Estudo dirigido valorização da identidade afro-brasileira

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SOCIOLOGIA PARA O ENSINO MÉDIO PROFESSORA SARA ALVES SECRETARIA DE EDUACAÇÃO DO ESTADO EEEM PROFESSOR FERNANDO DUARTE RABELO Prezadxs alunxs, Esse estudo dirigido foi produzido com o objetivo de fazê-los refletir sobre alguns elementos que envolvem o tema “VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA”. Espero que a leitura seja produtiva e a reflexão efetivamente capaz de gerar mudanças sociais. Forte abraço. Professora Sara Alves =D ESTUDO DIRIGIDO BLOCO 1 ESTÉTICA, ESTILO E IDENTIDADE A Estética Da Resistência (Fonte:Texto adaptado de Estética de Resistência, Educação e Diversidade Luana da Costa Fonseca; A invisibilidade da estética negra: a dor do racismo sobre nossos cabelos Luara Vieira e Orientações E Ações Para A Educação Das Relações Étnico-Raciais BRASIL.) [...]Aqui não tem drama ou gente inocente, aqui tem mulher firme arrebentando as suas correntes. A vida toda alguma coisa tentou me matar e eu me refizDandaraAcotirene. Salve! Negras dos sertões negras da Bahia. Salve! Clementina, Leci, Jovelina. Salve! Nortistas caribenhas clandestinas. Salve! Negras da América latina. [...] (Antiga Poesia Ellen Oléria). [...]Pelo processo branqueador não sou a beleza padrão, Mas na lei dos justos sou a personificação da determinação; Mulher negra não se acostume com termo depreciativo, Não é melhor ter cabelo liso, nariz fino; Nossos traços faciais são como letras de um documento, Que mantém vivo o maior crime de todos os tempos; [...] (Mulheres Negras Yzalú) Não é novidade que a estética negra expressão entendida como conceitos e juízos de beleza baseada nas características da população negra não é valorizada em nossa sociedade, diga-se de passagem, uma sociedade extremamente racista, que tenta a todo custo dissipar qualquer manifestação de negritude contida na mesma. É importante tomar conhecimento da complexidade que envolve o processo de construção da identidade negra em nosso país. Processo esse, marcado por uma sociedade que, para discriminar os negros, utiliza-se tanto da desvalorização da cultura de matriz africana quanto dos aspectos físicos herdados pelos descendentes de africanos . Como diz Neusa Santos Souza: “ser negro no Brasil é tornar-se negro.(SOUZA, 1990, p. 77). A compreensão do “tornar-se negro” dentro de um contexto de discriminação, orienta o nosso olhar para a necessidade de considerar como que a identidade se constrói no plano simbólico. O cabelo negro na sociedade brasileira expressa o conflito racial vivido por negros e brancos em nosso país. Considerando a construção histórica do racismo brasileiro, a negação da estética negra e a institucionalização do cabelo ‘ruim’ versus o cabelo ‘bom’, onde o cabelo ‘ruim’ é a expressão do racismo e da desigualdade racial. Compreende-se então, que, para o negro, a intervenção no cabelo é mais que uma questão de vaidade ou estética, mas sim, uma questão identitária. Portanto, a expressão da estética negra é inseparável do plano político, econômico e do seu espaço de pertencimento. A valorização do padrão de beleza eurocêntrico é reforçada nos mais diversos espaços sociais, corroborando com o aprofundamento do racismo e a descaracterização das pessoas negras; o isolamento da sua cultura e o aprofundamento da sua baixa autoestima. Está na moda ser preto, desde que você não seja preto Fonte: Rodrigo Teles Medrado / Geledés Instituto da mulher negra É bem comum encontrar nas redes sociais algumas pessoas defendendo a ideia de que o racismo não existe usando argumentos batidos como o da “democracia racial” e de que no Brasil o problema é social e não racial. Vejo também um esforço muito grande em disfarçar todos esses problemas com uma atitude que não consigo deixar passar batida, algo que faz parte do movimento “ser negro tá na moda”. Quem me conhece sabe que sou totalmente a favor da integração entre povos e culturas. Sabe que vejo com bons olhos jovens pretos e brancos juntos, discutindo o destino do nosso país. O que me incomoda é ser preto apenas quando lhe convém. Ser preto no samba, no hip hop, no candomblé, ser preto assim é fácil. Gostaria que essas mesmas pessoas fossem “pretas” quando a polícia abordou com violência meu irmão na rua, quando uma pessoa perde uma vaga de emprego por ser preta. Quando um canal de TV exibe um programa com teor racista. Gostaria que fossem pretos na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza. Na verdade o que vejo são pessoas se apropriando da

