[Ética] Artigo - Schopenhauer
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Curso: Engenharia de Computao 2 Perodo Disciplina: Fundamentos da tica
Professor: Joo Leli
A TICA DE SCHOPENHAUER: COMPAIXO E EGOSMO
Rodrigo Mansueli Nunes1
Resumo: O artigo visa explicar tica, como estabelecida por Schopenhauer, para tal
considera-se como os elementos principais a serem discutidos, a vontade e sua
influncia na compaixo e egosmo. Alm de comparar tais conceitos com nosso
perodo contemporneo, e com organizaes no governamentais (ONGs) como a
maonaria.
Palavras-chave: Filosofia; tica; Schopenhauer; compaixo; egosmo; maonaria.
Abstract: The article aims to explain the ethics, as established by Schopenhauer, and
for it, is considered as the principals elements for discussion, the will and its influence
over compassion and egoism. Moreover, to compare those concepts with our
contemporary time, and with Non-Governmental Organizations (NGOs) such as
freemasonry.
Keywords: Philosophy; ethic; Schopenhauer; compassion; egoism; freemasonry.
1 Autor graduando em Engenharia de Computao pela UTFPR Campus Cornlio Procpio
MINISTRIO DA EDUCAO UNIVERSIDADE TECNOLGICA
FEDERAL DO PARAN Campus Cornlio Procpio
Gerncia de Ensino e Pesquisa
UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN
PR
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Arthur Schopenhauer, filsofo alemo do sculo XVIII. Nascido na cidade de Danzig,
22 fev 1788 , no Estado da Prssia, atualmente essa cidade conhecida por Gdansk, e est situada na polnia. Para uma breve introduo aos pensamentos desse filsofo, vale
ressaltar o que Robert Wicks escreveu sobre o mesmo, na enciclopdia de filosofia da
universidade de Stanford.
Segundo Wicks (2007), entre os filsofos do seu perodo, Schopenhauer foi o
primeiro a argumentar que o universo no um lugar racional. Com inspirao em
Plato e Kant os quais consideravam o mundo como sendo mais suscetvel razo,
Schopenhauer desenvolveu suas filosofias em um instinto de reconhecimento e,
perspectiva asctica, ressaltando que em face a um mundo cheio de conflitos
interminveis, ns devemos minimizar nossos desejos naturais para alcanar um quadro
mais tranquilo de esprito e uma disposio para a benevolncia universal. Muitas vezes
considerado como um profundo pessimista, Schopenhauer de fato advogou maneiras
artsticas e morais de conscincia - para superar uma frustrao dolorosa da condio
humana.
Durante a vida desse ocorrem diversos fatos que influenciaram tanto em sua vida
como em seus pensamentos. A revoluo francesa, a qual ocorreu um ano aps seu
nascimento deve ser considerada como um dos fatores preponderantes; seu perodo de
viagem pela Europa entre 1800 e 1805, cujo foi enviado por seu pai para virar
comerciante com passagem nos seguintes pases ustria, Sua, Frana, Pases Baixos e
Inglaterra, nesse perodo aprendeu ingls e francs; em 1805 suicida-se seu pai, e com
isso ele renuncia a carreira comercial para se dedicar aos estudos; em 1809, ingressa na
universidade de Gttingen; em 1811, seu ingresso universidade de Berlim onde faz
seu doutorado;em 1819, pblica seu trabalho mais conhecido: O mundo como vontade e representao (Die Welt als Wille und Vorstellung)2.
O mundo por si uma representao, pois, tudo o que existe est condicionado
pelo sujeito e esse portanto objeto, isso pode ser percebido em: [...] torna-se claro e certo que no conhece sol algum, mas sempre um olho que v um sol, uma mo que
toca uma terra. (Schopenhauer,A. O mundo como vontade e representao.2005, p.43). Na apndice desse livro o autor diz que sua obra apenas uma justificativa da doutrina
por ele exposta, a qual no concorda em diversos pontos com a filosofia kantiana, e
2WALLACE, W. Life of Schopenhauer. London: Scott, 1890. p.22-54.
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afirma que por mais diferente que seja, esta sob influncia desta, e pressupe ser parte
de seu trabalho.
Por mais que ele se ope os idealistas alemes tradicionais em sua elevao metafsica da auto-conscincia (considerados por ele demasiadamente intelectual), Schopenhauer est dentro do esprito dessa tradio, pois ele entende que o princpio fundamental do universo igualmente apreensvel atravs da introspeco , e que podemos compreender filosoficamente o mundo, vrias manifestaes desse princpio geral. Para Schopenhauer, no entanto, este no o incio da auto-conscincia e e administrao da vontade, mas sim, o que ele chama simplesmente de "Vontade" - algo estpido, desejo, sem objetivos racionais quanto aos nossos impulsos instintivos. Esta originalidade do filsofo no reside em sua caracterizao do mundo como vontade, ou como agir - para encontrarmos essa posio na filosofia de Fichte, mas na concepo da vontade como sendo desprovida de racionalidade ou intelecto. Em seu artigo Carina Delavald explica as consequncias da vontade:
A Vontade gera, ento, um ciclo que no finalizado.
