culturais V con-juntos urbanos e siacutetios de valor histoacuterico paisagiacutesti-co artiacutestico arqueoloacutegico paleontoloacutegico ecoloacutegico e cientiacuteficordquo Acreditamos que por meio da valori-zaccedilatildeo do patrimocircnio cul-tural de uma comunidade podemos auxiliar na for-maccedilatildeo da cidadania Para valorizar algo precisamos conhecer pois soacute amamos o que conhecemos Natildeo eacute mesmo
Ver mais no site
httpportaliphangovbr
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
37
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Para Neitzel e Car-valho (2013) a formaccedilatildeo esteacutetica leva-nos ao refi-namento dos nossos sen-tidos Em especial para os professores e profissionais da educaccedilatildeo permite en-tendermos a escola como um espaccedilo de conheci-mento mas tambeacutem de um saber sensiacutevel Essa compreensatildeo segundo os autores revela uma con-cepccedilatildeo de educaccedilatildeo como um processo formativo do humano O profissional que possuir essa forma-ccedilatildeo esteacutetica colabora para o desenvolvimento dos sentidos e dos significa-dos nos estudantes funda-mentais para apropriaccedilatildeo de uma sensibilidade Ver mais em NEITZEL A de A CARVALHO C A esteacutetica na formaccedilatildeo de professores Rev Diaacutelo-go Educ Curitiba v 13 n 40 p 1021-1040 setdez 2013 Disponiacutevel em www2pucprbrreolindexphpDIALOGOd-d1=12306ampdd99=pdf Aces-so em 0162014
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caros professores caras professoras sugerimos uma atividade
que possibilite refletir acerca das mudanccedilas que envolvem os proces-
sos de seleccedilatildeo de conteuacutedos e conhecimentos e elaboraccedilatildeo de accedilotildees
curriculares
Para isso vocecirc pode consultar e comparar livros didaacuteticos dis-
tintos Legislaccedilatildeo Educacional de diferentes instacircncias (Municipal
Estadual Federal) entrevistar e conversar com professores mais ex-
perientes dentre outras possibilidades com o objetivo de identificar
mudanccedilas e permanecircncias nos conteuacutedos ensinados Registre num
texto suas principais conclusotildees
Com base nestas reflexotildees e levando em conta os exerciacutecios
feitos ao final das Unidades 1 e 2 planeje uma accedilatildeo curricular que
considere a realidade especiacutefica de seus estudantes e uma abordagem
interdisciplinar entre diferentes componenentes curriculares Entenda-
se por ldquoaccedilatildeo curricularrdquo uma sequecircncia didaacutetica uma unidade progra-
maacutetica um trabalho de campo um projeto de ensino etc
Este planejamento deveraacute ser registrado e entregue
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
38
Ciecircncias Humanas
4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na Aacuterea de Ciecircncias Humanas
Caro professor cara professora a seleccedilatildeo e compreensatildeo dos principais conceitos mobilizados pe-
los componentes curriculares das Ciecircncias Humanas satildeo accedilotildees essenciais no processo de ensino e apren-
dizagem Como foi argumentado na unidade anterior a partir do eixo Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecno-
logia essas accedilotildees se articulam diretamente agrave escolha e agrave problematizaccedilatildeo de temas questotildees e conteuacutedos
significativos Esses procedimentos certamente centrais nas praacuteticas docentes satildeo na verdade ponto de
partida Se eles designam ldquoo que ensinaro que aprenderrdquo eacute fundamental articulaacute-lo com o ldquocomo ensinar
como aprenderrdquo
Nessa reflexatildeo sobre as maneiras de fazer sistematizadas na unidade quatro desse Caderno haacute
tambeacutem muitas escolhas a serem realizadas Temos em mente que as dificuldades natildeo satildeo poucas a par
das condiccedilotildees adversas de trabalho em muitas escolas das redes puacuteblicas de ensino no Brasil vivenciadas
cotidianamente Essas natildeo podem ser menosprezadas ou ignoradas afinal nas escolas temos ldquogente de
verdaderdquo entre professores estudantes funcionaacuterios e gestores
Nesse ponto os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas tecircm muito a oferecer Ao lidar
com tudo que afeta a accedilatildeo dos sujeitos humanos no mundo as Ciecircncias Humanas as investigam e ques-
tionam de formas variadas possibilitando aos estudantes em particular a compreensatildeo criacutetica de si e do
outro das configuraccedilotildees e relaccedilotildees sociais de praacuteticas e valores culturais na tentativa de protagonizar
atitudes transformadoras e eacuteticas Busca-se pelo conhecimento reflexivo e criacutetico baseado na desna-
turalizaccedilatildeo no estranhamento e na sensibilizaccedilatildeo como argumentado na unidade dois desse Caderno
entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicaccedilotildees de nossas escolhas morais poliacuteticas
religiosas juriacutedicas
Paulo Freire (1986) nos lembrou diversas vezes em vaacuterias obras que a leitura do mundo precede a
leitura das palavras apontando para a dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo nos alertando sobre a
escola e suas funccedilotildees no ato de ler compreender e interferir na realidade
Sobre a leitura do mundo indicamos as seguintes consideraccedilotildees de Freire
