Estrategia de Globalizacao para PMEs
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Estratégia de Mundialização para PMEs
A inserção das pequenas e médias empresas no mercado
mundial
Livro Completo disponível em Clube de Autores (Brasil):
http://clubedeautores.com.br/book/4452--Estrategia_de_Mundializacao_para_PMEs
Ou, www.lulu.com para entrega globalmente,
Impresso ou em pdf:
http://www.lulu.com/content/7703741 (En Español)
http://www.lulu.com/content/7699600 (Em Português)
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Copyright © 2005, Mário Luís Tavares Ferreira e Mário Luís Magnani
Crédito da fotografia: TheZionView em Flickr.
Mário Luís Tavares Ferreira - cursou Engenharia Eletrônica, Gestão de Sistemas de Informação, extensões em Negociação, Estratégia e Gestão de Pessoas e MBA em Gestão Estratégica. Empresário há 25 anos e com experiência de 29 anos na área da Tecnologia da Informação e 15 anos em negócios internacionais. Blog: http://empreendedorglobal.wordpress.com Mário Luís Magnani – cursou Análise de Sistemas, Gestão de Sistemas de Informação e MBA em Tecnologia da Informação aplicada à Gestão Estratégica com especialização em empreendedorismo na Babson School. Profissional da área da Tecnologia da Informação há 20 anos e escritor de vários artigos sobre globalização e problemas político-sociais do Brasil e do mundo. Blog: http://revistapanorama360.wordpress.com/
Ficha Catalográfica
Ferreira, Mário L. T. Estratégia de Mundialização para PMEs: A inserção das pequenas e médias empresas no mercado mundial / Mário Luís Tavares Ferreira, Mário Luís Magnani.– 1 ed. – São Paulo: Clube de Autores, 2009. 250 p.; 21cm. Inclue bibliografia ISBN 1. Redes de Negócios. 2.Globalização. 3.Planejamento Regional. 4.Desenvolvimento Sustentável. 5. PME. 6.Arranjos Produtivos Locais. I. Magnani, Mário L. II.Título
CDU 334.78
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Índice
Introdução 6
Aspectos Históricos da Globalização 10
Desenvolvimento Econômico e Social Desequilibrado
O Caos e a Complexidade do Mundo Atual
A Queda do Império
Re-Equilíbrio das Forças Globais
Mudanças Sociais, Humanas e Organizacionais
A Tecnologia em Favor da Globalização
Mundialização para PMEs
Resultados da Mundialização das PMEs
Conclusões 31
Referências Bibliográficas 35
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Introdução
O que nos levou a escrever este livro, após acompanhar, por mais de uma
década, o desenvolvimento da pretensa inserção econômica e social, propagada
pelo modelo de Globalização implementado, foi a constatação da frustração
parcial de seus objetivos.
As idéias, aqui expostas, estão baseadas nos fatos políticos, econômicos,
sociais e em toda uma história que vem sendo contada há muito tempo e que,
desde o final do século XX, tem sofrido mudanças constantes e tornado a
própria História mais dinâmica.
Procuramos explorar as causas dessas mudanças, entre elas, a revolução
tecnológica que tornou disponível a informação para o mundo, diminuiu as
distâncias entre os países, influenciou a cultura destes, e tornou-se um dos
principais instrumentos de difusão de um mundo globalizado.
O resultado da nossa reflexão está apresentado neste livro, para discussão
e aprimoramento, sobre como tornar possível o usufruto dos benefícios da tão
propagada Globalização, que só atende a uma minoria de privilegiados e que
está aumentando a concentração da riqueza nas mãos de poucos.
Uma das constatações é que a ferramenta tecnológica e a própria
Globalização ainda são subutilizadas pelos pequenos empreendedores,
produtores e prestadores de serviços, seja por falta de conhecimento ou de uma
assessoria que lhes mostre o caminho para tornarem-se conhecidos
mundialmente e usufruírem as vantagens da Globalização.
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Pensamos, então, como poderia ser feita a Globalização “reversa”, sem
um controle central, institucional e governamental, na qual os pequenos
empreendedores poderiam usufruir da Globalização ou Mundialização, como
será chamada, quando enfatizarmos o aspecto humano e social do processo.
Dentro desta proposta, mostraremos como o capitalismo, ou, como hoje é
chamado, o sistema de mercado, é um sistema decadente pelo próprio conceito,
no qual, durante décadas, se baseou o desenvolvimento industrial e o consumo,
ou seja, morre por si só. Em vez de ser autoalimentador e auto-regulador, como
muitos imaginam, acaba sendo, sim, um alimentador dos problemas sociais, dos
países pobres, em benefício, principalmente, das organizações financeiras e dos
oligopólios dos países ricos, deixando-nos a dúvida de por quanto tempo esse
sistema ainda sobreviverá.
Não pretendemos, porém, simplesmente criticar a ação desta ou daquela
economia ou sistema econômico, nem os regimes políticos, adotados por este ou
aquele país, muito menos comentar todas as razões das divergências sociais,
políticas e religiosas que possam existir. Mas pretendemos evidenciar que a
Globalização, no modelo atual, pode ser a última tentativa da minoria que tem o
domínio econômico mundial, para salvar o sistema capitalista, com a
propagação das idéias do neoliberalismo econômico, através da busca de novos
mercados, que ainda não estejam saturados pela sede de acumulação de riqueza,
necessidade criada e maximizada pelo próprio capitalismo, nos últimos anos.
Temos, também, de considerar que essa busca de mercados, como é
praticada na atualidade, ignora as culturas e a evolução de cada sociedade e as
suas raízes, que serviram de base para a sua formação. Não podemos, também,
deixar de mencionar que esta obra, assim como tantas outras publicadas após o
11 de setembro de 2001, leva em consideração a mudança comportamental e
conceitual provocada nas comunidades envolvidas naquele fato, bem como
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outros acontecimentos que ficaram marcados como resquícios ou retaliações a
partir daquela data, não sendo por acaso que tantos autores a referenciam em
suas obras que abrangem o contexto mundial.
A Globalização, em si, é um processo muito interessante que trará
benefícios à Humanidade, desde que seja implementada de forma equilibrada e
que siga os princípios e valores universais de direitos humanos, com respeito e
preservando a individualidade e dignidade do próximo.