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Prezadxs alunxs, Esse estudo dirigido foi produzido com o objetivo de fazê-los refletir sobre alguns elementos que envolvem o tema “VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA”. Espero que a leitura seja produtiva e a reflexão efetivamente capaz de gerar mudanças sociais. Forte abraço. Professora Sara Alves =D

ESTUDO DIRIGIDO – BLOCO 1 – ESTÉTICA, ESTILO E IDENTIDADE A Estética Da Resistência (Fonte:Texto adaptado de Estética de Resistência, Educação e Diversidade – Luana da Costa Fonseca; A invisibilidade da estética negra: a dor do racismo sobre nossos cabelos – Luara Vieira e Orientações E Ações Para A Educação Das Relações Étnico-Raciais – BRASIL.)

[...]Aqui não tem drama ou gente inocente, aqui tem mulher firme arrebentando as suas correntes. A vida toda alguma coisa tentou me matar e eu me refizDandaraAcotirene. Salve! Negras dos sertões negras da Bahia. Salve! Clementina, Leci, Jovelina. Salve! Nortistas caribenhas clandestinas. Salve! Negras da América latina. [...] (Antiga Poesia – Ellen Oléria). [...]Pelo processo branqueador não sou a beleza padrão, Mas na lei dos justos sou a personificação da determinação; Mulher negra não se acostume com termo depreciativo, Não é melhor ter cabelo liso, nariz fino; Nossos traços faciais são como letras de um documento, Que mantém vivo o maior crime de todos os tempos;[...] (Mulheres Negras – Yzalú)

Não é novidade que a estética negra – expressão entendida como conceitos e juízos de beleza baseada nas características da população negra – não é valorizada em nossa sociedade, diga-se de passagem, uma sociedade extremamente racista, que tenta a todo custo dissipar qualquer manifestação de negritude contida na mesma. É importante tomar conhecimento da complexidade que envolve o processo de construção da identidade negra em nosso país. Processo esse, marcado por uma sociedade que, para discriminar os negros, utiliza-se tanto da desvalorização da cultura de matriz africana quanto dos aspectos físicos herdados pelos descendentes de africanos. Como diz Neusa Santos Souza: “ser negro no Brasil é tornar-se negro.” (SOUZA, 1990, p. 77).

A compreensão do “tornar-se negro” dentro de um contexto de discriminação, orienta o nosso olhar para a necessidade de considerar como que a identidade se constrói no plano simbólico. O cabelo negro na sociedade brasileira expressa o conflito racial vivido por negros e brancos em nosso país. Considerando a construção histórica do racismo brasileiro, a negação da estética negra e a institucionalização do cabelo ‘ruim’ versus o cabelo ‘bom’, onde o cabelo ‘ruim’ é a expressão do racismo e da desigualdade racial.

Compreende-se então, que, para o negro, a intervenção no cabelo é mais que uma questão de vaidade ou estética, mas sim, uma questão identitária. Portanto, a expressão da estética negra é inseparável do plano político, econômico e do seu espaço de pertencimento. A valorização do padrão de beleza eurocêntrico é reforçada nos mais diversos espaços sociais, corroborando com o aprofundamento do racismo e a descaracterização das pessoas negras; o isolamento da sua cultura e o aprofundamento da sua baixa autoestima. Está na moda ser preto, desde que você não seja preto Fonte: Rodrigo Teles Medrado / Geledés – Instituto da mulher negra

É bem comum encontrar nas redes sociais algumas pessoas defendendo a ideia de que o racismo não existe usando argumentos batidos como o da “democracia racial” e de que no Brasil o problema é social e não racial. Vejo também um esforço muito grande em disfarçar todos esses problemas com uma atitude que não consigo deixar passar batida, algo que faz parte do movimento “ser negro tá na moda”.

Quem me conhece sabe que sou totalmente a favor da integração entre povos e culturas. Sabe que vejo com bons olhos jovens pretos e brancos juntos, discutindo o destino do nosso país. O que me incomoda é ser preto apenas quando lhe convém.

