Estado de Minas 13.04.14 Tião Rocha

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CULTURA

E S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 3 D E A B R I L D E 2 0 1 4

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Documentários para a GloboNews e quadros para o Fantástico, da Rede Globo, assinadospelos diretores Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, mostram que a escola pública pode dar certo

❚ BRASIL LEGAL

Aprovados, com louvorGRACIE SANTOS

Não existe uma saída para asescolas públicas no Brasil. Exis-tem várias. Não há mágica oufórmulas, mas é possível ter en-sino público de qualidade aindaqueemregiõesdistantesouvio-lentas. É o quemostra a série dedocumentários assinada peloscineastas Luiz Bolognesi (Umahistória de amor e fúria) e LaísBodanzky (Bicho de sete cabe-ças). Educação.doc tem roteiro edireção dele, codireção dela.

Os programas de 25minutosque estão sendo exibidos aos do-mingos,às20h30,pelaGloboNews(TVpaga–osegundovaiaoarho-je), e os inserts de 6min a 8minmostrados no Fantástico, da Glo-bo(foramexibidosquatroeaindaserãomostrados dois), reprodu-zem a realidade (privilegiada) deoitoescolasdoPiauí,Ceará,Bahia,Paraná,Riode JaneiroeSãoPaulo.

Em cena, experiências quederamcerto apartir do trabalhocoletivodealunos, professores ecomunidade.Comdepoimentosimportantes de diretores, auto-ridades,pensadoresdaeducaçãoe formuladores de políticas pú-blicas.Numdoscasos, odaEsco-laMunicipalPresidenteCamposSalles, emHeliópolis (SP), osmu-ros foramderrubadosnumade-monstraçãodesegurançacontraa violência vizinha. Interessantetambéméaparticipaçãodepes-soas domeio artístico (o rapperEmicida, o artista plástico VickMuniz e a atriz Camila Pitanga,entre outros), personagens dasociedade brasileira que estuda-ram em escolas públicas, comooprópriodiretorLuizBolognesi.

Comritmoembaladopor tri-lha do Barbatuques (grupo bra-sileiro de percussão corporalcriado em 1995 pelo músicopaulistano Fernando Barba), osdocumentários, que segundoBolognesi já foramassistidospor30milhões de pessoas, têm boa

cadência e linguagem acessível.A ideia “é fazer o Brasil inteiroverqueépossívelmudaropara-digmadaescola ruim. Eque issofaça as pessoas pensarem: ‘que-roumaescola assimpara omeufilho.’ É preciso participar por-que se esperarmos pelo poderpúblico, nunca vamos ter isso.Podemossensibilizaropaísparabuscarumaescolamelhor”, afir-maBolognesi.

ESTRATÉGIA Para se aproximardo grande público, eles não abri-rammãodacomplexidadedain-formação. “Não diluímos emágua,a formaédidáticamastemritmo. Essa foi a estratégia parafalar com milhões de pessoas”,explicaodiretor,quefugiudape-gada de denúncia. “Meu senti-mentoeradeoutraordem,ilumi-nar experiências que deram cer-to, mostrar o que fez as coisasfuncionarem (e o audiovisualtemessepoderde colocar luz so-breas coisas). Emvezdas celebri-dades doBig brother, queríamosmostrar que com essas criançasdessasescolasvocêpodediscutiro que quiser. Porque elas leem,estudam, têm professores bri-lhantes de escolas comdiretoresexcepcionais, escolhidosporcon-curso e competência, e não indi-cadosporpolíticos.”

Bolognesi não se esquece dequeoníveldasescolasbrasileirasainda émuito baixo. Mas, avisa:“A boa notícia é que, o que eraumaáguaparada, fazuns10anosque está semexendo. Se as pes-soas não semovimentam e par-tem sempre do princípio de quetudoéumaporcaria enão fazemsua parte, as coisas nãomudamnunca. Resolvemos focar no ou-tro lado,mostrar que nomesmolugarpobre,namesmafavelavio-lenta podem haver escolas fun-cionando, passandovalores, comcompetência, comalunos apren-dendo português ematemática,medalhistas emquímica”.

Foram seismeses de pesqui-sas para a realização dos filmes.Eles partiram de escolas combons resultados do IDEB, emáreas pobres, com IDH baixo, esaíram a campo para descobrircomoumaescolaemáreapobrepode dar resultado. “Fizemosprimeiroumaviagemprecurso-ra,paraconheceros lugares.De-pois, saímos para identificar ospersonagens e, num terceiromomento,partirmosparaasen-trevistas. Decidimos, também,ouvirdepoimentosdepensado-res comoTiãoRocha eMaria doPilar Lacerda, entre outros, pes-soas que estão envolvidas nas

políticas públicas, nos últimosanos, além de protagonistas denossahistóriaquesaíramdases-colas públicas, gente que podecomprovar que elas podemdarcerto”, contaBolognesi.

“Arespostaparaasperguntasquefizemosestánosfilmes.Nãotem mágica nenhuma, masmuito trabalho”, afirma o dire-tor, defendendo que “precisa-mosterjovensmaiscapacitadospara ser professores, investir nacarreira do educador, selecionardiretorespor seumérito técnicoecompetênciaenãopormeiodeindicaçõespolíticas.Percebemosqueemtodasasescolasquefun-

cionamnãohouve escolhas porapadrinhamento. São necessá-rios testes de seleção, deve-se le-varemcontaaconvivênciadelescom a comunidade”. Ele convi-da: “Vamosrevolucionarasredepública e, quem sabe umdia, agentenãovaiquerertirarnossosfilhos da escola particular paracolocarnumapública?”.

