FICHAMENTO MATTOSO CÂMARA_1957

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  • 7/27/2019 FICHAMENTO MATTOSO CMARA_1957

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIADEPARTAMENTO DE LETRASCURSO DE PS-GRADUAO/DOUTORADODISCIPLINA: A CINCIA LINGUSTICA E O ENSINO DE LNGUAPROFESSORA DR. GRAZIELA LUCCI DNGELO

    DOUTORANDA RAQUEL DA SILVA GOULARTE

    CMARA Jr., J.Mattoso. Erros escolares como sintomas de tendncias lingusticas noportugus do Rio de janeiro. In.: UCHA, Carlos Eduardo Falco. DISPERSOS de J.Mattoso Cmara Jr.Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

    (Transcrito de Romanistisches Jahrbuch, 1957.)

    DESCRIO DA OBRA:Texto escrito no final da dcada de 50, continuao da temtica estudada por Mattosoem sua tese de doutoramento, a qual trata da anlise fonolgica do portugus. O artigo

    mostra claramente a viso estruturalista de um perodo em que o regime escolar noBrasil era marcado pelo exame de admisso para as crianas terem acesso ao 2 grau(ginasial). Tal exame era constitudo de um ditado e da descrio de uma gravura, assimcomo continha algumas questes (simples) de gramtica. O estudioso analisa os ditadose as descries executados por 62 crianas, que tem entre 11 e 13 anos, de um colgiosituado na zona sul do Rio de Janeiro. O texto demonstra a viso do linguista queobserva e descreve aspectos recorrentes no portugus do Rio de Janeiro. O foco alngua escrita, mas a anlise sugere as influncias da fala (do professor) na escrita. Oresultado do estudo vem a confirmar concluses de ordem fontica, morfolgica esinttica no que diz respeito lngua coloquial culta do Rio de Janeiro, conforme oautor. As crianas que produziram os textos analisados passaram, de acordo com oestudioso, por uma intensa preparao de um ano antes do exame, assim como tiveramcontato com a lngua literria durante o ensino primrio. Apesar disso, persistiram oserros gramaticais, e o autor destaca no texto as constataes, em seguida, comenta aexemplificao concreta dos erros.

    Em referncia fontica temos as seguintes observaes gerais:1. debilidade do acento tnico quando o vocbulo se acha no interior de um grupo defora;[...] (p.88)

    Na morfologia, foi possvel deduzir:15. a falta de integrao na lngua coloquial do pretrito mais que perfeito do indicativoem -ra e certa incompreenso do pretrito imperfeito do subjuntivo em -sse; [...] (p.89)

    Na sintaxe, a colheita foi a seguinte:18. tendncia a subordinar ao verbo o sujeito posposto, desaparecendo a concordnciado verbo com esse sujeito, o que resulta, em ltima anlise, numa impessoalizao; [...](p.89)

    Isto posto, podemos passar segunda parte deste artigo, apreciando os exemplosconcretos que ilustram essas concluses gerais. (p.89)

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    1. A debilidade do acento tnico no interior do grupo de fora em proveito dapredominncia da tonicidade do ltimo vocbulo do grupo, provoca perturbaes emditado, em dois sentidos: ausncia da marcao do acento em slaba tnica interna emarcao do acento em slaba tona porque enunciada com certo vigor e insistncia.Esta ltima ocorrncia se d na slaba radical inicial de certas palavras expressivas e em

    slabas finais naturalmente dbeis, porque a professora, ao ditar,as enuncia com umanitidez artificial pelo receio de passarem despercebidas. preciso levar em conta, ainda,a enunciao artificial das palavras ditadas, destacadas de seus naturais grupos de fora,

    porque ao serem ditadas h a inteno de insistir nelas. Tudo isso perturba a percepodo jogo sutil de tonicidade e atonicidade, que se realiza na fala espontnea,determinando erros aparentemente absurdos de acentuao. Assim, em com ests eoutras diveres(sic), compreende-se que a marcao de acento no demonstrativo estaresultou da maneira porque o vocbulo deve ter sido ditado: destacado de seu grupo defora e com as duas slabas muito ntidas, o que deu ltima,de debilidade mxima, umrelevo perturbador para o aluno, fazendo-o interpret-la como tnica. A mesma exegesese aplica a em sua confortavlcama, para o adjetivo confortvel. (p. 89 -90)

    [...]

    Que a construo literria resultou de um treino preliminar e no est absorvida pelosentimento lingustico, mostra-o a seguinte frase: Passando um trem pediu paradeixarem o viajar, pois evidente que o pronome o substituiu um ele , realmentementado, em vista da sua colocao; do contrrio, teramos - pediu para o deixaremviajar, ou, ainda mais literariamente,pediu para deixarem-no viajar.

    15. A mesma falta de integrao no sentimento lingustico, assim registrada para acontrao do tipo mo, verifica-se na incompreenso da estrutura pretrito mais que

    perfeito do indicativo e pretrito imperfeito do subjuntivo, cujas flexes so destacadas,por um hfen, das formas verbais: deixa-ra - se ele passa-se, etc.[...]

    17.Contrastando com erros do tipo - se ele passa-se, temos despencousse - ocapim encontrassecom as rvores, Vsseque uma bela fazenda, onde a partcula se integrada na forma verbal como uma verdadeira flexo. (p.94)

    18. A impessoalizao pela no concordncia do verbo com o sujeito, j no mais

    claramente sentido como tal, frequente com sujeito posposto, como consignou o item18. Citem-se, quase ao acaso, das redaes: mais adiante no matagalpastava os bois eos cavalos - onde existeao fundo rvores - existepastando duas vacas - por cimadas matas verdes est uns bois e vacas malhadas.Parece que existe uma tendncia a fazer do complemento de lugar (no matagal,onde,etc) um sujeito psicolgico, da resultando a invariabilidade do verbo;pelo menos o que sugere este exemplo com um complemento de lugar plural e o verbo emconcordncia com ele: nas duas margens crescem relva abundante. (p.94)

    Objetivo do texto: documentar certas tendncias coletivas da lngua coloquial noBrasil, ou mais especialmente no Rio de Janeiro.