Ser preto no samba, no hip hop, no candomblé, ser preto assim é fácil. Gostaria que essas mesmas pessoas fossem “pretas” quando a polícia abordou com violência meu irmão na rua, quando uma pessoa perde uma vaga de emprego por ser preta. Quando um canal de TV exibe um programa com teor racista. Gostaria que fossem pretos na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza. Na verdade o que vejo são pessoas se apropriando da

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nossa cultura, esvaziando seu significado, usufruindo apenas dos benefícios e ignorando as desvantagens. Tirem as mãos dos nossos símbolos de luta Fonte: Eliane Oliveira / Blogueiras negras

[...] O que fico me perguntando é se essas pessoas tem noção do que estes “elementos” significam de fato para a luta do povo negro. Ok, o leitor pode me dizer, “é uma questão de identificação com a causa”, entendo que, realmente, a força que estes símbolos ganharam, de resistência e contestação atingiu um nível esplêndido, porém ninguém se “torna negro” sem vivenciar as lutas desse povo de alguma forma e tão pouco sem conhecer as literaturas que tratam do movimento negro.

Ao me deparar com debates a cerca do alisamento dos nossos cabelos, não questiono quem o faz, pois ter cabelo afro só é problema para quem ainda não internalizou a beleza e a força que ele representa. O que mais me incomoda é ver pessoas fazendo uso dos elementos da nossa identidade étnica como fizeram com vários elementos da cultura negra, desvirtuando seus significados e se apoderando de algo que não lhes é legítimo. Dessa forma, a capoeira que era luta virou dança, Iemanjá virou estatua branca na maioria das praias brasileiras, a feijoada já conseguiu as mais diversas versões (light e até vegetariana), acarajé virou bolinho de Jesus e os turbantes se tornaram mais uma peça entre os vários acessórios da moda.

O que mais me incomoda é ver pessoas fazendo uso dos elementos da nossa identidade étnica como fizeram com vários elementos da cultura negra, desvirtuando seus significados e se apoderando de algo que não lhes é legítimo.

Fruto do nosso sincretismo, da nossa mistura, o brasileiro é um povo mestiço? O discurso é sempre o mesmo, bonito na teoria, pois passa a ideia de igualdade, de aceitação. A meu ver não é tão simples assim, acredito que essas “adaptações” servem muito mais para que a elite branca se aproprie da parte que melhor lhe cabe da cultura negra, ou seja, branquear Iemanjá a torna mais aceitável aos olhos dos brancos cristão que frequentam as praias nas férias. Posso parecer radical, mas não sou fundamentalista, todos tem a liberdade de fazer usos daquilo que lhes agrada desde que ela não acredite que, ao fazer a escolha por este elemento étnico, esteja absorvendo todas as representações que eles traduzem, pois se referem a um povo e suas particularidades. Usar os símbolos históricos da resistência negra não é um modismo, não precisamos de uma falsa representatividade, de uma pretensa identificação com a causa. Tentam nos tirar tudo a todo o momento, até nossa identidade histórica.

Turbante não é moda! Fonte: http://hbdia.com/todo-dia-tem-um-textao/todo-dia-tem-um-textao-turbante-nao-e-moda/ O uso do turbante é bem mais que simples pano enrolado na cabeça, é resistência, é luta e consciência da nossa ancestralidade e identidade negra. No período da escravidão o turbante era usado para diferenciar os grupos africanos, de onde vieram, não só pelo o enrolar do turbante, mas toda a vestimenta. Entre as nagôs, o ojá era amarrado com várias voltas ao redor da cabeça, usavam também para amarrar bebês na cintura, nas costas cabelos e no busto para roupa de algum orixá. Os negros dobravam o tecido em formato triangular, com a ponta para trás, esmerava os mais belos bordados e muitas anáguas. Além disso, tinha como objetivo de proteger a filha de santo que terminava sua iniciação que normalmente estava com a cabeça raspada. Após esse período o uso do turbante continuou ativo, os negros usam na contemporaneidade não só como símbolo ou memoria, mas como resistência, identidade e religião (Candomblé).

