Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e ... · princesas Clarinha, Belinha...
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Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas
Públicas – FACE
Programa de Pós-Graduação em Economia – PPGECO
Mestrado em Economia
A POLÍTICA ECONÔMICA DO MICROCRÉDITO NO BRASIL: UM ESTUDO
SOBRE O CREDIAMIGO NO BANCO DO NORDESTE COMO FORMA DE
INCLUSÃO SOCIAL E ECONÔMICA
Elizaneide Almeida de Lima
Brasília-DF
2016
ELIZANEIDE ALMEIDA DE LIMA
A Política Econômica do Microcrédito no Brasil: Um estudo sobre o
CrediAmigo no Banco do Nordeste como forma de inclusão social e
econômica
Dissertação apresentada ao Departamento
de Economia da Faculdade de Economia,
Administração, Contabilidade (FACE) da
Universidade de Brasília como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Economia.
Área de concentração: Economia do Setor
Público.
Orientador: Prof. Dr. Antônio Júnior
Brasília-DF
2016
ELIZANEIDE ALMEIDA DE LIMA
A Política Econômica do Microcrédito no Brasil: Um estudo sobre o
CrediAmigo no Banco do Nordeste como forma de inclusão social e
econômica
Avaliação
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Dr. Antônio do Nascimento Junior, UnB, Orientador.
__________________________________________________
Professor Dr. Roberto de Goes Ellery Junior, Membro interno.
__________________________________________________
Professor Dr. Geraldo Sardinha Almeida, UnB Membro externo.
Brasília – DF, de 16 de setembro de 2016
AGRADECIMENTOS
Início meus agradecimentos primeiramente à Deus, já que Ele colocou
pessoas tão especiais em minha vida, sem as quais certamente não teria dado
conta!
A meu esposo, Santino Barbosa, meu infinito agradecimento. Sempre
acreditou em minha capacidade e sempre me achou A MELHOR de todas, mesmo
não sendo. Isso só me fortaleceu e me fez tentar não ser A MELHOR, mas a fazer o
melhor de mim.
Obrigada pelo amor e carinho dedicado a mim, obrigada por ser tão
importante em minha vida, sempre estando ao meu lado, me pondo para cima e me
fazendo acreditar que posso mais do que imagino.
Obrigada pelo seu companheirismo, paciência, apoio amor e amizade.
Devido a tudo isso, este trabalho pôde ser concretizado, você fez do meu sonho o
nosso sonho.
A minha pequena Dandara que me acompanhou desde o início desse grande
desafio me motivando a fazer o melhor sempre. Ao meu guerreirinho Bento, que me
acompanhou nessa reta final me mostrando que tudo ocorrerá no tempo de Deus
meus queridos filhos vocês são as maiores alegrias da minha vida. Amo vocês
obrigada por me fazer uma pessoa melhor. Me esforçarei para oferecer muito
orgulho a vocês.
Ao meu querido amigo Wesley, pela ajuda antes e durante todo o trabalho,
obrigada pelo incentivo e apoio.
A Gildete, servidora do BnB, que foi muito solícita na disponibilização dos
dados sem os quais não seriam possíveis de analisar.
Ao meu professor Dr. Antônio Junior, por acreditar em meu potencial de uma
forma a que eu não acreditava ser capaz de corresponder. Sempre disponível e
disposto a ajudar, querendo que eu aproveitasse cada segundo para absorver algum
tipo de conhecimento. Faz-me enxergar que existe muito mais que pesquisadores e
resultados por trás de uma dissertação, mas vidas humanas. Obrigada por acreditar
em mim!
A meus amigos do mestrado, pelos momentos divididos juntos, especialmente
a Fabi, Stelinha e André que tornaram mais leve nossas quintas e sextas feiras
quinzenais. Obrigada por dividir comigo as angústias e alegrias e ouvirem minhas
reflexões filosóficas. Foi bom poder contar com vocês!
As minhas queridas amigas, Amada, Alê, Lúcia e Patricia, vocês estiveram ao
meu lado nesses últimos dois anos compartilhando sonhos, alegrias e tristezas, mas
sempre motivando umas às outras, enfim estamos sempre ligados pelas nossas
princesas Clarinha, Belinha Valentina e Julinha. Amo vocês
Às servidoras da UNB Dani e Josivane, pela disponibilidade, simpatia e
gentileza.
Por fim gostaria de agradecer a minha cunhada Jussara, que esteve todo
esse tempo cuidando do meu maior tesouro.
Gostaria de agradecer também aos meus colegas do Ministério da Justiça
pelo apoio durante todo este trabalho. Obrigada de coração.
“Fides, si non cogitatur, nulla est‖
(A fé, sem a razão, é nula).
Santo Agostinho (354-430)
RESUMO
A presente proposta de estudo é direcionada a caracterizar o microcrédito como um instrumento capaz de promover o desenvolvimento social de maneira que seja possível analisar as contribuições como forma de inclusão social e econômica do microcrédito especialmente por meio do CrediAmigo como política de microcrédito do Banco do Nordeste – BNB. Por conseguinte, destacaremos o microcrédito como instrumento principal das microfinanças. Por meio de estudos doutrinário que conceitua o microcrédito como uma metodologia de financiamento com formas próprias de garantia e identificar, nessa metodologia, uma capacidade de atingir as pessoas socialmente excluídas do mercado financeiro formal de modo a promover sua inclusão econômico-social. Por meio de estudo da legislação brasileira, será possível conhecer melhor o seu funcionamento destacando algumas instituições que trabalham com o sistema de microcrédito no País: suas fontes de financiamento. Conclui que o microcrédito é o instrumento central de uma economia focada no ser humano e que tem como objetivo a inclusão e o desenvolvimento social. Portanto, o seu fomento pode ser considerado uma estratégia importante para reduzir a desigualdade social e para erradicar a pobreza no Brasil.
Palavras-chave: Desenvolvimento social. Microcrédito. Governo Federal. Microcrédito do Banco do Nordeste.
ABSTRACT
The proposed study is directed to characterize microcredit as a tool to promote social development so that it is possible to analyze the contributions as a form of social and economic inclusion of microcredit especially through CrediAmigo as microcredit policy of Banco do Nordeste - BNB. Therefore, we will highlight microcredit as the main instrument of microfinance. Through doctrinal studies conceptualizing microfinance as a financing method with their own forms of guarantee and to identify, in this methodology, an ability to reach the socially excluded from the formal financial market in order to promote their economic and social inclusion. Through study of Brazilian law, you can better understand its operation highlighting some institutions that work with micro-credit system in the country: its sources of funding. It concludes that microcredit is the central instrument of a focused economy in the human being and aims at inclusion and social development. Therefore, its development can be considered an important strategy to reduce social inequalities and to eradicate poverty in Brazil.
Keywords: Social development. Microcredit. Federal government. Microcredit Banco do Nordeste.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 .................................................................................................................... 30
Tabela 2 .................................................................................................................... 60
Tabela 3 .................................................................................................................... 61
Tabela 4 .................................................................................................................... 63
Tabela 5 .................................................................................................................... 64
Tabela 6 .................................................................................................................... 65
Tabela 7 .................................................................................................................... 68
Tabela 8 .................................................................................................................... 69
Tabela 9 .................................................................................................................... 72
Tabela 10 .................................................................................................................. 74
Tabela 11 .................................................................................................................. 76
Tabela 12 .................................................................................................................. 78
Tabela 13 .................................................................................................................. 79
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 ................................................................................................................... 61
Gráfico 2 ................................................................................................................... 62
Gráfico 3 ................................................................................................................... 64
Gráfico 4 ................................................................................................................... 65
Gráfico 5 ................................................................................................................... 66
Gráfico 6 ................................................................................................................... 68
Gráfico 7 ................................................................................................................... 69
Gráfico 8 ................................................................................................................... 72
Gráfico 9 ................................................................................................................... 74
Gráfico 10 ................................................................................................................. 77
Gráfico 11 ................................................................................................................. 78
Gráfico 12 ................................................................................................................. 80
SUMÁRIO
1 TEMA .................................................................................................................... 9
1.1 Delimitação do tema .................................................................................... 9
1.2 Relevância do tema ...................................................................................... 9
2 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10
2.1 Caracterização e Definição do Problema ................................................. 15
2.1.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 15
2.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 15
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... 16
3.1 Política de Microcrédito no Mundo ........................................................... 16
3.2 Política de Microcrédito no Brasil............................................................. 37
3.3 Política de Microcrédito do Governo Federal .......................................... 43
3.4 Política de Microcrédito do Banco do Nordete – BNB ............................ 53
3.5 CrediAmigo ................................................................................................. 53
4 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 82
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ........................................................................ 89
9
1 TEMA
Uma análise sobre a Política Econômica do Microcrédito no Brasil: Um estudo
sobre o CrediAmigo no Banco do Nordeste como forma de inclusão social e
econômica
1.1 Delimitação do tema
O estudo será direcionado às políticas de microcrédito realizadas no Brasil
especificamente sobre o CrediAmigo, por meio do Banco do Nordeste – BNB, e
pelas políticas de microcrédito como política pública nos governos de 2000 a 2010
explanando com a criação do Plano Nacional ed Microcrédito Produtivo Orientado -
PNMPO fazendo um paralelo com as políticas do Banco Grameen da Índia.
1.2 Relevância do tema
O estudo é relevante para a conscientização dos governantes e da sociedade
como um todo, no sentido que buscar apresentar um estudo substancial sobre a
importância da inclusão e da acessibilidade social e econômica. A fim de contribuir
com ações esclarecedoras sobre o tema.
10
2 INTRODUÇÃO
O acesso ao crédito como um direito fundamental da pessoa humana, na
medida em que lhe garante igualdade de oportunidades, melhora suas condições de
vida e de trabalho e garante o desenvolvimento econômico e social do País. Nesse
sentido, garantir o direito de acesso ao crédito surge como um dos principais
elementos para a consecução dos objetivos constitucionais brasileiros.
Diante disso, o Programa de crédito Microcrédito do Governo Federal é
destinado a atender as necessidades de empreendedores de baixa renda para
apoiar as atividades produtivas de micro e pequenos empreendedores de todo o
país, para abrirem ou ampliarem seus negócios, ou seja, os recursos adquiridos por
meio do microcrédito podem ser usados como capital de giro, para expandir e
aquecer os negócios, para criar equilíbrio de caixa, entre outras finalidades.
Ademais, para justificar o Programa Nacional de Microcrédito como política
econômica em prol de garantir o acesso ao crédito a todos como forma de inclusão
social e ter elementos que comprovem a sua eficiência de maneira que se alinhem
ao fomento e ao desenvolvimento regional e erradicação da pobreza.
Como motivação inicial, esse trabalho será tratado sob o aspecto de duas
visões inclusivas do capitalismo: uma econômica, e outra, social.
Na primeira, a econômica, o Professor indiano C.K. Prahalad (2005)
evidencia a riqueza que se encontra relativamente inexplorada nas camadas mais
pobres da sociedade e apresenta questões a serem observadas pelas empresas
que pretendam explorá-las. Trata-se de uma visão econômica, pois estuda a base
da pirâmide socioeconômica em uma posição passiva e apresenta-a como um
mercado a ser explorado.
Na segunda, a social, tem-se o ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006.
Muhammad Yunus (2006), com seu Grameen Bank, propõe uma posição mais ativa
dos mais pobres e coloca-os no centro da exploração dessa riqueza, gerando o
desenvolvimento a partir de baixo. O Professor Yunus difundiu no mundo a ideia do
microcrédito e dos benefícios que sua implementação traz para a economia mundial.
11
Nesse sentido, estudaremos, então, algumas políticas de microcrédito e
analisaremos a sua adequação à legislação nacional.
A pretensão deste trabalho também será de abordar e discutir algumas
das visões sobre a questão da pobreza no mundo, e apresentar o microcrédito como
uma das soluções possíveis. Isso será feito através do estudo das formas
organizacionais do segmento no Brasil, das posturas e relações dos três setores da
economia com o sistema de microcrédito.
Para falarmos sobre tudo isso citado acima é importante falar de um modo
geral sobre o processo da globalização. Com esse processo ocorreram várias
mudanças no cenário econômico e político e isso fez com que muitas empresas
passassem por processos vitais reformulando suas atividades como forma de sua
sobrevivência no mercado.
Tudo isso gerou também uma exigência maior na contratação de mão de obra
qualificada para desemprenhar certas funções específicas. Nessa casião, muitos
trabalhadores perderam seus empregos, visto que não tinham a qualificação exigida
diante do processo de mudança e com isso muitos entraram no mercado informal ou
pelo menos tentaram. E todo esse cenário de certa forma contribuiu ainda mais para
a inacessibilidade ao crédito no sistema financeiro tradicional com o aumento do
desemprego.
Sabe-se que existem diversas pessoas que não possuem acesso ao mercado
financeiro, no entanto, ainda existem poucas iniciativas por parte das instituições
governamentais no sentido de se criar políticas de acessibilidades voltadas para
essa população que sofre com vários tipos de mazelas. Aqui é importante ressaltar
que as atuais iniciativas existentes por parte do governo brasileiro no intuito de
contribuir com as políticas de microcrédito têm colaborado com ações voltadas para
a população de baixa renda, porém ainda não são capazes de atingir e sanar de
maneira eficiente os problemas enfrentados por essa parcela da sociedade.
Para isso, seriam necessárias políticas que se objetivam dar acessibilidade
para grupos específicos com o intuído de diminuir as desigualdades sociais e
econômicas predominantes em nosso país. E isso requer investimentos com o
12
objetivo de diminuir a pobreza, implementando ações para o pequeno e
microempreendedor no intuído do crescimento e fortalecimento dessas ações, assim
como o estímulo para a criação de instituições que realmente fiscalizem esses
programas.
Deste modo, as políticas de microcrédito podem ser vistas não somente
associadas a temas relacionados à parte econômica ou de uma ação
assistencialista, mas podem ser implementadas e abordadas como um programa de
governo de maneira a refletir nas políticas de caráter social e não necessariamente
de caráter assistencialista.
É importante ressaltar que sem a implementação dessas políticas pode-se
agravar uma crise de desemprego severo em nosso país e excluir ainda mais o que
não possuem acesso ao crédito.
A revolução no pensamento econômico, no século passado segundo Keynes, revelou que a determinação do nível de emprego não depende de decisões dos trabalhadores. A economia capitalista não consegue empregar, continuamente todos aqueles que desejam trabalhar.
Ainda segundo ele, existe o desemprego quando o impulso para os gastos em
investimento dos contratantes de mão de obra não é suficiente para justificar a
contratação de toda a população economicamente ativa que busca emprego.
Nesse ponto, poderíamos fazer uma reflexão no sentido de questionar quais
iniciativas poderiam ser feitas por parte dos governantes para tentar de alguma
forma alavancar a economia no combate a esses fatores.
Alguns autores afirmam que a lógica do sistema capitalista requer que o
poder de compra não seja meramente estendido a qualquer um que deseja ter
crédito. Os grandes investimentos geralmente são concedidos somente àqueles que
praticamente reembolsam os bancos.
Todavia, o pequeno e o microempreendedor não têm o mesmo acesso que os
grandes investidores possuem e nem o poder de barganha e por sua vez ficam a
13
margem do mercado informal por meio dos agiotas agravando ainda mais a
situação.
Em um cenário de instabilidade política, ética e econômica um dos grandes
diferenciais entre as grandes empresas e o pequeno e microempreendedor é que as
grandes empresas além de serem subsidiada e de contarem com a tecnologia
sofrem menos com os impactos de um mercado em crise. O micro e pequeno
empreendedor por sua vez seriam a parte mais fraca, pois existem poucas ações no
sentido de custear esses empreendedores por isso se faz necessária a criação de
ações orientadas ao desenvolvido desses trabalhadores e de combater a pobreza.
Isso evitaria que fechassem as portas dos seus pequenos negócios evitando
também que se tornem mais um desempregado no mercado de trabalho.
Logo, é necessária a intervenção do Estado no sentido de proporcionar uma
maior acessibilidade, sobretudo às políticas de microcrédito de forma orientada de
maneira a permitir a inclusão social e econômica, como ocorre em outros países.
Pois, com o perceptível aumento da velocidade das mudanças e da
ocorrência, aliados ao número de informações propiciam às empresas uma enorme
pressão que as obriga a elevar seus níveis de produção o que faz com que busquem
nos mercados profissionais qualificados para atenderam a demandas dos
consumidores que estão cada vez mais exigentes. E na sua ausência deixam de
contratar aumentando ainda mais o desemprego.
Por conseguinte, sem o auxílio do Estado, alguns trabalhadores que não
encontram no mercado formal iniciativas e oportunidades de emprego ficam cada
vez mais excluídos desses mercados capitalistas globalizados, e começam a passar
por grandes dificuldades de empregabilidade.
Com tudo isso, esses trabalhadores com pouca experiência acabam por
montar o seu próprio negócio sem nenhuma orientação e passam a trabalhar por
conta própria em busca de melhores condições de vida e se tornam micro e
pequeno empreendedor.
