Estudo da distribuição espacial do Sn no Jazigo de W-Sn(Cu ... · tardios (ECT). Oosterom et al....

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Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/185 Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 829-832 IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X Estudo da distribuição espacial do Sn no Jazigo de W-Sn(Cu) da Panasqueira Study of Sn spatial distribution on W-Sn(Cu) Panasqueira ore deposit F. Pinto 1* , R. Vieira 1 , P. Ferraz 1 , F. Noronha 2 . © 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP Resumo: A Panasqueira é um jazigo filoniano hidrotermal de W- Sn(Cu) no qual ocorre uma cúpula de greisen. A distribuição da mineralização de W e Sn, em torno da cúpula, não é uniforme, tendo já sido considerados vários modelos de zonamento, nomeadamente no que respeita à razão W/Sn. No modelo tradicional esta razão é menor nas zonas mais próximas da cúpula. Contudo a ocorrência de Sn numa zona mais distal em relação à cúpula sugere distintos zonamentos. No presente trabalho, com o objetivo de estudar zonamentos geoquímicos de estanho, apresentam-se resultados de novas amostragens realizadas no sentido de estudar a distribuição deste elemento, em diferentes locais selecionados, função não só da sua distância à cúpula conhecida, como do nível de exploração. Simultaneamente estuda-se a distribuição de elementos químicos que possam funcionar como elementos-guia para a mineralização de estanho. Palavras-chave: Panasqueira, Sn, Zonamento, Cúpula, Elementos guia. Abstract: The Panasqueira is a hydrothermal W-Sn(Cu) vein ore deposit in which a greisen cupola occurs. The distribution of W and Sn mineralization, around the cupola, is not uniform, and many different zoning models were already proposed, in particular with respect to the ratio W/Sn. In the traditional model this ratio is lower in domains closer to the cupola. However, the occurrence of a distal zone with low W/Sn ratio suggests different zoning patterns. In the present work, aiming the study of the geochemical zoning associated with tin mineralization, results of new sampling surveys are reported. These allow characterize the distribution of tin, in different selected locations, depending not only on its distance to the known cupola at the exploitation level. At the same time we intend to investigate other chemical elements that may act as pathfinders for cassiterite mineralization. Keywords: Panasqueira, Sn, Zoning, Cupola, Pathfinders. 1Sojitz Beralt Tin & Wolfram (Portugal) S.A., Barroca Grande, 6225-051, Aldeia de S. Francisco de Assis, Castelo Branco, Portugal. 2Centro de Geologia da Universidade do Porto/ DGAOT-FCUP. Rua do Campo Alegre 4167-007, Porto, Portugal. * Autor correspondente / Corresponding author: [email protected] 1. Introdução O jazigo da Panasqueira localiza-se na região da Beira Baixa, no distrito de Castelo Branco. Fica situado em pleno Maciço Hespérico, na vertente sul da Serra da Estrela, a oeste da depressão tectónica do bloco granítico da Estrela. Dista cerca de 30 km da vila do Fundão, 40 km da vila de Pampilhosa da Serra e 55 km da Covilhã. Neste jazigo distinguem-se diferentes setores, sendo os principais o da Panasqueira, Vale da Ermida e Barroca Grande (Fig. 1). 1.1. Estado da arte A génese deste jazigo mineral, de classe mundial, desde há muito que desperta a atenção. Os primeiros trabalhos foram de índole mais geral e à medida que se iam aprofundando os conhecimentos, a par da evolução científica e tecnológica, trabalhos de pormenor: desde a geologia, estrutural e litogeoquímica, à mineralogia e paragénese, incluindo estudo dos fluidos, isótopos e geocronologia, entre outros. De entre estes, e tendo em conta o objetivo deste trabalho, destacamos os seguintes: Thadeu (1951) em que o autor descreve a ocorrência de xistos mosqueados e não mosqueados no Couto Mineiro da Panasqueira e estabelece a primeira sequência paragenética das mineralizações de W- Sn(Cu), tecendo já algumas considerações relativamente à cúpula granítica e relação genética com as mineralizações. Bloot & Wolf (1953) desenvolveram um trabalho com base na petrografia, relacionando possíveis granitos com as mineralizações de W-Sn(Cu). Estudaram também a alteração hidrotermal existente no contacto entre os filões mineralizados e a rocha encaixante, sendo os primeiros a fazer referência à ocorrência de estanite, em pequenas quantidades, sempre associada à calcopirite e blenda. D’Orey (1967) faz um estudo detalhado da mineralogia dos filões dos setores da Barroca Grande, Panasqueira e Vale da Ermida e propõe que nesta última ocorre um tipo de mineralização independente das outras. Considera ainda que a cassiterite na Barroca Grande ocorre em duas gerações distintas, uma primária e uma secundária, resultando esta última da alteração da estanite. Conde et al. (1971) apresentam uma visão geral do jazigo, enquadrando-o geológica e estruturalmente; referem as alterações deutéricas existentes e consideram três zonas distintas para a distribuição da mineralização, em torno da cúpula granítica, em que a mais distante apresenta cassiterite, possivelmente de uma segunda geração. Artigo Curto Short Article