DepoisdaexibiçãonaGlobo-News, a série de documentáriosserádistribuídaemDVDsencar-tados em um livro para 50milescolas da redepública emtodoo Brasil, ao longo de três anos,comoobjetivodeinspirarnovasiniciativasnaeducação.

O processo de criação

PontofortedoEducação.doc,alémderoteiroredondoetrilhaque potencializa a força dasações e das falas, são os depoi-mentos. Exemplo: a histórianarradapelo educador Tião Ro-cha (veja box) sobre umaluno,Álvaro, que o ensinou a enxer-garopapeldoprofessorehojeéseu “anjo da guarda” (“aparecesemprequemedistanciodoca-minho que devo seguir”) é co-movente. Entre outras coisas,Rocharevelaque“indicavaparaosalunosda7ªsérieosmesmoslivrosquepassavaparaosdafa-culdade. Os da 7ª liam tudo ebuscavam mais. “Havia rodasdebate-papoediscussãonossá-badosedomingos,enquantonafaculdadeos livros indicados fi-cavampelametade.” E sempreque Rocha se lembrava que iadaraulaparaoÁlvaronodiase-guinte, iaparacasaestudar,poissabia que seria sabatinado. HádesdeumaalunadoPiauíaoes-pecialistaYvesde laTaille falan-do sobre ética, e fala importan-tedo rapperEmicida, contandoque viveu o apartheid em suasala de aula: “A professora pu-nha os brancos assentados nafrente e os negros atrás”. Episó-dio de destaque é também oque discute a escola do futuro.Muitos concordam que o edu-cador vai perder o papel de in-formador para ser aquele queajudaafiltraroexcessodeinfor-mações e a direcionar para oqueoalunoquiser.

BOM EXEMPLO

Alunos da Escola Municipal de Caimbongo (Ibitiara), naChapada Diamantina (BA), região pobre do interior que estáchamando a atenção dos especialistas pela surpreendentequalidade do ensino em 20 municípios. Lá, a educação vemmelhorando ano a ano. A explicação: conseguiram quemudanças na política não interrompamprojetos na educação.

BOM TRABALHO

Responsável por um dos depoimentos mais emocionantesdo Educação.doc, Tião Rocha é educador, antropólogo efolclorista brasileiro, autor de obras de desenvolvimentocultural e comunitário, além de membro de váriasorganizações de fomento a iniciativas na área. Fundador epresidente do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento(CPCD), organização não-governamental sem fins lucrativoscriada em 1984, em Belo Horizonte, que trabalha comeducação popular e com desenvolvimento comunitário apartir da cultura.

Diretor e roteirista do Educação.doc Luiz Bolognesi durante as filmagens do documentário que mostra escolas públicas de sucesso no Brasil

180milescolas públicas

20milescolas privadas

2milhõesprofessores

44milhõesalunos

FOTOS: BURITI FILMES/DIVULGAÇÃO

ENSINOBRASILEIRO

Por que ver osdocumentários

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E S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 3 D E A B R I L D E 2 0 1 4

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Documentários para a GloboNews e quadros para o Fantástico, da Rede Globo, assinadospelos diretores Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, mostram que a escola pública pode dar certo

❚ BRASIL LEGAL

Aprovados, com louvorGRACIE SANTOS

Não existe uma saída para asescolas públicas no Brasil. Exis-tem várias. Não há mágica oufórmulas, mas é possível ter en-sino público de qualidade aindaqueemregiõesdistantesouvio-lentas. É o quemostra a série dedocumentários assinada peloscineastas Luiz Bolognesi (Umahistória de amor e fúria) e LaísBodanzky (Bicho de sete cabe-ças). Educação.doc tem roteiro edireção dele, codireção dela.

Os programas de 25minutosque estão sendo exibidos aos do-mingos,às20h30,pelaGloboNews(TVpaga–osegundovaiaoarho-je), e os inserts de 6min a 8minmostrados no Fantástico, da Glo-bo(foramexibidosquatroeaindaserãomostrados dois), reprodu-zem a realidade (privilegiada) deoitoescolasdoPiauí,Ceará,Bahia,Paraná,Riode JaneiroeSãoPaulo.

Em cena, experiências quederamcerto apartir do trabalhocoletivodealunos, professores ecomunidade.Comdepoimentosimportantes de diretores, auto-ridades,pensadoresdaeducaçãoe formuladores de políticas pú-blicas.Numdoscasos, odaEsco-laMunicipalPresidenteCamposSalles, emHeliópolis (SP), osmu-ros foramderrubadosnumade-monstraçãodesegurançacontraa violência vizinha. Interessantetambéméaparticipaçãodepes-soas domeio artístico (o rapperEmicida, o artista plástico VickMuniz e a atriz Camila Pitanga,entre outros), personagens dasociedade brasileira que estuda-ram em escolas públicas, comooprópriodiretorLuizBolognesi.