Assim, o estudo ora apresentado, tem como temática estudar e conhecer as
políticas de microcrédito, especificamente as políticas implementadas pelo Banco do
14
Nordeste - BNB, que atualmente é a mais bem-sucedida experiência sobre o
microcrédito no Brasil, e as políticas de microcrédito como política pública no
Governo Federal.
Sei que trarão muitos benefícios sobre um tema tão relevante como este,
visto que apresenta muitas vantagens não só para os governantes, mas também
para a sociedade como um todo.
Deste modo, este trabalho corrobora para uma maior divulgação de políticas
desconhecidas para vários segmentos do mercado e para a maioria da população
brasileira.
15
2.1 Caracterização e Definição do Problema
Considerando, a proposta de estudo sobre as políticas do microcrédito,
enquanto ferramenta de geração de renda e redução de pobreza apresenta-se a
seguir o problema da pesquisa: realizar uma análise descritiva do CrediAmigo em
uma década.
Objetivos
2.1.1 Objetivo Geral
Realizar uma análise descritiva da Política de Microcrédito do Programa
CrediAmigo nos anos de 2000 a 2010.
2.1.2 Objetivos Específicos
Descrever o histórico do microcrédito no mundo;
Descrever o histórico do microcrédito no Brasil;
Pesquisar a política econômica do microcrédito dentro da estrutura do
Governo Brasileiro;
Apresentar a Política de Microcrédito do Banco do Nordeste – BNB, por meio
do CrediAmigo;
Mostrar como essas ações refletem no crescimento econômico e na inclusão
social.
16
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No referencial serão apresentadas as fundamentações teóricas sobre a
política de microcrédito no mundo e microcrédito no Brasil, envolvendo
características, conceitos, atividades desenvolvidas no mundo e no Brasil e como
isso é refletido na sociedade.
3.1 Política de Microcrédito no Mundo
Existem registros históricos de que a primeira vez que se tenha mencionado
sobre a política de microcrédito foi quando no sul da Alemanha em 1846, foi criada
uma associação do pão, pelo religioso Raiffeinsen, que concedia farinha de trigo aos
camponeses endividados com agiotas para que os camponeses pudessem
aumentar a sua renda com a fabricação e a comercialização de pães. Todavia,
essas práticas ocorreram de forma isolada.
Por conseguinte, estudos mostram que desde o século XIX, já havia em
diversos países assim como na Europa exemplos de política de microcrédito.
Entretanto, a política de microcrédito mais conhecida e utilizada no mundo de
combate à pobreza que vem influenciando vários países aconteceu na década de
1970, em Bangladesh (SANTIAGO, 2014; REYMÃO e CORRÊA, 2014).
Antes de tratarmos mais profundamente sobre as políticas de microcrédito da
Índia, vamos abordar algumas diferenças entre microcrédito e microfinanças, visto
que tanto no mundo acadêmico quanto no político ainda se apresenta de maneira
confusa em discursos a respeito desses temas.
Micro, segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1986,
p. 1131), é um prefixo de origem linguística grega (mikrós) que, quando anteposto
ao substantivo, adjetiva-o como ―pequeno‖, ―curto‖, ―fraco‖, etc., tornando seu valor
lógico relativamente menor ao valor lógico do substantivo tomado isoladamente.
17
Ainda segundo Ferreira, crédito, é um substantivo com origem no latim
(creditu), que, dentre seus diversos e possíveis significados, encontra-se a ―soma
posta à disposição de alguém num banco, numa casa de comércio, etc., mediante
certas vantagens‖.
Na Cartilha do Microcrédito, produzida nas Rodadas de Interlocução Política sobre o Microcrédito, promovidas pela Comunidade Solidária, Francisco Marcelo Barone e outros (2002), assim definiram microcrédito:
[Microcrédito é] a concessão de empréstimos de baixo valor a pequenos
empreendedores informais e microempresas sem acesso ao sistema financeiro
tradicional, principalmente por não terem como oferecer garantias reais. É um
crédito destinado à produção (capital de giro e investimento) e é concedido com o
uso de metodologia específica (BARONE, LIMA, DANTAS, REZENDE, 2002, p. 11).
Para alguns autores as microfinanças por sua vez, define-se como um campo
da economia no qual se combinam mecanismos de mercado, apoio estratégico do
Estado e iniciativas comunitárias com o objetivo de estruturar serviços financeiros
sustentáveis para a clientela de baixa renda, sejam indivíduos, famílias ou empresas
(formais e informais).
C. K.( Prahalad 2005), destaca que:
a distribuição da riqueza e a capacidade de geração de renda podem ser entendidas sob a forma de uma pirâmide econômica. No topo da pirâmide estão os ricos, com numerosas oportunidades de gerar altos níveis de renda. Mais de 4 bilhões de pessoas vivem na BP6, com menos de US$2 por dia (PRAHALAD, 2005, p. 18).
O autor ainda menciona que quando se deixa de pensar nos pobres como
vítimas ou como um fardo e começarmos a reconhecê-los como empreendedores
em um mundo novo de oportunidades poderá se abrir.
Nesse sentido, o microcrédito disponibiliza um tipo de serviço diferenciado no
sistema financeiro, como por exemplo as concessões de empréstimo de uma forma
diferenciada das linhas de crédito tradicionais poderiam falar que o microcrédito está
no campo micro, enquanto as microfinanças estão em um campo Macro, visto que
este disponibiliza diversos serviços organizacionais e financeiros e não se limita
18
necessariamente ao dinheiro, hoje ele é um meio que inclui diversos tipos de
serviços. É importante fazer essa diferenciação, visto que na prática eles operam de
maneiras diferentes.
Voltando ao microcrédito na Índia, que vem contribuindo com a mudança de
vida da população de Bangladesh, especialmente a vida das famílias de baixa
renda: Yunus afirma que
O crédito por si só, não poderia acabar com a situação de pobreza. Ele é apenas um dos meios que permitem sair da pobreza. Outras saídas podem ser abertas para facilitar a mudança. Mas para isso é necessário ver as pessoas de modo diferente e conceber um novo quadro para essa sociedade, coerente com essa nova visão (YUNUS, 2006, p. 9).
Segundo Franco de Matos, avaliar a pobreza por meio de crédito subsidiado
fez parte da estratégia de desenvolvimento da maioria dos países no início dos anos
50 sem grande sucesso, pois a lógica assistencialista desses programas
rapidamente consumia suas carteiras. Além disso a intervenção governamental,
muitas vezes passível de corrupção, provoca descrédito nesse tipo de política.
O autor ainda acrescenta que o sistema de microcrédito adotado pelo Banco
Gremeen de certa maneira entra como um sistema financiador totalmente diferente
dos sistemas assistencialistas propostos até então.
Dessa maneira, fica fácil entender porque a política de microcrédito da índia é
reconhecida como idealizadora do microcrédito pelo mundo, pois antes da década
de 70 não existia formalmente o termo microcrédito.
De acordo com Yunus; Jolis (2000, p. 23):
Infelizmente não havia nenhuma instituição financeira capaz de satisfazer as necessidades dos pobres em matéria de crédito. Esse mercado do crédito, na ausência de instituições oficiais, fora açambarcado pelos agiotas locais, que sempre levavam seus ―clientes‖ a se embrenhar mais fundo na estrada da pobreza.
Além de vários outros problemas enfrentados pela população de Bangladesh,
historicamente os estudos nos mostram que em 1970, a cidade de Bangladesh,
passava por uma onda muito forte de fome e por uma série devastadora de
desastres naturais que causavam muitas inundações e muitas secas.
19
Há época as políticas adotadas por parte dos governantes, assim como em
outros países atuavam de maneira desorganizadas e por mais que recebessem
recursos financeiros pela comunidade internacional, esses recursos não eram
suficientes, tendo em vista que a desigualdade local era muito exorbitante e nem
todos eram contemplados com essas políticas.
E como se não bastassem todas essas tragédias conforme vários relatos
históricos, a população ainda passava pela grande crise do petróleo de 1973.
Todos os países são suscetíveis há passar por alguma crise seja em escala
maior ou menor, e quase sempre quando isso ocorre fica mais fácil a percepção da
desigualdade social, em tempos de crise toda a população sofre, ninguém fica
imunes da crise, assim imagina-se que as dificuldades passadas por todos eram
enormes, em especial os mais pobres.
Segundo o Banco Internacional de Desenvolvimento (1999), a América Latina
é a região com a distribuição de renda mais desigual em todo mundo.
Alguns autores acreditam que por meio das políticas desenvolvidas pelo
microcrédito será possível diminuir um pouco essa desigualdade.
Após observar todos esses acontecimentos, e conversar com uma das
mulheres da aldeia que era artesã, Yunus(2008) conseguiu entender o motivo pelo
qual a população carente de Jobra, continuava naquela situação.
Conforme relatos no livro Um mundo sem pobreza (2008, p. 59),
como muitas pessoas da aldeia, ela dependia de agiota local para obter o dinheiro necessário para comprar o vime e confeccionar seus banquinhos. Porém, o agiota somente emprestava dinheiro se Sufiya concordasse em vender-lhe tudo o que produzisse a um preço estabelecido por ele‖
Nessa perspectiva, é fácil compreender que alguém que consiga dinheiro
nessas condições a juros altíssimos e em contrapartida sem opção de venda, fica
impossível sair da extrema pobreza.
De porte dessas informações, em Bangladesh foi realizada uma pesquisa por
meio de visitas porta a porta, nas casas das famílias de baixa renda que
20
trabalhavam por conta própria por categorias como: artesãos e marceneiros por
exemplo, essas pessoas para conseguirem realizar suas atividades necessitavam de
dinheiro para comprar matéria prima, porém em razão de sua condição financeira
por não terem como comprovar a sua renda eles não tinham acesso às linhas de
credito tradicionais.
A pesquisa realizada contou com a participação de quarenta e duas famílias
que se encontravam nas mesmas condições que a artesã mencionada
anteriormente na pesquisa ‖que esses artesãos tinham pegado um total de 856
tacas e a época equivalia a 27 dólares americanos‖. Ou seja, com esse processo de
pegar empréstimos com juros exorbitantes dificultava ainda mais a vida desses
pequenos empreendedores.
Após a realização da pesquisa foi revelado que várias pessoas que viviam
endividados com esses empréstimos e que essas mesmas pessoas não teriam
chances de terem acesso ao crédito nas linhas tradicionais para saírem dessa
situação.
Segundo Janaine Lopes Pimentel, as pessoas que estão à margem do
sistema financeiro por não serem capazes de comprovar capacidade financeira,
garantias reais e, em muitos casos por não estarem legalmente constituídas, restam
aos investidores de microempreendimentos e aos trabalhadores autônomos recorre
a um ―sistema financeiro paralelo‖ operado por agiotas que atuam a margem da
legalidade, perpetuando as desigualdades e limitando o crescimento econômico das
pessoas que recorrem a esse tipo de crédito.
Já o autor Mazzutti (2005) diz que algumas pessoas até possuem algum tipo
de garantia, porém o valor que esses bens possuem é de baixo valor de mercado e
de certa maneira por conta disso não são aceitas como garantias.
Destarte, Yunus (2010, p. 24) teve a ideia de emprestar dinheiro para com a
intenção de liberta essas pessoas dos agiotas. Essa era uma maneira de tentar
financiar os mais pobres que não tinha acesso aos bancos por não enxergarem
naquela população potenciais clientes, pelo simples fato de não apresentarem
garantias. Ou seja, toda essa situação de certa forma contribui para a formação de
21
um sistema financeiro paralelo que por sua vez faz com que diversas famílias
reclusas a esse sistema façam empréstimos a juros altíssimos utilizando outros
meios.
Pois, por meio de ações como essa é possível interferir de certa maneira na
economia de maneira a gerar um impacto social e econômico por meio da
disponibilização de acesso ao crédito permitindo que pequenos empreendedores a
dessem a seu negócio ou ampliando os negócios já existentes permitindo, assim a
geração de emprego e renda.
Todavia, se analisarmos de maneira geral , toda instituição financeira é capaz
de fornecer crédito a essas pessoas, porém quando se trata de disponibilizar o
acesso ao crédito as pessoas de baixa renda, o discurso é sempre bem refinado
para não empestar dinheiro a essas pessoas, pois alegam que além da falta de
garantias reais, ainda argumentavam que a grande maioria daqueles que
precisavam de crédito são analfabetos o que contraria totalmente os princípios
intitulados pelos banqueiros mesmo que fossem baixas quantias e levando em
consideração que essas pessoas não possuem garantias.
Contudo, diante do potencial de crescimento pelas políticas de microcrédito,
levando em consideração que existe um público totalmente carente que necessita de
possibilidades para terem acesso a essa linha de credito, acredita-se que essa é
uma ação que possui um potencial muito grande de crescimento. E que possibilita o
empoderamento das pessoas de baixa renda.
Movido, então pelo objetivo de auxiliar as pessoas de baixa renda, que não
tinham acesso aos bancos o ―banqueiro dos pobres‖, como é conhecido, ficou
durante muito tempo agindo como fiador daquela população que de certa maneira
não eram assistidas pelas linhas tradicionais de crédito, assim, ele pegava dinheiro
emprestado aos bancos e emprestava o mesmo dinheiro aos pobres, que ao final
honrava fielmente com os pagamentos. Contudo, mesmo com essas ações e
horando os pagamentos a visão dos banqueiros em emprestar dinheiro aos pobres
não mudou.
22
―Com a iniciativa e experiência em emprestar dinheiro a pequenos grupos o
microcrédito tornou-se popular em 1976, e assim nasceu o Banco Grameen que é
um tipo especial de banco que empresta aos mais pobres sem qualquer lucro‖ e
tinha como objetivo de pôr fim à pobreza por acreditar que é essa seria uma
excelente estratégia de combate à pobreza por proporcionar muitos benefícios as
pessoas de baixa renda.
Assim, podemos entender que o grande objetivo do Grameen é pôr fim a
pobreza, acreditando nessa filosofia o banco oferece empréstimos a pequenos
grupos solidários formados por 5 pessoas, seus componentes são principalmente
formados por mulheres por acreditar que as mulheres, devedoras prioritárias,
tornam-se as maiores responsáveis pelas finanças domésticas.
Autores como Matos e outros, justificam que a concessão de microcrédito no
Grameen foi focalizada preferencialmente nas mulheres, justamente pelo fato de
acreditarem que elas são mais responsáveis em investir a renda na família e não
para uso pessoal, além de ampliar os ganhos sociais da política também são
reconhecidas por serem melhores pagadoras do que os homens.
Aqui, percebe-se que as experiências internacionais de políticas de
microcrédito diferenciam-se das políticas adotadas no Brasil, por exemplo,
principalmente em relação ao gênero, visto que como na implementação, inclusive
do CrediAmigo o público mais atendido era do gênero masculino, sendo essa
realidade foi mudada no terceiro ano. Na índia desde o início são voltadas para
mulheres. Nessa experiência realizada em Bangladesh, é demostrado que as
mulheres são melhores pagadoras do que os homens e mais responsáveis em
investir a renda na família e não para uso pessoal.
Assim, a política de microcrédito no mundo pode ser definida como uma
revolução no pensamento econômico, no limiar do novo século, impulsionada pelo
Economista Muhammad Yunus (2010).
a pobreza não apenas condena os seres humanos a uma vida de dificuldades e infelicidade, como também pode expô-los a perigos que ameacem sua vida. Uma vez que a pobreza nega às pessoas qualquer noção de controle sobre seu destino, ela é a derradeira negação dos direitos humanos, quando a liberdade de expressão ou
23
religião é violada em alguns países, as pessoas em geral reagem por meio de uma série de protestos globais. Contudo, quando a pobreza transgride os direitos humanos da metade da população mundial, a maioria de nós vira o rosto e continua vivendo.
Segundo Barone (2002,p.35):
O impacto positivo do microcrédito nas situações de pobreza é amplamente reconhecido. Ao permitir o acesso continuado ao crédito para negócios com capital próprio mínimo (razão pela qual não alcançam empréstimos junto ao sistema financeiro tradicional e pagam juros muito elevados a agiotas), fortalece o empreendimento e aumenta a renda das famílias. Desse processo, muitas vezes, resulta à volta do filho para a escola, a construção de novos cômodos na casa e a melhoria da qualidade da alimentação familiar.
Yunus esclarece que, O Prêmio Nobel da Paz, tem um significado talvez
desconhecido por muitos. O Comitê lhe concedeu esse prêmio não pelas práticas e
ações econômica, mas sim pela promoção da paz, justamente por colaborar com o
processo da retirada de várias pessoas da pobreza.
[...] assim, a pobreza talvez seja a ameaça mais séria à paz mundial, ainda mais perigosa que o terrorismo, o fundamentalismo religioso, o ódio étnico, as rivalidades políticas ou qualquer outra força frequentemente citada como geradoras de violência e guerras. Ela conduz à desesperança, o que leva as pessoas a cometerem atos impensados. Aqueles que não possuem praticamente nada não têm nenhuma boa razão para se abster da violência, uma vez que até mesmo os atos com mínima probabilidade de virem a melhorar as condições de vida delas parecem ser melhores do que não fazer nada e aceitar o destino passivamente.
