Exposição Crônica a Neurotoxinas Ambientais - mppr.mp.br · Exposição Crônica a Neurotoxinas...
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Exposição Crônica a Neurotoxinas Ambientais
em crianças e adolescentes na fumicultura
Rosa Maria Salaib Wolff
CEREST – Centro Santa Maria/RS
Prepare o seu
coração,
pras coisas qu
e eu vou cont
ar,
Eu venho lá d
o sertão,
eu venho lá d
o sertão,
E posso não
lhe agradar,
Aprendi a di
zer não...
Geraldo Vand
ré
Aprender Fazendo‐ Nas unidades de produção familiar a socialização das crianças se da no ato de trabalhar. Em todas as atividades produtivas, a criança tem uma participação ativa, e é estimulada pelos adultos para aprender fazendo. A criança apropria‐se de todos os conhecimentos necessários para plantar, cultivar, colher, tratar dos animais e cuidar da casa.
‐ No trabalho, deve‐se procurar respeitar os limites físicos e a idade de cada criança, e ainda ser permitido intercalá‐lo com atividades prazerosas.
‐
‐ Deve haver possibilidade de programar o tempo de trabalho da criança para não sobrecarregá‐la num único dia, e nem obrigá‐la a executar trabalhos acima de sua capacidade física (muito pesados) ou perigosos. ‐ O trabalho assume assim importância na preparação da criança para a vida adulta, daí o seu profundo significado cultural e educativo.
A agricultura moderna, caracterizada pelo profundo vínculo de dependência entre o agricultor e a indústria e por condições técnicas de produção (utilização intensa de insumos de alto preço X valorização do produto ditado pela indústria a qual estão vinculados), impôs mudanças nesse ritmo de trabalho, intensificando‐o.Nas pequenas propriedades o produtor, ao associar‐se à indústria, arca com todos os riscos, recebe todos os insumos a preços determinados pela indústria e tem sua produção avaliada e cotada por ela.
-A ampliação do leque de necessidades da vida
moderna aumentou o custo de manutenção da família,
tornando impossível de serem supridas apenas com os
ganhos auferidos pelo trabalho do chefe da casa.
-Tornou-se assim premente a inclusão das mulheres no
trabalho para aumentar a produção e atrás das
mulheres foram os filhos.
-Para essas crianças e adolescentes não há muito
tempo para a escola, para os brinquedos e nem mesmo
para o riso, porque são encaminhados prematuramente
ao trabalho, sem direito de escolha, nem de recusa.
‐ Desde pequenas aprendem que seu tempo e sua energia devem ser orientados ao trabalho para incorporar os saberes, mas também prover os meios à própria sobrevivência. ‐Isto significa que os trabalhadores infantis não se engajam espontaneamente na produção, antes, são estratégias para a sobrevivência, uma vez que,despossuídas economicamente, as famílias procuram compensar com os ganhos da “criançada” a incapacidade dos adultos de produzirem o suficiente para uma vida digna.
‐ Agora o trabalho como “ajuda” e c
omo “aprendizado” é
argumento socialmente construído para just
ificar a
participação da criança n
as tarefas das unidades d
e
produção familiar legitimando assim a vinculação
das
crianças no trabalho, mesmo que neste
trabalho não haja
caráter educativo e que s
eja prejudicial, repetitivo
e
alienado, a “gurisada” se
mpre é estimulada a executá‐lo,
“para aprender” e “para
render mais”.
‐ O trabalho passa a ser socialmente percebido como algo
natural, necessário e imprescindível na vida da criança,
com vistas a preparação da vida futura.
Nestes termos, o trabalho prematuro, antes do problema
grave que é, transforma‐se em uma virtude.
‐Os malefícios que o trabalho precoce pode causar à
saúde, ao desenvolvimento físico, à continuidade da
escolarização, são minimizados pelos pais, diante da
valoração positiva do trabalho na formação das novas
gerações.
‐ Os pais de família entendem como sua missão desenvolver o senso
de responsabilidade dos futuros trabalhadores, evitando a agregação
de valores que configurem a antítese do homem trabalhador.
‐ Por isso, diante de situações que se aproximem do estereótipo do
vagabundo, os pais sentem‐se na obrigação moral de aplicar castigos
nos filhos, para corrigi‐los e para impedi‐los que recorram à condutas
condenáveis. ‐ Enfim, as condições que se configuram tendem a aprofundar as
desigualdades sociais: por um lado, as fumageiras, na determinação
de tornarem‐se cada vez mais lucrativas, exploram
inescrupulosamente uma população pobre, e, por outro, um grande
número de crianças e adolescentes permanecem desprotegidos pelas
leis e pelas políticas públicas.