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Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/185 Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 829-832 IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014 ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X

Estudo da distribuição espacial do Sn no Jazigo de W-Sn(Cu) da Panasqueira Study of Sn spatial distribution on W-Sn(Cu) Panasqueira ore deposit F. Pinto1*, R. Vieira1, P. Ferraz1, F. Noronha2

.

© 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP

Resumo: A Panasqueira é um jazigo filoniano hidrotermal de W-Sn(Cu) no qual ocorre uma cúpula de greisen. A distribuição da mineralização de W e Sn, em torno da cúpula, não é uniforme, tendo já sido considerados vários modelos de zonamento, nomeadamente no que respeita à razão W/Sn. No modelo tradicional esta razão é menor nas zonas mais próximas da cúpula. Contudo a ocorrência de Sn numa zona mais distal em relação à cúpula sugere distintos zonamentos. No presente trabalho, com o objetivo de estudar zonamentos geoquímicos de estanho, apresentam-se resultados de novas amostragens realizadas no sentido de estudar a distribuição deste elemento, em diferentes locais selecionados, função não só da sua distância à cúpula conhecida, como do nível de exploração. Simultaneamente estuda-se a distribuição de elementos químicos que possam funcionar como elementos-guia para a mineralização de estanho. Palavras-chave: Panasqueira, Sn, Zonamento, Cúpula, Elementos guia. Abstract: The Panasqueira is a hydrothermal W-Sn(Cu) vein ore deposit in which a greisen cupola occurs. The distribution of W and Sn mineralization, around the cupola, is not uniform, and many different zoning models were already proposed, in particular with respect to the ratio W/Sn. In the traditional model this ratio is lower in domains closer to the cupola. However, the occurrence of a distal zone with low W/Sn ratio suggests different zoning patterns. In the present work, aiming the study of the geochemical zoning associated with tin mineralization, results of new sampling surveys are reported. These allow characterize the distribution of tin, in different selected locations, depending not only on its distance to the known cupola at the exploitation level. At the same time we intend to investigate other chemical elements that may act as pathfinders for cassiterite mineralization. Keywords: Panasqueira, Sn, Zoning, Cupola, Pathfinders. 1Sojitz Beralt Tin & Wolfram (Portugal) S.A., Barroca Grande, 6225-051, Aldeia de S. Francisco de Assis, Castelo Branco, Portugal. 2Centro de Geologia da Universidade do Porto/ DGAOT-FCUP. Rua do Campo Alegre 4167-007, Porto, Portugal. *Autor correspondente / Corresponding author: [email protected]

1. Introdução

O jazigo da Panasqueira localiza-se na região da Beira Baixa, no distrito de Castelo Branco. Fica situado em pleno Maciço Hespérico, na vertente sul da Serra da Estrela, a oeste da depressão tectónica do bloco granítico da Estrela.

Dista cerca de 30 km da vila do Fundão, 40 km da vila de Pampilhosa da Serra e 55 km da Covilhã.

Neste jazigo distinguem-se diferentes setores, sendo os principais o da Panasqueira, Vale da Ermida e Barroca Grande (Fig. 1).

1.1. Estado da arte

A génese deste jazigo mineral, de classe mundial, desde há muito que desperta a atenção. Os primeiros trabalhos foram de índole mais geral e à medida que se iam aprofundando os conhecimentos, a par da evolução científica e tecnológica, trabalhos de pormenor: desde a geologia, estrutural e litogeoquímica, à mineralogia e paragénese, incluindo estudo dos fluidos, isótopos e geocronologia, entre outros.

De entre estes, e tendo em conta o objetivo deste trabalho, destacamos os seguintes: Thadeu (1951) em que o autor descreve a ocorrência de xistos mosqueados e não mosqueados no Couto Mineiro da Panasqueira e estabelece a primeira sequência paragenética das mineralizações de W-Sn(Cu), tecendo já algumas considerações relativamente à cúpula granítica e relação genética com as mineralizações.