É preciso ser negro além da estética Fonte: Linoca Souza / Geledés – Instituto da mulher negra

Diversas marcas de beleza têm utilizado modelos negras em suas propagandas, marcas de produtos para cabelos que não tinham produtos para cabelos afro, crespos ou cacheados estão criando linhas pra esse público, mulheres negras têm aparecido um pouco mais em capas de revistas e símbolos como turbantes, tecidos estampados como as capulanas e a famosa ‘estampa étnica’ têm sido cada vez mais vistos por aí. Isso tudo é importante, mas ainda é pouco. Ainda mais em um mundo que ainda é muito racista, a leitura estético-visual do negro ainda não é suficiente, até porque, o negro não é só estética, o negro não é só voltado para o que é visual, para a arte, moda ou entretenimento. Acreditar apenas nisso é ainda fazer com que o negro seja o exótico

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sempre, especialmente as mulheres. Ainda hoje a mulher negra trabalhadora na informalidade ganha menos que as não negras e ainda é um número menor em relacionamentos sérios, ainda é um número pequeno nas universidades públicas e carrega um histórico de preconceito quando bolsista nas particulares.

Porém, tudo isso é ocultado ou esquecido por uma parcela de pessoas que acredita que ao ver uma mulher com seus cabelos naturais ou inserida em propagandas não precisa de mais nada, e essa parcela se esquece que precisamos de mais coisas. O cabelo é muito importante porque também é símbolo de resistência e a luta pelo reconhecimento e valorização do mesmo ainda se faz necessária, mas só ela não basta. Não podemos parar aí.

Para mais informações sobre estética negra: Série web-documentária Raiz Forte – Episódio 1: Infância: https://www.youtube.com/watch?v=xckeeqhL9_I

Documentário O Lado de Cima da Cabeça: https://www.youtube.com/watch?v=1RFvuA0cu60

Documentário Espelho, espelho meu: https://www.youtube.com/watch?v=44SzV2HSNmQ

Web-serie Empoderadas, #EP07 - EMPODERADAS [MC SOFFIA ] https://www.youtube.com/watch?v=yEk2-lolkaA

Kbela O Filme | Curta! https://www.youtube.com/watch?v=sk1FEb-p81o

QUESTÕES PARA REFLETIR (responda em seu caderno para visto 02/12) 1. Quais foram os efeitos históricos da supervalorização do padrão de beleza

eurocêntrico? 2. A estética negra passou a ser mais valorizada? Quais os efeitos da valorização da

estética negra? 3. Valorizar a estética negra é o suficiente para se garantir a igualdade social? 4. Qual a importância do empoderamento da população negra? 5. O que você pensa da frase: “A cultura negra tá na moda, mas as pessoas negras

não”. 6. A apropriação dos elementos da cultura negra contribui para a equidade racial?

ESTUDO DIRIGIDO – BLOCO 2 – O PROTAGONISMO NEGRO

Fonte: Jarid Arraes / Portal Fórum Quando eu era criança, tanto na escola, quanto no entretenimento, ninguém me

contou sobre as mulheres negras quilombolas que lutaram contra a escravidão no Brasil. Eu não sabia que elas existiram até me tornar adulta, quando, depois de ouvir uma amiga mencioná-las, resolvi pesquisar por conta própria em livros e sites disponíveis.

Nos livros, não as encontrei. Talvez, se eu tivesse mais dinheiro e se uma maior diversidade de livros estivesse ao meu alcance – algo que inclui o material que está a

venda nas livrarias e nos sebos, ou mesmo o material nas bibliotecas -, eu pudesse ter lido algo sobre as histórias dessas mulheres.

Entre todas as mulheres negras que descobri depois de crescida, Dandara continua sendo aquela que mais me inspira e, por isso, transformei em personagem principal do meu primeiro livro: As Lendas de Dandara. O fato de ter um status de lenda, das informações a seu respeito serem poucas e até mesmo de existência controversa, é algo que me instiga. É como se Dandara fosse a junção de todas as outras guerreiras e líderes que foram mulheres fortes, corajosas e que transformaram a sociedade. E, por isso, quero conhecê-la mais profundamente.

Seria incrível se as escolas falassem sobre Dandara, se ela fosse apresentada como referência da luta das mulheres negras no período colonial e escravista. A partir dela, outros nomes imprescindíveis surgiriam, tais como Tereza de Benguela, que foi rainha de um quilombo forte e muito bem organizado, com um sistema político de sucesso e com atividades importantes de agricultura, produção de tecidos e também produção de armas.