Conforme Schopenhauer, como se o sujeito estivesse preso
a roda de Ixon, que gira incessantemente, pois mesmo que os
desejos sejam satisfeitos, e tragam prazer cessando o sofrer,
logo surgir um novo desejo que dever ser satisfeito,
trazendo uma nova iluso. Portanto, um ciclo volitivo que
no cessa. O desejo sempre renasce sobre uma nova forma e
com ele a necessidade, sendo por sua natureza sofrimento.
Schopenhauer diz toda a vida sofrimento(1995, p. 400), expressando este como a essncia da vida de qualquer ser.
Por isso, em seu livro, cita a obra do filsofo e pintor
Tischbein, que estabelece relao entre o sofrer dos homens e
dos animais. (DELAVALD, C. C. Formao tica na perspectiva de Schopenhauer. Porto Alegre : ediPUCRS,
2009. p.2)
Porm, posteriormente em seu artigo defende que a esttica pode ser uma das
fontes de suprir os desejos irracionais humanos. Embora para o Fbio L. Ferreira (2007)
toda a argumentao schopenhaueriana tende demonstrar como as representaes so
constitudas de forma a provar a intelectualidade dos objetos, sem deixar dvidas, que
para o filsofo, o carter de efetivao da realidade no possui carter normativo. Isto
significa que todas as propriedades dos fenmenos esto presentes no crebro do
indivduo. O mundo, fazer-efeito do sujeito que representa, efetivo.
Qual o lugar da tica na filosofia de Schopenhauer? A resposta dessa questo
pode ser encontrada no livro (ber die Grundlage der Moral) a partir de uma citao
dele, na qual deixa isso bem claro:
Proponho (...) como finalidade para a tica a de esclarecer,
explicar e reconduzir a sua razo ltima os modos muito
diferentes de agir dos homens no aspecto moral. Por isto,
resta apenas para a descoberta do fundamento da tica o
caminho emprico, a saber, o de investigar se h em geral
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aes s quais temos de atribuir autntico valor moral - que
seriam as aes de justia espontnea, pura caridade e
generosidade efetiva. (SCHOPENHAUER, A. Sobre o
Fundamento da Moral. Trad. Maria Lucia Cacciola. So
Paulo: Martins Fontes, 2002. p.133)
Vale ressaltar que para o filsofo, a tica no possui carter normativo, at
porque para ele qualquer fundamento baseado na razo deve ser desconsiderado. Isso se
deve ao fato que como o ser humano movido pela vontade. De fato, uma contradio flagrante denominar a Vontade livre e prescrever-lhe leis segundo as quais
deve querer: deve querer!, ferromadeira!3, a partir desse trecho escrito por ele, pode se ver de forma clara o que foi escrito anteriormente.
Segundo Arthur (2002), h apenas trs motivaes fundamentais para as aes
humanas. E apenas pelo estimulo delas agem as pessoas essas so: egosmo, que
deseja seu prprio bem; maldade, que quer o mal alheio; compaixo, que quer o bem
estar alheio. Nota se que na primeira o egocentrismo visto como ilimitado, na segunda
pode se alcanar a crueldade extrema e na terceira pode se chegar a nobreza moral.
Embora toda ao humana seja realizada por uma dessas trs motivaes, duas delas
podem agir juntas em algumas ocasies.
Desta forma podemos, concluir que a tica feita pela compaixo, esta um
amor real e no espera ganhar algo em troca, um sentimento no egosta mostrado
como a nica fonte das aes desinteressadas e, portanto, como a verdadeira base da moralidade. (Schopenhauer, 1993, p.270). Na compaixo, a vontade natural do ser negada porque, o homem de bom carter quer o bem do prximo e ao perceber o sofrimento
desta pessoa, sente-o como se fosse seu e por isso procura ajudar. Mesmo s vezes priva se de coisas se isso for necessrio para ajudar na dor de outrem.
Por outro lado h os seres movidos pela vontade padro, que em geral nada
buscam alm de uma forma para se beneficiarem, e no se preocupam com os meios de
atingir esses objetivos, ou quando procuram prejudicar ao outro. Em sua tese, Fbio L.
Ferreira expe esse desejo de prejudicar:
A atitude maldosa tem por intuito causar sofrimento ao
outro: para a maldade e a crueldade o sofrimento e a dor de outrem so fins em-si.Com efeito, a maldade proporciona alguma forma de obstculo para que outro indivduo sofra em
maior ou menor grau. A palavra de ordem prejudicar a
outrem. Ao seguir tal ideal, a ao do homem maldoso pode
chegar a mais extrema forma de crueldade. E quando o
indivduo cruel age, reflete em seus atos a potencializao da
maldade; causa-lhe prazer assistir ao sofrimento alheio. Neste
caso, ocorre o que Schopenhauer denomina alegria maligna. (FERREIRA, F. L. A tica da compaixo de Schopenhauer em sua interseco com a tica da compaixo
budista. 2007. p.35.)