Bloot & Wolf (1953) desenvolveram um trabalho com base na petrografia, relacionando possíveis granitos com as mineralizações de W-Sn(Cu). Estudaram também a alteração hidrotermal existente no contacto entre os filões mineralizados e a rocha encaixante, sendo os primeiros a fazer referência à ocorrência de estanite, em pequenas quantidades, sempre associada à calcopirite e blenda.

D’Orey (1967) faz um estudo detalhado da mineralogia dos filões dos setores da Barroca Grande, Panasqueira e Vale da Ermida e propõe que nesta última ocorre um tipo de mineralização independente das outras. Considera ainda que a cassiterite na Barroca Grande ocorre em duas gerações distintas, uma primária e uma secundária, resultando esta última da alteração da estanite.

Conde et al. (1971) apresentam uma visão geral do jazigo, enquadrando-o geológica e estruturalmente; referem as alterações deutéricas existentes e consideram três zonas distintas para a distribuição da mineralização, em torno da cúpula granítica, em que a mais distante apresenta cassiterite, possivelmente de uma segunda geração.

Artigo Curto Short Article

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Marignac (1973; 1982), considera que a auréola de metamorfismo térmico, caracterizada pela ocorrência de xistos mosquedos, não está relacionada com a cúpula de greisen conhecida mas que reflete a presença de uma massa granítica mais extensa por baixo ou perto do jazigo.

Kelly & Rye (1979), Bussink (1984), Polya (1987; 1989) e Noronha et al. (1992) contribuem com valiosos dados acerca da morfologia e génese dos filões sub-horizontais, mineralogia, inclusões fluidas e isótopos estáveis, considerando um quadro paragenético com quatro estádios de deposição. O estádio dos óxidos e silicatos

(EOS), o estádio dos sulfuretos (EPS), o da alteração da pirrotite (EAP) e por último o de deposição de carbonatos tardios (ECT).

Oosterom et al. (1984) efetuaram uma amostragem geoquímica dos metassedimentos do Complexo Xisto-Grauváquico da região envolvente do jazigo e estudam a distribuição do F, Li, Rb, Sn, W, Cu e P.

Lourenço (2002) estuda as associações minerais e propõe uma sequência de deposição em que distingue também duas gerações de cassiterite.

Fig. 1. Localização das Minas da Panasqueira com destaque para os três setores mais relevantes (Panasqueira, Vale da Ermida e Barroca Grande). Fig. 1. Location of Panasqueira Mine highlighting the three most relevant sectors (Panasqueira, Vale da Ermida and Barroca Grande).

1.2. Objetivos do estudo

No presente trabalho procede-se à interpretação dos dados geoquímicos relativos a quatro locais de amostragem selecionados, localizados a uma distância significativa (~2 km) entre si e relativamente à cúpula conhecida e distribuídos por dois dos níveis de exploração: Nível 1 (620 m) e Nível 2 (560 m). O objetivo é estudar a distribuição do Sn relativamente à cúpula de greisen bem como testar os zonamentos geoquímicos. Simultaneamente estuda-se a distribuição de elementos químicos que possam funcionar como elementos-guia para a mineralização de estanho.

2. Geologia

O jazigo da Panasqueira é constituído por um extenso campo filoniano de filões de quartzo, notável pelas dimensões que atinge e pela riqueza da paragénese.

Localiza-se na Zona Centro-Ibérica na grande mancha do Complexo Xisto-Grauváquico do Grupo das Beiras, “Xisto das Beiras”. Este complexo encontra-se deformado e metamorfizado. Em finais de 1948, aquando dos trabalhos subterrâneos, foi intersetada uma intrusão de greisen que não aflora. A zona Este da área mineira coincide com apresença de uma auréola de metamorfismo de contacto, com xistos argilosos mosqueados devido à presença de blastos de biotite e clorite, e menos frequentemente de

quiastolite e cordierite, interpretada devida a uma intrusão granítica não aflorante (Thadeu, 1951).

A mineralização de W-Sn(Cu) ocorre principalmente em filões de quartzo, sub-horizontais com possança média de 30 cm, com uma associação mineral que se caracteriza por um importante desenvolvimento de fases pneumatolíticas e hidrotermais que levaram à formação de zonas ricas em cassiterite, embora não comparáveis às de volframite, e a uma particular acumulação de sulfuretos (Conde et al., 1971; Kelly & Rye, 1979).

Os minerais, objeto da exploração, são a volframite, a cassiterite e a calcopirite, estes dois como subprodutos.