Assim como Dandara, muitas outras mulheres negras foram as responsáveis por traçar estratégias de batalhas e revoltas, foram líderes firmes e agiram com inteligência e coragem em prol daqueles que seguiam suas lideranças. E se todas as crianças e adolescentes aprendessem que essas mulheres existiram, muita coisa poderia ser diferente em nosso país, porque muita coisa seria diferente na mente desses alunos e até mesmo dos professores.

Se toda criança conhecesse Dandara e, por consequência, todas as outras líderes negras da nossa história, grandes lacunas seriam preenchidas. A representação é, sem dúvida, uma das mais importantes, uma vez que os jovens negros ainda crescem sem aprender que a população negra brasileira e seus ancestrais no continente Africano foram pessoas incríveis, inteligentes e capazes e que desenvolveram muitas coisas para o bem da humanidade. Algo que, na verdade, todas as pessoas precisam reconhecer.

Além disso, fazendo justiça à história e contribuição da África e de seus descendentes, uma lacuna na autoestima é sarada. Com isso, o combate ao racismo avança, a conscientização aumenta e nós podemos nos tornar uma sociedade menos

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racista, onde ser negro não seja algo associado com qualidades ruins e inferioridade, mas com uma cultura repleta de heroínas inspiradoras e de feitos admiráveis.

Lei Federal 10.639/03 Em março de 2003, foi aprovada a Lei Federal nº 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Essa lei altera a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e tem o objetivo de promover uma educação que reconhece e valoriza a diversidade, comprometida com as origens do povo brasileiro. A escola é o lugar de construção, não só do conhecimento, mas também da identidade, de valores, de afetos, enfim, é onde o ser humano, sem deixar de ser o que é, se molda de acordo com sua sociedade. O Brasil, formado a partir das heranças culturais européias, indígenas e africanas, não contempla, de maneira equilibrada, essas três contribuições no sistema educacional. Por isso, ter como meta a efetiva realização das prerrogativas dessa Lei é essencial para a construção de uma sociedade mais igualitária.

A história do Brasil ensinada nas escolas ainda esconde Dandara; os livros nas grandes livrarias também não a mostram. Mas se ela não está acessível, se sua história não está disponível para ser conhecida, como as crianças e adolescentes poderão descobrir tudo o que ela representa?

Dandara dos Palmares, cercada por fatos e por lendas, é uma mulher em quem todas as pessoas devem se inspirar; ela é importante para discutir a escravidão em sala de aula e para debater o machismo em sociedade. Ela é importante para combater o racismo na nossa cultura. Dandara dos Palmares é fundamental para o mês de novembro e para a consciência negra, tanto quanto é importante para nossa educação e imaginação. É por isso, e por muitas outras razões, que toda criança merece conhecer Dandara.

QUESTÕES PARA REFLETIR (responda em seu caderno para visto em 02/12) 1. Ao longo da sua educação básica, seus professores trabalharam a história e a

cultura afro-brasileira? Em sua opinião, qual a motivação para isso acontecer? 2. Argumente sobre o fato de não vermos o protagonismo negro nos espaços e

currículos escolares. Por que nossa educação ainda é eurocêntrica? 3. Você considera importante haver o “Dia da Consciência Negra”? Justifique sua

resposta. 4. Você considera relevante conhecer a história e a cultura afro-brasileira? Por

quê? 5. Cite pessoas negras que você considera importante para a reafirmação da

autoafirmação e para a luta negra no Brasil e no mundo. Com base na pesquisa, anote: a. um resumo de suas histórias / b. porque são referências para a população negra.

6. Assista ao vídeo “Racismo desde criança” e explique o que é possível fazer para fortalecer a autoestima das negras e negros desde a infância.