Esperamos que os leitores entendam esta obra como uma ferramenta de
colaboração, que permita um melhor entendimento dos componentes que regem
o mundo globalizado e como suas ações afetam o comportamento
macroeconômico e social de todo o planeta. Devemos, porém, ter ciência de que,
pensando-se em tempo histórico, essas mudanças do mundo atual ocorrem num
brevíssimo período de tempo.
Pretendemos exercitar a idéia de que a Globalização pode ser utilizada de
maneira contrária à que é implementada hoje, isto é, de cima para baixo, imposta
pelos grandes e engolida pelos pequenos. O crescimento global deve permitir
um espaço, também, para os pequenos empreendedores, fortalecer a economia
mundial, diminuir as distorções sociais e colaborar para um mundo melhor, em
todos os seus aspectos.
Iniciamos a nossa proposta, após uma exposição do contexto mundial, de
como podemos tornar a Mundialização em um processo democrático, que
permita a participação de todas as camadas sociais e, de como, com a utilização
dos meios tecnológicos disponíveis, podemos fazer para que os pequenos
empreendedores, em todo o mundo, possam usufruir os benefícios da
Globalização, permitindo que se desenvolvam eqüitativamente, sem perderem
sua identidade, e obtenham vantagens de suas diferenças regionais. Essas
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diferenças regionais devem ser consideradas como um fator positivo, uma
vantagem comparativa, e como um ponto forte que deve ser realçado.
O desenvolvimento do empreendedorismo é um fator decisivo para o
sucesso do novo milênio. Com o aumento do desemprego, da flexibilização das
leis do trabalho e do incremento da produtividade das empresas, as ações
autônomas dos cidadãos tornaram-se mais freqüentes e os valores da autonomia,
autogestão, responsabilidade e iniciativa são cada vez mais valorizados tanto
intracompanhias quanto extracompanhias. O que nos conduz, novamente, aos
pequenos empreendedores e à necessidade de sua sobrevivência e de seu
desenvolvimento.
Com esta colaboração esperamos proporcionar mais uma opção, ou abrir
espaço para a discussão de um modelo global justo. Que seja econômico e
socialmente responsável, democrático e viável, para inserção de todos, e que crie
um vetor para a diminuição das diferenças globais de distribuição da riqueza.
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Aspectos Históricos da Globalização
Ferreira
Apresentamos um pequeno histórico do desenvolvimento econômico e
comercial mundial do final do século XIX e do século XX, para que, das ações e
experiências observadas, tenhamos uma visão do que ocorreu, do que de
positivo observamos e do que contestamos, de forma que nossa sugestão de
inclusão, de pequenas e médias empresas, possa ser compreendida por todos os
leitores. Com esta exposição inicial será possível observar a nossa linha de
raciocínio e os pontos que serão abordados no decorrer do trabalho, assim como
entender nossas indicações para a correção do rumo de várias distorções, que
são provocadas pela Globalização.
Se fôssemos comentar amplamente sobre o histórico da Globalização,
não como definida de maneira unilateral pelo sistema econômico dominante,
mas, de acordo com suas origens, deveríamos remontar aos fenícios, aos
venezianos, à época dos descobrimentos e expansão dos impérios de Portugal e
Espanha, ao mercantilismo holandês, ao imperialismo inglês e francês, entre
outros, o que tornaria este trabalho extenso e eclipsaria o objetivo primordial de
fornecer algumas idéias e sugestões aos pequenos empreendedores para sua
inserção no mundo global.
Por isso, essa restrição aos últimos acontecimentos políticos, econômicos
e sociais, para que, no desenvolvimento deste livro, possamos analisar suas
conseqüências no mundo atual.
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Continuaremos a utilizar o termo Globalização em vez de Mundialização,
pois, na nossa perspectiva, o primeiro está mais interligado ao desenvolvimento
econômico-financeiro e à prospecção dos mercados pelo capital especulativo,
que é um dos pontos propagados pelo neoliberalismo. Utilizaremos o termo
Mundialização nos capítulos finais, focando mais o aspecto humano e social e
de equilíbrio na distribuição de riqueza e conhecimento, fato que, na realidade
atual, estamos longe de observar.
Outro aspecto importante é ter uma visão da linha do tempo, dos fatos
ocorridos seqüencialmente e de suas implicações no desenvolvimento dos
países, para se ter uma perspectiva do desenvolvimento global. Também, no
decorrer do nosso trabalho, serão citados eventos para o relacionamento de
causa e efeito, que, sem uma perspectiva no tempo, tornaria difícil o
desenvolvimento do raciocínio. Assim como dificultaria elaborar as respostas
para as perguntas, abaixo sugeridas, importantes para o entendimento dos
movimentos e forças globais.
Se os Estados Unidos continuarem a desvalorizar o dólar, em relação ao
euro, quais serão as implicações disso para os pequenos empreendedores
europeus e americanos?
Aceito o acordo, da entrada do Brasil no âmbito da ALCA, dentro das
prerrogativas americanas de abrir o mercado para serviços, tecnologia e acordos
de propriedade intelectual, quais serão as conseqüências para os pequenos
empreendedores da América do Sul?
Se continuarem os subsídios que os países desenvolvidos concedem aos
pequenos produtores rurais, quais serão as conseqüências para os países em
desenvolvimento?
Quais as conseqüências de a China ter entrado na Organização Mundial
de Comércio – OMC, para o comércio mundial?
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A invasão do Iraque não teria relação com a decisão de seu presidente de
trocar as suas reservas de “petro-dolares” por “petro-euros”, ou com a
importância geopolítica e econômica do Iraque?
Se o objetivo é propagar a democracia e liberdade, por exemplo, no
Iraque, por que, então, não foi invadido o Sudão, ou a Nigéria, ou, ainda, por
que não se ajudou Timor antes do quase extermínio de sua população pelas
milícias da Indonésia?
O consenso de Bretton Woods e, na seqüência, a fundação do Fundo
Monetário Internacional – FMI, do Banco Mundial (BIRD, Banco Internacional
para a Reconstrução e o Desenvolvimento) e do Banco de Compensações
Internacionais (BIS, Bank of International Settlements) sob a coordenação dos
Estados Unidos, implicaram em quais conseqüências, para o resto do mundo?
