Eu Estive No Planeta Vênus - Salvador Villanueva Medina

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EU ESTIVE NO PLANETA VÊNUS SALVADOR VILLANUEVA MEDINA FUNDASAW www.fundasaw.org.br 1 EU ESTIVE NO PLANETA VÊNUS I Edição Brasileira Título original espanhol: Estuve en el planeta Vênus Autor: Salvador Villanueva Medina Tradução da terceira edição impressa na Colômbia em 1973 de: KARL BUNN DIREITOS AUTORAIS DESTA EDIÇÃO: Fundação Samael Aun Weor Curitiba PR Brasil

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EU ESTIVE NO PLANETA VÊNUS

I Edição Brasileira

Título original espanhol:

Estuve en el planeta Vênus

Autor: Salvador Villanueva Medina

Tradução da terceira edição impressa na Colômbia em 1973 de:

KARL BUNN

DIREITOS AUTORAIS DESTA EDIÇÃO:

Fundação Samael Aun Weor Curitiba PR Brasil

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SUMÁRIO

Capítulo 1: O contato

Capítulo 2: A nave

Capítulo 3: A nave-mãe

Capítulo 4: Chegada à Vênus

Capítulo 5: Primeiras impressões

Capítulo 6: Examinando o passado venusiano

Capítulo 7: Um vôo sobre Vênus

Capítulo 8: Encontro com os franceses

Capítulo 9: Como os venusianos se divertem

Capítulo 10: A despedida

Capítulo 11: De volta aTerra

Apêndice: Naves interplanetárias

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Apresentação

Por Karl Bunn

Traduzi este livro nos anos 70, logo que tive oportunidade de adquiri-lo. Depois, fizemos uma edição

impressa – mas foi um fracasso de vendas. Aparentemente, as pessoas sempre estiveram mais interessadas

em histórias de ET’s monstruosos e assassinos do que em relatos simples, diretos e honestos, de gente

simples, falando de bondade, respeito, altruísmo e fraternidade. Portanto, quase 30 anos após a tradução,

dispondo hoje de canais próprios de comunicação com o mundo, graças à internet, novamente iniciamos a

distribuição desta obra referendada pelo Mestre Samael Aun Weor, que conheceu o autor deste livro

pessoalmente.

Dentro deste campo da vida extra-terrestre temos ouvido muitas histórias. Muitas, sem dúvida, honestas e

verdadeiras; outras, puras fantasias. Todos os que tiveram experiências reais com seres de outros planetas

foram, literalmente levados à fogueira das calúnias pelos que se dizem “especialistas” no tema. Dentre esses

“especialistas” há aqueles que sequer até hoje avistaram alguma nave, mas, ainda assim, se julgam

superiores aos que nelas viajaram dentro e fora de nosso sistema solar.

Este livro, junto com mais alguns poucos que tivemos oportunidade de conhecer, graças aos trabalhos sérios,

mas anônimos, desenvolvidos por pessoas de nossa confiança em diferentes partes do mundo, dá uma

mostra real e autêntica de como vivem essas humanidades que estão em estágios bem mais avançados que

nós, os primitivos e atrasados moradores deste planeta selvagem chamado terra.

A questão mais real e palpitante que os leitores desta obra sempre colocam é: Como pode o planeta Vênus

ser habitado se o clima é hostil, venenoso e que as sondas da NASA mostram como impróprio para a vida

humana?

Bem, isso também me deu muitos nós em minha pobre mente. Mas, um dia pude compreender como a vida

nasce, cresce e se desenvolve em várias dimensões simultaneamente. Aí, tudo ficou simples de ser entendido

e aceito. Portanto, meus caros amigos, a NASA pode enviar centenas de aparelhos científicos para qualquer

planeta de nosso sistema solar, telescópios podem ir além do sistema solar, fotografar, filmar, sondar, mas,

nunca encontrarão vida humana na terceira dimensão como nós a temos aqui na terra.

Bem, aí nasce outra questão: Mas, como v. podem provar que há vida em outras dimensões?

A resposta é: Nunca provaremos nada. Não queremos provar nada. Mas, se v. quiser “comprovar” isso que

dizemos, bem, venha estudar nossos métodos de pesquisa e investigação nas dimensões superiores da

natureza e aí v. mesmo poderá ver pessoalmente essas realidades.

E mais questionamentos surgem: Mas, se os venusianos vivem na quinta dimensão como podem viajar para

a terceira dimensão?

Bem, caros amigos, isso nem a física quântica – hoje supremo apanágio da vida inteligente deste planeta –

consegue ainda explicar. Mas, isso é fruto de nosso desconhecimento, como também foram certas barreiras

imaginárias que criamos no passado. Houve um tempo que se acreditava que se alguém ultrapassasse os 60

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km / h se desintegraria. Depois, mudaram para a barreira do som. Hoje, existe a barreira da velocidade da

luz – que a ciência dos ET’s simplesmente ignora o que seja – porque eles viajam a velocidades muitas

vezes superiores à velocidade da luz [e nunca se desintegraram como crêem nossos cientistas].

Enquanto nossa ciência vive no mundo das cavernas em termos de conquistas cósmicas, os místicos de todos

os tempos e épocas sempre tiveram contato e comunicação com os ET’s – porque o místico desenvolve

dentro de si certas habilidades psíquicas que o levam naturalmente a conhecer, ver, investigar e pesquisar

dentro das sete dimensões básicas da natureza.

Mas, tudo isso é bem complicado explicar às mentes cartesianas de nosso tempo. Nunca irão entender muito

menos aceitar essas realidades que estão bem além de sua limitada compreensão intelectual condicionada

por uma ciência ateísta e materialista.

Dito isto, só nos resta desejar uma boa leitura.

Obrigado.

PS – Não deixe de ler alguns trechos do ARCANO 9 de nosso CURSO DE INICIAÇÃO À GNOSE – que

está disponível em nosso site www.fundasaw.org.br . Ali apresentamos vários relatos de contatos com seres

e humanidades de outros planetas.

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PREFÁCIO

Por: Samael Aun Weor

Conheço Salvador Villanueva Medina há muito tempo. É pessoa amiga e digna de crédito. A bem da

verdade enfatizo que se trata de um homem prático. Não tem nada de extraordinário. Nunca o vimos em

devaneio. Sempre ganhou a vida como motorista, ultimamente como mecânico de automóveis. Sem dúvida,

trata-se de uma pessoa exemplar, excelente pai de família, bom amigo.

Entretanto, esse livro só lhe trouxe problemas. Essa obra já foi traduzida para o alemão, japonês, inglês,

francês, tendo vendido milhares de exemplares. O autor limita-se a contar o que viu e testemunhou.

Considera uma obrigação narrar seu caso à humanidade. E diz a verdade, só a verdade.

Medina foi examinado por vários psicólogos, e esses atestaram que se trata de uma pessoa lúcida, inteligente

e equilibrada. O que aconteceu com ele - ter ido à Vênus a bordo de um disco voador - poderia ter

acontecido a qualquer um. A Phillips examinou amostras de terra e arbustos recolhidos no local onde a nave

que levou Medina à Vênus pousou. Os especialistas daquele laboratório descobriram uma estranha desordem

atômica e molecular. As marcas deixadas pela nave foram fotografadas. Assim, a narração de Medina está

baseada em fatos e provas.

O Movimento Gnóstico Internacional está de parabéns com esse evento cósmico, cujo protagonista principal

foi Salvador Medina. Sempre dissemos que a Terra não é o único mundo habitado, e isso ficou demonstrado

com esse caso vivido por Medina. Vários terrícolas têm sido levados a outros mundos como pôde evidenciar

Medina em Vênus, onde se avistou com dois franceses, os quais nem por sonho querem voltar à Terra.

Samael Aun Weor

Fundador do Movimento Gnóstico Internacional

México - DF

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A TÍTULO DE PRÓLOGO

Por: Salvador Villanueva Medina

O mês de agosto para mim é significativo, pois, nesse mês vim ao mundo, ainda que daquela data até hoje

haja transcorrido quase meio século. Foi também no mês de agosto que tive o maior privilégio que alguém

poderia desejar. Em ambos os casos, a aventura aconteceu sem meu conhecimento. Este último é difícil de

provar, porque nem testemunhas havia, porém, é mais rico em incidentes que o primeiro.

Disso tudo, o que mais fundas raízes lançou em minha mente, foi um motorista: ele foi a primeira pessoa

que se colocou no meu caminho quando terminava a fantástica aventura. Foi fácil transbordar meu

otimismo, sem imaginar suas conseqüências, que me colocavam no limite do sublime com o ridículo.

Mas tratei de aproveitar minha experiência com o motorista. Dali por diante acautelei-me, mesmo que

falando a verdade. Confesso que após a primeira decepção com as pessoas, com suma facilidade encerrei

dentro de mim a gloriosa experiência, ainda que às pessoas que a proporcionaram tivesse prometido fazê-la

pública. Por dezoito meses fiz caso omisso de minha promessa para com eles, apoiando-me na desculpa de

que não tinha preparo intelectual. Mas insistiram assegurando-me que se valeriam de algum meio para me

ajudar na transcendental tarefa.

Não me pareceu raro ver nas primeiras páginas dos jornais, notícias a respeito de pessoas que haviam tido

experiências semelhantes, ainda que menores que a minha. Novamente começou a mexer em mim a

curiosidade de saber se a população me acreditaria. Propunha-me a contar tudo a um intelectual e acredito

que fiquei atinado quanto à escolha. Por aqueles dias um colunista que, sob o pseudônimo de M.G.B.,

escrevia uma série de artigos sobre o assunto, chamou-me a atenção. Pela seriedade com que atuava, decidi

fazer contato com ele, mandando-lhe uma parte do relato, pois, não podia desenterrar de mim a incerteza que

provocara o motorista, e por isso julgo que cometi outro erro não lhe contando toda a experiência em

detalhes.

Agora era ele quem recebia com reservas as minhas palavras, e ainda que me tivesse dado oportunidade de

justificar-me, creio que não soube aproveitar, agravando as suas desconfianças. Exatamente naqueles dias

estava no México, em viagem de férias, um casal de norte-americanos que havia tido a oportunidade de ver

uma nave espacial à pouca altura. Isso lhes entusiasmou tanto que decidiram documentá-la e documentar-se

devidamente e ditar algumas conferências. No México colocaram-se em contato com o senhor M.G.B. o

qual teve a gentileza de me convidar para assistir a primeira conferência ditada por eles na capital asteca.

Compareceram à conferência umas trezentas entusiasmadas pessoas, a maioria documentada, e algumas,

com experiências pessoais. Também os jornalistas fizeram-se presentes, pelo que ficou muito interessante o

novo incidente que iria aumentar meu acervo pessoal.

Em companhia de meu filho mais velho ocupamos uma poltrona do salão, deixando que a conferência

transcorresse. Esquentaram-se os ânimos; várias pessoas subiram ao palco para relatar suas experiências,

aumentando o interesse de todos. De repente, o conferencista, num recurso de oratória, perguntou se alguém

dos presentes alguma vez fizera contato com tripulantes de naves espaciais. A pergunta me fulminou. Sem

saber com certeza o alcance de minha decisão, sentindo que uma extraordinária força obrigava-me a isso,

levantei a mão, sendo em seguida convidado a ir ao palco ante a expectativa geral. Alguns passos depois o

arrependimento já tomara conta de mim. Mas fui em frente. Felizmente trataram-me com cortesia e houve

até um grande escritor, Francisco Struk, que acorreu em defesa de minhas palavras, acalmando o rebuliço

que elas provocaram na assistência.

Os norte-americanos interessaram-se em investigar meu relato, e com a aquiescência de M.G.B.

convidaram-me para lhes ensinar o caminho e o lugar onde vira e entrara na nave. Acompanhou-nos um

engenheiro militar, um professor de matemática americano e Salvador Gutierrez, experiente fotógrafo da

imprensa mexicana. A excursão foi exitosa. O engenheiro, guiado por minhas palavras, fez cálculos e não

demoramos a achar o lugar exato, comprovando-se as dimensões do aparelho. Isso me fez recobrar a

confiança perdida com o motorista quando lhe contara o episódio. E adquiri nova informação: as naves

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aterrissam deixando profundas marcas. No presente caso, como havia aterrissado num local de vegetação

alta, esta ficou queimada de um modo raro, totalmente desconhecida para nós; e assim encontrava-se dezoito

meses depois.

Tiramos amostras de terra, de dentro e de fora das marcas deixadas pela nave, que posteriormente foram

mandadas para análise nos laboratórios da Phillips, quando se comprovou que em ambas as amostras

recolhidas havia uma diferença molecular bastante acentuada. Pouco depois veio da Califórnia - EUA -

Jorge Adamski que também pronunciou uma conferência no Teatro Insurgentes, asseverando que tivera

numerosos contatos com tripulantes de naves extra- terrestres.

Fui apresentado a ele na casa do colunista M.G.B. onde me limitei a responder suas perguntas sem

estender-me demasiadamente, pois, tinha, então, a firme convicção de que nenhuma pessoa que conhecera

tivera uma experiência tão rica de detalhes e incidentes quanto a minha; parecia-me que todos buscavam

unicamente respostas e experiências para benefícios pessoais.

Pela capital asteca passou também o escritor inglês Desmond Leslie e tive oportunidade de conhecê-lo e

acompanhá-lo por um dia e meio, graças ao interesse do agudo investigador e jornalista M.G.B. que não

perdia tempo em aproveitar quantas oportunidades surgissem para investigar minhas experiências. Esclareço

que tampouco a M.G.B. contara toda minha aventura. Como aos demais, limitara-me em contar-lhe somente

uma parte da experiência, já que o restante julgava inverossímil; temia que me ridicularizassem, pois, estava

crente que ninguém acreditava em algo que não tivessem visto com os próprios olhos. Contudo, a promessa

que fizera aos tripulantes da nave continuava mordendo minha consciência. Este é o motivo pelo qual

resolvi escrever este relato, amplo e sem as limitações impostas pelos jornais. Espero que me perdoem a

ousadia.

No final deste trabalho, aos versados em telepatia, relato algo que tenho tido o martírio de captar sem,

contudo, poder decifrar inteiramente, mas que julgo obrigado a dizer.

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CAPÍTULO 01

O CONTATO

Corria a segunda dezena do mês de agosto de 1953 ... ! Cobrindo meu turno num carro de aluguel, servi a

dois norte-americanos, um casal, que me pediu recomendar-lhes um motorista que lhes ajudasse a conduzir

um automóvel para os Estados Unidos pela estrada de Laredo. Contra o meu costume, o trabalho me

interessou e me coloquei a seu serviço, saindo do México dois dias depois. O automóvel, um Buick modelo

52, ganhava estrada com facilidade. O casal tinha pressa em chegar e por isso revezávamos no volante.

Havíamos percorrido menos de 500 quilômetros - 484 para ser exato - quando se ouviu um ruído na

transmissão do carro. Temerosos de causar maiores estragos ao veículo, paramos. Meus acompanhantes

decidiram voltar em busca de socorro, já que em plena estrada, sem ferramentas, era impossível fazer

qualquer conserto. Quando meus temporários patrões se afastaram peguei o macaco, para investigar de onde

provinha o ruído. Coloquei-o sob o carro, levantando uma roda; deixei o motor ligado à transmissão e

deslizei para baixo do veículo para ouvir melhor. Nesta posição ouvi alguém se aproximar, pois, escutava

passos na areia acumulada ao lado da pista. Alarmado - porque quando meus patrões se foram, ao me

colocar em baixo do carro e olhando à volta não vira ninguém, e o lugar era deserto - tratei de sair

rapidamente de baixo do carro. Não terminei meu intento quando uma voz estranha, em perfeito espanhol,

perguntava-me o que acontecera com o veículo. Não respondi sem antes ter deslizado para fora, ficando

sentado e encostado à carroceria.

À minha frente, a uma distância de metro e meio, havia um homem de pequena estatura e estranhamente

vestido. Não media mais que um metro e vinte. Vestia-se com um traje feito de material parecido com a

paina ou um tecido de lã. Exceto a cabeça e o rosto, o resto do seu corpo estava totalmente coberto.

Surpreendentemente, a cor de seu rosto parecia de marfim. Seus cabelos, prateados e ligeiramente ondeados,

caíam até abaixo dos ombros, por trás das orelhas que, em conjunto com as sobrancelhas, nariz e boca,

formava um todo harmonioso, complementado por um par de olhos verdes, brilhantes, que me recordavam

os de um felino. Sobre o traje trazia um grosso cinturão, arredondado em suas bordas e cheio de

pequeníssimas perfurações sem ter, aparentemente. um ponto de união. Trazia também um capacete

parecido com os que se usa para jogar futebol americano, um pouco deformado na parte posterior na altura

da nuca, onde havia um abaulamento do tamanho de um maço de cigarros, coberto, por sua vez, de

perfurações desvanecidas nas bordas. À altura das orelhas, viam-se dois buracos redondos, medindo um

centímetro mais ou menos, dos quais saía grande quantidade de fios metálicos tremelicantes que, nivelados

sobre as costas do capacete, formava uma circunferência de três polegadas e meia; tanto os fios quanto a

protuberância eram de uma cor azulada, igual ao cinturão e ao colarinho que arrematava o traje, que era de

cor cinza opaca.

O homem levou sua mão direita à boca, no característico gesto de quem pergunta se eu falava. Pareceu-me

alucinante a sonoridade e a musicalidade de sua voz, que saía de uma boca perfeita, marcada por duas

fileiras de pequeninos e branquíssimos dentes. Fazendo um esforço levantei-me, valorizando-me um pouco

ao notar minha superioridade física. O indivíduo animava-me esboçando um sorriso de plena doçura, mas eu

não conseguia desfazer a rara impressão que me produziu a súbita aparição daquele tipo tão singular. Como

não me sentira obrigado a responder a sua pergunta, perguntei-lhe se era aviador. Usando de generosa

amabilidade, respondeu-me que sim, que seu avião, como chamávamos, estava perto dali. Reconfortado pela

sua resposta, ocorreu-me convidá-lo a subir no carro, pois, fazia um ar frio bastante desagradável que

aumentava de quando em quando ao passar um veículo em grande velocidade. A obscuridade começava

encobrir o homem. Em vez de aceitar meu convite ou de agradecê-lo, arrumou cuidadosamente seu traje,

deixando-se ouvir um ruído parecido como o produzido por um carro em grande velocidade. Nas

perfurações do cinturão começou a acender e a apagar com profusão diversas luzes que aumentavam de

intensidade. O homem levantou o braço direito, como a despedir-se, aproximou-se de um monte de terra,

escalando-o com facilidade de onde saltou para o bosque que margeava a estrada. Decorrido um momento

subi ao mesmo monte e tratei de localizá-lo, o que fiz pelo seu cinturão que, à certa distância, se

assemelhava a um grupo de numerosos vagalumes. Permaneci ali até perdê-lo de vista na obscuridade do

bosque.

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Voltei ao carro, retirei o macaco e, por conselho de alguns patrulheiros rodoviários, tirei o carro do asfalto,

colocando-o no acostamento. Acomodei-me no assento matutando sobre o estranho ser, pensando que talvez

fosse um aviador que havia sofrido algum acidente ou pane e tivesse destroçado o aparelho no bosque. Por

fim, adormeci. Devia ter passado bastante tempo, pois, estava profundamente adormecido quando ouvi

golpes no vidro da porta dianteira direita que me despertaram. Vi duas pessoas fora do carro. Imaginei que

fossem meus patrões que tivessem voltado. Sem pensar em mais nada, abri a porta. Enorme foi a minha

surpresa ao encontrar meu “conhecido” acompanhado, agora, de outro indivíduo com o mesmo aspecto e

trajado igual ao primeiro. Sem me dar conta convidei-os a entrar no carro, coisa que aceitaram

imediatamente. Foi assim quando, pela primeira vez, tive a rara sensação de que aqueles estranhos seres

eram algo superiores a mim. Como se fosse uma premeditada advertência, ao esticar o braço direito sobre

eles para ajudar a fechar a porta, senti uma dor, seguida de um entumescimento que o paralisou

momentaneamente. Foi tão forte a impressão que, instintivamente, apertei-me contra o veículo para o lado

esquerdo, deixando espaço entre eles e eu. Um instante depois senti um calorzinho emanado de seus corpos

ou de seus trajes que se tornava agradável, já que naquela época a temperatura da região era fria.

Sem nenhuma apresentação, meu “conhecido”, agora sentado na parte central do banco do automóvel,

perguntou-me se havia conseguido arrumar o carro. Disse-lhe que não trazia ferramentas suficientes para

tentar o conserto, de modo que não havia outra saída a não ser esperar o regresso de meus acompanhantes

que tinham ido em busca de socorro. Seguiu-se um momento de expectativa, quando percebi que estavam

me observando com certo entusiasmo. Acendi as luzes do interior do carro e só para perguntar-lhes algo,

quis saber se eram europeus. A perfeição de seus traços levaram-me a compreender que não pertenciam a

uma raça ao alcance de meu conhecimento. O do meio, que conduzia a conversa, sorrindo ligeiramente,

disse que eram de um lugar muito mais distante do que eu conhecia ou podia imaginar. A questão do “lugar”

dava-me uma sensação esquisita, mas, não me ocorria pensar em outros planetas; só em outros países.

“Nosso lugar”, disse, “está muito mais habitado que este. É difícil encontrar muito espaço entre pessoa e

pessoa”.