ldquoO que eacute que eu quero dizer com dicotomia entre ler as palavras e ler o mundo Minha impressatildeo eacute que a escola estaacute aumentando a distacircncia entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos Nessa dicotomia o mundo da leitura eacute soacute o mundo do processo de escolarizaccedilatildeo um mundo fechado isolado do mundo onde vivemos experiecircncias sobre as quais natildeo lemos Ao ler palavras a escola se torna um lugar especial que nos ensina a ler apenas as ldquopalavras da escolardquo e natildeo as ldquopalavras da realidaderdquo O outro mundo o mundo dos fatos o mundo da vida o mundo no qual os eventos estatildeo muito vivos o mundo das lutas o mundo da discriminaccedilatildeo e da crise econocircmica (todas essas coisas estatildeo aiacute) natildeo tem contato algum com os alunos na escola atraveacutes das palavras que a escola exige que eles leiam Vocecirc pode pensar nes-sa dicotomia como uma espeacutecie de ldquocultura do silecircnciordquo imposta aos estudan-tes A leitura da escola manteacutem silecircncio a respeito do mundo da experiecircncia e o mundo da experiecircncia eacute silenciado sem seus textos criacuteticos proacutepriosrdquo (FREIRE 1986 p 164)
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
39
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Ao dialogar com Paulo Freire podemos perceber como a escola por vezes manteacutem uma ldquocultura
do silecircnciordquo ou seja o distanciamento com relaccedilatildeo agraves vivecircncias experiecircncias e expectativas dos estudan-
tes dos grupos e comunidades nas quais se inserem Romper com essa ldquocultura do silecircnciordquo ouvir aten-
tamenteas muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender eacute uma das contribuiccedilotildees fundamentais
que as Ciecircncias Humanas podem oferecer
No Artigo 13 das DCNEM satildeo indicadas orientaccedilotildees para as proposiccedilotildees curriculares das unidades
escolares
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM devem na medida do possiacutevel ser contemplados pelas
praacuteticas curriculares das diversas aacutereas de conhecimento Para as Ciecircncias Humanas em especial a tema-
tizaccedilatildeo dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalizaccedilatildeo possuem centralidade no plane-
jamento do que e do como ensinar tendo em vista a promoccedilatildeo do ldquorespeito a esses direitos e agrave convivecircncia
humanardquo (item IV)
O trabalho como princiacutepio educativo (item II) e como uma das dimensotildees do eixo integrador de
conhecimentos das diversas aacutereas - Linguagens Matemaacutetica Ciecircncias da Natureza e Ciecircncias Humanas
(item I) foram aspectos abordados nesse Caderno na unidade trecircs
Art 13 As unidades escolares devem orientar a definiccedilatildeo de toda proposiccedilatildeo curricular fundamentada na seleccedilatildeo dos conhecimentos com-ponentes metodologias tempos espaccedilos arranjos alternativos e formas de avaliaccedilatildeo tendo presente
I - as dimensotildees do trabalho da ciecircncia da tecnologia e da cultura como eixo integrador entre os conhecimentos de distintas naturezas con-textualizando-os em sua dimensatildeo histoacuterica e em relaccedilatildeo ao contexto social contemporacircneo
II - o trabalho como princiacutepio educativo para a compreensatildeo do pro-cesso histoacuterico de produccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica desenvolvida e apro-priada socialmente para a transformaccedilatildeo das condiccedilotildees naturais da vida e a ampliaccedilatildeo das capacidades das potencialidades e dos sentidos humanos
III - a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico possibilitando que o estu-dante possa ser protagonista na investigaccedilatildeo e na busca de respostas em um processo autocircnomo de (re)construccedilatildeo de conhecimentos
IV - os direitos humanos como princiacutepio norteador desenvolvendo-se sua educaccedilatildeo de forma integrada permeando todo o curriacuteculo para promo-ver o respeito a esses direitos e agrave convivecircncia humana
V - a sustentabilidade socioambiental como meta universal desenvol-vida como praacutetica educativa integrada contiacutenua e permanente e baseada na compreensatildeo do necessaacuterio equiliacutebrio e respeito nas relaccedilotildees do ser humano com seu ambiente (BRASIL 2012 p 197)
Disponiacutevel em
httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=12663ampItemid=1152
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
40
Ciecircncias Humanas
A pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico (item III) eacute o foco das reflexotildees e proposiccedilotildees dessa unidade
quatro Alguns exemplos e discussotildees sobre a pesquisa em Ciecircncias Humanas como vocecircs professores
e professoras podem perceber jaacute foram elencados Vale contudo acrescentar mais algumas ecircnfases e
sistematizaccedilotildees
No caso dos componentes curriculares das Ciecircncias Humanas as tradiccedilotildees disciplinares abordadas
na unidade um informaram a constituiccedilatildeo de praacuteticas investigativas particulares para aleacutem de temas
conceitos objetos e teorias mais afeitas a determinados conhecimentos do que a outros Aspecto que nas
suas particularidades condiciona os saberes as culturas e as disciplinares escolares
Natildeo se pretende vale repetir negar essas tradiccedilotildees disciplinares mas repensaacute-las e a partir delas
realizar como projeto pedagoacutegico e didaacutetico praacuteticas interdisciplinares e contextualizadas Dessa forma
nessa unidade vamos dialogar com as possibilidades de abordagens curriculares lembrando sempre que
as mesmas deveratildeo servir para que haja a construccedilatildeo de novas abordagens nas escolas mobilizadas pelos
planejamentos integrados dos professores agrave luz das DCNEM em consonacircncia com o projeto poliacutetico-pe-