Para Soares e Melo Sobrinho (2008, p. 19),―o prêmio traduz também o
reconhecimento de que dificilmente haverá paz sem que a sociedade internacional
reveja e mude a estrutura econômica, de modo a diminuir a desigualdade social‖.
Mesmo com vários avanços nas linhas de microcrédito na Índia, sobretudo
com o apoio recebido após ganhar o Prêmio Nobel da Paz, o programa de
microcrédito na Índia passou ainda mais a ser referência no mundo sobre política de
microcrédito, com isso o banco passou a receber muitas doações, foi aplaudido por
vários economistas, mas também foi um momento em que vários críticos contrários
às políticas adotadas pelo Banco Grameen se posicionassem a respeitos das
dessas políticas.
24
Assim, segundo o artigo do Mises Instituto, publicado em 28 de outubro de
2009, há época o único a apresentar questionamentos contrários às políticas de
microcrédito publicou que:
Em 2001, os repórteres Daniel Pearl e Michael Philips, do Wall Street Jornal, revelaram que as taxas de quitação dos empréstimos não eram nem próximas daquelas alegadas pelo banco, que pelo menos um quarto de seus empréstimos estava sendo utilizado para consumo, que o banco protela seus inadimplentes e esconde seus empréstimos problemáticos, e que o banco não está sujeito a qualquer tipo de supervisão pública ou privada. O governo detém 6% de seus ativos, ao passo que o restante pertence aos tomadores apenas superficialmente os tomadores de empréstimos, que não podem vender ou trocar suas ações – o que de modo algum significa propriedade.
Ainda de acordo com o instituto acrescentam que:
De primeira, parece uma boa ideia. Mas pense um pouco. Yunus iniciou suas operações em 1976. Trinta anos já se passaram. Se ele realmente tivesse feito uma descoberta empreendedora, será que os banqueiros convencionais a essa altura já não o estaria imitando?
Apesar de alguns autores relatarem que metade dos clientes do banco
Grameen possuem seus empréstimos atrasados, e que alguns críticos afirmarem
que não tem como mensurar os lucros ou prejuízos devido ao banco não está
submetido à supervisão, o Banco Grameen continua apresentando um elevado
alcance de eficiência e de melhoria nas condições de vida. E apesar de várias
críticas as informações disponibilizadas pelo Grameen com exceção dos períodos
entre 1983,1991 e 1992, revelam que ele vem apresentando lucro ao longo de sua
existência.
Mesmo sendo de conhecimento esse posicionamento contrário às políticas da
Índia, o Banco Mundial, apoia o microcrédito da Índia, sobretudo da Ásia e da
América Latina
Outra crítica, veio do dirigente da Basis, Vijay Mahajan (2006), ainda com
relação às práticas adotadas pelo Grameen alegando que elas sofrem de cinco
suposições fatais:
A primeira é a ideia de que os pobres deveriam estar em empregos autônomos ao invés de estarem trabalhando por salários. Isso é
25
contrário a toda a história de desenvolvimento econômico de sucesso;
A segunda é a ideia de que empréstimos são o principal serviço financeiro de que os pobres necessitam, sendo que o que eles realmente necessitam é de poupança e seguros;
A terceira é a ideia de que é o crédito que constrói o empreendimento, quando a verdade é que a iniciativa e a capacidade administrativa são mais importantes;
A quarta é a ideia de que quem não é pobre não necessita de crédito, quando a verdade é revelada pelo sistema bancário de mercado: rendas mais altas podem lidar com dívidas mais altas;
A quinta é a ideia de que instituições de microcrédito podem se tornar autossustentáveis, quando a verdade é que todas as experiências mostram que novos empreendimentos em áreas pobres baseados apenas no crédito raramente saem da dependência;
Em entrevista a David Roodman publicada pela revista Época em fevereiro de
2012, ele revelou que ―o microcrédito cria pobres endividado‖ Assim para ele a
geração de poupança e seguro ajudaria muito mais aos pobres do que a
disponibilização de empréstimos fáceis.
Deste modo, o que esses críticos que são contrários às políticas de
microcrédito alegam é que os programas não conseguem retirar as pessoas de
baixa renda da pobreza, assim como não trazem prosperidade para essas famílias e
que na verdade o que os países pobres precisariam seria de uma reforma
econômica radical que venda suas empresas estatais diminuindo assim suas
barreiras comerciais. E ainda acrescentam que é por meio do incentivo a poupança
que ocorrem o crescimento econômico e não por meio do microcrédito.
Destarte, em 2008 em uma entrevista a revistra Trip, sobre as políticas de
microcrédito como negócio, Yunus falou sobre as críticas ao seu trabalho e disse
―você pode não morrer de amores por esse modelo – e eu quero discussão, quero
ouvir críticas, mas não pode simplesmente dizer não funciona ou não é real‖ ele
ainda acrescenta que: ‖ lidar com teorias econômicas enquanto existem pessoas
morrendo de fome, para ele é uma piada. ‖
Diante disso, as políticas implementadas se objetivam a lançar o microcrédito
como instrumento de combate à pobreza de forma que se repercute nas questões
26
sociais de acessibilidade, visto que nem todos possuem acesso às linhas de créditos
tradicionais.
Autores como Neri (2008) e Barone (2002) nos fazem entender que apesar
das críticas ao microcrédito, existem alguns casos de sucesso do microcrédito
espalhados no mundo como por exemplo: Bank Rayat da Indonésia; Adopem da
República Dominicana; Financeira Calpiá em El Salvador; BancoSol, Caja Los
Andes, Programa de Desenvolvimento Municipal -Prodem, FIE e Dartawi na Bolívia;
Caja Social na Colômbia; Compartamos no México; MiniBanco no Peru e o
CrediAmigo no Brasil.
Assim, cada país conseguiu desenvolver uma política de microcrédito que de
certa forma foi espelhada no modelo da Índia. Nesse sentido, podemos perceber por
meio de dados históricos que cada país com suas peculiaridades conseguiu de certa
maneira se espelhar no modelo da índia e implementar em seu país ajustado as
necessidades locais.
Exemplo disso, podemos citar o apoio da AITEC, com a criação de várias
instituições com o objetivo de fornecer o microcrédito na América Latina.
Outras ações foram realizadas pela Accion na Bolívia, com a criação da
organização não governamental PRODEM, essa organização inicialmente
emprestava às mulheres pequenos valores para a compra de frutas e vegetais.
A maioria delas comprava de atacadistas que traziam caminhões repletos de mercadoria de dois em dois dias‖. Os varejistas compravam a crédito, mas tinham que pagar na próxima vez em que o caminhão voltasse. A taxa de juros embutidas nas transações com atacadistas, era bem mais alta do que a taxa cobrada pela PRODEM. O primeiro efeito do crédito conquistado foi ajudar os vendedores a negociar com os atacadistas em posição mais vantajosa. Ao adquirir grandes quantidades de frutas e vegetais pagando à vista os varejistas a consegui melhores preços além de pagar juros menores. (RHYNE,2001 p.67-68).
Nesse ponto é importante esclarecer que assim como na Índia, apesar das
políticas de microcrédito serem direcionadas aos grupos com o intuito de redução da
pobreza as pessoas que são consideradas marginalizadas e de serem realmente
direcionada aos pobres, não se trata de uma política de caráter assistencialista
mesmo reproduzindo um impacto muito forte no aspecto social.
27
Entretanto, hoje a ideia disseminada pelo Banco Gremeen é reconhecida
mundialmente e em vários países e tem se tornado um instrumento muito eficaz de
combate à pobreza e de inclusão social.
Se fossemos fazer uma comparação entre o banco dos pobres em
Bangradesh, e os ―bancos do povo‖ no Brasil ficariam fáceis identificar que, aqui é
cultural mesmo já existindo pequenas ações, a grande maioria dos bancos
esperarem o povo ir até suas agências, sendo que lá os agentes itinerantes do
banco vão em seus domicílios, ou seja eles promovem a acessibilidade e uma
relação de confiança com as pessoas de baixa renda o que não é muito comum
ocorrer por aqui.
Yunus, faz de certa forma uma grande crítica aos economistas por relacionar-
se a diminuição de pobreza somente com empregos formais assalariados, deixando
de fora em suas teorias os trabalhadores autônomos, já a filosofia do Grameen é
justamente fornecer crédito a essas pessoas gerando trabalho de maneira
autônoma. Pois é sabido que até o momento a economia, governos e entidades
privadas não conseguem gerar emprego para todos.
Por conseguinte, a pergunta é o que os governos irão fazer com essa parcela
da população mundial, visto que não conseguem empregar todos os seus cidadãos?
Será que em plena democracia e crise política e econômica essas pessoas
devam ficar de braços cruzados esperando a criação de empregos formais ou será
que elas teriam o direito de escolher de forma autônoma a melhor maneira de
desenvolver suas habilidades contanto com a colaboração dos governos e da
sociedade?
Entretanto, não é objetivo desse trabalho criticar o mercado formal, pelo
contrário o emprego formal é muito importante economicamente e socialmente para
todo e qualquer país, porém o que se questiona é quando ele não acontece na
velocidade que seus cidadãos necessitam, quais seriam as outras possibilidades
para enfrentar o problema do desemprego que poderiam ser implementados?
28
Hoje em dia, apesar do Banco Grameen servir como referência de política de
microcrédito em países como África, Ásia e América Latina, entre outros, ele só
existe em Bangladesh.
No ano de 1997, na capital dos Estados Unidos, Washington, ocorreu a
primeira reunião sobre o microcrédito. Na ocasião participaram vários países que
apresentaram vários programas de microcrédito existentes no mundo. Todos no
intuído da diminuição da pobreza.
[...], quase três mil delegados de 137 países, que representavam programas de microcrédito de diversos tipos e tamanhos. Juntos, foi selado o compromisso de, até 2005, utilizar o microcrédito e outros serviços financeiros para ajudar cem milhões das famílias mais pobres do mundo (de preferência por meio das mulheres dessas famílias).
Há época foram sugeridos vários esforços, entre eles a meta em atender cem
milhões de famílias. Apesar da crítica pelo fato de até o presente momento apenas
7,6 milhões de famílias serem atendidas pelas políticas de microcrédito a meta de
cem milhões pareciam ser uma meta inatingível e que isso poderia simplesmente
desencorajar o seu atingimento e acabar ficando para trás como tantas outras metas
inatingíveis , em 2006 na reunião da Terceira Cúpula do Microcrédito realizada no
Canadá na cidade de Halifax, foi anunciado o atendimento das cem milhões de
famílias .
Face à literatura existente, percebe-se que as contribuições do microcrédito
pelo mundo têm tirado muitas famílias da extrema linha de pobreza. Contudo, não se
pode perde o conceito original do real significado do microcrédito que é justamente
fornecer crédito ás pessoas pobres que não possuem acesso aos canais normais
por falta de garantias reais.
Sabe-se historicamente que muitas instituições que oferecem microcrédito
ignoram esse conceito e emprestam essa modalidade de crédito para pessoas que
não se enquadram nesse perfil: pobre sem acesso aos canais tradicionais.
No entanto, existem hoje muitas organizações que se auto intitulam
programas de ―microcrédito‖ e oferecem empréstimos para pessoas que não são
pobres, exigindo as garantias de pagamento habituais.
29
Ou seja, instituições que oferece crédito exigindo garantias reais se
descaracterizam totalmente do propósito das políticas de microcrédito agindo como
instituições tradicionais do mercado financeiro. E a grande maioria desses
empréstimos acabam não gerando renda, visto que, muitos são para o consumo
próprio como por exemplo compra de móveis e utensílios domésticos.
Assim, Yunus (2010), questiona em seu livro sobre o real conceito do
microcrédito, por isso ele aborda dois segmentos de microcrédito segundo:
Tipo 1: Programas de microcrédito focados na pobreza, que são programas de microcrédito com foco na pobreza, sem a necessidade de garantias de pagamento e a juros baixos. O banco Gameen foi criado para essa finalidade [...] Tipo 2. Programas de microcrédito para maximização dos lucros, são programas que cobram uma taxa de juros mais alta do que a da Zona Amarela. Eles operam na Zona Vermelha, que é o território dos agiotas. [...]
Nesse ponto é até sugerido no livro Um mundo sem pobreza, que o único tipo
que deveria existir de microcrédito seja o tipo 1, levando em consideração que é o
único que atende ao seu proposito inicial.
Há os que sustentam que os programas de microcrédito que buscam a maximização dos lucros são verdadeiramente benéficos para os pobres e para a economia mundial em geral. Eles argumentam que as altas taxas de juros embutidas habilitam as instituições de microfinanciamento (IMFs) a tornarem-se autossustentáveis mais rapidamente. [...]
Entretanto, contrário ao posicionamento de alguns autores que acreditam que
políticas do tipo 2 podem beneficiar os mais pobres argumentando que com a
maximização dos lucros tornam as instituições mais autossuficientes e que atraem
investidores, percebe-se que programas de microcrédito que visam lucros foge muito
do proposito do microcrédito em retirar as famílias da extrema pobreza, visto que fica
quase impossível ver crescimento e melhoria de vida para essas famílias cobrando-
lhes altos juros. E como se sabe a maioria dos créditos disponíveis no mercado são
do tipo dois, os quais reforçam esse tipo de política que fortalece as instituições de
crédito e afastam aqueles que realmente precisa dele.
A literatura revela que um dos grandes problemas do financiamento de
microcrédito é a falta de dinheiro nos programas de microcrédito e não a falta de
30
capacidade que esse programa possui. Também é sabido que muitos países
possuem esse recurso necessário para essas políticas
Nesse cenário o que poderia está faltando? Seria a mobilização dos
governantes para torná-los acessível para quem realmente necessita dele?
Alguns autores, ressaltam que além do dinheiro existem outras soluções de
mercado para o problema de microfinanciamento:
[...] seriam as IMFs, aceitarem depósitos de poupança- algo que as organizações de microcrédito administradas por ONGs são legalmente proibidas de fazer.
Essa solução é bem criticada no mundo das finanças, visto que não possuem
uma regulamentação que autorize essas entidades a faz tais ações.
Apesar de muitos críticos alegarem que as políticas de microcrédito sozinha
não resolver o problema da pobreza no mundo, sabe-se também que, essas
políticas somadas a outras ações podem fortificar esse sistema a alcançar melhores
resultados no combate à pobreza beneficiando milhares de famílias.
Contudo, as políticas de microcrédito não resolverem por sim só o problema
da pobreza, mas podemos afirmar que ela é mais uma ferramenta que bem
administrada possibilitara grandes avanços na desigualdade social.
A pobreza é um fenômeno multidimensional. Envolve a vida das pessoas e seu sustento. Para tirá-las dessa condição, é preciso visar todos os aspectos de sua vida – do pessoal ao mundial e da dimensão econômica às dimensões políticas, social, tecnológica e psicológica. Esses elementos não são separados e estanques; ao contrário, estão intimamente entrelaçados. (Yunus,2010).
Exemplo de ações de políticas de microcrédito podem ser ilustradas pelas 25
organizações descritas como ― a família de empresas Grameen‖,
A seguir:
Tabela 1
Empesa Fundação Propósito
31
Banco Gremeen 1983 Serviços financeiros para os
pobres
Grameen Trust 1989 Treinamento, assistência técnica
e apoio financeiro às IMFs em
todo o mundo
Fundação Krishi (Agrícola)
Grameen
1991 Experimentação e treinamento
para o aprimoramento da prática
e da produção agrícola.
Grameen Uddog
(Empreendimentos Grameen)
1994 Exportação de tecidos feitos à
mão da marca Grameen Check.
Fundo Grameen 1994 Capital de risco para o
financiamento de novas
empresas (iniciativas de
empreendedorismo social)
Fundação Grameen Mostho
O Pashusampad (Peixe e
Galo)
1994 Viveiro de peixes e programa de
criação de gado.
Telecomunicações Gameen 1995 Serviços de telecomunicações
para os pobres.
Grameen Shamogree
(Produtos Grameen)
1996 Venda de tecidos da Grameen
Check, feitos à mão, além de
artigos e produtos artesanais.
32
Grameen Cybernet 1996 Provedor de serviços de internet.
Graemeen Shakti
(Companhia Energética
Grameen)
1996 Fontes de energia renováveis
para áreas rurais de Bangladesh.
Telefonia Grameen 1996 Serviços de telefonia celular.
Grameen Kalya (Previdência
Grameen)
1996 Serviços de saúde e de
previdência para os membros e
equipe do Banco Grameen
Grameen Shikkha (Educação
Grameen
1997 Bolsas de estudos e outros tipos
de assistência educacional aos
estudantes das famílias pobres.
Comunicações Grameen 1997 Provedor de serviços de internet
e serviços de processamento de
dados.
Malharia Grameen 1997 Fabricação de artigos de malha
para exportação.