3. Amostragem

A escolha dos locais para a campanha subterrânea de amostragem com fins geoquímicos, teve por base áreas com potencial reconhecido de estanho (Sn) e volfrâmio (W).

Selecionaram-se 4 locais de amostragem, três em desmontes, a diferentes distâncias da cúpula conhecida (Fig. 2), sendo dois no Nível 1 (620 m), um no Nível 2 (560 m) e outro na área da cúpula, no Nível 1.

Os desmontes do Nível 1 correspondem ao AW11 e ao AW13, da área norte e sul da mina, respetivamente. Do Nível 2 foi escolhido o AW23 que se localiza 30 m abaixo do AW13. Sendo desmontes em desenvolvimento, portanto já com pilares 11 m x 11 m definidos, as amostras foram

Distribuição do estanho no Jazigo da Panasqueira 831

colhidas nos hasteais norte e poente de cada pilar. Foram colhidas amostras, tanto em filão, como em encaixante, isto é, uma amostra em filão, e duas em encaixante, a teto e a muro da zona de filão amostrada.

Deste modo para o desmonte AW11 foram colhidas 32 amostras em filão e 44 amostras em encaixante. Para o desmonte AW13 foram colhidas 39 amostras em filão e 66 amostras em encaixante. Para o desmonte AW23 foram colhidas 47 amostras em filão e 58 amostras em encaixante.

A cúpula de greisen apenas está cartografada e acessível em dois Níveis da Mina, no Nível 1 (620 m) e no Nível de drenagem das águas (530 m), contudo a amostragem incidiu apenas no Nível 1, devido à impossibilidade de acesso ao Nível 530 aquando da amostragem.

A amostragem estabelecida na área da cúpula destinou-se à colheita de amostras em locais com filão à vista, tendo em conta que se realizaram colheitas em filão e encaixante, a teto e a muro. Foram colhidas 19 amostras de filão e 20 na rocha encaixante. Na mesma zona foram também coletadas

31 amostras pontuais, segundo uma malha regular de amostragem estabelecida nas galerias base.

Do processo global de amostragem resultaram 356 amostras de rocha in situ, das quais 137 de filão e 219 de rocha encaixante.

Para cada colheita de amostra foram considerados vários parâmetros, com especial atenção para a possança e mineralogia, para o caso dos filões, e do tipo de alteração para a rocha encaixante.

As amostras foram realizadas no Laboratório ALS Minerals (Os limites de deteção dos elementos analisados podem ser consultados em: http://www.alsglobal.com/Our-Services/Minerals/Geochemistry/Downloads), em Sevilha e foram analisadas pelo método ICP-MS para os seguintes elementos químicos: Ag, Al, As, Ba, Be, Bi, Ca, Cd, Ce, Co, Cr, Cs, Cu, Fe, Ga, Ge, Hf, In, K, La, Li, Mg, Mn, Mo, Na, Nb, Ni, P, Pb, Rb, Re, S, Sb, Sc, Se, Sn, Sr, Ta, Te, Th, Ti, Tl, U, V, W, Y, Zn, Zr. O flúor foi analisado por Cromatografia Iónica após fusão.

Fig. 2. Mapa Geral das Galerias Base da Mina da Panasqueira, com Painéis alinhados NNE-SSW e Drives alinhadas WNW-ESE, com destaque para a localização dos quatro locais amostrados (AW11, AW13, AW23 e Cúpula). Fig. 2. General Map of Base Galleries of Panasqueira Mine, with Panels aligned NNE-SSW and Drives aligned WNW-ESE, highlighting the location of the four sampling points (AW11, AW13, AW23 and Cupola).

4. Resultados e discussão

Para o estudo da eventual zonalidade do Sn demos também preferência a elementos que, habitualmente, estão associados a este elemento em sistemas graníticos muito evoluídos e ricos em voláteis. Estes sistemas são em geral enriquecidos em Sn e elementos incompatíveis como F, Li, P, Rb, Cs e Be e empobrecidos em Sr, Ba e Zr, tal como acontece, por exemplo, com o microgranito da Argemela-Fundão (Charoy & Noronha, 1996).

Na tabela 1 estão presentes os valores dos teores, dos elementos acima referidos, encontrados nas amostras de filões e da respetiva rocha encaixante.

Na tabela 2 apresentam-se os teores em Sn, F, Li, P, Rb e Cu no greisen e comparam-se esses valores com os encontrados por Oosterom et al. (1984).

Na tabela 3 comparam-se as composições dos xistos da mina (mosqueados e não mosqueados) com o xisto regional do “Xisto das Beiras”.