dagoacutegico das respectivas unidades escolares
A organizaccedilatildeo curricular em aacutereas do conhecimento pressupotildee planejamento em equipe ndash a metaacutefo-
ra do canto coral sugerido na introduccedilatildeo ndash na qual os professores iratildeo reconhecer diante dos temas pro-
postos as abordagens dos seus componentes curriculares Indicaremos entatildeo de forma sinteacutetica como
os componentes curriculares das Ciecircncias Humanas podem interagir entre si e com as demais aacutereas de
conhecimento
A Histoacuteria a Geografia a Filosofia e a Sociologia cada uma a sua maneira tecircm muito a dizer ao
realizarem a reflexatildeo criacutetica compreensiva e dialoacutegica sobre as vidas que sujeitos humanos experiencia-
ram em diversas temporalidades e espacialidades E complementemos tecircm muito a ouvir e a aprender
com os estudantes professores e gestores com os quais convivemos nas instituiccedilotildees educacionais A se-
guir tecemos algumas consideraccedilotildees sobre possibilidades de abordagens em cada um dos componenentes
curriculares da aacuterea de Ciecircncias Humanas e inter-relaccedilotildees entre eles
Para a especificidade da Geografia faz-se necessaacuteria a compreensatildeo do espaccedilo geograacutefico con-
cretizado nas relaccedilotildees entre natureza e sociedade A complexidade do espaccedilo geograacutefico em diferentes
escalas geograacuteficas requer a interdisciplinaridade para que haja interpretaccedilatildeo da realidade Um aspecto
caro agrave Geografia eacute a compreensatildeo da formaccedilatildeo ou da gecircnese ou ainda da origem de qualquer fenocircme-
no geograacutefico pois tempo e espaccedilo satildeo conceitos indissociaacuteveis Aleacutem disso conceitos tais como lugar
paisagem regiatildeo territoacuterio e natureza entre outros expressam a dinacircmica e por sua vez a dificuldade na
interpretaccedilatildeo do espaccedilo geograacutefico No entanto sua apropriaccedilatildeo permite o entendimento das questotildees
locais e mundiais
Dentre as possibilidaddes mais significativas para o ensino da Geografia estatildeo as saiacutedas a campo e a
apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica que apesar das dificuldades logiacutesticas para sua organizaccedilatildeo contri-
buem para ampliar a percepccedilatildeo socioespacial incentivar a interdisciplinaridade e conferir significado aos
conhecimentos Esta estrateacutegia aleacutem de viabilizar o estudo do lugar valoriza as experiecircncias dos estudan-
tes materializa os temas abordados pela Geografia por meio da articulaccedilatildeo entre teoria e a praacutetica Nesse
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
41
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
contexto caro professor cara professora viabilizamos a compreensatildeo
do lugar como categoria de anaacutelise geograacutefica fundamental pois nele
concretizamos a organizaccedilatildeo espacial resultado da relaccedilatildeo entre na-
tureza e sociedade mediada pela ciecircncia e pela teacutecnica No entanto
ressaltamos que a organizaccedilatildeo de saiacutedas a campo satildeo mais eficazes
quando envolvem diversos componentes curriculares e mobilizam os
jovens estudantes por meio de processos investigativos
A apropriaccedilatildeo da linguagem cartograacutefica muitas vezes me-
nosprezada nos curriacuteculos escolares permite o aprimoramento do ra-
ciociacutenio e provoca reflexotildees espaciais fundamentais para a formaccedilatildeo
cidadatilde No entanto a aquisiccedilatildeo dessa linguagem exige o domiacutenio de
alguns conceitos instrumentos e processos destinados a mediar a ca-
pacidade de operar com dados das realidades produzindo significados
e relaccedilotildees imprescindiacuteveis para compreender e intervir nos diferentes
contextos A compreensatildeo da cartografia exige recursos teacutecnicos que
estatildeo para aleacutem da aacuterea de Ciecircncias Humanas com destaque para o
papel da Matemaacutetica por meio da noccedilatildeo de proporcionalidade medi-
da e estatiacutestica entre outros conhecimentos que auxiliam na interpre-
taccedilatildeo da realidade
As questotildees ambientais oferecem boas oportunidades para de-
senvolver abordagens interdisciplinares Essas questotildees extrapolam o
conhecimento das Ciecircncias Humanas jaacute que as Ciecircncias da Natureza
em especial auxiliam na compreensatildeo dos aspectos fiacutesicos quiacutemi-
cos e bioloacutegicos das grandes questotildees ambientais Do mesmo modo
ganha importacircncia o emprego de tecnologias de informaccedilatildeo e comu-
nicaccedilatildeo (TICs) como por exemplo a utilizaccedilatildeo de filmes documen-
taacuterios sites e softwares que permitem a vivecircncia e a interpretaccedilatildeo de
fenocircmenos naturais e sociais que estatildeo geograficamente distantes da
realidade dos estudantes
A Filosofia como componente curricular no Ensino Meacutedio
deve oportunizar aos jovens estudantes experiecircncias de pensamento
conceitual no qual possam interpretar e criticar as diferentes mani-
festaccedilotildees humanas Os desafios que se apresentam na sociedade poacutes-
moderna fazem da Filosofia uma importante aliada para resistir agrave des-
mobilizaccedilatildeo da reflexatildeo da compreensatildeo e da criacutetica Assim a partir
desses desafios cabe agrave Filosofia integrar-se aos demais componentes
das Ciecircncias Humanas e criar as condiccedilotildees para que o estudante apro-
funde o conhecimento de si do outro e do seu contexto cultural Para
alcanccedilar esse objetivo o exerciacutecio da leitura de textos filosoacuteficos eacute