(Fonte: Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=DDO3RrxmCeQ)

ESTUDO DIRIGIDO – BLOCO 3 – CULTURA, IDENTIDADE E RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA

Religiosidade: Etnocentrismo, estereótipos, estigmas, preconceito e discriminação Fonte: Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010. O preconceito relativo às práticas religiosas afro-brasileiras está profundamente ar-raigado na sociedade brasileira, por essas práticas estarem associadas a negros e negras, grupo historicamente estigmatizado e excluído, e cujos cultos seriam contrários ao cristianismo europeu. Vale lembrar que expressões culturais de matriz afro-brasileira como o samba, a capoeira e o candomblé foram, durante décadas, proibidos e perseguidos pela polícia. Isso mostra que essas práticas foram incorporadas aos símbolos nacionais no interior de processos extremamente complexos. O caso mais evidente é o samba, que de “música de negros/as” passou a ser caracterizado como “música nacional”. As religiões afro-brasileiras, no entanto, ainda enfrentam um profundo preconceito por parte de amplos setores da sociedade: há quem considere o candomblé como “dança folclórica”, negando seu conteúdo religioso; há também quem o caracterize como “prática atrasada”. Em ambos os casos, seu caráter de religiosidade é negado e não tomado no mesmo padrão de igualdade de outras práticas e crenças. É necessário entender como as coisas funcionam para evitar preconceitos. Como diz Mãe Stella de Oxóssi no artigo Ritual e Sacrifício: “Não é nosso interesse forçar alguém a crer em nossas verdades, mas é nossa obrigação oferecer subsídios para ajudar as pessoas a ampliarem o conhecimento de suas mentes a fim de que seus corações possam ficar cada vez mais livres de preconceitos”. Escola é o espaço onde crianças de religiões afro-brasileiras mais se sentem discriminadas Fonte: Por Pedro Ribeiro Nogueira, do Portal Aprendiz

Ao longo de 20 anos de pesquisa, a professora Stela Guedes buscou analisar o preconceito contra religiões de matriz africana no ambiente escolar e as dificuldades da implementação da lei 10.639, de 2003, que prevê o ensino de cultura e história afro-brasileira e africana nas escolas e descobriu que, para os estudantes de religiões afro que freqüentam as instituições de ensino brasileiras, esse é o espaço onde mais se sentem discriminados. “Uma vez entrevistei uma professora de Ensino Religioso que afirmava que a disciplina não era proselitista e não discriminava e que, na mesma resposta, comemorava o fato de ter tido no ano anterior 8 alunos ogans que se converteram ao cristianismo (ogan é um cargo masculino cuja responsabilidade são muitas, entre elas, tocar os atabaques nos rituais). A escola, que é o lugar dos diferentes entre si por natureza,

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deveria ser o lugar mais preparado para não só lidar, mas também para aprender profundamente com essas diferenças. Infelizmente não é”, afirma Stela.

Para ela, a “escolarização pública em nosso país foi e continua sendo marcada pelo espírito de catequese” e precisa ser transformada. A pesquisadora, que ministrará neste mês o curso “A escola e o terreiro: diversidade e educação antirracista em pauta”, em São Paulo, sobre os resultados de sua pesquisa, o caráter racista da educação brasileira e os possíveis caminhos para uma educação antirracista e transformadora. Confira: Portal Aprendiz: Bom, começaria com o título de seu livro: como a escola se relaciona com as crianças do Candomblé? Quais foram as principais descobertas dos seus mais de 20 anos de pesquisa? Stela Guedes: A escolarização pública em nosso país foi e continua sendo marcada pelo espírito de catequese. Não é difícil entender o porquê. Em 1549, trazidos pelo governador geral Tomé de Souza, três jesuítas chegam ao país e, em Salvador, fundaram o colégio da Companhia de Jesus. Duzentos e dez anos depois, quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, o ensino público passou para as mãos de outros setores da igreja católica. Quase 500 anos depois e, apesar de, em 1891, a primeira Constituição republicana ter separado Estado de Igreja e afirmar que “será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”, o papel da escola pública ainda é catequisar e converter. A conversão é um conceito amplo e não se refere apenas a conversão religiosa. A conversão é uma submissão à lógica dominante que aí sim diz respeito a uma padronização em função da religião dominante, aos valores dominantes conservadores sobre família, sexualidade, aparência, raça, ou seja, aos modos de ser, estar, crer, não crer e agir no mundo. Dentro dessa lógica a escola não acolhe as diferenças entre elas, as diferenças religiosas. Em mais de 20 anos de pesquisa todas as crianças e jovens de candomblé são unânimes quando afirmam que todos os espaços da sociedade são cruéis, mas nenhum lugar é tão cruel quanto a escola quando se trata de humilhar e excluir alunos e alunas de candomblé ou umbanda. Aprendiz: Que tipos de impactos sociais uma educação intolerante e racista pode trazer? Stela: Primeiro, temos de reconhecer que o Brasil é um país racista. Esse é o primeiro passo para olharmos para os espaços sociais e entendermos que todos eles são espaços racistas. Isso porque o racismo é um sistema em que um grupo se considera superior e submete de diversas formas um outro grupo considerado inferior. O mais fundamental é, ainda, entender que fomos educados em uma escola branca, cristã e racista. Então a pergunta deve ser “Que tipo de impactos e consequências a nossa sociedade e, portanto, a nossa educação racista nos trouxe? Que tipo de relações criamos?” A dominação colonial na África, como bem se refere o pesquisador Kabengele Munanga, com sua

