Estágio transdisciplinar em artes
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A LINGUAGEM TEATRAL NOS ESPAÇOS EDUCATIVOS: UMA EXPERIENCIA CRIATIVA E TRANSDISCIPLINAR NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR.
Vandeilton Trindade Santana
Pedagogo - UNEB
Pós-Graduando no Curso de Especialização em Gestão Educacional Latu Senso – UESB
INTRODUÇÃO
Este artigo é fruto de uma experiência da disciplina Estágio em Espaços Não Formais
do curso de pedagogia. Foi uma experiência que abordou o teatro como uma forma de
linguagem, e ao mesmo tempo refletir na formação do docente no que tange essa
linguagem. Procuramos fazer breves reflexões acerca da transdisciplinaridade, como
forma de vislumbrar no currículo uma maneira inovadora do pensar e fazer pedagógico
na perspectiva de despertar no educador uma forma de educar, além dos conteúdos
programáticos, utilizando uma linguagem diversa e multirreferencial no sistema
educacional.
Importante ressaltar, que o teatro, é uma forma de comunicação, representada pelo
sistema de signo, ou seja, é uma representação do pensamento, estabilizada como um
produto significante. Nela contém variáveis que a expressão, o pensamento, a fala busca
transmitir. A linguagem ela é carregada de emoção. Falar da linguagem do teatro de
forma peculiar, nos permite dizer que, o teatro é uma das formas artísticas que promove
ao sujeito reconhecer a si mesmo, antes de ser uma imitação da realidade. O teatro
permite aos indivíduos ultrapassar os bloqueios gerados pelas nossas crenças e refletir a
respeito da realidade, bem como, o seu papel no contexto em que está inserido. Desse
modo, a representação arranjada, proposta pela atividade teatral proporciona aos espect-
atores um diálogo aberto, sem preocupação com uma estrutura de linguagem científica.
Desse modo, trazer o teatro para o chão da escola é procurar superar a fragmentação do
saber, de forma que a transdisciplinaridade possa trazer para o ensino uma versão
inovadora e multirreferencial do pensar e fazer pedagógico. Romper com a visão do
currículo tradicional tem sido uma questão desafiadora. Desafios que os docentes,
gestores tem enfrentando, por se tratar de temas referentes a transformação, poder e
identidade. Assim, visando uma atuação crítico-reflexiva, tanto dos educadores quanto
dos alunos, propomos trabalhar o teatro dentro da comunidade Novo Horizonte, no
município de Valença/BA.
Ter a linguagem teatral nos espaços educativos, converge para um modelo de educação
que muitas vezes, não estamos acostumados a lidar com esse recurso, pois é um recurso
típico da arte. A arte nem sempre foi discutida e vivida nos espaços educativos como
ferramenta constituinte do seio educacional. Nela está contida o teatro, na qual o
mesmo, não é trabalhado de forma concisa nos espaços educativos. É através da arte, do
teatro que as emoções são transmitidas, por isso que numa sociedade de oprimidos e
opressores, a arte é censurada como recurso desbravador, por estas razoes e tantas
outras, que vive-se num dilema onde a arte é deixada de lado, primeiro por que a
ciência, não reconhece a arte como ciência.
Isto posto, nota-se que a arte é usada como porta voz, no sentido de suscitar reflexões
acerca de como compreendermos a cultura do outro, a identidade, bem como os
problemas sociais que afligem os sujeitos. Como dito antes, a arte, além de transmitir as
emoções que corroem nosso ser, ela esbanja características suscetíveis a realidade do
sujeito.
A LINGUAGEM TEATRAL NA COMUNIDADE NOVO HORIZONTE:
DIVERSAO OU EDUCAÇÃO?
Partindo dos eixos temáticos que o Projeto de Ação intitulado Teatro, reflexão e
educação para a vida, do componente curricular Pesquisa e Estágio em Espaços Não
Formais, desenvolvido na comunidade Novo Horizonte, no município de Valença,
Bahia, procuramos trabalhar a arte, em especial o teatro como recurso educativo com as
crianças. Uma comunidade carente, localizada numa das zonas periféricas da cidade,
onde a população vive a margem da sociedade, é pertinente um olhar cuidadoso. Ali,
diante dos inúmeros problemas sociais que nós deparamos trabalhar a arte foi muito
significante. Pois podemos observar que a linguagem expressada nas peças teatrais,
estão carregadas de expressões, sentimentos, emoções.
Precisamos, sim, aprender a pensar a partir de outra lógica, aprender a
sentir a partir do que acontece em outros níveis de realidade, aprende a
dialogar com as emergências, a questionar nossas estruturas de
pensamento, nossos sentimentos e emoções decorrentes[...]. [...] o
conhecimento transdisciplinar, produto de uma tessitura complexa,
dialógica, recursiva e auto-eco-organizadora, é tecido nos interstícios, nas
tramas, na intersubjetividade, nos meandros da pluralidade de percepções
e significados emergentes [...]. (MORAES, 2010, p.12).