O poacutes-modernismo relaciona-se agraves mudanccedilas ocorridas nas ciecircncias nas artes e nas socieda-des avanccediladas desde 1950 quando por convenccedilatildeo se encerra o modernismo (1900-1950) Ele nasce com a arquitetura e a com-putaccedilatildeo nos anos 1950 Toma corpo com a arte Pop nos anos 1960 Cresce ao entrar pela filosofia du-rante os anos 1970 como criacutetica da cultura ociden-tal E amadurece hoje alastrando-se na moda no cinema na muacutesica e no cotidiano programado pela tecnociecircncia (ciecircncia + tecnologia invadindo o cotidiano desde alimentos processados ateacute micro-computadores) sem que ningueacutem saiba se eacute deca-decircncia ou renascimento cultural (cf SANTOS 1987 p 8) Na filosofia as avaliaccedilotildees do pensamento poacutes-moderno satildeo bastan-te controversas Um dos principais participantes desse debate no Brasil eacute o diplomata e filoacutesofo Seacuter-gio Paulo Rouanet para quem os ldquoprofetas da poacutes-modernidade filosoacuteficardquo (a saber Nietzche Heide-gger Derrida e Foucault) ldquoanunciam o reino do frag-mento contra toda a totali-zaccedilatildeo do descontiacutenuo e do muacuteltiplo contra a teleolo-gia das grandes narrativas e o terrorismo das grandes siacutenteses do particular con-tra o geral do corpo contra a razatildeo Em breve Dioniacute-sio poderaacute voltar do exiacute-liordquo (ROUANET 1987 p 246)
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
42
Ciecircncias Humanas
uma estrateacutegia fundamental Os textos filosoacuteficos conteacutem o registro daquilo que unicamente se pode cha-
mar sem nenhum equiacutevoco ldquofilosofiardquo Todos os demais usos de adjetivos desse termo ndash reflexatildeo filosoacute-
fica atividade filosoacutefica praacutetica filosoacutefica etc ndash para que tenham algum sentido devem ser remetidos a
uma tradiccedilatildeo do passado ou do presente materializada em algum tipo de registro literaacuterio Por isso esses
registros isto eacute os textos filosoacuteficos oferecem um acesso privilegiado ao exerciacutecio da Filosofia incorpo-
rando a sua histoacuteria e revelando as suas possibilidades
Outra abordagem imprescindiacutevel na educaccedilatildeo para a reflexatildeo filosoacutefica eacute o exerciacutecio da autoria no
qual os estudantes satildeo estimulados a produzir seus textos e discursos em diaacutelogo com os textos estudados
Assim o exerciacutecio da autoria eacute entendido como uma atitude de apropriaccedilatildeo do novo articulado agrave maneira
criativa do jovem se expressar O diaacutelogo valoriza o exerciacutecio coletivo do confronto de ideias e da auto-
criacutetica condiccedilotildees para um pensamento anti-dogmaacutetico e problematizador Esse exerciacutecio gera como ne-
nhum outro a educaccedilatildeo para a democracia onde satildeo imprescindiacuteveis o respeito agraves ideias divergentes e a
convivecircncia entre os diferentes
No que diz respeito ao ensino de Histoacuteria vale lembrar que o ato de contar e ouvir histoacuterias eacute
um dos mais antigos desde que seres humanos adquiriram a linguagem oral Caberia entatildeo indagar a
Histoacuteria como conhecimento e componente curricular do Ensino Meacutedio poderia integrar a aacuterea de Lin-
guagens Independente da resposta a ser formulada a indagaccedilatildeo nos serve na medida de anunciar que
o pertencimento da Histoacuteria agrave aacuterea de Ciecircncias Humanas natildeo exclui ou minimiza seus diaacutelogos com
conhecimentos das outras aacutereas
Todos os conhecimentos possuem histoacuteria Nenhuma teoria se estabelece enquanto tal se natildeo se
remeter agraves maneiras e procedimentos como determinados fenocircmenos naturais e culturais vieram a ser
Quando se articula um ensino centrado na histoacuteria da filosofia e na leitura de qualquer um dos seus textos fundadores eacute grande o risco de redu-zir as aulas a meras explicaccedilotildees de sistema filosoacuteficos e de seus argumentos centrais Os exemplos claacutessicos satildeo entre outros o mito da caverna de Pla-tatildeo o argumento do cogito de Descartes a dialeacutetica do senhor e do escravo de Hegel ou a teoria das revoluccedilotildees cientiacuteficas de Kuhn Para evitar que as aulas se reduzam ao que Siacutelvio Gallo chamou de ldquoexerciacutecio da maacutequina explicadorardquo eacute preciso que o professor de filosofia se compreenda nas pa-lavras do mesmo autor como ldquoaquele que faz a mediaccedilatildeo de uma primeira relaccedilatildeo com a filosofia que instaura um novo comeccedilo para entatildeo sair de cena e deixar que os alunos sigam suas proacuteprias trilhasrdquo (GALLO 2010 p 164) Na funccedilatildeo de mediadores tanto o professor quanto os recursos di-daacuteticos por ele mobilizados (textos discursos filmes muacutesicas etc) devem favorecer a emergecircncia do problema entendido como o comeccedilo de todo exerciacutecio filosoacutefico sobretudo para os que nele se iniciam ldquoO problema eacute aquele incocircmodo que perturba o filoacutesofo que natildeo lhe permite descansar que o faz aventurar-se no pensamento e fabricar os conceitos Em O que eacute a filosofia Deleuze afirmou que lsquonatildeo se criam conceitos a natildeo ser em funccedilatildeo dos problemas que se consideram malvistos ou mal colocadosrsquordquo (GALLO 2012 p 70)
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
43
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
explicados compreendidos e significados Por vezes reflexotildees so-
bre a histoacuteria das ciecircncias satildeo pouco mobilizadas em determinados