Gerenciamento de Capital
Grameen
1998 Administração de investimento.
Soluções Grameen 1999 Desenvolvimento de soluções de
TI para empresas.
33
Parque Tecnológico
Grameen
2001 Desenvolvimento de instalações
de escritório de alta tecnologia
em Deca.
Grameen Byabosa Baikash
(Promoção de Negócios
Grameen
2001 Provisão de garantias de
empréstimos para pequenas
empresas.
Inforvia Grimeen 2001 Conectividade de dados e
provedor de acesso à internet.
Educação Grameen Star 2002 Treinamento em tecnologia da
informação.
Grameen Bitek 2002 Fabricação e produtos
eletrônicos.
Fundo de Assistência Médica
Grameen
2006 Financiamento para os Serviços
de Assistência Médica Grameen.
Serviços de Assistência
Médica Grameen
2006 Serviços de assistência medica
para os pobres.
Grameen Danone 2006 Alimentos nutritivos a preços
acessíveis para os pobres.
Adaptado do livro (Um mundo sem pobreza, p 91 e 92),
34
Ou seja, realmente as políticas de microcrédito por si não retiram as pessoas
da pobreza, entretanto somadas as ações de melhoria de vida disponibilizadas pela
educação, saúde, assim como, pelos meios tecnológicos entre outros, podem
promover um bem-estar social em vários setores da economia melhorando a
condição de vida de muitas famílias pobres.
É importante ressalta, que conforme dados estatísticos do Banco Mundial e
pelo Banco de Desenvolvimento da Ásia, apesar de Bangladesh apresentar
tendências econômicas e sociais caminhando na direção certa, o país ainda é
considerado um dos mais pobres do mundo, com dezenas de milhares de pessoas
vivendo em nível pouco acima da subsistência. Isso reforça a informação de que as
políticas de microcrédito e mais uma ferramenta que trabalha para a diminuição da
pobreza e geração de renda.
Mesmo assim, as políticas propostas em Bangladesh assim como os desafios
e as oportunidades oferecidas no país servem como exemplos importantes que
podem ser compartilhados principalmente por países que estão em desenvolvimento
como o Brasil.
Abaixo seguem algumas ações propostas em Bangladesh que podem ser
aproveitadas por esses países, tais como:
a necessidade de pensar estrategicamente na questão do
desenvolvimento, analisando papel potencial de um país em sua região e
no mundo a fim de buscar oportunidade de crescimento;
a necessidade de superar mitos, estereótipos e pressupostos sobre os
países pobres e suas relações com os vizinhos;
a necessidade de encontrar abordagens diferentes e positivas para o seu
povo, e não somente os problemas; e
a necessidade de pensar como as empresas sociais podem cuidar dos
problemas sociais e econômicos que normalmente são deixados para ser
resolvidos pelo governo.
35
A literatura nos revela que a pobreza no mundo é diferente em cada país e
isso pode ser explicado e compreendido também, pelos fatores das variações
econômicas existente em cada país assim como as condições culturais e até
climática, por exemplo podem influenciar o nível de pobreza de uma região ou país,
porém tudo isso não pode ser um fator de exclusão social dessas populações, por
isso são necessárias a novas oportunidades de inclusão dessas pessoas.
Não se pode simplesmente alegar que em alguns países a pobreza é maior
por conta das questões climáticas, por exemplo, visto que muitos países são
devastados por tsunamis e logo em seguida consegue se reerguer sem causar
muitos danos aquela população sem deixar indicadores de pobreza naquela região
afetada.
Nesse sentido, seria possível saber quais indicadores podem identificar se
uma população ou família saiu da pobreza?
Em Bangladesh, por exemplo, o Banco Grameen desenvolveu um sistema de
pontos para realizar a medição por meio de um sistema de pontuação que descreve
condições de vida específicas por meio de pontuação. Assim quando a família atinge
dez pontos é sinalizado que aquela família saiu da pobreza.
Entretanto, quando os dez pontos não são atingidos, isso significa que aquela
família ainda não conseguiu. Entretanto, por meio das condições especificas
descritas é possível identificar o que está faltando para que essa família consiga sair
da pobreza.
Somente para exemplificação uma das descrições dos questionários seria: ‖ o
membro do Banco Grameen e sua família bebem água pura encanada, água fervida
ou água sem arsênico, purificada pelo uso de alume, tabletes de purificação ou
filtros. ‖ Se a resposta for positiva, indicando que todos essas ações ocorrem
naquela família, então eles possuem um ponto dos dez.
Assim, como desenvolvido em Bangladesh, todos os países podem mensurar
outros indicadores que sejam capazes de medir o nível de pobreza e os fatores que
corrobora para que ela ocorra naquela família.
36
Apesar de não ser especificamente o tema de estudo analisar as políticas de
microcrédito da Bolívia, irei explanar apenas algumas ações desenvolvidas lá,
somente para exemplificar que o microcrédito pode atuar e ser eficiente
independentemente das condições enfrentadas pelo país seja no campo da
economia ou da política.
Uma experiência com objetivos bem parecidos com a da Índia foi realizada na
Bolívia com o auxílio de organizações internacionais.
Assim em 1986, muito depois das experiências realizadas em Bangladesh,
com o auxílio da ACCION, que é uma agência privada norte-americana que tem
como objetivo treinar e prestar assessoria técnica a instituições de microfinanças
auxiliando-as no processo de tornarem-se autossustentável.
Deste modo com o auxílio dos recursos disponibilizados pela Fundação
Calmeadow e da USAID, que são agências de fomento, a primeira canadense e a
segunda norte-americana, foram lançadas na Bolívia o PRODEM, que contava com
a participação dos empresários e do governo boliviano com o objetivo de
disponibilizar empréstimos direcionados para os microempresários do país.
Assim com essa iniciativa, existem relatos que até o ano de 1991 esse projeto
foi um sucesso, entretanto o programa depois de 1991 passou por grandes
problemas relacionados a constituição jurídica, tendo em vista que para efetuarem a
captação de recursos que se dava em função de uma organização não-
governamental por conta disso existia a limitação de recursos a serem adquiridos.
Por conseguinte, decidiram em 1992 transformar-se em um banco comercial
do mundo especializado em microfinanças: conhecido popularmente na Bolívia
como Banco Sol ou Solidário.
Essa medida proporcionou ao país um grande avanço, tendo em vista que
com essa ação a instituição se tornou autossuficiente. E com essas iniciativas a
Bolívia que é considerada um dos países mais pobres da América do Sul,
transformou-se em referência nas políticas de microfinanças.
37
Ou seja, quando várias instituições juntamente com a população e seus
governos se mobilizam para realizar ações de desenvolvimento para o país,
percebe-se que pode ser possível.
Por fim, é perceptível que assim como na Índia e na Bolívia, ações como essa
promovida nesses dois países podem gerar um impacto positivo na vida de milhares
de famílias. Nesse sentido, fica a seguinte pergunta, devemos esperar ações dos
governos para promover mudanças como essas realizadas em Bangladesh ou na
Bolívia? Ou seja, a sociedade como um todo envolvendo todos os fatores
preponderantes da economia poderia promover a extinção da pobreza, deixando a
cargo dos governos somente a parte da legislação como forma de guiar os
trabalhos?
3.2 Política de Microcrédito no Brasil
A política de microcrédito no Brasil é conhecida como a concessão de
empréstimos a micro e pequenos empreendedores que necessitam de crédito, mas
que não possuem acesso a ele de forma tradicional (BANCO CENTRAL-BACEN).
A história da política de microcrédito no Brasil teve início por volta de 1973,
com a criação da União Nordestina de Assistência a Pequenas Organizações,
conhecida popularmente como Programa UNO que atuou no Brasil durante 18 anos.
Autores como Dantas (2014) falam que a UNO, era atuante nas capitais
Recife e Salvador, seu público informal era composto principalmente por economia
urbana e sua metodologia era dar capacitação aos pequenos empreendedores
viabilizando de alguma maneira esses pequenos empreendedores por meio do
microcrédito desenvolvessem alguma atividade por conta própria.
Essa instituição juridicamente era uma associação civil, sem fins lucrativos e
contava com a parceria de várias entidades internacionais como a Accion
International, por exemplo, mundialmente conhecida como AITEC.
38
Com relação a esse programa se fizermos um paralelo entre as políticas de
microcrédito da UNO com as políticas de microcrédito de Bangladesh, podemos
perceber que os técnicos da UNO, prestavam orientações de maneira a indicar a
melhor forma segundo eles deveriam ser aplicados os recursos. Por outro lado, em
Bangladesh eles incentivam os pequenos empreendedores a decidirem sozinhos
como aplicarão e usarão os recursos emprestados, ‖lá os funcionários do Banco
Grameen são treinados a não fornecer ideias de como deverá ser aplicado o
dinheiro ― fazendo com que aquele artesão utilizasse de sua criatividade e escolha a
melhor maneira de como aplicar o dinheiro.
O programa UNO era formado por organizações não governamental que são
especializadas em microcrédito e capacitação para trabalhadores de baixa renda do
setor informal.
De acordo com Dantas (2014), a UNO tinha como objetivos: a) demonstrar
para as autoridades que se um empreendedor pobre, informal recebesse um crédito
para investir em sua atividade econômica o pagaria adequadamente; b) que esse
crédito, ao longo de certo período, fortaleceria essa atividade, melhoraria as
condições de vida da família e criaria novos postos de trabalho.
Destarte, esse programa inicialmente dava capacitação sobre gerenciamento
aos seus clientes, assim como efetuava pesquisas sobre o perfil do microempresário
informal e o impacto do crédito. Entretanto, se comparado a Índia onde se criava
pequenos grupos de artesãos, aqui esse trabalho resultou na formação de uma
associação, com a criação de cooperativas, associações de artesãos e de grupos de
compras.
Com essa iniciativa a UNO financiou milhares de pequenos empreendedores,
assim como, financiou diferentes estados brasileiros a formarem profissionais
especialistas em crédito no setor informal. Durante muitos anos esse programa
serviu como referência para a expansão dos programas de microcrédito da América
Latina.
A UNO empenhou-se com essas ações por mais de dezoito anos, e apesar
do seu enorme sucesso tanto técnico quanto metodológico no ano de 1991 ela
39
fechou as portas, e não cabe esclarecer aqui os motivos pelos quais isso correu,
porém, alguns estudos mostram que a falta de sustentabilidade financeira de longo
prazo tenha colaborado para o encerramento de suas atividades.
Entretanto, cabe ressaltar que durante a sua atuação ela colaborou com
projetos pilotos e que na atuação do microcrédito serviu como referência na América
Latina.
Ao falarmos no processo de microcrédito do Brasil é importante ressalta que
ele foi e é influenciado por vários fatores econômicos e culturais. Também não
podemos esquecer que a própria legislação vigente, quando comparado ao
microcrédito realizado em outros países, ainda é uma política pouco difundida com
relação ao seu funcionamento efetivamente e para o que ele realmente serve.
Assim, ainda é um serviço que tem um grande potencial de crescimento.
Tendo em vista que alguns programas de microcrédito ofertam somente o crédito,
quando poderiam aliar a outros serviços.
Uma pesquisa realizada em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Administração
Municipal (IBAM) sobre as microfinanças no Brasil traçou um perfil das instituições
que já atuam no país. A pesquisa revelou que 38,1% das instituições de microcrédito
analisadas ofertam somente o crédito. A maioria oferta um outro produto ou serviço,
como capacitação ou assessoria, ou ainda os dois juntos.
Nesse sentido percebe-se o quando o microcrédito ainda pode colaborar com
a oferta de outros serviços que possam gerar emprego e renda.
Atualmente, no âmbito nacional existem três segmentos de políticas de
microcrédito efetivamente como programas, eles abrangem vários setores de suma
importância na economia brasileira entre eles podemos citar Sociedade Civil,
Iniciativa Privada e Setor Público.
Nesse sentido, iremos comentar um pouco sobre cada setor que de certa
forma possam promover melhorias por meios de parcerias para a disponibilização de
vários serviços que contribuiriam com as pessoas de baixa renda no sentido dessas
parcerias gerarem aumento de renda e consequentemente melhorando o acesso em
40
outros segmentos como saúde, educação e infraestrutura, sobretudo fiscalizando
para que as ações desenvolvidas por essas parcerias possam atingir pessoas que
realmente precisam se beneficiar com essas políticas. Como já ocorrem em outros
países.
Por conseguinte, voltando aos setores da economia brasileira, começaremos
a falar obre a sociedade civil atuante em vários segmentos da economia destacando
uma de suas políticas desenvolvidas pelo Banco da Mulher.
O Banco da Mulher é uma instituição sem fins lucrativos qualificada como
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público-OSCIP, e é uma ação voltada
a população de baixa renda, esse banco foi constituído em 1989 com o apoio do
Fundo das Nações Unidas para a Infância/UNICEF e do Banco Interamericano de
Desenvolvimento-BID, apesar de o banco da mulher inicialmente atender somente
mulheres, posteriormente expandiu para o público masculino. Atualmente esse
banco atua em vários estados brasileiros.
A iniciativa Privada por sua vez, desenvolve um papel muito importante nas
políticas de microcrédito como parceiras no setor público, porém as ações
desenvolvidas pelo setor privado ainda possuem um papel muito pequeno no
desenvolvimento do microcrédito diante do tamanho do seu potencial. Entretanto, as
poucas ações que existem são no sentido de reagir as implementadas pelo setor
público, mas mesmo sendo poucas essas ações conseguem ser eficientes e são
fundamentais para o fortalecimento da política de microcrédito.
Assim, percebe-se que a parceria é necessária, tendo em vista que não existe
setor privado forte se não existir um setor público eficiente e competitivo, então o
próprio setor privado percebe que é questão de sobrevivência ter essa eficiência e
efetividade do setor público.
Por conseguinte, percebe-se que estas também são propostas ações e
implementações de política de microcrédito todas com o intuito da diminuição da
pobreza e também de inclusão social. Pois, o acesso ao crédito para aqueles menos
favorecidos na economia pode ser uma das alternativas favoráveis para a redução
das desigualdades sociais e econômicas existentes em nosso país.
41
Entretanto, assim como em outros países é necessário que sejam quebradas
as barreiras, sobretudo institucionais de maneira que a inclusão dos mais
necessitados ocorra de maneira eficiente no sistema financeiro de crédito.
Partindo desse ponto, é claramente perceptível o grande potencial
demandado por pessoas de baixa renda que necessitam do acesso às operações de
microcrédito, seja para sair dar extrema pobreza ou até mesmo em busca de outras
demandas disponibilizadas pelo acesso ao crédito.
O que é bem falado na literatura e que precisa ser compreendido pela
sociedade como um todo é que as políticas de microcrédito produzem não só o
desenvolvimento das pessoas como também é um fato gerador de renda, e que
também traz muitos benefícios para o país em especial promovem o
desenvolvimento da localidade onde a política foi implementada.
Assim, quanto mais políticas de microcrédito forem implementadas menor
será a disparidade econômica entre seus cidadãos e maior será a inclusão aos
sistemas financeiro de crédito tradicional, pois com o aumento da renda as pessoas
mais pobres que antes eram imperceptíveis para o sistema financeiro tradicional
apresentado pelos bancos, passam a ser peças fundamentais para o
desenvolvimento econômico e social. ‗
No brasil, embora existam vários atores a favor do microcrédito como uma
política de inclusão social, essa iniciativa ainda é vista de forma marginalizada e
muitas vezes colocada como se fosse uma obrigação exclusiva do governo.
Realmente o governo pode proporcionar muitos programas nesse sentido,
pois existem algumas funções sociais de interesse da sociedade como um todo que
não podem ser prestadas por entidades privadas, como as desempenhadas pelo
Banco Central, por exemplo, que cuida das atividades bancarias as quais jamais
poderia ser prestada pelas entidades privadas. Assim como a segurança pública,
que também não poderia ser prestada pela iniciativa privada.
No entanto, nem mesmo todas as ações desenvolvidas pelo governo serão
suficientes para erradicar os problemas sociais existentes em nosso país e a própria
literatura não traz relatos de países que conseguiram sozinhos. Porém é importante
42
ressalta que o governo de maneira geral poderá sim influenciar a maneira como
serão realizadas essas ações incentivando as entidades privadas a caminharem
juntamente com os governos a encontrar soluções no intuito de resolver questões
em áreas que são negligenciadas.
Não se pode exigir ou esperar que as entidades privadas se tornem sozinhas
executoras dessas políticas, muito menos que elas solucionem essas questões,
assim como os governos também não obterão êxito sozinhos.
Entretanto, no tratamento de questões sociais é evidente que o governo
consegue se mobilizar com muitos recursos em prol dessas ações utilizando-se de
vários meios tais como por meio do recolhimento dos impostos, por empréstimos
realizados a outros países. Contudo, é sabido que essas iniciativas por si só não
trazem todos os recursos necessários nem a eficiência capaz de resolver essas
questões.
