“FILHOS DO AURÁ”: PROJETO ARQUITETÔNICO DE UMA ESCOLA COMUNITÁRIA

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FILHOS DO AURÁ”: PROJETO ARQUITETÔNICO DE UMA ESCOLA COMUNITÁRIA Área temática: tecnologia e Produção Responsável pelo trabalho: Mônica Regina Soares Ferreira Universidade Federal do Pará (UFPA) Autores: Mônica Regina Soares Ferreira (1); Ronaldo Nonato Ferreira Marques de Carvalho (2); Cybelle Salvador Miranda (3);Fernando Edmundo Chermont Vidal (4). O artigo é constituído de um projeto de reestruturação em uma creche localizada em bairro periférico de Belém, onde este é tido como um local de destino dos resíduos sólidos da área metropolitana, o Aurá. A grande questão é dotar de salubridade a creche que é sustentada por doações e está inserida nesta localidade, e é um local onde os filhos de parte dos catadores de lixo ficam quando seus pais vão ao “lixão”; procurou- se trabalhos enfocados neste tipo de programa. A parceria entre comunidade e universidade resultou no projeto, no entanto este por ser tratar de ação comunitária não tendo vínculos com grandes incorporadoras não tem data precisa para se concretizar, no entanto, parte desse grande problema já foi sanado, com a finalização do projeto arquitetônico, hidráulico e elétrico. Palavras chave: reestruturação, creche, Aurá. Introdução O projeto arquitetônico da creche “Filhos do Aurá” foi elaborado através de Projeto de extensão desenvolvido no Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural- LAMEMO, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará e tem como objetivo a reestruturação desta edificação situada na Ocupação Carlos Mariguella, bairro de Águas Lindas. O projeto contou com o apoio do Programa “Atitude”, veiculado pelas TVs RBA e Marajoara, coordenado pela jornalista Meg Barros, o qual busca parceiros para ações sociais por meio da colaboração de pessoas físicas e jurídicas. Verificamos por meio do projeto o envolvimento de vários atores se unindo para determinado fim; o projeto de reestruturação, que só foi alcançado graças às diretrizes de extensão da UFPA, que almeja a relação entre a Universidade e a sociedade voltada para os interesses da própria comunidade (diretriz de impacto e transformação) e ainda, desenvolver o diálogo com essa comunidade e seus principais personagens, minimizando as distâncias entre ambos (dialógica), para garantir a interdisciplinaridade, a fim de se chegar a uma multiplicidade de habilidades e desenvolver as atividades de extensão, pesquisa e ensino, que são consideradas indissociáveis. Outro ator muito importante foi a mídia, que através do programa “atitude”, idealizado pela jornalista Margarida Barros e que possui um caráter filantrópico, divulgou matéria sobre a creche “filhos do Aurá” que acabou resultando no projeto de extensão em questão. O Presidente do Centro Comunitário do Aurá, Célio Cecin “O senhor Romário” tem tido uma participação atuante para a melhoria das condições de vida da

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O artigo é constituído de um projeto de reestruturação em uma creche localizada em bairro periférico de Belém, onde este é tido como um local de destino dos resíduos sólidos da área metropolitana, o Aurá.

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“FILHOS DO AURÁ”: PROJETO ARQUITETÔNICO DE UMA

ESCOLA COMUNITÁRIA

Área temática: tecnologia e Produção

Responsável pelo trabalho: Mônica Regina Soares Ferreira

Universidade Federal do Pará (UFPA)

Autores: Mônica Regina Soares Ferreira (1); Ronaldo Nonato Ferreira Marques de

Carvalho (2); Cybelle Salvador Miranda (3);Fernando Edmundo Chermont Vidal (4).

O artigo é constituído de um projeto de reestruturação em uma creche localizada em

bairro periférico de Belém, onde este é tido como um local de destino dos resíduos

sólidos da área metropolitana, o Aurá. A grande questão é dotar de salubridade a creche

que é sustentada por doações e está inserida nesta localidade, e é um local onde os filhos

de parte dos catadores de lixo ficam quando seus pais vão ao “lixão”; procurou- se

trabalhos enfocados neste tipo de programa. A parceria entre comunidade e

universidade resultou no projeto, no entanto este por ser tratar de ação comunitária não

tendo vínculos com grandes incorporadoras não tem data precisa para se concretizar, no

entanto, parte desse grande problema já foi sanado, com a finalização do projeto

arquitetônico, hidráulico e elétrico.

Palavras chave: reestruturação, creche, Aurá.

Introdução

O projeto arquitetônico da creche “Filhos do Aurá” foi elaborado através de

Projeto de extensão desenvolvido no Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural-

LAMEMO, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará

e tem como objetivo a reestruturação desta edificação situada na Ocupação Carlos

Mariguella, bairro de Águas Lindas. O projeto contou com o apoio do Programa

“Atitude”, veiculado pelas TVs RBA e Marajoara, coordenado pela jornalista Meg

Barros, o qual busca parceiros para ações sociais por meio da colaboração de pessoas

físicas e jurídicas.