Então, o homem começou a falar tanto que fiquei perplexo. Faziam contraste os dois: o do meio era a

própria loquacidade; o da direita, o mutismo em pessoa. Entretanto, este era mais cheio de rosto e mais

robusto de modo geral e só fazia pequenos movimentos com a cabeça, deixando, de vez em quando, seus

pequenos dentes à mostra, que se destacavam pela sua alvura; contudo, não dizia uma palavra. O “baixinho”

seguiu dizendo que sua terra podia ser chamada de “uma cidade contínua”, porque “cobria tudo”. “As ruas

prolongam-se infinitamente, nunca se cruzando no mesmo nível. A quantidade de veículos e a sua

diversidade é tanta que facilmente ficaria pasmado”.

Continuando, assegurou que seus veículos não usavam combustíveis minerais, nem vegetais, pois, os gases

dessa classe de combustível são prejudiciais ao organismo. Disse também que a propulsão era proporcionada

pelo calor central do planeta e pelo sol - fontes inesgotáveis de energia. Nas suas cidades as pessoas

poupavam esforços porque havia calçadas rolantes e que ninguém jamais usava o meio da rua, que era

metálico para conduzir a força de propulsão dos numerosos veículos. “Estes são totalmente diferentes dos

que vocês usam; verás que com o material e o espaço que vocês usam para transportar seis pessoas nós

levamos 25, e em alguns casos, até 50. Isso só tio primeiro andar”. Enquanto dizia isso, corria os olhos pelo

espaçoso interior do veículo onde estávamos. “Porém, nós os temos até com 10 andares”.

Tudo isso já estava começando a me aborrecer. Não conhecia nenhum país da Terra que usasse tal

combustível em seus veículos. Talvez fosse verdade que houvesse algum demasiadamente povoado, mas até

aí chegava a coisa com relação às suas cidades. Também desconhecia que existia no mundo tal grau de

mecanização. Aqueles homens estavam me parecendo um par de “gozadores”. Perguntei como faziam para

produzir legumes, “já que são tão povoado”. Minha pergunta saiu em tom de gozação, mas ele,

tranqüilamente, me respondeu: “Faz tempo que cultivamos legumes em maior número que os conhecidos

por vocês; fazemos perfurações, empregando as paredes para esse fim. Nossas hortas são subterrâneas ou

interiores”.

Alguma coisa do que tinha me dito parecia-me lógico; nem tudo, porém. Tratando de me orientar,

perguntei-lhe se tinham mar. Respondeu, sem dar importância à minha pergunta: “Temos um só, mas é três

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vezes mais profundo”. A coisa estava me cheirando a mentira e reprovei seu procedimento. Então os dois

explodiram numa gargalhada que acabou de me aborrecer, porém pensei que minha ignorância fosse maior

do que imaginava. Assim, não me ofendi. Diante de minha impassividade o homenzinho espetou: “Espero

que entendas que estamos falando de outro planeta”.

“De outro planeta?”, retruquei entre indignado e espantado.

“Sim, homem; um outro mundo, como vocês dizem; creio que sabes que eles existem”

--Claro que sim”, apressei-me em responder, porque a pergunta me pareceu ofensiva. “Ora, imagine! Como

é que não sei da existência de outros mundos?!”

E para terminar, quis demonstrar meus conhecimentos de astronomia, asseverando que, segundo nossos

cientistas, nenhum outro planeta além do nosso, poderia ter habitantes racionais.

“O que os leva a pensar assim?”, perguntou-me. “Acaso os deficientes meios de que dispõem para fazer seus

cálculos? Não lhes parece demasiada pretensão acreditar que são os únicos seres que povoam o universo?”

Aquilo estava tomando uma direção mais séria do que imaginava. De repente voltei a me dar conta da dor

que ainda sentia em meu braço e também da singularidade daqueles tipos com seus trajes, os cinturões, a

rara cor da pele, a expressão de seus olhos, a estranha voz, cujo som nada podia encontrar de parecido. Para

meu pobre intelecto isso tudo eram provas demais. Decidi seguir resistindo, dizendo que tudo o que me

falavam parecia-me inacreditável.

-- “Certo! É inacreditável para a mentalidade de vocês, mas, me diga uma coisa: por que?”

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CAPÍTULO 02

A NAVE

A pergunta foi tão imprevisível que me deixou confuso. Ao acaso respondi que o supunha apoiado nos

estudos dos nossos cientistas, astrônomos e matemáticos, que diziam que alguns dos planetas que formam

nosso sistema solar são demasiadamente frios e outros demasiadamente quentes.

“Muito bem” disse. “Vou te dar um exemplo muito simples: vocês, na Terra, têm lugares extremamente

frios, e mesmo assim, neles vivem pessoas que, sem artifícios e sem auxílio mecânico de espécie alguma,

conseguem sobreviver, valendo-se unicamente de seus próprios recursos. Agora imagine esses mesmos

indivíduos dotados dos elementos necessários e úteis para formar o clima ou ambiente de que precisam. Que

importância teria para eles a distância do sol se este lhes dá os recursos necessários para se protegerem e,

ademais, converterem o negativo em positivo? Outro pequeno exemplo”.

Segui escutando.

“Já percebeste que um indivíduo, valendo-se tão só de um pequeno tanque onde armazena o que necessita

para respirar, pode estar fora de seu meio sem perigo para sua integridade física?”

O exemplo iluminou meu cérebro. Sem perder tempo, perguntei:

-- Vocês devem respirar algo diferente que nós!?

-- Claro: respondeu satisfeito.

-- Mas eu não vejo nada adicional ... ?

-- Não vê nada porque, segundo tua mentalidade, deve ser adicional; toque aqui.

Enquanto dizia convidava-me a tocá-lo no que deveria ser o estômago e ali dava para sentir uma

consistência semidura, diferente de como a temos. Em seguida completou a explicação:

-- Nós levamos aqui o que nos dá a vida, injetado diretamente nos pulmões.

-- Isso sim é maravilhoso!, exclamei com entusiasmo. Mas, ... que diabo!...

As dúvidas continuavam me assaltando. Ele me advertiu dizendo que perguntasse tudo que quisesse, que me

responderia. Para começar, perguntei-lhe, já que vinham de outro planeta, que espécie de veículos usavam.

Respondeu-me dizendo o que tinha dito antes: que a sua nave estava a pouca distância dali e que logo teria

oportunidade de conhecê-la se assim o quisesse. Em minha mente revolvia-se uma pergunta, mas não

encontrava jeito de faze-Ia. Havia me ocorrido que sendo os adultos tão pequenos, como seriam as crianças.

Para minha surpresa, corno se estivesse lendo meus pensamentos, respondeu minha pergunta mental, meu

pensamento, da seguinte maneira:

--“Vou te explicar o que quer saber, ou seja, o relacionado com as crianças. Em nosso mundo não vemos

crianças nas ruas. Desde que nascem, ficam sob a tutela do que poderíamos chamar de “governo” que se

encarrega de seu controle e de sua educação até que atinjam a maioridade. Então, são classificadas de acordo

com as suas qualidades físicas e mentais, encaminhando-as para um lugar onde haja necessidade.

Geralmente realiza-se essa operação por casais, homem e mulher”.

Ocorreu-me, então, de perguntar-lhe como faziam para aclimatar uma pessoa de um clima frio para o quente

e vice-versa.

-- “Como verás, não temos esse problema. Pela simples razão de que todo nosso mundo dispõe de um só

clima, uniforme, e este, não é natural, e sim, artificial, criado e feito por nós. Compreendes agora porque

desfrutamos de um só clima benigno sem ter, corno vocês, regiões extremas? Além do mais, nossa

população não nos permitiria esse luxo”.

Aquilo para mim ia se tornando completamente convincente. Tudo o que dizia começava a fazer sentido.

Imediatamente minha mente formulou nova pergunta, relacionada com seu único mar. Não cheguei a

formulá-la e ele já cortou meu pensamento, respondendo:

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-- Já te disse que temos um mar e este contém tanto líquido quanto os da Terra juntos. Dele tiramos tudo,

que precisamos para construir nossos edifícios, para fabricar nossas roupas, nossos veículos e sessenta por

cento ou mais de nossa alimentação. Prosseguiu:

-- Nossos barcos atuais não são como os vossos, como vocês concebem e constroem. Os nossos tanto podem

navegar quanto voar ou ir a qualquer lugar sem oferecer perigo algum. Em nosso mar, à grandes

profundidades, existem fábricas descomunais com sistemas diferentes aos que vocês usam. Esses sistemas

atraem a população marinha que é selecionada e aproveitada cientificamente.

Diante de meu assombro, acrescentou:

-- Como compreenderás, em nosso mar não há agitações de nenhum tipo, pois o temos a nosso serviço e sob

nosso controle, ficando eliminadas essas contingências.

Ficava cada vez mais preocupado. Ansiava saber mais sobre aquelas pessoas. Perguntei, então, como é que

falavam tão bem o espanhol. Respondeu-me que poderiam aprender qualquer idioma, por mais difícil que

fosse, e que em seu mundo, um dia, também falaram muitos idiomas e que agora empregavam um só - uma

língua universal - formado pelas palavras mais fáceis, tendo conseguido tal intento de um modo simples e

eficaz.

Perguntei em seguida se conheciam todo nosso mundo - a Terra. Asseguraram-me que conheciam não

somente sua superfície como também sua contextura e todos os costumes das diferentes regiões, por mais

afastadas que fossem ou que a nós parecessem.

-- Primeiro o conseguimos com nossos aparelhos apropriados, dos quais estão dotados nossas naves;

segundo, com nossa própria população, alguns selecionados que mais se pareçam com vosso tipo físico.

Costumamos deixá-los bem providos próximo ao lugar que queremos investigar, recolhendo-os

posteriormente no momento propício.

Brotou em mim a preocupação das finalidades pelas quais perseguiam nosso mundo. Ao ser perguntado a

respeito, ilustrou-me com uma história:

-- A etapa que vocês atravessam atualmente há milhões de anos passamos também. Em nosso mundo houve

guerras e destruições, atrasos e progressos. Um belo dia chegou a igualdade. Arrijaram os líderes políticos e

em seus lugares foram colocados sábios e destacados humanistas. No lugar dos soberbos, ambiciosos e

egoístas, que só buscavam o lucro em benefício pessoal, foram colocados homens que se interessavam pelo

bem de todos indistintamente.

Após breve pausa:

-- Houve uma mudança total na administração pública e pouco a pouco foi desaparecendo a vaidade que era

a maior aliada dos exploradores. A moral em todos seus profundos aspectos assentou-se firmemente. Hoje,

verdadeiros sábios nos governam, procurando - sempre - melhor alimentação, melhor vestuário e melhor e

uniforme educação. Acabaram-se os privilégios. Agora, no mesmo lugar educa-se física e mentalmente

quem, provavelmente, descende de ricos ou de pobres. Quem se destaca nessa educação é destinado para

locais onde possa desenvolver livremente suas aptidões sem qualquer preocupação. Isso que vocês chamam

de “nação” ou “pátria” desapareceu totalmente. Somos cidadãos de nosso mundo. Não usamos bandeira,

nem identificação alguma. Cada criança, ao nascer, é tatuada na planta dos pés. É como uma ficha que fala

de sua origem e de suas faculdades. Assim cresce sem complexos, sadia e livre.

As horas transcorreram rapidamente. Começava a clarear quando descemos do carro. Para dizer a verdade

não sabia se tudo aquilo era verdade, mas devia ser, pois estava a poucos centímetros daqueles personagens,

disposto a certificar ou confirmar tudo que me haviam dito. Adiantaram-se um pouco, subindo o monte de

terra. De repente voltaram-se como que querendo surpreender-me num movimento suspeito. Dei-me conta

que de seus capacetes e cinturões saíam sons intermitentes e em grande escala, as vezes subindo de tom até

doer os ouvidos.

A curiosidade me invadiu e não tive outra solução que lhes perguntar a finalidade de tais cinturões. A

pergunta parece que os agradou. O baixinho fixou seus olhos no cinturão. Seu acompanhante só levou as

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mãos ao seu sem deixar de me observar. Mas sua expressão era tal que dava a entender que com aquela

maravilha, sentiam-se imunes a qualquer perigo. Pelo menos é o que me pareceu. Seus olhos fulgurantes,

brilhantes, demonstravam carinho e segurança. Finalmente o baixinho levantou os olhos e disse:

-- Este é um aparelho que serve para imobilizar qualquer mecanismo ou inimigo. Diga-me agora,

prosseguiu, satisfeita a tua curiosidade, tens desejo de conhecer nossa máquina? Venha conosco, então!

E rubricou o convite com amplo e amável sorriso. O terreno era pantanoso. Meus acompanhantes vadeavam

o charco buscando lugares mais firmes. De repente percebi que no lugar onde eles colocavam os pés, o lodo

parecia abrir-se, sem grudar em seus pés, num efeito parecido ao produzido por ferro quente. Olhei meus

sapatos. Estavam totalmente cobertos de lama, já atingindo as pernas da calça. A observação deu-me a

impressão de estar caminhando atrás de dois fantasmas e, inconscientemente, comecei a aumentar a

distância entre eles e eu, sem, contudo, perdê-los de vista.

Aquilo foi a primeira de uma série de surpresas que se gravariam profundamente em meu cérebro. Alguns

metros adiante, de chofre, ante minhas vistas, vi a majestosa nave de que me haviam falado. Deslumbrante,

imergia rodeada das folhagens como gigantesco ovo em descomunal ninho. Parei em seco e pus-me a

contemplar o que tinha adiante. Uma majestosa esfera achatada que se apoiava em três pés que formavam

um triângulo. Tinha, na parte superior, uma cabine ligeiramente inclinada para dentro, como de um metro de

altura, circundada de buracos que se assemelhavam a olhos de boi, como aqueles que se vê nos barcos.

O conjunto era impressionante e dava a sensação de grande fortaleza. Era de uma cor parecida com as

faíscas produzidas pelo aço contra o esmeril, mas, de uma transparência difusa. Quando os homens estavam

a um metro e meio da nave, ambos levaram a mão direita apoiando-a no cinturão e, em seguida, na parte

inferior da esfera surgiu uma abertura que depois converteu-se em escada. À guisa de corrimão, havia dois

cabos, elásticos a meu ver, pois se flexionaram quando os dois se apoiaram neles. Entretanto, eu permanecia

a cerca de sete metros de distância, mas, como a nave estava numa baixada, observei que os homens não

deixavam nenhuma marca de lodo que pudesse, eventualmente, estar grudado aos seus sapatos. Pude ver,

também, como o mais avantajado se perdia no interior da nave, e o outro, parado no meio da escada e

apoiando-se no corrimão, voltou-se para mim, convidando-me para me aproximar; e ainda que algo me

impelisse em direção contrária, fiz um esforço e segui caminhando até a distância de um metro da nave.

Algo devia ter mudado em mim, pois, o medo ou o receio que sentia, havia passado, convertendo-se em

audácia. Comecei a imaginar que o que tinha diante de meus olhos, não passava de uma casa de

exploradores, que não era nenhuma nave, e até achei-a parecida com uma casa convencional. Quando o

homem repetiu seu convite, decididamente avancei e comecei a subir logo atrás dele.

Saímos por uma espécie de clarabóia ou buraco redondo, de pouco mais de meio metro de circunferência,

numa plataforma horizontal. Quando me dei conta, o buraco por onde entráramos, fechara-se em forma

inesperada.

Claro que estava impressionado. Mesmo encerrado dentro daquela coisa, a luz a atravessava, e a parte que

devia dar para a escada por onde subimos, parecia de cristal, porque dava para se ver fora com absoluta

clareza.

Passei a vista sobre aquilo que se apresentava aos meus olhos no interior da nave. Uma parede baixava

desde o teto fazendo canto com a plataforma. Nessa parede adivinhava-se algo que bem poderia ser um

espaldar, ainda que parecesse demasiadamente alto. Na junção daquele disforme espaldar, pois não era outra

coisa, estava o que devia ser um assento, dividido em três partes vistas de frente, com algo parecido com

tampos, mas esses estavam levantados para os lados.

Eu devia parecer um bicho numa jaula, pois os homens limitavam-se a me observar. Finalmente, o que

falava espanhol, convidou-me a passear um pouco, mas pareceu-me que aquilo não ia se levantar nem um

centímetro com meu peso pelo que, ironicamente, disse que gostaria de experimentar.

Indicaram-me o assento do meio, ficando eles um em cada ponta. O assento era estofado de uma maneira

desconhecida para mim, isso que passei pelo menos dois terços de minha vida ocupando assentos de carros.

Não podia negar o fato de que gostaria de colocar um assento desses no carro onde trabalho. Se o assento era

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surpreendentemente macio, o espaldar era melhor ainda, pois, bastava recostar um pouco o corpo e

facilmente me perdia naquela massa agradavelmente aconchegante. Baixaram-se os tampos e imediatamente

senti uma ligeira pressão sobre minhas pernas e parte de meu abdômen. Ajustavam-me com tal pressão e

firmeza que me dava a impressão de estar metido dentro de uma esponja.

O tampo sobre minhas pernas não era outra coisa que uma mesa de instrumentos, e tal como a dos lados, as

mesas eram geminadas, de modo que cada um ou qualquer um deles podia operar a nave.

Gostaria de descrever uma dessas mesas de comando. É como uma mesinha retangular, ligeiramente

inclinada para mim junto ao peito.Sobressaindo-se dos demais instrumentos, havia uma tela, não maior que

o farol de um automóvel, de superfície convexa. Era límpida e luminosa, de uma claridade ímpar. Junto à

tela, nos seus lados da parte anterior, havia duas protuberâncias redondas, uma branca e outra negra. Devo

esclarecer que as cores de todos os instrumentos eram luminosas, mais brilhantes que a nossa luz

fluorescente.

Na frente, junto à tela, havia três botões: dois colocados em forma vertical e um no meio, em forma

horizontal. Ao lado direito via-se uma série de teclas; a primeira larga e as outras estreitas. Na metade da

primeira, este teclado começa na maior, de cor branca, e conforme se afasta, vai escurecendo até terminar

em negro brilhante. Até o extremo oposto e a cada lado havia, ao alcance dos dedos polegares dos pequenos

homens, dois diminutos descansos para os mesmos (dedos), angulares e para fora. No lado esquerdo, em

fileira, igual ao teclado, surgiam chaves em forma de pequenas raquetes que se manipulavam para frente.

Finalmente, diante da tela, e aproximadamente no centro do painel, havia quatro peças em forma de meia

lua, tendo a parte inferior circular e a superfície plana. Operava pelo centro visto que admitiam em cada um

delas somente dois movimentos. Essas peças formam uma cruz. Esses painéis eram complementados com

um cilindro no extremo posterior. Dentro do cilindro moviam-se cinco seções com diferentes velocidades

tendo as leituras em diagonal. Mudava de cor conforme girava, indo do branco ao negro. Assim era, mais ou

menos, o painel.

Nele se reproduziam os movimentos da máquina à vontade do operador. Observando tudo não percebi

quando começamos a subir. A decolagem foi suave, lenta e em forma vertical.

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CAPÍTULO 03

A NAVE-MÃE

Pude ver aos meus pés o carro abandonado. Continuamos subindo, sempre em forma vertical e sempre tendo

aos meus pés o carro como referência, enxergando-o por último como uma forma borrada e não mais que do

tamanho de um carro de brinquedo. Meus acompanhantes instruiram-me a operar a tela. Bastava fazer girar

qualquer dos botões laterais do painel, para atrair, de forma nítida e precisa, tudo que havia fora da nave: da

parte superior, da inferior, da direita e da esquerda. O botão do centro servia para aproximar a imagem até

dar a impressão de ficar a pouco mais de um metro de distância.

Antes que me esqueça, no extremo direito do painel há uma bola incrustada num côncavo, terminando numa

alavanca redonda, que fazia mover, em toda a extensão da tela, um ponto negro que serve de mira quando há

necessidade de se usar diferentes armas. que mais tarde descreverei.

Por fim, tudo ficou coberto de nuvens, e nós continuamos subindo. Os homens buscavam um buraco nas

nuvens para que eu pudesse ver nosso planeta, pois, acreditavam, e com razão, que aquilo iria me

impressionar. De minha parte sentia-me tranqüilo. Tratei de buscar o motivo dessa tranqüilidade, pois, não

me parecia normal. Meu temperamento é nervoso por natureza e ainda mais eu que nunca subira antes em

avião, e isso já me parecia motivo mais que suficiente para ficar nervoso. Recordei que somente momentos

antes de entrar na nave me sentira nervoso. Recordava que o tipo mais avantajado perdera-se na escada e

ansiava o momento que o segundo fizesse o mesmo para eu voltar “voando” para a estrada e meter-me no

carro, único lugar que me dava segurança.

No entanto, de repente todo aquele medo desapareceu de mim e agora até indiferença sentia pela sorte que o

carro podia ter, abandonado lá embaixo.

Uma sombra de preocupação assaltou meu espírito: estar sob domínio daqueles seres. Mas tratei de afastar a

idéia da cabeça distraindo-me observando como operavam o painel e olhando para fora através das paredes

para comprovar o efeito das manobras. Até sentia admiração pela simplicidade dos comandos daquela nave,

que até uma criança poderia manejar. Quando entramos no espaço sem nuvens, fizeram-me sinal para o que

tínhamos sob nossos pés. Confesso que, por mais ressentido que pudesse estar, além da convicção de que

subira na nave sob estranha influência, agora isso me parecia coisa perdoável. O que tinha ao alcance de

minhas vistas era um espetáculo maravilhoso: uma esfera ligeiramente opaca, algo fora de foco que por

momentos converteu-se numa massa redonda e sacolejante como inimaginável gelatina. Pareceu-me

estarmos voando sobre a parte central do continente americano, já que se divisava, com relativa facilidade, e

perdendo-se num abismo sem fim, as terras americanas conjuntamente com a parte larga da República

Mexicana e a parte estreita do continente.

