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8/16/2019 Estetica Historia Arte 1 http://slidepdf.com/reader/full/estetica-historia-arte-1 1/22  Jurema Luzia de Freitas Sampaio e Luciana Finco Mendonça Estética e História da Arte

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 Jurema Luzia de Freitas Sampaio e

Luciana Finco Mendonça

Estética e História da Arte

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SumárioCAPÍTULO 1 – O que é estética? ....................................................................................01

Introdução ....................................................................................................................01

1.1 Parâmetros de Estética ..............................................................................................01

1.1.1 Polivalência da Estética ....................................................................................01

1.1.2 Parâmetros clássicos de composição estética ......................................................03

1.1.3 Parâmetros básicos de composição estética ........................................................05

1.1.4 Princípios de organização da composição ..........................................................06

1.2 O Belo ....................................................................................................................07

1.2.1 Beleza na Filosofia da Arte ..............................................................................07

1.2.2 Beleza e Sensação ..........................................................................................08

1.2.3 Beleza e Forma ..............................................................................................09

1.2.4 Beleza e atitude estética ...................................................................................10

1.3 O Feio ....................................................................................................................111.3.1 O Mal e a Fealdade .......................................................................................11

1.4 Relações entre Arte, Beleza e Estética .........................................................................14

1.4.1 O que é Arte? .................................................................................................14

1.4.2 O Poder da Arte ..............................................................................................14

Síntese ..........................................................................................................................17

Referências Bibliográficas ................................................................................................18

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Capítulo 1

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IntroduçãoNesse primeiro capítulo vamos discutir alguns conceitos de Estética, a partir de conceitos filosó-ficos e conhecer os principais parâmetros de distinção artística. Mas, você saberia definir exata-

mente o que é Estética? A propósito, existe uma utilidade para a Estética?Para responder a essas questões vamos percorrer pelas principais obras da Filosofia ocidental quese dedicam à compreensão da Estética e, consequentemente, da Arte. Primeiro, vamos verificar ossignificados mais comuns de estética que, frequentemente, são empregados no cotidiano. Dessamaneira, poderemos identificar os pontos em comum entre a perspectiva filosófica e a comume, assim, compreender os diferentes significados que o termo adota, de acordo com o contexto.

Em seguida, vamos conhecer os parâmetros estéticos a partir da noção de equilíbrio, escala,dominância e harmonia. A partir do entendimento desses elementos vamos discutir a construçãodos conceitos de beleza e feiura e como suas diferentes formas de concepção interferem no gostoe nas preferências das pessoas. Entendendo que bonito ou feio admitem diferentes concepções,devemos questionar sobre as variáveis que determinam o que é bonito ou feio em nossa socieda-

de. E, finalizando o capítulo, vamos analisar as intersecções entre a beleza, a estética e a arte ecomo esses elementos influenciam – e são influenciados – na sociedade contemporânea.

 Vamos começar?

1.1 Parâmetros de Estética

Em muitos lugares e em diferentes situações utilizamos o termo estética, em geral, para nos re-ferirmos à beleza de alguém ou de alguma coisa. Mas, será que o uso do termo como sinônimode belo está correto? Nesse tópico vamos analisar as diferentes concepções sobre a estética e

conhecer os principais significados que ela admite em diversas esferas que compõem o cotidia-no, principalmente, a arte.

 A qual ificação das coisas e das pessoas pela sua beleza, feiura ou estranhamento é bastanterecorrente. Entretanto, quais são os elementos de composição estética que permitem qualificaralgo como bonito ou feio? Ainda, esses critérios são objetivos fixos e imutáveis? Esses são osprincipais questionamentos que nortearão a discussão desse tópico.

1.1.1 Polivalência da Estética

 Você já deve ter ouvido o termo estética ser empregado em diferentes situações. Mas, afinal,esse termo possui apenas uma definição? Se consultarmos um dicionário, encontraremos três

definições para estética: a primeira refere-se ao campo da Filosofia que se dedica ao estudo dobelo e da beleza artística. Já a segunda, trata da estética como um sinônimo de beleza, relacio-nando a harmonia das formas e/ou das cores. A terceira definição relaciona estética à atividadeprofissional que trata da beleza física de uma pessoa (HOUAISS, 2004, p. 315).

O que é estética?

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Dessa maneira, temos três diferentes concepções e empregos para a estética. A terceira concepçãode estética é, sem dúvida, a mais recorrente no nosso cotidiano. Os profissionais de estética,comumente chamados de esteticistas, são frequentemente requisitados quando as pessoas estãopreocupadas com a própria aparência e querem “melhorá-la”. A segunda concepção relacionaa estética à harmonia das formas e das cores de algo, como quando nos referimos a uma lingua-gem, uma escola ou um movimento artístico, por exemplo, a estética soviética, estética cinema-tográfica e etc. E, por último, a concepção de estética como um campo de estudo específico daFilosofia, que agrega a compreensão da beleza e da arte.

 Apesar da provável distinção, essas def inições se interseccionam em um ponto: todas se referemà aparência de algo. Tanto na concepção filosófica quanto nas concepções populares, a estéticarevela a forma como percebemos alguma coisa. Dessa maneira, podemos compreender que aestética é a maneira como interpretamos e sentimos algo com que entramos em contato. Essecontato ocorre por meio dos nossos sentidos, seja pela visão, audição, paladar, tato ou olfato.

Estética é um derivado do termo grego aisthésis, que significa percepção e sensibilida-de. Portanto, desde a sua origem, a estética se dedica a compreender tudo aquilo quedecorre a partir do contato com o mundo exterior pelo aspecto sensível, como as artes.Dessa maneira, a Estética se constitui em um campo de estudo da Filosofia que abran-ge, entre outros fenômenos, as artes em suas diferentes dimensões, como a produção,a fruição e a recepção da obra artística.

 VOCÊ SABIA?