Comritmoembaladopor tri-lha do Barbatuques (grupo bra-sileiro de percussão corporalcriado em 1995 pelo músicopaulistano Fernando Barba), osdocumentários, que segundoBolognesi já foramassistidospor30milhões de pessoas, têm boa

cadência e linguagem acessível.A ideia “é fazer o Brasil inteiroverqueépossívelmudaropara-digmadaescola ruim. Eque issofaça as pessoas pensarem: ‘que-roumaescola assimpara omeufilho.’ É preciso participar por-que se esperarmos pelo poderpúblico, nunca vamos ter isso.Podemossensibilizaropaísparabuscarumaescolamelhor”, afir-maBolognesi.

ESTRATÉGIA Para se aproximardo grande público, eles não abri-rammãodacomplexidadedain-formação. “Não diluímos emágua,a formaédidáticamastemritmo. Essa foi a estratégia parafalar com milhões de pessoas”,explicaodiretor,quefugiudape-gada de denúncia. “Meu senti-mentoeradeoutraordem,ilumi-nar experiências que deram cer-to, mostrar o que fez as coisasfuncionarem (e o audiovisualtemessepoderde colocar luz so-breas coisas). Emvezdas celebri-dades doBig brother, queríamosmostrar que com essas criançasdessasescolasvocêpodediscutiro que quiser. Porque elas leem,estudam, têm professores bri-lhantes de escolas comdiretoresexcepcionais, escolhidosporcon-curso e competência, e não indi-cadosporpolíticos.”

Bolognesi não se esquece dequeoníveldasescolasbrasileirasainda émuito baixo. Mas, avisa:“A boa notícia é que, o que eraumaáguaparada, fazuns10anosque está semexendo. Se as pes-soas não semovimentam e par-tem sempre do princípio de quetudoéumaporcaria enão fazemsua parte, as coisas nãomudamnunca. Resolvemos focar no ou-tro lado,mostrar que nomesmolugarpobre,namesmafavelavio-lenta podem haver escolas fun-cionando, passandovalores, comcompetência, comalunos apren-dendo português ematemática,medalhistas emquímica”.

Foram seismeses de pesqui-sas para a realização dos filmes.Eles partiram de escolas combons resultados do IDEB, emáreas pobres, com IDH baixo, esaíram a campo para descobrircomoumaescolaemáreapobrepode dar resultado. “Fizemosprimeiroumaviagemprecurso-ra,paraconheceros lugares.De-pois, saímos para identificar ospersonagens e, num terceiromomento,partirmosparaasen-trevistas. Decidimos, também,ouvirdepoimentosdepensado-res comoTiãoRocha eMaria doPilar Lacerda, entre outros, pes-soas que estão envolvidas nas

políticas públicas, nos últimosanos, além de protagonistas denossahistóriaquesaíramdases-colas públicas, gente que podecomprovar que elas podemdarcerto”, contaBolognesi.

“Arespostaparaasperguntasquefizemosestánosfilmes.Nãotem mágica nenhuma, masmuito trabalho”, afirma o dire-tor, defendendo que “precisa-mosterjovensmaiscapacitadospara ser professores, investir nacarreira do educador, selecionardiretorespor seumérito técnicoecompetênciaenãopormeiodeindicaçõespolíticas.Percebemosqueemtodasasescolasquefun-

cionamnãohouve escolhas porapadrinhamento. São necessá-rios testes de seleção, deve-se le-varemcontaaconvivênciadelescom a comunidade”. Ele convi-da: “Vamosrevolucionarasredepública e, quem sabe umdia, agentenãovaiquerertirarnossosfilhos da escola particular paracolocarnumapública?”.

DepoisdaexibiçãonaGlobo-News, a série de documentáriosserádistribuídaemDVDsencar-tados em um livro para 50milescolas da redepública emtodoo Brasil, ao longo de três anos,comoobjetivodeinspirarnovasiniciativasnaeducação.

O processo de criação

PontofortedoEducação.doc,alémderoteiroredondoetrilhaque potencializa a força dasações e das falas, são os depoi-mentos. Exemplo: a histórianarradapelo educador Tião Ro-cha (veja box) sobre umaluno,Álvaro, que o ensinou a enxer-garopapeldoprofessorehojeéseu “anjo da guarda” (“aparecesemprequemedistanciodoca-minho que devo seguir”) é co-movente. Entre outras coisas,Rocharevelaque“indicavaparaosalunosda7ªsérieosmesmoslivrosquepassavaparaosdafa-culdade. Os da 7ª liam tudo ebuscavam mais. “Havia rodasdebate-papoediscussãonossá-badosedomingos,enquantonafaculdadeos livros indicados fi-cavampelametade.” E sempreque Rocha se lembrava que iadaraulaparaoÁlvaronodiase-guinte, iaparacasaestudar,poissabia que seria sabatinado. HádesdeumaalunadoPiauíaoes-pecialistaYvesde laTaille falan-do sobre ética, e fala importan-tedo rapperEmicida, contandoque viveu o apartheid em suasala de aula: “A professora pu-nha os brancos assentados nafrente e os negros atrás”. Episó-dio de destaque é também oque discute a escola do futuro.Muitos concordam que o edu-cador vai perder o papel de in-formador para ser aquele queajudaafiltraroexcessodeinfor-mações e a direcionar para oqueoalunoquiser.