missão “civilizadora”, teve como objetivo reduzir negros e negras ontológica, epistemológica e teologicamente. Isso fez com que os países colonizadores se servissem de seus saques econômicos e históricos. Roubaram por séculos a riqueza material e a história dos povos de África. No nosso caso, negros e negras escravizados não “contribuíram” com a formação do que se chama “povo brasileiro”. Foram os negros e negras roubados, aprisionados, desterrados e escravizados que ergueram esse país. Uma das consequências quando um grupo de seres humanos passa a se achar superior a outro grupo de seres humanos é a total subtração da história do grupo considerado inferior. Essa foi uma consequência drástica na educação brasileira. A história de um continente inteiro foi subtraída de nossas escolas. Não se trata de ser tolerante. Nenhum indivíduo ou grupo quer ser tolerado. A tolerância, apesar de ser um conceito aparentemente interessante, é sempre uma ação que prevê alguma benevolência ou aceitação daquele ou do grupo considerado como referência nas tensas e complexas relações de poder. Ou seja, não podendo te eliminar eu te tolero. Não podendo eliminar este ou aquele grupo eu os tolero e aceito. A tolerância sempre exige algum grau de assimilação e estabelece limites. Uma vez ultrapassados os limites do jogo da assimilação, o tolerante deixa de tolerar. Aprendiz: Como a educação poderia se relacionar com os diferentes tipos de saberes? Você saberia mencionar alguma experiência em que um terreiro e uma escola se articularam para discutir história e cultura-afro? Stela: A escola não tem de tolerar pessoas as quais considera diferente de sua lógica hegemônica. A escola precisa reconhecer que a vida no planeta é constituída por seres humanos diferentes. A escola é o lugar dos diferentes e, por ser esse lugar, a escola é um lugar tenso, porque não há harmonia na diferença e nem pode haver. O ideal é que busquemos a convivência respeitosa entre pessoas e grupos. E essa convivência respeitosa, essa experiência intercultural pautada nos direitos humanos não acontece se um dado conhecimento for erguido ao reino da importância e, portanto, legitimado, enquanto outros tantos conhecimentos são submetidos ao reino da desimportância e, portanto, deslegitimados e excluídos das escolas. A escola deve reconhecer o conflito e apostar nele, para que, a partir das diferenças, todos e todas possam ser vistos e compreendidos uns pelos outros. Não conheço experiências como as que você menciona, conheço projetos individuais de alguns professores e professoras que tentam fazer com que alunos e alunas conheçam terreiros e falem na escola a partir dessa experiência. Aprendiz: O que mudou desde a aprovação da lei Lei 10.639? Stela: A Lei 10.639 foi sancionada em 2003 e diz que nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Todos os pesquisadores e pesquisadoras que estudam a

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aplicação da lei descrevem inúmeras dificuldades. Falta formação para professores e professoras e o obscurantismo crescente na educação também é um dado que dificulta. Professores, professoras, pais, alunos e alunas, funcionários obscurantistas acreditam que qualquer referência à África é um passaporte para o inferno, pois associam África ao Diabo. Como isso aconteceu? Com a mesma inferiorização dos povos africanos sobre a qual falávamos há pouco. A lei foi uma conquista importante, mas temos muito a caminhar e é preciso uma luta cotidiana contra o racismo, incluindo as faculdades de formação de professores e professoras.

QUESTÕES PARA REFLETIR (responda em seu caderno para visto em 02/12) 1. Em geral, as denominações cristãs possuem seu espaço nas escolas públicas, seja

ao comemorar dadas religiosas ou de repetir orações, entre outras práticas. Você considera importante que a escola abra espaço para outras formas de crença, como as religiões de matriz africana, por exemplo?