Logo, os homens indicaram-me a pequena tela, aconselhando-me a acionar o botão central. Por que haveria

de negar-me? Não tenho nem sinto palavras para expressar o que senti e vi a uns poucos metros de mim com

meus assombrados olhos que, para dar crédito ao que via, tinha que afastá-los da tela e volvê-los através da

parede da nave que me parecia mais real e mais verossímil. Dentro daquela pequena e claríssima

circunferência, na qual, a meu capricho e só com um simples movimento daquele controle, podia trazer e

reduzir todo um mundo a detalhes, até os mais insignificantes; vi o nosso alargado continente nadar numa

massa líquida que se desvanecia em cores azuis e vermelhas até desaparecerem seus contornos num vazio

infinito. Esse incrível espetáculo gravou-se de tal maneira em minha mente que muitas vezes tenho

despertado sobressaltado, sentindo-me no vazio e atraído por aquela enorme esfera que uma vez contemplei,

quiçá, sem minha vontade.

Quando os homens acreditaram que era suficiente (digo “acreditaram” porque, se dependesse de minha

vontade, olharia sem parar), porque para eles o tempo contava, imediatamente metemo-nos numa nuvem de

grandes massas, algumas tão negras que escureciam o interior da nave. Aqui tive outra maravilhosa visão.

Acabávamos de sair do ventre obscuro de uma nuvem negra quando, intempestivamente, uma luz

vermelho-sangue invadiu o interior da nave de forma vivíssima. Tudo mudou de aparência. As fisionomias

dos homens tornaram-se ossudas e espectrais. A minha também devia ter adquirido outro aspecto porque o

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pequeno homem apressou-se em me dizer para não ter medo porque era o sol que estava dando esse aspecto.

A mim me pareceu estarmos dentro de um poderoso refletor.

Repentinamente cessou o movimento, ou melhor dizendo, a sensação de que íamos a aterradoras

velocidades. Ficamos suspensos no ar. Em seguida outra não menos agradável surpresa. Tratavase de um

gigantesco disco de cor negra, deslumbrante a ponto de cegar. Andamos lentamente ao seu redor como que o

reconhecendo. Os raios de sol refletiam-se em sua superfície. Estava imóvel como que deixando-se farejar

pelo pequeno aparelho que ocupávamos. Finalmente voltamos a ficar imóveis frente ao gigantesco aparato.

Vimos como se abria na parte superior uma tampa das mesmas dimensões que nossa nave e também como

esta começou a deslizar dentro daquele monstro. Sentia-se perfeitamente sua parte inferior roçar como se

estivesse em trilhos. Terminada a sensação, levantaram-se os tampos da mesa de controle, deixando-nos

novamente livres. Os homens convidaram-me a segui-los. Abriu-se uma clarabóia e por ela saímos da

pequena nave. A porta estava aberta e por ela descemos a uma enorme abóboda, onde não havia mais

colunas que as formadas pelo aparelho onde ficou ajustada nossa pequena nave.

Dentro havia intensa iluminação, sem, contudo, saber-se de onde vinha a luz. Mais parecia-me que todas as

superfícies ao alcance de nossa vista produziam luz. Os homens dirigiram-se além do lugar onde haviam

“estacionado” a nave, onde uma parede cortava a circunferência. Eu, atrás deles, com urna indiferença que

só em me lembrar hoje, me dá calafrios. Pouco antes de chegar na parede, uma seção de um metro deslizou

para o lado. Seguimos por ali, encontrando-nos agora num espaço em forma de meia lua. A parte

semicircular era ocupada por uma espécie de tela panorâmica de cinema só que intensamente luminosa. Ao

pé da tela, uma mesa comprida coberta materialmente de instrumentos, entre os quais, grande quantidade de

pequenos, porém incrivelmente visíveis, mostradores com diferentes leituras. Destacavam-se três fileiras de

botões ou teclas semelhantes as de um piano dispostas para um concerto; grande quantidade de

protuberâncias completavam aquele quadro maravilhoso de instrumentos e, junto à este, três volumosos

assentos.

Estava tão distraído observando tudo aquilo que não me havia dado conta de estar rodeado de pessoas que,

com meus dois amigos, somavam oito. Pedi-lhes perdão por meu indiscutível adormecimento.

Responderam-me que estavam contentes com minha visita ali na sua nave - o monstro que vira de fora. Algo

me chamou a atenção: quatro daquelas pessoas vestiam-se como meus amigos; os outros dois, não havia

dúvida, eram seus superiores, não só pelo seu aspecto geral que denotava maior idade, como também por

apresentarem maior personalidade, sem contar com o traje de cores diferentes - um marrom brilhante que os

tornava distintos dos demais. Como se isso não bastasse, era só observar a reverência com que os outros a

eles se dirigiam.

Tudo o que estava me acontecendo desde cedo quando deixáramos o carro na estrada, parecia-me tão irreal

que comecei a sentir uma sensação de vazio, temendo ter que voltar novamente e me descobrir no carro.

Mas não era assim! Estava vivo e muito bem desperto! Os chefes daquela nave convidaram-me a

permanecer com eles algum tempo, pois, disseram-me que sentiam verdadeiro prazer em ter um homem de

minha raça como convidado.

Ao lado direito e em frente a enorme tela, havia uma fileira de camas. Não creio que alguém de minha raça,

que as visse, fosse pensar em algo diferente. Lógico que havia algumas diferenças se comparadas com as

nossas, mas somente pela simplicidade, pois reduziam-se a umas macas de um metro e meio de

comprimento, por um metro de largura e umas duas polegadas de espessura. O material de estofamento era

acolchoado, poroso, suave, e devia estar sustentado por outro material resistente e pouco elástico. Ao lado da

cama havia dois punhos em forma de mão, os quais, fazendo girar, colocava a cama em diferentes posições,

podendo convertê-la em confortável poltrona sem pés de nenhum tipo, pois estava fixa na parede.

Aceitando o oferecimento que me faziam de demonstrar o funcionamento daquele extraordinário veículo, as

camas, mediante comando, transformaram-se em cadeiras ou poltronas, onde se sentaram meus amigos, os

chefes, e alguém mais daqueles que estavam na nave. Os três restantes perderam-se nos monstruosos

assentos defronte à tela, junto ao painel de instrumentos. Repentinamente começou a se ouvir uma espécie

de sibilo agudíssimo e a tela dividiu-se em três seções em todo seu tamanho. Na seção do meio começou a

surgir umas luzes vermelhas que iniciavam nos mais inesperados lugares vindo a morrer sempre no extremo,

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aumentando sua espessura antes de desaparecer na maioria das vezes. Isso me chamou a atenção. Perguntei a

um dos chefes o que era aquilo (eu ocupava um lugar ao meio deles). Explicaram-me que eram partículas

cósmicas que uma poderosa força de repulsão gerada pela máquina afastava de nosso trajeto para não

prejudicar a nave.

Aquilo era interessante, pois como se cruzavam em diferentes direções formavam figuras caprichosas que

bastariam para me entreter vários dias. Não havia dúvida que muito tempo tinha decorrido, pois meu

estômago assim estava advertindo. Inesperadamente um dos homens que nos acompanhava parou e

dirigindo-se ao lado esquerdo de cada uma das poltronas mexeu uma peça que formava parte de um

comprido e articulado braço. Logo dirigiu-se ao lugar do canto contrário que ocupávamos e voltou com duas

pequenas bandejas, uma em cada braço.

As bandejas formavam um quadro de seis polegadas e estavam divididas em cinco fundas seções, cada uma

repleta de algo consistente com um sabor tão agradável que era difícil encontrar algo parecido que houvesse

comido anteriormente. Não só o sabor era agradável, como também era muito reconfortante. Pouco depois

de haver comido esses alimentos, senti uma agradável satisfação de reconfortante otimismo que borrava de

minha mente todos os problernas e preocupações. Os olhos fechavam-se. Naturalmente que isso tinha uma

explicação. A noite anterior quase não havia dormido; guiara por uns trezentos quilômetros. Em seguida, as

diferentes emoções que passara, e, se isso não fosse pouco, agora estava no interior de uma fantástica nave

rodeado de estranhas pessoas. Sim, estranhas! Mas que me faziam sentir-me o homem mais importante da

Terra. Eram gentis, amáveis, como se estivessem em obrigação comigo. Porque negar: faziam-me sentir

insignificante. Por fim, por mais esforços que fizesse, não pude vencer o sono e não soube de mais nada por

largo tempo.

Quando me despertaram eu estava transformado, ainda que não tivesse mudado de posição e de lugar. Tudo

que levava vestido, sumira. Agora meu corpo estava coberto com um traje parecido com o deles, mas sem

cinturão. Faltava-me também a espécie de colarinho do pescoço e os sapatos; os que calçava, que me haviam

colocado, era uma espécie de galocha que me envolvia até os tornozelos. Levava também uma calça tão

justa que me lembrava as roupas de um toureiro. Sentia-a materialmente aderida às pernas sem contudo

atrapalhar o mínimo movimento. Da cintura para cima estava coberto por uma espécie de pulôver desses que

se colocam pelo pescoço. As mangas do pulôver iam até os pulsos, e no pescoço, até o pomo de Adão. Não

tinha nenhuma daquelas coisas como fechos, botões, bolsos e nem se notava sinal de costura de nenhuma

espécie. O material era grosso, pois algumas partes o sentia como tendo uma polegada de espessura. De uma

frescura incomparável. Dava-me a sensação de estar nu.

Ante minha estranheza, os homens explicaram-me que haviam tomado essa liberdade por ser absolutamente

necessário para minha proteção. Haviam tentado despertar-me, mas não o conseguiram. Com isso

deixaram-me magoado. Afinal considerava o cúmulo trocar de roupa sem me comunicar. Mas, acreditei

porque, uma vez, quando menino, alguns amigos tinham me tirado de um carro onde estava dormindo e me

colocaram numa árvore. Por que não acreditar no que diziam? Além do mais não havia tempo para perder

em futilidades. Os homens me acordaram para que com meus olhos visse o maravilhoso espetáculo que

pouco depois iriam me oferecer.

Disseram-me para não tirar os olhos da tela e para não perder nenhum detalhe. Realmente, pouco depois

apareceu uma bola do tamanho de uma bolinha de gude. Era vista de uma maneira completamente diferente

de tudo o que cruzava a tela em diferentes direções e com rapidez vertiginosa. A bolinha não mudava de

lugar. Só aumentava de tamanho. Agora já apresentava-se das dimensões de uma bola de golfe. Parecia

maravilhosa e vinha em nossa direção em linha reta.

Mais tarde chegou a atingir o tamanho de uma bola de futebol. Não mudava de cor. Era de um vermelho

incandescente como de carvão em brasa. Pouco depois, era do tamanho de um balão. Não mudava de lugar.

Se a coisa continuasse nesse rumo, em pouco tempo invadiria toda a tela, na qual quase não mais se viam

aqueles riscos. Será que aquela bola estava me obcecando, hipnotizando, já que não afastava a vista dela?

Comecei a sentir medo. Todos os que permaneciam a bordo também sentiam. Dava para notar em suas

fisionomias. Também estavam atentos e creio que preocupados. Nosso objetivo tinha agora pelo menos um

metro de diâmetro. Tratei de parar. Os dois chefes ao mesmo tempo me indicaram que ficasse em meu

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assento bem quieto, mas ninguém fazia nada para evitar a colisão. Eu os olhava desesperado, mas não me

davam importância.

Aquela fantástica bola cobria toda a tela agora. Tratei novamente de deter-me, e desta vez, senti uma pressão

em minha perna de dois pequenos, mas poderosos braços. O homem que estava a minha direita disse que

não estávamos correndo nenhum tipo de perigo e que só estávamos entrando em outro mundo - no mundo no

qual viviam - e o que agora estávamos vendo era somente a camada atmosférica que o cobria.

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CAPÍTULO 04

CHEGADA À VÊNUS

O inevitável chegou. A bola cresceu e cobriu as três telas. Comecei a sentir um calor sufocante. Mas, só eu.

Os demais continuavam do mesmo jeito que antes. Atribuí essa sensação ao meu estado psicológico ou

nervoso. A perigosa sensação de choque fora superada. Agora a tela inferior cobriu-se com quadros

pequenos, divididos em canais profundos e retos. A medida que cresciam eram distinguidos melhor.

Estavam cobertos com algo que parecia arbusto e sobre eles havia outras coisas. Acabávamos de passar por

alguns, onde se viam naves pequenas, como aquela que trazíamos dentro. Começamos a descer em forma

vertical, indo direto para um dos quadros divisados na tela inferior de maneira perfeita.

Todos param. Dispomo-nos a sair. Abre-se a porta da cabine. Ao nosso lado esquerdo há uma coluna grossa,

pegada à parede que não tinha visto quando entrara. Gira uma seção ficando a descoberto uma escada de

degraus semi-circulares. Os chefes adiantam-se. Desce um, logo outro. Perdem-se na coluna oca. Meus

amigos fazem sinal para que os siga. Aquela operação recordou-me a descida em pára-quedas. Ponho um pé

num degrau e ao me sujeitar com as mãos ao que estava diante de mim, suavemente comecei a descer como

num elevador, parando quando chegou no piso inferior, cinco metros abaixo da parede inferior da nave.

Agora estamos sob sua barriga. Efetivamente esta é negra e brilhante. Ao meu redor está cheio de pequenas

árvores, todas cobertas de frutas. Dá para sentir seu aroma. Entre as árvores há alguns postes grossos de

metal também negros. Neles descansa nossa nave. Também há corredores em todas as direções que estão,

pelo menos, meio metro sobre o nível do pavimento. Ao pisarmos nele, soa ocamente.

As árvores medem pouco mais de dois metros, mas são frondosas. Seus ramos e galhos não têm folhas. Nem

no chão vêem-se folhas caídas. Seus galhos são bastante grossos e não guardam proporção com o tronco. Há

frutos em abundância. Toquei um e me deu a sensação de ter a casca muito fina. O fruto era macio, como

quando está maduro. Cada árvore estava sustentada pelo tronco com quatro pés que vinham do chão.

Examinei a terra, mas não é nada parecida com a nossa. Parece pó de algo como borracha moída ou areia

fina. Era negra e estava úmida, muito úmida, porém, não de água, mas de um líquido viscoso. Meus amigos

me garantiram que efetivamente não era terra, mas um produto químico e que as árvores não se mantém

presas pelas raízes e que estas lhes servem somente de fonte ou canal de alimentação. Dizem também que

estamos num terraço, e este, é um tanque para conter todo o material que alimenta sua fruticultura.

Seguimos por uma passarela até a borda. Olho para baixo e me dou conta que, o que eu acreditava serem

canais, são ruas. Lá em baixo movem-se vários veículos, e junto às paredes, há grande quantidade de

pessoas, todas alinhadas. Não se encontram, nem se esbarram. Assim que levanto o rosto para cima,

encontro algo verdadeiramente assombroso: uma abóbada altíssima e contínua que não se vê onde termina.

Meus amigos me dizem que cobre todo seu mundo, mas, não é só isso. Ela canaliza e dirige raios luminosos

em todas as direções.

Seguem explicando-me que se trata de uma capa de nuvens espessas, às quais estão misturadas substâncias

que, ao receberem os raios do sol, absorvem seu calor e sua luz, multiplicando-a, e com ela, iluminam todo o

planeta. Garantem-me que não têm noites. O clima é abafado. Começa a me faltar o ar. O que respiro não é

suficiente. Sinto-me mal. Estico o colarinho daquela camisa e ela cede. É elástica, mas, não consegui mais

ar. O rosto me arde. Creio que vou desmaiar e apóio-me na amurada da plataforma. Os homens que estavam

me cuidando esperavam já essa reação e estavam prevenidos. Ofereceram-me algo de borracha do tamanho

de um charuto, dizendo-me para chupar como se estivesse fumando.

A reação é notável. A cada tragada recobro as forças até me sentir normal outra vez. A gola da camisa

oprime-me novamente, mas, já não me incomoda mais.

Sob aquela monumental abóbada vêem-se infinidades de naves como aquela que trazíamos dentro e

muitíssimas como a grande. Todas negras. Cruzam-se rapidamente em diferentes alturas. Noto que, segundo

sua direção, é a altura em que operam. Há naves de todos os tipos. Tubulares de vários tamanhos, compridas

e grossas; esféricas de todos os tamanhos parecendo globos de cristal. Agora, passa uma sobre nós, que se

assemelha a um ovo ou a uma pêra. Vai a pouca altura e desloca-se em pequena velocidade. Asseguram-me

que também é uma nave de transportes. Uma coisa me chama a atenção: apesar da velocidade e da

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quantidade de veículos, estes não se chocam. À nossa frente descia agora uma gigantesca nave. Ao cruzar-se

com uma pequena, esta desviou-se com incrível rapidez. Creio que os pilotos não intervieram nesse

movimento de desvio. Inquieto, pergunto sobre o fenômeno. Explicam-me dizendo que todas as máquinas

têm força de repulsão. Aquelas que imprudentemente se colocam no trajeto de outras, são rechaçadas como

bola de futebol.

Andamos pela passarela junto à amurada, até chegar a um canto do terraço. Ali estão os elevadores,

dispostos em toda extensão desse lado. Não são fechados como os da Terra, mas têm três fachadas cobertas

por grade maciça e rígida, na qual nos encostamos, eu bem preso com as mãos; porém, justamente onde me

apóio estão os controles. Pergunta-me um dos chefes se tenho fome. Fome? Não! Nem me lembrava disso,

afirmei. Rindo, disse-me que, casualmente, aquele edifício em que estávamos era um restaurante.

Efetivamente, ao descermos, parávamos em cada andar e todos estavam cheios de gente. Continuamos

descendo. Finalmente, num dos andares descobrimos alguns lugares vazios e saltamos. Reinava grande

harmonia em todos os movimentos das pessoas. Não se atrapalhavam, nem cochichavam. Cada um chegava,

pegava sua porção de alimento, sentava-se, comia e devolvia a bandeja vazia, retirando-se em seguida.

Dei-me conta que a parede frontal a que ocupávamos ao descer, também estava cheia de elevadores, e as

duas restantes, convertidas em armários embutidos em toda volta cheios de bandeja iguais as que usávamos

na nave. O piso deste local estava coberto de pequenas cadeiras que se completavam com um braço

reversível, no qual se colocava a bandeja. Não pude conter uma exclamação de surpresa. Agora os alimentos

eram ainda melhores que os da nave. Meus amigos ofereceram-me ração dobrada e comi até me dar por

satisfeito. Foram dez sabores diferentes, pois, todos são diferentes. Pude observar também que as bandejas

eram de cores diferentes, tantas que me cansei de contar, e os homens me garantiram que cada cor tem cinco

sabores diferentes, porém, todos tinham a mesma consistência. As colherinhas que usavam assemelham-se

às nossas colheres rasas, porém são ligeiramente curvas muito pequenas.

As pessoas que vi nesse edifício não mediam mais que um metro. Todos pequenos, mas bem proporcionais.

Todos vestiam-se do mesmo modo, com roupas iguais às que eu trajava, mas de cores diferentes. Naquele

mundo de clima condicionado há uma contínua orgia de cores, vistas em qualquer direção que se olhe.

Homens e mulheres vestem-se iguais. De frente diferenciam-se apenas pela formas próprias da mulher. Ao

falar, suas vozes soam tranqüilas. Não são como as nossas: broncas, grossas e até certo ponto, desagradáveis

ao ouvido. Todos têm cabelos prateados e ondulados. E todos chegam a cair nos ombros. A cor verde dos

olhos é geral, com também o marfim da pele. Meus amigos explicaram-me que a raça é pequena porque

assim o querem. É um processo científico. Quanto à cor dos olhos, pele e cabelos, é devido ao clima reinante

no planeta.

No refeitório havíamos ficado meus dois amigos e eu. Os demais haviam se retirado, pois tinham que fazer o

relatório de sua missão. Nós ficamos conversando. Era maravilhoso estar entre tantos “bonecos” humanos.

A eles eu devia parecer um monstro. Saímos do refeitório pelo mesmo elevador e chegamos ao que devia ser

o sub-solo. Esse pavimento está totalmente vazio. As pessoas cruzam por ele. Não há portas de rua em rua.

As paredes frontais que não têm elevadores, compôem-se de uma série de entradas em forma de arco. No

centro há dois mais espaçosos que os demais. Por ali cruzam os veículos. Há muitíssima luz, porém, não se

sabe a fonte. Pode-se dizer que são as paredes que a produzem. Caminhamos sobre um piso macio, polido

como metal.

Saímos em direção à rua e ao chegarmos a parte frontal do prédio, detemo-nos. As calçadas rolantes

circulam a uma velocidade moderada. Estão divididas em três bandas: duas que se movem em direções

contrárias e uma, a do meio, que se mantém imóvel. As pessoas mudam de uma para outra, em movimento,

com agilidade, saltando da em movimento para a imóvel e desta para a outra em sentido contrário. Ou então

entram num edifício. As fachadas dos prédios são lisas. Não têm janelas. São lisas por completo. Suas belas

cores parecem de vidro, ou melhor dizendo, de espelho, pois, nossa imagem reflete-se nitidamente.