componentes curriculares com mais recorrecircncia na Matemaacutetica e
nas Ciecircncias da Natureza Um ponto a ser pensado e discutido caras
professoras e professores refere-se a sugestotildees sobre como realizar
accedilotildees curriculares em que as histoacuterias dos conhecimentos cientiacuteficos
sejam discutidas com os estudantes interferindo nas possibilidades
desse estudante protagonizar pesquisas temaacuteticas
Se as aulas laboratoriais satildeo de enorme importacircncia nas Ciecircncias da Natureza o mesmo com as devidas adequaccedilotildees e cuidados pode ser aplicado para a Histoacuteria e outros componentes curriculares das Ciecircncias Humanas e das Linguagens
Em manuais didaacuteticos por vezes figuram propostas centradas no exerciacutecio da criacutetica documental Muitos professores e professoras mobilizam de maneira criativa e autoral esse procedimento em suas aulas e atividades pedagoacutegicas Acreditamos ser necessaacuterio tornar esse procedimento mais central nas formas de ensinar e aprender Histoacuteria Tematizar o conceito de documento histoacuterico possibilita variadas ini-ciativas curriculares A primeira delas eacute caracterizaacute-lo situando sua diversidade de formas e conteuacutedos na qualidade de registro das muitas accedilotildees pensamentos e percepccedilotildees de indiviacuteduos grupos e sociedades em distintas espacialidades e temporalidades
Dos monumentos preacutedios e conjuntos arquitetocircnicos agraves fotos que os estudantes postam nas redes sociais todos cada um a sua ma-neira se inserem na qualidade de documento histoacuterico Um cuidado particular eacute sempre situar ldquoquemrdquo (autoria) ldquoquando e onderdquo (tem-poralidadeespacialidade) ldquocomo e em quais condiccedilotildeesrdquo (interesses e intencionalidades dos sujeitoscontexto) como procedimentos para a criacutetica documental em Histoacuteria
Um tema importante dos conteuacutedos da Histoacuteria ndash A Revoluccedilatildeo In-dustrial ndash pode ser problematizado e estudado tendo em vista suas relaccedilotildees entre as mudanccedilas dos conhecimentos da Fiacutesica da Quiacutemica da Biologia e da Matemaacutetica e a difusatildeo dos processos de mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo e do transporte em diversas sociedades suas implicaccedilotildees nos ritmos da vida e na divisatildeo do trabalho O filme claacutessico de Charles Chaplin ndash Tempos Moder-nos ndash eacute um ponto de partida para essas discussotildees
As guerras do seacuteculo XX satildeo tambeacutem conteuacutedos que podem ser abor-dados por meio do estudo das teacutecnicas conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacute-gicos mobilizados naquelas circunstacircncias Os filmes viacutedeos e documentaacute-rios fotos entrevistas disponibilizados na internet e em outras miacutedias sobre tais acontecimentos podem ser utilizados com farto material relacionado a conflitos atuais ndash Ucracircnia Israel-Palestina entre outros
Eacute recomendaacutevel criar laboratoacuterios associa-dos agrave produccedilatildeo de textos e de viacutedeos Os mesmos po-dem possuir seus espaccedilos de divulgaccedilatildeo por meio de blogs siacutetios ou paacuteginas nas redes sociais Reco-menda-se por exemplo uma busca na internet so-bre os projetos do Progra-ma Institucional de Bolsas de Iniciaccedilatildeo agrave Docecircncia da Capes (PibidCapes) nos quais estas e outras praacuteticas pedagoacutegicas satildeo experimentadas
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
44
Ciecircncias Humanas
Nesse sentido os saberes conhecimentos vivecircncias e experiecircncias dos estudantes em seus am-
bientes socioculturais devem ser utilizados para promover a reflexatildeo a respeito das identidades das cren-
ccedilas das atitudes das visotildees de mundo A mobilizaccedilatildeo das histoacuterias de vida por meio da construccedilatildeo e
criacutetica de narrativas biograacuteficas autobiograacuteficas e testemunhais envolvendo estudantes e demais sujeitos
que atuam nos espaccedilos escolares e suas respectivas comunidades possibilitam caracterizar e estudar a
complementaridade das relaccedilotildees entre indiviacuteduo e sociedade puacuteblico e privado subjetividade e humani-
dade tendo em vista questotildees eacuteticas desafios e impasses poliacuteticos da atualidade
A Sociologia eacute uma ciecircncia eminentemente reflexiva Enquanto em outras aacutereas de conhecimento eacute
possiacutevel haver eventualmente um exerciacutecio de reflexatildeo acerca da historicidade de seus conceitos e teo-
rias tal reflexividade eacute fundamental para a Sociologia Suas ferramentas de anaacutelise satildeo formuladas a partir
e concomitantemente agrave leitura do mundo social e de dilemas especiacuteficos das configuraccedilotildees das sociedades
contemporacircneas O que ldquosabemosrdquo usualmente sobre a sociedade bem como a forma como expressamos
esse saber ndash opiniotildees julgamentos de valor gostos esteacuteticos preferecircncias poliacuteticas orientaccedilotildees religiosas
convicccedilotildees ideoloacutegicas dentre outras ndash podem ser objetos de uma reflexatildeo socioloacutegica Neste sentido eacute
que o conhecimento socioloacutegico pode ser confundido com aquilo que julgamos serem nossas certezas a
respeito do mundo que conhecemos habitualmente No entanto as semelhanccedilas acabam aqui uma vez que
a sociologia permite ao estudante se apropriar de formas de conhecimento que o faccedilam refletir e questionar
suas proacuteprias certezas convicccedilotildees e visotildees de mundo
