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Ensino SuperiorInovao e qualidade na docncia
Carlinda Leite e Miguel Zabalza (Coords.)
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Ficha Tcnica
Ttulo da obra Ensino Superior: Inovao e qualidade na docncia
Coordenao Carlinda Leite e Miguel Zabalza
Design da obra,
coordenao editorial e
reviso
Ana Caldas, Sara Pinheiro e Ana Sofia Faustino
Edio CIIE Centro de Investigao e Interveno Educativas
ISBN 978-989-8471-05-5
Data de edio Julho 2012
Depsito legal 347308/12
Comisso Cientfica Afonso Pinho Ferreira, Albertina Lima Oliveira, Alicia Rivera Morales,
Amlia Lopes, Amrico Peres, Amparo Martines March, Ana Mouraz,
Antonio Bolivar, Antnio Magalhes, Ariana Cosme, Aurlio Villa, Bento
Silva, Carles Monereo, Carlos Moya, Carolina Silva Sousa, Cleoni
Fernandes, Corlia Vicente, Cristina Rinaudo, Danilo Donolo, Elisa
Lucarelli, Elisabete Ferreira, Ftima Pereira, Ftima Vieira, Fellipe Trillo,
Fernando Remio, Flvia Vieira, Gisela Velez, Helena C. Arajo, Jesus
Maria Sousa, Joan Mateo, Joan Ru, Jorge Bento, Jos Alberto Correia,
Jos Antnio Ramalheira Corujo Vaz, Jos Augusto Pacheco, Jos Brites
Ferreira, Jos Caldas, Jos Carlos Morgado, Jos Manuel Martins Ferreira,
Jos Maria Maiquez, Ktia Ramos, Liliana Sanjurjo, Lusa Neto, Manuela
Esteves, Maria Amlia Ferreira, Maria do Rosrio Pinto, Maria Isabel
Cunha, Maria Teresa Fonseca, Marlia Morosini , Mario de Miguel Diaz,
Miguel Valero, Nilza Costa, Pedro Moreira, Pedro Teixeira, Preciosa
Fernandes, Rui Alves, Rui Trindade, Sebastian Rodrguez Espinar,
Uldarico Malaspina, Valeska Fortes de Oliveira
Capa Manuel Francisco Costa
Contactos CIIE Centro de Investigao e Interveno Educativas
Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do
Porto
Rua Alfredo Allen, 4200-135 Porto, Portugal
Tel. +351 220 400 615 | Fax. +351 226 079 726 | [email protected]
Nota: O contedo dos textos reunidos nesta obra da total responsabilidade dos seus autores.
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6.66.
Ttulo:
A articulao escola de enfermagem e hospital na voz dos supervisores: o grupo de
discusso
Autor/a (es/as):
Macedo, Ana Paula Morais de Carvalho [Escola Superior de Enfermagem da Universidade do
Minho]
Silva, Maria Augusta Martinho [Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho]
Braga, Maria de Ftima Dias [Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho]
Oliveira, Cludia Cristina Vieira Carvalho [Escola Superior de Enfermagem da Universidade do
Minho]
Martins, Cristina Arajo [Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho]
Lomba, Odete Sofia Silva [Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho]
Rosrio, Helena Rafaela Vieira [Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho]
Resumo:
Esta comunicao procura pr em evidncia uma experincia, no mbito do projeto Superviso
em Enfermagem: novas perspetivas para a mudana, que decorre no presente ano letivo. O
projeto emerge da necessidade de compreender e colmatar problemas da superviso em ensino
clnico na ESE-UM, colocando a investigao ao servio da inovao e melhoria da qualidade
da formao. Tem como objetivo desenvolver e avaliar um programa de interveno ao
centrado na formao terico-prtica de supervisores (enfermeiros e docentes) e na
implementao e avaliao de projetos de investigao-interveno em contexto clnico,
contribuindo para a problematizao e debate das prticas de superviso e a construo
colaborativa de conhecimento profissional, nas dimenses conceptual, metodolgica,
interpessoal e interorganizacional da Superviso em Enfermagem.