Percebe-se a junção do material em cada pavimento, porém formando um todo. Cada edifício é de uma só

cor. Diferenciam-se por elas. Não há placas de tipo algum. Os edifícios-restaurantes são azuis, existentes a

cada quatro quadras. O meio da rua é largo, dividido ao centro por um meio-fio estreito, coberto com algo

parecido a tiras de metal: uma estreita de cor amarela e outra larga de cor marrom-escuro. Descubro só dois

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tipos de “veículos terrestres”, diria, mesmo que a palavra não seja apropriada. São individuais, pequenos,

destinados a uma só pessoa e está provido de duas rodinhas. Não coincidem com a idéia de rodas bem

proporcionadas que temos, porque são rechonchudas e largas. Nesses veículos vai uma só pessoa, porém, há

veículos de três rodas. Nos primeiros há um assento com encosto, e sobre a roda dianteira só há um guidom

não maior que a mão deles, operado como uma manivela. No segundo tipo, o assento é largo e também há

encosto e apoio para os pés. Também são operados como o guidom. Esse tipo de veículo é encontrável em

quase todos os edifícios, no sub-solo. E qualquer um que os usa, deixa em qualquer lugar que quiser. Nos de

três rodas, geralmente, vão os casais, homem e mulher. São vistos circulando em boa velocidade e

geralmente sobre pistas estreitas. O outro tipo de “veículo terrestre” podíamos denominá-lo “coletivo”. São

parecidos com estruturas de edifícios pequenos por terminar. A maioria tem 10 andares, ainda que haja

outros com menos. Este tipo de transporte é raro, porque não sobe ou desce só uma pessoa, mas, recolhe e

deixa andares inteiros.

Como o sistema me pareceu interessante, vou descrevê-lo em maiores detalhes. Para isso, vejamos primeiro

como são as ruas, para fazermos melhor idéia. Essas sobem e descem, formando passagens em desníveis em

cada esquina, onde os veículos passam, a cada duas quadras, sob uma ponte, usando o oco desta para alojar

as plataformas que recebem os passageiros.

Vejamos agora como são os veículos que andam a um metro das calçadas. Já que falamos delas, vamos

completar a sua descrição: correm em toda sua extensão, separadas do olho da rua por rígido pára-peito. No

que podia ser o meio-fio, está aberta a interminável boca de um coletor-aspirador que se encarrega de chupar

o pó que poderia produzir no piso o contínuo rodar de veículos, único desperdício admissível num mundo

onde se percebe a limpeza absoluta. Como já disse, os veículos são armações que estão presas ou ligadas

numa plataforma que serve de base. Esta por sua vez repousa sobre várias fileiras de rodinhas. Geralmente,

cada fileira tem cinco fortes rodas. Chega a haver até 10 fileiras de rodinhas. Assim é a armação ambulante e

exatamente como ela, há duas em cada parada. Estão sem rodas e dispostas umas atrás das outras.

Tratarei de descrever o complemento, ou seja, onde se sentam os passageiros. Trata-se de uma caixa que tem

até dez assentos corridos no que cabem cinco ou seis pessoas. Naturalmente pequenas. Cada caixa é todo um

mecanismo. O veículo chega na sua parada e se ajusta com precisão de milímetros. Emparelha com a

primeira armação fixa. Ouve-se um golpe seco e desloca-se uma seção da dita armação fixa. Caminha uns

metros mais até ajustar-se com a armação seguinte e recebe outra caixa repleta de passageiros. Dizia antes

que cada uma dessas caixas é todo um mecanismo, porque os assentos estão montados sobre uma banda que,

enquanto está dentro da armação fixa, começa a girar, colocando cada assento ao alcance de um tipo de

escada de barrotes, automático. As pessoa usam tanto as escadas elevadoras, como os assentos com enorme

facilidade. Ditos elevadores conduzem a uns corredores subterrâneos e para abordar um destes veículos, a

operação se faz inversamente.

Não há condutores, nem motoristas. Não usam trole. Tampouco vão sobre trilhos. No entanto, são tão

perfeitas suas paradas que cheguei a pensar que se uma inteligência os manobrasse, não conseguiria tal

perfeição. Andam um atrás do outro, algumas vezes em linhas cerradas. Em determinados lugares alcançam

velocidades de até setenta ou mais quilômetros por hora. Sempre circulam sobre duas das pistas estreitas.

A luz das ruas é proveniente do céu ou da abóbada celeste. Não é tão viva como a que desfrutamos de dia.

Assemelha-se mais com a que brilha ao amanhecer e são vistas brotar de milhares de lugares, como raios de

sol passando através de nuvens brancas e prateadas que formam um infinito refletor. Meus amigos me

haviam dito que não havia luz artificial nas ruas e que tampouco tinham noites e o fato de nenhum tipo de

veículo trazer meios de iluminação, parecia comprovar o que eles tinham me dito. Porém dentro dos

edifícios, é surpreendente a intensidade da luz ali existente, parecendo que emana das paredes e do teto.

Saímos a andar porque ainda que as calçadas sejam móveis e dotadas de assentos as pessoas sentem prazer

em usar suas pequenas pernas e ninguém se deixa levar. Ao contrário, parece que muitos se divertem

saltando de banquinho em banquinho. Eu caminhava devagar e minha única preocupação era não pisar em

alguém, fato que não me perdoaria.

Admirável a mudança que se operou em mim. Sinto a mente aliviada e adquiro grande poder de observação.

Assimilo com facilidade o que eles me explicam e sinto tal grau de despreocupação que quase me esqueço

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que tenho que voltar ao meu mundo, ainda que meus amigos venusianos ignorem a data. Nem sequer me

havia dado conta que os “dois” falam espanhol e só retornei à realidade ao ver minha desproporção com

todos os seres que me rodeavam, não só em estatura, como também em feiúra.

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CAPÍTULO 05

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

Desde que estive a primeira vez num dos seus hortos de terraço vi algo que me chamou a atenção de forma

extraordinária. Tratava-se de uns edifícios, parecidos com os demais só até a meia altura, prosseguindo daí

em forma circular até uma altura de uns duzentos metros talvez, onde terminavam em forma de cúpula,

redonda e lisa. Essa prolongação era de cor negra, brilhante, tal como a das naves circulares, como aquela

que nos trouxe até esse mundo de maravilhas. Para qualquer lado que se conte, a cada quatro edifício

encontra-se um desses, ou seja, cada um deles está localizado entre um grupo de vinte e quatro quadras. São

os únicos que possuem sinais ou guias, porém, essas indicações, no dizer de meus dois amigos, somente

marcam o número da zona que ele controla.

Explicaram meus amigos que esses edifícios eram os mais importantes, pois, deles se administrava todo o

grupo que os cerca, entre os quais, encontram-se restaurantes, dormitórios, cinemas, salas de jogos, salas de

música, laboratórios para o preparo de alimento, central médica, fábrica de vestuário e lavanderia (que se

assemelha mais a um laboratório de limpeza de roupa). Controlam ainda a distribuição de roupas e de

alimento, o clima e a iluminação da zona. Tudo isso de forma automática.

Asseguraram-me ainda que a partir dessas cúpulas, mantinham comunicação constante com naves e

edifícios. Em suas torres são captados sons provenientes de todas as partes do universo, estudando-os e

classificando-os para materializá-los em seguida. Desde suas cúpulas controlam e mantém a forma e a altura

da sua abóbada atmosférica, controlando também o clima na parte exterior dos edifícios, e como se tudo isso

fosse pouco, em cada um há um arquivo vivo no qual se pode investigar o passado, ver o presente e até

mesmo o futuro em gestação. Sem precisar sair do mesmo, alguém pode ver os processos de construção de

edifícios e a fabricação e a montagem de toda classe de veículos aéreos e terrestres. Do mesmo modo, pode

ser vista a preparação do seu alimento e vestuário desde o princípio. Usa-se um maravilhoso sistema de

auto-sono-visão (que valha a palavra), onde é possível manejar o espetáculo à vontade do operador. Em cada

uma de suas salas, nas paredes, há umas telas controladas por manipuladores situados em cada lado da

abertura. Apóia-se as mãos nesses manipuladores, com os dedos polegares sobre um botão e, de modo

semelhante ao cinema, dá uma sensação de incrível profundidade, possibilitando a idéia de que realmente

está vendo homens, materiais, máquinas e todo seu processo. Com os manipuladores faz-se passar o

espetáculo à direita e à esquerda, ou, se preferir, detém-no, dando a impressão de se estar percorrendo a

região num veículo. Para isso basta apertar ditos botões.

Como julgo interessante o que vi em algumas delas, tratarei de descrever essas interessantes impressões.

Começaremos por algo que todos conhecem: pneus de automóvel. Isso é coisa do seu passado, pois,

atualmente tem o pavimento com brilho de espelho, usando um sistema diferente de rodas. Como estava

dizendo, no passado usaram um tipo de roda muito parecida com a nossa, ainda que seu princípio de

fabricação fosse diferente.

Nós, em matéria de transportes, tanto aéreo como terrestre, temos avançado em velocidade, mas não em

segurança. Construímos veículos para velocidades de duzentos ou mais quilômetros por hora, deixando as

conseqüências disso ao sabor da sorte, pois, num veículo qualquer, viajamos sobre quatro rodas com

câmaras de ar e, sabemos por experiência própria que não só a essa velocidade como também a um terço

dela, se de forma imprevista estoura o pneu, ou se a roda perde o ar que a mantém, a vida que vai em cima

do veículo depende exclusivamente da sorte.

Eles não brincavam com a sorte, nem com sua vida, e por isso, buscavam segurança em algo confiável, na

solidez de um material. E os seus pneus, suas rodas, estavam construídas dentro desse princípio de

confiança. E como vi todo o processo de fabricação, através daquele maravilhoso aparelho, estou em

condições de descrevê-lo. Espero que consigam me entender apesar do meu pobre vocabulário, porque não

sei se consigo expressar-me devidamente. Começaremos pelo núcleo, ou seja, por aquilo que para nós

representa a câmara de ar, base para um pneu confiável.

Para conseguir isso, fixemos em nossa mente um molde para esse núcleo, como se quiséssemos nele alojar

uma de nossas rodas. Dito molde está aberto em sua parte superior. Além disso, está dividido em sua parte

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longitudinal, no centro, formando assim duas seções iguais que poderiam abrir-se para desalojar o núcleo

uma vez construído. As duas paredes que formam o molde estão cobertas de perfurações em toda sua

extensão. Esse molde gira numa máquina e em seu oco, enrola-se o material que o formará. Esse material,

conforme vi, é de três tipos, a saber: uma mangueirinha ou tubo do diâmetro de um lápis, feito de um

plástico especial, mas que também poderia ser borracha (como a que conhecemos). O tipo que o seguia era a

mesma mangueira, só que agora reforçada com fibra, pelo que, tinha maior resistência. A esse material,

seguia-se outro, que não era oco, mas que também não era sólido; era um cordel ou corda do mesmo

diâmetro que os anteriores, construído de fibras, talvez de sisal ou qualquer outro material fibroso, torcido

naturalmente e tratado quimicamente, para que aceitasse um envolvimento além do plástico, aqui de

borracha, semelhante às fibras que formam o revestimento dos nossos pneumáticos.

Muito bem. Uma vez o molde cheio desse material, naturalmente que sempre com a mesma tensão,

quantidade e peso, entra com todo o conjunto no processo de cozimento, com o objetivo de obter uma

unidade compacta, que não se desfaz quando retirada do molde. Quando esse núcleo está pronto, ambas

seções giram em sentido contrário sem retirar-se do material. Assim é como o descolam do núcleo sem

estragá-lo. Terminado o processo anterior, temos então a base para uma roda semi-sólida confiável. Depois

disso, passamos ao processo de fabricação de uma malha de metal, destinada a aumentar a resistência e

conservar sua forma. Essa malha é tecida por uma máquina especial. Conforme é tecida, nela vão entrando

ditos núcleos, acompanhado de um espaçador que contém uma ranhura na metade de sua extensão. Essa é

necessária porque, seu trajeto, passa por uma cortadeira circular, que se encarrega de dividir em cada núcleo

só o material necessário. Pouco depois de cortada a malha, os núcleos se separam dos espaçadores, seguindo

estes um caminho e aqueles entrando em uns canais que se aprofundam cada vez mais até conseguir que dita

malha fique aderida nas paredes laterais, formando uma abertura fixa e segura. Logo, passam a cobrir o

núcleo malhado com o material de cobertura exterior, no nosso caso, borracha. Dali passam aos moldes que

dará o acabamento. Eles usaram lisas, porém, sigamos com o processo. Uma vez terminado nosso pneu,

nessa fase de acabamento, não o poderemos montar em nosso tipo atual de roda, que são feitas para usar

câmaras de ar depois de prontas.

Mas podemos usar com vantagens o procedimento que eles usaram, ou seja, dois discos de lâmina de boa

espessura, troquelados com a forma de rodado e unidos pelo centro sobre ele terminado, concluindo com os

furos necessários para qualquer tipo de automóvel. Poderíamos substituir com unidades completas desse tipo

nosso atual e inseguro sistema de rodado. Como vêem, esses discos podem ser terminados com maior

beleza, digno dos carros mais luxuosos. Este sistema tem algumas vantagens e a principal é a substituição

das desgastadas pelas recauchutadas. Em nosso mundo seria necessário toda uma indústria.

Eles, hoje, usam motores em forma de rodilhos que trabalham ao inverso dos nossos. Nós fazemos rodar ou

girar o centro ou massa embobinada. Eles fixam o eixo. Como vocês percebem, não é muita a diferença

nesse aspecto.

Passemos agora às suas naves. Eles me haviam assegurado que o princípio que nós usamos para voar é

incorreto, pois, nossas aeronaves são frágeis e inseguras, além de dependerem de combustível para

propulsão, que além de aumentar o peso, diminui seu raio de ação. Em troca, aconselham que deveríamos

construir máquinas que aproveitassem as forças existentes ao nosso redor, que são incontáveis. Por exemplo,

eles, mesmo em pequenas naves, trazem diminutas, porém poderosas fontes de energia: aproveitam o calor,

o frio, a luz, as trevas, as linhas magnéticas e até mesmo as tormentas elétricas. O princípio de sua

maquinaria, em todas as naves, é o mesmo, variando só a sua disposição. Tratarei de transmitir o processo de

construção de uma nave circular pequena, ou seja, essas que nós na Terra chamamos de Disco Voador.

A primeira coisa que vemos é a base, ou seja, a parte inferior. Vem em bruto. Vê-se a enorme circunferência

oca. Vêem-se também suas três cavidades, por onde receberá os pés de sustentação. Traz também cinco

bases onde serão alojados o que seriam coxins selados, maravilhosos por certo, nos quais são injetados

materiais líquidos, artificiais, produzidos em laboratório, muito parecido com o estanho. Cada coxim alojará

o extremo de um eixo vertical. Nesta (nave) haverá cinco deles e em cada um rodarão grandes e delgados

volantes unidos a outros pequenos. Em três desses eixos estão alojados cinco dos grandes volantes. Nos dois

restantes, somente quatro. Os volantes grandes terminam num ângulo agudíssimo que se alojam numa

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ranhura do mesmo diâmetro em que está o volante pequeno. Esta parte aguda de que falo está coberta de

pequenos círculos, que podem ser bobinas, pois, os pequenos que os alojam, por sua vez, estão cobertos de

barrinhas ou varetas dispostas em ângulo ao seu redor.

Após essa operação segue-se a colocação das fontes de energia, também em número de cinco e têm a forma

de um recipiente para assar frango. Tudo está devidamente unido. Segue-se agora a escada interior em forma

tubular. É alojada entre as duas séries de volantes. Tudo em ordem, colocam a cobertura central. Chega entre

quatro pés motorizados que giram, sobem ou descem a vontade dos operadores. Por sua vez, essa cobertura

traz os coxins devidamente colocados encaixando-se perfeitamente nos eixos, escada e na parte inferior da

nave. Temos então a sala de máquinas que impulsionará a nave. Ainda que essa seja a parte mais trabalhosa,

tudo é feito com facilidade e precisão.

A mesma máquina que trazia a cobertura central, eleva agora todo o conjunto, facilitando assim a colocação

das balizas de sustentação. Estas devem ser colocadas e fixadas com precisão, porque quando não são

necessárias, giram perdendo-se em suas cavidades, deixando uma superfície contínua com o restante desta

parte da nave. Estes aparelhos contam com dois tipos de escada: circular, que pode descer por baixo da nave

e outra cortada na parte inferior desta, porém, coincidente com a anterior, que é a que leva à parte alta da

nave, convertida em sala de controles. A parte superior, que também chega num guindaste (por assim dizer)

de quatro pés motorizados, igual a cobertura central, traz seu pescoço ou coroa, como queiramos chamar.

Essa coroa tem janelinhas redondas em seu redor, subindo ou baixando a vontade. Ao baixar deixa, tal como

as balizas de sustentação, uma superfície lisa, prolongando o formato da nave, oblonga vista de perfil. Essas

janelinhas não são de observação direta, porém telas captadoras para diferentes usos. Assim, a nave já está

pronta. Vêmo-la agora ser examinada pelos técnicos, que testarão tudo. Contudo falta ainda o mais

importante. Nessa altura a nave já se movimenta conforme a vontade dos tripulantes: sobe, baixa,

movimenta-se de distintas maneiras e ângulos, mas ainda inerme.

Através de nosso ponto de observação (a tela descrita anteriormente) seguimos seus movimentos seguintes.

Aproxima-se agora de outro departamento, onde há umas cubas ou tinas tubulares com capacidade

aproximada de duzentos litros. Uma destas se separa do grupo indo ao encontro da nave, que se aproxima a

pouca altura, até ficar sobre a mesma. Tudo se move sem intervenção humana direta. A nave desce

lentamente sobre esse cilindro até dar a impressão de tê-lo tragado. Ao levantar-se novamente, leva-o em

suas entranhas, ficando no solo apenas a plataforma em que era transportado, retornando esta ao seu lugar de

origem. O leitor é capaz de imaginar o que seja esse cilindro? Pois, nada mais, nada menos que uma terrível

arma, capaz de desintegrar tudo, absolutamente tudo de qualquer distância que se conceba. Além do mais,

produz vibrações capazes de pulverizar edifícios em poucos minutos.

A parte grossa das paredes da nave mede umas dez ou mais polegadas de espessura. O material é

transparente, tendo maior visibilidade em sua parte inferior, na qual, em alguns casos, vê-se o giro dos

volantes de suas maquinarias. São esses volantes que produzem luminiscências que aumentam ou diminuem

de intensidade segundo a zona em que operam. Esses volantes giram a diferentes velocidades e os inferiores

são os mais lentos.

Nossa nave, essa que seguimos os passos de sua fabricação, está semi-acabada, faltando agora o polimento.

Para esse processo vêmo-la flutuar suavemente e dirigir-se, assim, para outro departamento, até chegar e

situar-se no centro de uma gigantesca máquina provida de uma série de discos que giram à grandes

velocidades, movendo-se em todas as direções até cobrir totalmente a nave, fazendo-a sumir-se da nossa

vista. Terminada essa operação, nossa nave está flamejante, brilhante e pronta para qualquer tipo de prova.

Sai então ao espaço livre onde faz toda classe possível de testes, evolucionando de maneira incrível. “Só

vendo para acreditar”, dentro de nossa mentalidade.

As naves tubulares têm dispostas duas séries de volantes em todo seu cumprimento, e segundo a sua

longitude, chegam a ter até vinte em cada eixo de grandes dimensões. Uma de suas características, segundo

meus amigos, quando lhes perguntei o que faziam quando perdiam, em suas incursões, algumas delas, e eles

garantiram que assim acontece, é que fazem-nas explodir sobre o mar depois de recolher seus tripulantes,

com o objetivo de evitar que os restos caiam em mãos ambiciosas. Cada nave, todas elas, tem sua

maquinaria composta de volantes de diferentes tamanhos, segundo as proporções do veículo. Acredito que

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no final, o princípio que utilizaremos para propulsar as naves terrenas será esse. Há um dado interessante

que pode servir para nossos cientistas: de acordo com o tamanho da nave é o número e o diâmetro de seus

volantes e o número de fontes de energia. No caso da pequena nave descrita acima, como dizia, não é maior

que um assador de frango e a parte exterior ou cobertura está coberta de pequenas perfurações.

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CAPÍTULO 6

EXAMINANDO O PASSADO

Prosseguindo com a narração, vamos dar uma olhada no processo de preparação dos alimentos.

Dividi-lo-emos em duas partes, porque efetivamente é assim; são independentes, ou seja: uma parte do

material é proveniente do mar e a outra, dos hortos de terraço. Contudo, toda alimentação é preparada em

laboratórios. Comecemos com o mar. São grandes fábricas flutuantes e cada uma delas conta com viveiros

formados por redes que as cercam até a grandes profundidades; há também um lugar destinado, nos viveiros,

para os grandes peixes, algo que em nosso mundo vem se assemelhar a um bebedouro, só que no nosso caso

do viveiro, é um lugar oxigenado. São nesses grandes viveiros que se captam os peixes para estudo e

alimentação. Nessa mesma zona os peixes são alimentados com dietas especiais que proporcionam

magníficos resultados. Durante todo o tempo que fiquei a observar o processo através daquela tela no

edifício descrito anteriormente, não vi ser industrializado nenhum peixe com menos de dois metros, mas,

não foram poucos os que mediam mais de quatro metros. Também não vi várias espécies, como existem em

nossos mares da Terra. Todos os que vi sendo capturados tinham a figura de um gigantesco salmão, de

branca e sugestiva carne. Esses enormes peixes passam, em seguida, por todo um processo que me pareceu

maravilhoso. Ao final do mesmo, saíam convertidos numa impalpável farinha. Com isso já temos uma das

matérias primas.

Como disse, a outra matéria é proveniente dos hortos de terraço. Vamos explicar melhor. Eles conseguiram

criar e desenvolver um tipo de fruta, geralmente redonda e não maior que uma laranja pequena. como as

nossas frutas carnosas, mas sem fibras. Sua casca é fina como a da ameixa, mas sem caroço. Assim tinham

me dito e eu comprovei depois. Para resumir, essas frutas também acabam convertidas em finíssima farinha.