Assim, é necessário que o governo trabalhe com mais parcerias com
entidades privadas, pois sabemos que sozinho o governo apesar de consegui
mobilizar recursos, estes podem ser ineficientes e burocratizados inviabilizado de
certa forma que essas ações acontecem na rapidez que os mais pobres precisam
que elas ocorram.
Apesar de existirem em nosso país alguns estudos sobre o microcrédito,
ainda faltam estudos comparativos e confiáveis de controle voltados para medir a
eficiência das políticas de microcrédito, visto que as existentes não tratam
especialmente sobre eficiência, assim como também não existem trabalhos
empíricos satisfatórias para avaliar os impactos dessas políticas de microcrédito.
Talvez com a realização de estudos voltados especificamente para esse tema
mostrando o impacto e a eficiência que essa política pode proporciona aos mais
necessitados possam de certa forma sensibilizar os governos e as entidades
privadas como um todo.
Por fim, é de conhecimento da população brasileira as carências que ainda
assolam no nosso país, ainda existem muitas necessidades que deverão ser
supridas, não se pode deixar que aqueles que mais precisam sejam na maioria das
43
vezes esquecidos pelos governantes ou pela sociedade. É dever do estado e da
sociedade garantir que todos se tornem verdadeiros cidadãos.
3.3 Política de Microcrocrédito do Governo Federal
Sabe-se que historicamente o Brasil é marcado por uma extraordinária
desigualdade social e econômica. Assim as mudanças econômicas e sociais
ocorridas no governo Lula, sobretudo com relação à redução da pobreza e a
redistribuição da renda ocorrida, nesse período do governo, são vistas por
especialista como ações inovadoras e caracterizam uma inovação na parte social e
econômica das pessoas de baixa renda.
Em meados dos anos 2000, o Brasil foi caracterizado pela criação de várias
Instituições de Microfinanças – IMFs, que se organizavam como organizações da
sociedade civil e trabalhavam com parcerias em alguns casos com os entes
governamentais.
Assim, logo no início do governo Lula, já se percebia uma preocupação do
governo com a exclusão da população de baixa renda ao mercado de crédito. Logo
no ano de 2003 foi criada a resolução de número 286 do Conselho Deliberativo do
Fundo de Amparo ao Trabalhador – CODEFAT, do Ministério do Trabalho. Essa
resolução autorizava que fossem alocados R$ 1,0 bilhão nas IMFs, especificamente
para as operações de microcrédito. (COSTA, 2010).
No mesmo ano o Banco Central criou a Resolução Nº 3109, regulamentada
na Lei. 10.735 de setembro de 2003, que instituiu o direcionamento de 2% dos
depósitos à vista de diversas entidades financeiras para operações de
microfinanças. Todas essas ações ilustram a preocupação do governo nas políticas
de microfinanças. Tendo em vista a escassa disponibilidade de recursos para as
operações de crédito para a população de baixa renda.
No seu primeiro pronunciamento, Lula afirmou que ―a vitória significa a
escolha de um projeto alternativo e o início de um novo ciclo histórico para o Brasil‖.
Lula foi categórico: ―a maioria da sociedade brasileira votou pela adoção de outro
modelo econômico e social, capaz de assegurar a retomada do crescimento, do
44
desenvolvimento econômico com geração de emprego e distribuição de renda‖
(GONÇALVES, 2003).
No livro 10 anos de governos pós-neoliberais Lula e Dilma (JORGE
MATTOSO, p.111):
Desde o início desse período em 2003, quando da posse do primeiro governo de Lula, o país buscou sair de um imbróglio no qual se encontrava havia duas décadas, marcado por um crescimento econômico insuficiente, baixas taxas de investimento, acentuada vulnerabilidade externa, redução da capacidade de intervenção e regulação do Estado, elevação do desemprego, precarização do trabalho e aprofundamento de nossas vergonhosas miséria e desigualdade.
Ainda segundo o autor, o sucesso dos governos eleitos após 2002 não se
deveu exclusivamente à esfera da economia ou do social, mas ao uso de políticas
inovadoras capazes de articular o econômico e o social e potencializar o
crescimento, a produtividade e a institucionalidade, gerando algo inexistente ao
longo das duas décadas anteriores, o desenvolvimento.
Por outro lado, de acordo com A Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios -PNAD, a desigualdade de renda no Brasil vem caindo continuamente
desde 2001. Entre 2001 e 2011, a renda per capita dos 10% mais ricos aumentou
16,6% em termos acumulados, enquanto a renda dos mais pobres cresceu notáveis
91,2% no período. Ou seja, a do décimo mais pobres cresceu 550% mais rápido que
a dos 10% mais ricos. Os ganhos de renda obtidos aumentam paulatinamente, na
medida em que caminhamos do topo para a base da distribuição de renda.
(INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA- IPEIA, 2012).
Nesse sentido, percebe-se os avanços econômicos e sociais do governo
federal entre os períodos de 2001 e 2011. Entretanto, o objetivo aqui não é falar
sobre todas as políticas implementadas pelo ex-presidente, mas sobretudo falar
sobre as políticas de inclusão social por meio do microcrédito.
Assim, iniciaremos falando um pouco sobre a legislação especificadamente
sobre o Plano Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado-PNMPO.
45
Desde meados da década de 90, o governo brasileiro já vinha se
manifestando no intuito de propor a criação de condições necessárias para que as
pessoas de baixa renda tivessem acesso a serviços e produtos financeiros, e isso foi
possível culminando na criação do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo
Orientado (PNMPO), instituído em 2005 no governo do ex-presidente Lula.
Até então a legislação não tratava das questões de microcrédito orientado
amparado por lei, assim em 25 de abril de 2005, a Lei Federal nº 11.110 instituiu, no
âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego, o Programa Nacional de Microcrédito
Produtivo Orientado – PNMP.
Esse programa apresenta várias ações de política de microcrédito. Assim
será citado alguns dos seus principais objetivos segundo a Lei:
a) ampliar o acesso ao crédito entre a população de baixa renda e, com
isso, incentivar a geração de trabalho e renda entre os
microempreendedores populares formais e informais;
b) disponibilizar recursos para o microcrédito produtivo orientado;
c) integrar o microcrédito com as demais políticas de desenvolvimento
implementadas pelo Estado e pela sociedade civil;
d) fortalecer e ampliar uma rede autônoma e perene de financiamento
da economia popular;
e) intermediar a interlocução entre os operadores do setor e oferecer
apoio técnico às instituições de microcrédito produtivo orientado para o
seu fortalecimento institucional.
Esse programa conforme o seu paragrafo terceiro é voltado tanto para
pessoas físicas como para pessoas jurídicas que desenvolvam atividades produtivas
de pequeno porte.
A Resolução nº. 3.422/2006, do Conselho Monetário Nacional, possui a
finalidade específica de disponibilizar recursos para o microcrédito produtivo
orientado, conforme definido pela Lei Federal nº 11.110/2005 em seu artigo 1º, no
§3º, estabelece que:
46
Art. 1º Fica instituído, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego,
o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado - PNMPO,
com o objetivo de incentivar a geração de trabalho e renda entre os
microempreendedores populares.
[...]
§ 3o Para os efeitos desta Lei, considera-se microcrédito produtivo
orientado o crédito concedido para o atendimento das necessidades
financeiras de pessoas físicas e jurídicas empreendedoras de
atividades produtivas de pequeno porte, utilizando metodologia
baseada no relacionamento direto com os empreendedores no local
onde é executada a atividade econômica, devendo ser considerado,
ainda, que:
I - o atendimento ao tomador final dos recursos deve ser feito por
pessoas treinadas para efetuar o levantamento socioeconômico e
prestar orientação educativa sobre o planejamento do negócio, para
definição das necessidades de crédito e de gestão voltadas para o
desenvolvimento do empreendimento;
II - o contato com o tomador final dos recursos deve ser mantido
durante o período do contrato, para acompanhamento e orientação,
visando ao seu melhor aproveitamento e aplicação, bem como ao
crescimento e sustentabilidade da atividade econômica; e
III - o valor e as condições do crédito devem ser definidos após a
avaliação da atividade e da capacidade de endividamento do tomador
final dos recursos, em estreita interlocução com este e em consonância
com o previsto nesta Lei.
Nesse sentido, segundo a Lei o que caracteriza, portanto, o microcrédito
orientado à produção, além do porte do tomador do empréstimo, é a metodologia
utilizada durante todo o período contratado.
47
Por conseguinte, a Resolução nº 3.422, de 30 de novembro de 2006, do
Conselho Monetário Nacional, regulamentou que a realização de operações de
microcrédito destinadas à população de baixa renda e a microempreendedores
seriam realizadas com os recursos provenientes da parcela de depósitos à vista
captados por instituições financeiras.
Desse modo, os recursos que compõem essa carteira são provenientes da
imposição legal de aplicação obrigatória em investimentos em operações de
microcrédito de parte dos depósitos captados à vista por instituições financeiras.
A Lei Nº 11.110, que criou o Plano Nacional de Microcrédito Produtivo
Orientado (PNMPO), no Brasil, permitiu que os bancos comerciais pudessem
destinar até 2% dos depósitos mantidos em reservas no Banco Central à atividade
de microcrédito, diretamente, ou via financiamento de carteiras de instituições de
microcrédito.
Com a criação da lei percebe-se que foram criadas várias benesses,
sobretudo para as pessoas de baixa renda.
Autores como Santos, dizem que o PNMPO, ao criar formas alternativas de
financiamento para as IMFs e ―um marco regulatório próprio‖ foi marcante na
trajetória das microfinanças no Brasil (2014, p. 127).
Ainda segundo o mesmo autor, o PNMPO ilustrou bem a estratégia
governamental quanto a políticas de microcrédito, que se baseia em três pilares ―a
capilaridade dos bancos federais, os recursos públicos para financiar operações e os
subsídio da taxa de juros‖ para fortalecer todo o setor de microcrédito brasileiro.
Assim como existem vários elogios com relação a criação da lei, existem
também algumas críticas, sobretudo com relação as políticas aplicadas pelos
bancos.
Segundo a Folha de São Paulo, nem mesmo os bancos públicos cumpriram
as exigências de destina 2% do dinheiro captado nas contas correntes ao
microcrédito.
48
Destarte, todas as operações são fiscalizadas pelo Banco Central do Brasil
(BCB), que é o órgão responsável por cumprir e fiscalizar, no País, as disposições e
normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que regula o
funcionamento do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Alguns autores, ao analisarem os últimos dez anos de política econômica do
governo, apontam que foram marcados pela criação de um novo modelo de
desenvolvimento da economia brasileira, baseado na expansão do mercado interno
e com uma forte atuação do Estado para reduzir a desigualdade na distribuição de
renda.
Jardim (2009), considera que as ações do governo Lula apresentam uma
peculiaridade justamente por ser um partido historicamente de esquerda, que tem
priorizado projetos de inclusão social, como o microcrédito.
Aqui é importante ressaltar que as políticas de microcréditos implementadas
no governo Lula seriam uma continuação das políticas do governo anterior Fernando
Henrique Cardoso. Lula então teria dado à política um caráter mais social que FHC e
de modo que nenhum outro presidente da República brasileira tinha conseguido em
toda história.
Com relação a liberalização e acesso ao crédito com a chegada de um novo
governo, existia de certa forma uma grande especulação com relação ao acesso ao
crédito, sobretudo das pessoas mais pobres. Com a publicação da Lei 10.735 de
2003, que tratava justamente do direcionamento de depósitos à vista captados pelas
instituições financeira par operações de crédito destinadas à população de baixa
renda e a microempreendedores, foi de certa maneira tranquilizador a inserção de
uma lei que proporcionava a inclusão social dessas pessoas.
Alguns autores, costumam classificar essa promoção de inclusão social que
atingem as pessoas de baixa renda a esse processo de inclusão que ficou
popularmente conhecido como a ― bancarização dos pobres‖ visto que até a criação
da lei muito quase ninguém de baixa renda de acesso aos serviços bancários.
49
Nesse sentido, podemos afirmar que a eleição de um Presidente da
República de um partido de esquerda conduziu, então um novo modelo de política
econômica.
Tudo isso pode ser reforçado com a criação de programas de transferência de
renda em seu primeiro mandato por meio do programa Bolsa Família, promovendo
acessibilidade e poder de compra das famílias de baixa renda.
Por meio dessas políticas podemos perceber que foram desenvolvidos vários
projetos de acessibilidade das classes populares, a terem mais acesso a algumas
linhas de crédito existentes no mercado financeiro. Assim como foi promovido uma
maior aproximação entre o sistema financeiro e o governo que se lançou dessa
oportunidade e realizou várias parcerias no mercado.
No entanto, alguns autores criticam o fornecimento de créditos a pessoas de
baixa renda, com a alegação de que isso poderia provocar um maior endividamento
e uma certa dependência financeira mesmos sendo ofertados juros diferenciados do
atual sistema de crédito fornecido à classe média.
No sentido de explicar melhor a trajetória das ações de políticas de
microcrédito do governo do Partido dos trabalhadores – PT, será citada uma
pesquisa de campo realizada de 16 a 19 de março de 2012, pela CNI-IBOPE
Retratos da Sociedade Brasileira: Inclusão Financeira, essa pesquisa foi feita com
2002 entrevistados em 141 municípios. Ela fala sobre a inclusão financeira do Brasil
iniciado no ano de 2000. Na pesquisa observou-se que 36% dos brasileiros não
tinha conta em banco, e esse percentual era ainda maior para os estratos inferiores
de renda e escolaridade. As pessoas que tinham renda familiar até um salário
mínimo, para fins de exemplo, 64% não possuíam conta em bancos.
Assim, (90%) dessas pessoas que não tinha acesso ao sistema financeiro
tradicional e que por sua vez precisavam pagar suas contas utilizavam os
correspondentes bancários, (60%). Alegavam que não tinha conta em bancos por
não possuir condições financeiras. Entretanto, é a população de baixa renda a que
reporta a maior dificuldade em quitar suas dívidas (48% consideram difícil ou muito
50
difícil pagá-las) e também a que mais se endivida através de carnês ou cadernetas
de lojas (32% das dívidas). (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA, 2012)
É evidente que os resultados alcançados nesta pesquisa demonstram o quão
desigual é o nosso país, sobretudo para os mais pobres que sofrem com tantas
mazelas, é desigual não somente com relação a renda, mais também com relação a
sua escolaridade e acessibilidade aos serviços ofertados.
Somente para efeito de comparação em Bangladesh os analfabetos não
podem ser titulares de contas em banco. Assim como é demonstrada na pesquisa:
as pessoas que são pobres e que são menos escolarizadas, ainda são excluídas do
sistema financeiro tradicional.
Malgrado, a alternativa disponibilizada para eles, por sua vez são os
correspondentes bancários, como os correios, loterias da caixa e correspondentes
Bradesco, por exemplo, essas empresas atuam como intermediários entre
instituições financeiras e seus clientes, representam uma importante dimensão do
Sistema Financeiro Nacional (SFN).
Para finaliza, cabe ressaltar que mesmo com os avanços nas diversas
políticas com relação ao acesso ao crédito, na gestão do governo Lula, é possível
perceber que ainda existe uma baixa penetração das IMFs no sistema financeiro.
De acordo com Monzoni (2006), o microcrédito possui grande potencial de
crescimento na economia brasileira. Segundo relatado em sua tese, o microcrédito
no Brasil tem uma taxa de penetração muito baixa e a oferta desse serviço encontra-
se muito aquém a sua demanda.
Dando continuidade às políticas do ex-presidente Lula em primeiro de janeiro
de 2011 a presidente Dilma Russeff dá início ao seu primeiro mandato. Esse
momento foi considerado histórico, tendo em vista que ela foi a primeira mulher e até
o momento a única a ser presidente do Brasil. Nessa gestão foi dando segmento em
sua grande maioria às políticas econômicas do governo anterior.
Estudos sobre o seu primeiro ano de governo, elaborado pelo Centro de
Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores, considerou que “os princípios que nortearam a
51
sua atuação inicial derivaram de um modelo desenvolvimentista, em que o Estado
tem importante papel na regulamentação e no fomento do crescimento econômico,
bem como na definição das estratégias para o crescimento‖.
Durante o Governo Dilma, a questão do microcrédito foi incorporada ao
âmbito do Plano Brasil Sem Miséria, mais especificamente em sua dimensão de
inclusão produtiva, por meio do Programa Nacional de Microcrédito Crescer,
implementado em agosto de 2011.O Crescer apoiou-se em todos os avanços,
regulatórios e de financiamento, alcançados pelo PNMPO (SANTOS, 2014).
Assim, o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo que já existia no
governo Lula foi mantido, entretanto foi repaginado com foco nas operações
voltadas aos pequenos negócios que ficou conhecido como Programa Crescer. Ele
continua sendo um programa de microcrédito produtivo orientado para facilitar o
acesso dos pequenos empreendedores aos recursos necessários para abrir, manter
e expandir seus negócios.
E segundo o seu programa de campanha 2014, em menos de três anos, o
CRESCER concedeu R$ 14,1 bilhões em crédito, em 9,4 milhões de operações.