O entendimento destes pontos, e outros, sem nos aprofundarmos em
teorias econômicas, é importante para entendermos o mundo atual, as tendências
que estão surgindo, e quais as possíveis hipóteses para os pequenos
empreendedores.
Iniciamos, portanto, nossa exposição, a partir do século XIX, com a
revolução industrial. Naquela época houve importante incremento e aceleração
do progresso técnico, principalmente, na Grã-Bretanha que, concomitantemente,
aproveitou para expandir seu império comercial e territorial.
Com o aumento da produção e do mercado, o império britânico precisava
modernizar sua política comercial. Fê-lo com a remoção de tarifas protecionistas
sobre produtos agrícolas e, em meados do século, foram removidas todas as
restrições tarifárias e comerciais, unilateralmente. Foi feito um acordo com a
França, chamado de Chevalier-Cobsen, 1860, para liberalizar o comércio, e,
posteriormente, os franceses também o fizeram com outros países europeus.
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Interessante frisar que, nesses tratados, a cláusula de nações favorecidas,
ou seja, a liberalização bilateral, aplicava-se a todos os países com o mesmo
tratado, isto é, existindo o tratado entre França e Grã-Bretanha, se a França
assinasse com um terceiro país, este terceiro teria a mesma validade, das
condições contratuais, também, com a Grã-Bretanha.
A defesa do livre comércio, pela Grã-Bretanha, era-lhe vantajosa, pois,
na época, estava avançada industrialmente, com grande capacidade produtiva,
com tecnologia e tinha uma moeda forte.
No final do século, todos voltaram atrás, menos a Grã-Bretanha que
continuou com a liberalização, até as primeiras décadas do século XX. No início
dos anos de 1900 o imperialismo da Grã-Bretanha e da França já estava em
declínio e surgiam os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão como potências.
Comentamos estes fatos pela similaridade do liberalismo comercial
anglo-saxão, observado no século XIX, com o que constatamos, no passado
recente, com a dupla Reagan-Thatcher e os neoliberais.
Cabe, ainda, um pequeno parêntese sobre o imperialismo colonial
britânico e a sua liberalização de mercados. Por exemplo, sobre a intervenção
gerada pelos pseudotratados de liberalização. A Grã-Bretanha administrava a
alfândega chinesa para garantir que o país pagaria sua dívida. Outros países, que
não eram colônias, mas tinham os mesmos tratados, eram obrigados a manter as
tarifas baixas, reduzindo sua soberania sobre questões comerciais e garantir
direitos territoriais a estrangeiros (OCDE, 2001). Isso se assemelha, nos dias de
hoje, à atuação do FMI, em suas cláusulas dos contratos de financiamento, com
a supervisão e controle da gestão econômica dos países, onde tem sua
intervenção.
Iniciados os anos de 1900 e o período da La Belle Époque, a época bela,
que se prolongou até o início da Primeira Guerra Mundial, tivemos uma fase de
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crescimento econômico e de prosperidade em todo o mundo. Não foi um
processo equilibrado, mas todos cresceram e tiveram seu PIB aumentado
significativamente em relação a épocas anteriores.
Acontece a Primeira Guerra Mundial em 1914, com o assassinato do
arquiduque da Áustria, Franz Ferdinand, em uma visita à Bósnia, à cidade de
Sarajevo. Deflagra-se o conflito com a declaração de guerra do Império Austro-
Húngaro à Sérvia. A Rússia entra no conflito para apoiar a Sérvia. A Alemanha,
apoiando o Império Austro-Húngaro, declara guerra à Rússia e, posteriormente,
à França. Observou-se, na seqüência, o envolvimento da Grã-Bretanha, dos
Estados Unidos, da Itália etc.
No final da guerra, em 1918, acabaram-se as monarquias absolutistas, na
Europa, e instaurou-se a República de Weimar na Alemanha. A Dinastia
Habsburg terminou, a Áustria e a Hungria tornaram-se repúblicas, assim como a
Polônia, depois de ter sido dominada, por 123 anos, pela Rússia, Áustria e
Prússia. Os Checos proclamaram a independência e foi formado o Estado dos
eslovenos, croatas e sérvios que, mais tarde, unido ao Reino da Sérvia, formou a
Iugoslávia. E, ainda, neste contexto, temos a revolução russa de 1917, com a
abdicação do Czar Nicolau II e a vitória do partido bolchevista de Vladimir
Lenin.
A Primeira Guerra Mundial foi um processo desgastante para os
europeus, pois, além de desarticular economicamente as nações européias, o
aspecto moral e de referência de civilização ficou abalado em todos os outros
continentes.
Os Estados Unidos, na época, já investiam mais, que os europeus, em
tecnologia e em desenvolvimento, principalmente, na pesquisa aplicada, além de
não terem tido seu país afetado pela Primeira Guerra Mundial. Com isso,
obtiveram uma dianteira no desenvolvimento econômico e um posicionamento
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estratégico mundial. Isto é, o eixo econômico muda de Londres para Nova
Iorque.
A economia européia estava desgastada e desarticulada após a Primeira
Guerra Mundial, então, os Estados Unidos financiaram a reconstrução das
economias dos países europeus. Esse financiamento somou-se à dívida, já
existente, do financiamento de recursos utilizados durante a guerra. Os
empresários americanos já não tinham a demanda da guerra dos europeus. Nem
os europeus tinham recursos para continuar a comprar os produtos agrícolas e
industriais dos Estados Unidos, além de terem de pagar os juros e o principal das
dívidas contraídas durante a guerra e mais os financiamentos para reconstrução
dos países.
Os Estados Unidos estavam com a economia superaquecida e não haviam
sofrido os efeitos da guerra. Em 1924, possuíam 45,7% do estoque de ouro
mundial (Eichengreen, 2000). Na época, era utilizado o padrão ouro, isto é,
lastreamento em ouro dos recursos monetários.
No final da Primeira Guerra, os empresários americanos continuaram
investindo no aumento do capital, em indústrias, com lançamento de ações,
gerando uma oferta muito grande sem uma demanda condizente, o que provocou
uma queda nos preços dos bens e um aumento da especulação no mercado de
ações.