A seguir ambas as farinhas são convertidas em líquido, sendo transportado aos laboratórios através de um

sistema de tubulação e dali aos locais de consumo.

Foi num desses edifícios onde também vi o processo de construção dos mesmos. Meus dois amigos

asseguraram-me que naquele planeta haviam mais indivíduos da minha raça. Ao entrar no mesmo, dei-me

conta que o edifício estava crescendo ou despregando-se do solo. Explicaram-me que só o estavam

aumentando. Seu processo de aumentar edifícios é inverso do nosso na Terra, coisa por demais lógica, pois,

eles usam os terraços como horto e campo de pouso para naves. Para que eu pudesse ver, ao natural, o

processo de aumento de edifício, levaram-me ao porão, lugar onde se leva a cabo essa operação. Percebi

então, que esses não são mais que ruas subterrâneas, através das quais transitam veículos que movem os

materiais destinados a construção. Também é por aí que correm grossas tubulações negras, através das quais,

são transportadas roupas, alimentos e tudo que é necessário para seus habitantes. Mas sigamos com o

edifício. A todos os porões atravessam umas colunas de umas vinte polegadas de espessura e são essas que

formam as armações para os edifícios. No lugar em que nos encontrávamos, tudo estava pronto para ser

aumentado. Em cada uma das colunas está colocado um macaco com formato de meia-cana, abraçado à

mesma, presa por meio de umas ranhuras. Esses ganchos compõem-se de várias seções interiores; são

pneumáticos e conectam-se em uniões flexíveis. Quando tudo está pronto, uma pequena máquina aplica uma

força em todos e o edifício levanta-se sobre eles. Os lances ou segmentos de coluna, com uns dois metros de

altura, por umas vinte polegadas de espessura, são maciços e em cada canto têm um acoplamento que se

ajusta com precisão. São sumamente levianos, a ponto de alguém poder levá-los debaixo do braço.

Colocamnos um a um em cada buraco à mostra ao levantar o edifício, ficando firmemente presos ali.

Depois, tiram a força dos ganchos e o edifício baixa, ficando aumentado. Entram em cena agora os

rematadores que colocam a caixa dos elevadores, unidades autônomas providas de rodinhas em seus lados,

que rodam num cubo, acoplado em seções, semelhante as colunas. Não usam os perigosos e desajeitados

cabos. Na parte exterior, só desliza a cobertura em forma de arco e o oco à descoberto é recheado. Saem os

aparelhos carregados de material. Éum verdadeiro espetáculo ver-se um daqueles homenzinhos,

comodamente sentado em cima de um aparelho que me lembra uma aranha gigante e de assombrosa

maneabilidade. Acerca-se com segurança do lugar exato com seu rolo de material. Outro homem montado

num aparelho semelhante, mas sem rolo algum e só provido de um pequeno instrumento que sujeita com u’a

mão, ajustando com a outra o extremo do material no lugar em que será soldado, por que é isso que fazem,

nem mais nem menos. Com os pés movem os controles de seus aparelhos que o sobe e desce em seu

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cômodo assento. Quando o extremo do rolo trazido pela primeira máquina ficou preso, os dois aparelhos

caminham, um levando o rolo e o outro soldando-o em seu lugar. Assim em menos tempo que levo para

contar isso, eles terminam sua tarefa.

Pois bem. Tudo o que vi aqui, pessoalmente, vi de novo, depois, num dos edifícios de controle, só que aqui,

em forma de projeção, estudando o trabalho realizado em diferentes ângulos, algo que é interessante pelos

detalhes que mostra. Ainda nesse mesmo edifício de controle localizaram e falaram com os dois outros

terrestres e prontificaram-se em fazer uma entrevista com eles, algo que serviu para aquilatar o grau de

eficiência de suas comunicações. Comprovei depois, que os dois indivíduos da Terra estavam no outro lado

do planeta, algo assim como do México a China. Ficaram sabendo que os dois não eram espanhóis, mas

franceses que tinham chegado ao planeta cinco anos antes.

Num desses edifícios também pude admirar algo que me chamou a atenção. Era algo relacionado com o seu

passado e seu sistema de transportes e alimentação. 0 primeiro referia-se a uma bola transportadora e foi o

tipo que culminou em eficiência e rapidez. Depois dela, veio o transporte aéreo capaz de cobrir grandes

distâncias. Esse meio passou a história. Tratava-se de uma bola gigante, maior que a nave esférica que

usamos. Dividia-se em três seções, e as duas uniões que a fechavam, era sua superfície de rolamento.

Circulava nuns canais que alojavam mais da metade do transporte. Em razão de sua enorme circunferência,

devia alcançar grandes velocidades, pois os trilhos eram sumamente lisos. Porém a coisa não pára aí.

Podia-se chamar a esse meio de transporte “velocidade por inércia”, pois não usavam qualquer tipo de

propulsão. Meus amigos fizeram-me uma demonstração com um modelo pequeno e o vi subir a uma altura

de quatro metros. Teria subido quinhentos se, a demonstração não terminasse aí. As estações de paradas

eram cubos do mesmo diâmetro que a bola, parando pela ação do ar que era comprimido dentro dele. Esse

cubo, ou túnel, estava provido de comportas e válvulas para dar saída ao aparato.

Outra coisa que me chamou a atenção foi seu primitivo meio de produzir legumes em tempos remotos. Eles

tinham me dito que houve uma época em que cultivaram maior número de legumes que nós conhecemos.

Assim, quando tive oportunidade, perguntei-lhe’, se não haveria maneira de conhecer os meios que se

valiam para consegui-lo. Como tínhamos pouco tempo disponível, entramos num edifício de controle,

buscando uma reprodução daquele antigo meio. Disseram-me que veria ali em modelo, mas que me

demonstrariam depois se houvesse tempo. Produziam legumes perfurando o solo na profundidade que

quisessem. Ali faziam cortes em circunferência, dando uma forma de ângulo ou de repiso, de modo a

parecer uma série de cones superpostos com a parte estreita para cima. Esse tipo de horta possuía várias

janelas, sendo que a principal colocava os legumes ali cultivados a salvo dos raios solares, por que naquele

tempo ainda não sabiam se proteger dos mesmos. A segunda vantagem desse sistema era que, numa

superfície pequena, conseguiam grandes produções e com pouco esforço, já que desde os tempos primitivos

usavam - com eficiência - sistema de elevadores. Segundo meus amigos eles tiveram hortas desse tipo, com

centenas de pisos.

Relatarei agora algumas coisas relacionadas com o mar. Começarei com alguns modelos de barco. Dizia

antes que eles não se parecem com os nossos. Mais de uma vez cheguei a pensar que a diferença entre os

deles e os nossos veículos marítimos deve-se ao fato de o mar daquele planeta ser mais denso ou mais leve.

Não perguntei isso a meus dois amigos, por que quando lá estava não tinha me ocorrido essa hipótese.

Percebi um modelo, cujo casco era plano, mais semelhante a um lanchão rudimentar de lento velejar que um

navio de grandes velocidades. Esse tipo foi desenhado para cargas, e compõe-se de galerias que correm em

seu comprimento, havendo entre uma e outra, uma parede fechada e oca, cujas seções estão recheadas de um

material flutuante. Havia tantas dessas paredes quanto de largo tivesse o barco. Sua forma exterior é aguçada

nos extremos como se duas de nossas embarcações fossem unidas em suas partes abertas. Não há perigo de

naufrágio, pois, como disse, têm paredes flutuantes, externas e internas. Esse tipo de embarcação não se

limitava ao mar, por que estava construído de tal maneira que, finda a travessia marítima, seguiria por chão

firme, pois, sua cobertura exterior está repleta de rodinhas propulsoras dispostas em canais horizontais,

assomando-se entre estes, terminais por onde sai a água sob pressão que propulsiona o veículo sobre o

líquido. Cada rodinha dessas forma uma unidade independente, que, quando na água, converte-se também

em bomba. Esse tipo havia em todos os tamanhos imagináveis, mas, sempre guardando o mesmo estilo.

Toda a parte superior é coberto de comportas por onde são carregados, usando guindastes que cobriam toda

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sua extensão. Essas naves tiveram um papel muito importante na alimentação do povo, pois com elas

transportavam o pescado, base da sua alimentação. Para que compreendamos melhor, antes de descrever

outro tipo de embarcação, vou fazê-lo com as habitações marinhas.

Essas compunham-se de urna série de tubulões fechados em seus extremos e dispostos lado a lado,

semelhante a uma balsa. Sobre essa tarimba havia uma cobertura de malha resistente. E sobre esta vinham as

moradias em forma de bolha, distribuídas convenientemente. Da mesma forma contavam com um pátio onde

criavam aves domésticas e cultivavam legumes especialmente desenvolvidos para esse meio. No centro

dessa “balsa”, havia pequenas torres, com as quais, sem dúvida, faziam contato com os da terra firme ou

com seus vizinhos, pois, conforme meus amigos, havia colônias perfeitamente distribuídas sobre o mar.

Cada unidade dessas, contava ainda com uma pequena embarcação para pescar: possuíam um tanque

especial, flutuante, onde depositavam o produto da pesca, ficando à espera das grandes embarcações que por

ali passavam para recolher o que faziam de forma por demais prática. Esses tanques estavam dotados de

pegadores; especiais em sua parte superior. A embarcação chegava e simplesmente esticava o braço do seu

guindaste, alçando-o e levando-o para uma de suas comportas. Movia um dispositivo de sua parte inferior e

o conteúdo do tanque caía diretamente dentro das comportas, retornando aquele ao seu lugar em seguida.

Entre essas colônias marítimas havia embarcações especiais encarregadas de provê-Ias de produtos que não

produziam em suas hortas flutuantes. Existia também umas espécies de torres marinhas que estiveram em

uso antes que enchessem seu mar de edifícios. Foram usadas para rádio e televisão nos albores dessa ciência.

Essas torres compunham-se de urna armação em forma de cones unidos por suas bases, levando em sua

união, isso é, no centro da torre, uma massa de flutuadores na qual se apoiavam. Essas torres estavam

alinhadas marcando as rotas para suas embarcações, isso quando seu mar estava despovoado. Não serviam

exclusivamente de sinalizadores, mas também, de estações de recreio para os viajantes marítimos. Eram

providas de contrapeso e âncora. O contrapeso mantinham-nas na vertical. As âncoras por sua vez, um dos

tipos usados, era de forma esférica eriçadas de lancetas que se projetavam ou recolhiam de acordo com a

vontade dos operadores. Um outro tipo poderíamos chamar de “rabo de porco” por que se assemelhava a

isso. Em sua ponta havia uma verruma para penetrar profundamente no solo marinho. Determinada a

profundidade, eriçavam-se as espigas impedindo seu retrocesso. Não usavam correntes de metal ou de ferro.

Substituíam-nas por algo que poderíamos chamar “plástico”, composto de grande número de mangueirinhas,

algo assim, unidas entre si, aumentado a espessura do material de acordo com sua quantidade, de modo

semelhante aos nossos cabos de aço, mas sem ser torcido.

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CAPÍTULO 7

UM VÔO SOBRE VÊNUS

Examinaremos agora o tipo das embarcações elegantes, que resultaram do avanço do sistema marítimo,

nascendo aí os vários tipos de naves aéreas usadas atualmente. Vamos fazer de conta que tomamos dois, três

ou quatro corpos de nossos modernos aviões, colocando-os paralelamente ou em separado, e sobre eles,

coloquemos uma das modernas naves circulares que usam. O resultado disso é suas fantásticas embarcações

de luxo, espécie de imaginado e fantástico catamarã. Não há dúvida que foram eficientes e bonitas. Por esse

desenho nasceram as naves aéreas, por que atualmente são parecidas não só em suas seções inferiores, como

também a parte superior tem grande semelhança com suas modernas e gigantescas naves circulares. Antes

que me esqueça, vou relatar algo de grande importância, vital para o mundo estandartizado: os sanitários.

Não há um só edifício que não os tenha, alojados entre arco e arco e no sub-solo de todos eles. Quando

ninguém está usando, estão à vista. Mas basta uma pessoa aproximar-se um metro e meio deles, para que

desapareçam dentro de uma cortina de obscuridade intensa, tal como a que protege as camas nos

dormitórios. A superfície tem o formato de manga (fruta); na parte superior tem o formato ovóide agudo

Usa-se escarranchado e se ajusta com precisão, feita de um material mole. Para o asseio estão providos, no

lado direito, de um pequeno gancho, que linchando para baixo, descarrega uma chuva miúda e intensa que

não só asseia como também refresca. Em seguida, forma-se um vácuo que seca de modo perfeito.

... Mas sigamos nosso caminho em busca dos terrestres. Tivemos que tomar um tipo de nave diferente das

que já conhecia. Para chegar ao terraço onde estava esse tipo de nave tivemos que tomar um “ônibus”, e aqui

foi um caso sério. Esses veículos são feitos de modo que os assentos, em sua parte posterior, também sirvam

de apoio para os pés para quem vem sentado no banco de trás. No meu caso, além de meter os pés, tive que

meter a cabeça... roguei a Deus que chegássemos ao nosso destino. Por fim, descemos e fomos por um

corredor subterrâneo, no qual tinha que estar atento a minha cabeça. Chegamos a uma calçada rolante, dali

ao entre-solo de um edifício - uma biblioteca - de onde seguimos para o terraço. Meus amigos prometeram

que na volta visitaríamos a mesma.

Havia três naves, pelo menos foi o que me disseram, por que para mim, não era outra coisa que três

gigantescas e brilhantes esferas, com pelo menos cinco metros de circunferência. Caminhamos por uma

passagem entre pequenas e cheirosas árvores e grossos postes negros, onde estavam pousadas as naves.

Quando nos aproximamos, um tubo desceu da mesma, abriu-se uma seção, ficando à mostra uma série de

escalões semi-circulares, pelos quais subimos até chegar a metade superior da nave. Esse elevador forma

parte da cabine dos controles. Em forma circular, fazendo parte da parede exterior, há assentos com encostos

e cintas para o abdômen e pernas, onde, em virtude do meu tamanho, ficava mais ajustado que meus dois

companheiros. Senti-me novamente como dentro de uma esponja, mas de modo agradável.

Na cabine havia um homem. Apesar dos homens e mulheres vestirem-se iguais, há um-não-sei-o-que neles

que a gente sabe quando é um ou é outro. E o indivíduo da cabine era homem. Meus amigos sopraram, em

seu idioma, algo aos ouvidos do homem da cabine. Este, após observar que estávamos adequadamente

acomodados, manobrou a nave, ganhando altura em forma vertical. A nave era de material transparente,

quase como cristal, percebendo-se que suas paredes são grossas. Sua espessura faz com que a gente veja as

coisas de fora, meio difusas, semelhante como se estivéssemos olhando através de uma parede de meio

metro de vidro. Quando chegamos a altura de vôo, disparamos numa velocidade vertiginosa. Imediatamente

sinto enjôo. Solícitos, meus amigos me atendem, aconselhando-me recostar a cabeça sobre o encosto,

fechando os olhos e aspirando com força o meu “charuto de borracha”, contendo a respiração pelas fossas

nasais. Coisa estranha: logo fico bom.

Meus amigos me explicaram que o “charuto” que tinha na boca era uma espécie de filtro que apressava

minha respiração dando-me o oxigênio necessário. O ambiente dentro daquela nave, para mim, para meus

pulmões, era pesado. Por sorte tudo passou. Passamos por uma extensíssima zona, onde todas as construções

estavam dispostas em forma circular, mas a cor ou cores, eram as mesmas que já conhecemos.

Explicaram-me que ali era uma espécie de cidade infantil, um lar coletivo, detalhando-me desde a zona de

maternidade, os círculos exteriores, até chegar aos círculos interiores. Cada edifício estava rodeado de

grandes extensões livres, convertidas em parques de recreação. Ali vive-se também a vida normal do resto

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do mundo. Gostaria de visitá-la e conheceIa em detalhes, mas creio que não haveria tempo, e, acreditavam

meus amigos que isso não tinha maior importância.

Voltamos a acelerar a velocidade, para, pouco tempo depois, voar sobre outra zona, semelhante a anterior

em sua distribuição, mas diferente em seu aspecto. Era um conjunto de edifícios prateados, reluzentes, onde

os raios projetados do céu chocavam-se e fragmentavam-se em milhares de outros pequenos raios,

dispersando-se em todas as direções, dando ao conjunto uma visão maravilhosa. Essa era, nada mais nada

menos, que urna zona de investigações. Descemos lentamente, porque o lugar está tornada de naves de todas

as formas e tamanhos, que se cruzam a diferentes alturas e velocidades. Aquilo era maravilhoso, espetacular.

Conforme descíamos, viam-se os detalhes. Aquilo se converteu num espetáculo tão maravilhoso que é

difícil, e não acredito que alguém seja capaz de conceber. O simples fato de perder altura lentamente.

dava-me, a sensação de estar caindo de pára-quedas. Começamos a distinguir uns charutos gigantescos,

fantásticos, negros, reluzentes, da mesma cor daquela nave circular que me trouxe a esse mundo de.

maravilhas, só que, pelo menos, quatro vezes maior. Pousamos suavemente sobre o nariz de um deles.

Descemos pela mesma escada, mas agora não havíamos baixado o tubo que a contém, mas sim, abriuse uma

seção a sua frente, da mesma forma que em nossa pequena nave, a primeira que abordei contrariando meu

próprio temor que, ao recordar agora, me parece um sonho fantástico. No lugar onde descemos, no nariz

desse colosso, é plano e coberto em toda sua longitude de nervuras estreitas. Não há lugar que não leve a

vista que não esteja repleto desses monstruosos aparelhos. Calculo que medem uns quatrocentos metros de

comprimento por uns cincoenta de largura. A visão é tão fantástica que penso que, se em nosso mundo

aparecesse um monstro desses levaria pânico, inclusive com tragédias. Explicaram-me que eram

naves-mães, assegurando-me que me interessaria saber para que lugar se destinavam. Iam me conceder o

privilégio de conhecer o interior de urna delas.

Então, frente a nós levantou-se urna tampa medindo uns vinte metros de comprimento por uns trinta e cinco

de largura, deixando às nossas vistas um tobogã. Dentro havia tanta iluminação como nos edifícios que

conhecera. O tobogã estava coberto por canais que penetravam naquela cova alucinante. A parte alta desses

trilhos são lisos e polidos, mas os canais são macios, como uma grossa almofada. Internamo-nos por um

deles e não tenho palavras para descrever a sensação que me invadiu. Pareceu-me mais impressionante do

que quando entrara na nave-mãe ancorada no espaço lá no meu longínquo mundo. Mas a surpresa estava

mais adiante...

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CAPITULO 8

ENCONTRO COM OS FRANCESES

Andamos por uns cem metros até depararmo-nos com dois grandes círculos, que me pareceram dois grandes

e fantásticos olhos de uma fera mitológica; olhos saltados como duas cúpulas de igreja projetadas em nossa

direção. Mas aquilo, disposto no imenso oco da nave, como dois seios de mulher, não eram outra coisa que

duas naves. Nem mais nem menos. Naves que, no dizer de meus amigos, eram automáticas, não

necessitando de tripulação alguma. Naves que, sem cair em exageros, eram verdadeiros cérebros eletrônicos

providos de grande número de olhos, ouvidos e narizes.

Essas naves eram destinadas à exploração, capazes de captar sons e imagens além de absorver amostras de

materiais. E o gigantesco charuto voador era o tipo mais indicado de nave para levar aquelas menores ao seu

destino. A que estávamos visitando possuía duas fileiras de sessenta naves automáticas totalizando ao final,

cento e vinte. Nessa zona de investigações havia milhares dessas gigantescas e algumas, raras, com cabeça

em agudo V.

Como lamentei ser tão pobre de instrução! Como desejei ter capacidade suficiente para relatar essa

maravilhosa oportunidade brindada pelo destino. Mas, que vamos fazer?! AIguns me consoIam dizendo que

tenho que me conformar. Mas aí está o problema. Não sou pessoa de me conformar com as coisas, lutando

sempre contra as peças que o destino queira me pregar. Enfim, deixemos o lero-lero de lado e vamos

recordar o passeio por aquela maravilhosa zona...

Num dos edifícios que estava debaixo do ventre daquela gigantesca nave saímos ao seu terraço. Nessa zona

não há árvores, nem postes de estacionamento. Aqui as naves descansam diretamente sobre o maciço dos

terraços. Pegamos o elevador e descemos até um dos pavimentos intermediários. Como os dois franceses

viviam e trabalhavam ali, meus amigos me haviam dito que era naquele edifício. Logo que os vi, reconheci

como o produto anacrônico de nosso mundo disforme. Agora tinha a oportunidade de comparar meus dois

amigos com um tipo da minha raça. Maior foi o contraste obtido. Os dois eram gorduchos, disformes,

desproporcionais... é o que me pareceu nessa comparação. Enfim, os dois eram irmãos gêmeos, filhos de

uma união de pai francês com mãe espanhola, nascidos e criados numa possessão francesa do outro lado do

Mediterrâneo. Não falam espanhol, pois ficaram órfãos de mãe quando pequenos, assimilando o idioma

paterno. De acordo com os padrões terrestres, têm boa estatura. É curioso observá-los junto aos pequenos e

limpos habitantes daquele fantástico mundo, pois, enquanto estes têm corpo liso, sem cabelos, exceto na

cabeça, nossos conterrâneos parecem-se com orangotangos pela sua aparência. O corpo era coberto de pelos.