Nos espaccedilos escolares da Educaccedilatildeo Baacutesica em especial no Ensino Meacutedio a reflexatildeo socioloacutegica
pode ser feita mediante o aprendizado da problematizaccedilatildeo e da contextualizaccedilatildeo Eacute por meio da capa-
cidade de formular perguntas acerca de questotildees vividas no cotidiano que a sociologia se apresenta ao
estudante Da perspectiva da sociologia a pesquisa como pressuposto epistemoloacutegico possibilita ao es-
tudante indagar seu mundo vivido cotidianamente distanciando-se dele a ponto de estranhaacute-lo Por outro
lado permite familiarizar-se com costumes e atitudes consideradas ateacute entatildeo ldquoexoacuteticasrdquo compreendendo
o sentido que leva os indiviacuteduos tanto ele mesmo quanto os mais distantes a procederem daquela forma
Uma vez que o objeto da sociologia eacute a proacutepria sociedade tudo que eacute produzido impresso e vivenciado
pode ser analisado de forma rigorosa
Pesquisas feitas a partir dos meios de comunicaccedilatildeo de massa impressos e televisivos telenovelas
filmes internet e redes sociais bem como a partir de trabalhos de campo como visitas a museus templos e
espaccedilos religiosos praccedilas puacuteblicas enfim qualquer artefato cultural e qualquer ambiente podem ser lidos
sociologicamente Neste sentido o diaacutelogo com outras disciplinas eacute um fator natildeo apenas enriquecedor
mas mesmo constituinte do saber socioloacutegico Consideraccedilotildees acerca da ldquocriacutetica documentalrdquo no ensino de
Histoacuteria as ldquosaiacutedas a campordquo previstas como abordagens pedagoacutegicas no ensino de Geografia o estiacutemulo
a ldquoexperiecircncias de pensamento conceitualrdquo caracteriacutestico do ensino de Filosofia (como vimos respecti-
vamente nos itens 42 41 e 43 desta unidade) apenas para ficarmos nos exemplos apresentados neste
texto podem ser mobilizados no ensino de Sociologia para a compreensatildeo da complexidade da sociedade
contemporacircnea e a construccedilatildeo de ldquoproblemas socioloacutegicosrdquo que permitam pensaacute-la
Por meio dessas iniciativas a pesquisa como princiacutepio pedagoacutegico de acordo com as DCNEM
assume assim materialidade e sentido nos processos de ensino e aprendizagem
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
45
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
41 Uma uacuteltima palavra interdisciplinaridade como accedilatildeo
Caros professores caras professoras eacute indiscutiacutevel que a con-
cretude de um curriacuteculo interdisciplinar soacute seraacute realizada no exerciacutecio
conjunto de sujeitos que percebem a educaccedilatildeo e sua capacidade de
formaccedilatildeo integral Eacute comum ao longo de nossa trajetoacuteria profissional
o planejamento isolado muitas vezes longe do local do trabalho En-
tretanto para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive
precisamos quebrar essas barreiras Precisamos do diaacutelogo aberto en-
tre os profissionais envolvidos
Como reiterado ao longo desse caderno as Ciecircncias Humanas
podem contribuir para que os estudantes leiam o mundo em outras
bases refletindo e agindo criticamente questionando praacuteticas discri-
minatoacuterias e excludentes valorizando a diversidade cultural atuando
a partir de ideias mais proacuteximas das defendidas por tantos educadores
como Aniacutesio Teixeira Paulo Freire Darcy Ribeiro entre outros
Quanto agraves possibilidades de interlocuccedilatildeo entre a Sociologia e outros componentes curriculares seguem aqui algumas pistas a partir dos conteuacute-dos curriculares da Histoacuteria uma atividade com revistas perioacutedicas da deacuteca-da de 1960 no Brasil demanda uma leitura do contexto histoacuterico da eacutepoca permitindo construir perguntas acerca da sociabilidade dos estilos de vida e da representaccedilatildeo social no campo da cultura a partir dos conteuacutedos cur-riculares da Geografia a compreensatildeo do processo de urbanizaccedilatildeo recente de cidades brasileiras pode render pesquisas sobre o padratildeo de ocupaccedilatildeo socioespacial por diferentes grupos sociais onde fatores como renda etnia origem religiatildeo seratildeo mobilizados para compreender esse processo de for-ma comparada no presente ou ao longo de um periacuteodo histoacuterico
O mesmo pode ser dito quanto ao diaacutelogo com componentes curricu-lares de outras aacutereas de conhecimento como a Matemaacutetica ndash na medida em que a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como proporcionalidade e medida per-mite a compreensatildeo de dados estatiacutesticos por exemplo ndash as Linguagens ndash na medida em que a compreensatildeo de expressotildees literaacuterias e esteacuteticas de tempos e espaccedilos distintos estimula uma leitura acerca das representaccedilotildees sociais dentre inuacutemeras outras possibilidades
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
46
Ciecircncias Humanas
REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO
Caro professor cara professora no nosso dia a dia temos a tendecircncia de utilizarmos livros didaacuteti-
cos que por vezes natildeo contemplam determinados conteuacutedos que pretendemos abordar No entanto eles
satildeo em muitos casos um dos poucos materiais pedagoacutegicos que a escola dispotildee Diante dessa situaccedilatildeo
tambeacutem natildeo eacute desejaacutevel que este material seja o uacutenico ou ainda seja substituiacutedo pela coacutepia de textos no
quadro Uma possibilidade eacute criarmos propostas de investigaccedilatildeo e desafios para os estudantes permitin-