Deste total, um terço foi realizado por beneficiários do Bolsa Família, que buscam
fortalecer seu pequeno negócio com o microcrédito.
Segundo pesquisas de opinião em seu primeiro mandato foram registrados
elevados índices de popularidade do governo da presidenta, indicando um amplo
reconhecimento pelos brasileiros dessa histórica transformação da realidade
econômica e social do país iniciada em 2003 com o primeiro governo Lula, que
desde então foi constantemente aprofundada com inovadoras políticas de
desenvolvimento, combate à pobreza e distribuição da renda, mesmo durante crises
externas.
Sabe-se que ocorreram em seu governo muitas mudanças na composição da
sociedade brasileira, com as iniciativas de transferência de renda, com um olhar e
com o objetivo de inclusão social e redução da pobreza, tudo isso promoveram um
maior acesso ao crédito às pessoas de baixa renda, assim todas essas ações são
52
importantes como passos iniciais rumo à erradicação da enorme pobreza existente
em nosso país.
Assim, apesar das grandes mudanças serem percebidas com maior
intensidade nos tempos atuais, uma ressalva, porém, deve ser feita. Esse processo
de um estado mais atuante e regulador já vinha sendo implementado desde a
década de 90.
Entretanto tanto no governo do ex-presidente Lula, assim como no atual
governo de Dilma, os programas de microcrédito não decolaram plenamente
conforme a necessidade da população de baixa renda.
Também é de conhecimento da sociedade que o programa social de maior
visibilidade até então no país e que popularmente é considerado o carro chefe do
governo do PT, é o Bolsa Família. O programa conseguiu modificar o panorama das
políticas sociais nos anos 2000 e se consolidou como ―política de Estado, e não de
governo‖ (BICHIR, 2010).
Por outro lado, existem autores que criticam a maneira pelas quais essas
políticas são conduzidas. ―o ‘quase tudo‘ da política social brasileira‖, Bolsa Família,
ao se tornar consolidou, para o sistema de proteção social brasileiro, uma ruptura:
de um sistema universalista, desenhado na Constituição de 1988, para um sistema
incompleto e focalizado (LAVINAS, 2007).
Já para outros autores esses programas sociais foram acompanhados de
melhorias na condição social das pessoas de baixa renda e, no campo da política
social, por uma importante modificação no sistema de proteção social brasileiro:
políticas focadas na transferência de renda, como o Bolsa Família, assumiram papel
central.
Para finalizar, percebe-se que ao contrário de outros países, que no Brasil, o
microcrédito foi apropriado como uma política pública, e conduzida primordialmente,
por órgãos do próprio governo. Com a gestão do governo Lula, as políticas de
microcrédito foram associadas diretamente às iniciativas relacionadas à Economia
Solidária, assim como no governo Dilma, o microcrédito foi uma das peças chave da
dimensão de inclusão produtiva com o Plano Brasil Sem Miséria.
53
3.4 Política de Microcrédito do Banco do Nordeste – BNB
3.5 CrediAmigo
A história do Banco do Nordeste – BNB, deu início no governo de Getúlio
Vargas. Em 1951 o Estado do Nordeste sofreu vários estragos em consequência da
grande seca de 51, na época o então Ministro da Fazenda, era Horácio Lafer, após
uma viagem ao nordeste, o ministro apresentou exposição de motivos ao Presidente
Getúlio Vargas para a fundamentação da lei que criaria o Banco do Nordeste.
Assim em 19 de junho de1952, o Banco foi criado pela Lei Federal nº 1.649,
como uma instituição financeira múltipla e organizada sob a forma de sociedade de
economia mista, de capital aberto, tendo mais de 90% de seu capital sob o controle
do Governo Federal.
Desse modo percebe-se que o BNB é uma instituição financeira estatal
constituída na forma de sociedade de economista mista de capital aberto, mas é
controlada pelo governo federal, assim o Banco desenvolve várias ações que auxilia
tanto na inclusão social quanto na econômica atuando nos nove estados da Região
Nordeste, no Norte de Minhas Gerais e no Norte do Espirito Santo.
Segundo informações do site do Banco, seus ativos são em torno de 60
bilhões de reais e atua em 1990 municípios.
Assim iniciaremos agora a falar sobre o maior programa realizado pelo BNB,
que funciona desde 1998 e é considerado o seu maior programa de microcrédito, o
CrediAmigo.
Esse programa atua principalmente nas regiões do Nordeste, sobretudo no
atendimento dos mais pobres cuja maioria dos beneficiários estão sem trabalhar no
mercado formal e iniciam pequenas atividades por conta própria.
Assim, o CrediAmigo é uma linha de credito fornecida pelo BNB, e que tem
como objetivo principal oferecer uma linha de crédito sem muita burocracia de
maneira rápida a microempreendedores atendidos por ele. Dessa maneira, ele
possui rapidez sem muita burocracia devido a metodologia do programa adotada por
meio do aval solidário.
54
Ou seja, várias pessoas que necessitam adquirir o crédito se reúnem e
promovem um representante que atua em nome do grupo, sendo que todos
respondem de maneira solidária junto ao banco. Funciona como uma espécie de
avalista uns dos outros.
Segundo informações do site do Banco do Nordeste, os documentos
necessários para o cadastro do CrediAmigo são:
CPF, documento de identificação com foto e comprovante e residência
atual;
O atendimento ao cliente do CrediAmigo é personalizado, feito no próprio
local do empreendimento;
O empréstimo é liberado de uma só vez em no máximo sete dias úteis
após a sua solicitação;
Os valores iniciais variam de R$ 100,00 a 6.000, de acordo com o
produto, a necessidade e o porte do negócio;e
O empréstimo pode ser renovados e evoluir até R$ 15.000,00,
dependendo do produto, da capacidade de pagamento e da estrutura do
negócio permanecendo esse valor como endividamento máximo do
cliente.
Dessa maneira o programa vem sendo o principal programa de microcrédito
no Brasil.
O CrediAmigo é o maior programa de microcrédito brasileiro e o maior da
América Latina, ele funciona como Microcrédito Produtivo Orientado. Até dezembro
de 2001, tinha realizado 599,8 mil operações no valor de R$ 440 milhões. Sua
inclusão leva a um aumento de 110,23% no total de operações de microcrédito no
Brasil. (BID, 2000)
Isso significa que o CrediAmigo é um programa autossustentável, e isso quer
dizer que não depende de incentivos fiscais.
55
Diversos estudos sobre o CrediAmigo, têm revelado os impactos dele como
uma política capaz de gerar emprego e renda. Em cada estudo os autores revelam
seu ponto de vista a respeito do programa, sobretudo em seu aspecto positivo.
Souza (2008) cita que ―o Programa CrediAmigo demonstrou ser uma política
de crédito transformadora que procura trazer soluções a partir da potencialidade do
cliente e o desenvolvimento dos negócios por meio do acesso ao crédito‖ (Souza,
2008: 114).
Monzoni (2007) estaca que: ―Não é possível abordar as microfinanças do
Brasil sem falar do BNB. Mesmo não tendo sido um pioneiro no mercado, o
Programa CrediAmigo do BNB representa hoje mais de 60% do mercado nacional
de microcrédito produtivo orientado em clientes atendidos e 46,5% em carteira ativa.
‖ (Monzoni, 2007: 66-67).
Para Otero (2000), o programa do BNB é uma das únicas iniciativas mundiais
bem-sucedidas realizadas por bancos estatais, ao lado do Bank Rakyat Indonésia.
Outros estudos revelam ainda que o grande sucesso se dá, justamente pelo
fato do tipo de garantia solicitada pelo banco que é o aval solidário ao invés de altas
taxas de juros de mercado.
Ainda segundo o site do BNB, a garantia exigida para esse tipo de operações
é realizada pelos grupos que tomou o crédito em conjunto, ou seja, o compromisso
em pagar a dívida é de todos. E isso, diminui muito os riscos das operações
ofertadas.
Nesse ponto com relação as garantias, percebe-se que é bem semelhante as
garantias solicitadas pelo Banco Grameen em Bangladesh.
Segundo o site do Banco do Nordeste:
o CrediAmigo está presente em 1.420 municípios da área de atuação do Banco (Região Nordeste e Norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo). O atendimento se dá por meio de uma estrutura logística que dispõe de 170 agências e 26 postos de atendimento aos clientes.
56
Contudo, é importante destacar que a política de microcrédito do Banco
Gremeen, diferente do CrediAmigo, não é considerada como microcrédito produtivo
orientado, justamente pelo fato de que o agente de credito lá tem a função de
explicar como funciona o sistema de financiamento do Banco, mas não está
autorizado a dar instruções com relação ao negócio.
Assim, percebe-se que as políticas de microcrédito, especialmente a do
CrediAmigo vem contribuindo ao longo dos anos com o desenvolvimento de várias
cidades do Nordeste, assim essas ações podem auxiliar na diminuição da pobreza
nessa região.
Fisicamente a estrutura do Banco não é muito grande composto por volta de
300 agências, mas mesmo não sendo muito grande consegue atender todo 1990
municípios, principalmente no microcrédito que é para o pequeno empreendedor.
Isso também é possível, porque o Banco participa do Fundo Constitucional do
Nordeste – FNE.
O Fundo Constitucional do Nordeste foi criado em 1988 pela Constituição
Federal de 1988 e efetivamente regulamentado pela Lei de nº 7.827, de 27 de
setembro e 1989. Nesse sentido, o FNE financia boa parte das atividades do banco
e isso faz com que esse dinheiro chegue aos 1990 municípios os quais vivem
justamente da agricultura familiar.
Segundo o presidente do Banco, com o auxílio do FNE o Banco funciona mais
que um banco maximizador de lucro passando a ser maximizador de resultados.
Ou seja, são com os recursos aplicados no FNE que giram em torno de 13
bilhões que chegam basicamente para as famílias que mais precisam e para as
empresas. Isso pode significar que o Banco possui capacidade para novos
investimentos e mesmo sendo um banco de Desenvolvimento e atendendo
justamente um segmento de mercado que o próprio mercado não tem interesse em
atender por acreditarem que em tese esses clientes apresentam mais risco.
Na verdade, o banco de desenvolvimento surge justamente para corrigir essa
falha de mercado conseguindo ofertar a esses clientes e empresas diversos serviços
que podem gerar emprego e renda. E de certa forma com essas os governos
57
conseguem de certa forma transforma a vida dessas pessoas mais pobres
colaborando para que elas mesmas consigam quebra o ciclo de pobreza não dando
o peixe mais ensinando a cada pequeno empreendedor a utilizar de sua criatividade
e esforço para ser empreendedor e pesca o seu próprio peixe.
Assim o microcrédito no banco do Nordeste é uma experiência vitoriosa,
tendo em vista que no mercado brasileiro o BNB é líder. Segundo informações no
site do banco, hoje só no microcrédito é aplicado em torno de 9 bilhões segundo o
presidente do banco, ou seja, é um banco que investe na indústria, no comercio na
agricultura e nas pequenas iniciativas do microcrédito gerando renda e aumentando
os empregos formais diariamente.
Ainda de acordo com o Banco, são realizadas em torno de 16 mil operações
bancarias. Assim essas operações são consideradas um credito mais seguro em
torno do risco contrapondo com o mercado que acha que a princípio emprestando
dinheiro aos mais pobres seria uma operação com maior risco.
Todavia mesmo assim ele consegue ter lucros não se comparado aos os
Bancos do sistema financeiro tradicional, mas sobretudo, ele apresenta lucro até
mesmo para sua proporia sustentabilidade.
E apesar da existência de risco no Banco de Desenvolvimento os benefícios
advindos do banco tem um impacto muito positivo para a sociedade, ou seja, ele
consegue aumentar a renda das famílias e tornar essas empresas mais competitivas
porque fazendo isso as empresas prosperam gerando mais renda e
consequentemente gerando mais empregos.
Um dos fatores do programa CrediAmigo que proporciona o sucesso é a
maneira como são realizadas as operações que se dão por meio do aval solidário.
Assim como é feito em outros países, como na Índia, ou seja, o microcrédito não é
fornecido de maneira individual. Primeiramente é formado um grupo, e depois
escolhe-se um representante para que ele possa solicitar os recursos ao Banco.
O sistema de cobrança, ao contrário é realizado não individualmente, mas é
dirigido ao grupo e isso garante uma taxa de inadimplência muito baixa, muito mais
baixa que as outras atividades cobradas pelo Banco, assim como os valores são
58
baixos mesmo com a atual crise enfrentada pelo país tanto política quanto
econômica, conforme relatado pelo presidente do BNB ― pode-se dizer que a crise
não gerou inadimplência nessas operações‖.
Isso pode ser explicado tendo em vista que o valor e o custo para esses
clientes não são muito alto e o pouco que é emprestado faz toda a diferença para
eles.
Assim, é possível perceber o quanto as ações do BNB podem colaborar com
o aumento de emprego e renda e o quanto tudo isso desempenha um papel
importante na economia do país. Pois as ações que são desempenhas pelo setor
público podem também ser refletidas no setor privado.
Nesse sentido, são necessárias ações em conjunto para que cada vez mais
as políticas de microcrédito cheguem para as pessoas que realmente necessitam
dela, sobretudo nas regiões do Nordeste, tendo em vista que é onde está localizada
a parte mais pobre do Brasil, por isso sua base econômica mesmo com os avanços
ainda é muito incipiente.
Os estudos nos mostram que no final dos anos 2000 o Nordeste teve um
crescimento de emprego e renda, entretanto esse crescimento pode ser explicado
segundo alguns especialistas mais basicamente porque se tinha uma combinação
favorável de inflação baixa e um ganho de aporte de recursos financeiros por meio
de programas de transferência de renda e da formalização do mercado de trabalho.
Assim, ainda hoje com todas as melhorias disponibilizadas pelo microcrédito e
pelos programas de transferência de renda e da formalização de empregos no
mercado de trabalho a contribuição do Nordeste com relação ao Produto Interno
bruto-PIB ainda é muito pouco diante do potencial de crescimento do Nordeste.
Talvez hoje isso possa representam um grande desafio para o governo.
O microcrédito possibilitaria, então, o rompimento do ciclo de pobreza de uma
maneira eficiente, sem redistribuição drástica de renda ou necessidade de
intervenção estatal (BATEMAN, 2012).
59
Porém, alguns autores defendem que apesar das políticas de microcrédito
melhorarem a vida das pessoas de baixa renda, os programas não conseguem tirar
as pessoas dessa condição.
Assim eles apontam um outro assunto que não é tema desse estudo, será
explanado apenas para exemplificação.
Analisando o caso latino-americano, sobretudo com relação ao sistema
capitalista, autores como De Soto (1986), afirmam que o capitalismo não havia se
desenvolvido plenamente nesta região, porque os mais pobres não conseguiam
gerar capital por não terem acesso ao crédito.
Ainda segundo o autor, este acesso, por sua vez, era bloqueado por falta de
direitos de propriedade bem definidos: os pobres tinham ativos, mas não
conseguiam utilizá-los por não terem sua posse legal. Assim se eles tivessem
acesso ao crédito de certa maneira iriam gerenciar o capital se beneficiando então
do sistema capitalista plenamente.
Para finalizar, se analisarmos o caso brasileiro, podemos perceber que
realmente essa questão levantada por De Soto faz parte da nossa realidade. Assim
o Brasil possui vários desafios para serem enfrentados além daqueles já
mencionados pelos autores.
Metodologia
Para a realização deste trabalho será utilizado o método descritivo para
avaliar os dados apresentados pelo Banco do Nordeste, com o programa
CrediAmigo fazendo referência dos anos de 2000 a 2010. Desde modo, para
sustentar essa análise foi realizado um estudo bibliográfico com levantamento de
dados secundários, que irão sustentar a análise de dados do trabalho realizada.
Dessa forma a escolha do material foi direcionada para o objetivo proposto neste
trabalho.
Desta maneira foi realizada uma análise comparativa da política de
microcrédito do CrediAmigo de uma década no tocante à inclusão social e
econômica das pessoas que são excluídas do sistema tradicional adotados pelos
60
bancos. Nesse sentido, analisaremos agora os dados abaixo levando em
consideração o resultado do programa e a evolução dos dados de 2000 a 2010,
assim segue:
a) Carteira ativa;
Tabela 2
ANOS R$ (MILHÕES)
2000 16,9
2001 49,8
2002 71,9
2003 85,5
2004 106,7
2005 136,3
2006 170,6
2007 234,7
2008 362,2
2009 501,7
2010 742,6
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
61
Gráfico 1
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
b) Clientes ativos;
Tabela 3
ANOS MIL (CLIENTES)
2000 57.967
2001 85.309
2002 118.955
2003 138.497
2004 162.868
2005 195.378
2006 235.729
2007 299.975
2008 400.413
2009 528.792
2010 737.826
62
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Sobre a carteira ativa temos na década quando analisamos as medidas de
tendência central temos um volume total de R$ 2.478,9 bilhões de reais, uma média
de R$ 247,89 milhões de reais e uma mediana de R$ 136,3 milhões de reais. Dessa
forma, as medidas de dispersão da década em tela se mostram com valor mínimo de
R$ 16,9 milhões de reais em 2000, valor máximo R$ 742,6 milhões de reais em
2010.