Só o rosto estava limpo, graças a um creme que inventaram e que usam para barbear-se. No resto do corpo,

os pelos estão adquirindo uma cor de chumbo. Na cabeça, o cabelo está cortado de modo semelhante aos

habitantes que os cercam. Ainda que bastante parecidos, a desproporção é notória. São indisciplinados. Não

vivem como os demais, trajando só um calção curto. Essa é toda sua indumentária. Dizem que a roupa usada

pelos outros é incômoda. Através de interpretação, meus amáveis cicerones asseguraram-me que já estavam

ali mais de cinco anos, onde só tinham ido de visita. Vangloriavam-se eles de possuir pulmões maravilhosos

que, em pouco tempo, conseguiram adaptar-se ao pesado clima ali reinante. Disseram também que lutaram

na guerra (a II) e que agora para eles a nossa vida na Terra é aborrecida e estúpida. Perguntei-lhes, então, se

tinham conseguido aprender a língua deles. Responderam-me que nenhuma palavra, mas que, em

compensação, todos ali daquele edifício já aprenderam o francês. Despedimo-nos e voltamos a nossa

esférica nave pelo mesmo caminho. Havia ficado intrigado com a sua biblioteca e pedi que me levassem

para visitá-la. Mas eles, como suma cortesia, disseram-me que tínhamos que deixar para depois, por que era

tempo de descanso e de comida. Novamente conformei-me só em olhar a biblioteca desse edifício quando

descíamos. Não tomamos nenhum veículo, mas nesse fantástico mundo com sua maneira de viver, tanto

fazia comer num lado do planeta quanto no outro. Portanto, caminhamos algumas quadras até encontrar um

restaurante. Satisfeitos com tão riquíssimo alimento, algum tempo ficamos em conversa fiada, contra o

costume deles, mas que, agora me desculpavam.

Novamente saímos a rua. O grau de luz natural não decrescia e tampouco aumentava. Era novidade para

mim ver que em todas as horas entra e sai gente de toda classe de lugares. Não se vê nenhum relógio, nem

nada que pudesse medir o tempo. Isso não tem importância para eles. Se alguém tem fome entra num

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restaurante e come. Se tem sono, entra num dormitório e dorme. Se quer divertir-se, procura o edifício de

diversão. Ninguém fiscaliza, segundo meus amigos. Com cinco minutos de cada hora que vivem convertidos

em algo para benefício da coletividade, é suficiente para pagar aquele monte de comodidades.

Desfrutando o espetáculo que me rodeava, deixei-me levar pelos meus amáveis cicerones que, com interesse

pouco comum entre nosso meio terrestre, atendiam-me até nos mínimos detalhes, coisa que, por momentos,

me fazia parecer insignificante, dando-me a impressão que só me davam corda para ver se eu me

engrandecia ou se me fazia de importante, Algumas vezes, contristado, perguntava-lhes se me comportava

de maneira adequada aos seus costumes. Eles quase sempre me respondiam que estavam felizes de andarem

comigo e observarem minha maneira de ser e de reagir ante o que via. Chegamos a um edifício, hotel ou

dormitório, como quiserem. Meus amigos me explicaram que havia três tipos: para solteiros, para solteiras e

para casados, não se diferenciando uns dos outros em grandes coisas. Aqui, tal como nos outros lugares

visitados, há dois lados cobertos de elevadores e dois repletos de arcos e de passagens livres nos sub-solos.

Mas aqui vejo unia diferença: nos lados onde estão os elevadores, num espaço como de dois metros e ao

longo de todo o edifício, há tantas fileiras de lâmpadas ou luzinhas quantos andares tenha o prédio e cada um

desses pequenos pontos luminosos marca um corredor ou uma ala, por que ali não se usam quartos. Nós

buscávamos três camas vazias juntas. Assim, pela fileira, sabíamos a que andar nos dirigir e pela lâmpada, a

que ala. Assim que a décima-segunda fileira, por exemplo, assinalava que havia camas vazias, subíamos

esse número de andares, e ao ali chegarmos, ficamos num corredor que dava para a direita e esquerda. A

esse corredor convergiam as entradas de outra série de corredores, em cuja entrada havia também pequenas

luzes assinalando a existência de camas vazias. Chegamos ao que nos interessava. Como havia alguns

acesos e outros, no meio, apagados, queria isso dizer que teríamos que passar próximo a camas ocupadas até

chegarmos onde queríamos. Antes de entrar, é necessário desnudar-se totalmente. Meus amigos começaram

a fazê-lo indicando-me que fizesse o mesmo. Nas paredes do lado direito e esquerdo, há umas aberturas

alargadas. Colocamos as roupas na da direita desaparecendo de nossas vistas. Ficamos nus em pelo. Meus

amigos indicaram-me o caminho... mas.,.. diabos!... estavam me preparando alguma brincadeira? Não havia

dado dez passos quando senti que me crivaram com uma espécie de chuva vaporizante, tépida e agradável.

O intempestivo bombardeio produziu-me uma reação desagradável e tratei de me livrar, retrocedendo. Mas

atrás estavam meus amigos esperando o resultado de sua brincadeira, e com força incrível me empurraram,

obrigando-me a seguir adiante. Não bem havia passado essa úmida recepção entrei noutra, ainda mais

desagradável. Agora senti como se estivessem me succionando ou formando um vazio ao meu redor,

desprendendo de mim até a mínima partícula de sujeira, produzindo uma incrível sensação de limpeza e

frescor.

Quando passei por tudo isso não tive outro jeito que dar uma risada. como que dando a entender que aquilo

não me impressionara. Mas não enganei ninguém... Nem a mim mesmo! Nesses corre dores- dormitórios

emprega-se um sistema que me pareceu maravilhoso e prático. Eles tem um domínio absoluto sobre a luz e a

obscuridade. Esse sistema já o vimos nos sanitários, de modo que não o desconhecia, mas ignorava que

também era empregado nos dormitórios. Portanto, vou tratar de explicar. As camas, como as da nave, são

guarnições providas de um material grosso e poroso, e como prateleiras, estão presas à parede. Nesses

dormitórios, próximo de cada cama e ao alcance de seus pequenos braços, há um pequeno botão que,

girando para a esquerda ou para a direita, produz luz ou obscuridade espessa, tão espessa que dá a impressão

de ser um muro negro e impenetrável.

Quando já estávamos em nossas camas, meus amigos me instruíram o manejo daquilo, que, acionado, cobre

de obscuridade só o espaço ocupado pela cama, como se descesse uma grossa e negra cortina, colocando

aquele leito fora da curiosidade dos demais. Já deitado, acionei o botão várias vezes para me assegurar de

sua efetividade. Mas, perdido naquela pequena escuridão, desaparecia tudo. Sentia estar numa ilha coberta

de espessas trevas. Invadiu-me uma espécie de sopor que me convidava a abandonar todo pensamento alheio

que não fosse dormir e descansar.

O despertar foi tranqüilo e de grande satisfação. Senti a mente descarregada, leve, e por momentos fiquei

desfrutando daquela comodidade indescritível. Sentia-me cheio de vigor, e com vontade de trabalhar, de

gastar a energia que se agitava em meu corpo, fazendo-me sentir jovem, muito jovem. Foi então que aprendi

por que eles não obrigam ninguém a trabalhar. Sem dúvida, com aquela alimentação e esse repouso,

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qualquer um sente desejos de trabalhar e de gastar energia. Quando iluminei minha cama, descobri que meus

amigos estavam acordados e entretidos, usando uns pequenos instrumentos existentes entre cama e cama.

Esse aparelho não é maior que um relógio de pulso, pendendo da parede através de um cordão liso e elástico

que o recolhe e o sujeita quando é usado ou não. No aparelho, uma diminuta tela e microfone, tendo à borda,

um botão. Meus amigos se reportavam e pediam instruções, e na tela, pude reconhecer claramente um dos

chefes e ouvir sua característica voz. Meus amigos me disseram que tínhamos tempo disponível e que íamos

aproveitá-lo adequadamente. Assim que nos dirigimos à saída, passando novamente pelos inevitáveis

banhos, que agora achei agradável, vi ao nível do pavimento uma fenda onde a gente coloca o pé. Sente-se

uma sensação de cócegas e quando retiramos, as unhas estão cortadas e polidas.

O mesmo fizemos com outra fenda a altura de uni metro e meio, onde a operação aconteceu com as mãos.

Aqui vinha outra peça de meus bons amigos. Dá a casualidade de que ainda não tinha me vestido até essa

altura, e portanto, desconhecia as características da sua roupa. Chegamos a um lugar onde as retirávamos, no

buraco em frente onde tínhamos deixado na hora que fomos dormir. Eles pegaram uma ao acaso e

começaram a se vestir sem dar importância ao que me acontecia. Por mais que buscava e rebuscava não

encontrava nada que me servia. Creio que estava a ponto de chorar e eles a rir. A maior camisa que achei

apenas cobriria um de meus pequenos filhos. As calças, nem se fala, então...

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CAPITULO 8

ENCONTRO COM OS FRANCESES

Andamos por uns cem metros até depararmo-nos com dois grandes círculos, que me pareceram dois grandes

e fantásticos olhos de uma fera mitológica; olhos saltados como duas cúpulas de igreja projetadas em nossa

direção. Mas aquilo, disposto no imenso oco da nave, como dois seios de mulher, não eram outra coisa que

duas naves. Nem mais nem menos. Naves que, no dizer de meus amigos, eram automáticas, não

necessitando de tripulação alguma. Naves que, sem cair em exageros, eram verdadeiros cérebros eletrônicos

providos de grande número de olhos, ouvidos e narizes.

Essas naves eram destinadas à exploração, capazes de captar sons e imagens além de absorver amostras de

materiais. E o gigantesco charuto voador era o tipo mais indicado de nave para levar aquelas menores ao seu

destino. A que estávamos visitando possuía duas fileiras de sessenta naves automáticas totalizando ao final,

cento e vinte. Nessa zona de investigações havia milhares dessas gigantescas e algumas, raras, com cabeça

em agudo V.

Como lamentei ser tão pobre de instrução! Como desejei ter capacidade suficiente para relatar essa

maravilhosa oportunidade brindada pelo destino. Mas, que vamos fazer?! AIguns me consoIam dizendo que

tenho que me conformar. Mas aí está o problema. Não sou pessoa de me conformar com as coisas, lutando

sempre contra as peças que o destino queira me pregar. Enfim, deixemos o lero-lero de lado e vamos

recordar o passeio por aquela maravilhosa zona...

Num dos edifícios que estava debaixo do ventre daquela gigantesca nave saímos ao seu terraço. Nessa zona

não há árvores, nem postes de estacionamento. Aqui as naves descansam diretamente sobre o maciço dos

terraços. Pegamos o elevador e descemos até um dos pavimentos intermediários. Como os dois franceses

viviam e trabalhavam ali, meus amigos me haviam dito que era naquele edifício. Logo que os vi, reconheci

como o produto anacrônico de nosso mundo disforme. Agora tinha a oportunidade de comparar meus dois

amigos com um tipo da minha raça. Maior foi o contraste obtido. Os dois eram gorduchos, disformes,

desproporcionais... é o que me pareceu nessa comparação. Enfim, os dois eram irmãos gêmeos, filhos de

uma união de pai francês com mãe espanhola, nascidos e criados numa possessão francesa do outro lado do

Mediterrâneo. Não falam espanhol, pois ficaram órfãos de mãe quando pequenos, assimilando o idioma

paterno. De acordo com os padrões terrestres, têm boa estatura. É curioso observá-los junto aos pequenos e

limpos habitantes daquele fantástico mundo, pois, enquanto estes têm corpo liso, sem cabelos, exceto na

cabeça, nossos conterrâneos parecem-se com orangotangos pela sua aparência. O corpo era coberto de pelos.

Só o rosto estava limpo, graças a um creme que inventaram e que usam para barbear-se. No resto do corpo,

os pelos estão adquirindo uma cor de chumbo. Na cabeça, o cabelo está cortado de modo semelhante aos

habitantes que os cercam. Ainda que bastante parecidos, a desproporção é notória. São indisciplinados. Não

vivem como os demais, trajando só um calção curto. Essa é toda sua indumentária. Dizem que a roupa usada

pelos outros é incômoda. Através de interpretação, meus amáveis cicerones asseguraram-me que já estavam

ali mais de cinco anos, onde só tinham ido de visita. Vangloriavam-se eles de possuir pulmões maravilhosos

que, em pouco tempo, conseguiram adaptar-se ao pesado clima ali reinante. Disseram também que lutaram

na guerra (a II) e que agora para eles a nossa vida na Terra é aborrecida e estúpida. Perguntei-lhes, então, se

tinham conseguido aprender a língua deles. Responderam-me que nenhuma palavra, mas que, em

compensação, todos ali daquele edifício já aprenderam o francês. Despedimo-nos e voltamos a nossa

esférica nave pelo mesmo caminho. Havia ficado intrigado com a sua biblioteca e pedi que me levassem

para visitá-la. Mas eles, como suma cortesia, disseram-me que tínhamos que deixar para depois, por que era

tempo de descanso e de comida. Novamente conformei-me só em olhar a biblioteca desse edifício quando

descíamos. Não tomamos nenhum veículo, mas nesse fantástico mundo com sua maneira de viver, tanto

fazia comer num lado do planeta quanto no outro. Portanto, caminhamos algumas quadras até encontrar um

restaurante. Satisfeitos com tão riquíssimo alimento, algum tempo ficamos em conversa fiada, contra o

costume deles, mas que, agora me desculpavam.

Novamente saímos a rua. O grau de luz natural não decrescia e tampouco aumentava. Era novidade para

mim ver que em todas as horas entra e sai gente de toda classe de lugares. Não se vê nenhum relógio, nem

nada que pudesse medir o tempo. Isso não tem importância para eles. Se alguém tem fome entra num

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restaurante e come. Se tem sono, entra num dormitório e dorme. Se quer divertir-se, procura o edifício de

diversão. Ninguém fiscaliza, segundo meus amigos. Com cinco minutos de cada hora que vivem convertidos

em algo para benefício da coletividade, é suficiente para pagar aquele monte de comodidades.

Desfrutando o espetáculo que me rodeava, deixei-me levar pelos meus amáveis cicerones que, com interesse

pouco comum entre nosso meio terrestre, atendiam-me até nos mínimos detalhes, coisa que, por momentos,

me fazia parecer insignificante, dando-me a impressão que só me davam corda para ver se eu me

engrandecia ou se me fazia de importante, Algumas vezes, contristado, perguntava-lhes se me comportava

de maneira adequada aos seus costumes. Eles quase sempre me respondiam que estavam felizes de andarem

comigo e observarem minha maneira de ser e de reagir ante o que via. Chegamos a um edifício, hotel ou

dormitório, como quiserem. Meus amigos me explicaram que havia três tipos: para solteiros, para solteiras e

para casados, não se diferenciando uns dos outros em grandes coisas. Aqui, tal como nos outros lugares

visitados, há dois lados cobertos de elevadores e dois repletos de arcos e de passagens livres nos sub-solos.

Mas aqui vejo unia diferença: nos lados onde estão os elevadores, num espaço como de dois metros e ao

longo de todo o edifício, há tantas fileiras de lâmpadas ou luzinhas quantos andares tenha o prédio e cada um

desses pequenos pontos luminosos marca um corredor ou uma ala, por que ali não se usam quartos. Nós

buscávamos três camas vazias juntas. Assim, pela fileira, sabíamos a que andar nos dirigir e pela lâmpada, a

que ala. Assim que a décima-segunda fileira, por exemplo, assinalava que havia camas vazias, subíamos

esse número de andares, e ao ali chegarmos, ficamos num corredor que dava para a direita e esquerda. A

esse corredor convergiam as entradas de outra série de corredores, em cuja entrada havia também pequenas

luzes assinalando a existência de camas vazias. Chegamos ao que nos interessava. Como havia alguns

acesos e outros, no meio, apagados, queria isso dizer que teríamos que passar próximo a camas ocupadas até

chegarmos onde queríamos. Antes de entrar, é necessário desnudar-se totalmente. Meus amigos começaram

a fazê-lo indicando-me que fizesse o mesmo. Nas paredes do lado direito e esquerdo, há umas aberturas

alargadas. Colocamos as roupas na da direita desaparecendo de nossas vistas. Ficamos nus em pelo. Meus

amigos indicaram-me o caminho... mas.,.. diabos!... estavam me preparando alguma brincadeira? Não havia

dado dez passos quando senti que me crivaram com uma espécie de chuva vaporizante, tépida e agradável.

O intempestivo bombardeio produziu-me uma reação desagradável e tratei de me livrar, retrocedendo. Mas

atrás estavam meus amigos esperando o resultado de sua brincadeira, e com força incrível me empurraram,

obrigando-me a seguir adiante. Não bem havia passado essa úmida recepção entrei noutra, ainda mais

desagradável. Agora senti como se estivessem me succionando ou formando um vazio ao meu redor,

desprendendo de mim até a mínima partícula de sujeira, produzindo uma incrível sensação de limpeza e

frescor.

Quando passei por tudo isso não tive outro jeito que dar uma risada. como que dando a entender que aquilo

não me impressionara. Mas não enganei ninguém... Nem a mim mesmo! Nesses corre dores- dormitórios

emprega-se um sistema que me pareceu maravilhoso e prático. Eles tem um domínio absoluto sobre a luz e a

obscuridade. Esse sistema já o vimos nos sanitários, de modo que não o desconhecia, mas ignorava que

também era empregado nos dormitórios. Portanto, vou tratar de explicar. As camas, como as da nave, são

guarnições providas de um material grosso e poroso, e como prateleiras, estão presas à parede. Nesses

dormitórios, próximo de cada cama e ao alcance de seus pequenos braços, há um pequeno botão que,

girando para a esquerda ou para a direita, produz luz ou obscuridade espessa, tão espessa que dá a impressão

de ser um muro negro e impenetrável.

Quando já estávamos em nossas camas, meus amigos me instruíram o manejo daquilo, que, acionado, cobre

de obscuridade só o espaço ocupado pela cama, como se descesse uma grossa e negra cortina, colocando

aquele leito fora da curiosidade dos demais. Já deitado, acionei o botão várias vezes para me assegurar de

sua efetividade. Mas, perdido naquela pequena escuridão, desaparecia tudo. Sentia estar numa ilha coberta

de espessas trevas. Invadiu-me uma espécie de sopor que me convidava a abandonar todo pensamento alheio

que não fosse dormir e descansar.

O despertar foi tranqüilo e de grande satisfação. Senti a mente descarregada, leve, e por momentos fiquei

desfrutando daquela comodidade indescritível. Sentia-me cheio de vigor, e com vontade de trabalhar, de

gastar a energia que se agitava em meu corpo, fazendo-me sentir jovem, muito jovem. Foi então que aprendi

por que eles não obrigam ninguém a trabalhar. Sem dúvida, com aquela alimentação e esse repouso,

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qualquer um sente desejos de trabalhar e de gastar energia. Quando iluminei minha cama, descobri que meus

amigos estavam acordados e entretidos, usando uns pequenos instrumentos existentes entre cama e cama.

Esse aparelho não é maior que um relógio de pulso, pendendo da parede através de um cordão liso e elástico

que o recolhe e o sujeita quando é usado ou não. No aparelho, uma diminuta tela e microfone, tendo à borda,

um botão. Meus amigos se reportavam e pediam instruções, e na tela, pude reconhecer claramente um dos

chefes e ouvir sua característica voz. Meus amigos me disseram que tínhamos tempo disponível e que íamos

aproveitá-lo adequadamente. Assim que nos dirigimos à saída, passando novamente pelos inevitáveis

banhos, que agora achei agradável, vi ao nível do pavimento uma fenda onde a gente coloca o pé. Sente-se

uma sensação de cócegas e quando retiramos, as unhas estão cortadas e polidas.

O mesmo fizemos com outra fenda a altura de uni metro e meio, onde a operação aconteceu com as mãos.

Aqui vinha outra peça de meus bons amigos. Dá a casualidade de que ainda não tinha me vestido até essa

altura, e portanto, desconhecia as características da sua roupa. Chegamos a um lugar onde as retirávamos, no

buraco em frente onde tínhamos deixado na hora que fomos dormir. Eles pegaram uma ao acaso e

começaram a se vestir sem dar importância ao que me acontecia. Por mais que buscava e rebuscava não

encontrava nada que me servia. Creio que estava a ponto de chorar e eles a rir. A maior camisa que achei

apenas cobriria um de meus pequenos filhos. As calças, nem se fala, então...

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CAPÍTULO 09

COMO OS VENUSIANOS DE DIVERTEM

Satisfeita sua vontade de brincar, pegaram uma camisa qualquer e espicharam-na até alcançar o tamanho do

meu corpo, fazendo o mesmo com as calças e os sapatos. Maravilhosas qualidades de um material

apropriado para um mundo super-estandartizado. Meus amigos me explicaram que aquele material pode se

espichar até três vezes seu tamanho original, retornando ao mesmo só em colocar dentro de um líquido que o

lava e desodoriza. Mas a coisa toda não ficava só aí. Uma vez colocado sobre o corpo, com o seu calor ele se

encolhe até aderir completamente, dando a sensação de se estar nu. É de um frescor incomparável! Num dos

extremos desses lugares onde se deixa e se recolhe a roupa, há uma espécie de anteparo que cobre o corpo

dos ombros a testa. Coloca-se ali a cabeça e dito aparelho encarrega-se de pentear e espalhar no cabelo uma

espécie de substância gasosa, ao mesmo tempo que o corta a altura dos ombros, succionando o resto.

Deixamos o dormitório saindo em busca de um restaurante. Encontramo-lo a poucas quadras adiante. Na

realidade não sentia fome, mas sentia curiosidade de saborear e me convencer de modo efetivo se cada

bandeja tinha diferentes sabores segundo suas cores. Esclareço que aquela substanciosa alimentação, com

apetite ou sem, a gente sempre come. Pelo menos eu jamais recusei um sorvete ou um doce qualquer em

nosso mundo, e isso que se usa lá é algo parecido com nossas guloseimas. Como dizia, sem fome mesmo,

consegui dar conta, facilmente, de duas bandejas. Acredito até que se continuasse mais tempo ali, meu

estômago tomaria uma curvatura alarmante como a dos dois franceses que encontrei.