A experincia de interveno constituda por sete encontros, dos quais quatro so oficinas de
formao em superviso. A principal tcnica de recolha da informao no decurso do projeto o
grupo de discusso, constitudo por onze enfermeiros e sete docentes supervisores.
Aps uma breve incurso sobre alguns autores cujos trabalhos privilegiam esta tcnica de
investigao qualitativa em diferentes contextos scio-educativos, procede-se a uma reflexo
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sucinta sobre os registos expressados por todos os participantes, conferindo experincia uma
melhor compreenso da articulao Escola de Enfermagem e Hospital.
Os resultados sugerem a importncia da interveno ao colaborativa no sentido de potenciar o
desenvolvimento de referenciais de qualidade da superviso em Enfermagem por parte dos
supervisores em contexto de trabalho e a mudana das suas prticas, bem como anlise de
modos de agir quando supervisionam os estudantes.
Palavras-chave:
Articulao Escola de Enfermagem e Hospital; Superviso em Enfermagem; Grupo de
Discusso.
1. Introduo
Na gnese do projeto Superviso em Enfermagem: novas perspetivas para a mudana1 esteve a
preocupao dos docentes investigadores da Escola Superior de Enfermagem da Universidade do
Minho com um conjunto de fatores relacionados com a qualidade do ensino e da aprendizagem em
contextos clnicos, nomeadamente: a necessidade de implementar o novo Modelo de
Desenvolvimento Profissional (Ordem dos Enfermeiros, 2010), a deficiente apropriao de prticas
de superviso e de articulao interorganizacional por parte dos supervisores, a necessidade de
promover a formao em superviso face diversidade e complexidade dos contextos clnicos, e
ainda a intensificao de polticas de avaliao da qualidade da investigao e do ensino. Perante
este cenrio, importa investigar e transformar as prticas de superviso em contexto clnico, fazendo
destas objeto de indagao e reflexo coletiva (estudantes, enfermeiros e docentes), estimulando o
aparecimento de medidas concretas, quer para o ensino e formao em Enfermagem, quer para os
cuidados de sade. Os seus objetivos e objeto de estudo integram questes da formao, da
profissionalidade docente/de Enfermagem e das relaes interorganizacionais, num amplo exerccio
de reflexo sobre as perspetivas de superviso que orientam ou devem orientar o exerccio
profissional da Enfermagem e do ensino clnico. Neste contexto, os objetivos especficos do projeto
de inovao e interveno versam: i) Identificar reas prioritrias de interveno na superviso em
Enfermagem, com enfoque nas dimenses conceptual, metodolgica, interpessoal e
interorganizacional da Superviso; ii) Desenhar um programa de interveno para a inovao,
centrado na formao dos supervisores e no desenvolvimento de projetos de investigao-
interveno em contexto clnico; iii) Implementar o programa de interveno para a inovao; iv)
Avaliar o impacte do programa de interveno para a inovao ao nvel da qualidade das prticas
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supervisivas, nas dimenses conceptual, metodolgica, interpessoal e interorganizacional da
Superviso; v) Promover o debate alargado de teorias e prticas da superviso em Enfermagem,
contribuindo para a renovao do pensamento e ao dos seus atores; vi) Aliar a investigao ao
ensino no domnio da Enfermagem, promovendo a formao cientfico-pedaggica dos
supervisores.
No mbito de um programa de interveno para a inovao, centrado na formao dos supervisores,
delineado no projeto salienta-se uma experincia constituda por sete encontros, dos quais quatro
so oficinas de formao em superviso. A principal tcnica de recolha da informao no decurso
da experiencia o grupo de discusso, constitudo por onze enfermeiros e sete docentes
supervisores.