Verificamos por meio do projeto o envolvimento de vários atores se unindo

para determinado fim; o projeto de reestruturação, que só foi alcançado graças às

diretrizes de extensão da UFPA, que almeja a relação entre a Universidade e a

sociedade voltada para os interesses da própria comunidade (diretriz de impacto e

transformação) e ainda, desenvolver o diálogo com essa comunidade e seus principais

personagens, minimizando as distâncias entre ambos (dialógica), para garantir a

interdisciplinaridade, a fim de se chegar a uma multiplicidade de habilidades e

desenvolver as atividades de extensão, pesquisa e ensino, que são consideradas

indissociáveis.

Outro ator muito importante foi a mídia, que através do programa “atitude”,

idealizado pela jornalista Margarida Barros e que possui um caráter filantrópico,

divulgou matéria sobre a creche “filhos do Aurá” que acabou resultando no projeto de

extensão em questão.

O Presidente do Centro Comunitário do Aurá, Célio Cecin “O senhor

Romário” tem tido uma participação atuante para a melhoria das condições de vida da

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população do local não atingido pelas políticas públicas, por meio de seu trabalho, do

uso de recursos próprios e doações. Iniciativa exemplar, face ao contexto em que e

creche está inserida, o Aurá, espaço onde são destinados os resíduos sólidos da área

metropolitana de Belém, e ao mesmo tempo residência de uma população considerável,

que trabalha no “lixão” e coleta de resíduos para venda, sendo esta, em muitos casos, a

única atividade rentável das famílias. O projeto teve seu objetivo concluído quando

dotou o espaço de um projeto arquitetônico eficiente e mais humano para as crianças da

comunidade.

Material e Metodologia

A primeira visita feita à creche foi realizada em outubro de 2009 e contou com

a participação os professores Ronaldo Marques de Carvalho, pela Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo da UFPA e Fernando Chermont Vidal pela UNB, além da

estagiária Mônica Soares. Esta visita teve o intuito de verificar o terreno e as condições

físicas da atual creche, assim como fazer o levantamento de algumas informações

técnicas a respeito desta.

Observamos as condições das edificações existentes e constamos que a

estrutura da creche é insuficiente, contando com uma sala de atividades para as crianças,

um banheiro de uso adulto e infantil, um refeitório e um albergue que abriga pessoas

que ajudam na creche. Estas edificações são inapropriadas para as funções exercidas,

pois não respeitam as fases do desenvolvimento infantil, pois há somente uma sala de

atividades para todas as idades, assim como o banheiro é utilizado para adultos e

crianças. Quanto ao albergue, não há estrutura própria de uma casa, contento somente

um compartimento que abriga trabalhadores da creche e/ou pessoas que precisam de um

local provisório para morar.

No geral, verificamos a estrutura deficiente da creche (ver figura 02), espaços

mal distribuídos, construções inacabadas, espaço impróprio para o lazer das crianças,

com área de chão batido e obstáculos físicos que dificultam a livre circulação. Tudo o

que verificamos na visita com o levantamento do espaço afirma-se pertinente no sentido

da reestruturação daquele espaço.

Não podemos deixar de ressaltar a ausência do Estado com relação às políticas

de educação, onde, a comunidade, por carecer da necessidade de um espaço para abrigar

crianças,

Nota-se pela imagem (Figura 1) que o projeto de reestruturação é necessário,

pois além de sanar as necessidades primárias de um projeto, precisa enquadrar a creche

para o espaço ao qual ela se destina. Portanto um dos primeiros passos foram o

embasamento teórico e a legislação vigente para espaços destinados a creches. O

embasamento foi orientado pela professora doutora Cybelle Miranda, através da

pesquisa em Trabalhos de Conclusão de Curso que abordam o tema. Para se ter as

primeiras noções sobre creches, a leitura deste trabalho foi muito útil, pois me

confrontei com projetos de reestruturação, tomei analogias de creches da cidade..

Após esse estudo, foi proposto pelo coordenador do Projeto, Prof. Ronaldo

Marques de Carvalho, construir um pré-programa de necessidades para dar início aos

primeiros traçados do projeto. O estudo do trabalho de conclusão foi utilizado para

relacionar o programa de necessidades do projeto E assim, surgiu o pré-programa,

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baseado na primeira visita e nos estudos teóricos, onde desenhava para o novo espaço

duas salas de atividades, dormitório, cozinha, refeitório e banheiros infantis.