Satisfeita mais a curiosidade que o apetite fomos em busca da biblioteca, pois tinha despertado certo

interesse em mim o que conseguira ali observar quando passara anteriormente nesse lugar. O edifício não é

diferente, muito, dos de refeitório em sua disposição. Semelhante a eles, duas paredes alojam os elevadores,

e as outras duas estão cobertas de estantes repletas de livros. Como os nossos? Não! São um pouquinho

diferente. Vou descrever tudo o que vi.

Meus amigos devem ser pouco afeito aos livros, porque me disseram que enquanto eu olhasse os livros eles

ficariam no terraço respirando. Dirigi-me a uma estante e peguei um livro. Não há ninguém tomando conta

ou a quem perguntar. Comecei a folhear um, apanhado ao acaso. Como capas, para empregar nossa

linguagem, tem duas chapas retangulares ou quadradas, dispostas de modo a formar uma caixa. O material

interior é uma tira contínua, dobrada em forma de fole de acordeão, unida nos extremos às duas chapas. Esse

material está quadriculado em forma miúda, e a escrita resume-se a diminutos pontos, ângulos e círculos,

colocados em diferentes posições dentro do quadrado. Os livros podem ser abertos por dois de seus lados.

Assim, terminado um, fecham-no, abrindo outro e prosseguindo a leitura. Como complemento tem um

dispositivo que o mantém aberto. É necessário isso pelo seguinte motivo: todo o pavimento está cheio de

cadeiras que têm descanso para os braços e apoio para os pés, podendo ser reclinada para qualquer ângulo

que se queira. É complementado por um braço mecânico articulado, provido, em seu extremo, de um par de

varetas que terminam num pequeno círculo imantado. É assim que, comodamente sentados, dispõem o braço

à distância que quiserem, abrindo o livro entre os círculos, sujeitando o material à leitura com essas varetas.

Quem, com tanta comodidade, não tem vontade de ler? O mais interessante é que se uma pessoa tem

vontade de escrever, também encontra onde fazê-lo, pois existem várias fileiras dessas poltronas que em vez

de braço têm uma lâmpada como a das cadeiras dos refeitórios. Para isso há uma boa quantidade de livros

em branco. Para escrever usam um instrumento não maior que uma caneta de bolso. Em vez de pena, um

diminuto quadro. Dentro desse, um círculo. No seu centro, um ponto para escrever.

Usam qualquer ângulo. Apertando um botão na parte superior sai o circulo e fazendo o mesmo com uma

saliência no meio corpo do instrumento, destaca-se a ponta. Não usam tinta de nenhuma espécie, mas uma

reação elétrica que se verifica sobre o material, que não é papel. Pareceu-me seda engomada ou um material

parecido, que não se amassa nem se rasga com facilidade.

As estantes alcançam até três metros de altura em toda parede. Para pegar qualquer livro há, como não podia

deixar de ser, outro aparelho, que eleva e abaixa o indivíduo. Há uns dez ou doze desses aparelhos em cada

parede, manipulados por botões situados sobre o assento. O instrumento é simples, constando basicamente

de uma barra e de um assento, que o eleva vertical e horizontalmente. Aqui também há um verdadeiro

desperdício de luz, sem descobrir-se a fonte, havendo profusão de cores. Cada fileira é de uma cor.

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Meus amigos me chamaram ao elevador para que fosse com eles ao terraço ver uma coisa interessante. E

vejam se não era: algumas pessoas colhendo frutas. Como disse antes, todos os terraços são pomares com

distintas qualidades de frutas. Naturalmente que nesse mundo tudo é novidade, pelo menos para mim.

Talvez haja pessoas que pensem que tudo isso nem é lógico, mas de qualquer maneira descreverei o que vi.

Num canto do terraço estava uma nave pequena. Não media mais que três metros de diâmetro. Pelo centro

descia uma escada que chegava entre as árvores até um dos corredores formados pelas árvores dispostas em

fileira. Meus amigos apontaram-me o trabalho executado por dois homenzinhos, trabalho esse, diga-se de

passagem, em nosso mundo, tedioso: estavam colhendo frutas. Mas esses pequenos homens não mediam

mais que um metro e o seu trabalho era desempenhado de maneira fácil. Em sua pequena nave traziam uma

espécie de bandeja (poderíamos também dizer peneira) com dois metros de circunferência. Dividida em duas

seções, no centro tinham um recorte circular. Era feita de um material levíssimo, como tudo nesse mundo.

Cada uma das metades era colocada imediatamente acima do anel que sustem a árvore pelo seu tronco. Uma

dessas metades tem um buraco de umas dez polegadas, onde é colocado um tubo elástico do mesmo

diâmetro. Levantam a cobertura de um dos corredores que também funciona como canaleta. Quando tudo

está pronto, pegam um aparelho pouco maior que uma carteira de cigarros, colocando-o debaixo dessa

“peneira” num dos trilhos fixos ao anel. Colocam-no a funcionar e as frutas despencam para dentro da

peneira e desta, pelas canaletas, para o interior dos edifícios, chegando ao lugar de seu aproveitamento por

meio de um sistema de tubulação. O aparelho é um vibrador que faz cair a fruta madura. Como percebem, a

colheita é extremamente fácil. Quando terminam a operação numa árvore, repetem-na noutra e assim vão de

terraço em terraço com sua nave e seus raros instrumentos.

Perguntei aos meus amigos o que faziam com a fruta. Certamente, as árvores são baixinhas, não medindo

mais que dois metros. Mas não frondosas. A parte superior é coberta de ramos distribuídos em surpreendente

simetria. Bem proporcionadas. Não se descobre uma única folha; cobrindo seus ramos, apenas diminutos

botões ou brotos que, em sua maioria, têm um rabinho com um fruto na ponta. Sua casca é verde, de

aparência macia e lisa como rebento de banana. Os frutos que vi e toquei eram de envoltura suave como a

ameixa e outras. Não provei, mas meus amigos me garantiram, que não tinham caroço.

Retornando ao tema que estávamos tratando - do que faziam com a fruta - rindo, me responderam: Que

pensas que tens comido? Isso que tanto gostas não é outra coisa que uma mistura elaborada com fruta e

peixe. Mas não tem o sabor nem de um, nem de outro, porque são preparados em laboratório, tirando o

cheiro e o gosto originais. Toda nossa alimentação é procedente dessas árvores, sendo complementada com

produtos do mar devidamente elaborados e balanceados.

Agora queriam que eu conhecesse os seus divertimentos. Começaremos pelo primeiro que encontramos:

uma sala de cinema. Quando me disseram que o edifício era um cinema, logo imaginei coisa diferente, algo

parecido com os nossos, com uma tela gigante, um público às escuras, umas poltronas incômodas. Que seja:

algo parecido com os nossos da Terra. Já esperava que todos os andares eram destinados ao mesmo fim. A

isso já me havia acostumado; mas vejamos o que encontrei. Nesses edifícios, talvez sejam os únicos, os

elevadores estão no centro e a tela ocupa uma parede circular que o rodeia em sua maior circunferência. Os

espectadores dão as costas à torre do elevador, e dessa maneira, não são incomodados pelos que chegam e

pelos que saem. A sala tem mais luz que o melhor de nossos dias terrestres. Já tinha dito que eles possuem

grande domínio tanto da luz quanto da obscuridade. Portanto ao entrar na sala, pareceu-me sair de um

edifício semi-escuro. Sentamos nas primeiras poltronas que encontramos. Naturalmente a isso se pode

chamar de “poltronas”. É uma armação de lâmina dura, forrada de um material fresco e esponjoso. Eu que

sou o dobro do volume de meus amigos entro à força e fico dentro, ou melhor dizendo, fazendo parte de um

fardo de um material para mim desconhecido, mas que me dá uma comodidade jamais sentida. Nada me

atrapalha. O pavimento é cônico e posso ver a tela desde o chão. O espetáculo gira lentamente ao redor de

todo o edifício. Intrigado, parei e busquei onde começava e onde terminava aquela maravilhosa tela,

encontrando ao fim, uma ranhura onde claramente era visto sair e perder-se partes diferentes do espetáculo.

Gira tão lentamente que seria aborrecido se não se colocasse a mente naquilo que não é nenhum cinema da

forma como o concebemos ou conhecemos. Sentado comodamente tenho a sensação de que estou no alto de

um morro e lá em baixo, vejo um arroio correr lentamente, baixando uma vereda, um atalho de burros,

fustigados a grito por três cavaleiros. É duplamente maravilhoso, por que vejo e ouço os gritos dos

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condutores, o vadear dos animais e até os ruídos peculiares que produzem seus estômagos ao fazer um

esforço maior. Com tal nitidez se ouve e se vê tudo que até se perde a noção de lugar e de distância.

Os espectadores, em sua maioria, não se limitam a ver. Vão com uma espécie de vidro, inclusive da sua

espessura; mas dá a impressão que é só a tampa de uma caixa iluminada. Nesse material tratam, e as vezes

conseguem com exatidão, de reproduzir o que vêem. Não diria que pintam, pois, não usam tinta nem pincel,

mas uma coisa parecida com os instrumentos com que escrevem, variando só a ponta, por onde, à vontade e

só fazendo pressão na saliência do meio, produzem um pequeno leque, semelhante ao que produz uma

pistola de pintura. Como disse antes, não é pintura mas uma espécie de raio de luz que ao girar a ponta

superior muda de cor ou de intensidade. Esse aparelho alguns usam com tanta maestria que produzem

tonalidades verdadeiramente maravilhosas, pois o raio de luz vai desde um ponto até dois centímetros de

largura produzindo nesse material o que o fogo faz a diferentes distâncias.

No sub-solo há estantes onde as pessoas apanham o material que precisam para “pintar” ou deixam ali o

trabalho realizado. Saímos novamente à rua, agora em busca de um edifício esportivo. Quando meus amigos

me disseram isso imaginei um ginásio. Mas fui levado a um edifício que não tinha nada disso. Todo o

pavimento estava coberto de mesinhas quadradas que tinham só um pé no centro. De cada lado pende uma

barra e nela se desliza a vontade um assento com encosto e apoio para os pés. No plano da mesa está um

quadriculado, em branco e negro, e neste deslizam umas pequenas marcas, movidas como num tabuleiro de

xadrez ou jogo de damas. Meus amigos me asseguram que isso se joga em milhares de combinações que

continuamente se inventam outras desprezando as mais fáceis. Aquilo era interessante, mas eu pensava que

isso não era o que haviam me prometido. Perguntei-lhes pela sala desportiva, ao que me responderam que ali

se fazia ginástica para o cérebro, não desperdiçando energias inutilmente, já que a saúde e a estatura ou

corpo são controlados desde os laboratórios através dos restaurantes.

Dali fomos, quadras adiante, noutro tipo de diversão. Entramos num edifício. Quando tive à minha vista a

primeira sala, senti-me desconsertado. Recordei algumas cenas de películas orientais onde se representava

uma sala de ópio e esquálidos seres vencidos pelo vício jaziam em asquerosos divãs atendidos por seres

misteriosos e igualmente esquálidos. Esta sala está coberta de cômodas cadeiras reclináveis, nas quais, com

facilidade, a gente se funde. Tem descansos para os pés e dão a impressão que foram feitos para dormir ou

descansar. O encosto, que se prolonga mais além da cabeça, está de tal maneira elaborado que esta fica

afundada nas partes laterais providas de algo que se parece com microfones (áudio). O complemento dessa

diversão, que encontrei motivo de ser, é uma pequena circunferência de um material elástico negro, suave e

ligeiramente grosso, colocado ao redor da cabeça com o objetivo de tapar os olhos. A sala está totalmente

iluminada. Assim caracterizado, e acomodado na cadeira, começa o espetáculo que é destinado

exclusivamente ao ouvido e a imaginação.

Na primeira das cadeiras que ocupei, onde me acomodei com certa dificuldade, mas sem incômodos, chegou

aos meus ouvidos um som por demais conhecido. Era como o produzido pelo tráfego nas grandes cidades,

com o escândalo dos empedernidos buzineiros, o ulular das sirenes; dos diferentes serviços públicos de

emergência, o peculiar bater de sinos dos vendedores ambulantes, o vozerio clássico dos mercados, os apitos

dos policiais tentando colocar ordem, o rodar dos pesados trens nos desgastados trilhos, sem faltar o

traquetar monótono das marias-fumaça com seus apitos, campainhas e escapadas de vapores. Tudo era tão

real que algumas vezes ante a proximidade de um trem, desvendei meus olhos para me certificar de que não

corria perigo.

Como advertiram meus amigos, em cada fileira de cadeiras, podia-se ouvir um som diferente. Passei a outra

cadeira. Aqui encontrei algo que ainda não conheço realmente mas que podia facilmente identificar.

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CAPÍTULO 10

A DESPEDIDA

Tratava-se de um concerto. Dava até para ouvir o cochicho das damas, tal a fidelidade do som. Ainda mais: ouvia-se

também o ruído produzido pelos seus vestidos quando se acomodavam em seus assentos. Essa cena acontecia num

cenário de idioma estrangeiro, desconhecido para mim. Também não sabia de que ópera se tratava. Mas a fidelidade

era surpreendente. Passei para outra poltrona, onde se reproduzia os sons característicos de um grande incêndio, que

acontecia num bosque. Pelos ruídos, era devastador. O crepitar das chamas impressionava. O estrondo aterrador de

uma gigantesca árvore que caía, arrastando consigo galhos e tudo que encontrava em seu caminho até o golpe seco no

solo era reproduzido com incrível realidade. Sentia-se as ondas de calor que se esparramavam para todas as direções,

começando aí a arder novas chamas. multiplicando e aumentando os ruídos do incêndio. Essa cena estava sendo

tornada de uma nave a grande altura e devia estar sendo assistida pelos guardas florestais, porque, com assombrosa

rapidez, o som ia do fogo indomável aos lugares onde esses indivíduos especializados, com a calma característica de

quem está habituado a esses misteres, cumpriam suas obrigações sem violências e sem precipitações. Ouviamse suas

vozes, dadas por rádio, sem dúvida, com toda a parcimônia como quem está dando conselho. Passa a dar ordens e

pedir reforços. A seguir o som muda de lugar. Ouve-se a revoada dos pássaros; substituindo, entra o som dos animais

em fuga.

Passei ainda para outra fileira. Os sons deviam reproduzir também um incêndio, só que agora numa zona urbana.

Ouvia-se claramente a gritaria ensurdecedora, desenfreadas correrias de pés soas sem qualquer ordem, típico do

desespero. Logo, tiros dado contra alguém que não obedecia as ordens, porque ouviam-se os apitos dos policiais. O

ulular das sirenes dos carros de bombeiro, suas freadas, os gritos, as ordens, o arrastar de mangueiras, o ruído metálico

das conexões nos hidrantes, o choque poderosíssimo da água contra as paredes ardentes, os ruídos destas caindo, o

clamor surdo da multidão de curiosos contidos pelos cinturões policiais, os comentários das pessoas, tudo isso era

ouvido com impressionante clareza e num idioma para mim desconhecido, mas familiarizado, pertencente a uma de

nossas raças terrestres.

Ouvi, depois, o aterrador ruído de um furacão que, materialmente, varria tudo que encontrava em sua passagem:

pedras batendo contra pedras, fazendo-se em pedaços multiplicando os ruídos, árvores arrancadas e lançadas a

distância, o silvo do vento, o avanço de grandes torrentes de água arrancadas do leito de um caudaloso rio e, de

quando em quando, o desesperado urrar de um animal apanhado em sua carreira ou o chapinhar também desesperado

de outro animal na iminência de se afogar. Isso tudo tio só visto com os olhos da imaginação. Mais de urna vez tirei a

venda dos olhos para me certificar se era só os sons que estava ouvindo. Todos esses sons aconteciam numa sala,

bastando mudar de assento, para ouvir ou variar o espetáculo. O interessante é que se uma dessas poltronas está vazia,

dela não sai nenhum som. Um dos ruídos mais apreciados pela população daquele fantástico mundo é o produzido

pelos nossos mares. Essas fileiras, geralmente, estão sempre ocupadas. Quando desocupou uma delas, pude ouvir os

ruídos de nossos próprios mares. Devo acrescentar que também a mim agradou bastante. Tratava-se de algo

característico, que bem poderíamos chamar de “sinfonia do mar”.

Adivinhava-se o primeiro cenário: um porto marítimo e, a julgar pelos ruídos, de grande importância. Sabia-se

também que tudo aquilo acontecia numa manhã, e de neblina. Começa pelos ruídos das correntes, característico do

recolher das âncoras. Seguese o barulho das ondas contra os cascos dos navios. Logo, vozes de comando, ampliadas

por megafones, e as corridas das pessoas cumprindo as ordens. Percebe-se o esticar dos cabos entre o rebocador e o

navio. Aumentam os ruídos. Soma-se agora a sirene de um barco, talvez gigantesco, e os apitos de prevenção dos

rebocadores.

Agora surgem os gritos desesperados de bisonhos marinheiros, contrastando com as vozes de mando dos capitães

maduros desde seu posto de comando. Logo vem o ruído produzido pelas máquinas ao levantar a pressão de suas

caldeiras e finalmente o golpear das alavancas de controle. Era tão fácil identificar esses ruídos que experimentava a

sensação de estar a bordo de um desses navios, observando todas as manobras preliminares de saída do porto. A seguir

a tomada passa para o cais, indubitavelmente no início da manhã. Filas de trabalhadores saudando-se aos gritos ou

comentando em altas vozes as aventuras da noite anterior. O rodar de vagonetes, o golpe surdo dos fardos ao serem

descarregados, o rinchar dos cabos de aço movendo os roletes de gigantescos guindastes e o vozerio do pessoal, tudo

aumentava até se transformar naquele pandemônio.

Agora a tomada move-se para uma zona balneária. Começa o ruído de motores de algumas lanchas em competição;

logo, o zumbir de algum avião que cruza por perto; de novo os ruídos dos motores das lanchas; agora, rebocando os

esquis aquáticos. Sente-se o alento da pessoa que guia o esqui, e até se pode diferenciar pelo som, qual esteira de

espuma pertence a lancha e qual ao esqui. Aproximamo-nos de um grupo de banhistas. Ouve-se o chapinhar na água e

seus gritos ao serem arrastados por uma onda. A seguir, vem um grupo de crianças, com seus inconfundíveis gritos de

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alegria, suas correrias, suas brincadeiras com a água ou com a areia, e logo, o choro. Finalmente, os gritos autoritários

dos pais colocando ordem na confusão.

Agora estamos sobre uma praia deserta. As ondas rebentam estrepitosamente nas pedras; depois, mudando de lugar,

ouve-se-as morrerem lentamente na areia. Assobia o vento entre as palmeiras, e bandos de gaivotas buscam refúgio

terra adentro, gritando clamorosamente. Internamo-nos mar aberto. O vento continua zumbindo, agora com mais

força. As ondas aumentam de tamanho. Ao longe se ouve as ondas se rebentarem nas rochas. Não há dúvida que era

uma tempestade, mas, nos afastamos, buscando um lugar aprazível. E o encontramos. Ouvimos o suave deslizar dos

peixes. Distinguimos com facilidade suas dimensões pela força com que moviam suas aletas na água. Seguimos

adiante. Agora, um grupo de peixes-voadores. Sente-se o momento em que saem da água caindo mais adiante, numa

ação contínua e compassada. Logo, vem a pesca de um peixe de bom porte e sua luta para se livrar do anzol que o

prende, batendo-se estrepitosamente nas águas e o correr da linha recolhida na carretilha, os gemidos do anônimo

pescador pelo esforço que fazia e finalmente um grito de desilusão, quando o peixe consegue escapar. Continuamos

em busca de novidades.

Agora, algo que vi e que deve ter sido verdadeiramente impressionante: a pesca de uma baleia. Um verdadeiro furacão

à flor da água. Um disparo a bordo de uma lancha, o silvo do arpão cortando o ar, o estirar do cabo, o ruído do carretel

desenrolando-se e o certeiro golpe no corpo do animal. O arrastar da lancha puxada violentamente pelo animal ferido e

os momentos de expectativa são tão reais que sinto temor pelas vidas dos marinheiros. O animal revolteia-se querendo

salvar-se do ferro que lhe tira a vida... Finalmente o triunfo do homem sobre o animal. Gritos de júbilo que não

deixam dúvidas: a presa foi vencida pela inteligência humana. Agora vão rebocando o pesado corpo ao barco-mãe. Em

seguida, ruídos de correntes, silvos de caldeiras a vapor ou ar sob pressão, os golpes dos cutelos, o apito de sirenes em

louca correria contra o tempo, o inconfundível ruído de fervura em grandes caldeiras e finalmente torrentes de água

lavando as cobertas.

Essa forma de diversão me agradou. Acredito que gastei mais tempo que dispunha, por que ia mudar de fila buscando

outros ruídos, quando meus amigos me chamaram dizendo que a nave estava pedindo nosso retorno. Fomos saindo

quando vi que do meio das poltronas tiravam um indivíduo e o depositavam numa abertura incrustada na parede. Algo

me deu a impressão que o amortalhavam num ataúde. Para não ficar com dúvidas, perguntei o que acontecia com ele.