Na realidade, est
abeleceu‐se uma articul
ação
entre o econôm
ico e o cultural n
um processo
contraditório de
valorização e de
svalorização da
mão‐de‐obra da cri
ança e do adoles
cente: ao
mesmo tempo em que se valoriza o
trabalho
precoce como estraté
gia disciplinador
a, se
desvaloriza esta
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, permitindo
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ia preparação es
colar que vai
reproduzir as co
ndições de vida o
ra vigentes.
‐ O trabalho in
fantil não é u
m problema do p
assado.
‐ Contraditoria
mente, em várias
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icultura
brasileira apa
recem, de um
lado, o emprego
de tecnologi
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― que combina m
áquinas, proc
edimentos técnic
os
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, informática e
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o prematura d
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cando‐as em
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que lembram tempos re
motos.
‐ No espaço ag
rário brasileir
o aparecem tecno
logias agrope
cuárias
com toques futur
istas junto às
crianças que
são transfor
madas
prematuramente e
m sucatas do pr
ogresso.
NEUROTOXINAS AMBIENTAIS
Neuro por terem sua ação principalmente sobre o Sistema Nervoso Central e Periférico embora também atuem em outros sistemas.
Toxinas pelo alto poder letal que contém, são capazes de, dependendo da dose, levar os seres vivos à morte.
Ambientais por estarem no meio ambiente por sua natureza (nicotina) ou por contaminação (agrotóxicos).
Entre as diversas neurotoxinas existentes, examinaremos: nicotina ‐ age sobre o sistema nervoso, produzindo dependência e distúrbios neuro‐comportamentais. agrotóxicos que nas exposições agudas e crônicas a um ou múltiplos pesticidas são capazes de provocarem inúmeras alterações físicas neurológicas ecomportamentais.
O desenvolvi
mento fetal é p
articularmente v
ulnerável a
determinadas
toxinas ambienta
is.
Processos de
desenvolvim
ento neuroló
gico críticos o
correm no
sistema nerv
oso central h
umano durante o
desenvolvim
ento
fetal e nos p
rimeiros três an
os de vida.
Estes process
os incluem difere
nciação corti
cal funcional,
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sis e mieliniza
ção entre ou
tras.
Toxinas ambienta
is silenciosam
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o feto via
transplacent
aria ou por in
gestão direta
através da po
eira
doméstica, solo, r
oupas e brin
quedos cont
aminados ou atr
avés
do leite materno
, atingindo a
ssim a criança na
primeira infância
NEUROTOXINAS AMBIENTAISAgrotóxicos
A exposição humana aos agtox. pode ocorrer de diversas formas: aplicação dos produtos, trabalho na produção, lavagem das roupas contaminadas, armazenamento inadequado, reaproveitamento de embalagens vazias, proximidade entre a produção de alimentos (horta) e área de cultivo do fumo, o simples fato de transitar próximo aos locais de aplicação, configuram ‐se como exposição. Este cenário pode estar comprometendo não apenas o trabalhador, mas também seus familiares.
Nicotina
Durante a colheita, os agricultores encontram‐se expostos e podem ser intoxicados pela nicotina presente na superfície das folhas do tabaco.
No organismo a nicotina é bio‐transformada em cotinina. Os níveis de cotinina na urina de trabalhadores expostos excedem aos encontrados nos fumantes.
Os efeitos desta presença configuram a “doença da folha verde do tabaco”
NICOTINA‐ A Nicotina interage com os receptores enzimáticos colinérgicos do tipo nicotínico, presentes no Sistema Nervoso Periférico, na junção neuromuscular, e no Sistema Nervoso Central, agindo tanto como agonista (ativador) e antagonista (inibidor), causando assim alterações nos sistemas de transmissão neuronal, que poderiam estar relacionadas com problemas neurocomportamentais futuros, ainda não estudados suficientemente (SAIDEMBERG 2002). ‐ Os poucos relatos descritos em seres humanos, bem como estudos em animais (embora raros) têm registrado acelerada atividade motora, aprendizado e memória deficientes em proles de mães expostas à nicotina durante a gravidez e lactação.
Ao investigar alterações fisiológicas reais do córtex cerebral de ratos após exposição pré‐natal a nicotina evidenciaram que a exposição a diferentes níveis de nicotina (de leves até semelhantes a fumantes pesados (+ de 20 cigarros/dia)), quando examinados em diferentes períodos após o nascimento observou‐se significativa redução na espessura do córtex cerebral, número de neurônios cerebrais reduzidos e cérebro com peso menor do que o grupo controle. Também foi observada uma diminuição global nas “ramificações dendríticas” (ligações entre as células cerebrais)
Revelando ainda
que quanto maior a do
se, maior os efeitos
sobre a prole.