Em 1927, o mercado da bolsa de Nova Iorque crescia aceleradamente e o
capital especulativo aumentava, ao contrário do capital produtivo que se
mantinha estagnado. Para controlar essa situação, o Federal Reserve Bank, em
1928, aumentou a taxa de redesconto de 3,5% para 5%, fazendo com que o
capital americano deixasse de sair para o exterior, e provocou, por conseqüência,
que outros países também aumentassem sua taxa de juros para evitarem a fuga
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de capitais. Ocorreu uma reação em cadeia que desaqueceu toda a economia
mundial e iniciou um processo de deflação na economia mundial.
Com a desaceleração da economia mundial, os pagamentos das dívidas e
reparações de guerra tornaram-se difíceis de cumprir. Houve diminuição da
demanda e, por conseqüência, a quebra de pequenos empresários e bancos que,
pela inadimplência dos clientes, não conseguiram manter a solvência. Temos,
então, a crise da bolsa de Nova Iorque, em 1929, e a “Grande Depressão”.
Com referência à quebra da bolsa de Nova Iorque e a quebra de outros
mercados financeiros, empresários e economias, vivemos um “déjà vu”,
recentemente, em escala menor, com a “Bolha da Nova Economia”.
Em 1930, o Hawkey-Smoot Tariff Act, nos Estados Unidos, elevou as
tarifas de importação de mercadorias para um patamar impraticável, o que
gerou reações imediatas dos parceiros comerciais e provocou um
desaquecimento, ainda maior, da economia mundial e o agravamento do
processo de recessão, principalmente, na agricultura americana.
Tivemos a crise do franco, a crise da libra esterlina, e do banco austríaco
Credit Anstalt, que se propagou para a Hungria e Alemanha. A Grã-Bretanha, na
tentativa de manter o valor da moeda idêntico ao período anterior à guerra, zelar
pela posição de centro financeiro mundial e proteger os portadores de títulos em
libra esterlina, causou deflação interna, desemprego e perda de competitividade
nos mercados internacionais.
Houve a desvalorização assíncrona das moedas de vários países, na
tentativa de manterem-se competitivos. Utilizando-se da filosofia do
“empobreça o próximo” – exportações de seus bens e serviços, a preços
comparativos menores em detrimento das produções locais de outros países –,
tentavam manter seu balanço comercial e de conta corrente superavitário, e com
isso evitarem a perda das reservas lastreadas em ouro.
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Só em 1936, com o Acordo Tripartite, França, Estados Unidos e Grã-
Bretanha definiram um controle para a desvalorização das moedas, um sistema
de quotas de importações e de reconstrução do sistema de comércio multilateral.
Aqui, já podemos observar um interesse velado de conter o expansionismo
alemão.
Todos esses fatores tiveram um efeito em espiral, culminando com a pior
recessão econômica mundial da História, na qual os Estados Unidos chegaram a
ter 25% de desempregados, a Grã-Bretanha 20% e a Alemanha, na indústria,
atingiu 44%. Nos Estados Unidos a produção industrial caiu 48% e na
Alemanha, 39%.
O nazismo e fascismo emergiram com a “Grande Depressão”, e as
massas, na procura de um ponto de apoio, uma auto-satisfação nacional,
prosperidade, otimismo, fé no futuro e resgate dos valores existentes na Belle
Époque, foram induzidas com as palavras messiânicas de seus propagadores.
Aconteceu a Segunda Guerra Mundial e, novamente, os Estados Unidos
forneceram suprimentos e materiais aos países aliados, e sua indústria foi
reativada para o “esforço de guerra”. Mais uma vez, a Europa foi destroçada
pela guerra e se fez necessário novamente um plano de reconstrução e o
pagamento de dívidas e reparações de guerra.
Com o final da guerra, a Grã-Bretanha, França, Bélgica e Holanda
tiveram seus impérios coloniais desmantelados e uma série de países, recém-
independentes, surgiram na Ásia e África.
Em 1944, ao final da Segunda Guerra Mundial, assinou-se o Consenso de
Bretton Woods. O plano de reconstrução, apresentado por John Maynard
Keynes, foi, praticamente, aceito na íntegra. O objetivo era criar um sistema
monetário internacional e um sistema bancário sólido, com uma moeda não
atrelada ao padrão ouro. Para tal, criou-se o Fundo Monetário Internacional
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(FMI), que deveria funcionar como um agente de pagamentos internacionais,
tendo como moeda-base, o dólar. Foi criado, também, o Banco Internacional de
Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), mais conhecido como Banco
Mundial, que deveria ajudar a reconstrução da Europa e, depois, as economias
menos desenvolvidas.
Keynes propôs que fosse abandonado o padrão ouro, que o dólar fosse
utilizado como moeda de referência, ao invés da libra esterlina, e que o valor do
dólar fosse atrelado à boa fé e crédito do governo dos Estados Unidos, utilizando
crédito, letras de crédito, avais ou garantias, em vez do ouro ou prata. O
Consenso aprovou o plano básico de Keynes, mas o preço do ouro foi
determinado pelo valor, anterior à guerra, de US$ 35,00 por onça de ouro. O
dólar seria a moeda de referência mundial e todas as outras moedas seriam
atreladas ao dólar, mantendo, portanto, ainda, o dólar uma referência ao ouro.
Após o consenso de Bretton Woods foi produzido o Plano Marshall, pelo
qual os Estados Unidos, entre 1948 e 1952, contribuíram com mais de US$ 13
bilhões de dólares, da época, para a reconstrução da Europa.
Um ano antes, em 1947, o presidente Truman, dos Estados Unidos, havia
declarado a Doutrina de Truman, isto é, a “Guerra Fria”, que prometia suporte
aos “povos livres que estavam resistindo à subjugação por minorias armadas ou
pressões externas”. Isso foi um catalisador do Plano Marshall, para estancar o
avanço do comunismo e influência da União Soviética. Outro catalisador foi o
interesse econômico, devido aos investimentos e empréstimos já efetuados
durante a Segunda Guerra, e que, pela lenta recuperação da economia européia,
poderiam ficar em risco.
O Plano Marshall teve um efeito multiplicador no desenvolvimento
europeu, que rapidamente se recuperou e teve, entre 1948 e 1952, um
19
crescimento industrial de 35%, e a agricultura ultrapassou os níveis anteriores à
guerra.