Explicaram-me que, como eles não tinham cemitérios, recorrem a meios mais científicos para se desfazer das pessoas

que morrem. Ainda que haja lugares para os velhinhos, freqüentemente acontece que um indivíduo, andando pela rua

ou estando dentro de um edifício, morre. Portanto, é obrigação que as pessoas mais próximas, depositem a vítima no

aparelho desintegrador. E aquele buraco na parede, não era outra coisa que um desintegrador.

Meus amigos me explicaram que não há um edifício que não tenha um desses aparelhos em cada andar. Isso é tão

importante para eles que, inclusive, as camas nos domitórios estão munidas de um instrumento especial que dá o

alarme quando um indivíduo passa determinado tempo sem se mover. Quando isso acontece, acorrem ao lugar pessoas

especializadas que se encarregam da operação. Perguntei-lhes se não dava o caso de colocar pessoas com vida dentro

do desintegrador. Responderam-me que sim, mas que, o sistema era tão perfeito que se o indivíduo depositado estava

vivo, nada lhe acontecia, e freqüentemente, saíam indivíduos de dentro dos desintegradores os quais se pensava ter

morrido, quando, na realidade, apenas padeciam de alguma doença. Isso servia de aviso para que o mesmo procurasse

um centro de tratamento.

Advertiram-me meus amigos que era provável que já íamos partir, mas que, se isso não acontecesse, de qualquer

maneira dormiríamos na nave que nos havia transportado e que ali mesmo faríamos nossas refeições, pois, já era hora.

Assim, subimos ao terraço para abordar uma daquelas naves esféricas e fantásticas que, quando voam, a gente vê

como gigantescas bolas de cristal, mas quando se vai dentro, percebe-se as aterrorizantes velocidades que alcançam.

Nessa viagem, voando na nave esférica, vi lá em baixo, numa remota rua, uma série de estreitas e gigantescas rodas

que iam arrastadas ou faziam parte de uma rara máquina. Perguntei aos meus amigos do que se tratava, e para

responder, um deles tomou o microfone, pedindo ao piloto diminuir a velocidade e perder altura até colocar-se a uns

poucos metros adiante daquele raro aparelho. Mesmo assim, para mim, ainda continuava sendo umas rodas enormes

de cor amarela. Incapaz de adivinhar do que se tratava, perguntei. Explicaram-me então que era tão somente uma

“máquina de fazer pavimentos metálicos”. Adiante da máquina, o chão era de um marrom-escuro, vendo-se uma

superfície grosseira, parecendo concreto. Na máquina, os rolos de metal laminado que não era outra coisa que as rodas

vistas lá do alto, espaçadas umas das outras um metro aproximadamente. A função da máquina era polir o chão, abrir

um canal e, preparado o piso, ia depositando ali as cintas metálicas de aproximadamente doze polegadas de largura,

cuja finalidade (dessas tiras) é a de conduzir a energia usada pelos veículos que por ali transitam.

Aterrissamos num terraço em frente ao edifício onde estava nossa nave. Tomamos o elevador e fomos para o “porão”

Ali tomamos um conduto subterrâneo para atravessar a rua e chegar ao outro edifício, e dali, para alcançar o terraço

sob a barriga de nossa acolhedora nave. Procurando um pé de conversa, perguntei algo sobre sua raça, que me havia

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chamado a atenção: que ninguém portava defeitos físicos. Veio à memória que se no nosso mundo as pessoas usassem

aqueles trajes materialmente colados no corpo, como pareceriam nossos semelhantes, tão feios e desproporcionais,

com barriga, pernas inchadas, ombros caídos, espinha curvada, etc. Em pensar tudo isso, dava até para rir.

Explicaram-me que o desenvolvimento físico de sua raça é controlado a partir dos laboratórios onde são preparados os

alimentos, devidamente balanceados, para evitar indigestão com todas as suas conseqüências e o excesso de líquidos,

que provoca os estômagos dilatados, além de irritar os intestinos pelo esforço.

A cabine de controles, na nave, estava à meia luz, e só havia um dos indivíduos que formava a tripulação. Ao que

parece, meus amigos eram superiores ao mesmo em hierarquia, por que foi encarregado de nos servir. Após a refeição,

o mesmo indivíduo converteu as cadeiras em cama e nos acostamos.

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CAPÍTULO 11

DE VOLTA À TERRA

Mais de uma vez, ao repassar tudo o que me aconteceu naquela ocasião, tive a certeza de que em todo o tempo, a

partir do momento em que, repentinamente, senti vontade de entrar na nave, permaneci sob domínio mental deles. Mas

isso, todos vocês, leitores, já deduziram. Vou prosseguir a narrativa, tal como aconteceu a partir dali. Quando fui

despertado, novamente estava vestido com a minha própria roupa. A que usei lá o tempo todo, não encontrei em

nenhum lugar. Naturalmente que isso me incomodava, mas, eles sempre tinham uma boa desculpa. Agora diziam-me

que tinham tirado minha roupa por que não valia a pena despertar-me para mudá-la. Além do mais, dormindo.

dava-lhes a oportunidade de fazer alguns estudos sobre meu organismo de modo exato. Assim, sem meu

consentimento, vi-me convertido em “porquinho da Índia” (cobaia).

Mas devo confessar que, ante a bondade dessas pessoas, ficava desarmado e já não encontrava justificativa para me

incomodar. De uma coisa estou certo agora: os alimentos que me serviram na nave estavam com alguma substância

para provocar sono profundo. Novamente estávamos em nosso mundo. A nave-mãe ancorada no espaço terrestre.

Fomos despedidos pelos chefes até a porta da nave pequena e subimos a essa sob seu vigilante olhar. Momentos

depois senti a indescritível emoção de ser lançado ao espaço. O tobogã por onde suavemente havíamos penetrado

anteriormente na nave-mãe, convertera-se agora numa impressionante catapulta que me despedia de maneira pouco

digna.

A sensação foi sumamente desagradável, pois, senti o mesmo que devem sentir os famosos homens-bala que em

alguns circos deixam-se disparar por um canhão. Como isso me parecia coisa rara, já que voando as naves por sua

própria força não se sente nenhuma sensação desagradável, perguntei-lhes a que motivos devia-se essa mudança.

Explicaram-me que essas naves criam sua própria força de gravidade, convertendo-se em pequenos mundos quando

propulsionadas por si mesmas. Aproveitei para perguntar-lhes que tipo de combustível usavam para voar. Deram-me

uma explicação simples. Entre outros, usam as linhas magnéticas ou campos magnéticos, como dizemos na Terra,

força essa gerada entre dois corpos em movimento. Asseguram-me que toda nave tem uma máquina que aproveita

essa força. Coisa simples, não?

Perguntei-lhes também se era possível dar uma mãozinha para nós com seus conhecimentos. Responderam que

gostariam muito, mas que era muito perigoso, visto que eles estavam convencidos que, além de romper com nosso

processo de evolução, acelerariam nossa mútua destruição, já que colocariam em nossas mãos conhecimentos

impróprios para nosso temperamento bélico. Como para convencer-me do que diziam, indicaram-me que olhasse

através da pequena tela que tinha à frente de meus olhos. Fixei minha vista aí mas só vi nuvens. Acionando os

controles, as nuvens começaram a desaparecer até surgir uma colina. Quando tive esse objetivo a poucos metros de

meus olhos, pediram-me para não perdê-la de vista. A colina começou a afundar como se fosse um monte de manteiga

sob a ação de uma língua de fogo. A colina quase desapareceu. Em seu lugar, via-se agora um buraco gigantesco,

cujas paredes pareciam cortadas à chumbo, numa profundidade impressionante. E isso em alguns minutos.

Veja agora o que vai acontecer, disse um deles; o que acabaste de ver foi tão só um poderoso desintegrador. Mas a

essa arma segue outra.

Aterrorizado vi como as paredes daquele gigantesco buraco começavam a virar pó, lançando toneladas de terra e pedra

para o fundo. Quando isso terminou, aquilo tudo ficou convertido num cone de colossais dimensões.

Como vês, essas armas são verdadeiramente destruidoras, pois, sem usar a primeira que é simplesmente mortal, com a

segunda, em poucos minutos poderíamos fazer em pedaços toda uma cidade, sem que uma única viga de aço, que

forma a armação, ficasse em seu lugar. Diga-nos agora: gostarias que colocássemos essas armas nas mãos de alguma

nação do teu mundo?

Estava tão impressionado que não me atrevi a responder. Mas, o mais baixinho, talvez aproveitando meu estado de

espírito, disse:

-- Não tenha medo; não usaríamos contra vocês essas armas. Se tivéssemos interesse em dominá-los, bastaria usarmos

um gás que trazemos em boa quantidade na nossa nave. Esse gás é mais pesado que a atmosfera de vosso mundo, e ao

aspirá-lo, vossas mentes ficariam sob nosso controle.

Fiquei estupefato!! Acrecentou ainda:

-- Não penses também que o usamos contra ti.

Dizendo-me isso, olhou-me com certa malícia ou com um ar de suspeita que me fizeram estremecer e dar graças a

Deus por estar novamente em meu mundo. Momentos após reconheci o lugar onde tinha parado com o carro dos

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norte-americanos. Baixamos lentamente. Meus amigos me fizeram prometer que a experiência que me haviam

proporcionado, eu daria a conhecer em todas as partes e por todos os meios ao meu alcance. Foi então que percebi

meu despreparo intelectual. Prometeram-me ajudar.

Momentos após, percebi-me correndo rumo a estrada, pois, me disseram que enquanto não me afastasse o suficiente,

não poderiam alçar vôo, sem colocar em risco minha vida. Quando cheguei ao monte de terra, dirigi a vista ao lugar,

esperando ver como a nave se elevava. Essa se mexia majestosamente a uns quinhentos metros de altura, como que se

despedindo de mim. Logo deu uma arrancada tão forte que desapareceu de minhas vistas, podendo localizá-la quando

era do tamanho de um pequeno ovo de umas seis polegadas de espessura.

Novamente minha mente ficou confusa. Fixei a vista nas pernas da calça e via-as completamente limpas, exatamente o

contrário de como ficaram cinco dias antes quando o atravessamos rumo à nave. Por um bom tempo fiquei

reconhecendo o terreno e refletindo sobre aquela fantástica aventura; e, coisa rara: estava convencido que todo mundo

daria crédito às minhas palavras, já que poderia responder a quantas perguntas fizessem sobre a maravilhosa viagem.

Intrigava-me só uma coisa: quanto tempo havia passado!

Vi um carro se aproximar em direção sul. Cruzei a estrada e sem atrever-me a pará-lo, este se deteve a minha frente. O

carro era de placa mexicana e estava ocupado por uma família, ao que tudo indicava. Ao volante, um senhor gordo; ao

seu lado, uma senhora bem vestida; atrás, dois rapazinhos. O homem me perguntou se ia para a cidade. Acenei que

sim, pedindo-me para entrar. O homem pensou que eu era dali daquela região, e como tinha dificuldades com o motor,

pensou que eu podia indicar um bom mecânico. Como desconhecia a pequena cidade e seus habitantes, limitei-me a

aconselhar que parássemos no primeiro posto de gasolina. Tivemos a sorte de encontrar ali um mecânico petulante,

meio bêbado, que imediatamente prognosticou o defeito, pedindo ao dono do carro que o seguisse. Fiquei no posto.

Pouco depois, na mesma direção, veio um caminhão, a cujo motorista pedi uma carona. Concordou em me trazer até a

cidade do México. De minha parte sentia um otimismo extravasante. Recordava perfeitamente todos os incidentes da

viagem e estava certo que ninguém me confundiria. Perguntei ao motorista que dia era. Antes de responder, olhou-me

com estranheza e receio de alguma brincadeira. Mas eu estava tão otimista que não dei importância. Fiz as contas dos

dias que passei fora de casa, e me dispus a contar ao companheiro minha aventura.

Olhava-me calmamente, sem deixar de lançar olhares de desconfiança. Talvez pensava que eu era louco, mas um

louco passivo, sem representar perigo algum. Por fim, quando teve certeza de que não corria nenhum perigo, tendo

adquirido a confiança necessária, disse-me:

-- Olha, irmão, a “erva” é má quando fumada pura.

Seria verdade que aquele homem pensava que eu era um viciado em maconha? Foi assim que passei toda a viagem

dormindo. De repente vi com inteira claridade a magnitude da minha experiência, perdendo toda a vontade de fazê-la

pública. Porém recordava da promessa que fizera aos meus amigos, de modo que, a partir dali tive que lutar muito

para vencer o complexo criado por aquele motorista. Foi por isso que por dezoito meses não a manifestei a ninguém.

Só me arrisquei a falar dela quando comecei a ver com freqüência nos jornais casos de pessoas que avistaram aquelas

fantásticas naves espaciais.

Como dizia no princípio, passei tantos dissabores desde que comecei a contar minha aventura que acabei por

considerá-la incrível, passando a justificá-la às pessoas que se riam da mesma. Afinal, cada qual tem o direito de

acreditar ou não. Assim, quando encontro uma pessoa que me pergunta em tom de pilhéria sobre a aventura acabo

dizendo que foi uma viagem que fiz nas asas da imaginação. Assim, ambos ficamos satisfeitos. Porém, quando

encontro uma pessoa isenta de petulância e de “conhecimento científico”, quase sempre conto com muito gosto e

começamos a discutir o possível e o impossível. Mesmo que não acredite em tudo, ficando em dúvida, isso já me

deixa satisfeito.

Depois dessa viagem aconteceram-me coisas tão raras que fogem do meu conhecimento. Relato-as aqui com a

esperança de que alguns de meus leitores tenha idéia do que se trata. É o seguinte:

Muitos perguntavam-me para qual planeta tinha ido. Isso me martirizava a ponto de se tornar uma obsessão, pois era

uma estupidez não ter me ocorrido perguntar a eles enquanto lá passei. Um dia qualquer, em que mais me martirizei,

comecei a sentir uma pressão mental insuportável, que por momentos se fazia mais pesada a ponto de ter que deixar de

trabalhar. Dirigi-me para casa aí pelas três horas da madrugada. Mesmo não tendo sono, deitei-me na cama. O quarto

estava às escuras, por que não queria despertar minha mulher. Recordo perfeitamente, pois, estava desperto e

pensativo, revolteando-se na minha mente a recriminação de não ter me lembrado de perguntar esse detalhe tão

importante. De repente, o lugar se iluminou, inundando-se de luz, mas a luz que havia visto naquele planeta. Tratei de

me incorporar, mas sem conseguir. Ante meu assombro, desapareceu tudo o que de familiar havia ao meu redor e me

vi participando de uma cena onde apareciam meus dois amigos dando-me uma conferência de astronomia. Pintavam

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em algo colocado numa das paredes o que devia ser o diagrama de nosso sistema solar. Reconheci o sol e os nove

planetas de diferentes diâmetros, com trinta e sete luas no total, distribuídas trinta delas entre os cinco últimos planetas

e as sete restantes entre a Terra e o sol. Quando tudo estava distribuído, o que parecia ser o professor - que não era

outro que o mais delgado dos meus dois amigos - traçou uma cruz sobre o segundo planeta a partir do sol. Em seguida,

voltou-se para onde eu estava e com sua reconhecível voz me disse:

-- Estás lembrado que quando entrávamos em nosso planeta perguntaste se era o sol o que estavas vendo, no que foste

respondido por um de nossos superiores que “não”, mas que estávamos entrando em nosso planeta pela porta do sol,

ou seja pela parte em que sempre está iluminando nosso astro-rei.

Disse que não recordava das mesmas, porque naquele momento estava tão assustado ante o que tinha às minhas vistas

que não pude gravá-las. Terminando esse interrogatório, desapareceu a luz e tudo o que acabava de ver. De passagem,

não pude conciliar o sono até o novo dia...

FIM

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NAVES INTERPLANETÁRIAS

Samael Aun Weor

Não são discos voadores, mas esferas voadoras. Elas seguem a mecânica planetária de rotação; seu movimento

giratório acontece da esquerda para a direita, o qual as faz subir ou descer. No centro da esfera existem pequenas asas

ou pás, dispostas em leque, que absorvem o éter cósmico, o qual é conduzido por um tubo para o interior da esfera

onde é queimado numa espécie de câmara por intermédio de um raio de luz, mas diferente da chama que nós

conhecemos. Observado clarividentemente, assemelha-se a uma pequena roda, parecida com o esmeril. Essa roda, ao

girar incessantemente, dispende o raio destinado a queimar o éter. 0 éter cósmico é o combustível das naves

interplanetárias.

Com a combustão, o éter provoca dois movimentos, à saída do jato: o giratório e o de impulso. Esse jato de saída tem

ainda uma terceira aplicação: serve de leme. Com um pequeno movimento para baixo a esfera dá início à sua subida;

com o movimento do leme ou timão para cima, a esfera inclina-se para baixo e desce. A mesma coisa se faz para

tomar a direção esquerda ou direita; em suma, é o jato de saída que faz a nave mudar de direção. 0 movimento externo

de rotação da esfera produz calor, protegendo assim a nave dos grandes frios planetários, evitando a formaçío de gelo

e a penetraçào de gases espaciais dentro da nave.

A esfera gira sobre seu próprio eixo. A cabina cônica onde viajam os pequenos pilotos está nesse eixo, logo, ela

permanece imóvel, apesar da rapidez com que externamente a esfera efetua o giro. A cabina contém mostradores, os

quais indicam a direção e a velocidade. Uma pequena alavanca dirige o jato; a velocidade é controlada por meio de um

botão acelerador, operado com o pé.

Esse botão vai e vem e também pode ser fixado em determinada profundidade para manutençâo de velocidade

constante.

Para descer à superfície, abrem uma espécie de escotilha, da qual se projeta o trem de aterragem. Para subir, a nave

gira sobre si mesma. Para esses movimentos de descida e subida, a nave possui reserva de éter. Se uma nave pousasse

em movimento, se partiria em pedaços. Sua velocidade varia segundo a força de combustão. 0 movimento giratório é

similar ao dos helicópteros; assim, ela pode permanecer imóvel no espaço.

0 éter é o mais poderoso combustível existente no universo; é encontrável em todas as partes. Isso significa que os

seres extraterrestres já conseguiram resolver o problema do movimento contínuo, o qual tanto nossos cientistas têm

buscado. A esfera, ao girar sobre si mesma, sobre seu próprio eixo, atrai o éter que, depois, ao ser queimado, gera a

energia. Em seguida, vem o jato de saída, que dá movimento à esfera, ou seja, a faz girar sobre si mesma enquanto

simultaneamente a impulsiona. Esse movimento é contínuo. Isso vem demonstrar que nossos aviões movidos a

gasolina logo se tornarão obsoletos. Esse combustível é muito pesado, perigoso e ocupa muito espaço. Isso tudo logo

será peça de museu. Há que se aprender a voar com as esferas celestes.

0 movimento giratório, como dissemos, é controlável. Ele aumenta ou diminui segundo a intensidade da força de

saída. Existem grandes e pequenas esferas; o homem terrestre ainda não foi capaz de construir naves para viagens à

outros planetas. Em compensação, esses homens-crianças de outros planetas virão para nos civilizar, porque ainda

somos selvagens.

Para terminar este estudo sobre as esferas voadoras, tenho que dizer aos nossos cientistas que isso não é uma teoria

pretensiosa ou imprecisa. Isso é pura realidade. Fomos 4 investigadores a estudar essas naves. Estivemos dentro delas

e nos entrevistamos com seus pequenos pilotos. Portanto, não estamos teorizando, nem manifestando uma opinião ou

estabelecendo uma hipótese. Trata-se de uma realidade por nós pesquisada.

Os cientistas poderão fazer a mesma coisa se aprenderem a viajar conscientemente em corpo astral. Muita gente

acredita que os discos voadores são instrumentos de destruição ou armas secretas inventadas pelos russos, ou que

essas máquinas são movidas à distância pelo radar ou algo parecido. Não são tal coisa, nem são instrumento de

destruição como muita gente imagina; são naves perfeitas que nos trarão a civilização, porque ainda não somos civi-

lizados; somos antropófagos vestidos de terno e gravata.

Na Rússia houve um cientista que, por meio de ondas de rádio, conseguiu se comunicar com esses pilotos. Esse

cientista está sendo ajudado por um dos 7 Weores. Vosso irmão Weor dos Estados Unidos, também não ignora isso.

Os cientistas que quiserem investigar as esferas voadoras, que estudem detidamente meus livros; que se dêem ao

trabalho de desenvolver seus próprios poderes internos. Assim poderiam entrar triunfantes e vitoriosos no anfiteatro da

ciência cósmica.

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Quando os pilotos das esferas voadoras estabelecerem sua morada na Terra, irão nos iluminar. Então, sim, haverá aqui

esplendor e sabedoria. Eles são sábios e santos ao mesmo tempo. São pequenos em estatura e seus rostos são rosados

como a aurora. Sua missão é a de iluminar a futura humanidade da Era de Aquário. A informação dada por Lapides,

afirmando que os discos voadores são arma secreta dos EUA não é verdade. São meras suposições ou notícias para

agradar certos leitores. Igualmente os dados apresentados por Echeverru Marquez, baseados num pequeno documento

inglês, de propriedade de um oficial de Sua Majestade, querendo com isso explicar os discos voadores, também são

simples suposições,

Todos esses informes querem dar paternidade a um invento que não é do nosso mundo, e objetivam proporcionar

notícias aduladoras a milhares de leitores. Se os discos voadores fossem armas secretas, por que teriam voado sobre

cidades sem importância? Sobre os campos? Eles costumam evitar encontros com outros aviões e executam

movimentos inesperados, voando serenamente e sob os olhares de milhares de testemunhas. Agrade ou não aos céticos

deste século XX, vão ter que se convencer que as naves interplanetárias são provenientes de outros mundos, pilotados

por criaturas milhões de vezes mais sábias que os asnos de fraque, óculos e cartola da nossa afligida Terra.