BOM EXEMPLO

Alunos da Escola Municipal de Caimbongo (Ibitiara), naChapada Diamantina (BA), região pobre do interior que estáchamando a atenção dos especialistas pela surpreendentequalidade do ensino em 20 municípios. Lá, a educação vemmelhorando ano a ano. A explicação: conseguiram quemudanças na política não interrompamprojetos na educação.

BOM TRABALHO

Responsável por um dos depoimentos mais emocionantesdo Educação.doc, Tião Rocha é educador, antropólogo efolclorista brasileiro, autor de obras de desenvolvimentocultural e comunitário, além de membro de váriasorganizações de fomento a iniciativas na área. Fundador epresidente do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento(CPCD), organização não-governamental sem fins lucrativoscriada em 1984, em Belo Horizonte, que trabalha comeducação popular e com desenvolvimento comunitário apartir da cultura.

Diretor e roteirista do Educação.doc Luiz Bolognesi durante as filmagens do documentário que mostra escolas públicas de sucesso no Brasil

180milescolas públicas

20milescolas privadas

2milhõesprofessores

44milhõesalunos

FOTOS: BURITI FILMES/DIVULGAÇÃO

ENSINOBRASILEIRO

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CULTURA

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Documentários para a GloboNews e quadros para o Fantástico, da Rede Globo, assinadospelos diretores Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, mostram que a escola pública pode dar certo

❚ BRASIL LEGAL

Aprovados, com louvorGRACIE SANTOS

Não existe uma saída para asescolas públicas no Brasil. Exis-tem várias. Não há mágica oufórmulas, mas é possível ter en-sino público de qualidade aindaqueemregiõesdistantesouvio-lentas. É o quemostra a série dedocumentários assinada peloscineastas Luiz Bolognesi (Umahistória de amor e fúria) e LaísBodanzky (Bicho de sete cabe-ças). Educação.doc tem roteiro edireção dele, codireção dela.

Os programas de 25minutosque estão sendo exibidos aos do-mingos,às20h30,pelaGloboNews(TVpaga–osegundovaiaoarho-je), e os inserts de 6min a 8minmostrados no Fantástico, da Glo-bo(foramexibidosquatroeaindaserãomostrados dois), reprodu-zem a realidade (privilegiada) deoitoescolasdoPiauí,Ceará,Bahia,Paraná,Riode JaneiroeSãoPaulo.

Em cena, experiências quederamcerto apartir do trabalhocoletivodealunos, professores ecomunidade.Comdepoimentosimportantes de diretores, auto-ridades,pensadoresdaeducaçãoe formuladores de políticas pú-blicas.Numdoscasos, odaEsco-laMunicipalPresidenteCamposSalles, emHeliópolis (SP), osmu-ros foramderrubadosnumade-monstraçãodesegurançacontraa violência vizinha. Interessantetambéméaparticipaçãodepes-soas domeio artístico (o rapperEmicida, o artista plástico VickMuniz e a atriz Camila Pitanga,entre outros), personagens dasociedade brasileira que estuda-ram em escolas públicas, comooprópriodiretorLuizBolognesi.

Comritmoembaladopor tri-lha do Barbatuques (grupo bra-sileiro de percussão corporalcriado em 1995 pelo músicopaulistano Fernando Barba), osdocumentários, que segundoBolognesi já foramassistidospor30milhões de pessoas, têm boa

cadência e linguagem acessível.A ideia “é fazer o Brasil inteiroverqueépossívelmudaropara-digmadaescola ruim. Eque issofaça as pessoas pensarem: ‘que-roumaescola assimpara omeufilho.’ É preciso participar por-que se esperarmos pelo poderpúblico, nunca vamos ter isso.Podemossensibilizaropaísparabuscarumaescolamelhor”, afir-maBolognesi.

ESTRATÉGIA Para se aproximardo grande público, eles não abri-rammãodacomplexidadedain-formação. “Não diluímos emágua,a formaédidáticamastemritmo. Essa foi a estratégia parafalar com milhões de pessoas”,explicaodiretor,quefugiudape-gada de denúncia. “Meu senti-mentoeradeoutraordem,ilumi-nar experiências que deram cer-to, mostrar o que fez as coisasfuncionarem (e o audiovisualtemessepoderde colocar luz so-breas coisas). Emvezdas celebri-dades doBig brother, queríamosmostrar que com essas criançasdessasescolasvocêpodediscutiro que quiser. Porque elas leem,estudam, têm professores bri-lhantes de escolas comdiretoresexcepcionais, escolhidosporcon-curso e competência, e não indi-cadosporpolíticos.”

Bolognesi não se esquece dequeoníveldasescolasbrasileirasainda émuito baixo. Mas, avisa:“A boa notícia é que, o que eraumaáguaparada, fazuns10anosque está semexendo. Se as pes-soas não semovimentam e par-tem sempre do princípio de quetudoéumaporcaria enão fazemsua parte, as coisas nãomudamnunca. Resolvemos focar no ou-tro lado,mostrar que nomesmolugarpobre,namesmafavelavio-lenta podem haver escolas fun-cionando, passandovalores, comcompetência, comalunos apren-dendo português ematemática,medalhistas emquímica”.