Em 1948 foi assinado o General Agreement on Tariffs and Trade
(GATT) – Acordo Geral de Comércio e Tarifas que, mais tarde, foi a base para a
formação da Organização Mundial de Comércio (OMC) em 1995, baseado no
princípio da cláusula da nação mais favorecida, que significa que a vantagem
oferecida para um país por outro país deve ser estendida para todos os países
signatários do acordo. A base deste acordo relembra o Tratado Chevalier-
Cobsen, de 1860, citado anteriormente, da liberalização do comércio entre Grã-
Bretanha e França e outros países na seqüência.
No entanto, a finalidade do GATT, na época, não era a do “laissez-faire”,
livre comércio, mas sim a do fair trade, comércio justo (Michalet, 2003). Com
esse compromisso de equivalência de benefícios, para todos os países, evita-se o
bilateralismo e a polarização mercantilista.
Outro objetivo do acordo era, por meio de ciclos de negociações
multilaterais, permitir concessões tarifárias. No entanto, práticas administrativas,
definição de cotas e de normas eram aceitas para proteger o mercado interno dos
países. A prática de dumping era proibida. Os países também utilizariam
cláusulas de salvaguarda, se houvesse grande defasagem no seu balanço de
pagamentos que provocassem déficits e colocassem seus produtores locais em
situações constrangedoras. Os países em desenvolvimento tinham um regime à
parte, pelo qual podiam proteger as suas indústrias em desenvolvimento.
Seguiram-se os “anos de ouro”, com um desenvolvimento ímpar, entre as
décadas de 1950 e 1970, com a política econômica do “welfare state”, Estado do
“bem-estar”, que tinha o objetivo de atingir o pleno emprego e o crescimento
econômico.
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No início da década de 1970 teve início o fantasma da inflação acelerada,
crescimento do desemprego e recessão, isto é, a estagflação. Em 1971, no
governo Nixon, os Estados Unidos resolveram, unilateralmente, não seguir o
Consenso de Bretton Woods e desvincularam o dólar do ouro. Iniciou-se a
adoção do câmbio flutuante entre dólar e as outras moedas, que logo foi seguido
por todo o mundo.
Essa foi a oportunidade para a mudança de políticas econômicas. Os
monetaristas surgiram, com toda a força, e foi abandonada a política econômica
keynesiana. Com isso, os neoliberais tiveram sua ascensão com as políticas de
controle da inflação, da moeda e da baixa dos valores nominais de salários. O
que aprofundou essa mudança de políticas econômicas foram fatores como:
− o colapso da ordem monetária internacional;
− o abandono do dólar com referência ao padrão-ouro;
− mais tarde, os choques do preço do petróleo;
− a elevação unilateral das taxas de juros, mais uma vez, pelos
Estados Unidos, em 1979, provocando uma crise de liquidez dos
devedores em moeda “forte” e a crise da dívida externa da América
Latina, no início da década de 1980.
Ronald Reagan e Margareth Thatcher foram importantes atores da onda
de liberalização, no final da década de 70 e início dos anos 80. Eles
implementaram o neoliberalismo e a desregulamentação de mercados em seus
países e utilizaram instrumentos de política externa para propagar essas
políticas.
Um exemplo dessa política está no Consenso de Washington, de 1989,
que tinha por objetivo “ajudar” as economias da América Latina a superarem a
crise pela qual passavam, e promoverem o seu crescimento econômico.
Resumindo, consistia em sugestões – intervenções – nas seguintes áreas:
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− Política fiscal;
− Reforma tributária;
− Taxas de juros;
− Liberalização do comércio;
− Privatização das empresas estatais;
− Desregulamentação do mercado;
− Remoção das restrições ao investimento estrangeiro;
− Segurança dos direitos de propriedade.
Política que hoje é, também, “recomendada” pelo FMI para os países que
têm seus empréstimos aprovados pelo Fundo.
O “sucesso” dessas políticas dos fundamentalistas de mercado, isto é, dos
neoliberais que pregam que o mercado se auto-regula, e que, quando não se
intervém no mercado, a realocação de recursos é a mais eficaz, obtendo-se,
assim, maior eficiência da economia, pode ser observado nas crises da Argentina
(2001), Brasil (1999), Rússia (1998), Ásia (1997) e México (1994). Em todas
essas crises “evaporaram-se” bilhões de dólares.
Relembrando que os fundamentos da economia – que é uma ciência
social aplicada – baseiam-se no estudo do emprego, da renda, da qualidade de
vida e do desenvolvimento humano, permeados pela complexidade de que as
necessidades humanas são ilimitadas e na escassez de recursos para satisfazer
essas necessidades.
Acreditamos que nenhum desses fundamentos – emprego, renda,
qualidade de vida e desenvolvimento humano – foram atendidos pelo Consenso
de Washington, nem pelas políticas mandatárias do FMI.
Atualizando a definição dos fundamentos da economia, diríamos que, as
necessidades de auferir lucro, bônus e dividendos são ilimitadas – vide Enron,
WorldCom, Arthur Andersen –, assim como parece ilimitado o volume de
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capital especulativo circulando pelo mundo versus soma do PIB dos países.
Deixamos em aberto estes números para aguçar a curiosidade e provocar a
pesquisa.
Voltando à linha do tempo, tivemos a queda do Muro de Berlim em 1989
– fato dos mais importantes do século no seu aspecto econômico, social e
político. Também, com isso, o desafio da integração das duas regiões da
Alemanha, que é uma tarefa árdua, devido à disparidade existente entre as duas
regiões, tanto na cultura e no desenvolvimento social quanto na economia.
Em 1991, tivemos o colapso da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas – URSS, e sua divisão em 15 estados. Interessante frisar que este fato
não gerou nenhuma crise internacional, comercial ou financeira, excluindo-se a
crise do rublo, de 1998. No entanto, o custo dessa mudança para o povo russo, e
das novas repúblicas, foi imenso, pois, seguindo as recomendações do Tesouro
dos Estados Unidos e do FMI, tiveram início a liberalização, a estabilização e a
privatização, sem que antes fosse criada uma infra-estrutura fundamental, com
regulamentações e instituições que fossem capazes de gerir essas ações.
Concluindo, houve um caos generalizado, com inflação, desemprego, corrupção
e desvio de capitais para o exterior.