A comunicao que agora se apresenta, centrada no estudo dessa experincia de interveno, visa
por seu lado compreender o mtodo como fonte de recolha de dados, mas tambm como elemento
articulador entre a Escola de Enfermagem e o Hospital. Atendendo interao do grupo de
supervisores pudemos captar atravs da discusso de diversas temticas, as manifestaes
carregadas de afetividade e os desejos inconscientes dos atores (Colectivo Io, 2009: 76).
O presente texto centra-se sobretudo nos discursos dos supervisores, conferindo experincia uma
melhor compreenso da articulao Escola de Enfermagem e Hospital. Assim, comea-se por
apresentar sucintamente o enquadramento terico geral em que se fundamentou o estudo, os
contextos de realizao do estudo e a metodologia da experincia. Organizam-se, de seguida,
algumas snteses interpretativas dos resultados.
2. A articulao Escola de Enfermagem e Hospital
Na maioria dos cursos de Enfermagem em Portugal, como acontece na Universidade do Minho, os
estudantes iniciam precocemente os estgios em contexto de trabalho hospitalar. O primeiro estgio,
que ocorre no primeiro ano do curso de Enfermagem, proporciona ao estudante estagirio o
contacto com a instituio e um conjunto de experincias com a pessoa doente. Isto conduz a uma
tomada de conscincia muito marcante das necessidades humanas e particularmente apreciado. A
proximidade com os profissionais de Enfermagem e os outros elementos da equipa multidisciplinar
de sade, incluindo a pessoa, a famlia e outros significativos, permite ao estudante estagirio
iniciar a sua identificao profissional, atravs da observao, anlise e comparao entre os aspetos
tericos relacionados com o contedo funcional do enfermeiro e o desenvolvimento das atividades
na prtica clnica.
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Durante o perodo de estgio, os estudantes so acompanhados por supervisores (docente e/ou
enfermeiro) que imprimem discusso e anlise de situaes problema em conjunto, proporcionando
o questionamento epistemolgico dos fundamentos da Enfermagem e o desenvolvimento do
pensamento crtico e reflexivo. As vantagens do processo supervisivo so imensas, mas torna-se
importante que os estudantes estagirios sejam acompanhados por supervisores conhecedores dos
conceitos de reflexo e experimentao (Vieira, 1993), capazes de despertar e alargar o campo de
anlise, ajudando o estudante a observar a sua prpria ao e os contextos onde ela ocorre, a
questionar e confrontar, interpretar e refletir, e a procurar as melhores solues para as dificuldades
e problemas de que vai tendo conscincia, (re)construindo o conhecimento.
O desenvolvimento da formao graduada e da produo cientfica no mbito da Enfermagem,
nomeadamente em relao aos processos de aprendizagem e exerccio profissional, induz uma
reflexo crtica sobre a profisso e, principalmente, sobre a necessidade de investir no estudo das
diversas dimenses inerentes prtica clnica e sua superviso. Esta necessidade inscreve-se num
esforo mais amplo da Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho no sentido de
reforar a sua atividade de investigao, e assim elevar a capacidade cientfica do seu corpo
docente, em articulao estreita com a misso acima enunciada.
Embora a superviso em contexto clnico no constitua uma questo nova no mbito da
investigao em Enfermagem, a articulao Escola/Hospital como modelo de formao em parceria
potenciado pelos atores intervenientes na superviso (docentes, enfermeiros e estudantes) tem sido
pouco explorada (Macedo, 2009, 2012). Por outro lado, reconhece-se que as prticas supervisivas
ficam ainda muito aqum dos desenvolvimentos tericos da rea, o que exige o desenvolvimento de
projetos como o que aqui se prope, nos quais se alia a investigao interveno, no sentido de
elevar a relevncia social da primeira no que diz respeito transformao das prticas, com impacto
na qualidade da formao dos estudantes e do futuro exerccio da profisso. neste sentido que o
presente projeto investe na compreenso e renovao de prticas supervisivas com o envolvimento
direto dos seus atores, produzindo mudanas (individuais, coletivas e institucionais) que se
pretendem transformadoras dos sujeitos e da prpria Escola, atravs de um processo coletivo de
construo de conhecimento.