Entretanto, ao contrário das concepções populares, a estética filosófica (ou apenas Estética), nãose detém, exclusivamente, à compreensão da aparência das coisas ou na definição dos critériosdo que é ou não bonito. Pelo contrário, a Estética é um campo que abarca uma série de teoriasque busca entender algumas questões como: a) o que é a beleza?; b) como foram construídos oscritérios de beleza em voga em determinados contextos?; c) porque algo nos parece agradávele, portanto, bonito?; d) qual a mensagem transmitida quando algo é qualificado como belo?Perceba como cada um desses questionamentos são extremamente difíceis de serem respondidoscom exatidão justamente por mobilizarem critérios subjetivos.

Portanto, de maneira geral, a Estética discute e busca sistematizar os critérios pelos quais julgamosa aparência das coisas. E é importante esclarecer que ela se dedica ao estudo dos critérios de jul-gamento das aparências e não ao mero julgamento pela aparência. Pode não parecer evidente à

primeira vista, mas existe uma enorme diferença entre as duas afirmações. Em vez de julgar pelaaparência das coisas, a Estética pretende compreender o porquê da aparência de algumas coisasdespertarem sensações específicas nas pessoas, desencadeando os diferentes julgamentos.

 Alexander Gottl ieb Baumgarten (1714 – 1762) foi um filósofo alemão a quem se cre-dita a “paternidade” da Estética como campo de estudos da Filosofia. Em seu trabalho“Meditações Filosóficas Sobre as Questões da Poética”, publicado em 1735, Baumgar-ten introduziu e desenvolveu o termo estética e, posteriormente, desenvolveu uma obra

totalmente dedicada ao tema, intitulada Estética (1750).

 VOCÊ O CONHECE?

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De maneira geral, a discussão proposta pela Estética, sobre os critérios de julgamento da apa-rência das coisas, remete a dois conceitos evocados com frequência no nosso cotidiano: a belezae a feiura. Mas o que é o belo e o que é o feio? Antes de adentrarmos nessa discussão, vamostentar compreender os principais pontos que nos levam a julgar alguma coisa como bonitaou feia. A seguir, vamos conhecer e discutir alguns desses elementos que podem legitimar umjulgamento sobre a aparência de algo e recorrentemente utilizados em diferentes composiçõesestéticas, sejam de natureza artística ou arquitetônica.

1.1.2 Parâmetros clássicos de composição estética

Como dito anteriormente, existem alguns elementos que possuem a capacidade de legitimar  um julgamento sobre a aparência de algo e que, consequentemente, influenciam fortemente nacomposição artística e arquitetônica. Entretanto, os critérios de legitimação da beleza (Estética)também se empregam à arte, como é o caso da chamada “arte Kitsch” ou quando nos referimos

à distinção entre arte erudita e arte popular. Logo, para compreendermos o processo de qualifi-cação dos critérios de beleza, pensemos nos diferentes processos de validação da arte, segundoOcvirk et al. (2014). Comecemos, então, conhecendo os três componentes básicos de uma obrade arte: tema, forma e conteúdo.

Entende-se por tema como o “o quê”, ou melhor dizendo, o tópico, o foco ou a imagem quecompõe a obra. Por exemplo, nas artes visuais os temas se referem a objetos, pessoas ou ideias.

 A representação do visível e do material, como objetos e pessoas, compõe o rol das imagens ob-jetivas ou figurativas, que costumam ser facilmente identificáveis e possuem estreita relação como mundo real. Em contrapartida, as ideias e sentimentos são frequentemente representadas nasartes por abstrações. Nesse caso, o tema pode se revelar à primeira vista com facilidade para oapreciador, uma vez que a obra não é composta, necessariamente, de representações realísticas(OCVIRK et al., 2014, p. 8).

Há autores que trabalham com uma linha evolutiva da abstração, como apresentado na figuraa seguir:

Estilo totalmente

representativo

com detalhes

específicos

(muito objetivo).

Objeto

fisíco como

referência

Estilo

representativomas com ênfase

na essência

emocional, não

em detalhes

específicos

(mais subjetivo).

Estilo parcialmente

representativo,

mas simplificado

e com ajustes.

Estilo baseado emum objeto físico,

mas simplificado

e com ajustes

para parecer

não figurativo.

Estilo não

representativo,

iniciado sem

qualquer referência

a um objeto

físico. Baseado

puramente no

desenho.

A forma e o

conteúdo atuam

como tema.

Abstração

não figurativa

Abstração

figurativa

Abstração

Semi-

AbstraçãoRealismo

A Evolução da Abstração

Naturalismo

Figura 1 – A evolução da abstração.

Fonte: Ocvirk et al, 2014.

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Estética e História da Arte

 As diferentes concepções de beleza motivaram diversos estudos sobre o tema, que po-dem ser divididos em duas grandes correntes teóricas. Uma delas o objetivismo estéti-co, que compreende que os próprios objetos são dotados de propriedades (formas) quelhes caracterizam como belos. Em contrapartida, os adeptos do subjetivismo estéticoacreditam que a beleza não está nas coisas, mas nos sujeitos que a apreciam.

 VOCÊ SABIA?

Já o conteúdo se refere ao “porquê”, ou seja, a intenção do artista, a comunicação ou o signifi-cado por trás da obra. Isso equivale à mensagem ou o estado de espírito do artista ao elaborara obra e a sua interpretação pelo apreciador. Em geral, o conteúdo é o elemento da arte maisdifícil de apreender, uma vez que ele depende combinação da experiência do apreciador à sua

percepção do tema e das formas que compõem a obra. O ideal é que a interpretação do apre-ciador esteja alinhada aos propósitos do artista, porém, isso nem sempre acontece devido às va-riáveis contextuais que podem interferir no processo de apreciação (OCVIRK et al., 2014, p. 9).