Foram seismeses de pesqui-sas para a realização dos filmes.Eles partiram de escolas combons resultados do IDEB, emáreas pobres, com IDH baixo, esaíram a campo para descobrircomoumaescolaemáreapobrepode dar resultado. “Fizemosprimeiroumaviagemprecurso-ra,paraconheceros lugares.De-pois, saímos para identificar ospersonagens e, num terceiromomento,partirmosparaasen-trevistas. Decidimos, também,ouvirdepoimentosdepensado-res comoTiãoRocha eMaria doPilar Lacerda, entre outros, pes-soas que estão envolvidas nas

políticas públicas, nos últimosanos, além de protagonistas denossahistóriaquesaíramdases-colas públicas, gente que podecomprovar que elas podemdarcerto”, contaBolognesi.

“Arespostaparaasperguntasquefizemosestánosfilmes.Nãotem mágica nenhuma, masmuito trabalho”, afirma o dire-tor, defendendo que “precisa-mosterjovensmaiscapacitadospara ser professores, investir nacarreira do educador, selecionardiretorespor seumérito técnicoecompetênciaenãopormeiodeindicaçõespolíticas.Percebemosqueemtodasasescolasquefun-

cionamnãohouve escolhas porapadrinhamento. São necessá-rios testes de seleção, deve-se le-varemcontaaconvivênciadelescom a comunidade”. Ele convi-da: “Vamosrevolucionarasredepública e, quem sabe umdia, agentenãovaiquerertirarnossosfilhos da escola particular paracolocarnumapública?”.

DepoisdaexibiçãonaGlobo-News, a série de documentáriosserádistribuídaemDVDsencar-tados em um livro para 50milescolas da redepública emtodoo Brasil, ao longo de três anos,comoobjetivodeinspirarnovasiniciativasnaeducação.

O processo de criação

PontofortedoEducação.doc,alémderoteiroredondoetrilhaque potencializa a força dasações e das falas, são os depoi-mentos. Exemplo: a histórianarradapelo educador Tião Ro-cha (veja box) sobre umaluno,Álvaro, que o ensinou a enxer-garopapeldoprofessorehojeéseu “anjo da guarda” (“aparecesemprequemedistanciodoca-minho que devo seguir”) é co-movente. Entre outras coisas,Rocharevelaque“indicavaparaosalunosda7ªsérieosmesmoslivrosquepassavaparaosdafa-culdade. Os da 7ª liam tudo ebuscavam mais. “Havia rodasdebate-papoediscussãonossá-badosedomingos,enquantonafaculdadeos livros indicados fi-cavampelametade.” E sempreque Rocha se lembrava que iadaraulaparaoÁlvaronodiase-guinte, iaparacasaestudar,poissabia que seria sabatinado. HádesdeumaalunadoPiauíaoes-pecialistaYvesde laTaille falan-do sobre ética, e fala importan-tedo rapperEmicida, contandoque viveu o apartheid em suasala de aula: “A professora pu-nha os brancos assentados nafrente e os negros atrás”. Episó-dio de destaque é também oque discute a escola do futuro.Muitos concordam que o edu-cador vai perder o papel de in-formador para ser aquele queajudaafiltraroexcessodeinfor-mações e a direcionar para oqueoalunoquiser.

BOM EXEMPLO

Alunos da Escola Municipal de Caimbongo (Ibitiara), naChapada Diamantina (BA), região pobre do interior que estáchamando a atenção dos especialistas pela surpreendentequalidade do ensino em 20 municípios. Lá, a educação vemmelhorando ano a ano. A explicação: conseguiram quemudanças na política não interrompamprojetos na educação.

BOM TRABALHO

Responsável por um dos depoimentos mais emocionantesdo Educação.doc, Tião Rocha é educador, antropólogo efolclorista brasileiro, autor de obras de desenvolvimentocultural e comunitário, além de membro de váriasorganizações de fomento a iniciativas na área. Fundador epresidente do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento(CPCD), organização não-governamental sem fins lucrativoscriada em 1984, em Belo Horizonte, que trabalha comeducação popular e com desenvolvimento comunitário apartir da cultura.

Diretor e roteirista do Educação.doc Luiz Bolognesi durante as filmagens do documentário que mostra escolas públicas de sucesso no Brasil

180milescolas públicas

20milescolas privadas

2milhõesprofessores

44milhõesalunos

FOTOS: BURITI FILMES/DIVULGAÇÃO

ENSINOBRASILEIRO

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Documentários para a GloboNews e quadros para o Fantástico, da Rede Globo, assinadospelos diretores Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, mostram que a escola pública pode dar certo

❚ BRASIL LEGAL

Aprovados, com louvorGRACIE SANTOS

Não existe uma saída para asescolas públicas no Brasil. Exis-tem várias. Não há mágica oufórmulas, mas é possível ter en-sino público de qualidade aindaqueemregiõesdistantesouvio-lentas. É o quemostra a série dedocumentários assinada peloscineastas Luiz Bolognesi (Umahistória de amor e fúria) e LaísBodanzky (Bicho de sete cabe-ças). Educação.doc tem roteiro edireção dele, codireção dela.

Os programas de 25minutosque estão sendo exibidos aos do-mingos,às20h30,pelaGloboNews(TVpaga–osegundovaiaoarho-je), e os inserts de 6min a 8minmostrados no Fantástico, da Glo-bo(foramexibidosquatroeaindaserãomostrados dois), reprodu-zem a realidade (privilegiada) deoitoescolasdoPiauí,Ceará,Bahia,Paraná,Riode JaneiroeSãoPaulo.