2. Explique a frase: “Não é nosso interesse forçar alguém a crer em nossas verdades, mas é nossa obrigação oferecer subsídios para ajudar as pessoas a ampliarem o conhecimento de suas mentes a fim de que seus corações possam ficar cada vez mais livres de preconceitos”.

3. Por que a pesquisadora Stela Guedes é contrária ao uso do termo TOLERÂNCIA? Que outra palavra você usaria em referência a necessidade de se conviver bem com a diversidade, inclusive, religiosa?

4. Stela Guedes afirmou: “A escola é o lugar dos diferentes e, por ser esse lugar, a escola é um lugar tenso, porque não há harmonia na diferença e nem pode haver.”. Descreva brevemente uma situação vivenciada em nossa escola onde a convivência com o diferente (pluralidade cultural) se tornou um problema:

5. Você considera que a foi aplicada esse ano em nossa escola? Como? 6. Como Lei 10.639/03 pode contribuir para vivermos com mais harmonia e

equidade no ambiente escolar?

ESTUDO DIRIGIDO – BLOCO 4 – RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA – CANDOMBLÉ – CONHECER

PARA RESPEITAR

Fonte: https://ocandomble.wordpress.com/os-orixas/ Os orixás são deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza

e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. As características de cada Orixá os aproxima dos seres humanos, pois eles se manifestam através de emoções como nós. Sentem raiva, ciúmes, amam em excesso, são passionais. Cada orixá tem ainda seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas, cantigas, rezas, ambientes, espaços físicos e até horários. Como resultado do sincretismo que se deu durante o período da escravidão, cada orixá foi também associado a um santo católico, devido à imposição do catolicismo aos negros. Para manterem seus deuses vivos, viram-se

obrigados a disfarçá-los na roupagem dos santos católicos, aos quais cultuavam apenas aparentemente.

Estes deuses da Natureza são divididos em 4 elementos - água, terra, fogo e ar. Alguns estudiosos ainda vão mais longe e afirmam que são 400 o número de Orixás básicos divididos em 100 do Fogo, 100 da Terra, 100 do Ar e 100 da Água, enquanto que, na Astrologia, são 3 do Fogo, 3 da Terra, 3 do Ar e 3 da Água. Porém os tipos mais conhecidos entre nós formam um grupo de 16 deuses. Eles também estão associados à corrente energética de alguma força da natureza. Assim, Iansã é a dona dos ventos, Oxum é a mãe da água doce, Xangô domina raios e trovões, e outras analogias.

Na Umbanda e no Candomblé se cultuam muitos outros orixás, desconhecidos por leigos, por serem menos populares do que Xangô, Iansã, Oxossi e outros, mas com um significado muito forte para os adeptos dos cultos afro-brasileiros. Alguns são necessariamente cultuados, devido à ligação com trabalhos específicos que regem, para a saúde, morte, prosperidade e diversos assuntos que afligem o dia-a-dia das pessoas. Estes deuses africanos são considerados intermediários entre os homens e Deus, e por possuírem emoções tão próximas dos seres humanos, conseguem reconhecer nossos caprichos, nossos amores, nossos desejos. É muito comum, alguns dizerem que suas personalidades são conseqüências dos Orixás que regem suas cabeças, desenvolvendo características iguais às destes deuses africanos.

PARA PESQUISAR E FAZER ARTE (ENTREGAR: até 25/11 VALOR: 8 pontos) Com base nas reflexões feitas até aqui, pesquise um ORIXÁ africano e seus sistemas simbólicos, e:

a. Em uma lauda (folha A4) traga as seguintes informações: suas principais características, sua saudação, seu dia da semana, sua cor, entre outras informações. Lembre-se de seguir a formatação padrão: Arial, tamanho 12, espaçamento entre linhas 1,5, justificado. Não precisa de capa, mas o cabeçalho deve conter as seguintes informações: nome da escoa, disciplina, nome da professora, série/turma, e seu nome completo.

b. Em outra lauda (folha A4) represente de forma artística o orixá escolhido por você. Algumas dicas: desenho autoral, pintura, pontilismo, etc. Não se esqueça de fazer margem de 1,5 cm em cada lado.

OBS: Está vetado escolher a orixá Iemanjá a fim de garantir o máximo de variação dos orixás.