De dez/2002 a dez/2003, registrou um crescimento de 18,76% na carteira
ativa e 16,43% de clientes ativos. O CrediAmigo terminou o ano de 2003 com uma
base de 138,4 mil clientes (carteira ativa da ordem de R$ 85,5 milhões de reais). Em
2004, o resultado indica melhoria na qualidade da carteira, visto que ocorreu no
período analisado um aumento de 22% na carteira de empréstimos saindo de R$
85,5 milhões de reais para R$ 106,7 milhões.
Gráfico 2
63
Em 2005, aos 195.378 clientes ativos, foram emprestados na carteira ativa
um montante de R$ 136,3 milhões de reais. Em 2006, dos 690.415 empréstimos
desembolsados atingiram a marca de R$ 170,6 milhões de reais. Em 2007, dos
824.782 empréstimos desembolsados, gerando um montante de R$ 234,7 milhões
de reais, isso significa um aumento de 37,5% em relação ao ano anterior.
O CrediAmigo cumpre, de forma sustentável, sua missão de ofertar serviços
financeiros e orientação empresarial aos clientes. Dessa forma atingiu em 2008 o
número de clientes ativos de 400.413 e um montante na carteira ativa no valor de R$
362,2 milhões de reais.
Em dezembro de 2009, o Programa estava presente em 1.773 municípios,
por meio de 258 pontos de atendimento, nesse período a quantidade de clientes
ativos era de 528.792 e um volume na carteira ativa de R$ 501,7 milhões de reais.
Em suma, em dezembro de 2010 o Programa contava com 314 unidades de
atendimento, em 1.829 municípios e já atuando em outras regiões do país, com essa
expansão tivemos um número de clientes ativos de 737.826 mil e um valor de R$
742,6 milhões de reais, logo em uma década tivemos um aumento da carteira ativa
em 4394% aproximadamente.
c) Empréstimos desembolsados (Milhões)
Tabela 4
ANOS R$ (MILHÕES)
2000 126
2001 201
2002 281
2003 368,2
2004 441
2005 548
2006 640
2007 794
2008 1.087,50
2009 1.499,20
2010 2.066,30
64
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
d) Empréstimos desembolsados (Quantidade);
Tabela 5
ANOS MIL (EMPRESTIMOS)
2000 165.916
2001 257.847
2002 347.259
2003 438.810
2004 507.807
2005 595.742
2006 690.415
2007 824.782
2008 1.009.594
2009 1.259.594
2010 1.632.482
Gráfico 3
65
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Gráfico 4
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
e) Valor médio dos empréstimos em reais;
Tabela 6
ANOS R$ (REAIS)
2000 700
2001 734
2002 762
2003 846,81
2004 868,28
2005 920,26
2006 926,41
2007 965,99
2008 1.077,59
2009 1.190,23
2010 1.265,75
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
66
Gráfico 5
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Sobre os empréstimos desembolsados em quantidade e milhões de reais
temos na década quando analisamos as medidas de tendência central um volume
total de R$ 8.052,2 bilhões de reais, uma média de R$ 732,01 milhões de reais e
uma mediana de R$ 548 milhões de reais. Dessa forma, as medidas de dispersão
da década em tela se mostram com valor mínimo de R$ 126 milhões de reais em
2000, valor máximo R$ 2.066,30 bilhões de reais em 2010.
Os empréstimos valores e a quantidade de empréstimos não param de
aumentar ano a ano, tendo o programa acumulado de R$ 125,9 milhões financiados
através de 165,9 mil operações de empréstimo em 2000. Os indicadores globais de
desempenho do CrediAmigo mostram que o Programa aplicou, em 2001, R$ 201
milhões em 257,9 mil operações de crédito. O crescimento de 56,7% da carteira
ativa – que alcançou R$ 49,8 milhões em dezembro – significou um crescimento
médio trimestral de 12,07%, superior, portanto, à referência ideal estabelecida pelo
Banco Mundial, de 10%.
67
Em 2002, o total de aplicações somou R$ 281 milhões através de 347 mil
operações de microcrédito, saindo de uma média de 233 operações realizadas por
dia útil em 1998, para uma média de 1.315 em 2002. Em 2003, o total de aplicações
somou R$ 368,2 milhões através de 434,8 mil operações de microcrédito, saindo de
uma média de 233 operações realizadas por dia útil em 1998, para uma média diária
de 1.647, em 2003.
O volume de empréstimos realizados em 2004 foi da ordem de R$ 440,9
milhões, correspondendo a um crescimento de 19,74% em relação a 2003 quando
foram emprestados R$ 368,2 milhões. Em 2005, dos 595.742 empréstimos
desembolsados, 82,16% foram de até R$ 1.000,00.
Os empréstimos são adequados ao perfil da atividade do cliente e têm
beneficiado os empreendedores da base da pirâmide. Em 2006, dos 690.415
empréstimos desembolsados, 82,5% foram de até R$ 1.000,00, foram emprestados
um montante de R$ 640 milhões.
Os empréstimos são adequados ao perfil da atividade do cliente e têm
beneficiado os empreendedores da base da pirâmide. Em 2007, dos 824.782
empréstimos desembolsados, 78,5% foram de até R$ 1.000,00, foram emprestados
um montante de R$ 794 milhões.
Em 2008, dos mais de 1 milhão de empréstimos desembolsados, 70,07%
foram de até R$ 1.000,00, foram emprestados um montante de R$ 1.087,50 bilhões.
Em dezembro de 2009, totalizam 92% a quantidade de operações com
valores que variam de R$ 100 a R$ 3.000, demonstrando a efetividade como
montante de
R$ 1.499,20 bilhões uma quantidade de 1.259.594 empréstimos desembolsados.
Dessa forma, em dezembro de 2010 o Programa contava com a maior parte das
operações é de baixo valor, 92% até R$ 3.000,00, indicando a efetividade das ações
com R$ 2.066,30 bilhões através de 1.632.482 milhão de operações de microcrédito.
Por derradeiro, os resultados demonstram o crescimento do CrediAmigo, com
excelentes indicadores de alcance de produtividade e sustentabilidade. Com índices
68
de inadimplência e perda entre os mais baixos do setor, o CrediAmigo se destaca
como política de inclusão social e financeira.
f) Índice de inadimplência *;
Tabela 7
ANOS Percentual
2000 1,76%
2001 2,27%
2002 2,09%
2003 1,81%
2004 0,84%
2005 0,84%
2006 0,73%
2007 0,81%
2008 1,13%
2009 1,16%
2010 0,72% Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Gráfico 6
69
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
g) Índice de perdas*
Tabela 8
ANOS Percentual
2000 1,43%
2001 5,77%
2002 3,79%
2003 3,30%
2004 1,30%
2005 0,85%
2006 0,89%
2007 0,73%
2008 0,73%
2009 1,00%
2010 0,52%
*Valores em atraso superior a 90 dias, apresentados no ano
corrente, em relação à Carteira de Empréstimos e Financiamentos
Gráfico 7
70
Do mês de 31 de dezembro de cada ano. Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
A inadimplência é rigidamente controlada não sendo possível prorrogação ou
rolagem de dívidas. A pontualidade é alta, por pressões morais e pela necessidade de
continuidade do acesso ao crédito. Nestes casos, são analisados relatórios semanais e
mensais de inadimplência e média de clientes novos, além de avaliados, mensalmente, os
indicadores, com gráficos e recomendações sobre o desempenho operacional.
Semestralmente, é realizado também um acompanhamento da evolução semestral dos
indicadores, dando suporte aos gestores para ações de maior prazo.
Em 2000, o trabalho de monitoração foi feito por dois profissionais em visitas
periódicas, tanto a unidades operativas como a clientes. Foram visitadas, no período, 35
unidades, ou 32,4% do total, avaliadas em critérios constantes do ranking de risco, como
inadimplência, produtividade por assessor, carteira ativa, valor médio dos empréstimos,
despesas administrativas e resultado financeiro. Em 2000, a diminuição do risco mostrada
pelos indicadores pode ser explicada pela melhora da qualidade na concessão de crédito
em virtude de maior experiência e melhor preparação dos assessores de crédito.
Em 2001, a maior parte (74,51%) das operações com atraso foi contratada com
periodicidade mensal de pagamento e quase a metade (47,62%) teve prazo total de até 90
dias para liquidação. As mulheres são responsáveis por 47% dos contratos em atraso. Mais
de um quarto (27,08%) da inadimplência de 2,27% ocorre entre os clientes novos,
diminuindo à medida que aumenta o número de renovações, conforme ilustrado no gráfico
6.
A redução é consequência do acompanhamento ao cliente e da assessoria
empresarial constante. A carteira de risco (30 dias) variou em torno de 4% durante o ano
de 2001, fechando o período em 3,68%. O percentual ficou bem abaixo do limite de 8%
estabelecido como referência pelo contrato do Banco Mundial. Em 2001, o aumento do
risco mostrado pelos indicadores no gráfico de perdas pode ser explicado em parte pela
redução da atividade econômica (2001 foi um ano de racionamento de energia) e pela
71
expansão da carteira, existindo um custo de aprendizagem relativo aos novos assessores.
Em 2002, em função dos esforços realizados para melhorar a qualidade da
carteira em 2002, os saldos com atraso superior a 30 dias (carteira de risco) diminuíram
durante o ano, passando de 3,20% no início do período para 2,39% no mês de dezembro.
Os empréstimos do CrediAmigo são classificados em função dos dias de atraso e
provisionados de acordo com os percentuais estabelecidos pelo Banco Central. O índice de
inadimplência representa a relação percentual dos valores não reembolsados, com atraso a
partir de um dia, encerrando-se em 2002 em 2,09%. No mesmo ano, a taxa de perdas a
relação percentual dos valores inadimplentes (em atraso) acima de 90 dias não
recuperados em relação à carteira. Com base nas amostras selecionadas e testadas, a
carteira, da forma como é informada pela instituição financeira, é consistente. Existem
provisões suficientes para possíveis perdas nas operações de microcréditos. A partir 2003,
outro diferencial foi a possibilidade de um cliente que já faz parte de um grupo solidário,
poder receber individualmente, empréstimo complementar para capital de giro.
Ou seja, um cliente do CrediAmigo tem a possibilidade de contratar até três
operações simultaneamente, sendo uma para aquisição de máquinas e equipamentos
(investimento fixo) e duas para capital de giro (uma através do grupo solidário e outra
individualmente), acredita-se que iniciativas como essa ajudam a conter os índices de
inadimplência e perdas. A taxa de inadimplência do CrediAmigo tem tido, ao longo de sua
existência, um comportamento acentuado de queda, chegando ao índice de 0,84% ao final
de 2004.
Em relação a 2003, houve uma redução significativa do índice de perda,
passando de 4,7% em 2003 para 1,9% em 2004, o que representa uma redução deste
índice de 58,5%. O valor bruto de perda foi reduzido em mais de 50%, desse aumento de
18,5% na carteira média ativa. A Provisão de Perdas é realizada com base na Resolução
do Banco Central do Brasil nº 2.682. Os resultados demonstram o crescimento do
CrediAmigo, com excelentes indicadores de alcance, produtividade e sustentabilidade.
Com índices de inadimplência e perda entre os mais baixos do setor, o CrediAmigo se
destaca como política de inclusão social e financeira se analisados os períodos de 2005 até
2010 os números são extraordinários.
72
h) Perfil dos clientes por gênero
Tabela 9
ANOS FEMININO MASCULINO
2000 49,5 50,5
2001 50 50
2002 51 49
2003 63 47
2004 61 39
2005 61 39
2006 62 38
2007 64 36
2008 65 35
2009 65 35
2010 65 35
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Gráfico 8
73
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
No ano 2000, os clientes do CrediAmigo nas regiões metropolitanas e no
interior dos Estados apresentavam características distintas conforme a localização
dos microempreendimentos, se em regiões metropolitanas ou no interior dos
Estados, nas quais o perfil das clientes femininas 48,8% no interior, 51,1% na região
metropolitana e 49,5% do programa.
Em 2001, a participação da mulher no total de contratos praticamente não
divergiu, girando em torno dos 50% e evidenciando que a abrangência do Programa
entre o público feminino fica a contento independentemente da localização.
Em 2002 e 2003, houve equilíbrio na participação de homens e mulheres
(50,8%). Em consonância com a experiência de microcrédito no mundo, as mulheres
são maioria no CrediAMIGO, representando cerca de 61% do total de clientes
atendidos.
A participação feminina cresceu significativamente nos dois últimos anos. Em
2000 a quantidade de clientes do sexo masculino superava a de clientes mulheres,
realidade que mudou a partir de 2002.
Duas clientes do CrediAmigo foram premiadas em 2005: Maria Mery Vieira
Silva (Unidade de Bezerra de Menezes - Posto de Caucaia - CE) foi a primeira
colocada na categoria comércio, recebendo a premiação de R$ 6.000,00; e Maria
José de Oliveira (Unidade de Bezerros-PE), a terceira colocada na categoria
indústria, com premiação de R$ 2.450,00. Em 2005 as mulheres eram maioria no
CrediAMIGO, representando cerca de 61% do total de clientes atendidos, já em
2006 foi para 62%.
Os clientes são, em sua maioria, pessoas que trabalham por conta própria,
em negócios de pequeno porte, e se caracterizam por dispor de um mínimo de
capital. Em 2007 o perfil das mulheres foi 64%. De 2008 a 2010 a participação da
mulher no total de contratos praticamente não divergiu, girando em torno dos 65%.
74
i) Setor das atividades atuantes;
Tabela 10
ANOS COMÉRCIO INDÚSTRIA SERVIÇOS
2000 87,8 7,3 5,7
2001 84,6 9,7 5,7
2002 81 14 5
2003 91 4 5
2004 92 3 5
2005 92 3 5
2006 92 3 5
2007 92 2 6
2008 92 3 5
2009 93 1 6
2010 92 2 6
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Gráfico 9
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
75
Por faixa de valor e setor de atividade na indústria: marcenaria, sapataria,
carpintaria, artesanato, alfaiataria, gráfica, padaria, produção de alimentos,
fabricante de uma infinidade de produtos de consumo, etc. Comércio: vendedores
em geral, mercadinhos, papelarias, armarinhos, bazares, farmácias, armazéns,
restaurantes, lanchonetes, ambulantes, feirantes, pequenos lojistas, açougueiros,
vendedores de cosméticos, etc. Serviços: salões de beleza, oficinas mecânicas,
borracharias, tinturarias, lavagens em geral, prestadores de serviços autônomos etc.
Em 2000, caracterizou-se por uma concentração dos micronegócios no setor
de comércio com 87,8%, indústria 7,3% e serviços com 5,7%. Embora continue
como atividade mais representativa no universo de clientes do CrediAmigo, os
microempreendimentos do setor de comércio registraram um ligeiro decréscimo em
sua participação em 2001, passando de 87% para 84,6%, o decréscimo foi
contrabalançado por um crescimento equivalente na participação das
microempresas do ramo industrial.
Em 2002, os empreendimentos de comércio (81%) receberam a maior
quantidade de recursos do CrediAmigo (R$ 227,6 milhões), seguidos da indústria
(14%), com R$ 39,3 milhões e pelo segmento de serviços (5%) com R$ 141,1
milhões. No entanto, em 2003 os empreendimentos de comércio receberam 91%
dos recursos do CrediAmigo.\
As indústrias receberam 4% dos recursos, enquanto o segmento dos
serviços ficou com 5%. Em 2004 o CrediAMIGO aumentou sua participação no
mercado potencial de microempreendedores o comércio recebeu 92% dos recursos
do CrediAmigo.
As indústrias receberam 3% dos recursos, enquanto o segmento dos serviços
ficou com 5%, esses números permaneceram até 2006. Os clientes são, em sua
maioria, pessoas que trabalham por conta própria, em negócios de pequeno porte, e
se caracterizam por dispor de um mínimo de capital fixo, utilizam poucos
trabalhadores – familiares ou assalariados, registrados ou não – e por participar
diretamente da atividade comércial recebeu 92% dos recursos do CrediAmigo.
76
As indústrias receberam 2% dos recursos, enquanto o segmento dos
serviços ficou com 6%, esses foram os valores de 2007. São pequenas unidades
produtivas que nasceram como alternativa de fonte de renda para seus proprietários.
Além de utilizarem pequena quantidade de trabalhadores assalariados, dispõem de
poucos capitais fixos, apresentam ampla necessidade de capital de giro e não têm
acesso ao mercado formal de crédito. Assim em 2008 os recursos foram destinados
92% para o comércio, 3% para indústria e 5% para serviços. Em 2009, os recursos
para a indústria foram menores de toda a série apenas 1%, os demais 93% para
comercio e 6% para serviços.