Contudo, dos três componentes básicos da arte, o que mais nos interessa é a forma. Com issonão estamos desvalorizando os outros elementos, pelo contrário, a partir da análise e da com-preensão da forma, conseguimos ter indícios sobre o tema e o conteúdo da obra. Portanto, aforma pode ser compreendida como “o como”, ou seja, o desenvolvimento da obra, sua com-posição ou materialização. Muitas informações e mensagens podem ser transmitidas a partirda análise de cores, linha, texturas e etc. bem como da disposição dessas informações na obracomo um todo (OCVIRK et al., 2014, p. 9).

Dessa maneira, podemos concluir que forma, tema e conteúdo possuem uma estreita relação.Porém, quando o artista alcança o equilíbrio entre os três componentes de maneira que eles setornem inseparáveis e reciprocamente interativos, pode-se dizer que a obra tem unidade orgâni-ca. Veja o exemplo da Figura 2.

CONTEÚDO“por que”

 TEMA“o que”

FORMA“como”

Figura 2 – Gráfico de representação da combinação equitativa dos elementos em uma unidade orgânica.

Fonte: Ocvirk et al., 2014.

CASO 

 Apesar da unidade orgânica ser o objetivo f inal da maioria das composições artísticas, ela nemsempre segue uma ordem ou hierarquia entre os elementos. Por exemplo, um artista pode pintaruma tela motivado pelo sentimento (conteúdo) despertado pelo contato com um objeto (tema),representado de maneira abstrata, enfatizando as cores e linhas (forma). Nesse caso, o ponto de

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partida foi figurativo, o produto abstrato e há o predomínio da forma na composição, e aindaassim, a obra final pode constituir uma unidade orgânica. Dessa maneira, ao analisar uma obraartística, é preciso considerar dois grupos de fatores que a compõem: os elementos da arte e osprincípios de organização visual, que conheceremos a seguir.

1.1.3 Parâmetros básicos de composição estética

Como vimos anteriormente, analisar a forma é a maneira mais eficaz para apreender o tema e oconteúdo de uma composição, pois ela revela as escolhas feitas pelo artista e que expressam, damelhor maneira possível, a sua mensagem ou sentimento. Ainda, essas escolhas também podeminformar sobre as condições de criação artística de um determinado contexto, como as técnicase tecnologias disponíveis. Mas, quais são os elementos que compõem a forma? Segundo Ocvirket al. (2014), esses elementos são todos aqueles que “dão forma” à obra, que incluem linha, tex-tura, cor, figura e valor tonal. De maneira geral, os artistas e os críticos especializados em artescaracterizam cada um desses elementos da seguinte maneira:

• Linha: é um elemento visível resultante do percurso do ponto em movimento que cruzauma área. As características físicas da linha se relacionam intimamente com os demaiselementos da arte e dependem deles. Podem ser retas, curvas e etc;

• Textura: refere-se a superfície de um objeto, que pode ser sentida ou simular a sensaçãoao toque (áspero, macio e etc.). A textura pode ser produzida por forças naturais ou pormeio da manipulação que o artista faz dos elementos da arte;

• Figuras: são áreas que se destacam de seu entorno por causa dos limites, definidos ousugeridos, seja pela diferença de valor, cor ou textura;

•  Valor tonal: é a percepção da luz para além das cores, ou seja, a reflexão da luminosidade,

o que comumente chamamos de brilho, ou seja, o grau relativo de clareamento ou deescurecimento;

• Cor:  é a resposta visual aos diferentes comprimentos de onda de luz solar, pois tudoacima do violeta (ultravioleta) e abaixo do vermelho (infravermelho) é imperceptível aosolhos humanos.

Figura 3 – Espectro de cores vis íveis.

Fonte: Shutterstock, 2015.

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Esses são os elementos básicos que dão forma à uma obra visual. Porém, a disposição aleatóriadesses elementos não constitui, necessariamente, uma composição. Isso porque a ela pressupõe aorganização equilibrada, harmônica e rítmica dos elementos visuais, como veremos no item a seguir.

1.1.4 Princípios de organização da composição

Como discutido anteriormente, a composição de uma obra visual, seja uma tela, uma esculturaou um projeto arquitetônico, deve obedecer aos princípios básicos de organização, ou seja, a or-denação equilibrada, harmônica e rítmica dos elementos visuais, considerando o espaço disponí-vel. A composição, portanto, deve seguir os sete princípios de organização: harmonia, variação,equilíbrio, proporção, dominância, movimento e economia. Segundo Ocvirk et al. (2014, p. 9),podemos caracterizar cada um desses princípios da seguinte maneira:

• harmonia: pode ser compreendida como a combinação de todos os elementos, baseada

no contraste ou nos padrões da disposição individual de cada elemento que compõe aobra, com o objetivo de criar uma unidade coerente e agradável (OCVIRK, 2014, p.85);

•  variação: é o princípio que busca a harmonia da composição mobilizando a diferençae o desequilíbrio. A variedade é o princípio que combina os elementos com o objetivode complexificar a obra. Tanto nas artes visuais quanto na música a variedade é utilizadade maneira a tornar a obra mais interesse para o apreciador, introduzindo elementosdistintos em cada parte/fase da composição evitando assim a padronização previsível oumonótona (OCVIRK, 2014, p.62);

• equilíbrio:  pode ser definido pela graduação e distribuição dos pesos visuais doselementos que compõem a obra. O equilíbrio interfere no dinamismo visual, incorrendoem composições estáticas e simétricas (padronizadas, frias, relaxantes e cheias de

semelhanças) ou dinâmicas e assimétricas (variadas, quentes, excitantes e cheias decontrastes) (OCVIRK, 2014, p. 64);

• proporção: é o uso de formas e tamanhos que contrastam entre si. Esse princípio refere-se à relação comparativa entre duas partes ou de uma parte em relação ao todo, a partirda concepção de quantidade, grau ou escala. Geralmente, a proporção determina asensação de profundidade (OCVIRK, 2014, p. 73);

• dominância: é a parte da composição que se refere à ênfase e ao peso visual de umelemento na obra. A dominância pode ser revelada na escolha da cor, da linha, da texturae etc., e se relaciona ao contraste e ao ponto focal (OCVIRK, 2014, p. 80);

•movimento: é o princípio que cria a sensação de dinâmica e de velocidade. Na linguagemvisual, o movimento pode ser literal (arte cinética, por exemplo) ou representativo (uso delinhas diagonais, por exemplo) (OCVIRK, 2014, p. 80);

• economia: é o princípio de simplificação da obra, não necessariamente no sentido daabstração, mas de eliminação dos excessos da composição. Isso significa compor comeficiência, sem rebuscamento, de maneira que o conteúdo seja expresso de forma simplese objetiva (OCVIRK, 2014, p. 82).