Em cena, experiências quederamcerto apartir do trabalhocoletivodealunos, professores ecomunidade.Comdepoimentosimportantes de diretores, auto-ridades,pensadoresdaeducaçãoe formuladores de políticas pú-blicas.Numdoscasos, odaEsco-laMunicipalPresidenteCamposSalles, emHeliópolis (SP), osmu-ros foramderrubadosnumade-monstraçãodesegurançacontraa violência vizinha. Interessantetambéméaparticipaçãodepes-soas domeio artístico (o rapperEmicida, o artista plástico VickMuniz e a atriz Camila Pitanga,entre outros), personagens dasociedade brasileira que estuda-ram em escolas públicas, comooprópriodiretorLuizBolognesi.

Comritmoembaladopor tri-lha do Barbatuques (grupo bra-sileiro de percussão corporalcriado em 1995 pelo músicopaulistano Fernando Barba), osdocumentários, que segundoBolognesi já foramassistidospor30milhões de pessoas, têm boa

cadência e linguagem acessível.A ideia “é fazer o Brasil inteiroverqueépossívelmudaropara-digmadaescola ruim. Eque issofaça as pessoas pensarem: ‘que-roumaescola assimpara omeufilho.’ É preciso participar por-que se esperarmos pelo poderpúblico, nunca vamos ter isso.Podemossensibilizaropaísparabuscarumaescolamelhor”, afir-maBolognesi.

ESTRATÉGIA Para se aproximardo grande público, eles não abri-rammãodacomplexidadedain-formação. “Não diluímos emágua,a formaédidáticamastemritmo. Essa foi a estratégia parafalar com milhões de pessoas”,explicaodiretor,quefugiudape-gada de denúncia. “Meu senti-mentoeradeoutraordem,ilumi-nar experiências que deram cer-to, mostrar o que fez as coisasfuncionarem (e o audiovisualtemessepoderde colocar luz so-breas coisas). Emvezdas celebri-dades doBig brother, queríamosmostrar que com essas criançasdessasescolasvocêpodediscutiro que quiser. Porque elas leem,estudam, têm professores bri-lhantes de escolas comdiretoresexcepcionais, escolhidosporcon-curso e competência, e não indi-cadosporpolíticos.”

Bolognesi não se esquece dequeoníveldasescolasbrasileirasainda émuito baixo. Mas, avisa:“A boa notícia é que, o que eraumaáguaparada, fazuns10anosque está semexendo. Se as pes-soas não semovimentam e par-tem sempre do princípio de quetudoéumaporcaria enão fazemsua parte, as coisas nãomudamnunca. Resolvemos focar no ou-tro lado,mostrar que nomesmolugarpobre,namesmafavelavio-lenta podem haver escolas fun-cionando, passandovalores, comcompetência, comalunos apren-dendo português ematemática,medalhistas emquímica”.

Foram seismeses de pesqui-sas para a realização dos filmes.Eles partiram de escolas combons resultados do IDEB, emáreas pobres, com IDH baixo, esaíram a campo para descobrircomoumaescolaemáreapobrepode dar resultado. “Fizemosprimeiroumaviagemprecurso-ra,paraconheceros lugares.De-pois, saímos para identificar ospersonagens e, num terceiromomento,partirmosparaasen-trevistas. Decidimos, também,ouvirdepoimentosdepensado-res comoTiãoRocha eMaria doPilar Lacerda, entre outros, pes-soas que estão envolvidas nas

políticas públicas, nos últimosanos, além de protagonistas denossahistóriaquesaíramdases-colas públicas, gente que podecomprovar que elas podemdarcerto”, contaBolognesi.

“Arespostaparaasperguntasquefizemosestánosfilmes.Nãotem mágica nenhuma, masmuito trabalho”, afirma o dire-tor, defendendo que “precisa-mosterjovensmaiscapacitadospara ser professores, investir nacarreira do educador, selecionardiretorespor seumérito técnicoecompetênciaenãopormeiodeindicaçõespolíticas.Percebemosqueemtodasasescolasquefun-

cionamnãohouve escolhas porapadrinhamento. São necessá-rios testes de seleção, deve-se le-varemcontaaconvivênciadelescom a comunidade”. Ele convi-da: “Vamosrevolucionarasredepública e, quem sabe umdia, agentenãovaiquerertirarnossosfilhos da escola particular paracolocarnumapública?”.

DepoisdaexibiçãonaGlobo-News, a série de documentáriosserádistribuídaemDVDsencar-tados em um livro para 50milescolas da redepública emtodoo Brasil, ao longo de três anos,comoobjetivodeinspirarnovasiniciativasnaeducação.