A segunda visita feita ao local no ano seguinte (2010) consistiu na medição desta

para enquadrá-la no pré- projeto, feito a partir do pré- programa de necessidades. Esta

segunda visita, contou com a análise do responsável pela creche senhor Célio Cecin,

que concedeu- nos uma entrevista para verificar se o pré- projeto atendia as

necessidades da comunidade.

O processo da entrevista com o responsável foi muito importante visto que, este

conhece muito mais a fundo as reais necessidades da creche. Assim, o projeto foi

ampliado, pois deveria atender a creche com uma biblioteca, assim como projetar dois

dormitórios para os ajudantes da creche, onde houve a necessidade de projetar cozinha e

banheiro constituindo assim para esse espaço um projeto independente (imagem do

projeto em resultado e discussões).

Assim, a cada passo do projeto ponderava-se nas melhorias que este iria trazer a

comunidade, e projetar juntamente com esta, dar-nos a satisfação real de estar

atendendo suas principais necessidades. Este é o pensamento que se formou após a

segunda visita, a sensação real de um projeto extensionista, não constituído de ficção.

Resultado e discussões

Figura 1: Fotografia retratando a visão geral da creche e a apresentadora Meg barros com uma

criança atendida pela creche

Fonte: CARVALHO, Ronaldo. 2009

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Figura 2 : Desenho retratando a atual planta da creche, desenho feito em laboratório com os

dados coletados na primeira visita, desenho em AUTO- CAD

Fonte: SOARES, Mônica. 2009

A planta abaixo constitui outra necessidade de mostrar com clareza o projeto

para a comunidade, para isso, foi desenhada a planta falada; uma planta de projeto mais

clara e mais precisa no que diz respeito a leitura dos elementos existentes.

Figura 3: Planta geral do projeto de reestruturação

Fonte: SOARES, Mônica/ desenho em AUTO- CAD (2010)

O projeto acima consiste no atual projeto final, e em sua totalidade, foi

desenvolvido a partir da segunda visita, onde a entrevista com o responsável teve papel

definidor da proposta.

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Conclusão

O projeto de extensão “Filhos do Aurá: projeto arquitetônico de uma escola

comunitária” concilia o exercício entre a teoria apreendida em sala de aula e nas bases

teóricas, e a prática de projeto arquitetônico, quando nos deparamos com necessidades

reais, e com uma edificação pré-existente, a qual necessita reestruturação.

O projeto desenvolvido envolve o contexto sócio-econômico da população

beneficiária, a situação urbana, as diretrizes educacionais de uma creche, bem como a

relação entre ensino e prática projetual. Com respeito a área de entorno da creche, que é

localizada no município de Belém, porém o acesso é feito pelo município de

Ananindeua, torna mais aguda a ausência do poder público, pela indefinição de limites

entre as prefeituras. No Aurá situa-se o “aterro sanitário” onde são despejados os

resíduos de Belém, sendo por esse motivo atrativo a população de desempregados que

busca sustento na atividade desumana da catação.

A creche serve para manter as crianças, enquanto seus pais trabalham no

“lixão”; ela é a única saída para quem não tem opção de instituições públicas para

cuidar dos menores.

Tal iniciativa mostra como a parceria entre sociedade civil e Universidade é um

caminho promissor para a garantia da qualidade de vida aos menos favorecidos, e

funciona como via de mão dupla, uma vez que oferece aos cursos universitários a

possibilidade de interação com a sociedade que hoje é uma exigência do Ministério da

Educação para a formação de profissionais. Assim, o Laboratório de Memória e

Patrimônio Cultural da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo abre caminho para a

visibilidade profissional do Arquiteto, ainda hoje marcado pelo estigma de profissão de

elite, portanto, inacessível aos grupos sociais com poucos recursos.

Assim, por se tratar de projeto para uma comunidade que não conta com receita

própria, propôs-se soluções projetuais e especificações técnicas duradouras, porém com

custo compatível.

Referências

GRAEF, Edgar A. Edifício. São Paulo: Projeto Editora, 1978.

MONTENEGRO, Gildo. A invenção do Projeto. São Paulo: Edgar Blucher, 1987.

MONTENEGRO, Gildo. Ventilação e Cobertas: Estudo Teórico, Histórico e

Descontraído. São Paulo: Edgard Blüecher, 1984.

NEUFERT, Ernest. Arte de Projetar em Arquitetura. São Paulo: GG, 1998.

SILVA, Kelly Rosy Figueiredo da. Reestruturação Física da Unidade de Educação

Infantil Catalina I - Val de Cans - Belém - PA. 2005. 103 f. Trabalho de Conclusão de

Curso. (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal do Pará.

SOUZA, Keila Cristine Lameira de. Construindo um sonho de infância: reestruturação

da creche Santo Antônio Maria Zacaria - Fátima - Belém - PA. 2003. 89 f. Trabalho de

Conclusão de Curso. (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal

do Pará.