O recurso Investigao-interveno na formao de supervisores (docentes e enfermeiros) decorre
da necessidade de compreender e colmatar problemas da superviso em ensino clnico na Escola
Superior de Enfermagem da Universidade do Minho e, do interesse de aproximao entre teoria e
prtica (Zeichner, 2001).
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3. Metodologia da experincia
Num primeiro momento, o projeto teve como principal objetivo contribuir para uma melhor
compreenso dos processos e resultados da Superviso, assim como do papel dos contextos
organizacionais e interorganizacionais na construo da identidade profissional dos estudantes
(futuros enfermeiros) e supervisores (enfermeiros e docentes), enquanto intervenientes na formao
em contexto de trabalho. Neste sentido, procedeu-se a um levantamento das representaes de uma
amostra significativa de estudantes, a partir de um inqurito por questionrio focalizado em quatro
dimenses: i) contexto de trabalho hospitalar (experincias com os doentes e profissionais, espao,
tempo, recursos humanos e materiais, trabalho em equipa, metodologia de trabalho, entre outros);
articulao entre a Organizao Hospitalar e a Escola de Enfermagem; superviso/Orientao do
docente da ESE-UM; superviso/Orientao do enfermeiro supervisor.
Da anlise exploratria das respostas dos estudantes, atravs da anlise de contedo com o apoio do
programa informtico Nvivo8, e da sua discusso no seio da ESE-UM e das instituies de ensino
clnico e estgio, emergiu um conjunto de inquietaes relacionadas com os processos de
superviso em contexto clnico e a articulao escola e hospital, sobretudo relativas a fatores
condicionantes da aprendizagem, prticas de orientao/avaliao dos supervisores (docente e/ou
enfermeiro supervisor) e, dificuldades de integrao nos servios hospitalares e no seio da equipa de
enfermagem.
Tendo por base o estudo iniciado em Junho de 2010 e destacado anteriormente, avana-se agora
para um segundo momento do projeto, centrado na formao dos supervisores da prtica clnica
(docentes da Escola e enfermeiros do Hospital), a qual integra o desenvolvimento e avaliao de
projetos de investigao-interveno em contexto de trabalho. O estudo considera a investigao-
interveno como estratgia principal de desenvolvimento profissional, na medida em que promove
um questionamento crtico e interventivo sobre as situaes da prtica profissional. O percurso
investigativo insere-se numa metodologia qualitativa interpretativa (Lessard-Hbert et al. 1994),
pela importncia conferida ao modo como os participantes vivenciam a experincia de superviso
em Enfermagem, dando primazia anlise de contedo lato sensu, do discurso oral e escrito e
recorrendo estatstica descritiva simples. No desenvolvimento do programa de interveno e
inovao pretende-se valorizar a interpretao dos significados da experincia dos intervenientes no
processo de superviso (docentes, enfermeiros e estudantes) e produzir conhecimento que vise a
melhoria da ao dos atores da superviso em Enfermagem, potencialmente transfervel para
contextos anlogos. A recolha de informao contempla um conjunto alargado de procedimentos,
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nomeadamente o inqurito por questionrio e por entrevista e as narrativas reflexivas dos
participantes.
No cerne dos objetivos delineados para este estudo, encontra-se uma questo de investigao
central: Qual o impacte da investigao-interveno, desenvolvida no mbito de um programa de
interveno para a inovao, nos processos de (co)construo da superviso em Enfermagem?
neste sentido que gostaramos de realar os resultados da experincia a partir da realizao dos
sete encontros de formao dedicada informao terica e anlise de prticas de superviso,
dirigidas aos docentes e enfermeiros envolvidos na superviso, dinamizadas por especialistas na
rea da Enfermagem e da Educao.