Tivemos o Tratado de Maastricht, da União Européia, assinado em 7 de
fevereiro de 1992, e ratificado em 1993, que trata da integração européia em
vários aspectos, inclusive, da união monetária para implementação do euro. Não
foi sem percalços que se conseguiu a união monetária, inaugurada em 1999.
Houve crises monetárias durante a década, houve desvalorizações de moedas e
alargamentos da banda cambial, mas, finalmente, em 1999, foi implantado o
euro. Nessa mudança, comerciantes, empresários e banqueiros aproveitaram a
oportunidade para “arredondar” os preços de vários bens e serviços. No entanto,
23
os salários foram matematicamente convertidos em euros. Logo, houve uma
perda real do valor dos salários.
Ratificado pelos congressos dos três países, Estados Unidos, Canadá e
México, em 1994, tivemos o NAFTA, Acordo de Livre Comércio da América
do Norte, que prevê, entre muitos dos seus parágrafos, a eliminação tarifária
progressiva em até 10 anos. Com o acordo surgiram as “maquiladoras”, fábricas
de fronteira, no México, que dirigem toda a sua produção para os Estados
Unidos. Isso durou, enquanto a mão-de-obra barata e o custo de transporte não
superaram os custos de fazer os mesmos produtos em outra parte do globo.
O que aconteceu, pelo que conversamos com pequenos empresários
locais, em 2003, foi uma invasão de empresas americanas e a falência dos
pequenos empresários mexicanos. O desemprego aumentou, assim como o
índice de pobreza e o custo de vida. Por outro lado, gerou o aumento do
desemprego nos Estados Unidos, devido à mudança das unidades fabris para o
México.
Quanto ao Canadá, vamos só repetir um parágrafo do artigo de Altamiro
Borges, que dá a dimensão do que está acontecendo:
O jornal norte-americano The Washington Post, de setembro de 2000, indagou: “Haverá mesmo um Canadá dentro de 25 anos, ou o país vai se tornar, em questões práticas, o 51.o Estado americano?” (Borges, 2002).
Logo, concluímos que uma exaustiva análise da perspectiva da Área de
Livre Comércio das Américas – ALCA é necessária e que sua efetivação só
seja viabilizada com a eqüidade e soberania de todos os Estados participantes. E
enfatizamos, de antemão, que sua concretização só será possível com controle
24
do fluxo do capital especulativo e, também, controle das empresas
transnacionais, com a reavaliação dos investimentos diretos estrangeiros.
Vamos pular as crises México (1994), Ásia (1997), Rússia (1998), Brasil
(1999) e Argentina (2001), sobre as quais fizemos vários comentários, mas
comentaremos sobre seus atores comuns em todas as crises: o FMI e o mercado
financeiro. Citaremos alguns fatos sobre essa governança mundial e
justificaremos o motivo de termos sido incisivos no parágrafo anterior.
Voltemos um pouco no tempo, para 1971. No governo Nixon, foi
abandonada a conversibilidade ouro-dólar e instaurou-se o sistema de taxas de
câmbio flutuantes, o que, conjuntamente com liberação da circulação de
capitais, implicou na procura de obter ganhos com as variações das cotações do
câmbio, entre moedas, ou seja, um incentivo à especulação.
No início dos anos 80 tivemos a dupla Reagan e Thatcher que promoveu
o neoliberalismo e a desregulamentação do sistema financeiro. Nessa
desregulamentação do mercado financeiro houve a descompartimentalização,
titularização e a desintermediação, isto é:
− a descompartimentalização terminava com a divisão entre bancos
comerciais e os bancos de investimento. Houve a expansão dos
“non-bank banks”, que são instituições como os fundos de pensão,
fundos mútuos, companhias financeiras (bancos de grupos como
GM, GE, Ford, Sears, Xerox etc.) e os hedge funds (fundos
especulativos) (Michalet, 2002).
− a titularização é a possibilidade de as instituições financeiras
emitirem, no mercado, títulos representativos dos créditos que
possuem, com o objetivo de tirarem de seus balanços créditos
duvidosos e colocarem esses títulos em fundos de pensão ou
particulares. E mais um conjunto de opções de produtos como:
25
junk bonds, produtos derivados, operações de swap, contratos de
futuro, opções de compra de ações etc.
− a desintermediação foi a soma de medidas de desregulamentação
do setor bancário e financeiro, de liberalização do movimento
internacional de capitais, do aparecimento de novos atores
financeiros e novos produtos financeiros (Michalet, 2002).
Com todas essas ferramentas e liberdade, e com a tecnologia moderna de
comunicação e de transmissão de dados, o mercado financeiro teve, da década
de 90 em diante, uma explosão na sua atuação e na sua influência no cenário
mundial.
Dissemos década de 90 porque houve um fato importante, já
mencionado, que foi o Consenso de Washington, em 1989. Este foi um fato
marcante que originou a “cartilha” que seria seguida pelo FMI e Banco Mundial
no “aconselhamento” aos países que necessitavam de sua ajuda. Foi seguindo
essas regras que tivemos todas as crises financeiras, já mencionadas.
Por que esse interesse tão grande na liberalização dos mercados de
capitais? Um dado: em 1989 – por coincidência, ano de criação do Consenso de
Washington – 27,9% dos ativos financeiros estavam com os lares americanos,
índice que passou a 41% em 1995, e para 50% em 2001, os quais tinham
investido as suas economias, total ou parcialmente, na bolsa (Passet, 2003).
Para ilustrar, na crise do México de 1994, a comunidade internacional
teve dificuldade para reunir os US$ 50 bilhões de dólares necessários para a
ajuda, no entanto, os três maiores fundos de pensão dos Estados Unidos tinham,
sob controle, US$ 500 bilhões de dólares (Passet, 2003).
Antes de continuarmos, e para evitarmos transparecer que somos
contrários à Globalização, gostaríamos de parafrasear Paul Krugman, para
26
apoiar a Globalização quando desenvolvida de forma coerente, não parasita ou
oportunista. Em seu livro “Globalização e Globobagens” ele escreve:
“Ainda que os tubarões capitalistas se aproveitem da Globalização, os
maiores beneficiários são os trabalhadores do Terceiro Mundo”.
Concordamos com a frase, desde que os IDE (Investimentos Diretos
Estrangeiros) sejam efetuados fora das zonas francas, (EPZs, Export Processing
Zones), que haja preocupação social e ambiental – onde quer que o investimento
seja feito – e que não participem ou cooperem com a possível corrupção local.