Os teores médios em Sn encontrados para amostras de filão, no Nível L1, encaixadas em xisto registam o valor mais alto, 277 ppm, nas amostras mais distantes da cúpula, a cerca de 2000 m, e mais baixo, 47 ppm, nas mais próximas e um valor intermédio de 143 ppm, a cerca de 1000 m da cúpula (Tabela 1).

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O estudo da distribuição relativa dos diferentes elementos entre si e destes relativamente ao Sn quer nos filões quer na respetiva rocha encaixante, revela que os filões registam valores mais baixos em Li, P, Rb, Cs e F que o respetivo xisto encaixante.

Verificou-se ainda que a distribuição do Sn e do F para as amostras de xisto obedecem a uma correlação positiva entre os dois elementos o mesmo acontecendo, quer para os filões, quer para o greisen (ver Tabelas 1 e 2).

Ao comparar os teores em Sn e F nos xistos não mosqueados e nos xistos mosqueados, verifica-se que qualquer uma destas litologias possui teores mais altos que os do xisto regional (Tabela 3). Por outro lado, o xisto não mosqueado possui teores mais altos que o mosqueado, quando o expectável seria o inverso se se considerar o metamorfismo térmico como contemporâneo da intrusão da cúpula (Tabela 3).

5. Conclusões

Verifica-se que a mineralização em Sn não tem uma ligação direta com a proximidade à cúpula conhecida. Pelo contrário, considerando a análise realizada à mesma cota (Nível 1-620 m), nota-se que há um acréscimo de aproximadamente 3 vezes mais quando nos afastamos da cúpula para o desmonte AW11 e deste 6 vezes para o AW13. Onde se conclui que a zonalidade é inversa, e que a mineralização em Sn tem tendência a aumentar de NE para SW da mina, isto é, de pontos mais próximos para pontos mais afastados da cúpula conhecida.

Comparativamente ao “Xisto das Beiras” regional, os xistos não mosqueados e os xistos mosqueados, na zona da mina, possuem teores mais altos de Sn, F, Li e P.

Em conclusão os valores mais altos em Sn comprovados na zona sul da mina estarão relacionadas com uma intrusão granítica, que implicou, também, valores mais altos de Sn, F, Li, P e Rb nos xistos envolventes e que não é intersetada pelos trabalhos subterrâneos.

Tabela 1. Composições médias representativas dos elementos traço dos quatro locais amostrados, em filão e rocha encaixante. Valores em ppm.

Table 1. Representative average compositions of trace elements of the

four sites sampled in vein and host rock. Values in ppm.

Tabela 2. Comparação das composições médias representativas dos

elementos traço em greisen do presente estudo e o de Oosterom et al. (1984). Valores em ppm.

Table 2. Comparison between the present study and the Oosterom et al. (1984) for the representative average compositions of trace elements in greisen. Values in ppm.

Tabela 3. Comparação da média representativa dos elementos selecionados do presente estudo entre os xistos da mina (xisto mosqueado e não mosqueado) e o xisto regional do “Xisto das Beiras” de Oosterom

et al. (1984). Valores em ppm.

Table 3. Representative average compositions of selected elements for the present study between the mine schist (spotted and unspotted schist) and

the regional "Beira’s Schist" from Oosterom et al. (1984). Values in ppm.

Agradecimentos

À Sojitz Beralt Tin & Wolfram (Portugal) S.A., por todas as condições concedidas para a realização deste trabalho. F. Noronha foi apoiado através do projeto estratégico da FCT “PEst-OE/CTE/UI0039/2011”.

Referências Bloot, C.K, Wolf, L.C., 1953. Geological features of the Panasqueira tin-

tungsten ore-ocurrence (Portugal). Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, 11(1), 2-75.

Bussink, R.W., 1984. Geochemistry of the Panasqueira Tungsten-Tin Deposit, Portugal. Tese de doutoramento, Instituut voor Aadwetenschappen der Rijksuniversiteit te Utrecht (unpublished), 170 p.

..Charoy, B., Noronha, F., 1996. Multistage growth of a rare-element, volatile-rich microgranite at Argemela (Portugal). Journal of Petrology, 37(1), 73-94.

Conde, L.N., Pereira, V., Ribeiro, A., Thadeu, D., 1971. Jazigos Hipogénicos de Estanho e volfrâmio. I Congresso Hispano-Luso-Americano de Geologia Económica. Direção Geral de Minas e Serviços Geológicos. Lisboa.

D’Orey, F.C., 1967. Tungsten-tin mineralization and paragenesis in the Panasqueira and Vale de Ermida mining districts, Portugal. Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, 52, 117-167.

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