Os temas selecionados para os encontros E1 - Articulao Escola de Enfermagem e Hospital;
E2 - Apresentao dos resultados de um inqurito por questionrio aplicado aos supervisores; E3
- "A Superviso como prtica de (trans)formao", E4 - Anlise de caso; E5 - Porteflios; E6 -
Avaliao em superviso; E7 - Apresentao de um estudo em contexto de superviso no ensino
clnico em enfermagem -, emergiram aps o lanamento de um inqurito por questionrio aos
participantes na primeira sesso de apresentao do projeto2.
A tcnica utilizada para a recolha de informao - grupo de discusso -, apropria-se aos estudos
etnogrficos, que procuram compreender os dilemas e as diferentes perspetivas dos atores, como
sejam aquelas que dizem respeito superviso e articulao Escola de Enfermagem e Hospital.
Num grupo de discusso h um conjunto de pessoas que interatua sobre temas que constituem
pretexto para a articulao entre os atores das duas organizaes, objeto de investigao. Os atores
intervenientes neste processo quando colocados perante uma situao de dilogo e de confronto de
ideias e de saberes, reagem com entusiasmo e oportunidade s questes que proveem da discusso
sobre a superviso. Este facto acaba por favorecer a reflexo individual e coletiva, gnese de um
processo analtico de (re) construo das suas experincias.
O recurso a esta tcnica tem como efeito a transformao de cada abordagem e reflexo individual
num sentir crtico coletivo assumido por todos. Para alguns autores (Callejo, 2001; Santos, 2009) o
grupo de discusso particularmente inovador, distingue-se do focus group e adquire um carcter
prprio. Durante o debate aberto, perante um tema para discusso cada um dos elementos do grupo
tem a possibilidade de apresentar, defender, de construir e de desconstruir os seus pontos de vista
numa lgica de interao. Por outras palavras, o grupo de discusso ao trabalhar com as vozes dos
supervisores permite chegar a um tipo de informao diferente daquela a que se chegaria com
recurso a outras tcnicas. Por outro lado, a recolha de dados () desvenda e d a conhecer os
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aspetos internos da problemtica em debate atravs da riqueza e das subjetividades partilhadas e
assimilados pelo grupo para a construo do seu prprio discurso (Santos, 2009: 94).
Um dos requisitos indispensveis funcionalidade do grupo de discusso a presena do
investigador/moderador, que no nosso caso assumiu uma funo essencial, no que respeita
responsabilidade de criar um bom ambiente, constitudo com base na confiana e na
confidencialidade, fundamentais para fazerem emergir as intervenes dos participantes. Outros
dois elementos do grupo do projeto foram responsveis pela anlise da informao, quer a partir das
notas de campo, quer a partir de um questionrio lanado no final de cada encontro.
4. Resultados
Na primeira dimenso da pesquisa, a anlise de contedo dos discursos deu origem a categorias, as
quais se desdobram em subcategorias. Aqui vamos fazer referncia apenas s categorias que se
relacionavam diretamente com a articulao escola de enfermagem e hospital, durante o perodo em
que decorreu a experincia de interveno. Nesse perodo foram identificadas trs categorias:
expectativas relativamente experincia; compreenso da articulao Escola de Enfermagem e
Hospital; ao colaborativa como forma de potenciar o desenvolvimento de referenciais de
qualidade.