Um pouco antes, Paul Krugman também escreve:
“... que a questão não é simples, nem as linhas morais são tão nítidas..”
Gostaríamos de comentar que acreditamos que os valores morais, a ética
e os princípios humanitários e de cidadania são universais. Portanto,
discordamos das linhas morais que não sejam nítidas.
Retornando ao desenvolvimento do mercado financeiro, a liberalização
da movimentação de capitais especulativos, por exemplo, faz que uma oscilação
na bolsa de Nova Iorque se reflita em cadeia na de Londres, Paris, Frankfurt,
Tókio. Isto é, o risco sistêmico do sistema que, segundo os ortodoxos, tende ao
equilíbrio, na prática não tem demonstrado isso. Esse sistema nos parece mais
com a Teoria do Caos e Complexidade, onde o bater das asas de uma borboleta,
na Tailândia, pode provocar um tufão no Texas. No caso, um soluço de um
agente, na bolsa de Nova Iorque, provoca um terremoto nas outras bolsas do
mundo, graças à interligação, sincronicidade e ao “risco sistêmico” do mercado.
27
As oscilações das taxas de juros de longo prazo, do Tesouro americano,
influenciam o estado de espírito dos mercados globais, o que torna o mundo
refém da política econômica que mais interessa aos Estados Unidos e ao seu
ambiente de negócios local. Esse tipo de influência não deriva de uma decisão
de consenso de um organismo internacional, com representatividade global,
menos ainda, isento de interesses regionais.
Mais um dado interessante, não muito atual, mas significativo, dessa
evolução da liberalização, é que se estima que cerca de 80% da poupança
mundial são absorvidos pelos Estados Unidos e que, nos últimos dez anos,
portanto, na década de 90, de acordo com artigo de António José A. Nunes, os
onze países mais ricos do mundo absorveram 78% do investimento estrangeiro
global, restando, apenas, 1%, para os mais pobres (Nunes, 2001).
Mais uma questão que gostaríamos de deixar em aberto, é a da
necessidade da existência de paraísos fiscais. Ora, se estamos na era do
neoliberalismo onde foi tudo desregulamentado no sistema financeiro, por que a
necessidade da existência de paraísos fiscais? Está se sonegando de onde e para
quem? Que tipo de liberdade e que tipo de “mão invisível” – imagem metafórica
de Adam Smith – é essa? Não acreditamos que Adam Smith (1723-1790),
escocês, autor do livro “Riqueza das Nações”, considerado o “fundador” da
economia política e de leitura obrigatória por qualquer economista, esteja de
acordo com esse tipo de manobra e subterfúgio financeiro que serve para ações
escusas.
Enquanto escrevíamos este capítulo, em abril de 2005, lemos, em notícia
de jornal, que a União Européia acabou de rever, para baixo, sua projeção de
crescimento para este ano, de 2,0% para 1,6%, e que o preço do barril de
petróleo está com alta de 85% e a Alemanha com uma taxa de 12% de
desemprego, a maior desde o pós-guerra. Enquanto isso, no Japão, os
28
poupadores mantêm mais de 55% de seus ativos financeiros em depósitos
bancários, sem rendimento algum, porque não confiam em sua economia, e, com
isso, a estagnação econômica do Japão continua.
Na outra ponta, temos os Estados Unidos, saltando de um déficit em
conta corrente de US$ 296,8 bilhões, em 1999, para US$ 666 bilhões, em 2004,
o que representa 5,6% do PIB (Banco Mundial, 2005). E, também, observamos a
desvalorização do dólar em relação ao euro, tornando os produtos americanos
mais competitivos no mercado mundial. O Federal Reserve vem aumentando –
posição em abril 2005 – gradativamente os juros e, com isso, irão aumentar os
spreads pagos pelos países emergentes, serviços da dívida externas etc.
Com a ameaça de inflação, recentemente – abril 2005 –, prevista pelos
analistas, espera-se que o Federal Reserve seja mais agressivo no aumento da
taxa de juros, o que, mais uma vez, repercutirá negativamente nos países em
desenvolvimento.
Resumindo, a Tríade – Estados Unidos, União Européia e Japão – estão
entrando, novamente, em um processo delicado de equilíbrio, tendo a União
Européia em uma situação constrangedora entre o interesse expansionista
neoliberal norte-americano e a estagnação econômica do Japão.
Temos um ator novo entrando no cenário mundial – a China – que irá
desbalancear, ainda mais, esse equilíbrio tênue que estamos vivendo em nossa
economia global. Por falar em atores, antes de terminarmos esta etapa de nossa
apresentação, vamos comentar um pouco sobre as corporações transnacionais.
Segundo a Conferência das Nações Unidas para Comércio e
Desenvolvimento – UNCTAD, um terço do comércio mundial de manufaturas é
realizado intrafirma, isto é, entre as filiais ou com a matriz, da mesma
corporação. Por exemplo, uma indústria automobilística produz o motor no
México, carroceria no Brasil e exporta para os Estados Unidos, em operações
29
dentro da corporação (Ricupero, 2001). Também segundo a UNCTAD, outro
um terço do comércio é realizado em operações entre as companhias
transnacionais ou dessas com terceiros (Ricupero, 2001). Destas duas últimas
constatações, que tal mudar Globalização para “oligopolização” mundial?
Corroborando a afirmação anterior, basta que sejam observadas as
aquisições e fusões dos anos 80 e 90, e verificadas quantas corporações, depois
das fusões e aquisições, fabricam veículos, quantas empresas de produtos
petroquímicos, quantas empresas fabricam pneus, quantas fabricam
semicondutores, quantas dominam o mercado de computadores e software,
quantas fabricam peças de vidro para automóveis etc. O que é perigoso para o
mercado mundial, porque possibilita a criação de cartéis, possibilita o controle
do mercado, cria dificuldades para a entrada de novos entrantes, monopoliza
preços, define padrões de produtos, define o perfil de consumo, permite a
influência política econômica em governos locais etc.
No decorrer deste trabalho, em outros capítulos, iremos comentar um
pouco mais as ações políticas e econômicas, das últimas duas décadas do século
XX, que afetaram e afetam os pequenos e médios empresários do mundo inteiro.