Nessa tessitura, é pertinente vincular a reflexão trazida por Moraes (2010) a
linguagem do teatro do oprimido trazida por Boal (1998) nos instigou um olhar
promissor no trabalhar a arte na comunidade. Ainda de acordo a Boal, o teatro do
oprimido pretende transformar o espectador, que assume uma forma passiva diante do
teatro aristotélico, com o recurso da quarta parede, em sujeito atuante, transformador da
ação dramática que lhe é apresentada, de forma que ele mesmo, espectador, passe a
protagonista e transformador da ação dramática.
Nesta perspectiva, nasce a inquietação: Diante do que vivenciamos na
comunidade citada acima e das atividades desenvolvidas com as crianças, a linguagem
teatral foi trabalhada como método educativo. Neste sentido, questionamos até que
ponto a linguagem teatral vivenciada por nós, enquanto pedagogos, bem como pelas
crianças desta comunidade foi uma educação ou uma diversão?Pois, não é uma prática
comum nas escolas. Partindo dessa, refletimos que é preciso romper com esse
paradigma, e trabalhar numa perspectiva transdisciplinar. Assim,
A transdisciplinaridade, mesmo quando pautada na noção de racionalidade aberta, mantém como um dos seus pressupostos básicos a crença de que o conhecimento é um todo integrado e de que é possível uma percepção totalizante da realidade. (FRÓES, FAGUNDES, 2001, p.42)
Em linhas gerais, para nós enquanto pedagogos, pudemos perceber que de fato
aconteceu uma ação educativa. Ali, onde foram desenvolvidas as atividades, de
diagnostico da comunidade, estudo de caso das crianças, criação da peça, montagem do
roteiro, ensaios, até o produto final que foi a apresentação, implicou em princípios
pedagógicos, no que se refere a nossa atuação nos espaços não formais. O estágio
enquanto peça fundamental da nossa formação nos permite comungar do que diz Selma
Garrido Pimenta:
É necessário, pois, que as atividades desenvolvidas no decorrer do curso de formação considerem o estagio como um espaço privilegiado de questionamento e investigação. (PIMENTA 2004, p.112).
Desse modo, o estágio nos proporcionou a ter um olhar mais crítico no que tange ao
processo de investigação da própria comunidade, como também das crianças que nós
trabalhamos. Fazendo paralelo com as leituras e discussões em sala de aula, pudemos
perceber um melhor entendimento das nossas ações no campo de estágio em espaços
não formais. Trabalhar a arte, em especial o teatro, num espaço não formal, é uma
proposta desafiadora, pois exige de nós enquanto pedagogos, um autocontrole.
É importante lembrar que a arte envolve emoção, logo, o nosso olhar emotivo, não pode
coibir a real proposta do trabalho, que é de ser imparcial diante das historias contadas
pelas crianças da comunidade, com o objetivo de despertar nas crianças sua capacidade
de observação, percepção, imaginação e aptidões da realidade.
Outro fator relevante, no que se refere a nossa atuação enquanto pedagogo, nos espaços
da arte, trata-se da sensibilidade, como assevera Miguel Almir:
Compreendo o educar como ação que se descortina nas mais diversas instancias de nosso estar-sendo-no-mundo-com-os-outros, desde as esferas mais institucionais e formais como a Família, a Escola, as Igrejas, as Associações, as ONGs, etc. (...) (...) esses processos formativos de iniciação são chamados de ação de educar – de educação. (ARAÚJO, 2008, p.189 e 190).
Toda arte é expressão, seja ela teatro, musica, pintura, cinema, etc. É uma forma de
expressão concreta. Partindo desse pressuposto, a atividade desenvolvida na
comunidade do Novo Horizonte, foi especificamente o teatro. Trabalhar teatro, com
essas crianças perpassou por uma série de dificuldades, desde o espaço físico, até a
apresentação da peça. De acordo a escuta das historias das crianças, pôde-se notar
múltiplas linguagens usadas naquela comunidade, bem como a dualidade dos sentidos
que são empregadas. Se tratando de ação educativa, o teatro serviu como método de
exercitar nas crianças uma linguagem local, advinda do seu cotidiano. Podemos afirmar
que de fato, houve uma educação. Vale lembrar que as brincadeiras/dinâmicas, eram
utilizadas como mecanismo de integração. Procuramos oferecer para elas oportunidades
de liberdade e respeito, levando em consideração o nível de desenvolvimento de cada
uma delas, como discorre Ricardo Japiassu:
Entender a arte como pensament(o)ação é concebê-la como modalidade complexa de conhecimento, que articula a cognição, a afetividade e a
pscicomotricidade do sujeito de modo holístico ou integral.(...) é uma modalidade de pensamento não-verbalizado e sua expressão constitui linguagem não-intelectual.( JAPIASSU, 2007, p.141 e 143).