Em 2010, mais de 1,5 milhão de empreendedores tiveram a chance de
encontrar um novo caminho para seus negócios, por meio de acesso ao crédito, a
serviços financeiros e orientação profissional, assim o crédito no ano de 2010
destinados 92% para o comércio, 2% para a indústria e 6% para o segmento de
serviços.
j) Escolaridade;
Tabela 11
SUPERIOR DE 9 A 11 anos de estudo formal
DE 5 A 8 de estudo formal
ATÉ 4 de estudo formal
ANALFABETO
2000 3% 31% 15% 46% 5%
2001
2002
2003
2004 3% 28% 16% 50% 3%
2005 3% 29% 29% 38% 1%
2006 3% 29% 28% 37% 3%
2007 4% 31% 30% 34% 1%
2008 4% 33% 28% 33% 2%
2009 4% 34% 28% 32% 2%
2010 4% 32% 28% 31% 4%
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
77
Gráfico 10
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
No ano 2000, no que diz respeito à educação os clientes do
programa CrediAmigo refletem um triste dado da nossa sociedade brasileira
analfabeta ou com 1º grau incompleto somavam 61,7% no interior, 53,8% na
região metropolitana e 59,6% somavam de todo o Programa.
Entre os anos 2001 a 2003 essas informações não constavam nos
relatórios e BNB não dispunha dos dados em contato por e-mail. Do total de
clientes do CrediAmigo em 2004 os dados da escolaridade mostram 3% com
nível superior 28% de 8 a 11 anos de permanência na escola 16% de 5 a 8
anos de tempo na escola 50% até 4 anos de permanência na escola e 3%
analfabetos. Entre os anos de 2005 até 2010 os dados permaneceram
praticamente inalterados.
78
k) Renda familiar
Tabela 12
ANO ATÉ R$ 600 > R$ 600 < R$ 1000 > R$ 1000 < R$ 1500
> R$ 1500 < R$ 5000
ACIMA DE R$ 5000
2003 36% 26% 16% 20% 2%
2004 30% 28% 18% 21% 3%
2005 29% 28% 18% 22% 3%
2006 31% 29% 18% 20% 2%
2007 32% 27% 17% 21% 3%
2008 31% 28% 16% 22% 3%
2009 34% 26% 21% 16% 3%
2010 37% 24% 15% 20% 3%
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Gráfico 11
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2003 a 2010
O retorno ao crescimento sustentável só tende a favorecer a camada da
população de baixa renda e a gerar uma ambiência favorável ao desenvolvimento
79
das microfinanças. Alguns fatores contribuem positivamente para o aumento da
renda dos microempresários nordestinos.
É o caso da educação, cada ano de estudo corresponde a um aumento de
3,34% na renda do associativismo e cooperativismo os empreendedores que se
associam apresentam um lucro 39,62% maior que os donos únicos de negócios e da
formalização do empreendimento. A renda dos que se constituem juridicamente
supera a dos que atuam no setor informal em 15,9%.
A localização do microempreendimento também influi no desempenho,
resultando em lucro 11,27% maior para aqueles situados na região metropolitana.
Entre 2003 a 2004, de acordo com o porte, os clientes do CrediAmigo podem-se
dizer que a maioria das famílias até 30% ganhando até R$600,00 fica em situação
de subsistência.
Entre 2006 e 2010 os valores são praticamente os mesmos com renda até
R$600, entre 2007 e 2010 os clientes que ganhavam acima de R$5.000 se
apresentou inalterado.
l) Idade
Tabela 13
Ano Entre 18 e 24
anos Entre 25 e 35
anos Entre 36 e 50
anos Acima de 50
anos
2000 8% 31% 44% 8%
2001 11% 31% 43% 15%
2002 9% 31% 44% 16%
2003 9% 31% 42% 18%
2004 7% 30% 45% 18%
2005 11% 31% 40% 18%
2006 11% 31% 40% 18%
2007 12% 31% 39% 18%
2008 9% 31% 42% 18%
2009 9% 32% 41% 18%
2010 13% 32% 37% 18%
80
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
Fonte: Relatórios do CrediAmigo de 2000 a 2010
No ano de 2000, os clientes do CrediAmigo nas regiões metropolitanas e no
interior dos Estados apresentavam características distintas conforme a localização
acima de 35 anos 57,5% no interior, 62,4% região metropolitana e 59,1% em todo o
Programa.
O perfil dos clientes do CrediAmigo praticamente não variou entre 2000 e
2001. Em 2002, 60% dos clientes tinha idade superior a 36 anos. Em 2003, tinha
idade superior a 36 anos, dos quais 18% têm mais de 50 anos, faixas etárias de
difícil colocação no mercado de trabalho.
Forte instrumento de fortalecimento da cidadania e de redução das
desigualdades sociais na Região Nordeste do Brasil, o CrediAmigo proporciona a
inserção competitiva dos microempreendedores no mercado, contribuindo para
fortalecer e ampliar suas atividades, aumentar seus ganhos financeiros e melhorar a
Gráfico 12
81
qualidade de vida de suas famílias. Entre os anos de 2003 até 2010 os números
mudaram e 18% dos clientes por terem mais de 50 anos mostram a importância do
Programa para a população mais idosos.
Outra parcela que ficou praticamente inalterada entre 2000 até 2010 foi a
faixa entre 25 e 35 anos de idade.
82
4 CONCLUSÃO
O Brasil desde os anos 2000 até os dias atuais vem passando por diversas
mudanças tanto no aspecto econômico quanto no social. A pesar da analise deste
estudo se refere somente aos anos de 2000 a 2010, os aspectos nas mudanças
sociais efetivamente pelos governos começaram a ter uma ênfase maior a partir da
década de 90 com a criação do Plano Real para conter a inflação. Nesse período
podemos perceber que era latente a desigualdade social e econômica e que já
existia uma preocupação muito forte por parte dos governantes.
Nesse sentido foi percebida por parte dos governantes a necessidade de
implementação de políticas públicas para de certa forma tentar diminuir tanto a
pobreza quanto o desemprego no país.
Assim, percebemos a grande importância das políticas de microcrédito como
facilitador, e apesar das políticas terem começado no Governo de Fernando
Henrique Cardoso elas ganharam força no Governo de Lula, onde as camadas mais
pobres da sociedade começaram a fazer parte das políticas prioritárias do Governo
Federal.
Nesse aspecto as políticas de microcrédito contribuíram e contribuem até hoje
como um grande instrumento de redução da pobreza e desigualdade social.
Destarte, por meio de estudos conseguimos analisar a política do CrédiAmigo
desde o ano de 2000 até 2010 e percebemos com esse recorde que com a
retomada da economia brasileira no ano de 2000 o CrediAmigo pôde aplicar mais
recursos que nos dois anos inicias de atividades.
Segundo demonstram os relatórios do Programa foram aplicados R$ 125.9
milhões investidos em 165,9 mil operações de empréstimos à população de baixa
renda.
Por conseguinte, o Programa CrediAmigo consolidou a liderança de mercado
registrando crescimento em torno de 87,9% de sua carteira ativa e 57,9 mil
beneficiários ativos no mês de dezembro. Por meio desse crescimento tornou
possível a criação de mais 35 agências e cinco postos de atendimento, além de
83
contratados e capacitados 92 novos assessores que passaram a integrar a equipe
de trabalho, aqui ela já atendia em 2000 358 cidades.
Ou seja, em uma época em que o nosso país tinha um índice de desemprego
muito alto, o programa conseguia crescer de forma a gerar emprego e renda para a
população, sobretudo a de baixa renda.
Com o grande crescimento do programa foi possível efetuar o contrato no
valor de U$$ 50 milhões junto ao Banco Mundial. E devido ao seu destaque de
crescimento, tornou possível seu reconhecimento no IV congresso de Inovação na
Gestão Pública Federal, promovida pela Escola Nacional de Administração Pública -
ENAP, Mistério do Planejamento e o Instituto Hélio Beltrão.
Esse Programa foi também contemplado como destaque de
desburocratização, também pelo Instituto Hélio Beltrão. O CrediAmigo proporciona
um tratamento ágil e personalizado aos seus clientes, com atendimento no próprio
empreendimento do tomador.
Ele também, constitui um modelo de gestão baseado na sustentabilidade,
com profissionais contratados no mercado, o que gerou uma estrutura de custos
flexíveis, assim ele é autossustentável, e apesar de contribuir no aspecto social não
é um modelo assistencialista e não prega esse sistema.
Remunera os capitais investidos com regras de mercado, cobrindo os custos
de sua operacionalização, incluindo a depreciação de ativos fixos, com provisão
para perdas por empréstimos, riscos operacionais e custo financeiro.
Dessa forma, a continuidade do Programa é garantida independente de fontes
subsidiadas, orçamento governamental ou quaisquer doações internacionais. Esse
talvez seja um de seus melhores pontos positivos.
O seu processo metodológico possibilita acesso rápido ao crédito, com
transcurso máximo de sete dias para liberação dos recursos e os valores dos
empréstimos podem evoluir gradualmente, com um limite de 50% de aumento em
relação a operação anterior.
84
O programa ainda incentiva os tomadores como forma de premiação de 15%
de desconto nos juros por ocasião do pagamento da última parcela do empréstimo.
Esse programa apresenta vários pontos positivos, como maior índice de
penetração de mercado por exemplo na região Nordeste, ele é responsável por 57,9
mil clientes ativos em dezembro de 2000. Assim como a sua capilaridade de sua
estrutura em sua rede de agência e postos de atendimentos que permitem o
atendimento com as devidas orientações aos clientes do Banco com acesso à
tecnologia de crédito.
Além disso é disponibilizado também aos clientes assessoria, por meio de
visitas previamente a aquisição do crédito, onde são passadas as informações sobre
a capacitação desses clientes por meio de treinamentos por módulos que abrangem
temas relacionados à gestão empresarial, financeira, ambiental assim como sobre à
modernização tecnológica e comercialização.
O CrediAmigo criou um sistema de informações específicos para fornecer os
dados relativos à parceria com o Banco Mundial.
No ano de 2001 as aplicações do CrediAmigo no setor microempresarial do
Nordeste somaram, em 2001, R$ 201 milhões em 257,8 mil operações de crédito.
Nesse sentido, sem concorrentes do mesmo porte, o programa de crédito popular do
Banco do Nordeste findou o ano de 2001 como maior responsável pela penetração
de mercado de 4,6% no Nordeste - o maior índice verificado entre as regiões
brasileiras.
O impacto positivo das ações do CrediAmigo pôde ser verificado através de
uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais e Econômicas (IPESP),
que atestou um índice de satisfação como o Programa superior a 90% entre seus
beneficiários.
Um resultado positivo também confirmado através de uma auditoria realizada
pelo Tribunal de Contas da União-TCU na Paraíba aferiu sua efetividade do
programa. Em seu parecer, a auditoria do TCU, afirma que ―a análise mais
aprofundada da matéria principalmente junto ao público-alvo na constatação de que
85
de modo geral, o programa vem efetivamente beneficiando sua clientela, se não na
aplicação dos negócios, ao menos na sua manutenção. ‖
Na pesquisa realizada pelo TCU, 93% dos clientes ativos confirmaram a
facilidade para obter os empréstimos, item que só perde para os juros baixos entre
as principais vantagens do CrediAmigo apontadas pelos clientes.
A maioria absoluta (93%) dos que deixaram o programa o recomendaria a
outros microempresários e quase todos (98%) afirmaram que estão satisfeitos
com a ajuda do assessor de crédito.
As ações tiveram da Agência Alemã de Investimento (DEG) que, assinou
contrato com o Banco do Nordeste no valor de 15 milhões de euros para o
financiamento da carteira de empréstimos do programa.
Os empréstimos ofertados pelo programa giram em torno de R$100,00 até
R$1.000,00, sendo que esse valor pode chegar até R$ 15.000,00. E apesar do
volume de empréstimos serem altos a taxa de inadimplência do CrediAmigo tem
tido, ao logo de sua existência um comportamento acentuado de queda, chegando
ao índice de 0,84%, no ano de 2004, de acordo com os relatórios anuais do Banco.
No ano de 2005 em sua terceira edição do Prêmio de Microcredito do BNB,
que tem por objetivo reconhecer as iniciativas de sucesso dentre os clientes do
CrediAmigo com títulos de capitalização no valor de R$ 700,00 e troféus.
Com o objetivo de motivar os clientes a valorizar as instituições
microfinanceiras o Citibank, juntamente com a Accion Internacional, criou o Prêmio
Citigroup-Accion. Os candidatos concorreram em três categorias: comércio, indústria
e serviços, e pelo segundo ano consecutivo, os clientes do Crediamigo foram
agraciados com os prêmios dentre as principais instituições de microcrédito do País.
Nesse sentido, pode-se perceber que a eficiência operacional vem
apresentando crescimento contínuo com o aumento de produtividade, atingindo a
média de 402 clientes/assessor de negócio em dezembro de 2006. Assim podemos
perceber que o programa desenvolve várias ações como por exemplo em seu
programa Educando para Desenvolver que teve início no ano de 2006 com o
86
objetivo de reduzir o índice de analfabetismo dos clientes do CrediAmigo (dos quais
38% de um universo de aproximadamente 235 mil clientes em 2006, o Prêmio
Melhores Microempreendedores, do Citigroup Brasil, quando dos nove vencedores,
seis foram do CrediAmigo.
Assim, percebe-se que desde 1998 com a abertura 45 unidades o programa
foi crescendo a cada ano de maneira a beneficiar a camada mais pobre do nosso
país, não somente no Nordeste, tendo em vista que podemos citar como exemplo a
parceria no Rio de Janeiro com o VivaCred.
Outro importante reconhecimento feito ao Programa CrediAmigo, foi o
reconhecimento conferido ao INEC, eleito uma das 150 melhores empresas para se
trabalhar no Brasil, segundo a Gui Você S/A – Exame 2009, celebrando uma vitória
construída como fruto da parceria com o Banco do Nordeste.
Todavia, é importante ressaltar que o Programa tem contribuído e muito para
a redução da pobreza e desigualdade em nosso país. Isto posto com relação ao
desenvolvimento na indústria de microfinanças se comparado a outros países, o
Brasil ainda está atrasado, com exceção do programa CrediAmigo do Banco do
Nordeste, os demais bancos que trabalham com as políticas de microcrédito
encontram-se em atraso seja pelas altas taxas cobradas ou seja pelos entraves
burocráticos, sem falar nas garantias reais que a grande maioria as instituições
exigem dos pequenos empreendedores.
Assim, o Programa CrediAmigo de certa forma funciona como um facilitador
no auxilio e fornecimento de crédito aos empreendedores de baixa renda que não
possuem acesso às linhas de crédito tradicional. Portanto, o empenho realizado
pelas políticas do CrédiAmigo vem sendo fundamental na estimulação voltada para
ações que viabilizam o acesso ao crédito das pessoas de baixa renda.
Contudo, mesmo com essas ações e juntamente com as ações de estímulos
por parte do Governo Federal que incentiva outras instituições no fornecimento de
crédito, ainda necessitam de melhorias em sua disponibilização às pessoas que
realmente necessitam deste crédito.
87
A pesquisa desta dissertação foi baseada em pesquisa bibliográfica de vários
autores, assim como detalhada de acordo com os relatórios anuais da década de
2000 até 2010, do Programa CrediAmigo, disponibilizados pelo Banco do Nordeste.
Tendo como objetivo desta pesquisa em responder por meio desta dissertação as
contribuições do Programa Crediamigo como forma de inclusão social e econômica,
de maneira que isso irá refletir na redução da pobreza por meio da inclusão e
geração de emprego e renda.
Diante de todo estudo, podemos evidenciar que o Programa CrediAmigo,
oferta crédito aos pequenos e microempreendedores de baixa renda que apesar da
quantia ofertada individualmente ser de baixo valor, pôde ser percebido por meio
deste estudo que ao juntar todas as operações ofertadas pelo programa geram um
impacto positivo muito grande na economia do país gerando emprego e renda e
consequentemente a inclusão social e econômica das pessoas de baixa renda.
Foi demostrado nesse trabalho, também que a maioria as operações
ofertadas ao Programa estão voltadas para pequenas atividades tais como:
comercialização de confecção, frutas, verduras e outras atividades simples.
Por meio dessa pesquisa, também foi possível perceber que a grande
concentração dos clientes de baixa renda que utilizam o CrediAmigo encontram-se
no Nordeste.
Não podemos afirmar que as políticas de microcrédito são as únicas a
refletirem na melhoria de vida dessas pessoas de baixa renda, porém é importante
ressaltar que essas políticas certamente desempenham um papel muito importante
em nossa economia.
Assim, conclui-se que a partir dos objetivos proposto nesta pesquisa, foi
possível perceber que o programa CrediAmigo é um importante agente que vem ao
longo dos anos ajudando os pequenos empreendedores do nosso país em especial
os do nordeste de maneira que após o estudo percebemos também que ele vem
incentivado as pessoas de baixa renda a buscarem melhores condições de vida e,
apesar do Programa mesmo com suas benesses contribuírem para a melhoria de
88
vida, ele por si próprio não é capaz de consegui resolver o problema da pobreza em
nosso país.
89
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