Sabemos que a análise da disposição dos elementos possibilita a apreensão da mensagem trans-mitida pela obra. Entretanto, como os elementos e princípios da composição podem nos ajudar acompreender os parâmetros de beleza? Primeiro, lembremos que a Estética é o campo de estudoda Filosofia que nos permite compreender os parâmetros de julgamento de beleza. Considerandoque a arte costuma estar vinculada à beleza (observemos o termo “belas artes” para termos ideiadesse vínculo) podemos inferir que a partir da concepção dos parâmetros de composição visual

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pode-se distingui-la das outras coisas. Ainda, assim como os parâmetros de legitimação da arteforam se transformando no decorrer da história, a Estética também se modificou, abarcandonovas teorias e concepções sobre o belo. Adiante, conheceremos um pouco mais sobre essastransformações conceituais.

1.2 O Belo

Conhecidas as diferentes concepções e empregos da estética, nesse tópico vamos nos aprofun-dar nos conceitos básicos que compõe a estética filosófica, ou melhor, a Estética. Já sabemosque a Estética se dedica, entre outros temas, ao estudo dos parâmetros de julgamento da apa-rência, em especial da beleza e das artes. Dessa forma, faz-se necessária a compreensão daconstrução desses conceitos ao longo da história para então compreendermos as relações queela estabelece com as outras áreas do conhecimento.

Nesse tópico serão apresentadas, em linhas gerais, os principais conceitos de beleza elaboradospelos filósofos para compreender como eles interferem nos julgamentos das pessoas e na produ-ção artística. Primeiro, vamos compreender a experiência da beleza, ou seja, as sensações queela nos desperta. Em seguida, trataremos das formas que nos remetem às sensações agradáveisvinculadas à beleza.

1.2.1 Beleza na Filosofia da Arte

 As primeiras discussões sobre o belo foram desenvolvidas pela Filosofia da Arte (um campo deestudo anterior à Estética), especialmente por três autores: Platão (428-348 a.C.), Aristóteles(384-322 a.C.) e Horácio (65-8 a.C.). A partir da obra desses autores foram desenvolvidas duastendências que nortearam as discussões sobre o belo e as artes ao longo da história: a belezaclássica (objetiva, universal e imutável) e a beleza romântica (subjetiva, variável e relativa). Essasconcepções predominaram e influenciaram as obras de alguns movimentos e, apesar de bastantedistintas, também foram combinadas por alguns artistas e suas obras.

 A partir da obra de Platão (428-348 a.C.) é inaugurada a dicotomia entre a essência e a aparên-cia ou entre o sensível e o inteligível. De maneira geral, Platão postula que a essência, ou seja, averdadeira razão para existência, não está nas coisas, mas no mundo inteligível, pois são ideais.O mundo sensível é incerto e está em constante transformação e o que percebemos são apenasaparências, ou imitações imperfeitas das essências. Dessa forma, as artes como representaçãodo mundo sensível (aparente) se revelam imitação da imitação.

Segundo Platão, a beleza é uma ideia, uma abstração. Interessante observar que a etimologiado termo “ideia” se refere à “forma” ou “imagem”. Portanto, aquilo que se julga belo assim o fazdevido à sua semelhança com a ideia racional de beleza. Além disso, o Belo, na concepção dePlatão, está diretamente vinculado à noção do bom e do verdadeiro. Isso significa que, para o fi-lósofo, a aparência parte do mundo sensível, passando pela moral revelada na busca incessantepelo bem, atingindo a esfera intelectual, quando se alcança o mundo inteligível com a apreensãoda essência das coisas. Portanto, a concepção de beleza de Platão possui estreita relação comas esferas moral e política.

 Assim, a arte (expressão da beleza) que não estivesse comprometida com esses preceitos deveriaser subjugada em benefício do equilíbrio da sociedade. Podemos inferir, dessa maneira, quepara Platão a arte possui utilidade prática de servir ao conhecimento verdadeiro (essência) e,portanto, deve mobilizar os recursos abstratos da Matemática, lançando mão das formas ideais(geométricas, por exemplo).

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Estética e História da Arte

 A obra O Banquete, também conhecida como Simpósio, de Platão, aborda temas comoamor a partir da relação estabelecida entre beleza e prazer sensível. Sócrates narra osensinamentos que teria recebido de uma mulher misteriosa e concluem que o amornada mais do que a busca pelo belo. O texto se encontra em domínio público e podeser encontrado em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2279>.

 VOCÊ QUER LER?

 Aristóteles, discípulo de Platão, se contrapõe às ideias de seu mestre em relação à beleza e àsartes. Contudo, Aristóteles se opõe à ideia de que a essência das coisas habita, exclusivamenteo mundo ideal (platônico), mas que estão contidas no mundo sensível. Assim, Aristóteles admiteque a observação e o empirismo, combinados à atenção às coisas sensíveis, são componentes

do conhecimento. A arte, na concepção aristotélica é produto da imitação (mimesis) da naturezapelo homem, que ao copiar a natureza acaba por produzir algo novo.