O processo de criação

PontofortedoEducação.doc,alémderoteiroredondoetrilhaque potencializa a força dasações e das falas, são os depoi-mentos. Exemplo: a histórianarradapelo educador Tião Ro-cha (veja box) sobre umaluno,Álvaro, que o ensinou a enxer-garopapeldoprofessorehojeéseu “anjo da guarda” (“aparecesemprequemedistanciodoca-minho que devo seguir”) é co-movente. Entre outras coisas,Rocharevelaque“indicavaparaosalunosda7ªsérieosmesmoslivrosquepassavaparaosdafa-culdade. Os da 7ª liam tudo ebuscavam mais. “Havia rodasdebate-papoediscussãonossá-badosedomingos,enquantonafaculdadeos livros indicados fi-cavampelametade.” E sempreque Rocha se lembrava que iadaraulaparaoÁlvaronodiase-guinte, iaparacasaestudar,poissabia que seria sabatinado. HádesdeumaalunadoPiauíaoes-pecialistaYvesde laTaille falan-do sobre ética, e fala importan-tedo rapperEmicida, contandoque viveu o apartheid em suasala de aula: “A professora pu-nha os brancos assentados nafrente e os negros atrás”. Episó-dio de destaque é também oque discute a escola do futuro.Muitos concordam que o edu-cador vai perder o papel de in-formador para ser aquele queajudaafiltraroexcessodeinfor-mações e a direcionar para oqueoalunoquiser.

BOM EXEMPLO

Alunos da Escola Municipal de Caimbongo (Ibitiara), naChapada Diamantina (BA), região pobre do interior que estáchamando a atenção dos especialistas pela surpreendentequalidade do ensino em 20 municípios. Lá, a educação vemmelhorando ano a ano. A explicação: conseguiram quemudanças na política não interrompamprojetos na educação.

BOM TRABALHO

Responsável por um dos depoimentos mais emocionantesdo Educação.doc, Tião Rocha é educador, antropólogo efolclorista brasileiro, autor de obras de desenvolvimentocultural e comunitário, além de membro de váriasorganizações de fomento a iniciativas na área. Fundador epresidente do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento(CPCD), organização não-governamental sem fins lucrativoscriada em 1984, em Belo Horizonte, que trabalha comeducação popular e com desenvolvimento comunitário apartir da cultura.

Diretor e roteirista do Educação.doc Luiz Bolognesi durante as filmagens do documentário que mostra escolas públicas de sucesso no Brasil

180milescolas públicas

20milescolas privadas

2milhõesprofessores

44milhõesalunos

FOTOS: BURITI FILMES/DIVULGAÇÃO

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Por que ver osdocumentários

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CULTURA

E S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 3 D E A B R I L D E 2 0 1 4

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Documentários para a GloboNews e quadros para o Fantástico, da Rede Globo, assinadospelos diretores Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, mostram que a escola pública pode dar certo

❚ BRASIL LEGAL

Aprovados, com louvorGRACIE SANTOS

Não existe uma saída para asescolas públicas no Brasil. Exis-tem várias. Não há mágica oufórmulas, mas é possível ter en-sino público de qualidade aindaqueemregiõesdistantesouvio-lentas. É o quemostra a série dedocumentários assinada peloscineastas Luiz Bolognesi (Umahistória de amor e fúria) e LaísBodanzky (Bicho de sete cabe-ças). Educação.doc tem roteiro edireção dele, codireção dela.

Os programas de 25minutosque estão sendo exibidos aos do-mingos,às20h30,pelaGloboNews(TVpaga–osegundovaiaoarho-je), e os inserts de 6min a 8minmostrados no Fantástico, da Glo-bo(foramexibidosquatroeaindaserãomostrados dois), reprodu-zem a realidade (privilegiada) deoitoescolasdoPiauí,Ceará,Bahia,Paraná,Riode JaneiroeSãoPaulo.

Em cena, experiências quederamcerto apartir do trabalhocoletivodealunos, professores ecomunidade.Comdepoimentosimportantes de diretores, auto-ridades,pensadoresdaeducaçãoe formuladores de políticas pú-blicas.Numdoscasos, odaEsco-laMunicipalPresidenteCamposSalles, emHeliópolis (SP), osmu-ros foramderrubadosnumade-monstraçãodesegurançacontraa violência vizinha. Interessantetambéméaparticipaçãodepes-soas domeio artístico (o rapperEmicida, o artista plástico VickMuniz e a atriz Camila Pitanga,entre outros), personagens dasociedade brasileira que estuda-ram em escolas públicas, comooprópriodiretorLuizBolognesi.

Comritmoembaladopor tri-lha do Barbatuques (grupo bra-sileiro de percussão corporalcriado em 1995 pelo músicopaulistano Fernando Barba), osdocumentários, que segundoBolognesi já foramassistidospor30milhões de pessoas, têm boa

cadência e linguagem acessível.A ideia “é fazer o Brasil inteiroverqueépossívelmudaropara-digmadaescola ruim. Eque issofaça as pessoas pensarem: ‘que-roumaescola assimpara omeufilho.’ É preciso participar por-que se esperarmos pelo poderpúblico, nunca vamos ter isso.Podemossensibilizaropaísparabuscarumaescolamelhor”, afir-maBolognesi.

ESTRATÉGIA Para se aproximardo grande público, eles não abri-rammãodacomplexidadedain-formação. “Não diluímos emágua,a formaédidáticamastemritmo. Essa foi a estratégia parafalar com milhões de pessoas”,explicaodiretor,quefugiudape-gada de denúncia. “Meu senti-mentoeradeoutraordem,ilumi-nar experiências que deram cer-to, mostrar o que fez as coisasfuncionarem (e o audiovisualtemessepoderde colocar luz so-breas coisas). Emvezdas celebri-dades doBig brother, queríamosmostrar que com essas criançasdessasescolasvocêpodediscutiro que quiser. Porque elas leem,estudam, têm professores bri-lhantes de escolas comdiretoresexcepcionais, escolhidosporcon-curso e competência, e não indi-cadosporpolíticos.”