Expectativas relativamente experincia
O grupo de discusso como tcnica de recolha de informao foi capaz de desvendar as
expectativas por parte dos atores intervenientes no processo de superviso e de promover a
disseminao e transferncia do conhecimento:
A experincia est a proporcionar-me um enriquecimento pessoal e profissional
significativo. (E2, S1)
Considero que o debate mtuo de ideias concretas, diminui as dificuldades e os
constrangimentos de ambas as partes, promovendo o desenvolvimento e a reflexo do
processo de reflexo. (E6, S9)
Os encontros ajudam a refletir, clarificar e ajudar a resolver problemas comuns. (E6,
S10)
Sempre que sou convidada para este papel no consigo recusar, porque para mim um
desafio, ver a enfermagem de uma outra perspetiva . (E2, S5)
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() penso que este Projecto trar grandes benefcios a nvel das supervises clnicas
futuras, tanto para os profissionais envolvidos como para os alunos, nomeadamente atravs
dos debates promovidos e de toda esta exposio de ideias, que certamente nos
enriquecero e facilitaro a concretizao do objetivo da criao deste Projecto. (E2, S2)
Compreenso da articulao Escola de Enfermagem e Hospital
A partir da anlise dos discursos produzidos atravs da dinmica grupal, pleno de sentido em
relao ao conjunto do campo social investigado, pudemos conferir experincia uma melhor
compreenso da articulao Escola de Enfermagem e Hospital e dos constrangimentos implcitos
nos contextos. As principais preocupaes prendem-se com a forma como est organizada a
superviso nos ensinos clnicos, em que na maioria das vezes no efetuada uma preparao
pedaggica prvia dos supervisores, o que condiciona na opinio dos supervisores o
desenvolvimento da aprendizagem do estudante.
Tambm, tenho conscincia de que os servios, por vezes, no tm capacidade para
comportar tantos alunos e que os recursos humanos no so os desejveis em algumas
unidades de sade. Isto acaba por ser um fator dificultador para o desempenho do aluno e
para a satisfao profissional de ambos. (E6, S7)
() reconheo que por vezes tenho alguma dificuldade em saber quais os contedos
tericos j lecionados que daro o suporte para a prtica em contexto clnico,
nomeadamente nos alunos de 2 - 3 ano; estas dvidas tm sido colmatadas com o apoio
dos prprios alunos e do docente responsvel pelo estgio, para que eu possa articular as
duas componentes: a terica e a prtica. (E6, S7)
() as minhas preocupaes relacionam-se com os melhores mtodos para a superviso
em enfermagem. (E2, S9)
Tambm venho a constatar pela minha experincia na prtica supervisiva da necessidade
de formar supervisores. A tarefa no fcil e deve ser levada ao mais alto nvel de
qualidade. Por isso torna-se crucial apostar na formao desses supervisores e dinamizar
uma equipa fixa nos contextos. Isto porque tambm constato que o processo supervisivo
precisa de alguma estabilidade e uniformidade e que nem todos (e cada vez menos) os
enfermeiros tm interesse e empenho na superviso dos estudantes de enfermagem. (E2,
S11)
Os grupos de alunos em estgio so cada vez maiores e o tempo efetivo dos estudantes em
prtica clnica so cada vez mais reduzidos. (E2, S4)
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Ao colaborativa como forma de potenciar o desenvolvimento de referenciais de qualidade
Os discursos dos supervisores sugerem a importncia da interveno, ao colaborativa, no sentido
de potenciar o desenvolvimento de referenciais de qualidade da superviso em Enfermagem. O
grupo de supervisores considera necessrio e atribui importncia ao planeamento conjunto do
ensino clnico e s reunies para a coordenao de atividades a desenvolver com os estudantes,
demonstrando disponibilidade para colaborar com a escola no acompanhamento das prticas
laboratoriais/simuladas e reunies. A vontade em participar nas oficinas de formao no mbito da
superviso clnica parece estar implcita nos discursos dos supervisores:
Os supervisores salientam a necessidade de articulao Escola e Hospital com o objetivo
de conhecer a preparao dos estudantes relativamente aos contedos programticos das
Unidades Curriculares, s tcnicas/procedimentos e CIPE; revelam interesse em estar
sintonizados com a escola no que diz respeito filosofia, valores e tipo de atuao, motivos
do reconhecimento da importncia da continuidade na contratao dos supervisores.