Lembrando que arte e beleza estão intrinsecamente ligadas na Filosofia, na concepção aristo-télica, o belo não constitui um exemplo moral a ser seguido, pois a beleza pode representarexageradamente tanto um ser de caráter elevando quanto um inferior. Isso significa que para

 Aristóteles o belo incorpora o feio e o repulsivo, ainda que essas sensações não sejam prazero-sas ou agradáveis. Entretanto, apesar do predomínio da discordância entre Platão e Aristóteles,ambos concordam com o uso da Matemática como alternativa segura de representação do belo.

Horácio rompe com boa parte dos preceitos de Platão e Aristóteles. A começar pela sua concep-ção sobre o belo, que se opõe à verdade com a finalidade de promover o bem. Outro ponto em

que o filósofo se distingue de seus antecessores é na questão de aparência e essência. Para Ho-rácio, as formas de representação de objetos (palavras, por exemplo) em nada se assemelham aoobjeto a que se refere, pois elas se referem a significados construídos. Portanto, para decodificaro significado dessas representações é necessário conhecer previamente a estrutura e os símbolosque representam os objetos.

Por exemplo, em um quadro a cor vermelha causa ao apreciador um efeito distinto da cor azul.Para compreender esse fato, segundo Horácio, é preciso saber dessas convenções previamente,pois elas são produto de uma faculdade superior, capaz de controlar o valor de verdade atribuídoa cada uma delas, de acordo com as reações do apreciador. Portanto, a arte implica em instru-ção e ensinamento, pois a sua produção mobiliza saberes complexos.

1.2.2 Beleza e Sensação Assim como estética, a beleza não é um termo facilmente definível. Compreendemos que o ter-mo “estética” assume diferentes concepções quando empregado no sentido popular e filosófico,por exemplo. O mesmo ocorre com o termo beleza. De maneira geral, podemos compreendera beleza como algo que nos agrada, ou seja, algo prazeroso. Mas, será que qualquer coisaprazerosa pode ser considerada bela, no sentido filosófico? Vejamos: o prazer de saciar a fomecom uma refeição bem preparada pode nos ser agradável ao ponto de ser prazerosa, certo?Mas podemos caracterizar esse ato como belo? Portanto, podemos inferir que o belo é um tipoespecífico de prazer, ou seja, a beleza nos desperta uma sensação agradável, peculiar. E qualseria essa sensação?

Segundo os filósofos da antiguidade greco-romana, é possível compreender a sensação como oefeito que tudo ao nosso redor exerce sobre nosso corpo e que sentimos, diretamente. Porém, jádistinguimos as sensações fisiológicas prazerosas – como saciar a fome com uma boa refeiçãoou ao praticar uma atividade física como correr ou dançar – das sensações prazerosas de fruiçãoda beleza. Mas, como elas se distinguem?

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Em primeiro lugar, vamos nos ater à análise da sensação prazerosa fisiológica. Podemos dizerque uma flor é bela, nos referindo à sua forma, mas não podemos dizer o mesmo de seu aroma,por mais que ele nos agrade. Portanto, um mesmo objeto pode despertar sensações prazerosas,mas nem todas as sensações, por mais agradáveis que sejam, podem ser consideradas belas. Issoacontece porque a sensação despertada pela beleza prescinde de uma série de atividades, queincluem a sua apreensão, ou melhor dizendo, sua compreensão ou discernimento. Voltando aoexemplo da flor, o aroma desperta a sensação agradável de maneira passiva, pois não precisamosentender o cheiro para julgá-lo, apenas captamos a sua presença pelo olfato. A resposta sensorialao aroma da flor é praticamente automática, pois nos limitamos a ser influenciados pelo objeto.

Entretanto, quando compreendemos algo como belo, como a flor, nós captamos a sua forma,prestamos atenção e a analisamos, para então julgarmos. Ou seja, ao contrário da sensação,em que os objetos nos afetam e, portanto, somos passivos diante desse contato, na experiênciado belo o que nos causa prazer não são as sensações, mas a atividade de apreensão que exer-cito a partir delas. Na concepção dos autores da antiguidade greco-romana, na apreensão da

beleza a sensação é um dos componentes do julgamento, pois o ponto de partida da atividadeestá no apreciador: ao entrar em contato com o objeto, o apreciador se interessa por ele e passaa analisar a sua forma e cada um dos elementos, como a cor ou as linhas dos contornos, indivi-dualmente ou em relação à composição.

Portanto, segundo os filósofos greco-romanos clássicos, o prazer provocado pelas sensações sedistingue do prazer provocado pela experiência da beleza pela natureza desses fenômenos, pas-siva e ativa, respectivamente. Assim, quando nos referimos à beleza de uma música, de uma tela,de uma obra arquitetônica ou de um jardim, estamos expressando o nosso interesse e a nossacompreensão sobre esses objetos. A experiência do belo trata-se de um prazer decorrente daatenção e da análise objetiva de um objeto, estimulado por sensações que incentivam o pensa-mento e a compreensão de algo. Usando como referência o provérbio “a beleza está nos olhos

de quem a vê”, compreendemos que a apreciação da beleza é uma atividade que se inicia e sedesenvolve em nós mesmos, a partir das sensações despertadas pelo objeto.

1.2.3 Beleza e Forma

Já vimos que na tradição filosófica existem duas tendências analíticas sobre a beleza: a primeira,aristotélica, considera que as principais formas de beleza são a ordem, a simetria e a definição,determinando, portanto, a objetividade da natureza. A segunda tendência, platônica, admite adeterminação da beleza pela experiência do prazer decorrente das sensações.

Lembrando que a forma, na linguagem visual, é composta pelos seus elementos básicos (cor,linha, textura, figuras e valor tonal) organizados de acordo com os princípios de composição (har-

monia, variação, equilíbrio, proporção, dominância, movimento e economia), percebemos comocada uma das perspectivas de beleza releva a importância da forma. Portanto, é preciso conside-rar que a beleza não está nos elementos individuais que compõe a forma, mas na própria forma.

 A chamada bela forma faz parte da experiência da beleza, mas não se encerra em si mesma.