do que eles proacuteprios busquem nos livros didaacuteticos ou em outros materiais ndash jornais revistas conteuacutedos
disponibilizados na internet e outras miacutedias - os quais possam viabilizar a pesquisa refutando ou confir-
mando hipoacuteteses construiacutedas pelos estudantes
Propomos entatildeo como atividade a criaccedilatildeo de uma proposta de accedilatildeo curricular na aacuterea de Ciecircncias
Humanas baseada na formulaccedilatildeo de um problema a ser investigado Sugerimos como tema a alimenta-
ccedilatildeo Os estudantes podem a partir de uma questatildeo inicial apresentada pelos professores construir uma
hipoacutetese para resolvecirc-la ou interpretaacute-la Na sequecircncia os proacuteprios estudantes poderatildeo estabelecer as
etapas para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese envolvendo diversos procedimentos pesquisa bibliograacutefica saiacutedas
a campo realizaccedilatildeo de entrevistas observaccedilatildeo dos haacutebitos alimentares dos colegas dos familiares e das
comunidades locais entre outros
A partir dos resultados alcanccedilados os professores podem apresentar questionamentos e anaacutelises
complementares como por exemplo a qualidade dos alimentos consumidos suas influecircncias nas condi-
ccedilotildees de vida e de sauacutede o impacto dos haacutebitos alimentares no meio ambiente as relaccedilotildees entre alimenta-
ccedilatildeo e cultura a diversidade dos haacutebitos alimentares entre grupos e sociedades ao longo da histoacuteria o pro-
blema da fome as relaccedilotildees entre interesses econocircmicos produccedilatildeo e comeacutercio de alimentos entre outros
Na verdade o que propomos eacute que vocecircs professores e professoras criem uma investigaccedilatildeo cien-
tiacutefica geradora de conhecimentos significativos valorizadora da autonomia dos estudantes e propiciadora
de possiacuteveis mudanccedilas nas atitudes dos estudantes Para isso eacute fundamental que haja interdisciplinaridade
e integraccedilatildeo de saberes
Depois de planejar e realizar essa accedilatildeo registre os procedimentos e resultados por escrito incluin-
do fotos destacando a produccedilatildeo dos estudantes bem como as formas de socializaccedilatildeo com a comunidade
escolar
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
47
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
Referecircncias
ADORNO T Educaccedilatildeo e Emancipaccedilatildeo Satildeo Paulo Paz e Terra 2003
ARROYO M Outros sujeitos outras pedagogias Petroacutepolis Vozes 2012
AZANHA J M P Cultura escolar brasileira um programa de pesquisas Revista da USP Satildeo Paulo n
8 p 65-69 dezfev 1990-1991
AZEVEDO F et alii Manifestos dos pioneiros da Educaccedilatildeo Nova (1932) e dos educadores (1959) Recife Fundaccedilatildeo Joaquim Nabuco Massangana 2010
BENJAMIN W Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo
Brasiliense 1994 (Obras escolhidas v 1)
BENJAMIN W Passagens Belo Horizonte Editora UFMG Satildeo Paulo Imprensa Oficial do Estado de
Satildeo Paulo 2009
BOMENY H Novos talentos viacutecios antigos os renovadores e a poliacutetica educacional In Revista Estu-dos Histoacutericos Rio de Janeiro Vol 6 (Os anos 20) n11 1993 p 24-39
BOURDIEU Pierre O Poder Simboacutelico Rio de Janeiro Bertrand Brasil 2006
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e bases para o ensino de 1ordm e 2ordm graus e
daacute outras providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 12 ago 1971
Seccedilatildeo 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03leisl5692htm Acesso em 0872014
BRASIL Lei no 11684 de 02 de junho de 2008 Altera o art 36 da Lei no 9394 de 20 de dezembro de
1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para incluir a Filosofia e a Sociologia
como disciplinas obrigatoacuterias nos curriacuteculos do ensino meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2007-20102008LeiL11684htm
Acesso em 1072014
BRASIL Lei nordm 13005 de 25 de junho de 2014 Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo - PNE e daacute outras
providecircncias Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 26 jun 2014 EDICcedilAtildeO
EXTRA p 1 Disponiacutevel em httpwwwplanaltogovbrCCIVIL_03_Ato2011-20142014LeiL13005
htm Acesso em 1282014
BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012
Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-
d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014
BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-
sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-
selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
48
Ciecircncias Humanas
BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-
sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano
Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagesepubcaderno_2epub Acesso em 1072014
CALLAI H C CALLAI J L Grupo Espaccedilo e Tempo In CASTRO G A C (org) A Geografia em sala de aula praacuteticas e reflexotildees 2ordf ed Porto Alegre Editora da UniversidadeUFRGSAGB 1999
CARRARA S Educaccedilatildeo diferenccedila diversidade e desigualdade In ______ S et al
(Org) Gecircnero e diversidade na escola formaccedilatildeo de professorases em gecircnero orientaccedilatildeo sexual e rela-
ccedilotildees eacutetnico-raciais Rio de Janeiro CEPESC Brasiacutelia SPM 2009
CHARLOT B Da Relaccedilatildeo com o saber elementos para uma teoria Porto Alegre Artes Meacutedias Sul
2000
CHERVEL A COMPERE M-M As humanidades no ensino In Educaccedilatildeo e Pesquisa Satildeo Paulo v
25 n 2 p 149-170 juldez 1999