30
(Página em branco. Seguem, aqui, os outros capítulos, no livro
completo)
31
Conclusões
A principal conclusão é que o Mundo foi feito para a maioria e não para
uma minoria. Cabe-nos, portanto, tornar possível o usufruto da nossa casa
global.
Encerramos a apresentação do nosso modelo com uma visão expandida
das influências e interações existentes, demonstrando que tudo o que ocorre à
nossa volta provoca efeitos na nossa microesfera. Este foi um dos motivos da
diversidade de temas tratados neste livro, sem cujas citações, este modelo de
conjuntos de universos não teria significado e sua visão, ou exercício de
imaginação e compreensão, não seria possível.
A perspectiva histórica é necessária para a noção do porquê da existência,
ou evolução, dos mundos referidos. Os fatos históricos – econômicos, sociais ou
políticos – ocorridos principalmente no final do século XX, provocaram
mudanças profundas, que foram realçadas e aceleradas pela evolução
tecnológica. Com a linha de tempo apresentada, procuramos fazer uma
reavaliação das ações que ocorreram e o entendimento dos motivos que levaram
a essas ações. Assim como voltar no tempo e analisar, de forma criteriosa e
analítica, como se desenvolveu a Globalização, a partir da evolução do
capitalismo e das sociedades.
A visão das conseqüências do desenvolvimento econômico-social
possibilitou o desenvolvimento da noção dos fios, suas propriedades e
32
influências entre universos e seus espaços. Com a noção do caos e complexidade
apresentamos a evolução e interação dos universos.
Sem a análise do capitalismo atual e do re-equilíbrio das forças, não
poderíamos explicar a importância do universo das PMEs, no contexto mundial,
para impedir a ruptura do universo do Estado e da política econômica. As
grandes corporações transnacionais são responsáveis por grande parte do
volume de transações comerciais mundiais, no entanto, são as PMEs que
empregam mais e que podem solucionar a questão do desemprego em todo o
mundo. Embora o argumento, anos atrás, de que a evolução tecnológica traria o
aumento do desemprego, o que se constatou foi que o aumento da concentração
de renda e a diminuição do poder de compra da classe trabalhadora é que
aceleraram o crescimento do desemprego.
Sem tratar, primeiramente, do assunto da influência da Internet e do
conhecimento, a explicação das interligações entre os fios das esferas também
ficaria prejudicada. Vimos, também, que a tecnologia, quando bem aplicada,
serve eficientemente para melhorar o bem-estar dos trabalhadores, com uma
melhor qualidade nos bens e serviços, e permite a reciclagem da mão-de-obra e
a realocação de funções, para uma evolução da classe trabalhadora.
Aprofundamos em alguns pontos, na área tecnológica, porque é necessário que
os pequenos e médios empresários tenham alguma familiaridade com esses
termos, pois, ao contrário das grandes empresas, as PMEs não têm estrutura para
manter uma equipe de especialistas em sistemas de informação e comunicação.
Logo, a desmistificação dos termos utilizados foi necessária para permitir que os
dirigentes das PMEs negociem e dimensionem suas necessidades na área de
tecnologia.
O universo das PMEs ainda é pouco explorado e não lhe é dada a devida
atenção pelas empresas fornecedoras de produtos e serviços de tecnologia da
33
informação. No entanto, com o esgotamento do mercado de grandes clientes, e
de grandes sistemas de informação, as empresas de tecnologia estão adaptando
seus sistemas para atenderem às PMEs. Isso trará novas soluções e
possibilidades, brevemente, para atendê-las.
Apresentamos uma forma de padronização dos recursos tecnológicos,
com o que há de mais atual na área, e sugerimos uma estratégia de diluição dos
custos, por grupos de PMEs, que permita promover a inserção tecnológica e a
Mundialização destas no universo da Internet, possibilitando, assim, um
desenvolvimento auto-sustentável e permanente dos pequenos e médios
empresários de modo independente.
Finalmente, o nosso projeto de Mundialização das PMEs, sem um âmbito
mais abrangente, ficaria como uma apresentação puramente descritiva e não
seria transmitida a verdadeira e decisiva importância da atuação das PMEs como
agentes da Mundialização.
Esperamos, simplesmente, iniciar uma discussão de um novo modelo,
para que se observe e analise a integração entre os diversos elementos que
compõem o nosso mundo virtual e real.
Desta análise num todo indivisível e ininterrupto, que é o mundo em que
vivemos, qualquer compartimentalização que fizéssemos iria induzir em desvios
dos resultados que pretendíamos obter com este trabalho.
Deixamos em aberto, para posteriores desenvolvimentos, análises
quantitativas, matemáticas e econômicas que podem ser geradas deste modelo,
pois se abríssemos ainda mais o escopo deste trabalho para atender às análises
quantitativas, torna-lo-íamos demasiadamente extenso.
Com esta forma de análise espacial dos universos que nos rodeiam, nossa
intenção é a de provocar a visão espacial e holística dos empreendedores. E
provocar, também, a percepção da causa e efeito, para a percepção de que o
34
bater das asas da borboleta no Paquistão pode criar, realmente, um ciclone no
Texas. Com tudo isso, despertamos para a sensibilidade de que ninguém está
sozinho e solitário neste mundo onde somos uma grande comunidade. E esta
comunidade só evoluirá, se o espírito for igualitário e preocupado com o meio
ambiente e com o próximo. Pensar no desperdício, dentro da sua pequena esfera,
que pode tirar a oportunidade de existir de outra pequena esfera, em outro lugar
do mundo. O desperdício e o uso indevido dos recursos naturais são como a
dissipação de energia que, segundo as leis da Termodinâmica, é um processo
irreversível.
Principalmente, para as PMEs, o nosso intuito é que sintam seu potencial
e sua importância no contexto mundial, que se posicionem mais fortemente no
cenário internacional e possam atuar de forma sistêmica, pois o sistema é mais
do que a soma das partes. Isto é, as PMEs têm muito mais “energia”, força, se
atuarem em conjunto do que individualmente.
Ao terminar este livro, na realidade, o trabalho apenas começou. Esta
iniciativa só surtirá efeitos com ações, eventos e processos. Esperamos
contribuir para o despertar desse trabalho organizado das PMEs. Este, sim, será
a maior realização deste trabalho.
35
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