Nos parâmetros clássicos, a beleza reside no resultado das relações formais de ordem, simetriae proporção da composição. Desde a Grécia antiga à modernidade, essas relações formais in-fluenciam diretamente nas composições visuais, sobretudo, na arquitetura. A seguir retomaremosas características básicas das relações formais clássicas de composição:

• ordem: pode ser caracterizada pela disposição metódica dos elementos visuais de acordocom as relações previamente estabelecidas. A geometria é a formalização mais recorrentenas composições clássicas. Considerando as edificações gregas, a ordem pode ser

classificada como:

• dórica: caracterizada pela simplicidade, imponência e severidade;• jônica: caracterizada pela graciosidade, fluidez, leveza e sinuosidade;• coríntia: caracterizada pelo rebuscamento, complexidade e ostentação.

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Figura 4: Capitéis de diferentes ordens arquitetônicas.

Fonte: Creative Commons, Domínio Público, 2015.

• simetria: é a semelhança entre os objetos dispostos diametralmente em uma composição. A simetr ia de uma composição é relacionada frequentemente à harmonia e à beleza;

• proporção: de maneira geral, é a comparação entre duas medidas e o seu resultado

determina uma escala. Uma das medidas mais conhecidas e que perdura desde a Gréciaantiga é conhecida como seção áurea;

• graça: é um conceito mais recente e se refere ao movimento do belo. Trata-se de umacaracterística da composição visual que revela a fluidez e a harmonia do movimento. Arepresentação visual que mais se aproxima desse conceito é a trajetória da linha curva.

1.2.4 Beleza e atitude estética

Para que a beleza seja apreendida esteticamente, é necessário que os elementos da composiçãoestejam conectados de maneira harmoniosa. Lembrando que as sensações estão subordinadas e,ao mesmo tempo, realçam e reforçam a forma, pois os elementos agradáveis despertam o inte-

resse e incentivam a experiência estética. Na experiência estética as sensações desempenham umimportante papel na apreciação da composição, auxiliando na distinção de cores, sons e texturasque compõem a obra. Em contrapartida, na atitude comum as sensações apenas informam sobrea presença e as condições do ambiente ao redor do corpo.

 Apesar das sensações predominarem em nossas vidas, nem todas refletem a experiência estética.Isso porque a experiência do belo age em estado de exclusão e não de regra. É preciso com-preender que a rotina e o cotidiano não permitem que as pessoas passem a maior parte de seutempo contemplando e fruindo a beleza ao seu redor. Pelo contrário, na rotina as pessoas estãopreocupadas com questões materiais, ou seja, com as coisas propriamente ditas.

 A contemplação desinteressada da beleza, pressuposto da experiência estética, torna-se umevento casual e esporádico. Portanto, a ela não pode ser considerada um evento comum, mas

um evento extraordinário. Isso porque a atitude comum é dominada pelo senso prático e pelaação, ou seja, tudo com o que entramos em contato nos remete à realidade. As coisas que ve-mos, ouvimos, tocamos e compreendemos na atitude comum nos informa sobre os objetos reais.Em contrapartida, as aparências e as representações, mesmo quando elaboradas a partir darealidade, não nos remetem, necessariamente, à realidade.

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Como vimos, a atitude estética para os filósofos greco-romanos é, portanto, uma postura que oapreciador adota de contemplação distanciada, que consiste no abandono da atitude comumcotidiana para nos determos exclusivamente à apreciação da aparência (forma). Essa posturaé alcançada a partir da transição do sujeito prático (aquele que age no mundo, objetivamente)para o sujeito contemplativo, desinteressado pela realidade. É como se a pessoa se elevasse eobservasse a aparência do alto, destacado da realidade.

Essa analogia de elevação nos remete à ideia de sublime, que na Estética se refere às coisasarrebatadoras, grandiosas e magnânimas. O sublime desperta na pessoa diferentes sensações,porém, intensamente: de medo e de admiração, de atração e de repulsa e etc... O sublime,acima de tudo, desencadeia sensações que nos fazem refletir sobre a condição humana em umcontexto superior à nossa existência.

O sublime constitui o primeiro limite da beleza: se o belo é aquilo que nos incentiva a apreen-der, discernir e compreender, o sublime é aquilo que, justamente, desafia nossa capacidade de

compreensão. O sublime é o incompreensível e o inconcebível, que pode nos arrebatar e nosamedrontar. Portanto, o sublime admite o mal e o feio e, portanto, admite a livre expressão.

1.3 O Feio

 Vimos no tópico anterior que na Estética, o belo é a apreensão da forma a part ir das sensaçõese o sublime é o limite da beleza, ou seja, a transcendência da capacidade de apreensão humanadas formas e das sensações. A partir do sublime, inaugura-se, no campo da Estética, uma novaforma de expressão artística, que admite o mal e o feio na composição. Dessa maneira, cabe--nos o questionamento sobre o que é o mal e o feio na Estética. Seriam esses conceitos apenas a

oposição do bem e do belo? Ou haveriam gradações entre esses extremos? Ainda, como a artese relaciona com a representação da fealdade e como isso nos afeta? Vamos discutir tambémconceitos como utilidade do belo e do feio nas composições visuais.

1.3.1 O Mal e a Fealdade

 Ao longo dos anos, a Filosofia se deteve na concepção do belo que determinou, em certa me-dida, a evolução histórica e conceitual da Estética. Entretanto, o mesmo não ocorreu com ofeio. Relegada em segundo plano, a feiura foi marginalizada tanto pelos filósofos quanto pelosartistas, que a compreendiam, exclusivamente, como a oposição ou a ausência da beleza. Dessamaneira, a evolução conceitual da beleza na história humana revela muito do gosto e das pre-ferências de diferentes contextos.