(Notas de campo, E1)
Concretamente gostaria de pertencer a um grupo particular de colegas, que
desempenhariam funes de tutoria, em estreita articulao com a Escola. Isto , tendo
pleno conhecimento dos objetivos preconizados, e atendendo aos valores e misso da
Escola de Enfermagem, desenvolver uma prtica que promova a interligao entre o saber
ser, fazer e estar, nos dois contextos de aprendizagem. (E2, S3)
Um dos assuntos discutidos nas sesses diz respeito comunicao entre a Escola e os supervisores
e sua seleo. Relativamente seleo, os supervisores apresentam opinies distintas. Nos ltimos
anos o hospital que parece ter maior poder na seleo. Quanto comunicao entre a escola e
supervisores, foi referida a falta de articulao na fase de preparao dos ensinos clnicos.
Gostaria que fossem criados momentos de partilha entre diversos supervisores para que
houvesse uma uniformizao da superviso mesmo sendo esta diversificada pelas
metodologias/mtodos que se podem utilizar () so utilizados nveis de
exigncia/qualidade/resultados pelos diferentes supervisores, mas no fim os formandos so
colocados no mesmo patamar de igualdade face a esses nveis. (E2, S1)
Neste contexto, alguns pedidos e sugestes se salientam que dizem respeito ao envolvimento do
supervisor desde o incio do processo de superviso. A avaliao dos estudantes constitui uma
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dificuldade e que gostariam de conhecer melhor o contexto em que ela ocorre, participando em
reunies de avaliao.
H dificuldades em encontrar consensos relativamente s vrias tcnicas executadas pelos
alunos, porque os supervisores desconhecem aquilo que ensinado nas aulas. O aluno
argumenta aprendi assim e o supervisor sente-se impotente perante esta situao por no
saber efetivamente como que ele aprendeu. (E2, S4)
A partilha de conhecimento e o direcionamento da superviso para um caminho comum
ajuda a uma prtica mais orientada e consistente. (E6, S7)
Gostaria que, de uma forma informal, me pudessem dar algumas dicas sobre a orientao
de estudantes em ambiente hospitalar. Posteriormente, verificar se a minha prestao
como orientadora de estudantes modificou de alguma forma aps a aplicao dessas
sugestes. (E2, S8)
Finalmente, a partir do trabalho de campo onde se elegeu o grupo de discusso para a recolha de
informao, poderemos evidenciar, num primeiro tpico, acerca da importncia do projeto
Superviso em Enfermagem: novas perspetivas para a mudana, em que nos envolvemos. A
experincia afigurou-se como um processo altamente dinmico, constituindo-se como uma forma de
articulao entre os atores da Escola de Enfermagem e do Hospital. Num segundo tpico, cabe
realar que algumas dimenses trabalhadas nos grupos de discusso permitiram evidenciar, a
responsabilizao das organizaes de ensino e de sade do seu papel no processo supervisivo.
Algumas vozes consideram que cabe s organizaes proporcionar as melhores condies tcnicas e
humanas para que a formao/superviso tenha sucesso e para que cada interveniente se desenvolva
pessoal e profissionalmente.
5. Concluso
A investigao feita pelos supervisores indissocivel da educao e formao dos mesmos, na
medida em que o processo investigativo , em si mesmo, um processo de aprendizagem profunda
(Alarco, 2001). Ela promove uma formao de qualidade, permitindo desenvolver nos atores um
conjunto de competncias adicionais na ao (capacidade de deciso no desenvolvimento, execuo
e avaliao dos projetos, capacidade de trabalhar colaborativamente); competncias metodolgicas
(observao, levantamento de focus problemticos, monitorizao da superviso entre outras); e
competncias comunicacionais tais como clareza e a partilha de ideias.
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A investigao-interveno aproxima-se da investigao-ao, na medida em que permite
desenvolver atitudes de indagao sistemtica da prtica e fomentar atitudes de estranheza face ao
familiar, tornando os atores mais crticos e interventivos sobre a sua prpria ao (Hobson, 2001).