Esta investigaçã
o constitui um excelen
te modelo biológico
para apoiar outro
s estudos que lig
am o aumento da
prevalência de hi
peratividade, déf
icit de atenção, m
enor
QI, e dificuldade
s de aprendizage
m em crianças com mães
que fumaram durante
a gravidez e lact
ação e serve
também para pensarmos naqu
elas mulheres que nes
tas
fases da vida (ge
stação / lactação
) dedicaram‐se a
semeadura,transpla
nte, cultivo, colh
eita, transporte,
costura, armazenamento do
fumo.
Para entender
mos o processo
de comprometimento do
s seres
humanos pela exp
osição aos pes
ticidas precisa
‐se entender o
processo bioq
uímico pelo qual u
ma molécula de inse
ticida
(acaricida, ne
maticida ou molusqu
icida) interage
com o seu alvo,
causando alte
rações em proces
sos fisiológico
s normais que
se
expressam na form
a de toxicidad
e.
A diferença e
ntre a vida e a
morte depende
apenas do núm
ero de
neurônios e da
dose de neuro
toxina.
Cabe aqui obs
ervar o impacto d
essas neuroto
xinas sobre um
sistema nervo
so em desenvolvimento co
mo é o caso das
crianças e
dos fetos.
Agrotóxicos
Envenenamento por NICOTINA (DFVT)
É uma realidade no dia a dia do fumicultor.•Índices padrões de cotinina:•Não fumantes ‐menos de 10 ng/ml (nano gramas por milímetro)
•Fumantes ‐ mais de 50 ng/ml ( nano gramas por milímetro).
•Índices encontrados:•Não fumantes trabalhadores na colheita do fumo – de 68 a 380 ng/ml
•Fumantes trabalhadores na colheita do fumo – índices alarmantes de 180 até 800 ng/ml.
•DOSE LETAL = 1000 a 1200 ng/ml
Sabemos que neurotoxinas ambientais em exposições
maciças matam (tanto a nicotina como os agrotóxico
s)!
Estamos começando a entender que a exp
osição crônica aos
agrotóxicos provocam outras enferm
idades como depressão,
câncer, alterações hormonais, lesão he
pática, lesão renal.
Exposição crônica a nicotina?
????? Não sabemos nada!!!!
Exposição crônica a nicotina e
a múltiplos agrotóxicos???
Não sabemos nada!!!
Que agravos são capazes de
trazer àqueles que foram ex‐
postos as toxinas desde a vid
a intra útero?
O que sabemos...‐ Altos índices de depressão e suicídio.
‐ Altos índices de abortamento.
‐ Altos índices de deficiência mental
‐ Altos índices de crianças mal formadas.
‐ Altos índices de fetos anencéfalos (média
mundial 1/100.000, região central 5/100.000.
‐ Dificuldade de aprendizagem 30% nas escolas
da região fumageira.
Trabalho infantil
Acidente de trabalho
Exposição a neurotoxinas
Sintomas intoxicação crônica
Exames alterados
Hormônios exposição máxima e mínima
22
14
59
0
5
10
15
20
25
100% 63,63% 22,72% 40,90%
Provas da Funções Renal
CreatininaUréiaFunção Renal AlteradaCrianças Avaliadas
Escala para avaliar depressão 52,64%
• 40 adultos avaliados
• 20 acima do ponto de corte
• 18 abaixo do ponto de corte
Psicologia
• Para avaliação das crianças em relação ao problema de aprendizagem, utilizou‐se os testes Bender‐SPG para se analisar as habilidades visomotoras e R2 que permite avaliar o conteúdo intelectual abstrato, sem nenhuma pretensão de abranger a totalidade do potencial intelectual das crianças avaliadas, além de entrevistas, visitas domiciliares e observação do comportamento dos menores na escola.
22
4,50%
8
26%
1
17,7%
5
0
5
10
15
20
25
100% 26% 4,50% 22%
Avaliação da Capacidade Intelectual
Inteligência muito baixa
Inteligência baixa
Inteligência MédioInferiorInteligência Média
Inteligência MédioSuperiorInteligência Superior
Crianças Avaliadas
22
19
30
5
10
15
20
25
100% 87% 13,50%
Maturidade Visomotora
Crianças Avaliadas
ImaturidadeVisomotoraBoa maturidadevisomotora
Ver a morte sem chorar,
A morte e o destino tudo,
Estava fora de lugar, Eu vivo pra concertar.
Geraldo Vandré
ObrigadoCEREST – região centro / rs