Entretanto, Eco (2007) argumenta de que os indícios de gostos e de preferências das pessoas co-muns correspondiam aos gostos de seus artistas de maior evidência de seu tempo não passam desuposições. Isso porque, na hipótese de um viajante, vindo do espaço, adentrar em uma galeria dearte contemporânea e observar os rostos femininos pintados por Picasso e ouvir que os visitantes osjulgam belos, poderia causar a impressão equivocada de que na realidade cotidiana os homens denosso tempo consideram desejáveis mulheres que se assemelhassem àquelas pinturas. Contudo, osuposto viajante espacial, segundo Eco (2007), poderia corrigir sua opinião se visitasse um desfilede moda ou um concurso de Miss, onde outros modelos de beleza feminina são celebrados.

Outra consideração do autor sobre a beleza e a feiura é de que o registro histórico desses doisvalores está limitado à civilização ocidental, pois para as civilizações arcaicas existem registrosde achados arqueológicos e artísticos, mas não de textos teóricos que informem os parâmetrosde beleza ou de feiura. Para um ocidental, uma máscara ritual africana pode parecer pavorosa,enquanto para o nativo poderia representar uma entidade benévola. Ainda, em outras culturasque dispões de um extenso aparato filosófico e poético (como a indiana ou a chinesa), podemos

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experimentar traduzir esses registros de maneira a tentar compreender os parâmetros estéticosvigentes em determinados contextos, mas é preciso admitir as possíveis falhas de tradução.

Figura 5 – Máscara ritual africana.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Mas, afinal, o que podemos compreender como belo ou feio, já que esses conceitos estão emconstante transformação? Quando comparamos teorias a um quadro ou uma construção arqui-tetônica da mesma época, podemos perceber que aquilo que é proporcional em um contexto,não o é em outro. Usando como exemplo a proporção, um filósofo remetia às dimensões e àforma de uma catedral gótica, enquanto um teórico renascentista pensaria em um templo qui-nhentista, cujas partes era reguladas pela seção áurea.

Dessa maneira, os conceitos de beleza e de feiura estão estritamente ligados ao seu contexto,porém, isso não significa que não existiram tentativas de estabelecer seus parâmetros. A culturagrega, por exemplo, não considerava que o mundo era necessariamente todo belo. Sua mitolo-gia narrava feiuras e erros, e para Platão, a realidade sensível era uma imitação da perfeição domundo das ideias. Entretanto, a arte grega via nos deuses os seus modelos de beleza suprema,como pode-se observar nas estátuas representando os habitantes do Olimpo.

Figura 6 – Representação grega clássica.

Fonte: Shutterstock, 2015.

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Entretanto, essa relação se inverte com a ascensão do cristianismo, cuja concepção se referia àbeleza do universo como a representação da beleza do seu criador, logo, todas as coisas seriambelas (inclusive as feias). Porém, se belo e bom são conceitos indissociáveis, ao afirmar que todoo universo é belo significa dizer também que todo o universo é bom.

Santo Agostinho (354 – 430) justifica a contradição do mal na criação divina como parte daordem das coisas. Em “A Ordem” argumenta que haveria desarmonia em um edifício cuja dis-posição das partes estivesse incorreta, porém, o erro faria parte da ordem geral da composição.Posteriormente, ao analisar as capacidades da matéria, Santo Agostinho retoma a questão dofeio, sob o ponto de vista de que toda matéria, por mais inadequada que seja, é dotada da ca-pacidade de conformar (moldar-se) o bem.

Em “A Estética do Feio” (1853), de Karl Rosenkrantz, existe a primeira tentativa de conceituar ofeio, que estaria, segundo esse autor, alinhada ao mal moral. Compreendendo o mal e o pe-cado como o oposto do bem, ou seja, o feio seria definido como o “inferno do belo”. Porém,

quando Rosenkrantz transcende as abstrações e passa a se dedicar à fenomenologia das váriasencarnações do feio, admite-se uma relativa autonomia do feio. Isso porque a partir da análiseminuciosa do feio da natureza, do espiritual e, especialmente, o feio das artes (e as incorreçõesartísticas), a ausência de formas, a assimetria, a desarmonia, o desfiguramento, a deformaçãoe o repugnante, o feio ultrapassa o belo em suas categorias e, portanto, sua existência não po-deria ser explicada como a simples oposição ao belo, entendido como harmonia, proporção ouintegridade (ROSENKRANTZ, 1984 apud ECO, 2007, p. 16).

Um dos sinônimos de feio é o grotesco, termo derivado do italiano que se refere à gruta ou cova.Porém, o grotesco é um estilo ornamental inspirado em formas encontradas em algumas ruinasda Roma antiga. Os monumentos, conhecidos como grottes, são ornados com linhas entrelaça-das por flores, frutas, máscaras e animais incomuns. Veja Figura 7:

Figura 7 – Ornamento do pátio do Palazzo Vecchio, Florência, Itália.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Dessa maneira, o ornamento grotesco pode ser caracterizado, de maneira geral, pela represen-tação do fantástico e do extravagante. Descoberto na Itália no século XVI, o grotesco se difunde

por toda a Europa e transforma-se em adjetivo para designar aquilo que é bizarro e extrava-gante, além de ser um estilo recorrentemente utilizado por artistas de diferentes movimentos aolongo da história.

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1.4 Relações entre Arte, Beleza e Estética

 A partir das transformações sofridas pelos parâmetros de julgamento estético, podemos inferirque a beleza e, consequentemente, a arte são fortemente influenciadas pelos contextos em que seinserem. Entretanto, essa influência seria unidirecional ou haveria uma relação de reciprocidadeentre esses conceitos? Ainda, as formas de concepção de arte estão diretamente relacionadas aoobjeto ou à postura adotada diante dos objetos? Esses questionamentos nortearão o item a seguir.

1.4.1 O que é Arte?

 Vimos que a experiência estética é decorrente de uma postura ativa do apreciador diante das sen-sações causadas pelos objetos. Vimos também que a atitude estética se distingue da atitude co-mum, e a partir dessa primeira atitude que podemos contemplar a forma ou a aparência do objeto

e, finalmente, desfrutar da experiência do belo e da arte. Entretanto, a sensação de estranhamentoa uma obra pode indicar uma composição visual inovadora ou revela uma atitude comum diantede uma nova proposta, como a admissão do feio e do grotesco como expressão artística?