Pretende-se promover uma comunicao dialgica entre os diversos atores intervenientes na
superviso, atravs do cruzamento de experincias, interesses, expectativas, necessidades e
linguagens, num processo interativo de indagao de teorias, prticas e contextos que conduza
reconstruo de saberes e prticas profissionais.
O programa de interveno que agora se apresenta procura proporcionar e maximizar condies de
desenvolvimento profissional contnuo a supervisores, alargando as competncias profissionais no
mbito das dimenses conceptual, metodolgica, interpessoal e interorganizacional da Superviso,
implementando estratgias de ao, mediando a ao dos supervisores e estudantes atravs da
reflexo na ao, reflexo sobre a ao e reflexo sobre a reflexo na ao (Schn, 1992), de
forma a garantir uma formao de qualidade e um exerccio profissional de excelncia.
Ao longo deste texto procede-se ao enquadramento do projeto, quer no registo da superviso, quer
no registo organizacional. Ao atentarmos nos resultados do estudo baseado na anlise dos discursos
dos supervisores identificamos a necessidade de articulao Escola e Hospital que contemple a
preparao/planeamento conjunto e encontros para coordenao das atividades a desenvolver com
os estudantes no Ensino Clnico e Estgio. Os encontros so necessrios e vistos como pretexto para
a articulao. A formao e preparao pedaggica dos supervisores, a formao em contedos
tericos do plano curricular do curso, as aulas de preparao para o ensino clnico so consideradas
essenciais para existir uma verdadeira articulao.
Apesar dos problemas que existem na superviso em Enfermagem, possvel explorar prticas
pedaggicas reflexivas no contexto clnico, ainda que obrigue a estar atentos a domnios complexos
e multifacetados relativos s questes da formao no contexto de trabalho hospitalar (Macedo,
2001, 2009). Fundamentalmente, torna-se necessrio que o supervisor de estgios adote uma
abordagem complexa e multifacetada (S-Chaves, 2005) da formao em contexto clnico,
revelando as dimenses do modelo de Superviso como Desenvolvimento. Este modelo de
Superviso representa uma referncia incontornvel, com potencialidades para ser revitalizado
atravs de uma revalorizao do domnio pblico, provando o seu papel insubstituvel na defesa e
na formao para a cidadania, ensaiando novos estilos de interveno na formao dos estudantes
estagirios de Enfermagem, assumindo um compromisso claro com a promoo dos direitos
humanos e a criao de sociedades justas, relativamente aos quais a prpria superviso no se
poder alienar.
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Neste sentido, salienta-se a convico de que os resultados desta experincia vo de encontro s
diretrizes de desenvolvimento da profisso de Enfermagem e estimulem o aparecimento de medidas
concretas para a melhoria da qualidade do ensino-formao e, consequentemente dos cuidados de
sade.
Notas
1 O projeto denominado por Superviso em Enfermagem: novas perspetivas para a mudana
insere-se no NIE da Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho. O projeto reporta-
se a dois momentos: o primeiro ao perodo de Junho de 2010 at Maro de 2011, e o segundo
momento desenvolvido no perodo entre Abril de 2011 e Maro de 2012. A experincia evidenciada
nesta comunicao concretizou-se no segundo perodo.
2 O questionrio apresentava as seguintes questes: Se recentemente esteve envolvido nalguma
experincia (positiva ou negativa) no mbito da sua superviso, descreva-a sucintamente; Se tem
alguma ideia sobre a experincia que gostaria de desenvolver, apresente-a sucintamente; Neste
momento quais so as suas preocupaes principais relacionadas com a superviso?
Referncias bibliogrficas
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9-14). Porto Alegre: Artmed Editora
Hobson, David (2001). Action and reflection: narrative and journaling in the teacher research. In G.
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Ttulo:
Pressupostos conceitual-ideolgicos sobre a formao docente no ensino superior
brasileiro
Autor/a (es/as):
Maciel, Elizabete Ribeiro Halfeld [Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais]
Resumo:
A proposta de comunicao livre, ora apresentada, tem como objetivo identificar pressupostos