Famílias das comunidades rurais produzem cajuína e geram renda no município de Barreira no Ceará

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº 1664 Novembro/2014 Famílias das comunidades rurais produzem cajuína e geram renda no município de Barreira no Ceará Quando chega o mês de setembro as comunidades rurais do município de Barreira, no estado do Ceará, se envolvem na colheita do caju para a produção de alimentos que geram renda às famílias. Os agricultores se preparam para a colheita do fruto tão comum na região e que dele produzem a cajuína, produto bastante comum nos mercados e bodegas do município. Considerada patrimônio imaterial da humanidade pelo estado do Piauí, a cajuína cristalina que Caetano Veloso cantou ao teresinense Torquato Neto não é tão cristalina assim nos municípios cearenses. O tempo de cozimento do produto na região é mais demorado que no Piauí. Sendo assim, a cajuína cearense fica com uma tonalidade mais escura do que no estado vizinho. Ao visitar as comunidades rurais é comum notar as famílias mobilizadas na colheita da fruta e as calçadas das casas ocupadas com a secagem das castanhas. O cheiro característico da fruta, as cores dos cajueiros carregados, o verde das folhas, as cores amareladas e avermelhadas do caju estão presentes em muitas casas e possibilitam às famílias uma maior autonomia a partir do caju nessa época do ano. Cajuína: processo que gera autonomia financeira para as famílias de Barreira Uma dessas possibilidades de autonomia financeira é a produção da cajuína. Se aproveita quase tudo do caju e pode se fazer muita coisa a partir dele: polpa de fruta, concentrado, doce, geleia, além da própria cajuína. As famílias trabalham juntas durante todo o período do final do ano, que é a época da fruta na região. Saem juntos para retirar o caju, mais tarde levam para moagem e após cortar a água (como chamam o processo de separação do suco mais claro do resto da fruta, que acontece acrescentando-se um concentrado de caju com gelatina) levam para filtragem. Barreira - Ceará Sumo do caju sendo filtrado

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Quando chega o mês de setembro as comunidades rurais do município de Barreira, no estado do Ceará, se envolvem na colheita do caju para a produção de alimentos que geram renda às famílias. Os agricultores se preparam para a colheita do fruto tão comum na região e que dele produzem a cajuína, produto bastante comum nos mercados e bodegas do município. Dona Océlia e Seu Antonio contam sua experiência com a produção do líquido.

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº 1664

Novembro/2014

Famílias das comunidades rurais produzem cajuína e geram renda no município de Barreira no Ceará

Quando chega o mês de setembro as comunidades rurais do município de Barreira, no estado do Ceará, se envolvem na colheita do caju para a produção de alimentos que geram renda às famílias. Os agricultores se preparam para a colheita do fruto tão comum na região e que dele produzem a cajuína, produto bastante comum nos mercados e bodegas do município.

Considerada patrimônio imaterial da humanidade pelo estado do Piauí, a cajuína cristalina que Caetano Veloso cantou ao teresinense Torquato Neto não é tão cristalina assim nos municípios cearenses. O tempo de cozimento do produto na região é mais demorado que no Piauí. Sendo assim, a cajuína cearense fica com uma tonalidade mais escura do que no estado vizinho.

Ao visitar as comunidades rurais é comum notar as famílias mobilizadas na colheita da fruta e as calçadas das casas ocupadas com a secagem das castanhas. O cheiro característico da fruta, as cores dos cajueiros carregados, o verde das folhas, as cores amareladas e avermelhadas do caju estão presentes em muitas casas e possibilitam às famílias uma maior autonomia a partir do caju nessa época do ano.

Cajuína: processo que gera autonomia financeira para as famílias de Barreira

Uma dessas possibilidades de autonomia financeira é a produção da cajuína. Se aproveita quase tudo do caju e pode se fazer muita coisa a partir dele: polpa de fruta, concentrado, doce, geleia, além da própria cajuína. As famílias trabalham juntas durante todo o período do final do ano, que é a época da fruta na região. Saem juntos para retirar o caju, mais tarde levam para moagem e após cortar a água (como chamam o processo de separação do suco mais claro do resto da fruta, que acontece acrescentando-se um concentrado de caju com gelatina) levam para filtragem.

Barreira - Ceará

Sumo do caju sendo filtrado

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Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

O resultado da filtragem é o líquido que vai ao fogo para dar origem à cajuína, não sem antes retirar o excesso para não estourar a garrafa no processo de fervura. A parte mais grossa do caju é reservada para virar ração para os animais.

A exploração do trabalho era comum nos meses finais do ano. Como o caju é muito presente na região, a caixa com vinte quilos da fruta era vendida a quatro reais. O preço irrisório não compensava o trabalho, o que fez famílias como a de Dona Océlia e Antonio, da comunidade rural Uruá, em Barreira, se especializarem na fabricação da cajuína. Com o peso antes vendido a quatro reais, dá para se fabricar 12 litros da cajuína, sendo vendido a cinco reais cada.

União da família é essencial e torna ágil a produção da cajuína

A produção do líquido reúne a família em torno da fabricação da cajuína. O marido de Dona Océlia, Antonio, participa de todo o processo. Além de outras funções, ele é quem fecha as garrafas para levá-las ao fogo. Gilson, filho de Dona Océlia, está presente na compra dos ingredientes na capital (gelatina, garrafas, tampas), até na higienização e padronização dos litros de cajuína. A filha dele, Ana Clara, que ainda é criança, acompanha com olhos curiosos o processo de feitura. Entre uma tentativa de ajudar frustrada e outra, ela consegue pelo menos levar algumas garrafas pequenas para o tonel ainda apagado onde será cozido o suco clarinho que sai do filtro.

A produção da cajuína é uma atividade que proporciona união e autonomia para as famílias das comunidades rurais de Barreira, sendo uma possibilidade eficaz para uma boa convivência com o Semiárido. O sabor é doce, mas sem acréscimo de açúcar. Sem o paladar “travoso” do caju, é um líquido peculiar para se degustar e manter a família unida no campo.

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Realização Apoio

Cajuína antes de ir para o cozimento

Três gerações em torno do processo da feitura da cajuína. Seu Antônio fechando os vasilhames

de cajuína para levar ao fogo

Cajuína após o processo pronta para ser vendida