 A preocupação da arte moderna, especialmente, transcende as formas e a composição quelegitimam a arte e sugerem alternativas de produção artística, rompendo com as tradições. Osmovimentos artísticos revelam a estética de seu tempo e, considerando as substanciais transfor-mações pelas quis passaram a sociedade, não caberia a repetição e a manutenção de regras fi-xas e engessadas da arte. Era preciso, portanto, reinventar os conceitos e as formas de produçãoartística. Dessa maneira, a arte passou a incorporar a liberdade na sua criação, pois não haviasentido na reprodução de padrões e normas pré-estabelecidas.

Entretanto, a autonomia da arte não revela um acontecimento, mas um processo que se desen-

volveu ao longo de toda a história humana, desde as pinturas rupestres às performances con-temporâneas. Apesar de toda a ruptura com os padrões anteriores e da busca pela inovação, aarte preservou uma característica intrínseca à sua natureza: a revelação da experiência humanaem um dado contexto. Isso significa que a arte é também um registro histórico sobre a culturados grupos sociais.

1.4.2 O Poder da Arte

Já sabemos da estreita relação estabelecida entre arte e história, em que a arte registra e docu-menta a história humana e suas formas de viver. Portanto, a arte é uma prática social e, comotal, está submetida às relações de poder. Aliás, as próprias regras e convenções que interferemna produção artística conforma a relação conflituosa da sociedade. A arte pressupõe a comuni-cação e a interação entre a pessoas e isso nos remete ao fato de que os artistas são pessoas queestão inseridas nesse contexto conflituoso. Lembremos que a experiência estética é despertadapelas sensações, ou seja, pelos estímulos do ambiente externo. Logo, a experiência humana,invariavelmente, será impressa na arte e revelará os conflitos do seu tempo.

Pode-se dizer que a arte, apesar de sempre ter refletido a sua época, nem sempre o fez de maneirainteiramente consciente. Porém, a certa altura da história da humanidade, alguns grupos sociais,especialmente os detentores de poder, serviram-se da arte para propagar ideologias e consolidaro poder. Esse foi o caso de diversos regimes autoritários que se faziam valer de uma estética/artepróprias para disseminar e fortalecer suas visões distorcidas e equivocadas sobre o mundo.

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 VOCÊ QUER VER?

O filme  Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen, trata dos intentos de Adolf Hitlerdurante seu governo na Alemanha, desde a sua chegada ao poder à derrocada alemãna Segunda Guerra, passando pela tese da “solução final” para os judeus. A produçãobusca acompanhar a ambição artística do Führer, que se considerava um “artista napolítica”. Como um arquiteto disposto a “embelezar” o mundo, Hitler ambicionavareconstruir a sociedade alemã através da arte. O filme procura ainda mostrar como aarte, a propaganda e a mídia podem ser facetas importantes de uma ideologia política.Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IBqGThx2Mas>.

 Apesar da aparente distinção entre o nazismo e o regime soviético, ambos se assemelham con-

sideravelmente no que se refere à utilização da arte como ferramenta de propaganda de ideolo-gias e de reforço de poder, conhecidos como estética totalitária. A estética soviética, conhecidacomo realismo soviético, desempenhou um importante papel durante os anos 1930 e 1960, apartir de uma pretensa política de Estado para estética, imposta em diferentes expressões, desdea literatura ao design.

O realismo soviético se alinha aos pressupostos autoritários de orientação stalinista, mas se dis-seminou entre outros países. Apesar das motivações questionáveis da arte soviética (e das outrasartes totalitárias), bem como das suas formas de censura e de eliminação dos artistas que se opu-nham à essa política, a estética soviética deixou o cartazismo (Figura 8) como importante legadopara as artes gráficas, as obras de Serguei Eisenstein na constituição de uma nova linguagemcinematográfica, entre outros.

Figura 8 – Cartaz na estética soviética.

Fonte: Shutterstock, 2015.

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 VOCÊ QUER VER?

Para conhecer mais sobre o legado da estética soviética nas artes, especialmente naarquitetura, veja esse pequeno vídeo sobre a exposição “Uma Modernidade Paralela:

 Arquitetura Soviética”, elaborado a partir de uma exposição realizada sobre as princi-pais construções da ex-URSS, construídas entre 1956 a 1991. Veja em Arte 1, no link:<http://arte1.band.uol.com.br/arquitetura-sovietica/>.

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SínteseChegamos ao final do primeiro capítulo da disciplina Estética e História da Arte. Nesse capítulodiscutimos os principais conceitos sobre a Estética e as relações estabelecidas entre Arte e Esté-tica na sociedade. Também tivemos a oportunidade de:

• Conhecer as diferentes concepções e empregos do termo estética;

•  Verificar que a estética filosófica, ou Estética, se dedica ao estudo da beleza e das artes;

Conhecer os principais elementos de composição visual, bem como os seus princípios deorganização;

• Discutir as diferentes concepções sobre o belo e o feio;

• Compreender qual é a relação entre beleza e sensação, forma e atitude estética;

•  Verificar as relações entre estética, arte e política.

Síntese

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CREATIVE COMMONS/Domínio Público. Capitéis. Disponível em: < https://commons.wikime-dia.org/wiki/File:Classical_orders_from_the_Encyclopedie.png#/media/File:Classical_orders_from_the_Encyclopedie.png >. Acesso em: 5. jan 2016.

DOCSFILMES. Arquitetura da Destruição (Architecture of Doom Nazism). Disponível em: <ht-tps://www.youtube.com/watch?v=IBqGThx2Mas>. Acesso em: 5 jan 2016.

OCVIRK, Otto G. et al. Fundamentos da Arte: teoria e prática. Tradução Alexandre Salvaterra.12 ed. Porto Alegre: AMGH, 2014, p. 11-15.

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Bibliográfcas