3 SCHOPENHAUER,A. O mundo como vontade e representao.2005. p.354-5.
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Em analogia ao perodo contemporneo, podemos observar que h diversos
exemplos de pessoas que so movidas pela vontade e pelo egosmo. Mesmo em
instituies que procuram a compaixo e superao da vontade humana como a
maonaria. E isto pode ser observado em: Praticar a Caridade e a Benemerncia de modo sigiloso, sem humilhar o necessitado, incentivando o Solidarismo, o Mutualismo,
o Cooperativismo, o Seguro Social e outros meios de Ao Social; Combater todos os
vcios;4. Como pode se observar esses trechos da filosofia manica, representam bem a superao da vontade como proposto por Schopenhauer.
No entanto, Andr Otvio Assis Muniz nos mostra um pouco sobre como
funciona a maonaria real, em seu artigo:
Homens que chegam a se odiar, que tentam prejudicar uns
aos outros de todas as formas possveis, que se esquecem dos
laos de irmandade em troca de postos, condecoraes,
cargos, honrarias...que muitas e muitas vezes, sabendo que
um "irmo" est passando por momentos difceis, do risada,
fingem no ter conhecimento sobre o fato, mentem
descaradamente, ludibriam, logram e prejudicam
escancaradamente queles a quem deveriam estar unidos
pelos doces laos da fraternidade e do respeito mtuo. () passam grande parte do seu tempo a "esfregar" a vida alheia
contra as duras pedras da sarjeta, a criticar a todos quantos
no reproduzam fielmente os seus pensamentos e a tentar
"escalar" por sobre as cabeas para galgar mais um degrau de
"glria manica". (MUNIZ, A. O. A. Fraternidade mao-
nica?. Disponvel em: http://mictmr.blogspot.com/2006/07/
fraternidade-manica.html. Acesso em: 7 nov 2010 s: 5h15.)
Uma forma, proposta pelo filsofo, para que o sujeito possa superar a sua
vontade necessrio que a pessoa expresse-se artisticamente, pois, com a msica e
outras maneiras de manifestar arte as pessoas podem criar compaixo. Pois, isso d
virtudes ao ser humano, e com isso uma forma da pessoa superar o egosmo presente
naquela pessoa. Schopenhauer escreveu isso em seu trabalho mais conhecido:
Dessa forma, (...) pela considerao da vida e da conduta dos
santos, cujo encontro nos raras vezes permitido em nossa
experincia, mas que nos so noticiadas em suas histrias
narradas e trazidas diante dos olhos pela arte com o selo da
verdade interior, devemos dissipar a lgubre impresso
daquele nada, que como o ltimo fim paira atrs de toda
virtude e santidade que tememos como as crianas temem a
obscuridade. (SCHOPENHAUER, A. O mundo como
vontade e representao. Trad. Jair Barboza. So Paulo:
Editora UNESP, 2005. p. 519.)
Por isso percebe-se que no h nada que pode controlar a vontade de cada um
seno o prprio ser, no adianta impor normas de condutas como a maonaria faz a seus
iniciticos5, pois, muitas vezes os mesmos acabam por deixar a filosofia manica e
com ela toda a tica por traz disso, para tentar alcanar um status dentro da instituio, e
4 BATTAL, M. M. Lies de Filosofia Geral e Manica. Ed. Gazeta Manica. So Paulo, 2003.
5 Pessoa que quer entrar para a instituio
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este sim movido pela vontade. Claro que os principais exemplos de pessoas que
seguem a tica da compaixo sero encontradas em (Organizaes no governamentais)
Ongs como Rotary, Lions, Maonaria. Mas isso no uma garantia de que todas as
pessoas pertencentes a estes so movidas pela compaixo e no por suas vontades, e
logicamente o superego superior ao seu id6, porque independente do que difundido
pelas mesmas, se uma pessoa entrou na mesma por vontade, e no por gostar das
ideologias l pregadas, essa no superar seu egosmo.
Referncias:
BATTAL, M. M. Lies de Filosofia Geral e Manica. Ed. Gazeta Manica. So
Paulo 2003.
Delavald, C.C. Formao tica na perspectiva de Schopenhauer. PUCRS.
FERREIRA, F.L. A tica da compaixo de Schopenhauer em sua interseco com a
tica da compaixo budista. 2007. p.35.
MUNIZ, A. O. A. Fraternidade manica?. Disponvel em:
http://mictmr.blogspot.com/2006/07/fraternidade-manica.html. Acesso em: 7 nov 2010.
s: 5h15.
SCHOPENHAUER, A. Die Welt als Wille und Vorstellung - Zweiter Band. Scan,
Fraktur. 1888.
SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representao. Trad. Jair Barboza.
So Paulo: Editora UNESP, 2005.
SCHOPENHAUER, A. Sobre o Fundamento da Moral. Trad. Maria Lucia Cacciola.
S.P.:Martins Fontes, 2002.
WALLACE, W. Life of Schopenhauer. London: Scott, 1890. p.22-54.
WICKS, R. Stanford Enciclopedia of Philosofy: Arthur Schopenhauer. Stanford 2007.
6 Os conceitos de superego e id so referncias aos conceitos da psicanlise de FREUD, conforme
publicadas em: FREUD, S. The Origin and Development of Psychoanalysis. American Journal of
Psychology 21, p.196218.