Bolognesi não se esquece dequeoníveldasescolasbrasileirasainda émuito baixo. Mas, avisa:“A boa notícia é que, o que eraumaáguaparada, fazuns10anosque está semexendo. Se as pes-soas não semovimentam e par-tem sempre do princípio de quetudoéumaporcaria enão fazemsua parte, as coisas nãomudamnunca. Resolvemos focar no ou-tro lado,mostrar que nomesmolugarpobre,namesmafavelavio-lenta podem haver escolas fun-cionando, passandovalores, comcompetência, comalunos apren-dendo português ematemática,medalhistas emquímica”.

Foram seismeses de pesqui-sas para a realização dos filmes.Eles partiram de escolas combons resultados do IDEB, emáreas pobres, com IDH baixo, esaíram a campo para descobrircomoumaescolaemáreapobrepode dar resultado. “Fizemosprimeiroumaviagemprecurso-ra,paraconheceros lugares.De-pois, saímos para identificar ospersonagens e, num terceiromomento,partirmosparaasen-trevistas. Decidimos, também,ouvirdepoimentosdepensado-res comoTiãoRocha eMaria doPilar Lacerda, entre outros, pes-soas que estão envolvidas nas

políticas públicas, nos últimosanos, além de protagonistas denossahistóriaquesaíramdases-colas públicas, gente que podecomprovar que elas podemdarcerto”, contaBolognesi.

“Arespostaparaasperguntasquefizemosestánosfilmes.Nãotem mágica nenhuma, masmuito trabalho”, afirma o dire-tor, defendendo que “precisa-mosterjovensmaiscapacitadospara ser professores, investir nacarreira do educador, selecionardiretorespor seumérito técnicoecompetênciaenãopormeiodeindicaçõespolíticas.Percebemosqueemtodasasescolasquefun-

cionamnãohouve escolhas porapadrinhamento. São necessá-rios testes de seleção, deve-se le-varemcontaaconvivênciadelescom a comunidade”. Ele convi-da: “Vamosrevolucionarasredepública e, quem sabe umdia, agentenãovaiquerertirarnossosfilhos da escola particular paracolocarnumapública?”.

DepoisdaexibiçãonaGlobo-News, a série de documentáriosserádistribuídaemDVDsencar-tados em um livro para 50milescolas da redepública emtodoo Brasil, ao longo de três anos,comoobjetivodeinspirarnovasiniciativasnaeducação.

O processo de criação

PontofortedoEducação.doc,alémderoteiroredondoetrilhaque potencializa a força dasações e das falas, são os depoi-mentos. Exemplo: a histórianarradapelo educador Tião Ro-cha (veja box) sobre umaluno,Álvaro, que o ensinou a enxer-garopapeldoprofessorehojeéseu “anjo da guarda” (“aparecesemprequemedistanciodoca-minho que devo seguir”) é co-movente. Entre outras coisas,Rocharevelaque“indicavaparaosalunosda7ªsérieosmesmoslivrosquepassavaparaosdafa-culdade. Os da 7ª liam tudo ebuscavam mais. “Havia rodasdebate-papoediscussãonossá-badosedomingos,enquantonafaculdadeos livros indicados fi-cavampelametade.” E sempreque Rocha se lembrava que iadaraulaparaoÁlvaronodiase-guinte, iaparacasaestudar,poissabia que seria sabatinado. HádesdeumaalunadoPiauíaoes-pecialistaYvesde laTaille falan-do sobre ética, e fala importan-tedo rapperEmicida, contandoque viveu o apartheid em suasala de aula: “A professora pu-nha os brancos assentados nafrente e os negros atrás”. Episó-dio de destaque é também oque discute a escola do futuro.Muitos concordam que o edu-cador vai perder o papel de in-formador para ser aquele queajudaafiltraroexcessodeinfor-mações e a direcionar para oqueoalunoquiser.

BOM EXEMPLO

Alunos da Escola Municipal de Caimbongo (Ibitiara), naChapada Diamantina (BA), região pobre do interior que estáchamando a atenção dos especialistas pela surpreendentequalidade do ensino em 20 municípios. Lá, a educação vemmelhorando ano a ano. A explicação: conseguiram quemudanças na política não interrompamprojetos na educação.

BOM TRABALHO

Responsável por um dos depoimentos mais emocionantesdo Educação.doc, Tião Rocha é educador, antropólogo efolclorista brasileiro, autor de obras de desenvolvimentocultural e comunitário, além de membro de váriasorganizações de fomento a iniciativas na área. Fundador epresidente do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento(CPCD), organização não-governamental sem fins lucrativoscriada em 1984, em Belo Horizonte, que trabalha comeducação popular e com desenvolvimento comunitário apartir da cultura.

Diretor e roteirista do Educação.doc Luiz Bolognesi durante as filmagens do documentário que mostra escolas públicas de sucesso no Brasil

180milescolas públicas

20milescolas privadas

2milhõesprofessores

44milhõesalunos

FOTOS: BURITI FILMES/DIVULGAÇÃO

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