CHERVEL A Histoacuteria das disciplinas escolares reflexotildees sobre um campo de pesquisa In Teoria amp Educaccedilatildeo Porto Alegre v 2 p 177-229 1990
DUBET F Sociologia da experiecircncia Lisboa Instituto Piaget 1994
FARIA FILHO L M Dos pardieiros aos palaacutecios cultura escolar e cultura urbana em Belo Horizonte
na Primeira Repuacuteblica Passo Fundo UFP 2000
FAZENDA I (org) O que eacute interdisciplinaridade Satildeo Paulo Cortez 2008
FREIRE P Medo e ousadia o cotidiano do professor 3ordf ed Rio de Janeiro Paz e Terra 1986
FREIRE P Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica educativa 15ordf ed Satildeo Paulo Paz e
Terra 2000
FREITAS M V (org) Juventude e adolescecircncia no Brasil referecircncias conceituais Satildeo Paulo Accedilatildeo
Educativa 2005
GALLO S Ensino de filosofia avaliaccedilatildeo e mateacuteriais didaacuteticos In CORNELLI G CARVALHO M
DANELON M (orgs) Filosofia ensino meacutedio Brasiacutelia MEC Coleccedilatildeo Explorando o Ensino 2010
GALLO S Metodologia do Ensino da Filosofia uma didaacutetica para o ensino meacutedio Campinas Papirus
2012
GARBER M Academic Instincts Princeton Princeton University Press 2001
GAY P A experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud a educaccedilatildeo dos sentidos Satildeo Paulo Com-
panhia das Letras 1988
GAY P O coraccedilatildeo desvelado a experiecircncia burguesa da Rainha Vitoacuteria a Freud Satildeo Paulo Companhia
das Letras 1999
GIDDENS A As consequecircncias da modernidade Satildeo Paulo UNESP 1991
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
49
Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio
GIDDENS A Modernidade e identidade RJ Zahar 2002
GORCZEVSKI C Direitos humanos educaccedilatildeo e cidadania conhecer educar praticar Santa Cruz do
Sul Edunisc 2009
HOYRUP J Human sciences reappraising the humanities through history and philosophy Albany Sta-
teUniversityof New York Press 2000
JAEGER W Paideacuteia A formaccedilatildeo do homem grego Satildeo Paulo Martins Fontes 1995
JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976
JULIA D A cultura escolar como objeto histoacuterico Revista Brasileira de Histoacuteria da Educaccedilatildeo Cam-
pinas n 1 pp 9-44 2001
KLEIN J T Humanities culture and interdisciplinarity the changing American academy Albany
State University of New York Press 2005
LECCARDI C Por um novo significado do futuro mudanccedila social jovens e tempo Tempo Social V 17
n 2 novembro 2005 pp 35-57
LEGIAtildeO URBANA O Descobrimento do Brasil Rio de Janeiro EMI 1993 1 CD digital esteacutereo
LIMA A A Notas sobre humanismo no Brasil A Ordem jun 1940 p 3-8
MONDAINI M (Org) Democracia Valor Universal Enrico Berlinguer BrasiacuteliaRio de Janeiro Fun-
daccedilatildeo Astrojildo PereiraContraponto 2009
NEU Marcia Fernandes Rosa Ensino de Geografia da leitura de mundo Da leitura das palavras agraveleitura
de mundo Revista Poieacuteses 2013 v 5 Disponiacutevel em httpwwwportaldeperiodicosunisulbrindex
phpPoiesisarticleview1279 Acesso em 0572014
ORTIZ R Cultura e modernidade A Franccedila no seacuteculo XIX Satildeo Paulo Brasiliense 1991
PAIS J M A Construccedilatildeo Socioloacutegica da Juventude ndash alguns contributos Anaacutelise Social V XXV (105-
106) 1990 (1ordm e 2ordm) p 139-165
POSTMAN N O Fim da Educaccedilatildeo redefinindo o valor da escola Rio de Janeiro Graphia 2002
RIBEIRO R J Projeto de Curso Experimental de Graduaccedilatildeo Interdisciplinar em Humanidades In
_________R J (org) Humanidades um novo curso na USP Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo
2001 p 31-63
ROUANET S P As Razotildees do Iluminismo Satildeo Paulo Cia das Letras 1987
SALLAS A L F BEGA M T S Por uma Sociologia da Juventude ndash releituras contemporacircneas Poliacute-tica e Sociedade Nordm 8 abril de 2006 p 31-58
SANTOS M Por uma geografia nova da criacutetica da Geografia a uma Geografia criacutetica Satildeo Paulo Hu-
citec 1978
SANTOS J F O que eacute poacutes-moderno Satildeo Paulo Brasiliense 1987
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007
50
Ciecircncias Humanas
SENNETT RA corrosatildeo do caraacuteter as consequecircncias pessoais do trabalho no novo capitalismo Rio de
Janeiro Record 2000
SENNETT R Carne e pedra Rio de Janeiro Record 1997
SENNETT R O decliacutenio do homem puacuteblico as tiranias da intimidade Satildeo Paulo Companhia das Le-
tras 1998
SEVCENKO N (org) Histoacuteria da vida privada no Brasil da Belle Eacutepoque agrave Era do Raacutedio Satildeo Paulo
Companhia das Letras 1998 vol 3
SEVCENKO N Literatura como Missatildeo tensotildees sociais e criaccedilatildeo cultural na Primeira Repuacuteblica Satildeo
Paulo Brasiliense 1999
SANTOS M A natureza do espaccedilo Satildeo Paulo Hucitec 1999 p187-191
SNOW C P As Duas Culturas e uma Segunda Leitura Trad Geraldo Gerson de Souza e Renato de
Azevedo Rezende Neto Satildeo Paulo Universidade de Satildeo Paulo 1995
SOUZA R F A Renovaccedilatildeo do Curriacuteculo do Ensino Secundaacuterio no Brasil as uacuteltimas batalhas pelo huma-
nismo (1920ndash1960) Curriacuteculo sem Fronteiras v9 n1 JanJun 2009 p 72-90
SOUZA R F Um itineraacuterio de pesquisa sobre a cultura escolar In CUNHA M V Ideaacuterio e imagens da educaccedilatildeo escolar Campinas Autores Associados 2000
VIDAL D G Culturas escolares estudo sobre praacuteticas de leitura e escrita na escola puacuteblica primaacuteria
ndash Brasil e Franccedila final do seacuteculo XIX 2004 Tese (Livre Docecircncia) Faculdade de Educaccedilatildeo da Universi-
dade de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 2004
ZATTI Vicente Autonomia e Educaccedilatildeo em Kant e Freire Porto Alegre EDIPUCRS 2007