O apontamento feito por Japiassu no que refere à arte, nos faz refletir que a
linguagem teatral é uma ferramenta que possibilita atrelar as relações, sejam elas,
pessoais, sociais, aos conhecimentos prévios dos sujeitos. Exercitar a expressão
corporal, a espontaneidade e a criatividade nas crianças, facilita o desenvolver das
aprendizagens das técnicas através da linguagem não-verbal. Assim, a atividade lúdica
uma vez executada de forma significativa favorece a lembrança dos conhecimentos
adquiridos pelos indivíduos envolvidos no processo ensino-aprendizagem. É importante
ressaltar que a atividade lúdica, só será eficaz se for trabalhada com o intuito de divertir
e consequentemente instruir. A aprendizagem dos indivíduos é o foco principal dos
educadores e das instituições de ensino em geral, o lúdico tem o preceito de oferecer
oportunidade de um aprendizado significativo e prazeroso, possibilitando aos indivíduos
o desenvolvimento de habilidades e competências essenciais para o convívio social.
Neste sentindo, Olga Reverbel assevera:
A arte é uma das coisas que, como a terra, o ar, está ao redor de nós, em toda a parte, mas que raramente nos detemos a considerar. A arte não é simplesmente o que encontramos nos museus e galerias, ou em cidades como Florença e Roma. Como quer que a definimos, a arte está em tudo o que fazemos para agradar nossos sentidos.( REVERBEL:1989,p. 21).
De acordo com o pensamento de Boal, o teatro do oprimido, traz reflexões
acerca da superação da condição de opressor/oprimido, levando o desenvolvimento de
como entender os processos de libertação humana, a partir do instante em que se
conhece o que liberta ou escraviza, para então ultrapassar essa condição de dominados e
passa a serem sujeitos da própria história, através da crítica, para chegar à emancipação.
Emancipar-se requer do individuo, uma valorização do “eu”, do “outro”, e do meio na
qual está inserido.
Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos, ou melhor, fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha. (...) é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural. (HALL, 2006, p.74 e 75).
O autor vem trazendo uma abordagem em que converge com a realidade atual.
Vê-se, que o fato de emancipar-se não está somente no olhar singular, mas ponderar,
respeitar as diferenças do outro. Assim o teatro, facilita a integração dos sujeitos
participante, na ótica de valorização do conhecimento do outro. Vale salientar que de
uma forma indireta as emoções apresentadas na linguagem do teatro nos permite
pontuar que as ações ali desenvolvidas foram fundamentais para a concretização da
realização do projeto “Teatro, reflexão e educação para a vida”. Desenvolvido na
comunidade Novo Horizonte.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Em linhas gerais, podemos tecer algumas considerações decorrentes das
discussões aqui abordadas. É válido afirmar que a linguagem teatral nos espaços
educativos, desenvolvida na comunidade Novo Horizonte, foi uma experiência que
contribuiu para a valorização da arte, além de responder aos nossos questionamentos,
quanto ao real sentido da linguagem teatral, tendo como base o teatro do oprimido, este
que nos deu vazão para trabalharmos com os alunos os problemas da comunidade na
condição de oprimido e opressores. Sob esse tripé, a transdisciplinaridade nos fez
refletir que é possível trabalhar as multirreferencialidades dentro do contexto
educacional.
Observamos também, que a formação do educador é um ponto crucial nesse
caminhar. A necessidade da atuação de professores críticos-reflexivos, é preciso nos
processos ensino-aprendizagem. Romper com a transmissão de conhecimentos e
dialogar com uma educação inovadora, capaz de elucidar um currículo reflexivo,
transdisciplinar. Desse modo enxergamos possíveis alternativas para se construir um
currículo que atenda as reais mudanças no campo social, epistemológicos, filosóficos da
educação.
Cabe afirmar que a linguagem teatral vai além da diversão, pois o processo de
aprendizagem perpassa além dos muros escolares, o conhecimento se deu a partir das
experiências desenvolvidas a partir da realidade local. Sendo assim, a linguagem teatral
desperta nos indivíduos a reconstrução de si mesmo, reconhecendo seu papel dentro da
comunidade, na busca de possíveis mudanças.
REFERENCIAS
ARAUJO, Miguel Almir Lima de. Os sentidos da sensibilidade: sua fruição no
fenômeno do educar. Salvador: EDUFBA, 2008.
BURNHAM, Teresinha Fróes. FAGUNDES, Norma Carapiá. Transdisciplinaridade,
Multirreferencialidade e Currículo. Salvador. Revista da FACED. nº 05. 2001.
CANDIDA. Maria. Transdisciplinaridade e Educação. Distrito Federal. Rizoma
Freiriano. n.06. 2010.
HALL,Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade; tradução Tomaz Tadeu da
Silva, Guaracira Lopes Louro – 11 ed. – Rio de Janeiro:DP&A, 2006.
JAPIASSU, Ricardo. A linguagem teatral na escola: Pesquisa, docência e prática
pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2007.
REVERBEL, Olga. Um caminho do teatro na escola. São Paulo. Scipione, 1989.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. Psicologia da arte; tradução Paulo Bezerra. – São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
CARNEIRO,Flavio Martins. Leitura e Linguagens. In: YUNES, Eliana. Pensar a leitura:
complexidade. Rio de Janeiro:Editora PUC- RIO; São Paulo:Loola,2002.
VAL, Maria das Graças & ROCHA, Gladys . (Orgs.) Reflexões sobre práticas escolares de
produção de texto: o sujeito autor. São Paulo: Martins Fontes, 1994.